a ciência da auto-realização

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  • 8/3/2019 A Cincia da Auto-realizao

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    Sua Divina GraaA. C. BhaktivedantaSwami PrabhupadaFUNDADOR ACARYA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONCIENCIA DE KRISHNA

    Prlogo

    Desde o comeo, eu senti que Sua Divina Graa A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada era a pessoa mais extraordinria que eu j havia encontrado. O primeiro encontro ocorreu no vero de 1966, na cidade de Nova Iorque. Um amigo tinha me convidado para ouvir uma palestra de um velho swami indiano na parte baixa do Bowery em Manhattan.Tomado de curiosidade por um swami que dava palestras em meia a tremenda confuso, fui at l, onde tive que enfrentar uma escadaria muito escura. Um som rtmico semelhante ao de um sino tornava-se cada vez mais alto medida que eu subia as escadas. Finalmente, cheguei ao quarto andar. Abri a porta, e l estava ele.A cerca de cinco metros de onde eu estava, na outra extremidade de um quarto estreito e escuro, ele estava sentado sobre um pequeno estrado, com o rosto e a veste aafroada radiantes sob uma luz tnue. Ele era idoso, por volta de sessenta anos,pensei eu, e sentava-se com as pernas cruzadas numa postura erecta e solene. Ti

    nha a cabea raspada, e seu rosto vigoroso e avermelhados culos de aro de clxon davam-lhe a aparncia de um monge que passara a maior parte da vida absorto em estudos. Mantinha os olhos cerrados e cantava suavemente uma simples orao em snscrito enquanto tocava um tambor de mo. A pequena audincia o acompanhava a intervalos, respondendo a seu canto. Alguns tocavam cmbalos de mo, os quais reconheci pelos sons semelhantes aos de sino que ouvira. Fascinado, fiquei sentado quieto, atrs; tentei participar no canto e esperei.Aps alguns instantes, o swami comeou a dar sua palestra em ingls, aparentemente baseado em um imenso volume em snscrito que se encontrava sua frente. Ocasionalmente, ele citava alguma passagem do livro, mas a maior parte das vezes citava de memria. O som do idioma era belo, e ele seguia cada passagem com explicaes meticulosamente detalhadas.Ele parecia um erudito, seu vocabulrio intricadamente ornamentado com termos e fr

    ases filosficas. Os elegantes gestos com as mos e as animadas expresses faciais adicionavam um considervel impacto a seu discurso. O Assunto foi o mais srio que eu jamais tinha ouvido: Eu no sou este corpo. No sou um indiano... vocs no so americanos. todos ns somos almas espirituais...Aps a palestra, algum deu-me um panfleto impresso na ndia. Uma foto mostrava o swami dando trs de seus livros ao Primeiro Ministro indiano, Lal Bahadur Shastri. A legenda citava o Sr. Shastri dizendo que todas as bibliotecas do governo indianodeviam encomendar os livros: Sua Divina Graa A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupadaest fazendo um trabalho grandioso, dizia o Primeiro Ministro em outro trecho, e seus livros so contribuies significativas para a salvao da humanidade. Eu adquiri cpias livros, que, como fiquei sabendo, o swami havia trazido consigo da ndia. Aps leras orelhas da capa dos livros, o pequeno panfleto e vrios outros textos, comecei

    a compreender que acabara de me encontrar com um dos mais respeitados lderes espirituais da ndia.Mas no podia entender por que um cavalheiro to distinto estava morando e dando palestras no Bowery, o pior dos piores lugares. Ele era certamente bem educado e, ajulgar pelas aparncias, havia nascido em aristocrtica famlia indiana. Por que estava vivendo em tal pobreza? O que no mundo o havia trazido ali? Uma tarde, algunsdias depois, voltei para visit-lo e descobrir os porqus.Para minha surpresa, Srila Prabhupada (como posteriormente vim a cham-lo) no estava muito atarefado para conversar comigo. De fato, ele parecia estar disposto a conversar o dia todo. Ele foi caloroso e amigvel, e explicou-me que havia aceitadoa ordem de vida renunciada na ndia em 1959, e que no lhe era permitido carregar ou ganhar dinheiro para suas necessidades pessoais. Ele tinha completado seus estudos na Universidade de Calcut muitos anos atrs e tinha tido famlia, e depois deixa

    ra seus filhos mais velhos encarregados da famlia e dos assuntos financeiros, como prescreve a antiga cultura vdica. Aps aceitar a ordem renunciada, ele conseguirauma passagem de graa em cargueiro indiano (o Jaladuta da Companhia de Navegao Scin

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    dia) atravs de um velho amigo da famlia. Em setembro de 1965, ele acabara de atravessar por mar de Bombaim a Boston, equipado com apenas o equivalente a sete dlares em rpias, um ba de livros e algumas roupas. Seu mestre espiritual, Sua Divina Graa Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, incumbira-o de transmitir os ensinamentos vdicos ao mundo ocidental. E foi por isso que, aos sessenta e nove anos de idade,ele viera para a Amrica. Disse-me que queria ensinar aos americanos a msica, culinria, idiomas e diversas outras artes da ndia. Sem querer exagerar, eu estava espan

    tado.Vi que Srila Prabhupada dormia sobre um pequeno colcho e que suas roupas estavampenduradas em cordas na parte de trs do quarto, onde secavam ao calor da tarde devero. Ele prprio as lavava e cozinhava sua prpria comida em um engenhoso utenslio que ele fabricara com suas prprias mos na ndia. Neste aparato de quatro nveis ele cozinhava quatro preparaes de uma vez s. Amontoados por toda a sua volta, havia uma quantidade aparentemente ilimitada de manuscritos. Ele passava quase todo o tempoem que estava acordado cerca de vinte horas em vinte e quatro, como fiquei sabendo datilografando em sua antiquada mquina porttil a continuao dos trs volumes que eadquirira. Era uma obra projetada em sessenta volumes chamada Srimad-Bhagavatam,e era, por assim dizer, a enciclopdia da vida espiritual. Desejei-lhe boa sortena publicao, e ele me convidou a voltar para as aulas de snscrito aos sbados e para

    suas palestras noturnas s segundas, quartas e sextas. Eu aceitei o convite, agradeci-lhe, e sa, maravilhado com sua incrvel determinao.Algumas semanas mais tarde era julho de 1966 tive o privilgio de ajudar Srila Prabhupada a mudar-se para uma vizinhana um tanto respeitvel, na Segunda Avenida. Alguns amigos e eu nos juntamos e alugamos uma loja de andar trreo e um apartamentode segundo andar, o qual dava para os fundos de um ptio, tudo no mesmo prdio. As palestras e cantos continuaram, e dentro de duas semanas uma congregao que cresciarapidamente cuidava da loja (que agora se transformara em templo) e do apartamento. Por essa poca, Srila Prabhupada estava ensinando seus seguidores a imprimir edistribuir panfletos, e o proprietrio de uma gravadora de discos o havia convidado a gravar um LP do canto Hare Krishna. Ele o fez, e foi um grande sucesso. Emseu novo endereo, ele ensinava canto, filosofia vdica, msica, meditao com japa, belasartes e culinria. A princpio, ele prprio cozinhava ele sempre ensinou pelo exemplo

    . O resultado era as mais admirveis refeies vegetarianas que eu jamais experimentei

    . (O prprio Srila Prabhupada era quem servia tudo que preparava!) Geralmente, asrefeies consistiam de um tipo de arroz, um prato de legumes, capatis (pes achatadosfeitos de farinha integral) e dal (uma sopa bem temperada de feijo mung ou ervilha). A condimentao, o elemento bsico para cozinhar ghi, ou manteiga clarificada e aconcentrada ateno na temperatura apropriada para cozinhar e outros detalhes tudoisso combinava-se para produzir deleites de paladar totalmente desconhecidos para mim. A opinio de outras pessoas sobre a comida, chamada prasada (a misericrdia doSenhor), concordava enfaticamente com a minha. Um assistente social que tambm eraerudito em lngua chinesa estava aprendendo com Srila Prabhupada a pintar no estilo clssico indiano. Fiquei impressionado com a alta qualidade de suas primeiras telas.Em debates filosficos e lgica, Srila Prabhupada era inderrotvel e infatigvel. Ele interrompia seu trabalho de traduo para ter discusses que s vezes chegavam a durar oito horas. s vezes sete ou oito pessoas comprimiam-se no pequeno e imaculadamente limpo cmodo onde ele trabalhava, comia e dormia sobre uma almofada de espuma de duas polegadas de espessura. Srila Prabhupada constantemente enfatizava e exemplificava o que chamava de vida simples com pensamento elevado. Ele enfatizava que a vida espiritual era cincia provvel atravs da razo e da lgica, e no mera questo de seentalismo ou f cega. Ele deu incio a uma revista mensal, e no outono de 1966 o NewYork Times publicou um artigo com foto favorvel sobre ele e seus seguidores. Pouco tempo depois, um canal de televiso fez uma reportagem sobre eles.Srila Prabhupada era uma pessoa emocionante de ser conhecida. Quer fosse por meudesejo de obter benefcios pessoais da yoga e do canto, quer fosse apenas por mera fascinao, eu sabia que queria acompanhar seu progresso a cada passo do seu camin

    ho. Seus planos de expanso eram ousados e imprevisveis, exceto pelo fato de que sempre pareciam suceder gloriosamente. Ele tinha os seus setenta anos e era um estranho para a Amrica, e havia chegado praticamente sem nada; todavia, agora, aps po

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    ucos meses, j havia, sozinho, dado incio a um movimento! Era algo desconcertante.Certa manh de agosto no templo da loja da Segunda Avenida, Srila Prabhupada nos disse: hoje o dia do aparecimento do Senhor Krishna. Observaramos jejum por vinte equatro horas e permaneceramos dentro do templo. Naquela noite alguns visitantes da ndia tambm compareceram reunio. Um deles praticamente em lgrimas descreveu suainita felicidade de ter encontrado este pedacinho da ndia autntica no outro lado do mundo. Jamais em seus sonhos mais audaciosos poderia ele ter imaginado tal coi

    sa. Ele ofereceu a Srila Prabhupada eloqentes louvores e profundos agradecimentos, deixou uma doao e prostrou-se a seus ps. Todos ficaram profundamente comovidos. Mais tarde, Srila Prabhupada conversou com os cavalheiros em hindi, e, uma vez que eu no podia entender o que ele dizia, pude apenas observar como sua prpria expresso e gestos tocavam o mago da alma humana.Posteriormente naquele ano, enquanto estive em San Francisco, enviei a Srila Prabhupada sua primeira passagem de avio, e ele voou de Nova Iorque para San Francisco. Um grupo bastante grande de ns saudou-o no aeroporto cantando o mantra Hare Krishna. Depois ns o levamos de carro orla oriental do Golden Gate Park para um apartamento recm-alugado e um templo em loja de frente um arranjo muito semelhanteao de Nova Iorque. Havamos estabelecido um padro. Srila Prabhupada estava exttico.Algumas semanas depois a primeira mrdanga (tambor feito de barro com duas extrem

    idades para batuque) chegou a San Francisco, proveniente da ndia. Quando subi aoapartamento de Srila Prabhupada e lhe dei a notcia, ele arregalou os olhos e, comvoz extasiada, mandou que eu descesse rapidamente e abrisse o engradado. Pegueio elevador, saltei no andar trreo e estava andando em direo porta da frente quandoSrila Prabhupada apareceu. Ele estava to vido de ver a mrdanga que desceu pela escada chegando primeiro que o elevador. Ele nos pediu para abrir o engradado, rasgou um pedao da roupa aafroada que estava usando, e deixando apenas as extremidades para batuque expostas, envolveu toda a mrdanga com o pano. Ento disse: Isto nunca deve ser tirado, e comeou a dar instrues detalhadas sobre como tocar e cuidar do instrumento.Ainda em San Francisco, em 1967, Srila Prabhupada inaugurou o Ratha-yatra, o Festival dos Carros, um dos vrios festivais que, graas a ele, as pessoas podem assistir hoje em dia em todo o mundo. O Ratha-yatra acontece na cidade de Jagannatha P

    uri na ndia, ano aps ano, desde h dois mil anos, e em 1975 o festival j tinha se tornado to popular entre os San Franciscanos que o prefeito declarou este dia feriado na cidade Dia do Ratha-yatra em San Francisco.Em meados de 1966 Srila Prabhupada comeara a aceitar discpulos. Ele era rpido em chamar a ateno das pessoas para o fato de que todos deviam consider-lo, no como Deus,mas como servo de Deus, e criticava os gurus da moda que deixavam seus discpulosador-los como Deus. Esses deuses so muito baratos, costumava dizer. Certo dia, depoique algum perguntou, O senhor Deus?, Srila Prabhupada respondeu: No, eu no sou Deuu servo de Deus. Ento ele refletiu por um momento e prosseguiu. Na verdade, eu no sou servo de Deus. Estou tentando ser servo de Deus. Um servo de Deus no algo comum.Em meados dos anos 70 o trabalho de traduo e publicao de Srila Prabhupada intensificou dramaticamente. Intelectuais em todo mundo fizeram comentrios favorveis sobre seus livros, e praticamente todas as universidades e faculdades dos Estados Unidos aceitaram-nos como texto padro. Ao todo, ele produziu cerca de oitenta livros,os quais seus discpulos tm traduzido para vinte e cinco idiomas e dos quais j distriburam cerca de vinte e cinco milhes de cpias. Ele estabeleceu cento e oito templosem todo o mundo, e tem cerca de dez mil discpulos iniciados e uma congregao de milhes de seguidores. Srila Prabhupada escreveu e traduziu at os ltimos dias de sua estada de oitenta e um anos na Terra.Srila Prabhupada no foi apenas outro erudito, guru, mstico, professor de yoga ou instrutor de meditao oriental. Ele foi a corporificao de toda uma cultura, a qual implantou no Ocidente. Para mim e para muitos outros, ele foi, antes de mais nada,algum que realmente se preocupou conosco, que sacrificou completamente o seu prprio conforto para trabalhar para o bem estar dos outros. Ele no tinha vida privada,

    seno que vivia apenas para os outros. Ensinou cincia espiritual, filosofia, bom senso, belas artes, idiomas, o modo vdico de vida higiene, nutrio, medicina, etiqueta, vida familiar, agricultura, organizao social, educao escolar, economia e muitas c

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    oisas mais a muitas pessoas. Para mim, ele foi u mestre, um pai e meu mais querido amigo.Estou profundamente endividado com Srila Prabhupada, e um dvida que jamais sereicapaz de liquidar. Mas posso ao menos mostrar alguma gratido, juntando-me a seusoutros seguidores para satisfazer seu desejo mais ntimo publicar e distribuir seus livros.Jamais morrerei, disse Srila Prabhupada certa vez. Viverei para sempre em meus livr

    os. Ele se foi deste mundo no dia 14 de novembro de 1977, mas sem dvida ele viver para sempre.Michael Grant(Mukunda dasa)

    Introduo

    Quem Srila Prabhupada?, as pessoas perguntam freqentemente, e sempre uma pergunta difcil de se responder. Pois Srila Prabhupada sempre eclipsou designaes convencionais. Vrias vezes as pessoas o tm chamado de erudito, filsofo, embaixador cultural, autor prolfico, lder religioso, mestre espiritual, crtico social e homem santo. Na verdade, ele foi tudo isso junto e mais. Decerto ningum poderia t-lo confundido com

    os modernos gurus empresariados que vm para o Ocidente com verses habilidosamente empacotadas e gua-com-acar de espiritualidade oriental (para satisfazer nossa premente necessidade de bem-estar instantneo e explorar nossa bem-documentada ingenuidade espiritual). Srila Prabhupada foi, antes, um verdadeiro homem santo (sadhu) deprofunda sensibilidade intelectual e espiritual ele teve profunda preocupao e compaixo por uma sociedade que, em propores muito salientes, carece de verdadeira dimenso espiritual.Para a iluminao da sociedade humana, Srila Prabhupada produziu cerca de oitenta volumes de tradues e estudos sumrios dos grandes clssicos espirituais da ndia, e sua obra tem sido impressa em muitas lnguas em todos os continentes. Alm disso, em 1944Srila Prabhupada, sozinho, lanou uma revista chamada De Volta ao Supremo, que hoje em dia tem uma circulao mensal de mais de meio milho de cpias apenas em ingls. Praticamente todas as entrevistas, palestras, ensaios e cartas escolhidas para o Cinc

    ia da Auto-realizao apareceram primeiramente em De Volta ao Supremo.Nessas pginas Srila Prabhupada apresenta a mesma mensagem que o grande sbio Vyasadeva registrou milhares de anos atrs, a mensagem dos textos vdicos da ndia milenar.Como veremos, ele faz citaes freqentes do Bhagavad-gita, do Srimad-Bhagavatam e deoutros clssicos textos vdicos. Ele transmite em ingls moderno o mesmo conhecimentointemporal que outros grandes mestres auto-realizados tm falado desde h milnios conhecimento que revela os segredos do eu dentro de ns, da natureza e do universo, edo Eu Supremo dentro e fora de ns. Srila Prabhupada fala com uma clareza admirvele uma espcie de eloqncia simples e convincente, provando quo relevante a cincia dauto-realizao para nosso mundo moderno e nossas prprias vidas.Entre as dezenove selees escolhidas para a primeira parte desta obra especial, ouvimos o comovente discurso de Srila Prabhupada em homenagem a seu mestre espiritual, seu intercmbio com um renomado cardiologista sobre a investigao da alma, suas revelaes London Broadcasting Company sobre reencarnao, seus agudos comentrios ao LondoTimes dobre gurus falsos e verdadeiros, seu dilogo com um monge beneditino da Alemanha acerca de Krishna e Cristo, suas realizaes sobre a superconscincia e a lei dokarma e seu notvel comentrio ao profundo poema de Sripada Sankaracarya, a maior autoridade em filosofia impersonalista na ndia.Leia as selees em ordem, se quiser, ou comece com aqueles que de incio despertaremseu interesse. (O glossrio no final do livro explicar palavras e nomes pouco familiares.) A Cincia da Auto-realizao desafi-lo- e dar-lhe- inspirao e iluminao.-Os Editores

    I.Aprendendo

    A cincia daalmaConsiderando o objetivo

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    Da vida humana

    Quem voc? Acaso voc seu corpo? Ou sua mente? Ou ser voc algo superior? Voc sabe qvoc, ou voc apenas acha que sabe? E isso realmente importante? Nossa sociedade materialista, com sua liderana obscura, tem transformado em verdadeiro tabu a indagaoacerca de nosso eu verdadeiro, superior. Ao invs, ns usamos nosso tempo valioso, mantendo, decorando e saciando o corpo para seu prprio benefcio. Acaso h uma alterna

    tiva?

    Este importantssimo movimento para a conscincia de Krishna destina-se a salvar a sociedade humana da morte espiritual. Atualmente, a sociedade humana est sendo desencaminhada por lderes cegos, pois eles no conhecem a meta e objetivo da vida humana, que a auto-realizao e o restabelecimento de nossa relao perdida com a suprema personalidade de Deus. isto que est faltando. O movimento para a conscincia de Krishna est tentando esclarecer a sociedade humana sobre este importante assunto.Segundo a civilizao vdica, a perfeio da vida compreendermos nosso relacionamento coKrishna, ou Deus. No Bhagavad-gita, que aceito por todas as autoridades em cinciatranscendental como a base de todo o conhecimento vdico, aprendemos que no s os seres humanos mas tambm todas as entidades vivas so partes integrantes de Deus. A fu

    no das partes servir ao todo, assim como as pernas, mos, dedos e ouvidos destinam-se a servir ao corpo inteiro. Ns, entidades vivas, sendo partes integrantes de Deus, temos a obrigao de servi-lO.Na verdade, nossa posio que sempre estamos prestando servio a algum, seja nossa fama, pas ou sociedade. Se no temos ningum a quem servir, s vezes criamos um co ou um gato de estimao e prestamos-lhe servio. Todos estes fatores provam que estamos constitucionalmente destinados a prestar servio; porm, apesar de servirmos da melhor maneira possvel, no ficamos satisfeitos. Tampouco a pessoa a quem prestamos o servio fica satisfeita. Na plataforma material, todos esto frustrados. O motivo disso queo servio que est sendo prestado no est corretamente orientado. Por exemplo, se quisermos servir a uma rvore, teremos que molhar-lhe a raiz. Se molharmos as folhas,ramos e galhos, ela no vai aproveitar muito. Se a Suprema Personalidade de Deus servida, todas as outras partes integrantes ficaro automaticamente satisfeitas. Co

    nseqentemente, todas as atividades beneficentes, bem como o servio sociedade, famlia e nao so realizados quando servimos Suprema Personalidade de Deus. dever de todo ser humano entender sua posio constitucional em relao com Deus e agirde acordo com essa posio. Logo que isto for possvel, nossas vidas vo ser bem sucedidas. s vezes, entretanto, manifestamos um esprito desafiador e dizemos: Deus no existe, ou Eu sou Deus, ou mesmo No me importo com Deus. Mas o fato que este esprito ddor no nos salvar. Deus existe e podemos v-lO a cada momento. Se nos negarmos a verDeus durante nossa vida, ento Ele Se apresentar ante ns como a morte cruel. Se optamos por no v-lO sob um aspecto, v-lO-emos sob outro aspecto. H diferentes aspectosda Suprema Personalidade de Deus porque Ele a raiz original de toda a manifestao csmica. Neste sentido, no possvel escaparmos dEle.Este movimento para a conscincia de Krishna no um movimento de cego fanatismo religioso, nem um movimento de revoltados criado por algum novo-rico atual; muito pelo contrrio, um movimento que aborda autorizada e cientificamente a questo de nossa necessidade eterna em relao com a Personalidade de Deus Absoluta, o DesfrutadorSupremo. A Conscincia de Krishna trata simplesmente de nosso relacionamento eterno com Ele e do processo de cumprir nossos deveres relativos a Ele. Deste modo, aconscincia de Krishna capacita-nos a atingir a perfeio mxima da vida, obtenvel na atual forma de existncia humana.Devemo-nos lembrar sempre de que esta forma particular de vida humana alcanada apsuma evoluo de muito milhes de anos no ciclo transmigratrio da alma espiritual. Nesta forma de vida em particular, a questo econmica mais facilmente resolvida do quenas formas animais inferiores. H sunos, ces, camelos, asnos e assim por diante cujas necessidades econmicas so to importantes quanto as nossas, mas os problemas econmicos desses animais e outros so resolvidos sob condies primitivas, ao passo que o se

    r humano recebe das leis da natureza todas as oportunidades para levar uma vidaconfortvel.Por que o homem recebe melhores oportunidades para viver do que os sunos ou outro

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    s animais? Por que um alto funcionrio do governo recebe melhores facilidades parauma vida confortvel do que um funcionrio comum? A resposta muito simples: o funcionrio importante tem que cumprir deveres de maior responsabilidade do que o funcionrio comum. De modo semelhante, o ser humano tem que cumprir deveres superioresaos dos animais, que esto sempre atarefados enchendo seus estmagos famintos. Mas,devido s leis da natureza, o moderno padro animalesco de civilizao tem apenas aumentado os problemas de encher o estmago. Quando nos aproximamos de algum desses anim

    ais polidos propondo-lhes a vida espiritual, eles dizem que s querem trabalhar para a satisfao de seus estmagos e que no h necessidade de indagar sobre o Supremo. Nobstante, a despeito de sua avidez de trabalhar arduamente, h sempre o problema dodesemprego e tantas outras contrariedades infligidas pelas leis da natureza. Apesar disso, eles ainda rejeitam a necessidade de reconhecer o Supremo.Recebemos esta forma humana de vida no apenas para trabalhar arduamente como o suno e o co, mas tambm para alcanar a perfeio mxima da vida. Se no quisermos esta perferemos que trabalhar arduamente, pois seremos forados a isso pelas leis da natureza. Nos ltimos dias de Kali-yuga (esta era atual) os homens tero que trabalhar arduamente como asnos em troca de uma msera migalha de po. Este processo j comeou, e acada ano a necessidade de trabalhar mais arduamente em troca de remuneraes sempremenores aumentar. Contudo, os seres humanos no esto destinados a trabalhar arduamen

    te como animais, e, se um homem deixa de cumprir seus deveres como ser humano, ele forado a transmigrar para as espcies inferiores de vida pelas leis da natureza.O Bhagavad-gita descreve muito vividamente como a alma espiritual, de acordo com as leis da natureza, nasce e obtm um corpo e rgos sensoriais adequados para desfrutar da matria no mundo material.No Bhagavad-gita tambm se afirma que aqueles que comeam mas no prosseguem no caminho de se aproximar de Deus em outras palavras, aqueles que no conseguem atingir osucesso completo na conscincia de Krishna recebem a oportunidade de aparecer em famlias dos espiritualmente avanados ou em famlias de comerciantes financeiramente prsperos. Se aos mal sucedidos aspirantes espirituais so oferecidas tais oportunidades de parentesco nobre, o que se dizer daqueles que tenham realmente alcanado osucesso esperado? Portanto, uma tentativa de voltar ao Supremo, mesmo que inacabada, garante um bom nascimento na prxima vida. Tanto a famlia espiritual quanto a

    financeiramente prspera so benficas para o avano espiritual, porque em ambas essas famlias pode-se obter uma boa oportunidade de progredir mais do ponto onde se parou em nascimento anterior. Na realizao espiritual, a atmosfera gerada por uma boa famlia favorvel para o cultivo de conhecimento espiritual. O Bhagavad-gita lembra atais pessoas afortunadas, nascidas em boas famlias, que sua boa sorte devida a suas atividades devocionais passadas. Infelizmente, os filhos dessas famlias no consultam o Bhagavad-gita, sendo desencaminhados por maya (iluso).O nascimento em uma famlia prspera resolve o problema de ter alimentao suficiente desde o comeo da vida, e, posteriormente, pode-se ter um modo de vida relativamentemais fcil e mais confortvel. Estando nessa situao, uma pessoa tem uma boa oportunidade de avanar no caminho da realizao espiritual, mas por uma questo de m sorte, devido influncia da atual era de ferro (que cheia de mquinas e pessoas mecnicas) os filhos dos abastados so desencaminhados para o desfrute dos sentidos, e se esquecem da boa oportunidade que tm para a iluminao espiritual. Portanto, a natureza, atravs de suas leis, est deitando fogo a tais lares de ouro. Assim aconteceu dourada cidade de Lanka, sob o regime do demonaco Ravana, que foi reduzida a cinzas. Esta a lei da natureza.O Bhagavad-gita o estudo preliminar da transcendental cincia da conscincia de Krishna, e dever de todos os chefes de estado responsveis planejar seus projetos econmicos e outros projetos, recorrendo ao Bhagavad-gita. No estamos destinados a resolver apenas os problemas econmicos da vida, equilibrando-nos em uma plataforma vacilante; ao contrrio, nosso objetivo resolver os problemas fundamentais da vida que surgem devido s leis da natureza. A civilizao permanece esttica a menos que hajamovimento espiritual. A alma movimenta o corpo, e o corpo vivo movimenta o mundo. Estamos preocupados com o corpo, mas no temos conhecimento do esprito que est mov

    imentando esse corpo. Sem o esprito, o corpo permanece imvel, ou morto.O corpo humano um excelente veculo atravs do qual podemos alcanar a vida eterna. umbarco raro e muito importante para atravessar o oceano da ignorncia que a existnc

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    ia material. Neste barco, h o servio a um hbil barqueiro, o mestre espiritual. Peladivina graa, o barqueiro singra o oceano com vento favorvel. Com todos esses fatores auspiciosos, quem no aproveitaria a oportunidade para atravessar o oceano daignorncia? Se uma pessoa negligencia esta boa oportunidade, pode-se considera-lacomo algum que est simplesmente cometendo suicdio.H sem dvida bastante conforto no vago de primeira classe de um trem, mas se o tremno anda em direo a seu destino, qual a vantagem de se ter um compartimento com ar c

    ondicionado? A civilizao contempornea est demasiadamente interessada em dar confortoao corpo material, mas ningum tem informao do verdadeiro destino da vida, que voltar ao Supremo. No devemos ficar apenas sentados em um compartimento confortvel; devemos examinar se nosso veculo est indo ou no para o seu verdadeiro destino. No h vantagem alguma em dar conforto ao corpo material s custas do esquecimento da principal necessidade da vida, que recuperar nossa identidade espiritual perdida. O barco da vida humana construdo de tal maneira que deve dirigir-se a um destino espiritual. Infelizmente, este corpo est ancorado na conscincia mundana atravs de cincofortes correntes, que so: (1) apego ao corpo material devido ignorncia de fatos espirituais, (2) apego a parentes devido a relaes corpreas, (3) apego terra natal ea posses materiais tais como casa, mveis, bens, propriedades, documentos, etc., (4) apego cincia material, que sempre permanece obscura por falta de luz espiritua

    l, e (5) apego a formas religiosas e rituais sagrados sem conhecimento da Personalidade de Deus ou Seus devotos, que os tornam sagrados. Esses apegos, que ancoram o barco do corpo humano, so explicados detalhadamente no Dcimo Quinto Captulo doBhagavad-gita. Eles so comparados a uma figueira-de-bengala de razes profundas que est constantemente aumentando sua aderncia terra. muito difcil desenraizar essa forte figueira-de-bengala, mas o Senhor recomenda o seguinte processo: A forma real desta rvore no pode ser percebida neste mundo. Ningum pode entender onde ela termina, onde comea ou onde est sua base. Porm, com determinao, deve-se buscar aquele local do qual, uma vez l chegando, nunca se retorna, e ali render-se quela Suprema Personalidade de Deus de quem tudo comeou e em quem tudo est apoiado desde tempos imemoriais. [Bg. 15.3-4] At agora, nem os cientistas nem os filsofos especulativos chegaram a concluso alguma relativa situao csmica. Tudo o que eles tm feito apresendiferentes teorias sobre a situao csmica. Alguns deles dizem que o mundo material r

    eal, outros dizem que um sonho, e h outros ainda que dizem que ele existe eternamente. Dessa maneira, os eruditos mundanos mantm diferentes pontos de vista, mas ofato que nenhum cientista mundano ou filosofo especulativo conseguiu jamais descobrir o comeo do cosmo ou seus limites. Ningum pode dizer quando ele comeou ou como ele flutua no espao. Eles teoricamente propem algumas leis, como a lei da gravitao, mas na verdade eles no podem pr esta lei em prtica. Por falta de conhecimento real da verdade, todos esto ansiosos em promover sua prpria teoria para conseguir alguma fama, mas o fato verdadeiro que este mundo material cheio de misrias e que ningum pode supera-las simplesmente por promover algumas teorias sobre o assunto. APersonalidade de Deus, que plenamente conhecedora de tudo em Sua criao, informa-nos que para o nosso prprio benefcio que desejemos livrar-nos desta existncia miservel. Para fazermos o melhor uso de um mau negcio, nossa existncia material deve sercem por cento espiritualizada. O ferro no fogo, mas pode ser convertido em fogo pelo contato constante com o fogo. Analogamente, o desapego das atividades materiais pode ser efetuado atravs de atividades espirituais, e no pela inrcia material.A inrcia material o lado negativo da ao material, mas a atividade espiritual no apas a negao da ao material, como tambm a ativao de nossa vida verdadeira. Devemos esansiosos por buscar a vida eterna, ou a existncia espiritual em Brahman, O Absoluto. O reino eterno de Brahman descrito no Bhagavad-gita como aquele pas eterno doqual no se regressa. Este o reino de Deus.No possvel remontarmos ao comeo de nossa atual vida material, nem necessrio que saamos como nos tornamos condicionados na existncia material. Temos que nos satisfazer com o entendimento de que de alguma forma esta vida material tem acontecidodesde tempos imemoriais e agora nosso dever render-nos ao Senhor Supremo, que acausa original de todas as causas. A qualificao preliminar para se voltar ao Supre

    mo dada no Bhagavad-gita [15.5]: Aquele que livre da iluso, do falso prestgio e dafalsa associao, que entende o eterno, que acabou com a luxria material e est livre da dualidade de felicidade e tristeza, e que sabe como se render Pessoa Suprema a

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    tinge esse reino eterno.Aquele que est convencido de sua identidade espiritual e est livre da concepo material de existncia, que est livre da iluso e transcendental aos modos da natureza material, que se ocupa constantemente em entender o conhecimento espiritual e que seafastou completamente do gozo dos sentidos pode voltar ao Supremo. Uma pessoa assim chama-se amudha, em contraposio com o mudha, ou o tolo e ignorante, pois elaest livre da dualidade de felicidade e tristeza.

    E qual a natureza do reino de Deus? Ele descrito no Bhagavad-gita [15.6] da seguinte maneira: Essa Minha morada no iluminada pelo sol ou pela lua, nem por eletricidade. Aquele que a alcana jamais retorna a este mundo material.Embora todos os locais na criao estejam dentro do reino de Deus, porque o Senhor oproprietrio supremo de todos os planetas, h ainda a morada pessoal do Senhor, que completamente diferente do universo em que estamos vivendo agora. E essa moradachama-se paramam, ou a morada suprema. Mesmo na Terra h pases onde o padro de vida elevado e pases onde o padro de vida baixo. Alm da Terra, h inumerveis outros plas distribudos por todo o universo, e alguns so considerados locais superiores e outros, locais inferiores. De qualquer maneira, todos os planetas dentro da jurisdio da energia externa, natureza material, precisa dos raios de um sol ou da luz do fogo para manter sua existncia, porque o universo material uma regio de escurido.

    Alm dessa regio, contudo, est o reino espiritual, que, como se descreve, funcionasob a natureza superior de Deus. Esse reino descrito nos Upanisads desse modo: L noh necessidade de sol, lua ou estrelas, nem essa morada iluminada pela eletricidade ou qualquer outra forma de fogo. Todos esses universos materiais so iluminadospor um reflexo dessa luz espiritual, e, porque essa natureza superior sempre auto-luminosa, podemos experimentar um brilho de luz mesmo na mais densa escurido da noite. No Hari-vamsa, a natureza espiritual explicada pelo prprio Senhor Supremoda seguinte maneira: A resplandecente refulgncia do Brahman impessoal [o Absolutoimpessoal] ilumina todas as existncias, tanto as materiais quanto as espirituais. Mas, Bharata, deves entender que esta iluminao Brahman a refulgncia de Meu corpo.No Brahma-samhita tambm se confirma esta concluso. No devemos pensar que podemos atingir essa morada por algum meio material, como naves espaciais, por exemplo, mas devemos ter a certeza de que aquele que pode atingir essa morada espiritual de

    Krishna pode desfrutar de bem-aventurana e conhecimento. Na existncia material, somos governados pela concepo material do corpo e da mente, mas, na existncia espiritual podemos sempre saborear o contato feliz e transcendental com a Personalidade de Deus. Na existncia espiritual, nunca nos perdemos do Senhor.O movimento para a conscincia de Krishna est tentando trazer essa existncia espiritual para a humanidade em geral. Em nossa atual conscincia material, estamos apegados concepo material sensorial de vida, mas esta concepo pode ser eliminada imediatamente atravs do servio devocional a Krishna, ou conscincia de Krishna. Se adotarmosos princpios do servio devocional, poderemos nos tornar transcendentais s concepes materiais de vida e nos libertarmos dos modos de bondade, paixo e ignorncia, mesmoem meio a vrias ocupaes materiais. Todos que esto ocupados em afazeres materiais podem obter o mais elevado benefcio das pginas da revista De Volta ao Supremo e das outras obras deste movimento para a conscincia de Krishna. Essas obras ajudaro todas as pessoas a cortar as razes da infatigvel figueira-de-bengala da existncia material. Essas obras so autorizadas para nos treinar a renunciar a tudo que esteja relacionado com a concepo material de vida e a saborear nctar espiritual em todos osobjetos. Este estgio s pode ser obtido atravs do servio devocional, e nada mais. Prestando tal servio, pode-se imediatamente obter liberao (mukti) mesmo durante a vidaatual. A maioria dos esforos espirituais so matizados com as cores do materialismo, mas o servio devocional puro transcendental a toda contaminao material. Aquelesque desejam voltar ao Supremo necessitam apenas adotar os princpios deste movimento para a conscincia de Krishna e simplesmente voltar sua conscincia para os ps deltus do Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, Krishna.

    Sua conscincia original a conscincia de Krishna

    A seguinte entrevista com a reprter free-lance Sandy Nixon ocorreu em julho de 19

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    75, nos aposentos de Srila Prabhupada no centro da ISKCON de Filadlfia. Esta discusso serve como magnfica introduo conscincia de Krishna e cobre temas bsicos, taiso o mantra Hare Krishna, a relao entre o mestre espiritual e Deus, a diferena entregurus genunos e farsantes, o papel da mulher na conscincia de Krishna, o sistemade castas indiano, e a relao entre conscincia de Cristo e conscincia de Krishna.

    Srta. Nixon: Minha primeira pergunta muito bsica. Que a conscincia de Krishna?

    Srila Prabhupada: Krishna significa Deus. Todos ns estamos intimamente relacionadoscom Ele porque Ele nosso pai original. Mas nos esquecemos dessa ligao. Quando nosinteressamos em saber: Qual minha relao com Deus? Qual o objetivo da vida?, entoemos ser chamados de conscientes de Krishna.Srta. Nixon: Como a conscincia de Krishna se desenvolve no praticante?Srila Prabhupada: A conscincia de Krishna j existe no mago do corao de todos. Mas, por causa de nossa vida materialmente condicionada, esquecemo-nos dela. O processode cantar o maha-mantra Hare Krishna Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rma, Hare Rma, Rma Rma, Hare Hare revive a conscincia de Krishnaue ns j temos. Por exemplo, h alguns meses atrs esses rapazes e moas americanos e europeus no conheciam Krishna, mas ontem mesmo ns os vimos cantando Hare Krishna e danando em xtase durante toda a procisso Ratha-yatra [um festival anual patrocinado p

    elo movimento para a conscincia de Krishna em cidades de todo o mundo]. Voc acha que aquilo foi artificial? No. Artificialmente, ningum pode cantar e danar por horasa fio. Eles realmente despertaram sua conscincia de Krishna por terem seguido umprocesso genuno. Isto explicado no Caitanya-caritamrta [Madhya 22.107]:

    nitya-siddha krsna-prema sadhya kabhu nayasravanadi-suddha-citte karaye udaya

    A conscincia de Krishna est adormecida no corao de todos, e, quando uma pessoa entraem contato com devotos, ela desperta. A conscincia de Krishna no algo artificial.Assim como um rapaz desperta sua atrao natural por uma moa na companhia dela, de modo semelhante, se algum ouve a respeito de Krishna na companhia de devotos, eledesperta sua conscincia de Krishna adormecida.

    Srta. Nixon: Qual a diferena entre conscincia de Krishna e conscincia de Cristo?Srila Prabhupada: Conscincia de Cristo tambm conscincia de Krishna, mas, porque atualmente as pessoas no seguem as regras e regulaes do cristianismo os mandamentos deJesus Cristo elas no chegam ao padro de conscincia de Deus.Srta. Nixon: O que comum sobre o tema conscincia de Krishna entre todas as religies?Srila Prabhupada: Primeiramente, religio significa conhecer Deus e am-lO. Isto religio. Hoje em dia, por falta de treinamento, ningum conhece Deus, isto para no falar de am-lO. As pessoas se contentam apenas com ir igreja e orar: Deus! Dai-nos o pode cada dia. No Srimad-Bhagavatam isto se chama religio enganadora, porque o objetivo no conhecer e amar a Deus, mas sim obter alguma vantagem pessoal. Em outraspalavras, se eu ingresso numa religio, mas no sei quem Deus nem como am-lO, estou praticando uma religio enganadora. Quanto religio crist, ela concede boa oportunidade de conhecer Deus, mas ningum est tirando proveito dessa oportunidade. Por exemplo, a Bblia contm o mandamento No matars, mas os cristos tm construdo os melhoresos do mundo. Como eles podem se tornar conscientes de Deus se desobedecem aos mandamentos do Senhor Jesus Cristo? E isto est acontecendo no s na religio crist, mas tambm em todas as religies. O ttulo hindu, muulmano ou cristo um mero rtulo.e quem Deus e como am-lO.Srta. Nixon: Como podemos diferenciar um mestre espiritual fidedigno de um trapaceiro?Srila Prabhupada: Quem quer que ensine como conhecer Deus e como am-lO um mestreespiritual. s vezes patifes falsos desencaminham o povo. Eu sou Deus, afirmam eles,e as pessoas que no sabem o que Deus acreditam neles. Voc tem que estudar seriamente para entender quem Deus e como am-lO. Caso contrrio, vai simplesmente perder s

    eu tempo. Ento, a diferena entre os outros e ns que somos o nico movimento que poderealmente ensinar como conhecer Deus e como am-lO. Estamos apresentando a cincia de como uma pessoa pode conhecer Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, pratic

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    ando os ensinamentos do Bhagavad-gita e do Srimad-Bhagavatam. Esses livros nos ensinam que nosso nico dever amar a Deus. Nossa misso no pedir nossas provises a De. Deus d recursos a todos mesmo a quem no tem religio. Por exemplo, os ces e gatos ntm religio, todavia Krishna lhes fornece os recursos da vida. Por que, ento molestaramos Krishna com pedidos do po nosso de cada dia? Ele j o est fornecendo. Verdadeira religio significa aprender como am-lO. O Srimad-Bhagavatam [1.2.6] diz:

    sa vai pumsam paro dharmayato bhaktir adhoksajeahaituky apratihatayayatma suprasidati

    A religio de primeira classe ensina-nos como amar a Deus sem nenhum interesse. Seeu sirvo a Deus em troca de algum lucro, isto comrcio e no amor. O verdadeiro amor a Deus ahaituky apratihata: no pode ser impedido por nenhuma causa material. incondicional. Para aquele que quer realmente amar a Deus no h obstculos. Podemos am-lO, quer sejamos pobres ou ricos, jovens ou idosos, negros ou brancos.Srta. Nixon: Todos os caminhos levam ao mesmo fim?Srila Prabhupada: No. H quatro tipos de homens os karmis, os jnanis, os yogis, e o

    s bhaktas e cada um deles atinge uma meta diferente. Os karmis trabalham em troca de algum lucro material. Por exemplo, na cidade, muitas pessoas trabalham arduamente dia e noite com o objetivo de obter algum dinheiro. Deste modo, eles so trabalhadores fruitivos, ou karmis. O jnani a pessoa que pensa: Por que estou trabalhando to arduamente? As aves, as abelhas, elefantes e outras criaturas no tem profisso, porm tambm esto comendo. Por que, ento, deveria eu desnecessariamente trabalhar dessa maneira? Deixe-me, antes, tentar resolver os problemas da vida nascimento, morte, velhice e doena. Os jnanis tentam tornar-se imortais. Eles pensam que sesubmergirem na existncia de Deus, ento tornar-se-o imunes ao nascimento, morte, velhice e doena. E os yogis tentam adquirir algum poder mstico para exibir um show maravilhoso. Por exemplo, um yogi pode tornar-se muito pequeno: se voc o coloca emum cmodo fechado, ele pode sair por algum espao minsculo. Demonstrando este tipo de mgica, o yogi imediatamente aceito como um homem muito admirvel. Evidentemente,

    os yogis modernos mostram simplesmente algumas ginsticas poder mesmo eles no tm. Oyogi verdadeiro tem poder, porm este no espiritual, mas material. De modo que o yogi busca poder mstico, o jnani busca salvao das misrias da vida e o karmi busca lucro material. Mas o bhakta o devoto no busca nada para si mesmo. Ele apenas quer servir a Deus por amor, assim como a me serve ao filho. Est fora de cogitao o lucro noservio que a me presta ao filho. Por pura afeio e amor, que ela cuida dele.Quando voc chega ao estgio de amor a Deus, voc chega perfeio. Nem o karmi, nem o jni, nem o yogi podem conhecer a Deus somente o bhakta. Como Krishna diz no Bhagavad-gita [18.55], bhaktya mam abhijanati: Somente atravs do processo de bhakti podealgum entender Deus. Krishna nunca diz que algum pode entend-lO mediante outros processos. No. Somente atravs de bhakti. Se voc est interessada em conhecer Deus e am-lO, ento tem que aceitar o processo devocional. Nenhum outro processo vai ajud-la.Srta. Nixon: A que transformao temos que nos submeter no caminho...Srila Prabhupada: Nenhuma transformao sua conscincia original a conscincia de Krisa. Agora sua conscincia est coberta com muitas imundcies. Voc tem que limp-la, e surgir a conscincia de Krishna. Nossa conscincia como a gua. A gua por natureza clararansparente, mas s vezes ela se torna lamacenta. Se voc filtra toda a lama da gua,ela volta outra vez a seu estado original, claro e transparente.Srta. Nixon: Uma pessoa pode servir melhor sociedade tornando-se consciente de Krishna?Srila Prabhupada: Sim, voc pode ver que meus discpulos no so beberres nem comedores de carne, e do ponto de vista filosfico eles so muito limpos eles nunca sero atacados por doenas srias. Na verdade, abandonar o comer de carne no uma questo de conscina de Krishna, mas sim de vida humana civilizada. Deus deu sociedade humana muitas coisas para comer boas frutas, legumes, cereais e o leite de primeira classe.

    Com o leite, pode-se preparar centenas de alimentos nutritivos, mas ningum conhece essa arte. Ao invs disso, as pessoas mantm grandes matadouros e comem carne. Elas no so nem sequer civilizadas. Quando o homem incivilizado, ele mata os pobres an

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    imais e os come.Os homens civilizados conhecem a arte de preparar alimentos nutritivos com o leite. Por exemplo, em nossa fazenda New Vrndavana na Virgnia Ocidental, fazemos centenas de preparaes de primeira classe com o leite. Sempre que vm visitantes, eles ficam admirados de que todos esses alimentos podem ser preparados com o leite. Osangue da vaca muito nutritivo, mas os homens civilizados utilizam-no sob a forma do leite. O leite nada mais do que o sangue da vaca transformado. Voc pode tran

    sformar o leite em muitas coisas iogurte, coalhada, ghee (manteiga clarificada)e assim por diante e, combinando esses produtos lcteos com cereais, frutas e vegetais, voc pode fazer centenas de preparaes. Isto vida civilizada no diretamente mar um animal e comer sua carne. A vaca inocente est simplesmente comendo o capim dado por Deus e fornecendo o leite, com o qual voc pode manter-se. Voc acha que cortar a garganta da vaca e comer sua carne civilizado?Srta. Nixon: No, eu concordo com o senhor cem por cento. Uma coisa que me desperta muita curiosidade: os Vedas podem ser interpretados simbolicamente, bem como literalmente?Srila Prabhupada: No. Eles devem ser considerados tais como so, e no simbolicamente. por isso que estamos apresentando o Bhagavad-gita Como Ele .Srta. Nixon: O senhor est tentando reviver o antigo sistema de castas indiano no

    Ocidente? O Gita menciona o sistema de castas...Srila Prabhupada: Em que parte do Bhagavad-gita se menciona o sistema de castas?Krishna diz: catur-varnyam maya srstam guna-karma-vibhagasah: Eu criei quatro divises de homens de acordo com sua qualidade e trabalho. [Bg. 4.13] Por exemplo, voc pode entender que h engenheiros, como tambm h mdicos na sociedade. Voc diz que elepertencem a diferentes castas que um da casta dos engenheiros e o outro da castados mdicos? No. Se um homem se qualifica na escola de medicina, voc o aceita comomdico; e se outro homem tem um diploma de engenharia, voc o aceita como engenheiro. Analogamente, o Bhagavad-gita define quatro classes de homens na sociedade: uma classe de homens altamente inteligentes, uma classe de administradores, uma classe de produtores e os trabalhadores comuns. Essas divises so naturais. Por exemplo, uma classe de homens muito inteligente. Mas, para realmente preencherem os requisitos de homens de primeira classe, como se descreve no Bhagavad-gita, eles

    precisam ser treinados, assim como um rapaz inteligente precisa ser treinado emuma faculdade para tornar-se um mdico qualificado. Da mesma forma, no movimento para a conscincia de Krishna estamos treinando os homens inteligentes como devem controlar suas mentes, como controlar seus sentidos, como tornar-se verazes, comotornar-se limpos interna e externamente, como tornar-se sbios, como aplicar seuconhecimento na vida prtica e como tornar-se conscientes de Deus. Todos esses rapazes [aponta para os discpulos presentes] tm inteligncia de primeira classe, e agora ns os estamos treinando em us-la adequadamente.No estamos introduzindo o sistema de castas, em que qualquer patife nascido em famlia de brahmanas automaticamente um brahmana. Ele pode ter os hbitos de um homemde quinta classe, mas aceito como um de primeira classe por causa de seu nascimento em famlia de brahmanas. Ns no aceitamos isto. Reconhecemos que um homem de primeira classe se ele treinado como um brahmana. No importa que ele seja indiano, europeu ou americano; de nascimento humilde ou de nascimento nobre isto no importa.Qualquer homem inteligente pode ser treinado na aquisio de hbitos de primeira classe. Queremos refutar a idia disparatada de que estamos impondo o sistema de castas indiano a nossos discpulos. Estamos simplesmente recrutando homens com inteligncia de primeira classe e treinando-os na arte de serem de primeira classe sob todos os aspectos.Srta. Nixon: O que o senhor pensa sobre a liberao feminina?Srila Prabhupada: Os ditos direitos de igualdade para as mulheres significam queos homens enganam as mulheres. Suponha que um homem e uma mulher se encontram,tornam-se amantes, fazem sexo, a mulher fica grvida e o homem vai embora. A mulher tem que cuidar do filho e pedir esmolas ao governo, ou ento ela mata a criana fazendo aborto. Esta a independncia da mulher. Na ndia, mesmo que uma mulher seja mu

    ito pobre, ela se mantm sob os cuidados do esposo, e ele se responsabiliza por ela. Quando ela fica grvida, ela no forada a matar a criana ou mant-la pedindo esmolaEnto, qual a verdadeira independncia permanecer sob os cuidados do esposo ou ser

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    desfrutada por todos?Srta. Nixon: E quanto vida espiritual as mulheres tambm podem ter sucesso na conscincia de Krishna?Srila Prabhupada: No fazemos distino quanto ao sexo. Damos a conscincia de Krishna tanto aos homens quanto s mulheres, igualmente. Damos nossas boas-vindas s mulheres, aos homens, aos pobres, aos ricos a todos. Krishna diz no Bhagavad-gita [5.18]:

    vidya-vinaya-sampanebrahmane gavi hastinisuni caiva svapake capanditah sama-darsinah

    O sbio humilde, em virtude do conhecimento verdadeiro, considera em p de igualdadeum brahmana erudito e nobre, uma vaca, um elefante, um cachorro e um comedor decachorro.Srta. Nixon: O senhor poderia explicar o significado do mantra Hare Krishna?Srila Prabhupada: muito simples. Hare significa energia do Senhor, e Krishna significa Senhor Krishna. Assim como h machos e fmeas no mundo material, de modo semelhante, Deus o macho original (purusa), e Sua energia (prakrti) a fmea original. Assi

    m, quando cantamos Hare Krishna, estamos dizendo: Senhor Krishna, energia de Krishna, por favor, ocupai-me em Vosso servio.Srta. Nixon: O senhor poderia me falar um pouco sobre sua vida e como o senhor soube que era o mestre espiritual do movimento para a conscincia de Krishna?Srila Prabhupada: Minha vida simples. Eu era pai de famlia com esposa e filhos agora tenho netos quando meu mestre espiritual mandou que eu viesse aos pases ocidentais e pregasse o culto da conscincia de Krishna. Ento, eu deixei tudo por ordemde meu mestre espiritual, e agora estou tentando executar suas ordens e as ordens de Krishna.Srta. Nixon: Quantos anos o senhor tinha quando lhe disse que viesse para o Ocidente?Srila Prabhupada: Em nosso primeiro encontro, ele mandou que eu pregasse a conscincia de Krishna no Ocidente. Naquela poca eu tinha vinte e cinco anos, era casado

    e tinha dois filhos. Tentei o melhor que pude executar suas ordens e comecei apublicar a revista De Volta ao Supremo em 1944, quando ainda era casado. Comeceia escrever livros em 1959 aps retirar-me da vida familiar, e em 1965 vim para osEstados Unidos.Srta. Nixon: O senhor disse que no Deus, e mesmo assim a mim me parece, como umaleiga, que seus devotos o tratam como se o senhor fosse Deus.Srila Prabhupada: Sim, este o dever deles. Porque o mestre espiritual est executando a ordem de Deus, ele deve se respeitado tanto quanto Deus, assim como um funcionrio do governo deve ser respeitado tanto quanto o governo porque ele executaa ordem do governo. Mesmo um policial comum, voc tem que respeit-lo porque ele umhomem do governo. Sakasad-dharitvena samasta-sastrair/ uktas tatha bhavyata evasadbhih: O mestre espiritual deve ser honrado tanto quanto o Senhor Supremo porque ele o servo mais confidencial do Senhor. Isto reconhecido em todas as escrituras reveladas e seguido por todas as autoridades.Srta. Nixon: Tambm me pergunto sobre as muitas e belas coisas materiais que os devotos lhe trazem. Por exemplo, o senhor saiu do aeroporto em um belo carro ltimotipo. Eu me pergunto sobre isso porque...Srila Prabhupada: Isso ensina os discpulos a como considerar o mestre no mesmo nvel que Deus. Se voc respeita o representante do governo tanto quanto respeita o governo, ento voc tem que trata-lo opulentamente. Se voc respeita o mestre espiritualtanto quanto Deus, ento voc tem que lhe oferecer as mesmas facilidades que ofereceria a Deus. Deus viaja em um carro de ouro. Se os discpulos oferecem um carro comum ao mestre espiritual, isto no seria suficiente porque o mestre espiritual temque ser tratado como Deus. Se Deus viesse a sua casa, voc O traria em um carro comum ou providenciaria um carro de ouro?

    Srta. Nixon: Um dos aspectos mais difceis da conscincia de Krishna para um leigo aceitar a Deidade no templo como ela representa Krishna. O senhor poderia falar um pouco sobre isso?

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    Srila Prabhupada: Sim. Atualmente, porque voc no est treinada para ver Krishna, Elebondosamente aparece perante voc para que voc possa v-lO. Voc pode ver madeira e pedra, mas no pode ver o que espiritual. Suponha que seu pai est no hospital e morre. Voc fica chorando no leito de morte: Ah! meu pai se foi! Mas por que voc diz que ele se foi? Que coisa essa de se foi?Srta. Nixon: Bem, seu esprito foi embora.Srila Prabhupada: E voc viu o esprito?

    Srta. Nixon: No.Srila Prabhupada: Ento voc no pode ver o esprito, e Deus o Esprito Supremo. Na realade, Ele tudo esprito e matria mas voc no pode v-lO em Sua identidade espirituaisso, para mostrar bondade para com voc, Ele aparece por Sua ilimitada misericrdia sob a forma de uma Deidade de madeira ou de pedra para que voc possa v-lO.Srta. Nixon: Muito obrigada.Srila Prabhupada: Hare Krishna!

    Avano verdadeirosignifica conhecer a Deus

    Os conceitos sobre Deus do homem moderno so muitos e variados. As crianas tm a tendncia a imaginar que Deus um velhinho de barbas brancas. Muitos adultos consideramDeus uma fora invisvel, ou um conceito mental, ou toda a humanidade, ou o universo, ou mesmo eles mesmos. Nesta palestra, Srila Prabhupada descreve em detalhes oconceito conscincia de Krishna uma viso surpreendentemente ntima de Deus.

    Senhoras e senhores, agradeo a todos por estarem gentilmente participando deste movimento para a conscincia de Krishna. Quando esta sociedade foi registrada em Nova Iorque no ano de 1966, um amigo sugeriu que eu a chamasse de Sociedade para aConscincia de Deus. Ele achava que o nome Krishna era sectrio. O dicionrio tambm diz que Krishna o nome de um deus hindu. Mas, na verdade, se podemos atribuir algum nome a Deus, este nome Krishna.Na verdade, Deus no tem um nome particular. Ao dizermos que Ele no tem nome, quere

    mos dizer que ningum sabe quantos nomes Ele tem. Uma vez que Deus ilimitado, Seusnomes tambm tm que ser ilimitados. Portanto, no podemos nos basear em um nico nome.Por exemplo, Krishna s vezes chamado de Yasoda-nandana, o filho de me Yasoda; ouDevaki-nandana, o filho de Devaki; ou Vasudeva-nandana, o filho de Vasudeva; ouNanda-nandana, o filho de Nanda. s vezes Ele chamado de Partha-sarathi, indicandoque Ele agiu como o quadrigrio de Arjuna, o qual s vezes chamado de Partha, o filho de Prtha.Deus tem muitos entretenimentos com Seus muitos devotos, e , de acordo com essesentretenimentos, Ele chamado por determinados nomes. Uma vez que ele tem inumerveis devotos e inumerveis relaes com eles, Ele tambm tem nomes inumerveis. No podemosonsiderar apenas um nome. Mas o nome Krishna significa todo atrativo. Deus atrai atodos; est a definio de Deus. Temos visto muitos quadros de Krishna, e percebemose Ele atrai as vacas, os bezerros, as aves, as bestas, as rvores, as plantas e atmesmo a gua de Vrndavana. Ele atrativo para os vaqueirinhos, para as gopis, paraNanda Maharaja, para os Pandavas e para toda a sociedade humana. Por isso, se algum nome particular pode ser dado a Deus, esse nome Krishna.Parasara Muni, um grande sbio e o pai de Vyasadeva, o qual compilou todas as literaturas vdicas, deu a seguinte definio de Deus:

    aisvaryasya samagrasyaviryasya yasasah sriyahjnana-vairagyayos caivasannam bhaga itingana

    Bhagavan, a Suprema Personalidade de Deus, assim definido por Parasara Muni como

    aquele que pleno de seis opulncias que tem toda a fora, toda a fama, toda riqueza, todo conhecimento, toda beleza e toda renncia.Bhagavan, a Suprema Personalidade de Deus, o proprietrio de todas as riquezas. H m

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    uitos homens ricos no mundo, mas ningum pode afirmar que possui toda a riqueza. Tampouco pode algum afirmar que ningum mais rico que ele. Aprendemos no Srimad-Bhagavatam, entretanto, que quando Krishna esteve presente na Terra Ele teve 16.108esposas, e cada esposa vivia em um palcio feito de mrmore e ornado com jias. Os cmodos eram cheios de mveis feitos de marfim e ouro, e havia grande opulncia em toda aparte. Essas descries so dadas vividamente no Srimad-Bhagavatam. Na histria da sociedade humana, no podemos encontrar ningum que tivesse dezesseis mil esposas ou dez

    esseis mil palcios. Tampouco Krishna passava um dia com uma esposa e outro dia com outra. No, Ele estava pessoalmente presente em todos os palcios ao mesmo tempo.Isso significa que Ele Se expandiu em 16.108 formas. Isso impossvel para um homemcomum, mas no muito difcil para Deus. Se Deus ilimitado, Ele pode Se expandir emformas ilimitadas, seno o termo ilimitado no teria sentido. Deus onipotente; Ele pode manter no somente dezesseis mil esposas, mas tambm dezesseis milhes e mesmo assimno encontrar dificuldade em manter toda a manifestao csmica, seno o termo onipotentteria sentido. Quo belo Ele deve ser Ele que criou toda a beleza.Todos esses aspectos so atrativos. Concordamos que, neste mundo material, se um homem muito rico, ele atrativo. Na Amrica, por exemplo, Rockfeller e Ford so muitoatrativos por causa de suas riquezas. Eles so atrativos apesar de no possurem todaa riqueza do mundo. Quo mais atrativo, ento, Deus, que possui todas as riquezas.

    De modo semelhante, Krishna tem fora ilimitada. Sua fora se manifestou desde o momento de Seu nascimento. Quando Krishna tinha apenas trs meses de idade, a demnia Putana tentou mat-lO, mas, em vez disso, ela foi morta por Krishna. Isso Deus Deusdesde o comeo. Ele no Se torna Deus mediante alguma meditao ou poder mstico. Krishnano esse tipo de Deus. Krishna foi Deus desde o prprio comeo de Seu aparecimento.Krishna tambm tem fama ilimitada. Evidentemente, ns somos devotos de Krishna e O conhecemos e O glorificamos, mas, alm de ns, muitos milhes de pessoas no mundo conhecem a fama do Bhagavad-gita. Em todos pases em todo o mundo o Bhagavad-gita lidopor filsofos, psiclogos e religiosos. Ns tambm estamos encontrando um bom mercado para o nosso Bhagavad-gita Como Ele . Isto porque a mercadoria ouro puro. H muitas edies do Bhagavad-gita, mas elas no so puras. A nossa est vendendo mais porque estamosapresentando o Bhagavad-gita como ele . A fama do Bhagavad-gita a fama de Krishna.

    Beleza, outra opulncia Krishna a possui ilimitadamente. O prprio Krishna muito bonito, assim como todos os Seus companheiros. Aqueles que foram piedosos em uma vida anterior recebem uma oportunidade neste mundo material de nascerem em boas famlias e boas naes. O povo americano muito rico e belo, e essas opulncias so resultas de atividades piedosas. Em todo o mundo as pessoas so atradas pelos americanos porque eles so avanados em conhecimento cientfico, riquezas, beleza e assim por diante. Este planeta um planeta insignificante dentro do universo, porm, dentro desteplaneta, um pas Estados Unidos tem muitos aspectos atrativos. Podemos apenas imaginar, ento, quantos aspectos atrativos deve possuir Deus, que o criador de tudoque existe.Uma pessoa atrativa no apenas por causa de sua beleza, mas tambm por causa de seuconhecimento. Um cientista ou filsofo podem ser atrativos por causa de seu conhecimento, mas que conhecimento mais sublime que aquele dado por Krishna no Bhagavad-gita? No h comparao no mundo material para tal conhecimento. Ao mesmo tempo, Krishna possui total renncia (vairagya). Muitas coisas funcionam sob a direo de Krishnaneste mundo material, mas na verdade Krishna no est presente aqui. Uma grande fbrica pode continuar funcionando, mesmo que seu proprietrio no esteja presente. Analogamente, as potncias de Krishna continuam funcionando sob a direo de Seus assistentes, os semideuses. Deste modo, o prprio Krishna est parte do mundo material. Tudo isto descrito nas escrituras reveladas.Deus, portanto, tem muitos nomes de acordo com Suas atividades, mas, porque Elepossui tantas opulncias e porque com essas opulncias Ele atrai a todos, Ele chamado de Krishna. A literatura vdica afirma que Deus tem muitos nomes, mas Krishna o nome principal.O objetivo deste movimento para a conscincia de Krishna propagar o nome de Deus,

    as glrias de Deus. H muitas coisas dentro deste mundo material, e todas elas esto dentro de Krishna. O aspecto mais proeminente deste mundo material o sexo, e o sexo tambm est presente em Krishna. Ns adoramos Radha e Krishna, e existe atrao entre e

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    les, mas a atrao material e a atrao espiritual no so a mesma coisa. Em Krishna, o se real, mas aqui no mundo material o sexo irreal. Tudo com que lidamos aqui est presente no mundo espiritual, mas aqui nada tem de valor real. Tudo apenas um reflexo. Nas vitrinas vemos muitos manequins, mas ningum liga para eles porque sabe que eles so falsos. Pode ser que um manequim seja muito belo, mas ainda assim falso. Quando as pessoas vem uma mulher bonita, entretanto, elas se sentem atradas porque pensam que ela real. Na verdade, os ditos vivos tambm esto mortos porque este

    corpo no passa de um pedao de matria; assim que a alma deixar o corpo, ningum vai seinteressar em ver o assim chamado belo corpo da mulher. O fator real, a verdadeira fora de atrao, a alma espiritual.No mundo material tudo feito de matria morta; portanto, no passa de mera imitao. A realidade das coisas existe no mundo espiritual. Aqueles que tm lido o Bhagavad-gita podem entender como o mundo espiritual, pois ali se descreve:

    paras tasmat tu bhavo nyovyakto vyaktat sanatanahyah sa sarvesu bhutesunasyatsu na vinasyati

    Contudo, existe outra natureza, que eterna e transcendental a esta matria manifesta e imanifesta. Ela suprema e nunca aniquilada. Quando tudo neste mundo aniquilado, aquela parte permanece tal como . [Bhagavad-gita 8.20]Os cientistas esto tentando calcular as dimenses deste mundo material, mas eles nem conseguem comear. Eles levariam milhares de anos simplesmente para viajar at a estrela mais prxima. E o que dizer do mundo espiritual? Uma vez que no podemos conhecer o mundo material, como poderemos conhecer o que est alm dele? A idia que devemos tomar conhecimento dessas coisas atravs de fontes autorizadas.A fonte mais autorizada Krishna, pois Ele o reservatrio de todo o conhecimento. Ningum mais sbio ou mais erudito que Krishna. Krishna nos informa que alm deste mundo material est o cu espiritual, que cheio de inumerveis planetas. Esse cu muitssiaior do que o espao material, que constitui apenas uma quarta parte de toda a criao. De modo semelhante, as entidades vivas dentro do mundo material so apenas uma p

    equena poro das entidades vivas em toda a criao. Este mundo material comparado a umapriso, e, assim como os prisioneiros representam apenas uma pequena percentagemda populao total, da mesma forma as entidades vivas dentro do mundo material constituem apenas uma poro fragmentria de todas as entidades vivas.Aqueles que se revoltaram contra Deus que so criminosos so colocados neste mundo material. s vezes os criminosos dizem que no se importam com o governo, mas, no obstante, eles so presos e castigados. Analogamente, as entidades vivas que declaramsua desobedincia a Deus so colocadas no mundo material.Originalmente, todas as entidades vivas so partes integrantes de Deus e se relacionam com Ele assim como os filhos se relacionam com o pai. Os cristos tambm consideram Deus como o pai supremo. Os cristos vo igreja e rezam: Pai nosso que estais nocu. O conceito de Deus como pai tambm se encontra no Bhagavad-gita [14.4]

    sarva-yonisu kaunteyamurtayah sambhavanti yahtasam brahma mahad yoniraham bija-pradah pita

    Deve-se entender que todas as espcies de vida, filho de Kunti, so possibilitadas pelo nascimento nesta natureza material, e que Eu sou o pai que d a semente.Existem 8.400.000 espcies de vida incluindo os seres aquticos, as plantas, as aves, as bestas, os insetos e os seres humanos. Das espcies humanas, a maior parte soincivilizadas, e das poucas espcies civilizadas apenas um pequeno nmero de seres humanos adota a vida religiosa. Dentre muitos ditos religiosos, a maior parte identificam-se por designaes, afirmando: eu sou hindu, eu sou muulmano, eu sou crist

    por diante. Alguns dedicam-se filantropia, outros do caridade aos pobres e abremescolas e hospitais. Este processo altrusta chama-se karma-kanda. Dentre milhes desses karma-kandis, pode ser que haja um jnani (aquele que conhece). Dentre milhes

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    de jnanis, pode ser que um seja liberado, e dentre bilhes de almas liberadas, pode ser que uma seja capaz de entender Krishna. Esta , ento, a posio de Krishna. Comoo prprio Krishna diz no Bhagavad-gita [7.3]:

    manusyanam sahasresukascid yatati siddhayeyatatam api siddhanam

    kascin mam vetti tattvatah

    Dentre muitos milhares de homens, pode ser que um se esforce por alcanar a perfeio,e daqueles que alcanam a perfeio, dificilmente um Me conhece realmente.De maneira que entender Krishna muito difcil. Mas embora o entendimento de Deus seja um assunto difcil, Deus se revela no Bhagavad-gita. Ele diz: Eu sou isso e Eusou aquilo. A natureza material desse jeito e a natureza espiritual daquele jeito. As entidades vivas so assim e a Alma suprema assim. Desta maneira, tudo completamente descrito no Bhagavad-gita. Embora entender Deus seja muito difcil, isto no difcil quando o prprio Deus nos d o Seu prprio conhecimento. Na realidade, este o no processo pelo qual podemos entender Deus. Entendermos Deus atravs de nossa prpria especulao no possvel, pois Deus ilimitado, e ns somos limitados. Se tanto o nos

    onhecimento quanto nossa percepo so muito limitados, como poderemos entender o ilimitado ? Se simplesmente aceitarmos a verso do ilimitado, poderemos chegar a entend-lO. Esse entendimento a nossa perfeio.O conhecimento especulativo de Deus no nos levar a arte alguma. Se um menino quersaber quem o seu pai, o processo simples perguntar a sua me. A me ento dir: Estepai. Essa a forma de adquirir conhecimento perfeito. Evidentemente, uma pessoa poder especular sobre quem seu pai, investigando se este homem ou aquele homem, oupoder errar por toda a cidade, perguntando: O senhor meu pai? O senhor meu pai? O conhecimento obtido atravs de tal processo, entretanto, permanecer sempre imperfeito. Uma pessoa nunca encontrar seu pai dessa maneira. O processo simples aceitar oconhecimento de uma autoridade neste caso, a me. Ela simplesmente dir: Meu caro filho, eis aqui o seu pai. Deste modo nosso conhecimento perfeito. O conhecimento transcendental semelhante. H alguns momentos eu falava de um mundo espiritual. Est

    e mundo espiritual no est sujeito a nossa especulao. Deus diz: H um mundo espirituale l minha sede. Dessa maneira, recebemos conhecimento de Krishna, a melhor autoridade. Talvez no sejamos perfeitos, mas nosso conhecimento perfeito porque recebidoda fonte perfeita.O movimento para a conscincia de Krishna destina-se a dar conhecimento perfeito sociedade humana. Atravs desse conhecimento, podemos entender quem ns somos, quem Deus, o que o mundo material, por que viemos parar aqui, por que temos de nos submeter a tanta tribulao e misria e por que temos de morrer. Evidentemente, ningum quer morrer, mas a morte vir. Ningum quer envelhecer, mas mesmo assim a velhice vem.Ningum quer padecer de doenas, mas com toda a certeza a doena vem. Estes so os verdadeiros problemas da vida humana, e ainda esto para ser resolvidos. A civilizao tenta aprimorar o comer, o dormir, o acasalar-se e o defender-se, mas esses no so os verdadeiros problemas. O homem dorme, mas o co tambm dorme. O homem no mais avanado simplesmente porque tem um bom apartamento. Em ambos os casos, a funo a mesma dormir. O homem tem descoberto armas atmicas para a defesa, mas o co tambm tem dentes epatas e tambm pode se defender. Em ambos os casos, h a defesa. O homem no pode dizer que, por ele ter a bomba atmica, ele poder conquistar o mundo inteiro ou o universo inteiro. Isso no possvel. Pode ser que o homem possua um mtodo elaborado para defesa, ou um requintado mtodo para comer, dormir e acasalar-se, mas isso no o fazavanado. Podemos chamar seu avano de animalismo polido, e isso tudo.Verdadeiro avano significa conhecer a Deus. Se no temos conhecimento de Deus, no somos realmente avanados. Muitos patifes negam a existncia de Deus, porque, no havendo Deus, eles podem continuar suas atividades pecaminosas. Talvez para eles sejamuito bom pensar que Deus no existe, mas Deus no morrer simplesmente porque o negamos. Deus existe, e Sua administrao existe. Por Suas ordens, o sol est nascendo, a l

    ua est nascendo, a gua corre e o oceano mantm-se fiel a mar. Assim tudo funciona sobSua ordem. Uma vez que tudo est acontecendo to harmoniosamente, como pode algum objetivamente pensar que Deus est morto? Quando h m administrao, podemos dizer que no

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    overno, mas, sob uma boa administrao, como poderemos dizer que no h governo? Apenasporque as pessoas no conhecem a Deus, elas dizem que Deus est morto, que Deus no existe, ou que Deus no tem forma. Mas ns estamos firmemente convencidos de que Deusexiste e que Krishna Deus. Por isso, O adoramos. Este o processo da conscincia deKrishna. Tentem entende-lo. Muito obrigado.

    Reencarnao e alm

    Em agosto de 1976, Srila Prabhupada passou algumas semanas na Bhaktivedanta Manor, vinte quilmetros ao norte de Londres. Durante essa poca, Mike Robinson, da London Broadcasting Company, entrevistou-o em seus aposentos. Em sua conversa, que foi difundida na Inglaterra algum tempo depois, Srila Prabhupada revelou que a conscincia de Krishna no uma cerimnia ritualstica de eu creio, voc cr, mas um sico profundo em que a cincia da reencarnao explicada ntida e conscientemente.

    mike Robinson: O senhor pode me dizer qual sua crena qual vem a ser a filosofia do movimento Hare Krishna?Srila Prabhupada: Sim. A conscincia de Krishna no uma questo de crena; uma cincia

    primeiro lugar, devemos saber qual a diferena entre um corpo vivo e um corpo morto. Qual a diferena? A diferena que quando algum morre, a alma espiritual, ou foraiva, abandona o corpo. A, portanto, o corpo considerado morto. Logo, h duas coisas;uma: este corpo; e a outra: a fora viva dentro do corpo. Referimo-nos fora viva que existe dentro do corpo. Esta a diferena entre a cincia da conscincia de Krishna,que espiritual, e a cincia material comum. Como tal, no comeo muito, muito difcil que um homem comum aprecie nosso movimento. A pessoa deve compreender primeiro que uma alma, ou algo diferente do corpo.mike Robinson: E quando compreenderemos isto?Srila Prabhupada: Voc pode compreender dum momento para outro, mas isto requer umpouco de inteligncia. medida que uma criana cresce, por exemplo, ela se torna umadolescente, o adolescente se torna moo, o moo se torna adulto e o adulto envelhece. Por todo esse tempo, apesar de seu corpo ter passado por transformaes, desde a

    infncia at a velhice, voc ainda sente que o mesmo, com a mesma identidade. Veja bem: o corpo est mudando, mas o ocupante do corpo, a alma, permanece a mesma. Portanto, devemos concluir logicamente que quando nosso presente corpo morre, obtemosoutro corpo. Isto se chama transmigrao da alma.mike Robinson: Ento quando se morre apenas o corpo fsico que morre?Srila Prabhupada: Sim. Isto est explicado de forma bastante elaborada no Bhagavad-gita [2.20]: na jayate mriyate va kadacin, na hanyate hanyamane sariremike Robinson: Vocs citam textos com freqncia?Srila Prabhupada: Sim, citamos muitos textos. A conscincia de Krishna uma educao sria, no uma religio comum. [Para um devoto:] Encontre este verso no Bhagavad-gita.Discpulo:

    na jayate mriyate va kadacinnayam bhutva bhavita va na bhuyahajo nityah sasvato yam puranona hanyate hanyamane sarire

    Para a alma, nunca h nascimento nem morte, nem, uma vez que exista, ela vai deixarde existir. Ela no nascida, eterna, sempre existente, imortal e primordial. Elano morre quando o corpo morre.mike Robinson: Muito obrigado por t-lo lido. Agora, o senhor pode me explicar umpouco mais? Se a alma imperecvel, isto quer dizer que a alma de todos ns ir ter comDeus aps a morte ?Srila Prabhupada: No necessariamente. Se a pessoa qualificada se ela se prepara nesta vida para voltar ao lar, voltar ao Supremo ento ela pode ir. Se ela no se pre

    para, ento obtm outro corpo material. E existem 8.400.000 formas corpreas diferentes. De acordo com os desejos e o karma da pessoa, as leis da natureza do-lhe um corpo apropriado. Tome a analogia de um homem que contrai uma doena e esta nele se

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    desenvolve. difcil compreender isto?mike Robinson: Isso tudo muito difcil de compreender.Srila Prabhupada: Suponha que algum tenha contrado varola. Assim, aps sete dias eledesenvolve os sintomas da doena. Como se chama este perodo de sete dias?mike Robinson: Incubao?Srila Prabhupada: Incubao. Portanto voc no pode evitar este perodo. Se voc contraiua doena, ela se desenvolver com a sanso da lei da natureza. De maneira semelhante,

    durante esta vida voc se associa com vrios modos da natureza material, e esta associao determinar que tipo de corpo voc obter na prxima vida. Isto est estritamente scontrole das leis da natureza. Todos so controlados pelas leis da natureza todosso completamente dependentes mas por ignorncia as pessoas pensam que so livres. Elas no so livres; esto apenas imaginando que so livres, visto que esto completamente sob o controle das leis da natureza. Portanto, seu prximo nascimento ser determinado de acordo com suas atividades pecaminosas ou piedosas, conforme o caso.mike Robinson: Sua graa, o senhor poderia explicar isto de novo? O senhor disse que ningum livre. O senhor quer dizer que se vivemos uma vida virtuosa, determinamos de algum modo um bom futuro para ns mesmos?Srila Prabhupada: Sim.mike Robinson: Ento temos liberdade para escolher o que cremos seja importante? A

    religio importante, porque se acreditarmos em Deus e vivermos honestamente...Srila Prabhupada: No uma questo de crena. No levante esta questo de crena. Isto onsidere, por exemplo, um governo. Voc pode acreditar ou no, porm se voc transgredira lei, ser punido pelo governo. Semelhantemente, existe um Deus, quer voc creia,quer no. Se voc no cr em Deus, e independentemente faz o que bem entende, ento voc spunido pelas leis da natureza.mike Robinson: Compreendo. A Religio em que se cr faz alguma diferena? Faria algumadiferena se a pessoa fosse um devoto de Krishna?Srila Prabhupada: No uma questo de religio. uma questo de cincia. Embora voc sejer espiritual, voc est condicionado materialmente; por isso, voc est sob o controledas leis da natureza material. Assim, pode ser que voc creia na religio crist e queeu creia na religio hindu, mas isso no quer dizer que voc vai envelhecer e eu no. Referimo-nos cincia do envelhecer. Esta uma lei natural. No que pelo fato de ser cr

    isto voc est envelhecendo, ou que pelo fato de ser hindu eu no estou. Todos esto envelhecendo. Por conseguinte, de modo semelhante, todas as leis da natureza aplicam-se a todos. Quer voc creia nesta religio, quer naquela, isto no faz diferena.mike Robinson: Ento, o senhor diz que s h um Deus controlando todos ns?Srila Prabhupada: H um Deus e uma lei da natureza, e estamos todos sob o controledesta lei da natureza. Somos controlados pelo Supremo. Portanto, se pensamos que estamos livres ou que podemos fazer o que quisermos, tolice nossa.mike Robinson: Compreendo. O senhor pode me explicar que diferena h em ser um membro do movimento Hare Krishna?Srila Prabhupada: O movimento Hare Krishna destina-se queles que levam a srio a compreenso desta cincia. Nosso grupo no de forma alguma sectrio. No. Qualquer pessoade tornar-se membro do movimento Hare Krishna. Os estudantes universitrios, por exemplo, tambm podem ser aceitos como membros. No importa que voc seja um cristo, umhindu ou um muulmano. O movimento para a conscincia de Krishna admite qualquer pessoa que queira compreender a cincia de Deus.mike Robinson: E que diferena faria para uma pessoa que aprendesse a ser uma pessoa Hare Krishna?Srila Prabhupada: Sua educao verdadeira comearia. Antes de mais nada, devemos compreender que somos almas espirituais. E como somos almas espirituais, estamos mudando de corpo. Este o b-a-b da compreenso espiritual. Portanto, quando o seu corpo est liquidado, aniquilado, voc no est liquidado. Voc obtm outro corpo, do mesmo modomo pode trocar de palet ou de camisa. Se amanh voc vier me ver usando uma camisa eum palet diferentes, acaso isso significa que voc uma pessoa diferente? No. Semelhantemente, voc muda de corpo cada vez que morre; mas voc, a alma espiritual situadadentro do corpo, permanece o mesmo. preciso compreender este ponto para que ento

    se possa progredir mais na cincia da conscincia de Krishna.mike Robinson: Sim, acho que agora compreendi. Se pudermos prosseguir da o senhordizia que o modo como vivemos faz uma diferena na nossa vida aps a morte, que h le

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    is naturais que determinam nossa prxima vida. Como funciona o processo de transmigrao?Srila Prabhupada: O processo muito sutil. A alma espiritual invisvel aos nossos olhos materiais. Ela atmica em tamanho. Depois da destruio do corpo grosseiro (que se constitui dos sentidos, de sangue, de ossos, de gordura e assim por diante), ocorpo sutil, que consiste na mente, na inteligncia e no ego, continua funcionando. Assim, no momento da morte este corpo sutil leva a pequena alma espiritual pa

    ra outro corpo grosseiro. Este processo semelhante ao processo do ar conduzindoa fragrncia de uma rosa. Ningum pode ver de onde vem esta fragrncia, mas sabemos que ela est sendo levada pelo ar. Embora no se possa ver, isto acontece. De modo semelhante, o processo de transmigrao da alma muito sutil. De acordo com a condio da mente no momento da morte, a alma espiritual entra no ventre de uma determinada meatravs do smen de um pai, e da a alma desenvolve um tipo de corpo particular dado pela me, que pode ser um corpo de ser humano, de gato, de cachorro ou qualquer coisa.mike Robinson: O senhor quer dizer ento que antes desta vida ns j fomos outra coisa?Srila Prabhupada: Sim.mike Robinson: Ento ns continuamos voltando como outra coisa nas prximas vezes?

    Srila Prabhupada: Sim, porque voc eterno. Voc est simplesmente trocando de corpo deacordo com seu trabalho. Portanto, voc precisa saber como parar com isso, como pode se manifestar em seu corpo espiritual original. Conscincia de Krishna isto.mike Robinson: Compreendo. Portanto se eu me tornasse consciente de Krishna, no correria o risco de voltar como um cachorro?Srila Prabhupada: No. [Para um devoto:] Encontre este verso: janma karma ca me divyam...Discpulo:Janma karma ca me divyamevam yo vetti tattvatahtyaktva deham punar janmanaiti mam eti so juna

    Arjuna, aquele que conhece a natureza transcendental de Meu aparecimento e atividades, ao deixar o corpo, no nasce outra vez neste mundo material, mas alcana Minhamorada eterna. [Bg. 4.9]Srila Prabhupada: Deus est dizendo: Qualquer pessoa que Me compreenda est livre donascimento e da morte. Porm, no se pode compreender Deus por intermdio da especulaoterialista. Isto no possvel. Em primeiro lugar, deve-se chegar plataforma espiritual. Da obtm-se a inteligncia necessria para se compreender Deus. E quando compreendemos Deus, j no obtemos corpos materiais: voltamos ao lar, voltamos ao Supremo. Vivemos eternamente; j no precisamos mais trocar de corpo.mike Robinson: Compreendo. Agora, outra coisa que eu gostaria de saber. O senhorj citou duas passagens de suas escrituras. De onde vm essas escrituras? O senhorpode explicar isto brevemente?Srila Prabhupada: Nossas escrituras vm da literatura vdica, que tem existido desdeo comeo da criao. Sempre que h alguma nova criao material como, por exemplo, esterofone h tambm uma literatura para explicar como lidar com ela. No assim?mike Robinson: Sim, realmente.Srila Prabhupada: E esta literatura aparece com a criao do microfone.mike Robinson: isso mesmo.Srila Prabhupada: Assim, semelhantemente, a literatura vdica aparece com a criao csmica, para explicar como lidar com ela.mike Robinson: Compreendo. Portanto, essas escrituras tm existido desde o comeo dacriao. Agora, eu gostaria de mudar o assunto para algo a respeito do qu, segundo creio, o senhor tem firmes convices. Qual a principal diferena entre a conscincia deKrishna e as outras disciplinas orientais que ensinam no Ocidente?Srila Prabhupada: A diferena que ns seguimos a literatura original, ao passo que e

    les manufaturam sua prpria literatura. Esta a diferena. Quando se trata de assuntos espirituais, temos que consultar a literatura original, e no uma literatura qualquer, publicada por um falsificador.

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    mike Robinson: E Quanto ao cantar de Hare Krishna, Hare Krishna...?Srila Prabhupada: Cantar Hare Krishna o processo mais fcil para uma pessoa se purificar, especialmente nesta era, em que as pessoas so to estpidas que no so capazes de compreender o conhecimento espiritual com facilidade. Se uma pessoa canta HareKrishna, sua inteligncia se purifica, e ento ela pode compreender as coisas do esprito.mike Robinson: O senhor poderia me dizer como vocs se orientam no que fazem?

    Srila Prabhupada: Ns nos orientamos pela literatura vdica.mike Robinson: Pelas escrituras que o senhor citou?Srila Prabhupada: Sim, tudo est na literatura. Ns a estamos explicando em ingls e em outras lnguas tambm. Mas no estamos manufaturando nada. Se tivssemos que manufaturar conhecimento, ento estaria tudo arruinado. A literatura vdica assim como a literatura que explica como instalar este microfone. Ela diz: Faa assim: coloque alguns dos parafusos deste lado, em torno do metal. Voc no pode alterar nada porque senoestraga tudo. Semelhantemente, como no estamos manufaturando nada, preciso simplesmente que se leia um de nossos livros para se receber o verdadeiro conhecimentoespiritual.mike Robinson: Como pode a filosofia da conscincia de Krishna influir na maneirade viver das pessoas?

    Srila Prabhupada: Ela pode aliviar o sofrimento das pessoas. As pessoas sofrem porque esto equivocadas pensando que so o corpo. Se voc pensasse que seu palet e suacamisa e lavasse o palet e a camisa com cuidado, mas se esquecesse de comer, voc seria feliz?mike Robinson: No, no seria.Srila Prabhupada: De modo semelhante, todos esto simplesmente lavando o palet e a camisa do corpo e se esquecendo da alma que se encontra dentro do corpo. Eles no tem informao acerca do que h dentro do palet e a camisa do corpo. Pergunte a qualquerssoa o que ela , e ela dir: eu sou ingls, ou eu sou indiano. E se dissermos: possober que voc possui um corpo ingls ou um corpo indiano, mas o que voc? isso ela nor capaz de dizer.mike Robinson: Compreendo.Srila Prabhupada: Toda a civilizao moderna funciona sob o equvoco de que o corpo o

    eu (dehatma-buddhi). Esta a mentalidade dos gatos e cachorros. Suponha que eu estou tentando entrar na Inglaterra e voc me faz parar na fronteira: eu sou ingls, dizvoc, mas voc um indiano. O que voc veio fazer aqui? E o cachorro por sua vez, lateu au, o que voc est fazendo aqui? Portanto, qual a diferena na mentalidade? O cachorro est pensando que um cachorro e que eu sou um estranho, ao passo que voc est pensando que ingls e que eu sou um indiano. Na mentalidade no h diferena. Portanto, se voc deixa que as pessoas fiquem na escurido de uma mentalidade de cachorro e declara que est avanando na civilizao, voc est mal orientado.mike Robinson: Agora, passando para outro assunto, deduzo que o movimento Hare Krishna mostra algum interesse nas reas do mundo onde h sofrimento.Srila Prabhupada: Sim, ns somos os nicos interessados. Outras pessoas esto simplesmente evitando os problemas principais: nascimento, velhice, doena e morte. Os outros no encontram solues para estes problemas; esto simplesmente falando disparates de toda a espcie. Esto desencaminhando as pessoas. Elas mesmas esto se mantendo na escurido. Mas ns devemos comear a dar-lhes alguma luz.mike Robinson: Sim, mas alm de dar iluminao espiritual, vocs tambm esto interessadoso bem-estar fsico das pessoas?Srila Prabhupada: O bem-estar fsico acompanha automaticamente o bem-estar espiritual.mike Robinson: E como que isso funciona?Srila Prabhupada: Suponha que voc possui um carro. Assim, voc naturalmente cuida do carro como tambm de si mesmo. Mas voc no se identifica com o carro. Voc no diz: euou este carro. Isto absurdo. Mas isto o que as pessoas esto fazendo. Elas esto cuidando demasiadamente do carro corpreo, pensando que o carro o eu. Elas se esquecem dque so diferentes do carro, de que so almas espirituais e tm uma funo diferente. As

    como ningum pode ficar satisfeito bebendo gasolina, do mesmo modo ningum pode ficar satisfeito com atividades corpreas. preciso descobrir o alimento adequado paraa alma. Se uma pessoa pensa: eu sou um carro e preciso beber esta gasolina, ela co

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    nsiderada insana. Semelhantemente, uma pessoa que julga ser este corpo e tenta ser feliz com prazeres corpreos, tambm insana.mike Robinson: H uma citao aqui a respeito da qual eu gostaria que o senhor comentasse. Algum de seu movimento deu-me este folheto antes de nosso encontro, e uma das coisas que o senhor diz aqui que: A religio no passa de sentimentalismo se no tembase racional. O senhor poderia me explicar isso?Srila Prabhupada: A maioria das pessoas religiosas dizem: Ns cremos... Mas qual o v

    alor dessa crena? Pode ser que voc creia em algo que no seja realmente correto. Alguns cristos, por exemplo, dizem: Ns cremos que os animais no tm alma. Isto no corEles crem que os animais no tm alma porque querem comer os animais, mas na realidade os animais tm alma.mike Robinson: Como o senhor sabe que o animal tem uma alma?Srila Prabhupada: Voc tambm pode saber. Aqui est a prova cientfica: o animal come, voc come; o animal dorme, voc dorme; o animal faz sexo, voc faz sexo; o animal se defende, voc tambm se defende. Ento qual a diferena entre voc e o animal? Como voc pdizer que tem uma alma e que o animal no tem?mike Robinson: Posso compreender isso perfeitamente. Mas as escrituras crists dizem...Srila Prabhupada: No venha com escrituras; este um tpico de senso comum. Tente com

    preender. O animal come, voc come; o animal dorme, voc dorme; o animal se defende,voc se defende; o animal faz sexo, voc faz sexo; os animais tm filhos, voc tem filhos; eles tm um lugar para viver, voc tm um lugar para viver. Quando o corpo do animal se fere, sai sangue. Assim, encontramos todas estas semelhanas. Agora, por quevoc s nega esta semelhana para a presena da alma? Isto no lgico. Voc j estudoulgica h uma coisa chamada analogia. Analogia significa tirar uma concluso a partirda descoberta de muitos pontos em comum. Se h tantos pontos em comum entre os seres humanos e os animais, por que negar outra semelhana? Isto no lgica. Isto no cia.mike Robinson: Mas se o senhor prega este argumento e o usa de outro modo...Srila Prabhupada: No h outro modo. Se voc no argumenta baseando-se na lgica, voc nosendo racional.mike Robinson: Sim, est certo, mas vamos partir de uma outra hiptese. Suponhamos q

    ue a presuno de que o ser humano no tem alma...Srila Prabhupada: Ento voc tem que explicar qual a diferena entre um corpo vivo e um corpo morto. Eu j expliquei isto no incio. Logo que a fora viva, a alma, vai-se embora do corpo, at mesmo o mais belo corpo perde seu valor. Ele jogado fora e ningum liga para ele. Mas se eu puxar seu cabel