a corrupção, o brasil e a irreversibilidade do estigma

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A CORRUPÇÃO, O BRASIL E A IRREVERSIBILIDADE DO ESTIGMA Durante a pequisa realizada sobre corrupção no Brasil, o contato com o organismo internacional Transparency Internacional permitiu a detecção do Corruption Perceptions Index de mais de 100 países, estudo este que vem sendo desenvolvido desde 1995, propiciando à questão da corrupção um agendamento sobre política internacional. A metodologia classifica os países e territórios com base na identificação e classificação do peso que o nível de corrupção passa a se inserir sobre em seu setor público. É um índice que se fundamenta na combinação de pesquisas de dados relacionados à corrupção recolhidos por determinadas instituições com alta conotação de respeitabilidade moral e ética. Assim sendo, o índice reflete o entendimento dos observadores de todo o mundo, dentro na maior transparência e imparcialidade possível, incluindo os peritos que vivem e trabalham nos países e territórios avaliados. Questões que são detectadas pelo Corruption Perceptions Index, como rigorosamente presentes no governo brasileiro, são, em sua maioria, a ilegalidade do tráfico de influência para se obter favores ou tratamentos preferenciais, quebrando o princípio integridade. Um fato que é corriqueiro no Brasil e que aconteceu recentemente, denotando o tráfico de influência, foi o momento em que a presidente Dilma, para forçar o congresso nacional a votar favorável o projeto de lei do Executivo que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e elimina a meta fiscal de 2014, valeu- se da possibilidade de embargar/vetar repasses de recursos financeiros aos senadores, os quais viabilizariam projetos nacionais. Outro problema significativo e que afeta mais de perto o setor privado é a ampla gama de agências reguladoras, as quais impondo uma enorme burocracia acabam por fomentar a exigência de subornos por funcionários públicos, induzindo quase 70% dos empresários brasileiros e seus gestores, conforme pesquisa desenvolvida pelo Transparency Internacional , a identificarem a corrupção como um dos principais entraves do setor. O Brasil, conforme informações oriundas das pesquisas desenvolvidas pela Transparency Internacional, descumpre a Convenção Anti-Suborno da OCDE, que trata de subornos em negócios internacionais, ratificada há doze anos em conjunto com os países membros. O relatório de 2012 identifica que há pouca fiscalização para casos dessa

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Page 1: A corrupção, o brasil e a irreversibilidade do estigma

A CORRUPÇÃO, O BRASIL E A IRREVERSIBILIDADE DO ESTIGMA

Durante a pequisa realizada sobre corrupção no Brasil, o contato com o organismo internacional Transparency Internacional permitiu a detecção do Corruption Perceptions Index de mais de 100 países, estudo este que vem sendo desenvolvido desde 1995, propiciando à questão da corrupção um agendamento sobre política internacional. A metodologia classifica os países e territórios com base na identificação e classificação do peso que o nível de corrupção passa a se inserir sobre em seu setor público.

É um índice que se fundamenta na combinação de pesquisas de dados relacionados à corrupção recolhidos por determinadas instituições com alta conotação de respeitabilidade moral e ética. Assim sendo, o índice reflete o entendimento dos observadores de todo o mundo, dentro na maior transparência e imparcialidade possível, incluindo os peritos que vivem e trabalham nos países e territórios avaliados.

Questões que são detectadas pelo Corruption Perceptions Index, como rigorosamente presentes no governo brasileiro, são, em sua maioria, a ilegalidade do tráfico de influência para se obter favores ou tratamentos preferenciais, quebrando o princípio integridade. Um fato que é corriqueiro no Brasil e que aconteceu recentemente, denotando o tráfico de influência, foi o momento em que a presidente Dilma, para forçar o congresso nacional a votar favorável o projeto de lei do Executivo que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e elimina a meta fiscal de 2014, valeu-se da possibilidade de embargar/vetar repasses de recursos financeiros aos senadores, os quais viabilizariam projetos nacionais.

Outro problema significativo e que afeta mais de perto o setor privado é a ampla gama de agências reguladoras, as quais impondo uma enorme burocracia acabam por fomentar a exigência de subornos por funcionários públicos, induzindo quase 70% dos empresários brasileiros e seus gestores, conforme pesquisa desenvolvida pelo Transparency Internacional, a identificarem a corrupção como um dos principais entraves do setor.

O Brasil, conforme informações oriundas das pesquisas desenvolvidas pela Transparency Internacional, descumpre a Convenção Anti-Suborno da OCDE, que trata de subornos em negócios internacionais, ratificada há doze anos em conjunto com os países membros. O relatório de 2012 identifica que há pouca fiscalização para casos dessa natureza. Constatou-se que após a ratificação da Convenção, apenas um caso e dois inquéritos foram levados a diante.

No que concerne ao financiamento político e de campanha, o Brasil possui um dos mais fortes regulamentos de financiamento político e de campanha na América Latina, no entanto, os riscos de corrupção permanecem elevadíssimos. Por exemplo, não há limites para doações a partidos políticos, bem como às suas despesas. Embora candidatos e partidos se veem obrigados a identificar seus financiadores, essa exigência somente acontece quando da elaboração do relatório final consolidado. Como a divulgação ocorre após o pleito eleitoral, impede, por consequência, a existência de mecanismos que venham rastrear o que ocorre nos bastidores do tráfico de influências e a sua medida financeira.

No que concerne às ações de governo estaduais e municipais, o sistema federativo propicia a políticos, correligionários e assessores considerável poder discricionário sobre o acesso e uso de recursos financeiros e operacionais da máquina pública. Essa liberdade de bastidores possibilita os governos estaduais e municipais, especialmente propensos à corrupção, a se safarem com certa tranquilidade, haja vista, a enormidade de leis, regulamentos e procedimentos inerentes ao entendimento de cada estado e município. Não há por conseguinte preocupação normativa quanto ao princípio da homogeneidade, do uniformismo e com a ausência de uma

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regulação direcionada à similitude dos efeitos, proporcionando com isso, um farto nível de corrupção em âmbito local.

Por fim aos contratos públicos, ainda que possuam uma regulamentação em termos, inclusive de elevada especificidade, como é o caso da Lei nº 12.683 de 2012, que altera a Lei nº 9613 de 1998 e que cuida da persecução penal dos crimes de lavagem de dinheiro, ainda emperra sua aplicabilidade em mecanismos fracos e ineficientes de acompanhamentos e controle.

Por meio da tabela em anexo é possível identificar-se os índices de corrupção do Brasil, ao longo 14 anos de pesquisa elaborada pela Transparency Internacional, onde o ranking médio revelou sua localização para a 64ª nação mais corrupta do mundo, apresentando, em uma escala de 0 a 10, um score de 3,8, caracterizando uma nota inferior a 4. Ousa-se afirmar que os dois países cujo os níveis de corrupção são os mais baixos do mundo, no caso a Dinamarca e a Nova Zelândia, apresentaram em 2014 um score de 9,2 e 9,1 respectivamente. Comparando-se score atingido pelo Brasil, na média dos 14 anos de pesquisa, com aquele registrado pela Dinamarca, o mesmo permaneceu abaixo em 58,7%, denotando, portanto, um quadro de corrupção endêmica encalacrada sobre o comportamento ético e moral do povo brasileiro.

Tabela - Corruption Perceptions Index

Fonte: Transparency International

Período Índice de Corrupção

Classificação Pontuação

2000 49 3,92001 46 3,92002 45 4,02003 54 3,92004 59 392005 62 3,72006 70 3,32007 72 3,52008 80 3,52009 75 3,72010 69 3,72011 73 382012 69 4,32013 72 4,22014 69 4,3

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