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A CONSAGRAÇÃO A DEUS EM UM INSTITUTO RELIGIOSO Aspectos Canônicos

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A CONSAGRAÇÃO A DEUS EM UM INSTITUTO RELIGIOSO

Aspectos Canônicos

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ALLYSON CÁSSIO DA SILVA

Frei Allyson Cássio da Silva é frade Carmelita Descalço e mestre em direito Canônico pela Faculdade de Direito Canônico São Paulo. Apóstolo da

Arquidiocese de São Paulo.

A CONSAGRAÇÃO A DEUS EM UM INSTITUTO RELIGIOSO

Aspectos Canônicos

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R

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-003São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brOutubro, 2016

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: RLUXProjeto de capa: FÁBIO GIGLIOImpressão: FORMA CERTA

Versão impressa — LTr 5451.2 — ISBN 978-85-361-8991-8Versão digital — LTr 9036.4 — ISBN 978-85-361-9014-3

Todos os direitos reservados

Índice para catálogo sistemático:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Silva, Allyson Cássio da A consagração a Deus em um instituto religioso : aspectos canônicos / Allyson

Cássio da Silva. — São Paulo : LTr, 2016.

Bibliografia

1. Consagração 2. Deus — Amor 3. Obras da Igreja 4. Vida monástica e religiosa 5. Vocação — Igreja Católica I. Título.

16-03752 CDD-248

1. Consagração a Deus : Cristianismo 248

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AGRADECIMENTOS

Aos confrades Carmelitas Descalços da Província São José — Sudeste Brasil, pelo apoio, compreensão e incentivo no estudo mais aprofundado do Direito eclesial.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 11

PREFÁCIO ............................................................................................................. 13

INTRODUÇÃO GERAL .......................................................................................... 15

CAPÍTULO I

A CONSAGRAÇÃO A DEUS

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 17

1. Aspectos teológicos da consagração A DEUS ..................................................... 17

2. A CONSAGRAÇÃO DE CRISTO ........................................................................... 18

2.1. A encarnação de Jesus ................................................................................ 18

2.2. Jesus, o consagrado ao Pai ......................................................................... 20

3. A CONSAGRAÇÃO BATISMAL ........................................................................... 21

4. A VIDA CONSAGRADA RELIGIOSA .................................................................... 22

4.1. A Vida Consagrada como ápice da consagração batismal ........................... 22

4.2. A configuração com o Cristo casto, pobre e obediente ............................... 23

4.3. A consagração a Deus pela profissão dos conselhos evangélicos ................. 24

5. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS FORMAS DE VIDA CONSAGRADA ..................... 25

5.1. Virgens, célibes e ascetas ............................................................................ 25

5.2. Eremitismo .................................................................................................. 26

5.3. Cenobitismo................................................................................................ 27

5.4. Cônegos regulares ...................................................................................... 28

5.5. Ordens mendicantes ....................................................................................... 28

5.6. Clérigos regulares ........................................................................................... 29

5.7. Congregações religiosas ................................................................................. 29

5.8. Do Código de direito canônico de 1917 aos nossos dias ............................. 30

6. A VIRGEM MARIA, MODELO DE CONSAGRAÇÃO ............................................. 33

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 35

CAPÍTULO II

A PROFISSÃO RELIGIOSA ASSUMIDA PELOS MEMBROS DOS INSTITUTOS RELIGIOSOS

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 36

1. INSTITUTO RELIGIOSO ....................................................................................... 36

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1.1. Votos públicos ............................................................................................ 37

1.2. Vida comum ............................................................................................... 38

1.3. Separação do mundo .................................................................................. 39

2. NOVICIADO ....................................................................................................... 40

2.1. Etapa pré-noviciado ..................................................................................... 40

2.2. Requisitos fundamentais para a admissão dos candidatos ao noviciado ...... 43

2.3. Casa do noviciado ....................................................................................... 44

2.4. Duração do noviciado ................................................................................. 45

2.5. Formação dos noviços ................................................................................ 46

2.6. Término do noviciado ................................................................................ 47

3. CONSELHOS EVANGÉLICOS ............................................................................... 48

3.1. Conselho evangélico de castidade ............................................................... 48

3.2. Conselho evangélico de pobreza ................................................................. 51

3.3. Conselho evangélico de obediência ............................................................. 53

4. VOTOS RELIGIOSOS ........................................................................................... 55

4.1. Definição de voto religioso .......................................................................... 55

4.2. Condições para se emitir o voto religioso .................................................... 56

5. PROFISSÃO RELIGIOSA ...................................................................................... 58

5.1. Definição de profissão religiosa ................................................................... 58

5.2. Profissão temporária ................................................................................... 59

5.3. Profissão perpétua ...................................................................................... 61

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 62

CAPÍTULO III

DIREITOS E DEVERES ORIUNDOS DA PROFISSÃO RELIGIOSA EM UM INSTITUTO RELIGIOSO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 63

1. O SEGUIMENTO DE CRISTO ............................................................................... 63

2. O PRIMADO DA VIDA ESPIRITUAL ..................................................................... 65

2.1. Contemplação e união com Deus pela oração assídua ................................ 65

2.2. Vida eucarística ........................................................................................... 67

2.3. Sagrada Escritura e oração mental .............................................................. 69

2.4. Oração da Liturgia das Horas ...................................................................... 69

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2.5. Culto especial a Virgem Mãe de Deus ......................................................... 70

2.6. Retiro anual ................................................................................................ 71

2.7. Conversão e Sacramento da reconciliação ................................................... 71

3. A oBRIGAÇÃO DE VIVER EM UMA COMUNIDADE RELIGIOSA ........................... 73

4. O USO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ............................................... 75

5. A CLAUSURA ..................................................................................................... 77

6. OS BENS TEMPORAIS DOS RELIGIOSOS ............................................................. 78

6.1. Cessão da administração, rendimentos dos próprios bens e testamento ..... 78

6.2. Bens adquiridos .......................................................................................... 79

6.3. Renúncia dos bens ...................................................................................... 80

7. O HÁBITO RELIGIOSO ........................................................................................ 81

8. OS DEVERES DO INSTITUTO RELIGIOSO PARA COM OS SEUS MEMBROS ......... 82

9. OS ENCARGOS ASSUMIDOS FORA DO INSTITUTO RELIGIOSO .......................... 83

10. OUTROS DEVERES DOS MEMBROS DO INSTITUTO RELIGIOSO ........................ 83

10.1. Celibato .................................................................................................... 84

10.2. Formação permanente .............................................................................. 84

10.3. Atividades não permitidas aos religiosos ................................................... 85

10.4. Atividade negocial e comercial .................................................................. 86

10.5. Atividade política partidária ou sindical ..................................................... 86

10.6. Serviço militar ........................................................................................... 87

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 87

CONCLUSÃO GERAL............................................................................................ 89

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 91

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APRESENTAÇÃO

É com alegria profunda que apresento o livro de um irmão do Carmelo, frei Allyson. Nesta obra, nosso confrade, com competência, apresenta a consagração religiosa em um Instituto religioso — paradigma da vida consagrada na Igreja — e os efeitos jurídicos decorrentes desse ato, segundo o Código de Direito Canônico.Pela sua clarividente exposição, leva-nos a perceber que as leis eclesiásticas não são apenas um conjunto de normas que devem ser cumpridas. Tais leis, se forem vivenciadas na leveza do amor e da liberdade, nos conduzirão a um caminho certo e seguro de uma vida nova, de entusiasmo evangélico, de coragem profética para anunciar Jesus, modelo para todos os cristãos.

Jesus chama todos à santidade e a dar testemunho do evangelho. O consa-grado responde com toda sua vida a este chamado. E por meio de uma existência que provoca, com seu estilo casto, pobre e obediente, quer revelar com transpa-rência a beleza do seguimento de Cristo.

Agradeço a LTr Editora que publica este trabalho. Um livro que colocado nas mãos dos religiosos os estimularão a reencontrar a alegria da vida consagrada.Um livro que iluminará o caminho de quem optou por fazer de Jesus Cristo a norma suprema de sua vida.

Frei Patrício Sciadini, OCD

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PREFÁCIO

Na presente obra, o autor trabalha com exatidão o tema a que se propôs a partir do direito universal e do direito próprio, sob o enfoque de uma radical consa-gração batismal a uma comunidade religiosa e, por meio dela, à Igreja, a exemplo de Cristo sacerdote, profeta e rei.

Ao abordar a profissão religiosa dos conselhos evangélicos o autor também traça um panorama de toda a vida religiosa nas suas várias formas e aspectos bem como da sua evolução no curso da história.

De fato, ao longo da história da Igreja, o Espírito suscitou nela várias formas de consagração radical, sendo o Instituto Religioso a sua forma mais acabada e, por isso, referencial para toda a vida consagrada. Nos três capítulos bem distribuídos e concatenados entre si, este tema é abordado com a sua riqueza e detalhes, a saber:

Cap. I. Da consagração a Deus (que, além da dimensão jurídica, se funda-menta tal ato numa relação de encontro pessoal com Deus para o bem do mundo) e das formas que ela assumiu ao longo da história, tendo como seu ícone a Bem-aventurada Virgem Maria;

Cap. II. Da profissão religiosa dos conselhos evangélicos como condição para pertencer a um Instituto religioso (e do que ela comporta para o indivíduo);

Cap. III. Dos direitos e deveres decorrentes da profissão religiosa (considerados a partir dos tria munera de Cristo).

Há coerência na exposição, na argumentação e no desenvolvimento do tema que é proposto com clareza, sinteticidade e simplicidade, o que torna a leitura da obra agradável e de fácil manuseio, podendo ser um vade mecum não só para os que se destinam à vida religiosa de qualquer Instituto de Vida Consagrada, mas tam-bém para qualquer pessoa que queira conhecer o que seja a vida religiosa na Igreja.

Apresenta, também, um aspecto interessante que ressaltamos: juntamente a exegese canônica faz considerações de caráter espiritual que não são nem fora de lugar nem piegas, mas que expõem uma legítima teologia do direito eclesial.

O trabalho está bem documentado por vasta e atual bibliografia, em que cons-tam não apenas os maiores peritos atuais sobre a matéria, como também os clássicos, fazendo com que esta obra possa ser uma referência também neste aspecto.

Mons. Dr. Rubens Miraglia ZaniOrientador do trabalho final de mestrado do autor

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INTRODUÇÃO GERAL

Todo cristão, ou seja, todo aquele que foi regenerado em Cristo pelo batis-mo, é convidado a testemunhar a vida nova adquirida n’Ele. O batizado recebe a força e a graça divina para vivenciar os conselhos evangélicos, ou seja, a castidade própria do seu estado de vida, a obediência a Deus e aos ensinamentos eclesiais e o razoável e proporcional desapego das coisas criadas. Isso porque todos os filhos de Deus são chamados à perfeição da caridade, que é a santidade.

Contudo, o batismo pode ser vivenciado com mais radicalidade por alguns cristãos que acolheram um especial dom do Senhor da messe: o chamado à vida consagrada. Esta reflete a vida cristã como participação nos atributos de Cristo sa-cerdote, profeta e rei. Assim, a consagração religiosa reluz o mistério de Cristo, o consagrado por excelência ao Pai pelo Espírito Santo, pondo à vista de todos os valores ou aspectos desse mistério que também brilham na vida de outros cristãos.

Assim, todos os cristãos que abraçam alguma forma de vida consagrada o fazem para viver de forma mais radical aquilo que lhes é mais essencial: o Evangelho anunciado por Jesus e encarnado por sua pessoa, em vista da edificação da Igreja e da santificação do mundo.

Passando pela história da vida consagrada, constata-se a evolução e o aper-feiçoamento que ela alcançou, e também se vislumbram novas possibilidades, principalmente após o Concílio Vaticano II. Todas essas variações apresentam ele-mentos comuns no que concerne à vivência dos conselhos evangélicos e à emissão de algum vínculo sagrado, o que faz com que as pessoas que assumem um desses estados de vida se tornem juridicamente um consagrado a Deus.

Atualmente, a Igreja reconhece os Institutos religiosos e seculares, bem como as Sociedades de Vida Apostólica como vida consagrada. Também estão incluídos nesse rol os eremitas e as virgens consagradas, ou seja, pessoas que se consagram a Deus fora de um Instituto canonicamente erigido.

O primeiro e mais amplo modelo de vida consagrada é o Instituto Religioso, adotado como referência para toda a vida consagrada devido à sua tradição e importância na Igreja. Nele, os membros professam os conselhos evangélicos por meio da emissão de votos públicos, levam vida fraterna em comum e dão teste-munho público de sua consagração através da separação do mundo, conforme a índole e a finalidade própria de cada Instituto. É sobre essa configuração de vida consagrada que nos deteremos com um pouco mais de precisão, principalmente no que concerne à incorporação do membro ao Instituto religioso por meio da

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profissão religiosa, da qual emanam direitos e deveres que devem ser vivenciados pelo consagrado e pela instituição.

Assim, no primeiro capítulo é abordado o tema sobre a consagração a Deus. A consagração supõe uma relação pessoal com Deus de natureza não somente extrínseca ou jurídica, porém mais profunda, derivada da entrega pessoal como resposta a Deus que chama. Ao mesmo tempo em que a consagração possui a dimensão de entrega pessoal a Deus, por intermédio dela realiza-se a entrega pes-soal também ao mundo e à humanidade. Não se deve considerar a consagração como uma fuga do mundo, mas como uma maneira de relacionar-se de forma diversa com tudo o que constitui a trama da vida e as relações humanas. Por meio da consagração, aquele que se entrega totalmente a Deus o faz também de ma-neira total aos irmãos.

No segundo capítulo é esboçado que a profissão dos conselhos evangélicos, reconhecida e sancionada pela Igreja, é condição para pertencer ao Instituto Re-ligioso. Ela é feita mediante votos e, por meio dela, se consagram as pessoas na Igreja. Esta profissão é precedida e acompanhada por uma preparação séria no período do noviciado, considerada a etapa mais importante da formação religiosa. A consagração que ocorre através da profissão dos conselhos evangélicos em um Instituto Religioso conduz os indivíduos à vida fraterna em comunidade e a ela está vinculada uma série de obrigações, principalmente por causa do serviço ao Reino de Deus. Essa consagração faz dos religiosos sinais da presença de Cristo no mundo e um convite à vivência dos valores evangélicos.

No terceiro capítulo são abordados os direitos e deveres dos religiosos de-correntes da profissão religiosa em um Instituto religioso. Assim, a vida de oração — perpassada pelo contato frequente com a Eucaristia, a centralidade da Palavra de Deus, a devoção mariana, o retiro anual, e a celebração do sacramento da reconciliação — deve fazer parte da vida do consagrado, ao lado de outras obri-gações. Ao mesmo tempo, observa-se que o Instituto religioso possui o dever de proporcionar ao seus membros todos os meios necessários para que se realizem e vivam com empenho a sua consagração na Igreja.

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CAPÍTULO I

A CONSAGRAÇÃO A DEUS

INTRODUÇÃO

A verdadeira consagração pessoal a Deus não parte da iniciativa humana, mas de um convite divino. Nessas condições, ela é um ato de entrega, de doação de si ou de alguma coisa que passa a pertencer ao próprio Deus. Partindo des-se pressuposto, este capítulo visa demonstrar que a consagração pessoal a Deus deriva da consagração do próprio Jesus ao Pai, em favor da humanidade. Nela, enraíza-se a consagração batismal, que é a primeira e fundamental consagração da pessoa humana a Deus, pois nos torna filhos no Filho. Por meio da consagração religiosa, o ser humano escolhe o próprio Deus como uma resposta ao amor de Cristo, assumindo, assim, a sua forma de vida casta, pobre e obediente.

1. ASPECTOS TEOLÓGICOS DA CONSAGRAÇÃO A DEUS

A dimensão teológica da consagração a Deus está inserida no ato de sacra-lizar, ou seja, de introduzir alguém ou algo na esfera do sagrado ou do divino, de entregar ou ofertar alguém ou algo a Deus e a seu serviço, de maneira exclusiva. Em outras palavras, consagrar significa converter alguém ou algo em propriedade ou pertença de Deus(1).

Mas o que significa consagrar?

“Consagrado”, isto é, “santo” em sentido pleno, segundo a concepção bíblica, é só o próprio Deus. Santidade é o termo usado para exprimir o seu modo particular de ser, o ser divino como tal. Assim, a palavra “santificar, consagrar” significa a transferência de uma realidade — de uma pessoa ou uma coisa — para a propriedade de Deus [...]. O processo da consagração, da “santificação”, compreende dois aspectos que aparentemente se contrapõem um ao outro, mas na realidade concordam intimamente. Por um lado, “consagração” no sentido de “santificação” é uma segregação do resto do ambiente que pertence à vida pessoal do homem. Mas essa segregação inclui, ao mesmo tempo e de modo essencial, um “para”; precisamente porque dada totalmente a Deus, essa realidade agora existe para o mundo, para os homens(2).

(1) Cfr. ALONSO, S. M. A vida consagrada. São Paulo: Ave Maria, 1991. p. 188.(2) BENEDICTUS PP. XVI. Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. 2ª reimpressão. São Paulo: Planeta do Brasil, 2011. p. 87.