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Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação social Boaventura de Souza Santos Luciane I. Ely Luis Righi Maria Beatriz C. Bertoja Ricardo Rambo

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Renovar a Teoria Críticae Reinventar a Emancipação

social

Boaventura de Souza Santos

Luciane I. ElyLuis Righi

Maria Beatriz C. BertojaRicardo Rambo

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UMA NOVA CULTURA POLÍTICA EMANCIPATÓRIA E PARA UMA DEMOCRACIA DE

ALTA INTENSIDADE

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“Eu só quero é ser feliz...”

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Da regulação social à emancipação social

“A ciência moderna consagrou o homem enquanto sujeito epistêmico, mas expulsou-o, tal como a Deus, enquanto sujeito empírico. Um conhecimento objetivo, factual e rigoroso não tolerava a interferência dos valores humanos ou religiosos. Foi nesta base que se constituiu a distinção dicotômica sujeito/objeto.” (Santos, 1987, p.50)

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Os três capítulos

• 1º Plano epistemológico

• 2º Fundamentos da produção teórica nas ciências sociais e sua base cultural

• 3º Transformações sociais pela democracia de alta intensidade

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O argumento central

Há uma reinterada tensão e crise entre a regulação e a emancipação social e entre a experiência e as expectativas na sociedade moderna ocidental.

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“Se fecharmos os olhos e os voltarmos a abrir, verificamos com surpresa que os grandes cientistas que estabeleceram e mapearam o campo teórico em que ainda hoje nos movemos viveram ou trabalharam entre o século XVIII e os primeiros vinte anos do século XX, de Adam Smith, Ricardo a Lavoisier e Darwin, de Marx e Durkheim a Max Weber e Pareto, de Humboldt e Planck a Poincaré e Einstein.

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De tal modo é assim que se torna possível

dizer que em termos científicos vivemos

ainda no século XIX e que o século XX

ainda não começou nem talvez comece

antes de terminar”. (Santos,1987)

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O que Deleuze quer da Educação?

• Quer um currículo aventureiro, que não proponha gestos a serem reproduzidos, a serem reconhecidos. Ele nunca diz faça como eu faço, mas convida a fazer juntos.

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“Quem vem por lá, no meio da neblina? Quem entra sem bater, sem se anunciar, sem dizer o nome próprio? Quem chega ao jardim de infância da educação? As crianças assustam-se, pois, veem, é um homem de saúde frágil, a quem frequentemente falta ar. Elas gritam por socorro, ao olharem suas unhas longas, não aparadas, que protegem a falta de impressões digitais. As crianças perguntam: - O que ele vem fazer aqui? O que quer da educação? Cometerá

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violências contra a educação, ao fazê-las aprender a pensar sem imagens e a desaprender o que já aprenderam? Quem ele acha que é, para vir se meter com elas, até agora tranquilamente fixadas em formas essenciais e saturadas por definições substanciais? Quanto atrevimento por parte de quem nunca atribuiu à infância qualquer valor, enquanto fonte do sujeito, origem do sentir e do pensar adultos! Quanta invasão de quem jamais deu qualquer importância

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à infância-arquivo, à criança-lembrança ou ao infantil traço universal, por privilegiar somente um devir-criança do mundo! Que ousadia a desse homem intrometer-se na educação, justamente ele que, enquanto aluno, foi uma nulidade na escola...” (Sandra Corazza)

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O que Boaventura quer dizer ao colocar “Uma nova cultura Política

emancipatória”?

• Reinventar a teoria crítica de acordo com nossas necessidades de hoje;

• Propor o conhecimento emancipação como contra proposta do conhecimento regulação;

• Propor o conhecimento de autonomia solidária como contra proposta do colonialismo – capitalismo;

• Propor para o conhecimento emancipatório, uma ecologia de saberes.

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O que se aprende vale o que se desaprende ou se esquece?

• Porque ecologia de saberes é o que se pode aprender sem esquecer os próprios conhecimentos

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“Pelas relações entre a ciência e a virtude, pelo valor do conhecimento ordinário ou vulgar que criamos e usamos – como sujeitos individuais e coletivos – para dar sentido às nossas práticas e que a ciência teima em considerar irrelevante, ilusório e falho: e temos de perguntar pelo papel de todo o conhecimento científico no enriquecimento ou empobrecimento prático das nossas vidas, ou seja, pela contribuição positiva ou negativa da ciência para nossa felicidade.” (Rousseau)

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Desafios propostos por Boaventura

• Reinvenção de possibilidades emancipatórias – utopia crítica;

• Como fazer o silêncio falar de forma que produza autonomia?

O silêncio denuncia aspirações improferíveis

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• No diálogo intercultural deve produzir uma luta contra duas frentes:– Política de hegemonia– Política de identidade absoluta (universalismo

/ incomensurabilidade);

• A busca de outra metodologia de saber, ensinar e aprender;

• A ação científica é diferente da análise científica das consequências dessa ação:– Saber-se um sujeito contextualizado de sua

cultura,

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– Saber ter uma distância crítica da realidade,– Saber a diferença entre objetividade e

neutralidade.

• O desenvolvimento de subjetividades rebeldes contra o conformismo;

• Além da dimensão racional há dimensões críticas, crenças, fé, emoção, desejos;

• A busca de quadros teóricos e políticos para saídas de enganos, fugindo de uma celebração de que não há nada além;

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• A possibilidade de criar uma epstemologia do Sul, atento para:– Colonialismo social ou cultural,– Colonialidade do poder,– Sul imperial e anti-imperial;

• É preciso criar o Sul contra-hegemônico e o pós-colonialismo, cuja ideia pontua que das margens se veem melhor as estruturas de poder e compreender que o centro está nas margens, escapando, às vezes de toda a nossa análise.

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• nessa concepção o colonialismo são todas as trocas, todos os intercâmbios, as relações em que uma parte mais fraca é expropriada de sua humanidade. É a privatização da Humanidade.

• para tanto, há que se ficar atento à Sociologia das ausências e do Procedimento da Tradução, como tentativa de se criar uma epstemologia do Sul.

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“A distinção dicotômica entre ciências naturais e ciências sociais deixou de ter sentido e utilidade. Esta distinção assenta numa visão mecanicista da matéria e da natureza a que contrapõe, com pressuposta evidência, os conceitos de ser humano, cultura e sociedade.” (Santos, 1987)

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Níveis para renovar a Teoria Social e Política

• concepção mais ampla de poder e de opressão:– Espaço-tempo doméstico, o poder é

patriarcado,– Espaço-tempo da produção, o poder é

exploração,– Espaço-tempo da comunidade, o poder é

diferenciação desigual,– Espaço estrutural do mercado, o poder é

fetichismo das mercadorias,

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– Espaço-tempo da cidadania, o espaço público, o poder é dominação,

– espaço-tempo mundial, o poder é desigual.

A parcelização e a disciplinação do saber científico fazem do cientista um ignorante

especializado e os efeitos são profundamente negativos. Para Santos, os males da parcelização do conhecimento e o reducionismo arbitrário são hoje

reconhecidos, mas a solução para esse problema acaba por reproduzir o modelo

existente.

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Como trabalhar as formas de poder:

• modos de produção de poder e de saber;

• percepção da lógica de desenvolvimento como forma de se criticar a razão indolente;

• tentativa para uma nova teoria política e uma democracia radical de alta intensidade;

• democratização de todos os espaços;

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• emancipação a partir do respeito da igualdade e do reconhecimento da diferença, mas tratar as diferenças iguais;

• uma contra-proposta ao sistema de desigualdade e ao sistema de desigualdade e ao sistema de exclusão, novamente com saídas na sociologia das ausências;

• opressão, princípio de igualdade e reconhecimento da diferença na prática relacional entre inconformismo, rebeldia, revolução e transformação social;

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• a luta contra hegemônica é conviver e entrar em conflito com o internacionalismo da globalização neoliberal;

• trabalho teórico e político no processo de desnacionalização, como contrariar as imposições externas e a regulação social;

• há necessidade de se produzir teorias e práticas transescalares, que as escalas locais possam articular com escalas nacionais e globais.

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• estamos em um contexto no qual a legalidade, direitos humanos e democracia são realmente instrumentos hegemônicos, portanto, não serão por si mesmo processos de emancipação social, seu papel, ao contrário, é de impedi-la.

A alternativa é a grande proposta de uma ecologia de saberes.

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“Ao contrário do que sucede no paradigma atual, o conhecimento avança à medida que o seu objeto se amplia, ampliação que, como a árvore, procede pela diferenciação e pelo alastramento das raízes em busca de novas e variadas interfaces.” (Santos, 1987)

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• Todo conhecimento emancipatório visa constituir-se em senso comum: “Um indígena dos Andes com frequência é analfabeto. Significa que é inculto? Nada disso. É um homem imerso numa cultura própria, arcaica, sem dúvida, que não se desenvolveu, mas que ele soube conservar e lhe permitiu viver intergrado e em solidariedade com outros homens como ele, relacionar-se com o passado e com a terra que trabalha, que o dotou de forças espirituais para resistir a todo tipo

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de adversidades, desde a exploração até as catástrofes naturais. Embora analfabeto, esse camponês é certamente mais culto que universitários que embora saibam ler e escrever, vivem intelectualmente de modo precário, repetindo ideias que aceitaram de forma mecânica e que, por isso mesmo, em vez de servi-lhes para conhecer a realidade na qual vivem, divorciam-nos dela” (Mário Vargas Llosa)

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A reinvenção da emancipação social para uma sociedade mais justa

• Se os instrumentos hegemônicos podem ser utilizados de maneira contra-hegemônica;

• Se podemos desenvolver um conceito contra-hegemônico de legalidade, de direitos humanos e de democracia;

• Se podemos encontrar ambições e sementes de coisas novas a fim de poder trabalhar nas culturas e formas políticas marginalizadas e oprimidas.

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Para uma democracia de alta intensidade

“É democrática somente uma sociedade na qual ninguém seja tão pobre que tenha que se vender, nem ninguém seja tão rico que possa comprar alguém” Rousseau

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A questão das condições da democracia

• Democracia só se fazia possível em um pequeno pedaço do mundo;

• Tensão crítica entre democracia e capitalismo, evidenciando na metáfora do contrato social uma luta por uma inclusão;

• Mas, o capitalismo não gosta de redistribuição e cria-se a tensão criativa entre regulação e emancipação que é: epistemológica, teórica e política;

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• Pensar o Estado como solução e a sociedade como o problema, clareia dois processos: socialização da economia e a politização do Estado.

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A politização do Estado vai constituir na produção de:

• Identidade nacional;

• Bem-estar individual e coletivo;

• Segurança individual e coletiva;

• Soberania nacional.

Mas, apenas um modelo de democracia sobrevive: a democracia liberal representativa.

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Mas também perdemos a diversidade de formas democráticas alternativas. E a tensão entre capitalismo e democracia desaparece para dar lugar a uma democracia que não produz redistribuição social, mas destrói.

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O que acontece com a falta de redistribuição social?

• A discrepância entre experiência e expectativa sofre um colapso;

• Sociedade é apenas receber salário no fim do mês, é a expectativa estabilizada;

• Emerge uma nova forma de fascismo. Não é um regime político é um regime social;

• Não é um contrato social, mas um contratualismo individual, é o fascismo contratual;

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• A sociedade civil passa a ser a solução e o Estado passa a ser o problema;

• Com o Estado ineficiente há um desdobramento: a desnacionalização do Estado e a desestatização da regulação social;

• Aparece o problema da relação entre reguladores e não regulados: os regulados são os reféns dos reguladores.

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O que devemos saber para desafiar a reinvenção de uma

prática e de uma teoria política:

• Consagra-se o direito mas desconsidera-se direitos sociais e políticos;

• A emergência de um Constitucionalismo global prevalecendo leis nacionais e violando as mesmas;

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• A democratização de baixa intensidade que exemplifica como uma proposta contrária é aquilo que Rousseau dizia, que é democracia somente uma sociedade na qual ninguém seja tão pobre que tenha que se vender, nem ninguém seja tão rico que possa comprar alguém;

• Estamos longe do ideal democrático de Rosseau.

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Propósitos da tese central de Boaventura neste seminário:

• Reinventar a demodiversidade – relação entre democracia representativa e participativa; análise rigorosa da democracia de baixa intensidade.

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Para construir alternativas contra a Democracia de baixa intensidade, há

que se rever:

• O mercado econômico, onde os valores se transformam em preços;

• O mercado político, que faz o intercâmbio dos valores sem preços, mas criam-se ideias políticas e ideologias;

• Com a confusão entre mercado econômico e político, se naturaliza a corrupção;

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• Aqui vai aparecer a democracia representativa como autorização e como prestação de contas;

• Há autorização, mas não há prestação de contas;

• A autorização entra em crise por meio de duas patologias: a representação, onde os representados não se sentem representados e a da participação que seria a desvalorização do voto.

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Condições fundamentais para o poder participar:

• Sobrevivência garantida;

• Ter um mínimo de liberdade;

• Ter acesso à informação;

• Saber que, todas as formas de democracia participativa têm também elementos de representação.

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Condições para efetuação da complementaridade entre

Representação e Participação

• Relação entre Estado e movimentos sociais, entre partidos e movimentos sociais e dos movimentos sociais entre si;

• Mas não devemos esquecer que existe uma situação totalmente hostil à complementaridade;

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• Isso significa que a dificuldade dessa articulação entre democracia representativa e participativa é que, na primeira há o domínio pelos partidos, e a segunda, é dominada pelos movimentos sociais e associações;

• É preciso vencer fundamentalismos.

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Como desafiar a perda do controle da agenda política?

• Por movimentos populares;

• Por meio de uma dialética entre o que deve ser legal e ilegal;

• A soma de uma luta institucional com uma luta direta;

• Abrir espaços para possibilidades de uma luta direta, ilegal e pacífica.

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Como buscar outra cultura política como pluralidade despolarizada?

• União entre teoria e prática;

• Uma relação entre as possibilidades de curto prazo e as incertezas de longo prazo;

• Ir contra um extremismo dentro do pensamento crítico: a crença de que o sujeito histórico é classe operária, e que outros acreditam que é massa;

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• Criticar formas de organizações e formas espontâneas, assim como fazer crítica sobre ideias de tomar o poder ou ignorá-lo;

• A grande questão é: encontrar uma via na qual não importa se é tomar ou não o poder, mas transformá-lo, sabendo-se que não consta na agenda política uma transformação global.

Essa é uma situação que traz em si toda a tensão e oportunidade criativa que temos para poder construir uma alternativa democrática.

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Como sair disso para o novo?

• Partindo dos conflitos e transformando os termos do conflito;

• Um exemplo de luta cultural entre os índios, mostrando o caminho da autodeterminação à autonomia;

• Enfim, incentivando e criando pluralidades despolarizadas;

• Então fica claro neste texto, que o início se concretiza pela epistemologia a partir

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das ecologias dos saberes e finaliza-se com as pluralidades despolarizadas.

É importante saber que o lado político de uma epistemologia dos saberes é a incompletude de propostas políticas e a necessidade de uní-las sem uma teoria geral.

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Mas afinal, o que significa pluralidades despolarizadas?

• Sobretudo uma necessidade de uma inteligibilidade, uma articulação coletiva de ações cada vez maior. Tudo isso requer:– Procedimento de tradução;– Resultados de uma argumentação como base

das funções interpretativas da hermenêutica;– Passar da tolerância ao respeito mútuo e

recíproco, sem esquecer um jeito de se pensar que possa configurar a lógica da paciência da utopia.

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Boaventura Sousa Santos nos lembra que vivemos numa democracia minguada e cada vez menos participativa, pois se torna incomoda para os centros de decisão que são entidades opacas e que estão muito longe dos cidadãos.Na democracia os cidadãos escolhem os seus governantes nos atos eleitorais, porém, atualmente as esferas de decisão transcendem os próprios governantes porque os verdadeiros decisores são os investidores naquilo a que, comumente, se chama o poder oculto dos mercados.

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Música: Até Quando? (Gabriel Pensador)

• http://www.youtube.com/watch?v=yJZh4JfWo8U

Vídeo feito por estudantes do 1o semestre de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC) para a conclusão do trabalho sobre DEMOCRACIA da cadeira de Ciência Política em 2007.2

Música: Gabriel Pensador - Até QuandoVideos: Extraídos do YoutubeImagens: Google ImgsEdição: Artur Pequeno e Andrei Serra

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Palestras de Boaventura

Diálogos Globais - O Sentido da Democracia:https://mail.google.com/mail/?shva=1#search/boaventura/13b1bb0a63db8785

Democracia de alta intensidade:

http://www.youtube.com/watch?v=I1G8gdbOY34

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Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores- Geraldo Vandré

Caminhando e cantandoE seguindo a cançãoSomos todos iguaisBraços dados ou nãoNas escolas, nas ruasCampos, construçõesCaminhando e cantandoE seguindo a canção

Vem, vamos emboraQue esperar não é saberQuem sabe faz a horaNão espera acontecer

Pelos campos há fomeEm grandes plantaçõesPelas ruas marchandoIndecisos cordõesAinda fazem da florSeu mais forte refrãoE acreditam nas floresVencendo o canhão

Há soldados armadosAmados ou nãoQuase todos perdidosDe armas na mãoNos quartéis lhes ensinamUma antiga lição:De morrer pela pátriaE viver sem razão

O sucesso de uma canção que incitava o povo à resistência levou os militares a proibi-la, durante a Ditadura Militar, usando como pretexto a "ofensa" à instituição contida nos versos "Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição / de morrer pela pátria e viver sem razão".

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Herdeiro da Pampa Pobre- Gaúcho da FronteiraMas que pampa é essa que eu recebo

agoraCom a missão de cultivar raízesSe dessa pampa que me fala a estóriaNão me deixaram nem se quer matizes?

Passam as mãos da minha geraçãoHeranças feitas de fortunas rotasCampos desertos que não geram pãoOnde a ganância anda de rédeas soltas

Se for preciso, eu volto a ser caudilhoPor essa pampa que ficou pra trásPorque eu não quero deixar pro meu filhoA pampa pobre que herdei de meu pai

Herdei um campo onde o patrão é reiTendo poderes sobre o pão e as águasOnde esquecidos vive o peão sem leisDe pés descalços cabresteando mágoas

O que hoje herdo da minha grei chiruaÉ um desafio que a minha idade afrontaPois me deixaram com a guaiaca nuaPra pagar uma porção de contas

...refrão

Eu não quero deixar pro meu filhoA pampa pobre que herdei de meu paiEu não quero deixar pro meu filhoA pampa pobre que herdei de meu pai

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O colono - Teixeirinha• Eu vi um moço bonito, numa rua principal

Por ele passou um colono, que trajava muito malO moço pegou a rir, faz ali um carnavalResouvi fazer uns versos, pra este fulano de tál.

Não ri seu moço daquele colonoAgricultor que ali vai passandoAdimirado com o movimentoDesconfiado la vai tropicandoEle não veio aqui te pedir nadaSão ferramentas que ele anda comprandoEle é digno do nosso respeitoDe sol a sol vive trabalhandoNão toque frauta, não chame de grossoPra ti alimentar, na roça esta lutando.

Se o terno dele não esta na modaNão é motivo pra dar gargalhadaEste colono que ali vai passandoÉ o brasileiro da mão calejadaSe o seu chapeu é da aba comprida