a caracterização da atividade leiteira no município de arenópolis go

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ CURSO DE GEOGRAFIA XISLEQUE TIOLEIVA DE OLIVEIRA SOUSA A CARACTERIZAÇAO DA ATIVIDADE LEITEIRA NO MUNICÍPIO DE ARENÓPOLIS - GO IPORÁ-GO 2010

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  • 0

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    CURSO DE GEOGRAFIA

    XISLEQUE TIOLEIVA DE OLIVEIRA SOUSA

    A CARACTERIZAAO DA ATIVIDADE LEITEIRA NO MUNICPIO

    DE ARENPOLIS - GO

    IPOR-GO

    2010

  • 1

    XISLEQUE TIOLEIVA DE OLIVEIRA SOUSA

    A CARACTERIZAAO DA ATIVIDADE LEITEIRA

    NO MUNICPIO DE ARENPOLIS-GO

    Monografia apresentada como exigncia parcial para obteno do grau de licenciada no curso de Geografia da Universidade Estadual de Gois Unidade Universitria de Ipor. Sob a orientao da professora Prof Mestre Paula Junqueira da Silva.

    IPOR-GO 2010

  • 2

    XISLEQUE TEOLEIVA DE OLIVEIRA SOUSA

    A CARACTERIZAAO DA ECONOMIA LEITEIRA NO MUNICPIO

    DE ARENPOLIS-GO

    Monografia defendida e aprovada em 26 de Novembro de 2010,

    pela Banca Examinadora constituda pelos professores.

    __________________________________________________

    Profa. Msc. Paula Junqueira da Silva (presidente)

    __________________________________________________

    Prof. Msc. Jlio Csar pereira Borges

    1 Arguidor

    __________________________________________________

    Prof. Esp. Adjair Maranho Sousa

    2 Arguidor

  • 3

    Dedico esta pesquisa aos nossos mestres, por

    ter nos incentivado a seguir em frente sempre

    que nos vamos desanimadas frente aos

    obstculos que a vida acadmica nos impe.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar agradeo a Deus por ter me iluminado e abenoado me ajudando

    a vencer todos os desafios.

    Agradeo ao meu esposo Genival pelo seu apoio e por me incentivar sempre que

    estive desanimada diante das dificuldades, durante os quatro anos na Universidade e na

    realizao da monografia.

    Agradeo aos meus filhos Genival Junior e Mayara pela compreenso diante das

    minhas ausncias durante o perodo da faculdade.

    minha me que sempre me apoiou e me ajudou quando eu estava desanimada.

    professora Paula Junqueira por ter me orientado com dedicao me ajudando

    sempre que precisei, emprestando material e me recebendo muitas vezes em sua casa,

    atendendo meus telefones, para responder minhas duvidas sempre que precisei.

    s minhas amigas Silvaci e Evanilda que sempre prontificaram em me ajudar

    quando eu precisava.

    Ao Sr. Joo Delfino dirigente de laticnio que contribuiu de forma significativa para

    que essa pesquisa fosse feita.

    Aos produtores de leite, aos comerciantes que responderam os questionrios e os que

    me deram informao que eu precisei.

    Aos meus amigos de sala de aula e, enfim, a todos que se fizeram presentes neste

    trabalho.

  • 5

    A maior riqueza de um povo a sua capacidade de trabalho. E no h como negar que somente com o trabalho que se consegue alcanar os degraus mais altos do desenvolvimento. (Autor desconhecido)

  • 6

    SUMRIO

    RESUMO .................................................................................................................. 10

    INTRODUO......................................................................................................... 11

    1 ANTECEDENTES DA ATIVIDADE PECURIA E A ORIGEM DA ATIVIDADE EM GOIS: INFLUNCIAS EM ARENPOLIS........................... 15 1.1 - A pecuria em Gois e sua relao com a ocupao do estado ....................... 17 2 - AS CONDIES HISTRICO-GEOGRFICAS DO MUNICPIO DE ARENPOLIS PARA A PECURIA LEITEIRA ........................................... 20 3 A MODERNIZAO E O PAPEL DOS LACTICNIOS NA REESTRUTURAO DA PRODUO DE LEITE LOCAL E REGIONAL ... 30 3.1 O papel dos laticnios em Arenpolis ................................................................. 32 4 DESAFIOS PARA A MANUTENO DA ECONOMIA LEITEIRA PARA OS PEQUENOS PRODUTORES DE ARENPOLIS............................................ 38 4.1 A produo regional de leite e a heterogeneidade dos sistemas produtivos ...... 39 4.1.1 Quantidade de ordenhas dirias realizadas pelos produtores do municpio . 45 4.1.2 Realizao de inseminao artificial................................................................ 46 4.1.3 O uso do tanque de resfriamento de leite ........................................................ 46 4.1.4 O atraso tcnico e logstico do produtor de leite.......................................... 48 CONSIDERAES FINAIS.................................................................................... 50 REFERNCIAS........................................................................................................ 53

  • 7

    LISTA DE FIGURAS

    1: Municpio de Arenpolis-GO..................................................................................... 12

    2: rebanho regional do gado leiteiro no municpio de Arenpolis. ................................. 20

    3: Criao de gado e produo de leite no municpio de Arenpolis nos anos de

    1998 e 2007. .................................................................................................................. 23

    4 - Estratos de rea apresentada entre os produtores de leite ........................................... 24

    5 Atividade principal das unidades produtoras de leite ................................................ 25

    6 Nvel de escolaridade dos produtores pesquisados.................................................... 26

    7 Propenso dos filhos em continuar com a pecuria leiteira ....................................... 27

    8: Lacticnios Borges no municpio de Arenpolis........................................................ 33

    9: Lacticnios Cear no municpio de Arenpolis ......................................................... 33

    10: Antigo Laticnio Leite Bom no municpio de Arenpolis.......................................... 34

    11 - Laticnio Centro Oeste ............................................................................................ 35

    12 Faixa etria dos produtores pesquisados ................................................................. 39

    13 Utilizao de Ordenhadeira mecnica pelos produtores do municpio de

    Arenpolis Go...................................................................................... ............................. 44

    14 Ordenhadeira mecnica utilizada numa propriedade rural especializada na produo de

    leite. Arenpolis-GO .................................................................................... .................... 44

    15 Quantidade de ordenhas/dia pelos produtores da regio Arenopolis-GO .................... 45

    16- Tanque de resfriamento de leite numa propriedade rural especializada na produo de leite

    no municpio de Arenpolis ........................................................................................... 46

    17 Utilizao de inseminao artificial pelos produtores do municpio de

    Arenpolis-GO .............................................................................................................. 47

    18 Produtores que possuem tanque de expanso no municpio de Arenpolis-GO ....... 47

  • 8

    LISTA DE TABELAS

    1 - Imveis rurais cadastrados no INCRA, segundo os municpios. Posio: Outubro

    / 2003............................................................................................................................. 24

    2: Estatstica Municipal: Populao Estimada - Total (habitantes) de Arenpolis......... 29

    3 - Produtividade dos produtores entrevistados no municpio de Arenpolis

    Posio: Outubro/2010................................................................................................... 42

  • 9

    LISTA DE SIGLAS

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    SEPLAN - Secretaria de Estado de Planejamento e Desenvolvimento Econmico

    INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria

    CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

    COOPERCOISAS Cooperativa dos Pequenos Produtores de Ipor

    PETI - Programa de Erradicao do trabalho Infantil

    SENAR Servio Nacional de Aprendizagem Rural

    PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    FAO - Organizao Mundial para a Agricultura e Alimentao

    APRRA Associao dos Produtores Rurais Ribeiro Areia

  • 10

    RESUMO

    A economia leiteira exerceu uma notvel contribuio na organizao do espao geogrfico

    do municpio de Arenpolis-GO no perodo de 1990 a 2009. Pode perceber essa contribuio

    a partir da instalao dos principais lacticnios no municpio, a influncia desses na dinmica

    da produo de leite e na mudana local que passou a consumir derivados industrializados do

    leite. Nesse sentido o objetivo dessa monografia apresentar os resultados do trabalho de

    concluso de curso em Geografia UEG de Ipor que visa entender a contribuio que a

    economia leiteira exerce sobre o municpio de Arenpolis. Destacamos que origem da

    pecuria no territrio goiano, na insero de Arenpolis no contexto da interiorizao do

    estado na dcada de 1950 e enfatizamos o papel da organizao fundiria, principalmente

    baseada na pequena propriedade, no processo de territorializao pecuria em Arenpolis.

    Para concluir fizemos breve reflexo sobre o papel das novas tecnologias na atividade leiteira,

    concentrada nas mos de poucos, e as conseqncias destas na expropriao da mo de obra

    nos postos de trabalho no campo e na excluso do pequeno produtor no segmento

    competitivo.

    Palavras-chave: pecuria leiteira; agricultura familiar; pequeno produtor. Arenpolis-GO

  • 11

    INTRODUO

    O objetivo desta pesquisa entender a contribuio que a atividade leiteira

    exerceu sobre a organizao do espao geogrfico do municpio de Arenpolis no perodo de

    1990 a 2009. O recorte temporal deveu-se ao perodo de instalao dos principais lacticnios

    no municpio, a influncia desses na dinmica da produo de leite e na mudana no mercado

    consumidor local.

    A pecuria leiteira proporciona uma liquidez mensal, o que a torna bastante

    relevante para a reproduo social dos pequenos proprietrios rurais (Borges, 1990, p. 78).

    Esta liquidez mensal movimenta o comrcio no municpio de Arenpolis entre os dias 20 a

    30, possibilitando ao proprietrio rural saldar suas despesas mensais, como energia eltrica e

    despesas, como vesturio, alimentao, transporte, lazer e outros.

    Conforme verifica-se na figura 1, a cidade de Arenpolis est as margens da GO-

    060 que liga capital de Gois, Goinia, numa distncia de 280 km. O municpio de

    Arenpolis possui uma rea de 1.042 km, cujo espao rural ocupado pela pecuria e

    agricultura. O municpio arenopolino est localizado na microrregio administrativa

    Aragaras, inserida na mesorregio do Noroeste Goiano, ambas do IBGE. De acordo com a

    Secretaria de Estado de Planejamento e Desenvolvimento Econmico - SEPLAN, Arenpolis

    est na regio de Planejamento do estado de Gois, na denominada macrorregio do Oeste

    Goiano (eixo da rodovia GO-060) (Figura 1). Uma das caractersticas econmicas desta

    macrorregio a produo de pecuria leiteira nos 43 municpios que a compem. Com

    relao microrregio, Arenpolis foi o quarto municpio em total de vacas ordenhadas no

    ano de 2008 (IBGE, 2009).

  • 12Figura 1:

  • 13

    Tendo em vista que o municpio de Arenpolis se caracteriza pela atividade

    pecuria leiteira pouco especializada e organizada, sobretudo, pelas pequenas propriedades,

    analisamos a caracterstica fundiria do municpio.

    Atravs de entrevistas e questionrios, alm dos dados scio-econmicos dos

    produtores, levantamos as perspectivas e desafios dos produtores leiteiros para a manuteno

    dessa economia, relacionando-as com o papel das polticas pblicas no incentivo da produo

    de leite em Arenpolis GO.

    Vale citar que a motivao para entender a dinmica dessa atividade econmica

    no municpio de Arenpolis ocorreu, em parte, pelas experincias vividas como pequeno

    produtor familiar de leite, sujeito do processo de transformaes ocorrido no setor. Nesse

    sentido, suscitou-nos a necessidade de compreender os efeitos da modernizao da atividade

    leiteira, tais como a instalao de tanques de resfriamento, ordenha mecnica, melhoramento

    gentico, entre outros que, paulatinamente, adentraram no meio rural regional. Elementos

    esses que de diferentes formas esto influenciando o modo de produo do campo em

    Arenpolis.

    A partir desse leque de objetivos, a pesquisa se justificou-se tambm pela busca

    de contribuir e colaborar na reunio de informaes sobre a identidade scio-econmica-

    cultural do municpio de estudo, cujos resultados da pesquisa ressaltem qual a importncia

    dessa atividade para Arenpolis e que sirvam de fonte de pesquisa para a sociedade.

    Assim, o trabalho est organizado em quatro captulos que discutiram a

    importncia da pecuria na formao territorial de Gois e a sua influncia na territorialidade

    de Arenpolis.

    Abordamos tambm a economia leiteira no municpio, procurando relatar o papel

    dos lacticnios na reestruturao da produo de leite local e regional. E claro, apresentamos

    as anlises grficas dos dados levantados sobre as caractersticas sociais dos produtores, o uso

    de tcnicas ou no nas propriedades, a organizao produtiva das unidades, entre outros

    aspectos que caracterizam o perfil da economia leiteira em Arenpolis.

    Nesse sentido percorremos o seguinte caminho metodolgico: leitura de

    referenciais tericos que tratam da origem da pecuria como atividade para suprir as

    necessidades humanas (BARSA, 1999); anlise dos autores Barreira (1997), Moreira (1985),

    Horiestes Gomes (2004a, 2004b), Palacin (1994) e Silva (2002) para compreender a chegada

    e a expanso da atividade pecuria no espao goiano; as obras de Rodrigues (2003), Gomes

    (2009) e Paulilo, Herrera e Costa (2002) para especificar dados sobre a pecuria leiteira no

    Oeste Goiano (regio de planejamento), de Gois e do Brasil; documentos mimeografados e

  • 14

    outros de domnio da prefeitura de Arenpolis que tratam da formao territorial do municpio

    e que ressaltam o papel da economia do leite na cidade; alm de outros documentos e obras

    que caminharam na mesma perspectiva terica-metodolgica. Dados do IBGE Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica e SEPLAN Superintendncia Estadual de Planejamento

    de Gois tambm configuram as anlise apresentadas.

    Ainda, fomos ao campo de pesquisa verificar, junto aos produtores rurais, quais as

    condies scio-econmicas que a atividade do leite proporciona a eles e aos seus membros

    familiares. Caractersticas e dados sobre o rebanho leiteiro, quantidade de produo, custos e

    lucratividade, mercado imediato que se destina a produo, tecnificao implantada na

    atividade, utilizao da terra, pessoal empregado e grau de escolaridade, opinio e perspectiva

    dos produtores de leite so algumas das orientaes levadas ao campo de pesquisa. No mesmo

    sentido, tais informaes foram levantadas junto aos proprietrios de lacticnios em

    Arenpolis, acrescidas de perguntas sobre as motivaes para a instalao e ou desinstalao

    dos mesmos no municpio.

    O trabalho de campo efetuado no ms de setembro de 2010, forneceu os dados os

    quais serviram de base para a anlise realizada. Aplicamos 100 questionrios de forma

    aleatria, aos produtores de leite do municpio de Arenpolis e recolhidos 75%. O anonimato

    dos produtores foi preservado. O universo pesquisado foi queles que se enquadram na

    categoria de pequeno produtor (por total de produo de leite) proprietrios de unidades igual

    ou menor que 200 ha. Nesse sentido nossa anlise ser qualitativa da economia leiteira e

    contudo no deixamos de conhecer e refletir sobre as condies das mdias e grandes

    propriedades e produtores.

    Aps a coleta dos dados, foi realizada a tabulao e sistematizao, para a

    posterior anlise. Este mtodo possibilitou um aprofundamento na investigao das

    resistncias e ou mudanas que aconteceram na pecuria leiteira do municpio de Arenpolis.

    Ao comrcio local dirigimos questionrios com perguntas estruturadas sobre a

    inflluncia da atividade leiteira na dinmica econmica gerada nos estabelecimentos

    comerciais: fluxo de maior adimplncia e inadimplncia, venda de leite (in natura ou

    industrializado) e de seus derivados, entre outras.

    Aliado a estas etapas, tambm a observao emprica da dinmica da cidade em

    funo do leite e de conversas informais com consumidores do produto, a apresentao de

    fotografias e figuras retratando o objeto, contriburam na construo dessa pesquisa.

  • 15

    1 ANTECEDENTES DA ATIVIDADE PECURIA E A ORIGEM DA ATIVIDADE EM GOIS: INFLUNCIAS EM ARENPOLIS

    O conceito de pecuria nada mais do que uma tcnica e a prtica da criao e

    aproveitamento dos animais domsticos para deles obter, transporte, carne, leite, l, couro e

    outros produtos, que podem ser consumidos em in natura ou servirem de matria-prima da

    indstria. (BARSA, 1999, p. 98), a historiografia mostra que atividade leiteira teve inicio no

    perodo neoltico h cerca de mil anos.

    A implantao dos primeiros estabelecimentos dedicados pecuria foi fruto da

    necessidade de obter uma fonte segura e perene de alimento em forma de carne, leite e etc,

    assim como de muitos outros produtos, como peles, chifres, usados na fabricao de

    agasalhos e utenslios. Vestgios das primeiras experincias de domesticao foram

    encontrados em escavaes arqueolgicas realizadas no oriente onde se criaram, entre outras

    espcies, cabras, ovelhas e vacas. Dessa forma, o homem deixou de ser um mero predador,

    que defendia da caa para obter protenas animais, e transformou-se em guardio e senhor dos

    rebanhos de diversas espcies de animais herbvoros que at ento se mantinham em estado

    selvagem (BARSA,1999, p. 134).

    O trabalho surge da necessidade do homem em satisfazer suas necessidades e

    continuar sobrevivendo. Os modos de produo dominam os modos naturais e estes que vo

    determinar a execuo e a organizao do trabalho. Segundo a teoria marxista, meios de

    produo so o conjunto formado por meios de trabalho e objetos de trabalho - ou tudo o que

    medeia a relao entre o trabalho humano e a natureza, no processo de transformao da

    prpria natureza e o modo de produo, portanto, permite compreender a maneira pela qual a

    sociedade produz seus bens e servios, como os utiliza e os distribui O modo de produo de

  • 16

    uma sociedade formado por suas foras produtivas e pelas relaes de produo existentes

    nessa sociedade. (BORGES, Vavy P. O que histria. So Paulo: Brasiliense, 1987).

    A tendncia gregria1 de alguns animais, seus hbitos alimentares e sua mansido

    favoreceram o empreendimento de domesticao, para qual a humanidade lanou mo de seus

    dons de observao e sua capacidade de adaptao s condies que o meio ambiente lhe

    impunha. De incio, o pastor se limitava a seguir os rebanhos em seus deslocamentos

    peridicos em busca de pastos. No momento em que a sociedade se torna sedentria, a criao

    passa a se estabelecer dominada pelos agrupamentos humanos. Uma variao observada no

    nomadismo a transumncia, deslocamento temporrio e sazonal do gado em busca de novos

    terrenos para pastagem. Este fato foi importante durante a Idade Mdia em alguns reinos

    europeus, como o de Castela, onde surgiu, no sculo XIII, uma poderosa e influente

    corporao pecuarista conhecida como Mesta. Na poca o gado era transferido das zonas

    planas, assoladas pelas secas, para os pastos de vales montanhosos e planaltos, onde os

    rebanhos podiam obter alimentos em qualidades suficientes. O deslocamento do gado se fazia

    pelas canhadas, caminhos utilizados pela estao, que se encontravam sob proteo do rei

    (NOVA ENCICLOPDIA, 1998, p. 223).

    Dessas descobertas foi se acrescentando a lista de produtos derivados dessas

    atividades no s a carne como meio alimentar (carne e leite), mas tambm com a utilizao

    de algumas espcies animais na execuo de tarefas agrcolas, vinculando assim a pecuria

    agricultura, numa associao que se consolidou cada vez mais com o passar do tempo.

    Nesse meio tempo, o ser humano foi detectando necessidade de aperfeioar ou

    incluir novos mtodos de manuteno, alimentao e controle veterinrio dos animais,

    atividades que desenvolveram paralelamente industrializao, favorecendo o aumento da

    produo da pecuria. Esse incremento tornou possvel satisfazer crescente demanda de

    protenas animais que o aumento da populao e sua concentrao nos aglomerados humanos

    geraram. Em grandes pores de terra das antigas colnias europias da Amrica, frica e

    Austrlia, a pecuria se tornou uma das principais atividades econmicas (NOVA

    ENCICLOPDIA, 1998, p. 145).

    No Brasil, a prtica pecuarista teve seu incio no sculo XVI com a chegada dos

    primeiros espcimes no perodo de colonizao. O gado, encontrando ambiente favorvel

    multiplicava-se rapidamente, facilitando a penetrao em reas do sul e do norte e nordeste do

    pas.

    1 Tendncia que leva os homens ou os animais a se juntarem, perdendo, momentaneamente, suas caractersticas individuais. (Nova Enciclopdia).

  • 17

    No sculo XVIII o Brasil, no ciclo do ouro, deveria ter 4.000.000 cabeas de

    bovinos (NOVA ENCICLOPDIA, 1998, p. 254). Nessa poca, a minerao arrastou a

    pecuria para o oeste, pois havia nas minas milhares de homens a alimentar. O governo real,

    que em janeiro de 1701, proibia a criao de gado a menos de dez lguas do mar, em fevereiro

    do mesmo ano, proibia as comunicaes diretas entre as capitanias canavieiras e as mineiras,

    e passou a fomentar a pecuria no interior do pais.

    A partir da dcada de 1760, especialmente depois de 1770, a minerao declinou

    progressivamente, mergulhando em estado de profunda depresso em certas reas, onde se

    estabeleceu uma condio de misria quase absoluta que se estendeu at depois do perodo

    colonial.

    Em Gois, a maioria dos mineiros que aqui permaneceram, aps o declnio do

    extrativismo do ouro, foram se dedicar agricultura de subsistncia e a criao de gado.

    Estes, com relativo xito, no s pela existncia de boas pastagens, mas porque o gado, se

    auto transportava ao mercado consumidor, vencendo grandes distncias Borges (1990).

    1.1 - A pecuria em Gois e sua relao com a ocupao do estado

    A atividade pecuria em Gois est ligada s remotas formas de ocupao do

    territrio brasileiro. Para Gomes (2004, p.194) logo aps o ciclo do ouro do sculo XVIII os

    fazendeiros comearam a ocupar as terras de pastagens naturais, boas para a criao de gado

    em todo o territrio goiano [...]. Considerada uma fonte de alimento e transporte o gado foi

    trazido s terras goianas atravs dos migrantes do Maranho, Par, Bahia, Minas Gerais e So

    Paulo no sculo XIX, os quais saiam em busca de espaos para a criao do animal.

    (BARREIRA, 1997, p. 67).

    O meio natural do Cerrado, fundamentalmente pelo relevo, clima e vegetao,

    permitiram o desenvolvimento das atividades pastorais e de criatrios, transformando hoje

    Gois em um grande estado pecuarista.

    Durante o perodo Colonial, existia em Gois apenas Ilhas (Moreira, 1985)

    onde se praticava a pecuria, voltada para a exportao especialmente para a Bahia e tambm

    para o consumo local. A agricultura, embora presente, desde o incio da colonizao, chegou a

    contribuir de forma expressiva para a pauta de exportaes. Durante o perodo de declnio da

    economia da minerao, o auto-sustento das famlias que viviam em Gois. Pequenos stios,

    onde eram criada algumas cabeas de gado, e, plantados gneros bsicos, marcaram Gois;

    possivelmente, constituram a origem de dois segmentos sociais muito distintos entre si, que

  • 18

    se configurariam plenamente ao longo do sculo XIX, grandes proprietrios rurais e

    camponeses.

    Nas trs primeiras dcadas do sculo XIX, espalharam-se fazendas de criao de

    gado pelos sertes de Gois, nas chamadas sesmarias2. A grande maioria dos proprietrios

    possua apenas o ttulo de posse e as concesses dos antigos capites generais3. Estas fazendas

    eram mal cultivadas e mal aproveitadas, no s pela falta de braos mas, sobretudo em funo

    da distancia entre Gois e os grandes mercados consumidores. Registrou-se neste perodo uma

    mdia de exportao anual superior a 20.000 cabeas de gado vacum, alm de muares.

    (Palacin & Moraes, 1998, p. 65).

    Borges (1990, p. 51) ressalta que a pecuria em Gois, mesmo aps a crise da

    minerao e dada ao isolamento geogrfico do estado, foi a economia que resistiu por todo o

    sculo XIX se mantendo organizada e exportando regularmente o gado para o Centro-Sul e

    Norte-Nordeste. Segundo o autor Ento, at as primeiras dcadas deste sculo [leia-se sculo

    XX] a pecuria garantia as parcas divisas obtidas pelo Estado e a reduzida taxa de lucros no

    setor agrrio regional.

    A pecuria de corte era nesse perodo o carro chefe da economia goiana, contudo

    com a industrializao e urbanizao do Centro-Sul do pas, Gois se insere na recepo de

    migrantes em busca de terras baratas e expanso da fronteira agrcola, abrindo-se para a

    implantao de infra-estrutura no seu interior (BORGES, 1990. p. 55). A dcada de 1930

    marca esse outro momento de ocupao do territrio goiano e, no caso da nossa rea de

    estudo, a regio hoje compreendida no Oeste Goiano incorporada no processo de Marcha

    para Oeste do Governo Getlio Vargas, sendo o municpio de Caiapnia (extremo sul de

    Arenpolis) a rea escolhida para instalao das bases da Fundao Brasil Central,

    responsvel pelo projeto de interiorizao do pas. (PEREIRA, 2008)

    O incremento da pecuria, a existncia de vastas reas de terras disponveis e o

    avano do capitalismo para o interior, estimulou o desenvolvimento da regio e o conseqente

    aumento da populao. Correntes migratrias chegavam a Gois oriundo do Nordeste do pas

    e, principalmente, de Minas Gerais, povoando os inspitos sertes.

    2 A Sesmaria era a concesso de terras no Brasil pelo governo portugus com o intuito de desenvolver a agricultura, a criao de gado e, mais tarde, o extrativismo vegetal, tendo se expandido cultura do caf e do cacau. Ao mesmo tempo, servia a povoar o territrio e a recompensar nobres, navegadores ou militares por servios prestados coroa portuguesa (BARSA, 1999). 3 O termo capito-general significa "capito geral", ou seja o chefe de todos os capites, responsvel pela distribuio e controle das Sesmarias nas capitanias.

  • 19

    De acordo com Barreira (1997, p. 78), um novo impulso ao movimento de

    ocupao de Gois se desenvolver a partir de 1956 fazendo parte de uma tendncia que j se

    vinha em momentos anteriores.

    Todos os fatores que contriburam para o processo de ocupao dos espaos

    demogrficos criaram, portanto, condies para o surgimento migratrio para o centro-oeste e

    por conseqncia do Oeste-Goiano portanto percebe-se que a partir desse processo migratrio

    vo surgindo novos povoados, cidades e dentro desse contexto surge a histria do municpio

    de Arenpolis GO.

  • 20

    2 AS CONDIES HISTRICO-GEOGRFICAS DO MUNICPIO DE ARENPOLIS PARA A PECURIA LEITEIRA

    As condies geogrficas do municpio de Arenpolis e a presena dos recursos

    naturais disponveis como, gua em abundancia, pastagens, clima favorvel entre outros, so

    essenciais para criao de gado leiteiro. Figura 2:

    Figura 2: rebanho regional do gado leiteiro no municpio de Arenpolis. Fonte. Xisleque T. Oliveira Sousa/2010.

    O relevo ou sua topografia apresenta algumas salincias tais como: Serra Negra,

    Serra do Retiro Velho, Serra do Mosqueto, Serra do Sucuri, Serra da Taboca e outras. Esse

    perfil favorece o aparecimento de pequenas propriedades que por sua vez tem a pecuria

    como opo melhor j que as grandes produes se estabelecem em reas mais planas, mas

    aptos a tecnologia para desenvolver economicamente. O clima como em varias partes do

    Brasil, tropical do tipo quente e semi-mido.

  • 21

    A hidrografia do municpio abundante, pois conta com vrios crregos e

    ribeires tais como: Rio Caiap, Rio Bonito, Crrego do Areia, Ribeiro das Pedras, Crrego

    Capim Branco, Crrego Jos Manoel entre outros. Nessas regies citadas concentra a maioria

    das propriedades produtoras de leite, compondo a maior parte da cadeia produtiva leiteira do

    municpio.

    A pesquisa de Gomes (2009, p. 9) aponta que para alguns produtores de leite do

    Estado de Gois produzir leite, no h necessidade de grandes reas, pois essa atividade

    tpica de pequenas propriedades como o caso de Arenpolis. Essa atividade se desenvolveu

    em Arenpolis a partir de algumas caractersticas que ainda permanece. Na regio de

    Arenpolis, de acordo com dados do IBGE - 1998 a 2007 encontra-se pequenas propriedades

    rurais com destaque na criao de gado e produo de leite.

    As principais raas de gados de leite criados no municpio de Arenpolis so: Gir,

    Caracu, Nelore (apesar de ser gado de corte), Jersey, girolando (Gir + holands, cruzado e o

    gado comum), sendo predominante, a ltima. A pastagem mais utilizada a brachiara-brisanta

    e a andropolo; a alimentao do gado enriquecida com sal mineral, forragem, cana de acar

    + uria, silagem de milho, sorgo e girassol, principalmente no perodo de estiagem.

    O territrio que hoje do municpio arenopolino pertencia ao municpio de

    Piranhas at 1982. Contudo as razes de sua histria iniciaram por volta de 1956 quando na

    gleba que hoje faz parte do municpio surgem os primeiros povoados formado por pessoas

    atradas pelas terras frteis. Dentre essas pessoas veio o Sr. Antonio de Castro e Silva que

    transformaria no idealizador de muitas lutas do povo arenopolino. Muitas das pessoas que

    emigraram de suas terras fixaram residncia na rea e desenvolveram varias atividades

    econmicas, uma delas a criao de gado.

    Por volta de 1959 iniciou a construo das primeiras casas no local onde hoje est

    identificada cidade de Arenpolis, nas proximidades do ribeiro Areia o qual serviu de

    inspirao para o nome da cidade. Conforme o documento municipal de 1989, nesta poca

    muitos trabalhadores da pecuria e agricultura (pees, vaqueiros, lavradores e outros) se

    instalaram na regio denominada de povoado do Areia, como o local era chamado,

    trabalhando nas fazendas do municpio.

    Na dcada de 1960 os colonizadores fizeram acordo de doao de quinze

    alqueires de terras para que os fazendeiros doassem aos agregados que no tinham um lugar

    definitivo para morar.

    Porm depois de algum tempo os fazendeiros se desentenderam e o Sr. Albino

    Borges desfez o acordo que havia feito e as terras que j tinham sido vendidas em loteamento

  • 22

    foram doadas a prefeitura de Piranhas j que at 1981 esta regio rural era subordinada a

    aquele municpio.

    Segundo depoimento do Senhor Osvaldo Pinheiro Dantas, pecuarista e morador

    dessa cidade h 36 anos, o leite a principal fonte de renda do municpio. Este pecuarista foi

    dono de um lacticnio no municpio e reconhece que essa atividade econmica de grande

    importncia para o municpio.

    Na dcada de 1970 durante o governo estadual de Otvio Lage o patrimnio do

    Areia conseguiu algumas conquistas. Foi elevado a condio de distrito com o nome de

    Arenpolis. J por volta de 1979 comea a luta pela emancipao, e no dia 14 de maio de

    1982 aps provao pela Assemblia Legislativa o governo de Ari Valado assinou a lei n.

    9.153 que criou o municpio de Arenpolis.

    De acordo com Marques (1989), em meados da dcada de 1970 a maioria dos

    fazendeiros investiu na atividade do leite, e assim a bacia leiteira da regio tomou uma

    dimenso abrangente. O municpio criado contava com a arrecadao proveniente da pecuria

    e da agricultura. A pecuria constitua no principal fator de riquezas da cidade, segundo dados

    do IBGE registrados no censo agropecurio de 1985 havia naquela poca cerca de 78.671

    cabeas de gado bovino no municpio.

    Diante desses dados percebe-se que a pecuria sempre se fez presente no

    municpio haja vista que seus prprios fundadores eram pecuaristas. Observando a figura 3

    podemos perceber a dinmica do rebanho pecurio em Arenpolis no perodo de 1998 2007.

    Os dados demonstram uma oscilao da quantidade de rebanho bovino e da produo de leite

    no municpio. De 1998 2003 h um acrscimo no rebanho de 81 mil para 98 mil cabeas,

    seguindo os prximos anos com uma queda do total do rebanho no ano de 2007 (89 mil). A

    produo de leite segue, relativamente, esta dinmica, apresentando o ano de 2003 maior

    produo (10.300 L) e o ano de 2007 a menor (9.000 L). (IBGE, 2009).

    Hoje no municpio, segundo dados do IBGE (2009), existem 71683 cabeas de

    gado bovino, tendo um rebanho leiteiro de aproximadamente 8.000 cabeas, produzindo uma

    media diria de aproximadamente 7443 mil litros4 de leite. Mesmo no havendo crescimento

    do rebanho, nenhuma outra atividade desempenhou importncia econmica e nem substituiu a

    pecuria leiteira como principal fonte de renda municipal.

    4 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/, acesso em 08/06/2010

  • 23

    1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

    81.00080.00090.000 87.000

    94.00098.000

    95.100

    83.000 85.60089.000

    9.790 9.775 10.000 9.750 9.360 10.300 9.990 9.880 9.900 9.000

    Bovinos (cab) Prod. de leite (1.000 l)

    Figura 3: Criao de gado e produo de leite no municpio de Arenpolis nos anos de

    1998 e 2007.

    Fonte: IBGE, 2008.

    Portanto, podemos afirmar que h em Arenpolis uma dinmica negativa do setor,

    cujas influncias apresentaremos nos captulos seguintes. (Diminuio da produo, perda da

    populao envolvida com a atividade, pouco investimento em pequena produo e

    marginalizao do pequeno produtor).

    Os dados de 2003 sobre os imveis rurais cadastrados no INCRA e divulgados em

    2005 pelo SEPLAN-GO demonstram que 70,35 % das propriedades rurais de Arenpolis

    pertencem ao grupo de pequena propriedade, ocupando um total de 23.213,50 hectares.

    Contudo, distribui-se em apenas 20,51 % das reas rurais, enquanto as mdias propriedades

    ocupam 33,29% das terras inseridas em 21,43% dos imveis rurais do municpio. Em

    contradio a estes dados e significando uma concentrao de terras, 8,22% esto nas mos da

    minoria das grandes propriedades que possuem 46,2% das reas, com um total de 52.289,8 ha

    de terras. Confira na tabela 1, a seguir.

    Percebemos que a presena de 53,8% das propriedades nas mos de pequenos e

    mdios estabelecimentos, sendo pouco tecnificadas e ou especializadas, faz o municpio de

    Arenpolis se enquadrar no molde da agricultura familiar, uma atividade de trabalho entre os

    membros da famlia de produtores rurais que buscam a subsistncia no campo. Geralmente os

    membros que compe a famlia moram na propriedade onde trabalham e o lucro da famlia.

  • 24

    Para Lamarche (1993, p. 15), a explorao familiar corresponde a uma unidade de produo

    agrcola onde a propriedade e o trabalho esto intimamente ligados famlia.

    Tabela 1 - Imveis rurais cadastrados no INCRA, segundo os municpios. Posio: Outubro / 2003

    Fonte: Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INCRA. Elaborao: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerncia de Estatstica Socioeconmica 2005.

    O conjunto dos produtores de leite nos quais foram aplicados questionrios

    formado de pequenos e mdios proprietrios, pois so donos de propriedades nas quais as

    maiores no ultrapassam 200 ha.

    Conforme mostra a Figura 4, a grande maioria dos produtores de leite possuem

    pequenas propriedades, dado que 84% dos produtores esto estabelecidos em propriedades de

    at 100 ha, enquanto que apenas os restantes 2% possuem propriedades entre 100 e 200 ha.

    Percebe-se que o estrato de estabelecimentos de 20 a 50 ha o predominante dentre os

    produtores de leite do municpio, seguido dos estratos de 10 a 20 ha e de 50 a 100 h sendo

    que 14% no responderam. Esses dados indicam a existncia da agricultura familiar no

    municpio de Arenpolis, e l desenvolve o que j afirmamos anteriormente.

    Figura 4 - Estratos de rea apresentada entre os produtores de leite

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    10 a 20ha 20 a 50ha 50 a 100ha 100 a 200ha

    28%

    44%

    12%

    2%

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    Municpio Mdulo Fiscal rea (ha) Qtd rea (ha)

    Arenpolis 50 462 113.176,30 Pequena propriedade de 0 a 200 325 23.213,50 Mdia propriedade mais de 200 a 750 99 37.673,00 Grande propriedade mais 750 38 52.289,80

  • 25

    Para Gonalves (2003, p. 86-87) a agricultura familiar baseada nas necessidades

    bsicas da dieta alimentar, sendo produzido na propriedade arroz, milho e mandioca. Segundo

    o mesmo autor a pecuria variada, pois geralmente essas famlias criam gado de leite, sunos

    e galinhas. O autor salienta que a produo voltada para as necessidades da famlia, mas isso

    no descarta a necessidade de venda do produto para o mercado.

    A produo de leite junto com outras culturas agrcolas tem sido bastante

    conveniente aos proprietrios rurais do municpio, j que assim eles conseguem se proteger

    dos riscos que a atividade oferece. No entanto, tem sido uma dificuldade especializao

    destes na pecuria leiteira, tornando-os vulnerveis frente s novas exigncias para o setor,

    aumentando as dificuldades deles permanecer produzindo leite.

    Portanto, na regio de Arenpolis, segundo observaes empricas e relatos de

    chacareiros, fazendeiros, e funcionrios de propriedades rurais, a principal fonte de renda o

    leite, com manejo da ordenha feito pelo prprio proprietrio e a produo de subsistncia,

    onde plantam ou cultivam alguns alimentos como: milho, arroz, mandioca e feijo. H

    tambm o cultivo da cana de acar para completar a alimentao do gado. Esses agricultores

    tambm criam outros animais como galinhas, porcos para subsistncia e vendendo apenas os

    excedentes para complementar a renda, conforme mostra a figura 5.

    Cabe enfatizar, que alm da pecuria leiteira, os produtores pesquisados, fazem

    parte da agricultura familiar, tambm se dedicam a outras atividades agrcolas, como plantio

    hortalias (15%), criao de aves (8%), produo de mandioca (6%), feijo (4%), criao de

    gado de corte (4%) e plantio de arroz (3%). Na Figura 5, possvel verificar que apesar de

    40% da produo nas unidades se dedicar pecuria leiteira.

    Figura 5 Atividade principal das unidades produtoras de leite

    6% 4%3%4%

    8%

    15%60%

    MandiocaFeijoArrozGado de corteAvesHortaliasPecuaria leiteira

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

  • 26

    As famlias entrevistadas que se enquadram nesse termo agricultura familiar

    constituem por pequenos e mdios produtores. Esse segmento so pessoas com pouca

    escolaridade. Esta situao faz com que os que vivem no campo tambm passem a encontrar

    dificuldades para a sobrevivncia no setor, haja vista a dificuldade de adaptao s exigncias

    de mercado e informaes voltadas agricultura.

    Figura 6 Nvel de escolaridade dos produtores pesquisados

    44%

    34%

    13%9%

    Ensino fundamental incompleto

    Ensino fundamental completo

    Enino Mdio incompleto

    Enino Mdio completo

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    De acordo com dados apresentados na Figura 06, do total dos produtores

    pesquisados, apenas 9% tem o Ensino Mdio completo e 13% incompleto, e 78% tem apenas

    o Ensino Fundamental (34% completo e 44 % incompleto), mostrando um baixo nvel de

    escolaridade. Este fato vem a dificultar sua vida na zona rural, j que o uso da informao se

    mostra cada vez mais necessrio nos processos produtivos do campo. A baixa escolaridade e a

    dedicao a terra, destes pequenos proprietrios, so alguns fatores que contribuem para sua

    permanncia no campo, pouco instrudo pois a falta de estudo dificulta a busca de

    conhecimento para adequar a cadeia produtiva. Outra conseqncia so aqueles que no se

    adaptam as exigncias do campo tambm no se enquadra no mercado de trabalho urbano

    devido a sua baixa qualificao profissional. Essa realidade estimula os filhos dos

    proprietrios a sarem de Arenpolis e ou no quererem a desempenhar a atividade no campo.

    Assim, na figura 07 retrata 38% dos produtores asseguraram que os filhos no

    almejam continuar trabalhando com a pecuria leiteira, enquanto que 36% asseguraram que

    seus filhos desejam continuar, mesmo afirmando existir algumas dificuldades. Porm, 26%

    dos produtores no tm confiana a respeito da continuao dos filhos na atividade.

  • 27

    Figura 7 Propenso dos filhos em continuar com a pecuria leiteira

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    Nesse sentido, juntando a parcela dos produtores em que os filhos no pretendem

    permanecer com a pecuria leiteira, com os que afirmaram que a continuao ainda incerta,

    chega-se a 64% dos produtores pesquisados, o que uma parcela significativa dos produtores,

    podendo colocar em risco a continuao e o prosseguimento da pecuria leiteira na regio a

    mdio e longo prazo. Portanto v-se que a maior parte dos produtores pesquisados no sabe se

    permanecem produzindo leite, dada as inseguranas estruturais que a atividade vem

    apresentando.

    Um dos incentivos hoje para os pequenos produtores rurais do municpio de

    Arenpolis que tenta manter a famlia no campo a presena da extenso da Cooperativa dos

    Produtores Rurais de Ipor (afiliada Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB),

    sediada em Ipor-GO, conhecida como Cooperativa dos Pequenos Produtores de Ipor

    (COOPERCOISAS). Essa cooperativa um plano do governo federal, juntamente com o

    governo Estadual e Municipal para contribuir na distribuio dos produtos dos pequenos

    produtores.

    Para serem beneficiadas com este programa, as famlias devem viver da renda da

    propriedade, no tendo outra fonte ou meio de subsistncia. Mas, no necessrio que as

    mesmas sejam donas de terras, pois existem pessoas que trabalham na terra como meeiros. A

    cooperativa, vinculada CONAB, compra os produtos do campo produzidos pelos

    agricultores rurais como: queijo, ovos, mel, bananas e outros. Esses produtos so entregues

    nas escolas do municpio de Arenpolis, creches, PETI (Programa de Erradicao do trabalho

    Infantil) e para Pastoral da Criana.

    Cada produtor beneficiado com esse programa tem uma cota ou limite para serem

    entregue semanalmente nos postos de entrega j mencionado, e o pagamento dessas pessoas

  • 28

    feito semestral a cada produtor que recebe a quantia de R$ 4.500,00 por cota (dados de campo

    set./2010).

    Mesmo apresentando este quadro ainda na zona rural do municpio de Arenpolis

    concentra-se uma parcela da populao ativa no mercado de trabalho, sendo oferecidos

    empregos como: vaqueiros, caseiros, tratoristas, e tambm servios temporrios como limpeza

    de pastos, construo de cercas, mata-burros, curral e outros.

    Neste municpio, nas fazendas, os vaqueiros que residem com seus familiares so

    assalariados com carteira assinada, seus filhos estudam na cidade, indo de nibus ou utilitrios

    conhecidos como Vans (carros da Prefeitura), existem tambm aqueles que moram na cidade

    e trabalham no campo/ou fazendas, indo todos os dias de madrugada e voltando a noite para a

    cidade. Os funcionrios que so contratados para fazer servios temporrios nas fazendas,

    nem sempre moram no municpio, geralmente ficam hospedados nas fazendas at acabar o

    servio, e ao terminar a tarefa procuram servios em outras fazendas ou em outra regio. Um

    dos resultados da falta de emprego e de perspectiva para a populao economicamente ativa

    a sada do municpio para a busca de oportunidades em outros lugares.

    Para melhorar a qualidade da mo de obra rural que ainda permanece no campo

    Arenpolis tem contado com parceiros como o sindicato rural, desde sua fundao em 2006,

    atravs de convenio com o SENAR, vem oferecendo diversos cursos aos pecuaristas, tais

    como: administrao rural, inseminao artificial, vaqueiro, trabalhador em bovinocultura de

    leite, construo de cerca eltrica, entre outros realizados na sede do sindicato e nas

    propriedades rurais, visando o aperfeioamento dos produtores, para melhorar e aumentar a

    produo do leite. Um dos objetivos destes programas de aperfeioar a mo de obra, o que

    por conseqncia poder fixar o trabalhador agrcola no campo e em Arenpolis.

    Segundo Gomes (2009, p. 33) um sistema de vacas especializadas para produo

    de leite necessita de alto nvel de conhecimento do produtor sobre a atividade leiteira,

    portanto de mo de obra especializada, alm de boas pastagens, alimentao volumosa

    suplementar de boa qualidade, uso de concentrado, cuidados sanitrios h casos de

    trabalhadores rurais que no conseguem se especializar para atender a esta nova dinmica tem

    como conseqncia o desemprego.

    A exemplo da perda do contingente populacional em Arenpolis pode ser

    analisado na tabela 2 que se encontra logo abaixo. Veja que h um decrscimo contnuo da

    populao no perodo de 2001 a 2008, segundo os dados do IBGE. O acumulado dessa perda

    populacional de aproximadamente 11 % se comparado os anos de 2001(3.974 hab.) a 2008

    (3.532hab.) e uma mdia de crescimento negativo de 1,6 % a cada ano.

  • 29

    Tabela 2: Estatstica municipal da populao estimada - Total de habitantes em

    Arenpolis.

    Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2008

    Populao 3.974 3.968 3.953 3.923 3.906 3.890 3.532 Definio(s): A estimativa da populao municipal realizada anualmente pelo IBGE para atender a requisitos de

    dados do Tribunal de Contas da Unio. Baseia-se no Mtodo de Tendncia, desenvolvido por MADEIRA e SIMES. Refere-se a populao total estimada, residentes em 01/07.

    Fonte: IBGE, 2009.

    At a dcada de 1990 muitas famlias moravam na zona rural, mas com a

    modernizao e a tecnificao no campo muitas pessoas foram obrigadas a procurar empregos

    na cidade. Esse processo de transio no municpio acarretou alguns problemas sociais, tais

    como o desemprego (trabalho de campo agosto de 2010). O processo de modernizao

    contribui para a transferncia de renda do setor rural para o setor urbano industrial.

    (GRAZIANO DA SILVA, 1982, pg. 23).

    Conforme a pesquisa aponta o desemprego e a migrao das pessoas de Arenpolis

    para outros municpios vizinhos ou ate mesmo para a Capital de Gois est em parte

    relacionado com fechamento dos laticnios (veremos seguir), j que estes empregavam de

    dez a quinze pessoas cada agroindstria. Percebe-se que aps o fechamento dos laticnios foi

    maior o decrscimo populacional em Arenpolis

  • 30

    3 A MODERNIZAO E O PAPEL DOS LACTICNIOS NA

    REESTRUTURAO DA PRODUO DE LEITE LOCAL E

    REGIONAL

    A modernizao da sociedade brasileira, chegou s cidades a partir de meados do

    sculo XX, atingindo o campo graas a abertura de agncias bancrias, a expanso das casas

    de comrcio, a constituio das bolsas de valores e a dinamizao da construo civil.

    Sobre a modernizao da agricultura no Brasil Graziano da Silva (1996, p. 19),

    diz que:

    O termo modernizao tem tido uma utilizao muito ampla, referindo- se ora s transformaes capitalistas na base tcnica da produo ora passagem de uma agricultura natural para uma que utiliza insumos fabricados industrialmente. Neste texto o termo modernizao ser utilizado para designar o processo de transformao na base tcnica da produo agropecuria no ps-guerra a partir das importaes de tratores e fertilizantes num esforo de aumentar a produtividade.

    A partir dessa poca, o pas deixou para trs o modelo de substituio de

    importaes, de uma economia fechada para o mercado internacional, e passou a praticar um

    modelo de desenvolvimento que inseriu o Brasil, de modo mais aberto, na economia

    internacional. Fato que ocorreu paulatinamente com o ps-guerra e o governo de JK.

    Graas a modernizao que atingiu o campo goiano, no final de 1980 e durante

    toda a dcada de 1990, comeou uma evoluo da pecuria em Gois. As tradicionais bacias

    leiteiras foram se alargando, ocupando reas que, at ento, no eram produtoras de leite

    promovendo mudanas significativas na economia brasileira. No que se refere evoluo da

    pecuria em Gois, destacamos as observaes elaboradas pelo Noronha (2005).

  • 31

    A pecuria leiteira foi uma das atividades econmicas que mais se destacou em Gois na ltima dcada. Praticamente dobrando a produo no perodo, o estado de Gois, que em 1990, era o quinto maior produtor de leite do Pas, assumiu em 1998 a segunda posio, superando produtores tradicionais, como So Paulo, Rio Grande do Sul e Paran. Tal evoluo deveu-se, sobretudo, ao aumento da produtividade do rebanho leiteiro goiano, que apresentou um acrscimo mdio por propriedade da ordem de 117%. Esta situao motivou a FAEG e o SEBRAE-GO, como entidades indutores e aceleradoras do processo de desenvolvimento regional, a apoiar a realizao de um estudo abrangente sobre a rentabilidade da pecuria leiteira Gois, visando a conhecer melhor a sua realidade. Contando com o apoio da Universidade Federal de Gois, atravs da Escola de Agronomia e da Fundao de Apoio Pesquisa (FUNAPE) e das escolas Agrotcnicas Federal, a FAEG e o SEBRAE viabilizaram a realizao de um trabalho pioneiro no Pas, em que se buscou analisar a rentabilidade da atividade leiteira no Estado de Gois, como forma de melhorar o nvel de profissionalizao dos produtores de leite locais. Noronha 1987 Goinia, GO, v. 35, n. 3. 1987 reescrito em 2005. In http://www.revistas.ufg.br/index.php/pat/article/viewArticle/2221. Acesso em: 26 setembro. 2010.

    Noronha v a necessidade de aumentar cada vez mais a produo de leite para

    atender crescente demanda, o que implica que um maior nmero de produtores se

    modernizem, atravs da adoo de sistemas de produo mais produtivos. Assim sendo, pode-

    se inferir que a baixa produtividade dos recursos envolvidos na explorao leiteira reflete o

    uso de inadequados sistemas de produo.

    Embora ainda existam muitos pequenos produtores que utilizam os gales para a

    entrega em domiclio, parte do leite produzido em Arenpolis passou a ser resfriado no

    mximo 2h aps a ordenha, evitando a proliferao de bactrias (acidez do leite). Tal

    tecnologia contribui para a qualidade do leite local e aumento do preo do produto, pois quem

    possui o tanque recebe um preo melhor, contudo quem no o tem fica excludo da

    concorrncia do mercado. Assim, a insero tecnolgica acaba se concentrando nas mos dos

    mais abastados, em especial dos mdios e grandes produtores.

    Isso significa que no municpio de Arenpolis tambm possvel observar esta

    heterogeneidade de sistemas de produo. De um lado propriedades tradicionais de outro a

    tecnologia. A reestruturao pela qual vem passando o setor tem reforado a heterogeneidade

    dos sistemas de produo, pois os produtores que tem conseguido permanecer, passaram a

    produzir operando com melhores ndices de produtividade e qualidade, enquanto que os

    marginalizados continuam no mercado informal operando com baixa incorporao de

    tecnologias e baixa qualidade da matria prima (SILVA, 2002, p. 87).

    Os agentes atuantes no setor lcteo devem adaptar-se s constantes necessidades

    de transformao e modernizao da produo, com vistas a atender s exigncias de um

    mercado globalizado, onde padro de qualidade, flexibilizao na produo (oferta de

  • 32

    produtos com maior valor agregado) e concentrao da indstria so caractersticas

    marcantes.

    Uma inovao na pecuria leiteira arenopolina que tem modificado a relao do

    produtor com a atividade leiteira a instalao de tanques de expanso (para o resfriamento

    do leite local de produo) nas propriedades rurais, que deixa de usar gales, para transporte

    do leite, melhorando assim a qualidade do mesmo.

    Na cadeia de lcteos, os maiores investimentos no setor esto associados em geral

    aos grandes produtores, ocorrendo um esquecimento em relao aos pequenos e mdios. Isto

    se deve falta de recursos e dificuldades de obteno de crdito por parte dos mesmos, o que

    est relacionado carncia de auxlios por parte dos governos.

    A experincia de criao de gado leiteiro hoje uma atividade que depende de

    tcnicas especiais. Nesse sentido esses investimentos visam o lucro, ou capital que vem

    acompanhado de um pacote tecnolgico.

    Segundo Martins (1999) o melhoramento visa aumentar a produo de carne,

    leite, e prope a adaptao do animal ao meio em que vive. O leite (e seus derivados) so os

    principais alimentos do homem e com o aumento da populao a procura tambm aumenta a

    produo. Desta forma, cabe aos produtores rurais que queiram melhorar sua produo de

    leite, se informar sobre as inovaes que vem acontecendo no meio rural para aumentar a

    produtividade e a qualidade do leite.

    Gomes (2009, p. 12), diz que por meio do melhoramento gentico o gado leiteiro

    tem produzido cada vez mais em menos tempo. Torna-se necessrio fornecer alimentao

    adequada para o rebanho, como concentrados ou seja rao e outras, e relataram que e

    possvel aumentar a produo de 50 litros por dia, a 89,50% no estrato acima de 1000 litros.

    3.1 O papel dos Lacticnios em Arenpolis

    Na entrevista com o senhor Joo Delfino, (pecuarista e dirigente de laticnios em

    Arenpolis deste 1977 at o presente momento da pesquisa), foi nos relatado que o primeiro

    laticnio foi inaugurado em maio de 1977, depois outros instalaram, porem no permaneceram

    por problemas financeiros e outros motivos fecharam.

    O lacticnio Morrinhos Indstria e Comercio LTDA, da agroindstria Leite Bom, foi

    o primeiro a instalar em Arenpolis. No incio da dcada de 1990, outros lacticnios se

    instalaram ocorrendo neste perodo algumas transformaes scio espaciais para o municpio.

    Com o fluxo leiteiro instalaram-se em Arenpolis trs indstrias agro-leiteiras que so elas;

  • 33

    Leite Bom, Lacticnios Cear, Caiap e os Lacticnios Borges, Marajoara, porm s a Leite

    Bom se consolidou ate 2008. Fig 8,9 e 10.

    Figura 8: Lacticnios Borges no municpio de Arenpolis. Fonte. Xisleque T. Oliveira Sousa/2010.

    Figura 9: Lacticnios Cear no municpio de Arenpolis. Fonte. Xisleque T. Oliveira Sousa/2010.

    Segundo o depoimento do Sr. Osvaldo Pinheiro Dantas (dono do ex-laticineo Cear)

    o que levou o fechamento dos demais lacticnios foi o monoplio da Leite Bom que era a

  • 34

    empresa mais forte no ramo e possui em So Luis de Montes Belos a indstria beneficiadora

    do leite.

    Figura 10: Antigo Laticnio Leite Bom no municpio de Arenpolis. Fonte. Xisleque T. Oliveira Sousa/2010.

    O laticnio Morrinhos se instalou em Arenpolis devido a influencia da pecuria

    leiteira naquele municpio. A partir do ano de 2002 comeou a granelizao do leite ou seja

    resfriar na prpria fazenda e transportar em tanques isotrmicos at a industria. Da diminui o

    transporte de leite em lato passou a trabalhar com o leite j granelizado, com isso o produtor

    sentiu mais segurana e melhorou a gentica do gado, alimentao para melhoria da produo

    de leite.

    O laticnio Morrinhos, foi vendido em 2008, quando passou a laticnio Centro

    oeste nome fantasia do Laticnio Lactosul Industria de Laticnios Ltda (Posto de coleta o qual

    pertence ao Sr. Joo Delfino), conforme se observa na figura 11 , o qual permanece at o

    presente momento dessa pesquisa.

  • 35

    Figura 11: Laticnio Centro Oeste Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    A produo de leite no municpio de Arenpolis captada no Laticnio Lactosul,

    que foi fundado em 1995, em Piranhas (sede do lacticnio), por Alcides Augusto da Fonseca.

    A empresa conta atualmente com 200 funcionrios, sendo a maioria desses do

    sexo masculino. Atende atualmente a 175 fornecedores, classificados pela quantidade de leite

    (volume e qualidade) que entregam. A empresa arca com os custos de transporte do leite at o

    lacticnio.

    Quanto a sua instalao no municpio de Arenpolis, o principal motivo foi o auto

    fluxo de pecuria leiteira. A empresa funciona em unidades divididas nas cidades de

    Arenpolis, Ipor e em Piranhas, onde funciona a matriz.

    A empresa de pequeno porte e foi instalada com recursos apenas dos

    fundadores, visto que no houve incentivos do poder pblico municipal de Arenpolis-GO. A

    capacidade de processamento dirio de 30.000 litros, contudo o processamento mdio dirio

    de 20.000 litros/dia, sendo que de novembro a janeiro a empresa trabalha com sua

    capacidade mxima, ou seja, o perodo da safra.

    Do total de leite captado pela empresa, 25% provm do prprio Municpio de

    Arenpolis, enquanto que os 75% restante so oriundos de outros municpios da prpria

    regio como: Ipor, Piranhas e Bom Jardim de Gois (dados de campo, entrevista com senhor

    Joo Delfino/outubro/2010).

    Quanto s relaes estabelecidas com o produtor de leite, a empresa possui uma

    estratgia de financiamento de tecnologias aos produtores, para compra de equipamentos, pois

    a empresa encara o processo de modernizao do setor lcteo nacional de acordo com o

    mercado evolutivo.

  • 36

    Sobre essas novas estratgias da indstria de lcteos; Paulillo, Herrera, Costa

    (2002, p. 192) assim se pronunciam:

    Essas novas formas de financiamento permitiram maior capacidade de negociao para as empresas processadoras, pois puderam barganhar com diferentes tipos de produtores de leite. Essa a primeira explicao para a quase-integrao expandir-se, preferencialmente, entre os grandes pecuaristas de alto nvel tecnolgico. Essas empresas financiam a aquisio de equipamentos de ordenha e refrigerao com prazos para pagamentos em at 60 meses. A garantia de recebimento do financiamento o prprio leite, sendo o valor descontado do pagamento realizado aos produtores. Assim, o produtor fica atrelado indstria sob o foco da escala produtiva e da qualidade da matria-prima, e os pecuaristas de baixa escala produtiva ou de localidades mais distantes, cujo leite captado em lates, ficam excludos desses programas de quase-integrao. (PAULILLO, HERRERA, COSTA, p.192, 2002).

    Com esta estratgia, os laticnios passaram a se aproximar dos produtores rurais,

    gerando uma situao que os autores denominaram de quase-integrao, para definir estas

    novas estratgias das empresas a partir da reestruturao dos anos 1990.

    Este estreitamento dos laos entre a empresa Laticnio Lactosul industria laticnios

    Ltda e os fornecedores de leite, tem sido bastante vantajosa para a empresa, pois tem

    possibilitado ganhos em qualidade e em escala, reduo de custos de transporte, garantia de

    entrega da matria-prima. Pelo lado do produtor, no entanto, tem acentuado a sua

    subordinao ao capital industrial.

    Assim a empresa Laticnio Lactosul opera com produtores que possuem o tanque

    de resfriamento, e ainda com os produtores menos capitalizados, sobretudo os pequenos, que

    no possuem condies para adquirir o tanque. Vale salientar que tambm existem aqueles

    que esto na informalidade, ou seja, muitas famlias como foi observado a campo fazem

    queijos, doce, requeijo, manteiga, para vender nas feiras, na rua ou por encomenda. Entre

    esses possuem tambm aqueles que moram e trabalham nas fazendas e ganham o leite para o

    consumo.

    Segundo o dirigente o Sr. Joo Delfino as principais dificuldades enfrentadas pela

    empresa so a falta de incentivos governamentais e a mo de obra no qualificada.

    Os produtores de leite fornecedores de Arenpolis entregam sua produo para o

    laticnio e, o caso do leite bem significativo neste sentido, pois a reorganizao da cadeia

    nos anos 1990, tem estabelecido o uso cada vez maior de novas tcnicas no processo

    produtivo, procurando maior qualidade e produtividade, de modo a serem competitivos e

    garantirem a sua estabilidade no setor (Paschoal, 2010).

  • 37

    Entretanto, apenas a disponibilidade de capital sem o preparo profissional dos

    produtores no permite a estes encontrarem alternativas de produo, que lhes cubram a

    permanncia na atividade. Contudo, deve-se notar que o conhecimento preexistente destes

    produtores no deve ser desconhecido, mas sim aproveit-los de maneira associada s

    inovaes, que agora se apresentam.

  • 38

    4 DESAFIOS PARA A MANUTENO DA ECONOMIA LEITEIRA

    PARA OS PEQUENOS PRODUTORES DE ARENPOLIS

    Percebe-se a contribuio da pecuria leiteira na sociedade arenopolina, haja visto

    que muitas famlias vivem basicamente da renda do leite.(campo maio de 2010).

    notada a presena da tecnologia no meio rural anos atrs, e comea cada vez

    mais a busca pela modernizao ou seja, a melhoria da qualidade do gado, tendo como

    exemplo insero de tanques de resfriamento, inseminao artificial e a seleo do gado, em

    algumas propriedades e a ordenha mecnica, sendo esta realizada em poucas fazendas, devido

    ao custo.

    O tanque de resfriamento tem sido adquirido cada vez mais na regio, conforme a

    pesquisa realizada mostra. J existe em mdia 60% das propriedades rurais que contam com o

    tanque de resfriamento de leite nas propriedade rural, que colhido a cada dois ou trs dias

    em caminhes tanques.

    Percebe-se que a maioria dos produtores j recorre a emprstimos como ao

    PRONAF (Programa Nacional da Agricultura Familiar), conforme relato dos entrevistados.

    O PRONAF surgido em 1996, graas luta dos trabalhadores rurais por uma poltica pblica

    especfica e diferenciada para a agricultura familiar. Conforme as entrevistas percebe que

    muitos pequenos e mdios produtores rurais acabam no opinando por emprstimos para no

    contrair dividas. Pois tem aqueles que pegam o dinheiro e aplica em melhorias nas

    propriedades como na compra de gado, reforma de pasto, genticas, compra de touros e at

    inseminao artificial, e os grandes produtores e mdios fazem outros emprstimos para

    investir na propriedade j que estes tem mais opo de emprstimos.

  • 39

    Ou seja no so apenas grandes produtores de leite, mas grande proprietrios de

    terras, sendo comum nas fazendas de criao de gado de corte, tendo a pecuria leiteira

    apenas para manuteno da fazenda, conforme relato de alguns entrevistados. Nesse sentido

    percebe-se que para os mais abastados a renda maior vem de outras fontes, que no o leite e

    sim o gado de corte.

    Com base nos dados apresentados na figura 12, entende-se que a continuidade da

    pecuria leiteira pode estar comprometida no municpio de Arenpolis, pois 60% dos

    produtores possuem mais de 50 anos de idade, sendo que 22% deles j tm mais de 60 anos. E

    cada vez menor o numero de pessoas entre 30 a 40 anos que pratica a atividade.

    Figura 12 Faixa etria dos produtores pesquisados

    16%

    24%

    38%

    22% 30-40

    40-50

    50-60

    acima de

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    A falta de capital na produo do leite tm sido os principais fatores que

    dificultam os produtores de leite do municpio a acompanharem as mudanas processadas no

    setor, que agora, apresenta-se bastante competitivo e cada vez mais requer ganhos de

    produtividade.

    Ao mesmo tempo em que o setor lcteo requer especializao, aumento de

    produtividade, investimento em tecnologias para auferir melhor qualidade da matria-prima, a

    pecuria leiteira ainda permanece apresentando riscos e sendo vista, portanto, com

    desconfiana por parte dos produtores, que hesitam em realizar grandes inverses de capital

    na atividade (MARTINS, 1999, p. 20).

    4.1 A produo regional de leite e a heterogeneidade dos sistemas produtivos

    A heterogeneidade dos sistemas produtivos mais aparente na estrutura

    organizacional e tecnolgica da pecuria leiteira. O Estado de Gois, por exemplo, apresenta

  • 40

    sistema produtivo bastante diversificado em termos tecnolgicos produtivo pois existem

    aqueles produtores especializados e aqueles que ainda preservam o sistema produtivos

    rudimentares.

    Segundo Ferreira et. all (1999), no Estado de Gois, assim como em todo o Brasil,

    apresenta uma grande heterogeneidade de sistemas de produo adotados pelos produtores de

    leite.

    Tanto entre os criadores de gado de corte como entre os produtores de leite, os sistemas produtivos so bastante dspares convivendo a mais moderna tecnologia de confinamento com outras propriedades pecurias sumamente atrasadas, em que a produo assemelha -se mais ao extrativismo. (FERREIRA et.all, p. 24, 1999).

    Esta heterogeneidade estrutural e tecnolgica no setor se definiu nos anos 1960,

    perodo em que grande parte dos produtores de carne entrou na produo de leite, para se

    resguardarem das oscilaes dos preos da carne. Dentro disso, houve a chegada no setor de

    produtores com gado sem especializao, baixa qualidade e sazonalidade na produo

    (PAULILLO; HERREIRA; COSTA, 2002).

    No que se menciona ao nvel tecnolgico apresentado por cada bacia leiteira, e

    entre os produtores de uma mesma bacia leiteira, ocorrem diferenas bsicas de:

    caracterizao dos rebanhos, ritmo de incorporao tecnolgica da propriedade, tipo e manejo

    do rebanho e nas formas de gerenciamento das unidades de produo agropecuria

    (PAULILLO; HERREIRA; COSTA, 2002).

    Numa situao mais delicada no atual momento, encontram-se os produtores no

    especializados ou marginalistas. Este grupo de produtores a grande maioria dos

    pesquisados na regio, por isso, a grande preocupao com a insero destes produtores na

    atividade diante das novas exigncias.

    O grande nmero de produtores no-especializados na pecuria leiteira no

    municpio tende a fazer com que o impacto scio-econmico resultante da reestruturao do

    setor adquira grande magnitude naquele espao. No geral, os produtores no especializados

    so os de pequeno porte, que apresentam significativa presena na rea em estudo.

    A maioria desses produtores investigados trabalha com equipamentos

    rudimentares, gado com baixa especializao produtiva (em geral rebanho misto), e, alm

    disso, conseguem proporcionar ao rebanho uma alimentao adequada para uma boa

    produo de leite apenas no perodo da safra, pois a produo na entressafra tende a cair

    muito.

  • 41

    Dentro deste grupo de produtores ocorre ainda uma subdiviso, j que h aqueles

    produtores que dependem exclusivamente do leite para a sua reproduo, praticam a pecuria

    leiteira de forma bastante incipiente, e dependem da renda obtida com a atividade. H ainda,

    uma minoria de produtores que tem no leite uma fonte adicional de renda, sendo que a

    principal fonte de renda destes produtores encontra-se noutra atividade.

    Dos produtores pesquisados no municpio de Arenpolis, a quantidade no

    especializados bastante significativa, elevando os riscos socioeconmicos deste processo de

    reorganizao do setor, j que eles tendem a enfrentar dificuldades crescentes na atividade e

    muitos migrarem para o mercado informal de leite. A grande presena dos produtores no-

    especializados tambm um fator que explica os baixos ndices de produtividade da pecuria

    leiteira regional.

    Em um trabalho publicado pela EMBRAPA no ano de 1999, os pesquisadores

    VILELLA, BRESSAN, CUNHA (1999) argumenta que o grande nmero de pequenos

    produtores do leite no Brasil um problema para a especializao dos produtores. Para eles:

    O grande nmero de produtores muito pequenos, alm de tornar a especializao

    praticamente impossvel, dificulta a disseminao de informaes e encarece a coleta e o

    controle de qualidade do leite por parte da indstria e a fiscalizao pelo governo. (VILELLA,

    BRESSAN, CUNHA, 1999, p. 10).

    A maneira assumida neste trabalho oposta a defendida pelos pesquisadores

    acima citados. necessrio indicar condies para a sustentao destes pequenos produtores

    e/ou no-especializados, e a partir disso, permitir a eles melhorias na sua produtividade, de

    modo a aumentar a oferta de leite nos mercados urbanos do pas, j que o consumo mdio de

    lcteos pela populao brasileira bastante baixo, aqum dos nveis recomendados pela FAO

    (GOMES, 2009).

    Esta organizao internacional sugere um consumo mdio de 400 ml/dia/per

    capita. Entretanto, devido forte concentrao de renda no pas, que faz com que as camadas

    mais baixas tenham uma renda insatisfatria, o consumo mdio de lcteos no pas de

    aproximadamente 246 ml/dia/per capita, muito aqum, portanto, dos nveis recomendados

    (DE NEGRI, 1998, p. 146).

    Diante de todas estas mudanas, os estudiosos da questo apontam a

    especializao do produtor como a panacia para todos os problemas dos produtores de leite.

    Na verdade, os pequenos produtores de leite precisam ser amparados por um conjunto de

    medidas e um adequado programa de polticas pblicas.

  • 42

    A Tabela 03 vem confirmar os baixos ndices de produtividade da pecuria leiteira

    do grupo pesquisado no municpio de Arenpolis, seguindo o padro geral observado no pas.

    A maior parte dos produtores, ou seja, 64% deles apresentam uma produtividade que no

    ultrapassa 5 litros/vaca/dia, enquanto que 24% tm sua produo situada entre 6 a 10

    litros/vaca/dia, e apenas 12% dos produtores pesquisados apresentam uma produtividade

    superior a 11 litros/vaca/dia.

    Tabela 3 - Produtividade dos produtores entrevistados no municpio de Arenpolis - Posio: Outubro/2010

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    A produtividade apresentada pelos produtores do municpio, portanto, est muito

    longe do ideal requerido para a permanncia na atividade, salvo que a produtividade tem sido

    um fator bastante relevante para o produtor ter competitividade frente a este novo cenrio, que

    se apresenta para o setor (FERNANDES, 2010). Apenas os produtores que se especializaram

    aumentaram a sua produtividade, sendo a minoria deles no municpio de Arenpolis.

    Sobre a necessidade de alcanar maiores ndices de produtividade, Bressan

    (BRESSAN, p. 1, sdp) ressalta que:

    [...] mantido o ritmo de mudanas que tm ocorrido, especialmente nos componentes indstria e consumo da cadeia agroalimentar do leite, o destino da produo familiar com volume reduzido desaparecer, porque ter poucas condies de competir no mercado. A renda que esses produtores obtiverem de seus negcios com o leite ser cada vez menor, o que os forar a fazer opes por outras atividades econmicas, no campo ou na cidade. Segundo essas estimativas, prevalecero no setor leiteiro as unidades produtivas que, dentre outras coisas, adotarem modernas tecnologias, obtiverem economias de escala e venderem a melhores preos porque produzem maior volume.

    Segundo Bressan, na pecuria leiteira, ser imprescindvel os produtores estarem

    precavidos para utilizarem tecnologias apropriadas de alimentao e manejo do rebanho, de

    gado de gentica mais apurada para a produo de leite, de gerncia profissional das

    Produo vaca/litros/dia N de produtores % at 5 litros 48 64

    6 a 10 litros 18 24 Acima de 11 litros 9 12

    Total 75 100

  • 43

    atividades da fazenda e outras tantas, que so determinadas por centros de pesquisa,

    universidades e organizaes industriais.

    A aquisio de economias de escala, para os produtores que dispem de pouco ou

    nenhum capital para inverses na produo de leite, necessrio otimizar a eficincia e a

    energia dos fatores de produo que ele dispe, de modo a aumentar a produtividade e

    diminuir custos.

    A encurtada escala de produo dos produtores de leite, tende a gerar custos fixos

    mais elevados no processo produtivo. Compete advertir que um pequeno produtor pode

    empregar seus recursos de forma mais competente que um grande produtor. Em motivo disso,

    economia de escala no deve ser confundida com volume de produo. A aplicao

    competente dos recursos pelo pequeno produtor de leite essencial para a continuao deste

    na atividade, ao lado do apoio do poder pblico e tambm de ganhos obtidos atravs das

    organizaes coletivas.

    Agindo assim, com certeza obtero ganhos na produtividade do leite (com reflexos na quantidade produzida) e, conseqentemente, maior rentabilidade na atividade leiteira, por causa da maior flexibilidade que tm de reduo de custos (baixos custos operacionais), menores riscos e maiores opes de negcios. Afinal, no contexto atual da economia leiteira, com baixos preos pagos ao produtor, a produo familiar tem condies de sair-se at melhor que muitos empreendimentos de larga escala econmica, apoiados em sistemas caros de produo. (BRESSAN, p.4, sdp).

    Fica claro que a estabilidade dos pequenos produtores de leite, a partir de agora,

    depender muito da capacidade competitiva destes. Da, torna-se necessrio acatar as

    especificaes e requisies de qualidade/custo do leite, de maneira a contrarem certa

    flexibilidade para sobreviverem neste novo panorama.

    indispensvel lembrar que a pequena produo familiar de leite oferece baixos

    custos de produo, j que no agrupam expressivas tecnologias ao seu mtodo produtivo.

    Perante desta situao, se bem dirigida algumas aes grupais e manejos rotativos de

    melhorias da produtividade, podem tornar a pequena produo familiar de leite vivel neste

    novo cenrio (FERNANDES, 2010).

    O uso da ordenhadeira mecnica pelos produtores de leite do municpio de

    Arenpolis praticamente inexpressivo. Considerando os dados de fonte primria, colhidos

    em trabalho de campo, verificou-se que apenas 7% dos produtores possuem ordenhadeira,

    enquanto que os restantes 93% no a possuem, como se nota pela Figura 13.

  • 44

    Figura 13 Utilizao de ordenhadeira mecnica pelos produtores do municpio de Arenpolis-GO

    7%

    93%

    S im

    No

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    A ordenhadeira mecnica constitui-se num aparelho tecnolgico importante para o

    acrscimo da qualidade do leite, na medida em que abole a necessidade da relao manual

    com o leite, cooperando assim para o melhoramento da qualidade da matria-prima, e desta

    maneira, o produtor tambm tende a ganhar em benefcio das novas estratgias adotadas pelas

    empresas, que passaram a remunerar o produtor, em funo da maior quantidade entregue e

    da melhor qualidade da matria prima.

    importante advertir, entretanto, que a reduzida utilizao deste equipamento

    dentre os produtores do municpio, se deve ao fato de serem pequenos produtores de leite e

    no possuem escala de produo suficiente para realizar tal investimento. Pois o produtor que

    produz 50 litros/dia, no apresenta uma produo que justifique o investimento em

    ordenhadeira e tanque de expanso. Veja a seguir a utilizao de ordenha mecnica realizada

    em uma propriedade rural de Arenpolis-GO. (Figura 14)

    Figura 14 Ordenhadeira mecnica utilizada numa propriedade rural especializada na produo de leite. Arenpolis-GO. Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

  • 45

    4.1.1 Quantidade de ordenhas dirias realizadas pelos produtores do municpio.

    Outra referncia de produtividade, escala de produo mnima e manejo adequado

    de modo a garantir ao leite qualidade, referem-se quantidade de ordenhas realizadas por dia

    pelos produtores. De acordo com Paulillo, Herrera, Costa (2002), o nmero de ordenhas

    dirias representa a escala produtiva e o nvel de tecnificao dos produtores. Quanto mais

    produz-se leite maior a necessidade de tecnologia investida.

    No municpio de Arenpolis, o nmero de ordenhas por dia est relacionado com

    a explorao do tanque de expanso na propriedade, A grande maioria dos produtores

    investigados, ou seja, 95% deles efetuam apenas uma ordenha diria e apenas 5% praticam

    duas ordenha diria. Isso se constitui num nmero de sua ineficincia produtiva frente s

    novas exigncias deste novo cenrio que agora se apresenta para o setor. Nos casos de

    produtores especializados, eles chegam a realizar 2, 3 e em alguns casos 4 ordenhas dirias.

    Figura 15 Quantidade de ordenhas/dia pelos produtores da regio Arenopolis-GO

    95%

    5%

    1 ordenha

    2 ordenha

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    De acordo com os dados coletados durante trabalho de campo no municpio sobre

    a quantidade de ordenhas dirias, de acordo com a Figura 15, verifica-se que os produtores

    menos tecnificados, ou seja, 95% deles, no realizam 2 ordenhas dirias. Portanto, v-se que

    no geral, os produtores de leite do municpio de Arenpolis esto muito abaixo do que

    necessrio para ser concorrente e sobreviver neste novo cenrio que se depara para o setor

    lcteo.

  • 46

    4.1.2. Realizao de inseminao artificial

    O tanque de expanso para resfriamento do leite, na propriedade, vem se

    estabelecendo num fator de seleo de produtores, visto que a maioria dos produtores no

    possuem recursos para adquiri-lo. Isto tem elegido os produtores, reduzindo o nmero de

    fornecedores a estas empresas, mas por outro lado tem aumentado a quantidade entregue por

    produtor (MARTINS, 1999).

    Figura 16 Tanque de resfriamento de leite numa propriedade rural especializada na produo de leite -Arenpolis. Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    4.1.3. O uso do tanque de resfriamento de leite

    Um nmero bastante respeitvel e pertinente produtividade do rebanho, refere -

    se prtica de inseminao artificial pelos produtores. Diante de dados coletados no trabalho

    de campo realizado nos meses de agosto, setembro e outubro de 2010, apenas 5% dos

    produtores utilizam a prtica da inseminao artificial, enquanto que a grande maioria, 95%

    no faz uso efetivo desta prtica, conforme se observa na Figura 17.

  • 47

    Figura 17 Utilizao de inseminao artificial pelos produtores do municpio de Arenpolis-GO.

    5%

    95%

    S im

    No

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

    A inseminao artificial uma tcnica muito importante para pecuria leiteira, ao

    passo em que permite o melhoramento gentico do rebanho, e assim a rentabilidade de

    produtividade, alm de permitir ao produtor, inseminar as suas matrizes, em datas que lhe

    comporta fazer com que elas comecem a produo em momentos em que o preo do litro de

    leite encontra-se em alta no mercado, que no perodo da entressafra, (MARTINS, 1999).

    Pelos dados conseguidos com a pesquisa campo, de acordo com a Figura 18,

    verifica-se que apenas 60% dos produtores de leite possuem o tanque de expanso, enquanto

    os restantes 40% no possuem o tanque de expanso.

    Figura 18 Porcentagem de tanque de expanso no municpio de Arenpolis-GO.

    60%

    40%

    Sim

    No

    Fonte: Trabalho de campo, 2010. Org. Xisleque T. Oliveira Sousa.

  • 48

    4.1.4 O atraso tcnico e logstico do produtor de leite.

    Segundo foi possvel observar nos dados sobre a utilizao de tecnologias junto ao

    processo produtivo de leite no municpio, o produtor de leite est longe do ideal na utilizao

    da tecnologia necessria para adquirir concorrncia. O baixo nmero de produtividade

    representao disso. O baixo nvel tecnolgico, por sua vez, representao da mentalidade

    do produtor de leite, que foi adaptada tambm pelo cenrio que se apresentou ao setor a

    partir da dcada de 1940, a falta de capital, alm de outros fatores elencados anteriormente.

    O espectro de mercado e negcios, que o produtor de leite no Brasil atua ainda

    est muito longe de poder ser compatvel a uma viso empresarial, necessria neste novo

    cenrio competitivo que se apresenta. A superioridade do rebanho misto, ou seja, produzindo

    leite e carne ao mesmo tempo, acaba por prejudicar as possibilidades de especializao.

    O principal fato apontado pelos produtores est relacionados aos baixos preos do

    leito, recebido pelos produtores, que segundo eles mal cobrem os custos de produo que

    chega desanimar os produtores, pois na poca de safra, em funo da grande oferta o preo

    tende a ser mais baixo.

    E sabido que o preo do leite varia conforme o mercado e a demanda, nesse

    sentido o clima e um fator importante, pois no perodo da seca ou seja entre-safra o leite

    diminui e com a pouca oferta o custo do leite tende a subir. Porem este ano no perodo da

    entre-safra o leite no teve aumento no preo. Chegou ser pago 0,39 centavos o leite gelado

    e o inatura 0,35 centavos preo mnimo. Isso deveu-se a importao de lcteos de outros

    pases como Estados Unidos e Uruguai. Sindicato Rural de Arenpolis campo (novembro

    2010).

    Uma das solues encontradas pelos produtores de leite para superar a questo do

    atraso tcnico logstico da atividade leiteira em Arenpolis foi a unio atravs das

    associaes. Arenpolis conta com cinco associaes que reunio os produtores para

    enfrentarem o mercado. De acordo com o presidente de uma dessas associaes a APRRA

    (Associao dos Produtores Rurais Ribeiro Areia) os cinqenta associados se uniro em

    busca de melhorar no setor comprando coletivamente direto das distribuidora complemento

    alimentar para o gado (rao, milho. Sal e outros). Assim o custo de produo para cada

    produtor fica mais baixo e o produto mais competitivo.

    Tambm nesse sentido o Sindicato Rural realiza todo dia 16 de cada ms uma

    reunio com as industrias de laticnios, que so elas Centro Oeste, Vida, Maroca e Catupir,

    nas cidades de Arenpolis, Piranhas, Caiapnia, Bom Jardim, Doverlandia e Ipra, com

  • 49

    objetivo de negociar o preo mnimo do leite em favor dos produtores e cada sindicato tem

    uma representao com trs representantes nas reunies.

    Ultimamente, com o procedimento de especializao e ganhos de produtividade, a

    sazonalidade na produo tem desaparecido entre os produtores especializados, improvisando

    com que o preo do leite ao consumidor apresente quedas em plena poca de entressafra.

  • 50

    CONSIDERAES FINAIS

    Em trabalho de campo concretizado, buscou-se identificar a faixa etria

    predominante dos produtores de leite do municpio, de modo a distinguir os proprietrios

    rurais que se consagram pecuria leiteira, bem como lembrar as perspectivas de

    prosseguimento da atividade no municpio.

    Realizamos uma anlise dos dados referentes pecuria bovina leiteira da regio.

    Destacamos os ndices de produtividade e as formas de manejo, bem como a funcionalidade

    da pecuria na unidade produtora de leite e as mudanas, que vem sendo operadas no setor

    primrio do leite, advindas da reestruturao industrial, que vm implicando em mudanas

    logstica-tecnolgicas e scio-econmicas.

    A pecuria leiteira no municpio de Arenpolis possui significativa relevncia

    para a reproduo social do pequeno proprietrio rural na regio, pois proporciona uma

    liquidez mensal que nenhum outro produto agrcola oferece aos agricultores locais.

    Tem sido bastante comum na regio a conjugao por parte dos produtores de

    leite com outros produtos, como mandioca, milho, dentre outras, que alcanam maiores

    preos que os produtos tradicionais. Contudo, para alguns produtores de leite, a falta de

    capitalizao e a ausncia de escala da produo de leite, bem como a no-especializao, tm

    sido os fatores que tem dificultado a permanncia destes na pecuria leiteira. De modo geral, a

    reorganizao do setor aumentou as dificuldades para os produtores de leite no-

    especializados continuarem produzindo.

    Percebemos os efeitos da modernizao da atividade leiteira no municpio de

    Arenpolis, tais como a instalao de tanques de resfriamento, ordenha mecnica,

    melhoramento gentico, entre outros que paulatinamente adentraram no meio rural regional.

  • 51

    Na cadeia de lcteos, os maiores investimentos no setor esto associados em geral

    aos grandes produtores, ocorrendo um esquecimento em relao aos pequenos e mdios. Isto

    se deve falta de recursos e dificuldades de obteno de crdito por parte dos mesmos, o que

    est relacionado carncia de auxlios por parte dos governos.

    Para Rodrigues (2003, p. 24) a chegada da tecnologia no meio rural modifica em

    todos os sentidos a vida das pessoas que moram no campo. A modernizao da pecuria

    leiteira conforme a proposta de Kageyama (et al., 1990) impe um modo de produo voltado

    para os interesses urbanos. De acordo com essa afirmao estudar o papel da tecnificao ou

    modernizao no campo na cadeia produtiva de leite nos leva a compreender a dinmica ou

    influencia que estas transformaes, exerce sobre o lugar.

    As transformaes so provocadas pela insero da tecnologia no meio rural e que

    acaba provocando ou acelerando o processo de desemprego de uma determinada regio. Esse

    processo de modificao dos meios de produo e, por consequncia, da substituio da mo

    de obra empregada no setor, resulta nas migraes tanto da zona rural para urbana e tambm

    de uma regio para outra em busca de novas qualificaes e ou emprego. Outros fatores foram

    assinalados como: falta de incentivos do Governo, baixa qualidade do rebanho,

    desorganizao dos produtores, falta de recursos, muita oferta e baixa produtividade.

    Diante disso, tambm foram pesquisadas as perspectivas e alternativas indicadas

    pelos prprios produtores no sentido de melhorar as condies de produo.

    Levando em apreo as dificuldades encontradas pelos produtores, verificou-se que

    60% dos produtores ass