estética romântica e o romantismo em portugal

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Estética Romântica: Idealização e arrebatamento. Romantismo em Portugal

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Estética Romântica: Idealização e arrebatamento.

Romantismo em Portugal

Revolução Francesa O dia 14 de Julho de 1789 amanheceu nublado

em Paris, e um multidão composta por guardas, marceneiros, sapateiros, diaristas, escultores, operários, negociantes de vinhos, chapeleiros, alfaiates e outros artesãos pegavam em armas e à força, transformavam em realidade os ideais defendidos pelos filósofos iluministas. A Revolução Francesa havia começado e suas consequencias mudariam toda a Europa e o século das luzes havia chegado ao fim.

A Revolução Francesa dá destaque a uma nova personagem na cena europeia: O POVO.

Os heróis solitários se tornam elementos do passado.

Agora, quem faz a história, pela força de seus braços e pela convicção de seus ideais, é o indivíduo.

Iluminismo Este movimento surgiu na França do século XVII e

defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade.

Os pensadores que defendiam estes ideais acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem. O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé. 

O Romantismo: a força dos sentimentosAté o século XVIII, a arte sempre esteve

voltada para os nobres e seus valores. Quando o burguês conquista o poder político, precisa criar as suas referências artísticas, definir padrões estéticos nos quais se reconheça e que o diferenciem da nobreza deposta. É nesse contexto que o movimento romântico surge, provocando uma verdadeira revolução na produção artística.

O termo Romantismo faz referência à estética definida pela expressão da imaginação, das emoções e da criatividade individual do artista. Representa uma ruptura com os padrões clássicos de beleza.

Projeto literário Romântico

O filósofo que inspirou boa parte dos princípios românticos foi Jean-Jacques Rousseau.

Rousseau afirma que deseja mostrar a seus semelhantes “um homem em toda a verdade sua natureza”

O Projeto Literário do Romantismo: Criar uma identidade estética para o Burguês. Assim, o Romantismo pode ser definido como uma arte da burguesia.

Os agentes do Discurso O contexto de produção modifica-se bastante.

Os escritores românticos, pela primeira vez na história, escrevem para sobreviver.

Por esse motivo, procuram conciliar dois objetivos distintos: divulgar os valores da burguesia e ao mesmo tempo divertir os leitores.

A Burguesia é também o novo contexto de circulação para a literatura. Com a possibilidade de publicação em veículos de grande circulação, como os jornais e revistas, o alcance da literatura se amplia bastante.

O público que lê os textos românticos tem um perfil bem mais heterogêneo do que os públicos de séculos anteriores, que vivia nos salões da corte e no ambiente restrito das academias e das arcádias.

Os burgueses que leem jornais e folhetins não contam com a mesma formação dos nobres. Por isso, preferem uma linguagem mais direta, passional, que não se ligue necessariamente aos padrões da herança literária.

Esse novo perfil de leitor muda a relação entre LEITOR-ESCRITOR.

O escritor vê a necessidade de agradar o seu leitor com histórias que provoquem diversão e entretenimento.

O romântico considera a imaginação superior à razão e à beleza, porque ela não conhece limites.

O Folhetim “O Conde de Monte Cristo” foi publicado em 1860. Seu capítulos eram publicados no Jornal e os leitores ficavam ansiosos pelo próximo capítulo.

A fuga do presente e da realidadeO autor romântico escreve para uma

sociedade que se formou sob a influência dos filósofos iluministas e que, por isso, valoriza os processos racionais e as posturas coletivas, é essa mentalidade que ele deseja mudar e contra a qual se manifesta.

Um dos temas mais explorados pela literatura romântica: a fuga da realidade.

Nesse contexto, a morte passa a ser vista como possibilidade de fuga do real e, por isso, é idealizada. Ela se manifesta como opção de alívio para os males do mundo ou para o encontro definitivo dos amantes, separados pelos obstáculos da realidade.

Além da morte, o mundo dos sonhos torna-se um espaço de fuga para o Romântico. Nele, o escritor projeta suas utopias (pessoais e sociais).

Os temas medievais ressurgem com força total. A Idade Média representa para os românticos uma época em que a sociedade estava repleta de feitos heróicos, sentimentos nobres e harminia.

O nacionalismo é uma das mais importantes características do Romantismo.

Nacionalismo é a consciência partilhada por um grupo de indivíduos que se sente ligado a uma terra e possui uma cultura e uma história comuns, marcadas por eventos (gloriosos ou trágicos) vividos em conjunto.

A transformação política estabeleceu um novo princípio: a soberania não tem existência em si mesma. Ela deriva da nação, do povo como um todo. O indivíduo deixa de se ver como súdito de um rei e torna-se cidadão de uma pátria.

Linguagem: a liberdade formalA linguagem dos textos românticos é

marcada pela liberdade formal. As fórmulas literárias, com rigorosos esquemas métricos e rimas, são abandonadas.

Para expressar o arrebatamento que caracteriza o olhar romântico para a realidade, os escritores recorrem à adjetivação abundante e pontuação.

Nos poemas e romances românticos, o uso de exclamações, interrogações e reticências procura fazer com que o leitor reconheça as emoções, angústias e aflições que tomam conta de quem as expressa.

Portugal: um país sem rei entra em criseNo início do séc. XIX, Portugal precisa

enfrentar uma séria crise político-econômica.

O imperador francês Napoleão Bonaparte decretara o bloqueio continental e exigia que a coroa portuguesa rompesse relações comerciais com a Inglaterra, sua aliada histórica.

A desobediência portuguesa trouxe a certeza da invasão do país pelas tropas francesas.

Para o rei, D. João VI, e sua corte, a única saída era o mar. Toda a corte real foge para o Brasil.

Para a brigar a coroa portuguesa, a colônia é elevada à condição de reino Unido a Portugal e Algarve.

É nesse cenário agitado por crises políticas e econômicas, que a estética romântica chega a Portugal para definir novos temas e dar voz à sociedade que, transformada pela revolução liberal, aos poucos vai se tornando laica.

Os primeiros RomânticosO primeiro poeta romântico foi Almeida

Garrete, que em 1825 publicou o poema “Camões” dividido em dez cantos e escrito em versos decassílabos brancos, apresenta uma espécie de biografia romântica de Camões destacando seus amores com Natércia.

Em 1826, Garrett publica Dona Branca, também de inspiração romântica em que desenvolvia temas medievais e utilizava o folclore nacional em lugar da mitologia clássica.

Folhas Caídas é o último livro de Garrett e dá origem a versos de tom confessional, que impulsionam o romantismo mais explícitos da obra do poeta.

DestinoQuem disse à estrela o caminho Que ela há de seguir no céu?A fabricar o seu ninhoComo é que a ave aprendeu?Quem diz à planta – “Floresce!” – E ao mundo verme que teceSua mortalha de sedaOs fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelhaQue no prado anda a zumbirSe á flor branca ou à vermelhaO seu mel há de pedir?Que eras tu meu ser, querida, Teus olhos a minha vida,Teu amor todo o meu bem...Ai! Não mo disse ninguém.

Como a abelha corre ao prado, Como no céu gira a estrelaComo a todo o ente o seu fadoPor instinto se revela,Eu no teu seio divino Vim cumprir o meu destino...Vim, que em ti só sei viver,Só por ti posso morrer.

Alexandre Herculano: entre o romance e a

históriaAo lado de Almeida Garrett, ele foi o responsável por desenvolver um programa de reconstrução da cultura portuguesa.

Tenta resgatar o passado histórico de Portugal.

Dedica-se a recriar a história portuguesa em romances ficcionais que trazem em comum traços de heroísmo e bravura.

A poesia Herculano, ao contrário dos outros românticos, caracteriza-se pelo tom contido e pelo rigor estrutural.

O que há de romântico em seus poemas é a preocupação em fazer da literatura um espaço de reflexão sobre temas de importância contemporânea: apologia do cristianismo contra a falta de religião iluminista.

A cruz mutilada

(Alexandre Herculano)

Amo-te, ó cruz, no vértice firmada

de esplêndidas igrejas;

Amo-te quando à noite, sobre a campa,

junto ao cipreste alvejas;

Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos,

As preces te rodeiam; [...]

Amo-te, ó cruz, até, quando no vale

negrejas triste e só,

Núncia do crime, a quem deveu a terra

Do assassinado o pó:

Porém quando mais te amo,

Ó cruz do meu Senhor,

É, se te encontro à tarde,

Antes de o sol se pôr.

Na clareira da serra,

Que o arvoredo assombra,

Quando à luz que fenece

Se estira a tua sombra.

E o dia último raios

Com o luar mistura,

E o seu hino da tarde

O pinheiral murmura. [...]

Foi com Herculano que a primeira geração romântica portuguesa conheceu o desenvolvimento máximo de uma de suas características definidoras: a reconstituição do passado como base para a construção de uma identidade nacional.

O fado Na segunda metade do século XIX, surge em 

Lisboa, embalado nas correntes do romantismo, uma melopeia que tanto exprimia a tristeza unânime de um povo e a desilusão deste para com o ambiente instável em que vivia, como abria faróis de esperança sobre o quotidiano das gentes mais desfavorecidas e, mais tarde, penetrava ainda nos salões da aristocracia, tornando-se rapidamente uma expressão musical nacional.

Barco Negro (Amália Rodrigues)

De manhã, que medo, que me achasses feia!Acordei, tremendo, deitada n'areiaMas logo os teus olhos disseram que não,E o sol penetrou no meu coração.[Bis]

Vi depois, numa rocha, uma cruz,E o teu barco negro dançava na luzVi teu braço acenando, entre as velas já

soltasDizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!Eu sei, meu amor,Que nem chegaste a partir,Pois tudo, em meu redor,Me diz qu'estás sempre comigo.[Bis]

No vento que lança areia nos vidros;Na água que canta, no fogo mortiço;No calor do leito, nos bancos vazios;Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

O Ultrarromantismo Português

Palácio da Pena, Sintra, Portugal. Exemplo dos gosto romântico português pelo exótico e pela mistura de estilos.

As crises de natureza política que tanto influenciaram os autores da primeira geração não se farão presentes durante os quase trinta anos em que a segunda geração se manifesta, o que, de certa forma, contribui para explicar o tom bem mais pessoal e particularizado que passa a caracterizar a produção literária.

A 2º geração é marcada pelo exagero sentimental.

Inspirados pela literatura inglesa, por poetas como Lord Byron, que exaltava os sentimentos arrebatadores, ao mesmo tempo em que se imaginavam isolados da sociedade, incompreendidos por defenderem princípios morais e éticos.

Essa imagem do Herói romântico que luta por valores incorruptíveis como a honestidade, o amor, o direito à liberdade povoará a imaginação de incontáveis poetas.

Uma taça feita de um crânio humano

Não recues! De mim não foi-se o espírito...Em mim verás - pobre caveira fria -Único crânio que, ao invés dos vivos,Só derrama alegria.

Vivi! amei! bebi qual tu: Na morteArrancaram da terra os ossos meus.Não me insultes! empina-me!... que a larvaTem beijos mais sombrios do que os teus.

Mais vale guardar o sumo da parreiraDo que ao verme do chão ser pasto vil;- Taça - levar dos Deuses a bebida,Que o pasto do réptil.

Que este vaso, onde o espírito brilhava,Vá nos outros o espírito acender.Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro...Podeis de vinho o encher!

Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,

Quando tu e os teus fordes nos fossos,Pode do abraço te livrar da terra,E ébria folgando profanar teus ossos.

E por que não? Se no correr da vidaTanto mal, tanta dor ai repousa?É bom fugindo à podridão do ladoServir na morte enfim p'ra alguma coisa!...

Lord Byron(Tradução de Castro Alves)

Atualmente podemos encontrar “Ecos” do ultrarromantismo nas culturas GÓTICAS e EMO.

Você pode encontrar mais poemas de Lord Byron no site: http://ladydark-darkness.blogspot.com.br/p/poemas-lord-byron.html

Podemos traçar um paralelo entre o poema de Lord Byron e a música tema do filme “A noiva cadáver”, “Bring Me To Life” da Banda Evanescence, o próprio filme também possui “ecos ultrarromânticos”.

Camilo Castelo Branco

A grande quantidade de romances e novelas publicada por Camilo Castelo Branco dá-nos a justa medida do que significa ser um escritor profissional durante o Romantismo.

Nem todas as obras dele traziam a marca do ultrarromantismo, o escritor alterna entre novelas, em que a tragédia amorosa é o centro do enredo, com outras, beirando a sátira, em que os exageros românticos são ridicularizados. Suas novelas podem ser organizadas da seguinte forma:

Romance-folhetimInspirado nos folhetins escritos por

Eugênio Sue e Alexandre Dumas, focaliza as aventuras de uma personagem misteriosa e dá origem a narrativas múltiplas e a evocações históricas. Ex: Mistérios de Lisboa; Livro negro do padre Dinis.

Romance de amor trágicoHistória de personagem apaixonados cuja

realização amorosa é impedida por obstáculos sociais ou familiares. Ex: Amor de Perdição.

Romance-sátiraCaricatura de um determinado tipo social,

como o burguês ou o provinciano deslocado no grande centro urbano. Ex: Coração, cabeça, estômago; a queda de um anjo; o que fazem as mulheres.

Romance de costumes provincianosNarrativas que focalizam a vida no campo,

caracterizando a realidade local de modo idealizado. Ex: Novelas do Minho; A brasileira de Prazins.

Romance histórico Narrativas ambientadas principalmente no século

XVIII, resgatando alguma figura da história portuguesa. Ex: O Judeu (António José da Silva - Nasceu no Rio de Janeiro foi batizado, mas era de origem judaica, foi vítima da perseguição que dizimou a comunidade dos cristãos-novos do Rio de Janeiro em 1712. Em Lisboa, o dramaturgo e escritor, foi preso pela Inquisição portuguesa junto com a sua a mãe, a tia, o irmão (André) e a sua mulher, Leonor Maria de Carvalho, que se encontrava grávida. Viria a morrer na fogueira às mãos da Inquisição, num auto-de-fé. A sua vida é retratada no filme luso-brasileiro O Judeu (1995).)

Camilo também desenvolveu, em Portugal, um gênero de grande sucesso na Inglaterra: Os romances de mistério, de terror.

O macabro, o enredo complexo, a intriga, a história de separações, reconhecimentos, vinganças, o excessivo e o inverossímil marcam tais narrativas. Ex: Coisas espantosas (1862); O esqueleto (1865); e O demônio do ouro (1874).

Amor de perdição: exemplo máximo do exagero sentimental Foi com as novelas passionais que o talento de

Camilo Castelo Branco atingiu seu ponto máximo.

Ao apresentar histórias de amor impossíveis entre dois jovens, o autor é capaz de contextualizar o enredo de modo a traçar alguns importantes cenários de Portugal.

Geralmente, o impedimento ao amor é de ordem social, motivado pela diferença de classes entre os apaixonados ou por inimizades familiares.

O sofrimentos amoroso é enaltecido, sendo capaz de transformar completamente o caráter das personagens, fazendo com que os jovens amantes sejam envolvidos por uma aura de pureza e abnegação que os santifica.

O final trágico é a sentença final para um amor que transgride os princípios de uma sociedade interesseira e corrupta.

Outro aspecto da novela ultrarromântica é a função desempenhada pela natureza.

Ela será paradisíaca quando vislumbrada pelos amantes em um momento de sonho (jamais como realidade por eles vivida);

Ou soturna, servindo de refúgio final para os desesperados sofredores.

Podemos destacar as novelas passionais de Camilo:

Onde está a felicidade? (1856); Um home de brios (1856); Carlota Angela (1858); Romance de um homem rico (1861), entre outros.

Uma mudança de olhar: mo romance aproxima-se

da realidadeApós a década de 1860, a literatura portuguesa viu surgir uma série de romances em que os traços exagerados da segunda geração romântica não mais predominavam.

As personagens idealizadas cedem lugar a personagens construídas de modo mais cuidadoso, com comportamentos mais bem motivados.

O diálogo intenso é, em alguns casos, substituído pelo monólogo interior, o que contribui para o aprofundamento psicológico das personagens.

O principal autor dessa transformação no romance romântico português é Júlio Diniz.

Júlio Diniz

O tema escolhido por Júlio Diniz é a vida doméstica no campo, ambientada nas casas de pequenos proprietários rurais e lavradores, ou o meio mercantil do Porto.

Essa mudança de cenário narrativo inaugura, em Portugal, o romance de tema contemporâneo, fazendo transição entre o país arcaico retratado nos romances de Camilo Castelo Branco e o Portugal transformado pela revolução liberal e que, aos poucos, vê a sua sociedade ganhar novo perfil.

A obra de Júlio Diniz ilustra a tentativa de aproximação entre uma visão romântica e a realidade que inspira o autor a escrever.

TrabalhoPesquise textos/poemas dos autores que

estudamos até o momento e traga para a sala de aula, você deve treinar a leitura em casa, pois eles serão lidos em um SARAU na próxima aula. Procure passar por meio de sua leitura, toda emoção e sentimento expresso no poema ou texto.

Dica para pesquisa

https://www.facebook.com/asas.leiturahttp://contosdocovil.wordpress.com/catego

ry/lord-byron/http://contosdocovil.wordpress.com/catego

ry/edgar-allan-poe/http://dandaramachado.wordpress.com/20

11/10/22/recordacao-emily-bronte/