a cinematografia utÓpica, romÂntica e revolucionÁria de jorge sanjinÉs
TRANSCRIPT
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
1/18
Doc On-line, n. 15, dezembro 2013, www.doc.ubi.pt, pp. - 420403
A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICAE REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
Cleonice Elias da Silva*
Revolucin (Bolvia, 1963, 10 min.)
Diretor: Jorge Sanjins
Imagem: scar Soria
Montagem: Jorge Sanjins
Produo: Jorge Sanjins e Ricardo Rada
Companhia responsvel pela produo: Grupo Ukamu
Cinema Boliviano; Representaes do povo; Jorge Sanjins
Meu interesse pelo cinema boliviano, mais especicamente porJorge Sanjins, recente. No conhecia a produo do referido cineasta
at entrar no grupo de pesquisa Cinema Latino-Americano e Vanguardas
Artsticas, vinculado ao CNPq e coordenado pela professora doutora
Yanet Aguilera da Universidade Federal de So Paulo.
A produo de Sanjins pouco conhecida no Brasil, at mesmo
entre os cinlos e os pesquisadores de cinema. Apesar de ele impor
restries para exibio de seus lmes, possvel assistir maioria deles
online.
* Mestranda. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo - PUC-SP, Departamentode Histria, POLHITICULT - Ncleo de Estudos de Poltica, Histria e Cultura,05014-901, So Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
2/18
- 404 -
Cleonice Elias da Silva
O seu lme mais recente, Insurgentes (2012), foi exibido na
mostra 1 Semana de Cinema Boliviano em So Paulo1 deste mesmo
ano de estreia do lme, teve uma boa recepo diante de uma crtica
especializada, foi indicado para um dos principais festivais de cinema
na Amrica Latina,Festival de Cinema Latino-americano de Havana2e
premiado em primeiro lugar noFestival Internacional de Cine Poltico3
realizado em Buenos Aires. Todavia, existe uma grande diculdade para
se encontrar uma cpia desse lme aqui no Brasil, a minha procura no
foi bem sucedida.
Neste texto apresento uma contextualizao da produo do
cineasta boliviano e darei mais ateno para o seu curta Revolucin
(1963), demonstrando como Sanjins, atravs, de sua cinematogrca,
constri um discurso histrico sobre o povo boliviano. Adianto que
as discusses que apresento aqui so apenas pontuais e que carecem
de ser revistas e espero, sobretudo, que elas se desdobrem em outras
ainda mais embasadas. Convido os pesquisadores brasileiros e de outrasnacionalidades a se encantarem com o cinema latino-americano, com
a sua diversidade, com as suas tenses, suas contradies, com a sua
poesia, com o seu subdesenvolvimento, entre tantos outros atributos, com
a sua caracterstica pretensamente revolucionria. Sendo essa uma das
principais posturas assumidas por Sanjins.
Em linhas gerais, um aspecto marcante nos lmes de Sanjins o
protagonismo do povo indgena. Suas obras buscam representar alguns
momentos dos processos histricos da Bolvia a partir de uma perspectivaque reconhece os indgenas como sujeitos histricos. No h como
representar a histria boliviana ou, melhor dizendo, no h como falar
1) http://www.cineboliviano.com.br/. Consultado em 22/09/2013.
2) http://www.habanalmfestival.com/. Consultado em 01/10/2013.
3) http://www.cip.com.ar/?lang=en. Consultado em 01/10/2013.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
3/18
- 405 -
A cinematografa utpica, romntica e revolucionria de Jorge Sanjins
da histria da Bolvia sem dar voz a esses sujeitos, ativos e conscientes
de suas condies sociais e histricas. De forma resumida, assim que
Sanjins nos apresenta a populao indgena de seu pas.
Quem Jorge Sanjins?
E relatando suscintamente alguns dos principais aspectos da
trajetria artstica e poltica do referido cineasta que inicio a minha imerso
no cinema boliviano, ou, melhor dizendo, em uma parte importante dele.
Pois Sanjins cumpre um papel importante nesse cinema e, de forma mais
ampla, sem exageros, na cinematograa latino-americana.
No fao uma biograa rigorosa de Jorge Sanjins, apenas
relato algumas de suas experincias como cineasta e intelectual e cito
suas produes sem me apegar a detalhes cronolgicos e conjunturais.
Baseando-me em entrevistas transcritas e em vdeos, delimitei osprincipais momentos de sua carreira, assim como os pontos chave de
seu posicionamento crtico diante de sua sociedade e as premissas
que compem a sua formulao terica a respeito da realizao de um
cinema coletivo.
Na segunda metade da dcada de 50 Sanjins foi estudar cinema
no Chile, em Santiago. Muitos dos professores que contriburam com
a sua formao eram argentinos. Suas principais referncias foram
Eisenstein, Pudvkin e Kulechov. O seu contato com estes ltimos deu-se, em um primeiro momento, com a leitura da produo terica por eles
elaborada. S conseguiu assistir ao Encouraado Potemkin(1925) anos
aps a realizao de seu primeiro longa-metragem de co. O cineasta
saiu da Bolvia poucos anos aps a Revoluo Nacionalista de 1952, que,
para ele, foi um processo de importante transformao estrutural. Entre os
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
4/18
- 406 -
Cleonice Elias da Silva
desdobramentos do movimento estiveram as polticas de reforma agrria,
a nacionalizao das minas e o m do regime semi-escravista, o qual
signicava um verdadeiro atentado existncia dos ndios bolivianos.
Os intelectuais, sobretudo os ligados Esquerda, tiveram um papel
signicativo nessa conjuntura.4
Quando retorna Bolvia assume, com Jorge Ruiz, a coordenao
do ICB (Instituto Cinematogrco Boliviano) um rgo cuja funo
era realizar a propaganda do governo. Entretanto, os dois cineastas
conseguiram usufruir positivamente da coordenao do instituto
viabilizando a realizao de seus lmes. No ano seguinte, 1966, forma o
Grupo Ukamau. O roteirista Oscar Soria teve uma inuncia signicativa
na orientao ideolgica assumida pelo grupo. (...) Encontramos muita
simpatia e muitas coincidncias no plano ideolgico, porque Oscar Soria
era um intelectual que vinha do processo da revoluo do ano de 1952.
Tinha em seus contos um olhar voltado para a temtica da mudana social,
operria, mineira.5
Como o prprio Sanjins reconhece, no possvel fazer cinema
sozinho. A consolidao do grupo s foi possvel devida participao
de outros sujeitos, assim como ele, engajados com a realizao de uma
produo cinematogrca crtica. Entre os membros estiveram Antonio
Eguino, fotgrafo de muitos dos seus lmes e Ricardo Rada. Antes da
realizao de seus longas-metragens produziu, em parceria com Jorge
Ruiz, os curtas: La Guitarrita (1959), Sueos y realidades (1961),
Revolucin(1963), Aysa! (1965) eEl mariscal de Zepita (1965). Esses
4) No meu propsito apresentar uma discusso aprofundada sobre esse processohistrico na Bolvia, mas apenas a leitura que Jorge Sanjins faz dele.
5) GARCIA, Estevan;NUEZ, Fabian, Entrevista com Jorge Sanjins, inRevistaContracampo: Revista de Cinema.Disponvel em: http://www.contracampo.com.br/63/entrevistasanjines.htm. Consultado em 25/09/2013.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
5/18
- 407 -
A cinematografa utpica, romntica e revolucionria de Jorge Sanjins
lmes serviram como uma formao prvia, a qual propiciou a produo
de seu primeiro longa-metragem de co, Ukamau (1966). Todavia, na
relao acima citada, existe uma obra na qual Sanjins e Ruiz realizaram
algumas experimentaes ccionais. O mencionado longa-metragem foi
nanciado com recursos provenientes do ICB, fato que possibilitou que o
lme tivesse uma boa qualidade tcnica. Para Sanjins, Ukumaucontinua
atual, um lme no qual os dilogos no fazem falta, as imagens por si
dizem muito, elas so o principal elemento da narrativa.6
O contato direito e indireto com a produo e a teoria de outros
cineastas da Amrica Latina que compartilhavam de posicionamentos
ideolgicos muito prximos aos seus tambm cumpriu uma funo
signicativa nos caminhos que optou por seguir no decorrer de sua carreira.
(...) Dizem que tudo que impressiona um artista ou lhe agrada, oinuencia. Me impressionou muito, por exemplo, o trabalho do
cubano Toms Gutirez Alea, Sols, que vi nesses anos e, tambm,Terra em Transe, que me pareceu um lme extraordinrio e de quegosto mais do que os outros lmes que Glauber fez. interessantesentir que estava se formando um movimento poderosssimo decinema latino-americano, nesses anos, e que era, naquele momento, omelhor cinema do mundo! Muito enriquecedor Alm disso, haviaum sentimento de fraternidade, que nos convencia da veracidade,da oportunidade de pr em prtica esse velho sonho de Bolvar, defazer uma Grande Ptria, porque ramos irmos ns, os latino-americanos.7
6) Declarao feita por Sanjins em entrevista: http://www.youtube.com/watch?v=fXMuRAjXmyE. Consultado em22/09/2013.
7) GARCIA, Estevan;NUEZ, Fabian, Entrevista com Jorge Sanjins inRevistaContracampo:Revista de Cinema.Disponvel em: http://www.contracampo.com.br/63/entrevistasanjines.htm. Consultado em 25/09/2013.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
6/18
- 408 -
Cleonice Elias da Silva
No nal da dcada de 70, publica Teoria y prtica de un cine
junto al pueblo, perodo no qual os outros cineastas do Cinema Novo da
Amrica Latina j tinham bem denidos quais eram, naquele momento, os
seus principais pressupostos e objetivos ao realizarem os seus lmes. Para
Sanjins, esse perodo foi um processo de grande teorizao que visava
responder inquietude que o cinema latino-americano havia despertado
na Europa. Ele, assim com os outros, intentavam responder Por que esse
tipo de Cinema?, no apenas para os estrangeiros, mas, principalmente,
para eles mesmos.
() Comeamos a escrever, tambm, para nos indagar a ns mesmos,porque estvamos fazendo esse tipo de cinema, para explicarmos ans mesmos porque fazamos esse cinema. Havia uma inquietude emsaber que cinema tnhamos que fazer, como era o cinema que se tinhade fazer (). A necessidade de buscar uma linguagem prpria (...).8
O principal pressuposto da teoria de Sanjins um cinema
coletivo, no qual os protagonistas seriam o povo. Entretanto, em seus
dois primeiros longas-metragens, Ukumau e Yamar Mallku (Sangre de
Cndor) h protagonistas que, para ele, foram construdos a partir dos
parmetros individualistas predominantes no cinema ocidental.
em Los caminhos de la muerte (1970) que o coletivismo
apresenta-se como uma proposta de linguagem mais democrtica. A
importncia do primeiro plano na esttica do lme reduzida, o intuito
foi dar prioridade aos planos de integrao que permitiam haver umparticipao mais democrtica, mais espontnea (...).9Esse lme contou
com o nanciamento de uma TV alem, sua narrativa foi construda a
8) Idem.
9) Idem.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
7/18
- 409 -
A cinematografa utpica, romntica e revolucionria de Jorge Sanjins
partir de representaes de acontecimentos histricos. Infelizmente, os
fotogramas foram destrudos. Sanjins considera que esse seu lme era
muito perigoso, por essa razo, foi sabotado: () o lme denunciava
que a embaixada norte-americana queria exercer um controle sobre
uma direo sindical de mineiros, setor social mais beligerante, mais
conscientizado, mais perigoso politicamente para a classe dominante
boliviana e para a embaixada (...).10
Entre os demais lmes do cineasta, mencionoEl coraje del Pueblo
(1971),El enemigo principal (1973),Las banderas del amanhecer(1982),
La nacin clandestina(1986),Para recibir el conto de los pjaros (1995),
Los hijos del ltimo jardn(2004) e o j citadoInsurgentes(2012).11
Em suma, nos primeiros trabalhos de Sanjins h uma preocupao
predominante em encontrar caminhos, os quais rompem com as formas
convencionais do cinema, de pensar e at mesmo representar a
populao indgena da Bolvia. Entretanto, ele tambm, posteriormente,
buscou comunicar-se com e representar outros segmentos da sociedadeboliviana. ComPara recibir el conto de los pjaros, visou conquistar um
outro pblico, falar diretamente para o jovem boliviano.
10) Idem.
11) A relao dos lmes produzidos por Sanjins, assim alguns dos aspectos quemarcaram a sua trajetria como cineasta podem ser consultados em: http://tierraentrance.miradas.net/2009/10/ensayos/cine-estetica-y-compromiso-ayer-y-hoy-en-el-cine-de-jorge-sanjines.html. Consultado em 01/10/2013. Uma boa crtica sobre o lme
Insurgentespode ser lida na revistaJump Cut. Disponvel em: http://www.ejumpcut.org/currentissue/richardsInsurgentes/index.html. Consultado em 22/09/2013.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
8/18
- 410 -
Cleonice Elias da Silva
A cinematograa boliviana: breves apontamentos
A partir de uma declarao de Paulo Emlio Salles Gomes e de
alguns relatos de Paulo Paranagu, armo que a cinematograa boliviana
marcada por uma descontinuidade e subdesenvolvimento acentuados,
at mais que a da Argentina, Uruguai e Brasil. Gomes, no incio da dcada
de 60, escrevia que: (...) s se pode falar em movimento cinematogrco
propriamente dito, isto , com certa estrutura e um mnimo de continuidade,
a propsito da Argentina, do Uruguai e do Brasil. A posio do nosso
pas, alis, no muito brilhante, pois sempre estivemos em terceiro
lugar (...).12
Paulo Paranagu sublinha que a produo de documentrios a
nica que possui uma continuidade no cinema boliviano e, aps o advento
do som, alcana certo prossionalismo e um impulso decisivo com a
revoluo liderada pelo Movimento Nacionalista Revolucionrio (1952).
Os principais lmes dessa conjuntura foram Vuelve Sebastiana (JorgeRuiz e Augusto Roca, 1953), cujo enfoque uma comunidade indgena
que corria o risco de tonar-se extinta;La Vertiente (J. Ruiz, 1958), teve o
roteiro escrito por Oscar Soria e mescla documentrio e co. Paranagu
(1984: 78) arma que Sanjins adota essa miscigenao de gneros
como principal orientao para a realizao de seus lmes, estabelecendo
uma parceria com Soria desde a produo do curta Suenos y realidades
(1961) at a reconstituio dos massacres de mineiros representada emEl
Coraje del Pueblo (1971). Os lmes posteriores a esse, Ukamau(1966)e Yamar Mallku (1969), introduzem progressivamente o elemento nativo
como um dado poltico e cultural, adotando a lngua quechua.El enemigo
principal(1974) eFuera de aqui (1977) so obras que:
12) GOMES, Paulo Emlio Salles (1981), Crtica de cinema no Suplemento Literrio,Vol 2, Rio de Janeiro: Paz e Terra, p.351.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
9/18
- 411 -
A cinematografa utpica, romntica e revolucionria de Jorge Sanjins
acentuaram a ascese dramatrgica, privilegiando a personagemcoletiva das comunidades ndias (em vez do protagonismo individualclssico) e desdobrando a narrativa pelo comentrio (presentena tela ou em voz off), abalando assim as formas tradicionais derepresentao e identicao dos espectadores. Essa opo poderiaser classicada de indo-americana, como queria o escritor peruanoJos Maria Arguedes ()
Outros cineastas bolivianos, conforme constata Paranagu,
desprendem-se dessa dmarcherigorosa de Sanjins. Antonio Eguino,
fotgrafo de seus lmes, em Chuquiago (1977) traz representaes
de diferentes facetas de La Paz, e Paolo Agazzi em Mi scio (1982)
privilegia o interior. Esses lmes foram inspirados nos roteiros do veterano
Oscar Soria, gura que simboliza a aspirao ao prossionalismo e a
continuidade do cinema boliviano, essencialmente descontnuo.13
O curta-metragem Revolucin: as faces e sonoridades dopovo boliviano
Revolucin (1963) - o terceiro curta de Jorge Sanjins um
lme sem dilogos, com planos organizados de forma rtmica em que
encontramos muitos elementos do sistema de montagem elaborado
por Grifth e teorizado posteriormente por Serguei Eisenstein como
montagens de atraes, as quais, alm de serem didticas, tinham
pretenses revolucionrias. Apesar de Sanjins ao realizar esse lme
ainda no ter assistido aoEncouraado Potemkin (1925), possvel traarparalelos entre este e seu curta, assim comoA greve(1924), ou, de forma
mais ampla, com os primeiros e consagrados escritos de Eisenstein sobre
um cinema poltico direcionado para as massas.
13) PARANAGU, Paulo (1984), Cinema na Amrica Latina: Longe de Deus e pertode Hollywood, Porto Alegre: L&PM Editores, p. 80.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
10/18
- 412 -
Cleonice Elias da Silva
Sobre as montagens paralelas ou cruzadas, denominao
utilizada s vezes pelo terico e cineasta sovitico, cabe mencionar que
ele percebeu nos dilogos do romanceMadame Bovary, de Flaubert, um
dos melhores exemplos de montagem cruzada de dilogos, cujo intuito
dar nfase expressiva ideia. Esse aspecto pode ser notado na cena em
queMadame Bovary(Ema) e Rodolfo estreitam os laos de intimidade.14
Os fragmentos, quando articulados atravs das montagens dos
planos, so, geralmente, elementos desencadeadores de tenso.
Como podemos ver, este um entrelaamento de duas linhastematicamente idnticas, igualmente triviais. O assunto sublinhadopor uma trivialidade monumental, cujo clmax atingindo atravsde uma continuao desta interseo e do jogo de palavras, com osignicado sempre dependendo da justaposio das duas linhas.15
14) O senhor Derozerays levantou-se, iniciando outro discurso... nele o elogio doGoverno ocupou menos espao; na religio e na agricultura deteve-se mais. Mostrou arelao entre uma e outra, e como ambas haviam contribudo para a civilizao. Rodolfoe Madame Bovary falaram sobre sonhos, pressentimentos, magnetismo. Remontandos origens da sociedade, o orador descreveu os tempos brbaros, quando os homensviviam em cavernas no corao das orestas. Depois os homens despiram as peles dosanimais, vestiram-se de panos, abriram sulcos, plantaram a vinha. Isto fora um bem, masno haveria em tal descobrimento mais inconvenientes do que vantagens ? O senhorDerozerays colocou o problema. Do magnetismo, pouco a pouco Rodolfo passou sanidades, e enquanto o presidente citava Cincinato e seu arado. Diocleciano plantandosua horta, e os imperadores da China inaugurando o ano com a semeadura do campo,o rapaz explicava jovem senhora que aquelas atraes irresistveis tinham sua causanuma existncia anterior. Veja ns, disse ele, por que nos conhecemos ? Por que oacaso assim o quis? Foi porque atravs da distncia, como dois rios que correm para seunir, nossas inclinaes particulares nos impeliram um em direo ao outro. E Rodolfo
pegou-lhe a mo; ela no a retirou. Para uma lavoura em geral, gritou o presidente.H pouco, por exemplo, quando fui a sua casa. Ao senhor Bizet de Quincampoix.Podia eu saber que a companhia? Setenta francos. Cem vezes pensei em partir; mas asegui e quei. Adubos! Como carei esta noite, amanh, todos os demais dias, todaa minha vida. EISENSTEIN, Serguei (1990), A forma do lme. Rio de Janeiro: JorgeZahar, p. 21.
15) Idem.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
11/18
- 413 -
A cinematografa utpica, romntica e revolucionria de Jorge Sanjins
A tenso que Sanjins constri nos dez minutos de seu lme
constitui-se a partir das sequncias dos planos, estes interrompidos
em alguns momentos por cortes e por uma trilha sonora que transita
de um lirismo para os sons tensos dos tambores e para o som opressor
dos tiros das armas. possvel armar que os dilogos no nos fazem
falta, as imagens por si, dotadas de um carter polissmico, articuladas
entre si e com a trilha sonora, que no cumpre uma funo meramente
de preenchimento dos vazios deixados pelo silncio, nos transmitem a
cada plano as problemticas sociais que Sanjins est denunciado ora
sutilmente, ora escancaradamente.16
Poderia armar que os lmes de Sanjins com foco na populao
indgena boliviana, considerando as especicidades presentes em cada
um deles, constituem uma espcie de iconograa romantizada e
enaltecedora desses sujeitos. No caso de Revolucin, so enfatizadas
as mazelas sociais que os afetam, com planos fechados em seus rostos
Sanjins inicia seu curta nos apresentando esses sujeitos, caando restos
de comidas e objetos nos lixos, nos apresenta os pedintes, entre outras
situaes, atravs de uma perspectiva lrica. Esse lirismo possibilitado
pela msica tocada em violo de forma dedilhada. Todavia, um corte
acompanhando por uma mudana na trilha sonora nos pe diante de uma
nova situao, ou melhor, de outra experincia.
Aquilo que no primeiro momento pode ser interpretado como um
relato crtico de uma dura realidade devido sobretudo trilha sonora,
acaba tornando-se potico, mas assume abruptamente um carter decrtica enftica e contundente. No que as imagens sejam diferentes das
16) Uma discusso a respeito da signicao da voz na obra flmica realizada por ElenDoppenschmitt em, Polticas da voz no cinema em Memrias do subdesenvolvimento,
pesquisa de doutorado realizada no programa de ps-graduao em Comunicaoe Semitica da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, publicada em 2012
pela EDUC.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
12/18
- 414 -
Cleonice Elias da Silva
apresentadas nos dois primeiros minutos e meio do lme. Essa crtica
se expressa por meio de uma trilha sonora, diferente da anterior, os sons
agressivos dos rufos dos tambores, fazem com que a pobreza vivenciada
por esses sujeitos nos parea mais agressiva e devassadora. Aps esse
escancaramento, voltamos para os dedilhados de violo, para o lirismo
potico, mas, sobretudo, triste do povo boliviano.
Um corte nos leva para uma espcie de funerria ou uma ocina
de caixes, um travellingpasseia entre pequenos caixes de cor branca
e tal movimento acompanhado por sons abafados de aplausos. Mais
uma vez somos confrontados a planos fechados nas faces das crianas
e de uma senhora. Ser que Sanjins quer nos levar a perceber que a
morte desse povo insignicante, invisvel, s vezes at celebrada pelas
autoridades? Depois percebemos de onde vm esses aplausos, de um
comcio poltico, cuja plateia, satisfeita, composta por sujeitos vestidos
elegantemente, diferentes daqueles que nos so mostrados no decorrer do
lme, aplaude e consente o discurso proferido.O som dos aplausos interrompido e, novamente, percebemos
os sons dos tambores. Agora nos deparamos com uma reunio de
trabalhadores, uma reunio do sindicato boliviano. As expresses j no
so as mesmas do comcio poltico, os operrios ouvem atentos, com
olhos tensos, desconados, vidos por mudanas.
A partir dessa sequncia, Sanjins d vazo a uma tomada
de conscincia desse povo. Os planos fechados nos rostos de alguns
sujeitos que contestam o discurso, as propostas que lhes so impostas,so manifestaes dessa conscientizao. Todavia, essa tomada de
conscincia vai de encontro com a ordem estabelecida, soldados
correm, se armam, se preparam para sufocar as reivindicaes e pretenses
desses contestadores. A represso se d atravs da violncia e atravs
do encarceramento desses sujeitos. A morte aquela outrora celebrada
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
13/18
- 415 -
A cinematografa utpica, romntica e revolucionria de Jorge Sanjins
pelos aplausos - nos novamente remetida atravs de uma cruz. Um
enquadramento nos mostra armas erguidas e enleiradas, empunhadas
pelos soldados que no tm seus rostos revelados, enfatizam o teor da
represso dirigida queles que ousaram contestar as ms condies que
lhes eram impostas.
EmRevolucin, assim como em outros de seus lmes, Sanjins no
se esquece de mostrar como a represso a qualquer tipo de manifestao
de cunho revolucionrio incisiva, desigual e, sobretudo, desumana.
Assim como na cena do massacre na escadaria de Odessa no lme de
Eisenstein, os planos enquadram as faces das vtimas prontas para serem
fuziladas. Aps os disparos, os planos nos revelam os rostos moribundos
desses revolucionrios.
A morte insinuada com os caixes infantis, em um primeiro
momento, agora concretizada. Um caixo carregado pela rua e somos
levados a um velrio onde as mesmas faces sofridas lamentam a perda
de um ente querido. No entanto, o povo que Sanjins representa em seuslmes no apenas sofrido, mas dotado de uma conscincia que assume
dimenses reivindicadoras; um povo paladino. Na cinematograa de
Sanjins quase no h heris nos padres convencionais. O herosmo,
na maioria das vezes reprimido, uma ao coletiva. Esse aspecto na
produo de Sanjins, assim como outros j citados, dialoga com a teoria
e lmes de Eisenstein.
(...) Levamos a ao coletiva e de massa para a tela, em contrastecom o individualismo e o drama do tringulo do cinema burgus.Eliminando a concepo individualista do heri burgus, nossoslmes daquele perodo zeram um desvio abrupto insistindo emuma compreenso da massa como heri.17
17) Ibid.p.23.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
14/18
- 416 -
Cleonice Elias da Silva
Uma nova sequncia d prioridade para a sobreposio de imagens
atravs de um ritmo acelerado: cenas de desles pblicos, de trabalhadores,
de mquinas das fbricas, de ps annimos, entre outras so intercaladas.
Sanjins nos apresenta nessa sequncia parte daquilo do que viria a ser
uma das dinmicas da sociedade boliviana, o que primeira vista pode
parecer com uma expresso ou ritmo que a modernidade imprime nas
sociedades urbanas, trata-se de um centro de tenso dos quais os conitos
dessa sociedade emanam. Pois essa modernidade pode at ser frentica,
mas ela parcial e limitada, ressalta as contradies da sociedade
boliviana, ou, de forma mais geral, da sociedade latino-americana. E
so essas contradies que o povo paladino, mencionado anteriormente,
contesta e, atravs dessa contestao, se expressa.
Diante disso, tomadas de conscincia so uma consequncia
natural, so expresses da referida contradio. O povo, mais uma vez, se
subleva. Entretanto, essa sublevao atinge propores ainda maiores que
a anterior. O referido povo sai procura de suas armas, pedras, pedaos depau, armas roubadas dos soldados, e se organiza estrategicamente para o
confronto contra as tropas. A aproximao dessas percebida pelo som da
marcha dos seus passos, passos ritmados e sincronizados, caractersticas
que remetem ordem e disciplina, principais chancelas da instituio
militar. Mais uma vez os rostos dos soldados no nos so revelados, tal
como ocorre com os dos guerrilheiros revolucionrios.
No apresentando de forma clara o desfecho desse confronto,
os sons dos tiros ecoam e os saldados sem identidade, representantesda ordem, continuam sua marcha rtmica e opressora. O ltimo corte do
lme nos apresenta os rostos de crianas pobres, todavia, essa pobreza
no ofusca a vitalidade que os mesmos transmitem. Um movimento da
cmera nos leva para um enquadramento nos ps descalos de uma delas.
Em outro momento do curta, Sanjins nos apresenta um movimento
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
15/18
- 417 -
A cinematografa utpica, romntica e revolucionria de Jorge Sanjins
semelhante, contudo, caso no estejam lembrados, nessa sequncia o
plano sai dos rostos dos sujeitos mortos para os seus ps estendidos no
cho. Nesse caso a morte no representa necessariamente o m da luta,
mas sim enfatiza a brutalidade da represso. No caso do plano nal, que
mantm a mesma linha crtica do resto das cenas do lme, trazendo tona
a pobreza - caracterstica imanente do povo boliviano, tambm insinua
que essa sociedade, apesar de todas as suas mazelas, continua viva. As
crianas representam esse vigor. A vitalidade infantil aclamada por uma
trilha sonora festiva que lembra as tarantelas italianas.
Em linhas gerais, o lme transita entre, e at mesmo imbrica,
um lirismo com uma crtica cida e altiva. No so apenas mazelas que
Sanjins traz tona nesse curta, tambm h uma poesia sinuosa sobre
o povo boliviano, a qual inuenciada pelo posicionamento ideolgico
do mencionado cineasta, pela sua concepo sobre a sociedade
boliviana e sobre o papel a ser cumprido pelos intelectuais e artistas
nessa mesma sociedade. Como denir essa concepo? Romntica?Utpica? Revolucionria?
Apenas me atrevo a armar aqui que ela tudo isso, e, talvez at
um pouco mais. Ela constri um discurso histrico sobre o povo boliviano,
vetado por uma historiograa tradicional e ocial. Sanjins vem de uma
gerao de artistas e intelectuais que acreditava em mudanas, sujeitos
engajados politicamente com a esquerda, e tal engajamento imprimiu
signicados e intenes em suas obras, as quais no esto imunes a
contradies. O prprio Sanjins reconhece que a gerao de artistase intelectuais da qual ele fez parte deparou-se com alguns dos limites
e contradies que cercavam os seus iderios. Acredita que a esquerda
boliviana no conseguiu superar o preconceito, e, devido a isso, a essncia
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
16/18
- 418 -
Cleonice Elias da Silva
da cultura boliviana no foi compreendida, ocorrendo a persistncia da
viso de que o ndio inferior.18
Essa desiluso de Sanjins diante dos projetos de sua gerao
engajada e suas ambies revolucionrias e nacionalistas no desqualica
o papel representado por eles na histria, no apenas do cinema,
mas de outras manifestaes da produo cultural latino-americana.
Marcelo Ridenti (2005: 84) considera que a cultura e a poltica de uma
parte signicativa das esquerdas dos anos 1960 pode ser caracterizada
como romntico-revolucionria, apesar de tal conceito ser dotado de
certa ambiguidade.
O romantismo caracterstico das produes de Sanjins delimita
um novo imaginrio, e atravs deste que o povo conquista um estatuto
dentro da cultura. Para Matn-Barbero, a noo romntica de povo foi
um instrumento positivo para o alargamento do horizonte histrico e da
concepo humana.19Cabe salientar que a categoria povo estrutura-
se dentro de um campo do imaginrio, tal como a ideia de nao. Oslmes de Sanjins, assim como seu posicionamento ideolgico, so de
certa forma, propagadores desses imaginrios.
Essa minha armao, por mais contraditria que possa parecer, no
deslegitima o carter poltico presente e caracterizador da cinematograa
de Sanjins. s vezes iderios romnticos e utpicos so necessrios, eles
so responsveis por grandes transformaes na histria da humanidade.
Apropriando-me das palavras de Sanjins destaco que A humanidade
no pode viver sem utopias.20
18) http://www.youtube.com/watch?v=fXMuRAjXmyE. Consultado em 22/09/2013.
19) BARBERO, Jess Martn (2009),Dos meios s mediaes: comunicao, culturae hegemonia,Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, pp. 36-37.
20) GARCIA, Estevan; NUEZ, Fabian, Entrevista com Jorge Sanjins inRevistaContracampo:Revista de Cinema.Disponvel em: http://www.contracampo.com.br/63/entrevistasanjines.htm. Consultado em 25/09/2013.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
17/18
- 419 -
A cinematografa utpica, romntica e revolucionria de Jorge Sanjins
As contradies, limitaes, entre outros, presentes nos iderios
e nas obras dessa gerao de artista e intelectuais no as desqualicam,
no ofuscam a importncia que elas cumprem, no somente no cenrio
artstico e intelectual, mas tambm no mbito social. Provavelmente,
uma quantia signicativa dessas obras no conseguiu comunicar-se,
tal como pretendiam, com as massas, mas apostaram e assumiram
novas posturas para falar de suas sociedades. As particularidades dessas
posturas ainda esto sendo desvendadas, sobretudo no que refere
cinematograa romntica, utpica e revolucionria de Jorge Sanjins,
ainda, lamentavelmente, pouco conhecida e apreciada entre ns da
Amrica Latina.21
Cabe apenas ressaltar que, assim como defendia Serguei Einsenstein
(1990: 7), a arte conito, a escritura dos sonhos do artista, ela
o conito entre representao de um fenmeno e a sua compreenso
e o sentimento que o artista tem do fenmeno representado. Sendo
assim, a linguagem artstica diferente da linguagem acadmica podefalar sobre as sociedades e seus processos sociais e histricos de forma
despretensiosa, lrica, ccional etc. No obstante, esses aspectos no
reduzem a importncia poltica e crtica cumprida por algumas das obras
produzidas nos diferentes mbitos artsticos. No caso do cinema, alm de
ser nosso objeto de estudo, pode tambm contribuir para a elaborao de
novos aportes para a nossa linguagem historiogrca sem que com isso
ela tenha o seu rigor cientco destitudo. Precisamos incorporar novos
veculos e linguagens para nos expressarmos e comunicarmos com umnmero maior de interlocutores.
21) A dissertao mencionada a seguir analisa a inuncia e os dilogos estabelecidosentre os lmes de Jorge Sanjins e um grupo de cineastas europeus. HANLON, DennisJoseph (2009),Moving Cinema. Bolivias Ukamau and European Political Film, 1966-1989, Dissertao (Mestrado em Estudos Miditicos), Universidade de Iowa.
-
7/24/2019 A CINEMATOGRAFIA UTPICA, ROMNTICA E REVOLUCIONRIA DE JORGE SANJINS
18/18
- 420 -
Cleonice Elias da Silva
(...) podemos nos perguntar agora se o cinema no existe para nosoferecer, a ns, historiadores, novas possibilidades de expresso. Oque poder o cinema ainda ensinar histria, em termos de meios deexpresso que possam renovar nossos recursos expressivos e nossasformas narrativas? (Barros & Nvoa, 2012:9-10).
Referncias Bibliogrcas
BARBERO, Jess Martn (2009),Dos meios s mediaes:
comunicao, cultura e hegemonia, Rio de Janeiro: Editora da
UFRJ.
DOPPENSCHMITT, Elen (2012),Polticas da voz no cinema em
Memrias do subdesenvolvimento,So Paulo: EDUC-FAPESP.
EISENSTEIN, Serguei (1990), A forma do lme, Rio de Janeiro: Jorge
Zahar.
GARCIA, Estevan;NUEZ, Fabian, Entrevista com Jorge Sanjins in
Revista Contracampo: Revista de Cinema.Disponvel em: http://
www.contracampo. com.br/63/entrevistasanjines.htm.
GOMES, Paulo Emlio Salles (1981), Crtica de cinema no Suplemento
Literrio,Vol 2. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
HANLON, Dennis Joseph (2009),Moving Cinema Bolivias Ukamau
and European Political Film, 1966-1989, Dissertao (Mestrado
em Estudos Miditicos), Universidade de Iowa, Iowa.
NVOA, Jorge. BARROS, Jos DAssuno (2012) Cinema Histria Teoria e representao sociais no cinema,3 Ed. Rio de
Janeiro: Apicuri.
PARANAGU, Paulo (1984), Cinema na Amrica Latina: Longe de
Deus e perto de Hollywood, Porto Alegre: L&PM Editores.