a cultura da cebola

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A CULTURA DA CEBOLA Classificação Taxonômica Grupo: Angiosperma Classe: Monocotiledônea Subclasse: Dialipétala Ordem: Liliales Família: Alliaceae (As aliáceas abrangem as seguintes culturas condimentares, conhecidas no Brasil: cebola, alho, cebolinha e alho-porró. Mais recentemente, a combinação de dados morfológicos e moleculares tem reforçado a ideia de que as cerca de 750 espécies do gênero Allium pertencem, de fato, a família Alliaceae – a qual é distinta, mas estreitamente relacionada com a família Amaryllidaceae) Gênero: Allium Espécie: Allium cepa L. Distribuição Geográfica e Ecologia de Espécies Cultivadas do Gênero Allium Muitas espécies selvagens de Allium são comestíveis, sendo utilizadas como alimento, mas apenas poucas são cultivadas comercialmente. Atualmente, as espécies cultivadas em todo o mundo evoluíram de espécies selvagens das regiões montanhosas da Ásia Central. Nas plantas do gênero Allium, os rizomas, raízes e, em particular, bulbos podem ser os órgãos de reserva.

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Page 1: A Cultura Da Cebola

A CULTURA DA CEBOLA

Classificação Taxonômica

Grupo: Angiosperma

Classe: Monocotiledônea

Subclasse: Dialipétala

Ordem: Liliales

Família: Alliaceae (As aliáceas abrangem as seguintes culturas condimentares, conhecidas no Brasil: cebola, alho, cebolinha e alho-porró. Mais recentemente, a combinação de dados morfológicos e moleculares tem reforçado a ideia de que as cerca de 750 espécies do gênero Allium pertencem, de fato, a família Alliaceae – a qual é distinta, mas estreitamente relacionada com a família Amaryllidaceae)

Gênero: Allium

Espécie: Allium cepa L.

Distribuição Geográfica e Ecologia de Espécies Cultivadas do Gênero Allium

Muitas espécies selvagens de Allium são comestíveis, sendo utilizadas como

alimento, mas apenas poucas são cultivadas comercialmente. Atualmente, as espécies

cultivadas em todo o mundo evoluíram de espécies selvagens das regiões montanhosas

da Ásia Central. Nas plantas do gênero Allium, os rizomas, raízes e, em particular,

bulbos podem ser os órgãos de reserva.

Uma das melhores formas de caracterizar o gênero Allium é por seus compostos

ricos em enxofre, os quais dão seu distinto aroma e pungência. Outro fator único sobre o

gênero Allium é o tamanho do seu genoma nuclear, com alta porcentagem de sequências

repetitivas. Com relação ao número básico de cromossomos, as espécies de Allium

podem apresentar 7, 8 ou 9. A maioria das espécies norte-americanas tem um número

básico de 7 e as da Eurásia um número básico de 8. Entretanto, em todo o mundo

encontram-se poucas espécies que possuem um número básico de 9 cromossomos.

Todos os Allium cultivados apresentam 8 cromossomos básicos. A cebola comum (A.

cepa), cebolinha-verde (A. fistulosum) e alho (A. sativum) são conhecidos como

diplóides (2n = 2x = 16). Entretanto, a poliploidia é encontrada em outras espécies, tais

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como cebolinha-francesa (A. schoenoprasum; 2n = 2x = 16; 3x = 24 e 4x = 32), alho-

porró e Kurrat (A. ampeloprasum; 2n = 4x = 32), alho-elefante (A. ampeloprasum; 6x =

48), rakkyo (A. chinense; 2n = 2x = 16; 4x = 32) e nirá ou cebolina chinesa (A.

tuberosum; 2n = 4x = 32).

A Eurásia possui a maior diversidade de espécies; a partir desse centro de

diversidade é que surgiram as culturas mais importantes de Allium, atualmente

utilizadas comercialmente. As plantas de Allium são tipicamente de lugares secos e

ensolarados e de climas razoavelmente áridos. Várias espécies são encontradas em

estepes, lugares rochosos ou em locais com verões quentes, de vegetação rasteira.

Contudo, algumas espécies, como A. ursinum, se adaptaram e são encontradas em matas

úmidas e sombrias. As plantas de Allium não são competitivas, por isso não se

desenvolvem bem em regiões com vegetação densa.

O gênero Allium é de grande importância econômica, porque inclui muitas

hortaliças (plantas condimentares) e ornamentais. Exemplos de outras espécies

cultivadas do gênero Allium:

Allium sativum: alho

Allium ampeloprasum var. porrum: alho-porró (não é conhecido no estado

silvestre e provavelmente evoluiu a partir de A. ampeloprasum silvestre,

encontrado na região do Mediterrâneo, nas ilhas dos Açores, Canárias, Cabo

Verde e Madeira, e também no centro e no norte da Europa, incluindo o Reino

Unido. O alho-porró era utilizado pelas antigas civilizações do Crescente Fértil

(Turquia, Irã, Iraque, Israel, Síria e Líbano). Foram encontradas referências ao

uso dessa espécie como alimento em 3200 a.C., durante a Primeira Dinastia

egípcia. Na Idade Média foi cultivado na Europa, quando muitas variedades

foram selecionadas. Apresenta folhas achatadas, pontiagudas e dobradas

longitudinalmente e suas longas bases envolvem umas às outras para formar um

pseudocaule alongado e cilíndrico. Suas partes inferiores são mantidas

esbranquiçadas por meio da cobertura com solo ou outros materiais para

incrementar a qualidade. Essas partes esbranquiçadas são consumidas em sopas,

tortas, quiches e cozidos. As plantas são cultivadas a partir de sementes. O alho-

porró vem sendo cultivado principalmente na Europa e na América do Norte)

(Filgueira (2008): domesticamente, é menos utilizado que as demais espécies

Page 3: A Cultura Da Cebola

aliáceas, porém cresce a demanda das agroindústrias produtoras de sopas

desidratadas. As cultivares utilizadas no Brasil são todas importadas, como a

francesa Monstrueux de Carentan. A planta lembra o alho, porém é mais

vigorosa, com folhas mais largas e alongadas, de coloração verde-escura.

Caracteriza-se pelo pseudocaule alongado, que pode ser estiolado, tornando-se

branco. A base da planta apresenta um bulbo simples. A planta é típica de clima

frio, sendo menos tolerante ao calor que outras aliáceas. Esta é uma cultura

invernal típica, exigindo frio ao longo do ciclo. Em regiões altas, com inverno

frio, semeia-se de fevereiro a julho. Em regiões baixas, mais quentes, pode-se

tentar a semeadura em abril-maio. A cultura produz melhor em solo de textura

média, solto e leve. É pouco tolerante à acidez, produzindo melhor na faixa de

pH 6,0 a 6,8, geralmente exigindo calagem. A adubação orgânica, especialmente

com esterco aviário, é benéfica, quando incorporada aos canteiros semanas antes

do transplante. Em solos de fertilidade mediana ou baixa sugere-se a aplicação

de adubos no sulco de transplante contendo os seguintes teores de

macronutrientes por hectare: 40 kg N, 250-350 kg P2O5 e 120-150 kg K2O. A

adubação de plantio pode ser enriquecida com 1 kg ha-1 na forma de bórax.

Pode-se complementar com 120 kg N e 60 kg K2O, parcelando-se em três vezes,

aplicando-se coberturas aos 15, 35 e 50 dias após o transplante. Deve-se

observar o vigor vegetativo da cultura para se decidir sobre a necessidade de tais

aplicações. Para propagação efetua-se a semeadura em sementeira e

transplantam-se as mudas ao atingirem cerce de 12 cm de altura, geralmente aos

45-50 dias. Os sulcos são abertos com 10 cm de profundidade no terreno

preparado e o transplante feito no espaçamento de 40 x 20 cm. São efetuadas

duas a três amontoas, aterrando-se as plantas para provocar o estiolamento do

pseudocaule comestível – exigência apenas quando o produto se destina à mesa.

Para fornecimento às agroindústrias, a amontoa não é utilizada. As irrigações

devem ser abundantes, a fim de promoverem um ótimo crescimento vegetativo.

O ciclo da semeadura à colheita ocorre em torno de 100 dias. Arrancam-se as

plantas e efetua-se a lavagem e o corte das raízes rente ao bulbo. Em alguns

mercados cortam-se as folhas na metade do comprimento; em outros, mantêm-se

as plantas inteiras. Se o produto se destina à mesa, as plantas são atadas em

maços. Se o destino é a agroindústria, as plantas são colhidas inteiras, devendo

ser rapidamente transportadas).

Page 4: A Cultura Da Cebola

Allium ampeloprasum:

- Alho-elefante (alho de cabeça grande) – hortaliça na Ásia Menor, no Irã, na

Caucásia e esporadicamente na Califórnia (Estados Unidos), e em outras regiões

da América e da Europa. Muitas vezes, as plantas se confundem com o alho, do

qual diferem na inflorescência (semelhante à do alho-porró) e nos bulbilhos, de

tamanho maior;

- kurrat – hortaliça que se assemelha ao alho-porró, mas com um pseudocaule

pequeno, não pronunciado. É cultivada principalmente no Egito. Essa hortaliça é

cultivada para aproveitamento de suas folhas verdes, que são colhidas a cada 3

ou 4 semanas, por um período de até 18 meses. A planta é fértil, se intercruza

livremente com alho-porró e produz híbridos também férteis.

Allium fistulosum: cebolinha-verde, cebolinha japonesa, cebolinha de todo-ano

ou cebolinha (Foi domesticada provavelmente no noroeste da China, sendo que

há relatos sobre essa espécie em escritos chineses do ano 100 a.C. Na literatura

japonesa ela é citada pela primeira vez no ano 720 da nossa era. A maior

variabilidade morfológica pode ser encontrada na China, na Coréia e no Japão.

Não é conhecida a forma silvestre de A. fistulosum, mas A. altaicum, um parente

silvestre, tem ampla dispersão nas montanhas da Mongólia e no sul da Sibéria.

Essa espécie foi introduzida na Europa, vinda da Ásia Central, no final da Idade

Média. Atualmente, é cultivada nas Américas, na Europa temperada e no leste da

Ásia. A cebolinha-verde é um condimento muito apreciado e cultivado em hortas

brasileiras. A planta, considerada perene, apresenta folhas cilíndricas e fistulosas

(ocas) com 30 a 50 cm de altura. Possui um pequeno bulbo cônico envolvido por

uma película rósea, com perfilhamento e formação de touceira. As folhas verdes

podem ser incluídas em saladas ou usadas para aromatizar sopas e outros pratos.

Sua pungência não é forte e as folhas contém cerca de 2% de proteína,

pouquíssima gordura, cerca de 5% de carboidratos digeríveis, caroteno,

complexo da vitamina B e cerca de 33 mg de vitamina C por 100 g).

Allium schoenoprasum: cebolinha-de-maço ou cebolinha-verde francesa (Como

planta nativa silvestre, ocorre naturalmente na maior parte do Hemisfério Norte,

sendo a espécie do gênero Allium com mais ampla distribuição geográfica. Essa

espécie é extremamente polimórfica e está sendo explorada pelo melhoramento

Page 5: A Cultura Da Cebola

genético, tanto como hortaliça quanto como ornamental. Provavelmente o

cultivo teve início na Itália, de onde foi disseminado para o centro e o oeste da

Europa, no início da Idade Média. É cultivada em todo o mundo, nas áreas

temperadas. A planta mede de 15 a 40 cm de altura, apresenta bulbos pequenos e

esbranquiçados, com 1 a 3 cm de largura e folhas estreitas tubulares. As flores

são roxo-pálidas ou cor-de-rosa. As partes utilizadas são as folhas, para temperar

carnes e frutos do mar, sopas, omeletes e molhos. As folhas contêm quantidades

razoáveis de caroteno e 45 mg de vitamina C por 100 g. As plantas são prenes,

com folhas cilíndricas e fistulosas de coloração verde escura. Podem ser

propagadas vegetativamente ou por sementes).

Filgueira (2008): as duas espécies de cebolinha são cultivadas por pequenos

olericultores. A cultivar mais tradicional é Todo Ano, européia, que apresenta

folhas de coloração verde-clara. Também tem sido introduzidas cultivares

japonesas - tipo ‘Nebuka’ ou ‘Evergreen’ -, como Natsu Hosonegui, de

coloração verde-intensa. As plantas assemelham-se à cebola, porém se

caracterizam pelo intenso perfilhamento, formando uma touceira. As folhas são

tubulares-alongadas, macias e aromáticas, de alto valor condimentar. Não se

observa um bulbo diferenciado, podendo surgir uma pequena estrutura cônica.

Esta cultura se adapta a uma ampla faixa de temperaturas amenas ou frias,

podendo ser cultivada ao longo do ano em regiões altas. Em regiões baixas,

cultiva-se no outono-inverno. A cultura adapta-se a vários tipos de solo,

produzindo melhor em pH 6,0 a 6,5. A adubação orgânica, especialmente com

esterco aviário, é benéfica, devendo ser incorporada aos canteiros semanas antes

do transplante. Em solos de fertilidade mediana ou baixa sugere-se a aplicação

de adubos no sulco de transplante contendo os seguintes teores de

macronutrientes por hectare: 30 kg N, 200-300 kg P2O5 e 100-120 kg K2O. Pode-

se complementar com 100 kg N em cobertura, parcelando-se três vezes, a cada

15 dias após o transplante, se necessário. Propaga-se a planta por meio de

semeadura em sementeira e do transplante da muda para o canteiro definitivo.

Também pode ser propagada pela divisão da touceira e pelo plantio das partes

vegetativas. Entretanto, quando surgem doenças, em razão do acúmulo de

fitopatógenos, volta-se a utilizar a semente. Plantam-se as mudas em sulcos

longitudinais, abertos nos canteiros, no espaçamento de 25 x 15 cm. Os tratos

Page 6: A Cultura Da Cebola

culturais se resumem em regas intensivas e capinas. As colheitas iniciam-se

quando a planta atinge 35 cm, cortando-se as folhas. Na propagação vegetativa

colhe-se aos 55 dias do plantio e na propagação por sementes aos 85 dias da

semeadura. Devido ao rebrotamento efetuam-se diversas colheitas. Conforme as

exigências do mercado também pode-se arrancar a planta de uma só vez,

obtendo-se um produto melhor. Comercializam-se plantas inteiras, com raízes

aparadas, amarradas em maços maiores. Outra forma de comercialização no

varejo são os maços menores, sendo comum a associação cebolinha-salsa.

Allium chinense: “rakkyo” (É cultivado na China, na Coréia, no Vietnã, na

Indonésia e em outros países do sudeste da Ásia. Foi introduzido na Japão, a

partir da China, provavelmente no primeiro milênio d.C. Nas Américas, foi

introduzido pelos imigrantes asiáticos, a partir da segunda metade do sec. XIX.

A forma silvestre é encontrada nas regiões montanhosas da China. As formas

cultivadas são propagadas por divisão do bulbo, uma vez que as flores não

produzem sementes. O rakkyo produz pequenos bulbos comestíveis, usados

principalmente em conservas. As folhas são também utilizadas como

condimento. As plantas apresentam crescimento semelhante à cebolinha verde

francesa. As folhas atingem de 30 a 60 cm de comprimento. Os bulbos, de

formato oval, são verde esbranquiçados ou roxos, envoltos por uma fina pele

transparente.

Allium tuberosum: “nirá”

Allium cepa var. ascalonicum: chalota (Os primeiros registros do cultivo de

chalota datam do sec. XII, na França, mas alguns autores afirmam que essa

espécie foi usada pelos antigos gregos e romanos. Atualmente, é cultivada em

muitos países. A chalota produz pequenos bulbos agregados, ovóides e estreitos,

geralmente cobertos por uma casca vermelho-amarronzada. Geralmente as

folhas e flores são menores do que as da cebola. Embora algumas cultivares

produzam sementes, a principal forma de propagação é vegetativa, feita pela

divisão do agregado de bulbos e replantio dos bulbos individuais. Consumida

crua ou cozida, é também muito usada em conservas. A composição nutricional

do bulbo é semelhante à da cebola).

Page 7: A Cultura Da Cebola

Algumas espécies de Allium são também cultivadas para uso ornamental, como

A. gigantheum, A. aflatunense e A. caesium, valorizadas pelas grandes umbelas e flores

coloridas. Essas espécies tem se tornado populares para uso em jardins rochosos, em

maciços e em bordaduras perenes. Algumas também são utilizadas como flores de corte.

Até a metade do sec. XIX, somente um pequeno número de espécies de Allium

era cultivada como ornamental. A situação mudou a partir de 1870, quando muitas

espécies foram trazidas do centro e do sudoeste da Ásia para jardins botânicos da Rússia

e da Europa, promovendo sua utilização. Atualmente, a Holanda é o maior produtor

comercial de bulbos de diferentes espécies de Allium ornamental. Algumas espécies são

produzidas comercialmente em Israel, na França, na Latvia (antiga Letônia) e no Japão.

Atualmente, muitas populações de espécies cultivadas e selvagens de Allium

ocupam áreas limitadas, mas mesmo assim mantêm altos níveis de diversidade genética.

Cada vez mais, elas devem ser estudadas, monitoradas e utilizadas em programas de

melhoramento genético avançados. Esforços devem ser somados na busca de genes para

resistência a doenças e pragas, de novas tecnologias para conservação genética ex situ e

in situ e da melhoria de características qualitativas dos alimentos, tais como

propriedades nutracêuticas e sabor.

Os crescentes processos de urbanização, o uso intensivo das terras e de

cultivares híbridas pelos agricultores constituem-se potencialmente em fontes de erosão

genética de landraces e cultivares antigas de Allium, de um gênero cujo cultivo data de

mais de 5000 anos.

Os estudos da distribuição geográfica, da história e da ecologia de espécies de

Allium auxiliam na formulação de estratégias de conservação e na previsão de usos

futuros de seu germoplasma. É fundamental que esses recursos genéticos, provenientes

da Ásia Central, continuem sendo coletados, preservados e explorados para o benefício

de seus habitantes e de toda a humanidade.

A variabilidade da espécie Allium cepa L. tem resultado em diferentes propostas

de agrupamento intraespecíficos, podendo ser colocadas em três grupos:

1) Grupo Typsicum (Regel): grupo das cebolas comuns, bulbos simples, grandes,

inflorescência tipicamente sem bulbinhos, plantas quase sempre originadas de

Page 8: A Cultura Da Cebola

sementes verdadeiras, bienais. Neste grupo estão todas as cebolas

comercialmente importantes.

2) Grupo Aggregatum (G. Don) (Allium cepa var. aggregatum): grupo das cebolas

com bulbos compostos, inflorescência tipicamente sem bulbinhos, podendo

produzir sementes ou ser estéril, anuais. Multiplicação quase que

exclusivamente vegetativa. Este grupo é caracterizado por bulbos que se

multiplicam livremente e são comumente usados para propagação. Possui três

formas distintas:

- Cebola múltipla ou batata (potato onin): os bulbos são agregados, de coloração

externa marrom e lateralmente numerosos. Esses bulbos laterais formam uma nova

planta e no segundo ano produzem bulbos que variam de 2 a 20. Raramente florescem e

as sementes são esparsas e de baixa germinação.

- Cebola sempre-pronta (Every-Ready onions): na Inglaterra servem para suprir

a falta de bulbos comerciais. Este tipo de cebola parece com o tipo comum, no entanto é

perene e possui poucos bulbos e folhas, a haste floral é curta e a umbela menor.

Raramente florescem e são propagadas por divisão, nunca por sementes. Um bulbo

produz de 10 a 12 bulbos.

- Chalota (Shallot): alguns autores a consideram pertencentes à espécie A.

ascolonicum, no entanto são formas de A. cepa. Usualmente são de pequena altura, mas

as flores e inflorescências são tipicamente de cebola comum.

3) Grupo Proliferum (Allium cepa var. proliferum): grupo das cebolas com

bulbos, as vezes deficientemente desenvolvidos. Inflorescência carregada de bulbinhos

usualmente sem sementes verdadeiras, reproduzidos vegetativamente pelos bulbinhos

da inflorescência.

Centro de Origem e Diversidade

Espécies pertencentes ao gênero Allium são encontradas em uma ampla gama de

latitudes e altitudes, incluindo o Círculo Polar Ártico, Continente Europeu, Ásia,

América do Norte e África. Até o presente, em contraste com a maioria das plantas

cultivadas, persistem dúvidas quanto ao exato centro de origem da cebola. O fato é que

Page 9: A Cultura Da Cebola

esta espécie pode ser classificada como uma típica “cultigen”, isto é, não existem relatos

da ocorrência de populações de A. cepa em condições naturais ou fora da esfera da

domesticação humana.

A maioria dos botânicos, todavia, concorda com Vavilov, que apontou a Ásia

Central como o seu provável centro de origem ou primário, devido a grande diversidade

de invasores do gênero Allium encontrados nessa área. De outro lado, o Oriente

Próximo e as regiões do Mediterrâneo são consideradas prováveis centros de

domesticação ou centros secundários de origem. A cebola é originária das regiões de

clima temperado que compreendem o Afeganistão, o Irã e partes do sul da antiga União

Soviética. De fato, diversas características morfológicas e fisiológicas da cebola dão

suporte a hipótese de que esta hortaliça tenha originado nas regiões áridas da Ásia

Central, de solos pobres e rasos e submetidos a constante estresse hídrico.

Entre as adaptações a estas condições extremas encontram-se a própria formação

de bulbos, que são bainhas foliares modificadas, recobertas por películas membranosas

(catáfilos) que servem como órgãos de reserva, sendo estes bulbos capazes de rebrotar

após períodos prolongados de estresse hídrico severo. Outras características associadas

com adaptação a regiões áridas são: 1) presença de níveis variáveis de cerosidade foliar,

que reduz a transpiração; 2) elevado potencial de água requerido para induzir o

fechamento dos estômatos; 3) baixa densidade radicular, que permite melhor exploração

de solos rasos e melhor equilíbrio hídrico com a parte aérea; 4) notável capacidade de

tolerar transplantio, mesmo quando praticamente todo o sistema radicular é removido;

5) presença de folhas de formato cilíndrico, que é o mais efetivo para dissipação de

calor da folha para o ar; 6) presença de folhas estreitas e com orientação quase vertical,

que evita a incidência direta dos raios solares em uma grande superfície foliar,

especialmente nas horas mais quentes do dia e 7) níveis de transpiração e fotossíntese

reduzidos em condições de altos potenciais de solo-água, que resulta em um limitado

crescimento, permitindo a planta sobreviver por períodos mais longos de seca. Muitas

dessas características apresentam consequências práticas em diversos aspectos

fitotécnicos da cultura, incluindo estratégias de nutrição e adubação, manejo de plantas

daninhas e irrigação.

Page 10: A Cultura Da Cebola

Centro Asiático Central: compreende um território relativamente pequeno ao

Noroeste da Índia (Punjab, Cachemira), todo o Afeganistão, as Repúblicas Soviéticas e

Tadjiquistão e Uzbequistão e a parte ocidental de Tian-chan.

Centro do Oriente Próximo: ocupa área abrangendo o interior da Ásia Menor,

toda a Transcaucásia, Irã e as terras altas de Turkimenistão

Centro Mediterrâneo: compreende os países em torno do Mar Mediterrâneo.

A cebola é uma das espécies de hortaliças mais antiga e tem sido cultivada por

mais de 5.000 anos, sendo mencionada tanto na Bíblia quanto no Corão Islâmico. O

registro mais antigo sobre seu cultivo data de cerca de 3200 a.C. Provavelmente não

existe mais em estado selvagem. As espécies mais próximas são A. galanthum e A.

vavilovii, as quais ainda podem ser encontradas em estado selvagem em áreas da antiga

União Soviética e no Afeganistão. A exceção de A. dregeanum, que é originária do

Hemisfério Sul, todas as demais espécies do gênero Allium conhecidas ocorrem nas

altas latitudes do Hemisfério Norte. Os europeus trouxeram a cebola para as Américas

logo no início do “descobrimento” e no século XIX a introduziram no leste da Ásia.

A cebola é uma das plantas cultivadas de mais ampla difusão no mundo, sendo a

segunda hortaliça em importância econômica, com valor da produção estimado em

cerca de US$ 6 bilhões anuais. A produção mundial apresentou aumento de cerca de

25% na última década, o que coloca a cebola como uma das três hortaliças mais

importantes, ao lado do tomate e batata. O valor social da cultura da cebola é

inestimável, sendo consumida por quase todos os povos do planeta, independente da

origem étnica e cultural, constituindo-se em um importante elemento de ocupação de

mão-de-obra familiar. É uma planta extremamente versátil em termos alimentares e

culinários, sendo utilizada para consumo na forma de saladas, condimento ou

processada. Devido suas características de boa conservação pós-colheita, o que permite

o transporte dos bulbos a longa distância, a cebola foi historicamente uma das hortaliças

com maior trânsito global, estando envolvida em transações comerciais entre países de

todos os continentes. A cebola figura entre as primeiras plantas cultivadas introduzidas

na América a partir da Europa, levada inicialmente por Cristóvão Colombo para o

Caribe.

No Brasil, a cultura da cebola teve início no século XVIII, no Rio Grande do Sul

(municípios de Mostardas, Rio Grande e São José do Norte), introduzida pelos

Page 11: A Cultura Da Cebola

açorianos. Em Santa Catarina o cultivo começou na região de Florianópolis e, nos anos

30, foi deslocado para a região das nascentes do Rio Itajaí do Sul. Logo em seguida foi

introduzido na Região Sudeste, no interior de São Paulo. No Nordeste brasileiro, a

cebola foi introduzida no final da década de 1940 na região de Cabrobó e Belém do São

Francisco, sendo predominantemente produzida no Vale do São Francisco, onde o

cultivo é realizado durante o ano todo. Seleções locais como Roxa do Barreiro e

Roxinha de Belém, esta última A. cepa var. aggregatum, já eram cultivadas na região.

A partir de acessos de cebola introduzidos da Europa, foram selecionadas duas

populações principais: Baia Periforme no Rio Grande do Sul e Crioula em Santa

Catarina. As principais populações de cebola cultivadas no sul dos Estados Unidos são

do tipo “Grano”, resultado de seleções em populações originárias da região de Valencia,

na Espanha.

As cultivares desenvolvidas pela Empresa Pernambucana de Pesquisa

Agropecuária (IPA) ocupam quase 90% do total da área cultivada com cebola na região

do Vale do São Francisco. Cultivares importadas do tipo “Grano” e híbridos tipo

“Granex” são tradicionalmente cultivados no Nordeste e no Sudeste do Brasil, sendo

que no Nordeste dominaram o mercado até por volta de 1995. No Sul do Brasil

predominam as cultivares dos tipos ‘Baia Periforme’ e ‘Crioula’.

Populações cultivadas ou não cultivadas e disponíveis em coleções de

germoplasma brasileiras apresentam ampla variabilidade fenotípica quanto ao formato,

firmeza, tamanho, cor e qualidades organolépticas dos bulbos, resistência a doenças,

entre outras características. Entretanto, para obtenção de híbridos F1 no Brasil existem

limitações, tais como o germoplasma nacional ser basicamente de Baia Periforme.

Híbrido Baia x Baia não tem apresentado grandes vantagens sobre o material de

polinização aberta. Adicionalmente, há poucos profissionais trabalhando com

melhoramento genético de cebola e pouco germoplasma.

Importância Econômica

Dentre as várias espécies cultivadas pertencentes ao gênero Allium, a cebola é a

mais importante sob o ponto de vista de volume de consumo e valor econômico, tendo

sua cultura espalhada no mundo inteiro.

Page 12: A Cultura Da Cebola

De acordo com a FAO (2009), a produção mundial de cebola em 2007 foi de

64,47 milhões de toneladas cultivadas em 3,45 milhões de hectares, com produtividade

de 18,68 t ha-1. Dentre os maiores produtores mundiais destacaram-se a China e a Índia,

que em conjunto responderam por aproximadamente 44,56% do total mundial. O Brasil

posicionou-se em 8º lugar entre os maiores produtores, participando com apenas 2% da

produção mundial. A China apresenta sua elevada produção sustentada mais pela grande

área plantada do que pela produtividade, que foi apenas 10,14% acima da produtividade

média mundial. Em termos de produtividade média sobressai a Coréia (57 t ha-1),

seguido dos EUA (55,9 t ha-1) e Espanha (52,8 t ha-1). A produtividade brasileira supera

a produtividade média mundial em 11,53%. Entre as causas da baixa produtividade no

Brasil destaca-se o estresse ambiental, incidência de doenças e utilização de cultivares

não adaptadas aos sistemas de cultivo. O mercado mundial de cebola mostrou-se

expressivamente dinâmico, visto que comparando aos anos de 2000 e 2006 constatou-se

incremento da produção em 29,5%, das importações em 59,17% e das exportações em

62,45%. O consumo aparente de cebola, mundialmente, aumentou em 29,30%, o que

significa que a população passou a consumir maior quantidade de cebola. Os nove

maiores exportadores de cebola em 2006 foram Índia, Holanda, China, EUA, Argentina,

Espanha, Egito, Polônia e Irã, os quais responderam por 75% de toda a exportação

mundial. A China tem o Japão como seu principal comprador, com quase 50% das

exportações chinesas. A Índia abastece mais de 25 países de forma regular, sendo os

principais clientes Bangladesh, Malásia, Sirilanka e Emirados Árabes, com

aproximadamente 90% das exportações indianas. A sazonalidade da cebola americana

ocorre nos meses de outubro e novembro. O Egito vem destinando suas exportações

principalmente à Arábia Saudita e Kuwait. O México apresenta um consumo interno de

10,35 kg per capita ano e ainda exporta 90% de sua produção para os EUA. A Espanha

é o segundo exportador europeu e a produção ocorre em todo o país.

No âmbito das importações, os países que apresentaram maior demanda externa

foram Rússia, Bangladesh, Malásia e Japão.

No Brasil, ao lado da batata e tomate, destaca-se como a terceira hortaliça

economicamente mais importante (Souza et al., 2008), principalmente pela quantidade

de emprego e renda gerada em todo o segmento de sua cadeia produtiva (Costa et al.,

2005). A importância dessa hortaliça está ligada principalmente ao seu aspecto social,

devido ao envolvimento de um grande número de famílias e por ser típica de pequenas

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propriedades. No país, mais de 60.500 famílias se dedicam a essa atividade, com uma

área média de 0,65 ha. Entretanto, nos últimos anos, nota-se o crescimento do segmento

empresarial na exploração da cultura da cebola, com dinâmicos pólos de produção

altamente tecnificados, elevados índices de produtividade e destacável qualidade de

bulbos.

No Brasil, o consumo aparente de cebola fresca em 2008 foi estimado em 1,047

milhões de toneladas (87.250 t mês-1). Entretanto, de acordo com as estimativas da

ANACE (2009), o consumo mensal de cebola no Brasil situa-se entre 85 a 90 mil

toneladas por mês. Considerando os dois limites do consumo estimado pela ANACE, a

média calculada é de 87.250 toneladas mês-1, portanto, é bastante precisa a estimativa do

agronegócio que levemente excede ao consumo aparente estimado em apenas 0,25%.

Entretanto, a produção nacional, que deveria ser da ordem de 88 mil toneladas mês -1

para atender ao consumo, intercala períodos de escassez de produção nos meses de

março, abril, maio, outubro e novembro e excesso de produção nos meses de janeiro,

fevereiro, junho, julho, agosto e setembro. Essas oscilações complicam o mercado

causando instabilidade de preços. Analisando a oferta de mercado dos estados em

relação ao consumo aparente verifica-se que superou a média do consumo aparente

calculado a produção do Rio Grande do Sul, que entra no mercado no mês de novembro

e finaliza em junho, a de Santa Catarina, de outubro a maio, a do Paraná, de outubro a

maio, e as de São Paulo, Pernambuco e Bahia durante o ano inteiro. No ano de 2008 o

Brasil teve sua oferta escalonada em 1,061 milhões de toneladas, que superou a

demanda estimada (consumo aparente) em 1,36%. Observa-se que, embora sem o

planejamento consistente, ou seja, períodos intercalados por excesso e escassez de

oferta, a safra nacional se estende por todos os meses do ano, o que indica a

possibilidade de abastecimento do mercado pela produção nacional.

A safra de Goiás, que entra no período da entressafra, poderia dar boa

contribuição para a auto-suficiência do abastecimento pela produção nacional, uma vez

que no município de Cristalina a cebola vem sendo exclusivamente explorada por

grupos empresariais em lavouras altamente tecnificadas, alcançando produtividade

média de mais de 70 t ha-1. De acordo com Boeing (2002), o custo do frete da cebola

argentina até o Brasil é igual ao custo de produção da cebola brasileira. Portanto, cabe

aos produtores brasileiros competir com a cebola argentina nos parâmetros de qualidade

superior. Somente no CEAGESP, em 2008, foi movimentado 64,943 mil toneladas de

Page 14: A Cultura Da Cebola

cebola, proveniente da Argentina (24,48%), Santa Catarina (28,85%), São Paulo

(39,0%) e .....

No Brasil, é flutuante o mercado de cebola, o qual em determinados períodos

apresenta fortes desequilíbrios entre oferta e demanda. Apesar da transparente

instabilidade do mercado brasileiro de cebola, existem oportunidades para os produtores

de cebola tanto no Brasil como no mercado global, desde que invistam na qualidade do

produto e em embalagens adequadas e atrativas ao mercado internacional. Além disso, a

busca de novos nichos de mercado, como o do cebola doce para sanduíches e saladas,

que tem a preferência dos consumidores norte-americanos e europeus, é uma boa opção.

Já as cebolas altamente picantes são as preferidas pelo mercado asiático.

A globalização da economia mundial e a formação do Mercosul interferiram

significativamente no mercado de hortaliças no Brasil, sobretudo com relação à cultura

da cebola. Em razão de não existir uma política comercial restritiva entre os países do

MERCOSUL, as entradas livres e intempestivas, em detrimento das atividades

produtivas do Brasil transferem-se para uma preocupação social mais ampla. As

tendências das produções na Argentina e no Brasil evidenciam um mercado competitivo

do qual continuarão participando aqueles países que tiverem maiores vantagens

comparativas e fizerem reconversão nos setores produtivos. Somente continuará no

mercado o produtor que se tecnificar, obter produto de qualidade e se adaptar às

mudanças de mercado.

A cebolicultura nacional é uma atividade praticada principalmente por pequenos

produtores e sua importância sócio-econômica fundamenta-se não apenas em demandar

grande quantidade de mão-de-obra, contribuindo na viabilização de pequenas

propriedades, mas também em fixar os pequenos produtores na zona rural, reduzindo a

migração para as grandes cidades. No aspecto de geração de emprego e renda, estima-se

que a cadeia produtiva gere mais de 250 mil empregos diretos só no setor da produção.

A cultura de caráter tipicamente familiar (88%) é responsável pela sobrevivência

no campo de um grande número de pequenos produtores, que tem a cebola como única

fonte de renda. Uma das características marcantes do setor produtivo é que mesmo nas

médias e grandes propriedades o sistema de produção é em parceria, ou seja, o

empresário fornece a terra, capital, máquinas e insumos, enquanto as famílias parceiras

entram com mão-de-obra para o cultivo, tratos culturais e colheita. A maior parte (65%)

Page 15: A Cultura Da Cebola

dos produtores de cebola está concentrada nos extratos de área menores que 20 ha e são

responsáveis por 51,7% da produção nacional.

No Brasil, a produção de cebola concentrava-se em três áreas bem definidas:

Latitude % produção anual

Sul (SC, RS e PR) 25 - 33° 47,7

Sudeste (SP) 21 - 22° 35,3

Nordeste (PE e BA) 9° 15,2

Outros Estados 1,4

Nesses Estados, ainda tradicionalmente se concentra em alguns municípios:

RS: Rio Grande, São José do Norte

SC: região micro-colonial do Alto Itajaí (Ituporanga, Petrolândia, Aurora)

SP: regiões de Piedade, São José do Rio Pardo, Monte Alto

PE: Belém de São Francisco, Cabrobó

BA: Casa Nova, Xique-Xique

Descrição da Planta

A cebola é diplóide, com número básico de cromossomos de 2n = 16, sendo uma

das espécies mais polimórficas, exibindo diferenças quanto ao formato, tamanho,

coloração e conteúdo de matéria seca dos bulbos, reação ao fotoperiodismo e outros

caracteres da planta.

A planta é tenra, atinge 60 cm de altura e apresenta folhas tubulares, cerosas ou

não, as quais apresentam disposição alternada, formando duas fileiras ao longo do caule.

As bainhas foliares, as quais as folhas se inserem, projetam-se acima da superfície do

solo e formam uma estrutura firme, comumente chamada de caule, mas que na realidade

Page 16: A Cultura Da Cebola

é um pseudocaule, cuja parte inferior é um bulbo. (As folhas não apresentam pecíolo,

apenas bainha e limbo. As folhas jovens crescem de modo que a bainha envolve

completamente o ponto de crescimento e forma um tubo que encapsula os primórdios

foliares e o meristema apical. Parte dessa bainha permanece sobre o solo e a outra

porção, dilatada, permanece subterrânea. Em seção transversal o formato das folhas é

quase circular, apresentando a face adaxial um pouco achatada. A coloração das folhas

pode ser verde, verde-clara, verde-amarelada, verde-acinzentada, verde-escura, verde-

azulada, verde-violácea ou outra, e deve ser computada na caracterização do

germoplasma. A presença de uma cobertura cerosa – que varia de fraca a forte –

contribui para o aspecto da folha, conferindo uma aparência característica. A

intensidade da camada cerosa varia de ausente a muito forte. A camada cerosa espessa,

presente nas folhas das variedades Crioula, cultivadas no Sul do Brasil, confere proteção

ao clima úmido dessa região do País. Na caracterização de germoplasma de cebola o

comprimento e a largura do limbo foliar devem ser registrados em centímetros para a

folha mais longa, em 5 a 10 plantas por acesso. Além dessas medidas, o hábito da

folhagem (prostrada, intermediária ou ereta) e a resistência à quebra de folhagem (fraca,

média ou forte) também devem ser anotados. Para o registro e proteção de novas

cultivares de cebola, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento requer nos

exames de distinguibilidade tanto homogeneidade quanto estabilidade a caracterização

da quantidade de folhas por pseudocaule, da posição da folhagem, da intensidade da

cerosidade, da coloração da folha, da intensidade de dobra das folhas, do diâmetro

máximo da folha, o comprimento do pseudocaule até a base da folha verde mais alta e

do diâmetro do pseudocaule).

O caule verdadeiro, localizado na extremidade inferior do bulbo e abaixo da

superfície do solo, é um disco comprimido, achatado, na base da planta, de onde partem

folhas e raízes. (O caule assume um formato discoidal e está localizado abaixo do nível

do solo, ou seja, é subterrâneo. No centro desse disco encontra-se o meristema apical, a

partir do qual as folhas surgem umas opostas às outras e alternadamente. Apesar do

formato achatado do caule, alguns dos tecidos encontrados num caule típico podem ser

distinguidos. Os vasos do xilema e do floema, oriundos das raízes, apresentam

ramificações na área basal de inserção e formam conexões com vasos procedentes de

outras raízes, originando uma rede de tecido vascular que é distribuída paralelamente à

superfície externa do caule. Imediatamente externa a essa camada vascular repousa uma

Page 17: A Cultura Da Cebola

endoderme de células simples e recobrindo esta, um córtex pluriestratificado. No centro

do caule existe uma medula destituída de vasos e, no topo, envolvendo o meristema

apical, mas separada dele, há uma região de intensa divisão celular. O que parece um

caule aéreo é um pseudocaule formado pelas bainhas foliares concêntricas e lâminas

foliares jovens, que crescem do interior das bases das folhas antigas).

As raízes são fasciculadas e pouco ramificadas, crescem no sentido

predominantemente vertical, concentrando-se nos primeiros 30 cm de solo. De forma

geral, as raízes raramente alcançam a 25 cm de profundidade, sendo que lateralmente

não superam a 15 cm. (Durante a germinação a raiz primária emerge e transporta os

primeiros nutrientes retirados do solo para a plântula em estabelecimento. Embora a raiz

primária seja crucial para o sucesso da plântula, a formação de raízes adventícias –

raízes que tem origem num meristema diferente do meristema radicular primário –

inicia, e em poucas semanas, a raiz principal é perdida. A partir daí, todo o sistema

radicular da cebola passa a ter origem em meristemas oriundos do caule (adventícios),

uma das principais características da monocotiledôneas. As raízes adventícias são

formadas ao redor do caule, próximas às bases das folhas jovens, crescendo

horizontalmente até atingirem as camadas externas discoidal, de onde emergem e

passam a crescer para baixo. Com o crescimento, o disco caulinar se expande e as bases

das folhas mais velhas são empurradas, progressivamente, para longe do meristema

apical, enquanto novas raízes adventícias continuam a emergir próximo ao ápice).

A parte da cebola comercializada e utilizada na alimentação é um bulbo

tunicado, compacto, originado pela superposição de bainhas foliares carnosas. Aquela

bainha mais externa constitui uma película seca, denominada túnica, brilhante e com

coloração típica da cultivar. (O que parece um caule aéreo é um pseudocaule formado

pelas bainhas foliares concêntricas e lâminas foliares jovens, que crescem do interior

das bases das folhas antigas. A porção subterrânea e túrgida dessas bases muitas vezes é

confundida com uma raiz e, junto com o caule, constitui uma estrutura de reserva

denominado bulbo. O bulbo é uma estrutura de origem mista, onde um sistema caulinar

subterrâneo apresenta seu eixo extremamente reduzido, recebendo o nome de prato, e

tem suas gemas e primórdios foliares protegidos por bases foliares ou folhas

subterrâneas modificadas, que possuem substâncias de reserva. A porção do bulbo de

cebola utilizada na alimentação são as bainhas foliares. As bainhas foliares das folhas

velhas formam as escamas ou casca do bulbo e se distanciam do ápice pela expansão

Page 18: A Cultura Da Cebola

lateral do caule. Os estágios iniciais de formação dos bulbos envolvem o espessamento

das bainhas foliares, sendo precedidos por alongamento repentino. O espessamento

ocorre como resultado da expansão lateral das células na terceira camada celular mais

baixa das bainhas e não envolve divisão celular. Durante o crescimento do bulbo, o

desenvolvimento de folhas com limbo pára e passam a ser formadas apenas bases

foliares e sem limbo, dentro das bases das folhas mais antigas. À medida que o bulbo

aproxima-se do ponto de colheita, as bases foliares mais externas formam uma pele ou

casca protetora fina e seca. Na maturidade, um bulbo de cebola tem duas peles secas

encapsulando quatro bainhas dilatadas, originadas de folhas com lâminas. Estas, por sua

vez, encobrem três ou quatro folhas sem lâminas e, finalmente, no centro, existem

outros cinco primórdios foliares com limbo. Ao lado do meristema apical podem formar

um ou mais brotos laterais chamados de pontos vegetativos, centros ou corações da

cebola. A frequência de diferenciação do meristema apical varia com a cultivar e as

condições de crescimento, sendo mais comum sob temperatura e níveis de luminosidade

elevados. Ao término de um ano, o número de pontos vegetativos apresentado por um

bulbo é um descritor utilizado na caracterização de germoplasma de cebola e, embora

muitas vezes seja uma característica que passe despercebida pelo consumidor final, a

presença de mais de um coração por bulbo é um caráter indesejável, com certo grau de

rejeição. A formação de mais de um centro no bulbo está relacionada à reprodução

vegetativa que pode ocorrer em plantas de cebola, uma vez que após a formação de

centros múltiplos, estes podem separar-se e originar indivíduos independentes, com a

decomposição da bainha que os envolve. Autores gregos e romanos da antiguidade

descreveram diversas variedades de cebola com formatos arredondados ou alongados,

de sabor suave ou pungente, e de cores variadas, como branco, amarelo ou vermelho,

sendo essa grande variabilidade existente para as características de bulbo um indicativo

de seleção intensa. A variabilidade apresentada para os diversos caracteres de bulbo e

sua caracterização por uso de descritores são importantes, pois o bulbo é o principal

objetivo da produção de cebola. A caracterização deve ser feita em bulbos, em ponto de

colheita ou maduros – após o estalo. O bulbo possui conformação variável e assume

diversos formatos, como pião achatado, achatado-globular, romboidal, oval-alongado,

globular, elíptico-alongado, oval-alargado, fusiforme ou outro. Existe segregação para

formato do bulbo e a uniformidade para esse caráter pode varia dentro da população ou

entre populações. No desenvolvimento de uma nova cultivar, é buscado uniformidade

de formato para os bulbos. Num bulbo em ponto de colheita, a espessura da casca varia

Page 19: A Cultura Da Cebola

de fina até grossa e é determinada pela quantidade de escamas retidas. A conservação

pós-colheita dos bulbos está relacionada com o número de escamas retidas, entre outros

caracteres. A coloração da casca pode assumir as tonalidades branca, amarela e marrom

clara no mesmo bulbo, marrom-clara, marrom, marrom-escura, verde, lilás, roxa ou

outra e varia de acordo com os compostos sintetizados pela planta e ali depositados. As

camadas internas à casca, formadas por bainhas foliares túrgidas e primórdios foliares

constituem a polpa da cebola, a qual pode ser branca, creme, verde e branca, roxa e

branca ou de outra coloração diferente).

O florescimento em cebola é condicionado, primariamente, por temperaturas

baixas. É importante ressaltar que durante a fase juvenil as cebolas não podem ser

induzidas ao florescimento sem antes atingir peso e número de folhas suficiente.

Quando essas características são atingidas inicia a termofase. Nela, por meio de baixas

temperaturas, as cebolas são induzidas à formação das inflorescências. Na fase

competitiva esses primórdios de inflorescências podem regredir, degenerando em

condições que favoreçam o desenvolvimento do bulbo, devido à aparente competição

entre o desenvolvimento da inflorescência e do bulbo. As inflorescências são

particularmente vulneráveis antes de serem expostas fora do bulbo ou pseudocaule, uma

vez que são visíveis. Quando a planta é induzida a florescer, a gema apical pára de

emitir primórdios foliares e inicia a formação da inflorescência (qualquer sistema de

ramificação terminado em flores é denominado inflorescência), com subsequente

elongação da haste ou escapo floral. Nessa fase, o caule, que permanece como um disco

comprimido durante todo o crescimento vegetativo, alonga somente para formar o

escapo floral. A conclusão da floração é favorecida por temperaturas superiores àquelas

das duas fases anteriores. Na cebola, a inflorescência é uma umbela sustentada por um

escapo floral. O escapo floral é definido como um pedúnculo, geralmente sem folhas,

que pode ser provido de escamas ou brácteas, sendo originário da porção caulinar de um

bulbo ou rizoma, entre outras estruturas. O escapo floral de cebola possui uma bráctea

que envolve todas as flores, denominada espata. Quando a espata abre, as flores que

compõem a umbela são expostas aos polinizadores. A altura das hastes florais, em geral,

varia de 0,5 a 1,5 m. Cada planta poderá emitir de 1 a 20 hastes florais, dependendo do

número de gemas laterais existentes no caule. A haste floral é, inicialmente, uma

estrutura sólida, mas á medida que cresce torna-se oca. No topo da haste floral

desenvolve-se uma inflorescência de forma esférica, em cimeira. Essa estrutura floral é

Page 20: A Cultura Da Cebola

chamada de umbela, possuindo de 50 a 2000 flores. Esse número varia de acordo com a

cultivar e as condições de crescimento e se a umbela for formada a partir do meristema

apical ou de meristemas laterais. Na verdade, a umbela é constituída por um agregado

de muitas pequenas inflorescências de 5-10 flores (cimeiras), cada uma delas abrindo

em uma sequência definida, causando considerável irregularidade no processo de

abertura das flores. Em geral, há uma amplitude de 25 até mais de 30 dias entre a

abertura da primeira e da última flor de uma mesma umbela. O número de umbelas por

bulbo varia com a cultivar, época de plantio, tamanho do bulbo e condições de

vernalização, porém comumente a planta forma de 3 a 6 umbelas.

Cada flor da cebola é perfeita e contem seis estames (três internos e três

externos), três carpelos unidos com um único pistilo e perianto com seis segmentos,

estando encerrada por brácteas. As pétalas são de coloração branca até verde ou

violácea. O pistilo contém três lóculos, cada um dos quais com dois óvulos, produzindo

no máximo 6 sementes por flor. As flores contém nectários localizados na base dos

estames e o néctar é acumulado entre o ovário e os estames internos. A polinização é

entomófila; o néctar secretado atrai insetos como abelhas, vespas e moscas, entre outros,

que são os principais agentes polinizadores.

As anteras dos três estames internos abrem-se primeiro e, uma após outra,

liberam seu pólen. Depois há a deiscência das anteras dos três estames externos,

também em intervalos irregulares. De acordo com International Plant Genetic

Resources Institute, a coloração das anteras pode ser amarela, alaranjada, bege, cinza,

verde, roxa ou outra. A maior parte do pólen é liberada entre 9 h da manhã e 5 h da

tarde do primeiro dia em que ocorreu a abertura da flor. As anteras liberam pólen em

um período de três a quatro dias antes do estilo alcançar seu comprimento máximo e o

estigma tornar-se receptivo. Esse descompasso entre a maturidade dos órgãos sexuais

masculino e feminino (protandria) favorece a polinização cruzada, que ocorre a uma

taxa de 93%, aproximadamente. A baixa taxa de autofecundação existente dá-se através

da transferência de pólen entre flores de uma mesma umbela ou entre flores de umbelas

diferentes de uma mesma planta, mas é impossível a sua ocorrência dentro de uma flor,

individualmente. Os efeitos da depressão por autofecundações sucessivas na cebola são

bem acentuados, sendo mais pronunciados na segunda geração. Portanto, há heterose

pronunciada em híbridos F1.

Page 21: A Cultura Da Cebola

De acordo com o International Plant Genetic Resoucers Institute (2001) são

descritores utilizados na caracterização de inflorescências: a) a capacidade de

florescimento das plantas de um acesso; b) a medida em centímetros da altura do escapo

floral de 5 a 10 plantas com escapos totalmente floridos e a estrtura externa do escapo

(se ele é oco, sólido ou de parede espessa com um canal fino interno. Tais descritores

devem ser observados em plantas completamente desenvolvidas no início da floração.

Para a caracterização de germoplasma devem ser utilizadas inflorescências originadas

do meristema principal. O descritor é agrupado nas seguintes classes: a) flores ausentes;

b) poucas flores (< 30) e c) muitas flores (> 30) por umbela.

As sementes de cebola são globulares ou angulosas e cobertas por uma grossa

testa (camada mais externa da semente) negra. Embora propagada por sementes, a

cebola também pode ser propagada vegetativamente, plantando-se os bulbos. Isso

normalmente é utilizado na cultura do bulbinho.

Características Nutricionais e Funcionais

Atualmente, o papel da nutrição vai além da ênfase sobre a importância de uma

dieta balanceada. Ele deve almejar a otimização das funções fisiológicas, garantir o

aumento da saúde e bem-estar e a redução do risco de doenças. Nesse novo contexto os

alimentos funcionais apresentam papel fundamental, podendo ser definidos como

alimentos que em uma dieta padrão fornecem benefícios além da nutrição básica.

Alguns de seus componentes, que podem ser nutrientes ou não, auxiliam na prevenção e

recuperação de doenças e nas funções relativas aos mecanismos de defesa e controle do

ritmo corporal.

Há muito tempo acredita-se que o consumo de cebola auxilia na prevenção de

certas doenças, o que a caracteriza como alimento funcional. Embora apresentem

reconhecidas propriedades funcionais, as cebolas são consumidas principalmente pela

sua capacidade de adicionar sabor a outros alimentos.

Açúcares e ácidos orgânicos contribuem substancialmente para o sabor da

cebola. No entanto, o sabor, odor e pungência característicos dessa hortaliça são

formados quando os tecidos da planta são cortados ou rompidos, resultando na

decomposição enzimática de sustâncias que contém enxofre na sua estrutura,

Page 22: A Cultura Da Cebola

denominadas de sulfóxidos de cisteína. A recente caracterização dessa enzima,

responsável pelo efeito lacrimatório da cebola em seres humanos, abriu a possibilidade

de estabelecer processos mais eficientes de desenvolvimento e seleção de cultivares

isentas desta característica, as chamadas cebolas doces ou suaves.

A composição da cebola é influenciada pelas condições de cultivo, tais como

sistema de produção, tipo de solo e clima, além de fatores genéticos. A cebola não pode

ser considerada uma boa fonte nutritiva, devido a seus baixos teores de proteínas e

açúcares. A água corresponde a 89-95% de seus constituintes, apresentando

variabilidade em baixos níveis. Comparativamente a outras hortaliças frescas é

relativamente rica em energia, intermediária no conteúdo de proteínas e rica em cálcio e

riboflavina.

Possui mono e dissacarídeos (açúcares totais em torno de 6%), proteínas (1,6%),

gordura (0,3%), sais minerais (0,65%), alguns compostos fenólicos e ácidos (málico,

cítrico, succínico, fumárico, quínico, biotínicos, nicotínicos, fólicos, pantotênicos e

ascórbico. A cebola possui diferentes minerais, como cálcio, ferro, fósforo, magnésio,

potássio, sódio e selênio. Destes, a contribuição da cebola em uma dieta padrão é

significativa para o selênio, que é um mineral-traço essencial, ou seja, é necessário para

o organismo em quantidade mínimas, porém em doses elevadas torna-se tóxico.

Deficiências de selênio geram catarata, distrofia muscular, depressão, necrose do fígado,

infertilidade, doenças cardíacas e câncer. Esse mineral oferece proteção contra doenças

crônicas associadas ao envelhecimento, tais como arteriosclerose, câncer, artrite, cirrose

e efisema.

De acordo com a Associação Nacional de Cebolas dos Estados Unidos a cebola

possui baixas calorias, em torno de 40-50 calorias por porção, não contem sódio,

gordura e colesterol e provê o ser humano em fibra dietética, vitaminas C e B6, potássio

e outros nutrientes necessários, estando associada com numerosos benefícios à saúde

humana.

Devido a sua associação com características funcionais, especialmente nos

países mais desenvolvidos, seu consumo tem aumentado. Pesquisas recentes têm

procurado comprovar os benefícios da cebola para a saúde, além de identificar os

compostos responsáveis por tal. A cebola é particularmente rica em dois grupos de

compostos com comprovado benefício à saúde humana: flavonóides e sulfóxidos de

Page 23: A Cultura Da Cebola

cisteína (compostos organosulfurados). Dois sub-grupos de compostos do tipo

flavonóide predominam em cebolas: as antocianinas (que conferem coloração

avermelhada ou arroxeada aos bulbos) e as quercetinas e seus derivados (que conferem

coloração amarelada ou cor de pinhão aos bulbos). As antocianinas, quercetinas e seus

derivados são de grande interesse pelas suas propriedades anticarcinogênicas. Pesquisas

ainda demonstram que esta pode ajudar contra cataratas e doenças cardiovasculares.

Muitos dos benefícios proporcionados a saúde pela cebola e espécies

relacionadas são atribuídos aos compostos organosulfurados, os quais chegam a compor

de 1 a 5% do peso seco total de bulbos maduros. Os compostos com enxofre são

metabólitos secundários vegetais, derivados de aminoácidos. A ação da enzima anilase

sobre os sulfóxidos de cisteína forma substâncias voláteis (tiosulfinatos, e mono- di- e

tri- sulfídeos. A gama de propriedades funcionais atribuídas aos compostos

organosulfurados incluem propriedades anticarcinogênicas, atividade antiplaquetária,

atividade inibidora de tromboses, ação antiasmática e efeitos antibióticos sobre

Staphylococcus aurens, além de redução da pressão sanguínea e dos níveis de

colesterol.

Pungência

A pungência é a combinação do sabor e aroma da cebola e causa irritação das

mucosas do nariz, boca e olhos, em razão da presença de compostos orgânicos

sulfurosos.

Os compostos responsáveis pelo sabor e aroma e pela pungência característicos

da cebola são formados pela decomposição enzimática de precursores sem odor, os

quais contêm enxofre nas suas estruturas. Os bulbos intactos da planta apresentam

apenas leve aroma, mas não possuem ação lacrimogênea. A ação do sistema enzimático

ocorre quando o tecido da cebola é injuriado (imediatamente após o corte), colocando a

enzima anilase, compartimentalizada no vacúolo da célula, em contato com os

precursores localizados no citoplasma, produzindo efeito lacrimatório e os vários

compostos causadores do sabor, aroma e pungência. O principal precursor do “flavor”

de cebolas é o composto sulfurado Sulfóxido de L-Cisteína S - (1-propenil), o qual, no

momento do corte, sofre o efeito da enzima alinase, dando origem aos Ácidos Sulfênico

e Pirúvico e à Amônia, como se observa na reação:

Page 24: A Cultura Da Cebola

Sulfóxido alinase

de Ácido Sulfênico + Ácido pirúvico + Amônia

Cisteína água (aroma)

Óxido de Tiopropanal (lacrimogêneo) – o odor e o sabor típico é dado por um óleo volátil que excita as glândulas lacrimais por meio do princípio ativo óxido de tiopropanal, liberado quando as células são danificadas.

Diferenças na intensidade do sabor e aroma entre cultivares são devidas a

diferenças na concentração e proporção dos precursores sintetizados e na concentração e

atividade da anilase. Quanto mais alta a concentração dos precursores mais alto o sabor

o aroma e a pungência. Quanto à pungência, a cebola pode ser classificada em:

Fracas (cebolas suaves ou doces): 2 - 4 moles de ácido pirúvico por grama de massa

fresca;

Intermediárias: 8 - 10 moles de ácido pirúvico por grama de massa fresca;

Forte: 15 - 20 moles de ácido pirúvico por grama de massa fresca.

Como o ácido pirúvico e os compostos pungentes são formados em

concentrações equimolares pela ação da anilase, a concentração de ácido pirúvico é

usada como estimativa da pungência em cebola.

O tipo de cebola preferido varia com o mercado e preferência do consumidor.

Em muitos países desenvolvidos, a indústria de hortaliças e os consumidores dividem as

cultivares de cebola em dois grandes grupos: curadas para armazenamento e de

consumo fresco. As cebolas curadas são geralmente menores, mais firmes e pungentes e

resistem a vários meses de armazenamento. Devido ao seu menor tamanho e sabor forte,

as cebolas curadas são utilizadas principalmente para dar sabor a alimentos cozidos. As

cebolas de consumo fresco são maiores, mais macias, mais doces, e de sabor suave.

Possuem período de comercialização curto, devido ao período de colheita e de vida pós-

Page 25: A Cultura Da Cebola

colheita curtos. Pelas suas características, são preferidas para serem consumidas em

saladas.

No Brasil, embora as cebolas cultivadas diferem substancialmente quanto às

suas qualidades organolépticas, não há segmento do mercado varejista, como ocorre em

outros países, que tratam de maneira diferenciada as cebolas destinadas ao consumo

fresco e as cebolas curadas (mais pungentes).

Ênfase sobre o benefício do consumo de cebola para a saúde humana associado à

segmentação do mercado tem ajudado a aumentar o consumo de cebola em países

desenvolvidos. Para garantir o abastecimento contínuo de cebola suave e doce no

período da entressafra, os Estados Unidos vêm importando cebola do tipo “Grano” e

“Granex” de países como México, Peru, Uruguai, Austrália e países da América

Central.

O nível máximo de pungência é controlado geneticamente, mas níveis abaixo do

máximo são respostas às condições ambientais em que as cebolas crescem. Uma

cultivar pungente pode ser mais suave em condições que favoreçam um mínimo de

sabor e aroma. Por sua vez, uma cultivar com potencial para ser suave pode ser

pungente se cultivada em condições para máxima expressão do sabor e aroma.

O potencial de uma cultivar absorver S-SO4-2 e sintetizar os precursores do sabor

e aroma é que determina em grande parte como será a intensidade do sabor e aroma e da

pungência de uma cebola. Excessiva fertilização com S-SO4-2, temperaturas muito altas

durante o crescimento e condições de crescimento em solo mais seco contribuem para

aumentar a intensidade da pungência da cebola. Evidências mostram que pungência

varia menos com as condições de cultivo para algumas cultivares do que para outras.

A coloração da cebola tem muito pouco a ver com o nível da pungência. Cebolas

de películas roxas, amarelas e brancas podem ser desde suaves a muito pungentes. Já as

cebolas brancas destinadas à industrialização são sempre pungentes a muito pungentes.

Praticamente, todas as cultivares do grupo “Grano” (Texas Early Grano 502, Texas

Early Grano 502 PRR, Texas Grano 502, entre outras) e “Granex” (Granex 33, Granex

429, entre outras), tradicionalmente plantadas no Brasil podem ser suaves e doces.

Bulbos armazenados por períodos de até 130 dias tendem a aumentar a

pungência, pois com a desidratação ocorre o aumento da concentração dos compostos

Page 26: A Cultura Da Cebola

responsáveis pela pungência. Porém, após este período, os bulbos tendem a reduzir a

pungência, pois os compostos responsáveis pela mesma são utilizados pela planta como

fonte de N e caloria.

Bulbos colhidos após o estalo da cebola apresentam maior pungência.

A precipitação na época da colheita pode reduzir a pungência. A pungência

também varia de acordo com a cultivar.

É importante que instituições nacionais de pesquisa desenvolvam programas de

melhoramento específicos para obtenção de cultivares que naturalmente produzam

bulbos com sabor suave e adaptadas para as várias condições edafoclimáticas

predominantes nas regiões brasileiras produtoras de cebola. Constitui-se, portanto, em

desafio e oportunidade de pesquisa para o melhoramento genético de cebola e se insere

nas estratégias para aumentar a sustentabilidade do agronegócio de cebola no Brasil. A

cultivar São Paulo, lançada pela Embrapa Hortaliças em 1991, é uma cebola do grupo

das claras precoces suaves.

Para viabilizar a produção de cebolas suaves e doces no Brasil, é preciso definir

os locais e época para a produção, bem como o manejo cultural e de pós-colheita mais

adequados para se obter rendimento, qualidade e retorno econômico satisfatórios. É

necessário selecionar ambientes que propiciem intensidades baixas de sabor e aroma e

de pungência, ou seja, solos com disponibilidade baixa de S-SO4-2 e um programa de

fertilização que resulte em bulbos grandes e com pungência baixa. Outro aspecto

consiste na definição de um regime hídrico para a cultura, que possibilite um

suprimento abundante de água no solo durante o crescimento das plantas e resulte em

bulbos suculentos, menos pungentes e doces.

O baixo consumo de cebolas no Brasil é atribuído, em parte, à moderada ou alta

pungência das cultivares brasileiras, resultado do tipo de cebola plantado, do solo e do

manejo da lavoura. É necessário ressaltar que os consumidores tendem a ser

conservadores em sua preferência, rejeitando frequentemente tipos de bulbos não

familiares. Estratégias de marketing com inovações na forma de apresentação do

produto e informações à população sobre as qualidades nutracêuticas da cebola são

necessárias.

Page 27: A Cultura Da Cebola

Usos

Devido ao uso da cebola ser mais restrito a condimentos que a fins alimentares,

seu consumo diário per capita é pequeno e a própria quantidade ingerida limita também

a sua ação nutricional. Porém, sob o ponto de vista condimentar, a cebola tem sido

muito utilizada, com crescente importância para a indústria de alimentos. Além de

utilizada como condimento, a cebola possui princípios químicos que têm sido utilizados

com frequência na indústria farmacêutica. Tanto para a indústria alimentar quanto

farmacêutica, torna-se necessário que a cebola (matéria prima) apresente quantidades

adequadas de alguns constituintes responsáveis por um maior rendimento industrial e

um produto processado de melhor qualidade.

Nos Estados Unidos, grande parte da produção de cebola tem sido

industrializada nas formas cozida, pickles congeladas, desidratadas (pó, flocos),

essência (óleo de cebola), bulbos enlatados (conserva) e desidratada a frio (freeze

dried). No Brasil, atualmente, é mais fácil encontrá-la industrializada na forma de flocos

desidratados, creme de cebola, pickles e bulbos enlatados (conserva).

Clima

A cebola é planta tipicamente bienal, com o ciclo biológico completo,

compondo-se de duas fases: a vegetativa e a reprodutiva. Na fase vegetativa há o

desenvolvimento e amadurecimento do bulbo. Na fase reprodutiva, dá-se o

florescimento e, subsequentemente, a produção de sementes, isto tratando-se de uma

cultivar totalmente adaptada.

A formação dos bulbos está relacionada com a interação entre a temperatura e o

fotoperíodo (duração do comprimento do dia). Nesta interação o fator mais importante é

o fotoperíodo, sendo decisivo na bulbificação. A espécie é de dia longo para bulbificar –

a planta de cebola só formará bulbo se o comprimento do dia (fotoperíodo) for igual ou

superior que o valor mínimo fisiologicamente exigido pela cultivar. Cada cultivar tem

sua exigência em horas de luz para iniciar o processo de bulbificação. Desse modo, se

uma determinada cultivar é exposta a uma condição fotoperiódica abaixo da exigida

haverá um elevado número de plantas que não irão se desenvolver, dando formação aos

conhecidos “charutos” ou “cebolões” (plantas imaturas, com hastes grossas). Se uma

Page 28: A Cultura Da Cebola

cultivar é submetida a um fotoperíodo acima do requerido, a bulbificação iniciará,

podendo haver a formação prematura e indesejável de bulbos de tamanho reduzido, que

entram em dormência, sobretudo se essa condição ocorrer num estádio inicial de

desenvolvimento das plantas. Quando se cultiva cebola em baixos fotoperíodos (muito

curtos) artificialmente, as plantas formam folhas indefinidamente e não bulbificam.

De outro lado, ainda que a duração do dia seja o principal fator indutivo da

bulbificação seus efeitos são modificados pela temperatura. A influência da temperatura

pode-se manifestar nos diversos aspectos da cultura: afetando a capacidade de absorção

de nutrientes, em interação com o fotoperíodo alterando o ciclo da cultura,

condicionando a indução de estresse biótico e na indução do florescimento. A formação

de bulbos é acelerada em condições de altas temperaturas e sob condições de

temperaturas baixas o processo é retardado. Temperaturas acima de 30 ºC na fase inicial

de desenvolvimento das plantas podem provocar a bulbificação prematura indesejável,

produzindo bulbos menores. Sob temperaturas mais baixas a bulbificação torna-se mais

tardia. Já a exposição das plantas a períodos prolongados de baixas temperaturas (< 10

°C) pode induzir o florescimento prematuro (“bolting”), que é altamente indesejável,

uma vez que se visa a produção comercial de bulbos e não de sementes. A temperatura

deve ser amena ou fria durante o crescimento vegetativo e ligeiramente mais elevada na

bulbificação. A temperatura ótima de bulbificação oscila de 25 a 30 ºC. Temperaturas

em torno de 15,5 a 21,1 °C promovem a formação de melhores bulbos e maior

produção. Após iniciar a formação dos bulbos, uma cultivar poderá ter sua maturação

acelerada ou retardada em função da temperatura. Clima quente e seco favorece a

perfeita maturação do bulbo e a colheita.

Resumindo, pode-se dizer que satisfeitas as necessidades de fotoperíodo

somente haverá boa formação de bulbos se a temperatura for favorável a cultivar

plantada. Temperaturas baixas predispõem a planta ao florescimento precoce, sem

formação de bulbos, enquanto que em temperaturas elevadas o tamanho dos bulbos será

reduzido e a maturação mais rápida.

O pendoamento assinala o início da etapa reprodutiva, que interessa apenas ao

produtor de sementes, sendo indesejável na cultura para obtenção de bulbos. O efeito da

baixa temperatura no florescimento é preponderante. A espécie é de dia curto para

florescer – requer fotoperíodo menor que o valor crítico da cultivar. O frio invernal

Page 29: A Cultura Da Cebola

induz o pendoamento em campo nas regiões produtoras de semente no Rio Grande do

Sul.

A iniciação e o desenvolvimento do bulbo dependem, então, do fotoperíodo e da

temperatura. No entanto, a bulbificação é também afetada por outros fatores:

1) Tamanho da planta (tamanho, idade fisiológica e reservas armazenadas): Ex:

bulbinhos grandes e pequenos, da mesma idade: os maiores amadurecem antes;

plantas muito pequenas são insensíveis ao fotoperíodo;

2) Suprimento de N: Ex: altos níveis de N próximo ao fotoperíodo crítico retarda a

formação de bulbos e aumenta a frequência de plantas imaturas. Já a deficiência

antecipa a formação de bulbos;

3) Suprimento de água: Ex: o excesso de irrigação retarda a formação de bulbos em

20 dias ou mais em relação ao ciclo normal da cultura. Se quiser acelerar a

colheita, diminuir a irrigação.

Tais fatores devem ser adequadamente manejados, para obtenção de bulbos

comerciáveis.

Florescimento da cebola

O florescimento da cebola se dá por ação de baixas temperaturas sobre os bulbos

Semente Muda Bulbo Florescimento e Produção de Sementes

Baixas temperaturas (4 a 15 °C)

Faixa ideal (8 a 13 °C)

Page 30: A Cultura Da Cebola

Sob a ação de baixas temperaturas os meristemas se diferenciam em gemas

florais.

Se bulbos vernalizados forem levados a campo sob condições de temperatura

elevada (> 28 °C) pode haver desvernalização.

A quantidade de frio necessário vai depender da cultivar e do tamanho dos

bulbos. Exs: cultivares como Excel e Texas Grano 502 são mais exigentes em frio do

que as cultivares nacionais. Plantas ou bulbos graúdos florescem mais facilmente.

Certas cultivares, ainda na fase vegetativa, se submetidas a baixas temperaturas,

podem florescer antes mesmo da formação de bulbos. Ex: cultivares do grupo Baia

plantadas em SP em março apresentam alta incidência de florescimento prematuro.

Para a produção comercial de sementes é necessário um “choque frio” sobre os

bulbos. Este pode ocorrer:

- no campo, como é feito na região de Bagé/RS, região essa tradicional na produção de

sementes de cebola;

- com vernalização dos bulbos em câmaras frias: SP, Planalto Central e principalmente

no Noedeste.

Época de Plantio

As distintas regiões produtoras de cebola no País apresentam diversidade quanto

às épocas de semeadura e colheita. Por isso, vem sendo possível suprir a demanda

nacional com a produção interna durante todo o ano.

A época de plantio deve ser definida em função da compatibilização das

exigências fisiológicas da cultivar a ser plantada com as condições ambientais locais e

do mercado consumidor. O plantio na época certa, determinado principalmente em

função das exigências de cada cultivar em relação ao fotoperíodo e temperatura,

proporciona aumento da produtividade e melhoria considerável na qualidade dos

bulbos.

Page 31: A Cultura Da Cebola

A Região Sul (PR, SC e RS) efetua a semeadura no período compreendido de

abril a junho, com colheita de novembro a janeiro. A Região Sudeste (SP e MG) faz

semeadura no período de fevereiro a maio e colheita de julho a novembro. A Região

Nordeste (BA e PE) pratica a semeadura de janeiro a dezembro (o ano todo), com

concentração nos meses de janeiro a março, possibilitando um escalonamento de plantio

e produção com oferta de cebola em diferentes períodos. Com isso, há condições de

autosuficiência no abastecimento interno do País ao longo do ano.

Cultivares

A cebola é uma hortaliça fortemente influenciada por fatores ambientais, que

condicionam a adaptação de uma cultivar a determinadas regiões geográficas. As

cultivares de cebola são usualmente classificadas em função de suas exigências

fotoperiódicas, visto que o fotoperíodo é um fator limitante para a bulbificação e a

planta de cebola só formará bulbos se o comprimento do dia for igual ou superior a um

mínimo fisiologicamente exigido. Nesse sentido, as firmas produtoras de sementes têm

desenvolvido ou introduzido cultivares adaptadas às diversas regiões, dando ênfase na

produção de híbridos. Com as facilidades atuais de importação da Argentina, a escolha

da cultivar tornou-se ainda mais crítica, já que o produto nacional deve competir em

qualidade e preço.

Há considerável variabilidade entre as cultivares quanto ao mínimo de horas de

luz para promover o estímulo de bulbificação. Conforme a duração do ciclo e a

exigência fotoperiódica, as cultivares plantadas no Brasil podem didaticamente reunidas

em três grupos:

Cultivares de dias curtos (precoces): são menos exigentes em fotoperíodo,

desenvolvendo bulbos sob 11-12 horas de luz por dia. São de ciclo curto, com duração

de 4 a 5 meses, da semeadura à colheita. Características: plantas mais suscetíveis à

queima-de-alternária, bulbos de coloração externa bem clara, baixo teor de matéria seca,

sabor muito suave (preferido por certos consumidores), baixa capacidade de

conservação dos bulbos e alcance de menores cotações no mercado. As cultivares

precoces apresentam ampla adaptabilidade de cultivo em diversas regiões brasileiras.

Bons exemplos são os híbridos precoces Granex 33, Granex 90, Granex 429, Rio

Page 32: A Cultura Da Cebola

Grande, Mercedes e Linda Vista. Uma cultivar que merece destaque é Alfa Tropical,

desenvolvida pela Embrapa Hortaliças e apropriada para a denominada “cultura de

verão”. Para o centro-sul tem sido recomendada a semeadura nos meses de novembro e

dezembro. A colheita de bulbos ocorre na entressafra de cebola, de março a maio,

substituindo o sistema de produção por bulbinhos, mais oneroso. Os bulbos são de

coloração baia clara, pungentes, predominando o formato globular; o ciclo da cultura é

de 120-135 dias da semeadura.

Cultivares intermediárias (de ciclo mediano): exigem de 12 a 14 horas de luz por dia. A

duração do ciclo da cultura é de 5 a 6 meses. Características: mediana resistência à

queima-de-alternária, bulbos de coloração mais acentuada, teor mediano de matéria

seca, sabor mais pungente, melhor conservação e bulbos mais valorizados no mercado.

As cultivares desse grupo apresentam adaptabilidade geográfica mais restrita, sendo o

fotoperíodo o fator limitante à cultura, o que pode ser exemplificado com as cultivares

não híbridas Baia Periforme, Bola Precoce, IPA-6, Baia Super Precoce e Roxa do

Barreiro.

Cultivares de dias longos (tardias): são as mais exigentes em fotoperíodo – acima de 14

horas de luz por dia. Apresentam ciclo mais longo, de 6-8 meses. Características: alta

resistência à queima-de-alternária, bulbos de coloração escura, com alto teor de matéria

seca, sabor muito acentuado, ótima conservação; são altamente valorizadas na

comercialização. Essas cultivares apresentam adaptabilidade restrita ao extremo sul

(RS, PR e SC), não se adaptando ao plantio no Centro-Sul. São exemplos de cultivares

brasileiras tardias, não híbridas: Rio Grande Bojuda, Jubileu e Bella Crioula.

O fotoperíodo varia de região para região, em função da latitude e da época do

ano. Desse modo, se uma cultivar do grupo intermediário for cultivada no Submédio

São Francisco, que tem uma duração aproximada de 11,5 a 12,5 horas de luz por dia,

poderá ter seu desenvolvimento fisiológico prejudicado e apresentar, entre outras

anomalias, um percentual elevado de plantas improdutivas, conhecidas como

“charutos”. Por outro lado, se uma cultivar de dias for utilizada em regiões com

fotoperíodo muito superior ao exigido haverá formação prematura de bulbos, que

normalmente não possuem valor comercial pelo seu reduzido tamanho.

É importante levar em consideração que essas exigências, em horas de luz, não

são rígidas, podendo, dentro de cada grupo, haver variações de uma hora para mais ou

Page 33: A Cultura Da Cebola

para menos. Desse modo, dentro de cada classe, existe cultivares que variam suas

exigências em comprimento do dia. Além disso, é necessário ressaltar que o processo de

bulbificação sofre influência marcante também da temperatura, altitude, entre outros

fatores. Por exemplo, a época de plantio pode deslocar uma cultivar de uma classe para

outra.

No Brasil, em função da localização geográfica das principais áreas produtoras,

as cultivares localizadas enquadram-se nas classes de dias curtos e intermediários. Há

uma predominância marcante do emprego de cultivares comuns, de polinização aberta,

sendo o restante correspondente a cultivares híbridas importadas, destacando-se a

Granex 33 e Granex 429. Dentro do segmento de cultivares mais comuns, os tipos

nacionais Baia e Pera Norte e suas derivações respondem por 75-80% do mercado.

As cultivares do grupo Baia Periforme foram introduzidas pelos imigrantes

portugueses e açorianos que colonizaram as regiões litorâneas do Rio Grande do Sul.

Desde então, a partir do germoplasma original introduzido, os produtores da zona

ceboleira do Rio Grande do Sul selecionaram e vêm mantendo suas próprias

populações. A rigor, a Baia Periforme compreende diversas subpopulações

extremamente variáveis em coloração, tamanho, formato, maturidade, pungência, teor

de matéria seca, entre outras características de valor para o melhoramento. Plantas

macho-estéreis são facilmente encontradas nas inúmeras subpopulações do tipo Baia.

Por essa razão, atualmente, esse valioso germoplasma tem sido a base de todos os

programas de melhoramento genético (público e privado) dessa olerácea no país. Na

atualidade, existem inúmeras cultivares derivadas direta ou indiretamente do

germoplasma Baia/Pera Norte, adaptadas às diferentes latitudes onde a cebola é

cultivada no país.

As cultivares do grupo Baia são, de uma maneira geral, de fácil florescimento

prematuro, ou seja, são pouco exigentes em frio para passarem à fase reprodutiva. Daí

porque nas regiões Sul e Sudeste essas populações são cultivadas a partir da semeadura

em fins de abril e meados de maio (outono). Nessas regiões, o plantio antecipado, fim

de verão e início de outono (março), com as cultivares do tipo Baia, pode ser desastroso,

devido ao alto índice de florescimento prematuro, já que a elevada taxa de crescimento

da planta possibilita que ela atinja porte favorável à indução de florescimento durante o

período de temperaturas baixas de inverno.

Page 34: A Cultura Da Cebola

Com relação a produtores e escolha de cultivares, a preocupação com a

competição externa colocou o atendimento às exigências do mercado como o principal

centro de atenção do agronegócio da cebola. Nesse aspecto, os produtores procuram por

produto com maior competitividade em qualidade, custos e preços, optando por

cultivares que garantam maior produtividade, apresentem maior resistência à doenças e

forneçam produtos comerciais com alto padrão de qualidade. Estas preferências incluem

cultivares de polinização aberta ou híbridos que proporcionem colheita uniforme,

exatamente dentro da época programada. Adicionalmente, essas cultivares ou híbridos

devem exibir padrão comercial similar ao do produto importado, especialmente quanto a

uniformidade no tamanho do bulbo, coloração, retenção de túnicas e sabor. Ademais,

percebe-se clara avidez por tecnologias para produção de cebolas menos pungentes

(tipos doces ou suaves), mais adequadas para consumo fresco em saladas, tipos mais

apropriados à industrialização (flocos e pó) e também cultivares mais adequadas para

cultivo em sistemas orgânicos, como forma de agregar maior valor ao produto nacional.

No segmento dos consumidores, observam-se preferências pela ótima qualidade

do produto, diversificação de tipos varietais (mais e menos pungentes), produtos

diferenciados (produção em sistemas orgânicos e agroecológicos), disposição dos

produtos classificados e melhor conservação pós-colheita. Os consumidores preferem

ainda cebolas com bulbos globulares com casca de coloração avermelhada, semelhante

a cor do pinhão.

Diante destas exigências, as instituições de pesquisas públicas e privadas vem

ajustando suas atividades para atender a demanda dos produtores e consumidores,

procurando desenvolver cultivares com características que atendam as tendências atuais

do mercado.

Na Bahia e Pernambuco as cultivares predominantes são as importadas claras

precoces e as da série IPA, apresentando conservação de 30 a 45 após a colheita. Em

São Paulo, na safra do cedo as cebolas produzidas são as claras precoces e nas

semeaduras tardias as baias periformes. Em Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal

predominam cultivares claras precoces e a baia periforme.

Em Santa Catarina as cultivares mais plantadas são as crioulas de túnicas

escuras, pungentes e com armazenamento pós-colheita que pode se estender por até 6

meses, e as cultivares baias periformes precoces. No Rio Grande do Sul os produtores

Page 35: A Cultura Da Cebola

cultivam tradicionalmente cebolas do grupo baia periforme, cuja semente é produzida

no próprio estado. Dessa forma a oferta de cebola se distribui durante todo o ano.

Escolha e Preparo do Solo

Solos profundos de textura média e suficientemente férteis devem ser os

preferidos para se cultivar a cebola, pois possibilitam o bom desenvolvimento das raízes

e bulbos. Solos muito argilosos dificultam a formação de bulbos, além de deformá-los,

aumento o número de “charutos”. Solos arenosos apresentam o inconveniente de baixa

retenção, tanto de umidade como de adubos aplicados. Solos de má drenagem,

facilmente encharcáveis, devem ser evitados. A topografia deve favorecer as práticas de

mecanização e irrigação, bem como as práticas conservacionistas.

Um bom preparo do solo é indispensável. Aração e gradagem são operações

importantes, devendo ser feitas com antecedência ao transplante das mudas para o

campo. O terreno, depois de gradeado, deve ser nivelado em função do sistema de

plantio a ser adotado. Se o terreno é bem drenado e a irrigação for por aspersão, o

plantio poderá ser feito no nível do terreno. Caso o local seja mal drenado ou se utilizar

a irrigação por infiltração, o plantio será feito em canteiros separados por sulcos. Cada

canteiro terá aproximadamente 1,00 m de centro a centro de sulco e 15-20 cm de altura.

Em terrenos inclinados, os canteiros deverão ser feitos em nível contra o declive do

terreno; nestes canteiros abrem-se dois a três sulcos de plantio.

Calagem, Nutrição Mineral e Adubação

Calagem

Trata-se de uma hortaliça de relativa sensibilidade a acidez, produzindo bem na

faixa de pH de 5,5 a 6,5. Outras a consideram uma cultura medianamente sensível a

acidez, estando este limite situado a pH 6,0 para um bom desenvolvimento da cultura;

portanto, não podendo dispensar a boa calagem, se necessário.

Recomenda-se aplicar calcário quando a saturação por bases for inferior a 60%

suficientemente para elevá-la a 70-80% e se obter pH 6,0. O pH do solo influencia na

disponibilidade de nutrientes, nas atividades de microrganismos e, consequentemente,

no desenvolvimento da planta e rendimento e qualidade do bulbo. O calcário deve ser

Page 36: A Cultura Da Cebola

incorporado 3 meses antes do plantio, por meio de uma aração profunda para

incorporação dos restos de cultura e, posteriormente, após a aração faz-se uma

gradagem para incorporação da segunda metade do calcário.

Características Fisiológicas da Planta

A cebola é uma planta que apresenta o sistema radicular fasciculado, com 20 a

200 raízes por planta, normalmente espessas (0,5 a 1,0 mm) e com pouca ramificação

ou presença de pêlos absorventes. O crescimento é bastante vertical, estendendo-se de

40 a 80 cm de profundidade. Poucas raízes atingem mais de 15 cm de raio em torno do

bulbo. Estas características apresentam implicações peculiares quanto à colocação e ao

suprimento de nutrientes. As folhas da planta são subcilíndricas ocas (tubulares), lisas e

cerosas, dificultando de certo modo a absorção de nutrientes de via foliar. O

crescimento da planta é bastante lento até os 115 dias de idade, cerca de 10% do total,

sendo que após este período o crescimento se intensifica até o final do ciclo, com

consequente pequena absorção de nutrientes.

Marcha de absorção de nutrientes

As quantidades dos nutrientes extraídos pela cultura da cebola variam segundo a

produtividade, a cultivar e mesmo com o tipo de solo, visto que certos nutrientes

prontamente disponíveis podem ser absorvidos em quantidades que excedam as

exigências metabólicas da planta. De modo geral, a curva de absorção de nutrientes

segue o padrão de crescimento da planta. Os nutrientes são absorvidos em quantidades

reduzidas até 100 dias, aumentando consideravelmente até os 160 dias.

Nutrientes mais absorvidos:

Em termos de porcentagem na matéria seca: K e N

Em termos de concentração dos nutrientes na planta, nos diferentes estádios de

crescimento: N, P e Ca atingem um máximo a 130 dias e K aos 100 dias. A partir daí,

decrescem à medida que a planta vai atingindo o final do ciclo.

Page 37: A Cultura Da Cebola

O Mg apresenta pouca variação no teor percentual nas folhas secas e bulbo e,

após atingir o teor mais elevado aos 85 dias, decresce lentamente até alcançar o valor

mais baixo aos 190 dias. A concentração de S nas folhas aumenta lentamente até os 175

dias, diminuindo sensivelmente nos últimos 15 dias da cultura. No bulbo, o S atinge seu

teor mais elevado aos 100 dias, decrescendo com leve flutuação na fase de

amadurecimento da cebola.

Extrapolando-se as quantidades dos macronutrientes absorvidos por planta para

uma população de 166.666 plantas.ha-1, com uma produção de 36,7 t.ha-1, teria-se as

seguintes quantidades de macronutrientes e micronutrientes extraídos pela cultura da

cebola:

Sistemas de Cultivo

A) Semeadura seguida por Transplantio ou Processo de Mudas

O método de semeadura seguida por transplantio baseia-se na formação de

mudas e plantio destas em época (combinação fotoperíodo/temperatura) apropriada para

a cultivar em questão.

A semeadura é feita em sementeiras tradicionais, em sulcos transversais,

distanciados de 10-15 cm, com 10-15 mm de profundidade, sendo que para a obtenção

da quantidade de mudas adequadas ao plantio de 1 ha semeiam-se de 1,5 a 2,0 Kg de

sementes com germinação de 80 a 95% (70% é o padrão nacional mínimo), utilizando

3-4 g de sementes por metro quadrado de leito. Para a obtenção de cerca de 500.000

mudas – quantidade suficiente para o plantio de 1 ha – são necessárias sementeiras

comuns de 500-750 m2. É necessário semear de modo uniforme e espaçado, pois o

desbaste em excesso das mudinhas é prejudicial àquelas que permanecem.

As mudas são transplantadas 40 a 60 dias após a semeadura, quando

apresentarem 4-5 mm de diâmetro e 18-20 cm de altura. São transplantadas de modo

que fiquem à mesma profundidade que se encontravam na sementeira, ficando o coleto

situado pouco abaixo da superfície normal do terreno. É preferível utilizar mudas mais

novas, pois à medida que se atrasa o transplante, pode ocorrer prolongamento no ciclo

para a obtenção de bulbos maduros, pois as mudas mais velhas sofrem um maior choque

no transplante. O atraso também pode reduzir a produtividade. Os sulcos de transplante

são sempre longitudinais.

Page 38: A Cultura Da Cebola

Semente ------------- Muda ------------------ Bulbo

Transplantio

Na “cultura de verão” o transplante de mudas mais novas, aos 30-38 dias,

previne o alongamento no ciclo e a redução na produtividade.

Este é o método mais utilizado de propagação, em todas as regiões produtoras

brasileiras, visto que é o mais conveniente, principalmente por aproveitar bem a

semente utilizada – de custo elevado e nem sempre disponível, na quantidade desejada.

No Rio Grande do Sul, que é um dos mais antigos centros de produção de

cebola, a produção está centralizada nos municípios de São José do Norte e Rio Grande

e as cultivares comumente utilizadas são Baia Periforme, Jubileu e Petrolini (cultivares

de dias curtos) e Pera Norte (cultivar de dias intermediários). São cebolas de boa

capacidade de conservação de bulbo, e abastecem o mercado brasileiro de janeiro a

maio. Já nas regiões de São José do Rio Pardo e Monte Alto são utilizadas as cultivares

Granex e Texas Grano 502, que são cultivares importadas de baixa conservação, as

quais devem ser colhidas e comercializadas imediatamente.

B) Semeadura Direta

O método de semeadura direta tem sido utilizado em algumas regiões

produtoras, mais tecnificadas, como Andradas-MG e São Gotardo-MG, com semeadeira

de precisão. Além de exigir um maior gasto em sementes (o dobro em relação à

produção de mudas), também há uma emergência desuniforme da cultura e dificuldade

na realização dos tratos culturais iniciais, principalmente controle de ervas daninhas.

Entretanto, as vantagens são preponderantes: encurtamento no ciclo, com

colheita mais precoce; aumento na produtividade; e redução substancial no custo de

produção.

C) Plantio por Bulbinhos

Este método é utilizado em Piedade-SP e em algumas outras poucas regiões, e

baseia-se na:

Semeadura em época cujo fotoperíodo é maior do que o apropriado para a

cultivar em questão, havendo com isso uma bulbificação precoce (bulbinhos);

Armazenamento dos bulbinhos, para quebra de dormência;

Page 39: A Cultura Da Cebola

Plantio dos bulbinhos em época (fotoperíodo/temperatura) apropriada para a

cultivar em questão.

A semeadura é feita em agosto, em sementeiras tradicionais, com apenas 2-3 g

de sementes por metro quadrado de leito, sem desbaste ou transplante posteriores.

Podem ser utilizadas as cultivares Pira Ouro e Baia Periforme (do Rio Grande do Sul).

Os bulbinhos são colhidos de novembro a janeiro, com 10-30 mm de diâmetro; e logo

após são curados, sendo as folhas e raízes aparadas, e armazenados em caixas especiais,

empilhadas, ou em prateleiras. É necessário que o ambiente seja seco, arejado e fresco,

não frigorificado, para uma boa conservação dos bulbinhos. Em fevereiro-março,

plantam-se os bulbinhos, selecionados, colhendo-os, já desenvolvidos, aos quatro

meses. A colheita de bulbos comerciáveis ocorre na entressafra da cebola, em maio-

junho, o que constitui uma vantagem deste método.

Semeadura (agosto)

fotoperíodo e temperatura crescentes bulbificação precoce

Colheita de bulbinhos (novembro/janeiro)

seleção de bulbinhos

Armazenamento dos bulbinhos (para quebra de dormência)

seleção de bulbinhos

Plantio de bulbinhos (fevereiro/março)

Colheita de campo (maio/junho)

Desde que se disponha de bulbinhos prontos, este é o método por meio do qual é

mais fácil de implantar uma cultura de cebola, podendo ser, também, o mais vantajoso.

Entretanto, quando o olericultor é obrigado a produzi-los, o plantio por bulbinhos é mais

trabalhoso e oneroso, em relação à semeadura direta ou ao plantio por mudas.

Transplante e Espaçamento

Page 40: A Cultura Da Cebola

Para o Estado de São Paulo, recomenda-se o transplante das mudas 30 a 50 dias

após a semeadura, utilizando-as com tamanho e diâmetro superiores a 18-20 cm e 3

mm, respectivamente. As mudas serão transplantadas para sulcos previamente

adubados, adotando-se o espaçamento de 25-35 cm entre os sulcos e 5 a 10 cm entre as

plantas dentro sulco. Tais espaçamentos são empregados nos diferentes métodos de

implantação da cultura. Observe-se que utilizando espaçamentos estreitos eleva-se o

número de plantas e de bulbos produzidos por hectare, porém reduz-se o tamanho dos

mesmos. Assim, devido à preferência da maioria dos consumidores por bulbos de

tamanho médio, deve-se ajustar o espaçamento para obter tais bulbos.

Há autores que sugerem que as mudas sejam transplantadas aos 40-60 dias após

a semeadura, quando apresentarem 4-5 mm de diâmetro. É prejudicial podar raízes e

folhas, sendo preferível utilizar mudas mais novas. As mudas são colocadas inteiras, em

sulcos com 3-5 cm de profundidade, abertos nos canteiros definitivos. No Brasil não é

usual o transplante mecânico. Na “cultura de verão” o transplante de mudas mais novas,

aos 30-38 dias após a semeadura, previne o prolongamento do ciclo e redução na

produtividade.

A semeadura em bandejas de isopor de 288 células, em estufa com laterais

abertas, começa a ser praticada. As mudas devem ser transportadas o mais rápido

possível para a área de produção. A profundidade é de 3-5 cm. O corte das folhas antes

do transplante é uma prática adotada em diversas regiões, o que não tem prejudicado o

alcance de altas produtividades. O produtor utiliza-se desta prática, em geral, quando

ocorrem chuvas em excesso e não se consegue fazer o transplante das mudas. Mudas

muito enfolhadas dificultam o plantio. Em algumas regiões não se utiliza desta prática,

conseguindo também altas produtividades. O corte das folhas expõe a planta a uma

maior incidência de doenças e, portanto, é necessária atenção quanto as pulverizações

com fungicidas.

O tamanho das mudas por ocasião do transplante é um fator que influencia no

rendimento da cultura. Na região do Submédio São Francisco as mudas atingem o ponto

ideal para transplante cerca de 30 dias após a semeadura, sendo utilizados espaçamentos

de 15 x 10 cm ou 10 x 10 cm, devendo-se eliminar as mudas finas ou as que

apresentarem algum problema fitossanitário.

Page 41: A Cultura Da Cebola

Para o plantio por mudas em algumas regiões tem-se utilizado de 40-50 cm e 10

a 22 plantas por metro linear de cultivo. Esta variação no número de plantas por metro

linear ocorre principalmente devido ao tipo de cultivo e a cultivar utilizada. Algumas

cultivares, em especial os híbridos, aceitam um aumento na densidade de plantio; para

outras cultivares essa maior densidade pode ocasionar aumento da incidência de

doenças ou produção de bulbos de menor tamanho.

Outro importante fator a ser mencionado relaciona-se à localização do terreno.

Plantios em locais menos sujeitos à alta umidade, com melhor ventilação, aceitam

melhor o aumento na densidade.

Em algumas regiões o transplante ocorre em canteiros com largura de 1,0 a 1,2

m, construídos com enxadas rotativas. O espaçamento e número de linhas são variáveis,

mas em geral utilizam-se 4 linhas espaçadas de 25 cm e espaçamento entre plantas de 7-

8 cm, portanto, com uma densidade de plantio de 50-60 m-2. A semeadura direta ocorre

em canteiros similares ao descrito acima e com semeadoras de precisão. Em geral,

utiliza-se uma maior densidade de plantas por hectare. Neste caso, o espaçamento

utilizado entre linhas é de 25-30 cm e 20-25 plantas por metro linear.

A variação do número de plantas por unidade de área afeta a produtividade e a

qualidade dos bulbos. Em baixas populações se produz geralmente baixos rendimentos e

alta porcentagem de bulbos médios e grandes. Em cultivos com densidades maiores que

a ótima se tem bulbos pequenos e desuniformes de menor qualidade comercial,

comparativamente ao cultivo em densidade adequada.

Controle de Plantas Daninhas

As plantas daninhas constituem sério problema para a cultura da cebola, uma

vez que a planta cultivada apresenta porte baixo e desenvolvimento inicial relativamente

lento. Também em razão da própria arquitetura, com folhas eretas e cilíndricas, essa

cultura cobre irregularmente o solo, permitindo então a germinação das plantas daninhas

em qualquer fase de seu desenvolvimento.

Tanto na semeadura direta como na transplantada, o espaçamento entre plantas é

pequeno, o que dificulta e encarece a capina manual e praticamente inviabiliza a

Page 42: A Cultura Da Cebola

mecanizada. O ciclo relativamente longo exige que sejam feitas várias capinas para se

evitar que as plantas sofram concorrência com as plantas daninhas. Todos esses

problemas fazem com que o êxito da cultura da cebola dependa do uso correto de

herbicidas.

O controle de plantas daninhas em cebola é muito importante, principalmente, a

partir do primeiro mês após o transplante, devido a seu pequeno porte, crescimento

lento e requererem boa luminosidade para o seu perfeito desenvolvimento. Das práticas

disponíveis para o controle das plantas daninhas, o controle químico é o ideal. Grande

parte do êxito da cultura de cebola deve-se ao uso correto de herbicidas. Algumas

recomendações são necessárias para uma boa e eficiente aplicação: a) evitar aplicações

de herbicidas quando há ventos fortes, para não ocorrer derivação; b) na aplicação em

pré-emergência o solo não deve conter torrões grandes, nem estar muito seco ou

encharcado; c) em pós-emergência deve-se evitar aplicação em plantas molhadas de

orvalho ou após a irrigação; d) o bico tipo leque é utilizado para aplicação de

herbicidas; e) antes da aplicação o produtor deve verificar a regulagem correta dos

equipamentos visando obter-se a vazão recomendada dos herbicidas.

As capinas manuais, feitas com o auxílio de sachos e enxadas estreitas, somente

se justificam em sementeiras e em pequenos plantios e as capinas mecânicas são usadas

apenas nos carreadores e sulcos de irrigação. Como as raízes, inicialmente, se

desenvolvem cerca de 10 cm paralelamente à superfície do solo e à profundidade de 5

cm e somente após esta fase inicial é que elas crescem verticalmente, sendo difícil evitar

danos às raízes, a não ser com o uso de herbicidas.

Dentre os vários fatores que interferem na competição, a duração do tempo em

que a comunidade infestante provoca maior interferência na cultura assume grande

importância para o estabelecimento de um programa de controle de plantas daninhas, de

modo a minimizar os prejuízos. Assim, de modo geral, quanto maior for o tempo de

convivência entre a cultura e a comunidade infestante maior será o grau de interferência,

de acordo com a época do ciclo da cultura em que esse período ocorra.

Quando se trata de semeadura direta a competição das plantas daninhas é mais

prejudicial, reduzindo 30, 68 e 94% da produção de cebola quando a duração da

competição após a emergência for de 4, 5 e 6 semanas, respectivamente. A máxima

produtividade em semeadura direta ocorre quando há um período de 91 dias sem

Page 43: A Cultura Da Cebola

competição de plantas daninhas (condições em que a cultura apresenta maior número de

folhas). As primeiras 4 semanas de crescimento são críticas para a produção e o máximo

de produção de bulbos é obtido quando a planta fica isenta de plantas daninhas por 7 a 8

semanas após o transplante.

Embora o controle da comunidade infestante possa ser efetuado com o auxílio de

cultivadores, cujo trabalho pode ser complementado pela limpeza manual com enxada, a

utilização de herbicidas nessa cultura torna-se uma opção altamente vantajosa. Isso se

deve principalmente ao pequeno espaçamento entre linhas, aliado ao ciclo relativamente

longo, que exige a realização de várias capinas, além da facilidade com que as raízes da

cultura são danificadas. Contudo, no que se refere aos herbicidas, diversas causas têm

impedido a obtenção de resultados positivos de controle, tais como: a) escolha errada do

produto em função da situação local; b) não utilização da quantidade preconizada; c)

erro de calibragem (falha no ajuste do equipamento de aplicação ou emprego em épocas

inoportunas). Acrescenta-se ainda o fato de que todos herbicidas possuem limitações

inerentes às suas próprias características, devendo-se, portanto, conhecê-las a fim de

tirar o máximo de proveito da potencialidade dos mesmos.

Assim, na escolha de um determinado herbicida deve-se sempre levar em

consideração alguns fatores, tais como: a) tipo de plantas daninhas; b) grau de

infestação e estádio de desenvolvimento das mesmas; c) tipo de solo em termos de

textura e porcentagem de matéria orgânica; d) cultivar utilizada; e) estádio de

desenvolvimento da cultura; f) presença de culturas vizinhas suscetíveis; g) rotação de

culturas e h) custo do referido tratamento.

Levando em consideração a época de aplicação, os herbicidas podem ser

classificados em:

a) herbicidas de pré-plantio incorporado (PPI): a aplicação deve ser realizada antes

do plantio, porém, em função de fatores relacionados com características

particulares do herbicida, devem ser incorporados ao solo de acordo com as

especificações técnicas do produto;

b) herbicidas de pré-emergência (PRÉ): também denominados de residuais. A

aplicação é realizada sobre o solo, antes da emergência das plantas daninhas, de

acordo com as especificações técnicas do produto. A aplicação deve ser efetuada

Page 44: A Cultura Da Cebola

em solo bem preparado, livre de torrões ou restos vegetais e com boas condições

de umidade;

c) herbicidas de pós-emergência (PÓS): a aplicação é realizada após a emergência

da cultura e das plantas daninhas.

Quanto aos herbicidas seletivos, a aplicação é efetuada em cobertura total, sobre

a cultura e as plantas daninhas emergidas. Em relação aos herbicidas de ação total ou

não seletivos, a aplicação deve ser realizada na pré-semeadura ou antes do transplante

das mudas ou ainda, se necessário for, em jato dirigido às plantas objeto de controle. Em

ambos os casos, devem ser rigorosamente seguidas as especificações técnicas de uso de

cada produto, tais como estádio de desenvolvimento da cultura e das plantas daninhas,

dose de aplicação, tipo de solo, pressão, vazão de trabalho e “bicos’, além de outras

observações particulares de cada produto.

Muito embora as cultivares de cebola apresentam-se com folhas bastante

cerosas, de modo geral, aquelas com folhagens verde-opaco, devido a maior quantidade

de ceras, tendem a proporcionar maior resistência à ação de herbicidas do aquelas com

folhagens verde-brilhante, portadoras de menor quantidade de cerosidade foliar.

Doenças e Pragas

Doenças

Como medidas gerais de manejo das doenças mais importantes recomendam-se:

- seleção cuidadosa de locais para instalação de viveiros e plantios definitivos,

preferencialmente onde não haja histórico de ocorrência de doenças e que sejam

adequados ao bom desenvolvimento da planta;

- seleção de épocas de plantio desfavoráveis à ocorrência de doenças;

- utilização de cultivares resistentes, havendo disponibilidade;

- utilização de sementes e/ou mudas sadias;

- uso de mudas e bulbinhos indexados;

Page 45: A Cultura Da Cebola

- obtenção de clones livres de vírus, por meio da cultura de meristemas;

- tratamento químico de sementes ou bulbinhos antes do plantio;

- tratamento do solo por solarização ou com brometo de metila, para áreas pequenas e

dependendo do patógeno;

- plantio adensado em viveiros e no campo deve ser evitado;

- plantio em solo de boa drenagem, com bom preparo, adubação e irrigação

equilibradas, para evitar estresses às plantas;

- para plantio, evitar locais onde, nas proximidades, haja plantas voluntárias ou culturas

velhas infectadas;

- eliminação de plantas hospedeiras de tripes próximas aos plantios de cebola;

- eliminação de plantas com sintomas no campo;

- eliminação de restos culturais infestados do campo de plantio;

- rotação com culturas não suscetíveis;

- pousio ou alqueive (para locais infestados com nematóides);

- irrigação com água com baixa chance de trazer inóculo;

- uso de máquinas e implementos não infestados e evitar a entrada na lavoura de pessoas

provenientes de locais infestados;

- pulverização com fungicidas, de forma racional, no campo (são importantes os

cuidados a serem tomados com fungicidas sistêmicos, para evitar a seleção de

populações do patógeno resistentes a estes produtos);

- controle de insetos que possam efetuar ferimentos ou serem vetores de viroses;

- colheita em época certa e estádio fenológico correto (maturação completa);

- manuseio cuidadoso dos bulbos durante a colheita e no armazenamento, para evitar

ferimentos;

Page 46: A Cultura Da Cebola

- descarte de bulbos infectados ou com suspeita de infecção, na colheita e

armazenamento;

- não exposição dos bulbos ao sol;

- cura bem feita e armazenamento dos bulbos em condições de temperaturas baixas (4

ºC), baixa umidade e boa ventilação;

- higienização do local de processamento e armazenamento;

- uso de embalagens não infectadas.

Antracnose Foliar

(Glomerella cingulata (Stoneman) Spaud. & H. Scherenk.)

(Colletotricum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Saac. In Penz.))

A antracnose foliar, também chamada de mal-de-sete-voltas, charuto, cachorro-

quente ou rola, é um dos maiores problemas fitossanitários da cebola no Brasil e ocorre

desde o viveiro até o armazenamento. É um problema no Vale do São Francisco e

outros locais onde se cultiva cebola em temperatura e umidade elevada, estando também

relacionada com o manejo da irrigação (irrigação por tabuleiro). No Nordeste e na

região de Guiricema-MG a doença causa perdas de até 100% da produção.

Sintomatologia: em viveiros, o fungo pode causar tombamento, principalmente

se transmitido pela semente. A infecção nos primeiros meses de plantio induz ao

retorcimento foliar, deixando o pescoço (pseudocaule) endurecido e com tonalidade

verde-clara. O pescoço tende a alongar-se e o bulbo e o bulbo toma a forma de charuto.

No campo observam-se reboleiras da doença e os sintomas típicos são enrolamento e

curvatura das folhas, alongamento anormal e enrolamento do pseudocaule. As lesões

nas folhas e pedúnculos são alongadas, com círculos concêntricos, onde se observam os

acérvulos escuros do fungo, que tornam-se necróticos. Nos bulbos são observadas

manchas e, durante o armazenamento, pode ocorrer apodrecimento. Os acérvulos negros

também podem ser observados nos pseudocaules e bulbos. Alguns dos sintomas podem

ser semelhantes aos causados por outros fungos, bactérias e fatores abióticos. Em

experimentos em condições de casa de vegetação, sintomas da doença foram observados

aos cinco dias da inoculação por atomização, independente da idade das plantas.

Page 47: A Cultura Da Cebola

Etiologia e epidemiologia: a antracnose foliar é causada pelo ascomiceto

Glomerrella cingulata, cuja forma imperfeita é Colletotrichum gloeosporioides. No

campo, onde prevalece a forma imperfeita ou assexual, o patógeno sobrevive

normalmente em restos de cultura, principalmente naqueles mantidos na superfície do

solo. Em condições de alta umidade formam-se nos acérvulos massas gelatinosas róseo-

alaranjadas, que contêm os esporos do fungo. A água (chuva ou irrigação) dissolve a

massa gelatinosa e suas gotas dispersam os esporos. Restos de cultura infestados são

fonte de inóculo tão importantes quanto plantas de cebolas infectadas. Os esporos

atingem plantas de cebola e, sob condições de alta temperatura e umidade, germinam e

penetram diretamente nas folhas. observou-se que a severidade foi proporcional ao

aumento da temperatura no intervalo de 15 a 30 C, mas períodos de molhamento foliar

superiores a duas horas não influenciaram a severidade da doença.

O fungo pode também sobreviver em sementes e ser transmitido pó estas, a

longas distâncias, ou através de bulbinhos mudas doentes. Em amostras de sementes

comercializadas em Santa Catarina em 1989, 1991, 1992 e 1993, C. gloeosporioides foi

encontrado. Entretanto, não se detectou o patógeno associado a sementes na região de

Guiricema-MG.

Por meio de inoculações artificiais, o patógeno pode infectar outras espécies de

Allium, como A. cepa var. agregatum, A. fistulosum e A. porrum. Em teste com

inoculação cruzada com isolados de mangueira, jiló, mamoeiro e cebola, obtidos na

região de Guiricema-MG, isolados de cebola foram patogênicos a cebola e o isolado de

jiló foi patogênico a cebola e ao mamão. Com ferimento, todos os isolados de cebola

foram patogênicos a todos os hospedeiros testados e os isolados de todos os hospedeiros

foram patogênicos ao mamão. Assim, outras plantas podem ser, potencialmente, fontes

de inoculo de C. gloeosporioides para a cebola.

Controle: considerando-se que a disseminação do fungo no campo é lenta e

dependente de respingos de água, o controle da antracnose deve-se basear em duas

medidas fundamentais: uso de sementes/mudas sadias e eliminação, no campo de

plantio, de restos culturais infectados. O monitoramento periódico, do canteiro à

colheita, para detectar possíveis focos e eliminá-los, é também importante. A rotação de

culturas é também uma medida recomendável.

Page 48: A Cultura Da Cebola

Há vários estudos buscando obter materiais resistentes à doenças. Com a

estimativa dos componentes de resistência, o acesso BGH 6911 e a cultivar Baia

Periforme foram promissores. Em condições de campo, ‘IPA 3’, ‘Belém IPA 9’,

‘Franciscana IPA 10’, ‘Vale Ouro IPA 11’ e ‘Roxinha de Belém’ foram resistentes. A

variedade Pira Ouro é também considerada resistente. Em programas de melhoramento,

a herança que controla a resistência a antracnose é do tipo poligênica, com ação gênica

predominantemente aditiva. A cultivar Barreiro (Roxa do Barreiro) é considerada uma

fonte de resistência a doença e através de programa de melhoramento da ESALQ/USP o

Dr. Cyro Paulino Costa obteve a cultivar Pira Ouro (cruzamento entre Barreiro x Baia

Periforme Precoce, com seleção para bulbos amarelos e resistência a antracnose)

Fungicidas são também recomendados para o controle da doença. Verificou-se

que apenas os tratamentos de mudas com fungicidas não foram eficientes para controle

da doença no campo, onde recomendam-se benomyl e tiabendazol, isolados ou em

mistura com mancozeb. Em casa de vegetação, em pulverização imediatamente após a

inoculação do patógeno em plantas de ‘Texas Early Grano 502’, benomyl e prochloraz

foram os fungicidas mais eficientes. Os produtos registrados para controle da doença

são aqueles a base de benomyl, tiofanato metílico, folpet, e oxicloreto de cobre.

Raiz Rosada

(Phoma terrestris E.M. Hans = Pyrenochaeta terrestris (Hansen) Gorenz, Walker &

Larson)

A raiz rosada é de ocorrência mundial, principalmente em condições de clima

tropical/subtropical, e no Brasil já foi constatada em várias regiões. Na Zona da Mata de

Minas Gerais, têm ocorrido problemas nas regiões de Guiricema, Guidoval e Tuiutinga.

Alguns isolados do fungo são também patogênicos a outras plantas, como pimenta,

tomate, soja, trigo, melancia, pepino e berinjela. É uma doença do sistema radicular e,

aparentemente, a ocorrência da raiz rosada associada à podridão basal causa mais perdas

à produção e qualidade que a ocorrência isolada de cada doença.

Sintomatologia: a doença pode ocorrer em todos os estádios de desenvolvimento

das plantas, sendo mais comum naqueles próximos à maturação. Plantas infectadas

quando jovens podem morrer. As raízes infectadas são inicialmente de cor róseo-clara,

tornando-se de coloração rosa a vermelha e, em estádios avançados, púrpura-escura.

Page 49: A Cultura Da Cebola

Raízes muito infectadas secam e se desintegram. Plantas que sobrevivem à infecção têm

o crescimento reduzido e produzem bulbos pequenos e de baixo valor comercial.

Etiologia e epidemiologia: a raiz rosada é causada por Phoma terrestris, que tem

como sinonímia Pyrenochaeta terrestris. O fungo pode sobreviver no solo como

picnídios e clamidósporos. O fungo penetra diretamente nas extremidades das raízes e

coloniza todo o sistema radicular. As condições de ambiente que favorecem o

desenvolvimento da raiz rosada são temperaturas de 24 a 28 ºC e alta umidade no solo.

Controle: a doença é severa em áreas continuamente cultivadas. Assim, para

reduzir a densidade de inóculo, a rotação com culturas não suscetíveis ao patógeno é

recomendável por três a seis anos. Em áreas pequenas pode-se efetuar a solarização ou

fumigação do solo. Há híbridos resistentes à raiz rosada. As cultivares Barreiro, Baia

Periforme e Granex são resistentes à doença. No melhoramento de plantas, a seleção de

populações resistentes é feita em solos infestados. Há duas hipóteses: de que a herança

da resistência seja controlada por um gene recessivo (relatado por Jones & Perry, 1956),

talvez não seja verdadeiro, ou provavelmente poligênica (Pike, 1986), havendo menos

material infestado no campo. Há várias raças do fungo e as fontes de resistência são

Excel, Eclipse, Early Crystal 281 e Texas Grano 502 PRR.

Tombamento das Mudas

(Rhizoctonia solani Kühn, Pythium spp., Fusarium spp.)

O tombamento (damping off) das mudas, dependendo das condições ambientais,

pode trazer sérias consequências à cultura, por levar à redução do estande no viveiro ou

no campo. É uma doença importante, pois as plantas afetadas geralmente não

sobrevivem.

Sintomatologia: o tombamento pode ocorrer em viveiros ou mesmo em culturas

oriundas de semeadura direta, em pré-emergência ou pós-emergência. Em pré-

emergência os sintomas comumente observados são apodrecimento de sementes e/ou

morte de plântulas. Em pós-emêrgencia pode-se constatar apodrecimento de raízes e/ou

presença de lesões necróticas na região do colo da planta. Como consequência, sintomas

reflexos, como o amarelecimento de folhas e morte de plantas, são comumente

observados.

Page 50: A Cultura Da Cebola

Etiologia e epidemiologia: dentre os vários fungos que podem incitar o

tombamento, os mais comuns são Rhizoctonia solani, Pythium spp. e Fusarium spp. é

importante lembrar que muitos deles podem produzir estruturas de resistência (R.

solani, escleródios; Pythium spp., oósporos e Fusarium spp., clamidósporos), as quais

podem permanecer viáveis por longo tempo no solo. Em geral, são patógenos bastante

adaptados ao solo e que são favorecidos por amplas faixas de temperatura e umidade.

Para alguns deles, como o Pythium spp., o excesso de irrigação no viveiro pode

favorecer a ocorrência de infecção severa.

Controle: uma primeira medida seria a seleção de local de instalação do viveiro,

se possível onde não tenha histórico de ocorrência de tombamento, situado a montante

do plantio definitivo e irrigação com água com baixa chance de trazer inóculo.

Adubação e irrigação equilibradas, com solo de boa drenagem, são também

recomendadas. O tratamento do solo de sementeiras por solarização ou com brometo de

metila também pode ser empregado. Para o caso específico de R. solani pode-se efetuar

o tratamento de solo ou de sementes com PCNB (quintozene).

Podridão-basal ou Fusariose

(Fusarium oxysporum fsp. cepae (Hans.) Snyder & Hansen)

A podridão-basal (bico-branco ou fusariose) ocorre em todo o mundo e pode-se

manifestar em qualquer estádio da cultura. Perdas decorrentes da doença já foram

constatadas em diversos países, principalmente em condições de armazenamento. O que

se sabe com relação ao melhoramento genético é que existe variabilidade dentro das

populações.

Sintomatologia: as plantas de cebola podem ser infectadas em qualquer fase do

desenvolvimento. Entretanto, os sintomas da doença não são aparentes nos estádios

iniciais do crescimento, quando a temperatura está abaixo do ótimo para crescimento do

patógeno. Os primeiros sintomas são curvatura, amarelecimento e necrose das folhas,

progredindo da ponta para a base. As plantas doentes podem murchar, além de as raízes

apresentarem coloração marrom-escura. Nessas plantas, podem não ser observados

sintomas na parte aérea, porém, ao se cortar o bulbo verticalmente, detecta-se, na parte

interna, uma coloração marrom. Em condições de alta umidade, pode ocorrer o

crescimento micelial do fungo sobre o bulbo afetado. Em bulbos infectados podem não

Page 51: A Cultura Da Cebola

ser observados sintomas na colheita, mas pode ocorrer o apodrecimento durante o

transporte e armazenamento.

Etiologia e epidemiologia: a doença é causada por Fusarium oxysporum fsp.

cepae, o qual pode ser disperso por sementes, água e mudas contaminadas, sendo

encontrado no solo, onde pode sobreviver por longos períodos na forma de

clamidósporos. A penetração do patógeno é diretamente ou por meio de ferimentos,

causados por outros patógenos ou insetos. O patógeno infecta a placa basal do bulbo e

eventualmente mata a planta por completo. Infecções do fungo em bulbos dormentes

durante o armazenamento permitem a ocorrência de infecções secundárias. Sob

condições de temperatura baixa (< 15 ºC) a doença não ocorre, pois as condições

favoráveis são temperaturas entre 26 e 28 ºC e umidade alta.

Controle: como o patógeno produz esporos de resistência em locais onde a

doença ocorreu, deve-se efetuar a rotação de culturas com plantas não suscetíveis por

quatro anos. Em viveiros, pode-se efetuar a fumigação do solo. Recomendam-se o uso

de sementes sadias, drenagem de solo muito úmido, prevenção de ferimentos, cura bem

feita e armazenamento em temperaturas baixas (4 ºC) e com baixa umidade. A medida

de controle mais eficiente é o uso de resistência. Há híbridos resistentes a podridão-

basal e já se desenvolveram cultivares de dias intermediários e de dias longos

resistentes. No Brasil algumas cultivares também variaram quanto à intensidade da

podridão basal em plântulas. Em outro estudo, Stadinick & Dhingra (1994) verificaram

que nas cultivares Bola Precoce, Crioula, Rosa, Norte-14, Roxa do Barreiro, Pera IPA 6

e Crioula x Norte-14 houve menor efeito do patógeno sobre a germinação; ‘Baia Ouro

AG-59’ e ‘Norte-14’ tiveram menor redução do estande, 57,1% e 75%,

respectivamente.

Míldio

(Peronospora destructor (Berk.) Casp.)

O míldio (ou cinza) da cebola é uma doença comum em locais de clima ameno,

sendo particularmente importante nas regiões serranas do Sudeste e na Região Sul do

Brasil, onde pode ocorrer durante todas as fases da cultura, principalmente logo após o

transplantio. É mais importante durante a fase de produção de sementes (fase

Page 52: A Cultura Da Cebola

reprodutiva) da cebola. Na Índia há relatos de até 75% de perda da produção, em

decorrência do míldio.

Sintomatologia: as partes afetadas do tecido foliar ou de hastes florais

apresentam tonalidade verde-amarelada. A presença de estruturas do patógeno,

principalmente esporângios, confere uma coloração que varia de parda a azulada.

Geralmente as lesões são grandes (3-30 cm de comprimento), possuem formato ovalado

a cilíndrico, alongadas no sentido das nervuras e com áreas de coloração variando de

verde-pálida a clorótica. É possível observar massa de esporangióforos e esporângios

nas lesões.

Com o desenvolvimento das lesões as partes afetadas tornam-se necróticas e

pode haver colonização por outros organismos saprófitas ou mesmo fitopatogênicos

como Alternaria ou Stemphylium botryosum, o que pode dificultar a diagnose correta da

doença. Bulbos produzidos em plantas severamente afetadas pelo míldio podem ser

subdesenvolvidos e a integridade de seus tecidos pode ser comprometida,a ponto de

reduzir a longevidade no armazenamento.

Etiologia e epidemiologia: a doença é causada por Peronospora destructor,

organismo da classe Oomycetes. O patógeno é parasita obrigatório, ou seja, só cresce e

multiplica em tecido vivo. Porém, é capaz de sobreviver entre plantios de cebola por

meio da produção de esporos de parede espessa e de origem sexuada – os oósporos.

Além disso, Peronospora destructor também pode sobreviver em plantas voluntárias ou

em bulbos e sementes infectadas. Estes órgãos, se utilizados como material propagativo,

constituem, ao menos em tese, fontes de inóculo primário da doença. Em geral, doenças

causadas por espécies de Peronospora são facilmente disseminadas no campo. O vento

é um eficiente agente de dispersão de esporângios de P. destructor. É possível que

respingos de chuva ou de água de irrigação também possam contribuir para a dispersão

do inóculo. As condições que mais favorecem o desenvolvimento de epidemias de

míldio são temperaturas amenas e alta umidade. Sob condições de baixa temperatura, 10

ºC por exemplo, verifica-se alta taxa de germinação dos esporângios. À medida que a

temperatura aumenta e atinge valores superiores a 20 ºC, o percentual de esporângios

germinados diminui. Sob condições de temperatura ótima, são necessárias poucas horas

de molhamento foliar (4 horas) para que haja germinação dos esporângios. As

epidemias são mais severas em regiões sujeitas a períodos prolongados de dias

Page 53: A Cultura Da Cebola

nublados. Nestas condições, há maior eficiência de sobrevivência de inóculo e de

infecção.

Controle: mediante o exposto, medidas de controle cultural devem ser adotadas.

Dentre estas, podem-se citar: escolher locais de plantios menos sujeitos ao

desenvolvimento da doença, isto é, locais bem drenados, arejados e que recebam boa

quantidade de irradiação solar; evitar o plantio em espaçamento muito adensado, para

que não haja formação de um microclima favorável ao desenvolvimento do patógeno;

utilizar material propagativo sadio; evitar condições que possibilitem longos períodos de

molhamento foliar e efetuar manejo adequado da irrigação.

Tratamento térmico dos bulbos a 35 ºC, 40 ºC e 45 ºC reduziu a doença

significativamente; entretanto, a 40 ºC e 45 ºC, durante mais de 12 horas, retardou o

crescimento de plantas drasticamente. Banho dos bulbos em suspensão de metalaxyl +

mancozeb por 4 horas reduziu a doença significativamente. Três pulverização de

metalaxyl + mancozeb em intervalos de 14 dias foram suficientes para controlar a

doença em mais de 75%. Em conjunto, a combinação de calor, banho de bulbos seguido

de três pulverizações de metalaxyl + mancozeb resultou em 86% de controle da doença.

Pulverizações com fungicidas são eficientes para o controle do míldio. Segundo

Brasil (2002), os produtos registrados para o controle da doença são à base de oxicloreto

de cobre, captan, maneb, mancozeb, mancozeb + oxicloreto de cobre, cymoxanil +

mancozeb, clorotalonil + metalaxyl-M e mancozeb + metalaxyl-M. O uso de fungicidas

para o controle do míldio pode ser otimizado com sistemas de previsão. Recentemente

foi desenvolvido um sistema de previsão denominado Downcast. Apesar de

interessante, este sistema ainda não foi validado nas condições brasileiras.

Com relação ao melhoramento de plantas, há variabilidade genética dentro de

populações do grupo Baia Periforme.

Pragas

Dentre os fatores que condicionam a produção de cebola, as pragas, se não

controladas oportunamente, ocasionam grandes prejuízos à cultura. Destacam-se, entre

outras, a lagarta rosca, vaquinhas, mosca minadora, tripes, ácaros e lagarta das folhas.

Tripes – Thrips tabaci (Lindeman, 1888) (Thysanoptera, Thripidae)

Page 54: A Cultura Da Cebola

Principal praga da cebola, tornando-se potencialmente destruidora quando em

temperaturas altas e umidade relativa do ar baixa, pois nessas condições há aceleração

do ciclo reprodutivo e do desenvolvimento da ninfa para o adulto. Os ataques intensos

podem causar até 50% de perda na produção. O adulto mede em torno de 1 mm de

comprimento e 2 mm de envergadura, apresenta coloração variável, do amarelo ao

marrom, e asas estreitas e franjadas. A postura é endofítica e realizada nos tecidos mais

tenros da planta. A capacidade de postura de uma fêmea é de 20 a 100 ovos. A ninfa

mede cerca de 1 mm de comprimento, apresentando coloração amarelo-esverdeada. O

período de pupa dura em torno de 24 h e ocorre na própria planta.

O aparelho bucal dos tripes é do tipo sugador labial triqueta (três estiletes).

Vivem geralmente entre a bainha e o limbo foliar, em grandes colônias, onde se

alimentam de seiva após dilacerarem as superfícies dos tecidos da planta. Raspam o

limbo foliar para sugarem a seiva, causando lesões nas quais aparecem manchas

esbranquiçadas e prateadas, caracterizando um aspecto geral descolorido. Essa agressão

ao limbo foliar abre espaço para o ataque de diversas doenças, principalmente alternaria

e bacterioses. Os tripes também transmitem viroses. Também atacam os bulbos,

permanecendo sob suas túnicas. Os bulbos atacados são de tamanho e peso reduzidos,

apresentando qualidade inferior, e geralmente não atingem 2/3 de seu tamanho normal.

Quando o ataque é muito intenso, essa praga provoca uma secamento total da

área foliar, havendo, com isso, comprometimento do desenvolvimento da planta,

resultando em diminuição da produção.

Devido às suas características biológicas, localização na planta, à arquitetura

foliar da planta e cerosidade apresentada pelas folhas, as quais dificultam o controle

fitossanitário, fica sendo uma praga de difícil controle. O produtor deve evitar plantios

consecutivos, pois a sucessão de safras, próximas umas das outras, permite a migração

do tripes pelas correntes de vento, perpetuando a população. O manejo fitossanitário

com pulverizações deve ser feito regularmente, sempre obedecendo a uma alternância

de grupos químicos (piretróides com organofosforados) e de princípios ativos, com o

intuito de evitar a seleção de indivíduos resistentes. Na prática, a adição de açúcar a 2%

na calda de pulverização melhora a eficiência dos defensivos.

É imprescindível aumentar a vazão nas pulverizações, como forma de melhor

atingir a praga, bem como promover a regulagem correta do equipamento de

Page 55: A Cultura Da Cebola

pulverização para se trabalhar com a dosagem adequada, evitando-se desperdícios e

insuficiência de doses. Na prática, nota-se que bicos do tipo leque são mais eficientes.

Além disso, deve-se fazer a pulverização mais ao entardecer, pois nos horários mais

amenos há melhor controle.

Ainda de acordo com Ciociola Júnior et al. (2002), em introdução no capítulo

“Pragas associadas à cultura da cebola e seu controle” do Informe Agropecuário, o

ataque do tripes na cultura da cebola é crescente e preocupante. Esta praga pode

comprometer a produção caso não sejam tomadas medidas corretas de controle, como

por exemplo, uma correta amostragem da população da praga no campo. Para cada

região é necessário o estabelecimento de um nível de dano para o tripes e para as outras

pragas que ocorrem no local. Existem no mercado inúmeros produtos para o seu

controle, porém deve-se observar a maneira correta de aplicação, sempre verificando a

alternância dos ingradientes ativos. Os autores ainda relatam que há uma forte

necessidade de um controle biológico para o tripes e outras pragas, dentro de um

programa de manejo ecológico correto, proporcionando, desse modo, um ambiente

ecologicamente estável. Até o momento são poucos os estudos nessa área.

Lagarta rosca - Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1767) (Lepidoptera, Noctuidae)

O adulto é uma mariposa medindo até 40 mm de envergadura. Apresenta asas

anteriores marrons e posteriores branca hialina com o bordo lateral acinzentado. A

lagarta dessa espécie mede 45 mm de comprimento, é robusta e tem coloração marrom-

acinzentada, apresentando cápsula cefálica lisa e marrom-clara.

Este inseto apresenta elevado potencial biótico, podendo uma fêmea colocar em

média 1000 ovos durante seu ciclo. A lagarta tem o hábito noturno, ficando durante o

dia enrolada e abrigada no solo. A fase de lagarta é de 30 dias; após este período esta

passa para a fase crisálida, permanecendo no solo até a emergência do adulto.

O principal dano ocasionado por A. ipsilon é o seccionamento das plantas novas

na altura do colo. As lagartas alimentam-se dos tecidos foliares e muitas vezes cortam

as plantas rente ao solo e em períodos de seca prolongada alimentam-se dos bulbos no

campo, podendo causar apodrecimentos e sérios prejuízos durante o armazenamento. O

controle químico é a medida utilizada com frequência pelos produtores quando se

Page 56: A Cultura Da Cebola

detecta a presença da praga na área, sendo as pulverizações dirigidas ao solo, em alto

volume e preferencialmente no fim da tarde.

Vaquinhas – Diabrotica speciosa (Germar, 1824) (Coleoptera, Chrysomelidae)

O adulto é um besouro de coloração verde medindo 5 a 6 mm de comprimento.

A cabeça apresenta coloração castanha e em cada élitro há três manchas amarela. A

fêmea efetua a postura no solo. A larva mede em torno de 10 mm de comprimento e

apresenta coloração branco-leitosa. Os adultos têm o hábito de se alimentar da parte

aérea da planta enquanto as larvas alimentam-se de raízes e tubérculos. O ciclo

biológico é de 24 a 40 dias.

Os adultos alimentam-se das folhas da cebola, nas quais provocam marcas e

perfurações, diminuindo a área foliar, prejudicando o desenvolvimento normal da planta

e deixando esta mais suscetível ao ataque de doenças através desses ferimentos. Trata-se

de uma terrível praga, especialmente na fase de sementeira.

O controle químico é a medida utilizada com maior frequência para o controle

de D. speciosa. Todavia, deve-se utilizar produtos somente em extrema necessidade, de

maneira a não ocorrer desequilíbrios, tais como a eliminação da fauna benéfica e

problemas pelo surgimento de outras pragas ou seleção de indivíduos resistentes na

população. O controle pode ser feito com deltametrina, carbaryl e fenpropathrin.

Mosca Minadora, Bicho Mineiro – Liriomyza sp. (Diptera, Agromyziidae)

Os adultos da mosca minadora são insetos pequenos, de aproximadamente 2 mm

de comprimento, apresentando coloração preta. A fêmea apresenta postura endofítica,

isto é, coloca seus ovos dentro do tecido da folha, diretamente no parênquima foliar. A

larva mede em torno de 2 mm de comprimento, apresentando coloração amarelada, e

faz galerias no parênquima foliar em zigue-zague, destruindo parte da área foliar,

reduzindo a capacidade fotossintética da planta e promovendo queda na produção de

bulbos. Quando desenvolvida abandona a planta, passando a pupa no solo, podendo

também ser encontrada no interior das minas.

Apesar da importância da minadora em cebola, não há registros de produtos

específicos para essa praga. Entretanto, quando ocorrer tripes e minadora ao mesmo

Page 57: A Cultura Da Cebola

tempo na cultura, os produtos utilizados para controlar tripes também controlarão a

mosca minadora.

Desordens Fisiológicas

Brotações

As brotações originárias dos bulbos é um dos principais problemas fisiológicos

de pós-colheita. A dormência dos bulbos varia de acordo com a cultivar, podendo durar

de poucos dias a meses. Passado o período de dormência, os bulbos reiniciam o

crescimento das folhagens. As temperaturas ao redor de 0 ºC retardam as brotações

unicamente durante os primeiros meses de armazenamento. Complementando o frio

pode-se usar inibidores de brotação, como a hidrazina maléica, que é mais efetiva

quando aplicada em plantas com 50% de estalo.

Catáfilas translúcidas

Este problema ocorre mais frequentemente depois de 3 a 4 meses de

armazenamento a frio, sendo sua maior incidência em bulbos grandes. As catáfilas se

tornam transparentes, em contraste com a aparência opaca do tecido normal, e os vasos

condutores são facilmente notados. A sua incidência é reduzida significativamente

quando se resfria os bulbos logo após a cura.

Crescimento de raízes

Este fenômeno parece estar regulado por fatores internos, apresentando suas

taxas máximas de ocorrência à temperatura de 10 °C e umidade relativa superior a 75%.

A redução deste problema pode ser feita utilizando baixas temperaturas, umidade

relativa inferior a 70% e empregando recipientes apropriados e dispostos de forma a

permitir uma boa ventilação.

Danos por sol e congelamento

A exposição prolongada das cebolas a radiação solar (altas temperaturas e/ou

raios ultravioleta) tem causado queimaduras nos bulbos, principalmente quando a

temperatura alcança 50 ºC.

Page 58: A Cultura Da Cebola

O ponto de congelamento da cebola é de aproximadamente -1 °C, dependendo

da cultivar e conteúdo de sólidos solúveis. Os bulbos afetados apresentam uma

coloração amarelo-acinzentada e uma consistência aquosa. O sintoma ocorre da

superfície para o centro dos bulbos. Como medida de minimizar os danos recomenda-se

descongelar o produto lentamente a cerca de 4 ºC e comercializá-lo imediatamente.

Colheita e Cura

A colheita e a cura da cebola são etapas muito importantes na conservação dos

bulbos e formação e coloração da casca.

Colheita

A colheita deve ser realizada quando ocorre o amadurecimento dos bulbos, que é

indicado pelo murchamento prévio da rama na região acima do bulbo (pescoço). Esse

processo é conhecido como tombamento ou “estalo” da cebola. O primeiro sinal de

amadurecimento é o “estalo”, que é o tombamento do pseudocaule, seguindo-se da seca

da planta. A ocorrência do “estalo” indica a perfeita adaptação da cultivar, bem como a

completa maturação do bulbo, favorecendo sua conservação pós-colheita. A colheita

antecipada, com a planta ainda imatura, prejudica a qualidade do bulbo. Recomenda-se

iniciar a colheita quando 50-60% das plantas tombarem.

Deve-se, gradualmente, diminuir a irrigação a partir do início da maturação dos

bulbos, para que estes contenham maior teor de matéria seca (o que favorece a sua

conservação). A colheita pode ser mecanizada ou manual. No Brasil é mais comum a

colheita manual. Pode-se utilizar uma lâmina para facilitar o corte das raízes da cebola e

desta forma iniciar o processo de cura. Em algumas regiões cebolicultoras nos Estados

Unidos é mais comum a utilização da colheita mecanizada com maquinário apropriado.

Em Santa Catarina os agricultores realizam a colheita quando a cebola

apresentar tombamento da haste (“estalo”) em mais de 40% da lavoura. Apenas uma

pequena quantidade provoca o tombamento das plantas remanescentes antes da colheita,

para evitar a penetração de água no pseudocaule. No caso de ter realizado o

tombamento das plantas, alguns dias depois é feita a colheita e a cebola recebe uma pré-

Page 59: A Cultura Da Cebola

cura a campo, em leiras onde os bulbos são cobertos com as próprias folhas, para

protegê-los dos raios do sol.

A cebola colhida verde apresenta-se aquosa, não completando seu ciclo e

apresentando a desvantagem de perder muito peso com a evaporação da água. Além

disso, apresenta má conservação, prejudicando o produtor e consumidor. O produtor,

procurando obter um bom preço de venda do produto no mercado durante o período de

escassez, esquece-se que isto poderá prejudicá-lo, devido a um excesso de oferta no

mercado de um produto de má qualidade. Também há situações em que a cebola, como

única fonte de renda, precisa ser comercializada imediatamente após a colheita, até

mesmo sem cura, para recuperar o escasso capital de giro e sustentar a sobrevivência da

família. Quando colhe-se muito cedo, com bulbos verdes, as folhas continuam

crescendo e o colo (“pescoço”) dos bulbos não cicatriza bem, afetando a resistência ao

armazenamento e aspecto do produto. Sem cura, a cebola, além da aparência não

atrativa, fica mais exposta às deteriorações. Além dos bulbos mal curados, verifica-se

ainda o apodrecimento por falta de ambiente adequado ao armazenamento, bulbos

atacados por pragas e doenças, manuseio e transporte feitos sem cuidados, má aparência

visual dos bulbos (desuniformes, descascados ou com túnicas muito finas. Em algumas

regiões, como Nordeste e Sudeste, são utilizadas cultivares inadequadas, as quais não

apresentam resistência ao armazenamento. Pelo fato destas cultivares de cebola

possuírem baixos teores de sólidos solúveis na sua composição, imediatamente após

serem colhidas e curadas, necessitam ser comercializadas, gerando um grande fluxo de

cebola de baixa qualidade no comércio. Esta situação traz, consequentemente, queda de

preços, reduzindo a rentabilidade da cultura e elevando os níveis de perdas.

Os dias secos e ensolarados são os melhores para a colheita da cebola. Quando

esta é feita com o solo úmido, a qualidade e a conservação dos bulbos são seriamente

prejudicadas.

Cura

Após a colheita realiza-se o processo de cura, que tem por finalidade a perda

excessiva de umidade das ramas e secagem das películas externas (casca) dos bulbos,

com o intuito de fazê-los alcançar coloração externa atrativa e reduzir a intensidade de

podridões. A cura torna os bulbos mais resistentes a danos e a entrada de

microrganismos, aumentando seu período de conservação e melhorando a qualidade

Page 60: A Cultura Da Cebola

comercial da cebola, a coloração dos bulbos e condições para armazenamento. A cura

pode ser artificial e a campo:

Cura a campo: mais comum no Brasil. Na cura a campo os bulbos com as ramas devem

ficar expostos ao sol durante 7-10 dias. Alguns autores recomendam um tempo menor

em função da temperatura ambiente. Há relatos de que a temperatura ideal para cura é

superior a 21 °C por um período de 24 a 72 horas. Em muitos casos, cobre-se o bulbo

com as ramas do bulbo seqüencial, para se evitar a queima pelo sol. Após essa cura

preliminar recolhem-se os bulbos em galpões, bem arejados e secos, para uma cura mais

lenta. No caso de chuvas durante a colheita a cebola deve ser recolhida aos galpões

imediatamente, onde as plantas permanecerão até que as folhas sequem.

Um indício de cura completa é o desprendimento fácil das películas externas

quando se esfregam os bulbos com os dedos, o que geralmente ocorre aos 10 a 15 dias

após a colheita. Após esse processo, é feito o corte das ramas. Alguns produtores, após

o corte das ramas, dependendo das condições climáticas, deixam os bulbos em sacos ao

sol para uma completa secagem. Durante este período deve ocorrer uma perda de 3 a

5% do peso inicial dos bulbos.

Cura artificial: pode ser realizada através do uso de ar aquecido. A cura com a utilização

de ar aquecido pode ser feita em um processo dinâmico (através do fluxo do ar sobre o

produto deslocado por uma esteira) ou em um processo estático (no qual o ar é forçado

entre os bulbos através de dutos perfurados). Em Santa Catarina pratica-se a chamada

cura estacionária, mais comum no Brasil, em estufas de fumo ou em câmaras

construídas especialmente para isso. A temperatura utilizada para secagem é de 46 a 48

°C, por um período que varia de 16 a 32 horas. Nas estufas de fumo as cebolas são

colocadas em caixas para facilitar o movimento do ar quente. As câmaras especiais são

construídas de alvenaria, dotadas de um sistema de aquecimento por fornalhas e dutos

de aquecimento.

Beneficiamento e Embalagem

O beneficiamento consiste em aparar as raízes e folhas: as raízes são aparadas

rente ao bulbo, porém, sem feri-lo, e as folhas deixando-se 1 cm de pseudocaule.

Somente após completar a cura é que os bulbos devem ser classificados pelo

Page 61: A Cultura Da Cebola

diâmetro e embalados em sacos telados de fibra sintética, de preferência vermelha, com

capacidade para 45 Kg, comumente. No entanto, a embalagem oficial para

comercialização é o saco de polietileno ou polipropileno vermelho com 75 cm de

comprimento e 48 cm de diâmetro, com capacidade para 20 Kg de bulbos. Pequenos

produtores ainda comercializam cebola enrestiada.

Na maioria dos mercados brasileiros os bulbos de tamanho médio (80 a 100g)

são os preferidos pelo consumidor. As colorações preferidas são tipo “baia”, com

tonalidade mais ou menos intensa ou amarelo-palha. Observa-se que bulbos brancos e

roxos apresentam aceitação mais restrita.

Armazenamento

O armazenamento prolongado pode ser desvantajoso nas condições brasileiras.

Ele pode ser efetuado em ambientes arejados, frescos, secos e sombrios. As cultivares

de ciclo tardio e mediano conservam-se sob tais condições até 6 meses.

As estruturas de armazenamento podem ser divididas em três: armazéns

frigoríficos, armazéns convencionais e armazéns ventilados. A armazenagem de cebola

em frigoríficos ainda não é comum no Brasil. A armazenagem convencional é utilizada

principalmente em Santa Catarina, onde os bulbos são acondicionados em sacarias, em

caixotes ou a granel com as ramas. As cebolas dispostas umas sobre as outras não

devem superar a altura de empilhamento de 40 cm. Neste sistema o bulbo fica somente

exposto à ventilação natural, o que pode ser responsável pela alta taxa de doenças.

Nestas condições, os bulbos podem ser armazenados por 2 a 3 meses. Recomendam-se

barracões arejados que permitam uma ventilação regular e adequada. Em alguns locais

os armazéns podem ser ventilados, através da ventilação forçada, para diminuição dos

problemas relacionados à doenças.

A frigorificação em câmaras com umidade relativa de 70-80% e temperatura de

4 a 6 ºC pode ser praticada, podendo ser obtida a conservação por períodos superiores a

6 meses, porém a viabilidade econômica dessa prática deve ser ponderada. É viável a

frigorificação de cebola usando-se câmaras com temperaturas em torno 0 ou de 2,4 °C

com umidade relativa do ar de 70-80%, por um período maior que 6 meses.

Temperatura de 0 ºC e umidade relativa entre 60 e 70% constituem condições ótimas de

Page 62: A Cultura Da Cebola

conservação e contribuem para controlar a disseminação de doenças e brotação de

raízes. Estima-se que as perdas durante armazenagem no Brasil podem chegar, em

alguns casos, em cerca de 40-50% da produção. Cebolas não devem ser armazenadas

juntamente com outros produtos devido a problemas relacionados à absorção de outros

odores.

Em Santa Catarina, na grande maioria dos casos, o armazenamento é feito em

estaleiros, em camadas, cuja altura da pilha varia em função do volume colhido.

Classificação e Padronização

A classificação e padronização de bulbos de cebola é realizada segundo as

normas do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, através da portaria n° 529 de

18 de agosto de 1995, que teve por objetivo definir as características de identidade,

qualidade, acondicionamento, embalagem e apresentação da cebola destinada ao

consumo “in natura”.

Como defeitos graves definiu-se o bulbo de cebola com talo grosso (união das

catáfilas do colo do bulbo apresentando uma abertura que a normal, devido ao

alongamento do talo pelo interior do mesmo); brotado (bulbo que apresenta emissão do

broto visível acima do colo); podre (dano patológico e/ou fisiológico que implique em

qualquer grau de decomposição, desintegração ou fermentação dos tecidos); com

mancha negra (área enegrecida, em virtude do ataque de fungos nas catáfilas externas

ou no colo do bulbo, detectada visualmente) e mofado (o que apresenta fungo nas

catáfilas externas).

Como defeitos leves definiu-se o bulbo de cebola com colo mal formado

(formação incompleta do colo do bulbo); deformado (o que apresenta formato diferente

do típico da cultivar, incluindo crescimentos secundários, ou seja, bulbos unidos pelo

talo, apresentando externamente uma catáfila envolvente); falta de catáfilas externas

(ausência de catáfilas em mais de 30% da superfície do bulbo); flacidez ou falta de

turgescência (ausência da rigidez normal do bulbo); descoloração (desvio parcial ou

total na cor característica da cultivar, incluindo o esverdeamento, ou seja, bulbos com

catáfilas externas verdes).

Page 63: A Cultura Da Cebola

Considera-se defeito quando atingir mais de 20% da superfície do bulbo e dano

mecânico (lesão de origem mecânica observada nas catáfilas do bulbo), sendo não

considerados os defeitos intitulados talo grosso e falta de catáfilas externas quando

tratar-se de cebolas precoces.

A cebola é classificada em classes ou calibres de acordo com o maior diâmetro

transversal do bulbo e tipos ou graus de seleção de acordo com a qualidade dos bulbos.

As classes ou calibres, de acordo com o maior diâmetro transversal do bulbo, são

classificados em quatro. As cebolas cujos diâmetros dos bulbos forem maiores que 90

mm serão agrupadas de tal forma que, dentro de uma mesma embalagem, não

contenham bulbos cuja diferença entre o diâmetro do maior e menor bulbo seja superior

a 20 mm. Permite-se a mistura de classe dentro de uma mesma embalagem, desde que a

somatória das unidades não supere 10% e pertençam às classes imediatamente superior

e/ou inferior. O número de embalagens que superar a tolerância para mistura de classes

não poderá exceder a 10% do número de unidades amostradas. Não se admitirá classes

de bulbos de formatos ou cores diferentes.

Quanto aos tipos ou graus de seleção, de acordo com os índices de ocorrência de

defeitos nas amostras, a cebola será classificada conforme Quadro 19. Em se tratando

do mercado interno a cebola poderá ser comercializada em réstia e, neste caso, será

classificada apenas em tipos. Não é permitida a comercialização de cebolas em réstia

entre os países membros do Mercosul. Os bulbos deverão possuir características típicas

da cultivar, serem sãos, secos, limpos e apresentarem as raízes cortadas rente à base. O

talo deverá apresentar-se retorcido e estar cortado a um comprimento não superior a 4

cm.

No que se refere à embalagem, as cebolas deverão estar acondicionadas em

embalagens novas, limpas e secas e que não transmitam odor ou sabor estranhos ao

produto, podendo ser sacos ou caixas contendo até 25 Kg líquidos de bulbos, admitindo

uma tolerância de até 8% a mais e 2% a menos no peso indicado. O número de

embalagens que não cumprir com a tolerância admitida para o peso não poderá exceder

a 20% do número de unidades amostradas.

As embalagens deverão ser rotuladas ou etiquetadas em lugar de fácil

visualização e difícil remoção, contendo, no mínimo, as informações do nome do

Page 64: A Cultura Da Cebola

produto, cultivar, classe ou calibre (A), tipo (A), peso líquido (A), nome e domicílio do

importador (A, B), nome e domicílio do embalador (A, B), nome e domicílio do

exportador (A, B), país de origem, zona de produção e data do acondicionamento (A,

B), sendo que a inicial A admite-se o uso de carimbo ou etiquetas autoadesivas para

indicar estas informações e a inicial B é optativa, de acordo com os valores de cada país.

Em se tratando de produto nacional para comercialização no mercado interno as

informações obrigatórias são a identificação do responsável pelo produto (nome, razão

social e endereços), o número do registro do estabelecimento no Ministério da

Agricultura e do Abastecimento, a origem do produto, classe, tipo, peso líquido e data

do acondicionamento. Na comercialização feita no varejo e a granel o produto exposto

deverá ser identificado em lugar de destaque e de fácil visualização, contendo a

identificação do responsável pelo produto, classe e tipo.

A cebola deverá ser embalada em locais cobertos, secos, limpos, ventilados, com

dimensões de acordo com os volumes a serem acondicionados e de fácil higienização, a

fim de evitar efeitos prejudiciais à qualidade e conservação do mesmo e o transporte

deve assegurar uma conservação adequada ao produto.

Para todo o território nacional, a portaria que disciplina a comercialização da

cebola proveniente dos países do Mercosul sofreu adaptações, sendo que o setor se

autoregula, classificando a cebola quanto ao tamanho, utilizando-se somente três

diâmetros: graúdas (acima de 60 mm), médias (40 a 60 mm) e miúdas (30 a 40 mm),

sendo descartadas aquelas que não estiver dentro deste padrão. Quanto às cebolas com

padrão abaixo das miúdas, denominadas “chupetas” ou “pirulitos”, são comercializadas

pela metade do preço de mercado e 20% dos sacos de uma carga de caminhão podem

ser constituídos destas cebolas pequenas.

A preferência do consumidor recai sobre as cebolas de coloração amarelo-

avermelhada. No beneficiamento as descamadas são separadas. O consumidor nacional,

com a abertura da economia brasileira, tomando contato com o produto importado, está

em processo acelerado de mudanças quanto à exigência de qualidade, descartando a

desuniformidade do produto quanto à cor, formato e tamanho. Além da coloração

amarelo-avermelhada, o consumidor brasileiro prefere a cebola de formato arredondado,

com peso médio de 90 a 100 g, sem a presença de raízes e folhas (cascuda), ou seja,

com escamas externas firmes e múltiplas.

Page 65: A Cultura Da Cebola

No entanto, existem também outros nichos muito específicos de consumo, onde

o mercado é regido por uma série de fatores e tendências ligadas ao poder aquisitivo e

cultura de cada região do Brasil. Em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, por exemplo,

ocorre uma leve tendência de consumir principalmente cebola roxa ou arroxeada. Nos

bairros ou regiões de menor poder aquisitivo e até mesmo em Santa Catarina há uma

aceitação da cebola desclassificada ou fora dos padrões, com mistura de formas,

tamanhos e cores. Já as indústrias de processamento adquirem as cebolas grandes,

descamadas e pequenas (“pirulitos”), por serem três classes de menor cotação de preços

no mercado. Os restaurantes, por sua vez, dão preferência a cebolas grandes, para

reduzir mão-de-obra no preparo de pratos.

Comercialização e Custos de Produção

O Brasil possui uma ampla variação nas condições climáticas das diversas

regiões produtoras; com isso verifica-se que existem diversos períodos de produção e

oferta de cebola. Isto possibilita condições de autosuficiência de produção e

abastecimento interno no decorrer dos doze meses do ano.

A ocasional redução de oferta de cebola ocorre nos meses de junho e julho,

ocasionada pela diminuição de oferta no centro-sul do país e/ou da safra paulista de

bulbinhos.

Ao analisar o período de colheita e comercialização nacional cada região

apresenta características peculiares. A oferta da Região Sul ocorre entre os meses de

novembro a maio, sendo o pico da colheita nesta região verificado no mês de dezembro.

Com o armazenamento é possível atender o mercado até maio, especialmente nos anos

em que a cebola for de boa qualidade. A partir de maio inicia-se a comercialização da

produção de soqueira do município de Piedade-SP. Em junho e julho concentra-se a

oferta de São Paulo; além de Piedade, entram no mercado as cebolas produzidas nos

municípios de Monte Alto e São José do Rio Pardo e a produzida no Vale do São

Francisco, especialmente em Pernambuco. Em agosto continua a oferta originária do

Vale do São Francisco e concentra-se a colheita dos municípios de Monte Alto, São

José do Rio Pardo e Mirandópolis. De outubro a janeiro, com pico de oferta em

novembro e dezembro, a região de Piedade dispõe de cebola do tipo Baia Periforme. De

setembro a novembro entra a produção do Nordeste (BA e PE). Com o andamento

normal das safras o Brasil está abastecido durante o ano todo.

Page 66: A Cultura Da Cebola

É elevada a elasticidade-preço da oferta da cebola, característica econômica

determinante no processo de produção e comercialização, que expressa a sensibilidade

da produção às variações de preços. Problemas de abastecimento e preço ocorrem

quando há antecipação ou atraso na colheita de alguma região, o que resulta na

coincidência de safras, ocasionando excesso ou escassez do produto. Isto acontece

normalmente quando ocorre algum fator climático adverso na produção. Quando há

coincidência de safras ocorre uma queda sensível nos preços pagos ao produtor,

chegando a casos de não cobrirem o custo de produção.

As variações de preço são estacionais e ocorrem com certa frequência, o que

também pode ser resultado da “teoria da teia de aranha”, em que determinada época do

ano o preço é elevado e a produção baixa, e no ano seguinte, o produtor, estimulado

pela alta do preço aumenta a produção; o aumento da oferta tende a gerar queda dos

preços.

Ocorre ampla flutuação estacional nos preços pagos ao produtor, condicionada

pela oferta variável ao longo do ano, já que a demanda parece ser constante.

Normalmente ocorrem preços mais elevados de maio a agosto, com máximo em junho-

julho. Entretanto, com a importação, a curva de flutuação tende a ser menos acentuada.

Também contribui para isso a “cultura de verão”, com colheita na entressafra. Com o

efetivo funcionamento do Mercosul, a Argentina vem exportando volumes crescentes de

cebola “cascuda” (valenciana), de alta qualidade, preferida pelo consumidor de maior

nível de renda. Entretanto, cultivares deste tipo não bulbificam nas condições climáticas

do centro-sul, havendo poucas cultivares nacionais competitivas. Deve-se levar em

conta o fato de as condições ecológicas argentinas serem mais favoráveis a essa cultura:

fotoperíodo longo (permitindo o plantio de cultivares tardias); temperaturas

adequadamente amenas; solo de elevada fertilidade natural, exigindo pouca adubação;

topografia plana, permitindo a mecanização, e chuvas bem distribuídas ao longo do

ciclo, não sendo necessário irrigar.

A industrialização de cebola ainda é pouco praticada no Brasil. Entretanto, há

pequena produção de cebola desidratada, na forma de pó ou de flocos, e também como

picles. A perecibilidade da cebola dificulta o armazenamento e o abastecimento,

ocasionando grandes perdas para os produtores. Segundo algumas estimativas o volume

de cebola industrializada seria em torno de 6% da produção nacional. No Brasil, a

Page 67: A Cultura Da Cebola

utilização de produtos industrializados de cebola é muito pequena, pois o maior

consumo de cebola é “in natura”, na forma de saladas e condimentos. Entre os

principais produtos derivados de cebola destacam-se a pasta de cebola, a cebola em pó e

a cebola em flocos.

A pasta de cebola é resultante de processo industrial mais simples e consiste em

triturar a cebola, transformando-a em pasta, e logo após adicionar sal para prolongar a

conservação. Este processo de transformação em pasta ou creme é muito utilizado de

maneira artesanal doméstica. Já a cebola em pó e em flocos é um processo industrial

que consiste em desidratar o produto, podendo conter no máximo 4,25% de umidade. A

industrialização é feita por métodos convencionais de desidratação, através da secagem

do produto. O rendimento industrial e qualidade do produto dependem da qualidade da

matéria-prima utilizada, ou seja, do teor de sólidos solúveis e da coloração dos bulbos.

A procura por cebola em pó é ocasionada pela demanda da indústria alimentícia para a

elaboração de produtos, tais como sopas, cremes, na preparação de refeições industriais

e enlatados.

A cebola em conserva é uma alternativa de utilização dos bulbos de tamanho

pequeno, os quais são rejeitados pelo consumidor no processo de comercialização “in

natura”. Além disso, existe maior facilidade de acondicionar as “cebolinhas” em

recipientes menores com maior aproveitamento do espaço interno. O produto é mais

conhecido como cebola em picles.

Porém, o teor de sólidos solúveis e a coloração das cultivares de cebola

existentes no Brasil não são favoráveis ao processo de industrialização. Em razão do

baixo teor de sólidos solúveis, o rendimento industrial é baixo, ficando entre 7,5 e 10%.

Em função do teor de açúcar das nossas cultivares, o produto final apresenta uma cor

amarelada pela caramelização. Existem algumas limitações quanto à utilização de

produtos processados de cebola por parte dos consumidores, motivados principalmente

pela disponibilidade de produto fresco durante todo o ano, pela resistência das donas de

casa e cozinheiras em alterar seus hábitos e procedimentos na cozinha, por considerar

insubstituível a utilização do produto “in natura” em saladas, onde seu consumo é

elevado, e pela pouca divulgação quanto à existência, formas de uso e vantagens dos

produtos industrializados de cebola. Desta forma, a utilização de cebola processada é

feita principalmente por empresas que fabricam produtos desidratados, como sopas

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instantâneas, caldos, preparações básicas, condimentos e molhos, e na indústria, carne e

enlatados.

De acordo com estudo apresentado no XII Seminário Nacional de Cebola,

realizado em Juazeiro-BA, em 2000, estima-se que cem mil famílias de agricultores

estejam produzindo cebola no Brasil. O custo de produção situa-se entre R$ 3.500.00 a

R$ 6.000,00 por hectare, conforme o sistema de cultivo adotado. O custo médio de

produção tem variado de US$ 0,10 a US$ 0,15 por quilo produzido. O menor custo

refere-se às regiões com maior produtividade e sistema de cultivo por semeadura direta,

como por exemplo, Monte Alto-SP. O maior custo refere-se ao sistema de produção

pelo método do bulbinho e a produção por mudas possui custo intermediário de US$

0,13 por quilo produzido. O preço médio recebido pelo produtor tem sido de US$ 0,26

por quilo produzido.