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A CIÊNCIA JURÍDICA E A CRÍTICA AO SEU PARADIGMA DOGMÁTICO THE SCIENCE AND CRITICAL TO YOUR LEGAL PARADIGMA DOGMATICS Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini Sanches Edinilson Donizete Machado RESUMO O presente artigo tem por objeto a crítica dirigida à Dogmática Jurídica enquanto paradigma científico do Direito, com o objetivo de demonstrar que esta cumpre outras funções que não a de segurança jurídica declarada em seu discurso oficial. Para tanto discorre sobre a trajetória do pensamento crítico do Direito, passa pela problematização da Dogmática Jurídica e conclui com a crítica aos seus principais pressupostos, principalmente os elaborados pelo positivismo jurídico. O método utilizado para a pesquisa é o indutivo, e a técnica de pesquisa a bibliográfica. PALAVRAS-CHAVES: CIÊNCIA DO DIREITO; POSITIVISMO JURÍDICO; CRÍTICA À DOGMÁTICA JURÍDICA. ABSTRACT This articles is subject to criticism addressed to the Legal Dogmatics as a scientific paradigm of law, aimed at demonstrating that this fulfills other functions than the Legal security official declared in his speech. For this is about the trajectory of critical thinking of the law, is the problematization of Legal Dogmatics and concludes with Their critical prinicipals assumptions, especially those made by legal positivism. The method used for the research is inductive, and the technical research literature. KEYWORDS: JURISPRUDENCE; LEGAL POSITIVISM; CRITICISM TO THE LEGAL DOGMATICS INTRODUÇÃO O presente artigo investiga algumas críticas dirigidas à Dogmática Jurídica enquanto paradigma científico do Direito, com o objetivo de demonstrar que esta cumpre outras funções que não a de segurança jurídica declarada em seu discurso oficial. 322

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A CIÊNCIA JURÍDICA E A CRÍTICA AO SEU PARADIGMA DOGMÁTICO

THE SCIENCE AND CRITICAL TO YOUR LEGAL PARADIGMA DOGMATICS

Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini Sanches Edinilson Donizete Machado

RESUMO

O presente artigo tem por objeto a crítica dirigida à Dogmática Jurídica enquanto paradigma científico do Direito, com o objetivo de demonstrar que esta cumpre outras funções que não a de segurança jurídica declarada em seu discurso oficial. Para tanto discorre sobre a trajetória do pensamento crítico do Direito, passa pela problematização da Dogmática Jurídica e conclui com a crítica aos seus principais pressupostos, principalmente os elaborados pelo positivismo jurídico. O método utilizado para a pesquisa é o indutivo, e a técnica de pesquisa a bibliográfica.

PALAVRAS-CHAVES: CIÊNCIA DO DIREITO; POSITIVISMO JURÍDICO; CRÍTICA À DOGMÁTICA JURÍDICA.

ABSTRACT

This articles is subject to criticism addressed to the Legal Dogmatics as a scientific paradigm of law, aimed at demonstrating that this fulfills other functions than the Legal security official declared in his speech. For this is about the trajectory of critical thinking of the law, is the problematization of Legal Dogmatics and concludes with Their critical prinicipals assumptions, especially those made by legal positivism. The method used for the research is inductive, and the technical research literature.

KEYWORDS: JURISPRUDENCE; LEGAL POSITIVISM; CRITICISM TO THE LEGAL DOGMATICS

INTRODUÇÃO

O presente artigo investiga algumas críticas dirigidas à Dogmática Jurídica enquanto paradigma científico do Direito, com o objetivo de demonstrar que esta cumpre outras funções que não a de segurança jurídica declarada em seu discurso oficial.

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O paradigma dogmático aqui considerado situa-se na circunscrição específica do Direito ocidental de tradição romanística. Este paradigma confere à Ciência Jurídica características especiais em relação a outros campos do saber, condicionando a forma de conhecer e apreender o Direito, uma vez que determina até mesmo o que deve ser entendido como “Direito”.

No que se refere à crítica à Dogmática Jurídica faz-se necessário esclarecer que não se trata de “uma” teoria monolítica e unitária a qual se poderia denominar de Teoria Crítica do Direito, mas, sim, de várias reflexões que questionam o paradigma dogmático da Ciência Jurídica, principalmente no que se refere aos pressupostos das teorias juspositivistas. Em importante obra que traça o panorama histórico do pensamento jurídico crítico no Brasil e em outros países da Europa, América do Norte e América Latina, Antonio Carlos Wolkmer esclarece que “não se pode desconhecer e negar a existência de um pensamento crítico, representado por diversas correntes e tendências. Que buscam questionar, repensar e superar o modelo jurídico tradicional.”[1]

A expressão “crítica” não é unívoca, e tem sido empregada distintamente na filosofia ocidental moderna. No presente artigo será empregado o termo “crítica” no sentido de indicar um conhecimento que não é dogmático, nem permanente, e que existe num contínuo processo de fazer-se e refazer-se a si próprio.[2]

O método utilizado para a pesquisa será o indutivo, e a técnica de pesquisa a bibliográfica.

1 O Paradigma Dogmático da Ciência do Direito

A Dogmática Jurídica é uma forma de conhecimento teórico e prático acerca do “Direito” predominante no mundo europeu e espalhado pelo mundo em virtude do colonialismo e após o advento do Estado Moderno. Caracteriza-se pela “aceitação da normatividade revelada nas expressões semiológicas do direito, em especial no discurso normativo da legislação, como ponto de partida e núcleo de convergência dos respectivos atos de conhecimento.”[3]

Em suma, trata-se de um saber que irá eleger a norma jurídica como o seu objeto de estudo científico, e não irá além dela. Consubstancia-se num tipo de conhecimento que tem por objeto o direito identificado nas normas jurídicas.

Segundo Tércio Sampaio Ferraz JR., quando hoje se fala em Dogmática Jurídica, a tendência é identificá-la com uma técnica utilizada por profissionais do Direito no desempenho imediato de suas funções ou, então, com o conteúdo dos livros didáticos e Manuais dirigidos para o consumo cada vez mais massificante do Ensino Jurídico.[4]

Porém, segundo este autor, o processo de definição dos contornos da Dogmática Jurídica é antigo, iniciando-se com a jurisprudentia dos romanos, caracterizada por uma forma de solução de conflitos a partir de fórmulas generalizadoras a serem adotadas por decisão de autoridade nos casos concretos. Depois, na idade média, sobretudo com os

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glosadores, a esta técnica romana é acrescentada uma forma de pensar específica com a interpretação eminentemente exegética dos textos romanos. Já nos séculos XVII e XVIII os jusnaturalistas racionalistas irão substituir a crença nos textos romanos pelos princípios da razão que deveriam ser investigados e sistematizados para a sua correta aplicação. No entanto, para Tércio:

foi no século XIX que as grandes linhas mestras da Dogmática Jurídica se definiram. A herança jurisprudencial, a herança exegética e a herança sistemática converteram-se na base sobre a qual erigiu-se a Dogmática Jurídica, tal qual a conhecemos hoje, à qual o século XIX acrescentou a perspectiva histórica e social. [5]

A concepção dogmática de Direto configura-se, assim, paulatinamente, na Europa continental do século XIX, como convergência de um conjunto de processos parciais e conseqüentes que estão na base da modernidade, dentre os quais Luis Fernando Coelho destaca uma forma específica de organização social: o Estado Moderno, um sistema econômico: o capitalismo, e uma filosofia: o positivismo.[6] Neste sentido também José Eduardo Faria considera um conjunto de fatores importantes: a) a consolidação de um conceito moderno de ciência; b) a identificação entre os conceitos de direito e lei positiva, num primeiro momento, e entre direito e sistema conceitual de ciência, num segundo momento; c) a separação entre teoria e práxis, e a conseqüente afirmação de um modelo de saber jurídico como atividade prioritariamente teórica, avalorativa e descritiva; d) a superação das antigas doutrinas de direito natural; e) a ênfase à segurança jurídica como certeza de uma razão abstrata e geral, resultante de um Estado soberano, com a subseqüente transposição da problemática científica aos temas da coerência e completude da lei em si mesma.[7]

Assim, segundo Vera Andrade:

No paradigma dogmático convergem, pois, uma matriz epistemológica (saber) e uma matriz política (poder) e diversos processos a ambas relativos, de forma que ele é tributário tanto do discurso cientificista quanto do discurso estatalista-legalista do século XIX, encontrando-se geneticamente vinculado à promessa epistemológica de edificação de uma Ciência do Direito e, na culminação de seu desenvolvimento, à promessa funcional de racionalização da práxis jurídica típica do Estado Moderno.[8]

O termo “paradigma” é aqui utilizado no sentido que lhe imprimiu Thomas Kuhn: “um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade científica partilham. E, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que compartilham um paradigma”.[9]

Neste sentido, a autoridade de um enunciado científico para se afirmar como verdadeiro, está, na realidade, em sua capacidade de gerar consenso no âmbito de uma dada comunidade. O consenso sobre um enunciado científico obtido dentro da comunidade científica depende do fato de que sua elaboração tenha seguido os critérios de demarcação estabelecidos no âmbito desta comunidade.

Em suma: um determinado raciocínio ou argumento não é considerado como ‘científico’ por ser resultante da aplicação global de um método qualquer, mas sim por ser produto da aplicação de modelos e enfoques consensualmente aceitos, o que o singulariza como evidente, verdadeiro e certo.[10]

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Um paradigma implica uma visão de mundo articulado sob a forma de explicações científicas, eles determinam quais problemas serão investigados, quais dados deverão ser considerados, quais técnicas de pesquisa deverão ser utilizadas e que tipos de soluções são admitidos. “Os paradigmas impedem as discussões intermináveis em torno de problemas improdutivos e insolúveis, razão pela qual acabam estabelecendo o sentido do limite e o limite do sentido das atividades científicas. [11]

Neste sentido, a Dogmática Jurídica, ainda que tenha seu estatuto de cientificidade questionado até os nossos dias, “ao aparecer como uma espécie de catálogo, de supostos de fatos típicos destinados a servir de base à tarefa construtiva da Ciência do Direito, a dogmática jurídica certamente constituiu o que há de mais paradigmático no âmbito do pensamento normativo moderno.”[12]

2 O Pensamento Crítico do Direito e sua Evolução

O início das críticas ao Direito deu-se no final dos anos 60 e consolidou-se ao longo dos anos 70. Segundo Antonio Carlos Wolkmer, isto ocorreu pela influência, sobre juristas europeus, de idéias provindas do economicismo jurídico soviético, da releitura gramsciana da teoria marxista feita pelo grupo de Louis Althusser, da teoria crítica frankfurtiana e das teses de Michel Foucault sobre o poder.[13] Essas idéias projetavam para o campo do Direito investigações interdisciplinares que “desmistificavam a legalidade dogmática tradicional e introduziam análises sociopolíticas do fenômeno jurídico, aproximando mais diretamente o Direito do Estado, do poder, das ideologias, das prática sociais.”[14]

O pensamento crítico encontra-se, segundo Luis Alberto Warat, integrado por uma linguagem, ou contralinguagem, que, mesmo sem constituir um corpo sistemático de categorias, “forma um conglomerado de significações, de esboços políticos e teoréticos, em ordem de produzir um conhecimento do Direito e do Estado, entendidos como elementos constituintes e constituídos pelas relações sociais.”[15]

A manifestação das críticas não se deu de forma única, mas por várias tendências ou correntes. Na Europa destaca-se o “Uso alternativo do Direito” na Itália e Espanha e a “Association Critique du Droit” na França. Nos Estados Unidos o movimento crítico foi denominado de “Critical Legal Studies”[16].

O “Uso Alternativo do Direito” constitui-se na Itália como um movimento teórico-prático formado por professores universitários, advogados e magistrados; logo após difundiu-se entre os juristas e magistrados espanhóis. A idéia central do movimento é de uma aplicação diferente do direito positivo vigente, explorando as contradições e crises do próprio sistema para um uso mais democrático do Direito, voltado para uma prática judicial emancipadora dirigida às classes sociais menos favorecidas.[17]Considerando o Direito como um instrumento social e político entendiam que ele poderia ser utilizado contra as finalidades do próprio sistema que o instituiu.[18]

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No pensamento francês, a Association Critique du Droit, formada principalmente por professores universitários de Direito, irá propor uma teoria jurídica de referencial metodológico baseado no materialismo histórico, aproximando-a da ciência política e opondo-a ao individualismo formalista e ao positivismo normativista.[19] O movimento, além de buscar introduzir um novo discurso a partir de uma nova teoria jurídica, também se preocupou com a questão do ensino e a pesquisa jurídica, voltando-se contra o ensino dogmático das Faculdades de Direito tradicionais.[20]

Nos Estados Unidos, o pensamento crítico destacou-se por meio do movimento Critical Legal Studies, marcado pelas características típicas das especificidades do direito americano. Foi fundado em 1977 por um grupo de professores e especialistas nas diversas áreas das ciências humanas[21] com o objetivo de, submetendo o direito à investigação histórica, filosófica, política e sociológica, revelar as contradições lingüísticas e axiológicas da doutrina e da prática jurídicas, demonstrando o seu grau de envolvimento com as relações de poder e com as ideologias dominantes. Denunciam, também, a falácia da neutralidade e imparcialidade dos juizes na prática judicial.[22]

Na década de 80, o pensamento crítico alcançou a América Latina, principalmente a Argentina, o México, o Chile, a Colômbia e o Brasil. Por sua importante influência no pensamento crítico latino americano, cabe destacar a ALMED (Associação Latino Americana de Metodologia e Ensino do Direito), criada em 1974 por juristas argentinos e brasileiros. A associação congregou juristas e professores universitários preocupados em desmistificar todo o sistema de ensino e pesquisa jurídicos. Buscam, a partir daí, a denúncia e redefinição das formas de produção da ciência jurídica.[23]

No Brasil, dentre os pensadores críticos, destacam-se, sem prejuízo de outros, os trabalhos de Roberto Lyra Filho, em conjunto com José Geraldo de Souza Jr, da Universidade de Brasília com o Direito Achado na Rua. As pesquisas de Cláudio Souto na área de sociologia jurídica e também de José Eduardo Faria, da Universidade de São Paulo e os trabalhos iniciados na Universidade Federal de Santa Catarina, por Luiz Fernando Coelho e Luis Alberto Warat. Principalmente no campo jurisdicional ganhou destaque a corrente chamada “Direito Alternativo” iniciada pelo Juiz Amilton Bueno de Cravalho no Rio Grande do Sul.

É importante ressaltar também o trabalho de Miguel Reale na Universidade de São Paulo, que apesar de não ser considerado crítico, desenvolveu importante teoria que transcende a visão parcial do Direito realizada pelo positivismo jurídico estrito. A teoria tridimensional do Direito de Miguel Reale, considera como componentes do jurídico além da norma jurídica, o fato e o valor.

3 A Problematização da Dogmática Jurídica

Como já afirmado, o pensamento crítico não se apresenta como uma corrente unitária, porém como discursos aproximados, que compartilham alguns postulados fundamentais, ou seja, “desvinculavam-se do positivismo jurídico, do jusnaturalismo e do realismo sociológico, fazendo deles objetos de sua crítica”[24]. Assim,

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Ainda que se reconheça a impropriedade e/ou inexistência de uma “teoria crítica jurídica” geral, acabada e científica, não se poderá mormente desconsiderar a significação do “pensamento crítico” como expressão mais autêntica da insatisfação de grandes parcelas de juristas e doutrinadores acerca da predominante formulação científica do Direito e de suas formas de legitimação dogmática.[25]

Para realizar a crítica à concepção dogmática da ciência Jurídica, será utilizado aqui a expressão cunhada por Warat que, ao voltar seus estudos críticos para a Ciência Jurídica e sua epistemologia, bem como observando o Ensino Jurídico no Brasil e o tipo de ciência praticado em nossas Faculdades, criou a expressão “sentido comum teórico dos juristas” ou, como mais tarde ficou conhecida: “senso comum teórico dos juristas”.[26] Segundo a sua definição,

Os juristas de profissão sempre se encontram ‘condicionados’, em suas práticas cotidianas, por um conjunto de representações, imagens, noções baseadas em costumes, metáforas e preconceitos valorativos e teóricos, que governam seus atos, suas decisões e suas atividades. A esse conjunto dou o nome de ‘sentido comum teórico dos juristas’, lembrando que ele funciona como um arsenal ideológico para a prática cotidiana do direito. Em outras palavras, trata-se de um complexo de saberes éticos vividos como diretrizes – ou seja, como pautas que disciplinam o trabalho profissional dos juristas, regulando sua atividade advocatícia, judicial e teórica. [27]

No campo epistemológico do sentido comum teórico dos juristas, Warat coloca as teorias jurídicas positivistas, considerando-as um complexo de saberes acumulados, apresentados pelas práticas jurídicas institucionais que, em conjunto com “representações funcionais provenientes de conhecimentos morais, teológicos, metafísicos, estéticos, políticos, tecnológicos, científicos, epistemológicos, profissionais e familiares, que os juristas aceitam em suas atividades diárias“,[28]irão formar o sentido comum teórico dos juristas.

Assim, as teorias jurídicas positivistas serão criticadas aqui como uma das partes que compõem o senso comum teórico dos juristas, na medida em que, a dogmática jurídica acolhe, em suas formulações, o repertório das teorias juspositivistas para, a partir delas, elaborar uma dupla racionalização: do ordenamento jurídico abstratamente considerado e de sua aplicação.[29]

A racionalidade do ordenamento jurídico é fundamentada exatamente pelas teorias juspositivistas da norma jurídica, de sua fonte e do ordenamento jurídico. Enquanto que a racionalidade da sua aplicação é obtida mediante as teorias positivistas sobre hermenêutica jurídica.

Apesar de não constituírem objeto desta análise, é importante dastacar as críticas que têm sido elaboradas pela análise semiológica dos signos que compõem o discurso da Ciência Jurídica, com objetivo de revelar a sua carga valorativa.[30]Outra importante crítica ao Direito vem das correntes psicanalíticas que analisam as relações entre os homens e a lei.[31]

O limite do presente trabalho circunscreve-se à crítica dirigida às teorias juspositivistas que buscam racionalizar o ordenamento jurídico na sua concepção abstrata idealizada pela Ciência Jurídica em seu paradigma dogmático. Neste sentido, a crítica será dirigida

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à teoria kelseniana, no que se refere à sua concepção do objeto da Ciência Jurídica, e às teorias da norma jurídica e do ordenamento jurídico desenvolvidas por Kelsen, uma vez que, conforme lembra Vieira, ele “está consciente de que as decisões individuais não são uma pura aplicação dos preceitos gerais e abstratos da lei.”[32]

O que ocorreu foi que, no campo epistemológico, a tese juspositivista de que o único objeto da Ciência Jurídica são as normas jurídicas emanadas do Estado, foi incorporada pelo paradigma dogmático e, segundo Andrade, “a partir deste axioma fundamental (Direto = Lei) se desenvolvem as suas crenças teóricas básicas sobre os conceitos de Direito, norma, fontes de Direito, ordenamento jurídico e atividade científica e judicial.”[33]

A Dogmática Jurídica acrescenta às teorias positivistas a postura de acatamento irrestrito das normas jurídicas, o que limita o jurista à interpretação neutra e objetiva destas normas, e o juiz à aplicá-la neutra e imparcialmente. Tudo dentro de um processo lógico-dedutivo que garantiria a previsibilidade das decisões judiciais e a conseqüente segurança jurídica.

Neste sentido, a corrente que tem sido denominada na atualidade de pós-positivista, e que trabalha com a idéia de superação do Direito como um modelo de regras, como querem as teorias juspositivistas, para um modelo de regras e princípios, tem fornecido importante material para uma nova Hermenêutica Jurídica[34], na medida em que considera os princípios que norteiam os ordenamentos jurídicos, evidenciando o fator moralidade que todo fenômeno jurídico possui. Por outro lado, para a análise da aplicação dos princípios é necessário estudar cada caso concreto, com todas as suas implicações, fazendo com que a tarefa de aplicação do Direito não seja tão abstrata quanto no modelo de regras.

O modelo de Direito como regras e princípios pode se revelar como proposta interessante e viável no sentido da superação do paradigma dogmático de Ciência Jurídica, porém este estudo ultrapassa os limites do presente trabalho.

4 A Crítica aos Principais Pressupostos da Dogmática Jurídica

O Direito e a Dogmática Jurídica na sociedade moderna foram abordados por Coelho em sua Teoria Crítica como ideologias. Para o autor, a ideologia foi considerada em dois estratos de manifestação, como ideologia interna, e como ideologia externa. [35]

A ideologia interna do Direito diz respeito às concepções jurídicas desenvolvidas no mundo ocidental a partir do modelo europeu e que foram absorvidas pelo senso comum teórico dos juristas. Trata-se do estatuto científico do direito, como dogmática, e do próprio fenômeno jurídico considerado como direito positivo.[36]

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Nesse sentido os dogmas do direito, enquanto apresentados pela ciência jurídica tradicional de maneira objetiva, isto é, enquanto objetos separados do sujeito cognoscente, que é o intérprete e aplicador da lei, não passam de mitos.[37]

A primeira crítica, portanto, dirigida neste trabalho à dogmática jurídica, diz respeito à sua cientificidade, o que conduz à questão da própria crítica à noção moderna de ciência.

Em relação ao conhecimento científico, o pensamento crítico, ou melhor dizendo, a epistemologia crítica, revela que este não pode ser puro reflexo do objeto real que está sendo conhecido, como afirmam os positivistas, uma vez que “toda pesquisa criadora é um trabalho de construção de conhecimentos novos, mas uma construção ativa, engajada, e não uma simples captação passiva da realidade.”[38]

Assim, o ato de conhecer um objeto é um ato de construir, de forma que o “dado não é dado: é construído.”[39] Ele não é simplesmente verificado, pois é impossível reduzir a realidade aos modelos que a interpretam. Segundo Bachelard, o dado é reconstruído e o processo de conhecimento é sempre um processo de reconstrução que exige sempre a constante retificação dos erros do passado.[40]

Isto ocorre porque a relação sujeito cognoscente e objeto cognoscível não é uma relação neutra e objetiva, com também afirmam os positivistas. O sujeito, quando se dirige a um objeto, fá-lo levando consigo todo um conhecimento acumulado, todo o seu referencial valorativo, teórico e metodológico. Desta forma, é o “sujeito que constrói o seu próprio objeto.”[41]

Por tais razões, Popper entende que a teoria científica é sempre provisória, ou seja, é aceita provisoriamente, estando destinada a ser permanentemente superada e retificada.[42]

Nesta linha de raciocínio, Agostinho Marques Neto afirma que o grau de maturidade de uma ciência será proporcional à sua capacidade de autoquestionar-se, colocando sempre em xeque seus próprios princípios, pois o que caracteriza a ciência é a provisoriedade e refutabilidade de suas asserções. “As asserções ‘inabaláveis’ e ‘irrefutáveis’ não são proposições científicas, mas dogmáticas.”[43]

De qualquer forma, o principal defeito das diversas correntes positivistas é a crença de que o sujeito simplesmente capta as características do objeto “quando na realidade elas só são encontráveis neste objeto por efeito da ideologia que as nomeia em seu discursos.”[44]

Quando procurou elaborar uma Ciência para o Direito que fosse “pura”, neutra e objetiva, Kelsen “escolheu” a norma jurídica como seu objeto. A partir da construção de um método próprio – imputação – Kelsen definiu, inclusive, o que se deveria entender por norma jurídica e, a partir dele, esboçou um sistema de conceitos elaborados a partir de enunciados sobre o material normativo, segundo procedimentos intelectuais (lógico-formais) de coerência interna. Construiu, desta forma, o seu objeto “Direito” a partir do conceito de “norma jurídica”, identificando-os.

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Saliente-se aqui que Kelsen efetuou uma “escolha” de seu objeto e, por este motivo, Warat direciona sua crítica ao princípio da pureza metódica, que é o núcleo do pensamento kelseniano, na medida em que este é absorvido pelo senso comum teórico dos juristas, denunciando as suas implicações epistemológicas e conseqüências práticas para a vida do Direito.[45]

Para Warat a teoria Pura do Direito buscou utilizar-se dos critérios epistemológicos do positivismo científico por acreditar “exageradamente que o ideal das ciências sociais se cumpre quando elas aproximam tanto quanto possível, os seus resultados do ideal de toda ciência: objetividade e exatidão.”[46] Devido a isto, Kelsen deu tamanha importância à pureza metodológica, cujo postulado fundamental constitui o ponto de partida e a coluna vertebral de sua teoria.

Além da problemática sobre o termo “ciência” que a acompanha desde o sei início, outra crítica direcionada à dogmática jurídica diz respeito ao seu estatuto de cientificidade. Este foi-lhe negado várias vezes durante o seu processo de consolidação. Dentre as críticas que recebeu cabe destacar aqui a que se referiu especificamente ao seu objeto, desqualificando-a como teoria científica devido a sua mutabilidade e contingência.

Neste sentido, é emblemática a famosa conferência de Kirchmann intitulada “A Jurisprudência não é Ciência” proferida em Berlim em 1847. Segundo Kirchmann, “enquanto a ciência faz do contingente seu objeto, ela mesma se faz contingências: três palavras retificadoras do legislador convertem bibliotecas inteiras em lixo.”[47]

A Dogmática encontrou, portanto, dificuldades para se consagrar como conhecimento científico dentro da concepção positivista de ciência, uma vez que aquela não se baseia no princípio da causalidade que rege as ciências da natureza e as sociais explicativas.

A saída para este dilema epistemológico da Ciência Jurídica foi apontada por Kelsen, o que o levou a consagrar-se, segundo Coelho como “o mais importante marco de referência do dogmatismo positivista e logicista do saber jurídico contemporâneo.”[48]

Para Kelsen a pureza metódica é o que garante as condições de positividade de uma Ciência Jurídica em sentido estrito e, desta forma, a Teoria Pura se apresenta “como um programa para a elaboração de um saber jurídico autônomo e autosuficiente, um conhecimento baseado em uma análise metodologicamente imanente, que exclui a referência de fatores e saberes extrajurídicos.”[49] Conseqüentemente, segundo os limites metodológicos da Teoria Pura, carece de sentido para a Ciência Jurídica toda e qualquer questão que não possa ser situada a partir das normas jurídicas válidas.[50]

A partir de Kelsen, a Ciência do Direito passou a ter por objeto o Direito Positivo vigente em um dado tempo e espaço e, devido à conjunção da dogmática jurídica com o positivismo jurídico, a dogmática jurídica passou a se identificar com a Ciência do Direito.

Assim, o jurista já encontra o seu objeto de estudo construído e o acata dogmaticamente. O dogmatismo da Ciência Jurídica significa, portanto, uma atitude de aceitação e submetimento acrítico do jurista ao estabelecido como Direito Positivo, independentemente do seu conteúdo material.[51] A esta dogmatização do material

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normativo Ferraz JR. denomina de “princípio da proibição da negação” ou da “inegabilidade dos pontos de partida das cadeias argumentativas.”[52]

A inegabilidade dos pontos de partida significa que um argumento só será juridicamente aceitável se estiver baseado em uma norma do ordenamento jurídico, uma vez que é esta que constitui o dogma. Adeodato lembra que isto não significa que não se pode rejeitar esta ou aquela norma jurídica, porém só se pode fazê-lo com base em outra norma jurídica.[53]

A objetividade e a neutralidade são valores fundamentais para a metodologia kelseniana, que lhes nega o caráter ideológico, conforme denunciado pela epistemologia crítica. Porém “a partir desta negativa, Kelsen pretende situar a ciência como um conjunto de enunciados sem enunciadores, em uma relação fatal de alienação.”[54]

Outra importante crítica dirigida à Dogmática Jurídica diz respeito à sua excessiva abstração. Na verdade o que ocorre com a Dogmática jurídica é uma dupla abstração; a primeira ocorre quando a norma jurídica nasce a partir de uma realidade social para, em seguida, abstrair-se desta; a segunda ocorre quando a Dogmática elabora uma teoria desta norma, mas não da norma em sua aplicação no mundo dos fatos, mas da norma enquanto objeto de sua ciência, ou seja, elabora sua teoria sobre um material abstrato, num grau de abstração ainda maior. “A Dogmática, transformando-se assim em abstração da abstração, vai preocupar-se, por exemplo, com a função das classificações, com a natureza dos conceitos, etc.”[55]

A tentativa de desideologizar a sua ciência mediante a objetividade, a abstração e a neutralidade axiológica, levaram Kelsen a buscar condições objetivas de validade para o Direito Positivo, negando a possibilidade de subordiná-la a elementos valorativos. Isto o levou ao rechaçamento peremptório das doutrinas de Direito Natural que fundamentam a validade do Direito em critérios metafísicos.

Buscando encontrar um critério anti-metafísico de validade para o Direito Positivo dentro da sua própria positividade, Kelsen criou o postulado da norma fundamental gnoseológica. Ela estabelece, com exclusividade, as condições para a validade objetiva das normas jurídicas e para o reconhecimento dos enunciados da Ciência Jurídica.[56]

Segundo Warat, por trás desta máscara purificadora há uma mensagem de confiança na neutralidade das normas estatais. “Assim, frente às relações de força conflitivas da sociedade, o Estado surge na Teoria Pura como vigia imparcial que salvaguarda a paz social.[57]

Na verdade, ao fundamentar a validade do ordenamento jurídico na norma fundamental, identificando legalidade com legitimidade, Kelsen impõe à teoria jurídica uma idéia de legitimidade aparentemente neutra e utilitária mas que, em realidade, “fundamenta a obrigação de obediência à ordem jurídica e política” [58], seja ela qual for.

Silencia, desta forma, quanto a aspectos importantes do dualismo Política-Direito e sobre o papel que ambos os domínios cumprem como fatores co-determinantes da organização da sociedade.[59]

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Esta questão remete à outra manifestação ideológica do Direito e da Dogmática Jurídica apontada por Coelho, a ideologia externa. Do ponto de vista desta ideologia, a manifestação do Direito e da Ciência Jurídica no âmbito social se “cristaliza num conjunto mais ou menos articulado de crenças, ou numa filosofia, religião e mesmo num sistema pretensamente científico” [60] Esta manifestação revela-se como ideológica na medida em que se fundamenta em dois pressupostos básicos, por sua vez também ideológicos: a exclusão, como não-jurídicas, de outras ordens normativas que não sejam o Direito Positivo e a atribuição ao estado do monopólio da elaboração e aplicação das leis.[61]

Para as teorias juspositivistas o Estado é a única fonte do Direito válido. Este monismo[62] das fontes do Direito, no entendimento de Warat, serve para organizar o consenso em torno do monopólio da força, emprestando-lhe um caráter racional. O monopólio da coerção, legitimado pela lei, sustenta, permanentemente, as técnicas do poder. Por outro lado, o Direito positivo, racionalmente concebido, é condição da existência de um determinado tipo de organização da sociedade. Ora, estes dois efeitos são obtidos, por sua vez, mediante o efeito de racionalidade que o saber das normas lhes empresta. O saber jurídico deve, assim, ser visto como um fator co-constituinte da instância jurídica da sociedade.[63]

Assim, o Direito Positivo, mediante a legitimação que lhe dá a Dogmática Jurídica, se mantém como instrumento de ocultação da estrutura real da sociedade, na medida em que manipula o imaginário social no sentido de manter como legítima a distribuição de quotas de poder na sociedade, evidentemente, assegurando os privilégios dos segmentos que detêm os instrumentos de produção e distribuição das riquezas sociais, bem como de gozo dos respectivos benefícios.”[64]

Portanto, difundir a ideologia adotada pelos grupos detentores do poder é uma das funções da Dogmática Jurídica[65], uma vez que “na atividade dogmática está implícita uma adesão formal ao sistema legislado que se expressa mediante a recomendação de que o Direito seja aplicado e obedecido tal como é.”[66]

Outro dogma sustentado pela Ciência Jurídica, é o da sistematicidade do ordenamento jurídico que o concebe como um sistema lógico-analítico, composto por normas jurídicas hierarquicamente dispostas a partir da norma fundamental, com características de coerência e completude.

As críticas a estas características fundamentais do ordenamento jurídico têm apontado que elas são ideológicas, uma vez que o ordenamento jurídico não forma um sistema fechado e coerente como afirmam as teorias positivistas, mas sim, está cheio de lacunas e de antinomias.[67]

A afirmação sobre a não-existência de lacunas no ordenamento jurídico baseia-se no princípio positivista de que “o que não está proibido está permitido”. Ocorre que nas sociedades modernas e complexas existe uma série de condutas que não estão previstas pela ordem jurídica, colocando em xeque a completude do ordenamento. Devido à exigência de que o juiz emita uma decisão para o caso concreto – princípio do non liquet – os profissionais que trabalham com a aplicação do Direito deparam-se com lacunas constantemente.

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Por outro lado, normas contraditórias existem no ordenamento em grande número. Em um ordenamento jurídico como o brasileiro, por exemplo, onde se pode encontrar inúmeras normas jurídicas, as antinomias também são lugar comum.

Conclui Coelho que a ideologia interna e externa cumpre duas funções primordiais:

a primeira, é a de fundamentar, com a aparência de cientificidade, a imagem do direito como algo que existe e que deve ser aceito porque está aí, pois sempre existiu e sempre existirá; a segunda, é fundamentar a idéia de que o direito é intrinsicamente bom no plano ético.[68]

Por fim, resta analisar criticamente a idéia difundida de que a Dogmática é uma ciência prática e que serviria para impor a ordem dentro da sociedade, a partir da resolução dos conflitos nos casos concretos.

A questão de ser a Dogmática uma ciência prática tem remetido muitos autores a qualificá-la como uma “técnica”. Porém, concordo com Coelho quando afirma que “a distinção entre a ciência e a técnica do direito, (...) é tão somente para discernir entre os atos de pura cognição, dos de pura execução, os quais configuram a atividade prática do jurista.” Na verdade, esta fronteira é muito tênue, pois “toda atividade prática definida como técnica se apóia num conjunto de princípios definidos como ciência, e toda ciência desemboca numa técnica, em algo útil para o homem.” No caso particular do Direito os “aspectos científico e técnico se entrelaçam sob a equívoca denominação de dogmática jurídica.” [69]

Feitos os devidos esclarecimentos, cumpre destacar que, de fato, a função precípua que a Dogmática Jurídica se auto-atribui é a de desenvolver um sistema de conceitos sobre as normas, com a finalidade de garantir a maior uniformização e previsibilidade possível das decisões judiciais e, conseqüentemente, uma aplicação igualitária do Direito que garantiria a segurança jurídica.[70]Neste sentido, “a Dogmática exerce a tarefa de (re)conhecimento e delimitação das possibilidades do próprio Direito Positivo”[71]

Segundo Adeodato, estimular a crença na racionalidade de seu sistema decisório é uma das principais tarefas da Dogmática Jurídica: “para isso, camufla eficientemente seu aspecto necessariamente arbitrário através de princípios prefixados – pela própria dogmática escolhidos e manipulados – dos quais a decisão parece fluir racionalmente, sem ser opressiva.”[72]

Para tanto, a Dogmática abstrai os conflitos da problemática social, econômica e política na qual estão inseridos e tenta neutralizá-los, tornado-os “abstratos, interpretáveis, definíveis e decidíveis juridicamente”[73]

Desta forma, a Dogmática Jurídica não elimina o conflito com a sua decisão, apenas o neutraliza do ponto de vista jurídico, ou seja, ela “apenas trabalha os meios para que a lide (decidida como coisa julgada, por exemplo) perca sua plausibilidade jurídica: o conflito permanece (...) mas não pode mais ser alegado em termos jurídico-dogmáticos.”[74]

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Ao transformar relações sociais determinadas em relações imaginárias e neutralizar os conflitos sociais mediante uma estratégia de “individualização, atomização e dispersão das clivagens”, a Dogmática tem-se julgado eximida de discutir questões socioeconômicas, políticas e culturais dos modelos e instrumentos que utiliza.[75]

Nesta linha de raciocínio, a sua neutralidade ideológica é, de fato, um efeito das teorias juspositivistas que lhe permitirá situar-se como “instância orientadora das decisões do judiciário mas, como Ciência neutra e distanciada dos conflitos reais”[76] Com esta idéia a Dogmática acaba “apresentando como descrição o que na verdade é prescrição” [77] Ou seja, na realidade a Dogmática não se limita somente a um enfoque sistemático, neutro, objetivo e determinado das questões fundamentais da Ciência do Direito, “ela também representa uma atitude ideológica que lhe serve de base e um ethos cultural específico.”[78]Segundo o entendimento de Faria,

O resultado desse conhecimento alienante é conhecido: a formação de uma conjunto de idéias gerais, proposições falsamente científicas, juízos éticos e pontos de vista hegemônicos, todos contribuindo para a consolidação de um discurso aparentemente objetivo e técnico, ideologicamente depurado e capaz de provocar efeitos de realidade e coerência, de projetar uma dimensão harmoniosa das relações sociais e de justificar a imposição de um padrão específico de dominação com base na “natureza das coisas” [79].

A Dogmática também influi decisivamente na definição dos “verdadeiros” problemas da Ciência do Direito e nos seus possíveis equacionamentos,[80] não se resumindo a descrever o Direito Positivo, mas sim “prescrever o que há de ser considerado como direito.”[81]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O principal escopo do presente estudo foi o de demonstrar o quanto a Ciência Jurídica reduz o seu objeto de estudo ao identificar o Direito com a norma válida. O pensamento crítico e as correntes utilizadas, ainda que desenvolvidas nas décadas de setenta e oitenta, permanecem válidos para desconstruir o edifício dogmático da Ciência Jurídica.

A crítica da Dogmática Jurídica, enquanto ideologia demonstrou que se trata de uma ciência comprometida com o cumprimento e a obediência do Direito vigente, visto como um Direito justo independentemente de seu conteúdo, ou seja, é justo porque é legal.

Por sua vez a análise funcional demonstrou que a Dogmática Jurídica não se limita a uma atividade de conhecimento descritiva e nem ideologicamente neutra, como defende Kelsen, mas realiza uma atividade prescritiva.

Por fim, conclui-se que a dogmática jurídica não realiza a sua promessa de segurança jurídica, mas sim reveste de legalidade a decisão judicial que põem termo ao processo e não ao conflito social.

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[1] WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 21.

[2] WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 04.

[3] COELHO, Luiz Fernando. Teoria Crítica do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 177.

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[4] FERRAZ JR, Tércio Sampaio.A Função Social da Dogmática Jurídica. São Paulo: Max Limonad, 1998, p. 07.

[5] FERRAZ JR, Tércio Sampaio.A Função Social da Dogmática Jurídica. São Paulo: Max Limonad, 1998, p. 10 – 11.

[6] COELHO, Luiz Fernando. Teoria Crítica do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 195.

[7] FARIA, José Eduardo. A Noção de Paradigma na Ciência do Direito: notas para uma crítica ao idealismo jurídico. IN: FARIA, José Eduardo (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: Unb, 1988. p. 17.

[8] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996. p. 26.

[9] KUHN, Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. Tradução por Beatriz Viana Boeira e Nelson Boeira. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 219.

[10] FARIA, José Eduardo. A Noção de Paradigma na Ciência do Direito: notas para uma crítica ao idealismo jurídico. IN: FARIA, José Eduardo (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: Unb, 1988. p. 22.

[11] FARIA, José Eduardo. A Noção de Paradigma na Ciência do Direito: notas para uma crítica ao idealismo jurídico. IN: FARIA, José Eduardo (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: Unb, 1988. p. 21.

[12] FARIA, José Eduardo. A Noção de Paradigma na Ciência do Direito: notas para uma crítica ao idealismo jurídico. IN: FARIA, José Eduardo (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: Unb, 1988. p. 22.

[13] Ver a respeito: FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 2 ed. Tradução por Roberto Machado. Rio de janeiro: Graal, 1981.

[14] WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 16

[15] WARAT, Luis Alberto. A Produção Crítica do Saber Jurídico. IN: PLASTINO, Carlos Alberto (org). Crítica do Direito e do Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1985.

[16] COELHO, Luiz Fernando. Teoria Crítica do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey. 2003. p. 308 e segs.

[17] WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 41.

[18] COELHO, Luiz Fernando. Teoria Crítica do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey. 2003. p. 309.

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[19] WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 36.

[20] COELHO, Luiz Fernando. Teoria Crítica do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey. 2003. p. 311.

[21] WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 36.

[22] COELHO, Luiz Fernando. Teoria Crítica do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey. 2003. p. 315.

[23] WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 75.

[24] WARAT, Luis Alberto. PÊPE, Albano Marcos bastos. Filosofia do Direito: uma introdução crítica. São Paulo: Editora Moderna, 1996. p. 65.

[25] WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao Pensamento Jurídico Crítico. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. XIV.

[26] WARAT, Luís Alberto. O Sentido Comum Teórico dos Juristas. IN: FARIA, José Eduardo. (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: UnB, 1988. p. 31 – 42.

[27] WARAT, Luís Alberto. O Sentido Comum Teórico dos Juristas. IN: FARIA, José Eduardo. (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: UnB, 1988. p. 31.

[28] WARAT, Luís Alberto. O Sentido Comum Teórico dos Juristas. IN: FARIA, José Eduardo. (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: UnB, 1988. p. 39.

[29] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: livraria do Advogado, 1996. p 69.

[30] Ver a respeito: SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Lingüística Geral. Tradução por Antonio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix; WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua Linguagem. 2 ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris editor, 1995.

[31] Ver a respeito: LEGENDRE, Pierre. O Amor do Censor: ensaio sobre a ordem dogmática. Tradução por Aluísio Menezes, Potiguara Mendes da Silveira Jr. Rio de Janeiro: Aoutra Editora, 1983.; MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. “Neoliberalismo: o direito na infância. IN: Trata-se uma Criança. Rio de janeiro: Companhia Freud, 1999. E também ___ “Subsídios para Pensar a Possibilidade de Articular Direito e Psicanálise”. IN: RODRIGUES, Horácio Wanderlei. (org) O Direito no Terceiro Milênio. Canoas: Ulbra, 2000; PHILIPPI, Jeanine N.Elementos para a Compreensão da Lei: uma abordagem a partir da leitura cruzada emtre direito e psicanálise. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

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[32] VIEIRA, Oscar Vilhena. A Constituição e sua Reserva de Justiça: um ensaio sobre os limites materiais ao poder de reforma. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 189.

[33] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: livraria do Advogado, 1996. p 67.

[34] Ver a respeito: DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002. VIEIRA, Oscar Vilhena. A Constituição e sua Reserva de Justiça: um ensaio sobre os limites materiais ao poder de reforma. São Paulo: Malheiros, 1999. p 197 e ss. ZAGREBELSKY, Gustavo. El Derecho Dúctil: ley, derechos, justicia. Madrid: Editorial Trotta, 2002. ALEXY, Robert. Teoría de los Derechos Fundamentales. Madrid: Centro de estudios Políticos y Constitucionales, 2002.

[35] COELHO, Luis Fernando. Teoria Crítica do Direito 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 341.

[36] COELHO, Luis Fernando. Teoria Crítica do Direito 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 349

[37] COELHO, Luis Fernando. Teoria Crítica do Direito 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 351.

[38] MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A Ciência do Direito: conceito, objeto, método. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 13.

[39] MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A Ciência do Direito: conceito, objeto, método. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 15.

[40] Ver a respeito: BACHELARD, Gaston. A Epistemologia. Lisboa: Edições 70, 2001.

[41] MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A Ciência do Direito: conceito, objeto, método. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 14.

[42] POPPER, Karl. A Lógica da pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, 2001.

[43] MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A Ciência do Direito: conceito, objeto, método. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 49.

[44] MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A Ciência do Direito: conceito, objeto, método. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 19.

[45] COELHO, Luis Fernando. Apresentação. IN: WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 13.

[46] WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 31.

[47] KIRCHMANN,J.H. Von. La Jurisprudencia no es Ciencia. Tradução por Antonio Truyol Serra. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1986. p 29.

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[48] COELHO, Luis Fernando. Apresentação. IN: WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 13.

[49] WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 32.

[50] WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 118.

[51] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: livraria do Advogado, 1996. p 74.

[52] FERRAZ JR. Tércio Sampaio. Função Social da Dogmática Jurídica. São Paulo: Max Limonad, 1998. p. 96.

[53] ADEODAO, João Maurício. Ética e Retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 215.

[54] WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 44.

[55] FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Função Social da Dogmática Jurídica. São Paulo: Max Limonad, 1998.p. 13.

[56] WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 59.

[57] WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 90.

[58] WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 91.

[59] WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 43.

[60] COELHO, Luis Fernando. Teoria Crítica do Direito 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 341.

[61] COELHO, Luis Fernando. Teoria Crítica do Direito 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 344.

[62] Ver a respeito: WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: fundamentos de uma nova cultura no Direito. São Paulo: Alfa Omega, 2001.

[63] WARAT, Luis Alberto. A Pureza do Poder: uma crítica da teoria jurídica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. p. 45.

[64] COELHO, Luis Fernando. Teoria Crítica do Direito 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 343

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[65] ADEODAO, João Maurício. Ética e Retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 34.

[66] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 73.

[67] COELHO, Luis Fernando. Teoria Crítica do Direito 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 402.

[68] COELHO, Luis Fernando. Teoria Crítica do Direito 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 359.

[69] COELHO, Luis Fernando. Teoria Crítica do Direito 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 162.

[70] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 79.

[71] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 80.

[72] ADEODAO, João Maurício. Ética e Retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 34..

[73] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 82.

[74] ADEODAO, João Maurício. Ética e Retórica: para uma teoria da dogmática jurídica. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 33..

[75] FARIA, José Eduardo. A Noção de Paradigma na Ciência do Direito: notas para uma crítica ao idealismo jurídico. IN: FARIA, José Eduardo. (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: UnB, 1988. pp. 13 – 30. p. 18.

[76] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 85.

[77] FARIA, José Eduardo. A Noção de Paradigma na Ciência do Direito: notas para uma crítica ao idealismo jurídico. IN: FARIA, José Eduardo. (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: UnB, 1988. p. 13 – 30. p. 17.

[78] FARIA, José Eduardo. A Noção de Paradigma na Ciência do Direito: notas para uma crítica ao idealismo jurídico. IN: FARIA, José Eduardo. (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: UnB, 1988. p. 13 – 30. p. 17.

[79] FARIA, José Eduardo. A Noção de Paradigma na Ciência do Direito: notas para uma crítica ao idealismo jurídico. IN: FARIA, José Eduardo (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: Unb, 1988. p. 26.

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[80] FARIA, José Eduardo. A Noção de Paradigma na Ciência do Direito: notas para uma crítica ao idealismo jurídico. IN: FARIA, José Eduardo (org). A Crise do Direito numa Sociedade em Mudança. Brasília: Unb, 1988. p. 26.

[81] ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica: escorço de sua configuração e identidade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 83.

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