a cidade (re)partida um breve estudo sobre as emancipações da cidade de nova iguaçu
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A cidade (re)partida: um breve estudo sobre as emancipaes da cidade de
Nova Iguau e a formao da regio da Baixada Fluminense
Priscila Nunes Fraga Maia1; Adrianno Oliveira Rodrigues2
Resumo
O municpio de Nova Iguau, fundado em 1833 s margens do rio Iguau, situa-se naRegio Metropolitana do Rio de Janeiro, onde exerce funes fundamentais para odesempenho econmico local. Quando de sua formao, Nova Iguau esteve sobinfluncia direta da cidade do Rio de Janeiro, em virtude, sobretudo, de sua localizaoestratgica entre a capital e o interior do estado. Na verdade, estando na dependnciaeconmica da capital fluminense, Nova Iguau acabava pouco se fazendo
economicamente presente em seus distritos, o que levou a emancipao de trs deles nosanos 1940, quais sejam: Duque de Caxias, So Joo de Meriti e Nilpolis. Areafirmao da poltica de investimentos seletivos da prefeitura no decorrer do sculoXX, dentre outros fatores, favoreceu novamente formao de uma conscinciaemancipacionista em outros quatro distritos iguauanos: Belford Roxo, Queimados,Japeri e Mesquita, resultando de fato, na emancipao dos mesmos. O principal objetivodeste projeto apresentar o desempenho econmico de Nova Iguau na segunda metadedo sculo XX, considerando as mudanas por que passou o referido municpio nos anos1990, quando de suas emancipaes mais recentes, contextualizando o referidomunicpio com a performance econmica do estado do Rio de Janeiro e sua RegioMetropolitana.
Introduo
O objetivo deste trabalho apresentar o desempenho econmico de Nova
Iguau na segunda metade do sculo XX. Para tanto, propusemo-nos a investigar os
fatores econmicos, polticos e sociais ocorridos a partir da dcada de 1940, que
atingiram diretamente o municpio em questo, com destaque para as fragmentaes
territoriais dos anos 1990 e 2000.
Nos anos 1940, o fim da citricultura em Nova Iguau coincidiu com o
processo de urbanizao e industrializao do Brasil, que no contexto fluminense
concentrava-se na cidade do Rio de Janeiro, quela poca capital do pas. Este processo,
como ser apresentado, passou pela reestruturao do parque industrial do Rio de
Janeiro, que implicava em se destinar para a periferia os novos investimentos fabris. Ao
1Pesquisadora do NESTTE/UFRRJ,[email protected]
2 Professor do Departamento de Histria e Economia do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, Doutorando emPlanejamento Urbao e Regional pelo IPPUR/UFRJ,[email protected]
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longo dos anos 40 e 50, esse processo foi se intensificando e as novas indstrias
passaram a extrapolar os limites da capital em direo Baixada Fluminense, seguindo
o curso, sobretudo, da Avenida Brasil3e da Rodovia Presidente Dutra4.
O crescimento industrial da regio, como era de se esperar, atraiu um grande
contingente populacional de outras regies do pas. Somado a isso tem-se a
modernizao do centro do Rio de Janeiro, que expulsou daquela localidade grande
parte dos pobres ali residentes. Ou seja, havia quela altura um expressivo volume
populacional buscando local para fixar residncia. O destino dos mesmos foi ento a
periferia mais prxima, isto , a Baixada Fluminense. Essa regio foi escolhida no
apenas por sua proximidade em relao capital, mas tambm pela existncia de
ferrovias recm-eletrificadas que a ligavam cidade do Rio de Janeiro, e pela instituio
de uma tarifa nica para qualquer que fosse o destino do passageiro do trem. Tais
fatores facilitavam o deslocamento da populao at a cidade do Rio de Janeiro, onde a
maior parte da mesma desenvolvia suas atividades econmicas. Some-se a isso, os
preos acessveis dos lotes da Baixada e as facilidades que as prefeituras concediam,
permitindo inclusive autoconstrues clandestinas, para atrair moradores.
Desde o incio desse processo de urbanizao e industrializao da Baixada
Fluminense, Nova Iguau j exercia uma certa centralidade em relao aos demais
municpios, tendo sado frente na estruturao de uma rede prpria de comrcio e
servios. Com isso, enquanto os demais municpios da regio, restringiam-se a cidades
dormitrios, Nova Iguau (e tambm Duque de Caxias), era alm de cidade-satlite,
pois parte de sua populao mantinha uma relao pendular com a cidade do Rio de
Janeiro, uma cidade industrial, que desempenhava mltiplas funes no seio da
Baixada, com relativa autonomia em relao capital fluminense.
A expanso industrial de Nova Iguau, e tambm da Baixada Fluminense, foi
crescente at os anos 80, tendo a partir de ento sido reduzida pela prpria dinmicaeconmica fluminense. Fato que esta expanso ocorrida garantiu a industrializao de
inmeros distritos iguauanos. No entanto, a prefeitura reafirmou ao longo dos anos, a
mesma poltica de investimentos seletivos que motivou as emancipaes da dcada de
3A Avenida Brasil considerada a mais importante via expressa da cidade do Rio de Janeiro, que com 58quilmetros de extenso corta 28 bairros do municpio, ligando a BR 101 Norte a BR 101 Sul a rodoviafederal longitudinal do pas, cujo ponto inicial Touros-RN e o ponto final So Jos do Norte-RS.4 A Rodovia Presidente Dutra faz a ligao entre as cidades do Rio de Janeiro e So Paulo, sendo
considerada a rodovia mais importante do Brasil no somente por ligar as duas metrpoles nacionais, mastambm por atravessar uma das regies mais ricas do pas o Vale do Paraba, e ainda por ser a principalligao entre o Nordeste e o Sul do Brasil.
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1940 (que levaram formao de Duque de Caxias, Nilpolis e So Joo de Meriti).
Com isso, gerou-se nos moradores dos distritos um sentimento de abandono e
insatisfao para com o municpio-sede, de forma que os mesmos passaram a questionar
o fato de colaborarem significativamente com a formao da receita municipal, e pouco
receberem da municipalidade em termos de bens e servios pblicos.
Esses moradores ento, desenvolveram uma conscincia emancipacionista que
foi traduzida em longos processos de desmembramento. A Ditadura Militar instaurada
no pas em 1964 fez com que um longo tempo se passasse entre as emancipaes dos
anos 40 e as novas tentativas de emancipao, recomeadas em 1983, com a relativa
democracia explicitada nas eleies diretas para governadores e prefeitos daquele ano.
Mas apesar de reiniciadas as tentativas de emancipao no incio da dcada de 80,
apenas nos anos 1990 que os novos municpios foram institudos, quais sejam: Belford
Roxo, Queimados, Japeri e Mesquita.
Essas emancipaes produziram impactos sobre as receitas municipais, o
contingente populacional, o parque industrial etc., todavia, a inflexo econmica por
que passou o estado do Rio de Janeiro a partir de meados dos anos 1990 contribuiu
favoravelmente para a recuperao do municpio fragmentado.
No decorrer dos anos 1990 e 2000, Nova Iguau atravessou um processo de
acelerado crescimento econmico, que ratificou a emergncia do municpio enquanto
uma economia de servios, em detrimento das atividades industriais. Essas atividades
no deixaram de ser expressivas, mas tiveram perda de participao na formao do
produto municipal. No setor tercirio destaca-se a participao dos aluguis e da
construo civil, na composio do PIB iguauano, enquanto no setor secundrio, o
destaque cabe indstria de produtos mobilirios, alimentos e cosmticos, sendo que a
produo deste ltimo pelo municpio corresponde a 10% do total produzido pelo pas.
Diante dessas informaes, encontramos o ponto norteador deste trabalho, e apartir de ento procedemos anlise atenta dessas e outras informaes, dados e
resultados que o municpio de Nova Iguau apresentou nos anos 1990 e 2000. Para isso
foram utilizadas diversas fontes de pesquisa, com destaque para Rodrigues (2005),
Simes (2007), estudos socioeconmicos divulgados pelo TCE (2005 e 2007),
recenseamentos elaborados e divulgados pela Fundao CIDE, entre outros.
No Captulo 1, este trabalho busca analisar em linhas gerais o ciclo da laranja em
curso no municpio de meados dos anos 1930 ao ps Segunda Guerra.
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Em seguida, no Captulo 2 levantada a questo da industrializao da Baixada
Fluminense e do elevado crescimento demogrfico ali verificado a partir da dcada de
1940, momento de forte expanso econmica e acelerada urbanizao da regio.
O Captulo 3 discute os processos mais recentes de emancipao sofridos por
Nova Iguau. enfatizada a luta, inclusive judicial, de alguns municpios em busca de
sua autonomia poltica.
Finalizando o trabalho, o Captulo 4 apresenta o impacto dos desmembramentos
descritos no desempenho demogrfico e econmico iguauano. Expe-se a trajetria do
referido municpio nos anos 1990 e 2000, quando o municpio acompanha a tendncia
de inflexo da trajetria econmica estadual e passa a apresentar PIBs crescentes ao
longo dos anos 2000. Nesse mesmo perodo, o setor de comrcio e servios passa a
responder pela maior parte do produto municipal, deixando em segundo lugar a
atividade industrial, que ainda apresenta-se expressiva.
1. A citricultura e o rompimento da tradio agrcola de Nova Iguau
Com vistas a valorizar os terrenos com uma cultura permanente que demandasse
relativamente pouca mo-de-obra, a partir do ltimo quartel do sculo XIX iniciou-se na
regio de Iguau a plantao de laranjais. Contando inicialmente com apoiogovernamental atravs de saneamento, drenagem de pntanos e outros, a citricultura
encontrou ali solo, clima e relevo favorveis, proximidade em relao s cidades do Rio
de Janeiro e So Paulo, os maiores centros consumidores do pas, bem como, facilidades
no transporte do produto at o porto do Rio pelas estradas de ferro existentes que faziam
a ligao com a regio de Iguau. Ou seja, vrios fatores contriburam para tornar
aquela regio ideal cultura da laranja.
Com a eliminao da malria e a drenagem de extensas vrzeas, deu-se ocrescimento rpido de toda a Regio Metropolitana do Rio de Janeiro. Os eixos
ferrovirios e as estaes, sobretudo das Ferrovias Central do Brasil e Leopoldina,
direcionaram o crescimento metropolitano para alm da fronteira da cidade do Rio, para
a Baixada Fluminense.
A produo de laranja em escala comercial exigiu toda uma infra-estrutura com
vistas a fabricao de caixas, transporte das frutas dos pomares aos portos, tratamento e
acondicionamento das laranjas etc, que culminou numa exploso de migrantes para a
regio.
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O sucesso da citricultura permitiu o enriquecimento do pequeno grupo que
controlava o negcio na Baixada. Este ento, passou a demandar os equipamentos
responsveis pela estruturao urbana das localidades ali existentes. As casas
aumentaram de tamanho, estradas foram abertas, praas e hospitais construdos, as
instalaes de gua e esgoto foram reformadas e ampliadas, as ruas foram iluminadas.
Os citricultores contando com apoio governamental atravs de isenes
tributrias e barateamento dos fretes, puderam saltar as exportaes no porto de Rio de
Janeiro de 2.500 caixas em 1910, para 1.236.031, em 1931, e 1.554.644 caixas, em
1941. Concomitantemente, saltou a populao iguauana entre 1929 e 1940, de 33.396
para 140.606 habitantes (Alves, 2003).
A citricultura, dado seu sucesso, fez ainda com que o Poder Pblico investisse
nas vias que davam aos trabalhadores acesso regio produtora, e permitiam o
escoamento da produo. Data desse perodo a construo das Rodovias Washington
Lus5, Rio-So Paulo6 e a Avenida Automvel Clube7, bem como a eletrificao da
Estrada de Ferro Central do Brasil8, inicialmente, em 1938, at Nova Iguau, e depois,
em 1943, at Japeri.
No entanto, com a deflagrao da Segunda Guerra Mundial, as exportaes de
laranja cessaram, impedindo para alm-mar o escoamento da produo. Alm disso, a
crise do combustvel associada escassez de frigorficos fez com que o apodrecimento
dos frutos ainda nas rvores se generalizasse. Este por sua vez, favoreceu o
aparecimento da mosca do mediterrneo, uma praga que derrocou completamente a
produo de laranjas. E quando findo o conflito mundial, os citricultores iguauanos que
sobreviveram crise, novamente foram atingidos: o governo brasileiro proibiu a
exportao do fruto, pois o mesmo estava em falta no mercado interno. Assim, a
citricultura foi deixada de lado e seus antigos produtores buscaram outros meios de
sobrevivncia. Todavia, certo que toda a economia de Nova Iguau foi atingida pelacrise.
5Trecho da rodovia federal 040 que faz a ligao entre as cidades do Rio de Janeiro e Petrpolis.6Atual BR 465, que at os anos 1950 era a principal ligao entre as cidades do Rio de Janeiro e SoPaulo.7Atual Avenida Pastor Luther King Jr, que une vrios bairros da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro.8A Estrada de Ferro Central do Brasil foi uma das principais ferrovias do Brasil ligando do final dosculo XIX at 1990 as Provncias do Rio de Janeiro a So Paulo e Minas Gerais, quando ento, os trensentre So Paulo e Rio de Janeiro e entre Belo Horizonte e So Paulo foram extintos. Atualmente, os
subrbios de So Paulo fazem parte da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, e os do Rio deJaneiro, da Supervia; sendo que apenas na estao final deste ltimo trecho permanece o nome Central doBrasil.
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Cabe ressaltar que durante a citricultura, o acelerado crescimento populacional e
econmico por que passava Nova Iguau, somado negligncia do municpio-sede
iguauano em relao a seus distritos no que tange prestao de servios pblicos,
levaram muitos destes a articularem movimentos emancipacionistas que culminaram na
formao de trs novos municpios: Duque de Caxias, em 1943; e Nilpolis e So Joo
de Meriti, em 1947.
2. A urbanizao e a industrializao da Baixada Fluminense
Uma vez deflagrada a crise da citricultura, os principais municpios atingidos:
Nova Iguau, Duque de Caxias, So Joo de Meriti e Nilpolis, buscaram na sua
estratgica localizao em relao cidade do Rio de Janeiro, sua recuperaoeconmica.
At os anos 30, segundo Rodrigues (2005), a localizao de indstrias dava-se
em locais j urbanizados da capital e com fcil acesso aos meios de transporte. No
entanto, a partir da segunda metade dos anos 30, favorecidos em boa medida pela crise
de 29 e pelas inovaes do perodo da Segunda Guerra Mundial, que permitiram
indstria expanso em setores ainda pouco desenvolvidos; e pelo prprio aparato legal
que buscava afastar as indstrias da cidade do Rio de Janeiro, essa situao comeou ase alterar.
Nesse contexto, a reestruturao da zona da cidade do Rio de Janeiro destinada a
abrigar seu parque industrial direcionou, a partir do final da dcada de 30, para o eixo da
Estrada de Ferro Leopoldina e da Avenida Brasil, os novos investimentos fabris do
estado. Com isso, a partir dos anos 40 e 50, mais de 220 indstrias de mdio e longo
porte, instalaram-se nos bairros de subrbio do Rio, provocando o desenvolvimento dos
mesmos. Paralelamente, investimentos industriais eram tambm alocados nos arredoresda Rodovia Presidente Dutra, que recm ampliada estendia-se at a Baixada
Fluminense.
Assim, os municpios: Nova Iguau, Duque de Caxias, So Joo de Meriti e
Nilpolis, os trs ltimos recm emancipados, adotaram polticas de isenes fiscais
com vistas a atrair investimentos para seus territrios.
A eletrificao das ferrovias favoreceu a urbanizao dos subrbios, e ainda
permitiu o aumento da distncia entre os locais de residncia e trabalho dos operrios,
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uma vez que reduziu o tempo de percurso, permitindo tambm com isso, a instituio de
novos loteamentos suburbanos e seu povoamento.
Aps a Segunda Guerra Mundial, os loteamentos direcionaram-se Zona Oeste.
Antigas reas de Campo Grande e da Baixada, que outrora ocupavam-se
respectivamente com avirios e plantaes citrcolas, foram loteadas.
Uma vez ocorrida a instalao da indstria automobilstica no pas, verificou-se
tambm a reorganizao do sistema de abastecimento, com supermercados e centros de
comrcio a servio do automvel, de forma que ocorreu o surgimento de novos plos
comerciais. Nesse sentido, Nova Iguau se desenvolveu aceleradamente na Baixada,
como regio plo.
A inaugurao da Avenida Brasil em 1940, somada instituio da tarifa
ferroviria nica e aos subsdios concedidos a essa mesma tarifa, aceleraram
consideravelmente o crescimento dos municpios da Baixada. Ainda a referida avenida
figurou-se como um fator de re-localizao industrial que direcionou para a Baixada as
indstrias fluminenses, de forma que nos anos 50, as propores industriais de Nova
Iguau, Nilpolis, Duque de Caxias e So Joo de Meriti superavam o Rio (Lessa,
2000). O efeito multiplicador desencadeado pelo crescimento dessas refletiu segundo
Abreu apudRodrigues (2005), na gerao de empregos no setor tercirio, em presses
sobre o poder pblico por infra-estrutura bsica, entre outros. Nessa mesma poca, a
populao de Nova Iguau e a de Duque de Caxias cresciam significativamente.
Nas palavras de Lessa:
A populao de Nova Iguau e Caxias cresceu acima de 10% aoano. Nestas dcadas, Nilpolis, So Joo de Meriti e SoGonalo progrediram acima da mdia da Regio Metropolitanado Rio de Janeiro (2000, p. 253).
Nos anos 50, o Rio recebeu levas migratrias de Minas Gerais e de estadosnordestinos, alm de ter havido transumncia dentro do prprio estado do Rio de
Janeiro, de forma que a populao daquele municpio saltou de 2.377.452 em 1950, para
3.281.908 em 1960. Esse contingente migratrio era atrado para a capital fluminense
porque apesar de toda escassez e precariedade, ali havia um padro de bem-estar social
mais elevado e maior facilidade para se ter acesso a servios sociais, bem como a
emprego no mercado de trabalho.
De acordo com Lessa:
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A metrpole, quando cresce, um canteiro de obras e umespao de oportunidades que atrai, continuamente, mo-de-obralivre e pobre das cidades menores e da zona rural (2000, p.293).
Essa massa migratria buscou moradia na periferia mais prxima, onde os
preos dos lotes lhe eram acessveis, ou seja, esses migrantes fixaram residncia na
Baixada Fluminense. Alm disso, a modernizao da cidade do Rio de Janeiro e a
conseqente expulso dos menos abastados do centro da cidade destinou Baixada
parte dessa populao carioca pobre.
A inexistncia de infra-estrutura mantinha baixos os preos dos lotes. Os
loteamentos apenas demarcavam ruas e lotes, de forma que a construo de vias para a
circulao de automveis, bem como a construo de equipamentos comunitrios eramdifceis. As prefeituras da Baixada facilitavam ao mximo o estabelecimento de pessoas
em seus territrios. Essa poltica pode ser verificada em prticas como: cobrana de taxa
irrisria para a aprovao de projetos, tolerncia a obras clandestinas, entre outros.
O crescimento galopante do nmero de loteamentos e lotes redefiniu a
disposio urbana da Baixada Fluminense. De 21 loteamentos existentes at 1929, com
um total de 20.524 lotes, salta-se para 1.168 loteamentos, com 273.208 lotes at o final
da dcada de 50.Ademais, de acordo com Soares apud Rodrigues (2005), neste perodo
instalaram-se em Nova Iguau 27 firmas construtoras, 11 fabricantes de esquadrias,
inmeras olarias e pequenas fbricas de artefatos de cimento.
Nilpolis e So Joo de Meriti passaram a se figurar sobretudo como cidades-
dormitrio, tendo em vista a manuteno de uma relao pendular entre suas respectivas
populaes e a cidade do Rio de Janeiro, onde a maior parte daquelas exercia sua
atividade produtiva.Nova Iguau e Duque de Caxias no entanto, tiveram potencial e dinamismo o
bastante para assumirem variadas e simultneas funes, de forma a conquistarem
relativa autonomia em relao capital fluminense.
Segundo Alves, em 1950, cerca de 61,45% dos moradores da Baixada que
exerciam a funo de comercirio, trabalhavam fora do municpio em que residiam;
para os industririos, esse ndice elevava-se para 75,73%.
Apesar de todo o crescimento econmico da Baixada decorrente do surto de
urbanizao, as condies de vida das pessoas que ali moravam permaneciam muito
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ruins. Os meios de transporte, sobretudo trens e nibus, utilizados pelos trabalhadores
em seu deslocamento dirio, tinham estado precrio. A populao no podia contar com
os mais bsicos servios de competncia do Estado, como gua e esgoto, as condies
de higiene tambm no eram boas e at o final dos anos 50, interesses polticos
impediam a construo de um hospital, que seria o primeiro da regio.
Alm disso, a populao em geral percebia uma baixa renda, e seus salrios
eram completamente comprometidos com o pagamento das prestaes do lote, com a
construo da casa prpria e com a alimentao da famlia.
Segundo Simes (2007), medida que a ocupao da periferia de Nova Iguau
se deu sob a forma de loteamentos sem nenhuma infra-estrutura e tendo em vista serem
escassos os recursos, a prefeitura municipal optou por adotar uma poltica de
investimentos seletivos, em que o centro recebia investimentos em servios e
equipamentos pblicos, assim como a sede dos distritos, embora em menor grau,
enquanto os novos bairros eram completamente ignorados.
Entre a estao ferroviria e a encosta da Serra de Madureira estabeleceu-se uma
rea residencial que desde o incio foi ocupada pelos setores mais abastados da
sociedade. Essa foi a faixa de moradia dos antigos exportadores, profissionais liberais e
comerciantes que possuam uma renda bem acima da maioria da populao e ocupavam
casas amplas prximas estao e nas encostas do macio, longe das reas alagadias e
inundveis.
A referida poltica de investimentos seletivos contribuiu para a valorizao
dessas reas e a construo posterior de um muro ao longo da via frrea, provocando
uma nova diviso na cidade. No entanto, tratava-se quela altura de uma diviso intra-
municipal: Nova Iguau foi dividida internamente em dois lados, um dos ricos e outro
dos pobres. At o final dos anos 1980, apenas o Viaduto Joo Msch fazia a ligao
desses dois lados, quando ento foi construdo o Viaduto do Caonze. Mas a essapoca, um padro de segregao j estava muito bem assentado naquele municpio.
3. Nova Iguau de 1950 a 1980: recuperao e relativo declnio da economia local
Apesar das mutilaes territoriais que sofreu na dcada de 1940, Nova Iguau se
manteve como um dos municpios de maior rea do Estado do Rio de Janeiro, com
778km2, o que equivalia a 1,87% da rea estadual; permaneceu com uma populao
numerosa, que embora em sua maior parte trabalhasse na cidade do Rio de Janeiro, a
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parcela populacional que exercia suas atividades no municpio cooperava proficuamente
para sua riqueza, de forma a colocar aquele municpio, segundo Pedroso & Porto
(1950), em 1948, entre os oito de maior oramento do estado.
No entanto, fato que os desmembramentos ocorridos criaram novos municpios
e novos ncleos de poder. A relativa autonomia das novas municipalidades permitiu-
lhes a adoo de novos projetos e culminou numa nova relao entre as foras locais e
regionais.
Segundo Soja apudSimes (2007), a expanso da mancha urbana e os processos
de reorganizao produtiva do capitalismo fazem com que a relao centro-periferia se
torne mais complexa e os ncleos urbanos assimilados pela conurbao e
metropolizao deixam de ser meros subespaos da metrpole, com atividade e tecido
social subordinados a esta lgica. Ocorre ento, em alguns pontos da metrpole, a
emergncia de espaos com um certo grau de autonomia frente ao ncleo, e com poder
de articular outros subespaos ao seu redor; apresentando um distrito central de
negcios (CBD Central Business District) relativamente autnomo e desenvolvido,
que reproduz os arranjos econmicos e espaciais verificados no centro, com
praticamente as mesmas funes, porm em escalas e tamanhos menores que aquele.
Na Regio Metropolitana do Rio de Janeiro existe nessa lgica, uma sub-rede
urbana articulada diviso intra-metropolitana do trabalho, que tem como centro o Rio
de Janeiro, e que conta com Nova Iguau exercendo sua centralidade em um territrio
que lhe subordinado. Ou seja, Nova Iguau possui um centro de negcios
diversificado e capaz de atender tanto seus moradores, como os habitantes do entorno
que no encontram esses bens e servios nas suas localidades; localidades essas
materialmente ligadas entre si e ao centro atravs de uma teia de estradas e avenidas por
onde circulam inmeras linhas de nibus. Enfim, relaes sociais, econmicas, culturais
e polticas so travadas entre as cidades centrais, das quais Nova Iguau um exemplodentro da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro, e os entornos destas. Tais relaes
so manifestas atravs de fluxos de pessoas, mercadorias e informaes, e podem ser
contabilizadas atravs de viagens nos transportes coletivos, ligaes telefnicas, votao
de determinados candidatos nas eleies, entre outros.
Entre os anos 60 e 70, o municpio iguauano persistiu em sua trajetria de
crescimento demogrfico tendo saltado de um nmero de 356.545 habitantes em 1960,
para 415.690 em 1970, segundo dados do censo demogrfico divulgados pelo IBGE.Sendo que de acordo com Rodrigues (2005), nesse mesmo perodo o referido municpio
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apresentou a mais alta taxa de crescimento da populao urbana dentre os municpios da
Regio Metropolitana do Rio de Janeiro, 7,3%, o que na viso do mesmo autor,
contribuiu para que no incio da dcada de 1960, Nova Iguau estivesse totalmente
conurbado com os demais municpios da metrpole fluminense. Mesmo a partir de
1975, quando a cidade do Rio de Janeiro deixa de atrair migrantes, seja em virtude da
fuso do Estado da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro, e/ou em decorrncia da
consolidao do processo de desenvolvimento industrial do Estado de So Paulo, o
municpio de Nova Iguau permaneceu atraindo migrantes.
Nas palavras de Lessa:
Em 1970, (...) a taxa de crescimento demogrfico dos demaismunicpios da RMRJ superava em muito o crescimento do Rio
de Janeiro e de Niteri. () Trocando em midos: na segundametade do sculo XX, a populao dos demais municpios daRMRJ cresceu explosivamente, e os moradores do interiorfluminense tenderam a se deslocar para a RMRJ (2000, p. 372).
De acordo com Rodrigues (2005), a distncia da periferia em relao
metrpole fez com que Nova Iguau se firmasse como plo de atrao regional no seio
da Baixada Fluminense, uma vez que esta apresentava um nmero significativo de
empresas industriais, comerciais e de servios que atendiam os carentes municpios
vizinhos.Enquanto importantes estabelecimentos industriais situados em Nova Iguau
naquele perodo, tm-se em destaque: a Bayer do Brasil Indstrias Qumicas S.A., Cia.
Dirce Industrial, Cia. Mercantil e Industrial Ing, Cia. de Canetas Compactor, Forjas
Brasileiras S.A., Indstrias Granfino S.A., S. A. Marvin (parafusos e pregos), Rupturista
S.A. (explosivos), USIMECA Usina Mecnica Carioca S.A., Fbrica de Tecidos
Cachambi, e Fbrica de Cigarros Souza Cruz.
Rodrigues (2005) destaca que em 1965, a maior parte do valor total da produodo municpio (98,9%) era proveniente da indstria de transformao, cujos principais
gneros eram: qumica (33,7%), produtos alimentcios (16,9%), metalurgia (16,6%),
material de transportes (10,4%). No ramo qumico, destacava-se a produo de tintas e
dinamites; no setor metalrgico, a maior parte da produo era de tubos de ao
galvanizado, fios, vergalhes, armaes para guarda-chuvas. No setor de material de
transportes, a produo destinava-se a atender a FNM Fbrica Nacional de Motores e
ainda a realizar reparos nos vages da EFCB Estrada de Ferro Central do Brasil. E o
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setor de produtos alimentcios produzia com esmero, sobretudo, fub e leo de milho, e
farinha de mandioca.
Segundo Silva (2004), apesar da indstria fluminense ter alcanado excelente
desempenho no perodo 1956-1980, crescendo 9% a.a., sua mdia de expanso foi
percentualmente inferior paulista (10,9% a.a.), nacional (11,3% a.a.), e a do
territrio brasileiro exclusive Rio de Janeiro e So Paulo (13% a.a.); o que, de acordo
com Rodrigues (2005), no deixou de ser sentido em Nova Iguau, cuja participao no
valor de transformao industrial no total metropolitano caiu de 3,2% para 2,7% entre
1959 e 1970.
No perodo compreendido entre 1970 e 1985, essa tendncia tendeu ao
agravamento. O II PND tendo como um de seus objetivos a descentralizao das
atividades industriais da regio Sudeste, colaborou para o avano do processo de
esvaziamento econmico do Estado do Rio de Janeiro, que passou de um carter
relativo at 1980, para da em diante tornar-se absoluto (Silva, 2004). De acordo com
Lessa (2000), nesse perodo a FNM encerrou suas atividades, assim como a Standard
Eletric. A indstria de construo naval, sem financiamentos, entrou em profunda e
longa crise. A indstria txtil mudou: Nova Amrica saiu de Del Castilho. A indstria
de computadores COBRA, instalada em Jacarepagu fechou suas portas, a Nuclebrs foi
desativada, iniciativas do projeto Brasil-Potncia foram desmanteladas posteriormente.
Isso acontecia e simultaneamente funes que eram sediadas no Rio de Janeiro, ex-
capital federal, foram transferidas para Braslia. At a Embratur mudou da capital
turstica do pas para a nova capital.
Segundo Rodrigues (2005), tem-se em 1980 o auge do setor industrial de Nova
Iguau: de 1970 para 1980, o setor apresentou um crescimento tal que refletiu num
aumento de 42,8% no nmero de estabelecimentos, e de 99,8% no nmero de pessoal
ocupado. As indstrias que mais empregaram mo-de-obra na economia daquelemunicpio, mantendo-se estveis inclusive na crise foram as alimentcias e metalrgicas.
A partir de 1985, essas variveis j apresentam queda em relao a 1980.
Segundo Furlanetto (1987), neste perodo, o processo de localizao das
empresas atraa outras, menores, sobretudo prestadoras de servios, fabricantes de
matrias-primas etc, de forma que a mo-de-obra foi parcialmente recrutada no local.
Cabe ressaltar ainda que naquele perodo o mercado de trabalho passou por
profundas transformaes que vo desde o aumento da participao feminina nomercado de trabalho, at a terceirizao desse mercado, passando pelo aumento da
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informalizao e pela reduo da renda dos trabalhadores. Mudanas essas que levaram
a um aumento do nmero de trabalhadores autnomos, reduo da receita
previdenciria.
A dcada de 1980 marca tambm a reduo do movimento migratrio do pas.
Nova Iguau ento, acompanhando essa tendncia reduziu sua taxa de crescimento que
havia sido de 4,1% na dcada de 1970, para 1,5% nos anos 80.
4. As ltimas fragmentaes do territrio iguauano
Aps as fragmentaes ocorridas nos anos 40, seguiram-se longas dcadas at
ocorrerem novas emancipaes em Nova Iguau. Mas isso, no por falta de tentativas,
haja vista o ressurgimento, ainda na dcada de 1950, de tenses entre os distritosiguauanos, devido s intensas transformaes por que passavam os mesmos e
reafirmao da poltica de investimentos seletivos por parte do prefeitura municipal.
Em 1952, teve-se a consolidao da ocupao urbana de Mesquita dada por sua
elevao categoria de 5 distrito de Nova Iguau. No entanto, a prefeitura municipal
reafirmou tambm ali sua poltica de investimentos seletivos, deixando a populao
daquele distrito quase que completamente desamparada no que tange a servios
pblicos bsicos. Diante disso, o aumento da desigualdade de qualidade de vida emrelao a Nova Iguau fez surgir um descontentamento popular que culminou em 1957,
num movimento pr-emancipao. Este ento, apesar da oposio de vereadores e do
deputado estadual Jos Montes Paixo, encaminhou ALERJ um projeto de lei que no
chegou nem mesmo a ser votado porque desapareceu. E devido a uma ruptura na aliana
que iniciou o movimento, ficou impossibilitada a elaborao de um novo projeto
(Simes, 2007).
Em Queimados, a ocupao urbana se deu nos mesmos moldes dos demaisdistritos iguauanos: atravs do binmio loteamento popular e autoconstruo. Assim
sendo, tambm ali as carncias materiais eram enormes e o principal motivo dessas era
mais uma vez o descaso da prefeitura municipal. Surgiu diante disso nos anos 50, uma
certa mobilizao no sentido de questionar a ordem poltica vigente, mas a mesma no
foi suficiente para promover uma ao emancipacionista efetiva (Simes, 2007).
O distrito de Belford Roxo tentou se emancipar em 1962, reunindo num
movimento cerca de 300 pessoas, em sua maioria moradores de baixa renda, pequenos
comerciantes e profissionais liberais. A luta ganhou fora com a instalao do
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Complexo da Bayer naquele distrito, pois fortaleceu a idia de que a prefeitura
arrecadava muito em Belford Roxo e por ele muito pouco fazia. Todavia, a falta de
apoio de polticos tradicionais impediu que o processo fosse interposto junto ALERJ
(Simes, 2007).
A partir de 1964, com o advento do golpe que instaurou a Ditadura Militar no
Brasil, os movimentos emancipacionistas entraram em recesso, s retomando suas
atividades aps a abertura de 1982, promovida pelas eleies diretas para governador e
prefeitos. No entanto, durante esse perodo de pausa, as contradies sociais e espaciais
tenderam a se acentuar e o sentimento de abandono e no pertencimento a Nova Iguau
aumentaram, fazendo com que os movimentos renascessem com fora ainda maior nos
anos 80 e 90.
4.1. O caso de Belford Roxo
Em Belford Roxo, o abandono da prefeitura e a omisso dos vereadores fizeram
a populao buscar em lideranas marginais9, melhores condies de vida, o que
inclua a auto-construo de bens e servios pblicos, o transporte de doentes em
ambulncias privadas, a segurana do comrcio local etc. A unio dessas lideranas,
s associaes de moradores e aos polticos tradicionais permitiu a marcao junto ALERJ do plebiscito para 12 de junho de 1988. Todavia, nesta data, o quorum mnimo
no foi alcanado devido ao alto ndice de absteno em reas do distrito onde os
moradores no se identificaram com a proposta de emancipao. A Comisso ento,
interps um recurso junto ao TRE requerendo a recontagem dos votos vlidos,
excluindo da listagem os eleitores das localidades que se abstiveram. Em outubro de
1988 o recurso foi deferido e o quorum atingido. Em 1990, o projeto de lei que criava o
municpio de Belford Roxo foi aprovado junto ALERJ, e em 1993, com a posse doprefeito eleito, Joca, Belford Roxo foi elevado categoria de municpio (Moraes, 2007).
4.2. O caso de Queimados
Em 1982, a eleio direta para prefeito em Nova Iguau no representou
nenhuma mudana na poltica de investimentos seletivos praticada at ento. Essa
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A liderana marginal atua na facilitao das aes populares de resoluo dos problemas prticos. Aelevao de um indivduo a esse status relaciona-se muito mais sua capacidade de incentivar a resoluoprtica de problemas do que sua proximidade a elementos ou rgos ligados s esferas oficiais de poder.
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situao de abandono somada fora adquirida pelas associaes de moradores no
perodo de recesso das emancipaes, re-impulsionou o movimento pr-emancipao de
Queimados. Em 1984, foi elaborado um abaixo assinado, que com apoio de deputados
estaduais conseguiu a marcao do plebiscito para julho de 1988. O pleito requeria a
emancipao de Queimados e tambm de Japeri, alegando-se que todas as vias que
ligavam este ltimo distrito Nova Iguau, passavam por Queimados. O quorum, no
entanto, no foi atingido devido ao alto ndice de absteno verificado em Japeri, pela
falta de identidade dos moradores daquele distrito com o novo municpio proposto
(Simes, 2007).
Uma nova tentativa de emancipao iniciou-se com a criao de uma associao
para organizar o processo, a Associao dos Amigos para o Progresso de Queimados.
Esta ento redesenhou o mapa do distrito, retirando as localidades em que houve
absteno no plebiscito anterior. Assim sendo, no novo mapa, Japeri, Cabuu, Marapicu
e Km 32 no mais integrariam o processo de emancipao. Alm disso, para dar maior
peso poltico ao pleito, a associao pediu ao deputado estadual Paulo Duque para
elaborar o novo projeto a ser apresentado ALERJ, de acordo com a nova Constituio
Brasileira (1988), alegando estar a populao do distrito de Queimados insatisfeita com
a carncia de equipamentos e servios pblicos, ainda mais diante do volume de
contribuies do referido distrito, consideravelmente expressivo, potencializada com a
inaugurao do Parque Industrial de Queimados, em 1978. Diante disso, e contando o
processo com o apoio das associaes de moradores, do empresariado e de grupos
religiosos, houve uma forte mobilizao em Queimados, que garantiu o
comparecimento macio da populao no plebiscito. Em 1991, foi elaborado e aprovado
o projeto de lei que instituiu o municpio, e em 1992, realizaram-se as primeiras eleies
municipais (Simes, 2007).
4.3. O caso de Japeri
O primeiro processo visando a emancipao de Japeri se deu em conjunto com
Queimados, e como j dito, no logrou xito. Japeri j pertenceu a trs diferentes
distritos de Vassouras, dois de Nova Iguau, e tambm ao que hoje corresponde a
Paracambi. Provavelmente resida a o fracasso da tentativa de emancipar-se de Nova
Iguau, subordinando-se a Queimados.
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Sua segunda tentativa de emancipao foi iniciada a partir da constituio de
uma Comisso que contava com a presena de vereadores, lderes religiosos,
associaes de moradores etc, enfim, tratava-se de um grupo bastante heterogneo. O
projeto do plebiscito foi aprovado na ALERJ e o mesmo foi marcado para junho de
1991. A campanha foi intensa e tinha dois focos: primeiro, buscava criar nos moradores,
uma identidade territorial prpria haja vista, como j mencionado, aquele distrito, ao
longo de sua histria ter integrado diferentes localidades; e, em segundo lugar, se
voltava contra a indiferena dispensada pela prefeitura e pelos polticos de Nova Iguau
ao distrito de Japeri e seus moradores, que vivia em pssimas condies de vida. O
comparecimento da populao no dia do plebiscito foi em massa, de forma que, em
dezembro de 1991 foi aprovada a lei que criava aquele municpio e, em 1992, foram
realizadas as primeiras eleies municipais, tendo em 1993, sido empossado o primeiro
prefeito (Moraes, 2007).
4.4. O caso de Mesquita
A primeira tentativa de emancipao de Mesquita se deu ainda nos anos 50,
como j dito, mas sem sucesso, provavelmente devido proximidade daquele distrito
em relao a Nova Iguau, que fazia com que as carncias do mesmo fossem bemmenores do que as encontradas nos distritos mais afastados. Inclusive, muitas reas de
Mesquita apresentavam uma qualidade de vida melhor do que a de reas do prprio
municpio-sede, o que tornava ameno o sentimento anti-iguauano de muitos moradores
dali.
De qualquer forma, em 1983 o processo de emancipao foi retomado, mas
quando foi marcada a data do primeiro plebiscito, ainda no havia sido criada uma
identidade nos moradores do distrito em relao ao novo municpio proposto. Oresultado foi um quorum insuficiente para o pleito de emancipao.
Em 1988, uma nova tentativa foi lanada, contando com o apoio do deputado
Jos Montes Paixo, o mesmo acusado de ter desaparecido com o processo de
emancipao de 1957. A populao passou a desconfiar desse novo pleito e por isso no
se mobilizou a comparecer no plebiscito marcado para novembro de 1993. Assim sendo,
mais uma vez o quorum necessrio no foi atingido (Simes, 2007).
Quase que de maneira imediata teve incio a terceira campanha pr-
emancipao, contando mais fortemente com o apoio de Paixo como mentor,
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coordenador e sobretudo, financiador do processo. O fato decisivo para o grande apoio
da populao nova campanha foi o governo do prefeito iguauano Altamir Gomes,
que deixou o municpio e seus distritos em crise. A populao mesquitense passou a
acreditar que a emancipao do distrito era a nica soluo e o Comit pela
emancipao de Mesquita passou a atuar fortemente no sentido de construir uma
conscincia emancipacionista.
O plebiscito foi marcado para novembro de 1995 e a grande novidade do mesmo
era a votao em urnas eletrnicas. No dia houve grande comparecimento da populao
s urnas, mas muitas dessas apresentaram defeitos, erros e houve suspeitas de fraudes. O
resultado foi mais uma vez, quorum insuficiente.
Foi dado incio ento a uma nova etapa do processo: a luta judicial pela
emancipao de Mesquita. O deputado Paixo encarregou-se de levar o processo
Justia para validar o plebiscito ocorrido. A anlise da listagem de eleitores mostrou a
existncia de inmeras pessoas falecidas. Montou-se ento um processo requerendo a
retirada desses nomes da listagem, a recontagem dos eleitores aptos a votarem e o
reclculo do quorum mnimo necessrio. O STF em 1999 deu ganho de causa
Mesquita, e o projeto de lei criando o municpio foi encaminhado e aprovado a ALERJ.
Em 2000 aconteceu a primeira eleio para prefeito de Mesquita e em 2001, com a
posse de Paixo, o candidato eleito como o emancipador, o municpio foi institudo
(Simes, 2007).
O mapa 1 a seguir demonstra como ficou a diviso do territrio da Regio
Metropolitana do Rio de Janeiro aps as emancipaes acima descritas.
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Mapa 1 RMRJ ps-emancipaes dos anos 1990 e 2000.
Fonte: SECTRAN/RJ.
5- O desempenho recente de Nova Iguau: anos 1990 e 2000
Segundo Silva (2004), no mbito da economia nacional, o Plano Real alcanou
sucesso ao garantir a estabilizao monetria. Todavia, o produto interno brasileiro
apresentou baixos nveis de expanso, houve aumento do desemprego e da precarizao
do mercado de trabalho, maior endividamento pblico e fragilidade externa.
A economia fluminense, na primeira metade dos anos 90, persistiu na dinmica
da dcada perdida, mas j cursando parte das transformaes necessrias para reverter
a trajetria de esvaziamento relativo verificada at ento. Entre 1993 e 2000, a
expanso acumulada do PIB fluminense foi da ordem de 31%, enquanto a da economia
nacional foi de 23%. Se considerarmos apenas a segunda metade da dcada, essa
expanso atingiu 21,4% no estado do Rio de Janeiro enquanto que o pas atingiu 11,7%
(Silva, 2004).
Segundo Natal apud Silva (2004), houve sim uma ruptura do padro iniciado no
decnio anterior, o que no significa a gnese de nenhuma fase espetacular de
crescimento do produto estadual.
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Nessa dinmica, a economia de Nova Iguau foi desafiada a se recuperar dos
processos emancipacionistas ocorridos entre 1990 e 2001, que lhe imputou perdas de
diferentes mbitos, e ainda responder positivamente inflexo econmica em processo
no estado do Rio de Janeiro.
O significativo fracionamento territorial do municpio implicou em impactos
negativos na receita daquele municpio, sobretudo no que tange aos repasses estaduais.
As transferncias relativas ao FPM Fundo de Participao dos Municpios pouco se
alteraram devido lei complementar n 74, de 30/04/1993 e Resoluo n 7, do TCU,
publicada no DOU Dirio Oficial da Unio em 24/05/1993, que estabeleceram que
para efeito de clculo das quotas do FPM seria utilizado o nmero que fosse maior: ou o
nmero de habitantes em 1991 ou o das estimativas anteriores. Alm disso, os
municpios que sofreram desmembramentos que dariam origem a novos municpios em
1993, a quota do FPM seria proporcional populao dos mesmos antes das
emancipaes (Bremaeker, 1996a).
Segundo Bremaeker (1996b), da receita total dos municpios da RMRJ, 83,9%,
ou seja, 10,86 bilhes de dlares pertencem ao municpio do Rio de Janeiro. Isto
representa dizer que toda e qualquer comparao efetuada em funo dos valores
globais, estar intimamente influenciada pelo desempenho das finanas do municpio do
Rio de Janeiro. Assim sendo, naturalmente Nova Iguau participa com um valor
bastante modesto: em quarto lugar, ele reponde por 2,2% do total da receita
metropolitana, ficando atrs de Duque de Caxias, que participa com 3,6% do montante,
e Niteri, com 3,3%.
Da receita de transferncias dos municpios da RMRJ recebida no perodo 1985-
1993, 68,6% dela, ou seja, 2,75 bilhes de dlares pertencem ao municpio do Rio de
Janeiro. O segundo municpio em volume de recebimento Duque de Caxias, que
participava com 8,7% do montante de recursos transferidos. Seguem-se em importnciaos municpios de Nova Iguau, com 5,8% das transferncias; Niteri, com 3,7%; So
Gonalo, com 3,5%; So Joo de Meriti, com 2,1%; Nilpolis, com 1,6%; Mag, com
1,4%; Itabora, com 1,3%.
Quase trs quartas partes dos recursos transferidos aos municpios da RMRJ so
provenientes do ICMS Imposto sobre Operaes de Circulao de Mercadorias e
Servios, que responsvel por 73,0% das transferncias no perodo 1985-1993, ou
seja, 2,91 bilhes de dlares. Nesse sentido, tambm a maior parte das transfernciasrecebidas por Nova Iguau provm desse Imposto: 63,8%. Cabe ressaltar, que esta
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participao da transferncia do ICMS bem superior quela encontrada para o
conjunto dos municpios brasileiros (47,6%) e mesmo para os municpios de grande
porte (48,8%).
A transferncia que se coloca em um segundo plano longnquo a do FPM, que
responsvel por 10,4% da receita de transferncia dos municpios metropolitanos no
perodo 1985-1993, ou seja, 420 milhes de dlares. Especificamente em Nova Iguau,
elas respondem por quase 44 milhes de dlares, ou seja, cerca de 19% do total das
transferncias recebidas pelo municpio. Cabe dizer, que a participao mdia do FPM
para os municpios de grande porte do pas de 14,6% (Bremaeker, 1996b).
Se por um lado Nova Iguau sofreu a reduo de sua receita, as despesas
municipais pelo menos com pessoal, no se reduziram uma vez que a maior parte dos
funcionrios preferiu continuar trabalhando na mesma municipalidade; de forma tal, que
segundo Rodrigues (2005), Nova Iguau ficou com uma estrutura administrativa
pretrita, dimensionada para um municpio que muito se transformou ao longo da
dcada.
Em termos de parque industrial, Nova Iguau sofreu forte impacto com a perda
do Distrito Industrial de Queimados, onde ainda hoje se localizam importantes empresas
como a Cosigua S.A. (indstria siderrgica), Ideal Standard (louas sanitrias), Knauf
do Brasil (artefatos de gesso), Cervejarias Kaiser, Quartzolit (indstria de cimento)
entre outras; e do Distrito Industrial de Belford Roxo, que abriga a Bayer do Brasil S.A,
(indstria farmacutica), Termolite (materiais de frico), Lubrizol do Brasil (aditivos
para combustveis e lubrificantes), Tribel (tratamento de resduos industriais) etc.
Em termos populacionais, Nova Iguau que em 1991 registrava uma populao
de 1.293.611 habitantes, a partir de 1993, devido s fragmentaes passou a contar com
769.963, ficando os municpios dele desmembrados no incio dos anos 1990 com as
seguintes populaes: Belford Roxo com 359.561, Japeri com 65.576, e Queimadoscom 98.511. J na formao de Mesquita, Nova Iguau perdeu cerca 171.809
iguauanos, passando assim a contar aquele municpio, em 2000, com 754.519
habitantes, correspondentes a 7% do contingente da RMRJ. A densidade demogrfica
nesse mesmo ano era de 1.506 habitantes por quilmetro quadrado.
O municpio apresentouuma taxa mdia geomtrica de crescimento, no perodo
de 1991 a 2000, de 2,02% ao ano, contra 1,17% na regio e 1,30% no Estado. E em
2006, sua populao estimada era de 844.583 pessoas. A taxa de urbanizao iguauana
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corresponde a 122,0% da populao, superior a metropolitana, que de 99,5% (TCE,
2005).
O grfico abaixo mostra que em 2003, Nova Iguau era o municpio mais
populoso da RMRJ excluindo a capital.
Grfico 1
Fonte: TCE, 2005.
Segundo dados da Fundao CIDE, o PIB de Nova Iguau respondeu em 2003,
por 1,78% do PIB estadual e com 2,62% do PIB da RMRJ. E em 2005, ele era o quinto
colocado dentre os nove municpios da RMRJ que obtiveram PIB a preos bsicos
acima de R$ 1 bilho. Considerando-se o estado do Rio de Janeiro, no mesmo ano,
Nova Iguau ocupava a stima posio no ranking dos maiores PIBs a preos bsicos
fluminenses, tendo apresentado uma variao de 18,9% em relao a 2004.
Adicionalmente, o PIB total per capita do municpio foi de R$ 6.113,91 (TCE, 2007).
O grfico abaixo demonstra o desempenho dos municpios da regio de Nova
Iguau no perodo 2000-2005. Percebe-se que o produto iguauano assumiu uma
trajetria crescente ao longo do perodo em referncia, tendo saltado de pouco menos de
R$ 3 milhes em 2000, para mais de R$ 4,5 milhes em 2005.
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Grfico 2
Fonte: TCE, 2007.
Conforme dados de 2003 da Fundao CIDE acerca da participao de cada
setor na formao do produto iguauano, a maior contribuio advinha do comrcio e
servios, seguindo-se a indstria e a agropecuria, conforme a tabela abaixo.
Tabela 1- Produto Interno Bruto de Nova Iguau por setores, em 2003
Produto Interno Bruto - 2003 Distribuio das atividades
Total(em R$ 1.000,00)
Per capita(em R$ 1,00)
Agropecuria Indstria Comrcio Servios
3.707.797 4.639 0,23% 34,54% 7,35% 57,88%Fonte: CIDE, 2003.
O setor tercirio o mais expressivo na composio do produto municipal, com
destaque para as seguintes atividades: aluguel, prestao de servios, transporte e o
comrcio varejista (CIDE, 2003). Todavia, a forte participao dos aluguis no produto
total, cerca de 23,3% do PIB, no significa, como se pode pensar, que h estagnao
econmica no municpio. Ao contrrio, h na verdade, um mercado imobilirio
dinmico voltado para os negcios no centro da cidade.
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As diferentes atividades que compem o PIB de Nova Iguau, segundo dados do
TCE alusivos ao ano de 2005, correspondem ao grfico a seguir:
Grfico 3 - Composio do PIB de Nova Iguau - 2005
Fonte: TCE, 2007.
Outra atividade de extrema expressividade no municpio o da construo civil,
que responde, conforme demonstrado acima, por 10,7% do produto municipal. Tal fato,
deve-se em grande medida presena e atuao de vrias empresas construtoras e
incorporadoras voltadas a atender a demanda da classe mdia local, por novas
habitaes.
Segundo Furlanetto (1987), um aspecto interessante observado em Nova Iguau
refere-se a uma certa interveno em reas ocupadas pela classe mdia-baixa instalada
na regio desde a dcada de 50 e que vm sofrendo presses por parte das empresas
construtoras atuantes. As populaes dessas reas sofrem dois tipos de presso: uma
quanto venda de seus imveis, normalmente bem localizados devido ocupao
relativamente antiga, prximos estrada frrea, e onde poderiam subir espiges, e
outras pelo sistema de marketing das reas afastadas (permuta terreno x unidade)
oferecendo residncias mais modernas, com maior conforto, enfim, com maiores
atrativos em bairros mais afastados do centro.
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De um modo geral, o setor de comrcio e servios obteve ao longo dos anos 90
ganhos de participao relativa quando comparado com o setor industrial. Segundo
Rodrigues (2005), reforar a centralidade comercial de Nova Iguau no seio da Baixada
Fluminense foi inclusive uma estratgia da prpria prefeitura face s emancipaes
ocorridas como forma de amenizar as perdas decorrentes dessas. O grfico a seguir
expressa a evoluo da participao das atividades mais expressivas na formao do
PIB de Nova Iguau entre 2000 e 2005.
Grfico 4 - Participao dos setores no PIB de Nova Iguau 2000-2005*
Fonte: TCE, 2007.* Em 2000, o setor Transportes engloba Comunicaes. Dados setoriais sem imputaode intermediao financeira.
Em 2004, uma pesquisa do Instituto Fecomrcio em parceria com o Sindicato
Varejista de Nova Iguau e com a Prefeitura Municipal indicou que as principais
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atividades do centro comercial da cidade so: advocacia, servios de sade, lanchonetes,
sales de beleza e vesturio.
Segundo Simes (2007), esse grande volume de transaes comerciais e
prestao de servios deve-se imensa populao do municpio, existncia de uma
burguesia local de alta renda e uma vigorosa classe mdia, mas sobretudo massa
consumidora oriunda no s do municpio, mas de quase todos os municpios da
Baixada Fluminense.
Oliveira & Sales (1993) todavia, referindo-se economia fluminense em seu
conjunto afirmam que o significativo incremento nos nveis de ocupao do setor
tercirio ao mesmo tempo em que traduz as oportunidade de trabalho abertas por novas
e mais sofisticadas modalidades de comrcio (como shopping-centers e hipermercados),
traduz, no outro extremo e com maior intensidade, o crescimento de atividades precrias
e tradicionalmente includas no espectro da assim chamada economia informal.
Apesar da perda de participao relativa da indstria na composio do produto
municipal, provocado tanto pela reduo do nmero de estabelecimentos industriais,
quanto pelo maior ritmo de crescimento do comrcio e dos servios no municpio, a
atividade industrial iguauana ainda expressiva, respondendo por quase 35% do PIB
em 2003.
De acordo com a tabela 2 abaixo, o maior peso do setor industrial repousa na
indstria de transformao, sendo que cerca de 21% do total do valor da produo
industrial vem da indstria de produtos mobilirios, 21% da indstria de produtos
alimentares, e a indstria de cosmticos responde por cerca de 10% do total nacional do
ramo. Cabe dizer que nesse setor, empresas tradicionais como a Sussa tem disputado
mercado com firmas locais como Embelleze, Niely, Vita A, Aroma do Campo, Skafe
entre outras, tanto regional quanto nacionalmente.
Tabela 2 - Estabelecimentos industriais de Nova Iguau, por classe 2000-2003
Extrativa MineralIndstria de
transformaoServios industriais de
utilidade pblicaConstruo Civil
2000 2001 2002 2003 2000 2001 2002 2003 2000 2001 2002 2003 2000 2001 2002 20038 6 6 6 486 435 419 412 6 7 6 9 167 152 167 131Fonte: Ministrio do Trabalho e Emprego, Relao Anual de Informaes Sociais - RAIS.
Todavia, tem-se verificado de fato, uma mudana no perfil das indstrias, em
funo dos prprios processos de reestruturao nos nveis mundial, nacional e estadual,
e tambm devido s novas caractersticas de ocupao do solo no municpio.
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A desindustrializao do centro da cidade remonta aos anos 70, quando grandes
fbricas como a Metalrgica Ing, e as alimentcias Granfino e Aimor fecharam ou
transferiram-se para outras localidades. Atualmente esse processo mais visvel ao
longo da Rodovia Presidente Dutra. Na pista sentido Rio, fbricas tm fechado dando
lugar a unidades comerciais e de servios como bares, restaurantes, lanchonetes, casas
de festas e de shows, supermercados etc. Ressalta-se todavia, que esse no um
processo generalizado, pois permanecem nesse eixo indstrias como a Cargill,
Compactor, Sonoleve e Cimobras. E na pista sentido So Paulo, a desindustrializao
foi mais intensa e essa renovao ainda no chegou, de forma que verificam-se:
prximo ao centro, a NHK-Cimebra, e mais distantes, a USIMECA, a TASA, a Coca-
Cola, Art Sul e o grande depsito das Lojas Americanas. No restante da Via Dutra, h
diversas oficinas mecnicas, ferros-velhos e um grande nmero de terrenos vazios e de
indstrias desativadas, que ainda no receberam um novo destino ou uso (Simes,
2007).
O setor primrio do municpio outrora to expressivo, hoje muito pouco
significativo, respondendo por menos de 1% do PIB municipal. Os principais destaques
do setor so os cultivos de aipim, banana e quiabo. Na pecuria, apenas a avicultura
agrega peso ao setor representado cerca de 2% da produo estadual (CIDE, 2003).
O ndice de Desenvolvimento Humano Municipal IDHM10de Nova Iguau em
1991 era de 0,707, e em 2000, de 0,762. Assim sendo, verifica-se que o
desenvolvimento humano de Nova Iguau mdio, tendo apresentado melhora no
perodo 1991-2000. Todavia, nos dois anos em referncia, o municpio apresentou
ndices inferiores ao Estado do Rio de Janeiro (0,753 e 0,807, respectivamente); e em
1991 apresentou ndice superior ao brasileiro (0,696), mas tendo em 2000, apresentado
ndice menor que o obtido pelo pas (0,766). Nesse mesmo ano (2000), a taxa de
alfabetizao das pessoas com 15 anos ou mais era de 93,2% no municpio.De acordo com dados da Fundao CIDE (2003), a taxa de mortalidade infantil
do municpio assumiu ao longo do perodo 1994-2003 uma trajetria de constante
reduo, passando de 36,7 crianas a cada 1000 que nasciam vivos em 1994, para 20,0
no final do perodo. Tambm a taxa de mortalidade bruta, no mesmo intervalo de
10O IDH mede o nvel de desenvolvimento humano a partir de indicadores de educao, longevidade erenda. Seu valor varia entre zero, considerado nenhum desenvolvimento humano, e um, desenvolvimento
humano total, sendo que ndices inferiores a 0,499 so considerados baixos, ndices de 0,5 a 0,799 soconsiderados mdios, e acima de 0,8 so considerados altos.
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tempo, reduziu-se continuamente de 8,0 por 1000 habitantes no incio do perodo, para
6,9 por 1.000, em 2003. As tabelas abaixo comprovam essas informaes.
Tabela 3
Tabela 4
Segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano, Nova Iguau apresentou entre os
dois ltimos censos, um crescimento da ordem de 39,39% em sua renda per capita, que
passou de R$ 170,39 em 1991, para R$ 237,50 em 2000. Alm disso, a pobreza medida
pelo nmero de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a meio salrio mnimo,
diminuiu 23,5% no mesmo perodo, passando de 32,7% para 25,0%. A desigualdade,
todavia, medida em termos do ndice de Gini11, cresceu, conforme mostra a tabela
abaixo: passou de 0,50 em 1991 para 0,53 em 2000.
Tabela 5
Fonte: TCE, 2005.
Apesar de todo o crescimento econmico e da melhoria de alguns indicadores
sociais, a Fundao CIDE (2003) apontou para Nova Iguau, a ocorrncia de inmeros
11
O ndice de Gini mede o grau de concentrao de qualquer distribuio, sendo todavia, muito utilizadopara avaliar o grau de concentrao de renda de um pas. Ele varia entre zero e um, sendo que quantomais prximo de um, pior a distribuio de renda, e quanto mais prximo de zero, melhor.
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casos de doenas como hansenase, que em 2004 atingiu 217 pessoas; tuberculose, que
atingiu no mesmo ano 868; leptospirose, 73; meningites em geral, 103; e a dengue, que
em 2004 atingiu 165 pessoas, e em 2008, em face da epidemia deflagrada no estado,
mais de 18 mil casos foram registrados s no municpio de Nova Iguau.
Fato que faltam esforos da administrao pblica no sentido de minimizar a
ocorrncia dessas doenas atravs da conscientizao da populao e da melhoria dos
servios de saneamento bsico em algumas localidades. Alis, essa deve ser uma
preocupao das autoridades municipais a fim de se evitar inclusive novos movimentos
emancipacionistas, pois esta foi uma das motivaes presentes em todos os processos
anteriores.
O Km 32 da antiga Rodovia Rio-So Paulo pertence ao municpio de Nova
Iguau, todavia verifica-se que os moradores daquele local s vo sede municipal para
resolver problemas junto prefeitura. O comrcio e os servios so procurados em
Campo Grande (bairro da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro). Segundo Simes
(2007) a relao tamanha, que existe ali uma escola da rede municipal da capital
estadual. Destarte, possvel e provvel que haja a qualquer momento, uma tentativa de
emancipao daquela localidade em relao a Nova Iguau, e de anexao ao Rio de
Janeiro. Com isso, Nova Iguau mais uma vez ver-se- perdendo territrio e contingente
populacional tendo que se reorganizar no sentido de recuperar-se das perdas sofridas,
como ocorreu nos sete outros desmembramentos anteriores.
Consideraes finais
A urbanizao e a industrializao de Nova Iguau resultou do processo de
mesma natureza ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, a partir dos anos 30 e 40. Isso
porque a expanso industrial e a efetiva ocupao urbana de Nova Iguau decorreramdo extrapolamento e re-direcionamento do crescimento econmico e populacional do
Rio de Janeiro, quela poca capital brasileira, para alm de suas fronteiras, seguindo as
margens da Rodovia Presidente Dutra e da Avenida Brasil, isto , em direo Baixada
Fluminense. Some-se a isso ainda, a poltica de isenes fiscais adotada pela prefeitura
de Nova Iguau.
O resultado foi, at os anos 50, a instalao de inmeras indstrias alimentcias e
de materiais de construo naquele municpio, cuja produo atendia sobretudo omercado local. Houve tambm um expressivo crescimento populacional desencadeado
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pela entrada de migrantes em Nova Iguau e demais municpios da Baixada. Eles
buscavam melhores condies de vida na cidade do Rio de Janeiro e fixavam residncia
na Baixada por esta ser a periferia mais prxima, onde os lotes tinham preos acessveis
e o acesso era facilitado pelas ferrovias recm-eletrificadas. Os reflexos deste surto
populacional podem ser verificados no elevado nmero de loteamentos aprovados na
Baixada como um todo quela poca.
O efeito multiplicador desencadeado pelo crescimento industrial refletiu por sua
vez, no crescimento do setor tercirio, dos empregos, da rede comercial etc, o que
culminou na emergncia de Nova Iguau, no seio da Baixada Fluminense, como um
plo relativamente autnomo que reproduz, embora em escalas menores, os arranjos
econmicos e espaciais verificados na cidade do Rio de Janeiro, com poder inclusive de
articular outros municpios menores de seu entorno.
Nos anos 60 e 70, Nova Iguau em sua trajetria de cidade-plo atraiu empresas
de grande porte, sobretudo de transformao, que se distribuam por seus distritos, que
por sua vez colaboravam proficuamente com a gerao da receita municipal. A indstria
de transformao cresceu de forma tal, que em 1965, quase a totalidade do valor total de
produo era proveniente desta. Analogamente, a populao iguauana crescia de
maneira acelerada e sustentada.
Em virtude de todo esse crescimento verificado em Nova Iguau, o municpio se
firmou como cidade-plo, exercendo mltiplas funes num territrio que excede suas
fronteiras. Contando com um distrito central de negcios relativamente autnomo e
desenvolvido, ele exerce praticamente as mesmas funes do ncleo fluminense, porm
em menor escala.
A prefeitura municipal, todavia, a despeito das importantes contribuies de seus
distritos na formao da receita total do municpio, permanecia executando a poltica de
investimentos seletivos que lhe implicou em perdas de territrio, populao, parqueindustrial e rede de comrcio e servios, na formao de Duque de Caxias, Nilpolis e
So Joo de Meriti, na dcada de 1940. Com isso, a prpria prefeitura encarregou-se de
criar em seus distritos um sentimento anti-iguauano, e o desejo de formar um novo
municpio onde os tributos recolhidos de fato fossem revertidos em bens e servios
pblicos para a populao contribuinte.
Foi nesse contexto que nos anos 80, aps uma trgua de quase 20 anos nos
movimentos pr-emancipao provocado pelo Golpe Militar de 1964, foram retomadasas campanhas emancipacionistas. A dcada de 1980, na verdade foi apenas de
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articulaes, mobilizaes e tentativas, pois somente no decnio seguinte, que novos
municpios se formaram a partir da fragmentao de Nova Iguau, quais sejam: Belford
Roxo, Queimados, Japeri e Mesquita.
Embora os processos de emancipao de cada um desses novos municpios
tenham desenrolado de maneiras diferentes, fato que o interesse dos grupos polticos
locais de exercerem o poder de forma legtima e os anseios dos moradores, de serem
atendidos com bens e servios pblicos de qualidade, que melhorassem as condies de
vida da populao como um todo, constituram-se em motivao para todos os
processos ocorridos.
Em 1980, tem-se o auge do setor industrial iguauano. A partir da,
acompanhando a tendncia estadual de esvaziamento econmico, o municpio sofreu
uma queda no nvel de emprego da economia, logo, perde dinamismo econmico e em
decorrncia disso, sua taxa de crescimento populacional, explicada em boa medida por
migraes, reduzida significativamente.
J em meados dos anos 1990, a economia fluminense passou a cursar parte das
transformaes necessrias para reverter a trajetria de esvaziamento relativo
verificada at ento. Nesse sentido, Nova Iguau foi desafiado a responder
positivamente inflexo econmica em processo no estado, recuperando-se ento dos
processos emancipacionistas ocorridos entre 1990 e 2001.
No decorrer dos anos 1990 e 2000, Nova Iguau atravessou um processo de
acelerado crescimento econmico, que ratificou a emergncia do municpio enquanto
uma economia de servios, em detrimento das atividades industriais. Essas atividades
no deixaram de ser expressivas, mas tiveram perda de participao na formao do
produto municipal. No setor tercirio destaca-se a participao dos aluguis, prestao
de servios, transporte, comrcio varejista e da construo civil, na composio do PIB
iguauano; enquanto no setor secundrio, o destaque cabe indstria de produtosmobilirios, de produtos alimentares e de cosmticos. No centro comercial da cidade os
principais servios prestados so os de advocacia, de sade, lanchonetes, sales de
beleza e vesturio.
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