a composiÇÃo da dÍvida pÚblica mobiliÁria federal …

113
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILERIA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL INTERNA E OS FUNDOS DE INVESTIMENTO NO BRASIL: ANÁLISE DOS FATORES DE INFLUÊNCIA DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE Manoel Aparecido Rodrigues Rio de Janeiro, 2005

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Page 1: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILERIA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL INTERNA E OS FUNDOS DE INVESTIMENTO NO BRASIL:

ANÁLISE DOS FATORES DE INFLUÊNCIA

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

Manoel Aparecido Rodrigues

Rio de Janeiro, 2005

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II

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILERIA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CFAP – CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL INTERNA E OS FUNDOS DE INVESTIMENTO NO BRASIL:

ANÁLISE DOS FATORES DE INFLUÊNCIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR

Manoel Aparecido Rodrigues

E

APROVADA EM 22 DE DEZEMBRO DE 2005

PELA COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________________

ROGÉRIO SOBREIRA BEZERRA

DOUTOR EM ECONOMIA

______________________________________

DEBORAH MORAES ZOUAIN

DOUTORA EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

______________________________________

RODRIGO MARIATH ZEIDAN

DOUTOR EM ECONOMIA

Page 3: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

III

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Rogério Sobreira, pela orientação precisa, objetiva e segura, durante todas as fases deste estudo.

Aos colegas da turma de Mestrado Executivo, em especial a Marta e ao Saulo, pelo apoio proporcionado, mesmo nos momentos mais difíceis, e, principalmente, pelo constante incentivo. Aos professores do curso de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial da Fundação Getulio Vargas, pelos ensinamentos transmitidos.

Ao Banco do Brasil, pelo patrocínio do curso e à oportunidade de crescimento pessoal e profissional.

Aos meus pais Manoel e Therezinha, pela formação e educação propiciadas, apesar do enorme sacrifício, mas principalmente pelo exemplo de vida.

À minha irmã Maria Terezinha, que sempre soube me compreender e ajudar desde os primeiros momentos de minha vida.

Ao casal Antonio José Arosa Ferreira e Maria Alice Bettocchi Dittz Ferreira, pelo apoio recebido durante o curso e colaboração na obtenção dos dados utilizados neste trabalho.

DEDICATÓRIA

À minha querida esposa Julia Mie, por seu inestimável apoio, compreensão e amor incondicional em topos os momentos, sendo parte fundamental para a realização deste trabalho.

À minha filha Beatriz Suemi, que nasceu durante a realização deste curso, para encher nossas vidas com o valioso significado da felicidade, sendo fruto e objeto do bem mais precioso que compartilhamos, o amor.

Page 4: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

IV

RESUMO

Esta dissertação tem por objetivo estudar a relação entre a composição da Dívida

Pública Mobiliária Federal interna - DPMFi e os Fundos de Investimento, que se

caracterizam como os principais demandantes de títulos públicos. Discutem-se, no

referencial teórico, abordagens teóricas à preferência pela liquidez - que levam a

postular o investidor como avesso ao risco – assim como a composição de portfólio,

particularmente, a fronteira eficiente de Markowitz. Foram analisados dados históricos

da composição da DPMFi do patrimônio de Fundos de Investimento no período de

novembro de 1999 a dezembro de 2004. Os objetivos do governo acerca do mix de

títulos da dívida pública e os resultados alcançados são delineados, assim como as

preferências dos fundos em relação a tais títulos. As séries do montante de três papéis

(LFT, LTN e NTN-C) na DPMFi e em poder dos Fundos de Investimento são

comparados e comportamentos semelhantes são identificados. Discutem-se fatos

relevantes do contexto macroeconômico no período em termos de sua influência sobre o

mix da Dívida Pública e dos Fundos de Investimento. Encontram-se indícios de uma

possível influência dos Fundos de Investimento sobre o perfil da DPMFi e propõe-se

hipóteses para estudos futuros.

Palavras-chave: dívida pública, fundos de investimento, preferência pela liquidez

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V

ABSTRACT

This work intends to study the relationship between Brazilian Internal Public Debt mix

and Mutual Funds. In the theoretical framework, the discussion about liquidity

preference theories implies considering risk averse investors. Portfolio selection is also

discussed, particularly Markowitz efficient frontier. Historical data from November of

1999 to December of 2004 of Brazilian Internal Public Debt mix and Mutual Funds

portfolio are analyzed. Official goals concerning Public Debt´s mix and its actual

composition are presented, as well as Mutual Fund preferences as buyers of public debt

securities. Time series of three securities (LFT, LTN and NTN-C) in Public Debt mix

and Mutual Funds portfolio are compared and a similar behavior is identified. Relevant

facts of the macroeconomic context which may have affected Public Debt or Mutual

Funds are discussed. Some indications of a possible influence of Mutual Funds upon

Public Debt Mix are obtained and hypothesis to be tested in future studies are proposed.

Key-words: public debt, mutual funds, liquidity preference.

Page 6: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

VI

SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 10

1 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 12

1.1 Preferência pela liquidez ....................................................................................... 12

1.1.1 Risco e liquidez ...................................................................................... 16

1.1.2 Teoria de portfólio em Keynes................................................................ 19

1.1.3 Escolha de portfólio em Tobin ................................................................ 22

1.2 Fronteira eficiente ................................................................................................. 29

2 FUNDOS DE INVESTIMENTO NO BRASIL........................................................ 38

2.1 Histórico ............................................................................................................... 38

2.2 Definição e classificação....................................................................................... 40

2.3 Evolução patrimonial ............................................................................................ 41

2.4 Composição de portfólio de fundos de investimento.............................................. 50

2.5 Evolução da composição das carteiras e atuação dos fundos no mercado de dívida

pública e privada................................................................................................... 54

2.6 Atuação dos fundos no mercado primário de títulos da DPMFi ............................. 57

2.7 Atuação dos fundos no mercado secundário de títulos da DPMFi.......................... 57

2.8 Conclusão ............................................................................................................. 58

3 ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE FUNDOS DE INVESTIMENTO E

COMPOSIÇÃO DA DPMFi....................................................................................... 60

3.1 Dívida Pública Mobiliária Federal interna ............................................................. 60

3.1.1 Caracterização dos principais títulos da DPMFi...................................... 60

3.1.1.1 Liquidez do mercado de Títulos da DPMFi................................. 63

3.1.2 Planos Anuais de Financiamento ............................................................ 65

3.1.2.1 Plano Anual de Financiamento de 2001.......................................66

Page 7: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

VII

3.1.2.2 Plano Anual de Financiamento de 2002......................................67 3.1.2.3 Plano Anual de Financiamento de 2003..................................... 69 3.1.2.4 Plano Anual de Financiamento de 2004..................................... 70

3.1.3 Evolução recente da composição da DPMFi ........................................... 71

3.2 Detentores de títulos da DPMFi ............................................................................ 75

3.2.1 Títulos prefixados................................................................................... 79

3.2.2 Títulos atrelados à taxa SELIC ............................................................... 80

3.2.3 Títulos atrelados a índices de preços....................................................... 81

3.3 DPMFi e Fundos de Investimento ......................................................................... 82

3.3.1 Títulos pós-fixados atrelados à taxa Selic................................................ 84

3.3.2 Títulos prefixados................................................................................... 89

3.3.3 Títulos atrelados a índices de preços....................................................... 94

3.4 Conclusões............................................................................................................ 97

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 100

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 104

ANEXO A – Caracterização dos principais títulos da DPMFi ................................... 111

Page 8: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

VIII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Seleção de portfólio a diversas taxas de juros............................................. 25

Figura 2 – Curvas de indiferença de propensos ao risco e diversificadores: Portfólio

ótimo com risco e retorno esperado máximos ............................................ 28

Figura 3 –Fronteira Eficiente ...................................................................................... 32

Figura 4 – Fronteira eficiente geral ............................................................................. 34

Figura 5 – Número de fundos de investimento no Brasil ............................................. 43

Figura 6 – Patrimônio líquido dos fundos de investimento no Brasil ........................... 44

Figura 7 – Participação de Fundos Referenciados DI no mercado de fundos ............... 45

Figura 8 – Participação de Fundos de Renda Fixa no mercado de fundos .................... 46

Figura 9 – Participação de Fundos Multimercado no mercado de fundos..................... 47

Figura 10 – Participação de Fundos Cambiais no mercado de fundos.......................... 48

Figura 11 – Participação de Fundos de Ações no mercado de fundos .......................... 49

Figura 12 – Participação de Fundos de Previdência no mercado de fundos.................. 50

Figura 13 – Composição dos fundos de investimento .................................................. 55

Figura 14 - Evolução da Dívida Pública versus Participação dos FI´s (Bilhões de Reais

nominais) .................................................................................................. 56

Figura 15 - Prazo Médio da DPMFi em Poder do Público ........................................... 72

Figura 16 - Prazo Médio da DPMFi em Poder do Público por Tipo de Rentabilidade.. 73

Figura 17 - Estrutura de Vencimentos da DPMFi em Poder do Público....................... 74

Figura 18 - Composição percentual da DPMFi em Poder do Público por Tipo de

Rentabilidade ............................................................................................ 75

Figura 19 – Principais títulos da DPMFi em Poder do Público .................................... 77

Figura 20 – Principais títulos da DPMFi em Poder dos FIs.......................................... 77

Figura 21 – Detentores de Títulos da DPMFi .............................................................. 78

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IX

Figura 22 – Detentores de LTNs ................................................................................. 79

Figura 23 – Detentores de LFTs.................................................................................. 80

Figura 24 – Detentores de NTN-Cs............................................................................. 81

Figura 25 – Montante da DPMFI em poder do público e em poder dos FIs ................. 82

Figura 26 – Fração do montante da DPMFi em poder dos FI’s .................................... 83

Figura 27 – Montante de LFTs em poder do público e em poder dos FIs..................... 84

Figura 28 – Fração do montante de LFT’s em poder dos FI’s ...................................... 85

Figura 29 – Fração de LFTs nos títulos da DPMFi em poder dos fundos..................... 88

Figura 30 – Montante de LTN’s em poder do público e montante de LTN’s em poder

dos FI’s .................................................................................................. 90

Figura 31 – Fração do montante de LTN’s em poder dos FI’s ..................................... 91

Figura 32 – Fração de LTNs nos títulos da DPMFi em poder dos fundos .................... 94

Figura 33 – Montante de NTN-Cs em poder do público e montante de NTN-Cs em

poder dos FIs............................................................................................. 95

Figura 34 – Fração do montante de NTN-C’s em poder dos FI’s ................................. 95

Figura 35 – Fração de NTN-Cs nos títulos da DPMFi em poder dos fundos ................ 96

Page 10: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

10

INTRODUÇÃO

Os Fundos de Investimento – FI’s mostram-se os principais demandantes de

Títulos da Dívida Pública Mobiliária Federal interna – DPMFi, detendo mais de 40% do

volume dos seus papéis em 2004. Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo

analisar a relação entre a composição da DPMFi e os fundos de investimento.

No capítulo um, “Referencial Teórico”, discute-se a preferência pela liquidez,

particularmente nas perspectivas de Keynes e Tobin. A composição de Portfólio é

analisada sob a visão destes autores, o que leva a uma definição quanto à postura do

investidor típico frente ao risco a ser considerada neste trabalho. Delineia-se, também, o

conceito de fronteira eficiente, tal como proposto por Markowitz, como conjunto de

alternativas de investimento em termos de trade-off entre risco e retorno. O ponto

escolhido na fronteira pelo investidor é apresentado como dependente de sua aversão ao

risco. Os títulos livres de risco, particularmente os papéis da Dívida Pública mostram-se

como alternativas relevantes para a composição de portfólios.

O capítulo dois “Fundos de Investimento no Brasil” delineia um panorama da

evolução histórica dos fundos de investimento no Brasil assim como de sua

composição. Os títulos da Dívida Pública Mobiliária Federal interna são destacados

como os seus principais ativos. Expõem-se os objetivos destes fundos em termos do mix

ótimo de títulos, particularmente no que se refere à forma de remuneração. Destaca-se

as classes de fundos existentes e suas características. Indícios da influência destes

Fundos sobre a composição da DPMFi são apresentados.

No capítulo três, “Análise da Relação entre Fundos de Investimento e a

Composição da DPMFi” discute-se, inicialmente, a gestão da DPMFi e a composição

buscada pelos gestores da Dívida, particularmente com base nos planos anuais de

financiamento. Os resultados atingidos frente aos objetivos pretendidos em tais planos

Page 11: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

11

são comparados, assim como delineados alguns fatos que influenciaram tais resultados.

Os principais detentores dos títulos da DPMFi são discutidos, assim como a evolução da

participação destes títulos no portfólio dos fundos de investimento.

Finalmente, nas conclusões, indícios da influência dos FI’s sobre a composição

da DPMFi são brevemente delineados e sugestões para estudos futuros que poderiam

testar tal hipótese são expostas.

Page 12: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

12

1 REFERENCIAL TEÓRICO

O presente capítulo propõe-se a delinear as razões da preferência pela liquidez e

postura em relação ao risco, a partir de Keynes, Hicks, Kahn e Tobin. Discutem-se a

teoria de precificação de ativos em Keynes, particularmente no que se refere ao prêmio

de liquidez, e a teoria de portfólio em Tobin, com ênfase em risco e retorno. Busca-se,

aqui, primordialmente identificar a postura do investidor típico em relação ao risco. A

seguir, discute-se a composição de portfólio no contexto do modelo média-variância de

Markowitz, notadamente, a determinação da fronteira eficiente.

1.1 Preferência pela liquidez

De acordo com Simonsen e Cysne (1995, p. 332), Keynes estabeleceu três

motivos para a procura por moeda, ou para a preferência pela liquidez: as transações, a

precaução e a especulação. A preferência pela liquidez é definida por Keynes (1935,

p.122) como “uma escala do volume dos recursos [de um indivíduo], medidos em

termos monetários ou em unidades de salário, que deseja conservar em moeda em

diferentes circunstâncias”. O primeiro motivo era identificado pelos economistas

neoclássicos como sendo o estoque necessário para compensar as defasagens entre

recebimentos e pagamentos. O segundo representava os saldos de caixa mantidos para

enfrentar possíveis despesas imprevistas, bem como aproveitar oportunidades de

negócios. Mas a grande novidade apresentada por Keynes era a procura especulativa, ou

seja, era identificada uma possível razão para guardar moeda como aplicação

patrimonial duradoura. Neste caso, o que se pretendia era guardar moeda à espera de

uma melhor possibilidade futura para realizar o investimento.

A quantidade de dinheiro necessária para satisfazer o motivo transação está

fortemente relacionada com o volume de rendimento e emprego, ou seja, com o nível

Page 13: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

13

geral da atividade econômica. À medida que se elevam o total da produção e o

emprego e aumentam os preços e os salários, incrementa-se também a procura por

dinheiro para transações. Um saldo de caixa é requerido para cobrir o intervalo entre

receitas e gastos. Se todos recebessem seus rendimentos em dinheiro e pagassem seus

gastos à vista, a necessidade de manutenção de saldos para fins de transação seria

minimizada.

O motivo transação, na forma original da Teoria Geral de Keynes (1935)

dividiu-se em motivo-renda e giro de negócios. No que se refere à renda, trata-se da

necessidade de conservar recursos líquidos para garantir a transição entre recebimentos

e desembolsos. A força deste motivo para induzir os agentes econômicos à decisão de

reter ativos monetários depende, de acordo com Keynes, principalmente do montante da

renda regularmente recebida e da duração normal do intervalo entre o seu recebimento e

os gastos. Quanto ao giro de negócios, consiste em necessidade análoga à primeira, mas

especificamente localizada na esfera das atividades empresariais. Inclui-se neste motivo

a moeda retida pelas empresas para garantir os pagamentos que se efetuam no intervalo

entre as compras de insumos e remunerações de fatores e as entradas de caixa

resultantes da realização de vendas. A falta de sincronia entre pagamentos e

recebimentos é, em termos gerais, a razão da retenção de moeda para os fins

transacionais (LOPES; ROSSETTI, 1996).

Enquanto o motivo transação relaciona-se ao atendimento de despesas ordinárias

e repetidas, o motivo precaução deriva da necessidade de fazer frente a despesas

extraordinárias e incertas. A impossibilidade de determinar quando ocorrerão certos

tipos inevitáveis de gastos leva os agentes econômicos, indivíduos assim como

empresas, a reter saldos monetários líquidos para corresponder aos imprevistos. Há,

assim, motivos que levam os agentes a se precaverem quanto às contingências

Page 14: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

14

inesperadas. A força deste segundo motivo depende, em grande parte, do custo e da

segurança dos métodos para obter moeda em caso de necessidades imprevistas, por

meio de alguma forma de empréstimo temporário. Se tal segurança fosse total e os

custos correspondentes fossem baixos, não haveria necessidade de conservar ativos

monetários ociosos por motivos precaucionais.

Apesar de algumas diferenças importantes entre a procura por moeda pelos

motivos transação e precaução, Keynes (1935) coloca-as lado a lado ao expor a relação

do dinheiro com a taxa de juros. Enquanto os valores para transações se mantenham em

um mínimo, há um ponto em que a conveniência de reter moeda para pagar gastos

regulares não será muito influenciada pela taxa de juros. Assim, tem-se que a

preferência pela liquidez que é relevante em relação à taxa de juros é a originada pelo

motivo especulação, já que as reservas para especulação são particularmente sensíveis

às variações nas taxas de juros (DILLARD, 1986).

A partir da preferência pela liquidez pelo motivo especulação, ou a demanda por

moeda como reserva de valor, é que surgem problemas básicos da teoria monetária. Por

que algum agente preferiria acumular riqueza em forma de moeda sacrificando o

rendimento de juros que poderia obter com títulos? De acordo com Keynes (1935), a

única condição fundamental, sem a qual não poderia manter-se o motivo especulação, é

a incerteza quanto ao futuro da taxa de juros. Um proprietário de riqueza que

desconhece os termos em que poderá converter em moeda seus créditos no futuro tem

razões para acreditar que uma aquisição protelada pode ser preferível a uma aquisição

presente.

As taxas correntes de juros por títulos com distintos vencimentos são sempre

conhecidas, enquanto as que vigorarão no futuro não o são. As taxas correntes de juros

levam em conta, porém, estimativas ou expectativas acerca das taxas futuras de juros.

Page 15: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

15

Um agente que acredita saber mais do que a opinião geral estará em condições de

lucrar se suas expectativas provarem ser mais acertadas do que a opinião predominante.

Se não houvesse incerteza, haveria uma clara vantagem em possuir títulos que rendem

juros frente a reter moeda e inexistiria a base para o motivo especulação. É neste ponto

que a teoria de Keynes distingue-se fundamentalmente da teoria clássica dos juros.

Keynes (1935) define o motivo especulação como o meio pelo qual os detentores de

riqueza acalmam sua incerteza acerca do futuro acumulando riqueza em forma de

dinheiro porque o mundo real é dinâmico e o futuro é incerto (DILLARD, 1986).

Os motivos transação e precaução são comuns aos clássicos, já o motivo-

especulação é original de Keynes, que procura mostrar que não é irracional manter

ativos monetários para satisfazer a oportunidades especulativas, desde que os agentes

tenham razões para acreditar em mudanças a seu favor no preço dos títulos e, portanto,

na taxa de juros. A expectativa sobre mudanças futuras na taxa de juros situa-se, assim,

atrás do motivo-especulação. Sob uma expectativa generalizada de alta na taxa de juros

ou de uma queda equivalente no preço dos títulos no futuro, a retenção de saldos

monetários para fins especulativos tende a se elevar; caso contrário, a retenção de

moeda devida a esse motivo tende a diminuir (LOPES; ROSSETTI, 1996).

Uma posição de “baixista” induz a reter moeda na previsão de uma baixa no

preço dos títulos (alta na taxa de juros) e uma posição de “altista” leva à aquisição de

títulos com base na expectativa de uma alta nos seus preços (baixa da taxa de juros). O

preço de mercado se fixará no nível em que a venda dos “baixistas” se equilibrar com as

compras dos “altistas” (KEYNES, 1935).

A inexistência de aversão ao risco implica que a renda total líquida determina a

compra de títulos, se esta for positiva, o agente adquire títulos, sendo denominado touro,

em caso contrário (em que há expectativa que o preço do título caia mais que a taxa de

Page 16: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

16

juros), haverá uma decisão pela retenção de moeda e o agente será caracterizado como

urso. A composição do portfólio seria então, unicamente de títulos ou moeda, mas não

ambos simultaneamente. Outra perspectiva considera a possibilidade de composição de

portfólios com títulos e moeda, modificando-se a neutralidade frente ao risco e

considerando a aversão ao mesmo, como em Kahn (1972).

1.1.1 Risco e liquidez

O risco associado à posse de um ativo, segundo Kahn (1972) pode ser de duas

espécies, a saber: risco de renda, referente a variações não-previstas no retorno dos

ativos e risco de capital, ou o risco referente à possibilidade de reduções inesperadas nos

preços dos ativos. Em termos gerais, cada indivíduo apresenta suas preferências em

termos destes tipos de risco. Porém, mantidas constantes as demais condições, quanto

maior o risco de um ativo, maior deve ser sua taxa de retorno para que haja estímulo à

manutenção do ativo no portfólio do investidor.

A distinção fundamental da perspectiva de Kahn (1972) quando comparada às

que consideram o agente como neutro frente ao risco reside no grau de confiança que o

agente possui em relação à sua melhor aposta quanto ao comportamento da taxa de juros

– quanto maior a confiança maior a influência do motivo especulação na composição da

carteira e o resultado se aproxima mais daquele em que o indivíduo é neutro quanto ao

risco.

Mostra-se relevante, também, o papel do motivo precaução, que é afetado pelo

peso do risco de renda e de capital. Se o risco de renda (relacionado ao retorno) for mais

incisivo que o de capital e se a melhor aposta refere-se a uma taxa de juros caindo ou

subindo menos que ela mesma, o motivo precaução levará o agente a optar por um

portfólio composto apenas por títulos. Por outro lado, se o risco de capital for maior que

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17

o de renda, com a mesma aposta, o motivo precaução agirá no sentido oposto ao do

motivo especulação. Assim, a indiferença entre títulos e moeda ocorrerá apenas se os

riscos de renda e de capital tiverem a mesma intensidade (SOBREIRA, 2002, p.20).

No que se refere à formação das taxas de juros de curto e longo prazo, destaca-se

a teoria das expectativas, desenvolvida por Hicks (1987). Considerando-se um

empréstimo de longo prazo como uma combinação de renovações de empréstimos de

curto prazo, a taxa de juros de longo prazo seria a média das taxas correntes a curto

prazo e as taxas a curto prazo relevantes a termo, de outra forma, haveria possibilidade

de ganhos de arbitragem que levariam novamente ao equilíbrio entre as taxas.

Partindo-se de uma situação em que os retornos dos títulos de curto e longo

sejam equivalentes, se os investidores entendem, por exemplo, que a taxa de juros

corrente de curto prazo está muito elevada e deve reduzir-se no futuro, então os títulos

de longo prazo parecerão mais atraentes. E isso porque, aos preços atuais, os títulos

longos permitiriam que seus detentores obtivessem, por um período relevante, um

retorno mais alto que o oferecido pelos títulos de curto prazo no futuro. Essa maior

atratividade dos títulos longos levaria ao aumento de sua demanda e preços,

diminuindo, consequentemente, seu retorno. Desta maneira, por um processo de

arbitragem, o mercado faria com que as taxas longas igualem-se às expectativas para o

futuro das taxas curtas.

Por outro lado, como o risco de emprestar a termo é maior que o de emprestar a

curto prazo, já que a taxa futura não é conhecida, deveria haver uma diferença positiva

entre as taxas a termo e de curto prazo. Tal diferença é denominada por Hicks (1987)

de prêmio de risco e igualaria a diferença entre a taxa corrente a curto prazo e a taxa a

termo quando não há expectativa de variação da taxa de curto prazo.

Page 18: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

18

Em termos gerais, na teoria das expectativas, a taxa de juros de longo prazo é

constituída como uma média das taxas de juros de curto prazo esperadas para o futuro

mais um prêmio pelo risco. Assim, a inclinação da curva de juros refletiria as

expectativas do mercado sobre mudanças futuras nas taxas de juros, ou seja, um

aumento na diferença entre a taxa longa e a taxa curta refletiria a expectativa de futuros

aumentos nas taxas de curto prazo, provocando então uma correlação positiva entre as

variações nas taxas de juros curtas e a referida diferença. Da mesma forma, um aumento

na taxa longa em relação à taxa curta, no período corrente, deveria levar a um aumento

da taxa longa no período seguinte.

A teoria da preferência pela liquidez indica que a yield curve (curva de

rendimento) é influenciada por algo mais que as expectativas quanto ao futuro das taxas

curtas. Como teoria que explica a estrutura de termo das taxas de juros, ela enfatiza que,

num ambiente em que existe incerteza, ativos de curto prazo são preferíveis aos de

longo, porque aqueles são mais líquidos. Ser mais líquido significa que títulos de curto

prazo podem ser rapidamente convertidos em moeda sem que se incorra em perda

apreciável no valor do principal, mesmo que as taxas variem inesperadamente.

A liquidez dos diversos ativos, de acordo com Davidson (1978), é determinada

pelo seu tempo de conversibilidade em moeda e sua capacidade esperada de retenção do

valor do ativo. Está relacionada à possibilidade de um ativo transformar-se em moeda

sem que haja perda considerável de seu valor. Quanto menor o tempo esperado de

negociação e maior a capacidade esperada de um ativo de reter valor, maior será sua

liquidez. Assumindo, por esse motivo, que a maioria dos agentes prefira reter títulos de

curto prazo, é necessário que um prêmio lhes seja oferecido para que adquiram títulos

mais longos. Caso contrário, seria provável que a maioria dos agentes prefira reter

Page 19: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

19

títulos de menor prazo, para minimizar a variação no valor de seus portfólios (COSTA;

DEOS, 1999).

Na “Teoria Geral”, Keynes (1935) formulou sua teoria da preferência pela

liquidez, em que a taxa de juros é “a recompensa por abrir-se mão da liquidez, uma

medida do desejo daqueles que possuem moeda de abrir mão do seu controle sobre ela”

(KEYNES, 1935). Neste modelo, havia apenas dois tipos de ativos - moeda e títulos – e

a taxa de juros paga aos títulos consiste em uma contrapartida por seu menor grau de

liquidez em relação à moeda.

No capítulo 17 da “Teoria Geral”, Keynes generalizou sua teoria da preferência

pela liquidez para uma teoria de precificação de ativos que não mais se baseia na

dicotomia entre ativos líquidos e ilíquidos, mas que toma por base o princípio geral de

que os diferentes graus de liquidez devem ser compensados por uma taxa de retorno

obtida pela posse dos diferentes ativos. Assim, cada classe de ativos possui sua taxa de

juros própria, definida em termos de preços correntes de mercado (PAULA; ALVES

JUNIOR; MARQUES, 2001).

1.1.2 Teoria de portfólio em Keynes

Na teoria da escolha de portfólio, apresentada por Keynes (1935), todos os

ativos existentes em uma economia possuiriam os seguintes atributos em maior ou

menor grau:

• Quase rendas (q): receitas monetárias advindas da utilização de um ativo no

processo de produção (lucros) ou da posse do mesmo (juros e dividendos).

• Custo de manutenção (c): rendimentos negativos associados à manutenção do

ativo em consideração no portfólio dos agentes. Trata-se do custo de estocagem

do ativo, não tendo nenhuma relação com os custos resultantes da utilização do

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20

ativo no processo produtivo, ou seja, o que Keynes denominou de custo de uso

do capital.

• Prêmio de liquidez (l): refere-se à conveniência e segurança potenciais

associados à presença de um ativo no portfólio dos agentes

Chamaremos de prêmio de liquidez de certo bem ao montante (medido em termos de si mesmo) que as pessoas estão dispostas a pagar pela conveniência ou segurança potenciais proporcionadas pelo poder de dispor dele (excluindo o rendimento ou os custos de manutenção que lhe são próprios) (KEYNES, 1985, p.159).

• Ganhos ou perdas esperados de capital (a): são os retornos que o investidor

espera obter no momento em que ele decide vender os ativos que possui em

portfólio. No momento da realização desses ativos, podem ocorrer perdas ou

ganhos de capital relativamente ao preço que o investidor pagou pelo referido

ativo. As expectativas a respeito da obtenção de ganhos ou perdas esperados de

capital sobre a revenda de um ativo podem ser muito relevantes no momento em

que o investidor está decidindo pela compra de um determinado ativo.

Nesta abordagem, a preferência pela liquidez se reflete no trade off entre

retornos monetários (a + q – c) e o prêmio pela liquidez da moeda (l), causando assim

substituições na estrutura de demanda por ativos.

O prêmio de liquidez é o atributo mais característico da teoria da escolha de

portfólio de Keynes quando comparada às teorias convencionais, que admitem que

certos ativos devem pagar um prêmio pelo risco para os investidores, de maneira a

compensar o maior risco associado à posse de tais ativos. Ou seja, em equilíbrio, ativos

de maior risco devem oferecer taxa de retorno maior que ativos menos arriscados.

O prêmio de liquidez distingue-se do prêmio pelo risco. A liquidez de um ativo

não é medida pelo risco de perda de capital associado a determinado ativo, mas pela

facilidade com que tais ativos podem substituir a moeda como meio de pagamento, isto

Page 21: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

21

é, pela capacidade de conversão de um ativo em dinheiro. Por um lado, um ativo será

tão mais líquido quanto mais rapidamente esse ativo puder ser convertido em meio de

pagamento. Qualquer ativo pode ser convertido em pouco tempo em meio de

pagamento se o preço de venda for suficientemente baixo. Um ativo será, então, mais

líquido quanto maior for o seu preço de realização relativamente ao preço que poderia

ser obtido caso se desse um prazo maior para a realização do mesmo. Quanto maior for

a quantidade de ativos altamente líquidos que os indivíduos possuírem em seus

respectivos portfólios, mais facilmente poderão mudar a composição dos mesmos

quando desejarem (HICKS, 1974).

Num contexto de incerteza, os agentes desejarão manter algum nível de

flexibilidade em seu portfólio, para tanto, desejarão manter parte de sua riqueza como

ativos líquidos, ou seja, aceitarão, até determinado ponto, o sacrifício de maior retorno

monetário em troca de liquidez. Assim, os ativos menos líquidos deverão proporcionar

uma rentabilidade maior como compensação por sua menor liquidez. O prêmio de

liquidez pode, então, ser definido como o retorno implícito que os indivíduos atribuem à

posse de ativos líquidos.

Keynes afirma que reter moeda para fins especulativos, ou seja, adquirir ou não

títulos, é uma decisão que depende fundamentalmente das expectativas dos agentes em

relação às mudanças futuras dos preços dos títulos e o seu conseqüente impacto na

renda total oferecida por eles. Considera-se a renda total líquida esperada de um título

como a soma do ganho de juros, de capital e do valor inicial do principal. Assim, se a

renda líquida total esperada for positiva, o agente adquirirá títulos hoje, sendo

denominado touro. Por outro lado, uma expectativa de renda total líquida negativa

implica a preferência da moeda a títulos, caso em que se tem um agente dito urso. Neste

contexto, o preço ajusta-se às expectativas de ursos e touros de maneira que a

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22

quantidade de títulos demandada pelos touros seja igual à quantidade de títulos que os

ursos desejam vender. A decisão de reter moeda baseada na renda esperada exige que o

agente seja totalmente urso ou touro ao decidir a compra de títulos. No que se refere à

aplicação de excedentes monetários em relação aos saldos que devem ser mantidos para

fins transacionais, porém, o comportamento dos agentes econômicos, em termos gerais,

não se assemelha ao previsto por Keynes quanto à retenção de moeda ou aquisição de

títulos. As decisões não são mutuamente excludentes, a maioria dos agentes talvez

prefira combinar moeda e títulos, questão esta abordada por Tobin (1958).

1.1.3 Escolha de portfólio em Tobin

Tobin (1958) desenvolveu, a partir da teoria da demanda especulativa por moeda

de Keynes, uma teoria de seleção de portfólio em que os agentes econômicos não

mantém, necessariamente, toda sua riqueza ou na forma de moeda ou e títulos, mas

consideram a possibilidade de diversificação.

O modelo de Tobin considera que os agentes econômicos levam em conta não

apenas o rendimento dos ativos, mas também seu nível de risco. Os indivíduos

apresentam diferentes níveis de aversão ao risco e, assim, é provável que decidam

manter um portfólio diversificado de moedas e títulos.

Com base em uma comparação de retornos e riscos de títulos alternativos e

moeda, Tobin desenvolveu um modelo de estrutura de portfólio ótimo. Um importante

componente deste modelo consiste na diversificação de tipos de ativos, para o investidor

avesso ao risco. Tobin (1958) apresenta importantes contribuições em relação à teoria

de Keynes, particularmente no que se refere à possibilidade de diversificação.

O retorno total dos títulos resulta, como em Keynes, da soma da taxa de juros

mais os ganhos de capital. Os últimos, porém, não são um valor esperado único, mas

Page 23: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

23

uma distribuição de probabilidades cuja média (g) é assumida como o ganho mais

provável. Os retornos observados ao longo do tempo diferem da sua média, para mais

ou para menos, de maneira que os desvios positivos compensam os negativos. O

investidor, porém, não sabe se o desvio da rentabilidade de seu título será positivo

(retorno acima da média) ou negativo (retorno abaixo da média). Conhece, porém, com

base em dados históricos, como estes retornos têm se comportado. O risco é associado

por Tobin à variabilidade da taxa de retorno, ou seja, quanto mais dispersa a taxa de

retorno em torno da média, maior o risco do título em questão. Tobin identificou o

desvio padrão da distribuição dos ganhos prováveis de capital como o risco inerente à

aquisição de títulos. Desta maneira, quanto menos concentrada a distribuição, menor

será a probabilidade de ocorrerem valores muito próximos ao valor médio esperado dos

ganhos de capital e, portanto, maior o risco inerente à carteira de títulos.

Considere-se que um investidor não conhece a taxa de juros futura dos títulos,

assim, o investimento em tais títulos implica um risco de ganho ou perda de capital.

Quanto maior a proporção de seu investimento mantida em títulos, maior o risco que o

investidor assume, aumentando também, o seu retorno esperado. As linhas semelhantes

a OC1 indicam que o investidor pode esperar um maior retorno ao assumir um risco

mais elevado. Já na parte inferior da figura, o eixo vertical à esquerda indica a

proporção investida em títulos. A linha OB, por exemplo, mostra o risco como

proporcional à participação dos títulos (TOBIN, 1958).

Na parte superior da figura 1, o eixo vertical representa o retorno esperado e, o

eixo horizontal, o risco. A carteira é composta por um montante A1 de moeda (parte

inferior da figura 1 à direita) e A2 de títulos (parte inferior da figura 1 à esquerda), em

que A1 + A2 = 1. A proporção que o investidor possui em títulos (A2), determina seu

retorno esperado µr e seu risco σr. O investidor pode obter um maior retorno esperado

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24

às custas de um maior risco. A linha de restrição (OC1), para r=r1 tem como tangente

r1/σg. Para uma taxa de juros mais elevada r2, a linha de restrição seria OC2 . A relação

entre risco e investimento em títulos é indicada pela linha OB na parte inferior da figura

1.

Os agentes econômicos, segundo Tobin (1958), expressam suas preferências por

meio de um conjunto de curvas de indiferença entre retorno total e risco assumido. A

seqüência dos pontos que compõe estas curvas de indiferença correspondem às

diferentes combinações de retornos e riscos que proporcionam aos agentes econômicos

um mesmo grau de satisfação. A escala de preferência do investidor é representada pela

denominada curva de indiferença. Essa curva é compreendida como um reflexo da

atitude que um investidor assume diante do risco de uma aplicação e do retorno

produzido pela decisão, envolvendo diversas combinações também desejáveis.

Assume-se, em Tobin (1958) que o investidor tem preferências entre retorno µr e

risco σr que podem ser representadas por um campo de curvas de indiferença. O

investidor é indiferente a todos os pares (µr; σr) que se encontram em tal curva, tal

como na Figura 1. Os pontos em I2 são preferidos a aqueles em I1; para um dado risco,

um investidor sempre prefere um retorno maior a um menor.

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25

Figura 1 – Seleção de portfólio a diversas taxas de juros

Fonte: adaptado de Tobin (1958)

Os agentes econômicos só estão dispostos a aceitar maiores riscos se receberem,

em troca, um retorno total maior. Para investir em títulos que apresentem maior risco –

maior dispersão, mensurada pela variância da distribuição de rentabilidade – os agentes

exigem um maior retorno. Assim, pode haver opções de taxas de retorno e risco que são

equivalentes da perspectiva do investidor (oferecem igual grau de satisfação), por

exemplo, um título de elevado risco e elevado retorno e outro de baixo risco e baixo

retorno. As combinações de taxas de retorno e risco percebidas como equivalentes

I1

I2

I3

µr

σr

C3

C2

C1

T1

T2

T3

A2

O

B B1 B

A2 (r2)

A2 (r1)

A2 (r3)

A1 (r1)

A1 (r2)

A1 (r3) A1

Page 26: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

26

constituem a curva de indiferença, em cujos pontos a utilidade esperada é constante.

Na escala de preferências, coexistem inúmeras possibilidades de investimentos

igualmente atraentes ao investidor, que concebem semelhantes graus de utilidade

(satisfação) em relação ao risco retorno esperados.

Para alguns investidores, os amantes do risco (risk-lovers), as curvas de

indiferença são negativamente inclinadas. Estes agentes estão dispostos a aceitar

retornos esperados menores de maneira a ter a possibilidade de alcançar ganhos de

capital muito elevados permitidos por altos valores de σr. Os avessos ao risco (risk-

averters), por outro lado, não aceitarão maiores riscos a menos que a eles estejam

associados a maiores retornos esperados. Suas curvas de indiferença serão

positivamente inclinadas.

Os ganhos são proporcionais ao montante de títulos e estes aos riscos assumidos.

No ponto inicial desta linha (OB) não há riscos, com a totalidade dos ativos financeiros

para especulação sob forma monetária. No outro extremo, atinge-se o ponto máximo do

risco, quando a totalidade dos ativos está na forma de títulos. Esta linha também pode

ser vista como equivalente a uma restrição orçamentária, indicando o montante de

recursos livres para fins especulativos.

Dado que os agentes possuem uma quantidade limitada de recursos a alocar em

seu portfólio, a quantidade máxima de títulos que pode ser adquirida é restrita por este

limite, assim como o montante de moeda. Em quaisquer alocações que combinem

títulos e moeda, sua soma deve equivaler à quantidade total de recursos.

A maximização da satisfação dos agentes econômicos, quanto à combinação de

retornos e riscos se dá no ponto em que uma de suas dadas curvas de indiferença é

tangenciada pela linha equivalente de restrição orçamentária.

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27

O melhor portfólio possível para o agente econômico é aquele cuja combinação

de risco e retorno oferece o maior grau de satisfação, dentre as opções permitidas pela

sua restrição de recursos.

O investidor decide a quantidade a investir em títulos de maneira a atingir a

curva de indiferença mais alta permitida pela sua curva de restrição. Esta maximização

pode se dar de três maneiras:

• Tangência entre uma curva de indiferença e linha de restrição, tal como ilustrado

pelos pontos T1, T2 e T3 na figura 1. Um máximo regular deste tipo pode

ocorrer apenas para um investidor avesso ao risco e levará à diversificação.

Ambos A1, moeda e A2, títulos, serão positivos. Estes são também indicados na

figura 1, na metade inferior em que, por exemplo, A1(r1) e A2(r2) indicam o

montante de moeda e títulos correspondente ao ponto T1.

• Um máximo no ponto µr = r, σr=σg, como ilustrado na figura 2. Na figura 2, a

curva de restrição é o raio OC e o ponto C representa o retorno esperado e risco

mais elevados alcançáveis pelo investidor, por exemplo, ao manter apenas

títulos. O máximo de utilidade em C pode ocorrer tanto para o avesso ao risco

quanto para o propenso ao risco. I1 e I2 representam curvas de indiferença de

um diversificador. I´1 e I´2 representam as curvas de indiferença de um agente

propenso ao risco, para quem é claro que C é sempre a posição ótima (TOBIN,

1958).

• Uma solução na origem, em que se mantém apenas moeda.

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28

Figura 2 – Curvas de indiferença de propensos ao risco e diversificadores: Portfólio

ótimo com risco e retorno esperado máximos

Fonte: Tobin (1958)

Na análise de Tobin, verifica-se que o comportamento racional do avesso ao

risco implica uma carteira composta tanto de moeda como de títulos. Para isso, Tobin

baseia-se na hipótese de que o investidor não tem certeza sobre a futura taxa de juros, o

que lhe proporciona a mesma probabilidade de subestimar como de superestimar essa

taxa (TORRES, 1979).

Tobin (1987) demonstrou que, para uma determinada incerteza que se tem em

relação à taxa de juros futura, o investidor assumirá maiores riscos quanto maior a

proporção dos títulos no total de sua carteira. Assim, se mantém sua carteira

inteiramente formada por títulos, maximizará os rendimentos e conseqüentemente

assumirá o maior risco possível de perda ou ganho de capital. Por outro lado, se todos

os recursos forem mantidos em moeda, a carteira exibirá risco zero, no entanto, o

rendimento também será zero.

Entretanto, a manutenção simultânea dos recursos em títulos e moeda não se

baseia, apenas, na crença de que a taxa de juros move-se apenas em um único sentindo.

µr

σr

I1

I2

I´2

I´1

r

σg o

c

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29

Mas na hipótese de que os investidores não têm certeza para que lado à taxa de juros se

moverá. Além disso, segundo Torres (1979, p.149), a teoria da preferência pela liquidez

determinada pelo comportamento em relação ao risco pode ser estendida para o

problema de escolha de ativos quando existem mais de duas alternativas. Ou seja, não

somente moeda e títulos, mas para um número maior de ativos disponíveis no mercado

financeiro.

Para um mesmo nível de risco, um investidor avesso ao risco prefere o ativo com

maior retorno esperado. Enquanto, para dois ou mais ativos que apresentam o mesmo

retorno esperado, o investidor avesso ao risco escolhe aquele de menor risco. Este

critério racional de decisão induz a concluir que os investidores, de uma maneira geral,

procuram o retorno em suas decisões, demonstrando certo grau de aversão ao risco.

O comportamento padrão dos investidores tem sido considerado como o de

aceitar maiores níveis de risco apenas quando a estes estiverem associados retornos

esperados mais altos, ou seja, os investidores são considerados avessos ao risco

(SIMONSEN, 1983). Assim, postula-se, aqui, o investidor típico como avesso ao risco.

Analisa-se, a seguir, a construção da fronteira eficiente em termos de risco e

retorno, tal como proposto por Markowitz.

1.2 Fronteira eficiente

Markowitz (1952) afirma que um bom portfólio de ativos é mais que uma grande

lista de ações e títulos. É um conjunto balanceado, que fornece ao investidor proteções e

oportunidades em um conjunto amplo de situações. Foi a partir de seu artigo inicial

(1952) que se desenvolveram e incrementaram todos estudos sobre a construção de

carteiras de ativos de risco.

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30

Segundo Markowitz (1952), o objetivo da análise de portfólios é encontrar as

carteiras que melhor se adaptem aos objetivos do investidor. Markowitz rejeita a

hipótese de que o investidor busca maximizar a taxa de retorno de seu investimento,

mostrando que esta não é suficiente para explicar as razões da diversificação de

carteiras por parte dos investidores. A seguir mostra que, se o investidor levar em

consideração tanto o retorno esperado quanto a variância desse retorno, então é possível

construir um modelo que não apenas é capaz de explicar as razões da diversificação

como também de propor um processo decisório para a seleção de carteiras ótimas

segundo as preferências de cada investidor.

O modelo média-variância desenvolvido por Markowitz (1952) é um trabalho

pioneiro na área de otimização de portfólio. No modelo proposto por este autor, as duas

únicas variáveis que interessam à satisfação do investidor são o retorno esperado e o

risco, expresso pela variância desses retornos. Além disso, ele assume que os

investidores são avessos ao risco, o que resulta no conhecido princípio da Dominância,

ou seja: Um investidor irá escolher seu portfólio ótimo do conjunto de portfólios que

oferecer o máximo retorno esperado para diferentes níveis de risco, e oferecer o mínimo

risco para diferentes níveis de retorno esperado.

Tal proposição parte do princípio que, para o investidor, o retorno esperado e a

volatilidade dos prováveis retornos são aspectos cruciais na definição do portfólio

ótimo. Markowitz lança mão de medidas estatísticas de valor esperado e variância da

distribuição dos retornos para descrever, respectivamente, o retorno e o risco do

investimento.

O problema é formulado de modo a se minimizar o risco do portfólio para um

dado nível de retorno requerido pelo investidor, ou maximizar o nível de retorno

esperado do portfólio associado a um dado nível de risco.

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31

O risco de uma carteira, porém, depende não somente do risco de cada ativo

que a compõe e de sua participação no investimento total, mas também da forma como

seus componentes se relacionam (covariam) entre si. Assim, relacionando-se ativos com

baixa correlação (ou covariância inversa), é possível reduzir-se o risco total de uma

carteira (ROSS et al., 1995).

A diversificação científica proposta por Markowitz consiste em compor uma

carteira de investimento com diferentes tipos de ativos, ativos estes que sejam afetados

por distintos fatores. Os comportamentos dos retornos dos ativos devem ser diferentes

entre si. Assim, flutuações adversas no retorno de um ativo não seriam acompanhadas

da mesma forma pelos demais, compensando o efeito do primeiro. A relação entre os

comportamentos dos ativos pode ser quantificada por meio do coeficiente de correlação,

que varia de +1 a -1. Os valores positivos indicam que os retornos dos ativos movem-se

na mesma direção, enquanto valores negativos mostram movimentos em sentidos

opostos.

A Teoria de Portfólio em Markowitz trata da seleção de investimentos que

maximizem a utilidade esperada do investidor, em termos de retorno esperado e risco.

Por meio de métodos quantitativos e dados históricos, esta teoria estima valores para o

retorno esperado e risco de diferentes investimentos e, com base em tais informações,

indica como construir uma carteira adequada à combinação risco-retorno mais

apropriada para cada perfil de investidor.

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32

Figura 3 –Fronteira Eficiente

Fonte: adaptado de Markowitz

Relacionando-se diferentes riscos a seus níveis de retorno máximo, obtém-se a

curva com a relação risco e retorno, denominada fronteira eficiente (Figura 3).

Com base nos valores esperados e riscos calculados para as diversas

combinações possíveis da carteira, deverá o investidor, considerando sua curva de

indiferença, isto é, seu grau de aversão ao risco, eleger a melhor combinação possível de

ativos.

A seleção da carteira de investimento mais atraente para um investidor racional,

que avalia a relação risco/retorno em suas decisões, fica restrita às combinações

disponíveis no trecho MW (Fronteira Eficiente), pois insere todas as carteiras possíveis

de serem construídas. Em outras palavras, na fronteira eficiente é possível selecionar

uma carteira que apresenta, para determinado retorno, o menor risco possível.

O ponto M representa uma carteira de ativos que oferece o menor risco possível.

É geralmente conhecida por carteira de variância mínima. Investidores com nível mais

alto de aversão ao risco escolherão, evidentemente, carteiras mais próximas do ponto M,

ocorrendo o inverso com aqueles que apresentam maior indiferença ao risco.

M

Desvio padrão

Retorno esperado

Fronteira eficiente

A

W

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33

A carteira M, por envolver o risco mínimo, é preferencial a todas as demais

carteiras que oferecem um retorno esperado menor. Diz-se que M domina todas as

demais carteiras que se encontram abaixo dela.

O investidor racional deverá escolher, portanto, a combinação que maximiza o

retorno esperado para um menor nível possível de risco. As alternativas de investimento

que atendam a essa orientação são aquelas dispostas ao longo do segmento MW, e são

denominadas por Markowitz de eficientes. Qualquer carteira situada à direita da linha

MW (conjunto eficiente) produz maior risco para o mesmo retorno esperado, ou o

mesmo nível de risco para um menor retorno esperado (ROSS et al, 1995).

Tobin (1958) propôs uma solução para o problema de encontrar a carteira ótima

que independe do formato das curvas de utilidade de cada investidor. Acrescentando à

carteira um ativo livre de risco, ou seja, um ativo cuja rentabilidade esperada é

conhecida com 100% de probabilidade, Tobin demostrou que qualquer investidor que

aceite o Princípio de Dominância irá possuir a carteira de ativos de risco com a maior

relação (prêmio pelo risco / risco), utilizando o ativo livre de risco para ajustar suas

preferências por risco ou retorno.

Nesse caso, para obtermos as carteiras possíveis a partir da escolha de um

portfólio específico sobre a fronteira eficiente, basta unirmos o portfólio selecionado ao

ativo livre de risco. A reta obtida representa todas as combinações possíveis entre o

ativo livre de risco e o ponto selecionado sobre a fronteira.

Fixando-se o retorno do ativo livre de risco, nota-se que infinitos pontos sobre a

fronteira eficiente podem ser utilizados para formar a carteira (ativos de risco e ativo

livre de risco). No entanto, dentre essas infinitas composições, há uma em especial que

permite a criação de carteiras que dominam todas as outras possibilidades em termos de

menor risco e maior retorno. Essa carteira corresponde ao ponto em que a reta risco-

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34

retorno do portfólio (ativos de risco e ativo livre de risco) é uma tangente à Fronteira

Eficiente de Ativos de Risco.

Figura 4 – Fronteira eficiente geral

Fonte: adaptado de Markowitz

Esta reta corresponde ao portfólio de ativos de risco para o qual cada unidade de

risco acrescida permite o maior aumento de rentabilidade. É portanto o portfólio de

máxima razão entre prêmio pelo risco por unidade de risco acrescida, e isso pode ser

verificado facilmente do ponto de vista geométrico, pois a reta tangente é a de maior

coeficiente angular dentre as possíveis retas.

Quando se assume a existência de um ativo livre de risco e a medida de risco

utilizada é o desvio-padrão, a relação (prêmio pelo risco / risco) consiste no índice de

Sharpe (1995), expresso por: i

fi rRIS

σ

−= em que rf é o retorno do ativo livre de risco.

De acordo com Markowitz (1959), o processo de construção de portfólios ou

carteiras de ativos é caracterizado por três elementos fundamentais:

• A informação referente aos ativos sobre os quais se baseia;

Desvio padrão

Retorno esperado

rf

Fronteira eficiente geral

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35

• Os critérios para classificação dos melhores e piores portfólios, que definem os

objetivos da análise;

• Os procedimentos computacionais, através dos quais os portfólios que atendem

aos critérios são obtidos a partir dos inputs .

Markowitz ressalta que os resultados da análise de portfólios não são mais que

as conseqüências lógicas das informações sobre os ativos, evidenciando assim a

importância da utilização de informações adequadas no processo de construção de

carteiras.

A otimização da construção da fronteira eficiente é desenvolvida por diferentes

investidores que utilizam dados distintos para obter fronteiras eficientes diferentes, o

que levará a carteiras ótimas diferentes. Assim, a competição entre os investidores se

dará na análise dos ativos que determinam as suas escolhas.

James Tobin (1958) introduziu a propriedade de separação, segundo a qual a

escolha da carteira pode ser separada em duas tarefas. A primeira determina a carteira

de risco ótima (O), portanto, puramente técnica. A segunda depende da preferência

pessoal de cada cliente, pois é este quem toma a decisão.

A partir de Tobin (1958), diversas análises de mercados financeiros têm

mostrado que as decisões de alocação em portfólio podem ser reduzidas a um processo

em dois estágios, a decisão da alocação relativa de ativos entre ativos com risco e a

divisão da riqueza total entre ativos com risco e ativos livres de risco. Esta é

denominada a separação monetária (JUDD; KUBLER; SCHMEDERS, 2005). O

resultado da separação monetária em dois fundos e sua generalização para n fundos

dependem de premissas especiais sobre retornos e preferências. Particularmente, Cass e

Stiglitz (1970) mostraram que a separação monetária em dois fundos mantém-se se um

investidor apresenta utilidade HARA (hyperbolic absolute risk aversion - aversão

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36

hiperbólica absoluta ao risco). De acordo com a teoria de separação de fundos com um

ativo sem risco, a proporção de diferentes ativos com risco na parcela de ativos de risco

no portfólio não depende da aversão ao risco do investidor. Segundo a teoria da

separação, os investidores racionais deveriam alocar seus ativos entre um ativo sem

risco e um fundo mútuo com risco, cuja composição é a mesma para todos os

investidores. A aversão ao risco afetaria apenas a alocação entre o ativo sem risco e o

fundo. No entanto, dadas certas premissas, o grau de aversão ao risco afetaria a

composição do portfólio1.

Discutiram-se, neste capítulo, razões para a preferência pela liquidez, tanto na

perspectiva de Keynes, quanto no que se refere a Tobin ao tratar a preferência pela

liquidez como comportamento em relação ao risco. Tal análise conduz a postular o

investidor típico como avesso ao risco e disposto a incorrer em riscos mais elevados

apenas em troca de um maior retorno esperado. Dada esta premissa, pode-se

desenvolver, tal como proposto por Markowitz, uma fronteira eficiente, combinações de

risco e retorno, tal que, para um dado risco, tem-se o maior retorno esperado. As

escolhas eficientes são aquelas que se encontram em tal fronteira. O ponto da fronteira

pelo qual dar-se-á a escolha do investidor depende de sua função utilidade.

Os fundos de investimento consistem em portfólios de ativos gerenciados por

profissionais e divididos entre seus proprietários, ou cotistas, em parcelas denominadas

cotas. Assim, a gestão de um fundo de investimento, ou a composição de seu portfólio

toma por base a fronteira eficiente e se localiza nesta em função do perfil dos

1 Consultorias financeiras e o conselho “popular” recomendam diferentes composições de portfólio em função do grau de aversão ao risco do investidor. Neste sentido, Bajeux-Besnainou, Jordan e Portait (2001) buscam apoio teórico para tal recomendação. Seu argumento central baseia-se em dois pontos, que o horizonte do investidor pode exceder a maturidade do ativo livre de risco e que o investidor reformula seu portfólio ao longo do tempo. Se o horizonte do investidor ultrapassa a maturidade do ativo livre de risco, então tal ativo não é o ativo sem risco considerado normalmente na teoria básica. Em uma teoria que permita a reformulação do portfólio, contrariamente a um arcabouço de comprar-e-manter, seria razoável considerar que o investidor pode sintetizar um ativo livre de risco, utilizando um fundo de títulos e um ativo líquido. Nesse caso, Bajeux-Besnainou, Jordan e Portait (2001) mostram que a taxa teórica de títulos livres de risco/com risco varia diretamente com a aversão ao risco para qualquer investidor HARA.

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investidores em termos de sua função utilidade. Uma administradora de ativos pode

servir uma gama de clientes com reduzido aumento de custos, visto que a carteira ótima

é mesma para todos os clientes, sendo que o gerenciamento profissional custa menos e é

mais eficiente.

O próximo capítulo propõe-se a discutir a composição do portfólio dos fundos

de investimento, particularmente no que se refere a um tipo de ativo em especial, os

títulos da Dívida Pública Mobiliária Federal interna.

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38

2 FUNDOS DE INVESTIMENTO NO BRASIL

O presente capítulo tem por objetivo descrever a indústria de fundos de

investimento no Brasil e, principalmente, mostrar sua evolução e atuação no mercado da

Dívida Pública Mobiliária Federal interna, basicamente fundamentada na liquidez dos

títulos públicos federais. Buscar-se-á ainda abordar a origem dos fundos de

investimento, bem como contextualizar a indústria brasileira de fundos no ranking

mundial.

2.1 Histórico

Os fundos de investimento têm sua origem em meados do século XIX na

Europa, constituídos por banqueiros e corretores que visualizaram a possibilidade de

oferecer administração financeira profissional aos pequenos investidores (HISTORY...,

2003). Esta é uma das principais vantagens dos fundos de investimento – permitir a

pequenos investidores o acesso a ativos que não poderiam adquirir individualmente,

assim como a possibilidade de contar com uma administração qualificada de seu

portfólio.

O primeiro fundo mútuo moderno foi o Massachusetts Investor Trust, fundado

em 1924 e, diferentemente dos anteriores, foi formado como condomínio aberto,

permitindo uma oferta contínua de novas cotas e a renegociação de cotas já existentes

que poderiam ser vendidas a qualquer momento com base no valor corrente dos ativos

do fundo. Após um recuo importante na grande depressão pós 1929, os fundos foram

regulamentados na década de 30 nos EUA. No final da década de 1960, já havia

aproximadamente 270 fundos mútuos com US$ 48 bilhões em ativos (ROCHA, 2003).

Page 39: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

39

Os ativos líquidos totais em fundos de investimento, que se aproximavam de

US$ 9.350 trilhões em 1998, atingiam o montante de US$ 14.000 trilhões em 2003 tal

como detalhado na Tabela 1.

Tabela 1 - Ativos líquidos totais em Fundos mútuos (US$ milhões, fim do ano) 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Total Mundial

$9.343.272 $11.391.138 $11.871.061 $11.654.904 $11.324.131 $13.957.564

Américas 5.867.187 7.264.471 7.424.146 7.433.144 6.776.291 7.969.224 Argentina 6.930 6.990 7.425 3.751 1.021 1.916 Brasil 118.687 117.758 148.538 148.189 96.729 171.596 Canadá 213.451 269.825 279.511 267.863 248.979 338.369 Chile 2.910 4.091 4.597 5.090 6.705 8.552 México N/A 19.468 18.488 31.723 30.759 31.953 EUA 5.525.209 6.846.339 6.964.667 6.974.951 6.390.360 7.414.084 Europa 2.743.228 3.203.401 3.296.015 3.167.963 3.463.000 4.592.582 Áustria 57.447 56.254 56.549 55.211 66.877 87.982 Bélgica 56.339 65.461 70.313 68.661 74.983 98.724 Finlândia 5.695 10.318 12.698 12.933 16.516 29.967 França 626.154 656.132 721.973 713.378 845.147 1.148.446 Alemanha 190.520 237.312 238.029 213.662 209.168 276.319 Grécia 32.122 36.397 29.154 23.888 26.621 38.394 Hungria 1.476 1.725 1.953 2.260 3.992 3.936 Irlanda 50.337 95.174 137.024 191.840 250.116 360.425 Itália 439.701 475.661 424.014 359.879 378.259 478.734 Holanda 80.120 94.539 93.580 79.165 84.211 N/A Noruega 11.148 15.107 16.228 14.752 15.471 21.994 Polônia 506 762 1.546 2.970 5.468 8.576 Portugal 22.574 19.704 16.588 16.618 19.969 26.985 Rússia 29 177 177 297 372 851 Espanha 238.917 207.603 172.438 159.899 179.133 255.344 Suécia 54.923 83.250 78.085 65.538 57.992 87.746 Suíça 69.151 82.512 83.059 75.973 82.622 90.772 Reino Unido 277.551 375.199 361.008 316.702 288.887 396.523 Ásia e Pacífico

720.697 905.031 1.133.979 1.039.236 1.063.857 1.361.298

Austrália 44.124 N/A 341.955 334.016 356.304 518.411 Hong Kong 98.767 182.265 195.924 170.073 164.322 255.811 Índia 8.685 13.065 13.507 15.284 20.364 29.800 Japão 376.533 502.752 431.996 343.907 303.191 349.148 República da Coréia

165.028 167.177 110.613 119.439 149.544 121.488

Nova Zelândia

7.250 8.502 7.802 6.564 7.505 9.641

Taiwan 20.310 31.153 32.074 49.742 62.153 76.205 Africa 12.160 18.235 16.921 14.561 20.983 34.460 África do Sul 12.160 18.235 16.921 14.561 20.983 34.460 Fundos de fundos não estão incluídos. N/D=não disponível Fonte: European Federation of Investment Funds and Companies, Investment Company Institute.Disponível em http://www.ici.org/stats/mf/04fb_datasec5.pdf

A indústria brasileira de fundos mostra um significativo crescimento no período

de 1998 a 2003, da ordem de 45%, apesar da forte queda em 2002. A indústria

Page 40: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

40

doméstica de fundos, bem como sua definição e características peculiares serão

abordadas a seguir.

2.2 Definição e classificação

Um fundo de investimento consiste em uma comunhão de recursos, constituída

sob a forma de condomínio, destinada à aplicação em títulos e valores mobiliários, bem

como em quaisquer outros ativos disponíveis no mercado financeiro e de capitais. Os

fundos podem ser classificados, de acordo com a CVM, tal como expresso no Quadro 1.

Quadro 1 - Classificação dos Fundos de Investimento Classes Ativos Riscos

Curto Prazo

Títulos públicos federais, títulos privados, prefixados ou pós-fixados, com prazo máximo a decorrer de 375 dias, e prazo médio da carteira do fundo inferior a 60 dias.

Prefixados ou indexados à taxa Selic, ou a outra taxa de juros, bem como indexados a índices de preços. Os títulos privados deverão ser classificados como baixo risco de crédito.

Referenciados Devem manter no mínimo 80% de seu patrimônio representado por títulos públicos federais ou títulos privados. Limite mínimo de 95% da carteira composta por ativos financeiros indexados ao indicador de desempenho do fundo

Indexador de referência. Admite-se somente títulos privados classificados como de baixo risco de crédito.

Renda Fixa Possuir no mínimo 80% da carteira em ativos associados diretamente, ou sintetizados via derivativos, ao fator de risco que dá nome a classe

Variação da taxa de juros doméstica ou índice de preços, ou ambas

Fundo de Ações

Fundo Cambial

Fundo de Dívida Externa

Multimercado

Possuir no mínimo 67% da carteira em ações admitidas à negociação no mercado à vista de bolsa de valores ou mercado de balcão organizado

Possuir no mínimo 80% da carteira em ativos associados diretamente, ou sintetizados via derivativos, ao fator de risco que dá nome a classe

Deverão aplicar no mínimo 80% de seu patrimônio em títulos da dívida externa da União, sendo permitido até 20% em outros títulos de crédito transacionais no Mercado internacional

Políticas de investimento que envolvam ativos de vários fatores de risco, sem o compromisso de concentração em nenhum fator em especial

Variação de preços de ações

Variação de preço de moeda estrangeira, ou a variação do cupom cambial

Variação dos títulos da dívida externa e cambial

Diversas classes de ativos

Fonte: Instrução CVM no 409 de 18/08/2004

Page 41: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

41

A instrução CVM no 409, de 18/08/2004, estabelece critérios de composição

das carteiras dos fundos de investimento, em função da classe a que cada um pertence.

Mas, apesar de existirem sete classes de fundos com composições distintas, observa-se a

possibilidade principal de escolha entre ativos da dívida pública e/ou privada. Assim

sendo, fica afastada a obrigatoriedade de aquisição de títulos públicos em detrimento

dos títulos privados, pelo menos nos termos da legislação vigente.

2.3 Evolução patrimonial

Os primeiros fundos de investimento do Brasil surgiram na década de 1950,

entre os quais os fundos Crescinco e Deltec e posteriormente, os fundos 157, de

incentivos fiscais. Estes se limitavam a aplicações no mercado de ações. Foi na década

de 1990, porém, com o controle da inflação no plano real que a indústria brasileira de

fundos inicia seu desenvolvimento de maneira mais significativa (ROCHA, 2003).

Recentemente, o mercado financeiro e de capitais têm crescido de maneira

significativa no Brasil, não só em diversidade de produtos e de serviços, mas também

em volume. A estabilização econômica do país fez com que as pessoas buscassem um

melhor planejamento financeiro, nesse sentido, a demanda por ferramentas de

investimento tem aumentado, visto que os investidores esperam garantir um futuro mais

tranqüilo.

Há praticamente um consenso entre os profissionais da área financeira de que é

muito melhor para um investidor diversificar sua carteira a apostar em um só

investimento, o que tem fundamento em Markowitz. A diversificação permite que

perdas em uma aplicação possam ser compensadas por ganhos em outras. Contudo,

montar uma carteira individual torna-se muitas vezes caro para um pequeno investidor e

o conhecimento para comprar ou vender no momento certo demanda tempo e

Page 42: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

42

experiência. É aqui que os administradores/Gestores de fundos buscam facilitar essa

tarefa.

Os fundos de investimento, exceção quando se trata de fundos exclusivos, são

compostos por vários aplicadores, denominados cotistas, que juntos detêm maior poder

de compra, o que possibilita investir em vários ativos financeiros, diversificando o

portfólio.

Os cotistas dos fundos de investimentos, em especial as pessoas físicas,

normalmente não possuem conhecimento profundo sobre o mercado de valores

mobiliários, seus riscos e características dos diferentes ativos. Tomam, como base de

decisão informações fornecidas pelo administrador/gestor dos fundos. O indício mais

evidente utilizado pelo potencial cotista é, possivelmente, o da rentabilidade histórica,

aliado ao da liquidez do investimento.

Nos últimos anos, os fundos de investimento, particularmente os mais

conservadores (referenciados DI e renda fixa), têm se mostrado como uma das

alternativas mais interessantes para o poupador quando comparados às outras

possibilidades de investimento de baixo risco. Entre as vantagens dos fundos de

investimento, incluem-se a diversificação da carteira e conseqüente redução de risco,

administração profissional contínua de profissionais experientes e preparados para

identificar alternativas com mais propriedade do que os cotistas, e liquidez diária,

permitindo a rápida conversão das cotas (ROCHA, 2003).

No que se refere a risco, retorno e liquidez, os fundos de investimento,

particularmente os conservadores, tem se mostrado muito atrativos quando comparados

às outras alternativas de investimento disponíveis - em termos de combinação de risco,

retorno e liquidez - particularmente para o investidor avesso ao risco.

Page 43: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

43

A poupança tem mostrado rentabilidade inferior ao dos FI’s, inclusive, em

determinados momentos, com juro real negativo, quando balizada por indicadores de

preços tais como o IGPM.

O CDB, ou Certificado de Depósito Bancário, consiste em um título de captação

de recursos utilizado por bancos comerciais, bancos de investimento, bancos de

desenvolvimento e bancos múltiplos. Ao contrário dos fundos de investimento, há nos

CDBs a concentração do risco de crédito em apenas uma instituição, a que emite o

papel. Por outro lado, podem ocorrer oscilações de rendimento quando o investidor

retira os recursos antes da data de vencimento da aplicação, caso em que é necessário

renegociar os rendimentos com a instituição financeira. Como alternativa, alguns bancos

oferecem CDBs com liquidez diária, mas isso significa redução de rentabilidade dos

mesmos.

Estes benefícios comparativos dos fundos de investimento sugerem razões para

seu forte crescimento nos últimos anos. De acordo com dados da ANBID, em dezembro

de 1993, havia apenas 91 fundos de investimento no país. Este número cresce

incisivamente a partir do plano real, atingindo 2920 fundos em dezembro de 2004.

Figura 5 – Número de fundos de investimento no Brasil

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

dez

-93

dez

-94

dez

-95

dez

-96

dez

-97

dez

-98

dez

-99

dez

-00

dez

-01

dez

-02

dez

-03

dez

-04

Fonte: ANBID

Page 44: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

44

Em 1991, o saldo de aplicações em Caderneta de Poupança era quase 120 vezes

maior que o patrimônio líquido total dos fundos. Tal situação modifica-se radicalmente

na segunda metade dos anos 90. Os investidores que antes consideravam a poupança

como o investimento mais seguro passaram a perceber os fundos de investimento como

uma alternativa mais atraente, apesar da tributação (ROCHA, 2003).

O patrimônio líquido dos fundos de investimento incrementou-se em termos

reais, quase 500% entre dezembro de 1993 e o mesmo mês de 2004, como ilustrado na

Figura 6.

Este crescimento da indústria de fundos de investimento pode ser explicado pela

sua atratividade para os investidores qualificados e não qualificados2 frente a outras

opções de investimento.

Figura 6 – Patrimônio líquido dos fundos de investimento no Brasil

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

dez

-93

dez

-94

dez

-95

dez

-96

dez

-97

dez

-98

dez

-99

dez

-00

dez

-01

dez

-02

dez

-03

dez

-04

R$

milh

ões

Fonte: ANBID Valor real - base dez 2004, deflacionado pelo IGP-M

2 A CVM – Comissão de Valores Mobiliários editou legislação específica que dispõe sobre a constituição, administração, funcionamento e a divulgação de informações dos fundos de investimento. Tal medida visou aumentar a transparência deste mercado e a proteger o pequeno investidor, designado investidor não qualificado.

Page 45: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

45

No que se refere à distribuição deste patrimônio entre os diferentes segmentos

de fundos, destacam-se, em conjunto, os referenciados DI e de renda fixa, que vêm

respondendo por mais da metade do montante da indústria de fundo de investimentos.

Figura 7 – Participação de Fundos Referenciados DI no mercado de fundos

0

10

20

30

40

1999 2000 2001 2002 2003 2004

%

Fonte: ANBID Os fundos referenciados DI, segundo a ANBID, objetivam investir, no mínimo,

95% do valor de sua carteira em títulos ou operações que busquem acompanhar as

variações do CDI ou SELIC, estando também sujeitos às oscilações decorrentes do

ágio/deságio dos títulos em relação a estes parâmetros de referência. O montante não

aplicado em operações que busquem acompanhar as variações destes parâmetros de

referência devem ser aplicados somente em operações permitidas para os fundos de

curto prazo. Estes fundos seguem as disposições do artigo 94 da Instrução CVM 409.

Conforme pode ser observado na figura 7, no período analisado neste estudo,

nota-se uma redução da participação deste segmento que detinha aproximadamente 30%

do total da indústria em 1999, para em torno de 20% no final de 2004. Este fato pode

ser atribuído à migração para fundos de outras classes, mais precisamente multimercado

como será demonstrado mais à frente.

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46

Figura 8 – Participação de Fundos de Renda Fixa no mercado de fundos

0

10

20

30

40

50

60

1999 2000 2001 2002 2003 2004

%

Fonte: ANBID Os fundos de renda fixa, segundo a ANBID, buscam retorno por meio de

investimentos em ativos de renda fixa (sendo aceitos títulos sintetizados através do uso

de derivativos). Incluem-se estratégias que impliquem risco de índices de preço.

Excluem-se, porém, investimentos que acarretem risco de oscilações de moeda

estrangeira e de renda variável (ações, etc.). Devem manter, no mínimo, 80% de sua

carteira em títulos públicos federais ou ativos com baixo risco de crédito. Dependendo

da política de investimento implementada podem ou não admitir alavancagem3.

A exemplo do que ocorreu com os fundos refenciados DI, os fundos

classificados como renda fixa também sofreram redução na participação percentual do

total da indústria. Ou seja, de praticamente 50% em 1999 para 30% no final de 2004,

conforme demonstra a figura 8.

3 Um fundo é considerado alavancado sempre que existir possibilidade (diferente de zero) de perda superior ao patrimônio do fundo, desconsiderando-se casos de default nos ativos do fundo.

Page 47: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

47

Figura 9 – Participação de Fundos Multimercado no mercado de fundos

05

101520253035

1999 2000 2001 2002 2003 2004

%

Fonte: ANBID

Classificam-se como multimercado os fundos que buscam retorno no longo

prazo através de investimento em diversas classes de ativos (renda fixa, câmbio, etc)

incluindo renda variável (ações, etc.). Estes fundos não têm explicitado o mix de ativos

com o qual devem ser comparados (asset allocation benchmark) e podem, inclusive, ser

comparados a parâmetro de desempenho que reflita apenas uma classe de ativos (por

exemplo: 100% CDI). Podem ou não admitir alavancagem3, dependendo da política de

investimento adotada (ANBID, 2005).

Os fundos multimercado apresentaram um forte crescimento a partir de 2001,

como pode ser observado na figura 9. Este comportamento pode ser explicado pela

flexibilização de sua política de investimento que permite atuar em diversos mercados

simultaneamente, visando agregar maior rentabilidade. Neste sentido, o que se verificou

foi a migração de investimentos dos fundos classificados como referenciados DI e renda

fixa para os multimercados. Entretanto, na prática observa-se que existem fundos com

essa classificação atuando como renda fixa ou referenciados DI, postura justificada pela

aversão ao risco do investidor já discutida no capítulo 1.

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48

Figura 10 – Participação de Fundos Cambiais no mercado de fundos

0

0,5

1

1,5

2

2,5

1999 2000 2001 2002 2003 2004

%

Fonte: ANBID Os fundos cambiais aplicam pelo menos 80% de sua carteira em ativos de

qualquer espectro de risco de crédito - relacionados diretamente, ou sintetizados via

derivativos, a uma ou mais moedas estrangeiras. O montante não aplicado em ativos

relacionados direta ou indiretamente a uma ou mais moedas estrangeiras deve ser

aplicado somente em títulos e operações de renda fixa (pré ou pós-fixadas a

CDI/SELIC). Podem ou não admitir alavancagem, dependendo da política de

investimento definida em seu regulamento (ANBID, 2005).

Conforme demonstra a figura 10, a partir 2001 a participação deste segmento no

total da indústria de fundos sofre uma significativa redução, caindo de 2% para menos

de 1% no final de 2004. Estes fundos são utilizados como hedge pelas empresas que

possuem passivos em moeda estrangeira, mas com a desvalorização do dólar no

mercado doméstico e pelas perspectivas que se apresentavam no período analisado, este

segmento foi pouco demandado pelos investidores.

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49

Figura 11 – Participação de Fundos de Ações no mercado de fundos

0

2

4

6

8

10

1999 2000 2001 2002 2003 2004

%

Fonte: ANBID Os fundos de ações devem possuir, no mínimo, 67% da carteira em ações à vista.

São fundos cujo objetivo de investimento é acompanhar ou superar o comportamento do

Ibovespa/IBX/IBX-50 ou ações setoriais. Dependendo da política de investimento

determinada em seu regulamento poderão ou não admitir alavancagem. Em tais fundos

vale ressaltar, além do risco de renda, um significativo risco de capital (ANBID, 2005).

A figura 11 demonstra um comportamento praticamente estável na participação

deste segmento, situada entre 9% no final de 1999 e 7% no mesmo período de 2004.

Este comportamento é justificado pela postura conservadora dos investidores brasileiros

em relação a ativos de riscos ofertados no mercado de ações, o que evidencia mais uma

vez a aversão ao risco dos aplicadores em fundos de investimento.

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50

Figura 12 – Participação de Fundos de Previdência no mercado de fundos

01234567

1999 2000 2001 2002 2003 2004

%

Fonte: ANBID

Na categoria fundos de previdência incluem-se os FAPI's – Fundo de

Aposentadoria Programada Individual e fundos exclusivos para PGBL's – Planos Gerais

de Benefícios Livres. Esse segmento pode atuar em qualquer uma das classes definidas

anteriormente (ANBID, 2005).

Conforme demonstra a figura 12 ocorreu um expressivo crescimento desta

categoria de fundos, que parte de menos de 0,5% em 1999 para 6% do total da indústria

de fundos no final de 2004. Este comportamento é justificado pela recente

regulamentação do setor e incentivos a previdência privada.

Ao compor os seus portfólios em cada segmento de fundos, os seus gestores

possuem uma série de opções em sua fronteira eficiente. A atratividade relativa de tais

opções é discutida a seguir, particularmente no que se refere à sua liquidez.

2.4 Composição de portfólio de fundos de investimento

A composição desejada pelos gestores para os seus fundos leva em conta os

objetivos de cada segmento de fundos. Neste sentido, faz-se necessário considerar a

segmentação da indústria de fundos de investimento. Segundo a classificação da CVM,

os fundos de investimento podem ser classificados em sete categorias, conforme

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51

apresentado na seção 2.2, a saber: renda fixa, referenciados, multimercado, fundo de

ações, fundo cambial, dívida externa e curto prazo.

Dentro destas classificações de fundos de investimento, verificam-se objetivos

de benchmark diferentes para cada segmento apresentado, ou seja, para os fundos de

renda fixa e curto prazo busca-se atingir um percentual do CDI – Certificado do

Depósito Interbancário. Por outro lado, para os fundos referenciados, o indicador de

desempenho poderá ser, dentre outros, o CDI como o câmbio. Já os fundos

multimercado buscam retorno através de investimento em diversas classes de ativos

(renda fixa, câmbio, etc) exceto renda variável (ações, etc.), desta forma não têm

explicitado o mix de ativos com o qual devem ser comparados. Para os fundos de renda

variável, o objetivo de investimento é acompanhar ou superar o comportamento do

Ibovespa. Já os fundos cambiais e de dívida externa buscam acompanhar,

respectivamente, variação de preço de moeda estrangeira e variação dos títulos da

dívida externa.

Neste contexto, os gestores de fundos de investimento definem a composição

“ideal” para cada carteira de fundo de investimento, sempre levando em consideração

qual o desempenho esperado para cada segmento de fundos. Portanto, o que determina

quais os ativos que deverão compor as carteiras dos fundos de investimento são os

indicadores de desempenho com os quais os fundos estão sendo comparados.

A partir deste pressuposto é possível analisar a composição de carteira

necessária para alcançar os objetivos de cada segmento de fundos de investimento. Por

exemplo, nos segmentos de fundos de renda fixa, curto prazo e referenciados DI, a

função dos gestores consiste em encontrar ativos que repliquem o índice desejado pelo

fundo, de forma a atender às expectativas dos cotistas. Para isso, ativos pós-fixados

indexados ao CDI ou à taxa Selic são alternativas que poderão contribuir para se

Page 52: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

52

alcançar o Benchmark estabelecido. Ativos prefixados são boas opções para os fundos

de renda fixa, visto que estes fundos, tradicionalmente, são mais agressivos que os

fundos referenciados DI.

Atualmente, o mercado financeiro dispõe de títulos públicos e privados

indexados à taxa Selic, CDI, índices de preços ou prefixados. Como alternativa de

investimento os gestores podem escolher entre papéis privados, como por exemplo:

Debêntures, Notas Promissórias, CCB – Certificados de Crédito Bancário, entre outros,

ou ainda, títulos da DPMFi – Dívida Pública Mobiliária Federal interna - que como

opção, oferecem aos gestores de fundos de investimento (vide Anexo A): LFT – Letras

Financeiras do Tesouro, indexadas à taxa Selic, LTN – Letras do Tesouro Nacional,

NTN-F – Notas do Tesouro Nacional série F, papéis prefixados. Além de ativos

indexados a índice de preços como: NTN-C – Notas do Tesouro Nacional série C,

indexadas ao IGP-M e as NTN-B – Notas do Tesouro Nacional série B, indexadas ao

IPC-A.

A escolha entre títulos públicos federais ou títulos privados parece bastante

clara, se considerada a relação risco e retorno. Principalmente porque os papéis do

governo são considerados pelo mercado como de risco soberano, enquanto que os

títulos emitidos por bancos ou empresas privadas carregam consigo o chamado risco de

crédito, inerente a cada atividade desempenhada por seus emissores. Acrescenta-se

ainda o papel da liquidez dos títulos públicos federais como fator indutor das

preferências dos fundos de investimento. Em sua fronteira eficiente, tal como discutido

no item 1.2 deste trabalho, os fundos de investimento têm, com uma maior participação

de títulos públicos, a composição de um portfólio mais seguro, adequado à aversão ao

risco de seus investidores.

Page 53: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

53

O risco de liquidez caracteriza-se, primordialmente, mas não se limita, à baixa

ou mesmo eventual inexistência de demanda pelos títulos e valores mobiliários

integrantes da carteira do fundo de investimento. Desta maneira, o gestor da carteira

pode encontrar dificuldades para liquidar posições ou negociar tais títulos e valores

mobiliários no momento desejado. Durante o período de falta de liquidez, o fundo de

investimento permanece exposto aos riscos associados aos títulos e valores mobiliários

de sua carteira. Para contornar a situação, o gestor da carteira pode aceitar descontos nos

preços para conseguir negociá-los (ROCHA, 2003).

Os títulos públicos, principalmente os da Dívida Pública Mobiliária Federal

interna (DPMFi) apresentam uma importante vantagem em termos de liquidez quando

comparados aos papéis privados, derivada do tamanho da demanda do Estado por

recursos, que implica o desenvolvimento de um amplo mercado, alcançando uma forte

dinâmica de negociação para seus papéis, o que diminui significativamente a

probabilidade de que um investidor não consiga vender seus títulos. Mais além, quanto

maior a liquidez dos títulos públicos mais atrativos se tornam aos olhos dos investidores

(ANDIMA, 2003).

Já o risco de crédito considera a possibilidade de o emissor de um título não

honrar o resgate ocasionando prejuízos aos fundos de investimento. Os títulos públicos

federais, considerando-se o seu emissor, são considerados os papéis mais seguros do

mercado, de risco soberano. Se o governo não honrar suas obrigações, todas as outras

instituições do país estarão em situação ainda mais séria.

Por outro lado, os papéis públicos não são invulneráveis a outros riscos, dentre

os quais se destaca o de mercado, que considera a possibilidade de oscilação adversa

nos preços do papel entre a data de compra e uma data futura qualquer, em função de

Page 54: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

54

fatores tais como a política monetária, variação na confiança dos mercados ou choques

externos (ANDIMA, 2003, p.20).

No Brasil, porém, nos últimos anos, ao lado do risco de crédito inexistente

(exceto nas ocasiões em que há razões para esperar-se iniciativas políticas de default), o

risco de mercado foi eliminado pela indexação pela taxa de juros de curto prazo

(SELIC4) e o risco de liquidez é mantido baixo pela disposição das instituições

participantes, especialmente o Banco Central, em servir de comprador de última

instância destes títulos (CARVALHO, 2003).

Na prática, geralmente, os gestores que atuam no mercado de títulos procuram

concentrar seus recursos na posse de valores líquidos. Para isso, os agentes econômicos

realizam operações de compra/venda de títulos públicos por meio de leilões de mercado

aberto diretamente com o Tesouro Nacional/Banco Central, ou através do mercado

secundário de títulos, isto é, quando as operações são realizadas entre instituições e não

há a participação da autoridade monetária ou do Tesouro Nacional na execução das

operações de venda definitiva, público em geral, de títulos da DPMFi.

2.5 Evolução da composição das carteiras e atuação dos fundos no mercado de

dívida pública e privada

O aumento do número de cotistas em fundos de investimento traz diversas

implicações no funcionamento do sistema financeiro, no que tange a estratégia de

alocação dos portfólios desses investimentos. Neste contexto, as administradoras de

recursos de terceiros utilizam-se de diversos instrumentos existentes no mercado

financeiro para realizar a administração dos riscos e retornos destes portfólios por meio

4 A taxa Selic é obtida mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas. A divulgação da taxa Selic é responsabilidade do Departamento de Operações do Mercado Aberto, Divisão de Administração do Selic (Demab/Dicel).

Page 55: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

55

da diversificação de ativos e derivativos, atuando em diversos mercados

simultaneamente. Dentre estes mercados destaca-se o de títulos públicos federais,

particularmente atrativos – tal como discutido no item anterior - e que, tal como

indicado na Figura 13, têm representado mais de 70% do patrimônio dos fundos de

investimento nos últimos cinco anos. A participação de ações mantém-se, ainda, tímida,

próxima ao patamar de 10%.

Figura 13 – Composição dos fundos de investimento

0%

10%20%

30%40%

50%

60%70%

80%90%

100%

dez/00 dez/01 dez/02 dez/03 dez/04

Titulos Públicos Federais CDB/RDB Debêntures Ações

Fonte: ANBID Nota: Títulos Públicos Federais inclui Operações Compromissadas

Embora, em dezembro de 2004 carregassem cerca de 47% da dívida pública,

conforme demonstra a Figura 14, os Fundos de Investimento não estão obrigados a

adquirir títulos públicos, ou seja, não há demanda cativa atribuída a esses agentes. De

acordo com a regulamentação em vigor, as carteiras dos fundos têm de ser constituídas

por ativos e/ou modalidades operacionais disponíveis no mercado financeiro, com

exceção de TDE – Títulos de Desenvolvimento Econômico e quotas de FDS – Fundo de

Desenvolvimento Social (ANDIMA, 2003).

Page 56: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

56

Segundo a instrução CVM no 409, de 18/08/2004, os fundos de renda fixa

devem manter no mínimo 80% da carteira em ativos associados diretamente, ou

sintetizados via derivativos, ao fator de risco que dá nome à classe. Por outro lado, os

fundos referenciados precisam investir este mesmo percentual de seu patrimônio em

títulos públicos federais ou títulos privados classificados como de baixo risco de crédito,

bem como manter um mínimo de 95% da carteira composta por ativos financeiros

indexados ao indicador de desempenho do fundo.

Figura 14 - Evolução da Dívida Pública versus Participação dos FI´s (Bilhões de Reais nominais)

Fonte: Banco Central do Brasil

Os fundos de investimento, tal como ilustrado na figura 14, mostram-se como

grandes compradores de títulos da dívida pública e sua participação vêm crescendo de

maneira significativa nos últimos cinco anos, atuando nos mercados primário e

secundário da DPMFi.

389,8

145,5

468,3

190,4

584,3

199,6

580,6

186,4

691,4

294,9

765,1

358,7

-

100,0

200,0

300,0

400,0

500,0

600,0

700,0

Dez 99 Dez 00 Dez 01 Dez 02 Dez 03 Dez 04 DPMFi FI`s

37% 40%

34% 32%

42% 47%

Page 57: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

57

2.6 Atuação dos fundos no mercado primário de títulos da DPMFi

A influência direta dos fundos de investimento, como principais compradores de

títulos da DPMFi, sobre a sua composição é fortemente sugerida pelo fato das principais

mesas de operações das administradoras de fundos de investimento, normalmente,

serem consultadas pela Secretaria do Tesouro Nacional a respeito da realização de

leilões de colocação de títulos públicos federais, de forma que informem as respectivas

demandas para os possíveis títulos que serão ofertados.

Com base em cronograma mensal já estabelecido, a Secretaria do Tesouro

procede da seguinte forma para obter as informações sobre demanda de títulos públicos.

Primeiro envia e-mails aos principais agentes econômicos, o que inclui as principais

Assets, de forma a informar que consultará às mesas de operações em horário específico

com o objetivo de realizar a prospecção de demanda para o leilão tradicional de títulos

públicos federais. Segundo, realiza as consultas telefônicas a respeito do assunto, no

horário pré-estabelecido, para conhecer as previsões de atuação de cada agente

econômico no referido evento.

Quando da realização das consultas, são informados os prováveis títulos a serem

ofertados a mercado, bem como os respectivos vencimentos e, normalmente, o leilão

ocorre no dia seguinte ao da consulta. Em função dos resultados obtidos na pesquisa

com as mesas de operações dos agentes econômicos, o Tesouro Nacional define os

títulos que serão ofertados, bem como as respectivas quantidades.

2.7 Atuação dos fundos no mercado secundário de títulos da DPMFi

O Open Market é o mercado secundário, ou seja, um mercado que se negociam

títulos já emitidos anteriormente. Assim, os bancos utilizam este mercado para

regularizar o seu caixa, de acordo com a falta ou sobra de reservas bancárias, através da

Page 58: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

58

compra e venda de títulos federais entre si. Outros agentes financeiros como as

administradoras de fundos de investimento também podem utilizar-se deste mercado

para negociar títulos públicos federais. Desta forma, os títulos comprados por meio

destas transações compõem tanto as carteiras próprias das instituições financeiras, como

também os fundos de investimento, além de balizarem as taxas de rentabilidade dos

títulos federais (FORTUNA, 2002, p.94).

O incremento da liquidez dos papéis públicos depende fundamentalmente da

densidade e abrangência de seus mercados, particularmente os secundários, em que os

proprietários de títulos vendem-nos a terceiros. Quanto mais homogêneos, ou

substituíveis entre si sejam dois títulos, mais suas demandas se aproximam e tendem à

formação de um único mercado, mais ativo do que cada um separadamente. Neste

contexto, a elevação da fungibilidade (capacidade de substituição na perspectiva do

investidor) dos títulos tem-se mostrado uma estratégia relevante para o aumento da

liquidez do mercado (ANDIMA, 2003).

A atuação dos fundos de investimento no mercado secundário de títulos

públicos vem se consolidando cada vez mais, o que aumenta a oferta e procura dos

ativos e, conseqüentemente, torna esse mercado mais expressivo. O que é bastante

importante, visto que o mercado secundário serve de balizador dos preços dos títulos em

poder da indústria de fundos.

2.8 Conclusão

Foram apresentadas neste capítulo a evolução da composição das carteiras dos

fundos de investimento e delineada a atuação dos fundos no mercado da dívida pública

e privada. Dada a posição dos FI’s de importantes demandantes de títulos da DPMFi e

da consulta da Secretaria do Tesouro às Assets antes dos leilões, há indícios que

Page 59: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

59

sugerem uma possível relação entre a indústria de fundos de investimento e a

composição da DPMFi. O próximo capítulo dedica-se a analisar qualitativamente a

existência de relação entre os fundos de investimento e a composição da DPMFi e os

fatores de influência de suas dinâmicas.

Page 60: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

60

3 ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE FUNDOS DE INVESTIMENTO E COMPOSIÇÃO DA DPMFi

O presente capítulo propõe-se a analisar a relação entre os fundos de

investimento e a composição da Dívida Pública Mobiliária Federal interna, assim como

alguns fatores influenciadores de suas dinâmicas. Discute-se a composição buscada

pelos gestores da DPMFi - particularmente com base nos planos anuais de

financiamento, a distribuição dos diferentes títulos da Dívida – em especial LFT’s,

LTN’s e NTN-C’s – entre os seus detentores, assim como fatos que influenciaram sua

dinâmica no período de análise, a saber, a partir de novembro de 1999 (momento em

que se tornam disponíveis os dados de montante mensal de títulos da DPMFi em poder

de fundos de investimento) a dezembro de 2004.

3.1 Dívida Pública Mobiliária Federal interna

A dívida pública líquida corresponde ao saldo líquido do endividamento do setor

público não-financeiro e do Banco Central com o sistema financeiro (público e

privado), o setor privado não financeiro e os demais agentes econômicos estrangeiros.

Tal dívida abrange o Governo Central, Banco Central, Estados, Municípios e Estatais.

Aproximadamente 80% da dívida pública é interna, formada principalmente pela Dívida

Pública Mobiliária Federal interna – DPMFi, cuja composição e características dos

principais títulos são discutidas a seguir (BRASIL, 2005a).

3.1.1 Caracterização dos principais títulos da DPMFi

Page 61: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

61

A DPMFi apresenta diversas modalidades de remuneração de seus títulos, entre

as quais a prefixada, a pós-fixada - atrelada a índices de preços ou à taxa Selic - e títulos

remunerados pela variação cambial (vide Anexo A):

• Títulos prefixados

o LTN – Letras do Tesouro Nacional

o NTN-F – Notas do Tesouro Nacional, série F

• Títulos remunerados por índices de preços

o NTN-C - Notas do Tesouro Nacional, série C

o NTN-B - Notas do Tesouro Nacional, série B

• Títulos remunerados pela taxa Selic

o LFT - Letras Financeiras do Tesouro

o LFT-A - Letras Financeiras do Tesouro, série A

o LFT-B - Letras Financeiras do Tesouro, série B

• Títulos remunerados pela variação cambial

o NTN-D - Notas do Tesouro Nacional, série D

o NBC-E - Notas do Banco Central do Brasil, série Especial

Dada a elevada parcela da dívida líquida do setor público representada pela

DPMFi e as implicações de sua composição entre os diferentes papéis e vencimentos, a

sua gestão tem sido uma das principais preocupações no que se refere ao equilíbrio das

contas públicas. Neste sentido, a gestão da dívida pública tem por objetivos “minimizar

os custos do financiamento no longo prazo, assegurando a manutenção de níveis

prudentes de risco e contribuindo para o bom funcionamento do mercado de títulos

públicos” (BRASIL, 2005).

Algumas vantagens e desvantagens das diferentes remunerações dos títulos da

dívida pública são discutidas por Lopes e Domingos (2004).

Page 62: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

62

Quadro 2 - Vantagens e Desvantagens dos principais títulos emitidos pelo Tesouro Nacional

Vantagens Desvantagens

Prefixados

Reduzem flutuações no serviço da dívida (reduz risco orçamentário e volatilidade tributária), importante instrumento para construção da yield curve e potencializa os efeitos da política monetária (elevando-se os juros, ocorre diminuição da riqueza e conseqüentemente, do consumo) .

Eleva o custo de financiamento da dívida e o risco de refinanciamento (dada a redução do prazo médio da dívida).

Índices de preços Reduzem o risco de refinanciamento – por indexar o passivo (títulos) a taxas próximas da correção do ativo (receitas).

Mercado limitado (basicamente investidores institucionais)

Taxa de juros Reduzem risco de refinanciamento e tem grande aceitação pelos investidores (principalmente fundos de investimento e tesourarias das instituições financeiras)

Aumentam risco financeiro e reduzem a eficiência da política monetária

Variação cambial Reduzem risco de refinanciamento, tem grande aceitação pelos investidores internacionais ou domésticos que queiram imunizar seus balanços (instituições financeiras e empresas)

Sua elevada volatilidade aumenta muito o risco financeiro

Fonte: adaptado de Lopes, Domingos (2004)

A idéia de determinar a composição ótima da dívida pública a partir de uma

análise macro-estrutural está amparada na elevada correlação entre estabilidade

econômica e perfil da dívida, em termos de composição e prazo (GOLDFAJN;

PAULA,1999). Os títulos prefixados, por exemplo, definem o horizonte de confiança

plena dos investidores na política econômica. Os títulos pós-fixados, por sua vez,

apresentam proteção para os investidores. Dessa forma, os títulos indexados a índices de

preços oferecem proteção contra inflação, os títulos indexados a taxas de juros oferecem

proteção contra variação nas taxas de juros e os títulos indexados à taxa de câmbio

oferecem proteção contra volatilidade na cotação cambial (LOPES, DOMINGOS,

2004). É possível perceber aqui, que a gestão do mix da DPMFi em termos de formas

de remuneração de seus títulos consiste em questão primordial. Por outro lado, o

incremento da liquidez dos títulos mostra-se como um elemento central da gestão da

DPMFi, tal como discutido a seguir.

Page 63: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

63

3.1.1.1 Liquidez do mercado de títulos da DPMFi

Os títulos da DPMFi apresentam uma importante vantagem em termos de

liquidez quando comparados aos papéis privados, derivada do tamanho da demanda do

Estado por recursos, que implica o desenvolvimento de um amplo mercado, alcançando

uma forte dinâmica de negociação para seus papéis, o que diminui significativamente a

probabilidade de que um investidor não consiga vender seus títulos. Mais além, quanto

maior a liquidez dos títulos públicos mais atrativos se tornam aos olhos dos investidores

(ANDIMA, 2003).

O aumento da liquidez dos papéis públicos depende basicamente da densidade e

abrangência de seus mercados, em especial os secundários, em que os proprietários de

títulos vendem-nos a terceiros. Quanto mais substituíveis entre si sejam dois títulos,

mais suas demandas se aproximam e tendem à formação de um único mercado, mais

ativo do que cada um por separado. Assim, a elevação da capacidade de substituição dos

títulos na perspectiva do investidor tem-se mostrado uma estratégia fundamental para o

aumento da liquidez do mercado (ANDIMA, 2003).

Em 04/11/99, o Banco Central e o Tesouro Nacional desenvolveram

conjuntamente 21 medidas objetivando aumentar o volume de negócios no mercado

secundário de títulos públicos, acrescer a eficiência dos dealers (instituições

informalmente credenciadas para atuar como elo entre o BC e as demais instituições do

SFN – Sistema Financeiro Nacional, quando da realização dos leilões primários)

buscando incremento da liquidez deste mercado e, conseqüentemente, aumento do prazo

de emissão dos títulos da dívida pública, bem como redução da sua taxa de juros

(FORTUNA, 2002, p.96).

Page 64: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

64

Algumas destas medidas estão citadas a seguir:

• Redução do número de vencimentos dos títulos públicos em circulação;

• Maior concentração em títulos com rentabilidade prefixada e redução da

freqüência de ofertas públicas;

• Divulgação prévia de cronograma de emissões de títulos;

• Lançamento de títulos no Selic – Sistema Especial de Liquidação e Custódia

de Títulos Públicos, com liquidação em D+1, visando a estimular a

participação de pessoas físicas e de pessoas jurídicas não financeiras no

mercado de títulos federais;

• Estímulo ao aumento da transparência na negociação de títulos públicos no

mercado secundário, mediante a utilização de sistema eletrônico (a partir de

Agosto de 2000, os títulos passaram a ter uma alternativa ao tradicional

“mercado de balcão organizado” representado pelas negociações telefônicas

das mesas de operações do open market, ou seja, passaram a ser negociados

eletronicamente por meio de ofertas de compra e venda disponibilizadas em

tela de terminais de computador seja através do sistema Sisbex da bolsa de

valores do Rio de Janeiro ou através do Sistema Integrado de Mercado –

SIM da Cetip);

• Divulgação diária, pela Andima - Associação Nacional das Instituições do

Mercado Financeiro, de preços dos títulos públicos em circulação;

• Incentivo para as Bolsas criarem mercado derivativo das opções de venda

lançadas, objetivando aumentar a oferta de hedge para os detentores de

títulos públicos federais.

Por outro lado, a partir de 2001, a Secretaria do Tesouro Nacional passou a

editar o Plano Anual de Financiamento da Dívida Pública (PAF), relatório que apresenta

Page 65: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

65

as diretrizes gerais que norteiam a gestão da Dívida Pública Federal (DPF), observadas

as condições de mercado. A seguir, analisam-se os PAFs desde 2001, comparando-se

as metas estabelecidas - em termos de participação de títulos no mix da dívida no que se

refere à forma de remuneração – aos valores efetivamente observados nos referidos

períodos.

3.1.2 Planos Anuais de Financiamento

Segundo os planos anuais de financiamento da dívida, as diretrizes gerais que

norteiam a gestão da Dívida Pública Federal (DPF), observadas as condições de

mercado, são (BRASIL, 2005a):

• alongamento do prazo médio da DPF, principalmente por meio do

aumento do prazo médio dos títulos emitidos em oferta pública;

• redução do percentual da DPF vincendo em 12 meses;

• substituição gradual dos títulos remunerados pela taxa Selic bem como

aqueles denominados e referenciados à variação cambial, por títulos com

rentabilidade prefixada e vinculada a índices de preços; e

• incentivo ao desenvolvimento das estruturas a termo de taxas de juros

para títulos públicos federais.

Vale ressaltar, em termos de forma de remuneração dos títulos, o objetivo de

redução dos papéis atrelados à Selic em prol de títulos prefixados e vinculados a índices

de preços. Neste sentido, segue análise das estratégias traçadas para a gestão da Dívida

Pública Mobiliaria Federal interna – DPMFi, vis a vis os resultados alcançados

anualmente no período de 2001 a 2004.

Page 66: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

66

3.1.2.1 Plano Anual de Financiamento de 2001

O Plano Anual de Financiamento, editado em fevereiro de 2001, definia as

seguintes estratégias para o financiamento da DPMFi no ano de 2001 (BRASIL, 2001):

• O Tesouro Nacional resgatará integralmente as NTN-D vincendas em 2001.

Portanto, a oferta líquida total de títulos cambiais ao mercado será de

responsabilidade exclusiva do Banco Central do Brasil;

• No período compreendido entre janeiro e dezembro de 2001, projetam-se

emissões líquidas de LTN da ordem de R$ 29 bilhões e resgates líquidos de

LFT no montante de R$ 52 bilhões.

• Em termos de prazo de emissão foram planejadas colocações em mercado

com 36 meses (LTN e NTN-F), enquanto as emissões de títulos remunerados

à taxa Selic sofreriam novos alongamentos em relação aos 60 meses daquele

momento;

• No que diz respeito às NTN-C’s os lotes considerados regulares

contemplarão prazos de no máximo 10 anos, emissões de títulos com

maturação mais longa (20 e 30 anos) deverão ser realizadas ao longo do ano ,

podendo ser aceitos, a título de troca, LFT’s em poder do mercado. Ainda no

contexto de títulos corrigidos por índices de preços, ofertas de títulos

vinculados ao IPCA poderão ocorrer, com prazos mínimos de emissão

superiores a 5 anos;

• O estoque da DPMFi em poder do público deverá sofrer acréscimo de 7,4%,

com seu prazo médio possivelmente alongando-se de 29,8 meses para até

42,9 meses. Neste ponto, ressalta-se que o alongamento de perfil da dívida só

não se faz mais robusto em função da diretriz, igualmente importante, de

desindexação da dívida, que, ao produzir aumento da participação de

Page 67: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

67

prefixados na estratégia de financiamento, substitui títulos de maior prazo

médio de

emissão (LFT) por outros com maturação mais curta (LTN).

Segue abaixo tabela comparativa entre os resultados esperados pela estratégia

básica e os resultados alcançados no período, em termos de formas de remuneração dos

títulos:

Tabela 2 - Composição planejada no PAF e alcançada em 2001 Indexador dez/00 PAF dez/01 Resultados dez/01 Prefixada 15% 22% 7,8% Selic 52% 42% 52,8% Índice de Preços 6% 8% 7,0% Câmbio 22% 22% 28,6% TR e Outros 5% 6% 3,8%

Fonte: PAF (2002)

No ano de 2001, a administração da dívida pública foi fortemente influenciada

por fatores internos como a crise gerada pelo racionamento de energia elétrica, além de

fatores externos como choques adversos que marcaram a economia mundial. Dentre os

fatores externos, cabe destacar, a desaceleração da economia americana e seu potencial

impacto sobre os paises emergentes mais o agravamento da situação da Argentina

causaram repercussão direta no mercado financeiro nacional. Vale ressaltar, com base

na Tabela 2, que o volume de títulos prefixados no mix da dívida pública em dezembro

de 2001 (7,8%) foi muito inferior ao planejado no PAF para aquele ano, de 22%,

inferior até mesmo à fração em dezembro de 2000 (15%).

3.1.2.2 Plano Anual de Financiamento de 2002

O Plano Anual de Financiamento, editado em janeiro de 2002, definia as

seguintes estratégias para o financiamento da DPMFi no ano de 2002 (BRASIL, 2002):

Page 68: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

68

• alongamento dos prazos médios dos títulos emitidos em oferta pública

(Letras do Tesouro Nacional – LTN, Letras Financeiras do Tesouro – LFT e

Notas do Tesouro Nacional, série C – NTN-C);

• manutenção do percentual da dívida vincenda em 12 meses em níveis

prudentes;

• substituição gradual dos títulos remunerados à taxa SELIC por títulos com

rentabilidade prefixada;

• desenvolvimento adicional da estrutura a termo de taxa de juros (prefixada e

de índice de preços); e

• busca de perfil mais homogêneo de maturação da dívida pública.

Destaca-se, uma vez mais, a busca pela substituição de papéis vinculados à Selic

por títulos prefixados. Abaixo segue tabela comparativa entre o que se estimava para o

perfil da dívida e o que de fato se configurou:

Tabela 3 - Composição planejada no PAF e alcançada em 2002

dez/01

PAF dez/02 Resultados dez/02 Mínimo Máximo Prefixada 7,8% 7% 10% 2,2% Selic 52,8% 51% 56% 60,8% Índice de Preços 7,0% 6% 8% 12,5% Câmbio 28,6% 25% 30% 22,4% TR e Outros 3,8% 3% 4% 2,1% Fonte: PAF (2003)

A dificuldade em atingir as metas estabelecidas para o ano de 2002 foi, em parte,

foi conseqüência do rumo incerto da economia norte-americana, o aprofundamento das

tensões no Oriente Médio e o contínuo agravamento da crise da Argentina, que

contribuíram negativamente para a estabilidade econômica.

Internamente, a marcação a mercado, bem como a crescente incerteza em

relação ao processo eleitoral e os rumos da política econômica a ser adotada em 2003

Page 69: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

69

aumentaram a volatilidade do mercado de títulos. Neste contexto, a contínua

depreciação do real frente ao dólar - que atingiu ao final de 2002, cerca de 52,3% do

valor ao final do ano anterior - e o aumento de inflação levaram o Banco Central a

adotar medidas mais restritivas de política monetária. Ou seja, sucessivas elevações dos

juros básicos internos, que passaram de 18% ao ano em setembro, para 25% ao ano em

dezembro. Acrescenta-se ainda, a forte elevação do nível de risco-país (medido de

acordo com o EMBI+, calculado pelo Banco J.P. Morgan), que iniciou o ano em 824

pontos base, atingiu 2.443 pontos base às vésperas das eleições presidenciais e finalizou

o ano em 1.439 pontos base.

Neste contexto de elevada incerteza, uma vez mais a meta de participação de

títulos prefixados não foi atingida, enquanto a fração de papéis atrelados à Selic esteve

acima do patamar máximo planejado.

3.1.2.3 Plano Anual de Financiamento de 2003

O Plano Anual de Financiamento, editado em janeiro de 2003, definia as

seguintes estratégias para o financiamento da DPMFi no ano de 2003 (BRASIL, 2003):

• alongamento dos prazos médios dos títulos emitidos em oferta pública;

• manutenção do percentual da dívida vincenda em 12 meses em níveis

prudentes;

• substituição gradual dos títulos remunerados à variação cambial e à taxa

Selic por títulos com rentabilidade prefixada e/ou indexados a índices de

preços; e

• desenvolvimento adicional da estrutura a termo de taxa de juros (prefixada e

de índice de preços).

Page 70: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

70

Em 2003 mantém-se a busca pelo aumento da participação de títulos prefixados

e vinculados a índices de preços no mix da DPMFi. Abaixo segue tabela comparativa

entre as metas traçadas para o ano de 2003 e os resultados efetivamente alcançados:

Tabela 4 - Composição planejada no PAF e alcançada em 2003

dez/02

PAF dez/03 Resultados dez/03 Mínimo Máximo Prefixada 2,2% 5% 15% 12,5% Selic 60,8% 52% 60% 61,3% Índice de Preços 12,5% 12% 18% 10,8% Câmbio 22,4% 13% 22% 13,6% TR e Outros 2,1% 2% 4% 1,8% Fonte: PAF (2003)

Os resultados obtidos, muito próximos aos estipulados no planejamento anual de

financiamento da dívida de 2003 sinalizaram a confiança dos investidores internos e

externos na economia brasileira. Contribuiu para o bom resultado a posse do novo

presidente, que pôs fim às incertezas quanto à política econômica a ser implementada.

Um significativo aumento da fração prefixada da dívida pode ser percebido,

passando de 2% em dezembro de 2002 para 12,5% em dezembro de 2003. Por outro

lado, os títulos atrelados à Selic continuam consistindo na maior parte do montante

(61,3%).

3.1.2.4 Plano Anual de Financiamento de 2004

O Plano Anual de Financiamento, editado em fevereiro de 2004, definia as

seguintes estratégias para o financiamento da DPMFi no ano de 2004 (BRASIL, 2004a):

• alongamento dos prazos médios dos títulos emitidos em oferta pública;

• redução do percentual da dívida vincenda em 12 meses;

Page 71: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

71

• substituição de parte dos títulos remunerados à variação cambial e pela taxa

Selic por títulos com rentabilidade prefixada ou vinculadas a índices de

preços; e

• contribuição para o desenvolvimento da estrutura a termo de taxa de juros

(prefixada e de índice de preços).

Tabela 5 - Composição planejada no PAF e alcançada em 2004

dez/03

PAF dez/04 Resultados dez/04 Mínimo Máximo Prefixada 12,5% 13% 23% 20,1% Selic 61,3% 50% 61% 57,1% Índice de Preços 10,8% 5% 7% 5,2% Câmbio 13,6% 15% 21% 14,9% TR e Outros 1,8% 1% 3% 2,7% Fonte: PAF (2005a)

Observa-se pela tabela acima o cumprimento de todas as diretrizes traçadas no

Plano Anual de Financiamento da dívida pública em 2004, no que tange a composição

percentual da DPMFi. Destaca-se o incremento da participação dos papéis prefixados,

que atingiram 20,1% do montante total da DPMFi e uma leve redução dos títulos

atrelados à Selic com 57,1% da DPMFi.

A evolução da DPMFi em termos de sua composição tem sido o resultado da sua

gestão, do contexto macroeconômico e das expectativas do mercado. O próximo item

busca delinear a evolução de suas características em termos de forma de remuneração,

prazo médio e estrutura de vencimentos entre novembro de 1999 e dezembro de 2004.

3.1.3 Evolução recente da composição da DPMFi

As crises financeiras internacionais a partir da segunda metade de 1997

implicaram um importante incremento das taxas de juros internas, assim como de sua

volatilidade. Tal cenário fortaleceu a aversão a papéis prefixados, com significativas

Page 72: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

72

mudanças para títulos cambiais e pós-fixados. De dezembro de 1997 a dezembro de

1998, a dívida prefixada passou de 40% para menos de 4% do total, enquanto a atrelada

a juros fez o caminho inverso, de 35% para 69%. A mudança do regime cambial em

1999 aumentou a procura por títulos cambiais como forma de hedge. A emissão de tais

títulos, apesar do elevado risco que carregam, mostrava-se como alternativa para evitar

uma pressão maior sobre o mercado de câmbio (ANDIMA, 2003).

Após a flutuação do câmbio e a adoção de um rígido programa de estabilização

fiscal, iniciou-se a partir de meados de 1999 a tentativa de alongamento do prazo médio

da dívida interna, por meio da rolagem dos vencimentos com o uso de papéis

prefixados, mas também recorrendo à emissão de títulos pós-fixados de longo prazo (até

cinco anos). A estratégia do Tesouro visava à redução do risco de refinanciamento da

dívida interna, por meio de uma menor concentração de vencimentos (FERREIRA;

ROBOTTON; DUPITA, 2004). Tal estratégia garantiu uma paulatina elevação no prazo

médio da dívida interna, que alcançou seu ponto máximo em agosto de 2001, com 36

meses, tal como ilustrado na figura 15.

Figura 15 - Prazo Médio da DPMFi em Poder do Público

05

10152025303540

dez/

99

jun/

00

dez/

00

jun/

01

dez/

01

jun/

02

dez/

02

jun/

03

dez/

03

jun/

04

dez/

04

Mes

es

Fonte: BACEN

No entanto, em 2002, a implementação efetiva da marcação a mercado

explicitou a possibilidade de perda nos investimentos de renda fixa, particularmente nos

Page 73: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

73

fundos de investimento, o que reduziu o preço das LFT’s e obrigou a recompra de

títulos de maior maturidade, bem como emissão de outros com prazos mais curtos. Tal

mudança teve como conseqüência a diminuição do prazo médio da dívida em LFT de 31

meses em julho de 2002 para 22 meses em dezembro do mesmo ano, conforme figura

16 (ANDIMA, 2003).

Figura 16 - Prazo Médio da DPMFi em Poder do Público por Tipo de Rentabilidade

0

20

40

60

80

100

120

140

dez/

99

abr/

00

ago/

00

dez/

00

abr/

01

ago/

01

dez/

01

abr/

02

ago/

02

dez/

02

abr/

03

ago/

03

dez/

03

abr/

04

ago/

04

dez/

04

mes

es

Taxa SELIC Prefixados Índice de preços

Câmbio TR

Fonte: BACEN

Após este ajuste, o prazo médio da dívida pública manteve-se no patamar de 32

meses (figura 15), com significativas variações entre os diferentes títulos.

As LTNs, prefixadas, contrariamente às LFTs, tiveram aumento do prazo médio,

de 1,55 para 7 meses. Tal inversão relaciona-se a uma expectativa de queda nos juros

por parte dos agentes econômicos (ANDIMA, 2003).

A maior parte da DPMFi, porém, segue com prazo de vencimento inferior a um

ano, tal como ilustrado na figura 17.

Page 74: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

74

Figura 17 - Estrutura de Vencimentos da DPMFi em Poder do Público

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%de

z/99

mar

/00

jun/

00

set/0

0

dez/

00

mar

/01

jun/

01

set/0

1

dez/

01

mar

/02

jun/

02

set/0

2

dez/

02

mar

/03

jun/

03

set/0

3

dez/

03

mar

/04

jun/

04

set/0

4

Até 1 ano De 1 a 2 anos De 2 a 3 anos De 3 a 4 anos De 4 a 5 anos Acima de 5 anos

Fonte: BACEN

No período 2003/2004 novamente foi empreendida política voltada para o

alongamento da dívida interna – já discutida no item anterior, relativo aos PAFs - com a

tentativa de aumentar a parcela de papéis prefixados e com esforço para redução da

parcela da dívida interna atrelada à taxa de câmbio. Vale observar que até maio de 2004,

esta política contabilizou progressos notáveis (figura 18), com o aumento da parcela da

dívida interna relativa a títulos prefixados (com prazos de emissão de até quatro anos),

além da continuidade da elevação dos títulos indexados à inflação.

Page 75: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

75

Figura 18 - Composição percentual da DPMFi em Poder do Público por Tipo de Rentabilidade

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

dez/

99

abr/

00

ago/

00

dez/

00

abr/

01

ago/

01

dez/

01

abr/

02

ago/

02

dez/

02

abr/

03

ago/

03

dez/

03

abr/

04

ago/

04

dez/

04

Taxa SELIC Prefixados Índice de preços Câmbio TR

Fonte: BACEN

Do lado negativo, registra-se a política do Tesouro Nacional de voltar a emitir

títulos pós-fixados de longo prazo, apesar dos riscos apontados pela experiência de 2002

quanto a este tipo de estratégia (FERREIRA; ROBOTTON; DUPITA, 2004).

Por outro lado, as mudanças no perfil da dívida pública no período de análise se

associaram a alterações nos detentores dos diferentes títulos. Neste contexto, discute-se

a seguir a dinâmica dos principais detentores de títulos da DPMFi no período de

novembro de 1999 a dezembro de 2004.

3.2 Detentores de títulos da DPMFi

Os dados dos detentores dos títulos federais em poder do público, analisados a

seguir, foram obtidos no site do Banco Central do Brasil, e em seguida deflacionados

pelo IGP-M, com base em dezembro de 2004. As informações disponibilizadas estão

dividas em contas da seguinte forma:

• Carteira Própria: composta por papéis adquiridos em nome de instituições

financeiras;

Page 76: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

76

• FI: refere-se à conta cliente especial FI – fundos de investimento, inclui os

fundos de investimento, inclusive fundos exclusivos de fundo de pensão e

seguradoras;

• Pessoas Físicas: títulos de diversos clientes pessoas físicas;

• Pessoas Jurídicas: instituições sem conta individualizada no Selic;

• Pessoa Jurídica não financeira: títulos de empresas;

• Outros fundos: fundos de investimento regidos por regulamentação própria,

como por exemplo, fundos de investimento em direitos creditórios – FIDC entre

outros;

• Títulos Vinculados: depósito compulsório sobre poupança, aumento de capital,

recursos externos, empréstimos de liquidez, caução e depósitos judiciais, papéis

dados em garantia em clearing. Neste caso poderão conter ativos de outras

classificações, como as citadas anteriormente.

Estes dados indicam o resultado mensal dos fluxos de emissões e vencimentos,

ou seja, as variações do montante da dívida de cada um dos títulos entre o final de cada

um dos meses do período de análise, que se inicia em novembro de 1999 e termina em

dezembro de 2004. Dados relativos ao volume de negociação em leilões primários e

quais os compradores dos títulos em tais leilões, embora fossem mais apropriados para

este estudo, não se encontram disponíveis. A análise será realizada com base no

montante total em poder do público e em poder de cada um de seus principais

detentores – com especial atenção para os fundos de investimento - para as LFT’s,

LTN’s e NTN-C’s, dado que compõe a maior parte da DPMFi (figura 19) e a quase

totalidade do volume de papéis de tal dívida em poder dos FI’s (figura 20). É importante

destacar que foram tratados em conjunto os títulos atrelados à Selic – LFT, LFT-A e

LFT-B, dado que suas características são essencialmente semelhantes.

Page 77: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

77

Figura 19 – Principais títulos da DPMFi em Poder do Público

0%

20%

40%

60%

80%

100%

nov/

99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

LTN NTN-C LFT Outros

Fonte: BACEN

Como ilustrado na figura acima, as LTN’s, LFT’s e NTN-C’s representam, em

conjunto, mais de 60% do montante da DPMFi em poder do público durante o período

de 1999 a 2002, enquanto a partir de 2003, este valor ultrapassa os 80%. Por esta razão,

as análises seguintes concentrar-se-ão nestes títulos, que representam as principais

modalidades de remuneração (Selic, prefixada e índices de preço). Mais além, são -

como ilustrado na figura 20 - também os principais títulos demandados pelos fundos de

investimento, respondendo por mais de 99% do montante de títulos da DPMFi em poder

dos FI’s.

Figura 20 – Principais títulos da DPMFi em Poder dos FIs

0%20%40%60%80%

100%

nov/

99

mar

/00

jul/0

0

nov/

00

mar

/01

jul/0

1

nov/

01

mar

/02

jul/0

2

nov/

02

mar

/03

jul/0

3

nov/

03

mar

/04

jul/0

4

nov/

04

LTN LFT NTN-C Outros

Fonte: BACEN

As séries disponíveis, por outro lado, diferenciam apenas os títulos em termos de

forma de remuneração (LFT, LTN, NTN-C, etc) e não apresenta informações quanto ao

seu vencimento. Esta abordagem apresenta diversas limitações, entre as quais:

Page 78: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

78

• Apenas o tipo de remuneração dos títulos os diferencia para análise, já

que os dados disponíveis não indicam o seu vencimento;

• Dados de aquisição de títulos por período não são utilizados, já que estão

indisponíveis para acesso público, o que não permite identificar

distintamente os fluxos de vencimentos e emissões, mas apenas a

variação deles derivada entre períodos;

• O montante de títulos vinculados não permite a discriminação entre

contas específicas.

Desta maneira, os indícios aqui obtidos devem ser considerados como restritos

pelas limitações dos dados utilizados acima citadas.

Para fins de estudo dividiu-se os detentores de títulos em três grupos, a saber: FI

– Fundos de Investimento, Instituições Financeiras e outros detentores, o que contempla

as demais contas citadas anteriormente.

Figura 21 – Detentores de Títulos da DPMFi

0%

20%

40%

60%

80%

100%

nov/

99

mar

/00

jul/0

0

nov/

00

mar

/01

jul/0

1

nov/

01

mar

/02

jul/0

2

nov/

02

mar

/03

jul/0

3

nov/

03

mar

/04

jul/0

4

nov/

04

FI Inst. Fin. Outros

Fonte: BACEN

Percebe-se, na figura 21, uma redução na participação dos fundos de

investimento na DPMFi no segundo semestre de 2001 e durante 2002 com crescimento

constante a partir de 2003 e durante 2004. Neste sentido, uma das medidas mais

importantes tomadas ao longo de 2004 foi a criação da conta investimento. O objetivo

Page 79: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

79

central desta medida foi a isenção da Contribuição Provisória sobre Movimentações

Financeiras – CPMF sobre o giro de aplicações financeiras. Assim, a partir de primeiro

de outubro do mesmo ano, o trânsito de recursos entre aplicações financeiras de

qualquer natureza ficou isento do pagamento de CPMF. A conta investimento permite

ao investidor uma alocação mais eficiente de seus recursos, aumenta a competitividade

na indústria de fundos e o giro do mercado secundário (BRASIL, 2004b). A seguir,

analisa-se a dinâmica da distribuição de LTNs, LFTs e NTN-Cs entre os diferentes

detentores (particularmente FIs e Instituições Financeiras) entre novembro de 1999 e

dezembro de 2004.

3.2.1 Títulos prefixados

Em relação aos detentores de LTN, figura 22, pode-se observar a participação

expressiva dos fundos de investimento nesta modalidade de ativo, chegando a níveis

superiores a 50% do total em poder do público.

Figura 22 – Detentores de LTNs

0%

20%

40%

60%

80%

100%

nov/

99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

FI Inst. Fin. Outros

Fonte: BACEN

Nota-se ainda significativa redução percentual destes títulos no período que vai

de novembro de 2002 a abril de 2003, tanto nos FI’s quanto nas Instituições

Financeiras. Embora graficamente a participação de outros detentores sofra aumento,

Page 80: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

80

isso é decorrência da conta “Títulos Vinculados” que distorce a amostra, uma vez que,

enquanto as demais contas sofrem reduções, esta se mantêm constante.

Os fatores responsáveis pela redução brusca deste ativo prefixado nas carteiras

dos FI’s e de outros agentes econômicos foram ocasionadas, basicamente, pela

crescente incerteza do mercado em relação aos rumos da política econômica a ser

adotada em 2003, considerando que o país acabava de eleger novo presidente de partido

oposicionista. E também pelas sucessivas elevações dos juros básicos internos, que

passaram de 18% ao ano, em setembro/02, para 25% ao ano, em dezembro/02, o que

impacta diretamente a performance dos ativos prefixados.

3.2.2 Títulos atrelados à taxa SELIC

No que tange os títulos LFT’s, a figura 23 demonstra a participação constante

nas carteiras dos FI’s neste ativo pós-fixado, situando-se sempre acima de 40% do total

em poder do público.

Figura 23 – Detentores de LFTs

0%

20%

40%

60%

80%

100%

nov/

99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

FI Inst. Fin. Outros

Fonte: BACEN

Importante ressaltar a redução na participação dos FI’s durante o processo de

marcação a mercado, que teve início em maio de 2002, mas que volta a regularizar-se

em novembro do mesmo ano.

Page 81: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

81

3.2.3 Títulos atrelados a índices de preços

A figura 24 demonstra a participação dos agentes econômicos no total de NTN-

C’s emitidas pelo Tesouro Nacional. Vale ressaltar que este papel começou a ser

emitido em dezembro de 1999. Em linhas gerais, observa-se o crescimento praticamente

constante dos FI’s como detentores deste ativo indexado ao IGP-M. Este título é

demandado, principalmente, pelos fundos de previdência, que buscam investimento de

longo prazo para passivos atuariais.

Figura 24 – Detentores de NTN-C’s

0%

20%

40%

60%

80%

100%

dez/

99

jun/

00

dez/

00

jun/

01

dez/

01

jun/

02

dez/

02

jun/

03

dez/

03

jun/

04

dez/

04

FI Inst. Fin. Outros

Fonte: BACEN

Por outro lado, observa-se pequena redução na participação das Instituições

Financeiras na posse deste título ao longo do período, mas apresentando forte demanda

no final de 1999 e início de 2000, bem como dezembro de 2000, influenciada pelo

comportamento dos índices de preços.

Por fim, a participação significativa de outros detentores a níveis próximos de

40% do total de NTN-C em poder do público é representada pelas pessoas jurídicas não

financeiras e títulos vinculados não passíveis de identificação.

Page 82: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

82

3.3 DPMFi e Fundos de Investimento

A figura 25 coloca lado a lado a evolução da DPMFi e o montante de títulos da

dívida em poder dos FI’s. A observação dos comportamentos de ambas as curvas

permite inferir que são bastante semelhantes entre si. Cabe, aqui, analisar os eventos

significativos que possam ter influenciado suas dinâmicas.

Figura 25 – Montante da DPMFI em poder do público e em poder dos FIs

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

nov/

99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

R$

mil

DPMFI FI

Fonte: BACEN

O aumento do montante da DPMFi a partir do início de 2001 pode ter sido

originado em razão da política monetária restritiva adotada pelo Banco Central do

Brasil, visando evitar o comprometimento das metas de inflação para o referido ano.

Assim, os juros básicos internos anuais subiram gradualmente de 15,25% no início do

ano para 19% a partir de julho de 2001. Desta forma, os títulos do governo tornam-se

mais atrativos em função da relação risco retorno. Aliados a isso, em setembro do

mesmo ano, atentados terroristas nos Estados Unidos aumentaram o ambiente de

incertezas. A dificuldade em dimensionar os efeitos e a intensidade da tragédia

americana sobre a economia mundial já em desaceleração, principalmente para os países

emergentes, propiciou a procura por ativos mais líquidos e de menor risco.

Page 83: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

83

O ano de 2002 foi marcado pela retração da demanda por LFT, decorrente da

crise que afetou os fundos de investimento. Tal movimento teve origem na adoção da

marcação a mercado pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM, gerando forte

volatilidade dos preços das LFT’s. O que se viu a partir de maio de 2002 foram resgates

em massa na Indústria de fundos, facilmente identificados pelo declínio das duas curvas

de montantes de títulos apresentadas da figura 25.

Figura 26 – Fração do montante da DPMFi em poder dos FI’s

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

nov/

99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

Fonte: BACEN

A Figura 26 indica uma acentuada queda no volume de títulos em poder dos FI’s

(particularmente no que se refere às LFT’s, como analisado no próximo item) a partir de

maio de 2002. Tal queda deve-se, primordialmente, à crise da marcação a mercado.

Page 84: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

84

3.3.1 Títulos pós-fixados atrelados à taxa Selic

Os planos anuais de financiamento da dívida pública editados a partir de

fevereiro de 2001 tinham como diretriz a redução do montante da DPMFi indexada a

taxas flutuantes.

Figura 27 – Montante de LFTs em poder do público e em poder dos FIs

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000no

v/99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

R$

mil

DPMFI FI

Fonte: BACEN

Neste sentido, buscou-se substituir os títulos pós-fixados (LFT’s), por títulos

prefixados (LTN’s). Entretanto, os resultados não foram imediatos, principalmente, em

função da crise gerada pelo racionamento de energia elétrica, bem como de influências

advindas do mercado externo, como por exemplo, a desaceleração da economia

americana e o agravamento da situação da Argentina, ambas em 2001, e que causaram

repercussão direta no mercado financeiro nacional.

A dificuldade em atingir as metas estabelecidas para o ano de 2002 foi

conseqüência do aprofundamento das tensões no Oriente Médio, conjugada a

continuada crise da Argentina e do rumo incerto da economia norte-americana, fatores

que contribuíram negativamente para a estabilidade econômica.

Também em 2002, a marcação a mercado, bem como a crescente incerteza do

mercado em relação ao processo eleitoral e os rumos da política econômica a ser

Page 85: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

85

adotada em 2003 causaram um forte declínio na curva de participação das LFT’s nos

FI´s (Figura 28).

Figura 28 – Fração do montante de LFT’s em poder dos FI’s

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%

nov/

99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

Fonte: BACEN

A estratégia de rolagem dos vencimentos com o uso de papéis prefixados, mas

também recorrendo à emissão de títulos pós-fixados de longo prazo mostrou sua face

perversa na “crise da marcação a mercado” a partir de maio de 2002. Nos meses

anteriores, a alta concentração de títulos pós-fixados de longo prazo na carteira dos

fundos de investimento acabou por determinar uma elevação no prêmio de risco

(deságio) de negociação das LFT’s no mercado secundário. Com este movimento de

preços desfavorável e frente a perdas acumuladas expressivas em alguns fundos, quando

da determinação do Banco Central para o início da marcação a mercado, houve saques

maciços dos investidores de fundos mútuos, com a grande parte dos recursos migrando

para passivos bancários (poupança e CDB) (FERREIRA; ROBOTTON; DUPITA,

2004).

Até o final de março de 2002, o governo tinha a capacidade de colocação de

títulos em geral, particularmente de LFT’s com reduzidos deságios e praticamente ao

par em mercados extremamente líquidos. Os deságios de LFT’s começaram

gradualmente a se elevar a partir de abril. Em maio de 2002, as LFT’s representavam

aproximadamente 52% da dívida pública mobiliária e 60% dos ativos da indústria de

Page 86: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

86

fundos. Os fundos DI e de renda fixa concentravam 2/3 da indústria, fortemente

baseados em LFT´s (BRITO; TACIRO Jr, 2002, p.22).

Como as LFT’s foram negociadas ao par por muitos anos, os gestores e fundos

DI e de renda fixa não diferenciavam as maturidades na composição de suas carteiras.

Alguns até mesmo buscavam maturidades mais longas para oferecer um pequeno

prêmio, associado a um reduzido deságio, aos cotistas. Alguns gestores precificavam

suas carteira ao par, enquanto outros, pressionados por suas áreas de compliance,

reconheciam o impacto do deságio de mercado na precificação de suas carteiras. Com o

gradual aumento dos deságios a partir do final de março, as discrepâncias de

rentabilidade entre as opções de precificação tornaram-se significativas (BRITO;

TACIRO Jr, 2002, p.23).

No complexo contexto do final de maio, a Comissão de Valores Mobiliários

baixou a Instrução n. 365 de 29/05/02, exigindo a marcação plena a mercado das

carteiras e dos ativos de fundos de investimento. Grande parcela dos fundos DI assim

como de renda fixa é distribuída pelos grupos de varejo para pequenos poupadores

como alternativa à caderneta de poupança. Tais poupadores não estavam acostumados

com a volatilidade e possíveis retornos negativos com a marcação a mercado em um

ambiente de risco (BRITO; TACIRO Jr, 2002, p.23).

Nos quatro meses seguintes à Instrução 365, a indústria de fundos perdeu R$ 58

bilhões em resgates líquidos, quase 15% de seus ativos totais. O processo de resgates

líquidos manteve-se até novembro de 2002. A exigência do cumprimento das regras de

marcação a mercado expôs a possibilidade de perda por parte dos investidores de renda

fixa, especialmente nos fundos de investimento, ocasionando uma corrida em busca de

liquidez que reduziu o preço das LFT’s. Este fato obrigou o Banco Central a recomprar

títulos de prazos mais longos e substituí-los por outros de menor maturidade. O

Page 87: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

87

resultado foi uma redução do prazo médio da dívida em LFT, entre julho e dezembro

de 2002, de 31 para 22 meses (ANDIMA, 2003).

Com a marcação a mercado, muitos fundos DI e de renda fixa tiveram

rentabilidade negativa e seus clientes começaram a resgatar suas cotas. Os gestores, por

sua vez, venderam LFT’s para atender aos resgates e ajustar suas carteiras, reduzindo a

quantidade de LFT’s longas de 2005 e 2006, sujeitas a deságios elevados e crescentes.

As pressões de venda de LFT’s reduziram drasticamente a liquidez de seu mercado.

Após um período de dificuldades no mercado, entre junho e agosto de 2002, a CVM

baixa a instrução n. 375 de 14/08/2002, flexibilizando a instrução n. 365. As carteiras de

fundos poderiam precificar pela curva do papel os títulos com maturidade de até um ano

e os quais pretendiam carregar até o vencimento (BRITO; TACIRO Jr, 2002, p.24).

O impacto nas carteiras dos fundos da marcação a mercado gerou uma mudança

nas preferências, ou seja, alguns gestores começaram a questionar as vantagens e os

riscos de se manter em carteira os papéis LFT’s, principalmente, os mais longos e que,

portanto, apresentam maior dispersão da rentabilidade, ora apresentando um bom

retorno ora apresentando um retorno abaixo do esperado. A indústria de fundos

deparou-se então com um problema, se por um lado os títulos LFT’s apresentam boa

rentabilidade, por outro embutem um alto risco de perda de valor em momentos de

stress do mercado. Isso ocorre em função destes papéis serem negociados com

ágios/deságios e as oscilações destas taxas afetarem o rendimento de fundos investidos

em LFT’s. Assim, os gestores adotaram uma postura cautelosa, em que parte

significativa dos recursos dos fundos de investimento são aplicados na compra de LFT’s

com vencimento de curto prazo, visando evitar a alta volatilidade de cotas nos fundos de

investimento.

Page 88: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

88

A crise da indústria de fundos originada pela marcação a mercado em 2002 foi

agravada pelas desconfianças geradas pela transição eleitoral, que praticamente

paralisou a colocação de títulos públicos federais entre junho e setembro. Passada a

incerteza quanto ao compromisso do novo governo com políticas econômicas

responsáveis, o mercado de dívida pública normalizou-se, mas deixando um

ensinamento: buscar o alongamento de prazos da dívida pública com base em uma

parcela considerável de títulos pós-fixados mostrou-se também uma estratégia sujeita a

riscos, frente a uma indústria de fundos de investimento com liquidez diária

(FERREIRA; ROBOTTON; DUPITA, 2004).

Entretanto, após a crise, a curva registra recuperação a partir do início de 2003,

voltando a se estabilizar no final do mesmo ano.

Figura 29 – Fração de LFTs nos títulos da DPMFi em poder dos fundos

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

mar

/00

set/0

0

mar

/01

set/0

1

mar

/02

set/0

2

mar

/03

set/0

3

mar

/04

set/0

4

Fonte: BACEN

A demanda majoritária por papéis pós-fixados, demonstrada pelos fundos de

investimento, figura 29, decorre do fato de possuirmos um indexador na economia

brasileira – a taxa interbancária, ou CDI – que baliza a grande parte dos ativos e

passivos de investidores, empresas e bancos. Assim, a indústria de fundos no Brasil

possui grande parcela de seus ativos referenciados ao CDI. O uso do CDI como

indexador diário é reflexo de dois fatores básicos: os momentos de inflação elevada e

Page 89: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

89

instável, que encurtava os horizontes dos aplicadores, elevando o risco de perda

associado a aplicações prefixadas e os sucessivos calotes da dívida pública a partir dos

anos 80, atrelados à manipulação da correção monetária e planos econômicos, até a

edição do plano real. Vale lembrar que mesmo em 2002 a rolagem da dívida

pública foi problematizada pelo temor de que o novo governo lançasse mão de algum

expediente de renegociação da dívida pública. Contudo, os títulos pós-fixados tendem a

ser preferidos mesmo em um contexto em que os riscos citados acima sejam baixos,

como no período 2003/2004. Esta preferência ocorre em função do alto custo de

oportunidade, para o investidor, de assumir riscos em aplicações referidas a títulos

prefixados, em função da elevada taxa de juros real básica over-Selic ou CDI

(FERREIRA; ROBOTTON; DUPITA, 2004).

Em se tratando de títulos públicos federais, a indústria de fundos de investimento

parece ter demonstrado sua opção por títulos pós-fixados, mais precisamente à taxa

Selic (LFT’s), principalmente no período analisado neste estudo, de novembro de 1999

a dezembro de 2004. Esta escolha se deve as vantagens de possuir nas carteiras dos

fundos um título que acompanha a variação da taxa básica de juros do país.

Os gestores dos fundos de investimento historicamente mantiveram grande

interesse na aquisição de LFT’s. O que parece ficar claro no comportamento destes

profissionais é a busca pela liquidez e excelente relação risco/retorno, principalmente

porque estes ativos acompanham a variação da taxa de juros do país.

3.3.2 Títulos prefixados

As diretrizes apresentadas – a partir de fevereiro de 2001 - pelos PAFs para os

títulos prefixados sempre visavam a elevação da sua participação no montante total da

Page 90: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

90

dívida. Entretanto, em alguns momentos este objetivo não foi atingido em função de

diversos fatores, alguns dos quais serão apresentados a seguir.

Figura 30 – Montante de LTN’s em poder do público e montante de LTN’s em poder dos FI’s

0

50.000

100.000

150.000

200.000

nov/

99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

R$

mil

DPMFI FI

Fonte: BACEN

Em dezembro de 2000, os títulos prefixados representavam 15% do total da

DPMFi, sendo que no final de dezembro de 2001, essa participação caiu para 7,8% e em

dezembro de 2002, para 2,2% do montante total da dívida. Os resultados de 2001 foram

impactados pelo grau de incerteza presente no ambiente econômico influenciado,

principalmente, pela desaceleração da economia americana e o agravamento da situação

da Argentina. Da mesma forma, em 2002, o rumo incerto da economia norte-

americana, bem como o aprofundamento das tensões no Oriente Médio e o contínuo

agravamento da crise da Argentina, contribuíram negativamente para a estabilidade

econômica. No mercado doméstico o processo eleitoral e os rumos da política

econômica a ser adotada em 2003 aumentaram a volatilidade do mercado de títulos,

levando a uma significativa queda do volume de LTN’s em 2002.

Contudo, a partir de 2003, inicia-se um processo de recuperação da confiança

dos investidores na economia brasileira. As LTN’s passaram a ser emitidas em datas de

Page 91: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

91

vencimentos coincidentes com as datas de vencimento de contratos no mercado futuro,

aumentando sua liquidez e demanda por ser melhor combinadas com outros

instrumentos financeiros. Desta forma, em dezembro de 2003, o montante de LTN’s no

total da DPMFi atinge 12,5%, dentro da meta estabelecida no plano anual de

financiamento da dívida.

Em 2004, as expectativas favoráveis quanto a economia brasileira são mantidas,

resultando no aumento da participação relativa dos títulos prefixados que atingem

20,1% do total da DPMFi no final de dezembro, ficando muito próxima do teto da meta

estabelecida para o ano.

Figura 31 – Fração do montante de LTN’s em poder dos FI’s

0,0%10,0%20,0%30,0%

40,0%50,0%60,0%70,0%

nov/

99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

Fonte: BACEN

A figura 31 guarda semelhança com os dados do montante de LTN’s em poder

do público e o montante de LTN’s em poder dos FI’s (figura 30), e demonstra o

comportamento do montante de títulos LTN em poder da indústria de fundos que oscila,

basicamente, em função dos mesmos fatores apresentados anteriormente. Ou seja, queda

a partir de 2001, devido à desaceleração da economia americana e o agravamento da

situação da Argentina. Pequena recuperação durante a crise de marcação a mercado que

atingiu mais as LFT’s em maio de 2002, e, posteriormente apresentando queda em

função do processo eleitoral em novembro do mesmo ano. A partir do início de 2003, o

Page 92: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

92

que se observa é um forte crescimento atribuído às expectativas favoráveis que

permaneceram até 2004.

Os títulos prefixados definem o horizonte de confiança plena dos investidores na

política econômica. A demanda por parte destes investidores se dá especialmente em

contextos de expectativa de corte da taxa de juros, o que leva investidores alavancados a

demandarem títulos prefixados em busca de ganhos de capital.

Neste sentido, o que se verifica na composição da indústria de fundos é uma

conduta bastante conservadora, por parte dos gestores, no que diz respeito à exposição

aos riscos prefixados, tendo em vista a possibilidade de perdas em momentos

turbulentos que afetem a economia doméstica. Essa atitude pode ser compreendida pela

dificuldade de recuperação de eventuais perdas sofridas pelos fundos com reflexo direto

na rentabilidade dos mesmos, principalmente, num mercado extremamente competitivo,

em que os gestores procuram preservar o patrimônio dos cotistas. Assim, qualquer

perda que não esteja condizente com o restante da indústria pode significar, para o

gestor que a comete, perda de recursos para outros administradores, mesmo

considerando que os investidores que aplicam em cotas de fundos tendem a ser menores

e, portanto, menos sofisticados, ou seja, teriam uma noção muito limitada do mercado

em que estão investindo.

Para um investidor final, o ganho de investir em uma aplicação prefixada é o

custo de oportunidade de aplicar em outras alternativas de renda fixa ou renda variável.

Para um fundo agressivo, que não é tomador final, o ganho é dado pela diferença entre o

rendimento do ativo e o seu custo de oportunidade, representado no Brasil pela taxa

CDI. O ganho se materializa quando há queda na taxa de longo prazo (elevando o preço

do ativo), desde que se gere um ganho de capital frente ao custo do financiamento.

Inversamente, há sempre perda se há uma elevação na taxa de longo prazo (fazendo cair

Page 93: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

93

o preço do ativo), à qual se soma o custo do financiamento (FERREIRA;

ROBOTTON; DUPITA, 2004).

Em um mercado bull (otimista), em que há expectativa de alta de preço de ativos

(ou seja, de queda dos juros), tal como discutido no capítulo um deste trabalho, os

fundos de investimento alavancados tendem a elevar a posse de ativos prefixados. Se

partirem de um ponto inicial em que a posse de ativos prefixados é pequena (como, por

exemplo, era o caso no início de 2003), há espaço para um aumento da demanda “pré”.

Na medida em que esta demanda cresce, a curva da taxa de juros vai ficando menos

vertical, já que as taxas de prazos gradualmente mais longos declinam. Isso aumenta o

apetite de fundos de investimento destinados a investidores alavancados por

instrumentos de prazos mais longos, por terem taxas maiores, ampliando as

possibilidades de ganho. Assim, o processo de alongamento de prazo da dívida

prefixada vai avançando. Mas este processo acaba tendo um limite na ausência de

tomadores finais. Quando a exposição ao risco pré do mercado se aproxima dos limites

ditados pelos modelos de gestão de risco, a demanda por estes papéis tende a diminuir,

sem que os títulos prefixados tenham alcançado participação expressiva na dívida frente

aos papéis pós-fixados. E com o risco “pré” do mercado já elevado, qualquer motivo de

stress sobre os preços, elevando a volatilidade, dita a necessidade de fortes ajustes nas

carteiras (FERREIRA; ROBOTTON; DUPITA, 2004).

Por fim, pode-se inferir que a preferência por títulos prefixados em detrimento

dos papéis pós-fixados ocorre apenas em momentos em que o mercado se apresenta

favorável à redução gradual da taxa de juros. Mas, isso não significa que os fundos não

possuam em sua composição papéis prefixados, contudo, a BM&F – Bolsa de

Mercadorias e Futuros disponibiliza instrumento derivativo denominado contrato futuro

de Depósito Interbancário - DI, no qual os gestores podem fazer hedge das posições

Page 94: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

94

compradas em prefixados, transformando-as na sua totalidade ou parcialmente em

operações pós-fixadas, nos momentos em que achar conveniente. Desta forma, muitas

vezes a demanda de títulos prefixados por parte de fundos mútuos tradicionais (renda

fixa) não é uma demanda “pré” legítima, pois em geral são convertidos em taxas

flutuantes via derivativos (FERREIRA; ROBOTTON; DUPITA, 2004).

Figura 32 – Fração de LTNs nos títulos da DPMFi em poder dos fundos

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

mar

/00

set/0

0

mar

/01

set/0

1

mar

/02

set/0

2

mar

/03

set/0

3

mar

/04

set/0

4

Fonte: BACEN

Neste sentido, mesmo a indústria de fundos de investimento detendo 20,9% de

papéis prefixados em dezembro de 2004, conforme figura 32, vale destacar que grande

parte deste montante possui hedge em contratos futuros de DI. Tal fato está fortemente

associado a que o investidor de fundos é bastante avesso à volatilidade dos papéis

prefixados, que podem apresentar significativas perdas em períodos de instabilidade

econômica, o que já foi demonstrado no passado com elevações abruptas da taxa básica

de juros do país.

3.3.3 Títulos atrelados a índices de preços

A figura 33 demonstra o crescimento conjunto das curvas do montante de NTN-

C’s em poder do público e do montante de NTN-C’s em poder dos FI’s.

Page 95: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

95

Figura 33 – Montante de NTN-Cs em poder do público e montante de NTN-Cs em poder dos FIs

0100002000030000400005000060000700008000090000

nov/

99

mai

/00

nov/

00

mai

/01

nov/

01

mai

/02

nov/

02

mai

/03

nov/

03

mai

/04

nov/

04

R$

mil

DPMFi FI

Fonte: BACEN

Este forte crescimento do volume de NTN-C’s na DPMFi pode ser atribuído ao

sucesso na implementação dos planos anuais de financiamento, que estabeleceram, para

os anos de 2001 e 2002, metas de ampliação de prazos de vencimentos, bem como

emissões que contemplavam a possibilidade de troca por títulos LFT’s em poder do

mercado.

Em 2003 e 2004, o que se verificou foi à substituição gradual dos títulos

remunerados à variação cambial e à taxa Selic por títulos indexados a índices de preços.

Figura 34 – Fração do montante de NTN-C’s em poder dos FI’s

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

dez/

99

jun/

00

dez/

00

jun/

01

dez/

01

jun/

02

dez/

02

jun/

03

dez/

03

jun/

04

dez/

04

Fonte: BACEN

Page 96: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

96

A indústria de fundos também é demandante de títulos indexados a índice de

preços. Principalmente para os fundos de previdência (atuariais) e de empresas

seguradoras, que possuem passivos indexados a índices de inflação, necessitando,

portanto, hedgear suas posições. Os fundos de investimento desenvolvidos para estes

clientes específicos possuem em sua carteira a grande parte dos títulos NTN-C’s,

indexados ao IGP-M.

Apesar de sua restrita participação no portfólio dos fundos, vale ressaltar o

crescimento destes agentes na posse das NTN-C’s, passando de 20% no início de 2000 a

50% em dezembro de 2004, conforme figura 34.

Figura 35 – Fração de NTN-Cs nos títulos da DPMFi em poder dos fundos

0,0%2,0%4,0%6,0%8,0%

10,0%12,0%

mar

/00

set/0

0

mar

/01

set/0

1

mar

/02

set/0

2

mar

/03

set/0

3

mar

/04

set/0

4

Fonte: BACEN

O significativo aumento do patrimônio dos FI’s composto por NTN-C’s, a partir

de setembro de 2002, como demonstra a figura 35, pode ser explicado por um conjunto

de ações do Governo. Primeiro, pelo fato da Secretaria do Tesouro Nacional passar a

realizar leilões de troca, em que eram oferecidos papéis NTN-C’s e aceitava-se como

forma de pagamento a entrega de Moedas de Privatização - MOP5. Estas representam os

5 A utilização da expressão “moeda de privatização” como sinônimo de “crédito securitizado”, foi comum até recentemente. Mas na verdade, além dos créditos securitizados, fazem parte outros passivos do Governo e das empresas públicas, a exemplo dos CP – Certificados de Privatização, OFND – Obrigações do Fundo Nacional de Desenvolvimento, TDA – Títulos da Dívida Agrária, vencidos e já registrados sob a forma escritural no Securitizar/CETIP, LH - Letras Hipotecárias de emissão especial da Caixa Econômica e Debêntures da Siderbrás com garantia do Tesouro Nacional (ANDIMA).

Page 97: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

97

créditos securitizados resultantes da renegociação de dívidas de responsabilidade da

União, geralmente vencidas e não pagas. Segundo, pela intenção do Governo em

alongar o prazo da dívida pública, neste caso os papéis NTN-C’s se apresentavam como

um bom instrumento, visto que seus prazos de vencimentos são bastante dilatados

(ANDIMA, 2005).

Os fundos que detinham Moedas de Privatização optaram em trocá-los por

papéis NTN-C’s. A alternativa levava em conta a maior liquidez destes ativos, uma vez

que estes eram emitidos pelo Tesouro, negociados no mercado secundário e registrados

no Selic, diferentemente das MOP’s que são registradas no CETIP – Central de

Custódia e Liquidação Financeira de Títulos, com mercado secundário praticamente

inexistente. Acrescenta-se ainda que os ativos possuíam o mesmo indexador, ou seja,

índice de preços.

3.4 Conclusões

A gestão da DPMFi, tal como apresentado nos planos anuais de financiamento,

apresenta como objetivo constante desde 2001, a redução da fração de títulos atrelados à

taxa Selic (LFT) em prol daqueles prefixados (LTN e NTN-F) ou atrelados a índices de

preços (NTN-C e NTN-B). Tais objetivos, no entanto, não foram alcançados em função

de um conjunto de fatores. Em 2001, os efeitos do atentado de 11 de setembro e a

desaceleração da economia americana, assim como o agravamento da crise da Argentina

incrementaram a incerteza, implicando em redução da participação de LTN’s na

DPMFi. Já em 2002, as dúvidas relativas ao processo eleitoral e à continuidade das

políticas econômicas, aliada ao incremento da taxa básica de juros pelo Banco Central,

tiveram como conseqüência, uma vez mais a redução do volume de LTN’s a seu

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98

patamar mais baixo em todo o período analisado, chegando a apenas 2,2% da DPMFi.

Em 2003, por outro lado, a sinalização de continuidade das políticas econômicas pelo

novo governo associou-se a uma expectativa positiva de queda nas taxas de juros, o que

implica, tal como discutido no capítulo um, uma perspectiva otimista “bull” com

tendência a adquirir títulos prefixados, que teriam seu valor incrementado. Verificou-se,

de fato, um maior investimento em LTN’s, que atingiram 12,5% do montante da dívida,

atingindo os objetivos do PAF para esse ano. Vale ressaltar uma significativa queda na

parcela de títulos atrelados ao câmbio, ainda em 2003, de 22% para 13,6%. Já em 2004,

a trajetória de crescimento das LTN’s manteve-se e chegou a 20,1% do montante total,

acompanhada de uma pequena queda na fração de LFT’s (61% para 57,1%).

No período de novembro de 1999 a dezembro de 2004, o comportamento dos

principais títulos da DPMFi em poder dos fundos (LFT, LTN e NTN-C) parece ter

acompanhado as variações da própria DPMFi. Mais de 40% da DPMFi esteve em poder

dos FI’s, exceto entre maio de 2001 e maio de 2003. Em agosto de 2002, esta fração

chega a apenas 30% em função do significativo volume de saques dos FI’s devido à

crise da Marcação a Mercado, que mostrou aos investidores a existência de um risco de

capital, além do risco de renda nos FI’s. Mais além, houve uma significativa redução

nas LTN’s derivada da incerteza sobre o resultado das eleições presidenciais. A partir de

setembro de 2002, no entanto, as LFT’s voltam a se recuperar em sua participação nos

FI’s, estabilizando-se em meados de 2003, com aproximadamente 65% do montante de

títulos da DPMFi em poder dos FI’s. A significativa queda das LTN’s em 2002, com

participação próxima de zero nos primeiros meses de 2003 e sua recuperação no

segundo semestre do mesmo ano é acompanhada pelos FI’s com participação em

dezembro de 2004 ligeiramente inferior à de novembro de 1999. Finalmente, quanto as

NTNC-s, sua participação se ampliou significativamente nos FI’s – atingindo 11% em

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99

dezembro de 2004 – acompanhando o comportamento do papel na DPMFi, inclusive

no que se refere ao pico de crescimento no segundo semestre de 2002, em função da

possibilidade de trocas por moedas de privatização.

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100

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutiram-se, neste trabalho, razões para a preferência pela liquidez, tanto na

perspectiva de Keynes, quanto no que se refere a Tobin ao tratar a preferência pela

liquidez como comportamento em relação ao risco. Tal análise conduziu a postular o

investidor típico como avesso ao risco e disposto a aceitar riscos mais elevados apenas

em troca de um maior retorno esperado. Dada esta premissa, analisou-se, tal como

proposto por Markowitz, o conceito de fronteira eficiente, ou combinações de risco e

retorno, nas quais, para um dado risco, tem-se o maior retorno esperado. As escolhas

eficientes seriam aquelas em tal fronteira. O ponto da fronteira pelo qual dar-se-ia a

escolha do investidor dependeria de sua função utilidade.

Uma alternativa de composição de carteira para o investidor individual, os

fundos de investimento consistem em portfólios de ativos gerenciados por profissionais

e divididos entre seus proprietários, ou cotistas. Entre as vantagens de tais fundos,

incluem-se a diversificação da carteira e conseqüente redução de risco, administração

profissional contínua de profissionais experientes e preparados para identificar

alternativas com mais propriedade do que os cotistas, e liquidez diária, permitindo a

rápida conversão das cotas.

A gestão de um fundo de investimento, ou a composição de seu portfólio toma

por base a fronteira eficiente e se localiza nesta em função do perfil dos investidores em

termos de sua função utilidade. Considerando-se os investidores como avessos ao risco,

os títulos livres de risco, particularmente os papéis da dívida pública tornam-se

particularmente relevantes, o que se reflete na sua predominância no portfólio dos

fundos. Dada a posição dos fundos de investimento como principais demandantes de

títulos da DPMFi, este trabalho buscou analisar a relação entre estes fundos e o mix de

tal dívida, em termos de forma de remuneração de seus títulos, mais especificamente,

Page 101: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

101

participação de LTN’s (papéis prefixados), LFT’s (papéis vinculados à taxa Selic) e

NTN-C’s (papéis atrelados a índices de preços).

Pela ótica do gestor dos fundos de investimento, as LFT’s são os títulos

priorizados na composição do portfólio – preferencialmente as de vencimentos

próximos - dado o menor risco a que estão sujeitos, embora a crise da marcação a

mercado tenha indicado que o risco de capital é real quando se trata de LFT’s. A

tendência a evitar os riscos de papéis prefixados mostra-se claramente pelo uso de

hedge em derivativos para as LTN’s nos portfólios dos fundos. Por outro lado, os

objetivos do gestor da dívida pública são claramente explicitados nos planos de

financiamento anual no que se refere à redução do montante de LFT’s em prol de títulos

prefixados e alongamento dos prazos dos títulos.

A possibilidade de incrementar a participação de LTN’s no montante da DPMFi

foi limitada, durante o período de análise - novembro de 1999 a dezembro de 2004 - em

função de fatores tais como o aumento da incerteza e de uma expectativa pessimista

quanto à taxa de juros em 2001 – particularmente em função do atentado de 11 de

setembro e da crise Argentina – e em 2002 pelas dúvidas quanto ao resultado da

sucessão presidencial e seu impacto sobre a política econômica. Em 2002, a aversão ao

risco derivada de expectativas de aumento das taxas de juros por parte dos FI’s mostra-

se pelo patamar extremamente reduzido de participação de LTN’s em seu portfólio, que

aproxima-se de zero. No mesmo período, as LTN’s responderam por apenas 2,2% da

DPMFi. Apenas a partir de meados de 2003, com a perspectiva de continuidade da

política econômica pelo novo governo, houve uma recuperação do volume de títulos

prefixados, que se manteve em 2004. Por outro lado, o crescimento do montante de

NTN-C’s na DPMFi têm sido acompanhado fortemente pelos portfólios dos FI’s. A

análise visual das séries históricas de cada um destes títulos em poder do público e em

Page 102: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

102

poder dos fundos de investimento mostra que estas apresentam comportamento muito

semelhante.

A crise da marcação a mercado dos fundos de investimento teve impactos direto

sobre a composição da DPMFi, o que se mostrou um indício de influência da demanda

dos FI’s sobre tal composição. Por outro lado, é prática comum da Secretaria do

Tesouro a consulta às mesas de operações das administradoras de fundos de

investimento antes da realização de leilões de colocação de títulos federais, o que

também sugere tal influência.

Neste contexto, a capacidade do Tesouro Nacional de colocar títulos que atinjam

seus objetivos em termos de minimização do custo da dívida enfrenta a demanda dos

principais detentores de tais títulos – especialmente os fundos de investimento – em

termos de seus objetivos para a composição ideal de portfólio, particularmente em

termos de aversão ao risco e preferência pela liquidez. Assim, os fundos de

investimento, como principais demandantes de títulos da Dívida Pública Mobiliária

Federal interna exerceriam uma relevante influência sobre a composição da mesma, à

medida em que condicionariam as emissões, em função da sua elevada participação em

tal mercado.

Os dados descritos no capítulo três do presente trabalho sugerem uma relação

entre os FI’s e a composição da DPMFi, e uma relação direta de influência dos

primeiros sobre a última quando se considera a consulta da Secretaria do Tesouro às

Assets antes dos leilões de títulos. A identificação de uma relação mais clara das

preferências dos fundos quanto às características dos títulos inclusos nos leilões e a

composição observada necessitaria de uma análise com base em dados mais precisos,

em termos de compradores de papéis nos leilões primários. Estes dados, no entanto, não

se encontravam disponíveis no momento da elaboração do presente trabalho.

Page 103: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

103

Esta dissertação, no entanto, traz indícios de que a indústria de fundos de

investimento, como detentora de expressiva fração dos papéis da DPMFi poderia - em

função de seus objetivos para obtenção do portfólio mais adequado em sua fronteira

eficiente – condicionar a emissão de títulos pelo Tesouro Nacional. As conseqüências

de tal influência dos FI’s sobre a dívida pública mostra-se, ainda, relativamente

inexplorada na literatura nacional. Neste sentido, sugere-se, com o intuito de testar tal

hipótese, possíveis estudos futuros, que poderiam incluir:

• Analisar a dinâmica do perfil de emissões de títulos no mercado primário

– e não apenas variações mensais do estoque de papéis, como no presente

trabalho – em termos de sua forma de remuneração (atrelada à SELIC,

prefixada, vinculada a índices de preços).

• Estudar a evolução do mix da DPMFi não apenas em termos de formas

de remuneração, mas também de vencimentos dos títulos emitidos no

mercado primário.

Com dados de emissões primárias, estudos futuros poderiam estimar modelos

econométricos que permitiriam testar a hipótese levantada pelo presente trabalho, a

partir de uma análise qualitativa, a saber: A indústria de fundos de investimento no

Brasil condicionaria as emissões de títulos da Dívida Pública Mobiliária Federal interna,

tanto no que se refere a forma de remuneração dos papéis quanto a seu vencimento.

Page 104: A COMPOSIÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA MOBILIÁRIA FEDERAL …

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ANEXO A – Caracterização dos principais títulos da DPMFi

Fonte: Banco Central do Brasil, 2005

• Títulos prefixados

o LTN. Título prefixado com pagamento único, na data do resgate. O

rendimento baseia-se no deságio sobre o valor nominal. O resgate dá-se

pelo valor nominal.

o NTN-F. Título prefixado com pagamento semestral de cupons de juros,

os quais podem ser negociados separadamente do principal.

• Títulos remunerados por índices de preços

o Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B). Título indexado ao IPCA,

com pagamento semestral de cupons de juros. A taxa de juros é definida

pelo Ministro de Estado da Fazenda, quando da emissão, em

porcentagem ao ano, aplicada sobre o valor nominal atualizado. O

pagamento de juros ocorre semestralmente, com ajuste no primeiro

período de fluência, quando couber. O primeiro cupom de juros a ser

pago contemplará a taxa integral definida para seis meses,

independentemente da data de emissão do título. O resgate dá-se em

parcela única, na data do vencimento.

o Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-C). Título indexado ao IGP-

M, com pagamento semestral de cupons de juros. A taxa de juros é

definida pelo Ministro de Estado da Fazenda, quando da emissão, em

porcentagem ao ano, aplicada sobre o valor nominal atualizado. O

pagamento dos juros dá-se semestralmente, com ajuste no primeiro

período de fluência, quando couber. O primeiro cupom de juros a ser

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112

pago contemplará a taxa integral definida para seis meses,

independentemente da data de emissão do título.

• Títulos remunerados pela taxa Selic

o Letras Financeiras do Tesouro (LFT). Título indexado à taxa Selic, com

pagamento único na data de resgate – valor nominal acrescido do

respectivo rendimento, desde a data-base do título.

o Letras Financeiras do Tesouro Série A (LFT-A). Tem como rendimento

a taxa Selic acrescida de 0,0245% a.m. O resgate se dá em até 180

parcelas mensais consecutivas, vencendo a primeira no mês seguinte ao

da emissão, sendo cada uma delas de valor correspondente ao resultado

obtido pela divisão do saldo remanescente, atualizado e capitalizado, na

data do vencimento de cada uma das parcelas pelo número de parcelas

vincendas, inclusive a que estiver sendo paga.

o Letras Financeiras do Tesouro Série B (LFT-B). Título indexado à taxa

Selic, com pagamento único na data de resgate – valor nominal acrescido

do respectivo rendimento, desde a data-base do título.

• Títulos remunerados pela variação cambial

o Notas do Tesouro Nacional Série D (NTN-D). O valor nominal é

atualizado pela cotação de venda do dólar dos Estados Unidos no

mercado de câmbio de taxas livres, sendo consideradas as taxas médias

dos dias úteis imediatamente anteriores à data-base e à data do

vencimento do título. A taxa de juros é definida pelo Ministro de Estado

da Fazenda, quando da emissão, em porcentagem ao ano, aplicada sobre

o valor nominal atualizado. O pagamento dos juros ocorre

semestralmente, com ajuste no primeiro período de fluência, quando

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113

couber. O primeiro cupom de juros a ser pago contemplará a taxa

integral definida para seis meses, independentemente da data de emissão

do título. Os cupons de juros dos títulos com prazo igual ou superior a

cinco anos emitidos em oferta pública entre 1o de outubro de 1997 e 17

de julho de 2000 poderão ser negociados separadamente do principal,

permanecendo com suas características de emissão. O resgate se dá em

parcela única, na data do vencimento.

o Notas do Banco Central do Brasil Série Especial (NBCE). O valor

nominal é atualizado pela variação da cotação de venda do dólar dos

Estados Unidos no mercado de câmbio de taxas livres, sendo

consideradas as taxas médias dos dias úteis imediatamente anteriores à

data-base e à data do vencimento do título. A taxa de juros é definida

pelo Banco Central do Brasil, quando da emissão, em porcentagem ao

ano, aplicada sobre o Valor nominal atualizado. O pagamento dos juros

se dá semestralmente, com ajuste de prazo no primeiro período de

fluência, quando couber. O primeiro cupom de juros a ser pago

contemplará a taxa integral definida para seis meses, independentemente

da data de emissão do título. O resgate ocorre em parcela única, na data

do vencimento.