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A CONTRIBUIÇÃO DO PROFESSOR PEDAGOGO PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA

DE NÍVEL MÉDIO – SUBSEQUENTE: POR UMA FORMAÇÃO POLITÉCNICA1

Clecilda Parabocz2

Professor Dr. José Luis Zanella3 RESUMO Este artigo é o resultado final do trabalho desenvolvido ao longo do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE cujo tema é a reflexão sobre uma experiência de intervenção do professor pedagogo na formação continuada dos professores da educação profissional técnica do Colégio Estadual "Reinaldo Sass", de Francisco Beltrão/PR, realizada no período de um ano. O texto parte do pressuposto da necessidade de se buscar uma formação profissional do aluno para além dos conhecimentos técnicos, numa perspectiva de politécnica e omnilateralidade que requer uma formação continuada dos professores. A partir daí, apresentam-se os desafios à intervenção pedagógica e de uma outra política educacional. No texto, encontram-se, desde um momento introdutório, em que se explicam os objetivos do trabalho, até a implementação pedagógica, com a reflexão sobre a sua realização. Aprofundando o texto, antes da exposição da implementação são contextualizados os elementos teóricos, a realidade da implementação – o Colégio Estadual "Reinaldo Sass", bem como a metodologia utilizada para já citada implementação.

Palavras-chave: Educação Profissional. Técnico em Enfermagem. Técnico em Segurança do Trabalho. Formação Omnilateral.

1 Introdução

Este texto expressa parte do projeto desenvolvido junto ao Programa de

Desenvolvimento Educacional do Paraná – PDE, área de Pedagogia. Durante a

formação realizada neste programa, vislumbrou-se a possibilidade de questionar as

limitações e as possibilidades da Educação Profissional a partir do foco da formação

dos professores e do papel do pedagogo como interlocutor e intermediador desse

processo de formação.

Este trabalho possuiu como objetivo central o de possibilitar ao professor da

1 Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná – PDE, como

requisito final para a conclusão do curso. 2 Professora Pedagoga do Colégio Estadual "Reinaldo Sass", autora deste artigo. 3 Professor da Unioeste – Campus de Francisco Beltrão, orientador deste artigo.

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educação profissional poder apropriar-se das concepções pedagógicas que têm por

base a formação omnilateral do educando, contribuindo para a busca de uma

formação integral dos cidadãos trabalhadores. E, para atingir tal objetivo, foram

traçados os seguintes objetivos específicos ao desenvolvimento do trabalho:

realizar um diagnóstico dos cursos de formação profissional do Colégio

Estadual “Reinaldo Sass” quanto às condições materiais e a formação dos

docentes;

articular, junto à direção, coordenação de curso e equipe pedagógica, a

criação de espaço pedagógico que propicie um debate crítico sobre a

alienação da educação profissional na perspectiva de superação dessa

mesma realidade;

conhecer e debater as concepções pedagógicas que norteiam a educação

profissional à luz de educadores como Gaudêncio Frigotto, Acacia Zeneida

Kuenzer e Demerval Saviani, fazendo análises das pesquisas realizados por

esses educadores com a finalidade de desenvolver uma cultura de formação

continuada junto aos educadores;

debater as propostas para a educação profissional contidas no Caderno da V

Conferência Estadual de Educação APP Sindicato.

A partir do exposto, este artigo pretende retomar os elementos centrais de

todo o trabalho desenvolvido junto ao PDE. Para tal, num primeiro momento faz-se

uma retomada dos pressupostos teóricos que fundamentaram o projeto e a

contextualização de sua área de aplicação. Num segundo momento, resgatam-se as

estratégias metodológicas de aplicação. Por fim, são feitas análises das

perspectivas e limitações percebidas quando da realização da implementação

pedagógica do projeto.

2 Dos Pressupostos Teóricos à Realidade Pesquisada

A trajetória do ensino médio profissionalizante no Brasil tem sido marcada

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por políticas de ruptura e de descontinuidade. Sua oferta pode ser caracterizada

quase como uma política de gestão ou de governo:

O que se oculta é opção da classe dominante de sua inserção consentida e subordinada ao grande capital e nosso papel subalterno na divisão internacional do trabalho, com a hipertrofia da formação para o trabalho simples e as relações de classe nos planos mundial e interno. Ou seja, a sociedade que se produz na desigualdade e se alimenta dela não só não precisa da efetiva universalização da educação básica, como a mantém diferenciada e dual. Assim é que as políticas educacionais, sob o ideário neoliberal da década de 1990 e sob um avanço quantitativo no ensino fundamental e uma mudança discursiva aparentemente progressista no ensino médio e na "educação profissional e tecnológica", aprofundam a segmentação, o dualismo e perpetuam uma relação débil entre ambas. (FRIGOTTO, p. 1138, 2007).

Diante desse contexto de precarização do trabalho, Ramos (2002) chama a

atenção para “[...] proporcionar aos jovens passagens menos traumáticas para o

mundo do trabalho e juntamente com os adultos construir alternativas que

supostamente minimizaram os riscos da exclusão social”.

Segundo a autora, é necessário manter diálogo permanente entre

educandos e educadores para expandir a oferta da educação profissional tendo

como eixos a formação integral, a politécnica, a concepção do trabalho como

princípio educativo e a articulação entre essa modalidade de ensino e a educação

básica.

A educação profissional tem sido objeto de estudo por vários educadores no

Brasil, já que, nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Profissional de

Nível Técnico, a qualificação profissional é focada em um conjunto de atributos

individuais de caráter cognitivo ou social, que são resultados de uma escolarização

geral ou profissional:

Que tipo de projeto de educação escolar básica e de formação profissional e tecnológica se coloca como necessário para uma sociedade que moderniza o arcaico e onde o atraso de determinados setores, a hipertrofia do trabalho informal e a precarização do trabalho formal, o analfabetismo etc. não são obstáculos ou impeditivos ao tipo de desenvolvimento que se ergueu pela desigualdade e se alimenta dela? (FRIGOTTO, p. 1135, 2007).

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Faz-se, portanto, necessário haver propostas que venham oportunizar tanto

ao professor como o aluno sua inserção crítica nessa sociedade, que qualifique o

aluno do ensino profissionalizante para uma dimensão social que evidencia muitos

elementos que estão além dos saberes e dos diplomas, que vão atuar como uma

divisão social e técnica do trabalho. Há um esforço dos educadores em buscar uma

formação integral para o aluno trabalhador e prepará-lo para o mundo do trabalho

não de forma unilateral, mas omnilateral: “Frente à realidade da alienação humana

[...], está a exigência da onilateralidade, de um desenvolvimento total, completo,

multilateral, em todos os sentidos das faculdades e das forças produtivas, das

necessidades e da capacidade da sua satisfação” (MANACORDA, 1991, p. 78).

Com a imposição da profissionalização universal e compulsória (Lei Federal

nº 5.692/1971) sem a devida destinação de recursos públicos tanto financeiros com

pedagógicos, dificultou-se ainda mais essa formação em âmbito nacional.

Após a promulgação da última Lei de Diretrizes e Base da Educação

Nacional – LDBEN (Lei Federal nº 9394/1996), o MEC iniciou uma reforma do ensino

médio em que a proposta é a de separação das duas redes de ensino, sendo uma

destinada à formação acadêmica e outra à formação profissional. Na educação

brasileira, por várias vezes tem se pautado “[...] a construção de uma sociedade ou

de uma nação onde os seres humanos possam produzir dignamente a sua

existência, ou a permanência em um projeto de sociedade que aprofunda sua

dependência, subordinada aos grandes interesses dos centros hegemônicos do

capitalismo mundial” (FURTADO apud FRIGOTTO, 2007, p. 1132).

E, ainda, pelos frágeis mecanismos de articulação previstos, reforça a

dicotomia histórica que tem marcado o ensino médio, ou seja, de um lado, a

educação voltada para a formação da elite e, de outro, aquela voltada aos que

ingressam muito cedo no mundo do trabalho. De acordo com Ramos (2002):

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico, a qualificação é enfocada como conjunto de atributos individuais, de caráter cognitivo ou social, resultantes da escolarização geral e/ou profissional, assim como das experiências de trabalho. (FERRETTI apud RAMOS, 2002, p. 405).

Ainda:

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Em síntese, encontramos os seguintes problemas nas orientações oficiais para os currículos da educação profissional de nível técnico, muito próximos dos problemas próprios do condutivismo: a) reduzem as competências profissionais aos desempenhos observáveis; b) reduzem a natureza do conhecimento ao desempenho que ele pode desencadear; c) consideram a atividade profissional competente como uma justaposição de comportamentos elementares cuja aquisição obedeceria a um processo cumulativo; d) não colocam a efetiva questão sobre os processos de aprendizagem, que subjazem aos comportamentos e desempenhos: os conteúdos da capacidade. (RAMOS, 2002, p. 412).

Como podemos analisar na citação acima, a fragmentação e o

comprometimento da formação, tanto técnica como acadêmica, ficam evidenciados

nos documentos oficiais e na legislação, como o Decreto Federal nº 2.208/1997, que

regulamenta o § 2º do artigo 36 da LDBEN de 1996, que trata da formação

profissional em nível técnico. No artigo 5º propõe que “[...] a educação profissional

de nível técnico terá organização curricular própria e independente do ensino médio,

podendo ser oferecida de forma concomitante ou sequencial a este”.

Diante da pressão de organizações científicas, culturais e sindicais,

promulga-se depois o Decreto Federal nº 5.154/2004, que, “[...] na sua gênese,

dentro das contradições da travessia, tratava-se de resgatar a perspectiva

politécnica ou tecnológica” (FRIGOTTO, 2007, p. 1141).

Nesse sentido, a educação profissional compreenderia um processo de

escolarização que propiciasse ao educando uma formação integral, omnilateral,

onde os conhecimentos básicos e específicos se concretizam num único currículo.

Ainda entre o embate de forças promulga-se a Lei Federal nº 11.741/2008,

cuja ementa:

[...] altera dispositivos da lei N.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, da Educação de Jovens e Adultos e da Educação Profissional e Tecnológica. (DOU, 17/7/2008, p. 5).

Dentro desse contexto de mudanças educacionais em aspectos legais e

normativos, a educação profissional no estado do Paraná também passou por

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alterações. De uma política extremada no governo Jaime Lerner (1995-2002), que,

com o Programa de Expansão, Melhoria e Inovação do Ensino Médio (PROEM),

fechou vários cursos de Educação Profissional nas escolas públicas e os relegou à

iniciativa privada e à sorte dos trabalhadores, chegou-se, a partir de 2003, na gestão

Roberto Requião, a uma proposição de retomada da Educação Profissional, tanto no

que diz respeito ao seu financiamento e estruturação, quanto a uma nova

proposição pedagógica que supunha uma formação que tentasse superar a

dicotomia entre formação profissional e formação geral.

Nesse contexto político, encontrou-se a formação em Enfermagem no

Colégio Estadual "Reinaldo Sass", de Francisco Beltrão/PR. Foi autorizado o curso

profissionalizante de Auxiliar de Enfermagem no período de 1994 a 1998. Seu

reconhecimento e cessação vieram através da Resolução nº 1.487/97, publicado no

Diário Oficial de 30 de abril de 1997 e em 1998 aconteceu a cessação, graças à

política do PROEM, que extinguia a matrícula em cursos de Educação Profissional

na rede pública.

Na retomada da Educação Profissional, numa nova perspectiva, o Colégio

Estadual "Reinaldo Sass" continuou com seu histórico de formação de profissionais

da área da saúde, com a abertura de Curso Técnico em Enfermagem, sendo este

em forma subsequente, presencial, e a organização curricular é por disciplina e está

estruturada em 4 (quatro) semestres; e o curso Técnico em Segurança do Trabalho

também de forma subsequente, presencial, e a organização curricular é por

disciplina e está estruturada em 3 (três) semestres. Os alunos desses cursos podem

ser caracterizados como trabalhadores, residentes na cidade, sendo que frequentam

a escola após exaustivo dia de trabalho, enfrentando as mais diversas dificuldades

no dia a dia como: baixos salários, desemprego, problemas familiares, questões

essas que podem interferir no rendimento escolar.

O Colégio Estadual "Reinaldo Sass" compõe um quadro de 8 (oito)

docentes, todos graduados em Enfermagem e com especialização, sendo eles do

Quadro Próprio do Magistério ou seja concursados do Estado do Paraná. Essa

realidade somente para o curso Técnico em Enfermagem. A situação inversa

acontece no curso Técnico em Segurança do Trabalho, para o qual não há

professores efetivos do Estado, por isso a rotatividade de profissionais é grande,

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dificultando o trabalho pedagógico, que é interrompido a cada semestre, pois esses

professores são geralmente das áreas exatas engenharias.

3 Da Realidade Conhecida ao Problema: estratégias de implementação

Tendo em vista a realidade em que se aplicaria a implementação

pedagógica e a partir dos pressupostos teóricos, num primeiro momento pretendeu-

se dialogar com os professores e coordenadores de curso quanto ao seu

conhecimento em relação à estrutura dos cursos profissionalizantes oferecidos no

estabelecimento de ensino em questão, seja conhecimento através das leis, dos

textos pedagógicos e ou do Projeto Político-Pedagógico do colégio.

Face a isso, quis-se:

discutir a retomada, a construção e a implantação dessa modalidade de

ensino – a educação profissional – com a colaboração de educadores e de

pesquisadores com base na LDBEN de 1996 e na Lei Federal nº

11.741/2008, que pretende a articulação entre educação profissional e o

ensino médio, ou seja, a tão almejada formação integral do sujeito;

reunir direção e coordenação de curso para a implementação do trabalho

proposto;

organizar encontro com os professores da educação profissional para

encaminhar metodologia de trabalho;

fazer grupos de estudo para a discussão de textos e da legislação referentes

à educação profissional.

O objetivo deste trabalho era o de levar aos professores da educação

profissional, através da formação contínua, uma formação visando a

indissociabilidade entre teoria e prática, abordando conteúdos concernentes ao

processo de inclusão:

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Os processos de aquisição dos diferentes saberes podem se organizar em torno das atividades profissionais, desde que se distinga a existência, de um lado, de saberes teóricos e conceitos científicos formalizados que, por esse fato, tornaram-se independentes das ações; e, de outro lado, de saberes práticos que, embora possam formalizar-se, permanecem, quase sempre, imanentes à ação em que intervêm. Assim, a única possibilidade de se abordar pedagogicamente as atividades profissionais (as denominadas competências descritas nos RCNs) está em considerá-las como códigos que auxiliem os professores em seus diálogos, com base em suas disciplinas, para a construção de objetivos, metas e projetos comuns, articulados no processo de ensino-aprendizagem. Mas, sob nenhuma hipótese, os programas escolares podem limitar essas descrições ou tê-las como pontos de partida exclusivos. (RAMOS, 2002, p. 417).

Segundo a autora, trata-se de definir uma concepção de currículo de

educação profissional que vise à emancipação humana, voltada à formação do

cidadão, na perspectiva da classe trabalhadora, o que exige discussões coletivas

sobre concepção de educação, de currículo, de avaliação, de conteúdo e de

processo de ensino-aprendizagem. Trata-se de uma concepção que deve

contemplar a formação integral e primar pela apropriação dos conhecimentos

científicos e técnicos:

Neste horizonte a expectativa social mais ampla é de que se possa avançar na afirmação da educação básica (fundamental e média) unitária, politécnica e, portanto, não dualista, que articule cultura, conhecimento, tecnologia e trabalho como direito de todos e condição da cidadania e democracia efetivas. Não se trata de uma relação, pois, linear com o mercado de trabalho, mas mediada, sem o que não se cumpre os dois imperativos: de justiça social e de acompanhamento das transformações técnico-científicas do mundo do trabalho. A concepção de ensino médio politécnico ou tecnológico, amplamente debatida na década de 1980, é a que pode responder a este horizonte de formação humana. Trata-se de desenvolver os fundamentos das diferentes ciências que faculte aos jovens a capacidade analítica tanto dos processos técnicos que engendra o sistema produtivo, quanto, das relações sociais que regulam a quem e a quantos se destina a riqueza produzida. Como lembrava Gramsci, na década de 1920: uma formação que permita o domínio das técnicas, as leis científicas e a serviço de quem e de quantos está a ciência e a técnica. Trata-se de uma formação humana que rompe com as dicotomias, geral e especifico político e técnico ou educação básica e técnica, heranças de uma concepção fragmentária e positivista de realidade humana. (FRIGOTTO, p. 11, grifo do autor. Disponível em: <http://www.do.ufgd.edu.br/paulolima/ arquivo/ept/texto%2006.pdf>).

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Como dissemos no início deste trabalho, a história da educação brasileira e

a história da educação profissional se entrelaçam. Então cabe questionar: – Como

garantir condições à educação fundamental (muitas vezes negada pela complexa

contradição educacional), sabendo-se que cada vez mais cedo os alunos

necessitam buscar sua subsistência, fazendo uma jornada exaustiva de oito horas

diárias de trabalho e buscando uma forma de ensino supletivo à noite ou cursos

noturnos “relâmpagos”?

Assim, portanto, para a formação profissional específica sobrepor-se a essa

realidade que aí está são necessárias melhores condições materiais de trabalho,

laboratórios, bibliotecas, material didático, tempo de estudo, formação, condições de

trabalho e salários condizentes aos professores.

Frigotto deixa claro que temos três grandes desafios a perseguir:

Desconstruir, primeiramente, do imaginário das classes populares, o entulho ideológico imposto pelas classes dominantes da teoria do capital, da pedagogia das competências, da empregabilidade, do empreendedorismo e da ideia que cursinhos curtos profissionalizantes, sem uma educação básica de qualidade, os introduzem rápido ao emprego.

O segundo desafio é a mudança no interior da organização escolar, que envolve formação dos educadores, suas condições de trabalho, seu efetivo engajamento e mudanças na concepção curricular e prática pedagógica. Se os educadores não constroem, eles mesmos, a concepção e prática educativa e de visão política das relações sociais aqui assinaladas, qualquer proposta perde sua viabilidade.

Finalmente, o terceiro desafio envolve a sociedade civil e política. Trata-se de criar as condições objetivas e subjetivas para viabilizar em termos econômicos e políticos este projeto. Gramsci ao pensar a escola de seu tempo assinalava que a mesma somente muda de fato quando se torna problema e projeto efetivo da sociedade. O que assinalamos neste texto, e nos demais que constituem esta coletânea, se inscreve numa longa luta da sociedade brasileira no âmbito econômico, político, cultural e educacional. Projeto que tem em seu ideário a mudança das estruturas que geram a desigualdade e a construção de um projeto societário de base popular. Para muito, incluindo-me neste universo, trata-se de ir construindo a utopia (outro lugar) de ir além da sociedade regida pelo capital. Vale dizer construir sociedades efetivamente socialistas. (FRIGOTTO, 2005, p. 175).

Assim, portanto, “[...] cabe à classe trabalhadora lutar em suas organizações

e movimentos para construir uma nação contra aqueles que historicamente

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moldaram um capitalismo dependente associado e subordinado ao capital mundial”

(FRIGOTTO, 2007, p. 1148). Com essa luta cabe buscar o desenvolvimento do

sujeito como cidadão, proporcionando-lhes meios para prover sua existência

material e sua realização social.

4 Do Pensado ao Realizado: a implementação

Tendo em vista o projeto de implementação, o que havia sido planejado, foi

desmembrado em dois grandes momentos ou espaços de realização (um coletivo e

outro individualizado), neste primeiro espaço, o coletivo, reuniram-se a professora

pedagoga PDE/2010, os professores da Educação Profissional e o professor

orientador José Luís Zanella, numa das salas de aula de Colégio "Reinaldo Sass".

Inicialmente foram feitos agradecimentos pela presença de todos, apresentações e

exposição dos objetivos da chamada implementação pedagógica, junto aos

professores da Educação Profissional. Com o objetivo de propiciar reflexão sobre os

avanços e os retrocessos vivenciados pela Educação Profissional, foi apresentado

na TV Multimídia um vídeo, produzido pela professora PDE/2010, com a música

“Desesperar Jamais”, de Ivans Lins / Vitor Martins (1984).

Após a reflexão, o professor orientador, Dr. José Luis Zanella, fez a

explanação das principais ideias do texto "O Choque Teórico da Politécnica

Trabalho e Saúde", de Demerval Saviani (2003, p. 131-152), e, posteriormente,

realizou-se debate com todos os envolvidos.

Ainda nesse espaço de discussão coletiva, mas num outro momento,

apresentou-se aos professores da Educação Profissional uma produção pedagógica

da Escola Politécnica de Saúde "Joaquim Venâncio", do Rio de Janeiro, que está

disponível no livro “Na Corda Bamba de Sombrinha: a saúde no fio da história”.

Também o Encarte “Cantos, Contos e Imagens: puxando mais uns fios nessa

história”, dos organizadores Carlos Fidelis Ponte e Ialê Falleiros. e, ainda, o DVD

"Trabalho e Formação Profissional em Saúde: na corda bamba de sombrinha", dos

organizadores José Roberto Franco Reis e Muza Clara Chaves Velasques,

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As instituições: Observatório História & Saúde e Observatório dos Técnicos

em Saúde, estações de trabalho da Rede Observatório de Recursos Humanos

(Secretaria de Gestão do trabalho e da Educação na Saúde Ministério da Saúde/

Organização Pan-Americana da Saúde-Brasil) sediados, respectivamente, na casa

de Oswaldo Cruz e na Escola Politécnica de Saúde "Joaquim Venâncio", trazem ao

público essas obras ilustradas: um vídeo documentário e outros recursos

instrucionais que estão disponíveis em sítios na internet, sendo

<http://www.epsjv.fiocruz.br/> o site da Escola Politécnica de Saúde "Joaquim

Venâncio", do Rio de Janeiro. A integração dessas instituições resultou na

construção do material de apoio riquíssimo e importantíssimo, pois liga a História do

Brasil Saúde – Educação.

Na sequência, os professores se reuniram no Laboratório de Informática

Paraná Digital, do Colégio "Reinaldo Sass", onde a professora pedagoga PDE/2010

apresentou o site da Escola Politécnica de Saúde "Joaquim Venâncio", do Rio de

Janeiro, que está disponível no link <http://www.epsjv.fiocruz.br/>, com o objetivo de

demonstrar as várias opções de atividades e produções dentro do currículo do

Técnico em Enfermagem.

A intenção desse momento do trabalho foi o de mostrar instituições e

produções com tradição na formação de profissionais da saúde, o que,

sobremaneira, auxilia a elucidar as perspectivas dominantes no que diz respeito à

formação do profissional de saúde.

Num segundo momento da implementação do Projeto na escola,

diferentemente do previsto, as atividades não puderam ser feitas coletivamente, mas

professor por professor, em sua hora-atividade. Como primeira atividade, a

professora pedagoga PDE/2010 fez a entrega e uma breve explanação dos

conteúdos dos livros adquiridos, conforme previsão do Projeto de Implementação4.

4 O material didático-pedagógico que será apresentado e doado à biblioteca do Colégio "Reinaldo

Sass":

"Estudos de Politecnia e Saúde". Organização Escola Politécnica de Saúde "Joaquim Venâncio"

"Estudos de Politecnia e Saúde". Volume 2 - Organização Escola Politécnica de Saúde "Joaquim Venâncio"

"Estudos de Politecnia e Saúde". Volume 4 - Organização Escola Politécnica de Saúde "Joaquim Venâncio"

"Crítica da Imagem e Educação: reflexos sobre a contemporaneidade". Organização: Roberta Lobo - Rio de Janeiro: EPSJV, 2010.

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Os conteúdos desses livros deveriam contribuir metodologicamente com os

professores da Educação Profissional, bem como darão embasamento teórico e a

possibilidade do trabalho interdisciplinar.

Considerando a importante função da avaliação na educação, como um

momento de reflexão das ações pedagógicas, neste trabalho optou-se por usar os

seguintes instrumentos e critérios para a avaliação:

apresentação das atividades em plenário;

dialogar com o grupo de professores se houve compreensão das ideias

principais presentes nos textos;

perceber se houve motivação e interesse na demonstração dos materiais

como livros, sites e textos;

analisar as falas dos professores quando eles se expressarem nas várias

atividades desenvolvidas no transcorrer da unidade;

cabe à professora pedagoga interpretar as várias falas e refletir se houve

aproveitamento satisfatório ou se necessário buscar nova abordagem

metodológica;

realização de uma autoavaliação quanto ao desenvolvimento da unidade

didática, elencando crescimento pessoal, fundamentação teórica,

metodologias utilizadas e relevância do tema.

5 Considerações Finais

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O

"Temas do Ensino Médio – FORMAÇÃO - TRILHAS DA IDENTIDADE – POLÍTICAS, CIÊNCIAS

E CULTURA". Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; Escola Politécnica de Saúde "Joaquim Venâncio"

"Arte e Saúde; desafios do olhar". Organizado por Ana Lucia de Almeida Soutto Mayor e Verônica de Almeida Soares. – Rio de Janeiro: EPSJV, 2008

"Na Corda Bamba com Sombrinha: a saúde no fio da história". Organizadores: Carlos Fidelis Ponte e Ialê Falleiros

"Cantos, Contos e Imagens: puxando mais uns fios nessa história". Organizadores: José Roberto Franco Reis e Muza Clara Chaves Velasques.

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que ela quer da gente é coragem. (Guimarães Rosa em “Grande Sertão: Veredas”)

Do contexto todo da implementação e, principalmente, pelas avaliações

realizadas, percebeu-se uma grande dificuldade: a escola não está estruturada de

modo a fazer o professor estudar, refletir, construir, com base numa formação mais

sólida, uma nova forma de encarar a sua profissão. Tanto é verdade que, na

realidade dos professores da Educação Profissional do Colégio Estadual "Reinaldo

Sass", pouco da implementação foi feito coletivamente, isso em virtude da limitação

temporal de reunir os professores.

Apesar disso, acredita-se que a implementação tenha obtido sucesso nas

suas proposições e objetivos iniciais, pois eles estavam, como diz o jargão, “no chão

da escola”, ou seja, não se propunham metas inalcançáveis, ou uma remodelagem

total da formação dos professores, mas pequenos passos. Esses avanços discretos

foram na perspectiva de uma escola melhor, de um professor mais consciente do

fato de que não se pode pensar na formação de um sujeito trabalhador somente

pela base técnica, pois ele é muito mais do que isso, ele é humano.

Sabe-se, contudo, que a visão de formação parcial do sujeito trabalhador,

justamente por ser hegemônica, não é tão fácil de ser modificada, ainda mais pelas

condições materiais postas em que nos encontramos, ceifando-nos várias

possibilidades de uma nova educação. Por isso, acima se citou Guimarães Rosa, no

início destas considerações finais, pois a luta por melhores condições de trabalho e

outras perspectivas de formação deve ser constante. Mesmo que nadando contra a

corrente, precisamos, sim, de coragem.

6. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases, Brasília, DF. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2010.

BRASIL. Lei nº 11.741, de 16 de julho de 2008 (Lei Ordinária). Diário Oficial União de 17/7/2008, p. 5.

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FRIGOTTO, G. A relação da educação profissional e tecnológica com a universalização da educação básica. Educação e Sociedade. Campinas, v. 28, nº 100, Especial, p. 1129-1152, 2007. FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M. Educação básica no Brasil na década de 1990: subordinação ativa e consentida à lógica do mercado. Educação e Sociedade. Campinas, v. 24, nº 82, p. 93-130, 2003. KONDER, Leandro (2000). A construção da proposta pedagógica do SESC Rio. Rio de Janeiro: Editora SENAC. MANACORDA, Mario Alighiero. Marx e a pedagogia moderna. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991. NÍVEIS e Modalidades da Educação Básica. Caderno V Conferência Estadual de Educação da APP-Sindicato 2010. Avaliação das políticas educacionais - avanços e desafios: propostas dos trabalhadores da educação para o próximo governo. Curitiba, 2010. Disponível em: <http://www.appsindicato.org.br/include/paginas/ publicacoes.aspx>. Acesso em: 22 ago. 2010. RAMOS, Marise Nogueira. A educação profissional pela pedagogia das competências: para além da superfície dos documentos oficiais. Revista Educ. Soc., vol. 23, nº 80, p. 401-422, set. 2002. ISSN 0101-7330.