Download - A Cultura Da Cebola
A CULTURA DA CEBOLA
Classificação Taxonômica
Grupo: Angiosperma
Classe: Monocotiledônea
Subclasse: Dialipétala
Ordem: Liliales
Família: Alliaceae (As aliáceas abrangem as seguintes culturas condimentares, conhecidas no Brasil: cebola, alho, cebolinha e alho-porró. Mais recentemente, a combinação de dados morfológicos e moleculares tem reforçado a ideia de que as cerca de 750 espécies do gênero Allium pertencem, de fato, a família Alliaceae – a qual é distinta, mas estreitamente relacionada com a família Amaryllidaceae)
Gênero: Allium
Espécie: Allium cepa L.
Distribuição Geográfica e Ecologia de Espécies Cultivadas do Gênero Allium
Muitas espécies selvagens de Allium são comestíveis, sendo utilizadas como
alimento, mas apenas poucas são cultivadas comercialmente. Atualmente, as espécies
cultivadas em todo o mundo evoluíram de espécies selvagens das regiões montanhosas
da Ásia Central. Nas plantas do gênero Allium, os rizomas, raízes e, em particular,
bulbos podem ser os órgãos de reserva.
Uma das melhores formas de caracterizar o gênero Allium é por seus compostos
ricos em enxofre, os quais dão seu distinto aroma e pungência. Outro fator único sobre o
gênero Allium é o tamanho do seu genoma nuclear, com alta porcentagem de sequências
repetitivas. Com relação ao número básico de cromossomos, as espécies de Allium
podem apresentar 7, 8 ou 9. A maioria das espécies norte-americanas tem um número
básico de 7 e as da Eurásia um número básico de 8. Entretanto, em todo o mundo
encontram-se poucas espécies que possuem um número básico de 9 cromossomos.
Todos os Allium cultivados apresentam 8 cromossomos básicos. A cebola comum (A.
cepa), cebolinha-verde (A. fistulosum) e alho (A. sativum) são conhecidos como
diplóides (2n = 2x = 16). Entretanto, a poliploidia é encontrada em outras espécies, tais
como cebolinha-francesa (A. schoenoprasum; 2n = 2x = 16; 3x = 24 e 4x = 32), alho-
porró e Kurrat (A. ampeloprasum; 2n = 4x = 32), alho-elefante (A. ampeloprasum; 6x =
48), rakkyo (A. chinense; 2n = 2x = 16; 4x = 32) e nirá ou cebolina chinesa (A.
tuberosum; 2n = 4x = 32).
A Eurásia possui a maior diversidade de espécies; a partir desse centro de
diversidade é que surgiram as culturas mais importantes de Allium, atualmente
utilizadas comercialmente. As plantas de Allium são tipicamente de lugares secos e
ensolarados e de climas razoavelmente áridos. Várias espécies são encontradas em
estepes, lugares rochosos ou em locais com verões quentes, de vegetação rasteira.
Contudo, algumas espécies, como A. ursinum, se adaptaram e são encontradas em matas
úmidas e sombrias. As plantas de Allium não são competitivas, por isso não se
desenvolvem bem em regiões com vegetação densa.
O gênero Allium é de grande importância econômica, porque inclui muitas
hortaliças (plantas condimentares) e ornamentais. Exemplos de outras espécies
cultivadas do gênero Allium:
Allium sativum: alho
Allium ampeloprasum var. porrum: alho-porró (não é conhecido no estado
silvestre e provavelmente evoluiu a partir de A. ampeloprasum silvestre,
encontrado na região do Mediterrâneo, nas ilhas dos Açores, Canárias, Cabo
Verde e Madeira, e também no centro e no norte da Europa, incluindo o Reino
Unido. O alho-porró era utilizado pelas antigas civilizações do Crescente Fértil
(Turquia, Irã, Iraque, Israel, Síria e Líbano). Foram encontradas referências ao
uso dessa espécie como alimento em 3200 a.C., durante a Primeira Dinastia
egípcia. Na Idade Média foi cultivado na Europa, quando muitas variedades
foram selecionadas. Apresenta folhas achatadas, pontiagudas e dobradas
longitudinalmente e suas longas bases envolvem umas às outras para formar um
pseudocaule alongado e cilíndrico. Suas partes inferiores são mantidas
esbranquiçadas por meio da cobertura com solo ou outros materiais para
incrementar a qualidade. Essas partes esbranquiçadas são consumidas em sopas,
tortas, quiches e cozidos. As plantas são cultivadas a partir de sementes. O alho-
porró vem sendo cultivado principalmente na Europa e na América do Norte)
(Filgueira (2008): domesticamente, é menos utilizado que as demais espécies
aliáceas, porém cresce a demanda das agroindústrias produtoras de sopas
desidratadas. As cultivares utilizadas no Brasil são todas importadas, como a
francesa Monstrueux de Carentan. A planta lembra o alho, porém é mais
vigorosa, com folhas mais largas e alongadas, de coloração verde-escura.
Caracteriza-se pelo pseudocaule alongado, que pode ser estiolado, tornando-se
branco. A base da planta apresenta um bulbo simples. A planta é típica de clima
frio, sendo menos tolerante ao calor que outras aliáceas. Esta é uma cultura
invernal típica, exigindo frio ao longo do ciclo. Em regiões altas, com inverno
frio, semeia-se de fevereiro a julho. Em regiões baixas, mais quentes, pode-se
tentar a semeadura em abril-maio. A cultura produz melhor em solo de textura
média, solto e leve. É pouco tolerante à acidez, produzindo melhor na faixa de
pH 6,0 a 6,8, geralmente exigindo calagem. A adubação orgânica, especialmente
com esterco aviário, é benéfica, quando incorporada aos canteiros semanas antes
do transplante. Em solos de fertilidade mediana ou baixa sugere-se a aplicação
de adubos no sulco de transplante contendo os seguintes teores de
macronutrientes por hectare: 40 kg N, 250-350 kg P2O5 e 120-150 kg K2O. A
adubação de plantio pode ser enriquecida com 1 kg ha-1 na forma de bórax.
Pode-se complementar com 120 kg N e 60 kg K2O, parcelando-se em três vezes,
aplicando-se coberturas aos 15, 35 e 50 dias após o transplante. Deve-se
observar o vigor vegetativo da cultura para se decidir sobre a necessidade de tais
aplicações. Para propagação efetua-se a semeadura em sementeira e
transplantam-se as mudas ao atingirem cerce de 12 cm de altura, geralmente aos
45-50 dias. Os sulcos são abertos com 10 cm de profundidade no terreno
preparado e o transplante feito no espaçamento de 40 x 20 cm. São efetuadas
duas a três amontoas, aterrando-se as plantas para provocar o estiolamento do
pseudocaule comestível – exigência apenas quando o produto se destina à mesa.
Para fornecimento às agroindústrias, a amontoa não é utilizada. As irrigações
devem ser abundantes, a fim de promoverem um ótimo crescimento vegetativo.
O ciclo da semeadura à colheita ocorre em torno de 100 dias. Arrancam-se as
plantas e efetua-se a lavagem e o corte das raízes rente ao bulbo. Em alguns
mercados cortam-se as folhas na metade do comprimento; em outros, mantêm-se
as plantas inteiras. Se o produto se destina à mesa, as plantas são atadas em
maços. Se o destino é a agroindústria, as plantas são colhidas inteiras, devendo
ser rapidamente transportadas).
Allium ampeloprasum:
- Alho-elefante (alho de cabeça grande) – hortaliça na Ásia Menor, no Irã, na
Caucásia e esporadicamente na Califórnia (Estados Unidos), e em outras regiões
da América e da Europa. Muitas vezes, as plantas se confundem com o alho, do
qual diferem na inflorescência (semelhante à do alho-porró) e nos bulbilhos, de
tamanho maior;
- kurrat – hortaliça que se assemelha ao alho-porró, mas com um pseudocaule
pequeno, não pronunciado. É cultivada principalmente no Egito. Essa hortaliça é
cultivada para aproveitamento de suas folhas verdes, que são colhidas a cada 3
ou 4 semanas, por um período de até 18 meses. A planta é fértil, se intercruza
livremente com alho-porró e produz híbridos também férteis.
Allium fistulosum: cebolinha-verde, cebolinha japonesa, cebolinha de todo-ano
ou cebolinha (Foi domesticada provavelmente no noroeste da China, sendo que
há relatos sobre essa espécie em escritos chineses do ano 100 a.C. Na literatura
japonesa ela é citada pela primeira vez no ano 720 da nossa era. A maior
variabilidade morfológica pode ser encontrada na China, na Coréia e no Japão.
Não é conhecida a forma silvestre de A. fistulosum, mas A. altaicum, um parente
silvestre, tem ampla dispersão nas montanhas da Mongólia e no sul da Sibéria.
Essa espécie foi introduzida na Europa, vinda da Ásia Central, no final da Idade
Média. Atualmente, é cultivada nas Américas, na Europa temperada e no leste da
Ásia. A cebolinha-verde é um condimento muito apreciado e cultivado em hortas
brasileiras. A planta, considerada perene, apresenta folhas cilíndricas e fistulosas
(ocas) com 30 a 50 cm de altura. Possui um pequeno bulbo cônico envolvido por
uma película rósea, com perfilhamento e formação de touceira. As folhas verdes
podem ser incluídas em saladas ou usadas para aromatizar sopas e outros pratos.
Sua pungência não é forte e as folhas contém cerca de 2% de proteína,
pouquíssima gordura, cerca de 5% de carboidratos digeríveis, caroteno,
complexo da vitamina B e cerca de 33 mg de vitamina C por 100 g).
Allium schoenoprasum: cebolinha-de-maço ou cebolinha-verde francesa (Como
planta nativa silvestre, ocorre naturalmente na maior parte do Hemisfério Norte,
sendo a espécie do gênero Allium com mais ampla distribuição geográfica. Essa
espécie é extremamente polimórfica e está sendo explorada pelo melhoramento
genético, tanto como hortaliça quanto como ornamental. Provavelmente o
cultivo teve início na Itália, de onde foi disseminado para o centro e o oeste da
Europa, no início da Idade Média. É cultivada em todo o mundo, nas áreas
temperadas. A planta mede de 15 a 40 cm de altura, apresenta bulbos pequenos e
esbranquiçados, com 1 a 3 cm de largura e folhas estreitas tubulares. As flores
são roxo-pálidas ou cor-de-rosa. As partes utilizadas são as folhas, para temperar
carnes e frutos do mar, sopas, omeletes e molhos. As folhas contêm quantidades
razoáveis de caroteno e 45 mg de vitamina C por 100 g. As plantas são prenes,
com folhas cilíndricas e fistulosas de coloração verde escura. Podem ser
propagadas vegetativamente ou por sementes).
Filgueira (2008): as duas espécies de cebolinha são cultivadas por pequenos
olericultores. A cultivar mais tradicional é Todo Ano, européia, que apresenta
folhas de coloração verde-clara. Também tem sido introduzidas cultivares
japonesas - tipo ‘Nebuka’ ou ‘Evergreen’ -, como Natsu Hosonegui, de
coloração verde-intensa. As plantas assemelham-se à cebola, porém se
caracterizam pelo intenso perfilhamento, formando uma touceira. As folhas são
tubulares-alongadas, macias e aromáticas, de alto valor condimentar. Não se
observa um bulbo diferenciado, podendo surgir uma pequena estrutura cônica.
Esta cultura se adapta a uma ampla faixa de temperaturas amenas ou frias,
podendo ser cultivada ao longo do ano em regiões altas. Em regiões baixas,
cultiva-se no outono-inverno. A cultura adapta-se a vários tipos de solo,
produzindo melhor em pH 6,0 a 6,5. A adubação orgânica, especialmente com
esterco aviário, é benéfica, devendo ser incorporada aos canteiros semanas antes
do transplante. Em solos de fertilidade mediana ou baixa sugere-se a aplicação
de adubos no sulco de transplante contendo os seguintes teores de
macronutrientes por hectare: 30 kg N, 200-300 kg P2O5 e 100-120 kg K2O. Pode-
se complementar com 100 kg N em cobertura, parcelando-se três vezes, a cada
15 dias após o transplante, se necessário. Propaga-se a planta por meio de
semeadura em sementeira e do transplante da muda para o canteiro definitivo.
Também pode ser propagada pela divisão da touceira e pelo plantio das partes
vegetativas. Entretanto, quando surgem doenças, em razão do acúmulo de
fitopatógenos, volta-se a utilizar a semente. Plantam-se as mudas em sulcos
longitudinais, abertos nos canteiros, no espaçamento de 25 x 15 cm. Os tratos
culturais se resumem em regas intensivas e capinas. As colheitas iniciam-se
quando a planta atinge 35 cm, cortando-se as folhas. Na propagação vegetativa
colhe-se aos 55 dias do plantio e na propagação por sementes aos 85 dias da
semeadura. Devido ao rebrotamento efetuam-se diversas colheitas. Conforme as
exigências do mercado também pode-se arrancar a planta de uma só vez,
obtendo-se um produto melhor. Comercializam-se plantas inteiras, com raízes
aparadas, amarradas em maços maiores. Outra forma de comercialização no
varejo são os maços menores, sendo comum a associação cebolinha-salsa.
Allium chinense: “rakkyo” (É cultivado na China, na Coréia, no Vietnã, na
Indonésia e em outros países do sudeste da Ásia. Foi introduzido na Japão, a
partir da China, provavelmente no primeiro milênio d.C. Nas Américas, foi
introduzido pelos imigrantes asiáticos, a partir da segunda metade do sec. XIX.
A forma silvestre é encontrada nas regiões montanhosas da China. As formas
cultivadas são propagadas por divisão do bulbo, uma vez que as flores não
produzem sementes. O rakkyo produz pequenos bulbos comestíveis, usados
principalmente em conservas. As folhas são também utilizadas como
condimento. As plantas apresentam crescimento semelhante à cebolinha verde
francesa. As folhas atingem de 30 a 60 cm de comprimento. Os bulbos, de
formato oval, são verde esbranquiçados ou roxos, envoltos por uma fina pele
transparente.
Allium tuberosum: “nirá”
Allium cepa var. ascalonicum: chalota (Os primeiros registros do cultivo de
chalota datam do sec. XII, na França, mas alguns autores afirmam que essa
espécie foi usada pelos antigos gregos e romanos. Atualmente, é cultivada em
muitos países. A chalota produz pequenos bulbos agregados, ovóides e estreitos,
geralmente cobertos por uma casca vermelho-amarronzada. Geralmente as
folhas e flores são menores do que as da cebola. Embora algumas cultivares
produzam sementes, a principal forma de propagação é vegetativa, feita pela
divisão do agregado de bulbos e replantio dos bulbos individuais. Consumida
crua ou cozida, é também muito usada em conservas. A composição nutricional
do bulbo é semelhante à da cebola).
Algumas espécies de Allium são também cultivadas para uso ornamental, como
A. gigantheum, A. aflatunense e A. caesium, valorizadas pelas grandes umbelas e flores
coloridas. Essas espécies tem se tornado populares para uso em jardins rochosos, em
maciços e em bordaduras perenes. Algumas também são utilizadas como flores de corte.
Até a metade do sec. XIX, somente um pequeno número de espécies de Allium
era cultivada como ornamental. A situação mudou a partir de 1870, quando muitas
espécies foram trazidas do centro e do sudoeste da Ásia para jardins botânicos da Rússia
e da Europa, promovendo sua utilização. Atualmente, a Holanda é o maior produtor
comercial de bulbos de diferentes espécies de Allium ornamental. Algumas espécies são
produzidas comercialmente em Israel, na França, na Latvia (antiga Letônia) e no Japão.
Atualmente, muitas populações de espécies cultivadas e selvagens de Allium
ocupam áreas limitadas, mas mesmo assim mantêm altos níveis de diversidade genética.
Cada vez mais, elas devem ser estudadas, monitoradas e utilizadas em programas de
melhoramento genético avançados. Esforços devem ser somados na busca de genes para
resistência a doenças e pragas, de novas tecnologias para conservação genética ex situ e
in situ e da melhoria de características qualitativas dos alimentos, tais como
propriedades nutracêuticas e sabor.
Os crescentes processos de urbanização, o uso intensivo das terras e de
cultivares híbridas pelos agricultores constituem-se potencialmente em fontes de erosão
genética de landraces e cultivares antigas de Allium, de um gênero cujo cultivo data de
mais de 5000 anos.
Os estudos da distribuição geográfica, da história e da ecologia de espécies de
Allium auxiliam na formulação de estratégias de conservação e na previsão de usos
futuros de seu germoplasma. É fundamental que esses recursos genéticos, provenientes
da Ásia Central, continuem sendo coletados, preservados e explorados para o benefício
de seus habitantes e de toda a humanidade.
A variabilidade da espécie Allium cepa L. tem resultado em diferentes propostas
de agrupamento intraespecíficos, podendo ser colocadas em três grupos:
1) Grupo Typsicum (Regel): grupo das cebolas comuns, bulbos simples, grandes,
inflorescência tipicamente sem bulbinhos, plantas quase sempre originadas de
sementes verdadeiras, bienais. Neste grupo estão todas as cebolas
comercialmente importantes.
2) Grupo Aggregatum (G. Don) (Allium cepa var. aggregatum): grupo das cebolas
com bulbos compostos, inflorescência tipicamente sem bulbinhos, podendo
produzir sementes ou ser estéril, anuais. Multiplicação quase que
exclusivamente vegetativa. Este grupo é caracterizado por bulbos que se
multiplicam livremente e são comumente usados para propagação. Possui três
formas distintas:
- Cebola múltipla ou batata (potato onin): os bulbos são agregados, de coloração
externa marrom e lateralmente numerosos. Esses bulbos laterais formam uma nova
planta e no segundo ano produzem bulbos que variam de 2 a 20. Raramente florescem e
as sementes são esparsas e de baixa germinação.
- Cebola sempre-pronta (Every-Ready onions): na Inglaterra servem para suprir
a falta de bulbos comerciais. Este tipo de cebola parece com o tipo comum, no entanto é
perene e possui poucos bulbos e folhas, a haste floral é curta e a umbela menor.
Raramente florescem e são propagadas por divisão, nunca por sementes. Um bulbo
produz de 10 a 12 bulbos.
- Chalota (Shallot): alguns autores a consideram pertencentes à espécie A.
ascolonicum, no entanto são formas de A. cepa. Usualmente são de pequena altura, mas
as flores e inflorescências são tipicamente de cebola comum.
3) Grupo Proliferum (Allium cepa var. proliferum): grupo das cebolas com
bulbos, as vezes deficientemente desenvolvidos. Inflorescência carregada de bulbinhos
usualmente sem sementes verdadeiras, reproduzidos vegetativamente pelos bulbinhos
da inflorescência.
Centro de Origem e Diversidade
Espécies pertencentes ao gênero Allium são encontradas em uma ampla gama de
latitudes e altitudes, incluindo o Círculo Polar Ártico, Continente Europeu, Ásia,
América do Norte e África. Até o presente, em contraste com a maioria das plantas
cultivadas, persistem dúvidas quanto ao exato centro de origem da cebola. O fato é que
esta espécie pode ser classificada como uma típica “cultigen”, isto é, não existem relatos
da ocorrência de populações de A. cepa em condições naturais ou fora da esfera da
domesticação humana.
A maioria dos botânicos, todavia, concorda com Vavilov, que apontou a Ásia
Central como o seu provável centro de origem ou primário, devido a grande diversidade
de invasores do gênero Allium encontrados nessa área. De outro lado, o Oriente
Próximo e as regiões do Mediterrâneo são consideradas prováveis centros de
domesticação ou centros secundários de origem. A cebola é originária das regiões de
clima temperado que compreendem o Afeganistão, o Irã e partes do sul da antiga União
Soviética. De fato, diversas características morfológicas e fisiológicas da cebola dão
suporte a hipótese de que esta hortaliça tenha originado nas regiões áridas da Ásia
Central, de solos pobres e rasos e submetidos a constante estresse hídrico.
Entre as adaptações a estas condições extremas encontram-se a própria formação
de bulbos, que são bainhas foliares modificadas, recobertas por películas membranosas
(catáfilos) que servem como órgãos de reserva, sendo estes bulbos capazes de rebrotar
após períodos prolongados de estresse hídrico severo. Outras características associadas
com adaptação a regiões áridas são: 1) presença de níveis variáveis de cerosidade foliar,
que reduz a transpiração; 2) elevado potencial de água requerido para induzir o
fechamento dos estômatos; 3) baixa densidade radicular, que permite melhor exploração
de solos rasos e melhor equilíbrio hídrico com a parte aérea; 4) notável capacidade de
tolerar transplantio, mesmo quando praticamente todo o sistema radicular é removido;
5) presença de folhas de formato cilíndrico, que é o mais efetivo para dissipação de
calor da folha para o ar; 6) presença de folhas estreitas e com orientação quase vertical,
que evita a incidência direta dos raios solares em uma grande superfície foliar,
especialmente nas horas mais quentes do dia e 7) níveis de transpiração e fotossíntese
reduzidos em condições de altos potenciais de solo-água, que resulta em um limitado
crescimento, permitindo a planta sobreviver por períodos mais longos de seca. Muitas
dessas características apresentam consequências práticas em diversos aspectos
fitotécnicos da cultura, incluindo estratégias de nutrição e adubação, manejo de plantas
daninhas e irrigação.
Centro Asiático Central: compreende um território relativamente pequeno ao
Noroeste da Índia (Punjab, Cachemira), todo o Afeganistão, as Repúblicas Soviéticas e
Tadjiquistão e Uzbequistão e a parte ocidental de Tian-chan.
Centro do Oriente Próximo: ocupa área abrangendo o interior da Ásia Menor,
toda a Transcaucásia, Irã e as terras altas de Turkimenistão
Centro Mediterrâneo: compreende os países em torno do Mar Mediterrâneo.
A cebola é uma das espécies de hortaliças mais antiga e tem sido cultivada por
mais de 5.000 anos, sendo mencionada tanto na Bíblia quanto no Corão Islâmico. O
registro mais antigo sobre seu cultivo data de cerca de 3200 a.C. Provavelmente não
existe mais em estado selvagem. As espécies mais próximas são A. galanthum e A.
vavilovii, as quais ainda podem ser encontradas em estado selvagem em áreas da antiga
União Soviética e no Afeganistão. A exceção de A. dregeanum, que é originária do
Hemisfério Sul, todas as demais espécies do gênero Allium conhecidas ocorrem nas
altas latitudes do Hemisfério Norte. Os europeus trouxeram a cebola para as Américas
logo no início do “descobrimento” e no século XIX a introduziram no leste da Ásia.
A cebola é uma das plantas cultivadas de mais ampla difusão no mundo, sendo a
segunda hortaliça em importância econômica, com valor da produção estimado em
cerca de US$ 6 bilhões anuais. A produção mundial apresentou aumento de cerca de
25% na última década, o que coloca a cebola como uma das três hortaliças mais
importantes, ao lado do tomate e batata. O valor social da cultura da cebola é
inestimável, sendo consumida por quase todos os povos do planeta, independente da
origem étnica e cultural, constituindo-se em um importante elemento de ocupação de
mão-de-obra familiar. É uma planta extremamente versátil em termos alimentares e
culinários, sendo utilizada para consumo na forma de saladas, condimento ou
processada. Devido suas características de boa conservação pós-colheita, o que permite
o transporte dos bulbos a longa distância, a cebola foi historicamente uma das hortaliças
com maior trânsito global, estando envolvida em transações comerciais entre países de
todos os continentes. A cebola figura entre as primeiras plantas cultivadas introduzidas
na América a partir da Europa, levada inicialmente por Cristóvão Colombo para o
Caribe.
No Brasil, a cultura da cebola teve início no século XVIII, no Rio Grande do Sul
(municípios de Mostardas, Rio Grande e São José do Norte), introduzida pelos
açorianos. Em Santa Catarina o cultivo começou na região de Florianópolis e, nos anos
30, foi deslocado para a região das nascentes do Rio Itajaí do Sul. Logo em seguida foi
introduzido na Região Sudeste, no interior de São Paulo. No Nordeste brasileiro, a
cebola foi introduzida no final da década de 1940 na região de Cabrobó e Belém do São
Francisco, sendo predominantemente produzida no Vale do São Francisco, onde o
cultivo é realizado durante o ano todo. Seleções locais como Roxa do Barreiro e
Roxinha de Belém, esta última A. cepa var. aggregatum, já eram cultivadas na região.
A partir de acessos de cebola introduzidos da Europa, foram selecionadas duas
populações principais: Baia Periforme no Rio Grande do Sul e Crioula em Santa
Catarina. As principais populações de cebola cultivadas no sul dos Estados Unidos são
do tipo “Grano”, resultado de seleções em populações originárias da região de Valencia,
na Espanha.
As cultivares desenvolvidas pela Empresa Pernambucana de Pesquisa
Agropecuária (IPA) ocupam quase 90% do total da área cultivada com cebola na região
do Vale do São Francisco. Cultivares importadas do tipo “Grano” e híbridos tipo
“Granex” são tradicionalmente cultivados no Nordeste e no Sudeste do Brasil, sendo
que no Nordeste dominaram o mercado até por volta de 1995. No Sul do Brasil
predominam as cultivares dos tipos ‘Baia Periforme’ e ‘Crioula’.
Populações cultivadas ou não cultivadas e disponíveis em coleções de
germoplasma brasileiras apresentam ampla variabilidade fenotípica quanto ao formato,
firmeza, tamanho, cor e qualidades organolépticas dos bulbos, resistência a doenças,
entre outras características. Entretanto, para obtenção de híbridos F1 no Brasil existem
limitações, tais como o germoplasma nacional ser basicamente de Baia Periforme.
Híbrido Baia x Baia não tem apresentado grandes vantagens sobre o material de
polinização aberta. Adicionalmente, há poucos profissionais trabalhando com
melhoramento genético de cebola e pouco germoplasma.
Importância Econômica
Dentre as várias espécies cultivadas pertencentes ao gênero Allium, a cebola é a
mais importante sob o ponto de vista de volume de consumo e valor econômico, tendo
sua cultura espalhada no mundo inteiro.
De acordo com a FAO (2009), a produção mundial de cebola em 2007 foi de
64,47 milhões de toneladas cultivadas em 3,45 milhões de hectares, com produtividade
de 18,68 t ha-1. Dentre os maiores produtores mundiais destacaram-se a China e a Índia,
que em conjunto responderam por aproximadamente 44,56% do total mundial. O Brasil
posicionou-se em 8º lugar entre os maiores produtores, participando com apenas 2% da
produção mundial. A China apresenta sua elevada produção sustentada mais pela grande
área plantada do que pela produtividade, que foi apenas 10,14% acima da produtividade
média mundial. Em termos de produtividade média sobressai a Coréia (57 t ha-1),
seguido dos EUA (55,9 t ha-1) e Espanha (52,8 t ha-1). A produtividade brasileira supera
a produtividade média mundial em 11,53%. Entre as causas da baixa produtividade no
Brasil destaca-se o estresse ambiental, incidência de doenças e utilização de cultivares
não adaptadas aos sistemas de cultivo. O mercado mundial de cebola mostrou-se
expressivamente dinâmico, visto que comparando aos anos de 2000 e 2006 constatou-se
incremento da produção em 29,5%, das importações em 59,17% e das exportações em
62,45%. O consumo aparente de cebola, mundialmente, aumentou em 29,30%, o que
significa que a população passou a consumir maior quantidade de cebola. Os nove
maiores exportadores de cebola em 2006 foram Índia, Holanda, China, EUA, Argentina,
Espanha, Egito, Polônia e Irã, os quais responderam por 75% de toda a exportação
mundial. A China tem o Japão como seu principal comprador, com quase 50% das
exportações chinesas. A Índia abastece mais de 25 países de forma regular, sendo os
principais clientes Bangladesh, Malásia, Sirilanka e Emirados Árabes, com
aproximadamente 90% das exportações indianas. A sazonalidade da cebola americana
ocorre nos meses de outubro e novembro. O Egito vem destinando suas exportações
principalmente à Arábia Saudita e Kuwait. O México apresenta um consumo interno de
10,35 kg per capita ano e ainda exporta 90% de sua produção para os EUA. A Espanha
é o segundo exportador europeu e a produção ocorre em todo o país.
No âmbito das importações, os países que apresentaram maior demanda externa
foram Rússia, Bangladesh, Malásia e Japão.
No Brasil, ao lado da batata e tomate, destaca-se como a terceira hortaliça
economicamente mais importante (Souza et al., 2008), principalmente pela quantidade
de emprego e renda gerada em todo o segmento de sua cadeia produtiva (Costa et al.,
2005). A importância dessa hortaliça está ligada principalmente ao seu aspecto social,
devido ao envolvimento de um grande número de famílias e por ser típica de pequenas
propriedades. No país, mais de 60.500 famílias se dedicam a essa atividade, com uma
área média de 0,65 ha. Entretanto, nos últimos anos, nota-se o crescimento do segmento
empresarial na exploração da cultura da cebola, com dinâmicos pólos de produção
altamente tecnificados, elevados índices de produtividade e destacável qualidade de
bulbos.
No Brasil, o consumo aparente de cebola fresca em 2008 foi estimado em 1,047
milhões de toneladas (87.250 t mês-1). Entretanto, de acordo com as estimativas da
ANACE (2009), o consumo mensal de cebola no Brasil situa-se entre 85 a 90 mil
toneladas por mês. Considerando os dois limites do consumo estimado pela ANACE, a
média calculada é de 87.250 toneladas mês-1, portanto, é bastante precisa a estimativa do
agronegócio que levemente excede ao consumo aparente estimado em apenas 0,25%.
Entretanto, a produção nacional, que deveria ser da ordem de 88 mil toneladas mês -1
para atender ao consumo, intercala períodos de escassez de produção nos meses de
março, abril, maio, outubro e novembro e excesso de produção nos meses de janeiro,
fevereiro, junho, julho, agosto e setembro. Essas oscilações complicam o mercado
causando instabilidade de preços. Analisando a oferta de mercado dos estados em
relação ao consumo aparente verifica-se que superou a média do consumo aparente
calculado a produção do Rio Grande do Sul, que entra no mercado no mês de novembro
e finaliza em junho, a de Santa Catarina, de outubro a maio, a do Paraná, de outubro a
maio, e as de São Paulo, Pernambuco e Bahia durante o ano inteiro. No ano de 2008 o
Brasil teve sua oferta escalonada em 1,061 milhões de toneladas, que superou a
demanda estimada (consumo aparente) em 1,36%. Observa-se que, embora sem o
planejamento consistente, ou seja, períodos intercalados por excesso e escassez de
oferta, a safra nacional se estende por todos os meses do ano, o que indica a
possibilidade de abastecimento do mercado pela produção nacional.
A safra de Goiás, que entra no período da entressafra, poderia dar boa
contribuição para a auto-suficiência do abastecimento pela produção nacional, uma vez
que no município de Cristalina a cebola vem sendo exclusivamente explorada por
grupos empresariais em lavouras altamente tecnificadas, alcançando produtividade
média de mais de 70 t ha-1. De acordo com Boeing (2002), o custo do frete da cebola
argentina até o Brasil é igual ao custo de produção da cebola brasileira. Portanto, cabe
aos produtores brasileiros competir com a cebola argentina nos parâmetros de qualidade
superior. Somente no CEAGESP, em 2008, foi movimentado 64,943 mil toneladas de
cebola, proveniente da Argentina (24,48%), Santa Catarina (28,85%), São Paulo
(39,0%) e .....
No Brasil, é flutuante o mercado de cebola, o qual em determinados períodos
apresenta fortes desequilíbrios entre oferta e demanda. Apesar da transparente
instabilidade do mercado brasileiro de cebola, existem oportunidades para os produtores
de cebola tanto no Brasil como no mercado global, desde que invistam na qualidade do
produto e em embalagens adequadas e atrativas ao mercado internacional. Além disso, a
busca de novos nichos de mercado, como o do cebola doce para sanduíches e saladas,
que tem a preferência dos consumidores norte-americanos e europeus, é uma boa opção.
Já as cebolas altamente picantes são as preferidas pelo mercado asiático.
A globalização da economia mundial e a formação do Mercosul interferiram
significativamente no mercado de hortaliças no Brasil, sobretudo com relação à cultura
da cebola. Em razão de não existir uma política comercial restritiva entre os países do
MERCOSUL, as entradas livres e intempestivas, em detrimento das atividades
produtivas do Brasil transferem-se para uma preocupação social mais ampla. As
tendências das produções na Argentina e no Brasil evidenciam um mercado competitivo
do qual continuarão participando aqueles países que tiverem maiores vantagens
comparativas e fizerem reconversão nos setores produtivos. Somente continuará no
mercado o produtor que se tecnificar, obter produto de qualidade e se adaptar às
mudanças de mercado.
A cebolicultura nacional é uma atividade praticada principalmente por pequenos
produtores e sua importância sócio-econômica fundamenta-se não apenas em demandar
grande quantidade de mão-de-obra, contribuindo na viabilização de pequenas
propriedades, mas também em fixar os pequenos produtores na zona rural, reduzindo a
migração para as grandes cidades. No aspecto de geração de emprego e renda, estima-se
que a cadeia produtiva gere mais de 250 mil empregos diretos só no setor da produção.
A cultura de caráter tipicamente familiar (88%) é responsável pela sobrevivência
no campo de um grande número de pequenos produtores, que tem a cebola como única
fonte de renda. Uma das características marcantes do setor produtivo é que mesmo nas
médias e grandes propriedades o sistema de produção é em parceria, ou seja, o
empresário fornece a terra, capital, máquinas e insumos, enquanto as famílias parceiras
entram com mão-de-obra para o cultivo, tratos culturais e colheita. A maior parte (65%)
dos produtores de cebola está concentrada nos extratos de área menores que 20 ha e são
responsáveis por 51,7% da produção nacional.
No Brasil, a produção de cebola concentrava-se em três áreas bem definidas:
Latitude % produção anual
Sul (SC, RS e PR) 25 - 33° 47,7
Sudeste (SP) 21 - 22° 35,3
Nordeste (PE e BA) 9° 15,2
Outros Estados 1,4
Nesses Estados, ainda tradicionalmente se concentra em alguns municípios:
RS: Rio Grande, São José do Norte
SC: região micro-colonial do Alto Itajaí (Ituporanga, Petrolândia, Aurora)
SP: regiões de Piedade, São José do Rio Pardo, Monte Alto
PE: Belém de São Francisco, Cabrobó
BA: Casa Nova, Xique-Xique
Descrição da Planta
A cebola é diplóide, com número básico de cromossomos de 2n = 16, sendo uma
das espécies mais polimórficas, exibindo diferenças quanto ao formato, tamanho,
coloração e conteúdo de matéria seca dos bulbos, reação ao fotoperiodismo e outros
caracteres da planta.
A planta é tenra, atinge 60 cm de altura e apresenta folhas tubulares, cerosas ou
não, as quais apresentam disposição alternada, formando duas fileiras ao longo do caule.
As bainhas foliares, as quais as folhas se inserem, projetam-se acima da superfície do
solo e formam uma estrutura firme, comumente chamada de caule, mas que na realidade
é um pseudocaule, cuja parte inferior é um bulbo. (As folhas não apresentam pecíolo,
apenas bainha e limbo. As folhas jovens crescem de modo que a bainha envolve
completamente o ponto de crescimento e forma um tubo que encapsula os primórdios
foliares e o meristema apical. Parte dessa bainha permanece sobre o solo e a outra
porção, dilatada, permanece subterrânea. Em seção transversal o formato das folhas é
quase circular, apresentando a face adaxial um pouco achatada. A coloração das folhas
pode ser verde, verde-clara, verde-amarelada, verde-acinzentada, verde-escura, verde-
azulada, verde-violácea ou outra, e deve ser computada na caracterização do
germoplasma. A presença de uma cobertura cerosa – que varia de fraca a forte –
contribui para o aspecto da folha, conferindo uma aparência característica. A
intensidade da camada cerosa varia de ausente a muito forte. A camada cerosa espessa,
presente nas folhas das variedades Crioula, cultivadas no Sul do Brasil, confere proteção
ao clima úmido dessa região do País. Na caracterização de germoplasma de cebola o
comprimento e a largura do limbo foliar devem ser registrados em centímetros para a
folha mais longa, em 5 a 10 plantas por acesso. Além dessas medidas, o hábito da
folhagem (prostrada, intermediária ou ereta) e a resistência à quebra de folhagem (fraca,
média ou forte) também devem ser anotados. Para o registro e proteção de novas
cultivares de cebola, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento requer nos
exames de distinguibilidade tanto homogeneidade quanto estabilidade a caracterização
da quantidade de folhas por pseudocaule, da posição da folhagem, da intensidade da
cerosidade, da coloração da folha, da intensidade de dobra das folhas, do diâmetro
máximo da folha, o comprimento do pseudocaule até a base da folha verde mais alta e
do diâmetro do pseudocaule).
O caule verdadeiro, localizado na extremidade inferior do bulbo e abaixo da
superfície do solo, é um disco comprimido, achatado, na base da planta, de onde partem
folhas e raízes. (O caule assume um formato discoidal e está localizado abaixo do nível
do solo, ou seja, é subterrâneo. No centro desse disco encontra-se o meristema apical, a
partir do qual as folhas surgem umas opostas às outras e alternadamente. Apesar do
formato achatado do caule, alguns dos tecidos encontrados num caule típico podem ser
distinguidos. Os vasos do xilema e do floema, oriundos das raízes, apresentam
ramificações na área basal de inserção e formam conexões com vasos procedentes de
outras raízes, originando uma rede de tecido vascular que é distribuída paralelamente à
superfície externa do caule. Imediatamente externa a essa camada vascular repousa uma
endoderme de células simples e recobrindo esta, um córtex pluriestratificado. No centro
do caule existe uma medula destituída de vasos e, no topo, envolvendo o meristema
apical, mas separada dele, há uma região de intensa divisão celular. O que parece um
caule aéreo é um pseudocaule formado pelas bainhas foliares concêntricas e lâminas
foliares jovens, que crescem do interior das bases das folhas antigas).
As raízes são fasciculadas e pouco ramificadas, crescem no sentido
predominantemente vertical, concentrando-se nos primeiros 30 cm de solo. De forma
geral, as raízes raramente alcançam a 25 cm de profundidade, sendo que lateralmente
não superam a 15 cm. (Durante a germinação a raiz primária emerge e transporta os
primeiros nutrientes retirados do solo para a plântula em estabelecimento. Embora a raiz
primária seja crucial para o sucesso da plântula, a formação de raízes adventícias –
raízes que tem origem num meristema diferente do meristema radicular primário –
inicia, e em poucas semanas, a raiz principal é perdida. A partir daí, todo o sistema
radicular da cebola passa a ter origem em meristemas oriundos do caule (adventícios),
uma das principais características da monocotiledôneas. As raízes adventícias são
formadas ao redor do caule, próximas às bases das folhas jovens, crescendo
horizontalmente até atingirem as camadas externas discoidal, de onde emergem e
passam a crescer para baixo. Com o crescimento, o disco caulinar se expande e as bases
das folhas mais velhas são empurradas, progressivamente, para longe do meristema
apical, enquanto novas raízes adventícias continuam a emergir próximo ao ápice).
A parte da cebola comercializada e utilizada na alimentação é um bulbo
tunicado, compacto, originado pela superposição de bainhas foliares carnosas. Aquela
bainha mais externa constitui uma película seca, denominada túnica, brilhante e com
coloração típica da cultivar. (O que parece um caule aéreo é um pseudocaule formado
pelas bainhas foliares concêntricas e lâminas foliares jovens, que crescem do interior
das bases das folhas antigas. A porção subterrânea e túrgida dessas bases muitas vezes é
confundida com uma raiz e, junto com o caule, constitui uma estrutura de reserva
denominado bulbo. O bulbo é uma estrutura de origem mista, onde um sistema caulinar
subterrâneo apresenta seu eixo extremamente reduzido, recebendo o nome de prato, e
tem suas gemas e primórdios foliares protegidos por bases foliares ou folhas
subterrâneas modificadas, que possuem substâncias de reserva. A porção do bulbo de
cebola utilizada na alimentação são as bainhas foliares. As bainhas foliares das folhas
velhas formam as escamas ou casca do bulbo e se distanciam do ápice pela expansão
lateral do caule. Os estágios iniciais de formação dos bulbos envolvem o espessamento
das bainhas foliares, sendo precedidos por alongamento repentino. O espessamento
ocorre como resultado da expansão lateral das células na terceira camada celular mais
baixa das bainhas e não envolve divisão celular. Durante o crescimento do bulbo, o
desenvolvimento de folhas com limbo pára e passam a ser formadas apenas bases
foliares e sem limbo, dentro das bases das folhas mais antigas. À medida que o bulbo
aproxima-se do ponto de colheita, as bases foliares mais externas formam uma pele ou
casca protetora fina e seca. Na maturidade, um bulbo de cebola tem duas peles secas
encapsulando quatro bainhas dilatadas, originadas de folhas com lâminas. Estas, por sua
vez, encobrem três ou quatro folhas sem lâminas e, finalmente, no centro, existem
outros cinco primórdios foliares com limbo. Ao lado do meristema apical podem formar
um ou mais brotos laterais chamados de pontos vegetativos, centros ou corações da
cebola. A frequência de diferenciação do meristema apical varia com a cultivar e as
condições de crescimento, sendo mais comum sob temperatura e níveis de luminosidade
elevados. Ao término de um ano, o número de pontos vegetativos apresentado por um
bulbo é um descritor utilizado na caracterização de germoplasma de cebola e, embora
muitas vezes seja uma característica que passe despercebida pelo consumidor final, a
presença de mais de um coração por bulbo é um caráter indesejável, com certo grau de
rejeição. A formação de mais de um centro no bulbo está relacionada à reprodução
vegetativa que pode ocorrer em plantas de cebola, uma vez que após a formação de
centros múltiplos, estes podem separar-se e originar indivíduos independentes, com a
decomposição da bainha que os envolve. Autores gregos e romanos da antiguidade
descreveram diversas variedades de cebola com formatos arredondados ou alongados,
de sabor suave ou pungente, e de cores variadas, como branco, amarelo ou vermelho,
sendo essa grande variabilidade existente para as características de bulbo um indicativo
de seleção intensa. A variabilidade apresentada para os diversos caracteres de bulbo e
sua caracterização por uso de descritores são importantes, pois o bulbo é o principal
objetivo da produção de cebola. A caracterização deve ser feita em bulbos, em ponto de
colheita ou maduros – após o estalo. O bulbo possui conformação variável e assume
diversos formatos, como pião achatado, achatado-globular, romboidal, oval-alongado,
globular, elíptico-alongado, oval-alargado, fusiforme ou outro. Existe segregação para
formato do bulbo e a uniformidade para esse caráter pode varia dentro da população ou
entre populações. No desenvolvimento de uma nova cultivar, é buscado uniformidade
de formato para os bulbos. Num bulbo em ponto de colheita, a espessura da casca varia
de fina até grossa e é determinada pela quantidade de escamas retidas. A conservação
pós-colheita dos bulbos está relacionada com o número de escamas retidas, entre outros
caracteres. A coloração da casca pode assumir as tonalidades branca, amarela e marrom
clara no mesmo bulbo, marrom-clara, marrom, marrom-escura, verde, lilás, roxa ou
outra e varia de acordo com os compostos sintetizados pela planta e ali depositados. As
camadas internas à casca, formadas por bainhas foliares túrgidas e primórdios foliares
constituem a polpa da cebola, a qual pode ser branca, creme, verde e branca, roxa e
branca ou de outra coloração diferente).
O florescimento em cebola é condicionado, primariamente, por temperaturas
baixas. É importante ressaltar que durante a fase juvenil as cebolas não podem ser
induzidas ao florescimento sem antes atingir peso e número de folhas suficiente.
Quando essas características são atingidas inicia a termofase. Nela, por meio de baixas
temperaturas, as cebolas são induzidas à formação das inflorescências. Na fase
competitiva esses primórdios de inflorescências podem regredir, degenerando em
condições que favoreçam o desenvolvimento do bulbo, devido à aparente competição
entre o desenvolvimento da inflorescência e do bulbo. As inflorescências são
particularmente vulneráveis antes de serem expostas fora do bulbo ou pseudocaule, uma
vez que são visíveis. Quando a planta é induzida a florescer, a gema apical pára de
emitir primórdios foliares e inicia a formação da inflorescência (qualquer sistema de
ramificação terminado em flores é denominado inflorescência), com subsequente
elongação da haste ou escapo floral. Nessa fase, o caule, que permanece como um disco
comprimido durante todo o crescimento vegetativo, alonga somente para formar o
escapo floral. A conclusão da floração é favorecida por temperaturas superiores àquelas
das duas fases anteriores. Na cebola, a inflorescência é uma umbela sustentada por um
escapo floral. O escapo floral é definido como um pedúnculo, geralmente sem folhas,
que pode ser provido de escamas ou brácteas, sendo originário da porção caulinar de um
bulbo ou rizoma, entre outras estruturas. O escapo floral de cebola possui uma bráctea
que envolve todas as flores, denominada espata. Quando a espata abre, as flores que
compõem a umbela são expostas aos polinizadores. A altura das hastes florais, em geral,
varia de 0,5 a 1,5 m. Cada planta poderá emitir de 1 a 20 hastes florais, dependendo do
número de gemas laterais existentes no caule. A haste floral é, inicialmente, uma
estrutura sólida, mas á medida que cresce torna-se oca. No topo da haste floral
desenvolve-se uma inflorescência de forma esférica, em cimeira. Essa estrutura floral é
chamada de umbela, possuindo de 50 a 2000 flores. Esse número varia de acordo com a
cultivar e as condições de crescimento e se a umbela for formada a partir do meristema
apical ou de meristemas laterais. Na verdade, a umbela é constituída por um agregado
de muitas pequenas inflorescências de 5-10 flores (cimeiras), cada uma delas abrindo
em uma sequência definida, causando considerável irregularidade no processo de
abertura das flores. Em geral, há uma amplitude de 25 até mais de 30 dias entre a
abertura da primeira e da última flor de uma mesma umbela. O número de umbelas por
bulbo varia com a cultivar, época de plantio, tamanho do bulbo e condições de
vernalização, porém comumente a planta forma de 3 a 6 umbelas.
Cada flor da cebola é perfeita e contem seis estames (três internos e três
externos), três carpelos unidos com um único pistilo e perianto com seis segmentos,
estando encerrada por brácteas. As pétalas são de coloração branca até verde ou
violácea. O pistilo contém três lóculos, cada um dos quais com dois óvulos, produzindo
no máximo 6 sementes por flor. As flores contém nectários localizados na base dos
estames e o néctar é acumulado entre o ovário e os estames internos. A polinização é
entomófila; o néctar secretado atrai insetos como abelhas, vespas e moscas, entre outros,
que são os principais agentes polinizadores.
As anteras dos três estames internos abrem-se primeiro e, uma após outra,
liberam seu pólen. Depois há a deiscência das anteras dos três estames externos,
também em intervalos irregulares. De acordo com International Plant Genetic
Resources Institute, a coloração das anteras pode ser amarela, alaranjada, bege, cinza,
verde, roxa ou outra. A maior parte do pólen é liberada entre 9 h da manhã e 5 h da
tarde do primeiro dia em que ocorreu a abertura da flor. As anteras liberam pólen em
um período de três a quatro dias antes do estilo alcançar seu comprimento máximo e o
estigma tornar-se receptivo. Esse descompasso entre a maturidade dos órgãos sexuais
masculino e feminino (protandria) favorece a polinização cruzada, que ocorre a uma
taxa de 93%, aproximadamente. A baixa taxa de autofecundação existente dá-se através
da transferência de pólen entre flores de uma mesma umbela ou entre flores de umbelas
diferentes de uma mesma planta, mas é impossível a sua ocorrência dentro de uma flor,
individualmente. Os efeitos da depressão por autofecundações sucessivas na cebola são
bem acentuados, sendo mais pronunciados na segunda geração. Portanto, há heterose
pronunciada em híbridos F1.
De acordo com o International Plant Genetic Resoucers Institute (2001) são
descritores utilizados na caracterização de inflorescências: a) a capacidade de
florescimento das plantas de um acesso; b) a medida em centímetros da altura do escapo
floral de 5 a 10 plantas com escapos totalmente floridos e a estrtura externa do escapo
(se ele é oco, sólido ou de parede espessa com um canal fino interno. Tais descritores
devem ser observados em plantas completamente desenvolvidas no início da floração.
Para a caracterização de germoplasma devem ser utilizadas inflorescências originadas
do meristema principal. O descritor é agrupado nas seguintes classes: a) flores ausentes;
b) poucas flores (< 30) e c) muitas flores (> 30) por umbela.
As sementes de cebola são globulares ou angulosas e cobertas por uma grossa
testa (camada mais externa da semente) negra. Embora propagada por sementes, a
cebola também pode ser propagada vegetativamente, plantando-se os bulbos. Isso
normalmente é utilizado na cultura do bulbinho.
Características Nutricionais e Funcionais
Atualmente, o papel da nutrição vai além da ênfase sobre a importância de uma
dieta balanceada. Ele deve almejar a otimização das funções fisiológicas, garantir o
aumento da saúde e bem-estar e a redução do risco de doenças. Nesse novo contexto os
alimentos funcionais apresentam papel fundamental, podendo ser definidos como
alimentos que em uma dieta padrão fornecem benefícios além da nutrição básica.
Alguns de seus componentes, que podem ser nutrientes ou não, auxiliam na prevenção e
recuperação de doenças e nas funções relativas aos mecanismos de defesa e controle do
ritmo corporal.
Há muito tempo acredita-se que o consumo de cebola auxilia na prevenção de
certas doenças, o que a caracteriza como alimento funcional. Embora apresentem
reconhecidas propriedades funcionais, as cebolas são consumidas principalmente pela
sua capacidade de adicionar sabor a outros alimentos.
Açúcares e ácidos orgânicos contribuem substancialmente para o sabor da
cebola. No entanto, o sabor, odor e pungência característicos dessa hortaliça são
formados quando os tecidos da planta são cortados ou rompidos, resultando na
decomposição enzimática de sustâncias que contém enxofre na sua estrutura,
denominadas de sulfóxidos de cisteína. A recente caracterização dessa enzima,
responsável pelo efeito lacrimatório da cebola em seres humanos, abriu a possibilidade
de estabelecer processos mais eficientes de desenvolvimento e seleção de cultivares
isentas desta característica, as chamadas cebolas doces ou suaves.
A composição da cebola é influenciada pelas condições de cultivo, tais como
sistema de produção, tipo de solo e clima, além de fatores genéticos. A cebola não pode
ser considerada uma boa fonte nutritiva, devido a seus baixos teores de proteínas e
açúcares. A água corresponde a 89-95% de seus constituintes, apresentando
variabilidade em baixos níveis. Comparativamente a outras hortaliças frescas é
relativamente rica em energia, intermediária no conteúdo de proteínas e rica em cálcio e
riboflavina.
Possui mono e dissacarídeos (açúcares totais em torno de 6%), proteínas (1,6%),
gordura (0,3%), sais minerais (0,65%), alguns compostos fenólicos e ácidos (málico,
cítrico, succínico, fumárico, quínico, biotínicos, nicotínicos, fólicos, pantotênicos e
ascórbico. A cebola possui diferentes minerais, como cálcio, ferro, fósforo, magnésio,
potássio, sódio e selênio. Destes, a contribuição da cebola em uma dieta padrão é
significativa para o selênio, que é um mineral-traço essencial, ou seja, é necessário para
o organismo em quantidade mínimas, porém em doses elevadas torna-se tóxico.
Deficiências de selênio geram catarata, distrofia muscular, depressão, necrose do fígado,
infertilidade, doenças cardíacas e câncer. Esse mineral oferece proteção contra doenças
crônicas associadas ao envelhecimento, tais como arteriosclerose, câncer, artrite, cirrose
e efisema.
De acordo com a Associação Nacional de Cebolas dos Estados Unidos a cebola
possui baixas calorias, em torno de 40-50 calorias por porção, não contem sódio,
gordura e colesterol e provê o ser humano em fibra dietética, vitaminas C e B6, potássio
e outros nutrientes necessários, estando associada com numerosos benefícios à saúde
humana.
Devido a sua associação com características funcionais, especialmente nos
países mais desenvolvidos, seu consumo tem aumentado. Pesquisas recentes têm
procurado comprovar os benefícios da cebola para a saúde, além de identificar os
compostos responsáveis por tal. A cebola é particularmente rica em dois grupos de
compostos com comprovado benefício à saúde humana: flavonóides e sulfóxidos de
cisteína (compostos organosulfurados). Dois sub-grupos de compostos do tipo
flavonóide predominam em cebolas: as antocianinas (que conferem coloração
avermelhada ou arroxeada aos bulbos) e as quercetinas e seus derivados (que conferem
coloração amarelada ou cor de pinhão aos bulbos). As antocianinas, quercetinas e seus
derivados são de grande interesse pelas suas propriedades anticarcinogênicas. Pesquisas
ainda demonstram que esta pode ajudar contra cataratas e doenças cardiovasculares.
Muitos dos benefícios proporcionados a saúde pela cebola e espécies
relacionadas são atribuídos aos compostos organosulfurados, os quais chegam a compor
de 1 a 5% do peso seco total de bulbos maduros. Os compostos com enxofre são
metabólitos secundários vegetais, derivados de aminoácidos. A ação da enzima anilase
sobre os sulfóxidos de cisteína forma substâncias voláteis (tiosulfinatos, e mono- di- e
tri- sulfídeos. A gama de propriedades funcionais atribuídas aos compostos
organosulfurados incluem propriedades anticarcinogênicas, atividade antiplaquetária,
atividade inibidora de tromboses, ação antiasmática e efeitos antibióticos sobre
Staphylococcus aurens, além de redução da pressão sanguínea e dos níveis de
colesterol.
Pungência
A pungência é a combinação do sabor e aroma da cebola e causa irritação das
mucosas do nariz, boca e olhos, em razão da presença de compostos orgânicos
sulfurosos.
Os compostos responsáveis pelo sabor e aroma e pela pungência característicos
da cebola são formados pela decomposição enzimática de precursores sem odor, os
quais contêm enxofre nas suas estruturas. Os bulbos intactos da planta apresentam
apenas leve aroma, mas não possuem ação lacrimogênea. A ação do sistema enzimático
ocorre quando o tecido da cebola é injuriado (imediatamente após o corte), colocando a
enzima anilase, compartimentalizada no vacúolo da célula, em contato com os
precursores localizados no citoplasma, produzindo efeito lacrimatório e os vários
compostos causadores do sabor, aroma e pungência. O principal precursor do “flavor”
de cebolas é o composto sulfurado Sulfóxido de L-Cisteína S - (1-propenil), o qual, no
momento do corte, sofre o efeito da enzima alinase, dando origem aos Ácidos Sulfênico
e Pirúvico e à Amônia, como se observa na reação:
Sulfóxido alinase
de Ácido Sulfênico + Ácido pirúvico + Amônia
Cisteína água (aroma)
Óxido de Tiopropanal (lacrimogêneo) – o odor e o sabor típico é dado por um óleo volátil que excita as glândulas lacrimais por meio do princípio ativo óxido de tiopropanal, liberado quando as células são danificadas.
Diferenças na intensidade do sabor e aroma entre cultivares são devidas a
diferenças na concentração e proporção dos precursores sintetizados e na concentração e
atividade da anilase. Quanto mais alta a concentração dos precursores mais alto o sabor
o aroma e a pungência. Quanto à pungência, a cebola pode ser classificada em:
Fracas (cebolas suaves ou doces): 2 - 4 moles de ácido pirúvico por grama de massa
fresca;
Intermediárias: 8 - 10 moles de ácido pirúvico por grama de massa fresca;
Forte: 15 - 20 moles de ácido pirúvico por grama de massa fresca.
Como o ácido pirúvico e os compostos pungentes são formados em
concentrações equimolares pela ação da anilase, a concentração de ácido pirúvico é
usada como estimativa da pungência em cebola.
O tipo de cebola preferido varia com o mercado e preferência do consumidor.
Em muitos países desenvolvidos, a indústria de hortaliças e os consumidores dividem as
cultivares de cebola em dois grandes grupos: curadas para armazenamento e de
consumo fresco. As cebolas curadas são geralmente menores, mais firmes e pungentes e
resistem a vários meses de armazenamento. Devido ao seu menor tamanho e sabor forte,
as cebolas curadas são utilizadas principalmente para dar sabor a alimentos cozidos. As
cebolas de consumo fresco são maiores, mais macias, mais doces, e de sabor suave.
Possuem período de comercialização curto, devido ao período de colheita e de vida pós-
colheita curtos. Pelas suas características, são preferidas para serem consumidas em
saladas.
No Brasil, embora as cebolas cultivadas diferem substancialmente quanto às
suas qualidades organolépticas, não há segmento do mercado varejista, como ocorre em
outros países, que tratam de maneira diferenciada as cebolas destinadas ao consumo
fresco e as cebolas curadas (mais pungentes).
Ênfase sobre o benefício do consumo de cebola para a saúde humana associado à
segmentação do mercado tem ajudado a aumentar o consumo de cebola em países
desenvolvidos. Para garantir o abastecimento contínuo de cebola suave e doce no
período da entressafra, os Estados Unidos vêm importando cebola do tipo “Grano” e
“Granex” de países como México, Peru, Uruguai, Austrália e países da América
Central.
O nível máximo de pungência é controlado geneticamente, mas níveis abaixo do
máximo são respostas às condições ambientais em que as cebolas crescem. Uma
cultivar pungente pode ser mais suave em condições que favoreçam um mínimo de
sabor e aroma. Por sua vez, uma cultivar com potencial para ser suave pode ser
pungente se cultivada em condições para máxima expressão do sabor e aroma.
O potencial de uma cultivar absorver S-SO4-2 e sintetizar os precursores do sabor
e aroma é que determina em grande parte como será a intensidade do sabor e aroma e da
pungência de uma cebola. Excessiva fertilização com S-SO4-2, temperaturas muito altas
durante o crescimento e condições de crescimento em solo mais seco contribuem para
aumentar a intensidade da pungência da cebola. Evidências mostram que pungência
varia menos com as condições de cultivo para algumas cultivares do que para outras.
A coloração da cebola tem muito pouco a ver com o nível da pungência. Cebolas
de películas roxas, amarelas e brancas podem ser desde suaves a muito pungentes. Já as
cebolas brancas destinadas à industrialização são sempre pungentes a muito pungentes.
Praticamente, todas as cultivares do grupo “Grano” (Texas Early Grano 502, Texas
Early Grano 502 PRR, Texas Grano 502, entre outras) e “Granex” (Granex 33, Granex
429, entre outras), tradicionalmente plantadas no Brasil podem ser suaves e doces.
Bulbos armazenados por períodos de até 130 dias tendem a aumentar a
pungência, pois com a desidratação ocorre o aumento da concentração dos compostos
responsáveis pela pungência. Porém, após este período, os bulbos tendem a reduzir a
pungência, pois os compostos responsáveis pela mesma são utilizados pela planta como
fonte de N e caloria.
Bulbos colhidos após o estalo da cebola apresentam maior pungência.
A precipitação na época da colheita pode reduzir a pungência. A pungência
também varia de acordo com a cultivar.
É importante que instituições nacionais de pesquisa desenvolvam programas de
melhoramento específicos para obtenção de cultivares que naturalmente produzam
bulbos com sabor suave e adaptadas para as várias condições edafoclimáticas
predominantes nas regiões brasileiras produtoras de cebola. Constitui-se, portanto, em
desafio e oportunidade de pesquisa para o melhoramento genético de cebola e se insere
nas estratégias para aumentar a sustentabilidade do agronegócio de cebola no Brasil. A
cultivar São Paulo, lançada pela Embrapa Hortaliças em 1991, é uma cebola do grupo
das claras precoces suaves.
Para viabilizar a produção de cebolas suaves e doces no Brasil, é preciso definir
os locais e época para a produção, bem como o manejo cultural e de pós-colheita mais
adequados para se obter rendimento, qualidade e retorno econômico satisfatórios. É
necessário selecionar ambientes que propiciem intensidades baixas de sabor e aroma e
de pungência, ou seja, solos com disponibilidade baixa de S-SO4-2 e um programa de
fertilização que resulte em bulbos grandes e com pungência baixa. Outro aspecto
consiste na definição de um regime hídrico para a cultura, que possibilite um
suprimento abundante de água no solo durante o crescimento das plantas e resulte em
bulbos suculentos, menos pungentes e doces.
O baixo consumo de cebolas no Brasil é atribuído, em parte, à moderada ou alta
pungência das cultivares brasileiras, resultado do tipo de cebola plantado, do solo e do
manejo da lavoura. É necessário ressaltar que os consumidores tendem a ser
conservadores em sua preferência, rejeitando frequentemente tipos de bulbos não
familiares. Estratégias de marketing com inovações na forma de apresentação do
produto e informações à população sobre as qualidades nutracêuticas da cebola são
necessárias.
Usos
Devido ao uso da cebola ser mais restrito a condimentos que a fins alimentares,
seu consumo diário per capita é pequeno e a própria quantidade ingerida limita também
a sua ação nutricional. Porém, sob o ponto de vista condimentar, a cebola tem sido
muito utilizada, com crescente importância para a indústria de alimentos. Além de
utilizada como condimento, a cebola possui princípios químicos que têm sido utilizados
com frequência na indústria farmacêutica. Tanto para a indústria alimentar quanto
farmacêutica, torna-se necessário que a cebola (matéria prima) apresente quantidades
adequadas de alguns constituintes responsáveis por um maior rendimento industrial e
um produto processado de melhor qualidade.
Nos Estados Unidos, grande parte da produção de cebola tem sido
industrializada nas formas cozida, pickles congeladas, desidratadas (pó, flocos),
essência (óleo de cebola), bulbos enlatados (conserva) e desidratada a frio (freeze
dried). No Brasil, atualmente, é mais fácil encontrá-la industrializada na forma de flocos
desidratados, creme de cebola, pickles e bulbos enlatados (conserva).
Clima
A cebola é planta tipicamente bienal, com o ciclo biológico completo,
compondo-se de duas fases: a vegetativa e a reprodutiva. Na fase vegetativa há o
desenvolvimento e amadurecimento do bulbo. Na fase reprodutiva, dá-se o
florescimento e, subsequentemente, a produção de sementes, isto tratando-se de uma
cultivar totalmente adaptada.
A formação dos bulbos está relacionada com a interação entre a temperatura e o
fotoperíodo (duração do comprimento do dia). Nesta interação o fator mais importante é
o fotoperíodo, sendo decisivo na bulbificação. A espécie é de dia longo para bulbificar –
a planta de cebola só formará bulbo se o comprimento do dia (fotoperíodo) for igual ou
superior que o valor mínimo fisiologicamente exigido pela cultivar. Cada cultivar tem
sua exigência em horas de luz para iniciar o processo de bulbificação. Desse modo, se
uma determinada cultivar é exposta a uma condição fotoperiódica abaixo da exigida
haverá um elevado número de plantas que não irão se desenvolver, dando formação aos
conhecidos “charutos” ou “cebolões” (plantas imaturas, com hastes grossas). Se uma
cultivar é submetida a um fotoperíodo acima do requerido, a bulbificação iniciará,
podendo haver a formação prematura e indesejável de bulbos de tamanho reduzido, que
entram em dormência, sobretudo se essa condição ocorrer num estádio inicial de
desenvolvimento das plantas. Quando se cultiva cebola em baixos fotoperíodos (muito
curtos) artificialmente, as plantas formam folhas indefinidamente e não bulbificam.
De outro lado, ainda que a duração do dia seja o principal fator indutivo da
bulbificação seus efeitos são modificados pela temperatura. A influência da temperatura
pode-se manifestar nos diversos aspectos da cultura: afetando a capacidade de absorção
de nutrientes, em interação com o fotoperíodo alterando o ciclo da cultura,
condicionando a indução de estresse biótico e na indução do florescimento. A formação
de bulbos é acelerada em condições de altas temperaturas e sob condições de
temperaturas baixas o processo é retardado. Temperaturas acima de 30 ºC na fase inicial
de desenvolvimento das plantas podem provocar a bulbificação prematura indesejável,
produzindo bulbos menores. Sob temperaturas mais baixas a bulbificação torna-se mais
tardia. Já a exposição das plantas a períodos prolongados de baixas temperaturas (< 10
°C) pode induzir o florescimento prematuro (“bolting”), que é altamente indesejável,
uma vez que se visa a produção comercial de bulbos e não de sementes. A temperatura
deve ser amena ou fria durante o crescimento vegetativo e ligeiramente mais elevada na
bulbificação. A temperatura ótima de bulbificação oscila de 25 a 30 ºC. Temperaturas
em torno de 15,5 a 21,1 °C promovem a formação de melhores bulbos e maior
produção. Após iniciar a formação dos bulbos, uma cultivar poderá ter sua maturação
acelerada ou retardada em função da temperatura. Clima quente e seco favorece a
perfeita maturação do bulbo e a colheita.
Resumindo, pode-se dizer que satisfeitas as necessidades de fotoperíodo
somente haverá boa formação de bulbos se a temperatura for favorável a cultivar
plantada. Temperaturas baixas predispõem a planta ao florescimento precoce, sem
formação de bulbos, enquanto que em temperaturas elevadas o tamanho dos bulbos será
reduzido e a maturação mais rápida.
O pendoamento assinala o início da etapa reprodutiva, que interessa apenas ao
produtor de sementes, sendo indesejável na cultura para obtenção de bulbos. O efeito da
baixa temperatura no florescimento é preponderante. A espécie é de dia curto para
florescer – requer fotoperíodo menor que o valor crítico da cultivar. O frio invernal
induz o pendoamento em campo nas regiões produtoras de semente no Rio Grande do
Sul.
A iniciação e o desenvolvimento do bulbo dependem, então, do fotoperíodo e da
temperatura. No entanto, a bulbificação é também afetada por outros fatores:
1) Tamanho da planta (tamanho, idade fisiológica e reservas armazenadas): Ex:
bulbinhos grandes e pequenos, da mesma idade: os maiores amadurecem antes;
plantas muito pequenas são insensíveis ao fotoperíodo;
2) Suprimento de N: Ex: altos níveis de N próximo ao fotoperíodo crítico retarda a
formação de bulbos e aumenta a frequência de plantas imaturas. Já a deficiência
antecipa a formação de bulbos;
3) Suprimento de água: Ex: o excesso de irrigação retarda a formação de bulbos em
20 dias ou mais em relação ao ciclo normal da cultura. Se quiser acelerar a
colheita, diminuir a irrigação.
Tais fatores devem ser adequadamente manejados, para obtenção de bulbos
comerciáveis.
Florescimento da cebola
O florescimento da cebola se dá por ação de baixas temperaturas sobre os bulbos
Semente Muda Bulbo Florescimento e Produção de Sementes
Baixas temperaturas (4 a 15 °C)
Faixa ideal (8 a 13 °C)
Sob a ação de baixas temperaturas os meristemas se diferenciam em gemas
florais.
Se bulbos vernalizados forem levados a campo sob condições de temperatura
elevada (> 28 °C) pode haver desvernalização.
A quantidade de frio necessário vai depender da cultivar e do tamanho dos
bulbos. Exs: cultivares como Excel e Texas Grano 502 são mais exigentes em frio do
que as cultivares nacionais. Plantas ou bulbos graúdos florescem mais facilmente.
Certas cultivares, ainda na fase vegetativa, se submetidas a baixas temperaturas,
podem florescer antes mesmo da formação de bulbos. Ex: cultivares do grupo Baia
plantadas em SP em março apresentam alta incidência de florescimento prematuro.
Para a produção comercial de sementes é necessário um “choque frio” sobre os
bulbos. Este pode ocorrer:
- no campo, como é feito na região de Bagé/RS, região essa tradicional na produção de
sementes de cebola;
- com vernalização dos bulbos em câmaras frias: SP, Planalto Central e principalmente
no Noedeste.
Época de Plantio
As distintas regiões produtoras de cebola no País apresentam diversidade quanto
às épocas de semeadura e colheita. Por isso, vem sendo possível suprir a demanda
nacional com a produção interna durante todo o ano.
A época de plantio deve ser definida em função da compatibilização das
exigências fisiológicas da cultivar a ser plantada com as condições ambientais locais e
do mercado consumidor. O plantio na época certa, determinado principalmente em
função das exigências de cada cultivar em relação ao fotoperíodo e temperatura,
proporciona aumento da produtividade e melhoria considerável na qualidade dos
bulbos.
A Região Sul (PR, SC e RS) efetua a semeadura no período compreendido de
abril a junho, com colheita de novembro a janeiro. A Região Sudeste (SP e MG) faz
semeadura no período de fevereiro a maio e colheita de julho a novembro. A Região
Nordeste (BA e PE) pratica a semeadura de janeiro a dezembro (o ano todo), com
concentração nos meses de janeiro a março, possibilitando um escalonamento de plantio
e produção com oferta de cebola em diferentes períodos. Com isso, há condições de
autosuficiência no abastecimento interno do País ao longo do ano.
Cultivares
A cebola é uma hortaliça fortemente influenciada por fatores ambientais, que
condicionam a adaptação de uma cultivar a determinadas regiões geográficas. As
cultivares de cebola são usualmente classificadas em função de suas exigências
fotoperiódicas, visto que o fotoperíodo é um fator limitante para a bulbificação e a
planta de cebola só formará bulbos se o comprimento do dia for igual ou superior a um
mínimo fisiologicamente exigido. Nesse sentido, as firmas produtoras de sementes têm
desenvolvido ou introduzido cultivares adaptadas às diversas regiões, dando ênfase na
produção de híbridos. Com as facilidades atuais de importação da Argentina, a escolha
da cultivar tornou-se ainda mais crítica, já que o produto nacional deve competir em
qualidade e preço.
Há considerável variabilidade entre as cultivares quanto ao mínimo de horas de
luz para promover o estímulo de bulbificação. Conforme a duração do ciclo e a
exigência fotoperiódica, as cultivares plantadas no Brasil podem didaticamente reunidas
em três grupos:
Cultivares de dias curtos (precoces): são menos exigentes em fotoperíodo,
desenvolvendo bulbos sob 11-12 horas de luz por dia. São de ciclo curto, com duração
de 4 a 5 meses, da semeadura à colheita. Características: plantas mais suscetíveis à
queima-de-alternária, bulbos de coloração externa bem clara, baixo teor de matéria seca,
sabor muito suave (preferido por certos consumidores), baixa capacidade de
conservação dos bulbos e alcance de menores cotações no mercado. As cultivares
precoces apresentam ampla adaptabilidade de cultivo em diversas regiões brasileiras.
Bons exemplos são os híbridos precoces Granex 33, Granex 90, Granex 429, Rio
Grande, Mercedes e Linda Vista. Uma cultivar que merece destaque é Alfa Tropical,
desenvolvida pela Embrapa Hortaliças e apropriada para a denominada “cultura de
verão”. Para o centro-sul tem sido recomendada a semeadura nos meses de novembro e
dezembro. A colheita de bulbos ocorre na entressafra de cebola, de março a maio,
substituindo o sistema de produção por bulbinhos, mais oneroso. Os bulbos são de
coloração baia clara, pungentes, predominando o formato globular; o ciclo da cultura é
de 120-135 dias da semeadura.
Cultivares intermediárias (de ciclo mediano): exigem de 12 a 14 horas de luz por dia. A
duração do ciclo da cultura é de 5 a 6 meses. Características: mediana resistência à
queima-de-alternária, bulbos de coloração mais acentuada, teor mediano de matéria
seca, sabor mais pungente, melhor conservação e bulbos mais valorizados no mercado.
As cultivares desse grupo apresentam adaptabilidade geográfica mais restrita, sendo o
fotoperíodo o fator limitante à cultura, o que pode ser exemplificado com as cultivares
não híbridas Baia Periforme, Bola Precoce, IPA-6, Baia Super Precoce e Roxa do
Barreiro.
Cultivares de dias longos (tardias): são as mais exigentes em fotoperíodo – acima de 14
horas de luz por dia. Apresentam ciclo mais longo, de 6-8 meses. Características: alta
resistência à queima-de-alternária, bulbos de coloração escura, com alto teor de matéria
seca, sabor muito acentuado, ótima conservação; são altamente valorizadas na
comercialização. Essas cultivares apresentam adaptabilidade restrita ao extremo sul
(RS, PR e SC), não se adaptando ao plantio no Centro-Sul. São exemplos de cultivares
brasileiras tardias, não híbridas: Rio Grande Bojuda, Jubileu e Bella Crioula.
O fotoperíodo varia de região para região, em função da latitude e da época do
ano. Desse modo, se uma cultivar do grupo intermediário for cultivada no Submédio
São Francisco, que tem uma duração aproximada de 11,5 a 12,5 horas de luz por dia,
poderá ter seu desenvolvimento fisiológico prejudicado e apresentar, entre outras
anomalias, um percentual elevado de plantas improdutivas, conhecidas como
“charutos”. Por outro lado, se uma cultivar de dias for utilizada em regiões com
fotoperíodo muito superior ao exigido haverá formação prematura de bulbos, que
normalmente não possuem valor comercial pelo seu reduzido tamanho.
É importante levar em consideração que essas exigências, em horas de luz, não
são rígidas, podendo, dentro de cada grupo, haver variações de uma hora para mais ou
para menos. Desse modo, dentro de cada classe, existe cultivares que variam suas
exigências em comprimento do dia. Além disso, é necessário ressaltar que o processo de
bulbificação sofre influência marcante também da temperatura, altitude, entre outros
fatores. Por exemplo, a época de plantio pode deslocar uma cultivar de uma classe para
outra.
No Brasil, em função da localização geográfica das principais áreas produtoras,
as cultivares localizadas enquadram-se nas classes de dias curtos e intermediários. Há
uma predominância marcante do emprego de cultivares comuns, de polinização aberta,
sendo o restante correspondente a cultivares híbridas importadas, destacando-se a
Granex 33 e Granex 429. Dentro do segmento de cultivares mais comuns, os tipos
nacionais Baia e Pera Norte e suas derivações respondem por 75-80% do mercado.
As cultivares do grupo Baia Periforme foram introduzidas pelos imigrantes
portugueses e açorianos que colonizaram as regiões litorâneas do Rio Grande do Sul.
Desde então, a partir do germoplasma original introduzido, os produtores da zona
ceboleira do Rio Grande do Sul selecionaram e vêm mantendo suas próprias
populações. A rigor, a Baia Periforme compreende diversas subpopulações
extremamente variáveis em coloração, tamanho, formato, maturidade, pungência, teor
de matéria seca, entre outras características de valor para o melhoramento. Plantas
macho-estéreis são facilmente encontradas nas inúmeras subpopulações do tipo Baia.
Por essa razão, atualmente, esse valioso germoplasma tem sido a base de todos os
programas de melhoramento genético (público e privado) dessa olerácea no país. Na
atualidade, existem inúmeras cultivares derivadas direta ou indiretamente do
germoplasma Baia/Pera Norte, adaptadas às diferentes latitudes onde a cebola é
cultivada no país.
As cultivares do grupo Baia são, de uma maneira geral, de fácil florescimento
prematuro, ou seja, são pouco exigentes em frio para passarem à fase reprodutiva. Daí
porque nas regiões Sul e Sudeste essas populações são cultivadas a partir da semeadura
em fins de abril e meados de maio (outono). Nessas regiões, o plantio antecipado, fim
de verão e início de outono (março), com as cultivares do tipo Baia, pode ser desastroso,
devido ao alto índice de florescimento prematuro, já que a elevada taxa de crescimento
da planta possibilita que ela atinja porte favorável à indução de florescimento durante o
período de temperaturas baixas de inverno.
Com relação a produtores e escolha de cultivares, a preocupação com a
competição externa colocou o atendimento às exigências do mercado como o principal
centro de atenção do agronegócio da cebola. Nesse aspecto, os produtores procuram por
produto com maior competitividade em qualidade, custos e preços, optando por
cultivares que garantam maior produtividade, apresentem maior resistência à doenças e
forneçam produtos comerciais com alto padrão de qualidade. Estas preferências incluem
cultivares de polinização aberta ou híbridos que proporcionem colheita uniforme,
exatamente dentro da época programada. Adicionalmente, essas cultivares ou híbridos
devem exibir padrão comercial similar ao do produto importado, especialmente quanto a
uniformidade no tamanho do bulbo, coloração, retenção de túnicas e sabor. Ademais,
percebe-se clara avidez por tecnologias para produção de cebolas menos pungentes
(tipos doces ou suaves), mais adequadas para consumo fresco em saladas, tipos mais
apropriados à industrialização (flocos e pó) e também cultivares mais adequadas para
cultivo em sistemas orgânicos, como forma de agregar maior valor ao produto nacional.
No segmento dos consumidores, observam-se preferências pela ótima qualidade
do produto, diversificação de tipos varietais (mais e menos pungentes), produtos
diferenciados (produção em sistemas orgânicos e agroecológicos), disposição dos
produtos classificados e melhor conservação pós-colheita. Os consumidores preferem
ainda cebolas com bulbos globulares com casca de coloração avermelhada, semelhante
a cor do pinhão.
Diante destas exigências, as instituições de pesquisas públicas e privadas vem
ajustando suas atividades para atender a demanda dos produtores e consumidores,
procurando desenvolver cultivares com características que atendam as tendências atuais
do mercado.
Na Bahia e Pernambuco as cultivares predominantes são as importadas claras
precoces e as da série IPA, apresentando conservação de 30 a 45 após a colheita. Em
São Paulo, na safra do cedo as cebolas produzidas são as claras precoces e nas
semeaduras tardias as baias periformes. Em Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal
predominam cultivares claras precoces e a baia periforme.
Em Santa Catarina as cultivares mais plantadas são as crioulas de túnicas
escuras, pungentes e com armazenamento pós-colheita que pode se estender por até 6
meses, e as cultivares baias periformes precoces. No Rio Grande do Sul os produtores
cultivam tradicionalmente cebolas do grupo baia periforme, cuja semente é produzida
no próprio estado. Dessa forma a oferta de cebola se distribui durante todo o ano.
Escolha e Preparo do Solo
Solos profundos de textura média e suficientemente férteis devem ser os
preferidos para se cultivar a cebola, pois possibilitam o bom desenvolvimento das raízes
e bulbos. Solos muito argilosos dificultam a formação de bulbos, além de deformá-los,
aumento o número de “charutos”. Solos arenosos apresentam o inconveniente de baixa
retenção, tanto de umidade como de adubos aplicados. Solos de má drenagem,
facilmente encharcáveis, devem ser evitados. A topografia deve favorecer as práticas de
mecanização e irrigação, bem como as práticas conservacionistas.
Um bom preparo do solo é indispensável. Aração e gradagem são operações
importantes, devendo ser feitas com antecedência ao transplante das mudas para o
campo. O terreno, depois de gradeado, deve ser nivelado em função do sistema de
plantio a ser adotado. Se o terreno é bem drenado e a irrigação for por aspersão, o
plantio poderá ser feito no nível do terreno. Caso o local seja mal drenado ou se utilizar
a irrigação por infiltração, o plantio será feito em canteiros separados por sulcos. Cada
canteiro terá aproximadamente 1,00 m de centro a centro de sulco e 15-20 cm de altura.
Em terrenos inclinados, os canteiros deverão ser feitos em nível contra o declive do
terreno; nestes canteiros abrem-se dois a três sulcos de plantio.
Calagem, Nutrição Mineral e Adubação
Calagem
Trata-se de uma hortaliça de relativa sensibilidade a acidez, produzindo bem na
faixa de pH de 5,5 a 6,5. Outras a consideram uma cultura medianamente sensível a
acidez, estando este limite situado a pH 6,0 para um bom desenvolvimento da cultura;
portanto, não podendo dispensar a boa calagem, se necessário.
Recomenda-se aplicar calcário quando a saturação por bases for inferior a 60%
suficientemente para elevá-la a 70-80% e se obter pH 6,0. O pH do solo influencia na
disponibilidade de nutrientes, nas atividades de microrganismos e, consequentemente,
no desenvolvimento da planta e rendimento e qualidade do bulbo. O calcário deve ser
incorporado 3 meses antes do plantio, por meio de uma aração profunda para
incorporação dos restos de cultura e, posteriormente, após a aração faz-se uma
gradagem para incorporação da segunda metade do calcário.
Características Fisiológicas da Planta
A cebola é uma planta que apresenta o sistema radicular fasciculado, com 20 a
200 raízes por planta, normalmente espessas (0,5 a 1,0 mm) e com pouca ramificação
ou presença de pêlos absorventes. O crescimento é bastante vertical, estendendo-se de
40 a 80 cm de profundidade. Poucas raízes atingem mais de 15 cm de raio em torno do
bulbo. Estas características apresentam implicações peculiares quanto à colocação e ao
suprimento de nutrientes. As folhas da planta são subcilíndricas ocas (tubulares), lisas e
cerosas, dificultando de certo modo a absorção de nutrientes de via foliar. O
crescimento da planta é bastante lento até os 115 dias de idade, cerca de 10% do total,
sendo que após este período o crescimento se intensifica até o final do ciclo, com
consequente pequena absorção de nutrientes.
Marcha de absorção de nutrientes
As quantidades dos nutrientes extraídos pela cultura da cebola variam segundo a
produtividade, a cultivar e mesmo com o tipo de solo, visto que certos nutrientes
prontamente disponíveis podem ser absorvidos em quantidades que excedam as
exigências metabólicas da planta. De modo geral, a curva de absorção de nutrientes
segue o padrão de crescimento da planta. Os nutrientes são absorvidos em quantidades
reduzidas até 100 dias, aumentando consideravelmente até os 160 dias.
Nutrientes mais absorvidos:
Em termos de porcentagem na matéria seca: K e N
Em termos de concentração dos nutrientes na planta, nos diferentes estádios de
crescimento: N, P e Ca atingem um máximo a 130 dias e K aos 100 dias. A partir daí,
decrescem à medida que a planta vai atingindo o final do ciclo.
O Mg apresenta pouca variação no teor percentual nas folhas secas e bulbo e,
após atingir o teor mais elevado aos 85 dias, decresce lentamente até alcançar o valor
mais baixo aos 190 dias. A concentração de S nas folhas aumenta lentamente até os 175
dias, diminuindo sensivelmente nos últimos 15 dias da cultura. No bulbo, o S atinge seu
teor mais elevado aos 100 dias, decrescendo com leve flutuação na fase de
amadurecimento da cebola.
Extrapolando-se as quantidades dos macronutrientes absorvidos por planta para
uma população de 166.666 plantas.ha-1, com uma produção de 36,7 t.ha-1, teria-se as
seguintes quantidades de macronutrientes e micronutrientes extraídos pela cultura da
cebola:
Sistemas de Cultivo
A) Semeadura seguida por Transplantio ou Processo de Mudas
O método de semeadura seguida por transplantio baseia-se na formação de
mudas e plantio destas em época (combinação fotoperíodo/temperatura) apropriada para
a cultivar em questão.
A semeadura é feita em sementeiras tradicionais, em sulcos transversais,
distanciados de 10-15 cm, com 10-15 mm de profundidade, sendo que para a obtenção
da quantidade de mudas adequadas ao plantio de 1 ha semeiam-se de 1,5 a 2,0 Kg de
sementes com germinação de 80 a 95% (70% é o padrão nacional mínimo), utilizando
3-4 g de sementes por metro quadrado de leito. Para a obtenção de cerca de 500.000
mudas – quantidade suficiente para o plantio de 1 ha – são necessárias sementeiras
comuns de 500-750 m2. É necessário semear de modo uniforme e espaçado, pois o
desbaste em excesso das mudinhas é prejudicial àquelas que permanecem.
As mudas são transplantadas 40 a 60 dias após a semeadura, quando
apresentarem 4-5 mm de diâmetro e 18-20 cm de altura. São transplantadas de modo
que fiquem à mesma profundidade que se encontravam na sementeira, ficando o coleto
situado pouco abaixo da superfície normal do terreno. É preferível utilizar mudas mais
novas, pois à medida que se atrasa o transplante, pode ocorrer prolongamento no ciclo
para a obtenção de bulbos maduros, pois as mudas mais velhas sofrem um maior choque
no transplante. O atraso também pode reduzir a produtividade. Os sulcos de transplante
são sempre longitudinais.
Semente ------------- Muda ------------------ Bulbo
Transplantio
Na “cultura de verão” o transplante de mudas mais novas, aos 30-38 dias,
previne o alongamento no ciclo e a redução na produtividade.
Este é o método mais utilizado de propagação, em todas as regiões produtoras
brasileiras, visto que é o mais conveniente, principalmente por aproveitar bem a
semente utilizada – de custo elevado e nem sempre disponível, na quantidade desejada.
No Rio Grande do Sul, que é um dos mais antigos centros de produção de
cebola, a produção está centralizada nos municípios de São José do Norte e Rio Grande
e as cultivares comumente utilizadas são Baia Periforme, Jubileu e Petrolini (cultivares
de dias curtos) e Pera Norte (cultivar de dias intermediários). São cebolas de boa
capacidade de conservação de bulbo, e abastecem o mercado brasileiro de janeiro a
maio. Já nas regiões de São José do Rio Pardo e Monte Alto são utilizadas as cultivares
Granex e Texas Grano 502, que são cultivares importadas de baixa conservação, as
quais devem ser colhidas e comercializadas imediatamente.
B) Semeadura Direta
O método de semeadura direta tem sido utilizado em algumas regiões
produtoras, mais tecnificadas, como Andradas-MG e São Gotardo-MG, com semeadeira
de precisão. Além de exigir um maior gasto em sementes (o dobro em relação à
produção de mudas), também há uma emergência desuniforme da cultura e dificuldade
na realização dos tratos culturais iniciais, principalmente controle de ervas daninhas.
Entretanto, as vantagens são preponderantes: encurtamento no ciclo, com
colheita mais precoce; aumento na produtividade; e redução substancial no custo de
produção.
C) Plantio por Bulbinhos
Este método é utilizado em Piedade-SP e em algumas outras poucas regiões, e
baseia-se na:
Semeadura em época cujo fotoperíodo é maior do que o apropriado para a
cultivar em questão, havendo com isso uma bulbificação precoce (bulbinhos);
Armazenamento dos bulbinhos, para quebra de dormência;
Plantio dos bulbinhos em época (fotoperíodo/temperatura) apropriada para a
cultivar em questão.
A semeadura é feita em agosto, em sementeiras tradicionais, com apenas 2-3 g
de sementes por metro quadrado de leito, sem desbaste ou transplante posteriores.
Podem ser utilizadas as cultivares Pira Ouro e Baia Periforme (do Rio Grande do Sul).
Os bulbinhos são colhidos de novembro a janeiro, com 10-30 mm de diâmetro; e logo
após são curados, sendo as folhas e raízes aparadas, e armazenados em caixas especiais,
empilhadas, ou em prateleiras. É necessário que o ambiente seja seco, arejado e fresco,
não frigorificado, para uma boa conservação dos bulbinhos. Em fevereiro-março,
plantam-se os bulbinhos, selecionados, colhendo-os, já desenvolvidos, aos quatro
meses. A colheita de bulbos comerciáveis ocorre na entressafra da cebola, em maio-
junho, o que constitui uma vantagem deste método.
Semeadura (agosto)
fotoperíodo e temperatura crescentes bulbificação precoce
Colheita de bulbinhos (novembro/janeiro)
seleção de bulbinhos
Armazenamento dos bulbinhos (para quebra de dormência)
seleção de bulbinhos
Plantio de bulbinhos (fevereiro/março)
Colheita de campo (maio/junho)
Desde que se disponha de bulbinhos prontos, este é o método por meio do qual é
mais fácil de implantar uma cultura de cebola, podendo ser, também, o mais vantajoso.
Entretanto, quando o olericultor é obrigado a produzi-los, o plantio por bulbinhos é mais
trabalhoso e oneroso, em relação à semeadura direta ou ao plantio por mudas.
Transplante e Espaçamento
Para o Estado de São Paulo, recomenda-se o transplante das mudas 30 a 50 dias
após a semeadura, utilizando-as com tamanho e diâmetro superiores a 18-20 cm e 3
mm, respectivamente. As mudas serão transplantadas para sulcos previamente
adubados, adotando-se o espaçamento de 25-35 cm entre os sulcos e 5 a 10 cm entre as
plantas dentro sulco. Tais espaçamentos são empregados nos diferentes métodos de
implantação da cultura. Observe-se que utilizando espaçamentos estreitos eleva-se o
número de plantas e de bulbos produzidos por hectare, porém reduz-se o tamanho dos
mesmos. Assim, devido à preferência da maioria dos consumidores por bulbos de
tamanho médio, deve-se ajustar o espaçamento para obter tais bulbos.
Há autores que sugerem que as mudas sejam transplantadas aos 40-60 dias após
a semeadura, quando apresentarem 4-5 mm de diâmetro. É prejudicial podar raízes e
folhas, sendo preferível utilizar mudas mais novas. As mudas são colocadas inteiras, em
sulcos com 3-5 cm de profundidade, abertos nos canteiros definitivos. No Brasil não é
usual o transplante mecânico. Na “cultura de verão” o transplante de mudas mais novas,
aos 30-38 dias após a semeadura, previne o prolongamento do ciclo e redução na
produtividade.
A semeadura em bandejas de isopor de 288 células, em estufa com laterais
abertas, começa a ser praticada. As mudas devem ser transportadas o mais rápido
possível para a área de produção. A profundidade é de 3-5 cm. O corte das folhas antes
do transplante é uma prática adotada em diversas regiões, o que não tem prejudicado o
alcance de altas produtividades. O produtor utiliza-se desta prática, em geral, quando
ocorrem chuvas em excesso e não se consegue fazer o transplante das mudas. Mudas
muito enfolhadas dificultam o plantio. Em algumas regiões não se utiliza desta prática,
conseguindo também altas produtividades. O corte das folhas expõe a planta a uma
maior incidência de doenças e, portanto, é necessária atenção quanto as pulverizações
com fungicidas.
O tamanho das mudas por ocasião do transplante é um fator que influencia no
rendimento da cultura. Na região do Submédio São Francisco as mudas atingem o ponto
ideal para transplante cerca de 30 dias após a semeadura, sendo utilizados espaçamentos
de 15 x 10 cm ou 10 x 10 cm, devendo-se eliminar as mudas finas ou as que
apresentarem algum problema fitossanitário.
Para o plantio por mudas em algumas regiões tem-se utilizado de 40-50 cm e 10
a 22 plantas por metro linear de cultivo. Esta variação no número de plantas por metro
linear ocorre principalmente devido ao tipo de cultivo e a cultivar utilizada. Algumas
cultivares, em especial os híbridos, aceitam um aumento na densidade de plantio; para
outras cultivares essa maior densidade pode ocasionar aumento da incidência de
doenças ou produção de bulbos de menor tamanho.
Outro importante fator a ser mencionado relaciona-se à localização do terreno.
Plantios em locais menos sujeitos à alta umidade, com melhor ventilação, aceitam
melhor o aumento na densidade.
Em algumas regiões o transplante ocorre em canteiros com largura de 1,0 a 1,2
m, construídos com enxadas rotativas. O espaçamento e número de linhas são variáveis,
mas em geral utilizam-se 4 linhas espaçadas de 25 cm e espaçamento entre plantas de 7-
8 cm, portanto, com uma densidade de plantio de 50-60 m-2. A semeadura direta ocorre
em canteiros similares ao descrito acima e com semeadoras de precisão. Em geral,
utiliza-se uma maior densidade de plantas por hectare. Neste caso, o espaçamento
utilizado entre linhas é de 25-30 cm e 20-25 plantas por metro linear.
A variação do número de plantas por unidade de área afeta a produtividade e a
qualidade dos bulbos. Em baixas populações se produz geralmente baixos rendimentos e
alta porcentagem de bulbos médios e grandes. Em cultivos com densidades maiores que
a ótima se tem bulbos pequenos e desuniformes de menor qualidade comercial,
comparativamente ao cultivo em densidade adequada.
Controle de Plantas Daninhas
As plantas daninhas constituem sério problema para a cultura da cebola, uma
vez que a planta cultivada apresenta porte baixo e desenvolvimento inicial relativamente
lento. Também em razão da própria arquitetura, com folhas eretas e cilíndricas, essa
cultura cobre irregularmente o solo, permitindo então a germinação das plantas daninhas
em qualquer fase de seu desenvolvimento.
Tanto na semeadura direta como na transplantada, o espaçamento entre plantas é
pequeno, o que dificulta e encarece a capina manual e praticamente inviabiliza a
mecanizada. O ciclo relativamente longo exige que sejam feitas várias capinas para se
evitar que as plantas sofram concorrência com as plantas daninhas. Todos esses
problemas fazem com que o êxito da cultura da cebola dependa do uso correto de
herbicidas.
O controle de plantas daninhas em cebola é muito importante, principalmente, a
partir do primeiro mês após o transplante, devido a seu pequeno porte, crescimento
lento e requererem boa luminosidade para o seu perfeito desenvolvimento. Das práticas
disponíveis para o controle das plantas daninhas, o controle químico é o ideal. Grande
parte do êxito da cultura de cebola deve-se ao uso correto de herbicidas. Algumas
recomendações são necessárias para uma boa e eficiente aplicação: a) evitar aplicações
de herbicidas quando há ventos fortes, para não ocorrer derivação; b) na aplicação em
pré-emergência o solo não deve conter torrões grandes, nem estar muito seco ou
encharcado; c) em pós-emergência deve-se evitar aplicação em plantas molhadas de
orvalho ou após a irrigação; d) o bico tipo leque é utilizado para aplicação de
herbicidas; e) antes da aplicação o produtor deve verificar a regulagem correta dos
equipamentos visando obter-se a vazão recomendada dos herbicidas.
As capinas manuais, feitas com o auxílio de sachos e enxadas estreitas, somente
se justificam em sementeiras e em pequenos plantios e as capinas mecânicas são usadas
apenas nos carreadores e sulcos de irrigação. Como as raízes, inicialmente, se
desenvolvem cerca de 10 cm paralelamente à superfície do solo e à profundidade de 5
cm e somente após esta fase inicial é que elas crescem verticalmente, sendo difícil evitar
danos às raízes, a não ser com o uso de herbicidas.
Dentre os vários fatores que interferem na competição, a duração do tempo em
que a comunidade infestante provoca maior interferência na cultura assume grande
importância para o estabelecimento de um programa de controle de plantas daninhas, de
modo a minimizar os prejuízos. Assim, de modo geral, quanto maior for o tempo de
convivência entre a cultura e a comunidade infestante maior será o grau de interferência,
de acordo com a época do ciclo da cultura em que esse período ocorra.
Quando se trata de semeadura direta a competição das plantas daninhas é mais
prejudicial, reduzindo 30, 68 e 94% da produção de cebola quando a duração da
competição após a emergência for de 4, 5 e 6 semanas, respectivamente. A máxima
produtividade em semeadura direta ocorre quando há um período de 91 dias sem
competição de plantas daninhas (condições em que a cultura apresenta maior número de
folhas). As primeiras 4 semanas de crescimento são críticas para a produção e o máximo
de produção de bulbos é obtido quando a planta fica isenta de plantas daninhas por 7 a 8
semanas após o transplante.
Embora o controle da comunidade infestante possa ser efetuado com o auxílio de
cultivadores, cujo trabalho pode ser complementado pela limpeza manual com enxada, a
utilização de herbicidas nessa cultura torna-se uma opção altamente vantajosa. Isso se
deve principalmente ao pequeno espaçamento entre linhas, aliado ao ciclo relativamente
longo, que exige a realização de várias capinas, além da facilidade com que as raízes da
cultura são danificadas. Contudo, no que se refere aos herbicidas, diversas causas têm
impedido a obtenção de resultados positivos de controle, tais como: a) escolha errada do
produto em função da situação local; b) não utilização da quantidade preconizada; c)
erro de calibragem (falha no ajuste do equipamento de aplicação ou emprego em épocas
inoportunas). Acrescenta-se ainda o fato de que todos herbicidas possuem limitações
inerentes às suas próprias características, devendo-se, portanto, conhecê-las a fim de
tirar o máximo de proveito da potencialidade dos mesmos.
Assim, na escolha de um determinado herbicida deve-se sempre levar em
consideração alguns fatores, tais como: a) tipo de plantas daninhas; b) grau de
infestação e estádio de desenvolvimento das mesmas; c) tipo de solo em termos de
textura e porcentagem de matéria orgânica; d) cultivar utilizada; e) estádio de
desenvolvimento da cultura; f) presença de culturas vizinhas suscetíveis; g) rotação de
culturas e h) custo do referido tratamento.
Levando em consideração a época de aplicação, os herbicidas podem ser
classificados em:
a) herbicidas de pré-plantio incorporado (PPI): a aplicação deve ser realizada antes
do plantio, porém, em função de fatores relacionados com características
particulares do herbicida, devem ser incorporados ao solo de acordo com as
especificações técnicas do produto;
b) herbicidas de pré-emergência (PRÉ): também denominados de residuais. A
aplicação é realizada sobre o solo, antes da emergência das plantas daninhas, de
acordo com as especificações técnicas do produto. A aplicação deve ser efetuada
em solo bem preparado, livre de torrões ou restos vegetais e com boas condições
de umidade;
c) herbicidas de pós-emergência (PÓS): a aplicação é realizada após a emergência
da cultura e das plantas daninhas.
Quanto aos herbicidas seletivos, a aplicação é efetuada em cobertura total, sobre
a cultura e as plantas daninhas emergidas. Em relação aos herbicidas de ação total ou
não seletivos, a aplicação deve ser realizada na pré-semeadura ou antes do transplante
das mudas ou ainda, se necessário for, em jato dirigido às plantas objeto de controle. Em
ambos os casos, devem ser rigorosamente seguidas as especificações técnicas de uso de
cada produto, tais como estádio de desenvolvimento da cultura e das plantas daninhas,
dose de aplicação, tipo de solo, pressão, vazão de trabalho e “bicos’, além de outras
observações particulares de cada produto.
Muito embora as cultivares de cebola apresentam-se com folhas bastante
cerosas, de modo geral, aquelas com folhagens verde-opaco, devido a maior quantidade
de ceras, tendem a proporcionar maior resistência à ação de herbicidas do aquelas com
folhagens verde-brilhante, portadoras de menor quantidade de cerosidade foliar.
Doenças e Pragas
Doenças
Como medidas gerais de manejo das doenças mais importantes recomendam-se:
- seleção cuidadosa de locais para instalação de viveiros e plantios definitivos,
preferencialmente onde não haja histórico de ocorrência de doenças e que sejam
adequados ao bom desenvolvimento da planta;
- seleção de épocas de plantio desfavoráveis à ocorrência de doenças;
- utilização de cultivares resistentes, havendo disponibilidade;
- utilização de sementes e/ou mudas sadias;
- uso de mudas e bulbinhos indexados;
- obtenção de clones livres de vírus, por meio da cultura de meristemas;
- tratamento químico de sementes ou bulbinhos antes do plantio;
- tratamento do solo por solarização ou com brometo de metila, para áreas pequenas e
dependendo do patógeno;
- plantio adensado em viveiros e no campo deve ser evitado;
- plantio em solo de boa drenagem, com bom preparo, adubação e irrigação
equilibradas, para evitar estresses às plantas;
- para plantio, evitar locais onde, nas proximidades, haja plantas voluntárias ou culturas
velhas infectadas;
- eliminação de plantas hospedeiras de tripes próximas aos plantios de cebola;
- eliminação de plantas com sintomas no campo;
- eliminação de restos culturais infestados do campo de plantio;
- rotação com culturas não suscetíveis;
- pousio ou alqueive (para locais infestados com nematóides);
- irrigação com água com baixa chance de trazer inóculo;
- uso de máquinas e implementos não infestados e evitar a entrada na lavoura de pessoas
provenientes de locais infestados;
- pulverização com fungicidas, de forma racional, no campo (são importantes os
cuidados a serem tomados com fungicidas sistêmicos, para evitar a seleção de
populações do patógeno resistentes a estes produtos);
- controle de insetos que possam efetuar ferimentos ou serem vetores de viroses;
- colheita em época certa e estádio fenológico correto (maturação completa);
- manuseio cuidadoso dos bulbos durante a colheita e no armazenamento, para evitar
ferimentos;
- descarte de bulbos infectados ou com suspeita de infecção, na colheita e
armazenamento;
- não exposição dos bulbos ao sol;
- cura bem feita e armazenamento dos bulbos em condições de temperaturas baixas (4
ºC), baixa umidade e boa ventilação;
- higienização do local de processamento e armazenamento;
- uso de embalagens não infectadas.
Antracnose Foliar
(Glomerella cingulata (Stoneman) Spaud. & H. Scherenk.)
(Colletotricum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Saac. In Penz.))
A antracnose foliar, também chamada de mal-de-sete-voltas, charuto, cachorro-
quente ou rola, é um dos maiores problemas fitossanitários da cebola no Brasil e ocorre
desde o viveiro até o armazenamento. É um problema no Vale do São Francisco e
outros locais onde se cultiva cebola em temperatura e umidade elevada, estando também
relacionada com o manejo da irrigação (irrigação por tabuleiro). No Nordeste e na
região de Guiricema-MG a doença causa perdas de até 100% da produção.
Sintomatologia: em viveiros, o fungo pode causar tombamento, principalmente
se transmitido pela semente. A infecção nos primeiros meses de plantio induz ao
retorcimento foliar, deixando o pescoço (pseudocaule) endurecido e com tonalidade
verde-clara. O pescoço tende a alongar-se e o bulbo e o bulbo toma a forma de charuto.
No campo observam-se reboleiras da doença e os sintomas típicos são enrolamento e
curvatura das folhas, alongamento anormal e enrolamento do pseudocaule. As lesões
nas folhas e pedúnculos são alongadas, com círculos concêntricos, onde se observam os
acérvulos escuros do fungo, que tornam-se necróticos. Nos bulbos são observadas
manchas e, durante o armazenamento, pode ocorrer apodrecimento. Os acérvulos negros
também podem ser observados nos pseudocaules e bulbos. Alguns dos sintomas podem
ser semelhantes aos causados por outros fungos, bactérias e fatores abióticos. Em
experimentos em condições de casa de vegetação, sintomas da doença foram observados
aos cinco dias da inoculação por atomização, independente da idade das plantas.
Etiologia e epidemiologia: a antracnose foliar é causada pelo ascomiceto
Glomerrella cingulata, cuja forma imperfeita é Colletotrichum gloeosporioides. No
campo, onde prevalece a forma imperfeita ou assexual, o patógeno sobrevive
normalmente em restos de cultura, principalmente naqueles mantidos na superfície do
solo. Em condições de alta umidade formam-se nos acérvulos massas gelatinosas róseo-
alaranjadas, que contêm os esporos do fungo. A água (chuva ou irrigação) dissolve a
massa gelatinosa e suas gotas dispersam os esporos. Restos de cultura infestados são
fonte de inóculo tão importantes quanto plantas de cebolas infectadas. Os esporos
atingem plantas de cebola e, sob condições de alta temperatura e umidade, germinam e
penetram diretamente nas folhas. observou-se que a severidade foi proporcional ao
aumento da temperatura no intervalo de 15 a 30 C, mas períodos de molhamento foliar
superiores a duas horas não influenciaram a severidade da doença.
O fungo pode também sobreviver em sementes e ser transmitido pó estas, a
longas distâncias, ou através de bulbinhos mudas doentes. Em amostras de sementes
comercializadas em Santa Catarina em 1989, 1991, 1992 e 1993, C. gloeosporioides foi
encontrado. Entretanto, não se detectou o patógeno associado a sementes na região de
Guiricema-MG.
Por meio de inoculações artificiais, o patógeno pode infectar outras espécies de
Allium, como A. cepa var. agregatum, A. fistulosum e A. porrum. Em teste com
inoculação cruzada com isolados de mangueira, jiló, mamoeiro e cebola, obtidos na
região de Guiricema-MG, isolados de cebola foram patogênicos a cebola e o isolado de
jiló foi patogênico a cebola e ao mamão. Com ferimento, todos os isolados de cebola
foram patogênicos a todos os hospedeiros testados e os isolados de todos os hospedeiros
foram patogênicos ao mamão. Assim, outras plantas podem ser, potencialmente, fontes
de inoculo de C. gloeosporioides para a cebola.
Controle: considerando-se que a disseminação do fungo no campo é lenta e
dependente de respingos de água, o controle da antracnose deve-se basear em duas
medidas fundamentais: uso de sementes/mudas sadias e eliminação, no campo de
plantio, de restos culturais infectados. O monitoramento periódico, do canteiro à
colheita, para detectar possíveis focos e eliminá-los, é também importante. A rotação de
culturas é também uma medida recomendável.
Há vários estudos buscando obter materiais resistentes à doenças. Com a
estimativa dos componentes de resistência, o acesso BGH 6911 e a cultivar Baia
Periforme foram promissores. Em condições de campo, ‘IPA 3’, ‘Belém IPA 9’,
‘Franciscana IPA 10’, ‘Vale Ouro IPA 11’ e ‘Roxinha de Belém’ foram resistentes. A
variedade Pira Ouro é também considerada resistente. Em programas de melhoramento,
a herança que controla a resistência a antracnose é do tipo poligênica, com ação gênica
predominantemente aditiva. A cultivar Barreiro (Roxa do Barreiro) é considerada uma
fonte de resistência a doença e através de programa de melhoramento da ESALQ/USP o
Dr. Cyro Paulino Costa obteve a cultivar Pira Ouro (cruzamento entre Barreiro x Baia
Periforme Precoce, com seleção para bulbos amarelos e resistência a antracnose)
Fungicidas são também recomendados para o controle da doença. Verificou-se
que apenas os tratamentos de mudas com fungicidas não foram eficientes para controle
da doença no campo, onde recomendam-se benomyl e tiabendazol, isolados ou em
mistura com mancozeb. Em casa de vegetação, em pulverização imediatamente após a
inoculação do patógeno em plantas de ‘Texas Early Grano 502’, benomyl e prochloraz
foram os fungicidas mais eficientes. Os produtos registrados para controle da doença
são aqueles a base de benomyl, tiofanato metílico, folpet, e oxicloreto de cobre.
Raiz Rosada
(Phoma terrestris E.M. Hans = Pyrenochaeta terrestris (Hansen) Gorenz, Walker &
Larson)
A raiz rosada é de ocorrência mundial, principalmente em condições de clima
tropical/subtropical, e no Brasil já foi constatada em várias regiões. Na Zona da Mata de
Minas Gerais, têm ocorrido problemas nas regiões de Guiricema, Guidoval e Tuiutinga.
Alguns isolados do fungo são também patogênicos a outras plantas, como pimenta,
tomate, soja, trigo, melancia, pepino e berinjela. É uma doença do sistema radicular e,
aparentemente, a ocorrência da raiz rosada associada à podridão basal causa mais perdas
à produção e qualidade que a ocorrência isolada de cada doença.
Sintomatologia: a doença pode ocorrer em todos os estádios de desenvolvimento
das plantas, sendo mais comum naqueles próximos à maturação. Plantas infectadas
quando jovens podem morrer. As raízes infectadas são inicialmente de cor róseo-clara,
tornando-se de coloração rosa a vermelha e, em estádios avançados, púrpura-escura.
Raízes muito infectadas secam e se desintegram. Plantas que sobrevivem à infecção têm
o crescimento reduzido e produzem bulbos pequenos e de baixo valor comercial.
Etiologia e epidemiologia: a raiz rosada é causada por Phoma terrestris, que tem
como sinonímia Pyrenochaeta terrestris. O fungo pode sobreviver no solo como
picnídios e clamidósporos. O fungo penetra diretamente nas extremidades das raízes e
coloniza todo o sistema radicular. As condições de ambiente que favorecem o
desenvolvimento da raiz rosada são temperaturas de 24 a 28 ºC e alta umidade no solo.
Controle: a doença é severa em áreas continuamente cultivadas. Assim, para
reduzir a densidade de inóculo, a rotação com culturas não suscetíveis ao patógeno é
recomendável por três a seis anos. Em áreas pequenas pode-se efetuar a solarização ou
fumigação do solo. Há híbridos resistentes à raiz rosada. As cultivares Barreiro, Baia
Periforme e Granex são resistentes à doença. No melhoramento de plantas, a seleção de
populações resistentes é feita em solos infestados. Há duas hipóteses: de que a herança
da resistência seja controlada por um gene recessivo (relatado por Jones & Perry, 1956),
talvez não seja verdadeiro, ou provavelmente poligênica (Pike, 1986), havendo menos
material infestado no campo. Há várias raças do fungo e as fontes de resistência são
Excel, Eclipse, Early Crystal 281 e Texas Grano 502 PRR.
Tombamento das Mudas
(Rhizoctonia solani Kühn, Pythium spp., Fusarium spp.)
O tombamento (damping off) das mudas, dependendo das condições ambientais,
pode trazer sérias consequências à cultura, por levar à redução do estande no viveiro ou
no campo. É uma doença importante, pois as plantas afetadas geralmente não
sobrevivem.
Sintomatologia: o tombamento pode ocorrer em viveiros ou mesmo em culturas
oriundas de semeadura direta, em pré-emergência ou pós-emergência. Em pré-
emergência os sintomas comumente observados são apodrecimento de sementes e/ou
morte de plântulas. Em pós-emêrgencia pode-se constatar apodrecimento de raízes e/ou
presença de lesões necróticas na região do colo da planta. Como consequência, sintomas
reflexos, como o amarelecimento de folhas e morte de plantas, são comumente
observados.
Etiologia e epidemiologia: dentre os vários fungos que podem incitar o
tombamento, os mais comuns são Rhizoctonia solani, Pythium spp. e Fusarium spp. é
importante lembrar que muitos deles podem produzir estruturas de resistência (R.
solani, escleródios; Pythium spp., oósporos e Fusarium spp., clamidósporos), as quais
podem permanecer viáveis por longo tempo no solo. Em geral, são patógenos bastante
adaptados ao solo e que são favorecidos por amplas faixas de temperatura e umidade.
Para alguns deles, como o Pythium spp., o excesso de irrigação no viveiro pode
favorecer a ocorrência de infecção severa.
Controle: uma primeira medida seria a seleção de local de instalação do viveiro,
se possível onde não tenha histórico de ocorrência de tombamento, situado a montante
do plantio definitivo e irrigação com água com baixa chance de trazer inóculo.
Adubação e irrigação equilibradas, com solo de boa drenagem, são também
recomendadas. O tratamento do solo de sementeiras por solarização ou com brometo de
metila também pode ser empregado. Para o caso específico de R. solani pode-se efetuar
o tratamento de solo ou de sementes com PCNB (quintozene).
Podridão-basal ou Fusariose
(Fusarium oxysporum fsp. cepae (Hans.) Snyder & Hansen)
A podridão-basal (bico-branco ou fusariose) ocorre em todo o mundo e pode-se
manifestar em qualquer estádio da cultura. Perdas decorrentes da doença já foram
constatadas em diversos países, principalmente em condições de armazenamento. O que
se sabe com relação ao melhoramento genético é que existe variabilidade dentro das
populações.
Sintomatologia: as plantas de cebola podem ser infectadas em qualquer fase do
desenvolvimento. Entretanto, os sintomas da doença não são aparentes nos estádios
iniciais do crescimento, quando a temperatura está abaixo do ótimo para crescimento do
patógeno. Os primeiros sintomas são curvatura, amarelecimento e necrose das folhas,
progredindo da ponta para a base. As plantas doentes podem murchar, além de as raízes
apresentarem coloração marrom-escura. Nessas plantas, podem não ser observados
sintomas na parte aérea, porém, ao se cortar o bulbo verticalmente, detecta-se, na parte
interna, uma coloração marrom. Em condições de alta umidade, pode ocorrer o
crescimento micelial do fungo sobre o bulbo afetado. Em bulbos infectados podem não
ser observados sintomas na colheita, mas pode ocorrer o apodrecimento durante o
transporte e armazenamento.
Etiologia e epidemiologia: a doença é causada por Fusarium oxysporum fsp.
cepae, o qual pode ser disperso por sementes, água e mudas contaminadas, sendo
encontrado no solo, onde pode sobreviver por longos períodos na forma de
clamidósporos. A penetração do patógeno é diretamente ou por meio de ferimentos,
causados por outros patógenos ou insetos. O patógeno infecta a placa basal do bulbo e
eventualmente mata a planta por completo. Infecções do fungo em bulbos dormentes
durante o armazenamento permitem a ocorrência de infecções secundárias. Sob
condições de temperatura baixa (< 15 ºC) a doença não ocorre, pois as condições
favoráveis são temperaturas entre 26 e 28 ºC e umidade alta.
Controle: como o patógeno produz esporos de resistência em locais onde a
doença ocorreu, deve-se efetuar a rotação de culturas com plantas não suscetíveis por
quatro anos. Em viveiros, pode-se efetuar a fumigação do solo. Recomendam-se o uso
de sementes sadias, drenagem de solo muito úmido, prevenção de ferimentos, cura bem
feita e armazenamento em temperaturas baixas (4 ºC) e com baixa umidade. A medida
de controle mais eficiente é o uso de resistência. Há híbridos resistentes a podridão-
basal e já se desenvolveram cultivares de dias intermediários e de dias longos
resistentes. No Brasil algumas cultivares também variaram quanto à intensidade da
podridão basal em plântulas. Em outro estudo, Stadinick & Dhingra (1994) verificaram
que nas cultivares Bola Precoce, Crioula, Rosa, Norte-14, Roxa do Barreiro, Pera IPA 6
e Crioula x Norte-14 houve menor efeito do patógeno sobre a germinação; ‘Baia Ouro
AG-59’ e ‘Norte-14’ tiveram menor redução do estande, 57,1% e 75%,
respectivamente.
Míldio
(Peronospora destructor (Berk.) Casp.)
O míldio (ou cinza) da cebola é uma doença comum em locais de clima ameno,
sendo particularmente importante nas regiões serranas do Sudeste e na Região Sul do
Brasil, onde pode ocorrer durante todas as fases da cultura, principalmente logo após o
transplantio. É mais importante durante a fase de produção de sementes (fase
reprodutiva) da cebola. Na Índia há relatos de até 75% de perda da produção, em
decorrência do míldio.
Sintomatologia: as partes afetadas do tecido foliar ou de hastes florais
apresentam tonalidade verde-amarelada. A presença de estruturas do patógeno,
principalmente esporângios, confere uma coloração que varia de parda a azulada.
Geralmente as lesões são grandes (3-30 cm de comprimento), possuem formato ovalado
a cilíndrico, alongadas no sentido das nervuras e com áreas de coloração variando de
verde-pálida a clorótica. É possível observar massa de esporangióforos e esporângios
nas lesões.
Com o desenvolvimento das lesões as partes afetadas tornam-se necróticas e
pode haver colonização por outros organismos saprófitas ou mesmo fitopatogênicos
como Alternaria ou Stemphylium botryosum, o que pode dificultar a diagnose correta da
doença. Bulbos produzidos em plantas severamente afetadas pelo míldio podem ser
subdesenvolvidos e a integridade de seus tecidos pode ser comprometida,a ponto de
reduzir a longevidade no armazenamento.
Etiologia e epidemiologia: a doença é causada por Peronospora destructor,
organismo da classe Oomycetes. O patógeno é parasita obrigatório, ou seja, só cresce e
multiplica em tecido vivo. Porém, é capaz de sobreviver entre plantios de cebola por
meio da produção de esporos de parede espessa e de origem sexuada – os oósporos.
Além disso, Peronospora destructor também pode sobreviver em plantas voluntárias ou
em bulbos e sementes infectadas. Estes órgãos, se utilizados como material propagativo,
constituem, ao menos em tese, fontes de inóculo primário da doença. Em geral, doenças
causadas por espécies de Peronospora são facilmente disseminadas no campo. O vento
é um eficiente agente de dispersão de esporângios de P. destructor. É possível que
respingos de chuva ou de água de irrigação também possam contribuir para a dispersão
do inóculo. As condições que mais favorecem o desenvolvimento de epidemias de
míldio são temperaturas amenas e alta umidade. Sob condições de baixa temperatura, 10
ºC por exemplo, verifica-se alta taxa de germinação dos esporângios. À medida que a
temperatura aumenta e atinge valores superiores a 20 ºC, o percentual de esporângios
germinados diminui. Sob condições de temperatura ótima, são necessárias poucas horas
de molhamento foliar (4 horas) para que haja germinação dos esporângios. As
epidemias são mais severas em regiões sujeitas a períodos prolongados de dias
nublados. Nestas condições, há maior eficiência de sobrevivência de inóculo e de
infecção.
Controle: mediante o exposto, medidas de controle cultural devem ser adotadas.
Dentre estas, podem-se citar: escolher locais de plantios menos sujeitos ao
desenvolvimento da doença, isto é, locais bem drenados, arejados e que recebam boa
quantidade de irradiação solar; evitar o plantio em espaçamento muito adensado, para
que não haja formação de um microclima favorável ao desenvolvimento do patógeno;
utilizar material propagativo sadio; evitar condições que possibilitem longos períodos de
molhamento foliar e efetuar manejo adequado da irrigação.
Tratamento térmico dos bulbos a 35 ºC, 40 ºC e 45 ºC reduziu a doença
significativamente; entretanto, a 40 ºC e 45 ºC, durante mais de 12 horas, retardou o
crescimento de plantas drasticamente. Banho dos bulbos em suspensão de metalaxyl +
mancozeb por 4 horas reduziu a doença significativamente. Três pulverização de
metalaxyl + mancozeb em intervalos de 14 dias foram suficientes para controlar a
doença em mais de 75%. Em conjunto, a combinação de calor, banho de bulbos seguido
de três pulverizações de metalaxyl + mancozeb resultou em 86% de controle da doença.
Pulverizações com fungicidas são eficientes para o controle do míldio. Segundo
Brasil (2002), os produtos registrados para o controle da doença são à base de oxicloreto
de cobre, captan, maneb, mancozeb, mancozeb + oxicloreto de cobre, cymoxanil +
mancozeb, clorotalonil + metalaxyl-M e mancozeb + metalaxyl-M. O uso de fungicidas
para o controle do míldio pode ser otimizado com sistemas de previsão. Recentemente
foi desenvolvido um sistema de previsão denominado Downcast. Apesar de
interessante, este sistema ainda não foi validado nas condições brasileiras.
Com relação ao melhoramento de plantas, há variabilidade genética dentro de
populações do grupo Baia Periforme.
Pragas
Dentre os fatores que condicionam a produção de cebola, as pragas, se não
controladas oportunamente, ocasionam grandes prejuízos à cultura. Destacam-se, entre
outras, a lagarta rosca, vaquinhas, mosca minadora, tripes, ácaros e lagarta das folhas.
Tripes – Thrips tabaci (Lindeman, 1888) (Thysanoptera, Thripidae)
Principal praga da cebola, tornando-se potencialmente destruidora quando em
temperaturas altas e umidade relativa do ar baixa, pois nessas condições há aceleração
do ciclo reprodutivo e do desenvolvimento da ninfa para o adulto. Os ataques intensos
podem causar até 50% de perda na produção. O adulto mede em torno de 1 mm de
comprimento e 2 mm de envergadura, apresenta coloração variável, do amarelo ao
marrom, e asas estreitas e franjadas. A postura é endofítica e realizada nos tecidos mais
tenros da planta. A capacidade de postura de uma fêmea é de 20 a 100 ovos. A ninfa
mede cerca de 1 mm de comprimento, apresentando coloração amarelo-esverdeada. O
período de pupa dura em torno de 24 h e ocorre na própria planta.
O aparelho bucal dos tripes é do tipo sugador labial triqueta (três estiletes).
Vivem geralmente entre a bainha e o limbo foliar, em grandes colônias, onde se
alimentam de seiva após dilacerarem as superfícies dos tecidos da planta. Raspam o
limbo foliar para sugarem a seiva, causando lesões nas quais aparecem manchas
esbranquiçadas e prateadas, caracterizando um aspecto geral descolorido. Essa agressão
ao limbo foliar abre espaço para o ataque de diversas doenças, principalmente alternaria
e bacterioses. Os tripes também transmitem viroses. Também atacam os bulbos,
permanecendo sob suas túnicas. Os bulbos atacados são de tamanho e peso reduzidos,
apresentando qualidade inferior, e geralmente não atingem 2/3 de seu tamanho normal.
Quando o ataque é muito intenso, essa praga provoca uma secamento total da
área foliar, havendo, com isso, comprometimento do desenvolvimento da planta,
resultando em diminuição da produção.
Devido às suas características biológicas, localização na planta, à arquitetura
foliar da planta e cerosidade apresentada pelas folhas, as quais dificultam o controle
fitossanitário, fica sendo uma praga de difícil controle. O produtor deve evitar plantios
consecutivos, pois a sucessão de safras, próximas umas das outras, permite a migração
do tripes pelas correntes de vento, perpetuando a população. O manejo fitossanitário
com pulverizações deve ser feito regularmente, sempre obedecendo a uma alternância
de grupos químicos (piretróides com organofosforados) e de princípios ativos, com o
intuito de evitar a seleção de indivíduos resistentes. Na prática, a adição de açúcar a 2%
na calda de pulverização melhora a eficiência dos defensivos.
É imprescindível aumentar a vazão nas pulverizações, como forma de melhor
atingir a praga, bem como promover a regulagem correta do equipamento de
pulverização para se trabalhar com a dosagem adequada, evitando-se desperdícios e
insuficiência de doses. Na prática, nota-se que bicos do tipo leque são mais eficientes.
Além disso, deve-se fazer a pulverização mais ao entardecer, pois nos horários mais
amenos há melhor controle.
Ainda de acordo com Ciociola Júnior et al. (2002), em introdução no capítulo
“Pragas associadas à cultura da cebola e seu controle” do Informe Agropecuário, o
ataque do tripes na cultura da cebola é crescente e preocupante. Esta praga pode
comprometer a produção caso não sejam tomadas medidas corretas de controle, como
por exemplo, uma correta amostragem da população da praga no campo. Para cada
região é necessário o estabelecimento de um nível de dano para o tripes e para as outras
pragas que ocorrem no local. Existem no mercado inúmeros produtos para o seu
controle, porém deve-se observar a maneira correta de aplicação, sempre verificando a
alternância dos ingradientes ativos. Os autores ainda relatam que há uma forte
necessidade de um controle biológico para o tripes e outras pragas, dentro de um
programa de manejo ecológico correto, proporcionando, desse modo, um ambiente
ecologicamente estável. Até o momento são poucos os estudos nessa área.
Lagarta rosca - Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1767) (Lepidoptera, Noctuidae)
O adulto é uma mariposa medindo até 40 mm de envergadura. Apresenta asas
anteriores marrons e posteriores branca hialina com o bordo lateral acinzentado. A
lagarta dessa espécie mede 45 mm de comprimento, é robusta e tem coloração marrom-
acinzentada, apresentando cápsula cefálica lisa e marrom-clara.
Este inseto apresenta elevado potencial biótico, podendo uma fêmea colocar em
média 1000 ovos durante seu ciclo. A lagarta tem o hábito noturno, ficando durante o
dia enrolada e abrigada no solo. A fase de lagarta é de 30 dias; após este período esta
passa para a fase crisálida, permanecendo no solo até a emergência do adulto.
O principal dano ocasionado por A. ipsilon é o seccionamento das plantas novas
na altura do colo. As lagartas alimentam-se dos tecidos foliares e muitas vezes cortam
as plantas rente ao solo e em períodos de seca prolongada alimentam-se dos bulbos no
campo, podendo causar apodrecimentos e sérios prejuízos durante o armazenamento. O
controle químico é a medida utilizada com frequência pelos produtores quando se
detecta a presença da praga na área, sendo as pulverizações dirigidas ao solo, em alto
volume e preferencialmente no fim da tarde.
Vaquinhas – Diabrotica speciosa (Germar, 1824) (Coleoptera, Chrysomelidae)
O adulto é um besouro de coloração verde medindo 5 a 6 mm de comprimento.
A cabeça apresenta coloração castanha e em cada élitro há três manchas amarela. A
fêmea efetua a postura no solo. A larva mede em torno de 10 mm de comprimento e
apresenta coloração branco-leitosa. Os adultos têm o hábito de se alimentar da parte
aérea da planta enquanto as larvas alimentam-se de raízes e tubérculos. O ciclo
biológico é de 24 a 40 dias.
Os adultos alimentam-se das folhas da cebola, nas quais provocam marcas e
perfurações, diminuindo a área foliar, prejudicando o desenvolvimento normal da planta
e deixando esta mais suscetível ao ataque de doenças através desses ferimentos. Trata-se
de uma terrível praga, especialmente na fase de sementeira.
O controle químico é a medida utilizada com maior frequência para o controle
de D. speciosa. Todavia, deve-se utilizar produtos somente em extrema necessidade, de
maneira a não ocorrer desequilíbrios, tais como a eliminação da fauna benéfica e
problemas pelo surgimento de outras pragas ou seleção de indivíduos resistentes na
população. O controle pode ser feito com deltametrina, carbaryl e fenpropathrin.
Mosca Minadora, Bicho Mineiro – Liriomyza sp. (Diptera, Agromyziidae)
Os adultos da mosca minadora são insetos pequenos, de aproximadamente 2 mm
de comprimento, apresentando coloração preta. A fêmea apresenta postura endofítica,
isto é, coloca seus ovos dentro do tecido da folha, diretamente no parênquima foliar. A
larva mede em torno de 2 mm de comprimento, apresentando coloração amarelada, e
faz galerias no parênquima foliar em zigue-zague, destruindo parte da área foliar,
reduzindo a capacidade fotossintética da planta e promovendo queda na produção de
bulbos. Quando desenvolvida abandona a planta, passando a pupa no solo, podendo
também ser encontrada no interior das minas.
Apesar da importância da minadora em cebola, não há registros de produtos
específicos para essa praga. Entretanto, quando ocorrer tripes e minadora ao mesmo
tempo na cultura, os produtos utilizados para controlar tripes também controlarão a
mosca minadora.
Desordens Fisiológicas
Brotações
As brotações originárias dos bulbos é um dos principais problemas fisiológicos
de pós-colheita. A dormência dos bulbos varia de acordo com a cultivar, podendo durar
de poucos dias a meses. Passado o período de dormência, os bulbos reiniciam o
crescimento das folhagens. As temperaturas ao redor de 0 ºC retardam as brotações
unicamente durante os primeiros meses de armazenamento. Complementando o frio
pode-se usar inibidores de brotação, como a hidrazina maléica, que é mais efetiva
quando aplicada em plantas com 50% de estalo.
Catáfilas translúcidas
Este problema ocorre mais frequentemente depois de 3 a 4 meses de
armazenamento a frio, sendo sua maior incidência em bulbos grandes. As catáfilas se
tornam transparentes, em contraste com a aparência opaca do tecido normal, e os vasos
condutores são facilmente notados. A sua incidência é reduzida significativamente
quando se resfria os bulbos logo após a cura.
Crescimento de raízes
Este fenômeno parece estar regulado por fatores internos, apresentando suas
taxas máximas de ocorrência à temperatura de 10 °C e umidade relativa superior a 75%.
A redução deste problema pode ser feita utilizando baixas temperaturas, umidade
relativa inferior a 70% e empregando recipientes apropriados e dispostos de forma a
permitir uma boa ventilação.
Danos por sol e congelamento
A exposição prolongada das cebolas a radiação solar (altas temperaturas e/ou
raios ultravioleta) tem causado queimaduras nos bulbos, principalmente quando a
temperatura alcança 50 ºC.
O ponto de congelamento da cebola é de aproximadamente -1 °C, dependendo
da cultivar e conteúdo de sólidos solúveis. Os bulbos afetados apresentam uma
coloração amarelo-acinzentada e uma consistência aquosa. O sintoma ocorre da
superfície para o centro dos bulbos. Como medida de minimizar os danos recomenda-se
descongelar o produto lentamente a cerca de 4 ºC e comercializá-lo imediatamente.
Colheita e Cura
A colheita e a cura da cebola são etapas muito importantes na conservação dos
bulbos e formação e coloração da casca.
Colheita
A colheita deve ser realizada quando ocorre o amadurecimento dos bulbos, que é
indicado pelo murchamento prévio da rama na região acima do bulbo (pescoço). Esse
processo é conhecido como tombamento ou “estalo” da cebola. O primeiro sinal de
amadurecimento é o “estalo”, que é o tombamento do pseudocaule, seguindo-se da seca
da planta. A ocorrência do “estalo” indica a perfeita adaptação da cultivar, bem como a
completa maturação do bulbo, favorecendo sua conservação pós-colheita. A colheita
antecipada, com a planta ainda imatura, prejudica a qualidade do bulbo. Recomenda-se
iniciar a colheita quando 50-60% das plantas tombarem.
Deve-se, gradualmente, diminuir a irrigação a partir do início da maturação dos
bulbos, para que estes contenham maior teor de matéria seca (o que favorece a sua
conservação). A colheita pode ser mecanizada ou manual. No Brasil é mais comum a
colheita manual. Pode-se utilizar uma lâmina para facilitar o corte das raízes da cebola e
desta forma iniciar o processo de cura. Em algumas regiões cebolicultoras nos Estados
Unidos é mais comum a utilização da colheita mecanizada com maquinário apropriado.
Em Santa Catarina os agricultores realizam a colheita quando a cebola
apresentar tombamento da haste (“estalo”) em mais de 40% da lavoura. Apenas uma
pequena quantidade provoca o tombamento das plantas remanescentes antes da colheita,
para evitar a penetração de água no pseudocaule. No caso de ter realizado o
tombamento das plantas, alguns dias depois é feita a colheita e a cebola recebe uma pré-
cura a campo, em leiras onde os bulbos são cobertos com as próprias folhas, para
protegê-los dos raios do sol.
A cebola colhida verde apresenta-se aquosa, não completando seu ciclo e
apresentando a desvantagem de perder muito peso com a evaporação da água. Além
disso, apresenta má conservação, prejudicando o produtor e consumidor. O produtor,
procurando obter um bom preço de venda do produto no mercado durante o período de
escassez, esquece-se que isto poderá prejudicá-lo, devido a um excesso de oferta no
mercado de um produto de má qualidade. Também há situações em que a cebola, como
única fonte de renda, precisa ser comercializada imediatamente após a colheita, até
mesmo sem cura, para recuperar o escasso capital de giro e sustentar a sobrevivência da
família. Quando colhe-se muito cedo, com bulbos verdes, as folhas continuam
crescendo e o colo (“pescoço”) dos bulbos não cicatriza bem, afetando a resistência ao
armazenamento e aspecto do produto. Sem cura, a cebola, além da aparência não
atrativa, fica mais exposta às deteriorações. Além dos bulbos mal curados, verifica-se
ainda o apodrecimento por falta de ambiente adequado ao armazenamento, bulbos
atacados por pragas e doenças, manuseio e transporte feitos sem cuidados, má aparência
visual dos bulbos (desuniformes, descascados ou com túnicas muito finas. Em algumas
regiões, como Nordeste e Sudeste, são utilizadas cultivares inadequadas, as quais não
apresentam resistência ao armazenamento. Pelo fato destas cultivares de cebola
possuírem baixos teores de sólidos solúveis na sua composição, imediatamente após
serem colhidas e curadas, necessitam ser comercializadas, gerando um grande fluxo de
cebola de baixa qualidade no comércio. Esta situação traz, consequentemente, queda de
preços, reduzindo a rentabilidade da cultura e elevando os níveis de perdas.
Os dias secos e ensolarados são os melhores para a colheita da cebola. Quando
esta é feita com o solo úmido, a qualidade e a conservação dos bulbos são seriamente
prejudicadas.
Cura
Após a colheita realiza-se o processo de cura, que tem por finalidade a perda
excessiva de umidade das ramas e secagem das películas externas (casca) dos bulbos,
com o intuito de fazê-los alcançar coloração externa atrativa e reduzir a intensidade de
podridões. A cura torna os bulbos mais resistentes a danos e a entrada de
microrganismos, aumentando seu período de conservação e melhorando a qualidade
comercial da cebola, a coloração dos bulbos e condições para armazenamento. A cura
pode ser artificial e a campo:
Cura a campo: mais comum no Brasil. Na cura a campo os bulbos com as ramas devem
ficar expostos ao sol durante 7-10 dias. Alguns autores recomendam um tempo menor
em função da temperatura ambiente. Há relatos de que a temperatura ideal para cura é
superior a 21 °C por um período de 24 a 72 horas. Em muitos casos, cobre-se o bulbo
com as ramas do bulbo seqüencial, para se evitar a queima pelo sol. Após essa cura
preliminar recolhem-se os bulbos em galpões, bem arejados e secos, para uma cura mais
lenta. No caso de chuvas durante a colheita a cebola deve ser recolhida aos galpões
imediatamente, onde as plantas permanecerão até que as folhas sequem.
Um indício de cura completa é o desprendimento fácil das películas externas
quando se esfregam os bulbos com os dedos, o que geralmente ocorre aos 10 a 15 dias
após a colheita. Após esse processo, é feito o corte das ramas. Alguns produtores, após
o corte das ramas, dependendo das condições climáticas, deixam os bulbos em sacos ao
sol para uma completa secagem. Durante este período deve ocorrer uma perda de 3 a
5% do peso inicial dos bulbos.
Cura artificial: pode ser realizada através do uso de ar aquecido. A cura com a utilização
de ar aquecido pode ser feita em um processo dinâmico (através do fluxo do ar sobre o
produto deslocado por uma esteira) ou em um processo estático (no qual o ar é forçado
entre os bulbos através de dutos perfurados). Em Santa Catarina pratica-se a chamada
cura estacionária, mais comum no Brasil, em estufas de fumo ou em câmaras
construídas especialmente para isso. A temperatura utilizada para secagem é de 46 a 48
°C, por um período que varia de 16 a 32 horas. Nas estufas de fumo as cebolas são
colocadas em caixas para facilitar o movimento do ar quente. As câmaras especiais são
construídas de alvenaria, dotadas de um sistema de aquecimento por fornalhas e dutos
de aquecimento.
Beneficiamento e Embalagem
O beneficiamento consiste em aparar as raízes e folhas: as raízes são aparadas
rente ao bulbo, porém, sem feri-lo, e as folhas deixando-se 1 cm de pseudocaule.
Somente após completar a cura é que os bulbos devem ser classificados pelo
diâmetro e embalados em sacos telados de fibra sintética, de preferência vermelha, com
capacidade para 45 Kg, comumente. No entanto, a embalagem oficial para
comercialização é o saco de polietileno ou polipropileno vermelho com 75 cm de
comprimento e 48 cm de diâmetro, com capacidade para 20 Kg de bulbos. Pequenos
produtores ainda comercializam cebola enrestiada.
Na maioria dos mercados brasileiros os bulbos de tamanho médio (80 a 100g)
são os preferidos pelo consumidor. As colorações preferidas são tipo “baia”, com
tonalidade mais ou menos intensa ou amarelo-palha. Observa-se que bulbos brancos e
roxos apresentam aceitação mais restrita.
Armazenamento
O armazenamento prolongado pode ser desvantajoso nas condições brasileiras.
Ele pode ser efetuado em ambientes arejados, frescos, secos e sombrios. As cultivares
de ciclo tardio e mediano conservam-se sob tais condições até 6 meses.
As estruturas de armazenamento podem ser divididas em três: armazéns
frigoríficos, armazéns convencionais e armazéns ventilados. A armazenagem de cebola
em frigoríficos ainda não é comum no Brasil. A armazenagem convencional é utilizada
principalmente em Santa Catarina, onde os bulbos são acondicionados em sacarias, em
caixotes ou a granel com as ramas. As cebolas dispostas umas sobre as outras não
devem superar a altura de empilhamento de 40 cm. Neste sistema o bulbo fica somente
exposto à ventilação natural, o que pode ser responsável pela alta taxa de doenças.
Nestas condições, os bulbos podem ser armazenados por 2 a 3 meses. Recomendam-se
barracões arejados que permitam uma ventilação regular e adequada. Em alguns locais
os armazéns podem ser ventilados, através da ventilação forçada, para diminuição dos
problemas relacionados à doenças.
A frigorificação em câmaras com umidade relativa de 70-80% e temperatura de
4 a 6 ºC pode ser praticada, podendo ser obtida a conservação por períodos superiores a
6 meses, porém a viabilidade econômica dessa prática deve ser ponderada. É viável a
frigorificação de cebola usando-se câmaras com temperaturas em torno 0 ou de 2,4 °C
com umidade relativa do ar de 70-80%, por um período maior que 6 meses.
Temperatura de 0 ºC e umidade relativa entre 60 e 70% constituem condições ótimas de
conservação e contribuem para controlar a disseminação de doenças e brotação de
raízes. Estima-se que as perdas durante armazenagem no Brasil podem chegar, em
alguns casos, em cerca de 40-50% da produção. Cebolas não devem ser armazenadas
juntamente com outros produtos devido a problemas relacionados à absorção de outros
odores.
Em Santa Catarina, na grande maioria dos casos, o armazenamento é feito em
estaleiros, em camadas, cuja altura da pilha varia em função do volume colhido.
Classificação e Padronização
A classificação e padronização de bulbos de cebola é realizada segundo as
normas do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, através da portaria n° 529 de
18 de agosto de 1995, que teve por objetivo definir as características de identidade,
qualidade, acondicionamento, embalagem e apresentação da cebola destinada ao
consumo “in natura”.
Como defeitos graves definiu-se o bulbo de cebola com talo grosso (união das
catáfilas do colo do bulbo apresentando uma abertura que a normal, devido ao
alongamento do talo pelo interior do mesmo); brotado (bulbo que apresenta emissão do
broto visível acima do colo); podre (dano patológico e/ou fisiológico que implique em
qualquer grau de decomposição, desintegração ou fermentação dos tecidos); com
mancha negra (área enegrecida, em virtude do ataque de fungos nas catáfilas externas
ou no colo do bulbo, detectada visualmente) e mofado (o que apresenta fungo nas
catáfilas externas).
Como defeitos leves definiu-se o bulbo de cebola com colo mal formado
(formação incompleta do colo do bulbo); deformado (o que apresenta formato diferente
do típico da cultivar, incluindo crescimentos secundários, ou seja, bulbos unidos pelo
talo, apresentando externamente uma catáfila envolvente); falta de catáfilas externas
(ausência de catáfilas em mais de 30% da superfície do bulbo); flacidez ou falta de
turgescência (ausência da rigidez normal do bulbo); descoloração (desvio parcial ou
total na cor característica da cultivar, incluindo o esverdeamento, ou seja, bulbos com
catáfilas externas verdes).
Considera-se defeito quando atingir mais de 20% da superfície do bulbo e dano
mecânico (lesão de origem mecânica observada nas catáfilas do bulbo), sendo não
considerados os defeitos intitulados talo grosso e falta de catáfilas externas quando
tratar-se de cebolas precoces.
A cebola é classificada em classes ou calibres de acordo com o maior diâmetro
transversal do bulbo e tipos ou graus de seleção de acordo com a qualidade dos bulbos.
As classes ou calibres, de acordo com o maior diâmetro transversal do bulbo, são
classificados em quatro. As cebolas cujos diâmetros dos bulbos forem maiores que 90
mm serão agrupadas de tal forma que, dentro de uma mesma embalagem, não
contenham bulbos cuja diferença entre o diâmetro do maior e menor bulbo seja superior
a 20 mm. Permite-se a mistura de classe dentro de uma mesma embalagem, desde que a
somatória das unidades não supere 10% e pertençam às classes imediatamente superior
e/ou inferior. O número de embalagens que superar a tolerância para mistura de classes
não poderá exceder a 10% do número de unidades amostradas. Não se admitirá classes
de bulbos de formatos ou cores diferentes.
Quanto aos tipos ou graus de seleção, de acordo com os índices de ocorrência de
defeitos nas amostras, a cebola será classificada conforme Quadro 19. Em se tratando
do mercado interno a cebola poderá ser comercializada em réstia e, neste caso, será
classificada apenas em tipos. Não é permitida a comercialização de cebolas em réstia
entre os países membros do Mercosul. Os bulbos deverão possuir características típicas
da cultivar, serem sãos, secos, limpos e apresentarem as raízes cortadas rente à base. O
talo deverá apresentar-se retorcido e estar cortado a um comprimento não superior a 4
cm.
No que se refere à embalagem, as cebolas deverão estar acondicionadas em
embalagens novas, limpas e secas e que não transmitam odor ou sabor estranhos ao
produto, podendo ser sacos ou caixas contendo até 25 Kg líquidos de bulbos, admitindo
uma tolerância de até 8% a mais e 2% a menos no peso indicado. O número de
embalagens que não cumprir com a tolerância admitida para o peso não poderá exceder
a 20% do número de unidades amostradas.
As embalagens deverão ser rotuladas ou etiquetadas em lugar de fácil
visualização e difícil remoção, contendo, no mínimo, as informações do nome do
produto, cultivar, classe ou calibre (A), tipo (A), peso líquido (A), nome e domicílio do
importador (A, B), nome e domicílio do embalador (A, B), nome e domicílio do
exportador (A, B), país de origem, zona de produção e data do acondicionamento (A,
B), sendo que a inicial A admite-se o uso de carimbo ou etiquetas autoadesivas para
indicar estas informações e a inicial B é optativa, de acordo com os valores de cada país.
Em se tratando de produto nacional para comercialização no mercado interno as
informações obrigatórias são a identificação do responsável pelo produto (nome, razão
social e endereços), o número do registro do estabelecimento no Ministério da
Agricultura e do Abastecimento, a origem do produto, classe, tipo, peso líquido e data
do acondicionamento. Na comercialização feita no varejo e a granel o produto exposto
deverá ser identificado em lugar de destaque e de fácil visualização, contendo a
identificação do responsável pelo produto, classe e tipo.
A cebola deverá ser embalada em locais cobertos, secos, limpos, ventilados, com
dimensões de acordo com os volumes a serem acondicionados e de fácil higienização, a
fim de evitar efeitos prejudiciais à qualidade e conservação do mesmo e o transporte
deve assegurar uma conservação adequada ao produto.
Para todo o território nacional, a portaria que disciplina a comercialização da
cebola proveniente dos países do Mercosul sofreu adaptações, sendo que o setor se
autoregula, classificando a cebola quanto ao tamanho, utilizando-se somente três
diâmetros: graúdas (acima de 60 mm), médias (40 a 60 mm) e miúdas (30 a 40 mm),
sendo descartadas aquelas que não estiver dentro deste padrão. Quanto às cebolas com
padrão abaixo das miúdas, denominadas “chupetas” ou “pirulitos”, são comercializadas
pela metade do preço de mercado e 20% dos sacos de uma carga de caminhão podem
ser constituídos destas cebolas pequenas.
A preferência do consumidor recai sobre as cebolas de coloração amarelo-
avermelhada. No beneficiamento as descamadas são separadas. O consumidor nacional,
com a abertura da economia brasileira, tomando contato com o produto importado, está
em processo acelerado de mudanças quanto à exigência de qualidade, descartando a
desuniformidade do produto quanto à cor, formato e tamanho. Além da coloração
amarelo-avermelhada, o consumidor brasileiro prefere a cebola de formato arredondado,
com peso médio de 90 a 100 g, sem a presença de raízes e folhas (cascuda), ou seja,
com escamas externas firmes e múltiplas.
No entanto, existem também outros nichos muito específicos de consumo, onde
o mercado é regido por uma série de fatores e tendências ligadas ao poder aquisitivo e
cultura de cada região do Brasil. Em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, por exemplo,
ocorre uma leve tendência de consumir principalmente cebola roxa ou arroxeada. Nos
bairros ou regiões de menor poder aquisitivo e até mesmo em Santa Catarina há uma
aceitação da cebola desclassificada ou fora dos padrões, com mistura de formas,
tamanhos e cores. Já as indústrias de processamento adquirem as cebolas grandes,
descamadas e pequenas (“pirulitos”), por serem três classes de menor cotação de preços
no mercado. Os restaurantes, por sua vez, dão preferência a cebolas grandes, para
reduzir mão-de-obra no preparo de pratos.
Comercialização e Custos de Produção
O Brasil possui uma ampla variação nas condições climáticas das diversas
regiões produtoras; com isso verifica-se que existem diversos períodos de produção e
oferta de cebola. Isto possibilita condições de autosuficiência de produção e
abastecimento interno no decorrer dos doze meses do ano.
A ocasional redução de oferta de cebola ocorre nos meses de junho e julho,
ocasionada pela diminuição de oferta no centro-sul do país e/ou da safra paulista de
bulbinhos.
Ao analisar o período de colheita e comercialização nacional cada região
apresenta características peculiares. A oferta da Região Sul ocorre entre os meses de
novembro a maio, sendo o pico da colheita nesta região verificado no mês de dezembro.
Com o armazenamento é possível atender o mercado até maio, especialmente nos anos
em que a cebola for de boa qualidade. A partir de maio inicia-se a comercialização da
produção de soqueira do município de Piedade-SP. Em junho e julho concentra-se a
oferta de São Paulo; além de Piedade, entram no mercado as cebolas produzidas nos
municípios de Monte Alto e São José do Rio Pardo e a produzida no Vale do São
Francisco, especialmente em Pernambuco. Em agosto continua a oferta originária do
Vale do São Francisco e concentra-se a colheita dos municípios de Monte Alto, São
José do Rio Pardo e Mirandópolis. De outubro a janeiro, com pico de oferta em
novembro e dezembro, a região de Piedade dispõe de cebola do tipo Baia Periforme. De
setembro a novembro entra a produção do Nordeste (BA e PE). Com o andamento
normal das safras o Brasil está abastecido durante o ano todo.
É elevada a elasticidade-preço da oferta da cebola, característica econômica
determinante no processo de produção e comercialização, que expressa a sensibilidade
da produção às variações de preços. Problemas de abastecimento e preço ocorrem
quando há antecipação ou atraso na colheita de alguma região, o que resulta na
coincidência de safras, ocasionando excesso ou escassez do produto. Isto acontece
normalmente quando ocorre algum fator climático adverso na produção. Quando há
coincidência de safras ocorre uma queda sensível nos preços pagos ao produtor,
chegando a casos de não cobrirem o custo de produção.
As variações de preço são estacionais e ocorrem com certa frequência, o que
também pode ser resultado da “teoria da teia de aranha”, em que determinada época do
ano o preço é elevado e a produção baixa, e no ano seguinte, o produtor, estimulado
pela alta do preço aumenta a produção; o aumento da oferta tende a gerar queda dos
preços.
Ocorre ampla flutuação estacional nos preços pagos ao produtor, condicionada
pela oferta variável ao longo do ano, já que a demanda parece ser constante.
Normalmente ocorrem preços mais elevados de maio a agosto, com máximo em junho-
julho. Entretanto, com a importação, a curva de flutuação tende a ser menos acentuada.
Também contribui para isso a “cultura de verão”, com colheita na entressafra. Com o
efetivo funcionamento do Mercosul, a Argentina vem exportando volumes crescentes de
cebola “cascuda” (valenciana), de alta qualidade, preferida pelo consumidor de maior
nível de renda. Entretanto, cultivares deste tipo não bulbificam nas condições climáticas
do centro-sul, havendo poucas cultivares nacionais competitivas. Deve-se levar em
conta o fato de as condições ecológicas argentinas serem mais favoráveis a essa cultura:
fotoperíodo longo (permitindo o plantio de cultivares tardias); temperaturas
adequadamente amenas; solo de elevada fertilidade natural, exigindo pouca adubação;
topografia plana, permitindo a mecanização, e chuvas bem distribuídas ao longo do
ciclo, não sendo necessário irrigar.
A industrialização de cebola ainda é pouco praticada no Brasil. Entretanto, há
pequena produção de cebola desidratada, na forma de pó ou de flocos, e também como
picles. A perecibilidade da cebola dificulta o armazenamento e o abastecimento,
ocasionando grandes perdas para os produtores. Segundo algumas estimativas o volume
de cebola industrializada seria em torno de 6% da produção nacional. No Brasil, a
utilização de produtos industrializados de cebola é muito pequena, pois o maior
consumo de cebola é “in natura”, na forma de saladas e condimentos. Entre os
principais produtos derivados de cebola destacam-se a pasta de cebola, a cebola em pó e
a cebola em flocos.
A pasta de cebola é resultante de processo industrial mais simples e consiste em
triturar a cebola, transformando-a em pasta, e logo após adicionar sal para prolongar a
conservação. Este processo de transformação em pasta ou creme é muito utilizado de
maneira artesanal doméstica. Já a cebola em pó e em flocos é um processo industrial
que consiste em desidratar o produto, podendo conter no máximo 4,25% de umidade. A
industrialização é feita por métodos convencionais de desidratação, através da secagem
do produto. O rendimento industrial e qualidade do produto dependem da qualidade da
matéria-prima utilizada, ou seja, do teor de sólidos solúveis e da coloração dos bulbos.
A procura por cebola em pó é ocasionada pela demanda da indústria alimentícia para a
elaboração de produtos, tais como sopas, cremes, na preparação de refeições industriais
e enlatados.
A cebola em conserva é uma alternativa de utilização dos bulbos de tamanho
pequeno, os quais são rejeitados pelo consumidor no processo de comercialização “in
natura”. Além disso, existe maior facilidade de acondicionar as “cebolinhas” em
recipientes menores com maior aproveitamento do espaço interno. O produto é mais
conhecido como cebola em picles.
Porém, o teor de sólidos solúveis e a coloração das cultivares de cebola
existentes no Brasil não são favoráveis ao processo de industrialização. Em razão do
baixo teor de sólidos solúveis, o rendimento industrial é baixo, ficando entre 7,5 e 10%.
Em função do teor de açúcar das nossas cultivares, o produto final apresenta uma cor
amarelada pela caramelização. Existem algumas limitações quanto à utilização de
produtos processados de cebola por parte dos consumidores, motivados principalmente
pela disponibilidade de produto fresco durante todo o ano, pela resistência das donas de
casa e cozinheiras em alterar seus hábitos e procedimentos na cozinha, por considerar
insubstituível a utilização do produto “in natura” em saladas, onde seu consumo é
elevado, e pela pouca divulgação quanto à existência, formas de uso e vantagens dos
produtos industrializados de cebola. Desta forma, a utilização de cebola processada é
feita principalmente por empresas que fabricam produtos desidratados, como sopas
instantâneas, caldos, preparações básicas, condimentos e molhos, e na indústria, carne e
enlatados.
De acordo com estudo apresentado no XII Seminário Nacional de Cebola,
realizado em Juazeiro-BA, em 2000, estima-se que cem mil famílias de agricultores
estejam produzindo cebola no Brasil. O custo de produção situa-se entre R$ 3.500.00 a
R$ 6.000,00 por hectare, conforme o sistema de cultivo adotado. O custo médio de
produção tem variado de US$ 0,10 a US$ 0,15 por quilo produzido. O menor custo
refere-se às regiões com maior produtividade e sistema de cultivo por semeadura direta,
como por exemplo, Monte Alto-SP. O maior custo refere-se ao sistema de produção
pelo método do bulbinho e a produção por mudas possui custo intermediário de US$
0,13 por quilo produzido. O preço médio recebido pelo produtor tem sido de US$ 0,26
por quilo produzido.