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A crise estrutural da política por István Mészáros [*] 1. Sintomas de uma crise fundamental Gostaria de começar com um breve exame dos desenvolvimen tos muito inquietantes — na verdade deveria dizer ameaçadores, à escala mundial — no campo da política e do direito.  A este respe ito pretendo s ublinhar que há cerca de 23 anos tive conhecimento pessoal na Paraíba, Brasil, das penosas consequências dos tumultos explosivos por alimentos. Vinte e três anos depois, no tempo da campanha eleitoral do presidente Lula, li que ele anunciara como parte mais importante da sua futura estratégia a determinação em acabar com o grave problema social da fome no país. As duas décadas decorridas desde o tempo daqueles dramáticos tumultos por alimentos na Paraíba não foram obviamente suficientes para resolver este problema crónico. E mesmo hoje, disseram-me, as melhorias no Brasil ainda são muito modestas.  Além disso, as s ombrias estatí sticas das Naçõ es Unidas sublinham constantemen te a persistência do mesmo problema, com consequência s devastadoras, em muitas partes do mundo. Isto é assim apesar do facto de as capacidade s produtivas hoje à disposição da humanidade permitirem relegar para todo o sempre no passado o agora totalmente indesculpável fracasso social da fome e da desnutrição. Pode ser tentador atribuir estas dificuldades, como acontece frequentemente no discurso político tradicional, a contingências políticas corrigíveis de forma mais ou menos fácil, postulando assim como remédio mudanças de pessoas nas oportunidades eleitorais seguintes e estritamente dentro da ordem. Mas isto seria a evasão do costume e não uma explicação plausível. Pois a teimosa  persistência dos problemas em causa, com todas as suas penosas consequências humanas, aponta para conexões enraizadas muito mais profundamente. Elas indicam alguma força aparentemente

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A crise estrutural da política

por István Mészáros [*] 1. Sintomas de uma crise

fundamental

Gostaria de começar com um breveexame dos desenvolvimentos muitoinquietantes — na verdade deveriadizer ameaçadores, à escala mundial— no campo da política e do direito.

 A este respeito pretendo sublinhar que há cerca de 23 anos tiveconhecimento pessoal na Paraíba,

Brasil, das penosas consequênciasdos tumultos explosivos por alimentos. Vinte e três anos depois,no tempo da campanha eleitoral do presidente Lula, li que eleanunciara como parte mais importante da sua futura estratégia adeterminação em acabar com o grave problema social da fome nopaís. As duas décadas decorridas desde o tempo daquelesdramáticos tumultos por alimentos na Paraíba não foram obviamentesuficientes para resolver este problema crónico. E mesmo hoje,disseram-me, as melhorias no Brasil ainda são muito modestas.

 Além disso, as sombrias estatísticas das Nações Unidas sublinhamconstantemente a persistência do mesmo problema, comconsequências devastadoras, em muitas partes do mundo. Isto éassim apesar do facto de as capacidades produtivas hoje àdisposição da humanidade permitirem relegar para todo o sempre nopassado o agora totalmente indesculpável fracasso social da fome eda desnutrição.

Pode ser tentador atribuir estas dificuldades, como acontecefrequentemente no discurso político tradicional, a contingênciaspolíticas corrigíveis de forma mais ou menos fácil, postulando assimcomo remédio mudanças de pessoas nas oportunidades eleitoraisseguintes e estritamente dentro da ordem. Mas isto seria a evasãodo costume e não uma explicação plausível. Pois a teimosa

 persistência dos problemas em causa, com todas as suas penosasconsequências humanas, aponta para conexões enraizadas muitomais profundamente. Elas indicam alguma força aparentemente

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incontrolável de inércia que parece ser capaz de transformar, comfrequência deprimente, mesmo as "boas intenções" de manifestospolíticos prometedores em pedras para pavimentar a estrada para oinferno, nas palavras imortais de Dante. Por outras palavras, odesafio é enfrentar as causas e determinações estruturais

subjacentes as quais, pela força da inércia, tendem a descarrilar muitos programas políticos concebidos para a intervenção correctiva.

 A descarrilá-los até mesmo quando na origem os autores de taisprogramas admitem que o estado de coisas existente éinsustentável.

Vamos considerar uns poucos exemplos gritantes que demonstramclaramente não só que há alguma coisa a afectar perigosamente omodo como regulamos nossos intercâmbios sociais como, ainda pior,que a tendência observável é de intensificação dos perigos emdirecção ao ponto de não retorno.

Escrevi seis anos atrás, para uma palestra pública feita em Atenasem Outubro de 1999, que "Com toda a probabilidade, a forma finalde ameaçar o adversário no futuro — a nova "diplomacia dacanhoneira", exercida a partir do "ar patenteado" — será achantagem nuclear. Mas o seu objectivo seria análogo àquele dopassado, ao passo que a modalidade contemplada só poderiasublinhar a indefensabilidade de tentar impor deste modo a

racionalidade extrema do capital sobre as partes recalcitrantes domundo". Nestes seis anos tais práticas potencialmente letais de fazer política, do imperialismo hegemónico global, tornaram-se não só umapossibilidade geral como também uma parte integral da "concepçãoestratégica" neoconservadora admitida abertamente pelo governodos EUA. E a situação hoje ainda é pior. Nas últimas poucassemanas, em relação ao Irão, entrámos na etapa do planeamentoreal de uma rota de acção que poderia ameaçar não só aquele paíscomo toda a humanidade com um desastre nuclear. [2] A habitualartimanha cínica utilizada ao publicitar tais ameaças é "nem

confirmá-las nem desmenti-las". Mas ninguém pode ser enganadopor tal espécie de truque. De facto, foi este perigo muito real dedesastre nuclear, recentemente materializado, que induziu um grupode prestigiosos físicos americanos, dentre eles cinco Prémio Nobel, aescrever uma carta aberta de protesto ao presidente Bush na qualdeclaram: "É gravemente irresponsável para os EUA, como a maior superpotência, considerar rotas de acção que pudessem acabar por 

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conduzir à destruição generalizada da vida sobre o planeta. Urgimosa administração a anunciar publicamente que está a retirar da mesaa opção nuclear no caso de todos os adversários não nucleares,presentes ou futuros, e urgimos o povo americano a fazer ouvir suavoz sobre esta matéria". [3] 

Estarão as legítimas instituições políticas das nossas sociedades emposição de rectificar as situações mais perigosas através daintervenção democrática no processo real de tomada de decisão, talcomo o discurso político tradicional continua a reassegurar-nos,apesar de toda a evidência em contrário? Somente os maisoptimistas — ou um tanto ingénuos — poderiam asseverar eacreditar sinceramente que tal estado de coisas feliz se verifica. Poisas principais potências ocidentais neste últimos poucos anosembarcaram, de forma bastante desimpedida, em guerrasdevastadoras utilizando dispositivos autoritários — como a"prerrogativa executiva" e a "Prerrogativa Real" — sem consultaremseus povos sobre matérias tão graves, e varrendo brutalmente parao lado a estrutura do direito internacional e os órgãos apropriadospara a tomada de decisões das Nações Unidas. [4] Os EstadosUnidos arrogaram-se o direito moral de actuar como lhes agrade,sempre que lhes agrade, mesmo ao ponto de utilizar armasnucleares — não só antecipativamente (preemptively) como atémesmo preventivamente (preventively) — contra todos os países que

quiserem, todas as vezes que os seus afirmados "interessesestratégicos" assim o ditarem. E tudo isto é feito pelos EstadosUnidos como pretenso campeão e guardião da "democracia eliberdade", submissamente seguida e apoiada nas suas acçõesilegais pelas nossas "grandes democracias".

Em outros tempos o acrónimo MAD — mutually assured destruction,destruição mutuamente assegurada — era utilizado para descrever oestado existente da confrontação nuclear. Agora que os"neoconservadores" não podem mais pretender estarem os Estados

Unidos (e o Ocidente em geral) ameaçados pela aniquilação nuclear,o acrónimo tornou-se a loucura (madness) literal, como a "orientaçãopolítica legítima" da insanidade militar/política institucionalizada. Istoem parte é consequência do desapontamento neoconservador acerca da guerra do Iraque. Pois "os neo-cons americanos tiveram aesperança de que a invasão do Iraque poria em andamento umefeito dominó através da região, com o povo do Irão e de outros

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estados ricos em petróleo a levantarem-se para exigir liberdades deestilo ocidental e democracia. Infelizmente a verdade foi o reverso,pelo menos no Irão". [5] Mas é muito pior do que isto, porque todoum sistema de "pensamento estratégico" institucionalmentearraigado e assegurado, centrado no próprio Pentágono, espreita por 

trás disto. É isto o que torna a nova LOUCURA (MADNESS) tãoperigosa para todo o mundo, incluindo os Estados Unidos cujospiores inimigos são precisamente tais "pensadores estratégicos".

Podemos verificar isto de forma muito clara no livro de 2004 deThomas P. M. Barnett, The Pentagon's New Map, revisto na Monthly Review por Richard Peet. Citando Peet:

O 11 de Setembro de 2001 foi uma prenda admirável, dizBarnett, tão retorcido e cruel quanto isto possa soar. Foium convite da história para os Estados Unidosdespertarem do sonho da década de 1990 e forçaremnovas regras sobre o mundo. O inimigo não é nem areligião (Islão), nem lugares, mas a condição dedesligamento (disconnectedness). Estar desligado nestemundo é estar isolado, privado, reprimido e nãoeducado. Para Barnett estes sintomas de desligamentodefinem perigo. Dizendo simplesmente, se um paísestiver a perder para a globalização, ou a rejeitar muitodos seus fluxos de conteúdo cultural, as probabilidadessão que os Estados Unidos acabem por enviar tropaspara ali... A visão estratégica nos Estados Unidosnecessita focar o "número crescente de estados quereconhecem um conjunto de regras estáveis respeitantesà guerra e à paz" — o que é a condição sob a qual érazoável travar guerra contra inimigos identificáveis da"nossa ordem colectiva". Expandir esta comunidade éuma simples questão de identificar a diferença entre osbons e os maus regimes e encorajar os maus a modificar 

os seus modos. Os Estados Unidos, pensa, têm aresponsabilidade de usar o seu tremendo poder paratornar a globalização verdadeiramente global. De outromodo porções da humanidade estarão condenadas a umestatuto de marginalidade que eventualmente as definirácomo inimigas. E após os Estados Unidos teremdesignado estes inimigos, invariavelmente travará a

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guerra com eles, desencadeando morte e destruição.Isto não é uma assimilação forçada, defende Barnett,nem a extensão do império; ao invés, isto é a expansãoda liberdade. [6] (ênfase adicionada)

Evidentemente, esta "visão" raia a insanidade. As suas implicaçõesbrutais estão explicitadas numa entrevista dada por Barnett à revistaEsquire: "O que significa esta nova abordagem para este país e parao mundo a longo prazo? Deixe-me ser muito claro em relação a isto:os rapazes nunca mais virão para casa. A América não sairá doMédio Oriente até que este se junte ao mundo. É tão simples comoisto. Sem saída quer dizer sem estratégia de saída". [7] 

Na verdade, seria difícil apresentar as coisas de forma mais clara do

que Barnett nesta entrevista e no seu livro. Desta forma podemosobservar a idealização gratuita das presunções absurdas do"tremendo poder" dos EUA e a correspondente projecção da"globalização" como sendo a dominação nua da América,reconhecendo abertamente que os seus meios são " morte edestruição ". E se alguém pensasse que Barnett é um escrevinhador inconsequente, ficaria bastante alarmado com os factos. Pois Barnettfoi um investigador estratégico sénior no U.S. Naval War College emNewport, Rhodes Island, e um "homem de visão" no Office of ForceTransformation ligado ao secretário da Defesa. Além disso, ele éapresentado com toda a seriedade como um "homem de visão" a ser ouvido e a ser seguido.

Infelizmente, os mais altos escalões do "pensamento estratégico"nos Estados Unidos estão povoados por tais "homens de visão", queestão determinados a adicionar os seus maciços blocos depavimento não de boas mas de muito más e agressivas intenções naestrada do inferno de Dante. Pois o grande poeta italiano nuncasugeriu que a estrada para o inferno de que falava fosse

pavimentada exclusivamente por boas intenções. Segundo umdestes perigosos "homens de visão", Max Boot – que é membrosénior no prestigiado Council on Foreign Relations – "Qualquer nação empenhada em policiamento imperial deverá sofrer algunsrevezes. O exército britânico, durante as pequenas guerras daRainha Vitória, sofreu enormes derrotas com milhares de baixas naPrimeira Guerra Afegã (1824) e na Guerra Zulu (1879). Isto nãorefreou apreciavelmente a determinação britânica de defender e

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expandir o império; tornou-os antes sedentos de vingança. Se osamericanos não podem adoptar uma atitude igualmente cruel, entãonão podem assumir o policiamento imperial". [8] 

Neste tipo de "visão estratégica" agressiva é-nos oferecida a

idealização aberta da construção do Império Britânico, incluindo osseus aspectos mais brutais. Cinicamente, em nome da "difusão dademocracia e da liberdade", a adopção irrestrita da passada violênciacolonial é recomendada como o modelo para a actual construção doimpério americano.

O que torna tudo isto particularmente perturbante é o facto derelativamente a todos os assuntos de grande importância – algunsdos quais podem resultar na destruição da humanidade –encontramos nos mais altos níveis de tomada de decisão política nosEUA um consenso absolutamente perverso. Isto é verdadeiro apesar dos rituais periódicos das eleições para a presidência assim comopara o Congresso, onde é suposto oferecerem-se alternativas reais.Contudo, as diferenças afirmadas em tais assuntos vitais são, emregra, apenas pretensas diferenças. Como comentei em Dezembrode 2002, muito antes da invasão do Iraque, "O presidente democrataClinton adoptou as mesmas políticas que o seu sucessor, ainda quede forma mais camuflada. Relativamente ao candidato presidencialdemocrata, Al Gore, ele declarou recentemente que apoiou sem

reservas a guerra planeada contra o Iraque porque tal guerra nãosignificava uma "mudança de regime" mas apenas "o desarmamentode um regime que possuía armas de destruição em massa". [9] Alémdisso, não devemos esquecer que o primeiro presidente americano abombardear o Afeganistão foi nem mais nem menos que o muitasvezes ridiculamente idealizado Bill Clinton. É portanto longe desurpreendente que o sucessor de Al Gore como candidatopresidencial democrata, o senador John Kerry, se apressasse adeclarar na última corrida presidencial, ecoando as palavras do seuoponente republicano George W. Bush, que "os americanos

divergem sobre o se e o como devíamos ter ido para a guerra. Masseria impensável agora para nós se nos retirássemos em desordeme deixando para trás uma sociedade mergulhada em disputa edominada por radicais". É compreensível, portanto, que o célebreescritor e crítico americano, Gore Vidal, tenha descrito a política dosEUA, com ironia amarga, como um sistema unipartidário com duasalas de direita.

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Desafortunadamente, os EUA não são de forma alguma o único paísque deveria ser caracterizado nestes termos. Há muitos outros ondeas funções de tomada de decisão política são monopolizadas por acordos institucionais consensuais auto-legitimadores muito

similares, com desprezível diferença (se alguma) entre eles, nãoobstante a mudança ocasional do pessoal ao nível do topo. Confinar-me-ei a este respeito à discussão de um caso proeminente, o ReinoUnido (ou Grã-Bretanha). Este país em particular – tradicionalmenteauto-promovendo-se como o país "mãe da democracia" por conta dahistórica Magna Carta – sob a liderança de Tony Blair se habilita àmesma distinção dúbia de "um sistema unipartidário com duas alasde direita", tal como o poderoso Estado norte-americano. A guerra doIraque foi carimbada no Parlamento Britânico quer pelo PartidoConservador quer pelo "New Labor", com a ajuda de mais ou menosóbvias manipulações e violações legais. Embora possamos agora ler que "Transcrições de provas apresentadas em privado peloProcurador-geral, Lord Goldsmith, num inquérito oficial sugerem queo conselho crucial quanto à legalidade da guerra, apresentado aoparlamento em seu nome, foi escrito para ele por dois dos aliadosmais próximos de Tony Blair … O anterior ministro das RelaçõesExteriores Robin Cook afirmou na noite passada que tendo-sedemitido no dia anterior ao início da guerra, nunca ouviu LordGoldsmith apresentar o processo legal no Conselho de Ministros. "Eu

agora penso que ele nunca escreveu uma segunda opinião formal",afirmou ao The Guardian. " [10] Naturalmente, a subsequenteexposição pública e condenação de tais práticas por eminentesperitos legais, relativamente à "guerra ilegal de Bush e Blair", não fazqualquer diferença. [11] Pois os interesses encapotados doimperialismo hegemónico global – servidos sem hesitação e deforma vergonhosa pelo sistema político consensual de uma antigagrande potência imperialista – devem prevalecer a todo o custo.

 As consequências desta forma de regular os intercâmbios políticos e

sociais são de longo alcance. De facto, elas podem ter implicaçõesdevastadoras para as alegadas credenciais democráticas de todo osistema legal. Três casos importantes devem bastar para ilustrar oponto.

O primeiro diz respeito ao alarme criado por um escritor famoso,John Mortimer, que no passado foi um apoiante apaixonado do

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Partido Trabalhista Britânico, e não é de forma alguma uma figurasocialmente radical. Contudo, à luz de desenvolvimentos políticos elegais recentes, e em particular devido à abolição do habeas corpus,salvaguarda legal crucialmente importante, ele sentiu a necessidadede protestar com igual paixão, escrevendo num artigo de jornal que

"agora que o facto horrendo emergiu aquela ideia de 'modernização'do New Labour é forçar-nos a um período anterior à Magna Carta e àBill of Rights, dias negros quando não havíamos chegado àpresunção de inocência… Tony Blair parece ser a favor decondenações sumárias repartidas pela polícia sem a necessidade dequalquer julgamento num grande número de casos. Portantodescartaram-se séculos da constituição na qual temos tanto orgulho".[12] 

O segundo caso mostra como o governo britânico responde à críticasevera mesmo vinda dos mais altos órgãos judiciários: através darejeição autoritária . Como foi tornado claro recentemente: "Um juizde um alto tribunal qualificou ontem o sistema governamental decontrolo de ordens contra suspeitos de terrorismo com 'uma afrontaà justiça' e sentenciou que violava as leis dos direitos humanos… OHome Office rejeitou a sentença do tribunal ". [13] 

Relativamente ao terceiro caso, indica uma questão de grandeimportância legislativa: a autoridade do próprio Parlamento,

ameaçada pela "Reform Bill" do governo New Labour. Para citar John Pilger: "A Lei de Reforma Legislativa e Regulamentar já passoua sua segunda audiência parlamentar sem [despertar o] interesse damaioria dos deputados trabalhistas e dos jornalistas que cobremaquela casa; contudo o seu objectivo é absolutamente totalitário …Significará que o governo poderá secretamente alterar o Parliament

 Act, e a constituição e as leis poderão ser revogadas por decreto daDowning Street. A nova lei marca o fim da verdadeira democraciaparlamentar: nos seus efeitos, é tão significativa quanto o abandonoda Bill of Rights pelo Congresso dos EUA no ano passado ". [14] 

Porém a manipulação e a violação das leis internas e internacionais,para justificar o injustificável, acarreta perigos consideráveis até paraas condições constitucionais mais elementares. As mudançasnegativas – a remoção do escrutínio legal vital e das salvaguardasdo quadro político e legal dos seus "aliados" – não podem ser confinadas ao contexto (imposto pelos EUA) internacional. Elas

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tendem a por em causa a constitucionalidade em geral, comconsequências incontroláveis para a operacionalidade do sistemalegal interno dos "aliados voluntários", subvertendo as suas tradiçõespolíticas e legais. A arbitrariedade e o autoritarismo podem levar àloucura como resultado de tais mudanças altamente irresponsáveis

que não hesitam em arruinar até mesmo a constituição estabelecida.

Um debate actual no Japão oferece um caso gritante:

Surgiu uma situação grave na qual as forças políticas afavor da revisão constitucional adversa estão realmentea competir entre si na redacção de uma novaconstituição. A "minuta de uma nova Constituição" doLDP (o há muito governante Partido Democrático Liberal)… eliminou o segundo parágrafo do Artigo 9º daConstituição e adicionou uma cláusula autorizando oJapão a "manter a auto-defesa militar" paradesempenhar "actividades coordenadasinternacionalmente para assegurar a paz e a segurançada comunidade internacional," abrindo portanto caminhoao Japão para a utilização da força no estrangeiro.Também contém uma cláusula para restringir direitoshumanos fundamentais em nome do "interesse e daordem públicas" o que leva à negação doconstitucionalismo. Além disso, é também grave que aminuta de Constituição do LDP facilite a possibilidade demais alterações adversas à Constituição aligeirando orequisito para o início do processo de revisão pelo Dietapassando de dois terços da maioria presente paraapenas a maioria de todos os membros de cada câmara.

O objectivo imediato de tais mudanças é, obviamente, tornar o povo japonês o alimento "voluntário" para os canhões na guerra quedecorre actualmente e nas futuras guerras do imperialismo

americano. Mas pode alguém oferecer seguranças e garantias –ignorando a evidência dolorosa das aventuras imperialistas japonesas no passado, em conjunto com a sua muito repressivahistória interna – de que a longo prazo não haverá consequênciashumanas horrendas resultantes destas mudanças?

Entretanto tantos problemas sérios gritam por soluções genuínas, asquais poderiam muito bem estar ao nosso alcance. Alguns deles

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têm-nos acompanhado ao longo de várias décadas, impondo terrívelsofrimento e sacrifícios a milhões de pessoas. A Colômbia é umexemplo actual. Durante quarenta anos as forças de opressão –interna e externa, dominadas pelos EUA – tentaram sufocar a luta dopovo colombiano, sem êxito. Tentativas de se chegar a um acordo

negociado – "com a participação de todos os grupos sociais, semexcepção, de forma a reconciliar a família colombiana", nas palavrasde Manuel Marulanda Velez, o líder das FARC-EP – foramsistematicamente frustradas. [16] Como escreveu Velez numa cartaaberta dirigida recentemente a um candidato presidencial: "Nenhumgoverno, liberal ou conservador, produziu uma solução política eficazpara o conflito armado e social. As negociações foram usadas parase atingir o objectivo de não alterar coisa alguma, para que tudopermanecesse igual. Todos os esquemas políticos dos governosutilizaram a Constituição e as leis como uma barreira, para seassegurarem de que tudo se mantinha da mesma forma que antes".[17] 

 Assim, quando os interesses sociais dominantes o ditam, a"constitucionalidade" e as regras do "consenso democrático" sãousadas na Colômbia (e em qualquer parte) como instrumentoscínicos para a fuga e o adiamento eterno da solução mesmo dosassuntos mais candentes, independentemente da enormidade daescala de sofrimento imposto, como resultado, ao povo. E, da

mesma forma, num contexto social diferente mas sob o mesmo tipode determinações estruturais profundamente enraizadas, até as maisflagrantes e abertamente admitidas violações da constitucionalidadeestabelecida são ignoradas, apesar do ritual periódico do falso elogiodevido à necessidade de respeitar os requisitos constitucionais.Neste sentido, quando o Comité do Congresso que investigava o"Irangate Contra Affairs" concluiu que a administração Reagan eraresponsável pela " subversão da Lei e o enfraquecimento daConstituição ", absolutamente nada aconteceu para condenar,quanto mais remover do cargo, o presidente culpado. E ainda num

outro tipo de caso – como vimos na determinação para subverter aConstituição japonesa por parte do partido governante LDP – quandoas cláusulas da constituição originais aparecem como obstáculos aoembarque em novas aventuras militares perigosas, os interessesdominantes políticos e sociais do país impõem um novo quadro legalcuja função principal é liquidar as anteriormente proclamadasgarantias democráticas e transformar aquilo que anteriormente era

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decretado como ilegal em "legalidade constitucional" arbitrariamenteinstitucionalizada. Tão pouco deveríamos esquecer o que temacontecido num sentido muito adverso, e na sua tendênciaperigosamente autoritária, à constitucionalidade britânica eamericana durante estes últimos anos.

Como indiquei no início, não podemos atribuir os problemas crónicosdos nossos intercâmbios sociais a mais ou menos facilmentecorrigíveis contingências políticas. Está demasiado em jogo, e temoshistoricamente um tempo limitado à nossa disposição para remediar,de uma forma socialmente sustentável, os muitos sofrimentos óbviosdas classes sociais estruturalmente subordinadas. A questão do

 porquê? – relativamente a problemas substantivos, e nãosimplesmente os insucessos pessoais contingentes, mesmo quandosão sérios, como são os muitas vezes destacados exemplos decorrupção política generalizada – não pode ser evitadaindefinidamente. É necessário investigar as causas sociais e asdeterminações estruturais nas raízes das perturbadoras tendênciasnegativas na política e na lei; de forma a se poder explicar a suateimosa persistência e o seu agravamento actual. O problema doporquê é o que pretendo agora analisar.

2. A natureza da crise estrutural do capital

 A este respeito é necessário clarificar as diferenças relevantes entretipos ou modalidades de crise. Não é uma questão indiferente seuma crise na esfera social pode ser considerada uma crise

 periódica / conjuntural ou alguma coisa muito mais fundamental queisso. Pois, obviamente, a forma de lidar com uma crise fundamentalnão pode ser conceptualizada em termos de categorias de criseperiódica ou conjuntural.

Para antecipar um ponto principal desta palestra, na medida do queà política diz respeito a diferença crucial entre os dois tipos

nitidamente contrastantes de crise em questão é o facto de que umacrise periódica ou conjuntural evolui e é mais ou menos resolvidacom êxito num determinado enquadramento político, enquanto que acrise fundamental afecta aquele enquadramento em si mesmo nasua totalidade. Por outras palavras, relativamente a um determinadosistema sócio-económico e político estamos a falar acerca dadiferença vital entre as mais ou menos frequentes crises na política,

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por oposição às crises da própria modalidade de políticaestabelecida, com requisitos qualitativamente diferentes para a suapossível solução. É com estas últimas que estamos hojepreocupados.

Em termos gerais, esta distinção não é simplesmente uma questãoda aparente severidade dos tipos de crise contrastantes. Pois umacrise periódica ou conjuntural pode ser dramaticamente severa –como a "Grande Crise Económica Mundial de 1929-1933" acaboupor ser – e contudo ser capaz de uma solução dentro dosparâmetros de um determinado sistema. Interpretar incorrectamentea severidade de uma determinada crise conjuntural como se elafosse uma crise sistémica fundamental, como Estaline e os seusconselheiros fizeram a meio da "Grande Crise Económica Mundial de1929-1933", está condenado a levar a estratégias erradas e naverdade voluntaristas, como declarar a social-democracia comosendo a "principal inimiga" no início dos anos 30, o que apenaspoderia reforçar, como de facto tragicamente aconteceu, as forças deHitler. E do mesmo modo, mas no sentido oposto, o carácter "nãoexplosivo" de uma crise estrutural prolongada, em contraste com as"tempestades de trovões" (Marx) através das quais crises periódicasde conjuntura podem descarregar-se resolverem-se, pode tambémconduzir a estratégias fundamentalmente mal concebidas, comoresultado da má interpretação da ausência de "trovões" como se a

sua ausência fosse a prova esmagadora de uma estabilidadeindefinida do "capitalismo organizado" e da "integração da classetrabalhadora". Este tipo de má interpretação, altamente promovidapelos interesses ideológicos dominantes sob a capa de"objectividade científica", tende a reforçar a posição daqueles querepresentam a aceitação auto-justificante de abordagens reformistasacomodatícias nos institucionalizados – anteriormente genuinamentede oposição – partidos e sindicatos da classe trabalhadora (agora,contudo, "Oposição Oficial a Sua Majestade," como diz o ditado).Mas até entre os críticos comprometidos do sistema capitalista mais

profundamente, a mesma má interpretação relativamente àperspectiva indefinidamente livre de crise da ordem estabelecidapode resultar na adopção de uma postura defensiva auto-

 paralisante, como testemunhámos no movimento socialista nasúltimas décadas.

Não pode ser suficientemente sublinhado que a crise da política no

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nosso tempo não é inteligível sem ser referida ao enquadramentosocial mais vasto do qual a política é parte integrante. Isto quer dizer que para se poder clarificar a natureza da crise persistente e emaprofundamento da política no mundo hoje devemos focar a nossaatenção na crise do próprio sistema capitalista. Pois a crise do capital

que estamos a experimentar – pelo menos desde o início da décadade 1970 – é uma crise estrutural universal. [18] 

Vejamos, resumidas de forma tão breve quanto possível, ascaracterísticas definidoras da crise estrutural com a qual nospreocupamos.

 A novidade histórica da crise actual é manifestadaatravés de quatro aspectos principais:

(1) o seu carácter é universal, em vez de restrito auma esfera particular (por exemplo, financeira, comercial,ou afectando apenas este ou aquele ramo específico daprodução, ou que se aplica a este em vez daquele outrotipo de trabalho, com o seu alcance específico dehabilidades ou graus de produtividade, etc);

(2) o seu âmbito é verdadeiramente global (nosentido literal mais ameaçador do termo), em vez deconfinado a um conjunto particular de países (comoforam todas as grandes crises ocorridas no passado);

(3) a sua escala temporal é prolongada, contínua – sepreferirem: permanente – ao invés de limitada e cíclica,como acabaram por ser todas as anteriores crises docapital.

(4) o seu modo de evolução pode ser chamado derastejante – em contraste com as mais espectaculares edramáticas erupções e colapsos do passado – enquanto

se soma à condição de que mesmo as convulsões maisveementes ou violentas não podem ser excluídasrelativamente ao futuro; quer dizer, quando a complexamaquinaria agora activamente empenhada na "gestão dacrise" e no mais ou menos temporário "deslocamento"das contradições em crescimento ficar sem vapor…

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[Aqui] é necessário fazer algumas observações geraisacerca do critério de uma crise estrutural, assim comoacerca das formas como a sua solução pode ser encarada.

Colocando isto em termos mais simples e muito gerais,uma crise estrutural afecta a totalidade de um complexosocial, em todas as suas relações com as suas partesconstituintes ou sub-complexos, assim como com outrascomplexos com os quais está ligado. Em contraposição,uma crise não-estrutural afecta apenas algumas partesdo complexo em questão, e portanto não importa quãosevera possa ser relativamente às partes afectadas, nãopode colocar em perigo a sobrevivência continuada daestrutura global.

Consequentemente, o deslocamento das contradições éfactível apenas enquanto a crise é parcial, relativa einternamente controlável pelo sistema, exigindo não maisdo que mudanças – ainda que significativas – dentro dopróprio sistema relativamente autónomo. Do mesmomodo, uma crise estrutural põe em causa a própriaexistência do respectivo complexo global, postulando asua transcendência e substituição por algum complexoalternativo.

O mesmo contraste pode ser expresso em termos doslimites que qualquer complexo social particular possa ter nas suas proximidades, em qualquer tempo dado,quando comparados com aqueles para além dos quaisconcebivelmente não pode ir. Assim, a crise estruturalnão está preocupada com os limites imediatos mas simcom os derradeiros limites de uma estrutura global….

[19]  Assim, num sentido razoavelmente óbvio nada pode ser mais sérioque a crise estrutural do modo social de reprodução metabólica docapital o qual define os derradeiros limites da ordem estabelecida.Mas apesar de profundamente sério em todos os seus importantesparâmetros gerais, à sua superfície a crise estrutural pode não

 parecer ser de uma importância tão decisiva quando comparada com

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as dramáticas vicissitudes de uma grande crise conjuntural. Pois os"trovões" através das quais as crises conjunturais se descarregamsão especialmente paradoxais no sentido de que no seu modo dedesdobramento elas não só se descarregam (e impõem) mastambém se resolvem a si próprios, até ao ponto em que isso é

possível tendo em conta as circunstâncias. Eles podem fazer istoprecisamente devido ao seu carácter  parcial que não põe emquestão os limites derradeiros da estrutura global estabelecida. Aomesmo tempo, todavia, e pela mesma razão, eles apenas podem "solucionar " os problemas estruturais subjacentes profundamenteenraizados – os quais necessariamente se reafirmam reiteradamentena forma de crises conjunturais específicas – de uma formaestritamente parcial e também temporalmente bastante limitada. Istoé, até que a crise conjuntural seguinte surja no horizonte dasociedade.

Em contraste, tendo em conta a inevitavelmente complexa e prolongada natureza da crise estrutural, a desdobrar-se em tempohistórico num sentido de época e não episódico/instantâneo, é ainter-relação cumulativa do todo que decide a questão, ainda quesob a falsa aparência de " normalidade ". Isto porque na criseestrutural tudo está em jogo, envolvendo os limites derradeirosuniversais de uma dada ordem da qual não pode possivelmentehaver uma ocorrência "simbólica/paradigmática" específica. Sem se

compreender as conexões sistémicas globais e as implicações doseventos específicos e os seus desenvolvimentos perdemos de vistaas mudanças realmente significativas e as correspondentesalavancas de potencial intervenção estratégica para afectá-laspositivamente, no interesse da necessária transformação sistémica.

 A nossa responsabilidade social consequentemente requer umaconsciência crítica intransigente da inter-relação cumulativaemergente, ao invés de procurar garantias reconfortantes no mundoda normalidade ilusória até a casa desabar sobre as nossascabeças.

Dada a crise estrutural do capital no nosso tempo, seria um milagreabsoluto se essa crise não se manifestasse – e de facto num sentidoprofundo e amplamente abrangente – no domínio da política. Pois apolítica, em conjunto com o seu enquadramento legalcorrespondente, ocupa uma posição vitalmente importante nosistema do capital. Isto deve-se ao facto de o estado moderno ser a

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estrutura de comando político totalizadora do capital, exigida(enquanto a ordem reprodutiva agora estabelecida sobreviver) deforma a introduzir algum tipo de coesão (ou uma unidade defuncionamento eficaz) – mesmo numa bastante problemática eperiodicamente avariada – dentro da multiplicidade de constituintes

centrífugos (o "microcosmos" produtivo e distributivo) do sistema docapital.

Esta espécie de coesão só pode ser instável porque depende dasempre predominante, mas pela sua própria natureza mutável,relação de forças. Uma vez rompida essa relação de forças, ela temde ser reconstruída de alguma maneira, para corresponder à novarelação de forças. Quer dizer, até que seja rompida novamente. Eisto repete-se vezes sem conta, como algo rotineiro tido comogarantida. Esta espécie de dinâmica problematicamente auto-renovadora aplica-se tanto internamente, entre as forças dominantesde países específicos, e internacionalmente, exigindo reajustamentosperiódicos de acordo com as relações de forças cambiantes entre amultiplicidade de estados na ordem global do capital. Foi assim que ocapital dos EUA pôde adquirir o seu domínio global durante o séculoXX, em parte através da dinâmica interna do seu própriodesenvolvimento, e em parte através da imposição progressiva dasua superioridade imperialista sobre as enormemente enfraquecidospotências imperialistas anteriores – sobretudo a Grã-Bretanha e a

França – durante e após a Segunda Guerra Mundial. A grande questão a este respeito é: por quanto tempo pode este tipode quebra e de reconstrução da coesão em funcionamento dosistema dado ser executado sem activar a crise estrutural do capital?O reajustamento forçado da relação de forças inter-estatal nãoparece constituir um limite derradeiro a este respeito. Afinal decontas, devemos lembrar-nos que a humanidade teve que, e fê-lo,suportar os horrores de duas Guerras Mundiais sem pôr em questãoa adequação do capital para permanecer como o controlador 

sistémico da nossa reprodução social metabólica. Isto poderia não sóser considerado compreensível mas, pior que isso, tambémaceitável, pois sempre fez parte da normalidade do capitaldeterminar que "deve haver guerra se o adversário não puder ser subjugado de nenhuma outra forma". Contudo, o problema é queeste tipo de "raciocínio" – que nunca foi mais "racional" que aafirmação categórica de que "o mais forte prevalece, sejam quais

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forem as consequências" – é agora totalmente absurdo. Pois umaTerceira Guerra Mundial não poderia parar no ponto de apenassubjugar o adversário denunciado. Ela destruiria a totalidade dahumanidade. Quando Albert Einstein foi questionado sobre a espéciede armas com que seria combatida a Terceira Guerra Mundial, a sua

resposta foi de que não poderia dizer isso, mas ele poderia garantir absolutamente que todas as guerras subsequentes seriamcombatidas com machados de pedra.

O papel da política na reconstituição da coesão necessária semprefoi grande no sistema do capital. Muito simplesmente, um tal sistemanão poderia ser mantido sem ela. Pois ele teria tendência a desfazer-se em pedaços sob a força centrifugadora das suas partesconstituintes. O que aparece em geral sob a normalidade do capitalcomo uma grande crise política, num sentido mais profundo deve-seà necessidade de produzir uma nova coesão ao nível societárioglobal, de acordo com as materialmente modificadas – ou emmodificação – relações de forças. Assim, por exemplo, as tendênciasmonopolizadoras do desenvolvimento não podem ser simplesmentedeixadas a si próprias sem provocar enormes problemas por toda aparte. Elas devem ser de alguma forma trazidas para umenquadramento relativamente coeso através da política – a estruturade comando totalizadora do capital. Isto deve ser feito mesmo se ospassos regulatórios adoptados como demonstração muitas vezes

não passam senão de uma flagrante racionalização e justificaçãoideológica da nova relação de forças, a ser ainda mais favorável àscorporações monopolistas (ou quase-monopolistas) como determinaa tendência subjacente. Naturalmente, os desenvolvimentosmonopolísticos internacionais têm lugar com base na mesma espéciede determinações. Mas todos estes processos são em princípiocompatíveis com a normalidade do capital, sem resultar necessariamente em crise estrutural no sistema. Nem, de facto, nacrise estrutural da política. Pois, no que diz respeito à questão dacrise, estamos ainda a falar sobre a crise na política – ou seja, crises

específicas que se desdobram e se resolvem por si próprias dentrodos parâmetros administráveis do sistema político estabelecido – enão sobre a crise da política.

 As instituições políticas estabelecidas têm a importante função degerir, e em certo sentido até mesmo de rotinizar, a maneira maisconveniente ou duradoura de reconstituir a necessária coesão social,

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em sintonia com os contínuos desenvolvimentos materiais e acorrespondente relação de forças cambiante, activando ao mesmotempo também o arsenal cultural e ideológico disponível ao serviçodaquele fim. Nas sociedades democráticas capitalistas este processono domínio político é habitualmente gerido na forma de eleições

 parlamentares periódicas mais ou menos contestadas genuinamente.Mesmo quando os necessários reajustamentos reconstitutivos nãopodem ser contidos dentro de tais parâmetros ordeiros, devido aalgumas mudanças significativas na relação de forças subjacente,trazendo com elas tipos ditatoriais de intervenção política/militar,ainda podemos falar de crise na política que pode ser contida pelocapital, desde que mais cedo ou mais tarde possamos observar umretorno à característica "constitucionalidade democrática" danormalidade do capital. Além disso, tais desenvolvimentos sãofrequentemente controlados em grande extensão a partir doestrangeiro, como testemunham na América Latina os numerososexemplos de governos de gestão autoritária inspirados pelos EUA.

Isto, está claro, é um assunto inteiramente diferente quandoprocessos profundamente autoritários e tendências dedesenvolvimento começam a prevalecer não em regiõessubordinadas mas no núcleo interno – as partes estruturalmentedominantes – do sistema do capital global. Nesse caso, o padrãoanterior do "duplo critério", que consiste em dominar brutalmente

outros países (mesmo de forma militar e imperialista) enquanto emcasa vigoram "regras do jogo democráticas", incluindo a plenaobservância da constitucionalidade, torna-se não mais administrável.O deslocamento das contradições é uma aspiração sistémica docapital, enquanto for praticável. Dadas as hierarquias estruturais queprevalecem e devem prevalecer em qualquer época determinadatambém nas relações inter-estatais, faz parte da normalidade dosistema que os países dominantes tentem exportar  – na forma deintervenções violentas, incluindo guerras – as suas contradiçõesinternas para outras, menos poderosas, partes do sistema. Isto eles

fazem-no na esperança de fortalecer internamente, e em meio aenormes choques intensificando-se mesmo através das fronteiras declasses, a necessária coesão social.

Contudo, isto torna-se cada vez mais difícil – não obstante todas asmitologias em causa própria acerca da "globalização universalmentebenéfica" – quanto mais globalmente entrelaçado se torna o sistema

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capitalista. Como resultado, têm de se desenvolver mudançassignificativas, com sérias consequências por toda a parte. Pois apreocupação primária do país esmagadoramente dominante,actualmente os Estados Unidos, é assegurar e reter o controlo sobreo sistema capitalista global, como o supremo poder do imperialismo

hegemónico global. Mas tendo em conta os custos materiais ehumanos proibitivos envolvidos, que têm de ser pagos de uma formaou de outra, este desígnio de dominação global inevitavelmente trazconsigo imensos perigos assim como a resistência implícita, não sóinternacionalmente mas também internamente. Por esta razão, a fimde manter o controlo autoritário sobre o sistema do capital como umtodo, sob as condições de uma crise estrutural em aprofundamentoinseparável da globalização capitalista no nosso tempo, asinconfundíveis tendências autoritárias têm de se intensificar não sóno plano internacional mas também dentro dos países imperialistasdominantes, de forma a subjugar toda a provável resistência. Asgraves violações da constitucionalidade a que já assistimos nosEstados Unidos e no enquadramento legal/político dos seus aliadospróximos, e o que provavelmente assistiremos mais no futuro, comopressagiado nas medidas e cláusulas legais codificadas até à data,ou ainda sob uma enviesada "consideração" particularmente nopipeline legislativo cinicamente manipulado, são indicações clarasdesta tendência perigosa, sob o impacto da crise estrutural docapital.

Um exemplo revelador da manipulação legislativa tendenciosa é aforma como leis importantes são redigidas pelo ramo executivo dogoverno. Não surpreendentemente, portanto, um juiz de um SupremoTribunal na Grã-Bretanha teve que se queixar acerca uma questãovital de direitos humanos dizendo que "as leis aprovadas tinham sidoredigidas de tal forma que impedia os tribunais de inverter as ordensde controlo… O juiz afirmou que Charles Clarke [o secretário doInterior britânico na época] havia tomado a decisão de emitir a ordemcom base em informação unilateral, mas foi incapaz de encarar 

circunstâncias que permitissem ao tribunal revogar a decisão dosecretário do Interior. Como resultado, disse o juiz, ele teria demanter a ordem em vigor, apesar de ter decidido que violava a leidos direitos humanos. [20] 

No período pós-Segunda Guerra Mundial, "o fim do imperialismo" foicelebrado, um tanto apressadamente e ingenuamente. Pois na

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realidade apenas vimos um há muito devido reajustamento narelação de forças internacional, em linha com a maneira como asrelações de poder políticas e sócio-económicas se tinhamobjectivamente transformado antes e durante a Segunda GuerraMundial, como previsto já numa passagem-chave do First Inaugural

 Adress do Presidente Roosevelt a defender a "política da portaaberta" em todo o lado, incluindo os então territórios coloniais. Oreajustamento do pós-guerra trouxe consigo, obviamente, arelegação das antigas potências coloniais à segunda e terceiradivisão, como forças subordinadas do imperialismo americano.Porém, durante um considerável número de anos – no período pós-guerra da reconstrução e relativamente imperturbada expansãoeconómica que ajudou ao estabelecimento com êxito e aofinanciamento do estado providência – a mudança mais significativaapregoada pela resolutamente instituída "política da porta aberta"(isto é, aberta aos Estados Unidos) foi combinada com a ilusão deque o próprio imperialismo fora para sempre relegado ao passado.

 Além disso, foi também combinada com a ideologia amplamentedifundida, infectando pesadamente não só os intelectuais mastambém alguns movimentos organizados importantes da esquerdatradicional, segundo a qual a crise da ordem política e sócio-económica estabelecida (admitida apenas até pouco antes daguerra), pertencia irreparavelmente ao passado. Esta ideologia foipromovida – em conjunto com a sua irmã gémea ideológica que

anunciava "o fim da ideologia" – com base na assumpção gratuita deque agora vivíamos num mundo de "capitalismo organizado" queobtivera êxito no domínio das suas contradições numa basepermanente.

Tinha que haver um despertar brusco, também na política e naideologia, quando a crise estrutural universal e em aprofundamentodo sistema do capital se declarou. Em 1987, quando houve umagrande crise nas bolsas de valores internacionais, os bancosmercantis argumentaram numa discussão pública televisiva que a

razão daquela crise era a recusa dos EUA em fazer algo quanto àsua dívida astronómica. O banqueiro americano retorquiuagressivamente na discussão que eles deviam apenas esperar atéos Estados Unidos começarem a fazer alguma coisa quanto à suadívida, e então eles iriam ver a enormidade da crise que explodiria nasua cara. E num certo sentido ele estava certo. Pois eraextremamente ingénuo imaginar que a Europa poderia isolar-se

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convenientemente do impacto brutal em todos os aspectos dacronicamente não resoluta crise estrutural global da qual a dívida dosEUA é apenas um aspecto, que envolve completamente acumplicidade interesseira dos países credores.

Nas últimas duas décadas temos observado o regresso de umimperialismo claramente flagrante com uma vingança, depois de por muito tempo se ter camuflado com êxito como o mundo pós-colonialde "democracia e liberdade". E sob as circunstâncias agorapredominantes ele assumiu uma forma particularmente destrutiva.

 Agora domina a etapa histórica casado com a afirmação aberta danecessidade de se envolver, no presente e no futuro, em "guerrasilimitadas". Além disso, como mencionado anteriormente, nemmesmo receou decretar a "legitimidade moral" da utilização de armasnucleares – de forma "antecipativa" e "preventiva" — mesmo contrapaíses que não possuem tais armas.

Desde o começo da crise estrutural do capital no princípio da décadade 1970, os graves problemas do sistema têm estado a acumular-see a piorar em todos os campos, e não menos no domínio da política.

 Apesar de, contrariamente a todas as evidências, a lavagem cerebralda "globalização universalmente benéfica" continuar a ser propagandeado por toda a parte, não possuímos órgãos políticosinternacionais viáveis capazes de reparar as consequências visíveis

claramente negativas das tendências de desenvolvimento em curso. Até o limitado potencial das Nações Unidas é anulado peladeterminação americana de impor ao mundo as políticas agressivasde Washington, como aconteceu no começo da guerra do Iraque sobfalsas alegações.

 Actuando desta forma o governo dos EUA assumiu arbitrariamentepara si próprio o papel incontestável de ser o governo global dosistema do capital como um todo, imperturbado pelo pensamento donecessário fracasso derradeiro de um tal desígnio. Pois não é

suficiente desencadear uma "força esmagadora", como prescreve adoutrina militar dominante, destruindo o exército da outra parte einfligindo no curso das aventuras militares empreendidas um enorme"dano colateral", como é obscenamente chamado, a toda apopulação. A ocupação e dominação permanente e sustentável –incluindo a imperturbada e lucrativa exploração económica – dospaíses atacados deste modo é um assunto completamente diferente.

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Imaginar que mesmo a maior super-potência militar poderia fazer isto, como "normalidade forçada" imposta a todo o mundo, e assimimposta como situação inalterável da "nova ordem mundial", é umaproposição totalmente absurda.

Infelizmente, os acontecimentos e desenvolvimentos têm apontadopara esta direcção desde há muito tempo. Pois não foi o presidenteGeorge W. Bush mas o presidente Bill Clinton que arrogantementedeclarou que " apenas existe uma nação necessária, os EstadosUnidos da América ". Os neocons apenas quiseram pôr em prática, ereforçar, essa crença. Mas mesmo os chamados liberais nãopuderam pregar nada mais positivo que o mesmo credo pernicioso,com o mesmo espírito geral. Eles queixavam-se de que temos hojeno muno "demasiados Estados", e defendiam uma chamadaintegração jurisdicional como a solução viável de tal problema. [21] Quer dizer, uma grotescamente apelidada "integração jurisdicional"que realmente significaria a pseudo-legitimação de um controlodirecto autoritário dos deplorados "Estados a mais" por menos doque um punhado de potências imperialistas, sobretudo os EstadosUnidos. Este conceito, apesar da sua terminologia ofuscante, não émuito diferente da teorização de Thomas P. M. Barnett sobre comolidar com a lastimada "condição de desconexão " citada acima.

Se hoje existem "Estados a mais", eles não podem ser eliminados da

existência. Nem podem ser destruídos através da devastação militar,para se estabelecer com base nisto a felicidade globalizada da "novanormalidade". Os interesses nacionais legítimos não podem ser reprimidos indefinidamente. De todos os lugares no mundo, o povoda América Latina pode atestar eloquentemente esta verdade.

 A crise estrutural da política é uma parte integrante da há muitosupurada crise estrutural do sistema capitalista. É omnipresente e,consequentemente, não pode ser resolvida através da manipulaçãoauto-perpetuadora e apologética de qualquer dos seus aspectos

políticos isolados. Muito menos poderia ser resolvida através damanipulação da própria constitucionalidade, da qual podemosobservar muitos exemplos alarmantes. Nem mesmo pela subversãoe abolição de uma vez da constitucionalidade. Se os juízes doSupremo Tribunal Britânico e os magistrados italianos podemprotestar contra tais tentativas, independentemente de quãoagressivamente os Berlusconis deste mundo os censurem mesmo

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três dias antes de umas eleições gerais, então também nós podemosfazer o mesmo, com consciência crítica do que está em jogo. [22] Onosso modo estabelecido de controlo metabólico social está em criseprofunda, e pode ser remediado apenas através da instituição deoutro radicalmente diferente, baseado na igualdade substantiva que

se torna de facto possível no nosso tempo, pela primeira vez nahistória. Muitas pessoas criticam com razão os dolorosamente óbviosfracassos da política parlamentar. Mas também em relação a isto, onecessário reequacionamento do parlamentarismo passado epresente não pode levar a resultados sustentáveis sem ser inseridono seu enquadramento mais amplo, como parte integrante dapretendida nova ordem metabólica social, inseparável das exigênciasde igualdade substantiva.

Muitas pessoas concordam hoje em que — devido à sua escalada dedestruição até mesmo no plano ambiental, assim como na esfera daprodução e da esbanjadora acumulação do capital, para nãomencionar as crescentes manifestações directas da maisirresponsável destruição militar — a nossa ordem metabólica socialnão é viável a longo prazo. Contudo, o que tem de ser trazido para oprimeiro plano da nossa consciência crítica quanto às tendências dedesenvolvimento em andamento e ao seu impacto cumulativo é ofacto de que o longo prazo se está a tornar cada vez mais curto nonosso tempo. A nossa responsabilidade é fazermos alguma coisa

quanto a isto antes que se acabe o tempo.Notas:[1] István Mészáros, Socialism or Barbarism (New York: Monthly ReviewPress, 2001), 40.[2] "Seymour Hersh relata que uma das opções envolve o uso de uma armanuclear táctica destruidora de bunkers, tal como a B61-11, para assegurar adestruição da principal unidade de centrífugação do Irão, em Natanz". SarahBaxter, "Gunning for Iran", The Sunday Times, 9 de Avril, 2006.[3] Esta iniciativa de 17 de Abril de 2006 foi antecedida, no Outono de 2005,por uma petição assinada por mais de 1800 físicos em que repudiavam asnovas políticas de armamento nuclear dos EUA que incluem o uso

antecipativo (preemptive) de armas nucleares contra adversários "não-nucleares", http://www.globalresearch.ca .[4] John Pilger criticou correctamente o primeiro ministro Tony Blair nesteponto. Ele escreveu que: "Blair demonstrou o seu gosto pelo poder absolutocom o seu abuso da Prerrogativa Real, a qual ele tem utilizado paraultrapassar o parlamento ao ir para a guerra". O artigo de Pilger do qual estapassagem é retirada foi publicado no New Statesman, 17 de Abril, 2006.Podemos também acrescentar que tais dispositivos como a "Prerrogativa

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Real", assim como os seus igualmente problemáticos equivalentes em outrasconstituições, foram inventados no seu todo precisamente com o objectivo deserem abusados, como cláusulas de escape autoritário auto-legitimador quepodem arbitrariamente anular as exigências democráticas em circunstânciasdifíceis, ao invés de aumentarem os poderes democráticos da tomada de

decisão, como deveria ser o caso em situações de crise significativa.[5] Baxter, "Gunning for Iran".[6] Richard Peet, "Perpetual War for a Lasting Peace", Monthly Review (Janeiro de 2005), 55-56.[7] Peet, "Perpetual War for a Lasting Peace".[8] Max Boot, Savage Wars of Peace, citado em "The Failure of Empire", osEditores, Monthly Review (Janeiro de 2005), 7.[9] István Mészáros, O século XXI, socialismo ou barbárie (São Paulo:Boitempo, 2003) 10.[10] "Transcrições mostram a mão do n.º 10 no aconselhamento jurídico daguerra" The Guardian, 24 de Fevereiro de 2005. Devia mencionar-se aqui em

 jeito de esclarecimento que a primeira opinião de Lord Smith era altamentecéptica da legalidade da guerra em questão.[11] Philippe Sands, Lawless World (Londres: Penguin Books, 2005).[12] John Mortimer, "Não posso acreditar que um Governo Trabalhista estariatão pronto a destruir a nossa lei, a nossa liberdade de expressão e os nossosdireitos civis", The Mail on Sunday, 2 de Outubro, 2005.[13] "Terror Law na affront to justice", The Guardian, 13 de Abril, 2006.[14] "John Pilger vê a liberdade morrer em silêncio", New Statesman, 17 de

 Abril, 2006.[15] Japan Press Weekly (Março de 2006), 26.[16] Manuel Marulanda Velez, "Carta enviada pelo líder histórico das FARCda Colômbia a Álvaro Leyva, candidato às Eleições Presidenciais marcadaspara 24 de Maio de 2006", http://resistir.info/colombia/marulanda_abr06.html ,

 Abril de 2006.[17] Vélez, "Carta enviada pelo líder histórico das FARC da Colômbia".[18] Escrevi em Novembro de 1971, no prefácio da terceira edição de Theory of Alienation de Marx, que o desdobramento dos acontecimentos edesenvolvimentos "sublinhava dramaticamente a intensificação da criseestrutural global do capital ".[19] István Mészáros, Beyind Capital, 680-82. No capítulo 18 o assunto édiscutido com muito maior pormenor.[20] "Terror Law an affront to justice", The Guardian, 13 de Abril, 2006. Outroartigo no mesmo número do The Guardian, de Tania Branigan,correspondente política do jornal, noticiava que "Críticos afirmam que a Lei daReforma Legislativa e da Regulação iria permitir que o governo alterassepraticamente todas as leis que desejasse – até mesmo introduzindo novostipos de crimes ou alterando a constituição – sem escrutínio… os Tories e osLib Dem baptizaram-na de «lei da abolição do escrutínio parlamentar.»"[21] Martin Wolf, Why Globalization Works? (New Haven: Yale UniversityPress, 2004).[22] Giorgio Ruffolo, "Un paese danneggiato", La Republica, 7 de Abril, 2006.

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[*] Autor de Socialism or Barbarism: From the "AmericanCentury" to the Crossroads (2001) e Beyond Capital: Toward aTheory of Transition (1995), publicados pela Monthly ReviewPress. Este ensaio constituiu o discurso de abertura do 13º

Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho,em Maceió, Brasil, 04/Maio/2006.

O original encontra-se na Monthly Review, vol. 58, nº 4,Setembro/2006 e em www.globalresearch.ca/ . Tradução de TB.

Este ensaio encontra-se em http://resistir.info/ .10/Out/06