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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE DIREITO
FABIANA DUARTE PIMENTA DE SOUZA
A CONSTITUCIONALIDADE DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO AUXÍLIO-
RECLUSÃO
FORTALEZA
2014
FABIANA DUARTE PIMENTA DE SOUZA
A CONSTITUCIONALIDADE DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO AUXÍLIO-
RECLUSÃO
Monografia submetida à aprovação
da Coordenação do Curso de
Direito do Centro Superior do
Ceará, como registro parcial para a
obtenção do grau de Graduação,
sob a orientação da Professora
Marina Lima Maia Rodrigues.
FORTALEZA
2014
FABIANA DUARTE PIMENTA DE SOUZA
A CONSTITUCIONALIDADE DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO AUXÍLIO-
RECLUSÃO
Monografia como pré-requisito
para a obtenção do título de
Bacharelado em Direito, outorgado
pela Faculdade Cearense-FaC,
tendo sido aprovada pela banca
examinadora composta pelos
professores.
Data da aprovação:___/___/____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Professora Esp. Marina Lima Maia Rodrigues
_______________________________________________________
Professor Esp. Felipe de Albuquerque Bezerra
_______________________________________________________
Professor Ms. José Lenho Silva Diógenes
A Deus, pelos dons da vida e da inteligência e por saber que sem Ele essa conquista
não seria possível.
Aos meus pais, pelas orações e apoio para mais essa conquista na minha vida.
Ao meu esposo, pelo companheirismo nessa longa caminhada, por seu amor e apoio
para a conclusão deste trabalho.
Aos meus irmãos, primos, em especial, à Nenê, minha prima querida, amigos, tios, que
de forma especial sempre me apoiaram.
Ao meu filho Gabriel, mesmo ainda tão pequeno é meu maior incentivador, essa
conquista é pra você!
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, professora Marina Lima Maia Rodrigues, a minha
admiração, o meu apreço e sincero agradecimento por aceitar a árdua tarefa de orientação, que
além de ter me mostrado os caminhos para a realização deste trabalho, foi uma grande
incentivadora.
Ao professor, José Lenho Silva Diógenes, o meu apreço e sincero agradecimento
pela forma tranquila como orientou o desenvolvimento metodológico que deu forma a este
trabalho.
Aos professores que aceitaram participar da banca examinadora desta monografia,
o meu apreço e sincero agradecimento.
Aos meus colegas de sala, em especial Renata Lucas e Cleissiane Pinho, pelo
apoio constante na realização deste trabalho, pela amizade sincera, e por fazerem parte da
minha vida, de modo especial, no momento da realização dessa conquista.
“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma
qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
específico mandamento obrigatório mas a todo o sistema de comandos.
É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade,
conforme o escalão do princípio atingido, porque representa
insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e
corrosão de sua estrutura mestra.”
(Bandeira de Mello – Jurista Brasileiro)
RESUMO
A relevância da pesquisa sobre “A constitucionalidade do benefício previdenciário do auxílio-
reclusão” está em expor os pontos importantes sobre o assunto, a fim de possibilitar maiores
esclarecimentos à sociedade, além de dirimir dúvidas acerca da concessão deste benefício. O
que se busca, através deste trabalho, é demonstrar as peculiaridades do benefício
relativamente a sua concessão, seus beneficiários, sua constitucionalidade com base no
surgimento da previdência social no Brasil, nos princípios que lhes são aplicáveis e na
legislação infraconstitucional.
Palavras–chave: Previdência social. Princípios. Benefícios. Auxílio-reclusão.
Constitucionalidade.
ABSTRACT
The relevance of research on "The constitutionality of the social security benefit of reclusion-
aid" is to expose the important points on the subject, to enable further information to society,
and resolve doubts about the granting of this benefit. What is sought, through this work, is to
demonstrate the benefit of the peculiarities for its grant, beneficiaries, its constitutionality
based on the emergence of social security in Brazil, the principles that apply to them and
constitutional legislation.
Keywords: Social Security. Principles. Benefits. Aid-seclusion. Constitutionality.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL ............................................ 12
2.1 A evolução histórica da previdência social no Brasil ......................................................... 12
2.2 O surgimento dos auxílios previdenciários ........................................................................ 15
2.3 O direito à seguridade social como direito fundamental da pessoa humana ...................... 16
3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PREVIDENCIÁRIOS .......................................... 19
3.1 Princípio da dignidade humana .......................................................................................... 19
3.2 Princípio da legalidade ..................................................................................................... 190
3.3 Princípio da obrigatoriedade da filiação ............................................................................. 21
3.4 Princípio da universalidade e da cobertura do atendimento ............................................... 22
3.5 Princípio da solidariedade .................................................................................................. 23
3.6 Princípio da proteção da família ......................................................................................... 24
3.7 Princípio da individualização da pena ................................................................................ 24
3.8 Princípio da erradicação da pobreza ................................................................................... 25
4 O BENEFÍCIO DO AUXÍLIO-RECLUSÃO ................................................................... 27
4.1 Auxilio-reclusão – conceito e requisitos ............................................................................ 28
4.2 Os beneficiários do auxílio-reclusão .................................................................................. 33
4.3 A constitucionalidade do auxílio-reclusão ......................................................................... 35
4.4 Um benefício mal visto! ..................................................................................................... 37
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 39
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 462
ANEXO .................................................................................................................................... 46
10
1 INTRODUÇÃO
A previdência social é o instituto da seguridade social que se diferencia da saúde
pública e da assistência social pelo seu caráter contributivo compulsório, uma vez que a
cobertura previdenciária é devida somente aos indivíduos que contribuem para o regime,
sendo esta condição primordial para a concessão de benefícios e serviços aos seus segurados e
dependentes.
Com relação à evolução histórica da previdência social no Brasil, a primeira
Constituição brasileira a tratar diretamente de um benefício previdenciário, foi a Constituição
de 1891, em seu art. 75, enquanto o benefício do auxílio-reclusão surgiu pela primeira vez na
legislação previdenciária com edição do Decreto n°22.872, de 29 de junho de 1933, que em
seu art. 63 tratava brevemente acerca do assunto. Todavia, foi somente em 1960, por meio do
art. 43 da Lei Orgânica da Previdência Social, que o benefício do auxílio-reclusão passou a
ser direito de todos os segurados filiados à Previdência Social. Atualmente, o benefício do
auxílio-reclusão está previsto no art. 201, inciso IV da Constituição Federal de 1988.
No entanto, a concessão do benefício do auxílio-reclusão tem sido alvo de
inúmeras críticas na internet, principalmente, no facebook, no tocante a concessão de um
benefício previdenciário ser destinada a presos. Os argumentos utilizados são de que este
benefício seria uma proteção do Estado ao criminoso, ficando a família da vítima da violência
à margem de qualquer proteção do Estado.
E, ainda, há a compreensão no sentido de que a concessão deste benefício seria
uma forma de incentivo ao crime, uma vez que o criminoso saberia que sua família não ficaria
abandonada a própria sorte tendo em vista a possibilidade do recebimento deste benefício
previdenciário.
Outrossim, com esse mesmo argumento, existe uma Proposta de Emenda à
Constituição Federal de 1988, através do Projeto de Lei nº 304 de 01 de agosto de 2013, que
se encontra sob análise na Comissão de Constituição Justiça e Cidadania da Câmara dos
Deputados, com o intuito de extinguir o benefício do auxílio-reclusão e transformá-lo em
11
benefício à família da vítima do crime.
Em meio a tantas críticas à concessão do referido benefício previdenciário aos
dependentes do preso, o presente trabalho tem por objetivo verificar a constitucionalidade do
benefício do auxílio-reclusão, a fim de possibilitar maiores esclarecimentos à sociedade e
dirimir dúvidas acerca da concessão deste benefício.
Para tanto foram desenvolvidos três capítulos, através de um estudo baseado em
pesquisa bibliográfica e documental. Assim, o primeiro capítulo traça a evolução histórica da
previdência social no Brasil, no qual se pretende mostrar uma visão geral do surgimento desse
instituto em nosso ordenamento jurídico.
O segundo capítulo trata dos princípios constitucionais aplicáveis ao benefício do
auxílio-reclusão, objetivando sua compreensão, de acordo com os princípios constitucionais.
No terceiro capítulo é verificado o conceito e os requisitos para sua concessão, a
identificação dos seus possíveis beneficiários e a verificação da sua constitucionalidade, bem
como a problemática deste instituto no nosso ordenamento jurídico.
Dessa forma, no presente estudo, são abordados pontos fundamentais para a
interpretação constitucional do benefício previdenciário do auxílio-reclusão.
12
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
A proteção previdenciária dos trabalhadores se ensejou por meio dos movimentos
sociais que foram se fortalecendo com a crise industrial, por exemplo, as greves dos
trabalhadores que reivindicavam melhores condições de trabalho e de subsistência.
Conforme Amado (2014a), a doutrina tem reconhecido como marco inicial da
previdência social no mundo, a Alemanha, que em 1883, editou a Lei dos Seguros Sociais,
perpetrada pelo então chanceler Otto Von Bismarck, por meio da qual criou o seguro-doença.
Em seguida, conseguiu aprovar outras normas como o seguro de acidente de trabalho (1884),
o seguro de invalidez (1889) e o de velhice (1889), tendo em vista as grandes pressões sociais
da época.
No Brasil, a proteção social, de acordo com Castro, Lazzari (2014), iniciou-se de
forma lenta, assim como na Europa, o que ocorreu por meio de um lento processo de
reconhecimento da necessidade do Estado de intervir para suprir às deficiências da liberdade
absoluta1
, iniciando de maneira assistencialista para o Seguro Social e somente depois para a
formação da Seguridade Social.
2.1 A evolução histórica da previdência social no Brasil
No Brasil, as primeiras formas de proteção social face às desigualdades sociais,
tinham caráter assistencialista. A efetiva preocupação com a previdência social só começou
no século XX, apesar disso o assunto foi abordado em algumas constituições como veremos a
seguir.
Para Amado (2014a), a primeira Constituição brasileira a tratar diretamente de um
benefício previdenciário, foi a Constituição de 1891, que em seu artigo 75, garantiu a
aposentadoria por invalidez aos funcionários públicos que a serviço da nação tornaram-se
inválidos.
1
“A sociedade, no seio da qual o indivíduo vive, e que por razões de conveniência geral, lhe exige a renúncia de
uma parcela de liberdade, não poderá deixar de compensá-lo da perda que sofre, com a atribuição da desejada
segurança” (COIMBRA, J.R. Feijó. op. cit, p.45, apud, CASTRO, LAZZARI, 2014, p.37)
13
Já a Constituição de 1824, em seu artigo 179, inciso XXXI, apenas garantiu
formalmente os socorros públicos. Todavia, em 1821, com o Decreto de 1º de outubro ficou
concedido aposentadoria aos mestres e professores após 30 anos de efetivo serviço. Em 1888,
a Lei 3.397 de 24 de novembro, criou a Caixa de Socorros para os trabalhadores das estradas
de ferro de propriedade do Estado, e o Decreto 9.912-A, de 26 de março de 1888, possibilitou
a aposentadoria aos empregados dos Correios, após 30 anos de serviço e 60 anos de idade
cumulativamente.
Nesse mesmo intuito, a Lei nº 217 de 29 de novembro de 1892, instituiu a
aposentadoria por invalidez e a pensão por morte dos operários do Arsenal da Marinha do Rio
de Janeiro. Em 1911, com o Decreto nº 9.284 de 30 de dezembro de 1911, foi criada a Caixa
de Aposentadoria e Pensões dos Operários da Casa da Moeda, visando beneficiar seus
servidores.
No entanto, em 1919, editou-se a Lei 3.724 de 15 de janeiro, de Acidentes de
Trabalho, criando-se o seguro de acidente de trabalho para todas as categorias profissionais,
pelas empresas, surgindo, então, à noção do risco profissional.
No Brasil, a previdência social originou-se de fato, em 1923, com o Decreto-lei nº
4.682, de 24 de janeiro, conhecido, também, como Lei Eloy Chaves, que criou as caixas de
aposentadorias e pensões para os ferroviários, que eram mantidas pelas empresas, já que
naquela época os ferroviários eram bastante numerosos e formavam uma categoria
profissional muito forte.
Diante disso, no Brasil comemora-se o dia da Previdência Social no dia 24 de
janeiro, data em que a Lei Eloy Chaves entrou em vigor. Para Amado (2014a), a Lei Eloy
Chaves pode ser considerada como marco inicial da previdência social brasileira, mas como
sistema privado, uma vez que as caixas dos ferroviários eram administradas por empresas
privadas e não pelo Poder Público, que nessa ocasião apenas regulamentava e supervisionava
a atividade.
14
Com isso, a previdência pública brasileira, àquela gerenciada pela Administração
Pública, teve início em 1933, com o Decreto nº 22.872, de 29 de junho de 1933, o qual
instituiu o Instituto de Previdência dos Marítimos- IAPM. Posteriormente, foi instituído o
Instituto dos Comerciários e Bancários (1934); o Instituto dos Industriários (1936); o Instituto
dos Servidores do Estado e dos Empregados de Transportes e Cargas (1938).
Tais institutos, ao contrário das Caixas de Aposentadoria e Pensões, tinham maior
abrangência, pois contemplavam várias categorias profissionais e não apenas os empregados
de determinadas empresas, além de estarem sob o controle da administração pública.
A Constituição de 1934 trouxe a previsão de que a Previdência Social seria
custeada pelo Poder Público, com a contribuição direta dos trabalhadores e empregadores, o
que sai do plano da assistência social para o seguro social, dando origem à expressão
“Previdência”. No entanto, somente com a Constituição de 1946, que em seu artigo 157,
contemplou pela primeira vez a expressão “Previdência Social”.
Já em 1960, ocorreu a unificação do Plano de Benefício dos Institutos, por meio
da Lei nº 3.807, de 26 de agosto – conhecida por Lei Orgânica da Previdência Social. Em
1965, a Constituição de 1946 foi alterada por meio da Emenda Constitucional nº 11, que
inseriu “o Princípio da Precedência da Fonte de Custeio, para a instituição ou majoração dos
benefícios previdenciários e assistenciais, existente até hoje e aplicável a toda a seguridade
social”. (AMADO, 2014a p.94).
No ano de 1967, com o Decreto-lei nº 72 de 21 de novembro de 1966, nasceu o
INPS- Instituto Nacional da Previdência Social, com a unificação da previdência urbana, uma
vez que os Institutos foram fundidos, trazendo, também, o seguro de acidente de trabalho para
a previdência pública.
Entretanto, apenas em 1971, ocorreu a inclusão previdenciária dos trabalhadores
rurais na previdência social, com a Lei Complementar nº 11, que instituiu o Pró- Rural-
Programa de Assistência ao Trabalhador Rural, que foi mantido com recursos do Fundo de
Assistência ao Trabalhador Rural- FUNRURAL, que ganhou natureza jurídica de entidade
15
autárquica federal.
Logo, naquele período coexistiam dois regimes previdenciários: O Programa de
Assistência ao Trabalhador Rural e a Previdência Social Urbana. Somente com a Lei 5.859,
de 11 de dezembro de 1972, os empregados domésticos passaram a ser segurados.
Em 1977, foi permitida a criação da Previdência Complementar Privada, com o
advento da Lei 6.435 de 15 de julho; e ainda nesse mesmo ano foi instituído o SINPAS-
Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social, que contemplava as seguintes
entidades: IAPAS- Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social;
INAMPS- Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social; INPS- Instituto
Nacional de Previdência Social; LBA- Fundação Legião Brasileira de Assistência;
FUNABEM- Fundação Nacional de Bem Estar do Menor, CEME- Central de Medicamentos;
DATA PREV- Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social.
Foi apenas com a Constituição de 1988, que surgiu a seguridade social como um
Sistema Nacional o qual engloba a assistência social, a previdência social e a saúde, sendo
que a assistência social é para os que comprovem necessidade, a saúde é um direito de todos,
e as duas independem de contribuição, todavia, a previdência social é direito apenas de quem
para ela contribui, uma vez que é um benefício compulsório.
2.2 O surgimento dos auxílios previdenciários
A previdência social visa proteger pessoas vinculadas a algum tipo de atividade
laborativa e seus dependentes, que mediante contribuição estão resguardados, de possíveis
situações da vida, por exemplo: a morte, invalidez, idade avançada, doença, acidente de
trabalho, desemprego involuntário, maternidade, reclusão; mediante benefícios
previdenciários.
De acordo com Castro, Lazzari (2014), os benefícios previstos pelo Regime Geral
da Previdência Social apresentam características distintas e regras próprias de concessão. São
os benefícios em espécie: a aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade,
aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadorias especiais: por exposição a agentes
16
nocivos à saúde ou dos deficientes, auxílio-doença, salário-família, salário-maternidade,
auxílio-acidente, pensão por morte, auxílio-reclusão, abono anual, serviço social, habilitação e
reabilitação profissional.
São benefícios especiais: aposentadoria do ex-combatente da 2ª Guerra Mundial,
aposentadoria ou pensão excepcional do anistiado político, pensão especial vitalícia para as
vítimas da Talidomida, pensão mensal vitalícia dos seringueiros, pensão mensal das vítimas
da hemodiálise de Caruaru, pensão mensal das vítimas de hanseníase e auxílio especial
mensal dos campeões mundiais de futebol de 1958, 1962 e 1970.
No entanto, trataremos aqui, especificamente, acerca do benefício do auxílio-
reclusão, que segundo Amado (2014a), é devido aos dependentes do segurado de baixa renda
recolhido à prisão que não receber remuneração de empresa nem estiver em gozo de auxílio-
doença ou aposentadoria, vejamos o que diz Russomano, sobre o assunto,
O criminoso, recolhido à prisão, por mais deprimente e dolorosa que seja sua
posição, fica sob a responsabilidade do Estado. Mas, seus familiares perdem o apoio
econômico que o segurado lhes dava e, muitas vezes, como se fossem os verdadeiros
culpados, sofrem a condenação injusta de gravíssimas dificuldades. Inspirado nessas
ideias, desde o início da década de 1930, isto é, no dealbar da fase de criação, no
Brasil, dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, nosso legislador teve o cuidado de
enfrentar o problema e atribuir ao sistema de Previdência Social o ônus de amparar,
naquela contingência, os dependentes do segurado detento ou recluso.
(RUSSOMANO, apud, CASTRO, p.823, 2014).
Com base nessa ideia, a Previdência Social consiste num sistema que garante não
só ao segurado, mas também à sua família, o sustento em casos de eventos que não permitam
a sua manutenção por conta própria, é justo que, da mesma forma que ocorre com a pensão
por morte, os dependentes do segurado também venham a ter esse direito, para o custeio de
sua sobrevivência pelo sistema de seguro social, tendo em vista o ideal de solidariedade.
2.3 O direito à seguridade social como direito fundamental da pessoa humana
Os direitos humanos surgiram em decorrência das consequências da Segunda
Guerra Mundial, com o objetivo de promover os direitos fundamentais e, consequentemente,
garantir a dignidade da pessoa humana e a igualdade entre os indivíduos.
17
A Seguridade Social está prevista na Constituição Federal de 1988, nos artigos
194 a 204, e na Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 22, constituindo-
se essencialmente como direito humano fundamental, senão vejamos respectivamente,
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social. (BRASIL, 1988)
Artigo 22.Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à
segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação
internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos
econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre
desenvolvimento da sua personalidade. (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
DIREITOS HUMANOS, grifo nosso)
Conforme Ibrahim (2011), ao longo dos anos novas garantias vão se agregando
aos direitos humanos, tendo sido as últimas voltadas para a redução das desigualdades sociais,
em que pesem os riscos sociais como um problema de toda a sociedade e não somente do
particular.
Assim, a Previdência Social surge como um direito fundamental de 2ª geração,
uma vez que proporciona uma proteção individual aos beneficiários atendendo as condições
mínimas de igualdade, pois o trabalhador e seus dependentes diante da impossibilidade de
executar suas atividades laborativas, poderão vir a ficar à margem da sociedade sem qualquer
assistência, por sua vez, incumbe ao Estado intervir nessa situação com o intuito de proteger a
dignidade daquele indivíduo.
De acordo com Castro, Lazzari (2014), os direitos sociais são considerados
direitos fundamentais e o Estado tem o dever de agir frente aos problemas decorrentes das
desigualdades econômicas e sociais.
Portanto, é dever do Estado à garantia dos direitos fundamentais, devendo
assegurar e proporcionar condições mínimas de sobrevivência àqueles incapacitados de
manter por conta própria uma vida digna.
Alexandre de Moraes assim define os direitos sociais,
18
Direitos sociais são direitos fundamentais do homem, caracterizando-se como
verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de
Direito, tendo por finalidade a melhoria de condições de vida aos hipossuficientes,
visando à concretização da igualdade social, e são consagrados como fundamentos
do Estado democrático, pelo art. 1º, IV, da Constituição Federal. (MORAES, p.206,
2011).
Nesse mesmo sentido, Ibrahim (2011) nos diz que os direitos sociais exigem do
Estado obrigações positivas, demandando recursos para a sua execução, sendo esta uma
característica de todo e qualquer direito fundamental, uma vez que os direitos sociais impõem
algum tipo de ação do Poder Público.
Dessa forma, a Seguridade Social objetiva proporcionar o bem-estar social e
amenizar os riscos sociais diante de determinadas circunstâncias que possibilitem privar o
indivíduo e/ou sua família de sua dignidade, ou seja, condições mínimas de sobrevivência.
Para tanto, segundo Moraes, “a Seguridade Social compreende um conjunto integrado de
ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar à saúde, à
previdência e à assistência social.” (MORAES, 2011,p. 848).
Logo, o direito à Seguridade Social constitui-se como um direito fundamental da
pessoa humana, uma vez que busca assegurar à saúde, à assistência social e à previdência, na
tentativa de alcançar uma sociedade que proporcione condições dignas de vida, seja para
todos, ou para os que dela necessitem, ou para os que com ela contribuem respectivamente.
19
3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PREVIDENCIÁRIOS
O Direito Previdenciário é ramo do Direito Público que trata dos benefícios e do
funcionamento dos órgãos públicos da Assistência Social, Saúde Pública e da Previdência
Social.
O que diferencia a Previdência Social da saúde pública e da assistência social, é
que a primeira possui caráter contributivo, pois somente terão cobertura às pessoas que
contribuem e se filiam ao regime previdenciário, sendo este requisito fundamental para a
concessão de qualquer benefício previdenciário.
O Direito Previdenciário possui princípios próprios que se encontram dispostos na
Constituição Federal de 1988 e, também, na Lei nº 8.212 de 24, de julho de 1991.
Por sua vez os princípios são fundamentos da norma positivada e são usualmente
utilizados para suprir as lacunas e omissões da lei, tendo a importante função de orientar o
operador do Direito na interpretação de determinado dispositivo.
Já os princípios constitucionais formam a base do direito, assegurando a
democracia, os direitos e as garantias fundamentais de forma que as demais normas deverão
estar em conformidade com a Constituição Federal de 1998.
Dentre os princípios do Direito Previdenciário podemos destacar os que se
aplicam ao benefício do auxílio-reclusão: o princípio da dignidade da pessoa humana, o
princípio da proteção da família, o princípio da individualização da pena, o princípio da
solidariedade, o princípio da erradicação da pobreza, o princípio da legalidade, o princípio da
universalidade e da cobertura do atendimento e o princípio da obrigatoriedade da filiação.
3.1 Princípio da dignidade humana
O princípio da dignidade humana está previsto no art. 1º, inciso III, da
Constituição Federal de 1988 e visa assegurar que todo ser humano tenha o direito à
existência plena e saudável.
20
Segundo Alexandre Moraes este princípio representa,
[…] um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente
na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a
pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo
invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente
excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos
fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas
as pessoas enquanto seres humanos [...] (MORAES, 2011, p. 24).
Na Previdência Social este princípio como bem assevera Horvat (2005), reflete o
desejo do constituinte em garantir ao indivíduo, meios mínimos para sua subsistência de
forma digna em momento em que não possa por si mesmo suprir suas necessidades.
Logo, o Estado tem o dever de garantir a toda pessoa, meios que favoreçam sua
inclusão social, bem como condições e oportunidades, capazes de possibilitar o
desenvolvimento de seu potencial seja na saúde, educação, na assistência aos mais
necessitados ou na solidariedade refletida na previdência.
No que se refere ao benefício do auxílio-reclusão, o princípio da dignidade
humana visa assegurar a família e aos dependentes do condenado preso condições de
subsistência fundamental a uma digna e saudável uma vez que o provedor da família
encontra-se impossibilitado de fazê-lo.
3.2 Princípio da legalidade
O princípio da legalidade encontra previsão no art. 5º, inciso II da Constituição
Federal de 1988 e trata da subordinação de pessoas, órgãos ou entidades às leis, assegurando,
por exemplo, a concessão do benefício do auxílio-reclusão, aos que preencherem os requisitos
dispostos na lei específica, não se constituindo numa mera discricionariedade, pois sua
concessão está vinculada à lei.
Conforme Alexandre de Moraes, o princípio da legalidade,
[...] visa combater o poder arbitrário do Estado. Só por meio das espécies normativas
devidamente elaboradas conforme as regras de processo legislativo constitucional
21
podem-se criar observações para o indivíduo, pois são expressão da vontade geral.
Com o primado soberano da lei, cessa o privilégio da vontade caprichosa do detentor
do poder em benefício da lei. Conforme salientam Celso Bastos e Ives Gandra
Martins, no fundo, portanto, o princípio da legalidade mais se aproxima de uma
garantia constitucional do que de um direito individual, já que ele não tutela um bem
da vida, mas assegura ao particular a prerrogativa de repelir as injunções que lhe
sejam impostas por uma outra via que não seja a da lei [...] (MORAES, p.45, 2011).
Logo, o benefício do auxílio-reclusão é concedido apenas aos que preencherem os
requisitos dispostos na Lei 8.213 de 24 de julho de 1991, quais sejam: ser dependente do
segurado de baixa renda recolhido à prisão, que não esteja recebendo remuneração da
empresa nem esteja em gozo de auxílio-doença, abono de permanência em serviço ou
aposentadoria.
3.3 Princípio da obrigatoriedade da filiação
Entende-se que este princípio é fundamental, pois de acordo com Amado (2014a),
grande parte da população não programaria espontaneamente o seu futuro e caso a adesão ao
regime fosse facultativa, provavelmente, poucos trabalhadores se filiariam.
Diante disso, na ocorrência das contingências sociais as pessoas não filiadas
certamente iriam onerar o Estado com a prestação dos benefícios assistenciais sem contar com
o aumento da miséria no país.
Afirma Amado:
Logo, como uma medida positiva e salutar de um Estado Social que deve intervir
para a garantia de direitos sociais e econômicos andou bem o legislador
constitucional ao prever a obrigatoriedade de filiação ao RGPS dos trabalhadores em
geral. (AMADO, 2014b, p.123).
Portanto, este princípio viabiliza o sistema previdenciário, garantindo a todos os
contribuintes a proteção no momento do evento que gera a necessidade social.
No entanto, vale ressaltar que os princípios não atuam isoladamente, mas sim em
conjunto, numa verdadeira interação como bem assevera Ibrahim,
22
[...] Matematicamente, pode-se comparar a ação dos princípios a uma soma de
vetores em vários sentidos e direções- haverá uma resultante em um caminho
intermediário. Assim funcionam os princípios, como o da universalidade de
cobertura e atendimento, que é limitado por outros, como o da preexistência do
custeio em relação ao benefício ou serviço. (IBRAHIM, 2011, p.66).
Dessa forma, à luz da Constituição Federal o benefício do auxílio-reclusão é
plenamente justificável, uma vez que está em consonância com princípios fundamentais da
Carta Magna.
3.4 Princípio da universalidade e da cobertura do atendimento
O art.194 da Constituição Federal de 1988 elenca os princípios da Seguridade
Social, dentre eles o da universalidade e da cobertura do atendimento.
Conforme Amado (2014a), a Seguridade Social deverá atender a todos os
necessitados através da assistência social e da saúde, pois independem de pagamento. No
entanto, a Previdência Social tem a sua universalidade limitada, já que atende apenas aqueles
que contribuem para tanto.
Neste sentido, a Seguridade Social deve abranger ao máximo os riscos sociais
existentes, vejamos,
Este princípio possui dimensões objetiva e subjetiva, sendo a primeira voltada a
alcançar todos os riscos sociais que possam gerar o estado de necessidade
(universalidade de cobertura) enquanto a segunda busca tutelar toda a pessoa ao
sistema protetivo (universalidade de atendimento). A universalidade de cobertura e
atendimento é inerente a um sistema de seguridade social, já que este visa ao
atendimento de todas as demandas sociais na área securitária. Além disso, toda a
sociedade deve ser protegida, sem nenhuma parcela excluída. Obviamente este
princípio é realizável, na medida em que recursos financeiros são obtidos...
(IBRAHIM, 2011, p.66).
Sendo assim, para que sejam criadas as prestações previdenciárias é fundamental
a existência do seu respectivo custeio, uma vez que a universalidade é atingida dentro das
possibilidades do sistema.
De acordo com Castro, Lazzari (2014), por este princípio entende-se que para
23
manter a subsistência de quem necessita, a Previdência Social deverá alcançar a todos os
eventos cuja reparação seja urgente.
Neste sentido, a Previdência Social deve alcançar todas as situações sociais que
tenham o caráter de urgência a fim de proporcionar a subsistência do contribuinte e de seus
dependentes; já no que se refere à saúde e à assistência social uma vez verificado sua
necessidade devem ser prestados a todos que dela necessitem.
3.5 Princípio da solidariedade
Conforme o princípio da solidariedade que está disposto no art. 3º, inciso I da
Constituição Federal de 1988, este tem enorme aplicabilidade no âmbito da Seguridade Social,
já que se refere à responsabilidade do Estado e da sociedade na socialização dos riscos, uma
vez que os recursos os quais mantêm o sistema da previdência são oriundos dos orçamentos
públicos e das contribuições sociais.
Para Ibrahim (2011), este princípio é o de maior importância, pois revela o sentido
da Previdência Social, no tocante à proteção coletiva, já que as pequenas contribuições
individuais geram recursos suficientes para a criação de um manto protetor para todos, o que
viabiliza a concessão das prestações previdenciárias.
De acordo com Castro, Lazzari (2014),
A Previdência Social se baseia, fundamentalmente, na solidariedade entre os
membros da sociedade. Assim, comoa noção de bem-estar coletivo repousa na
possibilidade de proteção de todos os membros da coletividade, somente a partir da
ação coletiva de repartir os frutos do trabalho, com a cotização de cada um em prol
do todo, permite a subsistência de um sistema previdenciário. Uma vez que a
coletividade se recuse a tomar como sua tal responsabilidade, cessa qualquer
possibilidade de manutenção de um sistema universal de proteção social. (CASTRO,
LAZZARI, p.86, 2014).
Assim, o princípio da solidariedade tem por objetivo proporcionar proteção a
todos, de maneira que toda a sociedade divida com o Estado tal responsabilidade,
possibilitando, assim, à proteção de pessoas em momentos de necessidade, já que naquele
momento não podem prover sua subsistência por si mesmo.
24
3.6 Princípio da proteção da família
A família tem proteção prevista no art. 226, da Constituição Federal de 1988.
Conforme Daniel Mourgues Cogoy, por este princípio compreende-se que,
Na seara previdenciária, a família é protegida por meio dos benefícios de pensão por
morte e auxílio-reclusão. Em ambos o risco social atendido é a perda da fonte de
subsistência do núcleo familiar, na primeira hipótese em razão do óbito do segurado,
na segunda, por ocasião de sua detenção prisional. Sendo assim, o auxílio-reclusão é
prestação pecuniária, de caráter substitutivo, destinado a suprir, ou pelo menos
minimizar, a falta do provedor as necessidades econômicas dos dependentes.
(COGOY, s.p., s.d.)
Muitas vezes, a família do preso perde o apoio econômico que o segurado lhe
dava, vindo a passar por grandes dificuldades. Diante disso, o auxílio-reclusão se destina a
minimizar a falta do provedor a fim de suprir as necessidades financeiras de seus dependentes,
proporcionando condições dignas de subsistência, protegendo a família do segurado de
situações de necessidades e de miséria.
Dessa forma, o benefício do auxílio-reclusão se destina aos dependentes do preso
que não têm condições de prover sua subsistência por si só.
Logo, este princípio protege à família que já se encontra afastada do convívio com
o segurado e necessita deste benefício para a sua manutenção.
3.7 Princípio da individualização da pena
Pelo princípio da individualização da pena previsto no art. 5º, inciso XLV da
Constituição Federal de 1998, assegura que nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
logo, o condenado deverá arcar com as consequências do seu delito, mas essas consequências
não se estendem aos seus familiares.
No tocante a concessão do benefício do auxílio-reclusão compreende-se o
seguinte,
25
De fato, cabe ao condenado arcar com as consequências de seu delito. Porém, esta
responsabilidade não se estende aos seus familiares. Ora, não bastasse o sofrimento
da família em ser alijada do convívio do recluso, em razão de evento para o qual não
concorreu, a prisão do segurado pode gerar toda uma série de consequências
econômicas para seus dependentes. Cabe ao Estado o dever de zelar pela
minimização de tais prejuízos. (COGOY, s.p. s.d.)
Portanto, por este princípio entende-se que a família do condenado preso e que
deste dependia para manter-se, não poderá ser penalizada e vir a sofrer privações para suprir
suas necessidades básicas, uma vez que se encontra impossibilitado de prover a subsistência
de seus familiares e dependentes, devendo o Estado, por meio que a lei lhe possibilita fazer,
suprir essa necessidade, o que atualmente ocorre por meio da concessão do benefício do
auxílio-reclusão.
3.8 Princípio da erradicação da pobreza
Já o princípio da erradicação da pobreza está disposto no art. 3º, inciso III da
Constituição Federal de 1988, constituindo-se como um dos objetivos fundamentais da Carta
Magna, senão vejamos,
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988, grifo nosso).
26
Dessa forma, cabe ao Estado e a sociedade a proteção da família que se encontra
desamparada financeiramente, tendo em vista que o seu provedor encontra-se impossibilitado
em decorrência de sua prisão, o que justifica a concessão do referido benefício, a fim de evitar
que a família do preso venha a passar por situações de miséria.
27
4 O BENEFÍCIO DO AUXÍLIO-RECLUSÃO
De acordo com Horvath (2005, p.103), conforme estudos de reconstrução
histórica feito por Fernando Mota, o primeiro pagamento de auxílio-reclusão no país, foi
efetivado pelo Mongeral Previdência Privada, disposto no Decreto da Regência de 10 de
janeiro de 1835, como Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado.
A previdência através do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos-
IAPM tratou deste benefício apenas, em 1933, por meio do Decreto n°22.872 de 29 de junho
de 1933, que tratou a matéria em seu art. 63. Estando, ainda, disposto no Decreto n.º 54 de 12
de setembro de 1934, do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários- IAPB.
Todavia, foi somente em 1960, por meio do art. 43 da Lei Orgânica da
Previdência Social é que o benefício do auxílio-reclusão passou a ser direito de todos os
segurados da Previdência Social.
Assim, o benefício do auxílio-reclusão teve sua primeira previsão constitucional
no art. 201, inciso IV da Constituição Federal de 1988, sendo limitada a sua concessão apenas
aos dependentes do segurado de baixa renda, conforme disposto na Emenda Constitucional
n.º20/98. Sua regulamentação específica está prevista no art. 80 da Lei n.º 8.213 de 24 de
julho de 1991; art. 2º, da Lei 10.666 de 08 de maio de 2003, e art.116 ao art.119 do Decreto
3.048 de 06 de maio de 1999.
Vale ressaltar que este benefício previdenciário é devido aos dependentes do
segurado, inscrito e filiado à Previdência Social que foi recolhido à prisão pelo cometimento
de crime e desde que atendidos os requisitos dispostos na Lei.
A previdência constitui-se num verdadeiro sistema de proteção ao segurado e à
sua família, uma vez que em virtude da prisão, aquele indivíduo temporariamente se tornou
impossibilitado de prover a sua subsistência e de sua família por conta própria. Do mesmo
modo, que é devido na concessão dos demais benefícios, é mais do que justo, que o sistema
assegure aos dependentes do segurado o direito ao custeio de sua sobrevivência pelo sistema
previdenciário.
28
4.1 Auxilio-reclusão – conceito e requisitos
Trata-se de benefício previdenciário concedido aos dependentes do segurado da
Previdência Social, que por ocasião de sua prisão encontra-se impossibilitado de suprir às
necessidades básicas de sua família, conforme informações do Instituto Nacional do Seguro
Social o valor médio deste benefício é de R$ 727,79, uma vez que esse valor varia de acordo
com o valor das contribuições que o preso fez ao Regime Geral da Previdência Social.
O benefício é devido enquanto o segurado estiver recolhido à prisão e enquanto
nesta permanecer, seja no regime fechado ou semiaberto, durante o período de reclusão ou
detenção, ainda que não prolatada a sentença condenatória. É o que dispõe o art. 116, § 5º do
Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999, vejamos,
Art. 116 (…) §5º. O auxílio-reclusão é devido, apenas, durante o período em que o
segurado estiver recolhido à prisão sob regime fechado ou semiaberto. (BRASIL,
1999).
Fundamental para que os dependentes do preso façam jus ao benefício, é que o
preso esteja contribuindo com a Previdência Social, estando na ocasião da prisão revestido da
qualidade de segurado ou durante o período de graça, no qual mesmo sem contribuir a pessoa,
(neste caso o preso), mantém seus direitos previdenciários.
No entanto, como bem assevera Amado (2014b), o benefício do auxílio-reclusão é
devido nos casos de prisão cautelar, na prisão temporária, na prisão em flagrante e na prisão
preventiva, uma vez que o segurado encontra-se impedido de exercer qualquer trabalho para o
sustento de seus dependentes, vejamos o posicionamento dos Tribunais, acerca do assunto,
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AUXÍLIO-RECLUSÃO.
REMESSA OFICIAL NÃO CONHECIDA. REQUISITOS. DESTINATÁRIO DA
RESTRIÇÃO. DEPENDENTE DO RECLUSO. PRÉ-QUESTIONAMENTO. 1.
Remessa oficial não conhecida, tendo em vista a nova redação do artigo 475, § 2º,
do Código de Processo Civil, determinada pela Lei nº 10.352/01. 2. O auxílio-
reclusão é devido aos dependentes de baixa renda, dos segurados recolhidos à
prisão, que não recebam remuneração da empresa nem estejam em gozo de
auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em serviço, desde que
o seu último salário-de-contribuição seja inferior ou igual a R$ 468,47
(quatrocentos e sessenta e oito reais e quarenta e sete centavos), conforme
disposto no artigo 201, inciso IV, da Constituição Federal, artigo 80 da Lei nº
8.213/91, artigo 116 do Decreto nº 3.048/99, bem como pela Portaria nº 525/02
29
do Ministério da Previdência Social. 3. Entrementes, tal disposição não se dirige
ao ex-segurado, mas a seus dependentes, vale dizer, o que colhe aferir é se a
renda mensal desses últimos ultrapassa o montante lá ventilado, eis que se trata
de benefício previdenciário disponibilizado não ao próprio trabalhador, mas
aos seus beneficiários - aqueles a que faz alusão o artigo 16 da Lei nº 8.213/91 -
que, em virtude da inviabilidade do exercício de atividade laborativa no âmbito
do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) pelo recluso, deixam de contar
com rendimento substancial para a sua mantença. 4. Na espécie, infere-se que o
segurado foi recolhido à prisão em 20.05.2003, conforme Auto de Prisão em
Flagrante, sendo certo que nessa época detinha a qualidade de segurado da
Previdência Social conforme se constata dos documentos juntados com a exordial. 5.
A União Estável restou comprovada através do documento (fl. 26), sendo que a
dependência econômica é presumida ante o teor do artigo 16, inciso I e §4º da Lei de
Benefícios. 6. Inocorrência de violação aos dispositivos legais objetados no recurso
a justificar o pré-questionamento suscitado em apelação. 7. Remessa oficial não
conhecida. Apelação não provida. (Tribunal Regional Federal da 3ª Região, 7ª
Turma. Relator Desembargador Federal Antônio Cedenho. APELAÇÃO
REEXAME NECESSÁRIO 1.262.920, processo: 0007266-97.2006.4.03.6114. São
Paulo. 09.06.2008. grifo nosso).
Importante ressaltar o entendimento do Instituto Nacional do Seguro Social acerca
da possibilidade de concessão do benefício, também, ser devido na hipótese de aplicação de
medida socioeducativa de internação de adolescentes, segundo dispõe o art.112, inciso VI, da
Lei n.º8069/90, de 13 de julho de 1990.
Conforme Amado (2014a), o auxílio-reclusão não será devido nos casos de prisão
civil oriundo de dívidas de prestação de alimentos, pois se trata de um meio de coerção para o
pagamento dos alimentos, não tendo o cunho de punição.
Segundo o art. 80 da Lei n.° 8.213/91, o benefício do auxílio-reclusão é devido,
nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado de baixa renda
recolhido à prisão, desde que não esteja mais recebendo remuneração da empresa nem esteja
em gozo de auxílio-doença, aposentadoria, ou abono de permanência de serviço (atualmente
extinto).
Ou seja, a legislação previdenciária não traz nenhuma vedação ao recebimento
concomitante do auxílio-reclusão com os benefícios do auxílio-acidente ou pensão por morte
ou salário-maternidade.
30
Quanto à restrição do auxílio-reclusão a ser concedido apenas aos dependentes do
segurado preso de baixa renda2
, nos Recursos Extraordinários RE 587.365 e 486.413 julgados
em 25.03.2009, o Supremo Tribunal Federal ratificou o entendimento de que para a
instituição deste benefício a renda do segurado preso é que deve ser utilizada como parâmetro
para a concessão do benefício, senão vejamos:
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. CONSTITUCIONAL. RECURSO
EXTARORDINÁRIO. AUXÍLIO-RECLUSÃO. ART. 201, IV, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LIMITAÇÃO DO UNIVERSODOS
CONTEMPLADOS PELO AUXÍLIO-RECLUSÃO. BENEFÍCIO RESTRITO AOS
SEGURADOS PRESOS DE BAIXA RENDA. RESTRIÇÃO INTRODUZIDA
PELA EC/20/1998. SELETIVIDAE FUNDADA NA RENDA DO SEGURADO
PRESO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. I- Segundo decorre do art.
201, IV, da Constituição, a renda do segurado preso é que a deve ser utilizada
como parâmetro para a concessão do benefício e não de seus dependentes. II-
Tal compreensão se extrai da redação dada ao referido dispositivo pela EC 20/1998,
que restringiu o universo daqueles alcançados pelo auxílio-reclusão, a qual adotou o
critério da seletividade para apurar a efetiva necessidade dos beneficiários. III-
Diante disso, o art. 116 do decreto 3.048/199 não padece do vício da
inconstitucionalidade. IV- recurso extraordinário conhecido e provido. (Supremo
Tribunal Federal. Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Órgão Julgador:
Tribunal Pleno. RE/ Santa Catarina. 587.365, de 25.03.2009. grifo nosso).
Assim, o segurado para o recebimento do auxílio-reclusão deverá comprovar sua
baixa renda, cuja atualização deverá ser feita de acordo com a Portaria Interministerial do
MPS/MF e, atualmente, utiliza-se a de nº 19, de 10/01/2014, a qual determina que será
instituidor deste benefício o segurado que receber a remuneração mensal de até R$1.025,81,
de acordo com o art. 13, da Emenda 20/1998. No entanto, conforme o entendimento do
Instituto Nacional do Seguro Social, não havendo salário de contribuição na data da prisão,
deve-se considerar o último salário de contribuição do segurado.
Para Amado (2014a), ainda que o último salário de contribuição do segurado seja
superior ao valor máximo fixado como de baixa renda, o pedido do benefício deverá ser
concedido, tendo em vista que no momento da prisão o segurado estava em período de graça,
pois se encontrava desempregado sem receber qualquer tipo de renda.
2
Art. 13. Até que a lei discipline o acesso ao salário-família e auxílio-reclusão para os servidores, segurados e
seus dependentes, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou
inferior a R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), que, até a publicação da lei, serão corrigidos pelos mesmos
índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social. (EC 20/1998)
31
Sendo esse também o posicionamento dos Tribunais vejamos,
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. CONSTITUCIONAL. REMESSA TIDA POR
INTERPOSTA. AUXÍLIO-RECLUSÃO. ART. 201, IV, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. REMUNERAÇÃO DE ATÉ R$ 360,00. EC 20/98, ART. 13.
SEGURADO DESEMPREGADO QUANDO DA PRISÃO. REMESSA TIDA POR
INTERPOSTA E APELAÇÃO DESPROVIDAS. 1. Tenho como interposta a
remessa oficial. Nos termos do que dispunha o art. 12 § único, da Lei 1.533, de
31/12/51, preceito reproduzido pelo art. 14, § 1º, da Lei 12.016, de 07/08/2009, é
assegurado duplo grau obrigatório de jurisdição às sentenças concessivas de
mandado de segurança. 2. Os seguintes requisitos são necessários para a concessão
do benefício de auxílio-reclusão: a) que o preso seja segurado da Previdência Social,
independentemente de carência; b) que o segurado seja recolhido à prisão e não
perceba qualquer remuneração e nem esteja em gozo de auxílio-doença, de
aposentadoria ou de abono de permanência em serviço; c) que os dependentes sejam
aqueles assim considerados pelo art. 16 da Lei 8213/91, sendo que, para os
indicados no inciso I do referido artigo legal a dependência econômica é presumida,
devendo ser comprovada, em relação aos demais; d) por fim, o requisito relativo à
baixa-renda.3. Torna-se necessário contextualizar o ato coator em face de outras
premissas igualmente relevantes, tais como a data em que adquirido o direito ao
benefício, a legislação a ele aplicável e sua interpretação.4. A prisão do segurado,
conforme noticiam os autos, ocorreu em 21/08/2002 (fl. 23), data em que efetivou o
fator determinante para o auxílio-reclusão. Nesta data, apesar de ainda ostentar a
condição de segurado por força de disposição legal ao consagrar o período de graça
(fl. 17), é fato incontroverso que o pai da Impetrante não percebia remuneração
alguma desde 19/01/2001 (fl. 25), por estar desempregado.5. Estando o pai da
impetrante, no momento em que foi recolhido à prisão, na condição de
segurado, bem como desempregado, é notório o direito da impetrante ao
benefício de auxílio reclusão, à luz dos dispositivos legais supracitados, em
especial o parágrafo primeiro do artigo 116 do Decreto n.º 3.048/99.6.Apelação
e remessa oficial, tida por interposta, desprovidas. (Tribunal Regional Federal da 1ª
Região, 2ª Turma Suplementar. Relator: Juíza Federal Rogéria Maria Castro Debelli.
AMS 2004.38.01.004047-1/ MG. Apelação em Mandado de Segurança. 06.07.2011.
grifo nosso).
Nesse caso, é possível o deferimento do benefício por vias judiciais, uma vez que
pelo entendimento do Instituto Nacional do Seguro Social tal condição impede a concessão do
benefício, todavia, trata-se de tema polêmico, haja vista haver posicionamentos
jurisprudenciais divergentes que por vezes corroboram com o entendimento do Instituto
Nacional do Seguro Social.
Com relação à carência não é exigido um tempo mínimo de contribuição para a
concessão do benefício, mas o segurado precisa estar contribuindo com a Previdência Social
ou estar na qualidade de segurado3
, no momento da prisão.
3
A qualidade de segurado é o período que mesmo sem contribuir, é mantido o direito à proteção da Previdência
Social.
32
A data de início do benefício é a data da prisão, mas se o requerimento for
protocolizado a data posterior a 30 dias da data da prisão, a data de início do benefício será a
data de entrada do pedido junto a Previdência Social.
O art. 119 do Decreto 3.048, de 06 de maio de 1999, estabelece à vedação a
concessão do benefício do auxílio-reclusão após a soltura do segurado. No entanto, a
jurisprudência tem adotado o seguinte entendimento:
EMENTA:AUXÍLIO-RECLUSÃO.COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS
LEGAIS. DEPENDENTES DO SEGURADO. SOLTURA POSTERIOR NÃO
RETIRA DOS DEPENDENTES O DIREITO AO BENEFÍCIO DURANTE O
PERÍODO EM QUE O SEGURADO PERMANECEU PRESO. A DEMORA DA
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO PODE PREJUDICAR A PARTE QUE A
ELA NÃO DEU CAUSA. 1 - Restou demonstrada a qualidade de segurado
(trabalhador urbano nos doze meses anteriores à prisão) e dos seus dependentes,
perante o INSS, bem como a prisão preventiva e a condenatória do segurado. 2 -
Preenchidos os requisitos legais, posterior soltura do segurado não implica em
perda de direito dos seus dependentes às parcelas vencidas, durante o período
da prisão. 3 - Correção monetária, desde cada vencimentos e juros moratórios de 6%
ao ano, desde a citação do INSS. Cálculos conforme o Provimento nº 24/97 do TRF
da 3ª Região. 4. Apelação a que se dá provimento. (Tribunal Regional Federal da 3ª
Região. 2ª turma. Relator: Juíza convocada em substituição Vera Lúcia Jucovsky.
AC APELAÇÃO CÍVEL 282.942. processo: 0086136-30.1995.4.03.9999. São
Paulo. 28.08.2001.grifo nosso).
Desse modo, para o requerimento do benefício do auxílio-reclusão deve-se
apresentar a certidão do recolhimento à prisão, e para a sua continuidade deve-se apresentar a
declaração de permanência de situação de presidiário trimestralmente, sob pena de sua
suspensão.
Conforme Amado (2014a), na ocorrência de fuga, será suspenso o benefício do
auxílio-reclusão, mas havendo a recaptura do segurado, o benefício será restabelecido
contando da data em que ocorrer o retorno do detento a prisão, para tanto deverá está mantida
a condição de segurado.
Logo, se o preso for recapturado e já estiver acabado o período de graça, não será
mais devido o pagamento do referido benefício, tendo em vista que não estará mais na
condição de segurado. De acordo com o art. 118 da Lei nº 3.048 de 06 de maio de 1999, no
33
caso de falecimento do preso segurado, deverá o INSS converter automaticamente o auxílio-
reclusão em pensão por morte.
4.2 Os beneficiários do auxílio-reclusão
Tem direito ao referido benefício, dependentes dos segurados da Previdência
Social que estão elencados no art. 16 da Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991, desde que o
último salário de contribuição não ultrapasse o valor definido anualmente pela Portaria
Ministerial, conforme já mencionado.
São beneficiários do benefício do auxílio-reclusão:
Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de
dependentes do segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer
condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência
intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado
judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)
II - os pais;
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos
ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou
relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº
12.470, de 2011)
§ 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do
direito às prestações os das classes seguintes.
§ 2º .O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do
segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida
no Regulamento. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997)
§ 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada,
mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do
art. 226 da Constituição Federal.
§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a
das demais deve ser comprovada. (BRASIL, 1991).
Assim, o Ministério da Previdência Social com base no art. 16 da Lei nº 8.213 de
34
24 de julho de 1991, define três grupos de dependentes: no primeiro grupo temos: o cônjuge,
companheiro ou companheira, o filho não emancipado até 21 anos de idade, ou o filho
inválido de qualquer idade; no segundo grupo temos: os pais; e no terceiro grupo está: o
irmão não emancipado de qualquer condição, até 21 anos de idade, ou inválido de qualquer
idade.
Vale ressaltar que conforme o art. 77, da Lei nº 8.213/1991, o valor do auxílio-
reclusão é dividido de forma igual entre todos os dependentes do mesmo grupo, no entanto,
segundo o art. 16, § 1º, da referida lei: “uma vez existindo representantes de um grupo, os dos
outros grupos não têm direito ao benefício” (BRASIL, 1991).
De acordo com Amado (2014a), é muito comum a ocorrência de casamentos com
detentos a fim de obter o benefício do auxílio-reclusão, o que segundo o autor atenta contra o
Princípio do Equilíbrio Financeiro e Atuarial da Previdência Social atingindo toda a sociedade,
uma vez que a União arcará supletivamente com a insuficiência de recursos do Regime Geral
da Previdência Social, neste sentido também é o entendimento dos Tribunais pátrios, vejamos,
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AUXÍLIO-RECLUSÃO.
REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA.
QUALIDADE DE SEGURADO. ARTIGO 80 DA LEI Nº 8.213/91 E ARTIGO 116,
§3º DO DECRETO Nº 3.048/99. 1. O auxílio-reclusão é devido aos dependentes de
baixa renda, dos segurados recolhidos à prisão, que não recebam remuneração da
empresa nem estejam em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou abono de
permanência em serviço. 2. Em relação à dependência econômica da Autora ao
segurado recluso, a Lei nº 8.213/91 em seu artigo 80, regulamentada pelo Decreto nº
3.048/99, artigo 116 §3º estabelece que o benefício de auxílio-reclusão é devido aos
dependentes do recluso no momento do recolhimento à prisão, sendo necessário no
caso dos dependentes após a reclusão ou detenção do segurado, a preexistência da
dependência. 3. Constata-se em razão da documentação acostada à inicial que a
Autora se casou com o segurado em 23.12.2005 (fl. 110), e que, nesta época, ele já
se encontrava cumprindo pena privativa de liberdade na Penitenciária I de
Hortolândia, e isto desde 02 de fevereiro de 2005 (atestado de permanência
carcerária - fl. 108), sendo que desde 22.06.93, já vinha cumprindo pena privativa de
liberdade em várias penitenciárias e cadeias públicas do interior (atestados fls. 14/17
e 106/108). 4. Tendo em vista que o matrimônio ocorreu quase um ano após o
recolhimento do segurado à prisão, não há como conceder o benefício em razão
da não comprovação da vida em comum entre a Autora e o apenado à data da
prisão. 5. Assim como o benefício de pensão por morte (art. 80, Lei n. 8.213/91), o
auxílio-reclusão prescinde de carência, desde que propriamente comprovados os
requisitos para a concessão do referido benefício, quais sejam, a qualidade de
segurado à época do recolhimento deste à prisão e seu efetivo encarceramento. 6.
Não demonstrada a qualidade de segurado e a efetiva dependência econômica
da Autora com o recluso, não há como conceder o benefício. 7. Apelação não
provida. (Tribunal Regional Federal da 3ª Região.7ª Turma. Relator:
35
Desembargador Federal Antonio Cedenho. AC APELAÇÃO CÍVEL 1330685.
Processo n.º 0034773-47.2008.4.03.9999. São Paulo. 13.10.2008. grifo nosso).
De acordo com art.336, da Instrução Normativa do Instituto Nacional do Seguro
Social nº 45, de 06 de agosto de 2010, o filho nascido durante o recolhimento do segurado à
prisão terá direito ao recebimento do benefício do auxílio-reclusão a partir da data do seu
nascimento.
4.3 A constitucionalidade do auxílio-reclusão
Como bem menciona Horvat, “o legislador seleciona do mundo fático aquilo que
considera importante determinar na norma jurídica.”(HORVAT,2005, p. 137). Diante disso, o
benefício do auxílio-reclusão encontra-se previsto no art. 201, inciso IV da Constituição
Federal de 1988.
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no § 2º. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998) (BRASIL, 1988).
E ainda sobre a interpretação deste benefício, esclarece Russomano,
O criminoso, recolhido à prisão, por mais deprimente e dolorosa que seja sua
posição, fica sob a responsabilidade do Estado. Mas, seus familiares perdem o apoio
econômico que o segurado lhes dava e, muitas vezes, como se fossem verdadeiros
culpados, sofrem a condenação injusta de gravíssimas dificuldades.
36
Inspirado por essas ideias, desde o início da década de 1930, isto é, no dealbar da
fase de criação, no Brasil, dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, nosso
legislador teve o cuidado de enfrentar o problema e atribuir ao sistema de
Previdência Social o ônus de amparar; naquela contingência, os dependentes do
segurado detento ou recluso. (RUSSOMANO, apud, CASTRO, LAZZARI,
P.823,2014).
E por mais que alguns defendam a sua extinção, trata-se de um benefício o qual
tem por base os princípios constitucionais de suma importância para que se alcancem os
objetivos fundamentais da nossa Carta Magna.
Atentemos, ainda, ao princípio da legalidade, ao princípio da erradicação da
pobreza, os quais estão de acordo com o princípio da obrigatoriedade de filiação, uma vez que
o benefício do auxílio-reclusão é devido apenas aos filiados e contribuintes da previdência
social, diferentemente do que muitos imaginam ser um direito de todo e qualquer preso.
Vale ressaltar que, de acordo com dados os publicados no Jornal Diário do
Nordeste, de 07.04.2014, a população carcerária do Ceará, no último mês de março, que
correspondia a 19.839 pessoas, destes apenas 1.017 (ou seja, 5,12%) eram contribuintes ativos
da Previdência Social, o que possibilitou o recebimento do auxílio-reclusão pelos seus
dependentes no Ceará.
Este instituto visa à proteção da família, uma vez que por ocasião da prisão do
segurado os seus dependentes encontram-se em situação de risco, sendo a sua subsistência
ameaçada, tendo em vista que com a prisão do seu provedor, o mesmo fica impossibilitado de
garantir o sustento de sua família.
O auxílio-reclusão encontra fundamento também no art. 5º, inciso XLV, da
Constituição Federal de 1988, em que nenhuma pena deverá passar da pessoa do condenado,
logo, os dependentes do preso contribuinte da Previdência Social deverão receber o benefício,
não podendo ser penalizados por um evento do qual não participaram.
Neste sentido, compreende-se que o benefício do auxílio-reclusão além de ter a
sua previsão constitucional de forma expressa, encontra o sentido da sua existência nos
princípios constitucionais, os quais em decorrência do princípio da solidariedade são de
37
responsabilidade do Estado e da sociedade quais sejam: a proteção da família, a defesa da
dignidade da pessoa humana, bem como o compromisso com a erradicação da pobreza.
4.4 Um benefício mal visto!
O benefício da Previdência Social mais polêmico sem dúvidas trata-se da
concessão do benefício do auxílio-reclusão, para muitos se trata de um benefício onde o
Estado beneficia o criminoso, mas não atende à suposta necessidade da família da vítima do
crime.
Tendo sido inclusive tema de Proposta de Emenda à Constitucional, conforme o
Projeto de Lei nº 304/2013, proposta em anexo, apresentado no dia 29 de agosto de 2013, à
Câmara dos Deputados, pela deputada federal Antônia Lúcia (do PSC-AC).
De acordo com a PEC nº 304 de 01 de agosto de 2013, o benefício deverá ser
pago à pessoa vítima de crime pelo período em que ela ficar afastada da atividade que garanta
o seu sustento, e em caso de morte da vítima o benefício seria convertido em pensão aos
dependentes da vítima, assim, a proposta objetiva a extinção do benefício do auxílio-reclusão
para o preso invertendo o benefício para a vítima do crime ou para os seus dependentes, uma
vez que segundo o entendimento da autora, seria mais justo amparar a família da vítima do
que a família do criminoso.
Ainda, segundo a deputada, o fato do criminoso saber que sua família não ficará
ao total desamparo se ele for recolhido à prisão pode facilitar a decisão de cometer um crime;
compreende, ainda, que quando o crime implica sequelas à vítima impedirá que o mesmo
desempenhe uma função a fim de prover o próprio sustento.
No entanto, diante de uma análise previdenciária podemos observar que o
benefício do auxílio-reclusão é devido somente ao preso segurado da previdência social e, no
caso de uma vítima ficar impossibilitada para o trabalho, em razão de um cometimento de um
crime ou mesmo que venha a falecer, ela obterá o seu respectivo benefício previdenciário,
quais sejam auxílio doença e pensão por morte. Isso somente no caso de a vítima ser
contribuinte da Previdência Social, pois beneficia apenas os seus contribuintes.
38
Quanto à questão do benefício do auxílio-reclusão vir a determinar a decisão do
criminoso antes de cometer o crime, ao que parece isso não faz o menor sentido, uma vez que
o percentual de presos que recebem este benefício é ínfima, em comparação ao aumento da
ocorrência de crimes. Sendo considerado um benefício mal visto por se tratar de um benefício
previdenciário concedido a uma pessoa que cometeu um crime e que encontra-se presa.
39
5 CONCLUSÃO
O benefício do auxílio-reclusão tem previsão no art. 201, inciso IV da
Constituição Federal de 1988 e encontra-se regulado por leis específicas no art. 80 da Lei n.º
8.213 de 24 de julho de 1991; art. 2º, da Lei 10.666 de 08 de maio de 2003, e art.116 ao
art.119 do Decreto 3.048 de 06 de maio de 1999.
É devido nas mesmas condições da pensão por morte, aos dependentes do
segurado de baixa renda recolhido à prisão, desde que não esteja mais recebendo remuneração
da empresa ao qual trabalhava, nem esteja em gozo de auxílio-doença, aposentadoria, ou
abono de permanência de serviço (atualmente extinto).
Ficou esclarecido que os beneficiários do instituto em apreço são os dependentes
do segurado de baixa renda que se encontra preso, eis que se trata de benefício previdenciário
disponibilizado não ao próprio trabalhador, mas aos seus beneficiários – aqueles a que faz
alusão o artigo 16 da Lei nº 8.213/91 – que, em virtude da inviabilidade do exercício de
atividade laborativa no âmbito do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) pelo recluso,
deixam de contar com rendimento substancial para a sua manutenção. Ressalte-se que para a
concessão deste benefício não há carência.
Constatou-se que dentre os princípios da Previdência Social, destaca-se o
princípio da obrigatoriedade da filiação, o qual viabiliza o sistema previdenciário, garantindo
a todos os seus contribuintes à proteção no momento do evento que gera a necessidade social.
Dessa forma, a concessão deste benefício pela Previdência Social somente é possível aos
dependentes de seus contribuintes. Assim, uma vez verificada a condição de contribuinte e
preenchidos os requisitos dispostos no art. 116 ao art.119 do Decreto 3.048 de 06 de maio de
1999, cabível é o recebimento do benefício do auxílio-reclusão.
Constatou-se também que a data de início do recebimento do benefício será a data
do recolhimento à prisão, salvo se a data do requerimento administrativo pelos dependentes
for posterior a 30 dias da ocorrência da prisão, que nesse caso será o da data de entrada do
pedido junto ao Órgão Previdência Social.
40
Concluiu-se, ainda, que o auxílio-reclusão só será cabível quando o preso for
cumprir a pena nos regimes fechado, semiaberto, medida socioeducativa de internação e por
ocasião de medidas cautelares (temporária, em flagrante e preventiva), uma vez que o
segurado de baixa renda encontra-se impossibilitado de exercer atividades laborativas para
garantir o sustento de seus dependentes.
Observou-se, contudo, que o benefício será suspenso em caso de fuga do detento,
mas havendo sua recaptura e estando mantida a condição de segurado, será restabelecido o
recebimento do benefício aos seus dependentes, contando o recebimento da data do retorno à
prisão.
O art. 118 do Decreto nº 3.048, de 06 e maio de 1999, estabelece que falecendo o
segurado detido ou recluso, o auxílio-reclusão que estiver sendo pago aos seus dependentes
será automaticamente convertido em pensão por morte.
No entanto, no que se refere à problemática no nosso ordenamento jurídico quanto
à concessão deste benefício, que diante da Proposta de Emenda à Constituição de nº 304/2013,
a qual objetiva a extinção do benefício do auxílio-reclusão, convertendo-o em benefício à
família da vítima do crime, compreende-se que de acordo com os institutos estudados não há
a possibilidade de este benefício ser convertido em benefício para os dependentes da vítima
do crime, em razão de violar os princípios constitucionais.
Tendo em vista o caráter contributivo da Previdência Social, sendo seus
benefícios devidos somente aos seus contribuintes, caso a vítima do crime não seja
contribuinte da Previdência Social não há a possibilidade de se ter a cobertura pecuniária.
Nesse caso, as vítimas do crime ou seus dependentes poderiam ser assistidos pela seguridade
social, através do Instituto da Assistência Social, previsto no art. 203 da Constituição Federal
de 1988.
Todavia, se a vítima de um crime for contribuinte da Previdência Social, poderá
vir a receber outros benefícios, por exemplo, o auxílio-doença, ou dependendo do caso, seus
dependentes poderão ser beneficiados com a pensão por morte.
41
Outrossim, conforme dados apresentados no Jornal do Diário do Nordeste, em 07
de abril de 2014, no Estado do Ceará os beneficiários do auxílio-reclusão representam apenas
cerca de 5,12% da população carcerária, ou seja, dos 19.839 presos, apenas 1.017 presos eram
contribuintes ativos da Previdência Social no momento de sua prisão, o que representa uma
quantidade ínfima que não seria capaz por si só, acaso fosse aprovada a extinção do benefício
do auxílio-reclusão, de determinar a diminuição do índice de violência.
E mais, com a extinção deste benefício estaríamos diante de uma clara violação ao
art. 5º, inciso XLV da Constituição Federal de 1988, que trata do princípio da
individualização da pena, uma vez que nesse caso a família do segurado seria também
penalizada pela prática do crime por ele praticado.
Isso exposto, compreende-se a total constitucionalidade do benefício do auxílio-
reclusão, uma vez que tem previsão constitucional e atende aos princípios constitucionais da
dignidade humana, da legalidade, da obrigatoriedade da filiação, da universalidade e da
cobertura do atendimento, da solidariedade, da proteção da família, da individualização da
pena e da erradicação da pobreza.
Compreende-se, portanto, a necessidade deste instituto na construção de um
Estado democrático de direitos e considera-se uma verdadeira afronta aos direitos sociais
conquistados essa Proposta de Emenda a Constituição nº 304 de 01 de agosto de 2013, que
visa a sua extinção. Neste sentido, espera-se a sua não aprovação por parte dos parlamentares
a quem compete o poder de decidir acerca do assunto.
42
REFERÊNCIAS
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43
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informações dos segurados, o reconhecimento, a manutenção e a revisão de direitos dos
beneficiários da Previdência Social e disciplina o processo administrativo previdenciário no
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44
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de-presos-recebem-o-auxilio-reclusao-no-ceara-1.976818>. Acesso em: 11 nov. 2014.
46
ANEXO
ANEXO A - PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº304 , de 2013
PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº , de 2013
(Da Sra. ANTÔNIA LÚCIA e outros)
Altera o inciso IV do art. 201 e acrescenta o
inciso VI ao art. 203 da Constituição Federal,
para extinguir o auxílio-reclusão e criar
benefício para a vítima de crime.
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do art. 60 da
Constituição Federal, promulgam a seguinte emenda ao texto constitucional:
Art. 1º O inciso IV do art. 201 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 201. ....................................................................
.....................................................................................
IV – salário-família para os dependentes dos
segurados de baixa renda;
...........................................................................” (NR)
Art. 2º Acrescente-se o seguinte inciso VI e parágrafo único ao art. 203 da Constituição
Federal:
“Art. 203. ....................................................................
.....................................................................................
VI – a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa vítima de crime, pelo período que for
afastada da atividade que garanta seu sustento e, em
caso de morte da vítima, conversão do benefício em
pensão ao cônjuge ou companheiro e dependentes da
vítima, na forma da lei.
Parágrafo Único. O benefício de que trata o inciso VI
deste artigo não pode ser acumulado com benefícios dos
regimes de previdência previstos no art. 40, art. 137,
inciso X e art. 201.”
Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.
47
JUSTIFICAÇÃO
A Constituição Federal de 1988 garante, às famílias do segurado de baixa renda
recolhido à prisão, o auxílio-reclusão. O benefício é calculado com base na média dos
salários-de-contribuição do segurado recluso, mas só é concedido quando esse salário for
igual ou inferior a R$ 971,78, em atendimento ao preceito constitucional de assegurar o
benefício apenas para quem tiver baixa renda.
De outro lado, não há previsão de benefício para amparar as vítimas do criminoso
e suas famílias. Quando o crime promove sequelas à vítima, dificultando o exercício da
atividade que garanta seu sustento, ficam tanto vítima quanto sua família ao total desamparo.
No caso de morte da vítima, fica a família sem renda para garantir seu sustento.
Ainda que a família do criminoso, na maior parte dos casos, não tenha influência
para que ele cometa o crime, acaba se beneficiando da prática de atos criminosos que
envolvam roubo, pois a renda é revertida também em favor da família. Ademais, o fato do
criminoso saber que sua família não ficará ao total desamparo se ele for recolhido à prisão,
pode facilitar sua decisão em cometer um crime.
Neste sentido, entendemos que é mais justo amparar a família da vítima do que a
família do criminoso. Por essa razão, propomos a presente medida para excluir o auxílio
reclusão da Constituição Federal, de forma que os recursos hoje destinados para esse
benefício, que atingiram R$317,8 milhões em 2012, sejam direcionados para a vítima, quando
sobreviver, ou para suas famílias, no caso de morte.
Para tanto, propomos inclusão do inciso VI ao art.203 da Constituição Federal,
criando, entre os benefícios da assistência social,a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa vítima de crime,pelo período que for afastada da atividade que garanta seu
sustento e, em caso de morte da vítima, conversão do benefício em pensão ao cônjuge ou
companheiro e dependentes da vítima, na forma da lei.
Certamente, esse deve ser um dos objetivos da assistência social, amparar a
pessoa que, não bastasse o trauma de ser vítima de criminoso, enfrenta dificuldades de
sobrevivência justamente em decorrência do crime. Ora, se o Estado não cumpre
satisfatoriamente com o seu dever de prestar segurança aos cidadãos, ao menos deve prestar
assistência financeira às vítimas e famílias.
Ressaltamos que o objetivo da medida não é indenizatório, mas garantir o sustento mínimo da
vítima e de suas famílias e,portanto, a renda sugerida é a de um salário mínimo mensal.
Ademais, quando a vítima já estiver amparada por um regime de previdência que lhe dê
direito ao auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e pensão por morte a seus dependentes,
o benefício deve ser afastado, nos termos do parágrafo único que propomos seja acrescido ao
art. 203 da Constituição Federal.
Tal benefício não deve excluir, no entanto, o direito da vítima obter indenização
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reparatória pelos danos sofridos. O benefício mensal é um rendimento mínimo e mais do que
justo, para garantir as necessidades básicas de alimentação e saúde da vítima e sua família.
Solicitamos aos ilustres Pares o apoio para esta iniciativa legislativa.
Sala das Sessões, em de de 2013.
Deputada ANTÔNIA LÚCIA
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