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Faculdade de Medicina da Universidade do Porto A CONTRIBUIÇÃO DA PERÍCIA ODONTOLÓGICA NA IDENTIFICAÇÃO DE CADÁVERES SUSANA DO CARMO PEREIRA SILVA Abril 2007

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Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

A CONTRIBUIÇÃO DA PERÍCIA

ODONTOLÓGICA NA IDENTIFICAÇÃO DE

CADÁVERES

SUSANA DO CARMO PEREIRA SILVA

Abril 2007

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Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

A CONTRIBUIÇÃO DA PERÍCIA

ODONTOLÓGICA NA IDENTIFICAÇÃO DE

CADÁVERES

SUSANA DO CARMO PEREIRA SILVA

Tese de Mestrado em Ciências Forenses

Trabalho realizado sob orientação do Prof. Doutor Américo Afonso

Abril 2007

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Sumário

I

I

SUMÁRIO

ÍNDICE DE FIGURAS.......................................................................................................IV

ÍNDICE DE TABELAS....................................................................................................... V

AGRADECIMENTOS .......................................................................................................VI

RESUMO.......................................................................................................................... VII

ABSTRACT..................................................................................................................... VIII

I. INTRODUÇÃO ............................................................................................................1

II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO................................................................................ 7

1 DEFINIÇÃO E OBJECTIVOS DA IDENTIFICAÇÃO..............................................7

1.1 Definição de identificação ....................................................................................7

1.1 Reconhecimento versus identificação...................................................................8

1.2 Identificação geral versus identificação individual.............................................10

1.3 Objectivos da identificação.................................................................................12

2 DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO...........................13

3 TÉCNICAS DE IDENTIFICAÇÃO...........................................................................16

3.1 Técnicas de identificação não dentárias..............................................................16

3.2 Técnicas dentárias de identificação ....................................................................22

4 DADOS DENTÁRIOS ESTABELECIDOS ANTE-MORTEM .................................45

4.1 Fichas dentárias................................................................................................... 45

4.2 Fotografias dentárias...........................................................................................49

4.3 Radiografias crânio faciais e dentárias ...............................................................49

4.4 Marcação de próteses removíveis .......................................................................51

5 A PERÍCIA EM MEDICINA DENTÁRIA FORENSE............................................. 51

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

II

5.1 Ficha dentária para a identificação forense.........................................................54

5.2 A prova pericial em Medicina Dentária Forense. ...............................................57

6 RELATO DE CASOS - REVISÃO DE LITERATURA ...........................................60

III. OBJECTIVOS.............................................................................................................65

IV. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 66

1 PARTICIPANTES...................................................................................................... 66

2 METODOLOGIA.......................................................................................................67

2.1 Questionário........................................................................................................67

2.2 Aplicação do questionário...................................................................................67

3 ANÁLISE ESTATÍSTICA .........................................................................................70

V. RESULTADOS...........................................................................................................72

1 APRESENTAÇÃO DOS DADOS AMOSTRAIS ..................................................... 72

1.1 Variáveis Classificatórias, Perfil Geral da Amostra ...........................................72

1.2 Questões que abordam as Técnicas de Identificação Utilizadas.........................74

1.3 Questões que averiguam a realização de um exame da cavidade oral e de

perícia odontológica........................................................................................................78

1.4 Perícia Odontológica em particular ....................................................................81

1.5 Questões que determinam a Importância da Perícia Odontológica ....................83

VI. DISCUSSÃO ..............................................................................................................85

VII. CONCLUSÕES ........................................................................................................105

1 SÚMULA DOS RESULTADOS OBTIDOS ........................................................... 106

2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO................................................................................... 108

3 LINHAS FUTURAS DE INVESTIGAÇÃO............................................................ 109

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................110

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Sumário

III

III

ANEXOS..........................................................................................................................116

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

IV

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Variações do ângulo mandibular em função da idade.................................. 28

Figura 2. Determinação da idade pelo desgaste da coroa. ......................................... 29

Figura 3. Esquema de 4 dos 6 estágios evolutivos do desgaste dentário................... 30

Figura 4. Esquema que exemplifica o cálculo da altura a partir dos dentes ............... 33

Figura 5 As quatro disposições fundamentais das rugosidades palatinas................... 38

Figura 6 Representação modificada do diagrama utilizado pela Interpol................... 56

Figura 7. Resultados das perguntas 9, 10, 11,12........................................................ 79

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Índice de Tabelas

V

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1.......................................................................................................................... 28

Determinação da idade pelo ângulo mandibular............................................................ 28

Tabela 2.......................................................................................................................... 31

Tabela 3. Gabinete/Delegação onde o perito trabalha ................................................. 73

Tabela 4. Quantidade de anos que o perito trabalha na área médico-legal.................. 74

Tabela 5. Nº autópsias / ano......................................................................................... 74

Tabela 6. Não identificados / ano ............................................................................... 75

Tabela 7. Casos que terminam identificação positiva.................................................. 75

Tabela 8. Técnicas de identificação utilizadas............................................................. 76

Tabela 9. Dificuldades técnicas ................................................................................... 77

Tabela 10. Tipo de dificuldades técnicas..................................................................... 77

Tabela 11. Tipo de exame da cavidade oral realizado como rotina............................ 79

Tabela 12. Exame da cavidade oral em cadáveres não identificados .......................... 80

Tabela 13. Exame da cavidade oral efectuado aos cadáveres não identificados ........ 80

Tabela 14. Perícia odontológica.................................................................................... 81

Tabela 15........................................................................................................................ 81

Tabela 16. Quando é requisitada a perícia odontológica ............................................. 82

Tabela 17........................................................................................................................ 82

Tabela 18. Quando não é requisitada a perícia odontológica ........................................ 83

Tabela 19. Perícia odontológica poderia ter alterado o resultado................................ 84

Tabela 20. Importância de estabelecer perícia odontológica como rotina................... 84

Tabela 22 - Movimento de Tanatologia Forense Delegação (2004/ 2005) ................. 87

Tabela 23 - Movimento de Tanatologia dos GML (2004/2005) ................................... 87

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

VI

AGRADECIMENTOS

Este espaço é dedicado àqueles que deram a sua contribuição para que esta

dissertação fosse realizada. A todos eles deixo aqui o meu agradecimento sincero.

Em primeiro lugar agradeço ao Prof. Doutor Américo Afonso a forma como

orientou o meu trabalho. As notas dominantes da sua orientação foram a utilidade das

suas recomendações e a amabilidade com que sempre me recebeu. Estou grata por

ambas e também pela liberdade de acção que me permitiu, que foi decisiva para que

este trabalho contribuísse para o meu desenvolvimento pessoal e profissional.

Em segundo lugar, agradeço à Prof. Doutora Teresa Magalhães pelo incentivo

amigo e por me ter disponibilizado o acesso aos peritos médico-legais para a entrega

dos questionários.

Deixo também uma palavra de agradecimento aos professores do Mestrado

em Ciências Forenses pela forma como leccionaram o mestrado e por me terem

transmitido o interesse pelas matérias forenses. São também dignos de uma nota de

apreço os colegas que me acompanharam no mestrado e, em particular, a Liliana

pela amizade e pela informação disponível na sua tese de mestrado.

Finalmente, gostaria de deixar um agradecimento muito especial ao Rogério,

aos meus pais, irmãs, cunhados e sobrinhos.

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Resumo/Abstract

VII

RESUMO

A identificação humana post-mortem é uma das grandes áreas de estudo e pesquisa da Medicina Dentária Forense, o que faz com que os médicos dentistas forenses sejam elementos indispensáveis de uma equipa forense. A identificação através de técnicas dentárias tem ganho cada vez maior importância em consequência do aumento progressivo da criminalidade e, sobretudo, da frequência com que ocorrem desastres, tais como acidentes rodoviários de grandes proporções, incêndios, explosões, acidentes de viação, actos de terrorismo, entre outros. O presente estudo tem por objectivo determinar quais as técnicas utilizadas pelos peritos médico-legais do Norte de Portugal na identificação de cadáveres e determinar a contribuição da Medicina Dentária Forense nesse processo. De igual modo, pretende-se avaliar o resultado das técnicas de identificação utilizadas, correlacionando-as com o estado de conservação do cadáver. No final determina-se se existe a necessidade por parte dos peritos médico-legais na introdução da perícia odontológica como procedimento de rotina nos casos atrás referidos. Para a recolha de dados recorreu-se a um questionário, feito propositadamente para o efeito deste estudo. Foram incluídos todos os peritos médico-legais da região Norte de Portugal, que trabalham na área da tanatologia. As técnicas dentárias, segundo os resultados deste estudo, somente são utilizadas como método de identificação nos cadáveres esqueletizados (28,6%) e nos putrefactos (16,7%), não sendo usadas nos cadáveres recentes. Quanto à requisição da perícia odontológica, a informação mais evidente é de que na maior parte dos casos esta não é solicitada. Quando a amostra é inquirida sobre o motivo por que não é requisitada a perícia odontológica, mais de dois terços das respostas (76,2%) indicaram que não se faz porque não existe um médico dentista ou não existe um local para reencaminhar essa perícia. De uma maneira geral, a perícia odontológica parece ter o seu lugar minimizado ou substituído pelo exame da cavidade oral. Além disso, o exame da cavidade oral realizado é simples, podendo ser considerado precário para ser utilizado no processo de identificação. Apesar disso, com base nas respostas de que a perícia odontológica poderia ter alterado o resultado (95,2%) e também, na informação de que os peritos acham importante o estabelecimento da perícia odontológica como procedimento de rotina em cadáveres não identificados (100%), demonstra-se que há interesse no aprofundamento da matéria, ou pelo menos é considerada importante.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

VIII

ABSTRACT

The human post mortem identification is one of the main study objects and research of Forensic Dentistry. This makes the forensic dentist a indispensable member of the forensic team. The identification through dental techniques has gain importance in consequence of the growth of criminality, specially the frequency of disasters, such as big proportion ferry accidents, fires, explosions, car accidents, terrorism acts, between others. The present study has the goal of determinate which techniques are used in corpses identification by the medico legal experts in North Portugal, and determinate the contribution of Forensic Dentistry in that process. Likewise, we pretend to appraise the result of the used identification techniques, and make the correlation with the corpses conservation. Finally it’s determinate if there is necessity by the medico legal experts, in introducing the forensic dental skills us a routine proceeding in those cases. Were included all the medico legal experts in North Portugal that work in tanatology. The dental techniques, according to this study, are only used in skeletal remains (28,6%) and putrefaction corpses (16,7%), and are not used at all in fresh bodies. About the requisition of the forensic dental skills, the most evident information is that, in most cases, is not requested. When the sample is inquired about the motive of this event, more than two thirds (76,2%), say that there is no dentist at the moment of the autopsy, or there isn’t a place to set forward the material. In general the forensic dental skills seems to have it’s place minimized or replaced by the oral cavity examination. Besides, the oral examination that is done, is very simple, and may be considered precarious to be used in the identification process. The answers that the forensic dental skills could have changed the result (95,2%), and the information that medico legal experts think that it is important the establishment of forensic dental evaluation as a routine procedure in non identified corpses (100%), demonstrates that there is interest in studying in depth the subject, or at least finding it important.

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Introdução

1

I. INTRODUÇÃO

Os médicos dentistas forenses aplicam os conhecimentos específicos da

Medicina Dentária à área médico-legal. Os aspectos fisiológicos e as variações

adquiridas do aparelho estomatognático como reflexo da actividade socioeconómica

do Homem, podem ser utilizados na Medicina Legal, abrangendo áreas que vão desde

a avaliação do dano orofacial pós-traumático (no âmbito da clínica médico-legal do

direito penal, civil ou do trabalho), até à identificação de indivíduos mortos ou à

identificação de agressores (1). Em virtude da sua resistência (as estruturas dentárias

representam os mais duros e resistentes tecidos do corpo humano (2), resistindo à

putrefacção, ao calor, aos traumatismos e à acção de certos agentes químicos) e

especificidade (cada dentadura é única), os dentes vieram a mostrar-se essenciais ao

processo de identificação. A cavidade oral e os dentes nela presentes foi comparada à

caixa negra dos aviões, graças à qual se pode saber o que sucedeu nos momentos

imediatamente anteriores ao acidente aéreo (3). Esta ideia baseia-se no princípio

axiomático da grande variabilidade dos elementos que constituem a cavidade oral.

Não há dois indivíduos que tenham os dentes iguais, nem o conjunto da dentadura

igual.

É objectivo deste estudo perceber a actual contribuição da perícia odontológica

na identificação de cadáveres na Delegação do Porto do INML (Instituto Nacional de

Medicina Legal) e nos Gabinetes Médico-legais por ela subordinados. Para isso

necessitamos de determinar um conjunto de factores que nos dêem a conhecer, de um

modo geral, o protocolo seguido actualmente nos processos de identificação nesta

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

2

instituição. Pretendemos saber se a perícia odontológica é utilizada na identificação

post-mortem e queremos revelar, nos casos em que não é requisitada, as razões que

levaram o perito a tomar esta decisão, de forma a que no futuro se possam tomar as

medidas necessárias para que esta perícia se torne um procedimento de rotina.

A dissertação está organizada em 7 capítulos e 2 anexos.

O capítulo 1, é a apresentação da estrutura da dissertação. Este capítulo inicia-

se com uma secção dedicada aos Agradecimentos e outra que constitui o

Resumo/Abstract. Seguidamente mostra-se o presente subcapítulo, que constitui uma

introdução ao trabalho, e no qual se definem o problema e objectivos genéricos deste

trabalho, se faz uma descrição dos diversos capítulos e, por fim, se apresentam as

conclusões gerais.

O capítulo 2 apresenta o Enquadramento Teórico da Tese, e está estruturado em

6 subcapítulos:

• No primeiro, Definição e objectivos da identificação, começa-se por definir

identificação do ponto de vista médico-legal, passando depois à distinção entre

reconhecimento e identificação, e entre identificação geral e individual. Descrevem-se

também os objectivos da identificação médico-legal.

• No segundo, Desenvolvimento do processo de identificação, a estratégia

utilizada foi a de apresentar os procedimentos a adoptar desde que chega um cadáver

não identificado aos serviços médico-legais, até se conseguir um resultado positivo

fazendo-se também neste ponto, a distinção entre métodos reconstructivos e

comparativos.

• No subcapítulo seguinte, Técnicas de identificação, começámos por descrever

superficialmente as principais técnicas não dentárias, passando de seguida a uma

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Introdução

3

exposição detalhada das técnicas dentárias, onde se explica de que maneira é que elas

podem contribuir para a determinação da espécie, do grupo étnico, do sexo, da idade,

e da altura. Também foram descritos os elementos congénitos que os dentes podem

revelar, bem como alguns estigmas patológicos e traumatismos dentários. Terminou-

se esta exposição com referência às patologias fetais e da infância relacionadas com a

cavidade oral, e aos tratamentos médico-dentários.

• O quarto subcapítulo, Dados dentários estabelecidos ante-mortem, apresenta

elementos dentários de natureza diversa, começando-se pelas fichas clínicas,

seguindo-se as fotografias, as radiografias crânio-faciais, terminando-se por uma

referência à marcação de próteses removíveis.

• O quinto subcapítulo A perícia em Medicina Dentária Forense tem o objectivo

de descrever de forma pormenorizada a perícia odontológica, desde o preenchimento

da ficha dentária para identificação forense, até à execução do relatório pericial.

• Finalmente, o último, Relato de casos - revisão de literatura, pretende

demonstrar a importância inequívoca da Medicina Dentária Forense nos processos de

identificação, ao fazer um exposição de casos em que esta ciência foi determinante

para a conclusão definitiva do processo em causa.

O capítulo 3 Objectivos, é dedicado à definição do problema. Aqui apresenta-se

o problema genérico em estudo, apresentando-se depois as questões específicas do

mesmo.

O capítulo 4 Material e Métodos, começa pelo subcapítulo Participantes, onde

se faz a caracterização demográfica da amostra. Apresenta-se também a problemática

da escolha da amostra, justificando as escolhas realizadas. No subcapítulo seguinte,

Métodos, expõe-se em primeiro lugar a forma como foi construído o questionário,

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

4

instrumento escolhido para a recolha dos dados. Seguidamente explicam-se os

procedimentos utilizados para aplicação do questionário, e por fim apresentam-se os

métodos de análise estatística para os elementos obtidos.

O capítulo 5 Resultados, consiste na descrição das respostas obtidas e análise

descritiva dos dados.

O capítulo seguinte, Discussão, pretende fazer uma análise conjunta dos

resultados, correlacionado-os entre si, e também com dados recolhidos por outros

autores.

O capítulo 7 Conclusões, faz, em primeiro lugar, uma súmula dos resultados,

seguindo-se uma abordagem às limitações do estudo, onde se faz uma resenha das

presentes neste trabalho, abrangendo quer as que são específicas da forma como a tese

foi conduzida, quer as que decorrem mais genericamente. Finalmente apresentam-se

as linhas futuras de investigação, num subcapítulo próprio, começando por apontar

aquelas recomendações que derivam directamente do estudo, mas apresentando

também outras de âmbito mais alargado.

O texto desta dissertação conclui-se com os 2 anexos, o anexo 1, Carta

introdutória e o anexo 2, Questionário. Nos anexos apresentam-se os exemplares da

carta introdutória e do questionário, tal como foram fornecidos aos elementos da

amostra inquirida para preenchimento.

Os resultados deste estudo estão condicionados pela amostra que, por ser uma

amostra de conveniência, não permite resultados generalizáveis. Para além disso a

amostra sofre de várias limitações, das quais a mais importante é, em princípio, o

reduzido número de peritos.

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Introdução

5

Dos 45 questionários enviados aos Gabinetes Médico Legais do Norte de

Portugal e Delegação do Porto do INML, obteve-se o retorno de 21 questionários. Em

relação às técnicas de identificação mais utilizadas: no cadáver recente, o método mais

frequente foi o reconhecimento visual, no cadáver putrefacto, foi mais utilizado o

reconhecimento por objectos pessoais, e no cadáver esqueletizado, as técnicas mais

utilizadas foram as dentárias e a análise do ADNI com a mesma taxa de utilização. As

técnicas dentárias somente foram utilizadas como método de identificação nos

cadáveres esqueletizados e nos putrefactos, não tendo sido usada em nenhum caso

nos cadáveres recentes. Questionaram-se os peritos sobre a existência de dificuldades

técnicas que atrasavam ou impossibilitavam a identificação. 81% dos peritos

responderam afirmativamente, sendo que a maior dificuldade com que se deparavam

era o facto de não haver dados ante-mortem para comparação. Quanto à requisição da

perícia odontológica nos cadáveres não identificados, a informação mais evidente é de

que na maior parte dos casos esta não é solicitada. Quando se pergunta qual é o

motivo por que não é requisitada esta perícia, mais de dois terços das respostas

indicaram que não se faz porque não existe um médico dentista no local ou não existe

um local para reencaminhar a perícia.

O exame da cavidade oral realizado por rotina na autópsia é extremamente

simples, podendo ser considerado precário para ser utilizado em processos de

identificação. Apesar disso, com base nas respostas de que a perícia odontológica

poderia ter alterado o resultado da identificação (95,2%), e também, na resposta de

que acham importante o estabelecimento da perícia odontológica como procedimento

I Ácido Desoxiribonucléico

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

6

de rotina em cadáveres não identificados (100%), verifica-se que há interesse no

aprofundamento da matéria, ou pelo menos consideram-na importante.

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Enquadramento Teórico

7

II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1 DEFINIÇÃO E OBJECTIVOS DA IDENTIFICAÇÃO

1.1 Definição de identificação

A identificação humana pode definir-se como sendo o resultado positivo de um

exame, ou o registo de todos os dados relevantes presentes numa pessoa viva ou

presentes num cadáver, de modo a poder restabelecer-se a sua identidade (4).

Os dados disponíveis e pertinentes à identificação podem apresentar uma grande

variabilidade conforme os casos, o que explica a existência de diferentes técnicas ou

métodos de identificação e que, conforme a técnica(s) mais indicada (s), tenha de

recorrer-se a peritos especializados em diferentes áreas.

As circunstâncias a ter em conta no processo de identificação de cadáveres são as

seguintes:

a) Cadáveres recentes (a morte ocorreu num intervalo inferior ou igual a 72

horas): acidentes em massa, avião, comboio, incêndios em locais públicos,

desastres colectivos (por exemplo terramotos e inundações), vítimas

deformadas bombas, cremações, entre outros.

b) Cadáveres putrefactos (a morte ocorreu num intervalo superior a 72 horas.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

8

c) Cadáveres esqueletizados.

Inicialmente, é importante que façamos algumas considerações sobre identidade.

A identidade pode ser estudada nos seus aspectos, subjectivo ou objectivo (4). No

aspecto subjectivo, estuda-se a noção que cada indivíduo tem de si mesmo, no tempo

e no espaço, e a consciência do eu. Este auto conceito pode variar devido a estados

patológicos. Já a identidade objectiva, é o conjunto de características físicas,

funcionais ou psíquicas, normais ou patológicas que individualizam determinada

pessoa (14).

1.1 Reconhecimento versus identificação

Um aspecto importante para o objecto do nosso estudo, diz respeito à distinção

entre reconhecimento e identificação. O reconhecimento pode ser entendido como

uma identificação empírica, subjectiva sem rigor científico. O reconhecimento

médico-legal é normalmente visual, realizado por parentes ou conhecidos da vítima,

sendo muito susceptível a enganos e falhas. Estas imprecisões ocorrem, na grande

maioria das vezes, não por má-fé das pessoas que fazem o reconhecimento, mas

devido às próprias limitações deste método. A influência do estado emocional das

pessoas responsáveis pelo reconhecimento, causada pela provável perda de um ente

querido, ou mesmo pelo ambiente lúgubre dos Institutos Médico-Legais, pode levar a

uma identificação errónea. Já a identificação é caracterizada pelo uso de técnicas

científicas e meios propícios para se chegar à identidade (6).

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Enquadramento Teórico

9

Esta identificação pode ser realizada por técnicos especializados (identificação

judiciária ou policial) tendo o seu maior exemplo na dactiloscopia, ou pode ser

realizada por profissionais com conhecimentos diferenciados e específicos na área

biológica (identificação médico-legal) tendo esta uma sucessão praticamente ilimitada

de técnicas e meios propícios, para se chegar à identidade humana.

O senso comum remete-nos a ideia de que o médico dentista forense trabalha

exclusivamente em corpos carbonizados, avaliando os trabalhos dentários realizados.

Esta é uma ideia que não corresponde à realidade. Na actualidade, o auxílio prestado

pela Medicina Dentária Forense no processo de identificação humana, não se limita

apenas ao reconhecimento de trabalhos dentários e protéticos realizados, com o fim de

determinar a identidade física de um cadáver irreconhecível, ou esqueleto. Hoje, o

singelo e duvidoso reconhecimento cedeu lugar ao complexo, científico e seguro

processo de identificação médico-legal por técnicas dentárias (7).

Tal desenvolvimento no processo de identificação humana post-mortem, trouxe

como consequência, a necessidade de se organizar em graus sucessivos de

complexidade, os procedimentos deste processo, fazendo com que o processo de

identificação humana post-mortem fosse dividido em Geral e Individual. Entretanto,

por mais que a Medicina Dentária Forense se desenvolva, e aprofunde os seus

conhecimentos, o trabalho em equipa com profissionais de outras áreas das Ciências

Forenses como: Medicina Legal, Direito, Farmácia, Antropologia, Informática,

Fotografia, Bioquímica, entre outros, é que permitirá, que cada vez mais, a justiça

tenha elementos objectivos e seguros, ou seja, elementos de prova.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

10

1.2 Identificação geral versus identificação individual

1.2.1 Identificação geral

A identificação geral trata do estudo de vários aspectos sinaléticos, que irão

formar um biótipo do indivíduo. Estes estudos iniciam-se com a determinação da

espécie animal, que é realizada através de estudos antropológicos.

Por esta razão, todos os Institutos Médico-Legais possuem, habitualmente, um

profissional responsável pelo sector de Antropologia Forense. É para este sector que

são encaminhados os cadáveres putrefactos, carbonizados ou reduzidos a esqueleto,

para estudo e identificação, e onde, o médico dentista forense é membro indispensável

da equipa, devido aos seus conhecimentos específicos, principalmente no que respeita

ao crânio humano.

Outras questões passíveis de serem esclarecidas pelo médico dentista forense na

identificação geral post-mortem, dizem respeito à estimativa do sexo, estimativa da

idade, estimativa da estatura, determinação do grupo étnico, entre outros. Podem,

também ser determinadas outras características, como o diagnóstico de manchas ou

líquidos provenientes da cavidade bucal ou nela contidos (Erro! Indicador não

definido.).

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Enquadramento Teórico

11

1.2.2 Identificação individual

A identificação individual distingue-se pela necessidade da presença de

elementos comparativos anteriores à morte. Este tipo de identificação ocorre, por

exemplo, em corpos carbonizados onde os elementos dentários são confrontados com

os dados da ficha clínica dentária anterior aos acontecimentos.

Nestes casos a identidade é instituída quando há coincidências suficientes e não são

encontrados aspectos discrepantes, estabelecendo-se assim a identidade absoluta de

uma pessoa. A destruição do corpo pode apresentar-se, em maior ou menor grau,

como consequência da putrefacção ou da acção de agentes químicos ou físicos.

Também se torna particularmente difícil a identificação nas situações de homicídio em

que o criminoso provoca intencionalmente mutilações que visam dificultar a

identificação, ou para ocultar o corpo.

A identificação individual é muito importante em Medicina Forense, tanto por

razões legais como por razões humanitárias, sendo frequentemente iniciada antes

mesmo de se determinar a causa da morte (8). Muitos indivíduos são vítimas de

homicídio ou encontram-se desaparecidos, dependendo a investigação destes casos da

correcta identificação. Desta forma, o processo de identificação passou a ser

primordial para a autópsia forense. Quer na Medicina Dentária quer na Medicina

Legal, o material é o mesmo, o corpo humano. O objectivo final é sempre o mesmo,

ou seja, estabelecer a identidade humana.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

12

1.3 Objectivos da identificação

Segundo Adão Pereira (4), quanto à intervenção médico-legal realizada no

sentido de se estabelecer a identificação de cadáveres ou de ossadas não reconhecidas,

os objectivos podem ser diversos e agrupam-se da maneira seguinte:

1.3.1 Objectivos Sentimentais

Quando uma pessoa é dada como desaparecida, os familiares e amigos mais

próximos exigem saber, o mais rapidamente possível o que aconteceu ao seu ente

querido. Em primeiro lugar querem saber se essa pessoa está viva ou morta, e nesta

última hipótese desejam poder fazer-lhe o funeral e dar-lhe uma sepultura que não seja

anónima.

1.3.2 Objectivos Legais e Sociais

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Enquadramento Teórico

13

Quando um corpo não é identificado, o respectivo certificado de óbito não pode

ser passado, criando-se uma situação de “vazio social”, verificando-se a

impossibilidade imediata da satisfação de requisitos da lei civil, como a transmissão

do património do falecido e o estabelecimento do estado civil do cônjuge

sobrevivente. Também na investigação judiciária de um crime é necessária a

existência do “corpo de delito” (facto material em que se baseia a prova do crime).

2 DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO

No processo de identificação devem ser utilizados todas as técnicas reconhecidas

cientificamente, não esquecendo de ter em conta, a disponibilidade de recursos, a

eficiência das técnicas e o treino da equipa pericial.

Gustafson (14) considera que o processo de identificação humana se desenvolve

em três fases principais cuja sequência lógica é a seguinte: Quando aparece um

cadáver desconhecido, procede-se à observação e descrição cuidadosa de todas as suas

características que possam vir a ser úteis para a sua posterior identificação. De se

guida recolhem-se todas as informações dum tipo semelhante e relacionadas com a

pessoa desaparecida. Finalmente, procede-se a um estado comparativo dos dados

obtidos a partir do cadáver com aqueles que foram recolhidos em relação à pessoa

desaparecida.

Neste momento resulta importante distinguir métodos comparativos de

reconstructivos. Nas técnicas de identificação humana utilizam-se diferentes

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

14

métodos que, de acordo com Sassouni (9), podem ser classificados em métodos

comparativos e métodos reconstrutivos. A utilização de métodos comparativos

pressupõe a existência de elementos altamente fiáveis estabelecidos ante-mortem,

nomeadamente, impressões digitais, radiografias, fichas médicas ou dentárias, os

quais servem de referência aquando do exame comparativo.

Os métodos reconstructivos são utilizados quando não existem dados estabelecidos

ante-mortem, uma situação que, com relativa frequência, torna muito difícil a

obtenção duma identificação positiva. Em tal caso, a investigação desenvolve-se a

partir das informações obtidas pela observação do cadáver e tem como finalidade a

determinação tão exacta quanto possível da idade, sexo, altura, raça e profissão da

pessoa a que correspondem o cadáver ou as ossadas encontradas. Obtidos estes

elementos, o acesso a determinadas elementos torna-se mais fácil, sendo então

possível o recurso aos métodos comparativos que, por sua vez, podem tornar

exequível uma identificação positiva. Na determinação da idade, os dados dentários

oferecem mais confiança do que os dados fornecidos pelo exame do esqueleto pois a

cronologia do desenvolvimento dentário é menos passível de variações que o

desenvolvimento ósseo. Estas são conclusões de Johansen (10), autor que considera

três períodos distintos na vida dos indivíduos quanto à dentição: um primeiro período

in utero, até ao nascimento, um segundo período desde o nascimento até aos 14 anos,

e um terceiro período desde os 14 anos até à perda dos dentes ou até à morte do

indivíduo.

Geralmente, e mesmo antes que se verifique o aparecimento dos respectivos

cadáveres, acontece que as autoridades policiais recolhem e arquivam todos os dados

relativos às pessoas dadas como desaparecidas, o que pode vir a revelar-se muito útil

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Enquadramento Teórico

15

para efeitos de identificação.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

16

3 TÉCNICAS DE IDENTIFICAÇÃO

Têm sido propostas e frequentemente utilizadas diversas técnicas de identificação

humana. Neste trabalho classificámo-las em dois grandes grupos: técnicas de

identificação não dentárias e técnicas de identificação dentárias.

3.1 Técnicas de identificação não dentárias

As técnicas de identificação não dentárias incluem as comparações

morfológicas, as técnicas radiográficas, o reconhecimento visual, o reconhecimento

por objectos pessoais, os métodos osteoantropométricos, a reconstrução facial, a

análise documental, a análise de ADN, a dactiloscopia, entre outras.

O reconhecimento visual, o reconhecimento por objectos pessoais e a análise

documental não são mais do que aproximações indiciárias de uma hipotética

identificação, que têm que ser comprovadas cientificamente (11,12).

Diferentes técnicas não dentárias, de identificação humana, têm sido utilizadas

frequentemente e desde longa data. A propósito dos métodos não dentários de

identificação, utilizados no Instituto de Medicina Legal de Lisboa, Reys (13)

classifica-os em métodos dactiloscópicos, osteoantropométricos, radiológicos e

biológicos.

Por sua vez, Gustafson (14) refere o reconhecimento visual, o reconhecimento por

objectos pessoais, a identificação pelas características corporais e pelas impressões

digitais. Qualquer destas técnicas têm-se revelado insuficientes, em numerosos casos,

e algumas delas têm conduzido, inclusivamente, a graves erros judiciários (Erro!

Indicador não definido.,Erro! Indicador não definido.,15).

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Enquadramento Teórico

17

3.1.1 Comparações morfológicas

As características corporais com interesse para efeito de identificação são

constituídas, nomeadamente, por traços faciais particulares, deformidades, cicatrizes e

manchas cutâneas. Compreende-se que a sua importância seja pequena ou mesmo

nula quando o cadáver sofreu alterações mais ou menos profundas, em consequência

de fenómenos de putrefacção ou por acção de agentes físicos ou químicos e,

principalmente, quando ocorreu a sua exposição prolongada a um fogo intenso. Por

outro lado, e com o intuito de dificultarem ou impossibilitarem a identificação da sua

vítima, os criminosos produzem, com bastante frequência, a amputação dos membros

do cadáver, da cabeça, das orelhas, do nariz ou de outros órgãos.

3.1.2 Técnicas radiográficas

Os raios X são um método auxiliar para a identificação e muitas vezes definitivo

para obter a prova que faz chegar a um resultado definitivo (16). Consistem

essencialmente na comparação entre radiografias ante e post-mortem. Sanders et al

(17), conseguiram identificar um sujeito utilizando um único osso (clavícula), que

ficou depois do acidente em causa.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

18

3.1.3 Reconhecimento visual

O reconhecimento visual é um método que deve ser sempre considerado com

muitas reservas pois, frequentemente, tem conduzido a erros (11,12), quer a sua

aplicação tenha sido feita para identificar pessoas vivas, geralmente criminosos, quer

para identificar pessoas mortas. Além de factores emocionais que podem, em certas

condições, ser determinantes para uma identificação falsa, também esta pode estar

relacionada, em alguns casos, com intuitos fraudulentos. O reconhecimento visual é

insuficiente para que se possa estabelecer uma identificação positiva. Os seus

resultados devem ser sempre comprovados por métodos científicos e através de

averiguações realizadas pelas autoridades policiais.

O reconhecimento visual deve ser considerado circunstancial e só ganha valor quando

confirmado por outros métodos.

3.1.4 Reconhecimento por objectos pessoais

Os objectos de uso pessoal encontrados no cadáver ou na sua proximidade

podem constituir um indicador importante da identidade do morto. Objectos de uso

pessoal como por exemplo vestuário, relógios, jóias e calçado, são, entre outros, os

objectos mais frequentemente encontrados.

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Enquadramento Teórico

19

A valorização destes objectos deve ser feita com cuidado, porque estes podem não

constituir características pessoais, no verdadeiro sentido do termo, podendo mesmo

não ser propriedade do cadáver, ou então terem, inclusivamente, sido colocados

próximo deste para induzir a uma identificação falsa. O seu interesse torna-se ainda

mais limitado quando se considera que podem ser facilmente destruídos pelo fogo e

pela água. Deve proceder-se à descrição pormenorizada dos objectos, tendo em

atenção a cor, o desenho e as dimensões No caso do vestuário, deve-se registar o tipo

de tecido e o seu estado de uso, nunca esquecendo de verificar se tem etiquetas ou

qualquer marca de tinturaria. Todos os objectos encontrados junto do cadáver devem

ser fotografados (14). Deve ficar correctamente assinalada a distância e a sua posição,

relativamente ao cadáver, recomendando-se a realização de um desenho ou esquema.

No que respeita ao calçado é muito importante que fique registado o tamanho, o

modelo, a cor, o material em que foi confeccionado, as características do tacão e da

sola e, ainda, o seu estado de uso. Quanto aos relógios, caso sejam encontrados,

deverá registar-se a marca, o modelo, o material em que é constituído e eventuais

inscrições. As jóias também podem conter importantes elementos para a identificação

(inscrições, nomes, datas de acontecimentos, indicação do grupo sanguíneo, entre

outros) (4). Incluem-se neste caso, por exemplo, as alianças de casamento. As

características do vestuário e de certos objectos encontrados no cadáver ou na sua

proximidade podem facilitar muito a identificação ou, pelo menos, constituir um

indicador importante da profissão, classe social, hábitos e, inclusivamente, do país de

origem da vítima.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

20

3.1.5 Métodos osteoantropométricos

O exame osteoantropométrico permite constatar o desenvolvimento geral do

indivíduo a idade e o sexo do indivíduo, a sua constituição, a relação entre estatura e

peso, o estado de nutrição e a apreciação de patologias que possam condicionar

alterações do desenvolvimento (síndromes congénitos, doenças endócrinas, entre

outras). Podem também ajudar a determinar a causa da morte (18).

3.1.6 Reconstrução facial

A reconstrução facial não é considerada uma prova conclusiva, por si só, mas

indiciária. Permite obter um retrato a partir de fragmentos ósseos, que pode ser

posteriormente difundido por álbuns de desaparecidos e pelos meios de comunicação

social. O resultado desta difusão pode ser o aparecimento de mais pistas, que por sua

vez podem levar à identificação.

3.1.7 Análise documental

Passaportes, bilhetes de identidade, fotografias, cartões de visita, endereços e

registos de números telefónicos, entre outros, são analisados de forma a poder

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Enquadramento Teórico

21

estabelecer-se uma relação com o cadáver.

3.1.8 Análise do ADN

A prova genética é considerada por muitos, a mãe de todas as técnicas de

identificação, mas só deveria ser realizada quando já se esgotaram todos os outros

recursos de identificação sem sucesso, ou como meio de comprovar os resultados

obtidos, quando existem dúvidas (19). Os seus custos são elevados, e os resultados

que dela advêm são demorados. Importante também é referir que existe uma cadeia de

custódia na recolha de amostras, que se falhar pode resultar na contaminação da

amostra, e consequentemente resulta na falibilidade da técnica.

3.1.9 Dactiloscopia

A identificação pelas impressões digitais constitui o método de identificação

mais conhecido e também aquele que tem sido mais utilizado. Sublinhe-se, desde já,

que o método apresenta importantes limitações. A integridade das polpas digitais

constitui, com efeito, a primeira condição para a sua utilização. Em casos de incêndio

ou de naufrágio as polpas digitais podem apresentar-se consideravelmente alteradas, o

que pode tornar impossível a identificação dactiloscópica.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

22

Importa referir que, em caso de incêndio, as polpas dos dedos ficam em geral mais

protegidas que as outras partes do corpo porque a mão ao fechar-se comprime-as

fortemente contra a região palmar.

Todavia, Reys (13) refere um conjunto de circunstâncias em que a obtenção das

impressões digitais a partir do cadáver é muito difícil, designadamente nos casos de:

- dificuldade em abrir os dedos devido ao rigor mortisII;

- sujidades, tais como sangue, óleo, etc. nas polpas dos dedos;

- exsicação post-mortem das polpas digitais;

- desidratação após submersão em água por bastante tempo.

- destruição por fenómenos de putrefacção, carbonização ou outros processos.

3.2 Técnicas dentárias de identificação

A cavidade bucal é considerada a caixa negra do corpo humano (6). Na maioria

dos casos, em que os corpos se encontram decompostos, esqueletizados,

fragmentados, queimados ou mutilados por qualquer outra razão, é comum a dentição

estar intacta e fornecer informações preciosas para o processo de identificação. Isto é

particularmente verdadeiro no caso de vítimas de incêndios e desastres em massa (4).

IIPor rigors mortis deve entender-se um estado de rigidez cadavérica, constante mas, algumas vezes, pouco acentuado e fugaz, podendo o momento da sua aparição ser influenciado pela idade, causa da morte, temperatura ambiente, desenvolvimento muscular e outros factores.

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Enquadramento Teórico

23

Mesmo quando nada se tem, mesmo quando a vítima nunca realizou tratamentos (14)

dentários, mesmo quando nem sequer consultou um médico dentista, as informações

que se podem obter do exame dentário aos restos encontrados, podem contribuir com

dados úteis para a investigação policial. Além de permitir identificar ossos e dentes da

espécie humana, o mesmo estudo pode fornecer informações sobre a vítima que

possibilitem a individualização, por exemplo, quando há casos de desaparecimento

referenciados. Nestes casos os dentes podem oferecer elementos sobre o cadáver,

como por exemplo: espécie, grupo étnico, sexo, idade, altura, elementos congénitos,

estigmas resultantes da profissão e hábitos pessoais, estigmas patológicos,

traumatismos dentários, tratamentos médico-dentários, entre outros.

3.2.1 Espécie

É obvio que ninguém questionará o diagnóstico da espécie à qual pertencem

certas peças dentárias, quando as mesmas se encontram fixadas nos respectivos

alvéolos. Basta analisar superficialmente o crânio ou a mandíbula, para detectar se é

ou não humano. De facto, o diagnóstico da espécie só constitui um problema quando

apenas temos uma ou mais peças dentárias isoladas. O que interessa, nesses casos é

saber se esses dentes pertencem ou não à espécie humana. Caso não sejam humanos,

em regra, desaparece o interesse forense, a menos que existam razões supervenientes.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

24

A característica morfológica fundamental, única dos dentes humanos e que os torna

diferentes de quaisquer outras espécies animais, é que nos dentes humanos a coroa e a

raiz encontram-se num mesmo plano, apresentando-se como segmentos de hastes

rectas. Contrariamente, nos animais as raízes descrevem, habitualmente, curvas,

exibindo uma grande angulação. Apenas os macacos antropóides mostram uma certa

semelhança com a raça humana, particularmente nos incisivos e caninos. Nestes

casos, que são bastante raros, torna-se necessário um exame mais minucioso e, por

vezes, será mesmo necessário recorrer à Zoologia (anatomia comparada). Tratando-se

de fragmentos de peças dentárias, o exame microscópico também se pode realizar.

3.2.2 Grupo étnico

Do ponto de vista dentário e crânio-facial existem algumas características mais

frequentes em determinada raça (20). Segundo alguns autores (21), a característica

dentária mais útil na determinação da raça são os incisivos em forma de pá,

encontrados em quase todos os Asiáticos Mongolóides, e em menos de 10% dos

Caucasianos e Negróides. Entre os Negróides existem frequências altas de primeiros

molares inferiores bicúspides e segundos molares inferiores tricúspides (16). O

tamanho e forma dos dentes, incluindo os incisivos em forma de pá, o Tubérculo de

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Enquadramento Teórico

25

Carabelli, e a forma da polpa dentária, têm sido apontados como as características

dentárias determinantes da raça (23).

3.2.3 Sexo

A determinação do sexo, num cadáver não identificado, constitui uma das

primeiras e mais importantes fases para o estabelecimento da identificação do

indivíduo. A determinação do sexo é fundamental para efeito de identificação. De

salientar, desde já, que o desenvolvimento do esqueleto e o desenvolvimento dentário

variam segundo o sexo, sendo mais precoces no sexo feminino. É do conhecimento

geral que o desenvolvimento do esqueleto, nas raparigas, precede em cerca de um ano

o desenvolvimento dentário, enquanto que a diferença nos rapazes em relação aos

dentes é apenas de um a quatro meses. Quando a idade óssea e a idade dentária são

semelhantes, o indivíduo é provavelmente do sexo masculino mas se a idade óssea for

maior que a idade dentária, então o indivíduo é provavelmente do sexo feminino.

Estas conclusões resultam de um estudo comparativo e dos resultados obtidos por

Schours e col (24), sobre a idade dentária, e por Greulich e col (25)sobre a idade

óssea. Conhecido o sexo, a determinação da idade fica obviamente facilitada.

Relativamente à morfologia dos dentes, verifica-se que os incisivos superiores

são as peças dentárias que exibem maior dimorfismo sexual e, por consequência, os

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

26

dentes que podem oferecer mais dados relacionados com o sexo de um crânio ou de

uma vítima. Sabe-se que os incisivos centrais superiores são mais volumosos nos

indivíduos de sexo masculino, do que nos de sexo feminino. Todavia, as diferenças

são milimétricas.

Outra diferenciação morfológica refere-se à relação entre o diâmetro mesio-distal do

incisivo central com o do incisivo lateral, no maxilar superior. Este diâmetro é menor

na mulher do que no homem, e na mulher os dentes têm uma regularidade maior do

que no homem, isto é, são mais semelhantes entre si.

Oliveira (26), estudando apenas mandíbulas e relacionando-as com a estimativa

do sexo, desenvolveu metodologias específicas a padrões nacionais, onde as

características consideradas foram: a altura do ramo mandibular e a distância entre os

dois pontos médios do ângulo goníaco mandibular. Os valores foram posteriormente

analisados estatisticamente, usando duas metodologias, a regressão logística e a

análise discriminante, que demonstraram boa margem de sucesso, respectivamente de

77,7% e 78,33%, apresentando ainda através da regressão logística, um score de

probabilidade de pertinência ao sexo feminino.

No final o autor desenvolveu um programa informático para utilização de padrões

métricos, de indivíduos brasileiros adultos, independentemente do grupo racial a que

pertençam.

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Enquadramento Teórico

27

3.2.4 Idade

As técnicas dentárias também podem auxiliar na estimativa da idade, quer em

crianças, adolescentes ou em adultos (27,28,29).

A erupção dentária começa por volta dos 6 aos 9 meses, com os dentes temporários, e

pode prolongar-se até aos 30 anos, com a erupção do terceiro molar definitivo, que até

pode mesmo nunca chegar a erupcionar (30). Durante o período de desenvolvimento

do ser humano, os dentes vão erupcionando, com uma cronologia bastante precisa,

dentro da variabilidade que pode existir dependendo da dieta, factores metabólicos,

sexo, entre outros (Erro! Indicador não definido.). Numa dentição madura, a idade

pode ser calculada com base na espessura do cemento, o tamanho da cavidade pulpar,

o grau de abrasão dentária e o estado dos tecidos vizinhos.

O desaparecimento dos dentes, tem como consequência o início do processo de

reabsorção dos alvéolos o que, obviamente, produz modificações significativas nos

maxilares. Nomeadamente, na mandíbula o foramen mentoniano que se encontra

equidistante dos bordos superior e inferior da mandíbula, em consequência deste

processo de reabsorção vai, gradualmente, aproximando-se do bordo superior. Da

mesma maneira, o ângulo formado pela linha que acompanha o bordo posterior do

ramo ascendente da mandíbula e a linha que acompanha o bordo inferior do ramo

horizontal mandibular, aumenta paulatinamente a partir da idade adulta (31).

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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Figura 1. Variações do ângulo mandibular em função da idade. Da esquerda para direita: no recém-nascido, no adulto e no idoso. Modificado de Angle (31)

Tabela 1. Determinação da idade pelo ângulo mandibular. Modificado de Lewis (31)

Mínimo Máximo Médio Idade (anos)

110 º 135 º 130 º 5 a 10

110 º 130 º 125 º 11 a 15

110 º 125 º 120 º 16 a 20

110 º 120 º 115 º 21 a 25

105 º 120 º 110 º 26 a 35

105 º 120 º 110º 36 a 45

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Enquadramento Teórico

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Figura 2. Determinação da idade pelo desgaste da coroa. Indivíduos com mais de 30 anos de idade, modificado de Ponsold (Erro! Indicador não definido.)

Gustafson (14) estabeleceu critérios múltiplos, que levam em consideração não

só o fenómeno do desgaste a que os dentes estão sujeitos, como também as

modificações estruturais e dos tecidos circunvizinhos. O mesmo autor fixou seis

processos evolutivos, que devem ser considerados simultaneamente ou em conjunto.

Cada um dos seis estágios propostos por Gustafson (14), em função da sua

intensidade, é representado com um algarismo, de 0 a 3, com o prefixo A, S, P ou C,

consoante se observa abrasão, dentina secundária, paradontose, ou cemento de

aposição, respectivamente. O somatório dos pontos de cada dente, acaba por produzir

um valor numérico.

Mann (32), produziu uma metodologia para estimativa da idade biológica

humana, através do estudo do intervalo de obliteração das suturas palatinas de trinta e

seis peças ósseas conhecendo-se a idade, sexo e raça das mesmas. Este estudo atesta, o

potencial que tem o exame das obliterações da suturas palatinas, para se estimar a

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

30

idade biológica dos indivíduos, contudo, os autores reconhecem a necessidade de

novas pesquisas, utilizando-se amostras mais representativas.

Figura 3. Esquema de 4 dos 6 estágios evolutivos do desgaste dentário. Modificado do esquema proposto por Gustafson (14) A-abrasão, S-dentina secundária, P-paradontose, C-cemento de aposição.

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Enquadramento Teórico

31

Tabela 2. Representação dos estágios evolutivos do desgaste dentário (cont.) Modificado do esquema de Gustafson (14)

AO Ausência de desgaste.

AI Desgaste leve atingindo o esmalte.

A2 Desgaste que atinge a dentina.

A3 Desgaste que atinge a polpa.

PO Ausência de paradontose.

PI Início de paradontose.

P2 A paradontose atinge mais de 1/3 da raiz.

P3 Atinge mais de 2/3 da raiz.

SO Ausência de dentina secundária.

SI Início de formação da dentina secundária.

S2 A dentina secundária preenche metade da cavidade pulpar.

S3 A dentina secundária preenche quase completamente a cavidade pulpar.

CO Apenas cemento normal.

C 1 Depósito de cemento maior que o normal.

C2 Grande camada de cemento.

C3 Abundante camada de cemento.

RO Inexistência de reabsorção.

R 1 Pequena reabsorção em manchas isoladas.

R2 Grau mais adiantado de reabsorção.

R3 Grande área de reabsorção de dentina e de cemento.

TO Ausência de transparência.

T 1 Transparência visível.

T2 Transparência atinge 1/3 da raiz.

T3 Transparência atinge 2/3 da raiz.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

32

3.2.5 Altura

Existe um método de determinação matemática que permite o cálculo da altura

do indivíduo a partir das dimensões dos dentes. A fundamentação deste método reside

no facto de que existe proporcionalidade entre os diâmetros dos dentes e a altura do

indivíduo. Este procedimento foi criado e aperfeiçoado por Carrea (33). Mede-se o

arco de circunferência em milímetros, constituído pelo somatório, no arco inferior,

dos diâmetros meso-distais do incisivo central, do incisivo lateral e do canino inferior

A corda deste arco, geometricamente falando, é medida traçando a linha recta entre os

pontos inicial e final - (bordo mesial do incisivo central até ao bordo distal do canino

ipsilateral) - do arco. Carrea atribuiu a esta medida o nome de raio-corda inferior. A

altura humana deve encontrar-se entre estas duas medidas, que hão-de ser

consideradas proporcionais, uma máxima, à medida do arco, e outra mínima,

proporcional à medida do raio-corda inferior. As fórmulas para fazer a estimativa da

altura em milímetros, são as seguintes:

1. Altura máxima (em mm) = (Arco x 6 x 10 x 3,1416) / 2

2. Altura mínima (em mm) = (raio-corda x 6 x 3,1416) / 2

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Enquadramento Teórico

33

Figura 4. Esquema que exemplifica o cálculo da altura a partir dos dentes Modificado de Carrea (33)

A altura masculina estará mais próxima da altura máxima calculada, enquanto a altura

feminina será mais próxima da altura mínima calculada. Este procedimento possibilita

o cálculo da altura, nos casos de fragmentação ou esquartejamento, acidental ou

criminal, dos cadáveres ou naqueles casos em que o médico dentista forense dispõe de

restos humanos cujas peças dentárias foram preservadas. Cada indivíduo possui

particularidades na sua dentição, em quantidade e qualidade tais, que por si só

permitem estabelecer a sua identidade correctamente. Entretanto, quando não se pode

avaliar a dentição completa, mas apenas algumas peças dentárias, devido a extracções,

fracturas, perdas post-mortem, entre outras, e por vezes apenas contando com um

único dente, é evidente que a situação se tornará mais complexa. Mesmo assim, e nos

casos em que se dispõe de um número exíguo de dentes, pode-se contar com alguma

peculiaridade singular e importante que, caso seja encontrada, pode ser por si só o

elemento essencial no diagnóstico. Exemplo do anteriormente referido, surge nas

incrustações de ouro e/ou pedras preciosas nas faces vestibulares dos incisivos

centrais superiores, com o consequente desgaste do esmalte e substituição por coroas

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

34

de ouro, nomeadamente, como expressão social e sinal exterior de riqueza, como é

habitual em alguns países ou culturas. Como acontece com os pontos característicos

nas impressões digitais, também nas comparações entre os dentes é necessário um

número suficiente de coincidências para poder fazer-se um diagnóstico identificativo

com exactidão. Pelo contrário, a ocorrência de um ou mais pontos discordantes,

realmente incompatíveis entre si, podem permitir a exclusão durante o procedimento

de identificação por confrontação. Todavia, é necessário enfatizar que os pontos que

não sejam incompatíveis, não permitirão afirmações de certeza. Como exemplo,

podemos citar a ausência de dentes, extraídos em data posterior à do registo na ficha

dentária de que dispomos para comparação. O que pode acontecer é que nestes casos

são tratamentos realizados por outros profissionais que nos são desconhecidos,

retirando possíveis pontos característicos ou de coincidência, mas que não invalidam a

identificação, quando esta é possível pelos dentes que subsistem. Já quando na ficha

dentária de uma pessoa desaparecida, por exemplo, consta a informação exacta de que

determinada peça dentária foi extraída resultará mais fácil a comparação. Assim, se ao

realizar o exame da dentição do crânio que se pretende identificar, verificamos que

está presente essa mesma peça dentária, poderemos afirmar, com certeza, que as duas

dentições não pertencem à mesma pessoa. A incongruência entre trabalhos realizados

ou extracções efectuadas, com o achado dessas peças intactas e presentes na dentição

a ser comparada, exclui a identificação ou torna a identificação negativa. Os pontos

característicos que podem ser utilizados para individualizar as pessoas não se

restringem, como poderia parecer, a extracções ou restaurações. Contrariamente, os

estudos das dentições para fins de identificação são muito mais abrangentes, incluindo

o estudo dos elementos congénitos, estigmas resultantes da profissão e hábitos

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Enquadramento Teórico

35

pessoais, estigmas patológicos, traumatismos dentários, tratamentos médico-dentários,

entre outros, como veremos de seguida.

3.2.6 Elementos congénitos

As peças dentárias são estruturas cuja génese, como o da maioria das outras do

organismo, é condicionada geneticamente. No entanto, a expressividade de certas

características genéticas pode ser variável. Existem algumas anomalias dentárias que

se transmitem de forma hereditária, isto é, geneticamente. Neste grupo encontram-se a

hipoplasia dentária, a inclusão de peças dentárias, a morfologia cónica dos incisivos

laterais superiores, entre outras. Todavia, além destas anomalias geneticamente

condicionadas, os dentes podem apresentar particularidades anatómicas, que auxiliam

muito no processo de identificação. As alterações do desenvolvimento da região oral

estão distribuídas por três grandes grupos (34):

a) Alterações que afectam os dentes

b) Alterações que estão limitadas aos tecidos moles

c) Alterações que afectam o osso

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

36

Dentes

• Alterações das dimensões: microdontia ou macrodontia;

• Alterações do número: anodontia total e parcial, dentes

supranumerários

• Alterações da erupção: erupção prematura, erupção retardada, dentes

impactados ou sequestro de erupção;

• Alterações na forma: dilaceração, taurodontismo, dente invaginado,

cúspides supranumerárias, dente evaginado, cúspide em garra, raízes

supranumerárias, geminação, fusão, concrescência, hipercimentose e

projecção cervical de esmalte;

• Alterações na estrutura do esmalte: alterações adquiridas (hipoplasia

focal de esmalte, hipoplasia generalizada de esmalte) e alterações

hereditárias (amelogénese imperfeita);

• Alterações na estrutura da dentina: alterações hereditárias da dentina

(dentinogénese imperfeita e displasia dentinária);

• Odontodisplasia regional.

Tecidos Moles: Fossetas labiais congénitas, lábio duplo, freio espessado,

anquiloglossia, macroglossia, grânulos de Fordyce, leucoedema, nevus branco

esponjoso, tiróide lingual, amígdala oral e papila retrocanina.

Osso: hipertrofia hemifacial, atrofia hemifacial, lábio leporino, fenda palatina,

deficiência medular osteoporótica, displasia cleidocraniana, depressão lingual da

glândula salivar mandibular.

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Enquadramento Teórico

37

Da mesma maneira, os arcos dentários, podem ter variações de forma tais como:

• normal: em forma de arco de elipse,

• trapezoidal: mais frequente nos negróides,

• triangular: mais frequente nos caucasianos,

• redonda: em "arco de ferradura", mais frequente nos mongolóides, e

• assimétrica.

Rugosidades palatinas

As irregularidades da superfície do palato são também características que podem

auxiliar no processo de identificação. A mucosa oral, para facilitar as suas próprias

funções, apresenta-se essencialmente lisa. Há, contudo, algumas excepções, como a

superfície dorsal da língua e a mucosa do terço anterior do palato que se apresenta

como um verdadeiro sistema de pregas ou de rugosidades que estão fortemente

aderidas ao plano ósseo subjacente. A sistematização do estudo das referidas pregas,

com a finalidade de se constituírem em elementos capazes de contribuir para o

processo de identificação, é chamado de palatoscopia. Este procedimento de

identificação pode ser usado tanto no cadáver recente como no indivíduo vivo. Os

relevos que o palato apresenta, formam um conjunto de cristas lineares, as

rugosidades palatinas, dispostas de forma semelhante às nervuras de uma folha

vegetal. Estes relevos ou cristas aparecem no 3º mês do período embrionário,

permanecendo invariáveis durante a toda a vida do indivíduo e, inclusive, persistindo

vários dias após a morte. Este conjunto de cristas, na espécie humana é assimétrico, o

que o diferencia das outras espécies de mamíferos, em que é simétrico. Em todos os

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

38

casos, há sempre um sulco central estreito, no sentido antero-posterior, acompanhado

de cada lado por uma crista suave: é a rafe mediana ou rafe palatina. Seguidamente,

observam-se uma série de cristas transversais, que se iniciam na rafe palatina, mais ou

menos perpendiculares ou oblíquas em relação a esta, que se direccionam

lateralmente, tornando-se menos pronunciadas ou desaparecendo à medida que a

concavidade da abóbada palatina alcança a região alveolar ipsilateral (35,36).

Carrea (37) na sua sistematização das rugosidades palatinas considerou quatro

categorias diferentes:

• Tipo I - com rugas direccionadas para mesial (dos lados para o centro) e

discretamente de trás para frente (convergindo na rafe palatina);

• Tipo II - com rugas direccionadas perpendicularmente à linha mediana;

• Tipo III - com rugas direccionadas para mesial (dos lados para o centro) e

discretamente da frente para trás (convergindo na rafe palatina);

• Tipo IV - com rugas direccionadas em sentidos variados.

Figura 5 As quatro disposições fundamentais das rugosidades palatinas. Modificado de Carrea

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Enquadramento Teórico

39

Briñon (37), foi um pouco mais além na sistematização das rugosidades, dividindo-as,

à semelhança do que se faz com as impressões digitais, em rugosidades fundamentais

e características.

As cristas palatinas apresentam características que as tornam óptimos elementos na

identificação:

1. Unicidade: apenas um único indivíduo pode tê-los.

2. Imutabilidade: não mudam nunca de forma, nem mesmo após a morte.

3. Individualidade: são absolutamente diferentes de uma pessoa para

outra.

4. Classificação: possibilidade de classificá-los para facilitar a sua

localização racional em arquivos.

5. Praticabilidade: utilização facilitada pelo baixo custo, facilidade de

recolha etc.

A colheita das amostras tanto pode ser feita através de moldagem, com alginato ou

com silicone, ou por fotografia do palato com o auxílio de um espelho. Os resultados

obtidos constituem os palatogramas. De modo a possibilitar uma comparação entre o

material de arquivo e o material do identificando, basta que se proceda ao confronto

das fotografias do material problema com os palatogramas conservados,

sistematicamente, nos arquivos de identificação. Uma prova da viabilidade deste

procedimento de identificação é que muitos países já exigem a identificação da

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

40

rugoscopia palatina dos pilotos de empresas de aviação, como forma de facilitar a sua

identificação em casos de acidentes aéreos (37).

3.2.7 Estigmas resultante de profissões e hábitos pessoais

Um dos elementos mais valiosos na identificação individual dum esqueleto é a

existência de um estigma profissional ou marca nos dentes (22). Certas profissões

podem produzir marcas permanentes nos dentes por razões meramente mecânicas, que

introduzem desgastes e perdas mínimas de esmalte em face dos traumatismos

reiterados.

a) Acção mecânica

Assim, por exemplo, entre os sapateiros, onde é habitual que estes operários segurem

tachas ou pregos entre os dentes, encontram-se, frequentemente, reentrâncias no bordo

incisal dos incisivos centrais (falsos dentes de Hutchinson). Entre os colchoeiros,

estofadores, alfaiates e costureiras também se observam irregularidades ou pequenas

fissuras no bordo incisal dos incisivos centrais, resultante do hábito de puxar o fio e,

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Enquadramento Teórico

41

quando na medida, cortá-lo com o auxílio dos dentes ao invés de usar tesoura. As

pessoas que têm o hábito de fumar cachimbo acabam por provocar um desgaste e até

deslocamento das peças dentárias em que costumam apoiar a boquilha. Os dentes dos

fumadores, regra geral, apresentam uma coloração escura, devido ao alcatrão e outros

pigmentos que fazem parte do fumo (Erro! Indicador não definido.). Os músicos

que usam instrumentos com palheta (saxofones, clarinete, oboé e outros), devido aos

traumatismos repetidos com a boquilha, podem apresentar perdas de substância no

esmalte dos incisivos superiores centrais. Algo semelhante pode observar-se com os

sopradores de vidro, onde o traumatismo se dá com a boquilha da cana ou vara, sobre

os incisivos, tanto superiores como inferiores (39,Erro! Indicador não definido.).

b) Acção química

Os vapores corrosivos provocam destruição dos tecidos dentários, de forma

progressiva, provocando o amolecimento e perda dos dentes, bem como um maior

índice de cáries nas coroas clínicas. A acção química não produz perdas ou

traumatismos do esmalte, como o fazem os factores mecânicos, antes provocam

colorações características do esmalte e da dentina pelo produto químico com o qual o

operário tem um contacto duradouro (37):

• manchas acinzentadas no colo dos incisivos e dos caninos, provocadas pelo

chumbo;

• coloração cinzenta global, provocada pelo mercúrio;

• manchas esverdeadas com rebordo azul, provocadas pelo cobre;

• manchas acastanhadas no bordo livre dos incisivos, provocadas pelo ferro;

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42

• manchas amarelas, provocadas pelo cádmio, etc.

3.2.8 Estigmas patológicos

Determinadas profissões provocam estigmas de natureza patológica, como por

exemplo, as cáries dos pasteleiros e pessoas que trabalham nas fábricas de doces, de

forma circular, de cor amarela, e localizadas, exclusivamente, na região do colo das

peças dentárias. Algumas culturas primitivas praticam mutilações ornamentais dos

dentes que podem servir para identificar os indivíduos como pertencendo a

determinado grupo étnico. Este é um costume enraizado nas comunidades aborígenes

australianas e polinésias, observando-se também entre habitantes da Malásia e da

África, quando realizam um afilamento em cunha das coroas. Outros fazem a

incrustação de metais ou pedras preciosas, como sinal exterior de riqueza Este

costume está bastante difundido entre as comunidades rurais brasileiras, das Regiões

Norte e Nordeste (Erro! Indicador não definido.).

3.2.9 Traumatismos dentários

Todas as vezes que a dentição sofre traumatismos, por exemplo, em acidentes

ou em agressões, podem encontrar-se fracturas das peças dentárias, o seu

deslocamento e/ou avulsão.

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Enquadramento Teórico

43

A análise das superfícies de fractura possibilitam a avaliação da antiguidade das

lesões, tendo em conta a tendência espontânea dos bordos ficarem arredondados pelo

desgaste do dia-a-dia.

3.2.10 As patologias fetais e da infância

Qualquer alteração sistémica ou doença grave que se instale no embrião a partir

da 6ª semana de desenvolvimento, ou até na infância, como doenças infecciosas ou

parasitárias (rubéola, sífilis, tuberculose, entre outras), ou doenças metabólicas

(porfiria), podem provocar modificações no desenvolvimento do gérmen dentário,

atingindo tanto a dentina como o esmalte. Em regra consistem em erosões ou linhas

horizontais, que às vezes formam verdadeiros degraus. A forma como se distribuem

estas erosões ou estes depósitos traduzem épocas em que houve um surto ou

agravamento da patologia crónica de base. Isto tanto pode observar-se nos dentes

decíduos como nos definitivos. A utilização de certos produtos medicamentosos, pela

mãe, durante a gravidez, faz com que os dentes sejam atingidos durante o seu

processo de desenvolvimento, ficando marcas cromáticas identificáveis da iatrogenia,

como acontece, por exemplo, com o uso das tetraciclinas para debelar quadros

infecciosos.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

44

3.2.11 Os tratamentos médico-dentários

A cárie dentária é a patologia mais frequente nas peças dentárias em qualquer

idade. Mesmo não tratadas e, principalmente, quando tratadas, as cáries serão marcos

identificadores muito importantes, desde que as peças dentárias não sejam extraídas.

O tratamento das cáries, mediante restauração (amálgama, resinas, metais) surge, por

sua vez, como um ponto característico para a identificação do indivíduo. Algo análogo

se observa com a aplicação de procedimentos terapêuticos como, por exemplo, o

tratamento endodôntico. Os trabalhos de prótese, tais como coroas, pontes fixas e

removíveis, implantes, podem ser decisivos na identificação. Considerando que todas

as variáveis apontadas podem acontecer em qualquer uma das 32 peças dentárias

definitivas, isto abre um enorme leque de possibilidades cruzadas ou de combinações

que dão uma base de credibilidade enorme ao permitir a identificação, através de

técnicas dentárias. Para que fosse realmente possível utilizar as características

individualizadoras da dentição na identificação de pessoas, seria necessário contar

com arquivos que permitissem, à semelhança do que acontece com as impressões

digitais, realizar a comparação que leva à identificação individual. No presente

momento, não existe um arquivo dentário, que registe as características dentárias de

uma população, como se tem conseguido, ao longo do tempo, com a dactiloscopia. É

por isso que quando surge a necessidade de realizar um processo comparativo,

recorre-se aos arquivos dos médicos dentistas na sua clínica. Todavia, há casos

especiais, em determinadas profissões, em que esses registos realmente existem, como

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Enquadramento Teórico

45

acontece com os pilotos, civis e militares, como medida preventiva, devido a estarem

sujeitos a um maior risco.

4 DADOS DENTÁRIOS ESTABELECIDOS ANTE-MORTEM

Os dados estabelecidos ante-mortem são muito importantes na identificação

comparativa porque permitem frequentemente uma identificação positiva do cadáver.

Os dados ante-mortem podem ser de natureza diversa e possuírem diferentes graus de

precisão. De acordo com Gustafson (14) consideramos como mais importantes os

seguintes:

4.1 Fichas dentárias

Steagall e Silva (38), fizeram uma pesquisa sobre a importância da dentisteria e

dos seus materiais no processo de identificação humana. Ressaltaram o valor elevado

que têm as fichas clínicas quando contêm anotações detalhadas de cada procedimento

realizado, inclusive de todos os materiais utilizados. Os autores verificaram as

alterações sofridas por diferentes materiais (amálgama, resina acrílica, resina

composta, cimento policarboxilato e cimento de silicato) submetidos a diferentes

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

46

temperaturas (200ºC, 400ºC e 600ºC) por um período de dez minutos de cada vez,

simulando as temperaturas ocorridas nos incêndios nos edifícios Joelma e Andraus

em São Paulo, fornecem-nos informações imprescindíveis, no que respeita às

alterações sofridas (textura, contracção, cor e permanência ou não na cavidade) por

estes materiais dentários, nos processos de identificação post-mortem de pessoas

carbonizadas.

Apesar da importância médico-legal das fichas dentárias ter sido enfatizada por

diversos autores, a verdade é que geralmente essas fichas dentárias se encontram

muito incompletas. Apenas os dados gerais relativos aos trabalhos executados são

registados e muitas vezes sem o rigor que seria necessário.

Têm sido descritas na literatura as condições a que deve obedecer o

preenchimento de uma ficha dentária para que a mesma possa vir a ser útil do ponto

de vista médico-legal, principalmente em casos de identificação de cadáveres. Os

modelos de ficha dentária propostos por Johanson, citado por Gustafson (14), indicam

que ela deveria conter os seguintes elementos:

• Identidade do doente (nome, idade e sexo);

• Número de restaurações e sua extensão, localização e natureza;

• Número e identificação dos dentes extraídos;

• Número e situação dos dentes intactos;

• Número e localização dos dentes inclusos;

• Estados das gengivas;

• Radiografias bite-wing;

• Depósitos observados sobre os dentes e suas características.

Adão Pereira (40), por achar estes dados insuficientes propôs ainda os seguintes

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Enquadramento Teórico

47

elementos:

• Profissão;

• Estado Civil;

• Naturalidade;

• Residência actual.

Todos os dados obtidos através do exame exobucal e endobucal, pela inspecção

simples e inspecção com sonda e espelho, devendo ficar registados na ficha clínica. O

registo dos dados dentários fica altamente facilitado quando se utiliza um diagrama.

Existem vários tipos de diagrama, de carácter anatómico ou de carácter esquemático,

que variam conforme os autores. Adão Pereira (40) considera que os diagramas

geométricos, formados por quadrados que representam de maneira esquemática e

aproximada a forma dos dentes, são os que proporcionam uma maior facilidade de

registo. Habitualmente, em relação com os objectivos clínicos, os profissionais de

Saúde Oral não registam nas fichas os pormenores menos significativos que, quando

avaliados numa perspectiva médico-legal, podem ser relevantes, sendo de salientar

que tais pormenores não são considerados tão importantes por outros autores. Um

deles é Strom (41), que defende que o médico dentista se deve preocupar mais em

descrever pormenorizadamente todos os tratamentos por si efectuados, não sendo

necessária uma descrição exaustiva de toda a boca na primeira visita do paciente.

Durante o preenchimento da ficha dentária deve ser usada a nomenclatura apropriada,

usando termos gerais para a descrição dos dentes e suas superfícies, para as cavidades

e restaurações.

Em relação à numeração dentária, a Federação Dentária Internacional propõe o

sistema dos dois dígitos, para ser usado internacionalmente, pela sua facilidade quer

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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na compreensão e ensino, quer na comunicação da pronúncia, ou transmissão e

impressão (este sistema é explicado com mais detalhe na página 51).

O registo das restaurações é também muito importante no preenchimento da

ficha dentária. Brown (42), no entanto, comenta as dificuldades na identificação dos

casos em que as restaurações verificadas no cadáver não coincidem com aquelas que

se encontram descritas na ficha dentária preenchida ante-mortem. Além das

circunstâncias desfavoráveis que podem ocorrer, como a alteração ou destruição

completa das restaurações, desintegração total dos tecidos dentários em condições

extremas de ambiente, ou a impossibilidade de recuperação de todos os dentes e suas

respectivas restaurações, também o preenchimento incorrecto das fichas dentárias

pode contribuir para o fracasso total da tentativa de identificação através de meios

dentários. Merecendo análise pormenorizada o trabalho de Guimarães (43), que

estabeleceu orientação para o cumprimento do preceito ético relativo ao correcto

preenchimento da ficha dentária, traçando inicialmente um panorama do uso desta

ficha em vários países. Recomendam, inclusive, que se faça não só o preenchimento

da mesma, mas sim, o preenchimento de todo um prontuário médico-dentário do

paciente, que contenha além da sua identificação, a sua história clínica, exame clínico

(com preenchimento de odontograma), plano de tratamento, tratamento realizado e

exames complementares.

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Enquadramento Teórico

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4.2 Fotografias dentárias

As fotografias dentárias, quer dos dentes anteriores quer dos dentes posteriores,

são como é óbvio, muito importantes para a identificação. Podem ser decisivas para a

eliminação ou atribuição de determinada identidade a uma vítima.

4.3 Radiografias crânio faciais e dentárias

Historicamente, a aplicação das radiografias crânio faciais em Ciências Forenses

foi introduzida em 1896, apenas um ano após a descoberta do rx por Roentgen, para

demonstrar a presença de balas de chumbo na cabeça de uma vítima (44). Gustafson

(14) estudou as características radiológicas dos seios frontais para efeitos de

identificação, considerando relevantes: o septo nasal e seus desvios, o bordo superior

dos freios, a presença de obstruções parciais, as extensões etmoidais e supra-

orbitárias, a altura a partir do pavimento, a largura total e a posição da linha sinusal

média.

Relativamente às radiografia dentárias, existem vantagens na utilização das

radiografias intraorais comuns (radiografias periapicais e interproximais), nas

radiografias panorâmicas (ortopantomografias), e nas radiografias cefalométricas

(teleradiografias).

As radiografias periapicais podem fornecer informações importantes, devido à

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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grande quantidade de dados registados na película. Exemplos são as características

anatómicas como o tamanho e forma das coroas e raízes, anatomia pulpar,

características que aparecem pelas transformações causadas pelas cáries e pelas

restaurações realizadas. O tratamento dentário resulta em características únicas e

individuais que são geralmente bem visíveis neste tipo de radiografias.

O aparecimento da ortopantomografia veio contribuir em muito para o processo

de identificação através de técnicas dentárias. Este tipo de radiografia é hoje obtido

regularmente nos consultórios dentários, sendo um óptimo exame ante-mortem de

comparação.

Sassouni (45) defendeu também a utilização da teleradiografia, admitindo que

eram oito as medidas com interesse na identificação médico-legal: a largura dos seios,

a altura da face, a largura bigoníaca, a altura do crânio (mastóide-ápex), a altura

incisiva, a largura bizigomática e a largura máxima do crânio.

Andersen e Wenzel (46), analisaram numa simulação ante e post-mortem, a

capacidade de identificação individual, através da análise do registo radiográfico

dentário, utilizando radiografias dentárias interproximais. Baseia o processo de

identificação num sistema de níveis (1=eliminado, 2=possível, 3=provável e 4=certo),

onde três observadores analisam cada caso e classificam as radiografias em cada nível,

considerando-se duas a doze características individuais. Os autores defendem a

validade desta técnica para a identificação individual humana, desde que aplicada

dentro de critérios restritos.

Embora estes estudos sejam de grande interesse, a importância das radiografias

dentárias para efeitos de identificação revela-se mais importante nos casos em que há

dentes, e especialmente quando existem restaurações, sendo especialmente relevantes

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Enquadramento Teórico

51

naqueles casos em que a ficha dentária se encontra incompleta ou mal preenchida.

Mas é de ressalvar que o aparecimento das radiografais digitais veio trazer um

refinamento ao seu uso para identificação, oferecendo maior acuidade mesmo em

indivíduos desdentados (47).

4.4 Marcação de próteses removíveis

As próteses dentárias, principalmente aquelas que se encontram marcadas pode

revelar-se de grande interesse na identificação médico-legal. Quando o cadáver a ser

identificado é desdentado total ou perdeu grande número de dentes, a identificação por

métodos dentários pode ser muito difícil. Nestes casos são as próteses removíveis o

meio mais importante, e por vezes único para levar à identificação.

5 A PERÍCIA EM MEDICINA DENTÁRIA FORENSE

Para obter a identificação de um indivíduo através da Medicina Dentária Forense,

não restam dúvidas que o mais importante é poder fazer um estudo minucioso da

dentadura em causa, de modo a poder captar o maior número de informações que

permitam a sua caracterização.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

52

Tratando-se de uma ossada, é muito mais simples, porque podem estudar-se ambas as

arcadas, superior e inferior, separadamente. Já quando se trata de um cadáver fresco,

completo ou de uma cabeça decepada, situação frequente quando o homicida pretende

que não se identifique o cadáver, poderá ser necessária a remoção do arco maxilar e

do arco mandibular, para facilitar o manuseio, a obtenção de toda a informação

dentária e, inclusivamente, permitir a realização de radiografias.

Este processo, de forma sistemática, pode ser efectuado pela técnica de Luntz

(48):

• duas incisões bilaterais, nas bochechas, formando um ângulo de abertura

posterior, a partir da comissura labial de cada lado;

• a incisão superior prolonga-se até ao arco zigomático;

• a incisão inferior, prolonga-se até ao ângulo mandibular ou gónium;

• retirar as partes moles da mandíbula (inserções dos músculos da mastigação);

• desarticular a articulação temporo-mandibular;

• realizar uma incisão, em ferradura, acompanhando, internamente, o rebordo

inferior da mandíbula;

• aprofundar esta incisão de modo a alcançar o pavimento da boca, seccionando

todas as inserções musculares, até isolar completamente a mandíbula;

• o arco maxilar ou superior é isolado através de um corte horizontal, feito com

auxílio de serra e cinzel;

• o corte inicia-se na espinha nasal anterior prolongando-se até atingir as

lâminas verticais dos ossos palatinos e as apófises pterigoideas do esfenóide.

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Enquadramento Teórico

53

Para obter os arcos ósseos limpos e ainda segundo Luntz (48):

• ferver os arcos retirados em água, contendo detergente e, podendo colocar-se

alguns cristais de soda cáustica,

• realizar, então, a limpeza manual, com rugina e pinça, dos restos de partes

moles,

• proceder, por fim, ao branqueamento dos ossos com água oxigenada (30

volumes), onde podem ser deixados durante 24 horas,

• secar as peças.

Com os ossos assim preparados, realiza-se com facilidade, o estudo minucioso de

ambas as arcadas e de cada uma das peças dentárias, de modo a obter todas as

informações de interesse médico-legal, para que possam ser transferidas para a

respectiva ficha dentária. Completado este estudo das peças isoladas, voltam a

articular-se os arcos com o auxílio de massa plástica, e faz-se uma ortopantomografia,

que complementará as primeiras, e que vai mostrar um grande número de pontos de

grande valor na identificação, sendo certo que a documentação radiográfica

possibilitará uma ampla comparação com qualquer outra ortopantomografia, ou

radiografias perapicais feitas ante-mortem. No caso específico dos cadáveres

carbonizados, tanto os dentes sãos como aqueles que tenham sido alvo de tratamentos

restauradores, resistem bastante à acção do calor. Dos materiais restauradores, a

amálgama é o mais frágil ao calor. Já as porcelanas, as resinas, os cimentos e o ouro,

são resistentes ao calor. As resinas, cuja cor se assemelha à dos dentes, podem ser

facilmente reconhecidas com o auxílio da luz ultravioleta, com a qual apresentam

fluorescência entre branco-azulada e branco-esverdeada.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

54

5.1 Ficha dentária para a identificação forense

A ficha dentária que se utiliza para a identificação forense é algo diferente da

que se utiliza na clínica. Com efeito, a ficha de identificação deve conter um número

maior de informações que facilitem a identificação de uma vítima. Existe uma ampla

variedade de modelos, sendo difícil poder indicar qual é o melhor. O que se podem

indicar são as características que uma ficha deve preencher para ser funcional: tem

que ser fácil de usar e deve ter espaços suficientes para recolher todos os dados

identificadores, como:

• falta de peças dentárias,

• alterações, congénitas ou adquiridas, das peças dentárias remanescentes,

• restaurações dentárias,

• próteses, fixas e removíveis,

• radiografias obtidas, etc.

Uma boa ficha dentária, para fins de identificação forense tem que ter, pelo menos, os

seguintes tópicos:

• sistemas de numeração das peças dentárias,

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Enquadramento Teórico

55

• diagrama para o registo das particularidades morfológicas das coroas de cada

dente, e

• um local para registar, se necessário, características de especial interesse

como, por exemplo, radiografias, próteses, endodontias, restaurações, etc.

5.1.1 Sistemas de numeração das peças dentárias

Existem numerosos sistemas de numeração. Todavia, o mais aceite e utilizado é

o da Federação Dental Internacional (FDI), conhecido como "sistema de dois

algarismos", no qual se representam os dentes por um par de números, o primeiro dos

quais, indica a qual das hemiarcadas pertence a peça dentária e o segundo indica qual

é o dente. Na dentição definitiva o primeiro dígito vai do 1 à 4, representando os

quadrantes no sentido dos ponteiros do relógio. O segundo dígito, de 1 a 8, representa

a peça correspondente, desde o incisivo central até ao terceiro molar. Na dentição

temporária, os quadrantes representam-se com os números de 5 a 8, e as peças

dentárias, de 1 a 5.

5.1.2 Diagramas

Existem diversos modelos de diagramas onde se podem registar as diferentes

particularidades presentes nos dentes. Porém, podemos reduzir essa variedade a dois

tipos fundamentais: o sistema linear e o sistema em forma de arco. Em ambos os casos

representam-se, de forma esquemática, as faces oclusais dos diferentes dentes e é

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

56

nelas que se registam, nos respectivos lugares, os tratamentos dentários, restaurações,

coroas, etc.

Figura 6 Representação modificada do diagrama utilizado pela Interpol

O diagrama utilizado pela Interpol (49), é de uso fácil e bastante prático para realizar

as comparações de achados que possam levar à identificação de uma pessoa. Como se

vê na figura anterior, é formado por desenhos bem simplificados e numerados, que se

agrupam em quatro quadrantes superpostos.

5.1.3 Secção para características especiais

Por último, reserva-se na ficha uma parte que permite anotar, para cada caso,

achados dentários de interesse especial para a identificação, e onde se anotam os

exames complementares efectuados: radiografias apicais, ortopantomografias, ante e

post-mortem, e/ou outras informações que se tenham recolhido. Com estas indicações,

pode-se elaborar uma ficha dentária que permita ao perito recolher adequadamente, no

caso concreto, os dados passíveis de serem utilizados no processo de identificação

odontológica.

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Enquadramento Teórico

57

5.1.4 Formulário de achados dentários

Um bom exemplo de ficha dentária é o formulário de achados dentários, que

consta do prontuário para identificação de vítimas em uso pela Interpol (50) e que é de

utilização simples, anotando todas as observações, seguindo instruções precisas,

quanto à marcação. As peças dentárias perdidas in vivo, marcam-se com um X grande

ao passo que os perdidos depois da morte, marcam-se com um círculo. Quanto às

restaurações, usa-se a cor preta, para marcar amálgamas, a cor vermelha, para indicar

trabalhos feitos em ouro, e a cor verde, para os materiais polimerizados. As cáries

marcam-se com x pequeno, desenhado sobre a face atingida pelo processo.

5.2 A prova pericial em Medicina Dentária Forense.

Antes de qualquer decisão judicial é necessário analisar todos os meios de

prova que se anexaram ao processo, já que todas as decisões judiciais têm que estar

fundamentadas com provas. A palavra perito, vem do latim peritus, que significa

sábio, experiente, hábil, ou que pratica uma ciência ou arte. Perito forense é aquele

que possuindo conhecimentos teóricos ou práticos informa o juiz, sob juramento,

sobre pontos litigiosos que se relacionam com a sua especialidade.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

58

O médico dentista perito não é apenas uma testemunha, pois esta limita-se a

descrever um acto sucedido na sua presença, não lhe sendo permitida qualquer

interpretação a esse respeito. Pelo contrário, ao perito é lhe permitido fazer juízos

sobre eles, quando visam aspectos relativos à sua área profissional. Ao médico

dentista perito pode ser solicitado que informe e que dê o seu parecer sobre os mais

diversos problemas de ordem judicial. Estes problemas podem dividir-se em dois

grupos: a) identificação de pessoas e b) reconstrução dos factos.

Qualquer médico dentista pode ser chamado a depor como perito, tanto na fase

de instrução primária, como na fase final. O médico dentista deverá responder às

perguntas formuladas pelas partes e pelo juiz, em relação ao relatório pericial

realizado. Por esta razão deve ter efectuado um relatório pericial baseado na perícia

odontológica, seguindo um protocolo pré-estabelecido.

Relatórios periciais:

O esquema que consideramos dever ser seguido em todos os relatórios

periciais é o seguinte:

1. Identificação do perito, em que além do seu nome e apelidos, deve constar o

seu título, assim como os seus conhecimentos específicos, que tenham relação

com o problema que se está a tentar resolver.

2. Ordem de petição do relatório, informando qual a autoridade que o ordenou,

quais os seus objectivos, os elementos que se facilitaram para a realização da

prova e as limitações encontradas.

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Enquadramento Teórico

59

3. As diversas operações realizadas, quer sejam em pessoas vivas, cadáveres, ou

restos destes.

4. Factos obtidos. Indicam-se todos os elementos relevantes, e a sua descrição

detalhada. É importante complementar com dados fotográficos, esquemas,

sistemas gráficos, etc.

5. Considerações dentárias forenses. Aqui faz-se referência ao significado dos

elementos recolhidos e, em particular, às questões que se pretendem resolver.

6. Conclusões. Estas devem ser expressas da forma mais nítida possível, e de

maneira a que dêem resposta a todas e a cada uma das questões levantadas.

Em cada conclusão deve-se referir que se trata de uma verdade comprovada,

sem nenhuma dúvida. No caso de ser uma conclusão que apesar de ainda não

ter sido rigorosamente provada, tem a convicção moral do próprio perito, ou se

por outro lado se tratam de conclusões meramente indiciárias.

Os relatórios periciais estão sujeitos à livre interpretação pelo juiz. As crítica

fundamentais das provas periciais e dos relatórios, têm como base o facto de se terem

realizado estudos incompletos, terem-se estabelecido deduções infundadas, feito

interpretações erróneas, não ter estabelecido a valorização adequada das conclusões,

ou não ter recolhido adequadamente os dados dos pacientes, ou dos elementos sobe os

quais se efectua a prova pericial. A existência de discrepância pericial, ou seja quando

se chegam a conclusões diferentes, e às vezes opostas, trabalhando os mesmos

elementos e em condições idênticas, geralmente tem origem na falta de experiência

dos peritos ou na falta de rigor nas fases de observação, análise e interpretação dos

dados.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

60

6 RELATO DE CASOS - REVISÃO DE LITERATURA

Sendo a identificação humana um dos principais objectivos do estudo e pesquisa

da Medicina Dentária Forense, e também sendo objecto deste trabalho demonstrar a

contribuição desta ciência na identificação post-mortem, procuramos a seguir, ilustrar

a sua utilização, através de alguns relatos científicos publicados .

Petersen (51) em 1975, reportou-se ao incêndio do hotel Hafnia, ocorrido em

Copenhaga, em 1973, onde houve trinta e cinco vítimas mortais. Colaboraram com a

equipa de identificação oito médicos dentistas, que realizaram em todas as vítimas

exames visuais, fotográficos, de raios X, preenchimento do odontograma post-

mortem, finalizando os seus trabalhos com uma comparação e avaliação das

informações ante-mortem com os dados preliminares obtidos. Os resultados desta

cooperação com a equipa dentária forense, foram a identificação de 74% das vítimas

(26 casos). O ocorrido também serviu para uma reflexão dos trabalhos e sugestão para

que no futuro, em casos similares, o número mínimo de médicos dentistas fosse de

dois para cada trinta vítimas.

Sognnaes (52) em 1975, esclareceu a identidade de Martin Bormann, chanceler

do Terceiro Reich alemão durante a II Guerra Mundial, sobre o qual pairavam muitas

controvérsias a respeito do seu paradeiro, que incluíam desde o seu suicídio, até ter

sido visto após a II Guerra na Escandinávia, na Alemanha, na Itália e em alguns países

Sul Americanos. Através dos registos do Dr. Hugo Blaschke, dentista de muitos Nazis

VIP foi possível em 1972 realizar a comparação objectiva de dezasseis características

dentárias ante e post-mortem, de um esqueleto supostamente do desaparecido. Os

estudos dentários forenses puderam estabelecer a identidade individual absoluta de

Martin Bormann.

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Enquadramento Teórico

61

Endris (53) em 1985 descreveu o caso de repercussão internacional, do carrasco

nazi Josef Mengele, onde houve a contribuição da Medicina Dentária Forense através

de exames das características dentárias e dos ossos maxilares, anteriores à sua morte,

retiradas de fichas de um exame físico realizado quando Mengele ainda estava no

campo de concentração de Auschwitz. Os elementos constantes nessas fichas, quando

comparados aos dados encontrados, no esqueleto suspeito, apresentaram marcas

evidentes de positividade da identificação, com uma alta probabilidade.

Jacob & Shalla (54) em 1987, descreveram como foi realizada a identificação

post-mortem em vinte e oito indivíduos desdentados totais, onde os mesmos foram

identificados por dois processos distintos e simultâneos. No primeiro processo eram

analisadas as rugosidades palatinas bem como todas os detalhes das demais estruturas

anatómicas circundantes, obtendo-se 100% de eficácia na identificação. Já o segundo

procedimento avaliou somente as rugosidades palatinas, obtendo um índice de sucesso

de 69%, demonstrando que em casos de identificação de pessoas desdentadas totais, a

anatomia maxilar deve ser considerada na sua totalidade, e as técnicas dentárias não

devem ser excluídas logo à partida.

Rothwell et al. (55) em 1989, deixam claro que a Medicina Dentária Forense

possui um papel preponderante na identificação de restos cadavéricos, para

certificação da identidade de pessoas falecidas, e sendo particularmente útil nas

investigações de homicídios. Descrevem o caso de uma série de assassinatos ocorridos

a partir de 1982, e até àquele momento não solucionados, onde o serial killer,

conhecido como o Assassino de Green River, fez quarenta vítimas, todas do sexo

feminino. As vítimas foram encontradas em vários estágios de decomposição ou já em

estado de esqueletização, sendo trinta e seis delas identificadas principalmente pelas

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

62

evidências dentárias. Entretanto, destacam as dificuldades em se conseguirem os

registos dentários ante-mortem dos desaparecidos.

Os autores concluem que a Medicina Dentária Forense pode contribuir para o

progresso dos processos de identificação, desde que haja uma formação contínua dos

médicos dentistas especialistas na área forense.

Solheim et al. (56) em 1992, reportaram um dos maiores acidentes navais da

história, do Scandinavian Star, ocorrido em 1990, que fez 158 vítimas. A

identificação das mesmas contou com um grupo de especialistas, subdivididos em

quatro subgrupos, cada um contendo dois médicos dentistas. Todos os exames e

autópsias foram realizados no Instituto de Medicina Forense da Universidade de Oslo,

sendo concluídos em dezassete dias, com a identificação positiva de todas as vítimas.

Os exames dentários foram responsáveis pela identificação de 107 casos (68%).

Kullman e Cipi (57) em 1992, descreveram um caso de identificação através dos

dentes, que contou com a cooperação internacional entre Albânia e Suécia para

resolução do caso. É destacada a importância do trabalho em equipa, inclusive de

países e profissionais distintos (forças policiais, médicos legistas e médicos dentistas

forenses), para que se possa chegar a um resultado positivo.

Kessler e Pemble (58) em 1993, descreveram a actuação da Medicina Dentária

Forense na identificação das vítimas americanas na Operação Tempestade no Deserto.

Dos 251 exames de identificação por métodos dentários realizados, 244 possibilitaram

a individualização e identidade positiva das pessoas. Tais exames foram facilitados

pela existência de um arquivo com radiografias panorâmicas da maioria das pessoas

envolvidas na "Operação". Os casos não identificados foram justamente os que não

apresentavam registos dentários prévios.

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Enquadramento Teórico

63

Brkic, Strinovic, Kubat e Petrovecki (59) em 2000, descreveram o trabalho de

identificação realizado em 1714 cadáveres exumados na Croácia, provenientes de

valas comuns. Os cadáveres foram encontrados com a ajuda de testemunhas que

sobreviveram. Dos 1714 cadáveres exumados conseguiu-se a identificação imediata

de 714 cadáveres. Dos restantes 1000 conseguiram-se identificar 824 cadáveres.

Destes, 25% foram identificados apenas recorrendo às técnicas dentárias, 64% foram

identificados recorrendo-se a técnicas dentárias, ADN, características pessoais e

parâmetros antropológicos. Apenas 11% dos casos foram identificados sem que para

isso se utilizassem os métodos dentários.

Kieser, Laing e Herbison (60) em 2006 analisaram a qualidade dos dados ante e

post-mortem que deram entrada no sistema de dados em Puket, Tailândia, resultantes

do tsunami de 2004. Foi seguido o protocolo da Interpol para registo dos dados

dentários. Os autores referem que a identificação pelos métodos dentários foi relevada

para segundo plano por muitos autores, não reconhecendo estes que os métodos de

identificação dentários são rápidos, fiáveis e relativamente baratos. Recentemente tem

vindo a ser dada maior relevância a estes métodos, principalmente depois de se terem

começado a usar métodos informáticos sofisticados, que permitem com rapidez

comparar as radiografias ante e post-mortem. Estes autores sublinham que apesar

destas novas técnicas, não há nada que substitua o trabalho de médicos dentistas

experientes na comparação e introdução dos dados no computador. Neste estudo

20,5% dos casos estudados tinha diferenças nos dados post-mortem escritos à mão e

aqueles introduzidos posteriormente no formulário rosa da Interpol, e 14,1% das

radiografias post-mortem tinham fraca qualidade. Concluem também que os dados

dentários ante-mortem devem ser colhidos por um médico dentista forense no país de

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

64

origem e que cada país deve reconhecer a Medicina Dentária Forense como uma área

de extrema importância, cabendo às instituições médico-legais e faculdades

providenciarem os cursos de actualização que permitam uma prática nesta área com

alto nível de eficiência e investigação. Ao ser dada a importância devida à Medicina

Dentária Forense, contribui-se para que os dentistas na sua prática diária recolham os

dados dentários com maior eficiência. Neste estudo verificou-se que os dados ante-

mortem para comparação apresentavam falhas como radiografias de qualidade

inaceitável (53,8%) e preenchimento de fichas dentárias de qualidade também

inaceitável (31,1%). Finalmente também referem a importância que cada governo tem,

em dar o suporte financeiro para o estabelecimento de uma agência central de

investigação com procedimentos compatíveis internacionalmente.

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Objectivos

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III. OBJECTIVOS

As técnicas dentárias são, como foi exposto no capítulo anterior, sobejamente

utilizadas e reconhecidas na identificação post-mortem em muitos países, daí que se

coloca o problema de saber se a perícia odontológica está também a ser utilizada em

Portugal, e mais concretamente no Norte do País, no caso de cadáveres não

identificados. Colocando a hipótese da resposta a esta pergunta ser negativa, é nosso

objectivo também determinar se existe ou não a necessidade da sua implementação

nos serviços médico-legais. Para iniciar a nossa investigação, vamos tentar, em

primeiro lugar, determinar quais as principais técnicas utilizadas pelos peritos

médico-legais do Norte de Portugal na identificação de cadáveres. De igual modo,

pretende-se avaliar o resultado das técnicas de identificação utilizadas

correlacionando-as com o estado de conservação do cadáver. É nosso objectivo

também saber se as técnicas que estão a ser utilizadas actualmente estão a ser

eficazes, se estão a combinar eficiência, com rapidez e economia. São estas questões

que nos fazem avançar e tentar chegar mais longe ao ponto de tentar determinar se

existe distinção entre exame da cavidade oral e perícia odontológica, conforme se

trata de uma autópsia de rotina ou de um processo de identificação.

A avaliação da actual contribuição da perícia odontológica na identificação de

cadáveres na Delegação do Porto do INML e nos Gabinetes Médico-legais por ela

subordinados, pode ser o primeiro passo para uma reflexão do papel da Medicina

Dentária Forense em Portugal e da necessidade ou não da revisão do protocolo

seguido na identificação post-mortem, e da sua implementação como rotina nos casos

de cadáveres não identificados.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

66

IV. MATERIAL E MÉTODOS

1 PARTICIPANTES

Para alcançar os objectivos propostos incluíram-se inicialmente neste estudo todos os

peritos médicos-legais da região Norte de Portugal.

A região Norte de Portugal é composta pela Delegação do Porto e por oito gabinetes

por ela subordinados – Sta. Maria da Feira, Braga, Viana do Castelo, Guimarães,

Penafiel, Vila Real, Bragança (inclui extensão de Mirandela) e Chaves.

Foi pedida em Julho de 2005 uma listagem dos peritos médico-legais da Delegação e

dos oito Gabinetes, para sua identificação, sendo incluídos os peritos do quadro da

função pública e os peritos avençados. O número total de peritos incluídos

inicialmente era 74. Fez-se uma triagem posterior, de forma a não contabilizar mais

do que uma vez os peritos que acumulam funções em mais do que um gabinete. Os

peritos que não trabalham na área da tanatologia foram excluídos, por ser esta a área

que faz a identificação de cadáveres.

O número total final de peritos a incluir no estudo foi de 45.

Os dados colhidos foram utilizados unicamente no âmbito deste estudo, assegurando-

se a confidencialidade de todos os dados colhidos, ficando todos aqueles que os

manusearem com o dever de não fazer uso dos mesmos para outros fins.

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Material e Métodos

67

2 METODOLOGIA

2.1 Questionário

Para a realização do presente trabalho, utilizou-se um questionário como instrumento

de recolha de dados (Anexo 2). Após revisão bibliográfica sobre o assunto, e consulta

com alguns peritos da Delegação do Porto do INML foi elaborado o questionário,

propositadamente para o efeito deste estudo, com 18 questões, onde se pede ao perito

que escolha uma opção entre um nº limitado de alíneas. Foi entregue um questionário

piloto à Directora da Delegação do Porto do INML, para ser revisto e ser assegurada

a sua relevância na área médico-legal, a sua clareza e a compreensão das perguntas

aplicadas.

Foi feito um contacto inicial em Setembro de 2005 para os Gabinetes Médico-Legais

envolvidos, para explicar a natureza e os objectivos do estudo, antes de ser enviado o

questionário aos peritos. Foi esclarecido neste momento de interlocução, que o uso

dos resultados do questionário se destinavam apenas para fins de pesquisa e que seria

garantida a preservação da imagem e identificação dos peritos, visto não ser

necessária nenhuma identificação pessoal como : nome, filiação, idade, entre outros, e

sobre o direito do perito em participar ou não deste estudo, sem que qualquer prejuízo

ou dano derivassem desta decisão.

2.2 Aplicação do questionário

Os questionários foram distribuídos pessoalmente aos Coordenadores dos Gabinetes e

Directora da Delegação do Porto do INML em Setembro de 2005 para posterior

distribuição aos peritos dos respectivos serviços de tanatologia. Cada questionário foi

acompanhado de uma carta introdutória (Anexo 1) com explicação dos objectivos do

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

68

questionário e do estudo. Foi pedido aos peritos dos Gabinetes que enviassem os

questionários preenchidos pelo correio interno do INML, para facilitar o retorno, e

não haver lugar a despesas adicionais. Aguardaram-se dois meses e foi feito um novo

contacto telefónico para os Directores dos Gabinetes, de maneira a que os

questionários ainda sem resposta fossem entregues o mais rapidamente possível.

Relativamente ao questionário, este foi elaborado baseado em cinco momentos: na

primeira fase do questionário fazem-se perguntas de carácter geral do trabalho do

perito, de modo a traçar o seu perfil profissional. Na segunda fase averiguam-se quais

as técnicas de identificação mais frequentemente utilizadas, e o grau de satisfação por

parte dos peritos com o uso dessas técnicas. Na terceira fase do questionário aborda-

se a perícia odontológica em particular. Na quarta fase determina-se como é feita a

perícia odontológica, e na última fase determina-se a importância da perícia

odontológica.

Fase I : variáveis classificatórias, perfil geral da amostra

Constituída pela questão nº1 que identifica o local de trabalho do perito, pela questão

nº 2 que quantifica o nº de anos que o perito trabalha na área médico-legal e pela

questão nº 3 que estabelece o nº médio de autópsias que o perito realiza por ano.

Fase II : questões que abordam as técnicas de identificação utilizadas

Nesta fase confrontámos o perito com diversas técnicas de identificação, para saber

quais são as mais utilizadas, e o motivo da sua utilização. Não distinguimos técnicas

de identificação de técnicas de reconhecimento, nas alternativas de resposta, tendo

sido todas apresentadas em conjunto, como técnicas de identificação, para não

confundir o perito na altura de responder.

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Material e Métodos

69

Este grupo é constituído pelas seguintes questões: questão nº 4 na qual se pretende

saber qual a estimativa do nº de cadáveres não identificados que o perito se depara,

por ano; questão nº 5 em que se procura saber qual o nº aproximado desses cadáveres

que termina com identificação positiva; questão nº 6 em que se pede ao perito para

assinalar de entre 11 opções, quais as duas técnicas que mais utiliza no processo de

identificação, estando a pergunta subdividida em 3 alíneas: alínea a) referindo-se ao

cadáver recente (a morte ocorreu num intervalo inferior ou igual a 72 horas), alínea b)

cadáver putrefacto (a morte ocorreu num intervalo superior a 72 horas) e alínea c)

questionando acerca do cadáver esqueletizado. Na questão nº 7 quantifica-se a

existência ou não de dificuldades que atrasam ou impossibilitam a identificação e na

pergunta seguinte, pergunta nº 8 avalia-se qual a maior dificuldade deparada (apenas

no caso da resposta á pergunta 7 ter sido positiva).

Fase III : questões que averiguam a realização de um exame da cavidade oral e

de perícia odontológica

Este grupo é formado pelas seguintes questões: na pergunta 9 averigua-se se o exame

da cavidade oral é uma prática de rotina em todos os cadáveres sujeitos a autópsia;

caso a resposta seja afirmativa pede-se ao perito para continuar para as perguntas 10 e

11; caso seja negativa pede-se para avançar paras as perguntas 12 e 13. Na questão nº

10 determina-se como é feito o exame da cavidade oral, e na questão nº 11 determina-

se se o exame é feito da mesma maneira ou não, no caso de cadáveres não

identificados. Os peritos que responderam ás questões 10 e 11 passam á pergunta 14.

Aos peritos que responderam negativamente à pergunta 9, é-lhes pedido para

avançarem para a pergunta 12, onde se lhes pergunta se no caso específico dos

cadáveres não identificados a situação se alterava, ou se pelo contrário a situação se

mantinha igual, e não era feito um exame da cavidade oral ou uma perícia

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

70

odontológica. Na pergunta 13 avalia-se o tipo de exame da cavidade oral que os

peritos realizam no caso de ele ser feito nos cadáveres não identificados.

Fase IV: A perícia odontológica em particular

Passa-se agora à pergunta 14, onde já respondem todos os peritos novamente, onde

se tenta saber, por quem é feita a perícia odontológica, quando esta é solicitada. Na

pergunta nº 15 perguntamos se a perícia odontológica é requisitada em todos os casos

de cadáveres não identificados, se apenas naqueles casos que acompanham já dados

dentários ante-mortem, sugerindo uma relação com o cadáver, se é efectuada quando

no cadáver aparecem marcas de mordida, ou noutra situação.

Na pergunta nº 16 determina-se a razão pela qual ela não é solicitada.

Grupo V : questões que determinam a importância da perícia odontológica

Nas últimas duas perguntas, quantifica-se em primeiro lugar (pergunta 17) o peso que

a perícia odontológica poderia ter tido nos casos em que a identificação não foi

conseguida, dando-se três alternativas de resposta: a) a perícia odontológica poderia

ter alterado o resultado, b) a perícia odontológica não poderia ter alterado o resultado

e c) irrelevante. Na última pergunta do questionário, questão nº 18, quantifica-se a

importância da perícia odontológica passar a ser um procedimento de rotina no caso

de cadáveres não identificados, sendo dadas três alternativas: a) é importante, b) não é

importante, c) irrelevante.

3 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Na análise descritiva dos dados apresentam-se quadros com contagens e

percentagens. A informação recolhida a partir dos questionários foi compilada no

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Material e Métodos

71

programa Excel - versão 2003, e posteriormente armazenada numa base de dados no

programa SPSS (Statistical Package for Social Science) versão 12.0 for Windows.

Posteriormente foi feita a análise pelos métodos estatísticos descritivos usuais. Foram

construídas tabelas de contingência para cada resposta individualmente e calculadas

as respectivas percentagens.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

72

V. RESULTADOS

Procede-se de seguida à apresentação dos dados obtidos através da utilização dos

instrumentos de recolha de dados referidos no capítulo anterior.

1 APRESENTAÇÃO DOS DADOS AMOSTRAIS

Dos 45 questionários enviados aos Gabinetes Médico Legais do Norte de Portugal e

Delegação do Porto do INML, obteve-se o retorno de 21 questionários (47%),

chegando o último em Abril de 2006. Os questionários respondidos foram

provenientes da Delegação do Porto do INML e dos Gabinetes de Braga, Chaves,

Guimarães, Penafiel, Sta. Maria da Feira e Viana do Castelo. Não se obteve qualquer

resposta dos Gabinetes de Vila Real e Bragança.

1.1 Variáveis Classificatórias, Perfil Geral da Amostra

A maior percentagem de questionários devolvidos corresponde à Delegação do Porto

do INML, e ao Gabinete de Chaves, ambos com 100% de questionários devolvidos,

seguindo-se o Gabinete de Guimarães, com 80% dos peritos a retornarem os

questionários, Viana do Castelo com 67%, Penafiel com 43%, Braga com 40% e Sta.

Maria da Feira com 27%.

A proporção de peritos que trabalham na área da Tanatologia em cada

Gabinete/Delegação e o número de questionários respondidos está representada na

tabela seguinte:

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Resultados

73

Tabela 3. Gabinete/Delegação onde o perito trabalha

peritos (n) Frequência (n) Percentagem

Porto 6 6 28,6

Chaves 1 1 4,8

Braga 5 2 9,5

Penafiel 7 3 14,3

Guimarães 5 4 19,0

Sta. Maria da Feira 11 3 14,3

Viana do Castelo 3 2 9,5

Vila Real 3 0 0,0

Bragança 4 0 0,0

Total 45 21 100,0

Dos vinte e um questionários devolvidos, sete dizem respeito a peritos com menos de

cinco anos na área da Medicina Legal (33,3%), cinco referem-se a médicos que

trabalham na área médico-legal entre cinco a dez anos (23,8%). Dos peritos que

trabalham nesta área entre onze e vinte anos, obteve-se cinco respostas (23,8%) e

aqueles que exercem a sua actividade médico-legal há mais de vinte anos

correspondem quatro respostas (19,0%) (Tabela 4.).

A partir do questionário verificou-se que 52,4 % (n=11) dos inquiridos fazia menos

de cinquenta autópsias por ano, 19,0% (n=4) realizava mais de duzentas autópsias por

ano, e os restantes faziam entre cinquenta e uma e duzentas necrópsias no mesmo

período de tempo (Tabela 5.).

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

74

Tabela 4. Quantidade de anos que o perito trabalha na área médico-legal

Frequência (n) Percentagem (%)

menos de 5 anos 7 33,3

de 5 a 10 anos 5 23,8

de 11 a 20 anos 5 23,8

mais de 20 anos 4 19,0

Total 21 100,0

Tabela 5. Nº autópsias / ano

Frequência (n) Percentagem (%)

0 a 50 11 52,4

51 a 100 2 9,5

101 a 150 2 9,5

151 a 200 2 9,5

mais de 200 4 19,0

Total 21 100,0

1.2 Questões que abordam as Técnicas de Identificação Utilizadas

Uma das perguntas que interessava bastante para a finalidade do trabalho era a

estimativa do número de cadáveres não identificados que o perito se depara por ano.

Os resultados obtidos estão representados na Tabela 6. :

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Resultados

75

Tabela 6. Não identificados / ano

De seguida, perguntou-se aos peritos quantos cadáveres acabavam com identificação

positiva. Das respostas obtidas, 66,7% (n=14), afirmaram que este número estava

abaixo de dez, e 14,3% (n=3) assinalaram que identificaram entre trinta a quarenta

cadáveres por ano. Os demais grupos tiveram todos o mesmo índice de respostas, ou

seja, 4,8% (n=1) , conforme se observa na Tabela 7.

Tabela 7. Casos que terminam identificação positiva

Frequência (n) Percentagem (%)

0 a 10 14 66,7

11 a 20 1 4,8

21 a 30 1 4,8

31 a 40 3 14,3

mais de 40 1 4,8

NR 1 4,8

Total 21 100,0

Frequência (n) Percentagem (%)

0 a 10 16 76,2

11 a 20 1 4,8

21 a 30 0 0,0

31 a 40 1 4,8

mais de 40 2 9,5

NR 1 4,8

Total 21 100,0

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

76

Seguindo em frente no preenchimento do questionário, o perito foi questionado sobre

as técnicas de identificação mais utilizadas, não se fazendo distinção entre técnicas de

identificação propriamente ditas e técnicas de reconhecimento, para não confundir os

peritos, pedindo-se para escolher as duas técnicas mais usadas, seja no cadáver

recente, seja no cadáver putrefacto, e também no cadáver esqueletizado. Os

resultados estão demonstrados na Tabela 8..

Tabela 8. Técnicas de identificação utilizadas

Cadáver recente Cadáver putrefacto Cadáver esqueletizado

(n) (%) (n) (%) (n) (%)

comparações morfológicas

5 11,9 0 0,0 4 9,5

técnicas dentárias

0 0,0 7 16,7 12 28,6

técnicas radiográficas

0 0,0 0 0,0 1 2,4

reconhecimento visual

17 40,5 3 7,1 1 2,4

reconhecimento por objectos

pessoais

4 9,5 14 33,3 7 16,7

métodos osteoantropomé

tricos

0 0,0 1 2,4 2 4,8

reconstrução facial

0 0,0 0 0,0 0 0,0

análise documental

4 9,5 3 7,1 1 2,4

análise do ADN 3 7,1 11 26,2 12 28,6

dactiloscopia 9 21,5 1 2,4 0 0,0

outra 0 0,0 0 0,0 0 0,0

NR 0 0,0 2 4,8 2 4,8

Total 42 (21x2) 100,0 42 (21x2) 100,0 42 (21x2) 100,0

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Resultados

77

A pergunta seguinte, questionava se o perito se deparava com dificuldades técnicas

que atrasavam ou impossibilitavam a identificação. Neste sentido, 81% (n=17) dos

peritos responderam afirmativamente e 19% (n=4), responderam negativamente

(Tabela 9.). Aos peritos que responderam afirmativamente, foi-lhes perguntado qual a

maior dificuldade com que se deparavam (Tabela 10. ).

Tabela 9. Dificuldades técnicas

Frequência (n)

Percentagem (%)

Sim 17 81,0

Não 4 19,0

Total 21 100,0

Tabela 10. Tipo de dificuldades técnicas

Tipo de dificuldade técnica Frequência (n)

Percentagem (%)

Fraca precisão dos resultados 5 29,4

Demora na entrega dos resultados 2 11,8

Custos elevados 3 17,6

Não há dados ante-mortem para

comparação 7 41,2

Outra 0 0,0

Total 17 100,0

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

78

1.3 Questões que averiguam a realização de um exame da cavidade oral e de

perícia odontológica

O presente trabalho questionou, na pergunta número 9, se o exame da cavidade oral

era ou não uma prática de rotina em todos os cadáveres sujeitos a autópsia. Nas

respostas obtidas, verificou-se que 66,7% (n=14) da amostra afirmaram fazer o

referido exame como prática de rotina, e os restantes 33,3% (n=7), responderam não

o fazer (Figura 7).

Aos participantes que responderam afirmativamente à pergunta número 9, foi-lhes

pedido que continuassem para a pergunta 10 e 11 (Tabelas 11 e 12 respectivamente),

e aos que responderam negativamente que passassem às perguntas 11 e 12 (Tabela

13). Na pergunta 10 tentava-se saber que tipo de exame da cavidade oral era

realizado. Dos peritos que responderam a esta pergunta, 14,3% (n=2) disseram que o

exame da cavidade oral se limitava à contagem dos dentes presentes e ausentes, sendo

que 50% (n=7) afirmaram que além desta contagem, se verificava também o uso ou

não de prótese removível. Os restantes 35,7% (n=5), disseram que era preenchido um

odontograma completo em cada exame da cavidade oral (Tabela 11. ).

Na pergunta seguinte questionou-se os peritos se no caso específico dos cadáveres

não identificados, o exame da cavidade oral era feito da mesma maneira, ou se pelo

contrário, o protocolo é diferente. Dos participantes que responderam a esta questão,

85,7% (n=12) afirmaram que o exame da cavidade oral é feito da mesma maneira,

isto é, o exame da cavidade oral é feito da mesma maneira quer seja cadáver

identificado ou não identificado, e apenas 14,3% (n=2) disseram que faziam da

mesma maneira da indicada anteriormente, mas que solicitavam posteriormente uma

perícia odontológica a um Médico Dentista (Tabela 12).

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Resultados

79

Figura 7. Resultados das questões 9, 10, 11,12.

Tabela 11. Tipo de exame da cavidade oral realizado como rotina

Frequência (n)

Percentagem (%)

Percentagem no total da

amostra (%)

Contagem dos dentes presentes / ausentes 2 14,3 9,5

Contagem dos dentes presentes / ausentes, presença ou não de prótese removível 7 50,0 33,4

Preenchimento do odontograma completo 5 35,7 23,8

Outro 0 0,0 0,0

Total 14 100,0 66,7

Exame da cavidade

oral é uma prática de rotina

Sim (66,7%)

Não (33,3%)

Tipo de exame que realiza como rotina

Tabela 11.

Tipo de exame que realiza nos cadáveres

não identificados Tabela 12

No caso de cadáveres

não identificados

Realiza exame da cavidade oral

(71,4%) Tabela 13

Pede uma perícia odontológica

(0,0%)

Não realiza exame da cavidade oral, nem pede

perícia odontológica (28,6%)

Outra situação (0,0%)

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

80

Tabela 12. Exame da cavidade oral em cadáveres não identificados

Frequência (n)

Percentagem(%)

O exame da cavidade oral é feito da mesma maneira 12 85,7

O exame da cavidade oral é feito da mesma maneira sendo posteriormente ainda solicitada uma perícia odontológica a um

médico dentista 2 14,3

Outra 0 0,0

Total 14 100,0

Aos peritos que responderam que o exame da cavidade oral não era uma prática de

rotina, perguntou-se na questão 12, se no caso específico dos cadáveres não

identificados se passava a fazer este tipo de exame, sendo que 71,4% (n=5) dos

inquiridos respondeu que neste caso fazia um exame da cavidade oral e 28,57% (n=2)

disse que tudo se mantinha igual, isto é, não se fazia exame da cavidade oral nem se

pedia uma perícia odontológica. Dos peritos que afirmaram que no caso dos

cadáveres não identificados passavam a realizar um exame da cavidade oral, 28,6%

(n=2) responderam que esse exame consistia na contagem dos dentes presentes e

ausentes, e 71,4% (n=5) afirmou que nestes casos era pedida uma perícia

odontológica a um médico dentista (Tabela 13. ).

Tabela 13. Exame da cavidade oral efectuado aos cadáveres não identificados

Tipo de exame Frequência (n)

Percentagem (%)

Percentagem no total da

amostra (%)

Contagem dos dentes presentes / ausentes 2 28,6 9,5

Contagem dos dentes presentes / ausentes, e a presença ou não de prótese removível 5 71,4 23,8

Preenchimento do odontograma completo 0 0,0 0,0

Outro 0 0,0 0,0

Total 7 100,0 33,3

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Resultados

81

1.4 Perícia Odontológica em particular

Passa-se agora para a fase do questionário onde se obtém dados sobre a perícia

odontológica propriamente dita.

O presente trabalho verifica na pergunta 14 (Tabela 14), nos casos em que é solicitada

uma perícia odontológica, de que maneira esta é feita. Sendo que 4,8% (n=1) da

amostra respondeu que solicitava a presença de um médico dentista durante a

autópsia para fazer a perícia; outro grupo, 23,8% (n=5) afirmou que reencaminhava a

perícia para ser realizada por um médico dentista noutro local; e 52,4% (n=11)

respondeu, que a situação era outra (Tabela 15). Houve ainda 19,0% (n=4) dos peritos

que não responderam a esta questão.

Tabela 14. Perícia odontológica

Frequência (n) Percentagem (%)

solicita-se presença do dentista para realizar a perícia 1 4,8

reencaminha-se a perícia para outro local 5 23,8

Outra( Tabela 15.) 11 52,4

NR 4 19,0

Total 21 100,0

Tabela 15.

Tipo de resposta Frequência (n)

Percentagem (%)

Não se requisitam perícias odontológicas 10 90,9

Sem experiência que permita responder 1 9,1

Total 11 100,0

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

82

Na questão número 15, quantifica-se se a perícia odontológica é solicitada em todos

os casos de cadáveres não identificados (9,5% / n=2); ou apenas quando

acompanham o cadáver os dados dentários ante-mortem que sugerem a identificação

do cadáver (14,3% / n=3); ou só quando existem marcas de mordida (0,0%); ou,

ainda, outra situação não especificada (61,9% / n=15 ) – Tabela 16..

Tabela 16. Quando é requisitada a perícia odontológica

Frequência (n) Percentagem (%)

Em todos os casos de cadáveres não identificados 2 9,5

Quando acompanham o cadáver dados dentários ante-mortem 3 14,3

Outra (Tabela 17. 13 61,9

NR 3 14,3

Total 21 100,0

Tabela 17.

Tipo de resposta Frequência (n)

Percentagem (%)

Não se requisitam perícias odontológicas 12 92,3

Sem experiência que permita responder 1 7,7

Total 13 100,0

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Resultados

83

Na questão número 16, que versa sobre as situações em que não é requisitada a

perícia odontológica, pergunta-se as razões pelas quais ela não é solicitada: se não se

faz porque existem outras técnicas, que são usadas primeiro e que geralmente levam á

identificação (23,8%); não se faz porque não existe um médico dentista a trabalhar

na/com a(o) Delegação/ Gabinete (61,9%); não se faz porque não existe um local

para reencaminhar a perícia (14,3%); ou alguma outra situação (0,0%). Os resultados

obtidos estão apresentados na Tabela 18. .

Tabela 18. Quando não é requisitada a perícia odontológica

Frequência (n) Percentagem (%)

não se faz porque existem outras técnicas 5 23,8

não se faz porque não há dentista 13 61,9

não se faz porque não existe local para reencaminhar a perícia 3 14,3

Outra 0 0,0

Total 21 100,0

1.5 Questões que determinam a Importância da Perícia Odontológica

A partir da questão 17, perguntou-se se a perícia odontológica poderia ter alterado o

resultado nos casos que acabaram sem identificação e que não foi efectuada a perícia

odontológica. Nesta pergunta, 95,2% dos participantes responderam que sim, a

perícia odontológica poderia ter alterado o resultado. Comparativamente, os restantes

4,8% das respostas, consideram irrelevante para o caso a realização ou não de perícia

odontológica (Tabela 19.).

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

84

Tabela 19. Perícia odontológica poderia ter alterado o resultado

Frequência (n) Percentagem (%)

Sim 20 95,2

Não 0 0,0

Irrelevante 1 4,8

Total 21 100,0

Na questão número 18, pergunta-se aos participantes do estudo se acham importante

o estabelecimento da perícia odontológica como procedimento de rotina no caso de

cadáveres não identificados. Nesta pergunta, 100% da amostra respondeu

afirmativamente, isto é, consideraram importante que a perícia odontológica seja um

procedimento de rotina na identificação post-mortem (Tabela 20.).

Tabela 20. Importância de estabelecer perícia odontológica como rotina

Frequência (n) Percentagem (%)

Sim 21 100,0

Não 0 0,0

Irrelevante 0 0,0

Total 21 100,0

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Discussão

85

VI. DISCUSSÃO

Neste estudo, avaliou-se o perfil do uso da perícia odontológica para identificação em

tanatologia, na Delegação do Porto do INML e respectivos Gabinetes subordinados,

por meio de um questionário. A importância e função da Medicina Dentária Forense

estão bem documentadas (61,62,63,64,65) e as técnicas dentárias já constituem

prática pericial de rotina em muitos países, conforme revisão de literatura já

apresentada no Enquadramento Teórico. Frente ao exposto, verificou-se a

necessidade de um trabalho para se verificar ou discutir a importância e contribuição

da Medicina Dentária Forense na identificação post-mortem e o perfil da sua prática

no Norte de Portugal.

Em relação ao questionário, especificamente quanto à aderência e colaboração dos

entrevistados na pesquisa, o índice de respostas obtidas 47% (n=21) foi proporcional

às encontradas por outros autores, como Tamoto (67) que obtiveram 35% de

respostas. Tal valor explica-se devido ao facto do questionário ser entregue

pessoalmente a cada coordenador de Gabinete e para a maior parte dos peritos,

inclusive com um reforço e colaboração de peritos da Delegação do Porto do INML,

para que preenchessem a pesquisa. Mesmo com este esforço, não foi possível que se

obtivessem ainda mais respostas, facto que leva a pensar, e está de acordo com o

resultado de outros pesquisadores, que o índice de respostas obtidas por questionários

enviados unicamente pelo correio é muito mais baixo. Em virtude da impossibilidade

de reproduzir a entrega pessoal e recolha dos questionários em todo o território

nacional, decidiu-se restringir o estudo somente à região norte de Portugal, ainda que

de uma amostra mais reduzida, porém com maiores possibilidades de controlo e

recolha de informações.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

86

Dentro deste contexto, após a análise dos dados obtidos neste estudo, verificou-se que

o índice de aderência ao questionário foi maior no grupo com menos anos de

profissão, menos de 5 anos (33,3%), e menor no grupo com mais anos de profissão

(19%). Contudo os grupos entre 5 e 10 anos e 10 a 20 anos tiveram o mesmo índice

de respostas.

Embora no questionário se tenha verificado que 52,4% (n=11) dos inquiridos

fazia menos de cinquenta autópsias por ano, e apenas 19% (n=4) realizava mais de

duzentas autópsias, do total das respostas obtidas, em relação ao número de cadáveres

não identificados que o perito se depara por ano, 76,2% (n=16) afirmaram que o

número de casos estava abaixo de 10, e 9,5% (n=2) responderam que se deparam com

mais de 40 cadáveres não identificados por ano. Estas respostas podem levar a pensar

que o aparecimento de cadáveres não identificados, não está restrito aos grupos ou

locais que fazem um grande número de autópsias ou que disponham de um grande

número de anos de experiência na profissão. Mas que, de outro modo, está sujeito a

aparecer em qualquer sítio onde haja lugar a realização das autópsias.

Esta interpretação não está longe do facto de que, conforme apresentam os

dados oficiais da Delegação do Porto do INML nos Relatórios de Actividades dos

anos 2004 e 2005, estes demonstram a existência de muitos casos de cadáveres não

identificados com distribuição tanto na Sede da Delegação, como nos Gabinetes

Médico Legais.

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Discussão

87

Tabela 21 - Movimento de Tanatologia Forense Delegação (2004/ 2005)III

Ano Cadáveres admitidos Perícias

Identificados Não identificados Total de autópsias Exames de Antropologia Forense

2004 917 77 904 1

2005 843 126 880 1

Tabela 22 - Movimento de Tanatologia dos GML (2004/2005) III

Ano Cadáveres admitidos Perícias

Identificados Não identificados Total de autópsias Exames de Antropologia forense

2004 1571 10 1386 0

2005 1434 5 1308 3

GML Cadáveres admitidos Perícias

2004 Identificados Não identificados Total de autópsias

Exames de Antropologia Forense

Braga 341 3 343 0

Bragança (inclui extensão de Mirandela)

70 0 70 0

Chaves 33 2 34 1

Guimarães 282 0 228 0

Penafiel 236 1 237 0

Sta. Maria da Feira 331 3 195 0

Viana do Castelo 147 1 148 0

Vila Real 131 0 131 0

III Relatório de actividades 2004 e 2005. Instituto Nacional de Medicina Legal. Delegação do Porto

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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GML Cadáveres admitidos Perícias

2005 Identificados Não identificados Total de autópsias Exames de

Antropologia forense

Braga 340 2 341 0

Bragança (inclui extensão de Mirandela) 98 1 99 0

Chaves 53 0 52 0

Guimarães 215 0 215 0

Penafiel 221 2 221 2

Sta. Maria da Feira 247 0 120 1

Viana do Castelo 141 0 141 0

Vila Real 119 0 119 0

Sendo já conhecida e confirmada a existência de casos de cadáveres não

identificados, importa ainda mais conhecer a estimativa de casos que termina com

identificação positiva e, se possível, a demonstração da técnica utilizada. Mesmo

porque, não deixa de ser um dos objectivos deste trabalho a verificação da existência

e uso da perícia odontológica nos processos de identificação. Das respostas obtidas,

66,7% (n=14) afirmaram que este número estava abaixo de 10; e 14,3% (n=3)

assinalaram que identificaram entre 31 a 40 cadáveres por ano. Os demais grupos (11

a 20, 21 a 30, ou mais de 40 cadáveres, e respostas em branco), obtiveram o mesmo

índice de respostas, ou seja, 4,8% (n=1). Assim, embora as respostas tenham indicado

a frequência da existência de cadáveres não identificados, as respostas também

demonstram uma frequência semelhante de casos que acabaram com identificação

positiva. Não sendo, possível, entretanto, com base no tipo de estudo realizado,

estabelecer alguma correlação entre o número exacto de casos não identificados e o

número exacto de casos finais com identificação positiva. Mesmo porque, o

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Discussão

89

questionário abordou a questão na forma de estimativa de casos, facto que leva em

conta a percepção individual dos peritos e as limitações de memória de cada um. Da

mesma forma, a partir dos dados oficiais dos relatórios de actividades da Delegação

do Porto do INML de 2004 e 2005, onde se observa um número significativo de

casos de cadáveres não identificados, também não é possível conhecer-se o número

exacto ou aproximado dos casos que resultaram com identificação positiva no final.

De tal forma, este resultado conforta a informação do questionário e pode motivar à

realização de um estudo retrospectivo com base na consulta processual de cada caso,

ou ainda mais, num protocolo prospectivo em cada situação de não identificados que

venha aparecer.

Contudo, tentou-se verificar no questionário, as técnicas de identificação mais

utilizadas, pedindo-se para escolher as duas técnicas mais usadas, seja no cadáver

recente, seja no cadáver putrefacto, ou no cadáver esqueletizado. Conforme os

resultados demonstrados, os peritos responderam que no cadáver recente a técnica de

identificação mais utilizada era o reconhecimento visual (40,5%), seguida da

dactiloscopia (21,5%). No cadáver putrefacto, foi considerado a técnica mais

frequente o reconhecimento por objectos pessoais (33,3%), seguida pela análise do

ADN (26,2%), estando as técnicas dentárias na terceira posição de frequência

(16,7%). Por último, no cadáver esqueletizado, as técnicas dentárias foram

assinaladas, igualmente, com o mesmo índice de utilização que a análise do ADN

(28,6%), cabendo salientar que, mesmo em menor índice, o reconhecimento por

objectos pessoais também foi relativamente frequente (16,7%).

À primeira vista, a partir destes resultados, pode-se observar que as técnicas

dentárias estiveram presentes nas respostas dos grupos de cadáveres esqueletizados e

putrefactos, sendo neste último, ainda pouco frequentes (terceira opção). Assim,

comparativamente aos outros métodos utilizados, as técnicas dentárias são muito

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

90

menos frequentes como método de identificação, inclusive tendo sido considerado

nulo o seu uso no grupo de cadáveres recentes.

Apesar das respostas anteriores não permitirem inferir se a técnica indicada

resultava ou não efectivamente numa identificação final positiva, no interesse de

aprofundar as escolhas assinaladas, foi questionado ao perito se ele se deparava com

dificuldades técnicas que atrasavam ou impossibilitavam a identificação. Neste

sentido, 81% dos peritos responderam afirmativamente, sendo que a maior

dificuldade com que se deparavam era o facto de não haver dados ante-mortem para

comparação (41,2%), além de assinalarem a fraca precisão dos resultados (29,4%).

A resposta acima assume-se de grande interesse e importância quando vem de

encontro com a resposta anterior, pois permite uma reflexão ou possível explicação

acerca das opções de técnicas de identificação assinaladas. Ou seja, analisando a

tabela de técnicas de identificação mais utilizadas, verifica-se que os métodos de

escolha são o reconhecimento visual, o reconhecimento por objectos pessoais, a

análise documental, e a análise de ADN, relegando para um segundo plano as

técnicas de dactiloscopia, técnicas dentárias. Porém, quando se compara este

resultado com a informação de dificuldades técnicas, confronta-se que os métodos

mais utilizados são, à excepção da análise do ADN, exactamente aqueles que não

necessitam de dados ante-mortem para comparação, mas que, pelo facto de terem sido

mais frequentemente utilizados conferem uma fraca precisão dos resultados, até

porque não utilizam uma técnica de comparação propriamente dita, mas,

conceptualmente, usam meios de reconhecimento. Neste sentido, a interpretação

simultânea destes dados talvez possa permitir algumas inferências cruzadas, e talvez

esteja de acordo com o motivo do pouco uso de algumas técnicas de identificação

propriamente ditas (dactiloscopia, técnicas dentárias), isto é, pelo facto de ter sido

referido não haver dados ante-mortem para comparação, exactamente por isso, estas

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Discussão

91

técnicas não puderam ou não foram escolhidas para serem utilizadas. O que parece

estar mais ou menos evidente é que, na maioria dos casos, os meios de escolha para

identificação não são os meios científicos, mas os meios de reconhecimento. Assim,

mais uma vez, verifica-se a necessidade de um estudo documental de cada processo, a

fim de se obter a certeza real em cada caso. Esta situação assinala-se como

motivadora para estudos futuros.

Em relação à ausência de dados ante-mortem para comparação, apontada por

41,2% da amostra como a principal dificuldade técnica no processo de identificação,

deve-se assinalar que esta não é limitada ou exclusiva às técnicas dentárias, mas

também para os demais métodos indicados, tais como a dactiloscopia, análise do

ADN, e outros. Pois o termo de comparação é um requisito essencial para o

estabelecimento do processo científico da identificação. Isto é, da mesma forma que

para se efectuar a identificação absoluta por técnicas dentárias é preciso que se

disponha de dados ante-mortem para comparação, assim também, no caso da

dactiloscopia, do ADN e das outras técnicas forenses, é igualmente preciso. Já, pelo

contrário, nos processos de reconhecimento visual, ou por objectos pessoais, o

elemento de comparação não é estritamente técnico, mas depende da subjectividade

de quem reclama o cadáver e procede ao reconhecimento.

Face a esta exposição, e considerando que a falta de dados ante-mortem é o

maior factor técnico limitador da identificação, seria interessante investigar, por

exemplo, por que razões é que no cadáver recente o reconhecimento visual é eleito

como método de escolha (40,5%), seguida pela dactiloscopia (21,5%) e comparações

morfológicas (11,9%) e, por último, os objectos pessoais e análise documental

(9,5%). Pelos resultados acima, observa-se que a maior parte dos métodos utilizados

não necessita de dados ante-mortem, ressalvando a dactiloscopia, embora esta, em

contrapartida, disponha dos registos das impressões digitais nos arquivos dos serviços

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

92

de identificação. Assim, não é possível esclarecer se a dificuldade técnica apontada,

refere-se ao processo de identificação propriamente dito, a que a pergunta se refere,

ou representa indicadores que influenciaram na escolha do método. Raciocínio

semelhante mantém-se, ao analisar na mesma tabela, o caso dos cadáveres putrefactos

e esqueletizados. Nos putrefactos, a técnica mais escolhida foi o reconhecimento por

objectos pessoais (33,3%), seguida pela análise do ADN (26,2%) e técnicas dentárias

(16,7%). Contudo, também nestas técnicas mais utilizadas, o que é mais esperado é

que a falta de dados ante-mortem apenas poderia ter limitado em maior grau a

execução das técnicas dentárias e análise de ADN. Assim, os processos de

identificação foram realizados quase que na independência da existência dos dados

ante-mortem. Entretanto, em relação aos cadáveres esqueletizados, observa-se que os

métodos mais frequentes foram igualmente, o uso do das técnicas dentárias e a

análise de ADN (28,6%), seguidos pelo reconhecimento por objectos pessoais

(16,7%). Ora, tanto a análise de ADN, como as técnicas dentárias, exigem, à partida,

dados ante-mortem para a existência de termo de comparação. Assim, mais uma vez,

fica a dúvida: se não existiam dados ante-mortem, então, como é que a identificação

foi realizada? Isto é, tendo sido estes métodos escolhidos, qual o índice de

efectividade do resultado final? Baseado nestas dúvidas e nas aparentes divergências

entre os métodos utilizadas conforme as condições de preservação do cadáver,

percebe-se, mais uma vez, a necessidade de um estudo futuro, com base no

acompanhamento real de cada caso, isto é, através da revisão retrospectiva e

prospectiva de cada processo de identificação.

Além disso, outra variável que deve ser aprofundada é a questão da falta de

dados ante-mortem assinalada. Ou seja, assim como as informações que acompanham

o cadáver costumam ser precárias ou insuficientes, também é comum que as

informações que sejam úteis para a identificação do cadáver sejam insuficientes. Por

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Discussão

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isso, é necessário que seja instituído como que um processo de identificação anexo ou

incluído na perícia tanatológica, mas o principal é que seja de uma forma padronizada

e pormenorizada, no sentido de se buscarem todos os elementos para construir o

processo de identificação individual. Por exemplo, pode-se imaginar que o resultado

final seja diferente quando cada caso seja analisado com este objectivo, como se fosse

uma perícia de identificação, pois o perito encarregado desta responsabilidade acaba

por reunir muito mais elementos, ou pelo menos precisa de os procurar, investigar, e

não apenas, limitar-se ou contentar-se com os dados que são encaminhados

juntamente com o cadáver. Neste sentido, não se sabe se a falta de dados ante-mortem

se dá porque estes dados não existem ou porque não foram determinados, ou

procurados.

De maneira a que os peritos se sintam mais motivados para o uso de técnicas de

identificação, em que os dados ante-mortem podem ser indispensáveis, têm que ser

também levados a cabo programas de educação e motivação de todos os profissionais

de saúde de maneira a que se possam recolher rapidamente todos os elementos

dentários das supostas vítimas. Na Austrália existe uma Unidade Nacional de Pessoas

desaparecidas (NMPU), que foi formada para tentar ultrapassar problemas de falta de

uniformidade naquele país onde o nº médio de pessoas desaparecidas é de 30 000 por

ano. A NMPU mantém um registo nacional de dados (não dentários), de maneira a

ajudar aqueles que reportam pessoas desaparecidas há mais de 60 dias (68), e há

agora uma proposta para incluir os registos dentários das pessoas desaparecidas nesta

base de dados. Já em 1977 se reconheciam os benefícios de programas informáticos

incorporados com ficheiros dentários utilizados para a investigação de pessoas

desaparecidas e não identificadas (69). A partir desta altura foram feitos sistemas de

dados dentários em vários estados dos USA, para colaborar nas investigações de

pessoas desaparecidas (70). Na Austrália a Medicina Dentária Forense já foi utilizada

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

94

em numerosos casos onde a identidade não era sabida ou era incerta (71). Estes

incluem casos onde os restos estavam esqueletizados (72), carbonizados (73), ou

parcialmente queimados (74). Tendo em vista o melhoramento da Medicina Dentária

Forense em Portugal, e podendo concluir do nosso trabalho que as técnicas dentárias

não são utilizadas também devido ao facto de não existirem dados ante-mortem

disponíveis na altura do processo de investigação da identidade, propomos a

realização de um sistema informático de dados dentários ante-mortem de todas as

pessoas que se encontrem desaparecidas há mais de 60 dias. Para que hajam

resultados positivos num processo de investigação utilizando um sistema de dados

dentários é necessário coordená-lo em duas fases: a aquisição dos dados dentários

daquelas pessoas que são dadas como desaparecidas, e a recolha de todos os dados

dentários daquelas pessoas que estão sem identificação, ou cuja identificação é

incerta. Desde que a pessoa desaparecida tenha nalguma fase da sua vida recorrido a

um dentista, poder-se-á então recolher, interpretar e transcrever para uma base de

dados, de maneira a que possa ser acedida por todas as forças policiais ou outras,

envolvidas no processo de investigação. Para evitar que seja introduzida informação

incorrecta, a tarefa de recolher a informação, interpretar e transcrevê-la para a base de

dados (quer seja de pessoas vivas ou mortas, ante ou post-mortem), deve ser da

exclusiva responsabilidade de um médico dentista forense. Apesar de nalguns países

como a Austrália (75), ter sido sugerido que este sistema nacional de dados dentários

fosse acoplado ao já existente de ADN, impressões digitais, isto rapidamente levantou

os problemas morais, éticos e legais de se associarem as pessoas desaparecidas a

actividades criminais, o que levou a reconsiderar esta possibilidade. Uma base de

dados de informação dentária poderia ser gerida e harmonizada entre o sistema

policial e o INML. Uma ligação entre estas duas entidades, no que à base de dados se

refere, garante uma sinergia entre os aspectos legais e médicos na investigação de

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Discussão

95

pessoas desaparecidas. Nos USA onde já existe uma base de dados dentários para as

pessoas desaparecidas, conseguiu-se abreviar em 2-3 dias o prazo entre a descoberta

da pessoa desaparecida e a sua entrega á família (76).

Ainda em relação ao questionário efectuado para o nosso estudo, e tendo em conta

que as técnicas dentárias foram assinaladas como uma das opções para a identificação

de cadáveres, nomeadamente os esqueletizados (28,6%) e putrefactos (16,7%),

importa avaliar pormenores do método utilizado, até mesmo para tentar verificar se

existe algum factor que venha a ser apontado como dificuldade técnica ou algo que

tenha influenciado na escolha de uma técnica em particular ou a exclusão desta em

benefício de outra.

Em virtude deste trabalho estar mais orientado para o estudo da perícia

odontológica, e para não tornar o questionário muito extenso, limitou-se o

aprofundamento da pesquisa à observação desta técnica em particular, até porque, faz

parte dos objectivos iniciais a verificação e a caracterização desta. Assim sendo,

primeiro, foi questionado se o exame da cavidade oral era ou não uma prática de

rotina em todos os cadáveres sujeitos a autópsia. Das respostas obtidas, 66,7% da

amostra afirmaram positivamente, e os restantes 33,3%, responderam negativamente.

Diante deste resultado, a primeira dúvida que surge é a de correlacionar esse valor

com o uso do exame oral como técnica dentária de identificação, pois interessa

reflectir acerca de uma aparente contradição entre os dois valores. Isto é, se o exame

da cavidade oral foi assinalado como uma prática frequente (66,7%) , então por que

motivo é que as técnicas dentárias são pouco utilizadas? Ou ainda, do ponto de vista

prático, existe diferença entre a realização do exame da cavidade oral e as técnicas

dentárias para identificação?

Em busca de respostas para estas dúvidas e para tentar esclarecer as aparentes

contradições prossegue-se na interpretação dos resultados. Em síntese, este exame

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

96

consiste na verificação e contagem dos dentes presentes/ausentes tanto nos casos de

prática de rotina, como nos casos de somente ser efectuado aos cadáveres não

identificados. Além disso, apesar de ser considerado parte integrante da autópsia, o

exame da cavidade oral, não foi realizado em todos os casos, sendo decisão somente

no caso de cadáveres não identificados. Ora, ao mesmo tempo que o grupo que realiza

este exame como rotina nas autópsias, este exame não vai muito além da contagem

dos dentes presentes/ausentes; este grupo também não altera o procedimento no caso

de cadáveres não identificados. Isto é, os resultados denotam que o exame da

cavidade oral, tal como é realizado, é usado como prática habitual nas autópsias e

também, do mesmo modo, nos casos de cadáveres não identificados. Embora se deva

destacar que cinco peritos referiram realizar o preenchimento do odontograma

completo como prática de rotina.

Esta redução de procedimentos, poderia ter levado a uma incompleta percepção

dos conceitos, no sentido de que, ao se questionar quanto às técnicas dentárias de

identificação, estas podem ter sido tomadas por sinónimos ou equivalentes aos

exames da cavidade oral. Talvez esta seja uma das explicações entre as aparentes

contradições acima destacadas, mas que, pelo contrário, também se coaduna com a

impressão que os entrevistados assinalaram em relação ao uso das técnicas dentárias

na identificação, nomeadamente quanto ao seu uso de pouca frequência e com

dificuldades técnicas presentes. Ou seja, se a técnica dentária de identificação,

consiste simplificadamente num exame da cavidade oral para verificação/contagem

dos dentes, então, realmente fica claro que esta técnica não apresenta elevados índices

de escolha ou até mesmo de sucesso no que concerne à identificação de cadáveres. E

ainda mais, da forma como é feita, era de se esperar que apresentasse um elenco de

limitações do ponto de vista técnico. Portanto, a correlação dos resultados ilustra o

facto das técnicas dentárias denominadas ou exames da cavidade oral, não expressam

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Discussão

97

o mesmo conceito e conteúdo de uma perícia odontológica como técnica auxiliar nos

processos de identificação. Ainda porque, segundo as respostas, somente duas

respostas referiram o encaminhamento ou solicitação de um médico dentista para a

mesma, sendo que os exames da cavidade oral, regra geral, são realizados pelo

próprio perito ou pelo técnico auxiliar de autópsia. Neste sentido, chama à atenção as

respostas que traduziam o preenchimento do odontograma completo como prática de

rotina, mas que, pelo contrário, nem sequer referem este preenchimento como sendo

efectuado nos cadáveres não identificados, embora nestes casos, ainda mais

importante pudesse ser considerado.

O exame da cavidade oral durante a autópsia é um procedimento obrigatório,

que deve ser levado a cabo pelo médico legista que faz autópsia. O exame deve ser

cuidadoso, devendo ser anotadas todos os elementos dentários básicos: peças

dentárias presentes, peças dentárias ausentes, uso de prótese removível ou fixa com

indicação do tipo de prótese usada: removível acrílica total ou parcial, esquelética

total ou parcial, fixa metálica, metalo-cerâmica, cerâmica, unitária ou com vários

elementos, restaurações com indicação do nº do dente e tipo de restauração

(amálgama, resina, provisória). No caso de cadáveres não identificados este exame

deve ser feito a nosso ver, exclusivamente por um médico dentista, isto é, deve ser

feita uma perícia odontológica. Nestes casos deve ser preenchido um odontograma

completo e devem ser tiradas radiografias (se possível uma ortopantomografia) para

uma possível comparação com os dados ante-mortem que possam vir a aparecer. Uma

restauração em resina que mimetiza o dente pode não ser diagnosticada até pelo

dentista mais experiente, daí que R. Bux (77) aconselhe o uso por parte do dentista de

uma fonte de luz muito boa bem como luzes com lupas ou outros instrumentos de

aumento. Deve-se usar o ácido fosfórico e a luz ultravioleta para facilitar a

identificação visual das restaurações em resina Este autor aconselha ainda a remoção

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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dos maxilares especialmente nos casos de acidentes abertos ou de crianças com

ausência ou nº reduzido de restaurações e onde se pretendam utilizar as técnicas

dentárias para identificação. O autor defende que a remoção dos maxilares deve ser

feita através da dissecção do pescoço, não afectando assim a cara, evitando o

desfiguramento..

Quanto à pergunta específica sobre a solicitação da perícia odontológica

(pergunta 14) e de que maneira é feita, embora constem duas respostas que afirmam

esta prática, ao ser questionado directamente sobre o ponto, somente se obteve uma

resposta positiva. Ainda houve um grupo de cinco respostas que afirmou

reencaminhar a perícia para ser realizada por um médico dentista noutro local.

Entretanto, por se tratar de perícia em cadáveres putrefactos e esqueletizados,

particularmente devido às limitações e impossibilidades de remoção e transporte para

fora da unidade de autópsia, e nem sequer foi apontada esta dificuldade técnica, não

foi possível esclarecer o grau de fidelidade das respostas ou avaliar se este envio para

perícia odontológica noutro local não foi confundido com as perícias de clínica

médico-legal, onde existe a rotina de se enviar pessoas (vivas), para realização de

perícia odontológica para avaliação de danos.

Mesmo assim, insistindo na questão da requisição da perícia odontológica,

obteve-se duas respostas (9,5%) que indicaram que esta é solicitada em todos os

casos de cadáveres não identificados. Sendo que três (14,3%) responderam que

apenas a solicitam quando acompanham o cadáver os dados dentários ante-mortem

que sugerem a identificação do mesmo.

Quando se pergunta qual é o motivo por que não é requisitada a perícia

odontológica, mais de dois terços das respostas responde que não se faz porque não

existe um médico dentista ou não existe um local para reencaminhar a perícia; sendo

que o restante respondeu que existem outras técnicas, que são usadas primeiro e que

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Discussão

99

geralmente levam à identificação. Além da evidente demonstração de que a perícia

odontológica não é realizada, em 5 respostas (23,8%) esta foi preterida em função da

existência de outras técnicas que são usadas primeiro e que geralmente levam à

identificação. Contudo, deve-se salientar que estas “outras técnicas” referidas,

conforme discutido anteriormente na análise das técnicas de identificação utilizadas

são, na maior parte das vezes, meios de reconhecimento. Isto é, tendo sido

demonstrado que a forma principal de identificação dos cadáveres é feita por meio de

reconhecimento visual (40,5%) no cadáver recente, ou por objectos pessoais (33,3%)

no cadáver putrefacto, então, ao confrontarmos esta informação com resultado da

Tabela 16, que talvez sejam estas as “outras técnicas que são usadas primeiro e que

geralmente levam à identificação”. Isto é, de forma lacónica, poder-se-ia dizer que

além da impossibilidade da realização da perícia odontológica, em alguns casos esta

não foi considerada de interesse para o caso, tendo sido feito a opção de utilizar os

meios de reconhecimento para a identificação do cadáver. O aspecto interessante

desta resposta é que, mais uma vez, vem de encontro com o padrão de respostas do

questionário e dos resultados no sentido da apreciação global da perícia odontológica

frente ao processo de identificação de cadáveres. Ou seja, o conjunto das respostas

pode permitir uma reflexão a respeito da cultura geral e do grau de consideração e

valorização da perícia odontológica nas situações de cadáveres não identificados. Isto

porque, em primeiro lugar, a perícia odontológica parece ter o seu lugar minimizado

ou substituído pelo exame da cavidade oral que deveria ser de rotina. A seguir,

porque este exame, alem de ser extremamente simples – reduzido à verificação e

contagem dos dentes ausentes/presentes, não é realizado por um médico dentista, e

muitas vezes, nem pelo perito médico, mas sim pelo técnico de autópsia. E, também,

porque a este é dado preferência a meios de reconhecimento de eficácia duvidosa,

porquanto com grau de individualização passível de falhas (5).

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

100

Frente a esta reflexão percebe-se que, para evitar o lugar-comum de apontar as

deficiências estruturais que não prevêem a perícia odontológica e que, por isso

mesmo, esta não é usada; antes disso, será necessário um trabalho de educação

pericial e de consciencialização dos peritos para criar a cultura da Medicina Dentária

Forense. Ou seja, após uma transformação dos hábitos e da prática dos peritos para a

realização de um exame da cavidade oral mais minucioso, ou de modificações no

sentido da percepção da importância da perícia odontológica, estarão assim, criadas

as condições para o início do surgimento da perícia odontológica. Até porque, à

medida que os peritos ficarem atentos aos pormenores de uma nova área do

conhecimento, vão sentindo naturalmente necessidade de aprofundamento deste

conhecimento e de auxílio técnico de um profissional devidamente capacitado para a

matéria, o médico dentista perito. Além disso, é natural que possa existir um certo

desinteresse do exame pericial para o segmento oral, porque a maior parte dos peritos

reúne somente conhecimentos básicos na área, não sendo possível de alcançar o

mesmo domínio de um profissional especificamente treinado em Medicina Dentária

Forense.

Neste sentido, e de encontro com este raciocínio, verifica-se que há interesse no

aprofundamento da matéria, pois quase a totalidade das respostas das duas últimas

perguntas consideraram que a perícia odontológica poderia ter alterado o resultado

(95,2%)e, também, acham importante o estabelecimento da perícia odontológica

como procedimento de rotina no caso de cadáveres não identificados (100%).

Importa referir que a formação não se deve restringir aos médicos legistas para

que estes se familiarizem com as técnicas dentárias, e lhes saibam dar o respectivo

valor nos processos de identificação, mas também aos médicos dentistas generalistas,

para que na sua prática diária recolham os dados dos seus pacientes da forma o mais

correcta e abrangente possível, de forma estarem reunidas todas as condições para

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Discussão

101

serem utilizados como dados ante-mortem, se necessário. Griffiths et al. (78) em

1988, reportaram a formação realizada anualmente, no estado de New South Wales,

Austrália, com médicos dentistas tanto do sector público como do sector privado,

para familiarizá-los com as técnicas de identificação dentárias. Fazendo com que

numa eventualidade, as vítimas de um desastre em massa ou mesmo de casos

isolados, sejam mais facilmente identificados. O curso não tem a pretensão de

uniformizar o preenchimento dos documentos profissionais relativos aos paciente,

mas sim o de preservar as características peculiares de cada profissional no

preenchimento dos seus registos dentários. Esta formação visa também ajudá-los,

através da simulação de um desastre em massa, a trabalharem em equipa,

especialmente na autópsia dentária e na comparação antes da morte dos registos

clínicos relativos aos seus pacientes.

Além de carecer de trabalhar em equipe com os outros profissionais das

Ciências Forenses, também necessita de trabalhar em equipa com outros médicos

dentistas forenses, Galvão (79), Griffiths et al. (78) e Kullman & Cipi (57)

Actualmente o aporte de informações sobre qualquer assunto é tanto, que por mais

privilegiado intelectualmente que seja um indivíduo, tem dificuldades de ficar a par

de todos os conhecimentos.

A importância das técnicas dentárias, é evidente tanto nos procedimentos

iniciais de identificação geral, estimativa do sexo (81), estimativa da idade (18),

determinação do grupo étnico (21), como nos procedimentos que levam até à

irrefutável possibilidade de identificação individual, que seria numa analogia clínica o

encerramento do diagnóstico, a pormenorização, ou seja o estabelecimento da

unicidade. Neste assunto, em particular, não nos faltam exemplos, desde casos de

repercussão internacional (83), casos de grandes catástrofes, como incêndio em

edifícios (84), acidentes navais (85), guerras (86), e acidentes aéreos (87).

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

102

Interessante também é notarmos que os estudos não se restringem apenas a análise

dentária, havendo exemplos de pesquisas sobre a identificação post-mortem em

indivíduos desdentados (88), que constataram ser de importância fundamental para

identificação, a análise de todas as estruturas anatómicas.

Existem pesquisas sobre os mais diversos assuntos, de forma a melhorar a actuação

do médico dentista na hora de realizar a perícia odontológica. São exemplos o estudo

de Bernstein (89) sobre a melhor forma de se obterem fotografias para os processos

de identificação através de técnicas dentárias. O autor referiu-se ao valor da utilização

das fotografias para o rigor da documentação dentária post-mortem, justificada pelo

facto das evidências dos dentes, apesar de resistentes, serem compostos de materiais

orgânicos, e como todo material orgânico, perecíveis. O autor faz uma exposição

sobre o equipamento fotográfico necessário, para que os resultados obtidos tenham

efectividade na identificação dentária, dando exemplos explicativos de técnicas para

se fotografarem os corpos no local do acidente/crime, arcadas dentárias, esqueletos, a

face humana, dentes anteriores e radiografias anteriores à morte. Existem também

investigações sobre as alterações sofridas pelos materiais dentários submetidos ao

calor excessivo (90). Sistemas computadorizados de identificação (47). Potsch et al.

(92) referem a área de pesquisa que se vislumbra, da genética relacionada com os

processos de identificação dentária post-mortem.

Com esta demonstração de vigor intelectual e de permanente produção

científica, a Medicina Dentária Forense, através dos seus próprios méritos, segue o

seu caminho para ocupar um lugar de destaque junto das demais áreas das Ciências

Forenses.

Posto isto, fica patente que em muitos processos de identificação humana post-

mortem somente o médico dentista forense será capaz, através dos seus

conhecimentos específicos, colaborar adequadamente com a justiça. Só este motivo já

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Discussão

103

justifica a necessidade de pelo menos um profissional especializado em Medicina

Dentária Forense integrado em cada equipa de identificação médico-legal.

Os factores principais para se obter uma identificação positiva através de

técnicas dentárias são a recolha de dados ante-mortem, a exactidão da informação

recolhida, a alteração de dados após o último registo clínico, e a deterioração post-

mortem (93,94). Bell GL (95) defende que as comparações dentárias são uma forma

de identificação rápida e conclusiva, sendo mais definitivas do que as identificações

baseadas em objectos pessoais e mais fáceis do ponto de vista administrativo e legal.

Defende também que são menos intrusivas e menos dispendiosas do que as que

envolvem análise de ADN.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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Conclusões

105

VII. CONCLUSÕES

Pelo exposto neste trabalho é lícito concluir que a colaboração da Medicina

Dentária Forense nos processos de identificação humana post-mortem, é de valor

irrefutável. O campo de actuação do médico dentista nos processos de identificação

humana post-mortem, não se restringe ao exame dos vestígios dentários, estendendo-

se a várias áreas do saber, como exemplo: Antropologia, Genética, Bioquímica,

Balística, Tanatologia, Radiologia, Informática, entre outras. As Delegações e os

Gabinetes Médico-Legais não devem prescindir, na sua equipa de identificação, dos

conhecimentos específicos do médico dentista, assim como o médico dentista

também não deve abdicar da actuação integrado numa equipe de identificação, que

inclua: médico-legista, médico-anatomopatologista, psicólogo, antropólogo,

farmacêutico-bioquímico, entre outros, pois o fim maior de todas as Ciências

Forenses é o esclarecimento técnico e preciso à justiça.

Em Portugal, ao contrário do resto do Mundo, os médicos dentistas ainda não

fazem parte das equipas forenses. Quando entra no serviço um cadáver não

identificado, devem ser usadas técnicas com comprovada eficácia científica, como

são as técnicas dentárias, e não deve ser dada uma identificação positiva baseada em

factos empíricos que podem levar propositadamente a uma identificação errónea. São

exemplos identificações baseadas em peças de vestuário, reconhecidas por familiares

ou conhecidos da suposta vítima, que podem ser um factor muito importante para

conduzir a investigação numa determinada direcção, mas que por si só não podem ser

suficientes para considerar a identificação como conseguida. As técnicas dentárias

são economicamente mais vantajosas que outras, como por exemplo a análise de

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

106

ADN, bem como mais rápidas, podendo contribuir para uma identificação mais célere

e menos dispendiosa.

1 SÚMULA DOS RESULTADOS OBTIDOS

É porém agora tempo de retornar às questões que nortearam esta investigação, e

fazer a seguinte súmula dos resultados obtidos:

• Dos 45 questionários enviados aos Gabinetes Médico Legais do Norte de

Portugal e Delegação do Porto do INML, obteve-se o retorno de 21

questionários (47%) Das respostas obtidas, 76,2% afirmaram que o número de

cadáveres não identificados por ano estava abaixo de 10, e 9,5% responderam

que se deparam com mais de 40 cadáveres não identificados por ano.

• Quanto à estimativa de casos que termina com identificação positiva, 14

(66,7%) responderam que este número estava abaixo de 10; outros 3 (14,3%)

assinalaram que identificaram entre 30 a 40 cadáveres por ano; e nos demais

grupos (10 a 20, 20 a 30, ou mais de 40 cadáveres, e respostas em branco),

apenas se obteve uma resposta (4,8%).

• Em relação às técnicas de identificação mais utilizadas: no cadáver recente, o

método frequente foi o reconhecimento visual (40,5%), seguido pela

dactiloscopia (21,5%); e comparações morfológicas (11,9%); e, por último,

com o mesmo índice, o reconhecimento por objectos pessoais e a análise

documental (9,5%); no cadáver putrefacto, foi mais utilizado o

reconhecimento por objectos pessoais (33,3%), seguido pela análise de ADN

(26,2%), depois pelas técnicas dentárias (16,7%); e com o mesmo índice, o

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Conclusões

107

reconhecimento visual e a análise documental (7,1%); no cadáver

esqueletizado, as técnicas dentárias e a análise do ADN tiveram a mesma taxa

de utilização (28,6%); seguidas pelo reconhecimento por objectos pessoais

(16,7%) e comparações morfológicas (9,5%).

• Ou seja, as técnicas dentárias somente foram utilizadas como método de

identificação nos cadáveres esqueletizados (28,6%) e nos putrefactos (16,7%),

não tendo sido usada em nenhum caso (0%) nos cadáveres recentes.

• Sobre a existência de dificuldades técnicas que atrasavam ou impossibilitavam

a identificação, 81% dos peritos responderam afirmativamente, sendo que a

maior dificuldade com que se deparavam foi o facto de não haver dados ante-

mortem para comparação (41,2%), além de assinalarem a fraca precisão dos

resultados (29,4%) e os custos elevados (17,6%).

• Na pergunta se o exame da cavidade oral era ou não uma prática de rotina em

todos os cadáveres sujeitos a autópsia, 66,7% da amostra afirmou

positivamente, e os restantes 33,3%, respondeu negativamente.

• Quanto à requisição da perícia odontológica em cadáveres não identificados, a

informação mais evidente é de que na maior parte dos casos esta não é

solicitada e que apenas é considerada quando acompanham o cadáver os

dados dentários ante-mortem que sugerem a identificação do mesmo.

• Quando se pergunta qual é o motivo por que não é requisitada a perícia

odontológica, mais de dois terços das respostas (76,2%) indicaram que não se

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

108

faz porque não existe um médico dentista ou não existe um local para

reencaminhar a perícia; sendo que os restantes responderam que existem

outras técnicas, que são usadas primeiro e que geralmente levam à

identificação (23,8%).

• De uma maneira geral, a perícia odontológica parece ter o seu lugar

minimizado ou substituído pelo exame da cavidade oral. Além disso, o exame

da cavidade oral realizado é extremamente simples, podendo ser considerado

precário para ser utilizado em processos de identificação.

• Apesar disso, com base nas respostas de que a perícia odontológica poderia ter

alterado o resultado (95,2%), e também, na resposta de que acham importante

o estabelecimento da perícia odontológica como procedimento de rotina em

cadáveres não identificados (100%), verifica-se que há interesse no

aprofundamento da matéria, ou pelo menos consideram-na importante.

2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Os resultados do estudo estão condicionados pela amostra que, por ser uma

amostra de conveniência, não permite resultados generalizáveis. Para além disso a

amostra sofre de várias limitações, das quais a mais importante é, em princípio, o

reduzido número de peritos.

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Conclusões

109

3 LINHAS FUTURAS DE INVESTIGAÇÃO

• Necessidade de realização de um estudo retrospectivo com base na consulta e

pesquisa aprofundada de cada caso, ou ainda mais, num protocolo prospectivo

para construção e seguimento de um processo de identificação em cada

situação de não identificados que venha aparecer.

• Necessidade de desenvolvimento de acções de formação dirigidas aos peritos,

no âmbito da aplicação da perícia odontológica na identificação de cadáveres

e de práticas para uma melhor execução do exame da cavidade oral.

• Necessidade de desenvolvimento de acções de formação dirigidas aos

médicos dentistas, no sentido de demonstrar a importância forense de uma

ficha clínica bem preenchida, e as consequências que podem advir do não

preenchimento da mesma.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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ANEXOS

1 CARTA INTRODUTÓRIA

Exmo (a) Senhor (a) Doutor (a):

Solicito a Vossa colaboração na realização de um estudo sobre a “Contribuição da

Perícia Odontológica na Identificação de Cadáveres”, no âmbito do Mestrado em

Ciências Forenses da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, realizado na

Delegação do Porto do INML.

A identificação humana post-mortem é uma das grandes áreas de estudo e pesquisa da

Medicina Dentária Forense. Devido a este facto, os Médicos Dentistas já são

membros naturalmente integrados nas equipas forenses em muitos países, situação

que ainda não se verifica no nosso país.

A avaliação da actual contribuição da perícia odontológica na identificação de

cadáveres na Delegação do Porto do INML e nos Gabinetes Médico Legais do Norte

de Portugal, pode ser o primeiro passo para uma reflexão do papel da Medicina

Dentária Forense em Portugal e da necessidade ou não, da sua implementação como

rotina nos casos de cadáveres não identificados quando chegam aos serviços médico-

legais.

Para o sucesso deste trabalho necessitamos da Vossa preciosa ajuda e experiência.

Pedimos pois gentilmente, que preencham o questionário que se anexa. O

questionário preenchido será analisado estatisticamente e, esperamos, que se traduza

na obtenção de conclusões que poderão vir a ter aplicação prática nos serviços de

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Anexos

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Tanatologia dos Gabinetes e Delegações Médico-Legais. Os resultados do trabalho

serão colocados à Vossa disposição após publicação.

Ao responderem ao questionário estarão a contribuir para a concretização desta tese

de mestrado e também a facultar dados importantes para o futuro da Medicina

Dentária Forense em Portugal. O tempo estimado para responder ás questões é de

aproximadamente 10 minutos.

Por último, agradecia que respondessem ao questionário sem o discutirem

previamente com os colegas.

Agradecendo desde já toda a colaboração,

Subscrevo-me,

Atenciosamente,

Susana Carmo Silva

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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2 QUESTIONÁRIO

1. Em que Delegação/ Gabinete trabalha?

2. Há quantos anos trabalha na área da Medicina Legal?

a) Menos de 5 anos

b) De 5 a 10 anos

c) De 11 a 20 anos

d) Mais de 20 anos

3. Quantas autópsias realiza em média por ano?

a) 0 a 50

b) 51 a 100

c) 101 a 150

d) 151 a 200

e) mais de 200

4. A estimativa do número de cadáveres não identificados que se depara por

ano é aproximadamente de:

a) 0 a 10

b) 11 a 20

c) 21 a 30

d) 31 a 40

e) Mais de 40

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Anexos

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5. A estimativa do número de cadáveres que terminam com identificação

positiva é aproximadamente de:

a) 0 a 10

b) 11 a 20

c) 20 a 30

d) 30 a 40

e) Mais de 40

6. Assinale as duas técnicas que mais utiliza na identificação:

a) Cadáver recente (a morte ocorreu num intervalo inferior ou igual a 72 horas):

• comparações morfológicas

• técnicas dentárias

• técnicas radiográficas

• reconhecimento visual

• reconhecimento por objectos pessoais

• métodos osteoantropométricos

• reconstrução facial

• análise documental

• análise de ADN

• dactiloscopia

• outra

b) Cadáver putrefacto (a morte ocorreu num intervalo superior a 72 horas):

• comparações morfológicas,

• técnicas dentárias

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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• técnicas radiográficas

• reconhecimento visual

• reconhecimento por objectos pessoais

• métodos osteoantropométricos

• reconstrução facial

• análise documental

• análise do ADN

• dactiloscopia

• outra

c) Cadáver esqueletizado:

• comparações morfológicas

• técnicas dentárias

• técnicas radiográficas

• reconhecimento visual

• reconhecimento por objectos pessoais

• métodos osteoantropométricos

• reconstrução facial

• análise documental

• análise do ADN

• dactiloscopia

• outra

7. Utilizando as técnicas atrás assinaladas, depara-se com dificuldades

técnicas que atrasam ou impossibilitam a identificação?

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Anexos

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a) Sim

b) Não

Se respondeu sim continue para a pergunta seguinte, se respondeu não passe à

pergunta 9.

8. Assinale a maior dificuldade com que normalmente se depara:

a) Fraca precisão dos resultados;

b) Demora na entrega dos resultados;

c) Custos elevados;

d) Não há dados ante-mortem para comparação;

e) Outra.

9. O exame da cavidade oral é uma prática de rotina em todos os cadáveres

sujeitos a autópsia?

a) Sim

b) Não

Se respondeu sim passe à pergunta seguinte. Se respondeu não passe à pergunta

12.

10. Este exame da cavidade oral consiste:

a) Contagem dos dentes presentes / ausentes;

b) Contagem dos dentes presentes / ausentes, e a presença ou não de prótese

removível;

c) Preenchimento do odontograma completo;

d) Outro.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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11. No caso específico de cadáveres não identificados:

a) O exame da cavidade oral é feito da forma indicada anteriormente;

b) O exame da cavidade oral é feito da forma indicada anteriormente e sendo

posteriormente solicitada uma perícia odontológica a uma médico dentista;

c) Outra.

Passe à pergunta 14, por favor.

12. No caso específico de cadáveres não identificados:

a) É feito um exame da cavidade oral;

b) É pedida uma perícia odontológica a um médico dentista;

c) Não é feito nem o exame da cavidade oral nem é pedida uma perícia

odontológica ao médico dentista;

d) Outra.

13. Este exame da cavidade oral consiste:

a) Contagem dos dentes presentes / ausentes;

b) Contagem dos dentes presentes / ausentes, e a presença ou não de prótese

removível;

c) Preenchimento do odontograma completo;

d) Outro.

14. Nos casos de ser requisitada a perícia odontológica:

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Anexos

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a) Solicita-se a presença de um médico dentista durante a autópsia para

realizar a perícia;

b) Reencaminha-se a perícia odontológica para ser realizada por um médico

dentista noutro local;

c) Outra.

Qual?__________________________________________________

15. Quando é requisitada a perícia odontológica:

a) Em todos os casos de cadáveres não identificados;

b) Quando acompanham o cadáver dados dentários ante-mortem que

sugerem a identificação do cadáver;

c) Só quando existem marcas de mordida;

d) Outra.

Qual?__________________________________________________

16. Quando não é requisitada a perícia odontológica:

a) Não se faz porque existem outras técnicas, que são usadas primeiro e que

geralmente levam à identificação;

b) Não se faz porque não existe um médico dentista a trabalhar na/com a(o)

Delegação/Gabinete;

c) Não se faz porque não existe um local para reencaminhar a perícia;

d) Outra.

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Contribuição da perícia odontológica na identificação de cadáveres

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17. Em sua opinião, e nos casos que acabam sem identificação sem ser feita

uma perícia odontológica, esta poderia ter alterado o resultado?

a) Sim

b) Não

c) Irrelevante

18. Em sua opinião acha importante estabelecer a perícia odontológica como

um procedimento de rotina no caso de cadáveres não identificados?

a) Sim

b) Não

c) Irrelevante

Muito obrigado pela sua colaboração.

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Anexos

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