a confusão de línguas e os desafios da psicanálise de grupo em instituiçãoo

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  • 8/13/2019 A confuso de lnguas e os desafios da psicanlise de grupo em instituioo

    1/20PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2010, 30 (3), 504-523

    Artig

    o

    Denise Teles FreireCampos & Pedro

    Humberto Faria CamposPontifcia Universidade

    Catlica de Gois

    Carlos Mendes RosaUniversidade Paulista

    504

    A Confuso de Lnguas e os

    Desafios da Psicanlise deGrupo em Instituio

    The Language Confusion and theChallenges of Group in Institutions

    La Confusin de Lenguas y Los Desafosdel Psicoanlisis de Grupo en Institucin

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    A Confuso de Lnguas e os Desafios da Psicanlise de Grupo em Instituio

    Resumo:Este trabalho uma reflexo sobre os desafios da psicanlise de grupo na instituio. O texto fazuma anlise do contexto institucional desde a reforma psiquitrica, que buscou o enfrentamento da exclusosocial, como processo sociohistrico e simblico que atinge a identidade do portador e a dos familiares.Assim, a relao entre o cuidado com o sofrimentoe a assistncia excluso discutida sob o prisma da

    integrao e da revalorizao da dimenso clnica do tratamento. A distino entre demanda, necessidadee desejo retomada para apontar a importncia de manter o sujeito portador no centro do modelo. Emseguida, examina-se a confuso de lnguasentre psicanlise, psicoterapia e psiquiatria, apontando algumasdas principais questes clnicas e sociais relativas ao atual fazer do analista. O presente trabalho se fundana reflexo sobre o trabalho de grupo em instituio, inspirada em atendimentos semanais a trs gruposde pacientes de um CAPS, e coloca a transferncia e a mediao grupal como dispositivos necessriospara o trabalho em grupo. A psicanlise de grupo sustentada como forma de elaborao do sofrimentopsquico, redirecionando a prpria noo de sujeito.Palavras-chave:Instituio pblica. Sade mental. Psicanlise de grupo. Grupo.

    Abstract: This work is a reflection about the chalenges of group psychoanalysis in institutions. The textanalyses the institutional context since the psychiatric reform, which sought to confront the social exclusion,as a simbolic and social-historical process that involves the identity of the carrier and of his/her family. So,the relation between care with suffering and the assistance to the exclusion are discussed based on the

    integration and revalorization of the clinic dimension of the treatment. The distinction between demand,necessity and desire is retaken to point out the importance of keeping the carrier subject in the centerof the model. Then the language confusionbetween psychoanalysis, psychotherapy and psychiatry is ex-amined, pointing out the main clinic and the social matters related to the actual work of the analist. Thepresent work is based on the reflection about the group work in institutions, inspired in weekly attendanceto three patient groups of a psycho-social attention center (CAPS) and it places the transference and thegroupal mediation as necessary devices to the group work. The group psychoanalysis is sustained as a formof elaboration of psychological suffering, redirecting the very notion of subject.

    O presente trabalho tem por objetivo discutiros desafios de um modelo de psicoterapiapsicanaltica de grupo em instituio pblica,notadamente dentro dos servios de atenoespecial, inaugurados a partir da reformapsiquitrica. Assim, o trabalho visa tambma contribuir para o processo de consolidaometodolgica e teraputica do novoparadigma de assistncia instalado. Para tal,buscaremos discutir a noo de causalidade

    psquica, a confuso delnguas entre as reas

    cientficas que trabalham com o sofrimentopsquico ou com os chamadostranstornosea necessria distino entre demanda, desejoe necessidade no mbito das instituiespblicas, alm de apontar alguns aspectosprticos das experincias e dos desafios daatuao do psicanalista nesse campo e ocontexto histrico especficos.

    Os autores aqui tomam uma posio favorvel

    dimenso grupal e ao trabalho de terapia

    PSICOLOGIACINCIA E PROFISSO,

    2010, 30 (3), 504-523Denise Teles Freire Campos, Carlos Mendes Rosa & Pedro Humberto Faria Campos

    Keywords:Community mental health centers. Mental health.Group Psychoanalysis. Group.

    Resumen:Este trabajo es una reflexin sobre los desafos del psicoanlisis de grupo en la institucin. El textohace un anlisis del contexto institucional desde la reforma psiquitrica, que busc el enfrentamiento dela exclusin social, como proceso socio-histrico y simblico que alcanza la identidad del portador y la de

    los familiares. As, la relacin entre el cuidado con el sufrimiento y la asistencia a la exclusin es discutidabajo el prisma de la integracin y de la revalorizacin de la dimensin clnica del tratamiento. La distincinentre demanda, necesidad y deseo es retomada para apuntar la importancia de mantener el sujeto portadoren el centro del modelo. En seguida, se examina la confusin de lenguas entre psicoanlisis, psicoterapia ypsiquiatra, apuntando algunas de las principales cuestiones clnicas y sociales relativas al actual hacer delanalista. El presente trabajo se funda en la reflexin sobre el trabajo de grupo en institucin, inspirada enatendimientos semanales a tres grupos de pacientes de un CAPS, y coloca la transferencia y la mediacingrupal como dispositivos necesarios para el trabajo en grupo. El psicoanlisis de grupo es sustentado comoforma de elaboracin del sufrimiento psquico, re-direccionando la propia nocin de sujeto.Palabras clave:Centros comunitarios de salud mental. Salud mental. Psicoanlisis de Grupo.Grupo.-

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    de grupo como recursos metodolgicosincontornveis. Isso se coloca no comooposio psicanlise individual, tampoucopostulando que o grupo pudesse ser superior

    a outras modalidades de interveno. Nose trata de uma reverberao no sentido deincitar terapeutas e profissionais do cuidado(quaisquer que sejam suas abordagenstericas) a trabalhar com grupos, porque,nas instituies pblicas, as condies deatendimento no so suficientes para atendertoda demanda quantitativa. Em uma vertentedistinta, a posio em favor do grupo sesustenta em uma clareza conceitual, combase no conceito de excluso social, como

    processo sociohistrico e simblico queatinge de entrada a identidade do portadore a dos familiares. Nesse sentido, o palco porexcelncia de processos de transformaoda identidade a relao de alteridade, cujoespao privilegiado a mediao grupal.Como veremos adiante, o desafio do trabalhode grupo psicanaltico compreender asuperposio dos processos de transfernciacom aqueles de mediao grupal. Essapostura se inscreve organicamente em uma

    viso segundo a qual toda doena mental,independentemente das causas de sua eclosoou emergncia (gentica, psicossocial, afetiva,etc), sofre de imediato tambm um processode determinao social, isso porque, uma vezque um transtorno de ordem mental eclode,ser objeto de processos de ordenamento,classificao, estigmatizao e/ou excluso.Esses processos citados recebem, sem dvidaalguma, o qualificativo desociais.

    Assim, existem ao menos duas formas de secompreender as consequncias de tal viso,que no so, a nosso ver, excludentes entresi. Na vertente inspirada por Pichn-Rivire,o grupo tem como operador a identidade: aemergncia datarefae suatransformao emprojeto de vida, em superao da doena, operada por um trabalho teraputico deresgate da cultura e da partilha de identidades.Esse processo tem por base o grupo original(famlia) e os fantasmas inconscientes que delederivam. Uma outra forma compreenderque, uma vez que a doena sofre uma

    determinao social, ela produz o sintomasocial, que se sustenta no lao social,permitindo, desse modo, distinguir estruturapsquica individual, de um lado, e uma

    sintomatologiaque provm do lao social esua inscrio no imaginrio social de outro, talqual o define Lacan. Nessa ltima perspectiva,o trabalho em grupo tem duas direes:contribuir para desconstruir o sintoma social,o que permitiria a emergncia do singular, dodesejo de cada um, e tambm permitir que osujeito em sofrimento (o paciente dos CAPS,nesse caso) se re-situe, pela injuno de ummodo de interpretao apropriado ao grupoe ao sintoma social, face aos objetos internos,

    difusos nas figuras fragmentrias dos substitutosdo Outro, ou seja, do Outro do social.

    O presente trabalho constitui uma reflexosobre o trabalho de grupo em instituies,inspirada em atendimentos semanais a trsgrupos de pacientes de um CAPS da regiocentral de Goinia, desde 2007, sendo umgrupo de acolhimento a novos usurios dainstituio e dois grupos psicoterpicos. Osgrupos psicoterpicos so formados por

    10 pacientes em cada grupo, sendo essessujeitos diagnosticados pela equipe mdicacomo portadores de algum tipo de transtornomental. Nos grupos atendidos, no existea separao entre sujeitos com estruturaspsquicas diferentes; assim, temos psicticos eneurticos compartilhando suas experinciasna mesma situao grupal. interessante notarque os grupos psicoterpicos apresentam umafrequncia s reunies de aproximadamente80%.

    O que se pretende apontar ao longo destetrabalho o espao vivo (o lugar antropolgico)de contradio no qual devemos focar osujeito, traz-lo para o centro da cena, para ointerior de instituies cujo funcionamento destinado a apagar a incmoda singularidadedo pathos. Pensar a psicanlise em instituio repensar o valor da clnica na assistncia.

    A questo da causal idade psquica e os

    transtornos mentais

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    Sentimos de imediato que a culpa umsentimento que tem alcance epistmico:o minha culpa implica uma hiptesesobre a causa. A culpa aquilo que acontecequando a causa assume a forma de uma

    falha, um erro.Collete Soller

    A noo de causalidade psquica recentena histria das cincias dedicadas aoestudo do psiquismo, especialmente noscampos da psiquiatria, da psicopatologia e,posteriormente, da prpria Psicologia. Elase refere tendncia do ser humano ematribuir causas internas, psicolgicas, aoseventos que lhe acontecem. A causalidadepsquica distingue-se, em primeiro plano, dascausalidades externas, tais como a causalidadedivina ou social, porm ela distingue-setambm daquelas internas associadas aoscomponentes propriamente biolgicos ougenticos. O diagnstico da esquizofrenia,por exemplo, coloca sempre o problema daidentificao inequvoca das causas, em que asnoes de hereditriooupsicognicotraamum embate, na maioria das vezes, infrutfero.

    O conceito de causalidade psquica deorigem psicanaltica. Ele nasce em contrapontoa uma certa ps icologia da conscinciadominante no sculo XIX, que consideravaa prpria conscincia funo dominante nopsiquismo; desse modo, o ser humano seriaregido, sempre, pela razo e pela lgica, nose colocando assim a questo mesma doquestionamento das causas: razes lgicas

    somente podem ser interrogadas a partirde argumentos, eles tambm, de naturezalgica. A noo de causalidade psquicapressupe que o sujeito seja a unidade dascausas, portanto, no incita identificaode causas isolveis, externas ou internas, quese descolem do prprio sujeito. O termomesmo tem por referente a subjetividade(manifestao do sujeito) e compreende arelao de causalidade como marcada, ao

    mesmo tempo, pelo corpo pulsional e pelacultura. Segundo Martins (2005),

    a novidade consiste em mostrar a implicaoprocessual do eu com o inconsciente que odetermina, mas o eu constitui obstculo satisfao pulsional. No se trata de fazer oelogio da psicologia da conscincia ou de

    qualquer psicologia do eu, mas de qualificaros efeitos dessa diviso. (p. 176)

    Assim, podemos sintetizar a questo dacausalidade psquica da seguinte forma: noexiste, para a psicanlise, uma causa nica,isolvel, objetivvel para o sofrimento psquico;ela processual e subjetiva, e inscreve-se nainterao entre o corpo pulsional e a cultura,ou seja, no h como investigar os transtornossem o trabalho com o sujeito, sem permitir a

    manifestao e o desenvolvimento daquilo queh de singular em cada caso, da singularidadedo sujeito. Deve-se salientar que, nos casosdos transtornos de causa orgnica identificvel,ainda assim o objeto de cuidado ser, do pontode vista psquico, o sofrimento advindo dasdeterminaes sociais das chamadas doenasmentais, sofrimento cuja causalidade psquica, ou seja, advm de uma discordnciafundamental do sujeito consigo mesmo.

    Como esse tema se articula com o atendimentopsicanaltico em instituio? Melhor seria situ-lo em relao ao cuidado com o sofrimentopsquico em instituio. Apesar de a prticademonstrar que pacientes, familiares eprofissionais de sade na instituio chegamprocurando uma resposta sobre a causa dotranstorno que se abateu sobre o paciente ouusurio, essa causa no se mostra suficientepara resolver, por si s, os problemas dos quesofrem. E, ao analisarmos mais atentamente,percebemos que todos eles j tm umaresposta sobre a causa. Todos, pblico e ns,profissionais, j temos algumas respostas,j temos uma viso, uma representao dadoena. No por acaso, estudos recentesde representaes sociais da doena mentalrevelam que os transtornos so representadoscomo doena da cabea, desequilbrio, castigode Deus ou obra do demnio, sem esquecera ideia quase sempre presente de doena

    sem explicao.No por acaso, Soller (2007)relembra que o sentimento de culpa o

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    nico que Freud consente em chamar deinconsciente (p. 54).

    Pereira (2000) remonta esse processo de

    chamada responsabilidade por parte dosujeito aos tempos da Grcia antiga. No incioexistia a At, conceito de loucura que seabatia sobre o homem por interferncia dosdeuses, ou seja, no passava pelo controleou pela vontade do doente, e a este cabiaapenas aceitar seu destino funesto. Maistarde, a loucura passar a ser consideradauma consequncia da hybris, ou do excessode ambio por parte dos homens, levando aarrogncia desmedida e a atos de insensatez.

    A noo de hybris leva embutida o carterde envolvimento do sujeito no seu prpriosofrimento. Sua loucura agora pode serassociada ao seu mundo psquico. essa linhade pensamento que nortear a teoria de Freudsobre a psicopatologia do indivduo.

    O ponto que as representaes dos sujeitosenvolvidos, sejamingnuas ou especializadas,so insuficientes: produzem no prprio sujeitouma discordncia consigo mesmo e geram

    sofrimento. A viso do sofrimento como deorigem (causalidade) biolgica ou divinano ajuda a apazigu-lo, lembrando que,nesse quadro, usurios e agentes podemestar usando o termo transtorno apenascomo um novo nome para a doena, masenquadrando-a como outra doena qualquer.Tais representaes deixam a porta aberta paraoutras questes: o usurio se pergunta: porque eu? Por que isso aconteceu comigo?

    O avano dos psicofrmacos, de um lado,foi muito positivo no controle dos sintomase na qualidade de vida do usurio paciente,porm, de outro lado, foi nocivo para aateno, o cuidado e o suporte ao sofrimento.Tal avano fortaleceu uma viso da doena se tem remdio, ento doena! comode fundo orgnico, e, embora a psiquiatriaantomo-tcnica (Pereira, 2000)queira seisentar de discusses etimolgicas e mesmopsicopatolgicas, ela refora uma visofuncionalista, pragmatista, objetivante do

    transtorno, como se ele pudesse ser isoladodo sujeito que sofre.

    Aqui, Roland Gori (2004) aponta muito

    claramente o perigo: apaixo pela causalidade.Isso que dizer que, em uma perspectiva decientificismo objetivante, de naturalizao dohumano, todos querem uma causapalpveleplausvel, possvel de ser isolada, identificada,paixo de encontrar uma razo lgica parao sofrimento, que, no entendido, causamais sofrimento e angstia. No esforo debuscar uma causa, ou na iluso de a termosencontrado, esquecemos o principal, que a dimenso simblica do sintoma, dimenso

    significante que vem do fato de se tratar deum sujeito em conflito consigo mesmo. Osofrimento psquico a expresso do conflitoentre o corpo pulsional e o ser de linguageme cultura. Para acolher o sofrimento, a posturafreudiana a de abandono da paixo pelacausalidade e o enfoque no sujeito.

    O sujeito do sofrimento psquico no necessitaencontrar um causa para resolv-la, o queseria uma tarefa impossvel: Assim, essa

    discordncia primordial entre o eu (moi) eo ser ser nota fundamental que ir ressoarem toda uma gama harmnica das faces dahistria psquica, cuja funo ser resolv-ladesenvolvendo-a (Lacan, 1966/1998, p. 188).

    Demanda, necessidade eambivalncia nas instituies

    O cenrio da discusso sobre a psicanlise

    na instituio pblica est em profundatransformao desde o estabelecimentoda reforma psiquitrica, de tal modo queAmarante (1995) afirma ser essa verdadeiramudana de paradigma. O cenrio no definitivo, uma vez que esse campo seencontra em constante atualizao, atravs denovas pesquisas e de projetos voltados paraa rea de sade. Visualizar os aspectos dessamudana parece ser importante para melhorcompreenso do papel da psicanlise dentroda instituio pblica.

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    Mendona (2006) afirma que muitas mudanasse deram nesse percurso. No incio, houveuma tentativa de modificao dos hospitaispsiquitricos com o intuito de torn-los mais

    teraputicos. Em seguida, um movimento maisradical solicitava a extino desses hospitais,fato que acabou ocorrendo, nos ltimos anos,no Brasil.

    Segundo Tenrio (1999) a reforma psiquitricabrasileira data de pouco mais de vinte anos,e tem como marca distintiva e fundamental oreclame da cidadania do louco, ou seja, umprocesso de reinsero social que devolva aolouco seu estatuto de sujeito e sua cidadania;

    afirma ainda que esse processo tem comoobjetivo elaborar propostas de transformaodo modelo clssico e do paradigma dapsiquiatria.

    Silva (2005) entende que a reforma psiquitricatambm se compromete com a poltica pblicade sade mental, na tentativa de implementarum projeto de universalidade, equidade eintegralidade da assistncia populao.Rinaldi (2000) ressalta, porm, que, de um

    lado, tenta-se resgatar a individualidadeperdida dentro dos manicmios, e, deoutro, espera-se que esses sujeitos possamser reinseridos na sociedade: do privadoao pblico ou do singular ao universal,estabelece-se uma linha de continuidadeentre o sujeito e o cidado. Se a noo desujeito diz respeito individualidade, acidadania o lugar do reconhecimento dosujeito na sociedade (p. 4).

    Nesse contexto de luta pela cidadania dolouco, a clnica passou a ficar em segundoplano nos debates acerca do sujeito,chegando-se a ponto de se propor tambmo fim da prtica clnica algo que noleva em conta as claras diferenas entrea prtica psicoteraputica e psicanalticae as antigas formas de psiquiatria. Nessanova configurao da prtica psiquitrica,mais voltada para a ateno psicossocial, apsicanlise tenta sua insero atravs dessaclnica que procura o envolvimento do sujeitono processo teraputico (Rinaldi, 1999).

    Guerra (2005) afirma ser necessria umaproposta clnica que articule a subjetividadee a dimenso poltica da instituio, que atenso existente entre a assistncia para todos

    proporcionada pela dimenso poltica e aescuta de cada um, derivada da clnica, acabapor produzir bons frutos, em especial quandoessas duas reas resguardam suas diferenasno campo da tica. Para essa autora, fazer dasingularidade clnica uma proposta coletivano significa universalizar intervenes,mas tomar o particular como orientao naconstruo das prticas dentro da instituio.Rinaldi (1999) lembra ainda que, se a funopoltica ou social e a funo teraputica

    devem ser diferenciadas, no se pode esquecerque uma no existe sem a outra.

    Para se retomar a discusso sobre a dimensopropriamente clnica na assistncia prestadanos servios pblicos, parece-nos frutferoresgatar uma distino proposta na psicanlise(D. T. F. Campos, 1999; Tort, 1992) sobrea diferena entre demanda, necessidade edesejo.

    No caso dos usurios, sejam eles portadoresou familiares, a demanda de cuidado, desarar, de curar, ou, nos casos crnicos, dealvioao sofrimento e sobrecarga de ordempsicolgica (Campos & Soares, 2005). Empsicanlise, entende-se isso como demandade amorinconsciente. Contudo, a instituiosabe que parte disso, parte do cuidado, est emgarantir (ou defender o direito!) a qualidadede vida. Essa dimenso da qualidade de vida referente ao resgate da cidadania. Acercadesse aspecto, podemos falar em necessidadesque devem ser atendidas por uma polticapblica de incluso do portador e de seusprximos. O risco o da iluso de suporque as necessidades de incluso do usurio,que sofre as consequncias da determinaosocial de um transtorno mental, so as mesmasnecessidades de um cidado excludo que nonecessita de ateno especfica. A exclusotem vrias facetas e configura diferentesprocessos sociais e simblicos que no seresumem na pobreza material (P. H. Campos,

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    1999), ou seja, a demanda de retornar vida de antes da doena, mas o de que ousurio necessita so servios especializadosde ateno. Nesse sentido, trata-se, assim

    como no caso de crianas e adolescentesou ndios, por exemplo, de uma cidadaniapleiteada, total ou parcialmente, por outrem.A concluso a que se pode chegar que,na assistncia, o usurio deve encontrar ascondies de entender as novas necessidades,ressignificar sua vida, refazer seus projetosde vidae a relao das necessidadescom osdireitos e as polticas pblicas. Aqui, o cuidadono clnico, e deve voltar-se para a criaode condies de transformao do usurio

    em sujeito-de-cidadania. A armadilha est emacreditar que o trabalho de incluso suprimao trabalho clnico que feito com a demandae o desejo. Para a psicanlise, a demanda ocaminho sem o qual no se pode aceder aodesejo que est na base do sofrimento.

    Outro aspecto associado ao apresentadoacima que muitas vezes o embate polticoesquece ou negligencia o fato de que se tratade uma cidadania pleiteada por outros agentes

    que no o prprio portador. Os profissionais eos conselhos de ordem, em vrios episdios,tomam decises em nomede uma cidadaniacuja demanda no emana do prprio sujeito.

    Em relao prtica mdica, a psicanlise, quej teve grande aceitao nesse campo, hojese encontra em uma situao desfavorecida.Pereira (2000) analisa que, no incio dosanos 80, com o advento do DSM-III (eatualmente o DSM-IV), a psicopatologiamdica volta sua ateno para o modeloemprico experimental, abandonando todae qualquer outra forma de compreenderos fenmenos psicopatolgicos. Com isso,a psicanlise, assim como outras correntesde pensamento, so excludas do cabedalde conhecimentos necessrios prtica daMedicina. Desse perodo at os dias atuais, asituao no parece ter se modificado muito.

    Assim, o atual quadro da sade mental aparececomo um terreno onde alguns objetivos

    so comuns psicanlise e psiquiatria, eoutros so contraditrios. No ser possvelpara o saber psicanaltico contribuir com acura propriamente dita dos indivduos em

    sofrimento nem tampouco com a adequaodestes na sociedade, esta entendida comovolta normalidade, pois tais propostascontrariam a tica da psicanlise. No entanto,o esforo contra a alienao do sujeito e o seuenvolvimento no processo teraputico, comoj citado, so ideais comuns s duas reas(Guerra & Souza, 2007).

    As instituies destinadas ao cuidado com a

    sade mental, no nosso tempo, so marcadaspela ambivalncia. Para Bauman (1999), aambivalncia no mundo moderno se inscrevena lgica da oposio entre ordem e caos. Ainstalao da modernidade foi acompanhadade um grande esforo de ordenamento. Ocontrole foi exercido sobre o corpo, sobreo sexo, a famlia, a ordem social e a ordemprodutiva. Tratava-se de um grande projetode sociedade ordenada pelo progresso.Paratal, a ordem se estendeu sobre o tempo, o

    espao e o corpo (Aug, 1994; Bauman,1999). A racionalidade da modernidade aracionalidade da ordem, que visou a instalarum mundo ordeiro no qual a gente sabecomo ir adiante, um mundo de certezas, noqual se podem calcular as probabilidadesde acontecimento de um evento. O mundoda cincia moderna um mundo previsvel!Contudo, quanto mais a cincia tem sucesso nocontrole das desordens mentais, por exemplo,

    mais ela produz, corolariamente, ambivalncia.A ambivalncia pode ser lida, assim, como umdos traos da modernidade atual.

    Ento, a ambivalncia inerente relaoentre o usurio-portador de transtorno e aordem mdica, entre sujeito e no-sujeito,entre desejo e alienao. Por tal, as relaesentre usurios e profissionais sero, na base,ambguas: a demanda suposta (apresentadapor um outro que leva, o cuidador) e o sujeitoest alienado de seu desejo.

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    Tambm as relaes entre os profissionaisso marcadas pela imposio (institucional)de uma ordem mdica que no suficientepara produzir os efeitos plenos de norma.

    Desse modo, o trabalho dito multi, pluri outransdisciplinar , por natureza, produto deconflito e produtor de ambivalncia. Umaprimeira atitude para tornar a psicanlisepossvel na instituio o abandono da ilusoou do desejo de impor uma ordem, qualquerque seja ela.

    A confuso das lnguas e osprofissionais da clnica

    A confuso das lnguas uma expresso quese refere ao fato de os diferentes profissionaisda clnica no terem a mesma linguagem paradesignar os mesmos eventos psicopatolgicose, paralelamente, designarem pelo mesmonome eventos psicopatolgicos bastantedistintos entre si. Isso se d tanto entreprofissionais da psiquiatria, da Psicologia e dapsicanlise quanto no interior de um nicocampo disciplinar. A raiz dessa confuso de

    lnguas se inicia, segundo Foucault (1998),desde a origem do termodoena mental, o queinduziu assimilao dos processos mentaisaos cerebrais ou neuronais. a psicanlise queproduz a ruptura semitica que estabelece aidentidade dos fenmenos psquicos, distintosdos neuronaisou espirituais.

    As instituies de sade mental, incluindodesde os centros de ateno especial at

    os hospitais gerais que tm um ambulatrioespecfico, so tentativas de estabelecer umaordem em um fenmeno que, por muitotempo, foi definido ironicamente comodesrazo, caos, desordem. A escolha do termodisorder emerge como escolha, a de noestar prisioneiro da confuso de lnguas quemarca o surgimento da clnica psicoterpica,no contexto das ento chamadas doenasmentais. Justamente como aponta Foucault(1998), o termo doena induz a ideia de que

    os fenmenos das alteraes psicopatolgicas

    seriam da mesma natureza das doenas docorpo, como se psicopatologia e Medicinafossem da mesma natureza. Um dos principaiseixos problemticos da prtica psicanaltica

    em instituies deriva diretamente da crise dapsicopatologia.

    Para alm da dificuldade de uma definionica de psicopatologia, vrios autores(Dalgalarrondo, 2000; Martins, 2005; Paim,1986) concordam em compreend-la comoum campo do conhecimento, marcado porvrias abordagens tericas, cujo objeto deestudo pode ser vagamente delineado comoreferente ao adoecer mental. Martins (2005)

    e Pereira (2000) vo situar seu ethos comoprprio do sofrimento psquico, pela existnciado doente/sofrente ou pela vivncia subjetivade quem padece.

    Nesse contexto de debate, Fedida e Widlcher(1990) afirmam que o termopsicopatolgicoserefere atualmente a uma grande encruzilhadaepistemolgica na qual se entrecruzamdisciplinas cientficas heterogneas, quetm em comum a preocupao com o

    sofrimento psquico. Nesse panorama, pode-seassinalar que a psicanlise introduziu rupturasepistemolgicas importantes no mbito dacincia, estabeleceu o modelo a partir do qualas psicoterapias puderam se edificar e se inserirsimultaneamente nos campos da cincia e daclnica, transformou a relao entre o normale o patolgico, e, por fim, desestabilizouas psicologias e filosofias da conscincia,redirecionando a prpria noo de sujeito.

    A maneira especfica como cada uma dasdisciplinas heterogneas define formalmenteseu objeto psicopatolgicoe os procedimentosde pesquisa correspondentes variam de formamarcante, colocando assim o problema dascondies de possibilidade para o dilogointercientfico e para a confrontao crtica.Observa-se, por exemplo, o uso frequentede uma terminologia psicopatolgica comumsem que, no entanto, exista um mnimo

    de concordncia quanto aos contedossemnticos a que se referem.

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    O enorme sucesso obtido pelos sistemasoperacionais de classificao dos transtornosmentais, cujo paradigma contemporneo o DSM-IV, transformou inteiramente

    o campo da psicopatologia. Definida deforma ampla como disciplina que se ocupado sofrimento psquico ou, segundo aperspectiva mdica, como cincia dasdoenas mentais, a psicopatologia perdeprogressivamente seu papel de fundamentodas prticas psiquitricas, cedendo lugar aum convencionalismo nosogrfico que buscaresponder aos ideais de uniformizao delinguagem nesse campo(Pereira, 2000).

    Graas a um tipo muito restrito de empirismoe de pragmatismo embutidos em seuspressupostos e ocultos sob o manto de umpretenso ateorismo, o DSM terminou, naprtica, por excluir do debate cientificamenteautorizado todas as disciplinas cuja abordagemdo sofrimento psquico no repousasse sobredefinies explcitas e convencionais de fatosclnicos imediatamente constatveis. essenotadamente o caso da psicanlise.

    Da decorre um dos maiores impasses com osquais se defronta a psiquiatria contempornea.Tendo relegado a psicopatologia a umsegundo plano, a psiquiatria encontra-serelativamente despreparada para enfrentar asquestes de fundo sobre o sofrimento mentale sobre o estatuto dos modelos decorrentesdas diversas formas de abordagem do seuobjeto clnico e de pesquisa.

    Pode-se dizer , que essa confusopsicopatolgica se encontra duplicada oupotencializada pela falta de clareza quanto sfunes que cada um pode ou deve exercer.Parece adequado retomar a discusso sobre asrelaes que a prtica analtica estabelece comas outras reas do conhecimento presentes nainstituio pblica. Ao analisar essa relao,Alberti (2006) levanta a hiptese de que osprofissionais das diferentes reas de sademental que trabalham no contexto pblico

    institucional tm ideias bastante diferentes eat contraditrias sobre as funes e o lugar

    dos profissionais das demais especialidadescom as quais se relacionam. Segundo a autora,isso significa dizer que muitos profissionais quetrabalham nesse campo no tm o devido

    conhecimento acerca do que est sendofeito com os seus pacientes quando estes soencaminhados aos seus colegas dentro daprpria instituio.

    Ainda sobre essa inter-relao, Figueiredo(1996) traz relatos de experincias nasquais as reunies de rea, que so feitasem muitas instituies e se caracterizampor um momento no qual profissionais dediferentes especialidades, mas pertencentes

    mesma rea clnica (psiquiatras, psiclogos,assistentes sociais, psicanalistas), se renempara debater e para trocar informaessobre os pacientes e sobre o andamento dostrabalhos, conseguem muitas vezes minimizaro impacto desse estranhamento entre osdiferentes profissionais.

    A autora ressalta que seus estudos indicaramdois tipos diferentes de organizao dessasequipes de trabalho. As formas de organizaohierrquicas e igualitrias, as equipesorganizadas atravs da lgica hierrquica defunes e saberes, tendem a burocratizar aclnica, a verticalizar o poder e o saber, o quepode levar a uma cristalizao das prticasclnicas. J as equipes de orientao igualitriatendem a horizontalizar o poder, o que, muitasvezes, leva dissoluo das especialidadescomo posies hegemnicas algo que aautora considera positivo mas que pode

    ocasionar a falta de especificidade e confundiras funes a ponto de se perder a refernciada clnica (Figueiredo, 2004).

    A interao entre os profissionais da clnica importante, pois os diferentes campos deconhecimento tendem a traar explicaespara os fenmenos clnicos apresentadosde acordo com seus prprios referenciaistericos. No obstante, o que resta, no final, a necessidade de lembrar que o fundamental

    na clnica fazer valer o sujeito (Alberti,2005). Na dinmica de um Centro de Ateno

    Definida deforma ampla

    como disciplinaque se ocupa

    do sofrimentopsquico ou,segundo a

    perspectivamdica, como

    cincia dasdoenas mentais,a psicopatologia

    perdeprogressivamente

    seu papel defundamentodas prticaspsiquitricas,

    cedendolugar a umconvencionalismo

    nosogrfico quebusca responder

    aos ideais deuniformizao delinguagem nessecampo (Pereira,

    2000).

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    Psicossocial (CAPS), as prticas psicanalticasdentro desse local so influenciadas pelospressupostos da clnica mdica, isso porqueo diagnstico e o tratamento medicamentoso

    acabam tendo grande influncia na forma detratar o paciente (Oliveira, 2004).

    Esse ponto de vista, apesar de ocorrer aindaem algumas instituies, parece no refletirtotalmente a realidade dos atendimentospsicanalticos. Sigal (1989) inscreve odiagnstico psiquitrico clssico no comoforma de compreenso do paciente, mascomo forma de cristalizao do sofrimentona enfermidade mental classificvel, fazendo

    desaparecer a singularidade do paciente.Por outro lado,Figueiredo (1996) alerta quemuitos psicanalistas tendem ainda a levarsua prtica clnica do consultrio privadopara as instituies. Quando mais integradoscom o ambiente institucional, abrem mode tal posicionamento, mas nem por issoprecisam deixar de considerar a subjetividadedos sujeitos e suas implicaes no processoteraputico.

    importante considerar que existe umarelao ainda mais truncada entre a psicanlisee as psicoterapias em geral no contexto aquiestudado. Essas prticas esto ainda maisprximas uma da outra dentro da instituiopblica. Minatti (2004) afirma que, na maioriade seus atendimentos, o efeito apenasteraputico, aliviando ou suprimindo sintomasou, ainda, situando as pessoas em seu meio.No obstante ela ser uma psicanalista queutiliza o mtodo freudiano no ambienteinstitucional, acrescenta que raros so os casosem que se forma uma demanda propriamentedita que d algum direcionamento maisespecfico ao tratamento.

    Sobre esse ponto, Freud (1919/1996) jassinalava que, na ausncia de condies paraa prtica analtica, possvel ainda ajudar opaciente de alguma forma colocando-o nasituao mental mais favorvel soluo

    do seu conflito. Algumas vezes, o analista obrigado a assumir tambm a posio de

    mestre e mentor. Essa concepo nasce apartir dos trabalhos que Ferenczi realiza compacientes que deveriam ser rejeitados comosujeitos analisveis. No se pode desconsiderar

    a abertura de um campo de trabalho aospsicanalistas dentro das psicoterapias ou dostratamentos com finalidade teraputica.

    Vrios autores (Alberti, 2006; Figueiredo,1996; Rinaldi, 1999) acreditam que possvelestabelecer uma fronteira entre psicoterapiae psicanlise, com ganhos para o paciente.Nesse sentido, as duas abordagens podemencontrar uma via que no seja nem da fusonem da declarao de guerra ou ainda da pura

    crtica e nem aquela da renncia em proveitode uma clandestinidade ou refgio (Sauret,2006, p. 40).

    Figueiredo (1996) traz outra contribuioem relao postura do psicanalista dentroda instituio e no trato com os demaismembros da equipe de trabalho. Afirma queo psicanalista pode contribuir grandementepara a melhoria dos trabalhos, desde que nose apresente como o portador da boa nova:

    conhecedor de uma verdade que outrosignoram, mas sim, como mais um aprendizque ali est para aprender com os demais epara acrescentar seus conhecimentos a fim demelhorar o trabalho.

    Em ltima anlise, espera-se seja possvelabrir um espao, dentro da instituio, paraque o sujeito se expresse sem que a escutade seu sofrimento seja orientada por ideaismdicos de cura ou de reabilitao (Bueno& Pereira, 2002). E tambm que esta no setorne uma escuta compreensiva subordinada perspectiva do cuidado e preocupada comas questes do sentido, o que a tornariamoralizadora e educativa (Rinaldi, 1999).Esse ideal esbarra muitas vezes na concepode colegas de clnica que preferem procurarmaior conforto no cientificismo, no diagnsticorpido e na eficcia dos medicamentos, ase arriscarem com tcnicas novas que nodependem somente de seus prprios talentos,mas sim, do desejo do paciente e de seuenvolvimento no processo (Mazzei, 2001).

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    Essa postura que, de incio, abre mo dodesejo de curar o sujeito, considerandoque todo caso perdido, para s assim terlivre acesso ao inconsciente do paciente,

    em muitos casos, remete o profissional aoseu prprio desamparo, o que dificulta suaaceitao do mtodo psicanaltico (Alberti,2006). Nesse particular, preciso interrogar,com Freud, (1914a/1996) se no so osprprios psicanalistas os responsveis pelaresistncia ao mtodo psicanaltico por noconseguirem transmiti-lo de forma adequadae compreensvel aos colegas das demais reasde sade mental. claro que essa interrogaode Freud foi feita no comeo do sculo, mas

    ainda no perdeu a sua atualidade, uma vezque continuamos tentando expandir o saberpsicanaltico para os demais profissionais darea de sade (Alberti, 2006).

    Outro fato que chama a ateno a situaoa que os pacientes so levados quandose encontram dentro da instituio. Seusofrimento acaba sendo institucionalizado,pois esse sujeito transita pelos vrios setoresda instituio e atendido por muitos

    profissionais de diferentes reas, tenham omesmo direcionamento ou no. Por fim, um sofrimento escancarado a qualquer um profissional que venha ter contato comesse paciente. Nesse ponto, a singularidadedesaparece, e o que resta apenas maisum caso disso ou daquilo (Oliveira, 2004).Nesse estado de coisas, o psicanalista,ou o psiclogo, apresentado como umespecialista da instituio entendido dosaspectos emocionais e comportamentais doproblema. Ele chamado a dar continuidade normatizaodo indivduo para a sua boaadequao sociedade (Rosa, 2006).

    A chamada institucionalizao, que a reformapsiquitrica quer extinguir, parece bastanteresistente e presente quando se observa avinculao dos pacientes ao CAPS comoinstituio que os acolhe. interessante notarque a maioria dos pacientes gosta muito deser atendido na unidade de sade e tem entreseus principais receios a impossibilidade de

    continuar recebendo acompanhamento pelostcnicos do CAPS ou mesmo a possibilidadede receber alta. No raro os tcnicos sedeparam com casos em que o paciente

    obteve melhoras satisfatrias em relao a suacondio anterior, e, no entanto, encontrammuitas dificuldades para convencer o pacientea entrar em um grupo de desligamento ou paraprocurar, no ambiente externo ao CAPS, novasformas de relao e de possibilidades de vida.Podemos destacar alguns casos de usuriosque apresentam melhora significativa duranteum perodo de tratamento e, quando seaproxima o perodo de sua avaliao mdica,ocorre uma regresso marcante dessa melhora,

    com retorno do quadro de sofrimento queo paciente apresentava anteriormente, oque constitui ntida reao de dependnciapsquica da instituio.

    Sigal (1989) pensa que os trabalhadores dasade mental, no seu dia a dia, encontram umademanda sempre urgente devido gravidadedos sofrimentos ali experimentados, um vazioque precisa ser de algum modo preenchido,em que preciso dar respostas rpidas aproblemas extremamente complexos, cujaresoluo imediata quase impossvel.

    Outra questo abordada por Oliveira (2004)diz respeito uniformizao do tratamentodos pacientes, quando a equipe clnica dainstituio decide estabelecer um padronico de tratamento para todos os pacientesali atendidos. Segundo a autora, essa posiotambm tende a encobrir as diferenas entresas diversas reas do saber envolvidas nesseprocesso o que no acarreta benefcios

    e tambm mascara a subjetividade ea individualidade dos pacientes, pois, setodos so tratados da mesma forma, noexiste espao para o singular. E, como bemafirma Pereira (2000), a clnica o espao deexpresso do singular por excelncia.

    A escuta psicanaltica e acondio transferencial

    A questo domtodoou da tcnica psicanaltica palco de grande controvrsia, sobretudo

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    visto que algumas instituies psicanalticasse opuseram sua difuso para outrosmeios. O debate ganhou intensidade com odesenvolvimento da escola latino-americana

    (Martin-Bar, Pichn, Baremblitt, etc) queinegavelmente levou a prtica analticapara dentro dos manicmios e de outrasinstituies. Antes mesmo de examinar apsicanlise de grupo, devemos retomaralgumas posies que originalmente tratamda psicanlise individual em instituies oufora do dispositivo clssico do consultrio. Emse tratando de psicanlise, a partir de Freud,essas posies no so antagnicas quelasnecessrias ao trabalho de grupo, ao contrrio,

    contribuem para o desenvolvimento dasespecificidades deste ltimo.

    O termo mtodo psicanaltico utilizado porLacan para designar toda forma de prticaanaltica que seja executada em local queno seja o consultrio clnico tradicional(Lacan, 1966/1998). Entretanto, Baremblitt(1982) afirma que a psicanlise est mais parauma prtica social cientfica composta poruma teoria, com um objeto formal abstrato

    especfico (a estrutura psquica) e com suaregio determinante ltima (o inconsciente),por um mtodo, por uma tcnica e por umasituao experimental prpria a situaoanaltica. Nessa perspectiva, a prticapsicanaltica pode se adequar sem empecilhosao trabalho institucional.

    Bueno e Pereira (2002) definem a situaoanaltica como a condio transferencial etcnica particular capaz de sustentar, facea um sujeito que sofre com seus sintomas,o enigma de seu inconsciente e o desejode elucidao do saber que supostamenteele comporta (p. 16). Para esses autores, nesse momento que se torna possvel aconfrontao do sujeito com as implicaesde sua prpria fala. E tal situao garante aesse mtodo o status de psicanaltico, noimportando se ele se d no prpriosetting ouem outro ambiente onde se pratica a clnica.

    A escuta singular da psicanlise entendida

    por Rinaldi (1999) como a escuta daarticulao significante do inconsciente, eest longe de constituir uma forma de escutarque se subordina perspectiva do cuidado

    e se preocupa to somente com as questesdo sentido, o que acabaria acarretando maisuma prtica moralizante e educadora. Aautora acredita que essa forma de escutarseja a maneira encontrada para fazer adviresse sujeito complexo e singular que surgenos fenmenos da linguagem, nas fendasdo discurso de cada um. Dessa maneira,o sujeito no pode ser alheio quilo queo acomete, vez que esses fenmenos sotambm eventos de linguagem. preciso,

    ento, escutar a verdade do sujeito, mesmoque este no a compreenda ou no a aceitecomo tal.

    Por essa razo, a psicanlise tem aresponsabilidade de recentrar o lugar dosujeito, pois a noo de responsabilidade fundamental na dinmica psicanaltica. Nessesentido, parece que o discurso do psicanalista o nico a se dirigir propriamente para osujeito (Alberti, 2005). Rinaldi (1999) ressalta

    que aresponsabilidadeda qual a psicanlisetrata se distingue da responsabilidade moral,e diz respeito ao sujeito constitudo atravs dalinguagem em sua relao de alienao comesta ltima, sujeito esse atravessado pelossignificantes que vm do Outro. Pode-seinferir, ento, que a funo da psicanlise propiciar o aparecimento do sujeito, para queeste possa conduzir o seu prprio tratamento,utilizando-se, para tanto, dos mecanismospsicanalticos: a fala, a transferncia e sua

    capacidade de elaborao simblica.

    Del Volgo (1998) acrescenta ainda que adoena no acontece por acaso, mas vempara pr em ato aquilo que as palavras noconseguiram expressar e que s poderia tersignificado dessa maneira. Assim, no se tratade escutar os fatos ou as causas da doena,nem tampouco a doena, pois o discursosobre o corpo s alcana seu verdadeirovalor psquico na relao subjetiva em queeste aparece, mas sim, escutar a doena do

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    doente, pois s esta tem o poder de, atravsda complacncia da lngua, traduzir empalavras o sofrimento ptico do sujeito.

    Figueiredo (1996) analisa que a transferncia, ao mesmo tempo, o veculo principal peloqual o tratamento analtico tende a se movere tambm a vara cindida que demanda aoanalista astcia e muito cuidado no manuseio,porque o analista, mesmo apenas enunciandoa regra fundamental da psicanlise, se colocana posio daquele que escuta o outro, eisso, de alguma forma, convoca os contedosenclausurados no inconsciente do paciente.

    Nas palavras de Freud (1914b/1996), o repetir,tal como induzido no tratamento analtico,implica, por outro lado, evocar um fragmentoda vida real, e, por essa razo, no pode sersempre incuo e irrepreensvel (p. 167).

    Para este trabalho, entenderemos atransferncia como a retomada de sentido,em uma nova organizao do materialsignificante fonemtico e hieroglfico, quehavia sido relegado condio inconsciente.

    Esse processo ocorre na anlise pelo jogo dodeterminismo transferencial, no momentoem que, segundo Gori (1998), elevamos odiscurso associativo categoria de charada,jamais o confundindo com um desenhoa ser interpretado. nesse sentido que otrabalho do psicanalista na instituio ganhauma dimenso ainda mais importante, pois opaciente, na maioria das vezes, se apresentacomo um desenho multicolorido, compostopelo diagnstico mdico (do qual os pacientesfazem questo de nos deixar devidamenteinformados), pela suposta demanda trazidapelos familiares e pelas recomendaes daprpria instituio acerca do tratamento. Opsicanalista precisa, ento, se ater escuta dosofrimento para poder dar incio ao processoanaltico. Como afirma Del Volgo (1998), necessrio renunciar representao visualdo fenmeno psicopatolgico para que hajaa escuta de uma sonoridade significante do

    corpo. Para que a realidade psquica possaser conhecida pelo clnico, deve-se abandonar

    a iluso de pensar que os transtornos trazemrespostas satisfatrias aos dilemas sociais einconscientes do sofrimento.

    Podemos ainda afirmar, com Birman (2000),que o desejo continua sendo o substrato brutoa ser escutado e redirecionado nas falas denossos pacientes, em qualquer contexto outemporalidade. At mesmo por isso, parece serpossvel colocar em prtica aqui a psicanlisepraticada por Freud nos primrdios de seupercurso, na qual o objetivo a ressignificaodos sintomas apresentados pelos pacientes,sem a preocupao normalizadora queperpassa a clnica mdica e que atualmente

    atinge tambm o campo psicanaltico.

    A dificuldade, ento, recuperar a dimensodo singular, que s se torna possvel medidaque o sujeito encontra algum a quem possaenderear suas palavras, suas dores, seudesejo. nesse contexto que entra em cenaa transferncia como veculo de fundamentalimportncia para a prtica psicanaltica.

    A escuta psicanaltica nocontexto institucional

    Em relao transferncia, dentro dainstituio, existem outros elementos queparticipam desse processo em que deveocorrer o trabalho analtico. Em primeiro lugar,o analista no a primeira pessoa a escutaro sofrimento do paciente, uma vez que elenecessariamente j passou pela consulta como mdico e j foi acolhido individualmente

    por um dos profissionais da instituio quandochega quele local. Destarte, o que se escutainicialmente, nos atendimentos individuais, sempre algo do tipo eu j contei a minhahistria para o mdico, ficando a pessoamenos aberta possibilidade de estabelecerum vnculo atravs do qual possa emergir atransferncia.

    Outra questo ainda pode ser colocada: almdo analista, do paciente e do inconsciente,entra em jogo a figura da instituio, com suas

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    demandas prprias e suas regras, que precisamser respeitadas, a famlia do paciente, quenormalmente quem o encaminha ouinduz o mesmo a procurar algum tipo de

    tratamento, alm de criar uma demanda que suposta exatamente por ser derivada nodo prprio sujeito, mas daqueles que comele convivem e a vinculao desse mesmosujeito instituio como lugar que o acolhede maneira diferenciada. Todos os elementosparticipam e interferem na relao transfero-contratransferencial.

    Nesse sentido, Figueiredo (2004) afirma que

    a clnica deve atuar sobre o geral dado pordeterminadas diretrizes do campo da sademental, como: a reabilitao, a cidadania, aautonomia e a contratualidade, que visam aampliar as relaes sociais dos usurios e afazer proliferar suas possibilidades (p. 77). Asquestes relativas ao singular seriam a junodo particular que compreende o universodos transtornos mentais com as caractersticasintrnsecas de cada indivduo. O autor afirmaque o sintoma no existe sem que o sujeito lhe

    d significado, que o constitua atravs de suahistria, de sua fala e de suas peculiaridades.Assim, o diagnstico e o tratamento seapresentam como instncias indissociveis, eum acaba por definir o outro, no restandomais o diagnstico apenas como definidordo tratamento, mas tambm o contrrio(Figueiredo, 2004).

    Deve-se salientar que, no contexto institucional,

    os pacientes atendidos so classificados comoportadores de transtorno mental, desde queo paciente recebido, nos servios ps-criseou ps-urgncia. Ento configurado umquadro no qual vrios sujeitos concretos (opsiquiatra, o assistente social, o pedagogo,o enfermeiro, o psiclogo, o zelador, oporteiro, etc) vo ocupar, mesmo que nointencionalmente, a voz da instituio. Odiscurso institucional tem efeitos normativos,pelo poder que lhe atribudo (incluindoo poder de cura, fantasiado por pacientes

    e familiares) no imaginrio social, comseus discursos, ideologias e representaesda doena, da loucura e dos sofrimentosda alma ou da cabea. Do ponto de vista

    sociolgico, a instituio uma entidadetangvel. A rigor, se retomarmos Lapassade(1983), cada instituio em particular, cadaCAPS, por exemplo, uma organizao queparticulariza a instituio de sade mental.Contudo, do ponto de vista ontolgico, paracada paciente, a instituiosomente poderiase tornar uma entidade coletiva tangvel sel estivesse estabelecido um grupo social,no sentido restrito desse termo na Psicologiasocial. Raramente uma equipe de trabalho

    em uma instituio de sade mental constituium grupo, com coeso e interdependncia.

    Havendo um grupo, poder-se-ia pensar queo paciente encontraria na instituio umoutrocoletivo (da alteridade), substituto nosocial do Outro (no sentido lacaniano) ousubstituto dos objetos originais internalizados(no sentido que lhes atribudo tanto porBion quanto por Pichn-Rivire). No

    havendo grupo, o discurso da instituioser composto de um conjunto de discursosfragmentados, sem coeso (que uma dascaractersticas definidoras dos verdadeirosgrupos, e no das instituies), cuja unidadeou eixo normalmente o diagnstico mdico.Este, por sua vez, afasta a ateno de todos,inclusive do prprio paciente, do singular queexiste em cada sofrimento. Dessa forma, odiscurso da instituio engendra a duplicaoou o reforo do sintoma social, que j se

    encontra em operao: no processo deadoecimento, o imaginrio social oferece aosujeito as figuras da loucura e do sofrimentoque so legtimosou vlidos na cultura.

    No por acaso que a fragmentao dotempo e do espao figura privilegiadapara manifestar o sofrimento psquico nonosso tempo; no por acaso, a esquizofreniafaz o paradigma do sintoma social no casodo doente mental: o sujeito que perde a

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    cabea, tem o pensamento desorganizado,desequilbrio mental ouemocional.

    Assim, o discurso da instituio induz oureifica osintoma social. Esse discurso, comorepresentante vlido ecientificamente atestadodo discurso do Outro, vem tambm carregadodo Imaginrio culturalque corresponde condio do louco (Minatti, 1998).

    O sintoma social, sendo tambm formadode fantasias, passvel de fazer emergir osofrimento (Rosa, 1999). No trabalho de

    grupo, como veremos adiante no texto, umaprimeira fase se constituir da permisso daexpresso ou da emergncia do sintoma socialpara que os sujeitos possam desconstru-lo efazer aparecer o espao do sintoma singular.Podemos ento afirmar que, de certa forma,esse discurso produtor de sofrimento.Ainda assim, a disponibilidade do profissionalpara escutar tais relatos traz para a esfera dopossvel a ressignificao dopathos(paixo,

    padecimento) que tange a cada sujeito.

    Do que foi exposto, podemos afirmar queo grupo um instrumento privilegiado derecriao e de desconstruo de imagensmarcadas pela exterioridade, nas quais oeuno se reconhece. Isso particularmentepertinente no caso de pacientes queapresentaram episdios psicticos. O gruporepresenta um recurso metodolgico que

    abre o espao para o encontro com osimblico diante de um Alter que respondeao desejo e pelo desejo.

    Transportada para a realidade dos CAPS edos ambulatrios, tem-se uma dinmicaparecida, na qual, muitas vezes, o psicanalista chamado a atuar em um grupo operativo(costura, artesanato, etc) e ali precisa recolheras falas que no se apresentam como

    demanda constituda e trabalhar com esse

    material, possibilitando, atravs da escutaanaltica, o surgimento de elaboraes eressignificaes. Fica claro que a atuaodo psicanalista na instituio no pode se

    reduzir pura reproduo de suas aes emseu consultrio privado, pois tal atitude vaide encontro natureza da clnica que ali sedesenvolve, alm de torn-la completamenteineficaz por falta de elementos de trabalho(Rinaldi, 1999).

    Outras literaturas, como em Costa, (2006),chegam a afirmar que, na maioria dos casos,o que se v so pacientes cujo discurso sobreseu padecer no passa de monlogo vaziode sentido e desvinculado de sua existncia.Nesse quadro, o desafio, ento, recuperara dimenso do singular. No entanto, quandose estabelece a mediao grupal associadaao trabalho com e da transferncia, essasfalas passam a ganhar sentido. Os pacientescomeam a perceber que naquele espaopodero ser escutados, emergindo, nesseprocesso, o desejo.

    interessante lanar aqui o conceito de Birman(2000) quando afirma que o que se pretendecom a experincia analtica no um processode cura, propriamente, mas a possibilidade deque o sujeito possa relanar seu desejo e seapropriar com isso, de outra maneira, de suaprpria histria. No aspecto relacionado coma cura, ficam em aberto ainda questes taiscomo se o sujeito deseja alguma modificaoem sua vida, se possui alguma demandapara ser ressignificada, ou ainda se est em

    condies de participar de tal processo que,desde os tempos de Freud, exige um mnimode elaborao e de abstrao por parte dopaciente para que a anlise possa ocorrer.

    Psicanlise e atendimento emgrupo

    importante ressaltar que os autores citadosat este ponto baseiam suas experincias

    e consideraes, em sua maioria, nos

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    2010, 30 (3), 504-523Denise Teles Freire Campos, Carlos Mendes Rosa & Pedro Humberto Faria Campos

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    atendimentos individuais que realizam nocontexto institucional. No entanto, essasconstrues nos ajudam a considerar aspossveis formas de trabalhar a psicanlise

    de grupo dentro da instituio pblica,objetivo ltimo deste trabalho, j queexistem muitos pontos em comum entre apsicanlise individual praticada na instituioe a psicanlise de grupo que ora propomos,em especial, as consideraes feitas acercado vnculo social que perpassa toda a clnicainserida dentro da instituio.

    O trabalho com grupos de pacientes emCAPS, ou servios anlogos, marcado pela

    heterogeneidade na forma de organizaodos mesmos, cada qual se estruturando demaneira distinta dos demais. Essas diferentesmaneiras de organizao podem ser mais bemcompreendidas a partir da tica de Bion sobregrupos, em especial utilizando o seu conceitode suposies bsicas, que so as formasmais primitivas de organizao dentro de umgrupo, e a partir das concluses de Baremblitacerca da evoluo da psicoterapia de grupo.Segundo Bion (1975), as suposies bsicas,

    que podem conviver dentro de um mesmogrupo, surgem como formaes secundriasa uma cena primria extremamente antiga,representada em um nvel de objetos parciaise associada a ansiedades psicticas. Quantomais os sujeitos se encontram envolvidosnessas suposies bsicas, mais os gruposoperam no nvel de mecanismos primitivos.

    Baremblitt (1982) estabelece que, na histriadas tcnicas grupais, ocorreu a seguinteevoluo na forma de tratamento: primeirohouve a psicoterapia pelo grupo, no qual seutilizavam tcnicas de sugesto e identificaopara alcanar os objetivos desejados; emseguida, a psicoterapia no grupo, na qual oterapeuta ou analista tratava individualmentecada membro na presena dos demais, e,por ltimo, a psicoterapia do grupo, em queo inconsciente grupal aparece tal como umaunidade, com seus fantasmas e ansiedades.

    No que se refere nossa experincia de

    atendimentos semanais a trs grupos depacientes, podemos destacar alguns aspectosespecficos dos grupos nos quais trabalhamos eque corroboram as teorias aqui apresentadas.

    O grupo de acolhimento parece organizar-se sobre asuposio bsica de dependnciaem relao aos terapeutas que conduzem otrabalho. Aqui funciona fortemente osintomasocial, e h grande limite na partilha dasvivncias ou fantasias. O que parece acontecer um despejarde figuras da loucura, mesmoque boa parte desses pacientes no sejaestruturalmente psictica ou no esteja emcrise, o que no quer dizer que haja uma

    transferncia, tal como entendido no sentidoanaltico. Pode-se perceber que a demandaexplicitada nesse grupo em particular reproduo da demanda dos familiares quetrazem os pacientes at o CAPS. No aparece,nas falas dos pacientes, qualquer tipo dedemanda singular, mas sim, esteretipos dedoenas mentais e das suas sintomatologiastpicas. Aqui parece pertinente a afirmaode Pichon-Rivire (1986) de que o louconadamais que o depositrio da loucura familiar.

    tanto dessa maneira que esse grupo sempreocorre em concomitncia com outro no qualos familiares aqueles que acompanhamos pacientes participam e discutem asdificuldades e as possveis formas de colaborarno tratamento do paciente.

    Nos grupos psicoterpicos atendidos, pudemosnotar que seu andamento se assemelha aogrupo operativo teraputico de Pichon-Rivire,no qual a cura propriamente dita constitui adiminuio das ansiedades psicticas bsicasdesencadeadas pela regresso infantil; assim, atarefa do grupo a resoluo das situaes deansiedades criadas pelo prprio grupo, as quaisadquirem, em cada membro, caractersticaspeculiares. O autor afirma que, para isso, necessria a elaborao, atravs de sucessivasvoltas de espiral, de um esquema referencialcomum; esse conceito implica as formas quecada integrante do grupo utiliza em suasprprias vidas ao lidar com seus conflitos.Essa construo de um esquema referencial

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    grupal leva a um processo de aprendizagemno qual os integrantes do grupo so levadosa fazer uma anlise semntica e sistmicade seus prprios esquemas referenciais (p.

    103). Podem, ento, restabelecer algumasredes de comunicao prejudicadas duranteo processo de adoecimento, destruir aresistncia mudana e reorganizar uma novaetapa da prpria mudana e do seu meio.

    Outro fator que caracteriza esses grupospsicoterpicos a diferena na formade organizao, que pode ser percebidade um grupo para outro. Um dos nossosgrupos psicoterpicos, que ora chamaremos

    de Grupo I, pode ser enquadrado naconcepo de Baremblit de psicoterapiano grupo, onde ocorrem poucas interaesentre os pacientes e as falas so dirigidasao terapeuta que conduz o trabalho. interessante notar que esse grupo possui amaioria de seus participantes diagnosticadoscomo esquizofrnicos. Entendemos que, naestrutura psictica, mais difcil fazer comque ocorra um redirecionamento da fala parao outro, nesse caso substituto do Outro. Mas,

    mesmo nesse grupo, tais interaes ocorrem,fato que leva a questionar aestruturapsictica(ou esquizofrnica, na forma do diagnstico)da maioria de seus integrantes.

    J o grupo que chamaremos de Grupo IIse enquadra na psicoterapia do grupo, noqual as falas so dirigidas ao grupo e esteresponde, gerando elaboraes e associaese permitindo ao terapeuta questionar asquestes grupais e assim poder tambmtrabalhar as questes individuais com oamparo da mediao grupal. Ocorre, ento,a emergncia do desejo atravs da fantasiaque encaminhada ao social. O laosocial permite que o outro entre em cena equestione as falas do sujeito atravs do grupo.

    A opo pela sistemtica de atendimentosem grupo se justifica pela possibilidadede a interao grupal facilitar a reinserodos sujeitos na sociedade, recriando umprimeiro lao social, ancorado em uma

    espcie de imaginrio grupal, ou seja, h umarecriao de imagens socialmente partilhadascom a cultura, porm em menor escala emenos persecutrias. Podemos destacar

    ainda a questo da forma de o paciente secomportar no grupo derivar de suas fantasiasem relao ao seu grupo familiar, onde oanalista pode questionar a articulao entreogrupo internalizado, como aponta Pichon-Rivire, com o grupo real no qual ele agora seencontra. Essa parece ser uma oportunidadede ressocializao do sujeito alienado. nessesentido que se pode dizer que a interpretaono grupo tem sua especificidade: apontar olugar para onde, do ponto de vista singular e

    simblico, a fala se dirige.

    Assim, o grupo teraputico pode funcionarcomo um cenrio onde cada sujeito se expressaa partir de seu inconsciente aprisionado emum imaginrio que produz mais sofrimento eque, ao mesmo tempo, permite que cada umdos demais participantes observe os efeitosque suas fantasias produzem novir aserdogrupo (Sigal, 1989). Tais fantasias sustentamas aes, as intenes e os desejos do sujeito,

    bases do funcionamento do inconsciente.A organizao do grupo se d atravs deum processo estrutural no qual os sujeitosconstituem sujeitos e objetos dessa mesmaorganizao, influenciando o grupo e sendopor ele influenciados.

    Parece-nos que o psicanalista no pode perderde vista a finalidade do dispositivo clnicocom o qual opera, tendo sempre em menteque ele o responsvel pelo direcionamento

    psicanaltico ou no do processo. Comoafirma Stein (1988), embora a colaboraodo paciente seja necessria ao processoanaltico, a paternidade da obra cabe aopsicanalista... e a obra a metamorfose sofridapelo paciente em sua adaptao realidade,segundo o desejo do psicanalista supostoconforme realidade e conforme igualmente moralidade (p. 59). Parece certo que, nessecaso especfico, essa transformao visadapelo processo analtico no pode deixar delevar em conta a poltica institucional e o

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    conjunto de demandas oriundas do pacientee de seus familiares. A prtica vem demonstraraquilo que outros autores (Figueiredo,1996; Moffatt, 1984) j apontaram quando

    asseguram que a psicanlise no pode seestabelecer no contexto institucional tal qual praticada pelos psicanalistas dentro dosconsultrios, mas deve adaptar-se realidadedas demandas com as quais se depara sem,no entanto, deixar de lado sua identidade.

    O que a nossa prtica vem demonstrando que cada paciente traz, em sua histria,a marca da excluso e da perda da voz. Equando algum se coloca em posio de

    escut-lo, garantindo que naquele espaoele ter de volta o seu direito de expresso,isso j se torna teraputico. No entanto,a simples manifestao falada que gera acatarse no suficiente para promover amelhora real no sujeito. Nesse momento,entra em cena a figura do terapeuta, quequestiona a relao entre a necessidade eo desejo, daquele sujeito, de fazer partedaquele grupo. Os integrantes do grupopsicoterpico so convidados a participardo processo teraputico e tm o direito dedeix-lo quando bem entenderem. Mas,enquanto esto no grupo, so chamados afalar e a se colocar frente s prprias questes.As pontuaes e as construes feitas peloterapeuta e pelos demais membros do grupotrazem para aquele que fala a condio dese deparar com seus fantasmas.

    Outra questo que perpassa os atendimentos o fato de o grupo funcionar como suportefrente ao desamparo. Quando um pacientefala e o grupo responde, seja corroborandosua fala, seja contestando-a, ele se senteamparado em sua condio, pois no estmais sozinho, tendo agora quem compartilheseu sofrimento. Nesse ponto, em que ogrupo se molda a fim de acolher a demandadaquele indivduo, o terapeuta pode intervirquestionando os fantasmas inconscientes dogrupo, para que a questo individual que se

    tornou grupal atravs da mediao produza

    efeitos de pontuao em todos os que delaagora fazem parte. Essa prtica nos parece amelhor forma de adaptao do dispositivofreudiano de anlise na situao grupal.

    Pode parecer estranho falar de desejo emgrupos com sujeitos psicticos, na grandemaioria diagnosticada dentro da grandefamlia da esquizofrenia (F20). Mas o quevemos so pacientes que viveram episdiospsicticos ou que apresentam traos dessesepisdios, no entanto, tem grande parte desua existncia preservada e permevel aotrabalho da transferncia. Em certos campospreservados de sua vida, o sujeito consegue,

    com o suporte do terapeuta e o do grupo,descobrir o prprio desejo e utilizar-sedele como mola propulsora de seu prpriotratamento. Aqui o terapeuta se coloca naposio descrita por Fedida e Widlcher(1990) como psiquismo auxiliar do paciente.

    Em termos prticos, a psicanlise no teminteno, ou sequer se acha capaz, dedevolver a sanidade mental a qualquer

    paciente que seja nem tampouco torn-lo novamente um cidado este ltimoentendido como o emblema da normalidadena sociedade atual. A psicanlise no seprope a ocupar o lugar de agente da ordem,de instrumento de manuteno dostatus quoda civilizao moderna. Sua proposta darao sujeito condies para que ele consigaencarar de maneira diferente da atual suaexistncia e sua relao com o prprio desejo.Esse suporte no suprime o trabalho de

    incluso, pois o campo conjunto da cidadaniae da clnica s pode ser construdo de modocomplementar.

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    Carlos Mendes RosaPsiclogo, Ps-Graduado em Psicopatologia Clnica pela Universidade Paulista, So Paulo, SP Brasil.E-mail: [email protected]

    Pedro Humberto Faria CamposDoutor em Psicologia Social pela Universit de Provence, Frana, FRA Frana.

    *Endereo para envio de correspondncia:Av. Lineu de Paula Machado, 826 ap. 101 Lagoa, Rio de Janeiro, RJ - Brasil CEP 22 470-040.E-mail: [email protected]

    Recebido 15/03/2009 , 1 Reformulao 25/11/2009, 2 Reformulao 12/02/2010, Aprovado 26/02/10.

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