a crise política brasileiraem 6 atos

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  • 8/19/2019 A Crise Política Brasileiraem 6 Atos

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    A crise política brasileira: uma novela em 6 atos 

    Ato 1 - como construir um desastre em quatro meses Terminada a eleição, Dilma Rousseff sai vitoriosa. Foi ela quem imprimiu oritmo final de campanha, intuiu a hora de atacar e garantiu a vitória nosegundo turno. Saiu das eleições etenuada f!sica, psicológica eemocionalmente, mas com a sensação de ter"se graduada com louvor empol!tica# nessa eleição a vitoriosa havia sido ela, não $ula. 

    %ssessores alertavam que o terceiro turno não esperaria a tr&guatradicional# começaria no dia seguinte 's eleições. (irando a esquina estavaa )ocarra da $ava *ato, os pro)lemas da +etro)ras, o desauste fiscal, oin!cio do desemprego e derrotados que sa!ram da campanha )a)ando sangue. - per!odo deveria ser aproveitado para a freada de arrumação, preparar osegundo governo, untar ideias, organiar grupos de tra)alho em cada /rea.-s desafios a serem superados eram enormes# montar uma estrat&giadefensiva de resposta ' $ava *ato e de sa!da para a +etro)ras0 um plano de

    governo para a agenda positiva0 e um tra)alho de recomposição da )ase deapoio. 1as Dilma sumiu do mapa. Trancou"se por dois meses, com rar!ssimasaparições p2)licas, empenhando"se eclusivamente em montar um minist&riopara chamar de seu. Fechou"se a qualquer sugestão, inclusive de $ula " quese afastou dela. 3ntre 4 de novem)ro e 54 de fevereiro foram 6 aparições p2)licas " sem

    discurso, a não ser os protocolares. Seu eleitorado se sentiu a)andonado0sua equipe, perdida.

    7o final do ano todos os 1inistros / tinham preparado suas cartas dedemissão, colocando sim)olicamente o cargo ' disposição da presidente. 3mfevereiro, pouca coisa decidida. 1inistros, secret/rios, assessores semsa)er se colocavam filhos na escola, providenciavam a volta para seus locaisde origem, procuravam emprego. %s empresas p2)licas em suspenso, semplaneamento, os 1inist&rios paralisados, aguardando as definições.

     

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    %s 2nicas decisões de Dilma foram entregar a Faenda a um economistaortodoo e montar um conselho pol!tico para assessor/"la nas estrat&giasparlamentares. 

    8uando a longa gestação chegou ao fim, a)riu"se o )a2 da reformaministerial aguardando que dele saltasse o %no 9a)riel, anunciando aanunciação. 3m seu lugar, pulularam sacis, lo)isomens, )oitat/s e mulas semca)eça " especialmente as esp&cies sem ca)eça. - governo perdeu fragorosamente as eleições na :;mara " 2nico o)etivo deum 1inist&rio pol!tico "0 a )ase de apoio esfacelou"se. - 1inistro *oaquim$ev< anunciou um pacote fiscal que, necess/rio ou não, atropelava todo odiscurso de campanha de Dilma. %l&m de a)andonado, agora seu eleitorado

    sentia"se tra!do, porque sem eplicações, pedidos de desculpas, autocr!ticassea l/ o que lhe permitisse criar um /li)i qualquer para continuardefendendo Dilma. 

    Sem a )lindagem naopinião p2)lica, Dilma viu"se acossada por um e&rcito de tiranossauros, umafauna eótica onde se misturam Fernando =enrique :ardoso >o 1arcelloReis do +SD?@, $o)ão, %&cio, 1arcello Reis >o F=: do ARevoltados, */A@ e,por tr/s, *os& Serra " com sua not/vel capacidade de sumir na hora do pau earrotar valentia nos )astidores >alB, alBC (oc que convive com Serra# não &isso mesmoE@. Todos devidamente pautados por 1arcello Reis, )rilhante

    intelectual emergente desses tempos e cólera, na verdade uma e)ra queassumiu a liderança da oposição, dando o tom prim/rio e a palavra de ordem

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    tosca para seus seguidores, al&m de estimular um com&rcio crescente decamisetas com ofensas a Dilma. F=: assimilou o discurso com uma pequena copidescagem para torn/"lo mais

    elegante, o +r!ncipe curvando"se aos fatos e conformando"se com o su)"comando de um e&rcito sa!do das profundeas do tempo. %lo+rocurador9eral da Rep2)lica@ sugere a demissão da diretoria da +etro)ras, afeta aautoridade pessoal de Dilma e ela reage. Se algu&m insinua seuconhecimento das falcatruas, tam)&m reage indignada. Se os ataques são

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    contra o governo, as instituições, a democracia ou o +T, ignora em nome dorepu)licanismo. (asculhando a história do pa!s, não se encontrar/ presidente mais honesto,

    patriota e anti"arreglos. Dilma a)omina qualquer forma de desonestidade emesmo da manipulação pessoal do interesse p2)lico. 3 a pessoa f!sica nãoconsegue aceitar situações que o homem de 3stado acataria de formapragm/tica em nome do proeto pol!tico. 

    Foi assim que Dilma tomou"se de uma oeria epressa por 3duardo :unha,

    quando chegaram ao seu conhecimento rumores so)re os ogos de interesse)ancados pelo deputado. +or duas vees :unha enfiou em uma medida provisória a possi)ilidade deconstrução de aeroportos particulares, medida que interessava diretamente' :amargo :orreia e ' %ndrade 9utierre. +or duas vees, Dilma vetou. 7os )astidores, falava"se em financiamento de at& RG 6H milhões para a)ancada de :unha, caso a medida passasse. -utra participação ativa foi na

    $ei dos +ortos, um lo))< epl!cito em favor de grupos portu/rios. 

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    3sse maneira de pensar e agir foram decisivas na montagem da estrat&giapol!tica de não aceitar qualquer acordo pr&vio com 3duardo :unha naseleições para a mesa da :;mara. 3 eplica grande parte dos conflitos com$ula, cuo pragmatismo a)riu espaço para o fortalecimento dessa fauna.

     3, a!, entra"se em um terreno pantanoso, ainda não suficientementeanalisado pelas instituições nacionais, especialmente pelo STF >SupremoTri)unal Federal@ e pelo 1inist&rio +2)lico# o avanço pol!tico do crimeorganiado. Ato 3 - o avanço político do crime organizado % lista =S?: epõe, de forma ampla, o que foi o am)iente cina do mercado

    financeiro internacional depois da li)eraliação financeira, uma miórdiaonde se misturavam caia I, dinheiro do narcotr/fico, do terrorismointernacional, da corrupção pol!tica, das ogadas financeiras. J essa ona cinenta que favorece a proliferação do crime.

    7a pol!tica tam)&m eiste uma ona cinenta, um cen/rio que favorece aepansão da influncia do crime organiado. 7o caso )rasileiro, a onacinenta ganhou dimensão quando o STF implodiu o sistema partid/rio e

    permitiu a proliferação dos pequenos partidos. 3, depois, quando ofinanciamento privado de campanha decidiu investir na sua própria )ancada,em ve de )ancar pol!ticos individualmente. Sempre houve pol!ticos )ancados pelo crime mas, em geral, eramsu)ordinados ' organiação partid/ria que restringia sua capacidade deatuação no :ongresso. :om o pluripartidarismo ' )rasileira, essedisciplinamento deiou de eistir. %)riu"se uma caia de +andora de dif!cilequacionamento, especialmente depois que os partidos maorit/riospassaram a se engalfinhar em uma luta fratricida. -s elogios de l!deres do +T e do +SD? a 3duardo :unha, no seu depoimentoespont;neo ' :+ da +etro)ras, & um dos episódios mais veatórios dahistória do :ongresso e mais significativo desses tempos sem rumo. - avanço do crime organiado não se deu apenas na atividade parlamentar,mas tam)&m em outros territórios etra"institucionais, como a imprensa. 

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    - episódio queinaugurou essa nova fase foi a parceria entre a revista !e"a e a organiaçãocriminosa de :arlinhos :achoeira. 7ão era mais a imprensa se aliando a colarinhos )rancos sofisticados, agolpistas do mercado financeiro, a )anqueiros suspeitos, mas ' corrupçãochula de )icheiros e contraventores.:achoeira elegeu um senador, Demóstenes Torres. !e"a transformou"o em um cruado contra a corrupção, deu"lhe status decele)ridade no mercado de opinião. :om o poder conquistado, Demóstenesfaia os ogos de interesse de :achoeira e da %)ril >na mat&ria da (ea,foto ao lado, apenas Demóstenes & r&u, os demais são apenas coaduvantespara dei/"lo em )oa companhia@.

     

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    % :+1 de :achoeira poderia ser o in!cio da grande luta pol!tica contra ocrime organiado ao desvendar as ligações de :achoeira com a (ea e comempreiteiras " como a Delta ", que por sua ve mantinham ligações estreitascom o mundo pol!tico, a começar do então governador do Rio S&rgio :a)ral.

     % :+1 mostrou a especialiação que se formara no mercado de corrupção.- )icheiro prospectava contratos e licitações no setor p2)lico, pass!veis decorrupção, uma atuação que poderia começar nas discussões de proetos deleis e emendas orçament/rias e se desdo)rar por repartições p2)licasfederais e estaduais0 aliava"se a uma empresa parceira, que assumia a faselegal do proeto0 garantia a )lindagem com a parceria com a m!dia e com ospadrinhos pol!ticos. 

    7a s&rie A- caso de (eaA narro como essa parceria provocou o esc;ndalo1arinho que aliou dos :orreios o esquema Ro)erto *efferson para aentrada de parceiros de :achoeira " uma outra quadrilha, des)aratada doisanos depois pela +ol!cia Federal. - 1inist&rio +2)lico cochilou ao não avançar nas investigações a)ertas pela:+1 de :achoeira. Seria o ponto de partida para o in!cio da verdadeiraguerra contra a corrupção pol!tica mais visceral, aquela que envolve o crimeorganiado.

     % $ava *ato a)re uma nova possi)ilidade para se des)aratar esse modelo, aoidentificar seus desdo)ramentos regionais. 3 o 1+F ter/ que sair da onade conforto e enveredar por caminhos nunca dantes navegados# asinterseções do crime organiado com o pa!s institucionaliado, incluindo a! am!dia e o :ongresso. J nesse terreno pantanoso que a pessoa f!sica Dilma Rousseff precisaentrar, enfrentando um ogo suo, tomada por pruridos próprios das pessoasde )em, mas sem o senso pr/tico das pessoas de 3stado, untando os cacose retomando as redes da governa)ilidade. 3 a mãe de todas as )atalhas, opor assim dier caco"mor, & a recomposição da )ase pol!tica. Ato # - o início da reaç$o política 3m IH5H, Dilma tinha ' mão o maior conhecedor de :ongresso, o vicepresidente 1ichel Temer. Dilma esvaiou"o tanto que, tendo por alavancaapenas a atuação so)re comissões tem/ticas da :;mara, o notório 3duardo:unha logrou o controle do +1D?.

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     7a 4a feira foi anunciado o novo conselho pol!tico, desta ve enriquecidopor profissionais# 1ichel Temer, 3liseu +adilha, 3duardo ?raga, 9il)ertoKassa) e %ldo Re)ello, o mais diplom/tico de seus 1inistros, mantido %luiio

    1ercadante, o menos pol!tico de seus ministros. Foi tão r/pida a decisão que na 4a, por volta das 5L#MH, Kassa) ainda nãosa)ia do novo conselho. 3 +adilha foi avisado pelos ornais. Ser/ um tra)alho compleo, que audar/ a definir a nova )ase de apoio e,com ela, um novo 1inist&rio. - atual morreu de velhice pr&via. 7ão ser/ tarefa f/cil. :unha impõe um receio aos advers/rios que vai muito

    al&m do mero confronto pol!tico, como atesta a maneira cautelosa com que ovice presidente Temer refere"se a ele. 1as nenhuma estrat&gia pol!tica ser/ )em sucedida sem se construir umcen/rio econBmico rao/vel. +or isso mesmo, o segundo caco a ser untado &o econBmico. Ato % - recompondo o inc&ndio econ'mico

     

    %inda h/ muito fato negativo pela frente, os desdo)ramentos do pacotefiscal, o aumento do desemprego, da inflação. 1as o governo começa adespertar da in&rcia. - primeiro ato foi a su)stituição de 9raça Foster na presidncia da+etro)ras. % teimosia de Dilma atrasou por seis meses o auste e quasedeiou o gigante de oelhos. % entrada de %demir ?endine, com um planoclaro de reestruturação, deu in!cio ' volta ' normalidade. */ se tem umplano de ação pela frente, com a negociação com as agncias de rating e oscredores. - segundo ato " / na reta final " foi a montagem do grupo de )ancosp2)licos e privados para garantir a manutenção da rede de fornecedores da+etro)ras nessa fase mais cr!tica. - terceiro ato " em andamento " & o redesenho das concessões eminfraestrutura e o encaminhamento do +%: M. 7ão se pretende iniciar o)rasnovas, nem novos investimentos, dada a pen2ria fiscal, mas completar as queestão em andamento.

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     7o campo das concessões, o +laneamento / est/ tra)alhando com o setorprivado na definição dos proetos eecutivos, dentro da modalidade delicitar tam)&m o proeto. %s conversas estão indo )em, os primeiros

    resultados deverão aparecer em )reve e as primeiras licitações deverãoocorrer at& o final do ano. 3m geral, leva L meses entre o in!cio dos tra)alhos e a licitação na rua.=aver/ um interregno at& o final do ano e, depois, entrar/ em voo decrueiro. 3nquanto isto, haver/ um longo desafio pela frente de restaurar o ;nimosocial do pa!s.

     Ato 6 - a dura reconquista da confiança

     J forçar a )arra ulgar que as reações contra Dilma e o +T seam merasmanifestações das classes % e ?. +ode ser uma visão paulistana ou carioca,mas o ódio contra o +T e contra Dilma desceu na escala social. 9il)erto :arvalho / alertara, antes mesmo das eleições, so)re aprofundidade da resistncia contra am)os.

     Ser/ necess/rio um penoso processo de reconstrução da credi)ilidadeperdida, algo que passa pela retomada do crescimento >que dificilmenteocorrer/ antes de dois anos@, pela definição de um programa de governo quepossa mostrar a retomada do futuro, mesmo que em algum ponto distante,pela revitaliação dos programas sociais, pela retomada de pol!ticasindustriais eficientes. - governo tem todas armas ' mão. -s 2ltimos anos geraram um enormeestoque de ideias centrais em diversas /reas, no desenvolvimento regional,nas pol!ticas sociais, nos componentes de pol!ticas industriais modernas, nosmodelos de parceria universidade"empresas, nos próimos passos daspol!ticas educacionais. 1as h/ um pro)lema cr!tico de comunicação interna no governo. Dilma não tem a menor ideia so)re os estudos / desenvolvidos, as ideias"chave / gestadas, para poder tecer as amarras de um plano integrado degoverno.

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     %inda h/ tempo de faer o que deveria ter feito no dia seguinte 's eleições#um enorme )rainstorm untando todas as /reas do governo, com assessoriade )ons gestores e )ons analistas pol!ticos, visando renascer das cinas as

    ideias centrais so)re o que poder/ ser o segundo governo Dilma. +ara não ter o mesmo destino do segundo governo F=:, que se arrastou semnada produir at& o fim do mandato. 3 não havia tanto ódio no ar quantoagora. 

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