a crise da soberania estatal e os novos agentes transnacionais a (in)constitucionalidade da lei...

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A CRISE DA SOBERANIA ESTATAL E OS NOVOS AGENTES TRANSNACIONAIS: A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA LEI GERAL DA COPA 1 . Thiago dos Santos da Silva 2 Resumo: Vivencia-se, na pós-modernidade, a crise da soberania dos Estados, atrelada à questão territorial, no momento em que agentes transnacionais insurgem contra o monopólio estatal sobre a produção normativa. Estamos diante de um novo fenômeno do constitucionalismo onde ordens jurídicas não-estatais exibem poderes de ordem política e jurídica e, não raramente, irritam-se com as Constituições dos Estados motivando alterações no ordenamento jurídico público. O cenário exposto antes pôde ser visualizado com a realização da Copa do Mundo da FIFA no Brasil, em 2014. Para receber a competição o Estado brasileiro precisou integrar um conjunto de regras impostas pela Federação Internacional ao seu ordenamento jurídico, algumas em choque com a Constituição Federal, através da Lei Geral da Copa, o que teve o condão de, ainda que pontualmente, flexibilizar a soberania estatal. Cabe analisar os reflexos dessa flexibilização da soberania estatal frente à imposição de um agente político 1 Artigo elaborado como parte final do processo avaliativo da disciplina Teoria Geral dos Direitos Humanos (P9568) do Curso de Mestrado em Direitos Humanos da Unijuí, Ministrada pelo Prof. Dr. Doglas Cesar Lucas. Data da elaboração: 23/06/2015. 2 Mestrando em Direitos Humanos pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ – Brasil), Advogado, bolsista UNIJUÍ, e-mail: [email protected].

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Vivencia-se, na pós-modernidade, a crise da soberania dos Estados, atrelada à questão territorial, no momento em que agentes transnacionais insurgem contra o monopólio estatal sobre a produção normativa. Estamos diante de um novo fenômeno do constitucionalismo onde ordens jurídicas não-estatais exibem poderes de ordem política e jurídica e, não raramente, irritam-se com as Constituições dos Estados motivando alterações no ordenamento jurídico público. O cenário exposto antes pôde ser visualizado com a realização da Copa do Mundo da FIFA no Brasil, em 2014. Para receber a competição o Estado brasileiro precisou integrar um conjunto de regras impostas pela Federação Internacional ao seu ordenamento jurídico, algumas em choque com a Constituição Federal, através da Lei Geral da Copa, o que teve o condão de, ainda que pontualmente, flexibilizar a soberania estatal. Cabe analisar os reflexos dessa flexibilização da soberania estatal frente à imposição de um agente político internacional, sob o viés do Transconstitucionalismo, reconhecendo as tensões existentes entre a economia e o direito, em especial a ordem jurídica já positivada no Brasil antes mesmo da Lei Geral da Copa.

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A CRISE DA SOBERANIA ESTATAL E OS NOVOS AGENTES

TRANSNACIONAIS: A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA LEI GERAL DA

COPA1.

Thiago dos Santos da Silva2

Resumo: Vivencia-se, na pós-modernidade, a crise da soberania dos Estados,

atrelada à questão territorial, no momento em que agentes transnacionais

insurgem contra o monopólio estatal sobre a produção normativa. Estamos

diante de um novo fenômeno do constitucionalismo onde ordens jurídicas não-

estatais exibem poderes de ordem política e jurídica e, não raramente, irritam-

se com as Constituições dos Estados motivando alterações no ordenamento

jurídico público. O cenário exposto antes pôde ser visualizado com a realização

da Copa do Mundo da FIFA no Brasil, em 2014. Para receber a competição o

Estado brasileiro precisou integrar um conjunto de regras impostas pela

Federação Internacional ao seu ordenamento jurídico, algumas em choque

com a Constituição Federal, através da Lei Geral da Copa, o que teve o condão

de, ainda que pontualmente, flexibilizar a soberania estatal. Cabe analisar os

reflexos dessa flexibilização da soberania estatal frente à imposição de um

agente político internacional, sob o viés do Transconstitucionalismo,

reconhecendo as tensões existentes entre a economia e o direito, em especial

a ordem jurídica já positivada no Brasil antes mesmo da Lei Geral da Copa.

Palavras-Chave: Constitucionalismo. Estado-Nação. FIFA. Soberania.

Transconstitucionalismo.

Abstract: It’s experienced, on the post-modernity, the crisis of the state

sovereignty, linked to the territorial issue, at the time transnational actors rebel

against the state monopoly of production rules. We are facing the new

phenomenon of constitutionalism where non-state legal systems exhibit political

1 Artigo elaborado como parte final do processo avaliativo da disciplina Teoria Geral dos Direitos Humanos (P9568) do Curso de Mestrado em Direitos Humanos da Unijuí, Ministrada pelo Prof. Dr. Doglas Cesar Lucas. Data da elaboração: 23/06/2015.2 Mestrando em Direitos Humanos pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ – Brasil), Advogado, bolsista UNIJUÍ, e-mail: [email protected].

and legal power and often get irritated with state constitutions motivating

changes in public law. The above scenario before could be viewed with the

FIFA World Cup on Brazil, in 2014. In order to receive the competition the

Brazilian State had to integrate a set of rules imposed by the International

Federation with its legal system, some clashing with the Federal Constitution by

the World Cup General Law, which had the power to, albeit occasionally, easing

state sovereignty. It is analyzing the effects of this easing of state sovereignty

across the imposition of an international political agent under the bias of the

Transconstituctonalism recognizing the tensions between economics and law,

in particular the legal system already positively in Brazil before the World Cup

General Law.

Keywords: Constitutionalism. FIFA. Nation-State. Sovereignty.

Transconstitutionalism.

Sumário: Considerações Iniciais. 1 – Da soberania à geografia. 2 – O novo

constitucionalismo corporativo transnacional. 3 – A Lei Geral da Copa e a

soberania do Estado brasileiro. Considerações Finais. Referências.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS.

A modernidade foi a era da segurança, da soberania. Na pós-

modernidade é tempo de liberdade, de liquidez.

É visível, na contemporaneidade, a crise enfrentada pelos Estados-

nações naquilo que tange à sua soberania. A globalização que desenvolveu a

economia acabou com as barreiras geográficas, já não se vislumbram os

limites de outrora. Se a queda do Muro de Berlim representou a derrocada da

cisão entre capitalismo/socialismo, a globalização econômica que seguiu

derrubou os muros que enclausuravam os Estados. É possível sentir uma

rachadura no monopólio da produção normativa, antes garantida ao Estado,

agora compartilhada com as grandes transnacionais, através de seus códigos

corporativos.

Levantada tal hipótese, o objetivo geral do presente trabalho é analisar,

reconhecendo as tensões existentes entre direito e economia, como se dá o

processo de atrito entre os códigos corporativos e as Constituições estatais,

levantando alguns posicionamentos acerca da globalização e sua afronta à

soberania. Para tanto, se tentou ponderar sobre o processo de criação da Lei

Geral da Copa, legislação infraconstitucional sancionada no âmbito do Brasil

para regulamentar as competições ocorridas nos anos de 2013 e 2014, sob

chancela da FIFA – Federação Internacional de Futebol -, em que uma série de

dispositivos atenta à Constituição Federal do Brasil.

Para tanto, no primeiro momento, importou-se fazer um resgate da

questão da soberania, enquanto atrelada à definição de território dos Estados,

buscando pontuar seu surgimento, ápice e decadência, em razão, justamente,

da queda das barreiras geográficas trazida pelo avanço da globalização

econômica.

No momento posterior, como corolário lógico, foi proposta uma análise,

ainda que não definitiva, acerca da constitucionalização sem Estado que se

apresenta, avaliando a existência de funções, estruturas e instituições dos

códigos corporativos, atuando com poderes equiparáveis à constituições civis.

Essas ordens jurídicas não-estatais irritam-se com as ordens jurídicas estatais,

em processo ultracíclico transordinal, motivando alterações e adaptações.

Por derradeiro, o presente trabalho tratou de apreciar a criação da Lei

Geral da Copa, legislação proposta pela FIFA como adaptação do

ordenamento jurídico nacional ao recebimento dos eventos da Copa das

Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de Futebol de 2014, examinando

a (in)constitucionalidade de alguns dispositivos do referido diploma legal,

mitigando, com isso, a soberania do Estado brasileiro enquanto da vigência do

mesmo.

1 – DA SOBERANIA À GEOGRAFIA.

A etimologia do termo soberania provém do latim super omnia, que nos

remete à noção de algo acima dos homens. Nessa esteira, Jean Bodin, citado

por Bedin (2013, p. 111), define soberania como o “poder absoluto e perpétuo

de uma república”. A noção de república em Bodin pode ser compreendida

como o Estado moderno, em sua visão hobbesiana, uma forma de poder

político separado tanto do governado quanto do governante. Assim, soberania

é o poder ilimitado e indivisível de fazer leis, monopolizado pelo Estado.

No centro da ideia de Estado-moderno, na concepção de David Held

(1995, p. 60), “se encuentra um orden impersonal legal o constitucional,

delimitando uma estrutura común de autoridade, que define la naturaleza y la

forma del control y la administración de una comunidade determinada”. Ou

seja, a ideia de soberania está imbricada com o ideal de Estado moderno, em

suas feições pós-Paz de Westfália.

A despeito da dificuldade de estabelecer um marco histórico definitivo

para o surgimento do Estado moderno, ainda que se pactue que o Tratado de

Westfália tenha sido um ponto crucial, é plausível afirmar que o processo que

culminou no surgimento da noção moderna de Estado foi um desenvolvimento

histórico ao longo de alguns séculos e em etapas sucessivas.

Marvin Perry, citado por Bedin (2013, p. 81) assinala que:

A desintegração das formas políticas medievais e a emergência do Estado moderno coincidem com a ruptura gradativa do sistema socioeconômico da Idade Média baseado na tradição, na hierarquia e nas ordens ou Estados.

Há, então, dois movimentos, um de centralização e outro de

concentração do Poder, o que nos remete à soberania e delimitação geográfica

dos Estados. Held (1995, p. 58) destaca seis momentos determinantes na

história da formação dos Estados, em sua concepção moderna:

a) la creciente coincidência de los limites territoriales com um sistema de gobierno uniforme; b) la creación de nuevos mecanismos de elaboración y ejecución de leyes; c) la centralización del poder administrativo; d) la alteración y extensión de los controles fiscales; e) la formalización de las relaciones entre los Estados mediante el desarrollo de la diplomacia y las instituciones diplomáticas y f) la introducción de um ejército permanente.

É possível visualizar, portanto, que a noção de soberania estatal tem

raízes na questão geográfica. O espaço físico dos Estados-nações sempre foi

determinante na relação com os cidadãos, a própria noção de cidadania vale-

se da ótica territorial, ao definir se o indivíduo é cidadão ou estrangeiro àquele

Estado, na determinação de seu vínculo jurídico-político com o sujeito.

Nesse sentido, soberania e geografia são elementos presentes na

genealogia do Estado moderno, visualizado no mito hobbesiano sobre o Estado

como o monstro (Leviatã) cujas escamas são formadas pelos seus súditos,

portanto, soberano e absoluto dentro de seus domínios, e no estado de guerra

de todos contra todos nas relações entre países, a alegoria de um estado de

natureza internacional. Daí decorre a alegação sobre soberania e geografia

pressuporem a formação do Estado-moderno.

É possível afirmar que o modelo do Estado soberano, autônomo e

ilimitado dentro de suas fronteiras, sem autoridade superior, reinou durante

toda a modernidade. Havia uma sociedade de Estados em coexistência e com

relações de cooperação entre iguais, em que possíveis litígios encontravam

resolução pelo uso da violência, com isso, a guerra é legitimada.

Interessante citar, nesse ínterim, o “modelo de Westfália” proposto por

Held (1995, p. 105):

1. El mundo está compuesto y dividido por Estados soberanos que no reconocen ninguna autoridade superior.2. El processo de creación de derecho, la resolución de disputas y la ejecución de la ley están básicamente em las manos de los Estados individuales.3. El derecho internacional se orienta al estabelecimento de reglas mínimas de coexistencia; la creación de relaciones duraderas entre los Estados y los pueblos sólo eles promovida cuando atende objetivos políticos nacionales.4. La responsabilidade por acciones ilegales transfronterizas es um “assunto privado” que concierne a los afectados.5. Todos los Estados son considerados iguales ante la ley: las disposiciones legales no toman em cuneta las asimetrías de poder.6. Las diferencias entre los Estados son em última instancia resueltas por la violencia; predomina el princípio del poder efectivo. Prácticamente no existen frenos legales para contener el recurso e la fuerza; las normas legales internacionales garantizan mínima protección.7. La minimización de las restricciones a la libertad del Estado es la “prioridad colectiva”.

Ocorre, porém, que o paradigma moderno da sociedade de Estados

soberanos, sem autoridade superior, absolutos dentro de seu território, em que

as disputas internacionais, caso ultrapassem a ideia de coexistência, podem

ser resolvidas, não raramente, pelo incurso em violência não mais se sustentou

no momento que os próprios Estados, responsáveis pelo zelo ao direito, vez

que detentores do monopólio de sua produção e aplicação, tornaram-se seus

violadores maiores, exatamente pelo uso da guerra.

Os dois pressupostos apontados como fulcrais à concepção de Estado-

moderno, contudo, têm sofrido abalos sistemáticos e emblemáticos, os quais

apontam à superação da soberania estatal quanto ao monopólio legislativo,

bem como ao “fim da geografia”, enquanto território absoluto.

Importante traçar um parêntese, nesse momento, para elucidar ao leitor

que a soberania aqui tratada refere-se à “soberania externa”, ou seja, a

soberania entre diferentes Estados, no “estado de natureza” internacional,

antes mencionado. A soberania dita “interna” já sofrera mitigações desde as

revoluções inglesas, Francesa e da independência das colônias britânicas na

América do Norte.

“A moderna soberania externa começa a declinar com a Carta de ONU,

de 1945, e com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948”

(FORNASIER, 2014, p. 192). Tais declarações, que estabeleceram um sistema

internacional de normas cogentes, afastam a proeminência do Estado como

único sujeito na produção normativa e como sujeitos de direito internacional.

Logo, o reconhecimento de uma ordem jurídica supraestatal, como a

Declaração Universal dos Direitos do Homem, acaba com a lógica da ausência

de autoridade superior ao Estado e, por consequência, mitiga a ideia de

soberania.

De outra banda, o território “visto pela tradição jurídico-política como

área de dominação estatal [...] ou estatal-nacional” (FORNASIER, 2014, p. 189)

vê suas fronteiras serem irrompidas por um sem-fim de traços – sejam os

traços das ferrovias; das rodovias; dos cabos de rede; ou, mesmo, pelas ondas

de rádio e satélites. A globalização, por meio da economia, acabou com as

barreiras territoriais, chegamos ao fim da geografia, segundo Paul Virilio.

Virilio, citado e traduzido por Fornasier (2014, p. 187) aponta que, ao

invés do “Fim da História” declarado por Francis Fukuyama, nos encontramos

em frente ao “Fim da Geografia”:

Na ausência de um fim da história é, pois, assim, ao final da geografia que estamos assistindo. Desde as velhas distâncias de tempo produzidas até a revolução nos transportes do século passado, o afastamento propício de várias empresas, em uma época da revolução das transmissões que começa em retorno contínuo das atividades humanas cria a invisível ameaça de um acidente desta interatividade generalizada, sendo uma quebra da bolsa um possível sintoma.

Importante notar como os tensionamentos se retroalimentam. A

soberania é mitigada em razão do “fim da geografia”, uma vez que abre os

territórios dos Estados à atuação de sujeitos não-estatais, sejam tais sujeitos

empresas transnacionais, organismos internacionais ou organizações não

governamentais. Já a geografia tem sua importância relativizada, os territórios

são superados, quando a soberania é minorada, no momento em que deixa de

inexistir uma autoridade superior ao Estado, ou seja, quando não há mais

poder e autonomia absolutos. A geografia chega ao fim porque a soberania é

minorada, e a soberania é minorada pelo “fim da geografia”.

Com efeito, as grandes corporações transnacionais entenderam,

estrategicamente, esse declínio da importância da geografia e a crise da

soberana estatal, que restou por “abrir” os territórios dos Estados aos agentes

internacionais e ao mercado econômico global, bem como permitiu emergir

poderes não-estatais advindos desse mercado. Poderes, estes, que têm

rivalizado, frequentemente, com as constituições nacionais.

2 – O NOVO CONSTITUCIONALISMO CORPORATIVO TRANSNACIONAL.

Apontamos, no item anterior, para uma abertura das fronteiras estatais e

para a derrocada da soberania dos Estados, em razão do surgimento de um

ordenamento internacional. Em conjunto aos ordenamentos internacionais,

como a Declaração de 1948, há um processo de mundialização que tende a

emersão de um direito comum. Esse processo, evidenciado por Mireille

Delmas-Marty, tem como bússola os direitos humanos, mas é movido pela

economia, ou seja, para tornar possível um direito mundial urge a necessidade

de analisar a globalização econômica e a universalização do direito de forma

conjunta.

Delmas-Marty ressalva que a globalização, pela via econômica, tende à

uniformização hegemônica de um modelo, enquanto os direitos humanos,

mesmo com caráter universal, não possuem uma linguagem comum, face à

diversidade cultural. Com isso, apresentar as tensões havidas entre economia

e direitos humanos não deve ser o foco na construção de um direito mundial,

mas, sim, reconhecer as interdependências existentes entre ambos.

Entretanto, a economia evolui em uma velocidade que o direito –

especialmente os direitos humanos - não consegue acompanhar, levando à

perda da proeminência por parte dos Estados e a ascensão dos agentes da

economia, o que permitiu a eclosão de novos poderes em nível internacional.

O empoderamento dos novos agentes transnacionais, fruto do

enfraquecimento dos Estados enquanto atores principais no cenário

internacional, tem apresentado dificuldades no que tange à regulação desses

poderes em afloramento, seja pela resistência das corporações transnacionais,

seja pela insuficiência de uma efetiva regulação pela via de tratados

internacionais, que levou ao fracasso a maioria das tentativas de regramento.

Não obstante as dificuldades de regulações estatais mais efetivas,

Gunther Teubner ressalta que se visualiza um processo paralelo em

crescimento, onde regimes transnacionais têm se espalhado de forma global,

os chamados códigos voluntários de conduta das corporações transnacionais.

Teubner adverte, contudo, quanto à voluntariedade das codificações, haja vista

que seu surgimento está condicionado, geralmente, como resposta às críticas

públicas.

A pesada crítica pública disseminada globalmente pela mídia e as ações agressivas de movimentos de protesto e de organizações não governamentais (ONGs) da sociedade civil forçam várias corporações transnacionais a desenvolver códigos corporativos “voluntariamente”. (TEUBNER, 2012, p. 110).

Há, portanto, dois tipos de códigos corporativos. Aqueles considerados

públicos, ou seja, que são provenientes de tentativas estatais de regulação; e

os privados, autocompromissos voluntários adotados pelas corporações. O

objetivo do presente ponto é, exatamente, analisar esse novo fenômeno, que é

o entrelaçamento, nas palavras de Teubner, entre os códigos corporativos

privados e públicos, o que o autor, de forma ousada, denominou de

“constitucionalização”.

Ambos os tipos de códigos corporativos tomados em conjunto representam o advento de constituições corporativas transnacionais específicas – concebidas como constituições no sentido específico. [...] esse argumento é baseado em um conceito de constituição que não está limitado ao Estado nacional e implica que também ordens sociais não estatais desenvolvam constituições autônomas sob circunstâncias históricas particulares. [...] o centro de

constitucionalização desloca-se do sistema político para diferentes setores sociais, que produzem normas constitucionais de cunho civil-societário paralelamente às constituições de Estados nacionais. (TEUBNER, 2012, p. 111).

Importante, aqui, trazer a ressalva que Mateus de Oliveira Fornasier

levantou, em sua Tese de Doutorado, ao analisar a pesquisa de Teubner e a

ocorrência desse novo constitucionalismo sem Estado:

Não se pode prever que uma constitucionalização completa (superposição de um denso tecido de normas constitucionais ao processo político) será repetida nas constituições dos setores parciais. O conceito de constituição, quando cuidadosamente generalizado, deve ser desligado das particularidades do processo político, sendo reespecificado, repensado em termos de operações, estruturas, meios, códigos e programas específicos de cada sistema. (FORNASIER, 2013, p. 350).

Respeitando as teorias constitucionalistas estatais, bem como a

pesquisa implementada por Teubner, convencionou-se, no presente artigo,

tratar o tema do constitucionalismo societário como poderes corporativos e

não, propriamente, como constituições civis, evitando, com isso, qualquer

confusão ou desentendimento que possa ocasionar ao leitor.

Todavia, ainda que se afaste denominar esse fenômeno analisado por

Teubner como constitucionalismo societário, é inegável que os poderes das

corporações transnacionais ou, ainda, de instituições internacionais, têm

afastado dos Estados o monopólio da produção normativa, confirmando a tese

de Delmas-Marty, analisada anteriormente, sobre a emergência de um direito

mundial e, mais, um direito mundial desvinculado do Estado-nação e/ou da

política internacional.

Ordenamentos jurídicos transnacionais não são exclusividade da

contemporaneidade, em absoluto, em que pese a globalização tenha

derrubado algumas barreiras, como evidenciado no primeiro capítulo do

presente projeto. Exemplo ancestral de normatização sem Estados é a lex

mercatoria, em seu sentido histórico, direito costumeiro aplicado pelos

mercadores durante o medievo.

A própria lex mercatoria supramencionada pode ser abordada, na

atualidade, nas palavras da Marcelo Neves, citado por Fornasier (2013, p. 352)

como:

Ordem jurídico-econômica mundial no âmbito do comércio internacional, cuja construção e reprodução ocorre primariamente mediante contratos e arbitragens decorrentes de comunicações e expectativas recíprocas estabilizadas normativamente entre atores privados.

Outros exemplos de juridicização transnacional são os ordenamentos

jurídicos dos grupos multinacionais; a normatização do mercado laboral em

relação às empresas e aos sindicatos; as normas supranacionais de

padronização técnica e de autocontrole profissional; a defesa dos Direitos

Humanos; mecanismos jurídicos de proteção ambiental; e as regulações

esportivas de nível global.

Visualiza-se um processo de alteração, de inversão da hierarquia

tradicional estabelecida entre as normas dos Estados e as normas

transnacionais. Outrora, o Estado positivava o chamado hard law perante o

direito empresarial e o direito regulatório, através de normas vinculantes

estabelecendo, inclusive, sanções para os casos de descumprimento. Já as

normas intracorporativas eram chamadas de soft law, não reconhecidas como

normas legais, visto que dependentes de reconhecimento dos Estados e

sujeitas ao controle e adaptação dos tribunais estatais.

Teubner (2012, p. 119), no entanto, assinala algumas mudanças

significativas nos códigos privados das transnacionais, afastando-os da

categoria de soft law:

Na dinâmica dos dois códigos corporativos uma direta inversão da hierarquia entre direito estatal e ordenamento privado pode ser observada. Uma reversão dramática tem lugar especialmente na dualidade hard law/soft law dos códigos corporativos públicos e privados: Agora são as normais estatais que apresentam a qualidade de “soft law”, enquanto o mero ordenamento privado de corporações transnacionais emerge como nova forma de “hard law”.

Enquanto as regulações dos Estados apresentam meras

recomendações sem caráter vinculante, os códigos intracorporativos

apresentam elevado grau de força vinculante e estabelecimento de sanções

efetivas.

Ainda que se vislumbre a inversão hierárquica pontuada acima, tal

concepção não alcança profundida suficiente, visto que a preferência do

privado ante o público não é naturalmente hierarquizada. Segundo Teubner

(2012, p. 120), é mais apropriado se falar em uma “exclusão do público pelo

privado”. Ou seja, as normas estatais não estão em subordinação às de caráter

privado, estão “banidas do interior da produção normativa no mundo

corporativo”.

Nesse panorama, não se fala mais em um espaço unitário jurídico,

havendo, de fato, dois espaços jurídicos independentes, mutuamente fechados.

Logo, os códigos privados e públicos formam ordens jurídicas fechadas em que

não há, entre elas, qualquer transferência de validade, ainda que se

influenciem. Tratando-se de duas ordens mutuamente fechadas, como

acontece, então, a inter-relação entre ambas?

Ao questionamento supra, Teubner leciona que a relação ocorrida entre

diferentes ordens fechadas é melhor evidenciada com a diferenciação entre as

definições de hiperciclo e ultraciclo.

Um hiperciclo surge quando operações comunicativas dentro de uma rede fechada formam ciclos que são, por sua vez, interligados de forma circular. Por contraste, um ultraciclo emerge quando um ciclo de perturbações mútuas é desenvolvido entre redes fechadas. (TEUBNER, 2012, p. 122).

Nesse sentido, os processos de interligação ocorridos dentro dos

códigos corporativos privados têm origem hipercíclica, haja vista que as

operações jurídicas cíclicas possuem conexões diretas no ambiente

interorganizacional. Como exemplo de hiperciclo estão as conexões entre as

organizações transnacionais com seus fornecedores e a relação de vendas.

De maneira completamente distinta da descrita acima, os códigos

privados estão em conexão com os códigos públicos, porém, o modelo de

hiperciclo proposto supra não se aplica nesse processo de conexão, mas, sim,

o diálogo ultracíclico. Os códigos públicos somente estabelecem

recomendações, são direito em vigor, todavia, sem estabelecimento de

sanções jurídicas.

No panorama do diálogo ultracíclico transordinal, em que pese os

códigos privados não sejam inteiramente independentes dos códigos públicos,

os últimos não participam da unidade normativa dos códigos corporativos,

razão pela qual não podem comandar ou suspender validade aos primeiros,

ainda que possam motivar alterações, pelo processo de irritação entre ambos.

O presente trabalho, em sua parte final, se propõe a analisar a irritação

entre redes fechadas, em processo ultracíclico, contudo, por um viés

diferenciado. O interesse precípuo, aqui, é entender a possibilidade de que um

código privado, notadamente o Estatuto da FIFA, e as pressões implementadas

por esse poder transnacional, ao irritar-se com um ordenamento jurídico

público impulsionam alterações internas, levando à normatização de situações

que antes não eram previstas. E, mais, como se dá o processo de irritação

quando o código privado guarda dissonância com o ordenamento público e se

as alterações internas, de algum modo, relativizam a soberania do Estado.

Importante destacar, por derradeiro, que as irritações entre duas redes

fechadas, no caso em tela entre o Estatuto da FIFA e suas normas e o

ordenamento jurídico estatal brasileiro, ainda que sejam jurídicas, não se dá,

exclusivamente, dentro do sistema do Direito. É justamente a pluralidade de

sistemas que se irritam de forma mútua que forma o ultraciclo destacado. A

economia, presente nos contratos entre a FIFA e seus parceiros comerciais,

irrita a política (Governo brasileiro), lhe obrigando a propor alterações legais

para tornar viáveis tais contratos internamente, irritando, com isso, o Direito,

levando à produção de normatização e/ou alteração de normas internas, em

consonância com as previsões normativas transnacionais da FIFA e de seus

parceiros comerciais, por isso se fala em movimento ultracíclico intersistêmico,

pela multiplicidade de sistemas em cadeia e, ainda, em diálogo ultracíclico

transordinal, já que evidencia a relação entre diferentes ordens fechadas.

3 – A LEI GERAL DA COPA E A SOBERANIA DO ESTADO BRASILEIRO.

A FIFA, instituição internacional de direito privado, sediada em

Zurique/Suíça, administra e gere subsidiárias espalhadas por todo o mundo,

possuindo, ao todo, 209 países e/ou territórios associados, portanto, com mais

membros do que a Organização das Nações Unidas. Importante mencionar

que a FIFA reconhece autonomia de alguns territórios que não possuem o

mesmo caráter perante a política internacional, casos de Hong Kong, Kosovo,

Gibraltar e Palestina (não reconhecida por Israel).

Com base na teoria de Teubner, proposta no ponto anterior, se pretende

analisar como se deu a interação entre a FIFA e o Estado brasileiro, sob a ótica

do diálogo transordinal ultracíclico, interação, esta, que desaguou na

elaboração da Lei nº. 12.663/2012, denominada de Lei Geral da Copa,

legislação responsável por integrar no ordenamento jurídico pátrio algumas

determinações da Federação Internacional de Futebol. Nossa proposta procura

caminhar, ainda, pela tese do transconstitucionalismo proposto pelo jurista

brasileiro Marcelo Neves, no sentido do diálogo entre uma ordem estatal e

outra transnacional, no intuito de identificar a possibilidade da ocorrência de

corrupção dos sistemas envolvidos na relação transordinal, através da análise

do processo de aprovação do Projeto de Lei nº. 2330/2011, que originou a Lei

da Copa, bem como a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4976, em que o

Supremo Tribunal Federal entendeu pela constitucionalidade da referida norma

legal.

Como ponto primeiro no presente capítulo, nos interessa compreender o

teor da ordem jurídica não-estatal da FIFA, através de seu Estatuto e pelos

contratos firmados pelo ente internacional e seus parceiros comerciais. O

Estatuto de FIFA. A ordem jurídica da FIFA é composta por uma série de

documentos e acordos, os quais regem a atuação da instituição no âmbito civil,

comercial, esportiva e, mesmo, penal, prevendo questões que, notadamente,

extrapolam a via jurídica e possuem a característica de homogeneização de

legislações no âmbito esportivo, especificamente quanto ao futebol, em todo o

planeta.

O artigo primeiro do Estatuto da FIFA prevê sua personalidade jurídica

como associação registrada perante o Commercial Register de acordo com o

art. 60 do Código Civil Suíço, destacando, assim, sua sede junto à metrópole

Zurique, maior centro comercial daquele país e dos mais proeminentes na

Europa. Parece-nos importante destacar, aqui, a previsão do artigo primeiro do

Código de Conduta da FIFA, outro documento de importância destaca, o qual

registra os valores que regem a Federação:

O Código de Conduta da FIFA define os valores e princípios mais importantes para o comportamento e conduta dentro FIFA, bem como com os parceiros externos. A observância dos princípios estabelecidos no Código de Conduta é essencial para a FIFA e os seus objectivos, em especial para proteger e melhorar o jogo de

futebol constantemente e promovê-lo globalmente, à luz da sua unificação, e dos valores educativos, culturais e humanitários, particularmente através de programas de juventude e de desenvolvimento, além de prevenir quaisquer métodos ou práticas que possam colocar em risco a integridade de jogos ou competições ou dar origem a abusos do futebol associado. (tradução livre do autor)3.

O Estatuto define, ainda, em seu art. 21, e seguintes, quais os

organismos que, conjuntamente, constituem o corpo da Federação. Como

“órgão supremo e legislativo” está o Congresso da FIFA, realizado anualmente,

em que cada Federação Nacional possui representação, através de seu

presidente, bem como há os representantes das cinco Confederações

continentais; o Comitê Executivo é o órgão executivo da FIFA, comandado pelo

Presidente-Geral da entidade, escolhido pelo Congresso, possui vinte e cinco

membros escolhidos entre os membros das Confederações continentais, de

acordo com o número de associados de cada Confederação; o Secretariado-

Geral é o órgão administrativo da FIFA; há, ainda, uma série de comitês

permanentes ou ad-hoc, responsáveis por gerir áreas específicas dentro da

Entidade, desde questões financeiras até mudanças nas regras do próprio

esporte.

Entre os comitês permanentes da FIFA, há três que formam o que o

Estatuto, em seu art. 61, denomina de órgãos judiciais da Entidade, o Comitê

Disciplinar; o Comitê de Ética e; o Comitê de Apelação. Os órgãos judiciais da

FIFA são os responsáveis pela aplicação dos códigos de Ética e Disciplinar,

podendo impor sanções aos atletas profissionais, Clubes, dirigentes dos

clubes, agentes de atletas, desde suspensões e multas pecuniárias, até

rebaixamento de clubes para divisões inferiores, cassação de títulos e, ainda,

proibição de jogadores, agentes ou dirigentes de entrarem em estádios durante

as partidas. A Entidade reconhece a jurisdição do Tribunal Arbitral do Esporte –

TAS4, sediado em Lausanne, na Suíça, como Corte Suprema para dirimir

conflitos decididos pelos órgãos judiciais da FIFA. Com o reconhecimento da

3 The FIFA Code of Conduct defines the most important values and principles for behavior and conduct within FIFA as well as with external parties. The observance of the principles laid down in the Code of Conduct is essential to FIFA and its objectives, in particular to protect and improve the game of football constantly and promote it globally in the light of its unifying, educational, cultural and humanitarian values, particularly through youth and development programmes, and prevent any methods or practices which might jeopardise the integrity of matches or competitions or give rise to abuse of association football.4 CAS – Court of Arbitration for Sport na sigla em Inglês e Francês.

jurisdição do TAS como última instância a FIFA proíbe, de forma peremptória

em seu Estatuto, o recurso à Justiça Comum nacional por parte dos clubes,

jogadores ou dirigentes para assuntos ligados ao jogo do futebol (punições e

suspensões impostas pela FIFA), exceto questões ligadas aos direitos

trabalhistas, previdenciários e econômicos tratados entre as agremiações e os

profissionais do esporte, existindo a possibilidade de que o clube que ingresse

na Justiça Comum, ao invés dos órgãos judiciais da FIFA ou do TAS, seja

punido com o rebaixamento no campeonato que dispute.

Além dos instrumentos já mencionados, a atuação da Federação é

regida por uma infinidade de termos e códigos atuando na seara esportiva, no

sentido de regrar a prática do futebol, mas, também, na área econômica e

política, uma vez que há documentos versando sobre os padrões de

cooperação entre a FIFA e os Estados, bem como entre a FIFA e seus

parceiros comerciais. Assim, o procedimento conjuntural de todos os

regimentos da Entidade forma sua ordem jurídica, um ordenamento

transnacional, portanto, sem Estado.

Importa-nos entender, agora, em que momento acontece (e aconteceu)

o diálogo entre a ordem da FIFA e o ordenamento jurídico brasileiro, duas

ordens fechadas, no sentido de compreender se o ultraciclo transordinal

ocorrido manteve a autopoiese de cada sistema ou é possível identificar

corrupção sistêmica no acoplamento estrutural estabelecido.

O diálogo entre as duas ordens fechadas se deu através da assinatura

do Government Guarantees, em junho de 2007, entre o Governo brasileiro e a

FIFA. O documento firmado entre Brasil e FIFA é espelhado no Standard

Cooperation Agreement, normatização produzida pela Entidade como padrão

para o regimento de seus acordos com as Nações, e prevê uma série de

garantias e promessas do Governo brasileiro, assegurando, com isso, o papel

do país como sede do Mundial para o ano de 2014. O Government Guarantees

foi firmado pelo Presidente da República à época, Luiz Inácio Lula da Silva, e

pelos Ministros de Estado dos Esportes; das Relações Exteriores; do Trabalho

e Emprego; da Fazenda; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;

da Cultura; da Ciência e Tecnologia; das Comunicações; da Justiça e; da

Defesa.

Além do Government Guarantees, de âmbito nacional, após o

estabelecimento de quais cidades receberiam jogos durante a realização da

competição, foram firmados os Host City Agreement, acordos entre a FIFA e

cada uma das doze cidades-sede, no intuito de regular a atuação da Entidade

de forma pormenorizada, no âmbito local.

Entretanto, os Agreement’s entre FIFA, Estado-nação e os Municípios,

espelhados na ordem jurídica da Instituição, possuíam previsões que colidiam

com a ordem jurídica estabelecida no Brasil, tanto em relação à Constituição

Federal quanto à legislação infraconstitucional. No intuito de internalizar as

determinações dos acordos assinados com a Entidade, o Executivo nacional

enviou à Câmara Federal o Projeto de Lei nº. 2330, apresentado em setembro

de 2011, projeto este que foi transformado na Lei Ordinária nº. 12.663/2012, a

Lei Geral da Copa.

É, justamente, o supramencionado projeto de lei e, posteriormente, a

própria legislação, o ponto nevrálgico que se tenta compreender no presente

trabalho, haja vista que, notadamente, é o momento de convergência entre as

duas ordens fechadas, uma transnacional e regida, claramente, pelas forças da

economia internacional; e a outra nacional, estatal, dirigida sob a égide da

Constituição e da garantia dos direitos fundamentais. Parece-nos cristalino o

processo de irritação ultracíclico entre esporte, economia, política e direito

estabelecido no processo de internalização de dispositivos de uma ordem

jurídica não-estatal.

O Projeto de Lei 2330/2011 tramitou no Congresso sob Regime de

Urgência, situação prevista no art. 155 do Regimento Interno da Câmara dos

Deputados para proposição que “verse sobre matéria de relevante e inadiável

interesse nacional”. Aprovado nas Comissões designadas, entre elas a de

Constituição e Justiça, em um dia, foi determinada a criação da Comissão

Especial para exarar parecer sobre o projeto, o qual restou aprovado em

Plenário em março de 2012 e enviado ao Senado Federal para revisão e,

posteriormente, em maio do mesmo ano, remetido à Presidência para sanção.

Publicada, então, em 05 de junho de 2012 a Lei nº. 12.663/2012, originada do

referido projeto.

Interessante analisar que o projeto que culminou na Lei Geral da Copa

tramitou sob regime de urgência, ainda que não se vislumbre matéria de

relevante e inadiável interesse nacional. Ademais, o Brasil remeteu à FIFA o

Government Guarantees no ano de 2007, todavia, o projeto de lei para

regulamentar a Copa do Mundo de 2014 somente chegou ao Congresso no

ano de 2011, ou seja, com prazo, relativamente, exíguo para realização das

obras de infraestrutura que um megaevento, como o Mundial de Futebol,

demanda.

Passamos, nesse interim, ao exame pormenorizado, ainda que não

exaustivo, de alguns dispositivos presentes na Lei Geral da Copa, traçando um

paralelo com os preceitos da Constituição Federal, bem como de outras leis

infraconstitucionais, pincelando, posteriormente, sobre a ADI 4976, proposta

pela Procuradoria-Geral da República.

Primeiro ponto crítico, e que reflete a influência da economia, é a defesa

do consumidor. O Código de Defesa do Consumidor, estabelecido pela Lei nº.

8.078/1990, é legislação vanguardista na proteção dos direitos do consumidor,

atendendo preceitos fundamentais presentes na Constituição Federal, em seu

art. 5º, inciso XXXII. Ainda no texto constitucional, no Título VII, que versa Da

Ordem Econômica e Financeira, um dos princípios gerais a reger a atividade

econômica é a defesa do consumidor (art. 170, inciso V).

A LGC, no seu Capítulo V, da Venda de Ingressos, possui uma série de

dispositivos que afrontam ao princípio constitucional de defesa do consumidor,

empoderando a FIFA para versar sobre assuntos exclusivos do Estado. O art.

27 do diploma legal conferiu à FIFA a definição dos critérios sobre a

possibilidade, cancelamento, devolução e reembolso dos ingressos adquiridos,

autorizando a Entidade à venda de ingressos, além da forma avulsa, em

conjunto com pacotes turísticos e/ou de hospitalidade, bem como o

estabelecimento de cláusula penal para os casos de desistência da aquisição,

independente da forma. Tais dispositivos, cristalinamente, conflitam com a

vedação de “venda casada” presente no art. 39, inciso I do CDC, ou seja, o

condicionamento do fornecimento de um produto ou serviço ao fornecimento de

outro produto ou serviço. No mesmo sentido, quando a LGC estabeleceu

cláusula penal para os casos de desistência em qualquer forma de aquisição,

cristalinamente, a previsão do art. 49 do CDC, que possibilita a desistência do

consumidor no prazo de 07 dias para aquisições fora de estabelecimento

comercial.

Ainda no paralelo entre Lei Geral da Copa e a proteção dos direitos dos

consumidores, merecem destaque os artigos 25 e 26 do texto legal, outorgando

à FIFA a competência para a determinação dos preços dos ingressos, divididos

em quatro categorias, em ordem decrescente, onde a Categoria 1 representa a

mais elevada. Em total desrespeito com as disposições presentes no Estatuto

da Criança e do Adolescente, em consonância com o Código de Defesa do

Consumidor e a Constituição Federal, somente houve previsão do desconto de

50%, a meia-entrada, para os ingressos da categoria 4, de pior localização nos

estádios.

O Capítulo II da LGC versa sobre a Proteção e Exploração de Direitos

Comerciais da FIFA e seus parceiros, em especial a Seção I, trouxe previsões

sobre a Proteção Especial aos Direitos de Propriedade Industrial Relacionados

aos Eventos Copa do Mundo e Copa das Confederações. O referido capítulo

promoveu o que se pode chamar de privatização e exclusividade da exploração

comercial de símbolos nacionais, como a seleção nacional de futebol e,

inclusive, os nomes das cidades-sedes, com o registro de mais de

quatrocentos termos junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. A

seleção nacional de futebol, as cidades brasileiras, as formas de expressão

através do futebol são patrimônios culturais brasileiros, protegidos pela

Constituição Federal em seu art. 216, assim, atribuir exclusividade pela

exploração comercial desses símbolos à um agente transnacional demonstra

que a proeminência da economia tem se acentuado.

Ainda no Capítulo II da LGC, a Seção II trouxe uma das maiores afrontas

à soberania nacional e aos direitos fundamentais assegurados pela

Constituição, com a previsão de criação de áreas restritas no perímetro de 2

quilômetros ao redor dos Locais Oficiais de Competição. Nessas zonas de

exclusão a FIFA e seus parceiros comerciais detinham a exclusividade na

divulgação, distribuição, venda, publicidade, propaganda de serviços e

produtos relacionados ao comércio, mesmo o comércio de rua. Ou seja, essas

zonas de exclusão vão de encontro às garantias do livre exercício de atividade

profissional (art. 5º, inciso XIII e art. 6º, caput) e da livre locomoção (art. 5º,

inciso XV) presentes na Constituição.

Analisemos, agora, a Seção IV do Capítulo II conjuntamente com o

Capítulo XVIII da LGC. A Secção IV do Capítulo, que compreende os artigos

16-18, estabelece Sanções Civis àqueles que obtivessem qualquer proveito

com a Copa do Mundo sem autorização da FIFA. O Art. 16 possui o rol de atos

passiveis de sanções civis, concernentes à qualquer tipo de publicidade

realizada dentro das zonas de exclusão supramencionadas, inclusive

publicidade aérea ou náutica, além da exibição pública das partidas ou o uso

de ingressos para jogos como premiação de promoções daqueles que não

eram parceiros comerciais da FIFA.

Além das sanções civis, a LGC versa sobre disposições penais, criando

tipo penal inexistente no ordenamento jurídico pátrio, o marketing de

emboscada por associação e marketing de emboscada por intrusão. Por

marketing de emboscada se entende as tentativas de divulgação de marcas ou

produtos em eventos que não são patrocinadores. Os artigos 32 e 33 da LGC

estabeleceram pena de detenção de três meses a um ano, ou multa, para

quem procedesse na tentativa ou realização de qualquer associação de suas

marcas ou produtos à Copa do Mundo caso não fosse parceiro comercial da

FIFA. Ambos os crimes são de Ação Penal Pública Condicionada à

Representação, por força do art. 34, representação da FIFA, o que atenta

contra a soberania do Estado brasileiro, haja vista que a Entidade transnacional

é a única possível vítima dos referidos tipos penais, vez que o consumidor,

atingido pela prática de marketing de emboscada e levado a consumir produto

não patrocinador equivocadamente, não possui o direito à representação.

Tanto o estabelecimento de sanções civis, quanto às previsões de tipos

penais inexistentes no ordenamento jurídico nacional, condicionados à

representação exclusiva da FIFA afrontam disposições constitucionais. O art.

5º, inciso IX, da Constituição garante a livre expressão de atividade intelectual,

artística, cientifica e de comunicação, independentemente de censura ou

licença, na mesma esteira, o caput do art. 170 avaliza a livre iniciativa.

Contudo, quando a LGC estipulou obrigação de indenizações à FIFA àqueles

que, sem sua autorização, obtivesse qualquer proveito com a Copa do Mundo,

bem como outorgou à Entidade a legitimidade exclusiva para representar

criminalmente face às pessoas, físicas e jurídicas, pela incursão em tipos

penais especialmente criados para o Evento, o direito se viu (quase que)

absorvido pela economia, haja vista que tais previsões criaram reserva de

mercado, publicidade e propaganda para a FIFA.

Da leitura dos Capítulos III e IV da LGC exsurge comprovação do quanto

a soberania nacional foi relativizada durante a vigência da referida legislação.

O art. 19 da Lei garante concessão sem qualquer restrição quanto à

nacionalidade, raça ou credo, dos vistos de entrada no Brasil para todos os

membros da delegação da FIFA, seus parceiros comerciais, funcionários,

prestadores de serviços, clientes de seus serviços de hospitalidade e qualquer

pessoa que possua ingresso para qualquer partida realizada durante a Copa do

Mundo. Ou seja, tal dispositivo retirou da alfandega nacional competência para

condicionar a concessão de vistos de entrada e permanência no território

brasileiro, contradizendo o disposto na Lei nº. 6.815/1980, que sujeita a entrada

de estrangeiros aos interesses nacionais.

Na mesma seara, o art. 23 da LGC imputa à União a responsabilidade

civil por quaisquer danos surgidos em função de qualquer incidente ou acidente

de segurança relacionado ao Evento, afastando da FIFA a responsabilidade

que lhe caberia. Ou seja, em total dissonância com a disposição constitucional

presente no art. 23, inciso I que prevê a competência da União, e das demais

unidades administrativas, no zelo e conservação do patrimônio público. Não

suficiente, o art. 53 da LGR isenta a FIFA, suas subsidiárias, representantes

legais, empregados e consultores do pagamento de custas processuais,

violando manifestamente o principio da isonomia tributária, presente no art.

150, inciso II da Constituição Federal.

Além das disposições supra, nos cabe mencionar que a LGC suprimiu

alguns artigos presentes na Lei nº. 10.671/2003, o Estatuto do Torcedor, que

em seu art. 13-A proíbe o ingresso em estádios portando bebidas alcoólicas,

bem como sua venda nos locais de eventos esportivos. A motivação para a

referida proibição levou em consideração o elevado número de conflitos

motivados pelo uso indiscriminado do álcool nos dias de eventos esportivos,

em especial o futebol. Contudo, a FIFA possui parceria comercial com a maior

empresa fabricante de cervejas do mundo, sendo imperiosa a comercialização

nos estádios durante o Evento, a ponto do Secretário-Geral da FIFA, o Sr.

Jérôme Valcke tratar a questão como inegociável.

O último ponto que nos interessa destacar e que demonstra que na

LGC, enquanto forma de diálogo entre as ordens jurídicas da FIFA e do Estado

brasileiro, a economia foi o sistema protuberante na relação ultracíclica é a

disposição do art. 64 do diploma legal. Por força do referido artigo, os sistemas

de ensino foram obrigados a ajustar seus calendários escolares, concedendo

férias escolares aos alunos, nas redes pública e privada, durante o

acontecimento da Copa do Mundo, em 2014. É cediço que as férias

concedidas no mês de julho, no Brasil, não abrangem trinta dias, perfazendo

lapso de quinze à vinte dias. Entretanto, no ano de 2014, em razão do

acontecimento do Evento Copa do Mundo, as escolas brasileiras tiveram de

dar férias aos seus alunos entre os dias 12 de junho e 13 de julho, contrariando

a disposição constitucional presente no art. 205 que estabelece como dever do

Estado a promoção e incentivo da educação no território nacional.

Com base em todas as contrariedades à Constituição presentes na Lei

Geral da Copa, a Procuradoria-Geral da República, órgão superior do

Ministério Público nacional, ingressou com Ação Direta de Inconstitucionalidade

dos dispositivos da referida lei, em maio de 2013, processo que tramitou no

Supremo Tribunal Federal sob o nº. ADI 4976, e restou julgado improcedente

pela Corte Superior brasileira, em maio de 2014, antes do acontecimento da

Copa do Mundo. Merece destaque o controverso voto do Min. Luís Roberto

Barroso, um dos mais reconhecidos constitucionalistas brasileiros e defensores

do ativismo judicial, que ao proferir seu voto, pela constitucionalidade da LGC,

aduziu descaber ao Supremo (Judiciário) ser juiz das decisões de conveniência

e oportunidade tomadas pelos agentes públicos eleitos, já que a Lei fora

aprovada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo.

Parece-nos oportuno, nesse momento, levantar algumas ideias do jurista

brasileiro Marcelo Neves. Este, valendo-se da tese proposta por Niklas

Luhmann, define acoplamentos estruturais como “mecanismos de

interpenetrações concentradas e duradouras entre sistemas sociais” (2009, p.

37). Ou seja, mecanismos que

possibilitam o intercâmbio construtivo de experiências entre racionalidades parciais diversas, que, conforme o tipo e a singularidade dos respectivos sistemas ou discursos e de acordo com duas relações especificas, variará intensamente na forma e no conteúdo (NEVES, 2009, p. 38).

Percebendo os acoplamentos estruturais como uma forma de dois lados

e se entendermos a Lei Geral da Copa como ponto dialogal entre as ordens

fechadas da FIFA e do Brasil, é possível falarmos, depois da exposição dos

conflitos entre a Lei e a Constituição nacional, no conceito de corrupção

sistêmica que Marcelo Neves, na esteira de Luhmann, nos apresenta.

O lado negativo do acoplamento estrutural são os bloqueios recíprocos das autonomias sistêmicas mediante corrupção dos sistemas envolvidos. Aqui o código de um dos sistemas é sabotado pelo código de um outro sistema, de tal sorte que aquele perde sua capacidade de reprodução consistente. (2009, p. 42).

Na esteira da pesquisa científica de Marcelo Neves sobre o

transconstitucionalismo, proposta de uma metodologia dialogal entre diferentes

ordens jurídicas, a Lei Geral da Copa apresenta características de corrupção

sistêmica, ainda que no plano operativo, vez que momentânea, já que a

vigência da legislação cessou ao final da Copa do Mundo, e para alguns

dispositivos ao final do ano de 2014. Assim, o diálogo entre as ordens jurídicas

fechadas da FIFA e do Brasil ficou em um plano ideal, não alcançando o plano

fático, o que pode gerar um precedente perigoso, não apenas à soberania do

Estado brasileiro, mas no sentido de que a hegemonia de um sistema social,

como a economia, possa tornar-se uma expansão imperial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Passado mais de um ano após o acontecimento da Copa do Mundo no

Brasil, o Evento segue gerando efeitos sobre a população brasileira e o Estado

nacional.

Os gastos e as dívidas contraídas para realização do Evento por alguns

anos serão sentidos pelo Governo, em todas as esferas, e permearão os

orçamentos da União, Estados e Municípios que receberam partidas durante a

Copa do Mundo.

Some-se aos gastos de elevada monta o abalo moral sofrido pela

sociedade com a atuação da seleção nacional no torneio e, recentemente, o

escândalo de corrupção e suborno na alta cúpula da FIFA, denominado

FIFAGate, e a hipótese de corrupção sistêmica no processo de aprovação da

Lei Geral da Copa, adaptação da ordem jurídica nacional em referência à

ordem jurídica transnacional da FIFA, se torna sobressalente.

Se a pós-modernidade é líquida, fluída e tempo onde as instituições

abandonam seu estado de solidez, a ausência de metanarrativas, ou sua

insuficiência, a proeminência de um sistema, seu empoderamento

desordenado, pode gerar um precedente ameaçador, uma homogeneização

que pode levar a economia de sistema hegemônico ao império do mercado

global.

Ainda que reconheçamos que as metanarrativas não mais respondem

aos anseios da sociedade como outrora, a total ausência de instituições, como

o Estado-nação, pode nos lançar em um limbo existencial, em que vagaremos

do nada à lugar algum, deteriorando o humano, deixando a sociedade à mercê

do mercado, da economia ou dos meios de mídia de massa.

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as Leis nos 6.815, de 19 de agosto de 1980, e 10.671, de 15 de maio de 2003; e

estabelece concessão de prêmio e de auxílio especial mensal aos jogadores

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