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A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA SUBCIDANIA: Para uma sociologia política da modernidade periférica Jessé Souza SEMINÁRIO APRESENTADO À DISCIPLINA DE TEORIA SOCIOLÓGICA I – PPGS/UFSCar Prof. Dr. Valter Roberto Silvério

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A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA SUBCIDANIA:

Para uma sociologia política da modernidade periférica

Jessé Souza

SEMINÁRIO APRESENTADO À DISCIPLINA DE TEORIA SOCIOLÓGICA I – PPGS/UFSCar

Prof. Dr. Valter Roberto Silvério

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SOUZA, Jessé. BIOGRAFIA RESUMIDA DO AUTORFormado em direito pela Universidade de Brasília (1981), concluiu o mestrado em sociologia pela mesma instituição em 1986. Em 1991, doutorou-se em sociologia pela Karl Ruprecht Universität Heidelberg (Alemanha), país onde obteve livre docência nesta mesma disciplina Universität Flensburg em 2006. Também fez pós-doutorado em sociologia na New School for social research, New York, (1994/1995).Escreveu e organizou 22 livros, em português, inglês e alemão sobre sociologia política, teoria da modernização periférica e desigualdade no Brasil contemporâneo. Atualmente, é professor titular de sociologia na Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais.

== Obras ==.SOUZA, Jessé, Os batalhadores brasileiros: Nova classe média ou nova classe trabalhadora? Belo Horizonte, Ufmg, 2010.. SOUZA, Jesse, A ralé brasileira: quem é e como vive, Belo Horizonte, UFMG, 2009.SOUZA, Jessé (Org.). A Invisibilidade da Desigualdade Brasileira. Belo Horizonte: UFMG, 2006.SOUZA, Jessé (Org.). Imagining Brazil. Lanham: Lexington Books, 2006.KÜHN, Thomas / SOUZA, Jessé (Org.) Das moderne Brasilien. Gesellschaft, Politik und Kultur in der Peripherie des Westens. Wiesbaden: VS Verlag für Sozialwissenschaften, 2006.

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SOUZA, Jessé. Die Soziale Konstruktion der peripheren Ungleicheit. Wiesbaden: VS Verlag für Sozialwissenschaften, 2008.SOUZA, Jessé. A Construção Social da Subcidadania. Belo Horizonte: UFMG, 2006.SOUZA, Jessé. A Modernização Seletiva: Uma Reinterpretação do Dilema Brasileiro. Brasília: UNB, 2000.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

•O autor aborda no livro em epígrafe, uma análise sobre a singularidade de sociedades periféricas (dentre estas sociedades a brasileira), que se formaram e transformam a partir da expansão planetária do capitalismo moderno, observado com maior precisão na reflexão sociológica a partir do Sec. XIX.

•O autor considera que houve uma singular desproporção entre as análises realizadas acerca das ‘grandes culturas ocidentais’ em relação aos subcontinentes, destacando a América Latina num contexto de sociedade complexa, resultando da dinâmica da expansão ocidental.

•Diferentemente do estudo realizado no que o autor chama de “grandes culturas ou religiões mundiais’ tais como Índia,China e mundo Islâmico, seguindo a senda aberta por Max Weber, na seara da Sociologia Comparada , perspectiva da “lógica interna”.

•Assevera que o estudos sociológicos pertinentes à América Latina (pós-weberianos), se deram de forma apressada e superficial, sendo de tal forma, relegados a clichês da Sociologia do personalismo e patrimonialismo, demonstrando que clichês e generalizações culturais essencialistas servem para justificação de realinhamentos conjunturais na arena política internacional

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•Tece críticas a Eisenstadt, que mesmo com maior sofisticação teórica que Hungtington e possivelmente o mais profícuo sociólogo comparativo pós Weberiano, trouxe estudos inovadores e estimulantes acerca das grandes culturas asiáticas, entretanto, sobre a América Latina, apresentou análises passageiras e superficiais, reafirmando antigos paradigmas.

•Considera ainda que o tema ‘modernização das sociedades periféricas’ teve lugar de destaque no debate internacional, o que estimulou o avanço das ciências sociais, atingindo o seu ápice no pós guerra, acompanhando o esforço norte-americano na reorganização política do mundo livre.

•No ponto de vista do quadro categorial, tais estudos supunham uma oposição do tipo simples entre TRADIÇÃO e MODERNIDADE, este último cada vez mais associado ao exemplo concreto da sociedade contemporânea americana.

•Conforme SOUZA, uma das pressuposições mais importantes dessa teoria era a crença congênita no que se chamou de “Essencialismo cultural”, supostamente influenciada pela tese weberiana acerca do papel central da ética protestante como parteira do mundo moderno.

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•Tal estratégia analítica mantinha a noção etapista da sociologia tradicional, apenas a repetição do processo contingente de “modernização espontânea” ocidental garantiria o passaporte para relações modernas na economia, política e cultura...

•Souza ainda dispõe que: “no âmbito da sociologia latino-americana...e especialmente da Sociologia Brasileira, o paradigma dominante no Séc. XX também encadeia as noções complementares de personalismo, familismo e patrimonialismo, de modo a fundamentar a ideia de uma sociedade pré moderna.

•Nesse quadro reflexivo, as mazelas sociais dos países periféricos, assim como o Brasil, presentes na desigualdade e sua naturalização, marginalização dos setores expressivos da população, dificuldades de consolidação de uma ordem democrática e de mercado competitiva e eficiente, seriam explicáveis com a expansão pré-moderna de modelos familísticos para todas as esferas sociais.

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•Vale ressaltar que tal modelo analítico inspirou-se no paradigma explicativo dominante na Antropologia e Sociologia americanas na primeira metade do Séc. XX, o “culture and personality” , nesse caso, a cultura é percebida como entidade homogênea, totalizante e auto-referida.

SOUZA pontua que, “seria por conta dessa soberania do passado sobre o presente que nos confrontamos com solidariedades verticais baseadas no FAVOR, SUBCIDADANIA para a maior parte da população e abismo material e valorativo entre as Classes e as Raças que compõe a nossa sociedade.

No Brasil, a institucionalização em larga escala das Ciências Sociais se dá a partir de 1970, refletindo uma tendência mundial de divisão do conhecimento e fragmentação de esquemas explicativos, SOUZA explicita que os esforços não tem contribuído para renovar a compreensão mais totalizadora da modernidade periférica,mesmo com recentes tentativas de construção de um paradigma do “hibridismo’, não se abandonam o campo categorial do paradigma personalista, familista e patrimonialista.

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O autor trás como desafio principal neste livro “tentar construir uma hipótese alternativa a esta tradição, afastando-se do “essencialismo culturalista’ mas sem abrir mão das realidades culturais e simbólicas, incorporando no contexto as análises de Charles Taylor e Pierre Burdieu.

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O debate se monta numa reflexão sobre o processo de modernização das denominadas sociedades periféricas.

O trabalho tem como referência o processo de desenvolvimento estrutural dos países periféricos e como seu eixo as questões da modernização institucional, em particular:

-Estado racional;

-A criação do mercado competitivo;

-A transformação progressiva das práticas sociais do Brasil sob o impacto das forças econômicas, sociais e culturais dos países centrais e das forças endógenas.

Ele busca, em especial, valorizar as características singulares do processo de modernização de um conjunto determinado de países periféricos em relação aos países centrais, visto que a percepção dos teóricos desses países em relação à nova periferia é, a seu ver, superficial e homogeneizadora.

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• O autor almeja apresentar uma proposta alternativa ao

paradigma hegemônico sobre o processo de modernização

brasileira.

• No presente livro, ele busca apresentar as referências

básicas para uma interpretação alternativa. Nesse sentido, ele

propõe uma leitura do processo social que caberia tanto para

as sociedades periféricas como para as centrais.

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Parte I

• A RECONSTRUÇÃO DA IDEOLOGIA ESPONTÂNEA DO CAPITALISMO

• Capitulo I: A hermenêutica do espaço social para Charles Taylor

• Capitulo II: Pierre Bourdieu e a reconstrução da sociologia crítica

• Capitulo III: Taylor e Bourdieu ou o difícil casamento entre moralidade e poder

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• Dois autores com contribuições sofisticadas e instigantes para uma análise crítica da modernidade ocidental na últimas décadas: Charles Taylor e Pierre Bourdieu.

• Indispensáveis para uma análise alternativa da modernidade periférica.

• Discussão dos aspectos positivos e negativos de cada perspectiva, procurando reconstruí-las produtivamente com vistas ao esclarecimento da questão teórica: o esclarecimento das precondições sociais da naturalização da desigualdade em países periféricos como o Brasil.

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Charles Taylor

• Uma primeira questão posta por Jessé de Souza relaciona-se à produção teórica tradicional sobre o desenvolvimento das sociedades periféricas, centrada em torno de uma teoria da modernização na qual esta é vista como dicotômica com a tradição, definida sempre por sua negatividade. O paradigma personalista e patrimonialista, em suas vertentes tradicionais ou contemporâneas – neste último caso, caracterizadas pelo “hibridismo” - permanecem como as referências implícitas das análises, em geral.

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• Na crítica a estas formulações, Jessé vai utilizar as formulações do norte-americano Charles Taylor, em especial as trabalhadas em sua principal obra, “As fontes do self”, publicada em 1989. Nesse trabalho, Taylor afirma a necessidade de se compreender a experiência humana de forma contextualizada e situada. Essa prática exige a interpretação e resignificação da vida cotidiana, o que se torna, de certa maneira, complicado nos dias atuais, em função da naturalização da vida e sua desvinculação da ação e experiência humana (p. 23).

• Taylor não faz separação entre sistema e mundo da vida efetuada, como o faz Habermas, por exemplo. Para ele (...) os imperativos sistêmicos não se confrontam com as identidades individuais como algo externo. Ao contrário, esses dois lados são componentes da mesma identidade e são produzidos e adquirem eficácia precisamente por conta disso...[assim], as fontes morais ou os bens constitutivos de uma cultura precisam ser articulados de modo a poderem ser utilizados como motivação efetiva para o comportamento concreto (p. 24).

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• Desse modo, para Taylor, apenas formulamos sentido para as nossas vidas com base nas relações que estabelecemos com as avaliações fortes que formam a referência última da condução da vida do sujeito moderno (p. 25). No caso da moral específica do ocidente, ele identifica duas vertentes como fonte da moralidade: o princípio da dignidade e o da afirmação da singularidade da vida cotidiana — expressivismo. Ambos só têm condições de se afirmar a partir da constituição do processo de interiorização de uma determinada forma de ação moral, que se desenvolve pari passu com o capitalismo.

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Ponto de partida

• O ponto de partida do autor em questão a respeito da constituição do princípio da interioridade é o reconhecimento da mudança gigantesca da consciência entre a antiguidade clássica e o ocidente moderno. O filósofo Platão seria o responsável pela sistematização de uma concepção moral marcada pelo dualismo entre o “eu” e o desejo, no qual o primeiro é sempre ameaçado pelo segundo. Diante disso, este deve ser subordinado e guiado pela razão; razão esta que tem como função maior descobrir e se apropriar das idéias, que são pré-existentes e estão no mundo da perfeição, exteriores ao sujeito (p. 26).

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• Santo agostinho, por sua vez, ao analisar e se apropriar da tradição platônica, vai propor uma especificidade nessa compreensão do conhecimento. Para ele, como afirma Jessé Souza (...) o conhecimento não é uma luz exterior lá fora, uma revelação portanto, como era para Platão, mas é algo interior em nós mesmos, sendo antes uma criação que uma revelação. Na realidade, é uma mudança de foco a favor da própria atividade de conhecer (p. 26).

• Outro aspecto fundamental na proposição de Agostinho é sua valorização da inteligência como elemento de estabelecimento das hierarquias humanas e o reconhecimento da vontade como atributo do ser humano. A partir da inteligência, ele irá estabelecer a distinção entre “os seres que vivem e têm consciência e os simples viventes” (p. 27). Nesse caso, o ser inteligente é considerado superior ao simples vivente.

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• Com Descartes, o modelo de domínio racional por parte do indivíduo assume a forma de controle instrumental. Essa nova visão do universo, segundo Taylor, é mecanicista e não teológica. Ela vai resultar em uma nova representação da realidade a ser construída (p. 28). Essa outra forma de se perceber o ser humano, situado no começo do século XVII, vai ser transformada, a partir da formulação de Locke, na base da teoria política sistemática. “Locke introduz o tema da vontade. A mente tem o poder de não só se remodelar de acordo com princípios escolhidos aleatoriamente, mas também do hábito e da autoridade local“ (p. 29). Com isso, admite-se a possibilidade de (re)criarmos nossos hábitos e normas.

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Self pontual

• É a partir dessa nova concepção que Taylor vai caracterizar o que denominou de “self pontual ou neutro”. Ele utiliza esta noção para caracterizar o indivíduo desengajado, atomizado, capaz de se recriar. Ou seja, vive a partir de sua autoresponsabilidade, moldada pelas noções de liberdade e razão. Essa forma de vivência vai, de forma progressiva, se incorporando como prática social, institucionalizando o Estado Racional e o Mercado competitivo, em especial, e se naturalizando, de forma tal que suas raízes contingentes são “esquecidas”

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• O “self pontual” é a base para a constituição do princípio da dignidade humana. E Kant tem um papel central na sua afirmação ao considerar que (...) o fato de sermos seres racionais nos garantiria uma dignidade única. Se a natureza obedece leis, são apenas os seres racionais que obedecem princípios (...) enquanto todas as coisas têm o seu preço, somente os agentes racionais possuem dignidade (...) são fins em si mesmo (p. 32).

• O corolário dessa proposição é o reconhecimento de que todos os seres humanos se caracterizam por uma condição comum, como ser vivo e portador da razão, logo, devem ser valorizados em sua dignidade. O enfoque, revolucionário, rompe com os padrões morais centrados na “honra”, típicos da era pré-moderna, que pressupõem distinção e privilégio,.

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• Esse movimento de desenvolvimento do princípio da interioridade, que se desdobrará no respeito à dignidade humana, em suas dimensão social, tem como referência inicial, no Ocidente, as classes burguesas da Inglaterra, EUA e França.

• O processo de desenvolvimento da fé protestante permite a transposição para a vida cotidiana dessas fontes de moralidade vislumbradas por diferentes pensadores, de forma progressiva. Com o avanço da ordem capitalista e o desenvolvimento das formas múltiplas de disciplinarização do corpo e da vontade, que se expandem a partir do século XVIII, esse princípio da interioridade vai se universalizando até atingir todas as classes sociais dos países centrais.

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• A dignidade humana é a primeira fonte de moralidade moderna para Taylor, mas não a única. Adquire relevância também o que ele vai denominar de expressivismo, que se manifesta como uma expressão de autenticidade. O seu eixo central é o reconhecimento do caráter singular do ser humano e seu processo original de desenvolvimento. Concebe-se, a partir desse pressuposto, (...) a natureza interna do ser como um campo no qual se funde o sensual e o sentimental com o espiritual, tendo os primeiros primazia. Nesse caso, há uma positividade e uma resignificação das paixões. O expressivismo seria a exigência para que se viva de acordo com essa originalidade. Nesse caso, o certo ou errado passa a ser ancorado também em nossos sentimentos. A moralidade passa a ter, de certo modo, uma voz interna (p.33).

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Dignidade e igualdadeAutenticidade e diferença

• As duas formas de interioridade – dignidade e autenticidade - implicam uma radicalização do subjetivismo, mas são também rivais, pois, “exercer uma forma de maneira conseqüente é abdicar da outra” (p. 34). A grosso modo, pode-se dizer que a dignidade se sustenta no princípio da igualdade e a autenticidade no princípio da diferença. E estes são os dois princípios da vida social que nortearam, e norteiam, os embates políticos, econômicos e culturais dos tempos modernos.

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• Taylor, de acordo com Jessé Souza, valoriza a autenticidade como a contradição fundamental dos países centrais, pois considera que a dignidade, em sua essência, estaria resolvida nos países centrais. Para nosso autor, todavia, essa posição não leva em conta o contínuo processo de ampliação das desigualdades sociais que vem ocorrendo nos países centrais, com destaque para os EUA, justamente o mais rico. Nesse caso, considera que não cabe valorizar apenas a diferença como valor fundamental a ser reconhecido e aprofundado nos países centrais.

• Nos casos dos países periféricos, porém, Jessé Souza considera inegável a necessidade de se desenvolver o reconhecimento da dignidade como valor fundamental. No desenvolvimento de seu trabalho, ele buscará mostrar como as sociedades periféricas secundarizaram esse princípio e, em função disso, produziram dois tipos de cidadãos distintos, reproduzindo, de forma permanente, a desigualdade social.

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Linhas centrais da reconstrução tayloriana da hierarquia valorativa implícita na formação do self pontual:

• Controle da razão sobre emoções e pulsões irracionais, interiorização progressiva de todas as fontes de moralidade e significado e entronização concomitante das virtudes do autocontrole, auto-responsabilidade, vontade livre e descontextualizada e liberdade concebida como auto-remodelação em relação a fins heterônomos. Esse conjunto articulado passa a ser ‘o alfa e ômega’ da atribuição de respeito e de reconhecimento social, por um lado, e pressuposto objetivo da própria auto-estima individual, por outro. No seu conjunto, essas precondições constituem a ‘dignidade’ específica da agência racional, ou seja, passa a ser o fundamento da percepção diferencial de cada qual como digno ou não de valor a partir dessa pré-compreensão social produzida por meios intersubjetivos e de visões compartilhadas. (p.73)

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Limite

• O trabalho de Taylor permite o desvelamento, a partir de sua genealogia, dos valores morais fundamentais para o desenvolvimento das instituições centrais do capitalismo e para a reprodução das relações sociais. Ele não dá conta, entretanto, da dinâmica de reprodução das hierarquias sociais no mundo social.

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Pierre Bourdieu

• A fim de superar essa pretensa lacuna, Jessé Souza buscará as formulações desenvolvidas por Pierre Bourdieu. A interlocução com esse autor se deve, principalmente, ao seu questionamento de maneira sistemática da “ideologia da igualdade de oportunidades” que se faz presente na ordem capitalista. Idéia trabalhada no processo de dominação simbólica das sociedades capitalistas avançadas, essa ideologia coloca para as perspectivas críticas e radicais uma falsa visão de superação tendencial da luta de classes característica do capitalismo.

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Perspectiva

• Bourdieu vai trabalhar na perspectiva de mostrar e pôr em questão a legitimidade e as formas opacas e distorcidas de dominação de classe presentes no mundo social. Formas que são (re)produzidas pelos agentes sociais de forma não-consciente, através da incorporação progressiva de determinadas práticas sociais. Práticas essas que se tornam estruturantes de novas práticas, de forma sucessiva.

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• Na sua construção teórica, Bourdieu questiona as interpretações objetivistas, que seriam típicas do estruturalismo, por um lado, e as proposições subjetivistas, que caracterizariam abordagens como o interacionismo social, a etnometodologia e, em particular, a que privilegia a “ação racional”, por outro. Trabalhando na tensão entre estes dois pólos, ele visa construir uma interpretação das estratégias de ação dos agentes sociais centradas, em especial, no conceito de habitus, por ele resignificado, e de capital simbólico, base para a dominação entre os agentes e classes sociais.

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Habitus

• O habitus pode ser definido como um processo permanente de interiorização da exterioridade e exteriorização da interioridade. Nessa perspectiva, considera-se que o agente social constrói-se de forma permanente a partir de um processo dinâmico de incorporação de práticas sociais, interpretadas de forma singular de acordo com suas características subjetivas. Assim, “ele não se confunde com a necessidade mecânica nem com a liberdade reflexiva dos ‘atores racionais” (p. 43). O agente tem, assim, um campo de ação possível, delimitada pelo seu processo de inserção nos campos sociais. O habitus seria, então, responsável, pelo processo de delimitação do campo de escolhas e de produção de gostos nos agentes sociais, gerando as diferenciações sociais.

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Taylor e Bourdieu

• Toda sociedade, de acordo com Bourdieu, assim como Taylor, tende a naturalizar relações sociais que são contingentes e constituídas socialmente. Essa naturalização se constitui como uma Ideologia espontânea, que fundamenta e legitima o conjunto de hierarquias entre os indivíduos e classe. No caso das sociedades ocidentais, cabe, todavia, aos capitais econômico e cultural o papel de instrumentos estruturantes das relações de dominação e sua reprodução, ao contrário das sociedades pré-modernas, que se baseiam no capital social.

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Taylor

• De Taylor, Souza procura reter a percepção segundo a qual a transição para a modernidade se apresenta conforme uma radical reconstrução da “topografia moral” da cultura ocidental, em grande medida contraposta à Antigüidade clássica: a revolução de que fala Taylor é aquela que redefine a hierarquia social a tal ponto que agora as esferas práticas do trabalho e da família, precisamente aquelas esferas nas quais todos, sem exceção, participam, passam a definir o lugar das atividades superiores e mais importantes (p. 31).

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• Sob a hegemonia do vínculo social contratual, ou seja, aquele alicerçado no caráter supostamente universal das normas e dos direitos subjetivos, Taylor apreende tanto as conquistas sociais da modernidade como suas contradições e ambigüidades. A principal delas constituída pela “oposição entre a concepção instrumental e pontual do self e a configuração expressiva do mesmo” (p. 32). Um sujeito moderno tensionado pelos pólos da razão e dos sentimentos. Daí o resgate do tema tayloriano das modernas fontes antinômicas de reconhecimento – a universalizante, caracterizada pela dignidade, e a particularizante, ancorada na autenticidade – empreendido por Souza. Mas, se no contexto estadunidense, Taylor prioriza o ideal de autenticidade, no contexto periférico é a questão da dignidade que irá estimular Souza a tornar explícitos os princípios classificatórios capazes de iluminar a forma por meio da qual instituições aparentemente neutras operam de maneira discriminatória.

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Bourdieu

• De Bourdieu, Souza busca resgatar principalmente a crítica à “naturalização” das relações sociais de dominação contida no conceito de habitus e sua ênfase no aspecto “automático” – caráter irrefletido – dos diferentes comportamentos sociais classificatórios: é esse aparato também que permite a Bourdieu perceber dominação e desigualdade onde outros percebem harmonia e pacificação social. É isso que o faz fundamental para qualquer análise, seja das sociedades centrais ou periféricas, interessada em desvelar e reconstruir realidades petrificadas e naturalizadas (p. 47). Tal aspecto revela-se ainda mais decisivo quando pensamos no caráter central atribuído por Bourdieu ao mascaramento das precondições econômicas inerente ao exercício da dominação classista. Ou seja, da dominação simbólica – e, nesse particular, da própria ideologia da igualdade que serve de base ao consenso social e político ocidental – obscurecendo as relações de desigualdade.

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Parte II

• A CONSTITUIÇÃO DA MODERNIDADE PERIFÉRICA

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• Na segunda parte do livro, Jessé Souza apresenta a

dinâmica singular de constituição da modernidade periférica,

situando o processo brasileiro: a intenção é analisar o padrão

de modernização daquilo que qualifica por "nova periferia" –

onde as práticas modernas seriam anteriores às

ideias modernas – e cujos traços gerais são captados por meio

de um engenhoso recurso envolvendo a desconstrução-

reconstrução da obra de clássicos da interpretação da formação

social brasileira: de Gilberto Freyre a Luiz Werneck Vianna,

passando por Florestan Fernandes e Maria Sylvia de Carvalho

Franco, principalmente, acerca da institucionalização do

Estado Racional e o Mercado competitivo no Brasil.

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• Agora, sem a mesma divisão formal em capítulos da

primeira parte, nessa etapa do trabalho, o autor dá

prosseguimento a mesma estratégia metodológica

encaminhada na primeira parte: reconhecendo limitações

e insuficiências presentes nas ricas formulações dos

autores privilegiados, em particular Freyre e Fernandes,

buscando construir uma articulação entre as diversas

proposições, na tentativa de construir uma análise

original do fenômeno da modernização estrutural

brasileira.

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A ênfase é dada ao trabalho de Gilberto Freyre. Souza

propõe “utilizar Freyre contra Freyre”, ou seja, usar aspectos de sua

obra na dimensão descritiva sem necessariamente compartilhar com

as generalizações e avaliações que o próprio Freyre retira desse

mesmo material empírico” (p. 102).

No caso dos trabalhos de Florestan e Werneck Vianna, o

grau de identificação de Jessé Souza é maior. Mas ele destaca

algumas insuficiências interpretativas na obra do primeiro, em

particular. O fato derivaria do olhar de Florestan sobre o processo de

modernização nacional ser marcado por um forte filtro paulista.

Diante disso complementa a sua interpretação com as proposições

apresentadas por Gilberto Freyre em Sobrados e Mocambos.

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Freyre contra Freyre

Tal recurso explica-se, por um lado, pelo fato de Souza, como muitos outros estudiosos, considerar Freyre nosso principal intérprete do século XIX, o século estratégico da modernização periférica brasileira. Por outro lado, pelo fato de a instituição social "total" da escravidão assumir em Gilberto Freyre, ao contrário da imensa maioria dos estudiosos de nossa formação nacional, um caráter central: "Se não estou sendo injusto, o tema da escravidão só atinge este status na obra de Joaquim Nabuco e do próprio Gilberto Freyre" (p. 103).

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• Souza irá identificar em Freyre uma "versão reprimida" do núcleo da singularidade da escravidão brasileira, resgatando da conhecida ideologia celebratória do sincretismo cultural – ou "democracia racial" – uma interpretação específica do patriarcalismo segundo a qual a noção estrutural passa a ser, não a do consenso, mas um tipo de conflito "sadomasoquista" inerente à relação social da escravidão:

• Estamos lidando, no caso brasileiro, na verdade, com um conceito limite de sociedade, onde a ausência de instituições intermediárias faz com que o elemento familístico seja seu componente principal. [...] É precisamente como uma sociedade constitutiva e estruturalmente sadomasoquista, no sentido de uma patologia social específica, em que a dor alheia, o não reconhecimento da alteridade e a perversão do prazer transforma-se em objetivo máximo das relações interpessoais, que Gilberto Freyre interpreta a semente essencial do patriarcalismo brasileiro (p. 115).

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Homens livres na ordem escravocrata

• Souza passa também pela obra já clássica de Maria Sylvia de Carvalho Franco, Homens livres na ordem escravocrata, no intuito de estabelecer os vínculos entre escravos – função produtiva essencial – e dependentes livres – franjas da atividade econômica –, e melhor caracterizar a "'ralé' que cresceu e vagou ao longo de quatro séculos: homens a rigor dispensáveis, desvinculados dos processos essenciais à sociedade" (p. 122).

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Modernização Conservadora

• Da mesma forma o autor analisa os livros de

Florestan Fernandes a respeito d'A revolução burguesa

no Brasil, e de Luiz Werneck Vianna, Liberalismo e

sindicato no Brasil, sempre no intuito de melhor

apreender a singular construção de um capitalismo

periférico marcado por processos sociais que,

genericamente, poderíamos qualificar de

"modernização conservadora“.

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Florestan Fernandes

• Jessé Souza inicia realizando uma análise em detalhe da obra Integração do negro na sociedade de classes, de Florestan Fernandes. Isso por acreditar que consegue estabelecer a questão decisiva em pauta em sua problemática, ainda que a resposta final seja insatisfatória:

• Florestan percebe nas dificuldades de adaptação à nova ordem competitiva, a semente da marginalização continuada de negros e mulatos, focalizando essas dificuldades na esfera das condições psicossociais da personalidade:

a) a inadaptação do negro para o trabalho livre;

b) a sua incapacidade de agir segundo os modelos de comportamento e personalidade da sociedade competitiva.

Destaca, ainda, a identificação de Florestan quanto a anomia familiar do negro que fechava o círculo vicioso.

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Para Souza, um aspecto fundamental do argumento de Florestan está em atribuir à constituição e reprodução de um habitus específico, no sentido de Bourdieu, o lugar fundamental para explicar a marginalidade do negro.

Este ponto é central, posto que, se é a reprodução de um "habitus precário" a causa última da inadaptação e marginalização desses grupos, não é "meramente a cor da pele", como certas tendências empiricistas acerca da desigualdade brasileira tendem, hoje, a interpretar (SOUZA,2003, p.159).

Para Souza, ao contrário do que apontou Fernandes, esse hábitus não era exclusivo do negro, mas de todos aqueles que estavam a margem da lógica econômica. Explicar a atual situação de exclusão social não é possível por meio dos “resíduos”, uma vez que existe uma lógica moderna. Não é o apego à hierarquia anterior que produz o racismo e o transfere como "resíduo" à ordem social competitiva.

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Superando a confusão entre habitus e cor

• A ordem competitiva também tem a "sua hierarquia",

ainda que implícita, opaca e intransparente aos atores, e é com

base nela, e não em qualquer "resíduo" de épocas passadas, que

tanto negros quanto brancos, sem qualificação adequada, são

desclassificados e marginalizados de forma permanente

(SOUZA, 2003, p.163).

• Jessé Souza propõe ultrapassar o uso meramente

retórico deste termo e conferir a ele densidade analítica,

tornando-se “necessário superar a confusão entre habitus e cor”.

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• O essencial da crítica a Florestan radica na centralidade que o preconceito de "cor da pele" adquire na obra Integração do negro na sociedade de classes:

"No contexto estamental e adscritivo da sociedade escravocrata, a cor funciona como índice tendencialmente absoluto da situação servil, ainda que esta também assumisse formas mitigadas, conforme já vimos. Na sociedade competitiva, a cor funciona como índice 'relativo' de primitividade – sempre em relação ao padrão contigente do tipo humano definido como útil e produtivo no racionalismo ocidental e implementado por suas instituições fundamentais – que pode ou não ser confirmado pelo indivíduo ou grupo em questão. O próprio Florestan relata sobejamente as inúmeras experiências de inadaptação ao novo contexto determinadas, em primeiro plano, por incapacidade de atender às demandas da disciplina produtiva do capitalismo" (p. 160).

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Bourdieu e Taylor

• Destaca que para Bourdieu e Taylor, a sociedade moderna se singulariza pela produção de uma configuração, formada pelas ilusões do sentido imediato e cotidiano que produzem um "desconhecimento específico" dos atores acerca de suas próprias condições de vida.

• Identifica, a partir dos dois autores que o habitus representa a incorporação nos sujeitos de esquemas avaliativos e disposições de comportamento a partir de uma situação socioeconômica estrutural, preferindo falar em uma "pluralidade de habitus". Se utilizando dos termos “habitus primários”, “habitus secundarios” e “habitus precários”.

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• “Habitus primário" são esquemas avaliativos e disposições

de comportamento objetivamente internalizados e "incorporados", que

permite o compartilhamento de uma noção de "dignidade'

efetivamente compartilhada. (...).

• “Habitus precário" seria o limite do "habitus primário" para

baixo, ou seja, seria aquele tipo de personalidade e de disposições de

comportamento que não atendem às demandas objetivas para que,

seja um indivíduo, seja um grupo social, possa ser considerado

produtivo e útil em uma sociedade de tipo moderno e competitivo,

podendo gozar de reconhecimento social com todas as suas

dramáticas consequências existenciais e políticas. (...).

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Habitus secundário

• O que estamos chamando de "habitus secundário"

tem a ver com o limite do "habitus primário" para cima, ou

seja, tem a ver com uma fonte de reconhecimento e respeito

social que pressupõe, no sentido forte do termo, a

generalização do "habitus primário" para amplas camadas da

população de uma dada sociedade.

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Ideologia do desempenho

Somado as categorias de hábitus, Jessé acrescenta a noção de Kreckel de "ideologia do desempenho”:

“a tentativa de elaborar um princípio único, para além da

mera propriedade econômica, a partir do qual se constitui a mais

importante forma de legitimação da desigualdade no mundo

contemporâneo. Para ele, a ideologia do desempenho baseia-se na

tríade meritocrática que envolve qualificação, posição e salário”.

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Ralé estrutural brasileira

• Para Jessé Souza a "ideologia do desempenho"

“funcionaria assim como uma espécie de legitimação

subpolítica incrustada no cotidiano, refletindo a eficácia de

princípios funcionais ancorados em instituições opacas e

intransparentes como mercado e Estado.”

• O hábitus precário somada a essa ideologia possibilita a

existência e a manutenção da “ralé” estrutural brasileira, ou, nas

palavras de Jessé, da subcidadania.

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Parte III

• A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA SUBCIDADANIA

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A – processo de modernização periférica e constiuição de uma “ralé” estrutural

• De 1808 à 1930 (Estado Reformador) – modernização e industrialização

• Padrão periférico de cidadania e subcidadania (diálogo com Florestan Fernandes)

• Organização psicossocial e pré-socialização (confirmação do preconceito)

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B – A “Ideologia Espontânea” do Capitalismo Tardio e a construção da desigualdade

• Retomada das abordagens de Taylor e Bourdieu (naturalismo e doxa)

• Jessé Souza – “Pluralidade de hábitus” (hábitus precário, hábitus primário, hábitus secundário) *hábitus precário internalizado – “escravidão internalizada”; Florestan Fernandes.

• Kreckel – “ideologia do desempenho”; qualificação, posição, salário

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C - A especificidade da desigualdade periférica

• Distinção: soc. periféricas – hábitus precário massificado; soc. Centrais: hábitus precário localizado. *lembrar: auto-reconhecimento “precário”

• Interpretação inadequada x problemas práticos e políticos

• Esfera pública – 3º instituição fundamental (diálogo com Habermas); para pensar o papel da classe trabalhadora no Brasil

• “Ideologia explícita” (democracia racial/“social”, apoiado em Freyre), opacidade e instransparência. Corroborando a “ideologia espontânea” , com isso sedimentando a desigualdade entre nós

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Referências Bibliográficas

• FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1979.

• SOUZA Jessé. A Construção Social da Subcidadania: Para uma Sociologia Política da Modernidade Periférica. Editora UFMG. Belo Horizonte. 2003.

• Silva, Eliana Souza. Recensão. Acesso: 06/06/2013 – 16h49min. Disponível:• http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/

7983/7983.PDFXXvmi=RQ00SNQu2OsQ1P7cSukBSVR4LCF7V2eNTeON2Fj5tMVuC4IuA37t00xLCeSzh8mbmb0pQjul6rRJwAf7EmBEmap0ojzHrVTP8Tg0dLlkee5LPkStIu85Fz55SFMlCGbKArKOe7aslgfcB8GjDOpjnvohbbDNSPxsijiwrt1OKg1mpHH4v7nUENcPZQERGdl0wFwZazNVQOihw0l38KZMxbDx3hqJuMJ3sh2DRQAJGS1dTnh38gPHssfvKGggt1j

• BRAGA, Ruy. A construção social da subcidadania: para uma sociologia política da modernidade periférica. Rev. bras. Ci. Soc.,  São Paulo,  v. 19,n.56,Oct.2004.Availablefrom

• <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69092004000300010&lng=en&nrm=iso>. access on  03  June  2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69092004000300010.