a cidade de cametá

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1 Gleice Kelly Gonçalves da Costa UFPA - [email protected] Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior UFPA – [email protected] Cametá: interações cidade-rio na orla fluvial de um núcleo urbano ribeirinho do Baixo Tocantins 1-INTRODUÇÃO A cidade de Cametá sempre exerceu uma intensa relação com o rio Tocantins e com as dinâmicas da natureza de uma forma geral. A importância da natureza (rio e floresta) é reafirmada a cada momento histórico, seja como recurso - a exemplo do extrativismo animal (o pescado no rio) e vegetal (açaí na floresta) -, seja como via de circulação (TRINDADE JR, 2002). Como núcleo originalmente ribeirinho, fez parte do processo de colonização da Amazônia, sendo a relação com o rio decisiva para a produção do espaço da cidade desde a sua origem em 1635. Por ser uma cidade de quase quatro séculos, consideramos que Cametá acompanhou boa parte das mudanças ocorridas na Amazônia, acumulando, com isso, diversos tempos históricos que hoje coexistem por estar materializados nas formas espaciais. De início, consideramos que a orla da cidade de Cametá é reflexo desses tempos, pois é a partir dela que surge a cidade, sendo a relação com o rio a responsável por boa parte das dinâmicas aí presentes. 2-OBJETIVO DO TRABALHO Identificando essa particularidade da relação com o rio, este trabalho, de resultados parciais, tem como objetivo analisar a dimensão ribeirinha de uma cidade de nível intermediário na rede urbana amazônica em uma realidade sub-regional específica e diferentemente afetada pelas políticas recentes de desenvolvimento regional. 3-METODOLOGIA Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1

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A descrição do município no Baixo Tocantins

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    Gleice Kelly Gonalves da CostaUFPA - [email protected]

    Saint-Clair Cordeiro da Trindade JniorUFPA [email protected]

    Camet: interaes cidade-rio na orla fluvial de um ncleo urbano ribeirinho do BaixoTocantins

    1-INTRODUO

    A cidade de Camet sempre exerceu uma intensa relao com o rio Tocantins e com

    as dinmicas da natureza de uma forma geral. A importncia da natureza (rio e floresta)

    reafirmada a cada momento histrico, seja como recurso - a exemplo do extrativismo animal

    (o pescado no rio) e vegetal (aa na floresta) -, seja como via de circulao (TRINDADE

    JR, 2002). Como ncleo originalmente ribeirinho, fez parte do processo de colonizao da

    Amaznia, sendo a relao com o rio decisiva para a produo do espao da cidade desde a

    sua origem em 1635. Por ser uma cidade de quase quatro sculos, consideramos que Camet

    acompanhou boa parte das mudanas ocorridas na Amaznia, acumulando, com isso,

    diversos tempos histricos que hoje coexistem por estar materializados nas formas espaciais.

    De incio, consideramos que a orla da cidade de Camet reflexo desses tempos, pois a

    partir dela que surge a cidade, sendo a relao com o rio a responsvel por boa parte das

    dinmicas a presentes.

    2-OBJETIVO DO TRABALHO

    Identificando essa particularidade da relao com o rio, este trabalho, de resultados

    parciais, tem como objetivo analisar a dimenso ribeirinha de uma cidade de nvel

    intermedirio na rede urbana amaznica em uma realidade sub-regional especfica e

    diferentemente afetada pelas polticas recentes de desenvolvimento regional.

    3-METODOLOGIA

    Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

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    mailto:[email protected]:[email protected]
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    Como metodologia para a realizao do trabalho procedeu-se a levantamento de

    dados secundrios e de fontes documentais sobre a rea de estudo, observao sistemtica

    de campo sobre a interao cidade-rio na orla fluvial de Camet, aplicao de formulrios de

    campo pautados em questes objetivas e realizao de entrevistas gravadas a partir de

    questes semi-estruturadas aos agentes produtores do espao da orla fluvial de Camet e aos

    tcnicos e representantes do poder pblico local ligados s polticas de planejamento e gesto

    urbanos da cidade. Por ser um trabalho que ainda encontra-se em andamento, sistematizamos

    aqui apenas os resultados parciais da pesquisa.

    4- RESULTADOS PRELIMINARES4.1-CARACTERIZAO DA ORLA DE CAMET

    Para a caracterizao da orla da cidade de Camet, cabe, em primeiro lugar, a

    definio e entendimento do que estamos entendendo como orla. Para isso, nos apoiamos na

    leitura de Trindade Jr (2002), que possui o seguinte entendimento acerca de orla:Na verdade, o que se tem convencionado chamar de orla, diz respeitobasicamente s faixas de contato imediato da cidade com os cursos fluviaisprincipais que banham as cidades, provavelmente devido maior importnciaque esses cursos possuem para a cidade, do ponto de vista da circulao (...)(TRINDADE JR, 2002, p.139).

    Concordando com esta definio, vamos analisar a orla de Camet considerando a

    faixa de contato da cidade com o curso do rio Tocantins que a banha. Para a melhor

    compreenso desta faixa, vamos inicialmente fazer uma descrio mais detalhada, por trecho,

    de sua extenso.

    A orla de Camet uma faixa de formao antiga, uma vez que nela se mostram

    presentes algumas rugosidades, especialmente relacionadas ao catolicismo, como as igrejas.

    Essa faixa possui uso do solo dividido entre residncias e comrcio/servios.

    No sentido norte-sul, a orla comea com a praia da aldeia, por isso esse trecho

    mostra-se como atratividade turstica, o que fica mais evidente quando percebemos a

    instalao de bares e hotis aproveitando as amenidades do Tocantins. Seguindo para o sul,

    percebemos inmeras residncias. H ainda nesta rea o porto da balsa de uso predominante

    dos comerciantes que utilizam a balsa para o transporte de mercadorias.

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    A parte central da orla a de formao mais antiga. Nela esto presentes os prdios

    mais antigos, que marcam a presena de tempos histricos diferenciados. Nessa faixa, o uso

    principal do solo o de comrcio e servios, onde h uma verdadeira concentrao dessas

    atividades, denotando certa densidade do uso do solo. lugar tambm de predominncia dos

    agentes do circuito inferior da economia, considerando a feira e o mercado. H ainda a

    presena de vrios trapiches de madeira improvisados, que abrigam um grande fluxo de

    pessoas e mercadorias e onde aportam diariamente embarcaes de variados portes. Na

    parte mais ao sul da orla predomina o uso residencial.

    Dada a caracterizao da orla de Camet, vamos entender agora como esse espao

    foi sendo formado ao longo do processo histrico, chamando ateno para a formao

    socioespacial dessa faixa.

    4.2-A PRODUO DO ESPAO BEIRA-RIO CAMETAENSE

    A produo do espao da cidade de Camet de longa data, estendendo-se por

    quase quatrocentos anos. Por esse motivo, a formao socioespacial dessa cidade e, por

    conseguinte, a da sub-regio do Baixo Tocantins, na qual ela se insere, esto intimamente

    ligadas formao socioespacial da Amaznia como um todo. Assim, uma articulao entre

    essas escalas torna-se fundamental para entender as transformaes na cidade de Camet e

    como se deu a acumulao dos diversos tempos.

    Buscamos, com isso, analisar a sucesso de tempos na cidade de Camet. Para isso,

    concordamos com Santos (2008) que, tentando identificar formas de relao entre tempo e

    espao, mostra-nos que em cada lugar existem sistemas sucessivos do acontecer social, o que

    nos permite falar em ontem e hoje, em um eixo de sucesses, bem como de um eixo de

    coexistncias que se referem a tempos no contemporneos, mas simultneos em um mesmo

    espao.

    De incio, consideramos que a orla da cidade de Camet reflexo desses tempos,

    pois a partir dela que surge a cidade, sendo a relao com o rio a responsvel por boa

    parte das dinmicas a presentes. Por isso, nossa anlise, alicerada na relao entre as

    escalas, objetiva entender quais os rebatimentos espaciais na orla de Camet, considerando

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    os principais contextos poltico-econmicos que se sucederam na Amaznia e o rebatimento

    de polticas territoriais e de desenvolvimento na formao e caracterizao atual da cidade de

    Camet e de sua orla fluvial.

    A partir de 1616 iniciou-se a conquista do territrio amaznico, com objetivo inicial

    de defesa e ocupao para uma posterior perspectiva de controle econmico (CORRA,

    1987). Nesse contexto, a sub-regio do Baixo Tocantins tornou-se um eixo de singular

    importncia para essa expanso com vista defesa do vale contra interesses estrangeiros,

    culminando com a fundao do ncleo de Camet-Tapera (1620) e posteriormente com a

    criao da Vila Viosa de Santa Cruz de Camet em 1635 (POMPEU, 2002).

    A partir de 1655, foi decisivo para a ocupao da Amaznia o surgimento das aldeias

    missionrias para garantir uma economia baseada no trabalho indgena e no sistema de

    aviamento para a explorao das drogas-do-serto (CORRA, 1987). Assim o era no Baixo

    Tocantins, que tinha uma dinmica socioeconmica marcada pelas atividades comerciais,

    extrativismo, pequena agricultura, administrao e catequese. Em Camet, nesse contexto

    econmico diretamente inserida na produo das drogas-do-serto, surgiram os primeiros

    bairros (Central e So Benedito), margeando o porto da cidade (POMPEU, 2002).

    Em outro momento de explorao do espao amaznico, a partir de 1750, entrou em

    ao a poltica pombalina, que criou a Companhia Mercantil do Gro-Par e Maranho,

    assumindo a colonizao dessa regio (CORRA, 1987). Esta assumiu o controle econmico

    e mercantil e objetivou a insero da economia amaznica no mercado mundial. As

    conseqncias imediatas desta poltica foram: expulso dos jesutas, introduo da

    mo-de-obra escrava africana e estmulo a uma agricultura comercial. Nesse contexto, o

    Baixo Tocantins tem importncia pela lavoura de cacau a concentrada. Camet assume

    importncia nas funes de comrcio e servio no contexto amaznico, apresentando relativo

    desenvolvimento urbano, com mudanas no espao, decorrentes de obras de infra-estrutura,

    com certa modernizao (CORRA, 1987). As obras em Camet aconteceram

    especialmente na orla, j que l se tinha a funo comercial e de servios e era onde as

    famlias mais abastadas construram suas casas, algumas ainda presentes (POMPEU, 2002).

    De 1778 a 1850 ocorreu uma estagnao econmica na Amaznia pela queda da

    demanda de produtos regionais no mercado europeu. Como conseqncia, aconteceu a

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    extino da Companhia Mercantil do Gro-Par e Maranho e um arrefecimento da

    produo agrcola (CORRA, 1987). No Baixo Tocantins, houve a continuao de

    atividades econmicas voltadas para a lavoura e para o extrativismo. Nesse contexto, Camet

    era uma cidade que possua significativa importncia no cenrio regional, destacando-se como

    a segunda cidade mais importante da Provncia do Gro-Par at 1835. A orla da cidade

    continuou sua expanso mais para o norte. A parte central da orla, alm das praas das

    Mercs e da Matriz, possua o hospcio dos mercedrios (atual instituto Nossa Senhora

    Auxiliadora), o quartel e o arco que adornava o porto (POMPEU, 2002). Essas melhorias

    estruturais so reflexos da importncia que Camet ainda possua no cenrio regional.

    De 1850 a 1920, perodo da configurao do boom econmico da borracha, o

    Baixo Tocantins recebe pouco destaque nessa produo, levando Camet a perder

    importncia face a outras cidades inseridas na produo/comrcio da borracha como

    Santarm (CORRA, 1987). A orla da cidade de Camet via-se ameaada pelo constante

    processo de eroso, colocando em risco as casas da primeira rua. Destacam-se tambm na

    orla a construo de residncias que serviam tambm para o comrcio, pois pertenciam a

    comerciantes de cacau, borracha e oleaginosos, do cais de arrimo e do Porto Real

    (POMPEU, 2002). Sobre esse porto, Santos (1995) argumenta a necessidade da sua

    construo:Eis a principal explicao para a construo do Porto Real. A necessidade demelhorar o espao de circulao cametaense nas suas relaes com Belm ecom o mundo. O interesse no s do empresariado local, mas de todos osaviadores, compradores e exportadores envolvidos com o comrcio daborracha (...) (SANTOS, 1995, p.34).

    A partir 1990 a cidade de Camet cresce, apresentando um traado urbano

    espraiado e com pouca regularidade e uniformidade. O vetor de expanso principal o setor

    sudoeste, acompanhando o rio Tocantins e a PA-156 (Transcamet). As ocupaes na orla

    crescem na direo sul, com a presena de portos e residncias particulares at o rio Aricur

    (POMPEU, 2002).

    Considerando esse breve histrico, podemos perceber que durante quase trs

    sculos, Camet se insere diretamente nas polticas territoriais e de desenvolvimento para a

    Amaznia, o que se verifica na formao e caracterizao atual da cidade de Camet e de sua

    orla fluvial. J no sculo XX, e principalmente a partir de 1960, essa cidade passa a no mais

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    ser inserida, ou pelo menos inserida de forma indireta, em detrimento de outras cidades que

    apresentam maior atratividade para essas polticas.

    Assim, a estagnao urbana da cidade reflexo dessa no insero direta no contexto

    a partir de 1960, uma vez que h na cidade poucos elementos que denunciam o processo de

    modernizao do territrio, isso porque Camet ainda apresenta uma economia tradicional,

    baseada fortemente no extrativismo e na agricultura, praticadas no municpio. As rodovias a

    presentes ainda fazem transporte muito mais no contexto sub-regional, no possuindo, por

    exemplo, uma rodovia que a ligue diretamente a Belm. Ademais, a cidade no alvo de

    grandes empresas capitalistas com seus projetos desenvolvimentistas. Neste caso,

    percebemos apenas uma insero indireta por estar entre dois grandes objetos (SANTOS,

    1995), que so a Usina Hidreltrica de Tucuru (produo de energia), no Municpio de

    Tucuru, e o complexo Albras-Alunorte (produo de alumina e alumnio), no Municpio de

    Barcarena. Silva (2008) expe alguns desses elementos, referindo-se ao perodo 1960/1970: nesse contexto que Camet no foi includo diretamente no eixo dasestratgias de desenvolvimento. Esse fator torna-se, ento, responsvel pelapermanncia, na paisagem urbana e rural deste Municpio, de caractersticassociais, econmicas, polticas e culturais peculiares produzidas em temposhistricos anteriores a 1960 (SILVA, 2008, p.69).

    Por tudo isso, a orla de Camet guarda muitos elementos da vida ribeirinha, seja pela

    forte dependncia em relao ao rio, seja pela fora da tradio, ou ainda por um tempo mais

    lento nos processos de mudanas.

    4.3- RELAO CIDADE-RIO NA ORLA DE CAMET

    Neste momento do trabalho, vamos discutir os levantamentos que fizemos na ocasio

    da realizao do trabalho de campo Camet. Por meio da aplicao de formulrios e da

    observao sistemtica da paisagem levantamos dados para discutir a relao cidade-rio na

    orla fluvial de Camet.

    Tabela 01: Usos do solo na orla fluvial de Camet

    USOS Abs. %Residencial 59 49,17Industrial 0 0

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    Comercial 31 25,84Servios 16 13,33

    Institucional 4 3,33Feiras e

    Mercados 10 8,33Outros 0 0Total 120 100

    Fonte: Trabalho de campo, janeiro/2010.

    A tabela 01 vai nos mostrar os usos do solo na orla fluvial de Camet. O que

    podemos perceber que os usos predominantes na orla so o residencial, o comercial e

    servios. O uso residencial est presente em toda faixa de orla, com 49,17% dos nmeros

    evidenciando tal afirmao, mas percebemos que na parte central da orla predomina o

    comrcio. Isso ficou destacado quando percebemos um adensamento dessas atividades neste

    trecho da orla, at porque corresponde rea central da cidade, a de formao mais antiga e

    onde primeiramente se desenvolveu o comrcio.

    Vamos analisar agora alguns dados que nos permitem entender a relao

    cidade-rio mais diretamente. A tabela 02 d conta da importncia do rio para os agentes

    localizados na orla. Desta forma, percebemos que para os agentes localizados na orla o rio

    possui uma grande importncia, em que 76,66% dos entrevistados assim o consideram. Esses

    dados se mostram muito relevantes porque nos apontam para um elemento de permanncia

    nessa relao cidade-rio.

    Tabela 02: Importncia do rio na orla fluvial de CametIMPORTNCIA Abs. %

    Grande 92 76,66Mdia 8 6,67

    Pequena 17 14,17Nenhuma 3 2,5

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    Total 120 100Fonte: Trabalho de campo, janeiro/2010.

    Considerando o rio um elemento ainda muito importante no cotidiano da cidade

    como j demonstrou a tabela acima, resta saber o porqu dessa importncia. Para isso, a

    tabela 03 considera os principais elementos de importncia.

    Tabela 03: Principal uso do rioUSOS Abs. %

    Transporte 68 56,66Contemplao 5 4,17

    Recursos (gua, peixe etc) 26 21,67Lazer 18 15

    Turismo 0 0Manifestaes Culturais 0 0

    Outros 0 0No usa 3 2,5

    Total 120 100Fonte: Trabalho de campo, janeiro/2010.

    De acordo com esses dados, percebemos que uma das principais importncias do rio

    a de transporte, com 56,66% das respostas. Esses dados se justificam quando percebemos

    que Camet ainda depende muito do transporte fluvial para ligar-se com o interior ou com

    outras cidades, seja para o transporte de mercadorias ou de pessoas. As rodovias a presente

    fazem ligao apenas com poucas cidades, sendo o rio um elemento ainda muito importante

    para tal fim.

    Merecem destaque tambm os recursos com 21,67% dos entrevistados. A questo

    do rio como recurso ainda forte em toda a orla, mas principalmente na parte sul porque l

    habita uma populao de baixa renda que ainda utiliza o rio para a pesca, gua e atividades

    domsticas.

    Tabela 04: Importncia da orla fluvial de CametIMPORTNCIA Abs. %

    Grande 104 86,67Mdia 6 5

    Pequena 9 7,5Nenhuma 1 0,83

    Total 120 100Fonte: Trabalho de campo, janeiro/2010.

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    A tabela 04 mostra que a orla muito importante. 86,67% dos informantes assim

    responderam. Isso se deve, em primeiro lugar, porque os agentes a esto localizados, mas

    tambm porque a orla oferece atratividade. No caso dos comerciantes, ela importante para

    as vendas e contato com os ribeirinhos das ilhas. E para os moradores, ela importante

    porque oferece amenidades, como a paisagem, o vento e outros que em outro ponto da

    cidade no encontrariam. Vejamos com mais detalhes na tabela 05.

    Tabela 05: Principal uso da orlaUSOS Abs. %

    Transporte 15 12,5Contemplao 20 16,67

    Recursos (gua, peixe etc) 9 7,5Lazer 54 45

    Turismo 0 0Manifestaes Culturais 1 0,83

    Outros 17 14,17No usa 4 3,33

    Total 120 100Fonte: Trabalho de campo, janeiro/2010.

    A tabela 05 mostra que o uso da orla para o lazer destaque (45% dos

    entrevistados). Esse uso da orla para o lazer destacado em toda sua extenso porque se

    evidencia a presena de praia, bares e restaurantes.

    Os dados aqui trabalhados constituem uma primeira aproximao da relao

    cidade-rio. Por meio deles, tentamos mostrar que o rio e a orla continuam sendo muito

    importantes para uma cidade ribeirinha como Camet. Essa importncia destaca quando os

    dados mostram a orla ainda para o uso domstico, para o lazer, para o comrcio e outros.

    Assim, a cidade interage com o rio considerando o cotidiano ribeirinho ainda forte em

    Camet.

    5-CONSIDERAES FINAIS

    Retomando Lefebvre (2001), as cidades apresentam mltiplos tempos, que se

    articulam no viver urbano. A produo do espao na cidade de Camet se d por essa

    coexistncia de mltiplas temporalidades. Assim, concordamos com Massey e Keynes

    (2004), quando diz que o espao produto de inter-relaes, que condicionante e abrigo

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    para a multiplicidade de tempos distintos. Isso porque o espao est sempre sendo feito,

    nunca finalizado.

    A orla de Camet , assim, reflexo desses diferentes tempos, por abrigar em sua

    formao socioespacial fixos que denotam diferentes perodos histricos. Isso se reflete em

    sua formao tradicional e pela permanncia em seu contedo socioespacial de prticas e

    vivncias herdadas de tempos anteriores.

    Diante dessas consideraes, cabe destacar a importncia da compreenso dessa

    realidade. Em primeiro lugar, ocorre a possibilidade da ampliao do conhecimento das

    realidades urbanas na Amaznia, que amplamente j vem sendo discutida por tericos como

    Becker (1990), entendendo a complexidade dos processos urbanos na regio. Em segundo

    lugar, pelo subsdio aplicao de polticas pblicas mais concernentes a essa complexidade.

    6-REFERNCIAS

    BECKER, B. Amaznia. So Paulo: tica, 1990. (Srie Princpios)._____. Fronteira e urbanizao repensadas. In: BECKER, B. K., MACHADO, L. O.;MIRANDA, M. Fronteira amaznica: questes sobre a gesto do territrio. Braslia: UnB,1990b. p. 131-144.CORRA, R. L. A periodizao da rede urbana na Amaznia. Revista Brasileira deGeografia, Rio de Janeiro, v. 49, n. 03, p. 39-68, jul./set. 1987.LEFEBVRE, H. O direito cidade. So Paulo: Centauro, 2001.MASSEY, D.; KEYNES, M. Filosofia e poltica da espacialidade: algumas consideraes.Geographia, Niteri, n. 12. RJ, UFF/EGG, 2004, p.7-23.POMPEU, J. D. P. Evoluo territorial e urbana do Municpio de Camet. Camet:Novo Tempo, 2002.SANTOS, F. M. dos. O Porto de Camet no espao de circulao. Camet, 1995.Monografia (Graduao em Licenciatura e Bacharelado em Geografia) Departamento deGeografia, Universidade Federal do Par.SANTOS, M. Os grandes projetos: sistema de ao e dinmica espacial. In: CASTRO, E.;MOURA, E.; MAIA, M. L. S. (Orgs.). Industrializao e grandes projetos:desorganizao e reorganizao do espao. Belm: EDUFPA, 1995. p.13-20.___________. A natureza do espao: tcnica e tempo, razo e emoo. So Paulo:Hucitec, 2008.SILVA, M. J. V. da. Dilemas do planejamento e da gesto municipal na AmazniaRibeirinha: uma anlise do caso de Camet luz do iderio da reforma urbana e do estatutoda cidade, 2008. Dissertao (Mestrado em Geografia, Organizao e Gesto do Territrio),Programa de ps-graduao em Geografia, Universidade Federal do Par.

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    TRINDADE JR., S. C. Imagens e representaes da cidade ribeirinha na Amaznia: umaleitura a partir de suas orlas fluviais. Revista Humanitas, Belm, v. 18, n. 2, p. 135-148, jun.2002.TRINDADE JR., S. C.; PEREIRA, J.C.C. Reestruturao da rede urbana e importncia dascidades mdias na Amaznia oriental. In: SPOSITO, M.E. Cidades Mdias: espaos emtransio. So Paulo: Expresso Popular, 2007. P. 313-342.

    Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3

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