a coexistência com os grandes carnívoros - medwolf machos e fêmeas encontram-se só para o...

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A coexistência com os grandes carnívoros Karin & Mats Ericson John Linnell Erika Sandström CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO: FINANCIAMENTO: O desafio e a oportunidade. Lobos, linces, ursos e glutões regressam às paisagens europeias. > Podem viver connosco? > Podemos viver com eles? > Porque são tão controversos? > Que soluções existem? Fotos, a partir da esquerda e do topo: Taiga nature & photo, A Landa, B Kristiansson, H Andrén

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A coexistência com os grandes carnívoros

Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

O desafio e a oportunidade.

Lobos, linces, ursos e glutões regressam às paisagens europeias.

> Podem viver connosco? > Podemos viver com eles? > Porque são tão controversos? > Que soluções existem?

Fotos, a partir da esquerda e do topo: Taiga nature & photo, A Landa, B Kristiansson, H Andrén

bear Bär ours bjørn björn orso urso oso urs medve ayı karu karhu medvjed medvěd niedźwiedź medveď medved αρκούδα καστανή медведь ведмідь мечка медвед medve мядзведзь mjedwjedź mjadwjeź ariu guovža rish debb arzh gell béar donn mathan arth hartz ós ors lors urs ursu, ůssulu beer

Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

DIMENSÕESpeso Machos 140 - 320 kg, fêmeas 100 - 200 kg altura Até 1,5 m

REPRODUÇÃOacasalamento Maio - julho nascimento Janeiro - fevereiro As crias nascem com o peso de um esquilo: cerca de 0,5 kg ninhada 1 - 4, por norma 2 - 3

DIETAOs ursos são omnívoros. A sua alimentação inclui bagas, no-zes, formigas, erva e outra vegetação verde. Carcaças, ungula-dos selvagens e animais domésticos podem entrar na sua dieta.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Os machos vivem sós, longe das fêmeas com crias. Estas ficam com as mães até aos dois anos de idade. Os machos podem matar as crias, por isso as fêmeas tentam evitar o contacto com eles.

ÁREA VITAL De120 a 1.600 km2, para os machos, e de 60 a 300 km2, para as fêmeas.

AMEAÇAS Algumas populações são muito pequenas e isoladas. Estas po-pulações podem precisar de intervenção humana na sua ges-tão.Os ursos causam prejuízos às colmeias, reduzindo a tolerân-cia humana à sua presença. Algumas populações são controladas pela caça legal. Contudo, a caça furtiva é um problema em muitas regiões.

Urso Pardo – Ursus arctos O rei dos grandes carnívoros europeus

Fotos, a partir da esquerda e do topo: Taiga nature & photo, B Kristiansson, Taiga nature & photo, Taiga nature & photo, LIFE-Nature, Taiga nature & photo

DISTRIBUIÇÃO

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9. Pyrenean

8. Alps

7. Central Apennine

6. Dinaric-Pindos

5. Eastern Balkans

4. Carpathian

3. Baltic

2. Karelian

1. ScandinavianEscandinávia

Carélia

Báltico

Cárpatos

Balcãs Orientais

Dinara-Pindos

Apeninos Centrais

Alpes

Pirinéus

Cantábria

PermanenteEsporádica

Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

DIMENSÕESpeso Machos 18 - 25 kg, fêmeas 12 - 16 kg altura 60 - 75 cm

REPRODUÇÃOacasalamento Março nascimento Maio - junho ninhada 1 - 4, por norma 2 - 3

DIETAOs linces são carnívoros e comem apenas presas caçadas por eles: corços, camurças, veados, lebres e diferentes aves da floresta. Na Escandinávia e na Finlândia, o lince é o mais importante predador de renas semidomésticas, também predando ovelhas.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL Machos e fêmeas encontram-se só para o acasalamento. Excluem dos seus territórios animais do mesmo sexo. As crias seguem a mãe durante quase um ano. Podem disper-sar para longas distâncias.

ÁREA VITAL De 120 a 1.800 km2, para os machos, e de 80 a 1.000 km2, para as fêmeas.

AMEAÇAS Em áreas onde o lince é caçado, o número de animais aba-tidos tem de ser mantido em níveis sustentáveis. A predação sobre os animais domésticos resulta numa me-nor tolerância das pessoas face à presença do lince. Os caçadores vêem no lince um concorrente pelas espécies cinegéticas. Em toda a Europa, a caça furtiva é uma das principais amea-ças à sobrevivência deste felino.

Lince euro-asiático – Lynx lynx O maior felino da Europa

lynx Luchs gaupe lodjur lince râs lūsis ilves ris rys ryś λύγκας рысьрис hiúz vaşak рысь riqebulli albbas divlio-murtano linko lińs lincse lioncs lyncs ipar katamotz linx linxs linç lustrel luf tscherver linci los geypa gaupa lynks

Fotos, a partir da esquerda e do topo: BCP Wildlife Consulting, L Krempig, J Linnell, Taiga nature & photo, BCP Wildlife Consulting, J I Larsen, BCP Wildlife Consulting, Scandlynx

DISTRIBUIÇÃO

Permanente

Esporádica

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7. Eastern Alps

8. Western Alps

9. Jura

10. Vosges-Palatinian

11. Bavarian-Bohemian

6. Dinaric

5. Balkan

4. Carpathian

3. Baltic

2. Karelian

1. ScandinavianEscandinávia

Carélia

Báltico

Cárpatos

Balcãs

Dinara

Alpes Orientais

Alpes Ocidentais

Jura

Vosges-Palatinado

Bavária-Boémia

Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

DIMENSÕESpeso 9 - 14 kg altura 40 - 55 cm

REPRODUÇÃOacasalamento Dezembro - fevereiro nascimento Março - abril ninhada 1 - 5, normalmente 2 - 3

ESPECIFICIDADESÉ muito menor do que o lince euro-asiático. É um animal es-pecialista, alimentando-se quase só de coelho bravo. Os “pin-céis” das orelhas têm uma forma característica.

DIETABasta um coelho por dia para sustentar um lince ibérico adulto.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL São animais solitários. Os machos só procuram as fêmeas quan-do elas entram em cio. Após o acasalamento, o macho volta ao seu território. Do sétimo mês ao segundo ano de vida, os jo-vens linces iniciam a dispersão; mas há registos de animais que exibem comportamentos de coesão familiar.

ÁREA VITAL De10 a 17 km2, para os machos, e de 4 a 20 km2, para as fêmeas.

AMEAÇAS “Criticamente em Perigo” no Livro Vermelho dos Vertebra-dos de Portugal. O decréscimo do coelho bravo, motivado por doenças infecciosas como a mixomatose e a doença hemorrá-gica viral, são as principais ameaças no nosso país. A perda, fragmentação e perturbação dos habitats e a mortalidade cau-sada por atropelamentos e furtivismo são também graves pro-blemas para a conservação deste endemismo ibérico.

Lince ibérico – Lynx pardinus O felino mais ameaçado do mundo

No século xix, o lince ibérico vivia em quase toda a Península Ibérica. Na década de 80, já quase se limitava às zonas central e sudoeste. De 1960 a 1990, a sua área de distribuição diminuiu 80%. Hoje, as populações do lince ibérico limitam-se a Espanha, num total de 200 indivíduos. Está em curso a sua reintrodução em Portugal.

DISTRIBUIÇÃO

lynx Luchs gaupe lodjur lince râs lūsis ilves ris rys ryś λύγκας рысьрис hiúz vaşak рысь riqebulli albbas divlio-murtano linko lińs lincse lioncs lyncs ipar katamotz linx linxs linç lustrel luf tscherver linci los geypa gaupa lynks

Fotos, a partir da esquerda e do topo: www.AndoniCanela.com, Joaquim Pedro Ferreira, ICNF-CNRLI, Joaquim Pedro Ferreira, ICNF-CNRLI, www.AndoniCanela.com, Programa de Conservación, www.AndoniCanela.com, Ex-situ del Lince Ibérico, Andoni Canela.

Distribuição atual na Península Ibérica, com as reintroduções de 2015

Distribuição do lince na Península Ibérica, nos anos 80 do século xx

Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

DISTRIBUIÇÃO

Até ao princípio do século xx, o lobo vivia em quase toda a Península Ibérica. Na década de 1930, ainda havia alcateias perto de Lisboa, Por-to, Coimbra, Caldas da Rainha, Aveiro e Abrantes.

Hoje, o lobo ibérico ocupa apenas 15% da sua área de distribuição original em Portugal, com cerca de 300 indivíduos em dois núcleos populacionais separados pelo rio Douro.

Lobo ibérico – Canis lupus signatus O último grande predador português

DIMENSÕESpeso Machos 30 - 40 kg, fêmeas 25 - 35 kg altura 60 - 70 cm

REPRODUÇÃOacasalamento Março - abril nascimento Maio - junho ninhada 2 - 11, em média 5

ESPECIFICIDADESO lobo ibérico distingue-se do lobo do resto da Europa por ser mais pequeno e pela pelagem mais amarelo-acastanhada. A designação “signatus” – que em Latim significa marca ou sinal – indica as listas negras nas patas dianteiras.

DIETAÉ um carnívoro generalista; alimenta-se de vários animais: de pe-quenos roedores a mamíferos de grande porte, como corços, vea-dos e javalis. A escassez de presas silvestres leva-o a alimentar-se de ungulados domésticos.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL Os lobos vivem em grupos familiares fortemente hierarquizados, as alcateias, formados pelo casal dominante e pelos seus descen-dentes. O número de indivíduos de cada grupo varia conforme a altura do ano, o espaço disponível, as presas e as densidades popu-lacionais humanas e lupinas..

ÁREA VITAL

Entre 65 e 376 km2, a norte do rio Douro, e 85 e 145 km2, a sul.

AMEAÇAS

“Em Perigo”, de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. É protegido por legislação nacional específica desde 1988.

A perseguição motivada pela predação sobre o gado, o medo, a ig-norância e o receio dos caçadores do impacto deste predador sobre as espécies de caça maior, são as principais ameaças ao lobo ibérico. O mau ordenamento do território e os cães vadios, cujos ataques ao gado são atribuídos ao lobo, põem em causa a sua sobrevivência.

wolf Wolf loup ulv varg lupo lobo lup vilkas vilks susi vuk wilk vlk volk λύκος волк вовк вълк вук farkas kurt воук wjelk ujku gumpe ruv kelb lupo bleiz mac tire madadh allaidh blaidd otso lop llop lôf louf luf úlvur úlfur lobo

Fotos, a partir da esquerda e do topo: www.luis-ferreira.com, Joaquim Pedro Ferreira, Joaquim Pedro Ferreira, Grupo Lobo, Erika Almeida, Erika Almeida, Rui Vasco.

glouton Vielfraß jerv järv geatki ahma ämrija ernis rossomaka росомаха jærv ahm veelvraat rozomáh rosomach ghiottone

Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

DISTRIBUIÇÃO

Permanente

Esporádica

Glutão – Gulo gulo A hiena do Ártico

DIMENSÕESpeso Machos 12 - 18 kg, fêmeas 8 - 13 kg

altura 35 - 43 cm

REPRODUÇÃOacasalamento Abril - agosto

nascimento Fevereiro - março

ninhada 1 - 4, normalmente 2

DIETAOs glutões podem capturar presas grandes, como renas e ovelhas, e ou-tras menores, como lebres e pequenos roedores. Alimentam-se tam-bém de carcaças.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL Os glutões são animais solitários, exceto durante a época de acasala-mento. As crias acompanham a mãe durante todo o verão, até agosto e setembro, quando muitas dispersam. Os glutões são territoriais, face a outros glutões do mesmo sexo.

ÁREA VITAL

Até 600 km2, para os machos, e 200 km2, para as fêmeas.

AMEAÇAS A predação de ovelhas na Noruega e de renas semidomésticas na No-ruega, Suécia e Finlândia, reduz a tolerância das populações humanas para com esta espécie. As capturas ilegais deste animal são frequentes. Na Noruega, as quotas de caça são muito elevadas.

Fotos, a partir da esquerda e do topo: Taiga nature & photo, L Gangås, A Landa, A Landa, Taiga nature & photo, Taiga nature & photo, L Gangås.

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10651. Scandinavian

2. Karelian

Escandinávia

Carélia

Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

1. Alce – rei da floresta escandinava Foto: Taiga nature & photo

2. Corço Foto: J Linnell

3. Camurça.Foto: R Valarcher

4. Ibex. Foto: R Valarcher

5. Veado. Foto: C Robion

6. Javali. Foto: J Linnell

Os carnívoros precisam de alimento – e as florestas da Europa têm-no em abundância

A recuperação dos grandes carnívoros da Europa, durante os últimos cinquenta anos, tem acompanhado a recuperação dos herbívoros selva-gens. Há 100 anos, estes herbívoros eram tão raros quanto os carnívo-ros que deles dependiam. Graças a um século de esforços de caçadores e gestores cinegéticos, elas estão hoje firmemente integradas nas paisa-gens europeias contemporâneas.

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Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

Ibéria – verdejantes montanhas e planícies tisnadas pelo Sol

Na floresta das montanhas da Cordilheira Cantábrica do Norte de Espanha vivem apenas 120 ursos pardos. É uma população pequena e isolada, amea-çada pela caça ilegal e pelo desaparecimento de habitats, lutando para sobre-viver numa região cada vez mais humanizada.Em Portugal e Espanha existem de 2.000 a 3.000 lobos, a quarta maior po-pulação de lobos da Europa. O lobo distribui-se por montanhas, florestas, matorrais e vastas planícies agrícolas, demonstrando a grande capacidade de adaptação da espécie.

1. As planícies de Castela e Leão, Espanha

Foto: J Linnell

2. Habitat de tocas de lobo, Valladollid, Espanha

Foto: J Linnell

3 & 4. Lobos deslocando-se através de campos lavrados, Valladolid, Espanha

Foto: J Linnell

5 & 6. Habitat de urso. Cordilheira Cantábrica, Espanha

Foto: J Linnell

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Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

Os grandes carnívoros –parte da nossa herança cultural

Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele – Fazer figura de urso – Asno de muitos, lobos o comem – Ter olho de lince – Lobo com pele de carneiro – Forte como um urso – A carne de lobo, dente de ferro – Não vendas a pele do urso antes de o teres caçado – Lobo não come lobo – A pau com os ursos

Foto: J Linnell

Representamos os grandes carnívoros em estátuas, desenhos e brasões, criamos provérbios sobre as suas caraterísticas. Famílias adotam os seus nomes. Eles acompanharam toda a nossa História. Os ditados populares que evocam estes animais, sobretudo lobos e ursos, estão espalhados por toda a Euro-pa. Mitos como o de Rómulo e Remo e a fundação de Roma, a história do Capuchinho Vermelho, imagens em selos, moedas, emblemas de clubes desportivos... Tudo testemunha a nossa longa história partilhada.Ainda hoje criamos mitos acerca dos grandes carnívoros; como as teorias de conspiração sobre reintrodu-ções ilegais e perigos imaginários que um lobo pode colocar à vida das pessoas.Eles influenciaram a cultura e a fantasia humanas; e isto deve ser celebrado. Mas, quando discutimos a sua gestão, a realidade é mais importante.

Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

Nem demónios nem anjos – a dinâmica das atitudes humanas face aos carnívoros

Poucas espécies suscitam emoções tão fortes como os lobos e os ursos. Para alguns eles são símbolos do Belo e da Natureza. Para outros, evocam me-dos e símbolos de um passado sombrio. Ao longo dos séculos eles foram perseguidos pelo Homem; mas nos últimos 30 anos a sociedade europeia tem procurado conservá-los.Ainda existem preconceitos contra estes animais; uns baseados em confli-tos e experiências reais, outros oriundos da mitologia, do desconhecimen-to, ou apenas do medo. Os carnívoros são hoje emblemas de conflitos mais amplos, entre o rural e o urbano, entre a tradição e a mudança.Também há quem os retrate como criaturas bondosas, gentis e inofensivas que nunca prejudicariam o ser humano. A verdade é que são apenas carnívo-ros, vivendo de acordo com a sua natureza, moldados pela evolução. Devemos mudar a nossa atitude de medo para respeito, de adoração para realismo. O objetivo é torná-los símbolos de uma nova relação entre o Ho-mem e a Natureza, baseada no respeito e na coexistência.

1. Armadilha para lobos do século xix, Picos da Europa, Espanha.

Foto: J. Linnell

2. Uma “fera” afectuosa. Foto: Taiga nature & photo

3. As armadilhas com poços para matar lobos foram legais na Suécia, até meados do século xix. Muitas vezes, cães eram usados como isco.

Foto: Taiga nature & photo

4. Encantador; mas alimentar o urso é arriscado, tanto para o urso como para a pessoa, Brasov, Roménia.

Foto: Taiga nature & photo

5. A história do Capuchinho Vermelho e o Lobo ainda está viva.

Foto: Tradicional.

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CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

Raças de gado autóctones e animais silvestres ameaçados podem coexistir

O Grupo Lobo, uma ONG de Ambiente, trabalha desde 1996 para melhorar a proteção dos rebanhos e das manadas no Norte e Centro do País, contribuindo para reduzir os conflitos entre as comunidades e o lobo, atenuando a perseguição ao nosso último grande carnívoro. Benefeciando ainda os sistemas pastoris tradicionais e das raças autóc-tones de gado, como a cabra Bravia ou a vaca Arouquesa. Graças à uniformização da agricultura, a conservação de algumas raças de gado é hoje tão urgente quanto a das espécies silvestres ameaçadas.Raças autóctones caninas, como o Cão de Castro Laboreiro, o Cão da Serra da Estrela ou o Cão de Gado Transmontano, são usadas para proteger os rebanhos e manadas de ataques de lobos. Se não fosse este uso, tais raças estariam hoje mais ameaçadas de extinção.O Programa Cão de Gado é um exemplo atual de como as estratégias de conservação do património natural, genético e cultural da Europa podem estar firmemente interligadas.

1. Cão de Castro Labroreiro guarda as “suas” cabras, Cabeceiras de Basto, Portugal.

Foto: Joaquim Pedro Ferreira

2. Vaca barrosã, Portugal. Foto: Joaquim Pedro Ferreira

3. Cabras bravias na Serra do Alvão, Portugal.

Foto: Grupo Lobo

4. Cão da Serra da Estrela entre as ovelhas, Meda, Portugal.

Foto: Joaquim Pedro Ferreira

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CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

Trazendo de volta a Natureza – a reintrodução de grandes carnívoros

Devolver grandes carnívoros a regiões onde tenham sido exterminados é possível – mas é caro e difícil, como mostra a experiência com o lince e com o urso, nos Alpes e nos Pirinéus.Os linces desapareceram dos Alpes no século xix. Entre 1970 e 1990, 30 linces, vindos sobretudo dos Cárpatos, foram reintroduzidos na Suíça, Itá-lia e Áustria. Hoje existem cerca de 120 linces nos Alpes.Os ursos foram quase extintos nos Alpes, resistindo apenas alguns machos na área de Trentino, no Norte da Itália. De 1999 a 2002, 10 ursos foram capturados na Eslovénia e libertados no Parque Natural Adamello Brenta, nos Alpes italianos. Atualmente, a po-pulação ronda os 20 exemplares. Três ursos foram também libertados nos Alpes Austríacos em 1989-1993.Ainda é cedo para dizer se estas reintroduções serão bem sucedidas. Durante a ausência daqueles animais, as populações locais desaprenderam os hábitos de convivência com os grandes carnívoros, dando azo a conflitos relaciona-dos com o gado.

1 & 2. Um lince relocalizado no Leste dos Alpes suíços.

Foto: F Zimmerman

3. Ursos eslovenos dando os seus primeiros passos nos Alpes italianos.

Foto: Parque Natural Adamello Brenta

4. Os ursos estão de volta aos Pirinéus, na França, ante grandes protestos de uma minoria ruidosa.

Foto: CoEx

5 & 6. Mais protestos nos Pirinéus franceses. Foto: ONCF

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Os grandes carnívoros não conhecem fronteiras

As montanhas Dináricas do Norte são uma grande e uniforme área de Natureza preservada, abrangendo partes da Eslovénia e da Croá-cia. Extensas florestas abrigam inúmeras espécies animais ameaçadas de extinção, como o lince euro-asiático – cuja conservação e gestão requer uma abordagem complexa ao nível da população, sendo neces-sária uma cooperação transfronteiriça.Esta iniciativa é um primeiro passo para uma gestão conjunta do pa-trimónio natural comum dos dois países, que partilham a população de lince. Qualquer ação de gestão tomada num país afeta a população no outro. A única solução é uma gestão coordenada. Esta cooperação foi estabelecida com um projeto que agregou conhe-cimentos biológicos e sociológicos, desenvolveu mecanismos para a monitorização conjunta da população de linces e criou parcerias ao mais alto nível de gestão e investigação. Alcançando um objetivo ful-cral: a criação da Estratégia de Gestão Conjunta para a população do lince dinárico, o primeiro documento do género entre a Eslovénia e a Croácia.

1. A informação é uma ferramenta importante para aumentar a consciencialização sobre os grandes carnívoros e a sua conservação.

Foto: Dinaris

2. Será que eles vão sobreviver nos Alpes Dináricos?

Foto: BCP Wildlife Consulting

3. O lince é um elemento importante para a fauna dinárica.

Foto: Taiga nature & photo

4. Os linces vivem ao longo da fronteira entre a Eslovénia e a Croácia, nos Alpes Dináricos.

Foto: Dinaris.

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Valem mais vivos do que mortos

O ecoturismo é um dos mercados com maior crescimento no mundo. É pos-sível utilizá-lo para ajudar os grande carnívoros? Pode transformar um con-flito dispendioso numa fonte de receita?Os grandes carnívoros são carismáticos e populares. No entanto, vivem em densidades muito baixas e são tímidos, tornando-se assim muito difíceis de vislumbrar. Há poucas situações em que se pode garantir aos visitantes a sua observação. Todavia, muitas regiões anunciam-se como áreas ricas em paisagens e vida silvestres. O simples facto de estarem no mesmo habitat, e poderem ter a sorte de ver provas da presença de um carnívoro, como um rasto ou dejetos, é cada vez mais um atrativo para os visitantes. Sem esque-cer as vertentes histórica e folcórica.O turismo baseado na vida silvestre está no seu início na Europa. Há um enorme potencial para se comercializar uma ampla gama de produtos ba-seados na Natureza. O desafio é assumir a presença de um grande carnívoro como um selo de qualidade para toda uma região.

1. Um velho urso na Suécia tornou-se uma atração turística.

Foto: J Linnell

2. Pegadas de lobos alemães atraem uma multidão.

Foto: Em Reinhardt

3. Observando lobos em Castela, Espanha. Foto: J Linnell

4. Rastreamento de um glutão na neve das montanhas suecas.

Foto: Taiga nature & photo

5. Saber que grandes predadores estão nas proximidades basta para gerar grande entusiasmo. Roménia.

Foto: Taiga nature & photo.

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CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

Do mito à Ciência – uma nova forma de conhecer

Durante séculos, o conhecimento dos grandes carnívoros dependeu de mitos e fábulas. Através da Ciência, os últimos 40 anos deram-nos uma nova visão destes. Os carnívoros são difíceis de estudar devido aos seus hábitos esquivos – mesmo havendo cada vez mais e melhores métodos de estudo. O mais útil destes, nos últimos 30 anos, foi o colar de rádio-telemetria, que permite seguir os movimentos de um indivíduo e a sua história. Com a tecnologia de GPS, tornou-se ainda mais preciso – mas ainda obriga à captura dos animais.Outra ferramenta poderosa é análise do ADN. Agora, pode bastar um único pelo ou uma amostra de excrementos para identificar indivíduos.Por fim, várias técnicas com base em entrevistas e questionários estu-dam as pessoas, as suas atitudes, opiniões, desejos e motivações. A di-mensão humana é fundamental quando os carnívoros são vizinhos do Homem.Assim mudou o modo como vemos os grandes carnívoros. E, como sempre, a realidade é ainda mais fascinante do que a ficção e as lendas.

1. Rádio-localizando um lobo num dia de inverno na Roménia.

Foto: BCP Wildlife Consulting

2. Um urso pardo europeu adulto pesa 300 kg, na Suécia.

Foto: S Brunnberg

3. Colar GPS é ligado a um lobo anestesiado, Roménia. Nenhum outro método é tão importante para estudar estas espécies.

Foto: BCP Wildlife Consulting

4. Muitas amostras devem ser recolhidas durante o sono deste lince, Noruega.

Foto: J Linnell

5. Os dejetos de urso fornecem ADN que é usado em estudos genéticos, Suécia.

Foto: Taiga nature & photo

6. Imagem de uma armadilha fotográfica, na Grécia.

Foto: Callisto

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Karin & Mats Ericson John LinnellErika Sandström

CRIAÇÃO: COM A ASSISTÊNCIA DE: PRODUÇÃO:FINANCIAMENTO:

Os grandes carnívoros mostraram que podem viver connosco.

Ainda precisamos de demonstrar que estamos dispostos a partilhar o nosso território com eles.

Os grandes carnívoros podem ser vizinhos difíceis, mas ao adaptar o nosso estilo de vida e modo de pensar, conseguiremos dar lugar à convivência.

Estamos dispostos a fazer essas mudanças?

Ou preferiremos explicar depois aos nossos filhos porque não mudámos a tempo?

Fotos: A Kjellström, BCP Wildlife Consulting, Taiga nature & photo, BCP Wildlife Consulting

É tempo de aprender a coexistir!

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