a comunicação nos processos de certificação de comunidades...

15
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 A Comunicação nos processos de certificação de comunidades quilombolas do Sertão do São Francisco: o caso do Alagadiço 1 Márcia SANTOS 2 Ceres SANTOS 3 Universidade do Estado da Bahia, Juazeiro, Bahia Resumo Este artigo tem por objetivo realizar um estudo de caso sobre as práticas educomunicativas adotadas na comunidade quilombola do Alagadiço, localizada a 18 quilômetros do centro de Juazeiro, Bahia, que contribuíram, junto com ações de outras áreas, para a certificação dessa população junto a Fundação Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura, em maio de 2016. Algumas dessas práticas foram idealizadas no campo da Educom, sugerindo a participação do grupo na concepção e execução das intervenções. Elencamos as metodologias utilizadas dentro de um projeto de Pesquisa Ação que recorreu a diferentes áreas e atores sociais para responder a uma demanda oriunda da comunidade. A proposta também recorre aos conceitos de Educom, proposta por Ismar de Oliveira Soares, de identidade de Stuart Hall e Nestor Canclini e trabalha com a formulação de Fotoetngorafia de Luiz Eduardo Achutti. Palavras-chave: 1.Introdução As intervenções comunicativas propostas para a comunidade do Alagadiço aconteceram dentro das ações da pesquisa “Perfil Fotoetnográfico das populações quilombolas do submédio São Francisco: identidades em movimento”, desenvolvida no curso de Jornalismo em Multimeios, do Departamento de Ciências Humanas (DCH- III), da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no campus de Juazeiro/Ba, desde 2012, com atividades diversas, como relataremos ao longo deste artigo. Parte desse material está 1 Trabalho apresentado no DT 7 Comunicação, Espaço e Cidadania, GP Comunicação para a Cidadania, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Márcia Guena dos Santos, Doutora em História Social, jornalista e professora do curso de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus de Juazeiro (Ba). E-mail: [email protected] 3 Céres Santos, discente do Curso de Doutorado Interinstitucional (Dinter) entre o Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade de São Paulo (PPGCOM USP) e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB). E-mail: [email protected]

Upload: dinhhuong

Post on 25-Dec-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

1

A Comunicação nos processos de certificação de comunidades quilombolas do Sertão

do São Francisco: o caso do Alagadiço1

Márcia SANTOS2

Ceres SANTOS3

Universidade do Estado da Bahia, Juazeiro, Bahia

Resumo

Este artigo tem por objetivo realizar um estudo de caso sobre as práticas educomunicativas

adotadas na comunidade quilombola do Alagadiço, localizada a 18 quilômetros do centro de

Juazeiro, Bahia, que contribuíram, junto com ações de outras áreas, para a certificação dessa

população junto a Fundação Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura, em maio de

2016. Algumas dessas práticas foram idealizadas no campo da Educom, sugerindo a

participação do grupo na concepção e execução das intervenções. Elencamos as metodologias

utilizadas dentro de um projeto de Pesquisa Ação que recorreu a diferentes áreas e atores

sociais para responder a uma demanda oriunda da comunidade. A proposta também recorre

aos conceitos de Educom, proposta por Ismar de Oliveira Soares, de identidade de Stuart Hall

e Nestor Canclini e trabalha com a formulação de Fotoetngorafia de Luiz Eduardo Achutti.

Palavras-chave:

1.Introdução

As intervenções comunicativas propostas para a comunidade do Alagadiço

aconteceram dentro das ações da pesquisa “Perfil Fotoetnográfico das populações

quilombolas do submédio São Francisco: identidades em movimento”, desenvolvida no curso

de Jornalismo em Multimeios, do Departamento de Ciências Humanas (DCH- III), da

Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no campus de Juazeiro/Ba, desde 2012, com

atividades diversas, como relataremos ao longo deste artigo. Parte desse material está

1 Trabalho apresentado no DT 7 – Comunicação, Espaço e Cidadania, GP Comunicação para a Cidadania, evento

componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Márcia Guena dos Santos, Doutora em História Social, jornalista e professora do curso de Jornalismo da

Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus de Juazeiro (Ba). E-mail: [email protected]

3 Céres Santos, discente do Curso de Doutorado Interinstitucional (Dinter) entre o Programa de Pós-graduação em

Comunicação da Universidade de São Paulo (PPGCOM – USP) e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB). E-mail:

[email protected]

Page 2: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

2

divulgado no blog da pesquisa: quilombosesertões.blogspot.com e toda a proposta de trabalho

foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UNEB, após submissão à Plataforma Brasil.

A pesquisa vem delineando o perfil das comunidades quilombolas da região em

questão, utilizando várias metodologias da comunicação em interface com a antropologia: a

principal delas é a fotoetnografia, que já foi utilizada para traçar o perfil de nove comunidades

em Juazeiro; entrevistas semi-abertas gravadas em áudio e vídeo; a postagem e divulgação

do material levantado em plataformas virtuais (blog, facebook e flicker da pesquisa)4, com

veiculação autorizada pelas comunidades. Além desses métodos e metodologias teóricas,

associamos a práxis educomunicativa para a realização de cursos e oficinas.

Nesta fase temos nos debruçado sobre as identidades em questão na região, utilizando

conceitos desenvolvidos por autores Hall (2001) e Canclini, de identidades híbridas e em

movimento. Porém, as aproximações aos sujeitos têm nos conduzido à pesquisa-ação,

trabalhando, assim na mediação entre as comunidades e os direitos quilombolas estabelecidos

pelo Estado.

A área desta pesquisa corresponde ao submédio São Francisco, que engloba

cidades nos estados da Bahia e Pernambuco, “estendendo-se de Remanso

até a cidade de Paulo Afonso (BA), e incluindo as sub-bacias dos rios Pajeú,

Tourão e Vargem, além da sub-bacia do rio Moxotó, último afluente da

margem esquerda” (CODEVASF, 2009). Nesse perímetro estão as cidade

de Remanso, Sobradinho, Juazeiro, Curaça (1); Paulo Afonso, na Bahia;

Petrolina (2), Santa Maria da Boa Vista (3), Ouricuri, Belém do São

Francisco, Floresta (2), Petrolândia (1) e Serra Talhada, em Pernambuco.

Os números entre parênteses representam a quantidade de comunidades

quilombolas certificadas. (SANTOS, 2014).

Nos textos apresentados por esta pesquisa temos chamado atenção para o fato de que

a cidade de Juazeiro possui 73% de população negra – entre pretos e pardos, de acordo com

o último censo do Instituto Brasileiro e Geográfico (IBGE, 2010). O que pode ser explicado

pela forte presença de comunidades de origem negra. No entorno da cidade, existem 14

comunidades quilombolas identificadas pelo Ministério do Desenvolvimento, de acordo com

dados do projeto Geografar (2005) e mais de 40, de acordo com os movimentos sociais

organizados da região. Apesar desses números, não havia até maio de 2016 nenhuma

comunidade quilombola certificada pela Fundação Palmares, tampouco um movimento pela

busca desse direito. O desconhecimento do marco legal estabelecido a partir da constituição

4 Blog: quilombosesertoes.blogspot.com; Flickr: https://www.flickr.com/people/quilombosesertoes;

Facebook: https://www.facebook.com/QuilomboseSertoes?fref=ts

Page 3: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

3

de 1988 - principalmente o Artigo 68 das Disposições Transitórias que garante a posse da

terra para as populações tradicionais - por parte das comunidades era e ainda é muito grande.

A comunidade do Alagadiço foi a primeira a conquistar a certificação, em maio de 2016.

Hoje no Brasil existem 2.401 comunidades certificadas pela Fundação Cultural

Palmares (2016), estando a Bahia em primeiro lugar, com 597 certificações; em Pernambuco

são 129. Até maio desse ano não existia nenhuma comunidade certificada em Juazeiro e

apenas duas em Petrolina, cidades de alta concentração negra. Em Senhor do Bonfim,

município localizado a 120 quilômetros de Juazeiro, há 16 comunidades quilombolas

certificadas. Acreditamos que esse número seja decorrente de um consistente trabalho de

articulação já existente na região em torno do quilombo de Tijuassu - uma das primeiras

comunidades certificadas naquela cidade, em 20055. Ou seja, a ausência de políticas públicas

direcionadas a esse grupo populacional os tem afastados dos marcos regulatórios quilombola.

Porém, apenas 207 comunidades foram tituladas pelo Instituto Nacional de Colonização

e Reforma Agrária (INCRA, 2016). Observa-se que essa questão, posse de terra - envolve

seculares lutas no país. Afora isso e, possivelmente, por conta dessa trajetória as comunidades

enfrentam difíceis e morosos trâmites exigidos pelo Estado para titulação da terra. Assim,

existem 1.533 processos abertos para titulação (INCRA, 2016).

Apesar disso, percebemos, nas entrevistas realizadas com os moradores mais velhos,

que a ocupação dessas áreas, em Juazeiro, data mais de 200 anos. Pessoas com mais de 80

anos relatam histórias de seus avós ou bisavós e suas formas de relação com a terra, que

passava necessariamente pela ocupação de uma área muito maior do que a que vivem hoje e

com acesso à água, diga-se, ao rio. Ou seja, há uma memória afrodescendente, ou negra,

como passaremos a chamar a partir de agora, com relatos intensos da ocupação de origem

africana e indígena na região, que devem ser considerados no estabelecimento de qualquer

política pública.

Uma das ações do grupo de pesquisa foi a criação do Grupo de Articulação

Quilombola envolvendo todas as comunidades interessadas em conhecer os marcos legais

estabelecidos pelo Estado, outras instituições superiores que trabalham com a questão,

entidades civis e a prefeitura do município. O objetivo do grupo é trocar informações sobre

o marco quilombola instituído no país e impulsionar os processos de certificação para as

comunidades interessadas em fazê-lo.

5 Ibidem.

Page 4: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

4

Definições de quilombos6

Para a nossa pesquisa é importante discutir, de forma permanente o que são

comunidades quilombolas e como esse conceito foi mudando ao longo da história no Brasil

e, mais recentemente, com o fim da ditadura militar e a conquista de direitos sociais. Mesmo

que parece familiar para a esfera política e para os movimentos negros, uma parte importante

das comunidades negras rurais não conhece as sutilezas da história muito menos o marco

legar instaurado a partir de 1988 com a nova constituição.

As mudanças no conceito, ocorridas nos dois últimos séculos

decorrem de inflexões políticas e ideológicas. A definição que utilizamos

de quilombos nessa pesquisa é recente, foi emprestada da Antropologia e é

consequência de uma ampla discussão promovida pela Associação

Brasileira de Antropologia (ABA), com representantes de comunidades

quilombolas e outros setores interessados na questão, como aponta Arruti

(2008, p.316). Assim, em 1994, a Fundação Palmares promoveu em

Brasília, entre os dias 25 e 27 de outubro, um seminário que culminou na

elaboração de um significado para comunidades quilombolas, o qual foi

absorvido pelo Artigo 68 da Constituição Federal (O´DWYER, 2008 apud

SANTOS, 2014).

A expressão adotada incorpora “comunidades negras rurais quilombolas”, territórios

onde vivem as populações quilombolas de origem africana, conceito que incorpora as “terras

de santo”, “terras de preto”, “mucambos” e quilombos (O´DWYER, 2002).

Nesse sentido, é a passagem da condição de escravo para a de camponês

livre que caracteriza esses agrupamentos, independentemente da estratégia

utilizada pelo movimento de resistência. Assim, além da fuga com

ocupação de terras livres – estratégia já amplamente difundida por materiais

didáticos – o recebimento de terras como pagamento por serviços prestados

ao Estado, como heranças, doações, compras ou mesmo permanência em

terras privadas cujos proprietários não deixaram sucessores, também

constituíram meios recorrentes de formação dessas comunidades

(ANDRADE E TRECANNNI, 2000, p. 602, apud CHASIN).

As pesquisas já realizadas apontam que esta definição é ampla o suficiente para

comportar as áreas investigadas. Nelas, a despeito do desconhecimento do marco legal

instituído, as populações de origem negra-indígena estão organizadas por laços de

6 Esta discussão foi realizada mais detalhadamente no artigo, de Márcia Guena dos Santos, “Quilombos de

Juazeiro: enfrentamentos e perspectivas a partir de uma abordagem fotoetnográfica, publicado na Revista

ComSertões. Revista de Comunicação e Cultura do Semiárido, Volume 1, n. 2, 2014.

Page 5: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

5

solidariedade e consanguinidade. Grandes famílias se formaram nesses territórios, que não

são exclusivamente negros, mas receberam populações indígenas e com o tempo oriundas de

outros estados e territórios. Essa composição torna a discussão sobre a organização

quilombola e os processos de autodeterminação complexos. A ocupação desses territórios

também foi mudando ao longo do tempo. Inicialmente as populações se organizaram nas

margens do Rio São Francisco, o que facilitava a pequena produção. A chegada de grandes

empreendimentos agrícolas e de grandes projetos estatais, como as hidrelétricas, provocou a

expulsão dessas populações para áreas mais internas. Um processo que se repetiu em quase

todas as oito comunidades investigadas, mais particularmente no Alagadiço. É o que temos

visto nas visitas às comunidades quilombolas. Em relação à ocupação do espaço, O´Dwyer

define muito bem:

No que diz respeito à territorialidade desses grupos, a ocupação da terra não

é feita em termos de lotes individuais, predominando seu uso comum. A

utilização dessas áreas obedece a sazonalização das atividades, sejam

agrícolas, extrativistas ou outras, caracterizando diferentes formas de uso e

ocupação dos elementos essenciais ao ecossistema, que tomam por base

laços de parentesco e vizinhança, assentados em relações de solidariedade

e reciprocidade (O´DWYER, 2008 apud SANTOS, 2014).

O marco legal instituído passou a chamar esses grupos de Comunidades

remanescentes de quilombo”, as quais definem como grupos étnico-raciais segundo critérios

de auto atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais

específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão

histórica sofrida, de acordo com o estabelecido pelo Decreto 4.887/2003 (SEPIR, 2012). Sem

negar a definição acima, a Fundação Palmares enfatiza que “Quilombolas são descendentes

de africanos escravizados que mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas ao

longo dos séculos” (FUNDAÇÃO PALMARES, 2016).

O Alagadiço

A comunidade quilombola do Alagadiço pode ser pensada a partir dessa definição de

quilombo: um território de confluência de populações negras e indígena, que se uniram por

laços de solidariedade, mantendo práticas culturais herdadas de seus ancestrais. As margens

do Rio São Francisco que contornam a cidade de Juazeiro/BA, localizada a 500 quilômetros

da capital do Estado da Bahia (Salvador), abrigam cerca de 14 comunidades negro-indígenas,

Page 6: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

6

remanescentes de quilombos e de outras nações indígenas, que vivem nessas terras há mais

de 200 anos. A maioria delas foi deslocada de suas áreas originais por projetos públicos ou

privados, vinculados, principalmente, ao agronegócio e à construção de hidroelétricas.

Sofrem com problemas estruturais básicos, como falta de saneamento básico, de transporte

público e de assistência médica. E na região, banhada por um dos maiores rios do país,

conhecida pelos grandes projetos de fruticultura irrigada, estas populações sofrem de um mal

maior: falta de acesso a água para trabalhar e produzir. Uma delas é a comunidade quilombola

do Alagadiço.

A ocupação da comunidade do Alagadiço data mais de 200 anos, por famílias negras

recém saídas do sistema escravocrata, que ali foram se agrupando e estabelecendo laços de

solidariedade. Pessoas com mais de 80 anos, como Dona Alvina dos Santos, relatam histórias

de seus avós ou bisavós e suas formas de relação com a terra, que passava, necessariamente

pela ocupação de uma área muito maior do que a que vivem hoje e com acesso à água. Diga-

se, ao rio. Ou seja, há uma memória negra com relatos intensos da ocupação de origem

africana na região.

Recentemente a comunidade alterou o seu estatuto para Comunidade quilombola e

transformou a antiga Associação de Trabalhadores agrícolas em “Associação da Comunidade

dos Remanescentes Quilombolas de Alagadiço”, e vem discutindo a sua história e origem

quilombolas.

As ações do projeto

As ações realizadas na comunidade do Alagadiço começaram em 2012 com a primeira

aproximação à comunidade seguindo a metodologia inicial do projeto, que pretendia apenas

traçar um perfil fotoetnográfico. O método adotado concerne na realização de conversas e

entrevistas preliminares com o objetivo de apresentar a pesquisa e detectar se a comunidade

tem interesse em realiza-la. Em um segundo momento realizamos entrevistas e imagens com

os moradores mais velhos e as lideranças com o objetivo de conhecer a história da

comunidade; intercalamos com a construção do perfil fotoetnográfico das pessoas e do

território. Foi no âmbito da pesquisa a essa comunidade que fomos inquiridos, pela moradora

mais velha, Dona Alvina dos Santos, se só faríamos aquilo, se não levaríamos algum

benefício para a comunidade. Essa pergunta conduziu o projeto a incorporação de outras

Page 7: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

7

metodologias: a pesquisa ação e a educomunicação. Passamos a realizar conversas periódicas

com o grupo para saber seus desejos e necessidades, e entre eles estava a busca para a

certificação. Assim, a pesquisa passou a contribuir com o processo de certificação através de

várias ações no campo da comunicação e também multidisciplinares, com a colaboração de

outros pesquisadores e instituições.

Desse modo, há um pouco mais de três anos, vem acontecendo na comunidade um

trabalho constante e formativo, já que se trata de um grupo com baixa formação e precário

acesso aos bens e equipamentos públicos. Todas as questões que envolvem certificação e

titulação da terra, por exemplo, são debatidas, por solicitação da comunidade, até que tenha

um grau de amadurecimento suficiente para realizar suas opções. Além dos integrantes do

projeto de pesquisa, contamos com colaboradores ligados a diferentes instituições: a

Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade ligada a Igreja Católica; a Associação de

Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR); os professores Gabriela Barreto de Sá, da área

de Direito, da UNEB; Ícaro Maia, geógrafo da Universidade do Vale do São Francisco

(Univasf); Ceres Santos, da área de Comunicação Social, UNEB; a Associação de Mulheres

Rendeiras; e mais recentemente o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada

(IRPAA) e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Igualdade Social (Sedis), de

Juazeiro, Bahia.

Elencamos na sequencia as principais intervenções realizadas na comunidade e com

interfaces com a área de Comunicação: 1. Visita preliminar; 2. Consulta e entrevista a

moradores mais velhos e lideranças locais; 3. Realização do perfil fotoetnográfico da

comunidade; 4. Palestras sobre direito quilombola; 5. Oficina de fotografia com a

comunidade seguida de almoço coletivo, realizada por um bolsista da pesquisa em associação

a disciplina Comunicação Comunitária ministrada no curso de Jornalismo da Uneb pela

professora Gislene Moreira; 6. Reunião com a comunidade para discussão do processo de

certificação com a presença da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Associação de

Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR); 7. Encontro para revisão do estatuto da antiga

associação de moradores; 8. Visita para organização das próximas atividades; 8. Oficina de

Web, realizada na UNEB, com duração de 30 horas; 9. Registro (fotos e textos) da assembleia

para aprovação do novo estatuto da associação enquanto comunidade quilombola; 10.

Reunião para discussão de atividades de geração de renda; 11. Palestra com a liderança da

Associação de Mulheres Rendeiras de Petrolina; 12. Visita à Associação de Mulheres

Page 8: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

8

Rendeiras; 13. Participação das ações do 20 de novembro na Associação de Mulheres

Rendeiras; 14. Exposição fotográfica realizada pelos pesquisadores e lançada na comunidade,

a partir das imagens do projeto; 15. Abertura da mesma exposição no principal teatro da

cidade: Teatro João Gilberto, com debate com a comunidade; 16. Participação da comunidade

na mesa do dia da Consciência Negra (2015); 17. Discussão do significado da Certificação,

após a publicação em 20 de maio; 18. Rearticulação da comunidade com agentes públicos da

municipalidade e outras universidades que pesquisam o tema.

A partir desse elenco de ações dedicaremos uma maior discussão a três intervenções

realizadas no campo da comunicação: a oficina de fotografia; a oficina de Web; e a exposição

fotográfica.

A Oficina de Fotografia

Antes de descrever a metodologia adotada para a construção da oficina de fotografia

é importante destacar que discutimos, no grupo de pesquisa alguns aspectos teóricos: o

primeiro deles foi a dimensão da fotografia na contemporaneidade, que não nos alongaremos

aqui, mas é importante frisar que discutimos autores como Susan Sontag (2006) e Phillip

Dubois, destacando o aspecto indiciário da imagem, sem, contudo elevá-lo a exclusiva fonte

de sentido da imagem, mas destacando ainda como fundamentais a autoria e as relações com

o sujeito fotografado e com aquele que a observa.

Além desses aspectos que antecedem as práticas propostas, trabalhamos com um

conceito chave da pesquisa: a fotoetnografia. Temos como referências autores como Paulo

César Boni (2011) e Luiz Eduardo Achutti (2004), um dos principais pesquisadores do tema.

Para ele, a utilização dessa metodologia transforma a fotografia em principal linguagem narrativa

nas pesquisas etnográficas. Ele propõe que se trabalhe com sequencias organizadas de imagens,

partindo de um planejamento prévio, que consiga explorar o tema em seus aspectos mais íntimos e

mais genéricos. É “a fotografia como escritura por inteiro, quando se para de recorrer às palavras para

se deixar levar em uma viagem visual reveladora, abrigando o inefável que igualmente encerra

conhecimento e sentido” (ACHUTTI, 2004, p. 87).

A oficina foi realizada em junho de 2013, por um grupo de estudantes da disciplina

Comunicação e Educação II, Adailma Gomes, Amanda Lima, Cátia Regina e um bolsista do

projeto de pesquisa que ora abordamos nesse projeto, Juliano Ferreira, que propôs a oficina

e a vinculou ao projeto de pesquisa, e a autora deste artigo, Márcia Guena realizou a palestra

Page 9: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

9

de abertura. Na oficina, os estudantes reuniram um grupo de 20 10 pessoas da comunidade,

na antiga sede da escola do Alagadiço, hoje em desuso, e ministrou uma oficina de 8 horas,

realizada, dividida em duas partes: a primeira consistiu em passar informações sobre a

fotografia enquanto linguagem e algumas técnicas; na segunda a pretensão era realizar

registros sobre temas de interesse da comunidade, tendo como cenário de fundo o fato de

serem quilombolas. Na primeira parte encontro foram apresentadas noções muito

preliminares e rápidas de fotografia abordando os seguintes tópicos: história e fotógrafos;

aspectos visuais como composição, enquadramento e cores; e noções sobre o equipamento,

tendo o cuidado de aproveitar o que a comunidade dispunha, mas foi apresentado o

equipamento utilizado no curso de Jornalismo, a câmara Canon EOS 60D. Ao longo da

oficina muitas imagens e fotógrafos foram apresentados.

Na segunda parte a comunidade foi convidada a discutir que aspectos gostaria de fotografar.

Para isso foi realizada uma dinâmica de grupo, na qual os moradores foram instigados a

levantar questões de interesse. As perguntas feitas foram as seguintes: o que gostariam de

fotografar? Quais os temas de interesse? “Moradia, Acesso à água, estradas, animais,

famílias, seca, plantações, entre outros temas demonstravam que a comunidade conseguiu

enxergar na atividade uma forma de mapear seu espaço e aspectos culturais para catalogação

e possível reconhecimento como comunidade quilombola” (MÍDIA E ESCOLA, 2013).

Todos saíram a campo, realizaram suas imagens, em um mesmo dia, as quais foram

armazenadas para avaliação e discussão no encontro seguinte. Este foi o ponto alto da oficina.

As imagens realizadas pelo grupo de moradores mais velhos retratou os espaços da

comunidade e a família. Foi um momento de lembrar histórias e de muito riso. Contaram

sobre as mudanças ocorridas no espaço, o que havia e o tamanho do território; lembraram de

suas famílias, quem era filho de quem e como chegaram ali. Conseguiram também tecer

alguns comentários sobre aspectos técnicos como planos e enquadramento.

Dona Vinô, liderança política da comunidade, também fez questão de fotografia,

mesmo diante de sua deficiência visual. “A vegetação local quase despercebida no cotidiano

ganhou destaque e beleza nas fotografias daquela desconfiada e simpática senhora” (MÍDA E

ECOLA, 2013).

Os mais jovens fizeram retratos nos locais mais bonitos da comunidade: nas árvores

frondosas; na beira do rio, ainda que distante; e em suas casas. Se interessaram muito pelos

equipamentos e buscaram, de forma mais pronunciada, dar respostas técnicas, principalmente

com a variação de planos. Revelaram uma importante dimensão para a comunicação nos

Page 10: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

10

nossos dias, que é a relação com as redes sociais. O fato de estarem em uma comunidade

quilombola, desprovida de equipamentos públicos e de acesso à bens de consumo, isso não

diminui o desejo de estar inserido nesse contexto, apontando assim para o aspecto mais

contemporâneo do conceito de quilombo: estas comunidades estão no mundo e convivem

com o mundo contemporâneo, apesar de não acessá-lo plenamente. Ou seja, não estão

isoladas do mundo, estacionadas no tempo.

Oficina de Web

A segunda experiência no campo da comunicação foi a oficina de Web realizada com

um grupo de 19 jovens, com duração de 30 horas, de 14 a 19 de agosto de 2014. A

comunidade havia esta formação para os jovens. A oficina foi dividida em cinco encontros e

teve a participação de dezenove jovens. Os encontros tinham como objetivo proporcionar

uma formação inicial no uso de tecnologias virtuais, principalmente o uso das redes sociais e

blogs, dentro de uma proposta de ciberativismo, no caso particular as plataformas

relacionadas a comunidades quilombolas. Selecionamos um grupo de jovens que tinham

como escolaridade mínima o sexto ano do ensino fundamental.

A oficina foi ministrada pelo bolsista de iniciação científica Danilo Borges, sob a

supervisão de Márcia Guena. Foram abordados os seguintes temas: uma breve história da

internet e da computação; noções técnicas sobre o computador. Logo foi solicitado ao grupo

que acessasse a internet e entrasse nos blogs de maior interesse. Esses interesses foram

discutidos para saber se conheciam outros sites que não fosse apenas de entretenimento.

Constatou-se que grupo não transitava por blogs de caráter informativo ou político ou que

abordassem a temática quilombola. Apresentamos então alguns sites e blogs com essa

temática e o próprio blog da pesquisa (quilombosesertoes.blogspot.com). Assim, a discussão

quilombola foi tratada através das experiências no ciberespaço.

Depois dessas noções, solicitamos ao grupo que escrevesse um texto sobre sua

comunidade, semelhante a uma notícia jornalística, com foto, cuja finalidade de postá-la em

sua página do facebook. Essa foi a atividade mais demorada, pois demandou introdução de

noções ao programa word; uma breve discussão sobre o texto jornalístico e seu formato, a

partir de leituras de notícias sugeridas ao grupo; a escolha de temas (pauta); o retorno a

comunidade para o levantamento de informações; a redação dos textos; a correção dos textos;

e finalmente a postagem em suas redes sociais. Poucos jovens chegaram ao final do processo

com um texto pronto. Percebemos que a grande dificuldade estava mesmo na escrita. Muitos

deles, apesar de terem concluído o quinto ano do ensino fundamental, não sabiam escrever

ou escreviam com muita dificuldade. Uma constatação bastante difícil. Todos tinham muito

interesse em circular pelo ambiente virtual, porém não dominavam a escrita.

Page 11: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

11

Nesta oficina conseguimos aplicar alguns métodos de Educom, principalmente na

construção coletiva de um processo comunicativo, porém nos deparamos com um problema

novo para nós: um letramento digital crescente e com bastante interesse do grupo e uma baixa

capacidade de leitura e escrita de textos na língua padrão. Esta constatação nos remeteu a

continuar o trabalho na comunidade e pensar em novas saídas no campo da comunicação.

Práticas Educomunicativas

Antes do grupo desta pesquisa iniciar suas atividades de campo, todas as ações são

discutidas no coletivo, seguindo uma lógica educomunicativa, aqui entendida, como destaca

Soares (s/a, p.8) como um conjunto das ações inerentes a processos, programas e produtos,

destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços formais e informais,

em relação a ensino aprendizagem.

Na verdade, o projeto funciona com um caráter de mediador social, é através dele é que

a relação com a comunidade do Alagadiço é estabelecida e essa interação, segundo Soares

(2011p. 13) “é essencialmente práxis social, originando um paradigma orientador da gestão

de ações em sociedade. Não pode ser reduzida a um capítulo de didática, confundida com a

mera aplicação das TICs (Tecnologias da Informação e da Comunicação) no ensino”. Nesse

sentido, o projeto é alicerçado por intenções e práticas voltadas para a cidadania, no caso,

contribuir para a firmação da identidade quilombola entre os moradores do local.

Cabe ressaltar que Soares (2001) assim conceitua Educom:

... designa um campo de ação emergente na interface de entre os dois

tradicionais campos da educação e da comunicação, apresenta-se hoje, como

um excelente caminho de renovação das práticas sociais que objetivam

ampliar as condições de expressão de todos os seguimentos humanos,

especialmente da infância e da juventude. (IBDEM, p.15)

Observa-se que o projeto promove discussões com a comunidade do Alagadiço

recorrendo a Educom não só para a realização de oficinas técnicas de fotografia, mas para

associar a essas práticas um reforço e reflexão das identidades que envolvem ‘ser

quilombola’. Nesse caso, precisamos atentar ao que nos diz Hall (2001, p.48) quando afirma

que as identidades nacionais “não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas

e transformadas no interior da representação”.

Segundo o autor essas identidades produzem sentidos sobre a ‘nação’, com os quais

podemos nos identificar e assim, construir identidades. Por isso, o projeto compreende que

Page 12: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

12

‘ser quilombola’ tem um sentido, uma intenção de promover o pertencimento dos moradores

do Alagadiço a uma concepção ampla que ora retorna ao passado, ora localiza-se na

atualidade, nas lutas, por exemplo, pelo reconhecimento e concessão da titulação das terras

remanescentes de quilombos.

Sendo assim, ‘ser quilombola’ articula e amalgama várias categorias discursivas,

como a de raça, pertencimento ao meio rural, assim como reúne questões macro e

relacionadas a política que o Estado implanta para a promoção e desenvolvimento das

comunidades quilombolas. Sem dúvida e apesar dos limites da execução e dos objetivos desse

projeto, suas ações contribuíram para o fortalecimento desse ‘ser quilombola’ e, com isso,

estimulou a comunidade a reivindicar pelos seus direitos. Nesse caso, é importante entender,

como fala a União Brasileira de Educação e Ensino (UBEE, 2014) no seu Manual de

Educação, Um caminho para o protagonista de crianças, adolescentes e jovens, destaca que

“quando educomunicamos diminuímos as distâncias e ajudamos as pessoas a tomarem

conhecimento dos fatos que acontecem no mundo e auxiliamos os indivíduos a exercerem

plenamente a sua cidadania” (p.4).

As entrevistas com as pessoas mais idosas da comunidade, feitas pela equipe do

projeto também contribuíram na reconstrução identitária, do passado, da história do

Alagadiço, que, segundo o Ceafro (2008, p.14):

são narrativas que contam um pouco da vida do município e/ou de uma

comunidade específica, resgatando suas origens, como surgiu, se existe há

muito tempo, quem foram seus pioneiros, se já foi maior, se já pertenceu a

outro município etc. além de explanações sobre como o município se

encontra atualmente e também a histórias dos seus bairros, comunidades e

distritos.

Considerações finais

Ao longo de três anos de pesquisa junto à comunidade do Alagadiço conseguimos

inicialmente, como pretendia o projeto inicial, realizar um perfil das pessoas e do território.

Porém, nos foi cobrado ir além, o que culminou na certificação da comunidade junto à

Fundação Palmares. Para isso recorremos a metodologias de trabalho científico que nos

dessem suporte, dentro de nossa área: a pesquisa ação e a Educom, centrais nesse processo

de mediação que estabelecemos com a comunidade. Com cuidado e sem pressa, conseguimos

construir um canal de diálogo que permitiu que o grupo expressasse seus desejos, em uma

Page 13: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

13

negociação constante com nosso projeto. Criamos ações articuladas com outras instituições,

adquirindo um caráter multidisciplinar, sem perder a comunicação como nosso foco

principal.

Assim, as duas oficinas descritas e analisadas acima resultam de um processo de

discussão sobre o papel da Educom na construção de cidadania e uma forma de aprendizado

da realizada para populações politica e socialmente marginalizadas. É importante destacar o

pela da fotoetnografia enquanto metodologia capaz de responder a novas narrativas desses

territórios, realizadas pelos sujeitos desses espaços.

Então, o projeto “Perfil Fotoetnográfico das populações quilombolas do submédio

São Francisco: identidades em movimento”, ao recorrer a Educom possibilita ao sujeito se

tornar participante da realidade social em que vive. A equipe do projeto, na verdade, atua

como um educomunicador cuja função, de intermediar as reflexões, contribui para apresentar

à sociedade uma forma de conexão com o mundo. Essa pretensão se solidifica por meio da

apresentação da reflexão sobre ‘ser quilombola’ e, também, por propiciar o acesso e um certo

grau de apropriação das novas tecnologias, como meio de reforço às discussões sobre a mídia

e seus efeitos, inclusive, na formação ou desconstrução do “ser quilombola’.

Esse é um projeto de pesquisa contínuo que dialoga com questões trazidas por um

grupo que tenta recuperar o tempo perdido em relação à caminhada pela garantia de direitos

e de inserção cidadã.

Referências bibliográficas

ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Fotoetnografia da Biblioteca do Jardim. Porto Alegre, Editora

da UFRGS/Tomo Editorial, 2004.

ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Caderno de Campo Digital – Antropologia em Novas Mídias.

Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 10, n 21, pag 273 – 289, jan./jun 2004.

AMORIN, Itamar Gomes; GERMANI, Guiomar Inez. Quilombos da Bahia. Presença

incontestável.Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 –

Universidade de São Paulo. Disponível em:

http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal10/Geografiasocioeconomica/Geografiadelap

oblacion/03.pdf. Acessado em 2 de abril de 2011.

ARRUTI, José Maurício. Quilombos. In: PINHO, Osmundo; SANSONE, Lívio. Raça. Novas

Perspectivas antropológicas. Salvador: Associação Brasileira de Antropologia; Edufba, 2008.

BONI, Paulo César; MORESCHI, Bruna Maria. Fotoetnografia: a importância da fotografia para o

resgate etnográfico. Disponível em: <http://www.doc.ubi.pt/03/artigo_paulo_cesar_boni.pdf>

Acessado em 15 de março de 2011.

Page 14: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

14

CEAFRO. Selo Unicef Município Aprovado. Cultura e identidade afro-brasileira e indígena.

Brasília, Unicef, 2008.

CHASIN, Ana Carolina da Matta. 20 Anos de Regularização Fundiária de Territórios

Quilombolas: um balanço da implementação do direito à terra estabelecido pela Constituição Federal

de 1988. Revista Política Hoje, Vol. 158 18, n. 2, 2009, p.160.

CODEVASF. PLANVASF. Plano Diretor para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco.

Disponível em: http://www.codevasf.gov.br/principal/publicacoes/publicacoes-atuais/planvasf.

Acessado em 01 de abril de 2011.

DUBOIS, Philipe. O ato fotográfico. São Paulo, Companhia das Letras, 2003. FUNDAÇÃO PALMARES. Disponível em: http://www.palmares.gov.br. Acesso em xxxxx

GOMES, Nilma Lino. Educação e relações raciais: refletindo sobre algumas estratégias de atuação,

in MUNANGA, Kabengele(Org.), Superando o racismo na escola. SECAD/ MEC/BID/UNESCO,

2005.

GEOGRAFAR. Disponível em: http://www.geografar.ufba.br/estudo%20msf.html. Acessado em 11

de março de 2011.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. DP&A Editora, 2001.

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Disponível em:

http://www.incra.gov.br/quilombola. Acessado em 21 de junho de 2016.

O´Dwyer, Eliane Cantarino. Terras de Quilombo no Brasil: direitos territoriais em construção. Arius. Revista de Ciências Humanas e Artes. v. 14, n. 1/2, jan./dez., 2008, p. 9-16

PINHO, Osmundo; SANSONE, Lívio. Raça. Novas Perspectivas antropológicas. Salvador:

Associação Brasileira de Antropologia; Edufba, 2008.

SANTOS, Márcia; VIANA, Uilson. Revisando memórias e reinventando identidades nos álbuns de

família de comunidades quilombolas. Anais do XXXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE

CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO - INTERCOM, 37, 2015, Rio de Janeiro. São Paulo, Intercom,

2015. Disponível em: http://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/indiceautor.htm#M. Acesso

em: 07 de dezembro de 2015.

SANTOS, Márcia. Perfil da comunidade quilombola do Alagadiço: entre textos e imagens. Anais do

XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – Intercom – Sociedade Brasileira

de Estudos Interdisciplinares da Comunicação João Pessoa -PB – 15 a 17/05/2014. Disponível em:

http://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2014/resumos/R42-1751-1.pdf.

QUILOMBOS E SERTÕES. Disponível em: www.quilombosesertoes.blogspot.com. Acesso em

ROUILLÉ, André. A fotografia: entre o documento e arte contemporânea. São Paulo, Editora

SENAC, 2010.

SANTOS, Lucimar Felisberto. Os bastidores da lei: estratégias escravas e o Fundo de Emancipação.

Revista História. Disponível em: http://www.revistahistoria.ufba.br/2009_2/a02.pdf. Acessado em:

16 out. 2011.

SANTOS, Márcia e SANTOS, Ceres. Escolas em comunidades negras rurais quilombolas de Juazeiro:

uma aproximação dentro da educação contextualizada. Artigo submetido ao III WORKSHOP

NACIONAL EM EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA PARA A CONVIVÊNCIA COM O

SEMIÁRIDO BRASILEIRO e II COLOQUIO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO VALE DO SÃO

Page 15: A Comunicação nos processos de certificação de comunidades ...portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-1595-1.pdf · O objetivo do grupo é trocar informações sobre

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

15

FRANCISCO, setembro de 2013. Territórios e Interculturalidade na Perspectiva da Educação

Contextualizada .

SECRETARIA DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL – SEPIR. Programa Brasil

Quilombola. Diagnóstico de Ações Realizadas. Julho de 2012, p. 12. Disponível em:

http://www.seppir.gov.br/destaques/diagnostico-pbq-agosto. Acessado em: 04 de agosto de 2013.

SONTAG, Susan. Sobre la Fotografia. Alfaguara, Mexico, 2006.

SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação, o conceito, o profissional, a aplicação.

Contribuições para a reforma do Ensino Médio. Editora Paulinas, 2011.

UNIÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO E ENSINO – UBEE. Educomunicação: Um

caminho para o protagonismo de crianças, adolescentes e jovens. Fascículo do Projeto de

Educomunicação Marista Eco@r Jovem, coordenado pela UBEE. 2014. Disponível em: <

http://www.cedca.pr.gov.br/arquivos/File/IX_conferencia/Educomunicacao.pdf> Acesso

em: 10 de julho de 2016.