a cadeia produtiva da farinha de mandioca · produtiva da farinha de mandioca de copioba, do vale...

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS A CADEIA PRODUTIVA DA FARINHA DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz) DO VALE DA COPIOBA-BA: ATORES SOCIAIS, TECNOLOGIAS E A SEGURANÇA DO ALIMENTO ÍCARO RIBEIRO CAZUMBÁ DA SILVA Salvador BA Março-2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS

A CADEIA PRODUTIVA DA FARINHA DE MANDIOCA

(Manihot esculenta Crantz) DO VALE DA COPIOBA-BA:

ATORES SOCIAIS, TECNOLOGIAS E A SEGURANÇA DO

ALIMENTO

ÍCARO RIBEIRO CAZUMBÁ DA SILVA

Salvador – BA Março-2014

2

ÍCARO RIBEIRO CAZUMBÁ DA SILVA

A CADEIA PRODUTIVA DA FARINHA DE MANDIOCA

(Manihot esculenta Crantz) DO VALE DA COPIOBA-BA:

ATORES SOCIAIS, TECNOLOGIAS E A SEGURANÇA DO

ALIMENTO

Dissertação apresentada à Faculdade de

Farmácia da Universidade Federal da

Bahia, como parte das exigências do

Programa de Pós-Graduação em Ciência

de Alimentos, para obtenção do título de

Mestre.

Orientadora: Profª. Dra. Ryzia de Cassia Vieira Cardoso

Salvador – BA

Março- 2014

3

Sistema de Bibliotecas - UFBA

Silva, Ícaro Ribeiro Cazumbá da

A cadeia produtiva da farinha de mandioca (Manihot esculenta Crantz) do Vale da Copioba - BA: atores sociais, tecnologias e a segurança do alimento / Ícaro Ribeiro Cazumbá da Silva. - 2014.

146 f. : il. Inclui apêndices e anexos. Orientadora: Profª Drª Ryzia de Cassia Vieira Cardoso. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Farmácia, Salvador, 2014. 1. Farinha de mandioca - Comércio - Recôncavo (BA) . 2. Mandioca - Cultivo. 3. Trabalhadores rurais. 4. Economia agrícola. 5. Segurança alimentar. I. Cardoso, Ryzia de Cassia Vieira. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Farmácia. III. Título.

CDD - 664.72272

CDU - 664.761

4

5

À Deus, por me fazer mais uma vez vitorioso em minha caminhada.

A minha família por ter me feito um cidadão de bem. Aos produtores de Farinha de mandioca no Vale do Copioba

6

AGRADECIMENTOS

Agradecer não é uma tarefa das mais simples, uma vez que em meio a

tantas linhas escritas neste trabalho, podemos em um pequeno deslize esquecer

alguém tão importante quanto todos aqui citados.

Primeiramente, agradeço a Deus, por ter me dado o sopro da vida, por

estar sempre presente nos meus atos e atitudes, me fazendo seguir pelos

caminhos que agradam ao Senhor e me dando cada dia mais vitórias. Muitas

foram às idas e vindas entre Nazaré, Salvador e, em todos esses 10864,2km,

estive amparado por suas mãos de graça, não deixando que nenhum mal

acontecesse e que eu retornasse tranquilamente ao meu lar, sempre com o meu

objetivo alcançado e em total segurança.

Aos meus pais CÍCERO E SUELY, minhas fontes de direcionamento e

força. Por eles é que sou quem sou hoje, diz um ditado popular antigo que “um

pai cuida de dez filhos, mas dez filhos não cuidam de um pai”, e hoje faço questão

de dizer, que para toda regra existe um exceção e eu serei à exceção desse

ditado, pela glória de Deus, sempre serei fonte de orgulho a vocês. Ao meu irmão

Áthila (Bubi) pela vivência, pela paciência, pela ajuda sempre que necessitei, pela

compreensão nos momentos de estresse de minha parte, afinal conviver com um

irmão leonino, meio nerd e com “toc” por limpeza, não é fácil e hoje tenho

consciência de sua importância nos meus dias.

À minha orientadora RYZIA CARDOSO, pelos seus ensinamentos, seus

conselhos, pelas orientações dadas; uma pessoa de uma humildade incrível, de

uma coragem inabalável, sempre com um direcionamento às pesquisas de cunho

social, buscando ajudar as comunidades necessitadas e se perguntando: “...o que

daremos de retorno a população?” e isso no mundo acadêmico se torna cada vez

mais raro. Uma pessoa, onde seu dia tem muito mais de 24h; além de tudo, ainda

é mãe, esposa e mulher, fazendo todas as suas atividades como se fosse a única

a ser feita. A senhora é um exemplo a ser seguindo por toda a minha vida, sou

seu fã, que Deus lhe abençoe sempre!

À Professora DALVA FURTUNATO (minha mãe acadêmica), uma das

primeiras pessoas que acreditou em mim, que me deu oportunidades nos

estudos, que me abriu os olhos ao que seria o mundo acadêmico de um modo

geral. Tem um coração que não cabe no peito, uma mãe extremamente atenciosa

7

(Dani que o diga), não mede esforços a ajudar as pessoas, de uma assiduidade e

responsabilidade invejáveis, além de tudo possui a ABNT toda na cabeça. Tenho

certeza de que será uma das avós mais legais do mundo, sem sombra de

dúvidas; tudo o que eu dissesse aqui para agradecer a ela, seria pouco pelo que

já fez por mim.

Às bolsistas envolvidas no projeto: ALAANE, NINA, JOSENAI, CAMILA,

TAISE, MARIA e ERIKA, que sempre me acompanharam nas atividades,

responsáveis e dispostas a resolver qualquer pendência e vivenciar esse mundo

novo da farinha de Copioba.

A todos os membros do grupo de pesquisa SACIA (Segurança Alimentar e

Comércio Informal de Alimentos), pela constante construção do conhecimento em

grupo.

Ao Professor ÂNGELO GÓES, pela confiança em mim depositada e pela

paciência, o senhor é um grande amigo.

Aos colegas de mestrado CANDICE, LINDANOR, TÁCILA, MARGARETH,

LÍDIA MOURA, LUCIANA ARGOLO, ÍSIS BORGES, MARIANA, LUCIANE

SOUSA entre outras, pela companhia nos momentos de agonia durante esses

dois anos ou mais.

A ILA FALCÃO, LARISSA DIU, NADJANE DAMASCENA, ELAINE

BONFIM, TATIANA GALLUCCIO, JULIEDE ALVES, ELIZABETH PINTO e, em

especial, a MÁRCIA FILGUEIRAS, minha eterna amiga, colega, companheira de

alegrias e tristezas. A vocês todas, digo apenas uma coisa: esses oito anos

jamais seriam iguais sem vocês aqui.

A todos os funcionários da Faculdade de Farmácia e Nutrição, em nome de

Priscila Oliveira agradeço a todos pela ajuda e companhia.

À Professora JANICE DRUZIAN, pela confiança em mim depositada para

desenvolver as atividades do projeto de IG da farinha, por ela coordenado.

Por fim, à FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia),

pelo apoio financeiro no desenvolver dessas atividades.

A todos, o meu eterno MUITO OBRIGADO, por compartilharem comigo

mais esse ciclo de minha vida!

8

“...Metade de mim agora é assim, de

um lado a poesia o verbo a saudade,

do outro a luta, a força e a coragem

pra chegar ao fim. E o fim é belo,

incerto... depende de como você

vê...”

Fernando Anitelli

9

RESUMO

Na Bahia, o cultivo da mandioca e a produção de farinha compreendem uma

tradição, sem, contudo, mostrar avanços. Entre as regiões de maior produção, da

farinha, o Recôncavo é uma das principais, com destaque para a farinha do Vale

do Rio Copioba - a farinha de Copioba. Apesar da notoriedade desta farinha e do

seu potencial para a Indicação Geográfica (IG), pouco se conhece sobre o

contexto da sua produção. Assim, este estudo buscou caracterizar a cadeia

produtiva da farinha de mandioca de Copioba, do Vale do Copioba, Bahia, na

perspectiva dos atores sociais, tecnologias empregadas e segurança de

alimentos, como contribuição ao processo de IG. Realizaram-se dois estudos,

com abordagem quantitativa, nos três municípios que integram o Vale do

Copioba: Nazaré, Maragojipe e São Felipe. O primeiro envolveu levantamento de

dados junto a 72 casas de farinha e 239 produtores, por meio de questionários. O

segundo foi desenvolvido nas mesmas casas de farinha, com avaliação das

condições higiênico–sanitárias da produção da farinha, com uso de lista de

verificação, contemplando cinco blocos: 1. Situação e condições da edificação; 2.

Equipamentos e utensílios; 3. Pessoal na área de produção, manipulação e

venda; 4. Matérias-primas e produtos expostos à venda; e 5. Fluxo de produção,

manipulação, venda e controle de qualidade. No primeiro estudo verificou-se

predomínio de homens (63,9%), com média de idade de 40,91 anos, escolaridade

até ensino fundamental (82,3%) e renda familiar variando de um a três salários

mínimos (58,4%). Em geral, os entrevistados tinham residências próprias (96,5%)

e dispunham de energia elétrica (97,1%), mas não contavam com serviços

públicos de água, saneamento e coleta de lixo. O tempo na atividade registrou

média de 41,8 anos, enquanto a média de jornada diária de trabalho foi de 9,31

horas, com cinco dias de trabalho/semana, evidenciando-se o trabalho familiar e o

trabalho infantil. A produção de farinha foi indicada tanto como fonte principal de

renda (89,9%) quanto para complementação da renda familiar (10,1%). Verificou-

se fraca organização social dos trabalhadores, com índice 48,7% de participação

em associações, cooperativas ou sindicato, o que constitui um limitante ao pedido

de IG. No segundo estudo, para o conjunto de unidades avaliadas, nenhuma

alcançou pontuação superior a 60% de adequação, limite abaixo do qual se

caracteriza condição higiênico-sanitária deficiente. No bloco 2, obteve-se a menor

10

pontuação entre os demais, em virtude do não atendimento às normas vigentes,

como a localização de equipamentos e utensílios em áreas comuns a todo o

processo de fabricação, além da precária condição de conservação e de

manipulação. O bloco de maior adequação foi o bloco 4, em razão das

características sensoriais esperadas para o produto e do acondicionamento da

farinha, pós-produção. Como ponto positivo, no bloco 5, salienta-se a

identificação de fluxo linear para o processo produtivo, o que reduz a

possibilidade de contaminação cruzada. O estudo revela a importância social e

econômica da cadeia produtiva da farinha de mandioca, no Vale do Copioba-BA,

embora descreva também limitações nas condições de trabalho, na organização

social e no atendimento aos requisitos sanitários para alimentos. Assim, reforça-

se a necessidade de políticas e programas voltados para a cadeia, de modo a

promover melhores condições de trabalho, a inocuidade dos alimentos e sustentar

os arranjos produtivos locais, com valorização do produto regional e fomento ao

pedido de IG e ao desenvolvimento social.

Palavras-chave: Agricultura familiar; economia rural; produtos regionais; Indicação Geográfica; segurança alimentar e nutricional; higiene de alimentos.

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ABSTRACT

In Bahia, the cultivation and production of cassava flour comprise a tradition, but

without showing progress. Among the areas of higher production of flour, the

Reconcavo is one of the major, especially the flour from Valley Copioba river –

Copioba flour. Despite the notoriety of the flour and the potential for the

Geographical Indication (GI), little is known about the context of the production.

Thus, this study aimed to characterize the productive chain of cassava flour, from

Valley Copioba, the perspective of social actors, technologies used and food

safety, as a contribution to the GI process. There were two studies with a

quantitative approach, in three municipalities that comprise the Copioba Valley:

Nazaré, Maragojipe and São Felipe. The first involved a data collection with 72

flour mills and 239 producers, through questionnaires. The second was developed

in the same flour mills, with evaluation of sanitary conditions of production of flour,

using a checklist, covering five sections: 1. Situation and conditions of the building

2. Equipment and utensils; 3. Personnel in the area of production, handling and

sale; 4. Raw materials and products displayed for sale, and 5. Production flow,

handling, sales and quality control. In the first study there was a predominance of

men (63.9%) with mean age of 40.91 years, education up to elementary school

(82.3%) and family income ranging from one to three minimum wages (58.4 %). In

general, interviewees had their own homes (96.5%) and were equipped with

electricity (97.1%), but did not have public water supply, sanitation and garbage

collection. The average time on the activity was 41.8 years, while the average from

daily working hours was 9.31 hours, with five working days / week, evidencing the

family and child labor. The production of flour has been nominated both as main

source of income (89.9%) and to complement the family income (10.1%). There

was weak social organization of workers, with 48.7% of participation in

associations, cooperatives or syndicate, which is a limiting factor to the application

of GI. In the second study, the set of evaluated units, none achieved score higher

than 60% of appropriate, below the recommended limit which characterized poor

hygienic and sanitary conditions. In block 2, we obtained the lowest score among

the rest, due to non-compliance with existing standards, such as the location of

equipment and utensils in common areas of the entire manufacturing process, in

addition to poor storage conditions and handling. The block which has the greatest

12

adaptation was the block 4, in reason to the sensory characteristics expected for

the product and the packaging of flour, post-production positive point, in block 5,

emphasizes the identification of linear flow to the productive process, which

reduces the possibility of cross-contamination. The study reveals the social and

economic importance of the productive chain of cassava flour, in the Copioba

Valley - BA, while also describe limitations in working conditions, in social

organization and the treatment to sanitary requirements for food. So, it reinforces

the need for policies and programs for the chain, to promote better working

conditions, food safety and sustain the local clusters, with appreciation of regional

product and promoting the application of IG on social development.

Keywords: Family agriculture, rural economy; regional products; Geographical Indication, food and nutrition security, food hygiene.

13

LISTA DE TABELAS Capítulo 2 Tabela 1 - Características sócio-demográficas dos produtores de Farinha de Mandioca tipo “Copioba” no Vale da Copioba, Bahia, 2012/2013..............................................................................................................50 Tabela 2 - Características das residências dos produtores de farinha de mandioca do Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013.................................................................55 Tabela 3 - Características do trabalho dos produtores de farinha de mandioca no Vale da Copioba, Bahia, Brasil, 2012-2013...........................................................61 Capítulo 3 Tabela 1. Avaliação da FIEA - Parte B: Pesos específicos por bloco de avaliação...............................................................................................................84 Tabela 2. Critério de classificação das unidades de processamento da farinha de mandioca, de acordo com a nota obtida.............................................................86 Tabela 3. Avaliação das casas de farinha quanto a pontuação total, a média de pontos obtidos, a amplitude e % de adequação. Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013.......................................................................................................................87

1

14

LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Capítulo 1 Figura 1: Fluxograma do processamento de farinha de mandioca. Fonte: (OLIVEIRA E REBOUÇAS, 2008)..........................................................................27 Capítulo 2 Figura 1: Mapa do Vale do Copioba, com a identificação dos três municípios – Nazaré, Maragojipe e São Felipe e suas casas de farinha. (IBGE, 2005, adaptado)...............................................................................................................47 Figura 2: Distribuição (%) dos produtores do Vale da Copioba-BA, Brasil quanto à chefia de família, por gênero e localidade, 2012-2013.. ....................................... 54 Figura 3: Distribuição (%) dos entrevistados quanto à disponibilidade de bens e serviços nos domicílios. Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013 .............................. 59 Figura 4: Distribuição (%) dos entrevistados quanto à indicação das atividades profissionais que representam maior contribuição ao sustento das famílias. Vale da Copioba-BA, 2012-2013.. ................................................................................ 65 Figura 5: Distribuição dos participantes quanto ao desenvolvimento de outras atividades geradoras de renda, excluindo-se a produção de farinha. Vale do Copioba-BA, 2012-2013. ..................................................................................... 66 Figura 6: Distribuição (%) dos produtores do Vale da Copioba-BA, quanto à participação em organização social de trabalho, 2012-2013. .............................. 67 Capítulo 3 Figura 1: Instalações de casas de farinha do Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013.......................................................................................................................88 Figura 2: Rusticidade e estado de conservação dos equipamentos utilizados na produção da farinha de Copioba e o reaproveitamento de instalações domésticas para a produção da farinha. Vale do Copioba-BA, 2012-2013..............................91 Figura 3: Modelos de prensas artesanais utilizadas no Vale do Copioba-BA, 2012-2013.......................................................................................................................93 Figura 4: Sistemas de torração com forno manual e motorizado no Vale do Copioba-BA, 2012-2013........................................................................................95

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária;

APPCC - Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle;

BA - Bahia

BPF – Boas Práticas de Fabricação

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

EMBASA- Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A.

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FABESB - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia

FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IG – Indicação Geográfica

INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial

Kg – Kilo grama

LPI – Lei de Propriedade Industrial

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

OMS - Organização Mundial de Saúde

PIB - Produto Interno Bruto

POP – Padrões Operacionais Padronizados

PPHO – Procedimentos Padrões de Higiene Operacional

RJ- Rio de Janeiro

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

SVS – Serviço de Vigilância Sanitária

t/ha – Tonelada por hectare

16

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL ___________________________________________ 18

OBJETIVOS ____________________________________________________ 20

GERAL ______________________________________________________ 20

ESPECÍFICOS ________________________________________________ 20

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ___________________________________ 21

CAPITULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ___________________________ 22

1.1 A mandioca e a farinha de mandioca: origem e estatísticas _______ 22

1.2 O beneficiamento da mandioca e a produção da farinha __________ 24

1.3 Requisitos de qualidade de alimentos e Boas Práticas de Produção 31

1.4 A produção da farinha na Bahia e no Recôncavo ________________ 32

1.5 A Tradição e o Potencial da Farinha de Copioba para Indicação Geográfica ___________________________________________________ 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________ 36

CAPÍTULO 2: CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO ENTRE PRODUTORES DE FARINHA DE MANDIOCA (Manihot esculenta Crantz): UM ESTUDO NO VALE DO COPIOBA-BA _______________________________________________ 42

LIVING CONDITIONS AND WORK BETWEEN PRODUCERS CASSAVA FLOUR (MANIHOT ESCULENTA CRANTZ): A STUDY IN THE VALLEY OF COPIOBA-BA ___________________________________________________________ 42

RESUMO ______________________________________________________ 43

ABSTRACT ____________________________________________________ 44

1 INTRODUÇÃO ________________________________________________ 45

2 MATERIAIS E MÉTODOS _______________________________________ 47

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES __________________________________ 50

4 CONCLUSÕES _________________________________________________72

5 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ________________________________73

CAPÍTULO 3: A SEGURANÇA DE ALIMENTOS EM CASAS DE FARINHA NO VALE DO COPIOBA, BAHIA BRASIL: DIAGNÓSTICO E CONTRIBUIÇÃO À INDICAÇÃO GEOGRÁFICA _______________________________________ 78

FOOD SAFETY IN HOUSES OF FLOUR IN THE VALLEY OF COPIOBA, BAHIA BRAZIL: DIAGNOSIS AND CONTRIBUTION TO THE GEOGRAPHICAL INDICATION_____________________________________________________78

RESUMO ______________________________________________________ 79

ABSTRACT ____________________________________________________ 80

1 INTRODUÇÃO ________________________________________________ 81

2 MATERIAIS E MÉTODOS _______________________________________ 83

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ___________________________________ 87

17

4 CONCLUSÕES _______________________________________________ 104

5 AGRADECIMENTOS____________________________________________105

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________ 106

CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________ 111

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIOSEMI-ESTRUTURADO ______________ 114

APÊNCICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO_131

ANEXO A - Ficha de Inspeção de Estabelecimentos na Área de Alimentos (FIEAA)_____________________________________________________ 135

ANEXO B - Parecer Consubstanciado n° 97.402/2012 _______________ 143

18

INTRODUÇÃO GERAL

Em diversos países do mundo, sobretudo naqueles em desenvolvimento,

mais de 700 milhões de pessoas utilizam a mandioca (Manihot esculenta Crantz)

como principal fonte de carboidratos, o que evidencia a importância social dessa

cultura (MATTOS; GOMES, 2000). O Brasil, com aproximadamente dois milhões

de hectares plantados, é um dos maiores produtores mundiais de mandioca,

registrando produção de 26 milhões de toneladas de raízes frescas, em 2010, e

estimativa de 27,1 milhões de toneladas, para 2011 (IBGE, 2011).

Dentre as modalidades de cultivo da mandioca, o policultivo - mistura de

mandioca com diversas espécies, principalmente feijão e milho - é a

predominante entre as demais, sendo as regiões Norte e Nordeste as de maior

utilização desta técnica de cultivo, bem como as maiores produtoras da mandioca

(IBGE, 2011).

No país, a maior parte das raízes é transformada em farinha de mesa

comum, contudo, ainda pode-se obter a farinha d´água, a goma de tapioca, o

polvilho doce e o azedo, a mandioca congelada, a minimamente processada e o

chips de mandioca. Vários desses produtos são direcionados ao uso culinário, no

qual a fécula é altamente utilizada, principalmente na fabricação de pães, bolos e

biscoitos. Além deste aspecto, considera-se que a mandioca é utilizada

integralmente, uma vez que a raiz e as partes aéreas ainda podem ser utilizadas

como ingredientes para ração animal (CARDOSO et al., 2001).

Na região Nordeste, é fato a existência de centenas de unidades

produtoras de farinha, denominadas casas de farinha, cujas estruturas são

bastante rudimentares, sendo característica o uso de mão-de-obra familiar

(OLIVEIRA; MENDONÇA, 2008). De modo geral, a fabricação da farinha possui

uma tecnologia considerada simples, contudo, exige cuidados no seu

processamento. Dentre esses, pode-se citar a seleção da matéria-prima e a

higiene e controles adotados durante todo o processo de fabricação, sendo tais

fatores fundamentais para garantir um produto de qualidade.

19

Nesse contexto, para a fabricação da farinha de qualidade, o produtor

precisa observar os procedimentos recomendados para o processamento dos

alimentos: localização adequada da unidade de produção; utilização de medidas

rigorosas de higiene dos trabalhadores na atividade; limpeza diária das

instalações e equipamentos; matéria-prima de boa qualidade; tecnologia de

processamento, embalagem e armazenagem adequada (FOLEGATTI et al.,

2005).

Todavia, por apresentarem estruturas bastante simples, muitas vezes, a

maioria das casas de farinha não possuem as condições físico-estruturais

adequadas e necessárias para o seu bom funcionamento, o que concorre para

preocupações quanta qualidade do produto, na perspectiva sanitária (OLIVEIRA;

REBOUÇAS, 2008; SANTOS, 2001). Para alguns autores, este cenário é

justificado pelo fato dos trabalhadores das casas de farinha não atenderem às

especificações técnicas de funcionamento estabelecidas pelos órgãos

governamentais e não governamentais, bem como pelos órgãos de apoio à

produção agropecuária/agrícola, dentre outros (CARDOSO, 2006; SOARES,

2007).

Na Bahia, a produção da farinha de mandioca em casas de farinha também

é uma tradição, com destaque para a farinha denominada Copioba, caracterizada

pela granulometria fina e textura crocante. Esta farinha, apesar do

reconhecimento popular, ainda não apresenta registros sobre a sua tecnologia de

produção e controles sanitários, posto que seja produzida de forma artesanal, em

comunidades rurais da região do Vale do Copioba, uma área geográfica que

envolve os municípios de Nazaré, São Felipe e Maragojipe.

Mediante a descrição, este estudo se volta para a produção da farinha de

mandioca do tipo Copioba, no Vale do Copioba, considerando os atores sociais

envolvidos, bem como os processos de produção e de segurança de alimentos

adotados. Nesse contexto, espera-se que as informações resultantes possam

contribuir para a tomada de decisão da coletividade de produtores e da gestão

pública que atua junto ao segmento, com vistas ao fortalecimento dessa cadeia

produtiva e ao desenvolvimento local.

20

OBJETIVOS

GERAL

Caracterizar a cadeia produtiva da farinha de mandioca de Copioba, do

Vale do Copioba, Bahia, na perspectiva dos atores sociais, tecnologias

empregadas e segurança de alimentos, como contribuição ao processo de

Indicação Geográfica.

ESPECÍFICOS

Caracterizar os atores sociais envolvidos na produção da farinha de

“Copioba”, na perspectiva socioeconômica e demográfica e quanto à

organização social do trabalho;

Avaliar o atendimento de requisitos higiênico-sanitários no processo

produtivo da farinha de mandioca de Copioba;

Propor medidas corretivas para as possíveis inadequações de

processamento e de higiene encontradas, visando à melhoria da qualidade

do produto e a contribuição ao processo de pedido a Indicação Geográfica;

Sistematizar informações que contribuam para o processo de Indicação

Geográfica da farinha de mandioca de Copioba, do Vale do Copioba, Bahia.

21

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este estudo organiza-se em três capítulos, sendo o primeiro de revisão

de literatura, com abordagem de temas relacionados à cultura da mandioca,

produção e comercialização da farinha de mandioca e ao local de estudo, as

casas de farinha e os atores sociais no Vale do Copioba, Bahia, Brasil.

O segundo capítulo, em forma de artigo, procura apresentar e

caracterizar os atores sociais envolvidos na produção de farinha de mandioca, no

Vale do Copioba-BA, revelando os aspectos socioeconômicos, o trabalho e a

organização social desse atores.

O terceiro capítulo, em forma de artigo, procura avaliar o perfil

higiênico-sanitário de casas de farinha do Vale do Copioba-BA, buscando

contribuir para o fortalecimento de ações com vistas à promoção da segurança de

alimentos nessa cadeia produtiva, bem como para o processo de Indicação

Geográfica.

22

CAPITULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 A mandioca e sua farinha: origem e estatísticas

A mandioca (Manihot esculenta Crantz) tem sua origem basicamente

ameríndia e brasileira, estando também disseminada por toda a América. Graças

aos colonizadores portugueses e espanhóis, a mandioca, ainda, foi levada por

toda África e Ásia, sendo considerada por alguns autores como “a mais brasileira

de todas as plantas de potencial econômico, dada a sua ligação com o

desenvolvimento histórico, social e econômico do povo” (CONCEIÇÃO, 1983). De

acordo com Silva (1996), vestígios arqueológicos indicam que a planta da

mandioca pode ter mais de 7.000 anos de utilização.

Historicamente, no Brasil, o cultivo e o uso da mandioca na alimentação

associam-se à cultura indígena, com registros desde o período do descobrimento.

A primeira referência à mandioca está na carta que Pero Vaz de Caminha enviou a

Portugal quando do Descobrimento, que descreve:

"...Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha,

ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não

comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos

que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios

que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos..." (CASCUDO,

2004, p. 92).

O "inhame" era, na realidade, a mandioca, posto que o inhame

propriamente dito é de origem africana, tendo sido introduzido posteriormente no

Brasil (CASCUDO, 2004).

Deste modo, produtos como a raiz cozida, a farinha e a tapioca foram

gradativamente incorporados aos hábitos alimentares dos portugueses e,

posteriormente, integrados também à alimentação dos negros escravizados

23

(LEAL, 1998; CASCUDO, 2004), passando a compor um dos elementos de

identidade da cultura alimentar brasileira.

Na atualidade, em âmbito mundial, a mandioca é uma das principais

explorações agrícolas, com produção acima de 229,5 milhões de toneladas/ano.

Entre as tuberosas, perde apenas para a batata e encontra-se entre os seis

principais produtos alimentares - trigo, arroz, milho, batata, cevada e mandioca,

segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO

(2011).

Dentre os continentes, a África é o maior produtor mundial (52,9%),

seguido de Ásia (32,6%), América (14,5%) e Oceania (0,11%). Quanto ao

rendimento, destacam-se a Ásia (14,37 toneladas por hectare (t.ha.)), a América

(12,22 t.ha.), a Oceania (11,57 t.ha.) e a África (8,46 t.ha.) (FAO, 2011).

O país de maior produção de mandioca é a Nigéria, com uma produção

de 39 milhões de toneladas/ano, em 2011. Nesse país pretende-se substituir trigo

importado e assim diminuir a dependência alimentar, pela adição de 40% de

amido de mandioca na panificação. Espera-se também exportar 900.000

toneladas de mandioca chips e 182.000 toneladas de alta frutose, utilizada na

substituição do açúcar contido em refrigerantes e, ainda, transformar 11 milhões

de toneladas de amido de mandioca em litros de etanol (aproximadamente 1,2

bilhões de litros) (IBGE, 2012).

Segundo a FAO (2013), a produção brasileira de mandioca representa

10,7% da produção mundial, tornando o Brasil o segundo maior produtor do

mundo e mantendo o patamar de maior produtor do continente, com

aproximadamente 26 milhões de toneladas de raízes frescas por ano (IBGE, 2010;

FAO, 2013).

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia

Aplicada o mesmo indica que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em

2012 foi de R$ 988,8 bilhões, cerca de 23% do PIB brasileiro no mesmo ano

24

(CEPEA, 2012). Tendo a agricultura uma participação no equivalente a 71% da

riqueza gerada pelo PIB do agronegócio, com um movimento em torno de R$

697,1 bilhões em empreendimentos na área de insumos, no campo, na indústria e

na distribuição. Cunha (2003) relata que o agronegócio da mandioca no Brasil

possui uma receita bruta estimada de 2,5 bilhões de dólares e um milhão de

empregos diretos. Entre os produtos, 33,9% destinam se à alimentação humana;

50,2% à alimentação animal; 5,7% a outros usos e 0,2% à exportação, havendo

uma perda de 10%.

Estima-se que a cultura da mandioca gere em torno de 200 mil

empregos por ano, equiparando a cada três hectares ocupem duas pessoas

durante o ano, sendo a mandioca uma das maiores cadeias de oferta de emprego

no Estado do Pará (CEPEA, 2012).

No Brasil, a região Nordeste detém a maior fatia da produção nacional,

com 32,6%, seguida pelas regiões: Norte, 29,2%; Sul, 22,6%; Sudeste, 10,7% e

Centro-Oeste, 4,9%. Entre os Estados, a Bahia é o terceiro maior produtor

(12,6%), perdendo apenas para o Pará (17,7%) e Paraná (15,8%). No ano de

2011 a produtividade da mandioca cresceu 5% em relação ao mesmo período do

ano anterior, contudo, ao comparar a produtividade de 2012, observa-se um

declínio de aproximadamente 2,5% (IBGE, 2012).

Em relação à farinha de mandioca, a produção nacional chegou a 25,7

milhões de toneladas, em 2012, tendo um incremento de 3,9%, em relação ao ano

de 2010, evidenciando que, mesmo com interferências climáticas, a produção

manteve crescimento (IBGE, 2012).

1.2 O beneficiamento da mandioca e a produção da farinha

A transformação da mandioca em farinha, podendo ser chamada de

“industrialização” das raízes de mandioca, quando em grande escala, diminui

perdas pós-colheita, agrega valor ao produto, proporciona maior retorno financeiro

25

aos produtores e gera emprego e renda (MATSUURA et al., 2003). Estima-se que,

na fase de produção primária e no processamento da farinha e fécula, são

gerados um milhão de empregos diretos, e que a atividade mandioqueira

proporciona receita bruta anual equivalente a 2,5 bilhões de dólares e uma

contribuição tributária de 150 milhões de dólares; a produção que é transformada

em farinha e fécula gera, respectivamente, receitas equivalentes a 600 e 150

milhões de dólares (OLIVEIRA e REBOUÇAS, 2008).

Nesse contexto, existe uma divisão quanto à classificação das unidades

produtoras de farinha, que inclui as farinheiras e as casas de farinha. As

farinheiras são agroindústrias que apresentam uma estrutura de trabalho

profissional, possuindo marcas próprias, e, em sua maioria, se localizam nas

regiões Sul e Sudeste do Brasil. As casas de farinha, por sua vez, mantêm o seu

sistema produtivo baseado em métodos tradicionais, possuem uma estrutura

menos profissionalizada, funcionam geralmente com trabalho familiar e alto índice

de informalidade, sem marca própria, concentrando-se nas regiões Norte e

Nordeste (GRANCO et al., 2005). No Nordeste, a maior parte da produção de

mandioca é encaminhada para a produção de farinha, em casas de farinha

(CARDOSO; SOUZA, 1999).

O número real de casas de farinha em todo o país ainda é

desconhecido, tendo em vista que, muitas vezes, os produtores de farinha podem

possuir uma produção de pequeno porte e, com isso, não registram sua atividade.

No entanto, estima-se que existam cerca de 400 mil casas de farinha, em todo o

Brasil, embora mais concentradas nas regiões Norte e Nordeste, sendo

geralmente unidades familiares, com capacidade de processamento variando de 2

a 3 sacos de 50 Kg/dia, cuja produção é geralmente destinada para auto-

consumo, ou unidades comunitárias, parcialmente mecanizadas, com capacidade

de processamento de até 2.000 ou 3.000 Kg/dia, nas quais grande parte da

produção é comercializada (FOLEGATTI et al., 2005).

26

Em determinadas situações, quando algumas famílias não dispõem de

uma casa de farinha, passam a processar sua mandioca em unidades vizinhas, e

pagam por esse “aluguel” em farinha, utilizando a própria farinha produzida no

local, variando a porcentagem paga de acordo com o tipo de farinha feita e com

aspectos considerados pelos próprios dos donos das casas de farinha (CHUZEL

et al., 1995; POULTER, 1995). Segundo levantamentos, em todo país, muitas

famílias subsistem graças à produção da farinha, uma vez que a economia

doméstica está ligada a cadeia produtiva. Colher a mandioca, esmagar, esfarelar e

torrar é tema de cantigas em várias comunidades (SEBRAE, 2006; OLIVEIRA e

REBOUÇAS).

Vale ressaltar que, nas casas de farinha, dificilmente se consegue a

uniformidade do produto obtido, sobretudo em virtude do processo produtivo

depender muito de variáveis como mão-de-obra, matéria-prima, dentre outras;

além desses aspectos, as diferenças nas características demandadas para as

farinhas, entre o Norte-Nordeste e o Centro-Sul, também favorecem divergências

no processo produtivo (OLIVEIRA E REBOUÇAS, 2008).

Esse processo inclui a recebimento das raízes de mandioca, lavagem e

descascamento, ralação, prensagem, esfarelamento, uma peneiração que pode

ser opcional a depender do tipo de farinha que se deseja, torração e peneiração.

Em linhas gerais, o processamento industrial das raízes de mandioca para a

elaboração de farinha compreende nove etapas (Figura 1): recebimento das

raízes, descascamento, ralação, prensagem, esfarelamento, torração, peneiração,

acondicionamento e armazenagem (Adaptado de SANTANNA & MIRANDA, 2004).

27

FIGURA 1. Fluxograma do processamento de farinha de mandioca. Fonte:

SANTANNA e MIRANDA, 2004 (adaptado).

Em geral, o processo de produção artesanal da farinha dura de dois a

três dias e abarca atividades no âmbito da roça e das casas de farinha (VELTHEM

e KATZ, 2012). Ele inicia-se com a colheita das raízes de mandioca, que são

arrancadas em dia anterior à produção ou no mesmo dia, bem cedo (OLIVEIRA,

2008; VELTHEM e KATZ, 2012). Em grande parte das pequenas propriedades, as

raízes são transportadas para a casa de farinha em “carroças de boi” ou

acondicionadas em cestos de cipó como “caçuás”, “balaios” e “cargueiros”

pendurados em lombos de animais de carga (FREITAS et. al., 2011; VELTHEM,

2007; VELTHEM e KATZ, 2012).

Ao chegar às casas de farinha, as raízes são colocadas no chão

(VELTHEM, 2007, VELTHEM e KATZ, 2012), e, logo em seguida, as pessoas

responsáveis pela produção dão início ao descascamento ou “raspagem”

(OLIVEIRA, 2008; SILVA, 2008), que consiste na retirada da casca externa da

mandioca e pode ser realizada tanto de forma manual ou por meio de sistema

mecânico. No caso, salienta-se que a brevidade de tempo entre colheita e

beneficiamento resulta do conhecimento empírico relativo ao processo de

RECEBIMENTO DAS RAÍZES

LAVAGEM E DESCASCAMENTO

RALAÇÃO

PRENSAGEM

ESFARELAMENTO

TORRAÇÃO

PENEIRAÇÃO

PENEIRAÇÃO

ACONDICIONAMENTO

ARMAZENAMENTO

28

deterioração da mandioca, que principia entre 24 e 48 horas pós-colheita

(SEBRAE, 2006).

Para o processo manual utiliza-se o auxílio de facas (SOARES, 2007),

enquanto para o mecânico utilizam-se máquinas descascadoras, sendo, porém,

necessário realizar a “repinicagem”, ou seja, a retirada do restante da casca

deixado pelo processo mecânico por meio de processo manual. No sistema

mecânico, é possível ainda a utilização de areia lavada, uma vez que facilita o

descascamento (SEBRAE, 2006).

As raízes descascadas são acondicionadas em recipientes chamados

de “gamela” ou “cocho” (VELTHEM, 2007) e posteriormente levadas à etapa de

lavagem, requerendo uma lavagem cuidadosa, de modo a produzir uma farinha de

qualidade e não amarga (SEBRAE, 2006).

Depois de lavadas, as raízes são raladas, moídas ou trituradas por meio

de equipamentos específicos para tal finalidade, que recebem denominações

diferentes em diversas partes do país. Como exemplo, no Acre, descreve-se que

as raízes são “empurradas através da língua do banco, são então cevadas, roídas,

ou seja, são trituradas pelo caititu ou bola” (VELTHEM, 2007). Em casas de

farinha de Feira de Santana, Bahia, este processo é registrado como moagem das

raízes “com o uso da “roda” ou “rodête”, um aparelho em forma cilíndrica com

duas manivelas, uma em cada lado, movimentadas por duas pessoas” (SILVA,

2008). Após a ralação deve-se obter uma massa fina e homogênea (SEBRAE,

2006; SOARES, 2007).

Em continuidade, a massa moída é colocada em sacos de náilon e

formam vários pacotes - “forros de massa” ou “pneu” (VELTHEM, 2007; VELTHEM

e KATZ 2012), que são empilhados em um prensa, geralmente feita de madeira,

realizando-se a compressão do conteúdo, até perder boa parte do líquido presente

na massa (SOARES, 2007; VELTHEM, 2007). Esta etapa, conhecida como

prensagem, apresenta duração que pode variar de uma até doze horas, reduz o

29

volume da massa de 20 a 30% e contribui para evitar a “gomificação” da massa

durante a torração (SEBRAE, 2006).

O produto obtido após a prensagem compreende blocos de massa

compactada que precisam ser esfarelados antes da torração. O esfarelamento é

procedido por meio de raladores ou por peneiras e, ainda nesta etapa, podem ser

retirados pedaços de cascas e fibras que restaram da etapa da ralação (SEBRAE,

2006; SOARES, 2007).

A torração é o processo fundamental para obtenção da farinha, posto

que nele ocorrem a secagem da massa e a caracterização do final do produto.

Algumas características, como a cor, o sabor e o tempo de conservação estão

relacionadas às condições de secagem (SEBRAE, 2006). O forno de torração é

considerado um instrumento indispensável na casa de farinha, e, em alguns locais,

a massa é seca com o auxílio de um rodo de cabo comprido (VELTHEM, 2007),

podendo o processo ser realizado também por meio de forno mecanizado.

Comumente, a torração tem duração de 30 a 40 minutos (SOARES,

2007). Em seguida, a farinha deve ser peneirada e, de acordo com a

granulometria da peneira - mais fina ou mais grossa, é classificada (SEBRAE,

2006; SOARES, 2007), obtendo um produto final uniformizado e sem a presença

de caroços.

Ao final do processamento, a farinha de mandioca obtida deve ser

embalada adequadamente, de modo a preservar a qualidade e as características

do produto (SOARES, 2007). Segundo Velthem (2007), “o ideal é o ensacamento

da farinha no mesmo dia, enquanto ainda quente, para ficar crocante”. Em geral,

as embalagens compreendem sacos plásticos ou de aniagem, que devem ser

fechadas e armazenadas sobre estrados de madeira em locais não úmidos e

ventilados (SOARES, 2007). A farinha produzida tanto pode ser utilizada para

consumo próprio dos produtores quanto para ser comercializada.

30

Entretanto, em uma mesma região produtora de farinha de mandioca,

pode-se encontrar uma heterogeneidade de produtos entre os fabricantes,

(BRASIL, 1995; CEREDA & VILPOUX, 2003). Portanto, se o único processo de

produção da farinha fosse o artesanal, ou a mandioca fosse de uma variedade

específica, poderia se pressupor em algo como queijos e vinhos europeus e suas

regiões demarcadas.

Há muitas respostas a serem buscadas, considerando que a matéria-

prima (raiz mandioca) pode ser oriunda de outras regiões e/ou municípios, e,

provavelmente, o método de fabricação varia muito, incluindo mecanização ou

não, e pressupõe-se que a técnica primitiva do processamento da farinha regional

tenha sido muito diferente da atual, mas ainda deve ser praticada em muitos

municípios (SZCZESNIAK & KAHN, 1971).

Nessa perspectiva, alguns estudos têm evidenciado questões de

higiene e sanidade nas práticas produtivas estabelecidas nas casas de farinha.

Chisté e colaboradores (2006), em estudo conduzido em Alagoas, junto a dez

unidades de produção, reportam a precariedade do processo e condições

higiênico-sanitárias insatisfatórias, observando-se animais e insetos na área de

processamento, além de outras irregularidades que comprometiam a qualidade do

produto e a segurança do alimento.

Oliveira e Rebouças (2008), buscando avaliar a estrutura de casas de

farinha, nos municípios de Vitória da Conquista, Belo Campo e Cândido Sales -

região sudoeste da Bahia, utilizaram uma classificação numérica. De acordo com

os autores, verificou-se deficiência em 100% das unidades de processamento da

farinha de mandioca visitadas, em todos os requisitos observados, sendo indicada

a necessidade de medidas corretivas, com vistas a garantir a inocuidade dos

alimentos e a saúde do consumidor.

Assim, estudos já apontam para a necessidade de treinamento dos

produtores, uma vez que, além de colocarem suas famílias expostas a condições

31

impróprias, eles também comercializam parte da sua produção. Dentre as etapas

de maior preocupação no processamento, em pequenas unidades, encontra-se a

torração, muitas vezes feita com agitação manual, podendo demorar até 3,5 horas,

para uma fornada de 90 Kg de farinha. Em muitas unidades, entretanto, já existem

fornos com alimentação e agitação mecânica (OLIVEIRA E REBOUÇAS, 2008).

1.3 Requisitos de qualidade de alimentos e Boas Práticas de Produção

Muito embora a qualidade dos alimentos possa ser entendida em

diversos níveis (sensorial, nutricional, inocuidade e comercial), a segurança dos

alimentos é uma de suas prioridades máximas. Na atualidade essa abordagem é

integrada, procurando-se ter a rastreabilidade dos alimentos assegurada desde o

campo até à mesa do consumidor (BRASIL, 1995).

Nesse contexto, se evidencia uma sociedade demandando, cada vez

mais, qualidade nos produtos e os órgãos fiscalizadores exigindo essa qualidade,

contudo, poucos são os pequenos produtores que sabem como atingi-la. Em face

desse quadro, as Boas Práticas de Fabricação (BPF) desempenham um papel

fundamental na produção de alimentos com a tão almejada qualidade assegurada.

As Boas Práticas de Fabricação (BPF) são requisitos essenciais

necessários para garantir a qualidade da(s) matéria(s)-prima(s) e do(s) produto(s)

acabado(s), sendo aplicadas em todas as etapas do processo produtivo

(NASCIMENTO NETO, 2006). Elas abrangem um conjunto de medidas que devem

ser adotadas pelas indústrias de alimentos, a fim de garantir a qualidade sanitária

e a conformidade dos produtos com os regulamentos técnicos.

Como marco legal, a Portaria SVS nº 326/1997, do Ministério da Saúde,

e a Portaria nº 368/1997, do Ministério da Agricultura e do Abastecimento,

estabelecem os requisitos gerais necessários para a produção de alimentos de

acordo com as BPF. Somado a isso, a Portaria nº 275/2002, da Agência Nacional

de Vigilância Sanitária (ANVISA), estabelece a documentação, procedimentos

32

operacionais padrões (POP) necessários para padronizar os processos produtivos,

como parte dos requisitos para se obter produtos com qualidade (BRASIL, 1997

(b)); BRASIL, 2002).

Além da legislação mencionada, ressalta-se a necessidade de adoção

do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), que

constitui um sistema de controle de qualidade dinâmico de processos

operacionais, e outros procedimentos correlatos, como os Procedimentos Padrões

de Higiene Operacional (PPHO), que também são ferramentas disponíveis para o

controle da qualidade estabelecidos pela Portaria 1428/93, do Ministério da Saúde

(BRASIL, 1993; APPCC, 2000; BRASIL, 1997(a); BRASIL, 2006).

Esses pré-requisitos identificam os perigos potenciais à segurança do

alimento, desde a obtenção das matérias- primas até o consumo, estabelecendo

em determinadas etapas (Pontos Críticos de Controle), medidas de controle e

monitoramento que garantam, ao final do processo, a obtenção de um alimento

seguro e com qualidade. Os produtos devem ainda atender aos Regulamentos

Técnicos específicos de Aditivos Alimentares e Coadjuvantes de Tecnologia de

Fabricação; Características macroscópicas, microscópicas e microbiológicas;

Contaminantes; Rotulagem de Alimentos Embalados; Rotulagem Nutricional de

Alimentos Embalados e Informação Nutricional Complementar, quando houver

(ALVARENGA, 2006; BRASIL 1997 a 2006).

1.4 A produção da farinha na Bahia e no Recôncavo

Na Bahia, o cultivo da mandioca e a produção de farinha compreendem

uma tradição que se disseminou para os mais diferentes municípios, sem,

contudo, mostrar muitos avanços tecnológicos - observa-se maior produção por

pequenos produtores, com o processamento das raízes sendo realizado em casas

de farinha. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA, 2011), o Estado da Bahia, é o maior consumidor de mandioca no

Brasil, consumindo mais de 24% da produção de farinha de mandioca do país e o

33

4° Estado brasileiro em consumo per capita deste produto, com 25,449

Kg/habitantes/ano. Em função deste quadro, a cadeia da mandioca constitui

atualmente um dos objetos de atenção dos órgãos de governo (IBGE, 2012).

Entre as regiões de destaque de produção da farinha de mandioca, o

Recôncavo da Bahia é uma das principais, com destaque para a produção de

farinha de mandioca de Copioba, no município de Nazaré, conhecido também

como “Nazaré das Farinhas”, um dos municípios pertencentes ao Vale da

Copioba. (CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008).

Entende-se aqui como Recôncavo Baiano, a região que se

desenvolveu com a economia canavieira sob o comando de Salvador. Envolve os

municípios que se distribuem no entorno da Baía de Todos e se estende por um

raio de 100 km a partir da cidade de Salvador, abrangendo uma superfície de

aproximadamente 1.000 km² (MATOS et al., 2012).

A cidade de Nazaré localiza-se no centro sul do Recôncavo baiano, às

margens do Rio Jaguaripe. Ainda no período de colonização, abrigou os primeiros

grandes engenhos de açúcar da Bahia e se especializou na produção de farinha

de mandioca, que é considerada, ainda hoje, uma das melhores do Brasil. Trata-

se de uma farinha muito fina, chamada de Copioba, o que deu à cidade o

codinome “Nazaré das Farinhas” (CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008).

1.5 A Tradição e o Potencial da Farinha de Copioba para Indicação

Geográfica

Embora muitas farinhas finas produzidas no Recôncavo sejam

chamadas de Copioba, o nome refere-se a um lugarejo que fica entre os

municípios de Nazaré, Maragojipe e São Felipe - o Vale do Rio Copioba, região

que, no passado, era grande produtora de farinha. Assim, por ser considerada a

melhor farinha, os demais locais produtores de farinha também passaram a adotar

o nome Copioba para designar a farinha de boa qualidade, fina e torrada,

34

independentemente de onde quer que ela fosse fabricada (CASTELLUCCI

JÚNIOR, 2008).

Além da notoriedade dessa farinha, ressalta-se que o município de

Nazaré recebeu, historicamente, o codinome “Nazaré das Farinhas”, por ter sido,

no século XIX, um grande produtor e distribuidor de farinha. Nesse contexto,

segundo a Lei da Propriedade Industrial – LPI (Lei nº 9.279/96), constitui-se

Indicação Geográfica (IG) a indicação de procedência que se refere ao nome

geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que se tenha

tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de

determinado produto ou de prestação de determinado serviço (Artigo 177). Em

adição, faz-se necessário para estabelecimento da IG, esclarecer o modo

tradicional como o produto é produzido (o saber-fazer) e as condições de

inocuidade do processo de produção (BRASIL, 1996B).

Partindo desse princípio, os produtos certificados como de Indicação

Geográfica são, de certo modo, diferenciados e mais valorizados no mercado,

apresentando uma maior competitividade. Como exemplos, citam-se a cachaça

produzida em regiões de Minas Gerais e os vinhos produzidos no Vale dos

Vinhedos no Rio Grande do Sul, sendo essa ultima a primeira região com

certificação para Indicação de Procedência no Brasil (OKAMOTTO, 2005). De

modo mais recente, tem-se como novos exemplos, a cachaça de Paraty, no Rio de

Janeiro, e o queijo artesanal serrano, também em Minas Gerais (SANTILLI, 2009).

Nessa direção, torna-se oportuno ressaltar que, na Bahia, não existem

produtos com IG pertencentes exclusivamente ao Estado - a Bahia partilha com o

estado de Pernambuco a Indicação Geográfica do Submédio do São Francisco,

relacionada às uvas e mangas de mesa. No Nordeste, além desta certificação,

frisa-se haver apenas a Denominação de Origem dos camarões da Costa Negra,

em Acaraú, no Ceará (OKAMOTTO, 2005).

35

Assim, este trabalho constitui parte de um estudo maior, que se

conforma e se desenvolve em uma proposta multidisciplinar, com vistas ao pedido

de Indicação Geográfica da farinha de Copioba do Vale do Copioba, Bahia, junto

ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) (BRANCO et al.; 2013).

De modo específico, este projeto se debruça sobre o processo de

produção da farinha de Copioba, buscando uma caracterização dos seus atores

sociais, da segurança de alimentos e do trabalho, gerando subsídios à melhor

organização e estruturação da cadeia produtiva, como contribuição ao processo

de Indicação Geográfica.

36

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42

CAPÍTULO 2: CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO DE

PRODUTORES DE FARINHA DE MANDIOCA (Manihot esculenta

Crantz): UM ESTUDO NO VALE DO COPIOBA-BA

LIVING CONDITIONS AND WORK BETWEEN PRODUCERS

CASSAVA FLOUR (MANIHOT ESCULENTA CRANTZ): A STUDY IN

THE VALLEY OF COPIOBA-BA

Ícaro Ribeiro Cazumbá da Silva1, Nina Paloma Neves Calmon de Siqueira

Branco2, Maria Oliveira Lima Nascimento3, Áquila Samara Silva Quadros Matiello4,

Denise Nunes Viola5, Ryzia de Cassia Vieira Cardoso6, José Ângelo Wenceslau

Góes6, Janice Izabel Druzian7.

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos (PGALI),

Faculdade de Farmárcia,Universidade Federal da Bahia (UFBA). 2 Bolsista Iniciação Tecnologica (IT3) – Fundação de Amparo a Pesquisa do

Estado da Bahia (FAPESB). 3 Bolsista Iniciação Cientifica – PIBIC - Escola de Nutrição, UFBA. 4 Mestrando do Programa de Pós-Graduação e Alimentos, Nutrição e Saúde

(PGNUT), Escola de Nutrição - UFBA 5 Professor do Departamento de Estatística – Instituto de Matemática – PIBIC –

UFBA. 6 Professor do Departamento de Ciência de Alimentos – Escola de Nutrição –

UFBA. 7 Professor do Departamento de Bromatologia – Faculdade de Farmácia – UFBA.

43

RESUMO

No Nordeste brasileiro, a maior parte da farinha de mandioca é produzida de forma

artesanal, por agricultores familiares, em “casas de farinha”. Considerando a

tradição dessa produção no Recôncavo baiano, o potencial da farinha de Copioba

para um pedido de Indicação Geográfica (IG) e a insuficiência de estudos sobre o

tema, objetivou-se caracterizar os atores sociais envolvidos no processo produtivo

da farinha de mandioca do Vale do Copioba-BA, na perspectiva social, econômica

e do trabalho. Realizou-se estudo descritivo, envolvendo 72 casas de farinha e

239 produtores, com coleta de dados por meio de questionários. Observou-se

participação majoritária de homens (n=63,9%), com média de idade de 40,91 anos

- faixa de 13 a 89 anos, escolaridade até ensino fundamental (82,3%) e renda

familiar variando de um a três salários mínimos (58,4%). Em geral, os

entrevistados tinham residências próprias (96,5%) e dispunham de energia elétrica

(97,1%), mas não contavam com serviços de abastecimento público de água,

saneamento e coleta de lixo. A média de tempo na atividade foi de 41,8 anos e a

média de jornada diária de trabalho nas casas de farinha registrou 9,31 horas, com

cinco dias de trabalho/semana, observando-se grande envolvimento do trabalho

familiar, incluindo crianças (77,3%). A produção de farinha foi indicada tanto como

fonte principal (89,9%) quanto para complementação da renda familiar (10,1%).

Verificou-se fraca organização e mobilização social dos trabalhadores, com índice

48,7% de participação em associações, cooperativas ou sindicato, o que constitui

um limitante ao pedido de IG. O estudo evidencia a importância social e

econômica da cadeia produtiva da farinha, no Vale do Copioba, e reforça a

necessidade de programas para fortalecer essa cadeia, sobretudo a sua

organização social, visando contribuir para o pedido de IG e o desenvolvimento

local.

Palavras-chave: economia rural; agricultura familiar; farinha de mandioca;

Indicação Geográfica; desenvolvimento social.

44

ABSTRACT

In Northeast of Brazil, most of the cassava flour is produced by hand and by

farmers, in flour mills. Considering the tradition of this production at the Recôncavo

Baiano, the potential of Copioba flour to a request for Geographical Indication (GI)

and the insufficient of studies about this topic, this study aimed to characterize the

social actors involved in the production process of cassava flour in the Copioba

Valley – BA, in the social, economic and labor perspective. A descriptive study was

conducted involving 72 flour mills and 239 producers, collecting data through

questionnaires. Observed more men (63.9%), with mean age of 40.91 years -

range 13-89 years, education up to elementary school (82.3%) and family income

ranging from one to three minimum wage (58.4%). In general, respondents had

their own homes (96.5%) and were equipped with electricity (97.1%), but did not

have a public water supply, sanitation and garbage collection services. The

average length of service was 41.8 years and the average workday in flour mills

recorded 9.31 hours, with five working days/week, registering large involvement of

family work, including children (77,3%). The production of flour has been

nominated both as main source (89.9%) and to complement the family income

(10.1%). There was weak social organization of workers, with 48.7% rate of

participation in associations, cooperatives or syndicate, which is a limiting factor to

the application of IG. The study shows the social and economic importance of the

productive chain of the flour in the Copioba Valley, and reinforces the need for

programs to strengthen this chain, especially this social organization, to contribute

to the application of IG and local development.

Keywords: rural economy; family farming; cassava flour; Geographical Indication;

social development.

45

1 INTRODUÇÃO

A mandioca (Manihot esculenta Crantz) tem origem basicamente

ameríndia e brasileira, tendo se difundido por toda a América (CASCUDO, 2004).

Graças aos colonizadores portugueses e espanhóis, a mandioca foi levada ainda

para toda a África e a Ásia, sendo considerada, por alguns autores, como “a mais

brasileira de todas as plantas econômicas, dada a sua ligação com o

desenvolvimento histórico, social e econômico do povo” (CONCEIÇÃO, 1983;

CASCUDO, 2004, p. 92).

No âmbito mundial, a mandioca é uma das principais explorações

agrícolas, com produção acima de 160 milhões de toneladas/ano. Entre as

tuberosas, perde apenas para a batata e encontra-se entre os seis principais

produtos alimentares - trigo, arroz, milho, batata, cevada e mandioca (FAO, 2011).

No Brasil, a produção da raiz corresponde a 10,7% da produção mundial, o que

classifica o país como o segundo maior produtor de mandioca do mundo e

assegura o patamar de maior produtor de mandioca do continente americano, com

aproximadamente 25,8 milhões de toneladas de raízes frescas por ano (FAO,

2011; IBGE, 2012; CONAB, 2012).

Em nível nacional, a região Nordeste detém a maior fatia da produção,

com 32,6%, seguida pelas seguintes regiões: Norte, 29,2%; Sul, 22,6%; Sudeste,

10,7% e Centro-Oeste, 4,9%. Entre os Estados, a Bahia é o terceiro com maior

produção (12,9%), atrás apenas do Pará (17,7%) e do Paraná (15,8%) (IBGE,

2012). No país, a maior parte das raízes é transformada em farinha de mesa

comum, contudo, ainda pode-se obter a farinha d´água, a goma de tapioca, o

polvilho doce e o azedo, a mandioca congelada, a minimamente processada e o

chips (CARDOSO et al., 2001).

Nesse contexto, a farinha de mandioca representa a base da

alimentação para grande parte da população, conformando uma identidade

cultural, além de constituir importante fonte de trabalho e renda, sobretudo nas

46

regiões Norte e Nordeste (CHISTÉ et al., 2010). Nessas regiões, a maior parte da

farinha é produzida de forma artesanal, por agricultores familiares, em locais

denominados de “casas de farinha” (VAN VELTHEM, 2012; SOARES, 2007).

Na Bahia, sobretudo no Recôncavo, mantém-se a tradição da produção

e comercialização da farinha de mandioca, com destaque para a farinha

denominada “Copioba” (CARDOSO, 2001; ARAUJO, 2007), que é produzida na

região denominada Vale do Copioba. Esta farinha, conhecida pela sua

granulometria fina e textura crocante, ganhou notoriedade desde os anos 30,

quando jornais da época incentivavam o consumo da mesma pela sua qualidade

(A TARDE, 1930; CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008).

No Recôncavo, a arte de fazer farinha é transmitida de pai para filho e,

mesmo com a chegada da energia elétrica e do incremento de tecnologias no seu

processamento, é possível encontrar casas de farinha com funcionamento bem

semelhante ao que era usado há décadas atrás, pelos moradores locais

(CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008).

Nesse cenário, considerando a tradição do saber-fazer, a notoriedade

da farinha de mandioca do tipo Copioba, do Vale da Copioba, Bahia, bem como o

potencial deste produto para um pedido de Indicação Geográfica, este estudo

objetivou caracterizar os atores sociais envolvidos no processo produtivo, na

perspectiva socioeconômica e quanto à organização social do trabalho.

47

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Realizou-se estudo exploratório, de natureza quantitativa, junto à

comunidade de produtores rurais de farinha de mandioca do tipo Copioba, do Vale

do Copioba, Bahia, localizado em área de abrangência dos municípios de Nazaré,

São Felipe e Maragojipe (Figura 1).

O estudo foi conduzido no período de dezembro de 2012 a outubro de

2013, como parte do projeto “Qualidade, identidade e notoriedade da farinha de

mandioca de Nazaré das Farinhas-BA: uma contribuição à Indicação Geográfica”1,

que conta com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade

Climério de Oliveira- Universidade Federal da Bahia (Parecer consubstanciado, n°

97.402/2012)(Anexo B).

FIGURA 1. Mapa do Vale do Copioba, com a identificação dos três municípios –

Nazaré, Maragojipe e São Felipe e suas casas de farinha. (IBGE, 2005, adaptado).

Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013.

1 Projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) – Termo de

Outorga TSC0027/2011

48

Inicialmente, realizou-se contato com associações, sindicatos e órgãos

de atuação na área rural da região, no intuito de auxiliar em um primeiro contato

com os produtores locais. Após esse contato, foi feito o levantamento de todas as

casas de farinha do município.

A partir da identificação dos produtores de farinha de mandioca,

procedeu-se o contato com os responsáveis pelas unidades de produção. Nesse

sentido, tendo em vista que os órgãos locais não possuíam um cadastro dos

produtores e visando ampliar o trabalho na região, adotou-se a metodologia “bola

de neve” (BAILEY, 1982), na qual foi solicitado a pessoas-chave e líderes das

comunidades, que informassem a localização de outros produtores de farinha de

mandioca, tipo Copioba, solicitando destes a mesma indicação, após

conversa/entrevista e, assim, sucessivamente. Deste modo, a amostra da

pesquisa foi formada pelo conjunto de casas de farinha que estavam em

funcionamento, durante a pesquisa de campo.

Para levantamento de dados, utilizou-se um questionário semi-

estruturado (Apêndice A), que se organiza nos seguintes blocos: informações

gerais sobre a casa de farinha; participação em organização (cooperativa,

associação, sindicato); produção; trabalho; moradia; saúde e cidadania;

informações pessoais; composição da família e agregados residentes; composição

da família de origem. Para fins deste estudo, especificamente, foram utilizados os

blocos relativos a: Informações gerais sobre a casa de farinha; os dados pessoais

dos produtores; trabalho; moradia e cidadania.

No momento da aplicação do formulário, foram abordadas todas as

pessoas que estavam trabalhando na casa de farinha, desde que aceitassem

participar da pesquisa, cuja concordância foi registrada em termo de

consentimento livre e esclarecido - TCLE (Apêndice B). No caso de trabalhadores

menores, a autorização para participação no estudo foi dada pelos responsáveis.

49

No total, o estudo envolveu 72 casas de farinha e contou com a

participação de 239 produtores de farinha, incluindo responsáveis e trabalhadores

da cadeia produtiva da farinha de mandioca, alcançando uma média de 3,31

entrevistados por casa de farinha, assim distribuídos: 109 em Nazaré, 103 em São

Felipe e 27 em Maragojipe. Ao longo do trabalho de campo e a abordagem dos

produtores, não houve recusas.

O preenchimento dos questionários foi realizado por entrevistadores

treinados e supervisionados, que registraram as informações utilizando os

seguintes procedimentos: observação direta no local, no caso de questões de

inspeção imediata da casa de farinha (por exemplo, tipos e características dos

equipamentos, utensílios) e entrevista, para as questões de conhecimento

específico (por exemplo, dados pessoais e de opinião).

Os dados foram tabulados no software Epidata, versão 3.1, e

processados com uso do Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, v.

13.0, contemplando a análise descritiva, teste de associações (Chi-quadrado) e

testes de média (Kruskall Wallis; teste de mediana) para as variáveis de interesse,

com nível de probabilidade de 0,05.

50

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos para o conjunto de entrevistados encontram-se

organizados em tópicos, conforme se descreve a seguir.

Caracterização sócio-demográfica dos atores sociais

Na Tabela 1, são apresentados os resultados sociodemográficos dos

entrevistados.

Como se nota, houve predomínio de pessoas do sexo masculino,

quadro que se assemelha ao reportado por COSTA (2010), que descreve uma

“masculinização” do meio rural, haja vista a tendência de muitas mulheres de se

engajarem no processo êxodo rural mais fortemente. Ao mesmo tempo, verificou-

se proporção considerável de participantes do sexo feminino (36,1%), uma

característica do trabalho nas casas de farinha que se vincula ao processo de

raspagem, em grande parte, realizado por mulheres, donas de casa, que procuram

complementar sua renda e reforçar a mão de obra familiar, tendo como moeda de

troca a própria farinha (FREITAS, 2011).

Tabela 1. Características sócio demográficas dos produtores (n=239) de Farinha

de Mandioca de Copioba, no Vale da Copioba, Bahia, 2012/2013.

Característica Distribuição

Sexo (%)

Masculino 63,9

Feminino 36,1

Idade (ano)

Média (amplitude) 40,91 (13-89)

Escolaridade (%)

Alfabetizado 23,9

Ensino fundamental 58,4

Ensino médio 16,4

Ensino Superior 1,3

51

Característica Distribuição

Estado Civil (%)

Solteiro 17,2

União Estável 20,2

Casado 54,6

Divorciado 1,7

Viúvo 6,3

Filhos (%)

Sim 87,3

Não 12,7

Dependentes (%)

Sim 91,2

Não 8,8

Chefe de Família (%)

Sim 57,1

Não 42,9

Renda Geral (%)

< 1 Salário mínimo

≥1 a 3 salários mínimos

≥3 a 5 salários mínimos

≥5 a 10 salários mínimos

≥10 salários mínimos

26,9

53,4

15,5

2,1

2,1

Em relação à idade, constatou-se ampla faixa etária dos entrevistados,

haja vista os limites mínimo (13 anos) e máximo (89 anos), o que se aproxima de

estudos apresentados por Menezes (2000) e Weisheimer (2004), em pesquisas

realizadas no semiárido nordestino, com pequenos produtores rurais. No caso das

casas de farinha do Vale do Copioba, essa ampla faixa etária permite refletir três

situações possíveis: primeiro, que mesmo trabalhadores já aposentados ainda se

mantinham ativos (n=25), no intuito de complementar a renda; segundo, que

Continuação Tabela 1

52

alguns produtores poderiam não conhecer efetivamente seus direitos ou ter

acesso difícil à aposentadoria, uma vez que foram identificados trabalhadores com

idade superior a 60 anos (n=7); e que a rotina das casas de farinha abrigava

também o trabalho infantil (77,3%), de forma natural e não relatada pela

população, conforme também foi descrito por Santos (2013).

Souza e Pontilli (2009) discutem que a realidade do trabalho infantil na

zona rural se deve, muitas vezes, ao estado de vulnerabilidade econômica dos

genitores, forçando a inserção do trabalho infantil no campo. De acordo com os

autores, a presença desse quadro no Nordeste remonta décadas, o que configura

a prática da utilização da mão de obra infantil como uma atividade histórica,

conforme descrito por Heredina (1979) e Campo e Francischini (2003). Este é um

aspecto considerado negativo à Indicação Geográfica, posto ser condição

imprescindível ao processo não haver trabalho infantil (2001).

Com relação à escolaridade, observou-se baixa formação educacional

para grande parte dos entrevistados, quadro que, segundo Castro (2009),

expressa uma realidade muito presente no contexto das populações rurais de

várias regiões do país, sobretudo das regiões Norte e Nordeste. Esta

característica reflete certo nível de abandono, ao qual as populações rurais estão

sujeitas, uma vez que, devido à distância, as instituições de ensino não chegam

até as populações rurais e, nessa condição, ou se estuda pouco ou até não se

estuda, pelos empecilhos encontrados no acesso à educação (FREITAS, 2011).

No que concerne ao estado civil, a maior parte dos produtores informou

ser casado(a) (54,6%), seguido da opção união estável (20,2%), o que evidencia a

manutenção de uma estrutura familiar na região, ainda que estejam presentes os

arranjos de união não formal. Nesse contexto, reforça-se a participação da família

nessa cadeia produtiva, realidade que concorda com achados de Velthen (2007),

em estudo sobre a cadeia produtiva da farinha, no Acre.

53

Em relação ao número de filhos por mulher - média de 4,7, que é

considerado alto, possivelmente reflete fragilidades nos programas locais de

planejamento familiar. Nessa perspectiva, estudos (MARTELETO, 2001) têm

também evidenciado uma relação inversa entre escolaridade e o número de filho,

como é o caso dos produtores do Vale do Copioba-BA. Os resultados evidenciam

ainda um percentual elevado de entrevistados com dependentes (91,2%), o que

pode sugerir a falta de oportunidades de trabalho para muitos integrantes das

famílias, sobretudo os filhos, mantendo um quadro de dependência dos pais, por

períodos de tempo maiores.

Quanto à renda, a maior parte dos produtores de farinha de mandioca

tipo Copioba se enquadrou em uma condição socioeconômica limitada, ainda que

alguns estudos recomendem um faturamento em salários dentro da faixa de um a

três salários mínimos (AQUINO e SANTOS, 2002). Este contraponto, entretanto, é

explicado em razão de outros estudos identificarem populações rurais com renda

inferior a um salário mínimo (VELTHEM, 2007; SILVA, 2008). Na realidade das

famílias do Vale Copioba, o fato do maior ganho constituiu reflexo do período de

seca no Nordeste, com aumento considerável do preço da farinha de mandioca,

nos anos de 2012 e 2013, elevando assim a renda das comunidades em estudo

(BRANCO et al., 2012).

A chefia de família foi declarada pela maioria dos entrevistados, sendo

que, destes, 59,73% eram do sexo masculino. Conquanto este achado, observou-

se participação expressiva de mulheres que se declaram chefes de família

(40,27%), o que faz refletir também sobre a participação das mulheres no trabalho

e no auxílio à manutenção das suas famílias.

Na avaliação da distribuição da chefia de família por gênero, em relação

aos municípios estudados, verificaram-se valores mais próximos e equilibrados

nos municípios de Nazaré e Maragojipe e valores mais distintos em São Felipe

(Figura 2), confirmando-se não haver diferença significativa entre sexo e chefia de

54

família nos municípios de Nazaré e Maragojipe (p=0,679), enquanto houve

diferença (p=0,025), em São Felipe.

Neste estudo, ainda, verificou-se uma tendência para os produtores do

sexo masculino com o ensino fundamental completo ou incompleto em assumir a

chefia de família (76,3%), fato que não ocorria às mulheres - neste caso, a menor

escolaridade, também se associou à assunção de chefes de família (p=0,015).

Para as mulheres, o quadro foi justamente o contrário: quanto maior a

escolaridade, maior a tendência em assumir a chefia das famílias (p=0,017).

FIGURA 2: Distribuição (%) dos produtores do Vale da Copioba-BA, Brasil quanto

à chefia de família, por gênero e localidade. Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013.

Para COSTA (2010), esta situação decorre da baixa oferta de emprego

para indivíduos com baixa escolaridade, nas áreas urbanas, o que direciona ou

mesmo mantém grande parte no meio rural, onde o homem, pela sua condição

corpórea, se torna mais produtivo e, com isso, assume as despesas da casa, bem

como a chefia da família, conformando o processo de “masculinização” do meio

rural. O autor considera, ainda, que as mulheres apresentam tendência maior para

buscar os estudos e a qualificação profissional e, deste modo, abandonam o meio

rural ou mesmo assumem a chefia da família, por serem melhores remuneradas,

em função da sua melhor capacitação profissional.

55

Condições de vida no campo

Entre os entrevistados, a média de tempo de moradia na localidade foi

de 19,18 anos, faixa de 0 a 72, demostrando a permanência pessoas residentes

da zona rural, evitando o êxodo. Segundo Martine (1990) e Guimarães, (2013),

contudo, este fenômeno acontece, sobretudo, com as pessoas mais velhas - os

mais jovens estão mais frequentemente envolvidos no processo de êxodo rural,

sendo a mudança para o meio urbano uma das suas principais perspectivas de

vida.

Os resultados relativos às condições de moradia dos agricultores são

apresentados na Tabela 2. Em geral, evidenciou-se que a maior parte possuía

residência própria, contudo, durante as viagens a campo, observaram-se

habitações em condições precárias, sendo algumas construídas em taipa,

cobertas com telhas de amianto e de barro, o que sinaliza a pobreza nessas

localidades.

Tabela 2 - Características das residências dos produtores de farinha de mandioca

do Vale do Copioba - Bahia, 2012-2013.

Características das residências Distribuição

Condição de uso do imóvel (%)

Próprio 96,5

Cedido por empregador 1,0

Cedido por outra pessoa 2,5

Iluminação elétrica (%)

Sim 99,1

Não 0,9

Abastecimento de água (%)

56

Rede pública 0

Poço ou nascente na propriedade 7,3

Poço ou nascente fora da propriedade 56,9

Carro pipa 0,2

Rios, açudes, lagos 27,8

Água de chuva 7,8

Realização de tratamento de água (%)

Sim 39,7

Não 60,3

Características das residências Distribuição

Disponibilidade de banheiro (%)

Sim 87,3

Não 12,7

Destino dos dejetos do banheiro (%)

Fossa 86,8

Vala 6,3

Rede pública 0,2

Céu aberto 0,0

Rio, Lago 6,7

Destino do lixo produzido no domicilio (%)

Coletado

Queimado

Enterrado

Terreno baldio

Rio, lagoa ou mar

0,0

90,2

2,7

5,8

1,3

Continuação 2

57

Em média, registraram-se casas com 5,98 cômodos, variação de 4 a 9

cômodos, e com 2,58 quartos e 1,06 banheiros por casa, revelando domicílios de

tamanho mediano, em relação ao numero de cômodos, porém pequenos

considerando o quantitativo de banheiros e quartos e o número médio de filhos.

No Acre, em 2003, quando do desenvolvimento de projeto de habitação

para produtores rurais, objetivando moradias baratas e com condições sanitárias e

ambientais satisfatórias ao ser humano, pelo Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (INCRA, 2003), foram previstas habitações compostas por sala,

cozinha, banheiro e três quartos, o que perfaz seis cômodos, e conforma melhor

distribuição de espaços para as famílias; nesse projeto, contudo, a área construída

era limitada a 48 m2.

A maioria das residências dispunha de serviço de iluminação elétrica,

entretanto, um percentual considerável (31,4%) dos produtores não possuía

ligação elétrica formal, tendo como fonte de eletricidade as ligações informais,

conhecidas como “gato”. Ressalta-se, todavia, que 95,7% dos produtores que

usavam ligações informais comprovaram pedido formal de ligação, havendo uma

espera da companhia de energia elétrica realizar o procedimento.

Duarte et al. (2013), ao conduzir estudo com produtores de cana, na

região do cerrado de Goiás, relatam que um dos maiores entraves para a

produção agrícola de pequenos e médios produtores são as necessidades de

bens e serviços comuns, uma vez que, diante dos grandes aglomerados urbanos,

os pequenos produtores são sempre colocados de lado.

No concernente ao abastecimento de água, os dados apontam que

mais da metade dos entrevistados utilizavam as nascentes de propriedades

vizinhas como fontes de água. Conforme observações em campo, era prática

entre os produtores se organizarem para canalizar a água de poço e/ou nascente

da propriedade de um deles. Nenhum dos participantes recebia água do sistema

58

público e apenas 39,7% faziam algum tipo de tratamento com a água,

destacadamente o uso do filtro de barro (95,7%).

Segundo Costa et al. (2000) e Melo (2006) um dos requisitos básicos

para o desenvolvimento das regiões rurais associa-se ao atendimento de

necessidades básicas, como energia elétrica e água potável. Deste modo, a

identificação de recursos escassos nesses dois ramos torna mais difícil o êxito da

produção rural, demandando a busca por fontes alternativas que, muitas vezes,

são mais onerosas, em termos monetários, do que as fontes convencionais.

Entre as residências, apesar da elevada disponibilidade de banheiros

com vaso sanitário (87,3%), proporção mínima (0,20%) destinava seus dejetos na

rede pública de esgoto, constatando-se grande uso de fossas, rios, lagos e valas,

quadro que contribui diretamente para a poluição ambiental, no entorno das

comunidades.

Segundo Bezerra (2007), com a falta de saneamento básico ou com um

saneamento básico insuficiente, as comunidades rurais e as cidades de médio e

grande porte direcionam os dejetos produzidos em suas residências para rios,

lagos, mar e solo, transformando-os em ambientes contaminados, pelo descarte

de desejos não tratados.

Entre as formas de destinação do lixo gerado nas comunidades do Vale

do Copioba, prevaleceu a queima e, em menor proporção, a deposição em

terrenos baldios, trazendo à tona, para quase todos os consultados, questões

complexas de agressão ambiental. Nenhuma das comunidades visitadas possuía

coleta pública do lixo, o que agravava ainda mais a situação.

Práticas como essas compreendem grande preocupação ambiental,

uma vez que, tempos atrás, se considerava que a poluição de ambientes naturais

se iniciava principalmente nos ambientes urbanos – a direção urbano-rural. Pela

descrição apresentada para o Vale do Copioba, contudo, fica evidente que a

59

poluição apresenta movimento bidirecional, causando preocupações tanto no meio

rural quanto no urbano.

Bezerra (2007), ao estudar as causas de contaminação do Rio Mutum,

em Santo Antônio de Jesus-BA, observou que as principais compreendiam os

dejetos de esgotos lançados diretamente nos mananciais, bem como o descarte

de lixo e móveis em desuso.

A disponibilidade de bens e serviços, entre os entrevistados no Vale do

Copioba, encontra-se ilustrada na Figura 3, destacando-se a televisão, a geladeira

e o rádio como os bens mais citados, aparecendo em seguida os celulares.

FIGURA 3: Distribuição (%) dos entrevistados quanto à disponibilidade de bens e

serviços nos domicílios. Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013.

Apesar de todo o avanço tecnológico presente no mundo moderno e da

maior aquisição de bens entre os trabalhadores da farinha, a velocidade com que

essa tecnologia se dissemina entre as populações é desigual. Assim, ainda que

muitos tivessem aparelhos domésticos e celulares, menos de 1% relataram

acesso à internet. Em adição, fica patente o descompasso entre a aquisição de

bens e a manutenção de baixos níveis de escolaridade na zona rural – um

60

paradoxo que faz perpetuar menores índices de desenvolvimento social e a

pobreza no campo (ABRAMOVAY, 2001).

Confirmando um cenário de mudança na renda e como também uma

facilidade para o deslocamento no campo, observa-se um número expressivo de

participantes proprietários de motocicletas. Este avanço, entretanto, não deve

servir para mascarar as dificuldades de transporte ainda presentes nas

comunidades rurais, que em muito prejudicam tanto a mobilidade das pessoas

quanto a circulação de produtos e outros materiais, favorecendo a dependência.

Freire (1991), ainda nos anos 90, ao elaborar um panorama das

principais barreiras na comunicação da informação tecnológica, constatou que

aspectos correlacionados ao novo mundo ainda eram novos em comunidades

rurais e registrou a resistência dos produtores às novas tecnologias. Pela

realidade retratada no Vale do Copioba, então, fica evidente um franco processo

de mudança, mas que ainda requer muitos investimentos em desenvolvimento

social, para que esses trabalhadores possam viver de forma mais digna e ser

valorizados pela e vida e trabalho no campo.

Características do Trabalho

Resultados quanto ao trabalho são sumarizados na Tabela 3. Pela

descrição, avalia-se que o trabalho nas casas de farinha era atividade tradicional,

uma vez que o tempo médio de trabalho nas casas de farinha registrou mais de 40

anos e, ainda, inseria pessoas novas e mais velhas - tempo mínimo 3 anos e

máximo de 62 anos, confirmando uma atividade que envolve várias gerações.

Esse cenário de tradição também foi confirmado pelas médias de idade

das casas de farinha investigadas nos municípios - em Nazaré 43,3 anos, variando

de 1 a 203 anos; em Maragojipe, 21,96 anos, variando de 1 a 53 anos; e, em São

Felipe, 24,96 anos, variando de 2 a 105 anos. Nesse contexto, registra-se

diferença significativa para o tempo mediano de criação das casas de farinha

61

(p=0,002), entre Nazaré e os demais municípios, salientando-se que a produção

histórica da farinha de Copioba em Nazaré acha-se descrita em jornal de grande

circulação, desde a década de 30 (ATARDE, 1930).

Estes achados concordam com estudos conduzidos por Barickam

(2003), Santos (2003) e Leandro (2007), que registram a fama da farinha de

Copioba primariamente no município de Nazaré, por ser o pioneiro na produção de

uma farinha fina, bem torrada e com coloração levemente escura, de grande

preferência por todos os moradores da região.

Tabela 3. Características do trabalho dos produtores de farinha de mandioca no

Vale da Copioba-BA, Brasil, 2012-2013.

Característica Distribuição

Tempo no trabalho com farinha (anos)

Média

Jornada de trabalho (horas)

Média

Trabalho noturno (%)

41,8 (3-62)

9,31 (2-15)

Sim 2,7

Não 97,3

Trabalho sábado, domingo e feriados (%)

Sim

Não

27,1

72,9

Renda com a produção de farinha (%)

< 1 Salário Mínimo 14,2

1 a 3 salários mínimos 65,6

3 a 5 salários mínimos

5 a 10 salários mínimos

>10 salários mínimos

15,5

2,1

2,1

A média de jornada diária de trabalho foi elevada (9,31h/dia), fato que,

associado ao longo tempo na atividade, podem constituir fatores predisponentes

62

ao desenvolvimento de doenças relacionadas ao trabalho, conforme alerta

Almeida (1995).

Minayo (1997) e Corsi (2004), ao avaliarem o trabalho de pequenos

produtores rurais, em todo Brasil, puderam observar jornadas de trabalho cada vez

mais altas, em ambientes extremamente desfavoráveis à saúde. Essa condição,

por sua vez, se associava à desvalorização dos produtos primários produzidos no

campo e, desse modo, havia a necessidade cada vez maior de produção,

deixando como saldo para os produtores diversos problemas de saúde.

Em compensação à grande jornada de trabalho dos entrevistados do

Vale do Copioba, verifica-se, como aspecto positivo, o fato do não trabalho nas

casas e farinha aos sábados, domingos e feriados - os participantes trabalhavam,

em média, cinco dias/ semana nas casas de farinha e, no sexto dia (sábado),

vendiam a produção nas feiras locais. Nesse cenário, considera-se também a

prática, nos municípios envolvidos, do sábado ser o dia destinado à feira, o que

requer o deslocamento para a cidade, tanto para vender alguns produtos das

pequenas propriedades rurais, quanto para adquirir gêneros alimentícios

(ALMEIDA, 1995; MOREIRA, 2005).

Quanto ao turno de trabalho, predominou o diurno, ainda que se

tenham relatos de que as atividades começavam muito cedo, ainda antes do raiar

do sol. Segundo os registros, o trabalho noturno era feito apenas por

trabalhadores que necessitavam prensar a massa, no intuito de obter uma massa

mais seca, no dia seguinte, de modo a favorecer a torração. Nesse contexto,

salienta-se que novas tecnologias para produção da farinha, a partir da chegada

da energia elétrica no campo, permitiram avanços, como os usos de raladores e

do sistema mecanizado de torração, que têm contribuído para otimizar o trabalho

nas casas de farinha.

O processo de mecanização no campo, entretanto, ainda que signifique

melhorias nas condições de trabalho, por permitir que determinados trabalhos

63

bastante desgastantes sejam feitos por máquinas, devem ser observados com

cautela. Em determinados setores do campo, como exemplo no setor produtivo de

cana de açúcar, essa mecanização gerou desemprego para diversos

trabalhadores, pois, o trabalho antes feito por vários homens, acabou substituído

por uma única máquina, com redução de mais de 35% no número de

trabalhadores, após a mecanização (ANDRADE-JÚNIOR, 2010).

No caso das casas de farinha, especificamente, importa considerar que

a mecanização não apenas interfere no quantitativo da mão-de-obra envolvida,

mas também que não dever significar rupturas em um saber-fazer secular, que

tem contribuído para a notoriedade da farinha de Copioba.

No concernente à mecanização agrícola, as casas de farinha de São

Felipe se apresentaram como as de instalações mais modernas, com descascador

de mandioca (61,4%), motor para a moagem (45,6%) e forno elétrico (44,8%),

enquanto que Nazaré foi o município que manteve maior tradição na produção,

verificando-se a presença de forno de barro, ainda em funcionamento, em 65,3%

das casas de farinha - em São Felipe e Maragojipe, este índice alcançou 18,6% e

16,1%, respectivamente.

Em termos comparativos, entre os municípios, observou-se que a

mecanização da produção da farinha não influenciou a jornada de trabalho, mas,

em termos de produtividade, São Felipe apresentou o maior lucro máximo

(R$15.000,00/por casa de farinha/mês), seguido de Maragojipe (R$1.200,00/por

casa de farinha/mês) e Nazaré (R$8.000,00/por casa de farinha/mês). Nesse

estudo, entretanto, não foi investigado o impacto da mecanização na redução da

mão de obra.

Os relatos obtidos para a renda oriunda da produção de farinha foram

bem semelhantes àqueles informados para a renda geral da família. Este quadro

se deve ao fato de 89,9% dos produtores atribuírem sua renda principal à

produção de farinha, o que evidencia a contribuição econômica e social da

64

atividade. Outrossim, a importância da produção da farinha como principal fonte de

renda é confirmada pelo levantamento de renda independentemente da produção

de farinha, para a qual identificou-se renda inferior a um salário mínimo, para

97,2% dos entrevistados.

Fontes (1999) e Cardoso et al. (2001a), ao estudarem a produção de

farinha de mandioca em Belém-PA, ressaltaram a importância social e econômica

da cadeia produtiva da mandioca, posto que abarcava um grande contingente da

população rural, além da contribuição cultural da atividade, em muitos municípios

paraenses. Na Bahia, Castelluci Júnior (2008) evidencia que a cultura da produção

de farinha, perpassa por décadas e se mantém presente nos dias atuais, sendo

um dos principais pilares de sustentação de várias famílias.

Com relação à atividade profissional que representava a maior

contribuição para o sustento das famílias, no Vale do Copioba, as principais

respostas encontram-se sumariadas na Figura 4, sobressaindo à atividade

agrícola e a produção de farinha. Esse resultado reforça que a produção de

farinha seja, mais uma vez, a grande responsável pela manutenção de muitas

famílias, haja vista a sua indicação e que, a menção da agricultura, em grande

parte, envolvia também o cultivo da mandioca para a produção de farinha (87,3%),

sendo o excedente vendido in natura, no comércio local.

65

FIGURA 4: Distribuição (%) dos entrevistados quanto à indicação das atividades

profissionais que representam maior contribuição ao sustento das famílias. Vale

da Copioba-BA, 2012-2013.

A contribuição econômica da agricultura familiar tem sido considerada

em diversos estudos. Porto e Siqueira (1994) relatam em pesquisa com pequenos

produtores rurais do Brasil, que esses trabalhadores tendem a ter a agricultura

como a única fonte de renda - tanto a agricultura como os seus subprodutos,

gerando um cenário de subsistência rural, muito comum em todo país. Guilhoto

(2006), ao estudar as culturas de subsistência para agricultores familiares, no país,

constatou que, de toda a mandioca produzida, 82% advinham da agricultura

familiar, representando o mesmo percentual do Produto Interno Bruto (PIB)

Familiar o que, em 2005, corresponderia a aproximadamente 4,3 bilhões de reais.

Para além da produção da farinha, outras atividades geradoras de

renda foram relatadas pelos produtores do Vale do Copioba, conforme ilustra a

Figura 5. Cabe ressaltar que a produção agrícola em propriedade de terceiros,

chamada popularmente de meeiro, ocorre quando um determinado produtor

“aluga” uma dada área de terra e o pagamento do “aluguel” é feito com parte da

produção. No caso do Vale do Copioba, esse pagamento foi muito variável - de 5 a

66

25% do que era produzido, e o arrendamento de terra foi mais frequente em

alguns municípios, como São Felipe, no qual alcançou índice de 56%.

FIGURA 5: Distribuição dos participantes quanto ao desenvolvimento de outras

atividades geradoras de renda, excluindo-se a produção de farinha. Vale do

Copioba-BA, 2012-2013.

Segundo Camarano (1999), Silva (2001) e Leandro (2007), essa

modalidade na produção rural brasileira ocupou papel de destaque, há anos ou

mesmo décadas atrás. Nos anos mais recentes, de modo distinto, prevalece, por

parte dos produtores, um direcionamento e uma vontade maior para buscar suas

próprias terras.

Couto (2009), por sua vez, chama a atenção para o interesse por parte

dos produtores e o interesse “distorcido” por parte das políticas públicas

orientadas aos agricultores familiares. Segundo o autor, embora estas políticas

sejam formuladas no intuito de melhorar as condições dos produtores, são criadas

“de cima para baixo” - por técnicos do setor público e com financiamentos de

projetos-padrão, sem a participação mais efetiva dos produtores, para alcançarem

melhor solução aos problemas enfrentados na realidade.

67

Organização Social do Trabalho

Entre os produtores do Vale do Copioba, 58,4% responderam não

participar de qualquer sindicato, cooperativa ou outras modalidades de

organização social de trabalho (Figura 6). Nesse sentido, ainda, observou-se uma

associação positiva significativa (p=0,001) entre menor escolaridade e não

participação em organizações sociais.

FIGURA 6: Distribuição (%) dos produtores do Vale da Copioba-BA, quanto à

participação em organização social de trabalho. Vale do Copioba, Bahia, 2012-

2013.

Durante a pesquisa em campo, foi possível perceber um processo de organização

social do trabalho ainda tímido. A maior parte das cooperativas, associações e

sindicatos eram novos, com menos de dez anos.

Segundo Chaves e Kustner (2013) era esperado, a partir 2009, que as

políticas organizacionais na Bahia se fortalecessem, tendo em vista a sansão da

lei Nº 11.362, de 26 de janeiro de 2009, que institui a Política Estadual de Apoio ao

Cooperativismo. Essa política, conforme o Artigo 1º, parágrafos de I a IV, visa:

“Incentivar a atividade cooperativista e contribuir para o seu

desenvolvimento no Estado da Bahia; fomentar e apoiar a

constituição, a consolidação e a expansão de cooperativas

no Estado; estimular a captação e a disponibilização de

68

recursos financeiros destinados a apoiar ações desta

Política; apoiar técnica e operacionalmente o cooperativismo

no Estado, promovendo as parcerias necessárias ao seu

desenvolvimento.”

Como parte dessa política, foi criado o Conselho Estadual de

Cooperativismo (CECOOP), “um órgão de natureza consultiva e deliberativa, com

a finalidade de planejar e avaliar as ações desenvolvidas no âmbito da Política

Estadual de Apoio ao Cooperativismo”, como consta no Artigo 11. Apesar do

objetivo dessa política, entretanto, verifica-se falha no seu estabelecimento, uma

vez que, embora enuncie a mobilização social como um dos eixos primordiais para

a criação das organizações, esta estratégia ainda não alcança cobertura para

várias localidades baianas, incluindo o Vale do Copioba.

Em todo o Vale, levantou-se o registro de 54 organizações sociais,

entre associações, sindicatos e cooperativas. Destas, 24 eram associações e

cooperativas, que compreendem as instituições legais aptas a fazer o pedido de

Indicação Geográfica (BRASIL, 1996). Todavia, apenas 11 se mantinham ativas,

com reuniões periódicas, estatuto, registro municipal, e utilização de máquinas e

de recursos de uso comum a todos os associados e cooperados. Dentre os

municípios, a maior participação em cooperativas e associações foi localizada no

município de Nazaré (50,5%), seguido de São Felipe (46,5%) – em Maragojipe, a

participação foi mínima (3,0%).

Entre as organizações identificadas, destacaram-se a Cooperativa de

Produtores Rurais de São Felipe e a Associação de Produtores Rurais da Fazenda

Santa Sofia, em Nazaré. Ambas evidenciaram atuação efetiva entre os

associados/cooperados e órgãos responsáveis, e contavam com infraestrutura,

sede, trator, arado, caminhão, entre outros, de uso comum entre os associados,

69

com pagamento apenas de uma pequena taxa que correspondia a 7% do valor

real do uso do equipamento.

Ao explanar sobre o Brasil rural e os engajamentos em politicas

sindicais, Coradini (2007) refere que o menor engajamento dos agricultores em

organizações sociais de trabalho em muito se atrela ao desconhecimento, ao

pouco esclarecimento, e mesmo, certo medo, posto que, para pessoas que não

possuem instrução/estudo, fazer este percurso também significa o enfrentamento

do novo. Assim, muitos recuam desta participação e mobilização, ainda que ela

possa significar a busca de seus direitos.

Para Silva (1999), a organização social ainda é um dos eixos de maior

fragilidade na área rural, constituindo uma temática que anda a passos curtos

(SILVA, 1999). Para Eid (2010), uma das causas dessa “morosidade”, de certo

modo, resulta de políticas públicas assistencialistas, muito comuns nos últimos

anos, no Brasil.

Autores como Abramovay (1998) e Eid (2010) consideram haver um

direcionamento errôneo das políticas públicas no Brasil, historiando que, ainda nos

anos 80, em virtude do desemprego e da exclusão sem precedentes, existiam

políticas denominadas de caridade, que não buscavam a economia solidária, mas

sim minimizar as formações sindicais contrárias à atuação do governo. Nesse

âmbito, os estudiosos têm questionado este modelo e como também analisam se

as políticas recentes não estariam seguindo o mesmo padrão.

No Vale do Copioba, praticamente todos os produtores eram

beneficiados com algum programa social, de cunho assistencialista. Assim, os

enfrentamentos em busca de melhores condições de trabalho e de políticas

públicas mais atuantes eram inibidos, pois prevalecia uma ideia de acomodação.

Nesta direção, pode-se conceber a volta de uma política da caridade, deixando de

lado as organizações sociais do trabalho e a economia solidária.

70

No caso dos atores em estudo, 91,3% declararam receber benefício de

algum programa social, sendo que 87,6% recebiam o programa Bolsa Família

(BF). Esta informação, quando correlacionada com a escolaridade, apresentou

associação positiva entre níveis baixos de escolaridade/renda e a participação em

programas sociais (p<0,001), sendo então plausível o objetivo do programa quanto

ao atendimento de pessoas mais vulneráveis na sociedade, conforme

preconizado.

No entanto, é de conhecimento comum à compreensão ou mesmo um

comportamento “equivocado”, por parte de alguns produtores, quanto ao auxílio

prestado pelos programas sociais – que visam à complementação da renda

(LAVINAS e VARSANO, 1997), posto que muitos deles, após serem beneficiados,

acabam por reduzir seu ritmo de trabalho, quando não abandonam seus

empregos. Na coletividade em estudo, testes de associação entre a jornada de

trabalho e o recebimento de benefício de programas sociais (p<0,001), revelaram

menor carga horária de trabalho para os beneficiários, em 77% dos casos.

Deste modo, evidencia-se que os programas, na sua implementação

real, fogem ao seu propósito - melhorar as condições de vida, com um auxílio

financeiro à população, uma vez que muitos beneficiários passam a conceber os

programas como substitutos de renda, permanecendo em níveis de renda iguais

ou até piores aos que estavam anteriormente à adesão aos programas.

Outro programa voltado ao incentivo no meio rural é o Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que, em suas

diversas categorias, oferece crédito para produtores familiares, como forma de

incentivo, no intuito de melhorar condições de produção (BRASIL, 1996).

No Vale do Copioba, diversos produtores já usufruíram dessa linha de

crédito, buscando modernizar as instalações das casas de farinha. Em termos

comparativos, entre os três municípios pesquisados, São Felipe se destacou na

utilização deste incentivo, apresentando a maior parte das casas de farinha com

71

instalações mais modernas. Nazaré, por ter as casa de farinha, mais antigas, foi o

município que apresentou processo de modernização mais recente, com a

aquisição de novos equipamentos, sobretudo forno elétrico (52,1%), motor para

moagem da mandioca (48,0%) – nos demais municípios, as casas de farinha já

foram criadas com essas novas tecnologias.

Esse incentivo e modernização, entretanto, chegavam de forma

fragmentada, visto que grande parte dos produtores relatou não se sentir

preparado para utilizar as novas tecnologias e 90,2% informaram nunca ter

participado de qualquer tipo de curso ou outra atividade formativa. Como exemplo,

uma das associações adquiriu um trator e uma máquina de arar a terra, contudo,

os trabalhadores não receberam treinamento para a utilização, o que gerou um

aumento nos gastos, uma vez que, necessitavam contratar uma pessoa para

dirigir/manusear os equipamentos. Além disso, quando o trator quebrou, não havia

um planejamento para manutenção e tampouco recursos para o reparo.

Deste modo, os equipamentos adquiridos se tornaram sucatas,

aguardando alguma nova política assistencialista para conserto, visto que os

produtores não possuíam organização social suficiente para viabilizá-lo, o que em

muito beneficiaria as comunidades. Este exemplo deixa evidente o despreparo dos

produtores quando da aquisição e manutenção de novas tecnologias e a

fragilidade da mobilização social, no sentido de buscar capacitações para os

produtores, bem como melhorias em prol da comunidade.

Entre os produtores do Vale do Copioba, um maior nível de interação

com alguns órgãos públicos foi notado, o que se dava, na maioria das vezes, por

meio das organizações sociais. Nesse caso, relata-se a adoção de variedades de

mandioca desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA): a grande maioria (64,8%) dos produtores utilizava as variedades

Corrente e Cigana Preta, em associação, sendo que a segunda, da Embrapa, era

72

muito aceita, pois o uso combinado resultava em farinha de melhor qualidade e

maior rendimento.

4 CONCLUSÕES

Este estudo teve por propósito caracterizar os atores sociais envolvidos

na produção de farinha no Vale do Copioba-BA, na perspectiva social e do

trabalho.

Nessa região, o trabalho com a farinha de mandioca envolveu centenas

pessoas, sobretudo homens, em um contexto de agricultura familiar, revelando a

sua importância como atividade econômica para manutenção de diversas famílias,

destacando-se o fato de muitas não possuírem outra fonte de renda e confirmarem

vulnerabilidade social pelo recebimento de benefício governamental.

Nessa perspectiva, evidenciou-se, ao mesmo tempo, a tradição e

precariedade no trabalho. Este, na maioria dos casos, envolvia várias gerações,

mas acontecia de forma rústica, em condições e com jornadas desgastantes,

envolvendo ainda o trabalho infantil.

Quanto à participação em organizações sociais de trabalho, observou-

se um baixo engajamento dos participantes, quadro que limita o alcance de

melhores condições de trabalho e apoio técnico para o trabalho no campo, bem

como a constituição do processo de Indicação Geográfica para a farinha.

Deste modo, o estudo sinaliza a necessidade de programas para

fortalecer essa cadeia produtiva, sobretudo a sua organização social, visando

contribuir para o pedido de IG e o desenvolvimento local.

73

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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78

CAPÍTULO 3: A SEGURANÇA DE ALIMENTOS EM CASAS DE

FARINHA NO VALE DO COPIOBA, BAHIA BRASIL: DIAGNÓSTICO E

CONTRIBUIÇÃO À INDICAÇÃO GEOGRÁFICA

FOOD SAFETY IN HOUSES OF FLOUR IN THE VALLEY OF COPIOBA, BAHIA

BRAZIL: DIAGNOSIS AND CONTRIBUTION TO THE GEOGRAPHICAL

INDICATION

Ícaro Ribeiro Cazumbá da SILVA¹, Alaane Caroline Benevides de ANDRADE2,

Sueli, Alves da SILVA³, Ryzia de Cassia Vieira CARDOSO4, Janice Izabel

DRUZIAN5

1 - Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos –

Universidade Federal da Bahia (UFBA);

2 - Bolsista de Inovação Tecnológica -IT1, Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado da Bahia;

3 - Professor, Centro Universitário Jorge Amado;

4 - Professor, Escola de Nutrição – UFBA;

5 - Professor, Faculdade de Farmácia – UFBA.

79

RESUMO

Este estudo teve por objetivo avaliar as condições higiênico-sanitárias de casas de

farinha do Vale do Copioba, Bahia. Trata-se de estudo exploratório, de natureza

quantitativa, realizado junto a 72 casas de farinha dessa região. Para avaliação

das casas de farinha utilizou-se a ficha de verificação proposta pelo Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), contemplando cinco blocos –

situação e condições da edificação; equipamentos e utensílios; pessoal na área de

produção/manipulação/venda; matérias-prima/ produtos expostos à venda; fluxo

de produção/manipulação/venda e controle de qualidade. Os resultados obtidos

mostraram que no conjunto de unidades avaliadas, nenhuma alcançou pontuação

superior a 60% de adequação, limite abaixo do qual se caracteriza condição

higiênico-sanitária deficiente. Todos os blocos avaliados e para o conjunto de

casas de farinha investigadas, os resultados traduziram uma grande preocupação

na perspectiva da saúde pública, haja vista a classificação deficiente observada. O

estudo evidenciou problemas de segurança de alimentos em uma cadeia produtiva

tradicional na região, todavia, acredita-se que mudanças de cunho simples já

seriam possíveis e trariam retornos positivos ao perfil higiênico-sanitário das casas

de farinha, com contribuições para a sociedade.

Palavras- chave: agricultura familiar, farinha de mandioca, higiene de alimentos,

Boas Práticas de Produção.

80

ABSTRACT

This study aimed to evaluate the hygienic-sanitary profile of flour mills from

Copioba Valley, Bahia. This is an exploratory study, quantitative, performed with 72

flour mills in this region. For the evaluation of flour mills it was used the checklist,

proposed by the Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), comprising

five groups - state and conditions of the construction, equipment and utensils;

personal in the production area / handling / sale; raw materials / products displayed

for sale; production flow / handling / sales and quality control. The results showed

in the group of units evaluated that none has achieved score higher than 60% of

the requirement, below the recommended limit which characterized poor hygienic

and sanitary conditions. All blocks evaluated and for the group of flour mills

investigated, the results translated a major concern in public health perspective,

given the poor rating observed. The study showed problems of food safety in a

traditional supply chain in the region, however, it is believed that simple changes

would be possible and that changes would bring positive returns to the hygienic-

sanitary profile of flour mills, with contributions to society.

Keywords: Family Farming, copioba flour, food hygiene, good manufacturing

practices.

81

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, historicamente, o cultivo e o uso da mandioca (Manihot

esculenta Crantz) na alimentação associam-se à cultura indígena, com registros

desde o período do descobrimento. Assim, produtos como a raiz cozida, a farinha

e a tapioca foram gradativamente incorporados aos hábitos alimentares dos

portugueses e, posteriormente, integrados também à alimentação dos negros

escravizados, passando a compor um dos elementos de identidade da cultura

alimentar brasileira (LEAL, 1998; CASCUDO, 2004).

No Nordeste brasileiro, a maior parte das raízes de mandioca é

transformada em farinha de mesa comum, sendo a sua cadeia de produção

caracterizada pelo uso de mão de obra familiar, em unidades denominadas “casas

de farinha”, registrando-se centenas dessas unidades produtoras. Segundo

Cardoso et al. (2001), a maioria das casas de farinha desenvolve atividades

seguindo a tradição, de forma artesanal apresentando estrutura bastante simples,

muitas vezes não dispondo de condições físico-estruturais adequadas para o bom

funcionamento e a obtenção de produtos com qualidade assegurada.

Embora a produção da farinha de mandioca empregue tecnologia

simples, cuidados no processo são requeridos, tais como seleção adequada da

matéria-prima, higiene e procedimentos corretos para manuseio durante as etapas

de produção, a fim de garantir qualidade ao produto final. Entretanto, no âmbito da

produção familiar da farinha, no Nordeste, alguns estudos têm levantado

preocupação na perspectiva sanitária (CARDOSO et al., 2001; SANTOS, 2001).

Nessa direção, considera-se que as Boas Práticas de Fabricação (BPF)

compreendem uma das ferramentas mais empregadas para a melhoria das

condições sanitárias na produção de alimentos e representam uma das mais

importantes aliadas para o alcance de níveis adequados de segurança do

alimento, contribuindo significativamente para assegurar a qualidade do produto

82

final. Além da redução de riscos, as BPF também possibilitam um ambiente de

trabalho mais eficiente e organizado, otimizando todo o processo produtivo.

No Recôncavo da Bahia, a tradição da produção e do comércio de

farinha de mandioca mantém-se viva, destacando-se a produção da farinha

denominada Copioba, famosa e reconhecida popularmente no Estado por ser um

produto de granulação fina e crocante, de tipo superior em relação às outras

farinhas de mandioca (CASTELLUCCI JÚNIOR, 2008).

Dada a perspectiva histórica e geográfica de produção, que envolve um

saber fazer-fazer local, bem como as características de qualidade, identidade e

notoriedade, considera-se que a farinha de mandioca tipo copioba conforma

requisitos permissíveis ao pedido de Indicação Geográfica (IG). No contexto

brasileiro, as IG são descritas como uma forma de qualificação para produtos e

serviços atribuídos por características intrínsecas e próprias, que os vinculam à

sua região produtora de origem, sendo as qualidades específicas relacionadas ao

meio ambiente (geografia, clima, solo), ou pelo saber fazer tradicional, transmitido

ao longo dos anos, de uma geração para outra, em determinada cultura (BRASIL,

1996; BRANCO, 2012).

Nessa perspectiva, salienta-se que os produtos com potencial de

pedido de IG devem adequar-se à legislação vigente, buscando a organização dos

produtores, a forma de condução do processo produtivo, a uniformização da

produção sob critérios de qualidade, o marketing local e regional e a articulação

dos processos de comercialização (BRANCO et al., 2013).

Considerando a notoriedade da farinha mandioca tipo Copioba, o seu

potencial para IG e a insuficiência de estudos que descrevam a higiene do seu

processo de produção, este estudo teve por objetivo avaliar o perfil higiênico-

sanitário de casas de farinha do Vale do Copioba-BA, buscando contribuir para o

fortalecimento de ações com vistas à promoção da segurança de alimentos nessa

cadeia produtiva, bem como para o processo de IG.

83

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de estudo exploratório, de natureza quantitativa, realizado junto a

comunidades de produtores de farinha do Vale do Copioba, na Bahia - região que

engloba os municípios de Nazaré, São Felipe e Maragojipe, no período de

novembro de 2012 a novembro de 2013, como parte do projeto “Qualidade,

identidade e notoriedade da farinha de mandioca de Nazaré das Farinhas-BA: uma

contribuição à Indicação Geográfica”.

A partir da identificação dos produtores, foi procedido contato com os

responsáveis pelas unidades de produção, alcançando-se a participação de 72

casas de farinha.

Para a avaliação das condições higiênicas da produção foi aplicada a

“Ficha de Inspeção de Estabelecimentos na Área de Alimentos” (FIEAA) (Anexo

A), sugerida pelo Programa Alimentos Seguros, segmento indústria (PAS-

INDÚSTRIA), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI, 2000). De

acordo com o PAS-INDÚSTRIA, esta Ficha contempla a maioria dos itens

requeridos para garantir o processamento seguro dos alimentos e resulta em uma

classificação das unidades, quanto ao percentual de atendimento às

recomendações.

A FIEAA é organizada em quatro partes: A - Identificação; B – Avaliação; C

- Pontuação do estabelecimento; D - Registro de observações. A parte A,

Identificação – contempla a identificação do estabelecimento e o registro de

informações complementares específicas para a pesquisa.

No que concerne à parte B - Avaliação - é destinada a registrar as

informações relacionadas à avaliação propriamente dita, subdivididas em cinco

blocos.

O bloco 1, referente à situação e condições de edificação, compreende

nove dimensões, distribuídas em 22 questões (22 indicadores): 1. Piso (2); 2. Teto

e forro (2); 3. Paredes e divisórias (2); 4. Portas e janelas (4); 5. Instalações

84

sanitárias (2); 6. Vestiários (2); 7. Lavatórios na área de manipulação (3); 8. Caixa

d’agua e instalações hidráulicas (2); e 9. Destino adequado dos resíduos (3).

O bloco 2, relativo aos equipamentos e utensílios, organiza-se em cinco

dimensões, com 10 questões: 1. Equipamentos e maquinários (2); 2. Utensílios

(2), 3. Móveis (2); 4. Equipamentos para proteção e conservação sob refrigeração

(2); e 5. Limpeza e desinfecção (2).

Com relação ao bloco 3, avalia o pessoal na área de produção,

manipulação e venda em duas dimensões: 1. Roupas/vestimentas e 2. Estado de

saúde do trabalhador, compreendendo 4 indicadores na primeira dimensão e 2 na

segunda, totalizando 6 questões.

O bloco 4, referente às matérias-primas e aos produtos expostos à venda,

abarca uma única dimensão com 4 indicadores. No bloco 5, estão organizadas

quatro dimensões (, contemplando 14 questões distribuídos da seguinte forma:

Fluxo adequado (2); Proteção contra contaminação (2); Armazenamento

adequado (4); e Empacotamento e identificação adequada do produto

acabado/produto exposto a venda (6).

Cada um dos blocos foi pontuado com peso específico para compor a nota

total, conforme explicitado na Tabela 1.

Tabela 1: Avaliação da FIEA - Parte B: Pesos específicos por bloco de avaliação.

BLOCOS PESOS ESPECÍFICOS

1 – Situação e condições de edificação P1 = 10

2 – Equipamentos e utensílios P2 = 15

3 – Pessoal na área de produção, manipulação e venda P3 = 25

4 – Matérias-primas e produtos expostos à venda P4 = 20

5 – Fluxo de produção, manipulação, venda e controle de

qualidade

P5 = 30

Fonte: SENAI, 2000.

1

85

Para calcular a nota obtida em cada bloco, utilizou-se uma constante

específica (K) para o bloco. Esse mecanismo foi utilizado, de modo a não

penalizar o estabelecimento nos casos em que determinados itens fossem

considerados não aplicáveis (“NA”). Os valores das constantes estão descritos

abaixo:

Blocos de constantes

1- Situação e condições da edificação K1=60

2- Equipamentos e utensílios K2= 50

3- Pessoal na área de produção / manipulação / venda K3= 32

4- Matérias- primas/ produtos expostos à venda K4=24

5- Fluxo de produção/manipulação/venda e controle de qualidade K5= 53

A Parte C - Pontuação de cada bloco - foi calculada de acordo com a

seguinte fórmula:

PB = ∑S x P / K-∑NA , onde:

PB = nota do bloco

∑S = somatório dos itens do bloco que receberam classificação adequada

∑NA = somatório dos itens do bloco considerados como não aplicáveis

K = constante do bloco

P = peso específico do bloco

A nota total de cada casa de farinha foi calculada pela somatória das notas

de cada bloco, ou seja: NT = PB1 + PB2 + PB3 + PB4 + PB5. Com base nesta

nota, procedeu-se o preenchimento da Parte C - Classificação, conforme

estabelecido pelo PAS-Indústria (SENAI, 2000) e descrito na Tabela 2.

86

Tabela 2. Critério de classificação das unidades de processamento da farinha de

mandioca, de acordo com a nota obtida. Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013.

PONTUAÇÕES CLASSIFICAÇÕES

91 – 100 EXCELENTE (E)

81 – 90 BOM (B)

61 – 80 REGULAR (R)

Até 60 DEFICIENTE (D)

Fonte: SENAI, 2000.

Adicionalmente, na parte D - Registro de observações - foi registrada a

variação de temperatura de torração da farinha, com termômetro infravermelho,

marca “ScamTemp”. Para medição, estabeleceu-se ponto imaginário situado na

metade do raio da circunferência dos fornos, com monitoramento durante período

de 15 minutos, registrando-se valores máximo e mínimo, com posterior cálculo da

média.

87

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliação das Unidades de Processamento

Os resultados da avaliação das casas de farinhas encontram-se

apresentados na Tabela 3 e serão discutidos em tópicos específicos.

Tabela 3. Avaliação das casas de farinha quando a pontuação total, a média de

pontos obtidos, a amplitude e % de adequação. Vale do Copioba, Bahia, 2012-

2013.

BLOCOS Pontuação

Máxima

Média

(S)

Menor

Nota

Maior

Nota

% de

Adequação

1 – Situação e condições de

edificação

10 2,97

(0,56)

2,10 4,90 29,72

2 – Equipamentos e utensílios 15 0,68

(0,44)

0 2,40 4,54

3 – Pessoal na área de

produção/manipulação/venda

25 3,78

(3,49)

0 8,33 15,14

4 – Matérias–primas / produtos

expostos à venda

20 9,08

(1,49)

6,66 10,0 45,42

5 – Fluxo de

produção/manipulação/ venda e

controle de qualidade

30 9,10

(2,89)

4,52 12,30 30,34

Situação e condições da edificação

Para o bloco 1, verificou-se baixo atendimento aos requisitos de

construção das unidades, o que descreve condições de edificação e instalações

insatisfatórias para o conjunto de casas de farinha investigadas. Uma das

justificativas para o resultado observado refere-se ao fato da maior parte das

unidades funcionarem em imóveis adaptados, não projetados originalmente para a

atividade ou que foram reformados de modo inadequado.

88

Entre os itens identificados como críticos estão: a inexistência de

estrutura física completa, incluindo a ausência de paredes ou divisórias, portas,

janelas, instalações sanitárias e a insuficiência nas instalações de tetos e forros

(Figura 1). O índice de adequação do bloco não chegou a alcançar um terço do

máximo possível, sinalizando a necessidade de melhorias estruturais nas

unidades de beneficiamento.

Figura 1 – Instalações de casas de farinha do Vale do Copioba, Bahia, 2012-2013.

A partir das visitas realizadas, evidenciou-se que as casas de farinha

possuíam uma infraestrutura precária. O piso, na grande maioria dos casos (70%),

era de chão batido, sendo os demais compostos de um misto de cimento e chão

batido (20%) e apenas 10% de cimento. Com relação ao teto (telhado), as casas

de farinha apresentaram condição também deficitária, uma vez que a cobertura

era feita com telhas de barro, sustentadas por caibros e ripas de madeira, porém,

sem forro. Esta estrutura, embora permita proteção razoável para o produto, não

favorece a limpeza, caracterizando uma situação de vulnerabilidade ao alimento,

uma vez que há acúmulo de pó da farinha e a superfície tornando-se habitat de

diversos insetos.

89

Uma vez que a maioria das unidades avaliadas não possuía paredes

e/ou qualquer barreira física que as delimitassem, a presença de animais - cães,

gatos, aves, suínos - na parte interna e externa das unidades era constante, fato

que também foi relatado por Bonfim et al. (2013), que evidenciaram animais em

100% das casas de farinha avaliadas.

Dentre as casas de farinha do Vale do Copioba, apenas uma (1,4%)

dispunha de água potável, o que revela um cenário distante das recomendações

para a produção de alimentos (BRASIL, 2002). Na maior parte (98,6%) das

unidades, a água utilizada na higienização e no processamento ficava

armazenada em toneis fechados, evitando assim a contaminação por materiais

físicos e químicos, bem como a disseminação do Aedes aegypti. Entretanto, para

87,8% das unidades, a água provinha de nascentes localizadas dentro da

propriedade em que se situava a casa de farinha, ou em propriedades vizinhas.

Ademais, 100% das unidades não possuíam instalações sanitárias (banheiros).

Tendo em vista que, em geral, as casas de farinham situavam-se próximas às

residências dos produtores, essa foi a principal justificativa apresentada para não

haver instalações sanitárias nas unidades.

Em estudos semelhantes, Oliveira e Rebouças (2008), na Bahia, e

Bonfim (2013), no Maranhão, registraram a mesma realidade e igual justificativa.

Este resultado mostra-se em desacordo com a legislação, que estabelece a

presença de sanitários organizados, limpos e em adequado estado de

conservação, munidos de produtos destinados à higiene pessoal (BRASIL, 2002).

Outro fato que cabe salientar foi a forma de descarte da manipueira – o

líquido resultante da prensagem da massa da mandioca, que era lançada

diretamente no solo, sem qualquer tratamento. Santos (2008) avaliou a

contaminação ambiental decorrente do descarte direto da manipueira e observou

que, no leito em que era descartada, praticamente todas as plantas não se

desenvolviam ou morriam, demonstrando, assim, que o teor de ácido cianídrico

90

nesse resíduo é importante contaminante ambiental, devendo ser direcionado a

outros fins e não disposto diretamente no solo.

Santos et al. (2009), Oliveira e Rebouças (2008) e Bonfim (2013)

descrevem resultados similares quanto ao descarte da manipueira e, ainda,

considerando a manutenção desta prática, sinalizam duas possibilidades: falta de

conhecimento dos trabalhadores em relação à contaminação oriunda da

manipueira e o descaso para questões ambientais.

Quanto aos resíduos sólidos oriundos do processamento das raízes de

mandioca (casca e entrecasca), eram amontoados em pilhas dentro das unidades,

podendo, posteriormente, terem duas destinações: serem colocados em

plantações (44,4%) e/ou serem utilizados como ração animal (46,6%). A

permanência desse resíduo nas unidades poderia durar até 48h, como relatado

pelos produtores, até o uso final, o que favorece o aparecimento de pragas e

insetos.

No Bloco 1, a única variável que alcançou maior adequação foi a

condição de acesso, verificando-se que 94,5% das casas de farinha

apresentavam acesso adequado, não comum a outros usos (habitação). Face ao

conjunto de inadequações estruturais identificadas, os produtores alegaram não

haver programas específicos que os incentivassem a realizar melhorias

estruturais, o que expressa a demanda de incentivos por parte dos órgãos

públicos, de modo a transpor esse quadro.

Como alternativas para reduzir inadequações neste bloco, pode-se

sugerir a construção de uma meia parede, o que delimitaria a estrutura da casa de

farinha. Como estrutura complementar para fechar o espaço vazio entre a meia

parede e o teto, se usaria uma tela milimetrada, o que evitaria a entrada de pragas

e insetos, bem como ajudaria na exaustão do calor, o que justificaria a não

utilização de uma parede completa e sim da meia parede.

91

Equipamentos e utensílios

Para o Bloco 2, equipamentos e utensílios, observou-se ser este o de

menor pontuação entre os demais, resultado que se associa a alguns pontos

específicos, destacando-se o fato dos equipamentos e utensílios das unidades

localizarem-se em áreas comuns a todo o processo de fabricação, não atendendo

às normas vigentes, além da precária condição de conservação e de manipulação.

Os estabelecimentos foram marcados pela rusticidade dos equipamentos e

utensílios utilizados, posto que, em sua maioria, tinham fabricação em madeira,

material que dificulta o processo de higienização (Figura 2). Seguindo a tradição

rural, observou-se o uso da madeira para o fabrico de “cochos”, “gamelas”, pás

para o sistema mecanizado e/ou para o manual, rodos para o revolvimento da

farinha, dentre outros utensílios. Freitas (2011) aponta essa prática como de risco

para a contaminação dos alimentos produzidos, uma vez que os utensílios ficam

expostos a sujidades e configuram abrigo de pragas, favorecendo a contaminação

física e biológica.

Figura 2 – Rusticidade e estado de conservação dos equipamentos utilizados na

produção da farinha de Copioba e o reaproveitamento de instalações domésticas

para a produção da farinha. Vale do Copioba-BA, 2012-2013.

92

Ainda, constituiu prática comum nas casas de farinha do Vale da Copioba o

reaproveitamento de utensílios “da casa” (Figura 2), o que também foi observado

nas casas de farinha pesquisadas por Bonfim et al. (2013), no Maranhão. Assim,

foi possível evidenciar a presença de utensílios domésticos reaproveitados, como

banheiras ou de caixas internas de geladeiras, utilizadas para depósito da massa

e/ou da farinha pronta.

Entre os equipamentos utilizados, inicialmente, cita-se o ralador de cilindro,

conhecido também como “bola”, presente em todas das casas de farinha

estudadas, o que indica o desuso da trituração de forma manual. De acordo com

Bonfim et al. (2013) e Denardin et al. (2009), esse cenário de mudança justifica-se,

dado que o processamento manual demanda muito tempo – assim, no intuito de

otimizá-lo, os produtores passaram a utilizar o ralador mecânico.

A introdução desta tecnologia, embora tenha facilitado o processamento,

ainda requer aprimoramentos de uso, uma vez que tem sido associado com

acidentes de trabalho e mutilações, como relata Denardin et al. (2009). Quanto

aos requisitos de higiene, ressalta-se a necessidade de melhorias do

procedimento de limpeza do aparelho, nas etapas pré e pós-uso, uma vez que o

mesmo não constitui rotina e, com isso, resulta na formação de incrustações no

equipamento, conformando fontes de contaminação.

No que se refere à prensagem da massa, em 75% das casas de farinha

pesquisadas, acontecia em prensas artesanais, fabricadas em madeiras, com um

sistema de parafuso e rosca sem fim, com o auxílio de um macaco hidráulico

(Figura 3), sendo nas demais o processo realizado em prensas hidráulicas.

Durante a prensagem, a massa ficava disposta em sacos de ráfia, tanto nos

sistemas mais modernos como nos mais rústicos, podendo permanecer de 2 a 24

horas. Sant’anna e Miranda (2004) apontam essa como uma das etapas que eleva

a insegurança com relação à qualidade do alimento, haja vista que está sujeito a

93

diversas contaminações, em virtude dos sacos de ráfia utilizados serem

reaproveitados e, muitas vezes, não passarem por processos de limpeza.

Figura 3 – Modelos de prensas artesanais utilizadas no Vale do Copioba-BA,

2012-2013.

Na produção da farinha, um dos principais equipamentos refere-se ao forno,

que, em sua grande maioria, caracteriza-se por uma estrutura de alvenaria, barro

e/ou cimento, com uma chapa de ferro plana, sobre a qual a farinha é revolvida

por um conjunto de pás de movimento planetário acionadas por um motor a

combustão, ou um motor elétrico – no sistema mecânico, ou por auxílio de rodos

ou pás de madeira – no sistema manual. Nas casas de farinha visitadas, contudo,

independente do sistema de torração adotado, não havia esquemas de limpeza

nem de manutenção preventiva dos fornos.

Em todas as unidades, a alimentação dos fornos era feita com madeira

(lenha) ou aparas de madeira como fonte de energia. Este material, normalmente

armazenado ou empilhado nos arredores das casas de farinha, constituía abrigo

para pragas, insetos e outros animais. Observa-se ainda que, o uso desse sistema

de alimentação, de forma não controlada, contribui para amplas variações na

temperatura de torração da farinha, o que, conforme Freitas (2011), prejudica a

94

sua qualidade, no que se refere à não uniformidade da crocância do produto

obtido.

Segundo Brandão et al. (2011), os equipamentos podem servir de

incubadores para o crescimento de micro-organismos, quando empregadas

temperaturas inadequadas, contudo, se mantidos na temperatura correta, podem

prevenir a multiplicação bacteriana. Nas casas de farinha estudadas, a

temperatura dos fornos variou de 89°C a 290°C, média de 100,5°C, registro

fundamental na perspectiva da determinação da carga de micro-organismos

presente na farinha de mandioca produzida.

Almeida et al. (2005) conduziram um estudo com 26 amostras de farinhas

coletadas de unidades tradicionais, em Alcântara-MA, e observaram que a

incidência de bolores e leveduras, variou desde a não detecção até 87 UFC.g-1, o

que indica que a temperatura empregada no processo de torração confere

características de segurança ao produto, que se apresenta como substrato de

baixo potencial para o desenvolvimento desses microrganismos. Deste modo,

ressalta-se a importância do bom funcionamento dos fornos e do monitoramento

da temperatura de torração, a fim de garantir a inocuidade da farinha processada.

Em estudo conduzido por Sant’Anna (2002), com coleta de 35 amostras de

farinha de mandioca procedentes de casas de farinha e comercializadas na feira

livre de Cruz das Almas, no Recôncavo Baiano, por sua vez, foram reportadas

contagens de Bacillus cereus acima do permitido pela legislação vigente, para

45% das amostras, o que direcionou questões para o processo de torração – cujas

temperaturas podem ter sido insuficientes para destruir os esporos deste

microrganismo.

No Vale do Copioba, a maioria das casas de farinha (87,8%) dispunha de

um único forno, em grande parte (94,5%) motorizado, sendo o restante de

funcionamento manual. No entanto, ainda existiam algumas casas de farinha que

realizavam a torração na forma antiga, com utilização de três fornos (Figura 4). Os

95

três fornos possuíam temperaturas distintas, com funções diferentes: o primeiro,

com temperatura média de 75°C, faz o processo de desidratação parcial,

conhecido popularmente como “zanzar”; o segundo, com uma temperatura um

pouco mais alta, média de 95°C, faz a desidratação por completo, processo

também conhecido como “grolhar”; o terceiro e último forno, com temperatura

média de 125°C, realiza a função de torração final da farinha, denominada

simplesmente como “torrar” (LODY, 2013).

Figura 4 – Sistemas de torração com forno manual (A) e motorizado (B) no Vale

do Copioba-BA, 2012-2013.

Em relação à etapa de peneiramento da farinha, em todas as unidades

visitadas ocorria o processo manual. As peneiras eram construídas pelos próprios

produtores, dotadas de uma estrutura de madeira na parte externa e tela em

nylon, com crivos de acordo com a granulometria desejada, uma realidade

também descrita por Santos (2009). Durante essa etapa, a fração remanescente

nas peneiras - os aglomerados (caroço) - poderia ser novamente triturada e

homogeneizada com a farinha pronta. Em 60,6% das casas de farinha do Vale do

Copioba essa prática era adotada, enquanto 39,4% não a adotavam, uma vez que

o acréscimo da fração afetava a granulometria e a qualidade do produto final.

A B

96

De modo geral, as casas de farinha não apresentavam uma rotina ou um

cronograma de limpeza. Operações de limpeza e desinfecção dos recipientes

utilizados, principalmente após o uso, não foram observados em visitas in loco,

sendo comum encontrá-los com resíduo de processamento anterior, ainda que

100% dos produtores relatassem a sua limpeza todos os dias, antes do início da

produção. Os equipamentos eram limpos esporadicamente, com o auxílio de

vassouras e de panos, sendo frequente a identificação de utensílios com restos de

produções anteriores.

De modo similar, os utensílios não possuíam uma rotina de limpeza e

desinfecção e não eram armazenados em locais adequados e protegidos contra

contaminação, conforme preconiza a legislação. Estes resultados concordam com

relatos apresentados por Brandão et al. (2011), em estudo conduzido com 51

casas de farinha do agreste alagoano, que refere não haver preocupação maior

dos produtores com relação aos aspectos de higiene pessoal, ambiental e de

equipamentos.

Além da condição de rusticidade, equipamentos, utensílios e ambientes

revelaram não atendimento aos requisitos de higiene, apresentando considerável

acúmulo de resíduos, exposição a contaminantes e animais, dentre outras

sujidades, que configuram oportunidades de contaminação da farinha nas

unidades de processamento, uma situação que deve ser corrigida. Assim, levando

em consideração os aspectos higiênico-sanitários deste bloco, de modo geral,

considera-se que as casas de farinha avaliadas encontravam-se em completa

discordância com o preconizado, no que se refere aos equipamentos, utensílios e

móveis.

Como um contraponto à descrição feita, o Serviço Nacional de Apoio à

Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), em trabalho de apoio aos pequenos

produtores de farinha de mandioca, elaborou um manual com orientações relativas

97

à estrutura e aos equipamentos e utensílios nas casas de farinha, intitulado

“Manual de Referência para Casas de Farinha” (SEBRAE, 2006).

Nesta publicação, estão preconizados requisitos sanitários para os

equipamentos, como a facilidade de limpeza, de modo a evitar o acúmulo de

resíduos que favorecem o desenvolvimento de micro-organismos, bem como a

recomendação para a adoção de práticas de manutenção preventiva, visando

minimizar problemas relacionados ao desgaste desses bens, uma referência que

contribui para consulta e atividades educativas junto aos produtores.

Para o bloco em questão, recomenda-se a manutenção periódica dos

equipamentos em utilização, o que resolveria quase todos os problemas citados

previamente, atentando-se, ainda, para evitar a adaptação de objetos domésticos

como utensílios nas casas de farinha.

Pessoal na área de produção, manipulação e venda

No Bloco 3, o baixo desempenho foi atrelado à condição insatisfatória das

unidades produtoras, em virtude da insuficiência das condições dos manipuladores

para o correto manuseio do produto, tanto no processamento quanto no pós-

processamento, e da falta de qualificação, quanto à adoção de práticas higiênicas

no processo produtivo. Nas unidades visitadas, muitas vezes, os procedimentos

higiênicos a serem adotados pelos manipuladores praticamente inexistiam.

O uso de itens do vestuário, bem como de equipamentos de proteção

individual, incluindo luvas, toucas e uniforme na área de produção não foram

observados. O vestuário utilizado pelos manipuladores das casas de farinha, via

de regra, caracterizava-se por roupas de uso diário, em estado de conservação

ruim, muitas desgastadas, rasgadas e/ou furadas, que tanto favoreciam a

contaminação dos produtos quanto expunham os manipuladores a riscos de

acidentes de trabalho. Questões relativas ao asseio pessoal demandaram

atenção, ainda, haja vista a grande frequência de manipuladores que

98

apresentavam unhas grandes e sujas, barba, e diversos tipos de lesões cutâneas.

Em adição, foram observados hábitos inadequados durante o processamento,

como cuspir e fumar na área de produção.

Segundo Oliveira e Rebouças (2008), nas unidades, é fato comum a não

utilização de aventais fechados ou macacões de cor clara, sapatos fechados em

bom estado de conservação e rigorosamente limpos. Usualmente, os

manipuladores utilizam adornos, esmaltes nas unhas e não observam hábitos

higiênicos adequados, o que concorre para comprometer a qualidade dos

produtos, por aumentar os riscos de contaminação. Nesse sentido, enfatiza-se a

grande importância ao manipulador, dentro do processo produtivo, uma vez a sua

atuação apresenta relação estreita com o sistema de proteção dos alimentos

(PANETTA, 1998).

Rebouças et al. (2011), ao realizarem o diagnóstico microbiológico e

higiênico-sanitário dos locais de beneficiamento da mandioca, em 13 municípios

da região Sudoeste da Bahia, verificaram que os manipuladores não

apresentavam o mínimo de cuidado com higiene pessoal (unhas, braços, mãos,

cabelos). Também foi constatado que eles possuíam inclusive o hábito de fumar e

consumir alimentos e bebidas na área de processamento, que quase sempre se

apresenta suja com restos alimentares e com resíduos da produção da farinha.

Em seu estudo no Maranhão, Bonfim et al (2013) observaram que os

pontos mais problemáticos concernentes ao pessoal na área de produção,

manipulação e venda incluíram: a não utilização de uniformes, de luvas e de

toucas; a presença de adornos; manipuladores com unhas sujas ou compridas; e a

não periodicidade na realização dos exames médicos.

Segundo Silva Júnior (2005), é importante o cumprimento de medidas de

controle quanto à higiene pessoal dos manipuladores, durante o manuseio e

processamento dos alimentos, de modo a evitar a contaminação cruzada do meio,

99

dos utensílios e dos equipamentos, contribuindo assim para a redução de

contaminação do produto final e a oferta de alimentos seguros.

Nas casas de farinha avaliadas, dado que não havia sistema de água

encanada, não existiam lavatórios de mãos, nem os produtos de limpeza para

mãos. Nesse contexto, resultados reportados por Bonfim et al. (2013) e por

Denardin et al. (2009) corroboram com os achados no presente estudo, posto que

esses autores observaram um grande percentual - 100% e 67%, respectivamente,

de casas de farinha sem lavatórios de mãos.

Em relação aos requisitos de saúde do trabalhador, no Vale do Copioba,

verificou-se a não realização de exames periódicos para a totalidade dos

entrevistados, quadro que concorda com o do estudo de Bonfim et al. (2013), no

qual 100% dos produtores não realizavam exames períodos, e o de Denardin et al.

(2009), que registra 89% para este indicador.

Conforme explicitam Chaves et al. (2006), os manipuladores compreendem

importante fonte ou causa de contaminação dos alimentos, em virtude do contato

manual e corporal e das práticas que realizam - assim, devem estar cientes do seu

papel durante todo o preparo e distribuição do alimento. Em contraste ao exposto

e apesar da notoriedade da farinha do Vale do Copioba, observou-se a

inexistência de qualquer programa de formação em segurança de alimentos -

pontual ou em educação continuada, para os envolvidos no trabalho das casas de

farinhas pesquisadas.

Estes resultados evidenciam uma desinformação por parte dos produtores,

que utilizam apenas de conhecimentos empíricos adquiridos ao longo tempo, no

processo de produção da farinha, um quadro de descaso ou de limitação na

atuação dos órgãos de fomento ao produto.

Nesse contexto, medidas básicas já amenizariam a situação explicitada,

como a correta higienização das mãos e a utilização de roupas em condições de

uso para o trabalho. Salienta-se, ainda, que um dos pontos mais importantes para

100

maior inocuidade no beneficiamento compreende a formação dos produtores,

quanto à adoção das Boas Práticas de Produção, o que proporcionaria

conhecimentos quanto à importância de cuidados básicos no processamento de

alimentos.

Matéria-prima e produtos expostos à venda

No bloco 4, um dos aspectos de maior preocupação referiu-se aos cuidados

com a matéria-prima - na maioria das unidades, as raízes de mandioca destinadas

à farinha não eram lavadas e, após o descasque (raspagem), eram colocadas

sobre lonas ou em toneis plásticos, que raramente passavam por processos de

higienização. Deste modo, estas operações contribuíam de forma significativa para

a contaminação da matéria-prima a ser processada.

Outro aspecto importante constituiu o armazenamento do produto final –

geralmente acondicionado em sacos de nylon de 50 kg, com revestimento plástico

interno, o que reduz a chance de exposição do produto a contaminações externas.

Todavia, os sacos eram dispostos diretamente sobre o chão, sem qualquer

proteção, ou mesmo sobre lonas ou plásticos impróprios à finalidade. Nesse

sentido, consideram-se práticas que contribuem para a redução tanto da

inocuidade do produto quanto da sua vida de prateleira, podendo ocasionar riscos

à saúde dos consumidores (CARVALHO, 2006).

Em sua maioria (94,5%), os produtores comercializavam a farinha

embalada a granel e sem qualquer identificação, em feiras da própria cidade ou de

cidades próximas, bem como em pequenos comércios da região. Segundo a

Instrução normativa n° 52, de 7 de novembro de 2011, do Ministério da Agricultura

(BRASIL, 2011), as farinhas devem ser identificadas e as expressões devem ser

colocadas em lugar de destaque e de fácil visualização, contendo, no mínimo, as

informações relativas ao grupo e ao tipo do produto. Deste modo, levando em

101

consideração este enunciado, nenhuma das casas de farinha estudadas cumpriu

com essa recomendação.

Vale ressaltar, ainda, que esse bloco foi o que apresentou o maior

percentual de adequação em relação à nota máxima do grupo (45,42%), o que se

deve a dois indicadores, que mostraram atendimento ao preconizado. O primeiro

relaciona-se às características sensoriais esperadas para o produto - uma vez que

os consumidores de farinha prezam por um produto isento de odores ou sabores

estranhos, a farinha possui uma peculiaridade que favorece a qualidade do

produto final, e, o segundo, ao acondicionamento do produto no pós-preparo.

Nessa direção, propõe-se a utilização de estrados para a estocagem dos

sacos de farinhas prontos para comercialização, evitando que os mesmos

permaneçam diretamente ao chão. Ainda, se faz necessário a criação de rótulos

com informações básicas sobre o produto, como o local de produção da farinha, a

composição, a presença ou ausência de corantes e a data de fabricação, o que já

constituiria um diferencial.

Fluxo de produção, manipulação, venda e controle de qualidade.

No Bloco 5, apesar do baixo nível de desempenho registrado, observou-se

um fluxo ordenado em forma de “U” para o processo produtivo, o que reduz a

possibilidade de contaminação cruzada, dado o sentido linear da produção. As

áreas de recebimento das raízes, descascamento e lavagem (área suja) não eram

isoladas, fisicamente, da área de processamento - ralagem, prensagem,

peneiração, torração e acondicionamento, contudo, não havia um cruzamento nem

dos funcionários nem dos utensílios utilizados entre essas duas áreas,

obedecendo ao fluxo, limitando assim contaminações do alimento em

processamento.

Entre os indicadores que mostraram inadequações, observou-se que a

manipulação do produto final ocorria sem proteção - com exposição da farinha ao

102

manipulador e ao ambiente, e o uso de embalagem sem a identificação do

produto. Ainda, não havia um controle com relação ao produto pós-

processamento, bem como análises laboratoriais que pudessem certificar as

características finais.

Em relação ao armazenamento do produto acabado, o nível de

inadequação nas unidades pesquisadas alcançou a 94,5%. O tempo máximo de

armazenamento do produto nas casas de farinha era de três dias e estas, em sua

maioria, não dispunham de uma área específica para esse fim, sendo a farinha

estocada nas residências dos produtores, diretamente no chão.

Entre os veículos utilizados para escoamento do produto, verificaram-se: o

carro de linha2 (40,54%), o caminhão e a caminhonete (ambos com 25%) e o carro

de passeio (9,5%). A Resolução RDC nº 275/2002 (BRASIL, 2002) estabelece que

o transporte/veículos utilizados no transporte de alimentos devem ser condizentes

às finalidades de uso e atender ainda a alguns requisitos, como: apresentar

cobertura para proteção de carga; possuir medidas que garantam a ausência de

vetores e pragas urbanas ou qualquer evidência de sua presença como fezes,

ninhos e outros; e apresentar-se limpos. Nesse aspecto, observa-se que essas

exigências não eram cumpridas, para a totalidade das casas de farinha do Vale do

Copioba.

Como medidas para proporcionar maior segurança ao produto, neste bloco,

sugere-se a utilização de luvas, no momento de manuseio final, bem como a

necessidade de cuidados para evitar a sua exposição a contaminações

ambientais, tanto durante a estocagem quanto no transporte. Quando possível,

orienta-se a realização periódica de análise do produto, para se obter um perfil das

suas características físicas, químicas e microbiológicas.

2 Veiculo que recebe um valor fixo por um determinado trajeto

103

Resultados da avaliação da aplicação da FIEAA

Para o conjunto de unidades avaliadas, nenhuma alcançou índice de

adequação superior a 60%, limite abaixo do qual se caracteriza condição

higiênico-sanitária deficiente, o que concorda com outros estudos. Oliveira e

Rebouças (2008), ao avaliarem o perfil higiênico sanitário das casas de farinha, na

região sudoeste da Bahia, observaram que 100% das unidades investigadas foram

classificadas como deficientes.

Oliveira e Rebouças (2008) e Soares (2007) justificam esse cenário pelo

fato dos trabalhadores das casas de farinha não atenderem às especificações

técnicas de funcionamento estabelecidas pelos órgãos governamentais e não

governamentais, de apoio à produção agropecuária/agrícola, dentre outros.

Segundo os autores, entre os problemas identificados que concorreram

para deficiências no perfil higiênico-sanitário, nas casas de farinha, foram

incluídos: a não utilização ou a utilização inadequada de diversos equipamentos e

utensílios; o descarte de forma errônea dos resíduos provenientes do processo

produtivo; a não delimitação da área de produção e o descumprimento de etapas

do processo produtivo - preparação das raízes, “raspagagem”, lavagem e

acondicionamento das raízes para a trituração; e precárias condições de

infraestrutura (OLIVEIRA e REBOUÇAS, 2008; SOARES, 2007).

Nesse cenário, ainda que a farinha seja um alimento culturalmente

estabelecido e de amplo uso, a classificação obtida para as casas de farinha

pesquisadas no Vale da Copioba-BA expõe uma condição crítica, na perspectiva

da segurança da produção de alimentos de interesse regional, no âmbito da

agricultura familiar, bem como no atendimento dos requisitos para o pedido de

Indicação Geográfica (BRASIL, 1996).

Assim, a segurança de alimentos na produção da farinha de mandioca

compreende um dos pontos de maior preocupação ao se estabelecer o pedido de

Indicação Geográfica, necessitando, portanto, de medidas corretivas, a curto e a

104

médio prazo, visando à implantação das Boas Práticas de Produção, de modo a

promover o princípio da inocuidade e fomentar o abastecimento e o

desenvolvimento local.

4 CONCLUSÕES

Os resultados evidenciaram, para os cinco diferentes blocos avaliados –

instalações, equipamentos e utensílios, pessoal, manipulação, estocagem e

distribuição - diversas condições de não atendimento quanto aos requisitos de

higiene, na produção da farinha de mandioca, na região do Vale do Copioba,

trazendo grande preocupação, na perspectiva da saúde pública, haja vista a

classificação deficiente (D) para todas as unidades.

Nessa direção, os achados reforçam a necessidade da adoção das

Boas Práticas de Produção, considerando suas diferentes dimensões e

componentes, em face de uma realidade de produção artesanal. Dentre esses

componentes, reitera-se a urgência de adequação da estrutura física das casas de

farinha e o desenvolvimento de atividades educativas para os produtores.

A partir do diagnóstico realizado, acredita-se que mudanças de cunho

simples já seriam possíveis e trariam retornos positivos ao perfil higiênico sanitário

dessas unidades, com contribuições para a sociedade e, consequentemente, para

o pedido de Indicação Geográfica da farinha de mandioca tipo Copioba.

105

5 AGRADECIMENTOS

Esse estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado da Bahia - FAPESB. Os autores agradecem aos produtores rurais,

vinculados à produção de farinha de mandioca nos municípios de Nazaré, São

Felipe e Maragojipe, que colaboraram com o preenchimento dos questionários e

apoio nas atividades, e ao grupo de pesquisa, que cooperou para o

desenvolvimento deste trabalho.

106

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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111

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve por propósito caracterizar a cadeia produtiva da

farinha de mandioca tipo Copioba, do Vale do Copioba, Bahia, na perspectiva dos

atores sociais, tecnologias empregadas e segurança de alimentos, como

contribuição ao processo de Indicação Geográfica (IG).

Os resultados permitiram evidenciar, de forma inconteste, que essa

cadeia produtiva traduz a inclusão de centenas de pessoas, sobretudo homens,

em trabalho de base familiar, revelando a importância econômica da atividade

para a manutenção de diversas famílias, destacadamente para as menos

favorecidas, haja vista que vários participantes eram beneficiários de programas

sociais.

Observou-se, ainda, a tradição do processo produtivo da farinha tipo

Copioba, preservada mais fortemente em alguns municípios, como Nazaré, ainda

que o advento da modernização que fosse realidade mais presente nos demais

municípios, na perspectiva de melhoria das condições de trabalho dos produtores,

em contraposição à rusticidade das condições de trabalho, das jornadas

desgastantes e do envolvimento do trabalho infantil.

Quanto à participação em organizações sociais de trabalho, verificou-se

um baixo engajamento dos produtores, quadro que restringe tanto os avanços nas

condições de trabalho e no acesso a apoio técnico para a produção no campo,

quanto a constituição do processo de IG para a farinha.

No que se refere à segurança de alimentos, os achados revelaram um

cenário crítico, com expressiva inadequação das casas de farinha e do processo

produtivo aos requisitos legais para alimentos, o que sinaliza a necessidade da

adoção das Boas Práticas de Produção, com atenção especial à adequação da

estrutura física e às atividades de capacitação para os produtores

(manipuladores). Nesse sentido, busca-se conciliar o atendimento às normas

112

vigentes mantendo o respeito ao caráter da produção artesanal e ao saber-fazer

secular, requeridos pela IG.

Ainda que apresente limitações, pelo recorte adotado, avalia-se que o

estudo contribui para ampliar o conhecimento sobre a produção da farinha de

mandioca tipo Copioba, no Vale do Copioba-BA, Brasil, um produto que descreve

participação histórica na formação da identidade alimentar local. Em adição,

observando a insuficiência de estudos sobre temática e as dimensões abordadas,

o trabalho constitui valiosa fonte científica, disponibilizada à sociedade, bem como

aos órgãos de fomento à cadeia, possibilitando a formulação política articulada à

realidade territorial.

Deste modo, o estudo sinaliza a necessidade de programas específicos

para valorizar e fortalecer essa cadeia produtiva, sobretudo a formação e a

organização social, visando contribuir para sua melhor estruturação e

sustentabilidade, para o pedido de IG e o para o desenvolvimento social.

113

APÊNDICES

114

APÊNDICE A

Questionário

semi-estruturado

115

Questionário Cadastro dos Produtores

das Casas de Farinha do Vale do Copioba Projeto da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia “QUALIDADE, IDENTIDADE E

NOTORIEDADE DA FARINHA DE MANDIOCA DE NAZARÉ DAS FARINHAS-BA: UMA CONTRIBUIÇÃO

A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA”, contemplado pelo Edital da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da

Bahia - Fapesb 021/2011. Data: / /2013

Nome do Entrevistador:_______________

N° _______

Hora inicio passagem: ___:___min, Hora fim passagem: ___:___min

Orientação de passagem: é recomendado ao entrevistador explicar que somos da

universidade do projeto de IG (cabe dizer um pouco do que é IG e de que a universidade

esta como facilitadora e auxilio técnico num projeto de interesse da comunidade). Assim

como que as informações serão usadas com o maior sigilo pela equipe do projeto no que se

trata da identidade, nomes e dados pessoais do entrevistado ou de pessoas mencionadas por

ele.

As informações são muito importantes, pois facilitam o conhecimento das pessoas em que

possamos nos apoiar, assim como embasam os argumentos sociais, e físico-químicos

necessários para o pedido da IG que trará benefícios para a região. O tempo médio

verificado em teste é de 40min.

Categoria do entrevistado

(1) Proprietário da casa de farinha

(2) Responsável pela produção (produção na casa de farinha de terceiros)

(3) Trabalhador na casa de farinha

1.Informações Gerais Sobre a Casa de Farinha

*como descrita pelo entrevistado

Q.1.3. Quando ou há quantos anos foi criada a casa de farinha? ______________

Q.1.4. Houve alguma melhoria desde então?

(01) Sim (02) Não

Q.1.5. Se sim, quais melhorias foram feitas na casa de farinha?

(01) aquisição de motor para moer (01) Sim (02) Não

(02) aquisição do motor no forno de torrar (01) Sim (02) Não

Q.1. Nome da Casa de Farinha:

Q.1.1. Endereço de casa de Farinha:

Q.1.2. Função na Casa de Farinha*:

116

(03)

outros__________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

Q.1.6. (Somente Proprietário ou responsável produção) Quantas pessoas trabalham na

casa de farinha hoje sobre sua responsabilidade?______

( ) Não se aplica

Q.1.7. As pessoas que trabalham com você são:

(01) da mesma família (01) Sim (02) Não

(02) da vizinhança (01) Sim (02) Não

(03) vêm de outros municípios para trabalhar aqui. (01) Sim (02) Não

Se de outros municípios,

citar:__________________________________________________

Q.1.8. As crianças ajudam nas atividades da casa de farinha?

(01) Sim (02) Não

Q.1.9. Como é feito o pagamento dos trabalhadores?

(01) até 5 kg de farinha/dia (01) Sim (02) Não

(02) até 10kg de farinha/dia (01) Sim (02) Não

(03) de 10 a 20 kg de farinha/dia (01) Sim (02) Não

(04) troca de favor (01) Sim (02) Não

(05) dinheiro (01) Sim (02) Não Quanto em reais por dia ___________

(06) Outros. Citar:__________________________________________

Q.1.10. (Somente Proprietário ou responsável produção) A casa de farinha é usada para

produção da farinha de mandioca de outro produtor? (‘locação’)

(01) Sim

(02) Não

(03) Não se aplica

Q.1.11. (Somente Proprietário ou responsável produção) Se sim, qual a parte da farinha

que é dada ao dono da casa de farinha pelo produtor?

(01) 5% da produção

(02) 15% da produção

(03) 20% da produção

(04) 25% da produção

(05) 30% da produção

(06) Outros

_________________________________________________________________

(07) Não se aplica

117

2.Participação em Organização ( cooperativa, associações ou sindicato)

Q.2.1. Você participa de alguma cooperativa, associação ou sindicato?

(01) Sim

(02) Não

Q.2.2 Qual ou quais e há quanto tempo? (descrever o nome das organizações – tempo de

participação)

Organização (nome e tipo) Há quanto tempo? N°

1 ________

2 ________

3 ________

( ) Não se aplica

Q.2.3 Pode me informar se a cooperativa/associação/sindicato tem registro no município?

(01) Sim (se mais de uma organização precisar quais pelos números

Q.2.2.:______________)

(02) Não

(03) Não sei informar

(04) Não se aplica

Q.2.4. Você assume alguma função/ responsabilidade na associação/cooperativa?

(01) Sim

(02) Não (passar para Q.2.6.) (03) Não se aplica

Q.2.5. Qual ou quais?

(descrever função/estrutura se houver mais de uma / atividades correspondentes)

Organização(associação/cooperativa) Função Atividade

1

2

(03) Não se aplica

Q.2.6. Pode me passar o contato de um dos líderes? (2 entradas para se houver mais de uma

organização, podendo ser preenchida por 2 líderes da mesma estrutura)

2.6.1

Nome1/estrutura:___________________________________________________________

__Telefone:_______________________Email:___________________________________

____

2.6.2

118

Nome2/estrutura:___________________________________________________________

__Telefone:________________________________________________________________

___Email:_________________________________________________________________

_____

(03) Não sei informar

(04) Não se aplica

3. Produção

Q.3. (Somente Proprietário ou responsável produção) Qual o tamanho da sua

propriedade rural? _______________ (numérico)

Precisar medida:( ) hectares

( ) tarefas

( ) Km²

( ) Não se aplica (em caso de responsáveis meeiros, ou outra categoria)

Matéria Prima:

Q.3.1. (Somente Proprietário) A casa de farinha ou seu proprietário produz mandioca?

(01) Sim

(02) Não

(03) Não sei informar

(04) Não se aplica

Q.3.2. (Somente Proprietário ou responsável produção) Se sim, qual a quantidade de

mandioca que você produz por mês? _______ (numérico)

Precisar medida: ( ) Kg , ( ) sacas, ( ) outros_____________

( ) Não se aplica

Q.3.3. (Somente Proprietário ou responsável produção) Qual o tipo da mandioca

produzida?

(01) corrente (01) sim (02) não

(02) cigana (01) sim (02) não

(03) outros ________________________________________________________________

(04) Não se aplica

Q.3.4. (Somente Proprietário ou responsável produção) Onde é produzida a mandioca?

(01) Vale do Copioba : São Felipe, Nazaré, Maragogipe.

(02) Região do Recôncavo baiano (descrever cidade(s) e

comunidade(s)_________________

(03) Outros (descrever cidade(s) e

comunidade(s)___________________________________

(04) Não se aplica

Q.3.5. (Somente Proprietário ou responsável produção) Em qual frequência ocorre o uso

da casa de farinha por produtores que não são proprietários?

119

(01) toda semana

(02) de quinze em quinze dias

(03) todo mês

(04) na maior parte dos meses do ano (mais de 6 meses)

(05) em alguns meses do ano (menos de 6 meses)

(06) Não se aplica

Q.3.6. (Somente Proprietário) Qual a quantidade de mandioca de terceiros (não

proprietários) processada por mês na casa de farinha? __________ (numérico)

Precisar medida: ( ) Kg , ( ) sacas, ( ) outros_____________

( ) Não se aplica

Q.3.6.1. (Somente Proprietário) Qual o tipo da mandioca produzida por terceiros?

(01) corrente (01) sim (02) não

(02) cigana (01) sim (02) não

(03) outros ________________________________________________________________

(04) Não sei informar

(05) Não se aplica

Q.3.7. (Somente Proprietário) Quando a casa de farinha é usada por terceiros, de onde

vem a mandioca?

(01) Vale do Copioba : São Felipe, Nazaré, Maragogipe.

(02) Região do Recôncavo baiano (descrever cidade(s) e

comunidade(s)__________________________________________________________

(03) Outros (descrever cidade(s) e

comunidade(s)___________________________________________________________

(04) Não sei informar

(05) Não se aplica

Equipamentos

Q.3.8. A casa de farinha possui:

(01) moedor manual em uso (01) sim (02) não

(02) moedor elétrico em uso (01) sim (02) não

(03) forno de torrefação de mandioca de barro em uso (01) sim (02) não

(04) forno de torrefação de mandioca elétrico (01) sim (02) não

(05) prensa da massa de mandioca artesanal em uso (01) sim (02) não

(06) prensa da massa de mandioca moderna em uso (01) sim (02) não

Q. 3.8.1 O forno de barro de torrefação de mandioca é usado para outros fins (bolos,

quitutes)

(01) sim (02) não (03) não se aplica

120

Processo de Produção

Q.3.9. Quanto tempo antes de moer a mandioca é feito a raspa (descasque) da mandioca?

(01) no mesmo dia

(02) um dia antes

(03) dois dias antes

(04) outros _______________________

Q.3.10. Onde fica armazenada a mandioca depois da raspa (descasque)?

(01) no chão, na casa de farinha mesmo

(02) no chão sobre lona

(03) reservatório de madeira ou plástico (cocho ou equivalente)

(04) outros, precisar _________________________________________________________

Q.3.11. A massa de mandioca fica quanto tempo na prensa?

(01) de 1 a 2 horas (01) sim (02) não

(02) de 2 a 3 horas (01) sim (02) não

(03) de 3 a 6 horas (01) sim (02) não

(04) até 1 dia (01) sim (02) não

(05) até 2 dias (01) sim (02) não

(06) outros ____________________________________

Q.3.12. (Somente Proprietário ou responsável produção) Quantos dias a casa de farinha

funciona no mês, em média?

(01) todos os dias da semana

(02) dois dias na semana

(03) mais de três dias da semana

(04) menos de dois dias na semana

(05) de quinze em quinze dias

(06) uma vez por mês

(07) outros _____________________________________

(08) Não se aplica

Q.3.13. (Somente Proprietário ou responsável produção) Quantas sacas de farinha de

mandioca você produz por dia de atividade na casa de farinha, em média? ________

(02) Não se aplica

Q.3.14. (Somente Proprietário ou responsável produção) Quantas sacas de farinha de

mandioca você produz por mês, em média? ________________

(02) Não se aplica

Comercialização

Q.3.15. Você sabe onde é vendida a farinha produzida aqui?

(01) Sim (02) Não

121

Q.3.16. Para quem vende a farinha produzida? (múltiplas respostas)

(01) diretamente na cidade (feira e/ou quermesse/bar da propriedade) (01) Sim (02) Não

(02) para compradores conhecidos que revendem na feira (01) Sim (02) Não

(03) para compradores conhecidos que revendem em outras cidades (01) Sim (02) Não

(04) para compradores desconhecidos (01) Sim (02) Não

(05) outros ________________________________________________________________

Q.3.17. (Somente Proprietário ou responsável produção) Para que cidades escoam-se

com mais frequência a produção de farinha de mandioca? Em que volume ?

Cidade por ordem da mais importante a menos Peso médio/mês em sacas de farinha

1

2

3

4

( ) Não sei informar ( ) Não se aplica

( ) Não sei informar a quantidade

Q.3.18. (Somente Proprietário ou responsável produção) Existem compradores fieis

estabelecidos? Compram que volume?

Nome do responsável e ordem de importância Peso médio/mês em sacas

de farinha

1

2

3

4

( ) Não sei informar ( ) Não se aplica

Q.3.19. Como é feito o transporte para a venda?

(01) Caminhão dos compradores ‘eles vem buscar aqui’ (01) Sim (02) Não

(02) alugando caminhão ou carreto (01) Sim (02) Não

(03) em caminhão ou carreto de vizinhos (01) Sim (02) Não

(04) em caminhão ou carreto da associação (01) Sim (02) Não

(05) em caminhão ou carreto próprio (01) Sim (02) Não

(06) através de animais de carga (01) Sim (02) Não

(07) carro de linha – pau-de-arara (01) Sim (02) Não

(08) outros

__________________________________________________________________

Q.3.20. (Somente Proprietário ou responsável produção) Qual o lucro que a produção de

farinha lhe proporciona por mês (em reais)?_______________( ) Não se aplica

4. Trabalho

Q.4.1. Você trabalha na casa de farinha desde quando? (anos) _______

122

Q.4.1.1. Como você se sente realizando este trabalho?

(01) Satisfeito (02) Insatisfeito (03)Bem (04) Infeliz (05) Indiferente

(06) Outros _______________________________________

Q.4.2. Quantas horas você trabalha na casa de farinha por dia em média? _________

(aproximação jornada)

Q.4.3. Você tem intervalos de descanso?

(01) Na hora do almoço. (01)Sim (02)Não

(02) Na hora do lanche. (01)Sim (02)Não

(03) não descanso

Q.4.4. Quanto tempo de descanso você tem em média por dia?______ (minuto/ hora

precisar)

Q.4.5. Você trabalha:

(01) aos sábados (01)Sim (02)Não

(02) nos domingos (01)Sim (02)Não

(03) em feriados (01)Sim (02)Não

Questões Somente para Trabalhadores (ST)

Q.4.6. ST - Recebe algum beneficio por hora extra

(01) Sim (quanto em Kg farinha:__________________________________)

(02) Não

(03) Não se aplica

Q.4.7. ST - Recebe algum beneficio por domingos e/ou feriados trabalhados?

(01) Sim (quanto em Kg farinha:__________________________________)

(02) Não

(03) Não se aplica

Q.4.8. ST - A casa de farinha lhe dá benefícios em alimentação?

(01) Sim (02) Não (03) Não se aplica

Q.4.9. ST - Se sim, quais são os benefícios em alimentação?

(01) Alimentação no local – refeição (01)Sim (02)Não

(02) Alimentação em no local – lanche – beiju, bolos e quitutes (01)Sim (02)Não

(03) Outros (precise qual/quais:

_______________________________________________

________________________________________________________________________)

(04) Não se aplica

Volta questões a todas as categorias

123

Q.4.10. Você trabalha na produção de alimentos somente para os moradores de sua casa?

(subsistência)

(01) Sim (02) Não

Q.4.10.1. Se sim, especificar o tipo de produção:

(01) plantação (01) Sim (02) Não

(02) criação de animais (01) Sim (02) Não

Q.4.11. Que outras atividades geradoras de renda você exerce?

(01) Produção agrícola em propriedade de terceiros para venda (meeiro) (01) Sim (02) Não

(02) Produção agrícola própria para venda (01) Sim (02) Não

(03) Criação de animais para venda (01) Sim (02) Não

(04) Produção de licores e cachaça para venda (01) Sim (02) Não

(05) Produção bolos e quitutes da mandioca para venda (01) Sim (02) Não

(06) Trabalho em bar e/ou quermesse (01) Sim (02) Não

(07) Trabalha no transporte dos produtos agrícolas (01) Sim (02) Não

(08) Outros _____________________________________________________________

________________________________________________________________________

(09) Nenhuma

Q.4.12.1. Quando se dedica à(s) outra(s) atividade(s) geradora(s) de renda, além da casa de

farinha?

(01) Regularmente, quando a casa de farinha esta parada. (01) Sim (02) Não

(02) Um pouco todo dia de manhã ou à noite. (01) Sim (02) Não

(03) Intensamente todo dia de manhã ou à noite. (01) Sim (02) Não

(04) Alguns dias de manhã ou à noite. (01) Sim (02) Não

(05) Nos fins de semana e feriados. (01) Sim (02) Não

(06) Não se aplica.

Q.4.12.2. Qual atividade profissional representa maior parte de seu sustento? (responder por

ordem numérica da mais importante para a menos importante)

1_________________________________

2_________________________________

3_________________________________

Q.4.12.3. Possui renda de programas sociais?

(01) Aposentadoria ou pensão de instituto de previdência oficial (federal, estadual ou

municipal)? (01) sim (02) não

(02) Programa social bolsa-família? (01) sim (02) não

(03) Programa social de erradicação do trabalho infantil - PETI? (01) sim (02) não

(04) Programa de Aquisição de Alimentos – PAA? (01) sim (02) não

(05) Outros programas sociais ou de transferências, precisar:

_______________________

(06) Não possuo renda de nenhum programa social ou de transferência do governo.

124

Q.4.12.4. A renda mensal que tira das outras atividades fora a produção de farinha é:

(trabalho paralelo e programa social)

Faixa de Salário mínimo ____ em salário

(00) Sem renda

(01)Menos de um salario mínimo ( < RS622,00)

(02)Um salario mínimo (RS622,00)

(03)De um até dois salários mínimos ( RS622 < 1244 )

(04)De dois até três salários mínimos ( RS 1244 < 1866 )

(05)De três até cinco salários mínimos ( RS 1866 < 3110)

(06)De cinco a dez salários mínimos ( RS3110 < 6220 )

(07)Mais de dez salários mínimos (RS6220<)

Q.4.13. Já houve cursos de capacitação ou treinamento para melhora e controle da produção

da farinha?

(01) sim (02) não

Q.4.13.1. Já houve cursos de capacitação ou treinamento para melhora e controle da

produção de mandioca?

(01) Sim (02) Não

(03) Houve, porém não participei. Por quê? __________________________________

Q.4.13.2. Quem ofereceu os cursos?

(01) O município (01) Sim (02) Não (02) A Embrapa (01) Sim (02) Não

(03) O sindicato (01) Sim (02) Não (04) EBDA (01) Sim (02) Não

(05)

Outros__________________________________________________________________

(06) Não se aplica

Q.4.13.3. Houve alguma mudança depois do curso?

(01) sim, citar

1-

_________________________________________________________________________

2-

_________________________________________________________________________

(02) não, por que? ____________________________________________________

____________________________________________________________________

(03) Não se aplica

5. Moradia

Q.5.1. O domicílio de residência é:

(01) próprio – já pago

(02) próprio – ainda pagando

125

(03) alugado - valor do aluguel R$ _______,00

(04) cedido por empregador

(05) cedido de outra pessoa

(06) outra condição_____________________________________________

Q.5.2. Quantos cômodos existem neste domicílio? _______

(inclusive banheiro e cozinha, não considere como cômodo: corredores, varandas abertas,

garagem e outros compartimentos para fins não residenciais).

Q.5.3. Quantos cômodos servem de dormitório (quartos) para os moradores? _______

Q.5.4. Existe banheiro neste domicílio?

(01) Sim

(02) Não

Q.5.4.1. Quantos banheiros?_______

Q.5.4.2. O esgoto do banheiro ou sanitário é jogado em:

(01) Rede geral de esgoto ou pluvial (01) sim (02) não

(02) Fossa (01) sim (02) não

(03) Vala (01) sim (02) não

(04) Céu aberto (01) sim (02) não

(05) Rio, lago ou mar (01) sim (02) não

Q.5.5. A forma de abastecimento de água utilizada neste domicílio é:

(01) Rede geral de distribuição (01) Sim (02) Não

(02) Poço ou nascente na propriedade (01) Sim (02) Não

(03) Poço ou nascente fora da propriedade (01) Sim (02) Não

(04) Carro-pipa (01) Sim (02) Não

(05) Agua da chuva armazenada em cisterna (01) Sim (02) Não

(06) Agua da chuva armazenada de outra forma (01) Sim (02) Não

(07) Rios, açudes, lagos e igarapés (01) Sim (02) Não

(08) Outra__________________________

Q.5.6. O domicilio tem água tratada pelo sistema público?

(01) Sim (02) Não

Q.5.6.1. Desde quando? _____/______ (mês ano) (02) Não se aplica

Q.5.6.2. Neste domicílio existe água encanada? (01) Sim (02) Não

Q.5.7. O lixo deste domicílio é:

(01) Coletado diretamente por serviço de limpeza (01) Sim (02) Não

(02) Queimado (na propriedade) (01) Sim (02) Não

126

(03) Enterrado (na propriedade) (01) Sim (02) Não

(04) Jogado em terreno baldio ou logradouro (01) Sim (02) Não

(05) Jogado em rio, lago ou mar (01) Sim (02) Não

(06) Tem outro destino (01) Sim (02) Não

Se sim, em que

______________________________________________________________

Q.5.8. Existe energia elétrica no domicílio?

(01) De companhia distribuidora (01)Sim (02)Não

(02) Gato (01) Sim (02) Não

(03) De outras fontes (01) Sim (02) Não

(03) Não há energia elétrica

Q.5.8.1. Existe medidor de energia ou relógio no domicílio?

(01) Sim, de uso exclusivo

(02) Sim, de uso comum

(03) Não tem medidor ou relógio

(04) Não se aplica

Q.5.9. Neste domicílio existe:

6.9.1. Rádio? (01) Sim (02) Não

6.9.2. Televisão? (01) Sim (02) Não

6.9.3. Máq. de lavar roupa? (01) Sim (02) Não

6.9.4. Geladeira? (01) Sim (02) não

6.9.5. Telefone celular? (01) Sim (02) Não

6.9.6. Telefone fixo? (01) Sim (02) Não

6.9.7. Computador? (01) Sim (02) Não

6.9.8. Acesso à internet? (01) Sim (02) Não

6.9.9. Motocicleta para uso particular? (01) Sim (02) Não

6.9.10. Automóvel para uso particular? (01) Sim (02) Não

6. Saúde e cidadania

Q.6.1. Você tem algum problema de saúde?

(01) Sim (02) Não

Q.6.1.1 Se sim, qual problema de saúde?

(01) Pressão alta (01) Sim (02) Não

(02) Verminose (01) Sim (02) Não

(03) Diabetes (01) Sim (02) Não

(04) Colesterol/triglicérides (01) Sim (02) Não

(05) Doença de chagas (01) Sim (02) Não

(06) Outros ____________________________________________________________

(07) Não se aplica

127

Q.6.2. Quando tem necessidade de serviço de saúde, onde procura?

(01) Hospital (01) Sim (02) Não

(02) Unidade de saúde (01) Sim (02) Não

(03) Farmácia (01) Sim (02) Não

(04) Benzedeira (01) Sim (02) Não

(05) Outros _______________________________________________________________

Q.6.2.1 Como faz para chegar ao serviço de saúde?

(01) A pé, caminhando (01) Sim (02) Não

(02) através de animais de carga (01) Sim (02) Não

(03) em veículo de vizinhos (01) Sim (02) Não

(04) em veículo próprio (01) Sim (02) Não

(05) carro de linha (01) Sim (02) Não

(06) outros ______________________________________________________________

Q.6.2.2. Que motivos lhe fazem desistir de procurar o serviço de saúde?

(01) distância (01) Sim (02) Não

(02) falta de transporte (01) Sim (02) Não

(03) falta de tempo (01) Sim (02) Não

(04) falta de dinheiro (01) Sim (02) Não

(05) outros

__________________________________________________________________

Q.6.3. Existem ações ou programas de prevenção em saúde desenvolvidos na comunidade?

(01) Campanhas educacionais (01) Sim (02) Não

(02) Campanhas de vacinação (01) Sim (02) Não

(03) Visitas de agente comunitário de saúde (01) Sim (02) Não

(04) Visitas de equipe de saúde (01) Sim (02) Não

(05) Campanha de saúde bucal (01) Sim (02) Não

Q.6.4. Quais dos problemas seguintes existem na comunidade?

(01) Alcoolismo (01) Sim (02) Não

(02) uso de drogas (01) Sim (02) Não

(03) violência contra mulher? (01) Sim (02) Não

(04) prostituição (01) Sim (02) Não

(05) prostituição infantil (01) Sim (02) Não

(06) abuso sexual de crianças e adolescentes (01) Sim (02) Não

(07) outros_______________________________________________

7. Informações pessoais

Q.7.1. Nome:

Q.7.2. Data de nascimento: ____/___/______ Idade: _____

Q.7.3: Cidade-Estado de nascimento: ________________-____________

Q.7.4. Sexo: (01) Feminino (02) Masculino

128

Q.7.5. Estado civil: (01) Solteiro (02) Casado (03) Divorciado

(04) Separado (05) Viúvo (06) União Estável

Q.7.6. O Sr/Sra. é o responsável pelo domicílio/chefe de família? (01) Sim (02) Não

Q.7.7. Qual sua escolaridade?

(01) Sem alfabetização (07) Ensino Técnico Completo

(02) Apenas alfabetizado (08) Ensino Superior Incompleto

(03) Ensino Fundamental Incompleto (09) Ensino Superior Completo

(04) Ensino Fundamental Completo (10) Curso de pós graduação

(05) Ensino Médio Incompleto (11) Curso de Especialização

(06) Ensino Médio Completo

Q.7.7. Endereço de residência:

Q.7.8. Telefone (fixo):

Q.7.9. Celular:

Q.7.10. Email:

Q.7.11. Nasceu neste município?

(01) sim e sempre morou (ir para Q.7.13.)

(02) sim, mas morou em outro município.

(03) não (segue Q8.12.)

Q. 7.12. Há quanto tempo mora no local?

Q.7.13. Que profissões exerceu antes do trabalho na casa de farinha?

8. Composição da família e agregados residentes

(tabela a ser preenchida com dados e códigos numéricos estabelecidos)

N° Q.8.1.

Nome

Habitantes

(não o

entrevistado)

Q.8.2. Código

de relação

com

entrevistado3

Q.8.3.

Cidade/

estado

de

nascime

nto

Q.8.4.

Idade

Q.8.5.

Código

Escolaridad

e4

Q.8.6.

Sexo

(01) F

(02)M

Q.8.7.

Principal

profissão

que

exerce/

exerceu

(ativo/

antes

aposentar)

Q.8.8.

Trabalho

na da

casa de

farinha

(01) sim

(02) não

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

129

11

12

13

14

15

Q.8.9. Qual a renda da geral da família? _____

Faixa de Salario

(00) Sem renda

(01)Menos de um salario mínimo ( < RS622,00)

(02)Um salario mínimo (RS622,00)

(03)De um até dois salários mínimos ( RS622 < 1244 )

(04)De dois até três salários mínimos ( RS 1244 < 1866 )

(05)De três até cinco salários mínimos ( RS 1866 < 3110)

(06)De cinco a dez salários mínimos ( RS3110 < 6220 )

(07)Mais de dez salários mínimos (RS6220<)

1Q.8.2. Qual é a relação de parentesco ou de convivência?

(01) pessoa responsável pelo domicílio

(se não for o entrevistado)

(02) cônjuge ou companheiro(a) de sexo

diferente

(03) cônjuge ou companheiro(a) do mesmo

sexo

(04) filho(a) do responsável e do cônjuge

(05) filho(a) somente do responsável (06) enteado(a)

(07) genro ou nora (08) pai, mãe, padrasto ou madrasta

(09) sogro(a) (10) neto(a)

(11) bisneto(a) (12) irmão ou irmã

(13) avô ou avó (14) outro parente

(15) agregado(a) (16) convivente

(17) pensionista (18) empregado(a) doméstico(a)

(19) parente do(a) empregado(a) doméstico(a) (20) individual em domicílio coletivo

²Q.8.5.Qual o nível de escolaridade da pessoa em questão? (e Q.9.5.)

(01) Sem alfabetização (07) Ensino Técnico Completo

(02) Apenas alfabetizado (08) Ensino Superior Incompleto

(03) Ensino Fundamental Incompleto (09) Ensino Superior Completo

(04) Ensino Fundamental Completo (10) Curso de pós graduação

(05) Ensino Médio Incompleto (11) Curso de Especialização

(06) Ensino Médio Completo

9.Composição da família de origem

(informações dos pais e irmãos não residentes na mesma casa - tabela a ser preenchida com

e código de escolaridade acima)

130

Q.9.1.

Nome

Q.9.2.

Relação

com

entrevistado

Q.9.3.

Cidade/

estado de

nascimento

Q.9.4.

Idade

Q.9.5.

Código

Escolaridade²

Q.9.6.

Sexo

(01) F

(02)M

Q.9.7.

Principal

profissão

que

exerce/

exerceu

(ativo/

antes

aposentar)

Q.9.8.

Trabalho

na

produção

de

farinha

(01) sim

(02) não

Q.9.3.

Cidade/

Estado de

residência

Pai

Mãe

Irmão1

Irmão2

Irmão3

Irmão4

Irmão5

Irmão6

Irmão7

Irmão8

Irmão9

Irmão10

Filho1

Filho2

Filho3

Filho4

Filho5

Filho6

Filho7

Filho8

Filho9

Filho10

Modo de passagem: (a descrever após entrevista pelo entrevistador, como se comportou o

entrevistado e outras informações que possam ter sido objeto de conversa informal e

facilitar contato de qualquer membro do projeto com o entrevistado)

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

131

APÊNCICE B

Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido - TCLE

132

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A Universidade Federal da Bahia, cumprindo seus objetivos institucionais, está

desenvolvendo o projeto de pesquisa “QUALIDADE, IDENTIDADE E NOTORIEDADE

DA FARINHA DE MANDIOCA DE NAZARÉ DAS FARINHAS-BA: UMA

CONTRIBUIÇÃO A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA.”, com objetivo de contribuir para

constituição do processo de Indicação Geográfica (IG) para farinhas de mandioca

produzidas em Nazaré (BA), a partir da caracterização e identificação do produto e/ou

processo, da correlação destes dados com parâmetros geográficos e humanos da região

produtora, e da orientação os atores sociais envolvidos no encaminhamento do processo

de IG.

Considerando a sua condição de produtor/trabalhador da cadeia produtiva de farinha

de mandioca, solicitamos a sua contribuição, pela concordância com o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido aqui apresentado e participação em uma entrevista.

Caso tenha qualquer dúvida, solicite esclarecimentos ao entrevistador, e/ou à

Coordenação do projeto – Profa. Ryzia de Cassia Vieira Cardoso, Escola de Nutrição, R.

Araújo Pinho, 32 – Canela, Salvador - Telefone: (71) 3283-7700/7695 / e-mail:

[email protected], ou ao Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Climério de Oliveira,

R. do Limoeiro, 137, Nazaré- Salvador, CEP: 40055-150 - Telefone (71) 3283-9275 / e-

mail: [email protected]. As informações obtidas serão mantidas em sigilo e você pode,

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE NUTRIÇÃO / FACULDADE DE FARMÁCIA

NÚCLÉO DE INOVAÇÂO TECNOLÓGICA

133

a qualquer momento, desistir de participar da pesquisa, não havendo nenhum prejuízo a

sua pessoa. Na certeza de podermos contar com esta importante colaboração,

agradecemos.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu,___________________________________________________________________R

G _________________, declaro ter sido informado (a) e estar devidamente esclarecido

(a) sobre os objetivos e intenções deste estudo que é contribuir para constituição do

processo de Indicação Geográfica (IG) para farinhas de mandioca produzidas em Nazaré

(BA), a partir da caracterização e identificação do produto e/ou processo, da correlação

destes dados com parâmetros geográficos e humanos da região produtora, e da

orientação os atores sociais envolvidos no encaminhamento do processo de IG, e que a

pesquisa inclui uma entrevista da qual estarei participando. Recebi garantia total de sigilo

e de obter esclarecimentos sempre que o desejar. Sei que minha participação está livre

de despesas. Concordo participar voluntariamente deste estudo e sei que posso retirar

meu consentimento a qualquer momento, sem prejuízo ou perda de qualquer natureza.

Assinatura: ___________________________________________________

Salvador, _____ de ____________________ de 201__

Impressão

digital para não

assinantes

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE NUTRIÇÃO / FACULDADE DE FARMÁCIA

NUCLÉO DE INOVAÇÂO TECNOLÓGICA - NIT

134

PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Eu, Ryzia de Cassia Vieira Cardoso, responsável pelo projeto, ou o meu representante

declaramos que obtivemos espontaneamente o consentimento deste participante para

realizar este estudo.

Assinatura ___________________________________ ____/ ____/ _______

135

ANEXO A

Ficha de Inspeção de

Estabelecimentos na Área

de Alimentos (FIEAA)

136

ANEXO A

FIEAA - FICHA DE INSPEÇÃO DE ESTABELECIMENTOS NA ÁREA DE ALIMENTOS

(CVS- Resolução SS-196, de 29-12-98) – ADAPTADA

FONTE: Guia de Verificação do Sistema APPCC - Programa Alimentos Seguros (PAS), 2000. (Série Qualidade e Segurança Alimentar- Projeto APPCC Indústria).

FICHA Nº ________ DATA__|____|____|__ PARTE A – IDENTIFICAÇÃO 1- Endereço:____________________________________

2-Município:____________________________________

3- Tipo de Estabelecimento:_________________4- Nome do proprietário:_______________

5- Nº de funcionários:________ 6- Femininos: _______ Masculinos:________

7. Quantidade de produção / semana (sacos de farinha): ____________ PARTE B – AVALIAÇÃO

ITEM/QUESTÃO DESCRIÇÃO PONTUAÇÃO

1 SITUAÇÃO E CONDIÇÕES DA EDIFICAÇÃO

1.1 Localização adequada: área livre de focos de insalubridade. Ausência de lixo, objetos em desuso, animais, insetos e roedores, na área externa e vizinhança.

S N NA (2)(0)(2)

1.2 Acesso adequado: direto e independente. Não comum a outros usos (habitação).

S N NA (2)(0)(2)

1.3 Pisos adequados:

1.3.1 Material liso, resistente, impermeável, de fácil limpeza e em bom estado de conservação (livre de defeitos, rachaduras, trincas, buracos).

S N NA (1)(0)(1)

1.3.2 Em perfeitas condições de limpeza. S N NA

(1)(0)(1)

1.4 Forros/tetos adequados:

1.4.1 Acabamento liso, impermeável, lavável, em cor clara e em bom estado de conservação (livre de trincas, rachaduras, umidade, bolor, descascamentos).

S N NA (1)(0)(1)

1.4.2 Em perfeitas condições de limpeza. S N NA

(1)(0)(1)

137

1.5 Paredes/divisórias adequadas:

1.5.1 Acabamento liso, impermeável, lavável, em cores claras e em bom estado de conservação (livre de falhas, rachaduras, umidade, bolor, descascamentos).

S N NA (1)(0)(1)

1.5.2 Em perfeitas condições de limpeza. S N NA

(1)(0)(1)

1.6 Portas e janelas adequadas:

1.6.1 Com superfície lisa, fácil limpeza em bom estado de conservação (ajustadas aos batentes, sem falhas de revestimentos e limpas).

S N NA (1)(0)(1)

ITEM/QUESTÃO DESCRIÇÃO PONTUAÇÃO

1.7 Existência de proteção contra insetos e roedores: todas aberturas teladas (telas milimétricas), portas com mola e proteção inferior, ralos com sifão e proteção.

S N NA (4)(0)(4)

1.8 Iluminação adequada a atividade desenvolvida, sem ofuscamento, reflexos fortes, sombras e contrastes excessivos. Luminárias limpas e em bom estado de conservação.

S N NA (1)(0)(1)

1.9 Ventilação adequada, garantindo o conforto térmico e ambiente livre de fungos, bolores, gases, fumaças e condensação de vapores.

S N NA (1)(0)(1)

1.10 Instalações sanitárias adequadas:

1.10.1

Separadas por sexo, com vasos sanitários, mictórios e lavatórios em número suficiente, servidos de água corrente e conectados à rede de esgotos ou fossa aprovada. Pisos, paredes, forros, iluminação e ventilação, portas e janelas adequadas, e em bom estado de conservação. Sem comunicação direta com áreas de trabalho e de refeições.

S N NA (2)(0)(2)

1.10.2 Em perfeitas condições de higiene e limpeza. Dotadas de produtos adequados à higienização das mãos – sabão, toalhas descartáveis ou outro sistema adequado para secagem.

S N NA (4)(0)(4)

1.11 Vestiários adequados:

1.11.1

Separados por sexo, dotados de antecâmara, área compatível e 1 (um) armário por funcionário, duchas ou chuveiros em número suficiente, com água fria e quente, pisos, paredes, forros, iluminação e ventilação, portas e janelas adequadas e em bom estado de conservação.

S N NA (1)(0)(1)

1.11.2 Em perfeitas condições de limpeza e organização dotados de produtos adequados à higiene pessoal.

S N NA (2)(0)(2)

1.12 Lavatórios na área de manipulação:

1.12.1 Existência de lavatórios com água corrente, em posição estratégica, em relação ao fluxo de produção e serviço.

S N NA (2)(0)(2)

1.12.2 Em perfeitas condições de higiene e limpeza. Dotado de sabão, escovas para mãos, desinfetantes, toalhas descartáveis ou outro sistema adequado para secagem.

S N NA (4)(0)(4)

1.13 Abastecimento de água potável. Ligado à rede pública ou com potabilidade atestada através de laudo oficial (validade 6 meses).

S N NA (8)(0)(8)

1.14 Caixa d’água e instalações hidráulicas:

1.14.1 Com volume e pressão adequada. Dotada de tampa e em perfeitas condições de uso – livre de vazamento, infiltração, descascamentos.

S N NA (4)(0)(4)

1.14.2 Em perfeitas condições de higiene e limpeza. Livre de resíduos na superfície ou depositados. Execução de limpeza periódica (6 meses).

S N NA ( 8 ) ( 0 ) (8 )

138

1.15 Destino adequados dos resíduos:

1.15.1 Lixo doméstico no interior do estabelecimento em recipientes tampados, limpos e higienizados constantemente, e adequadamente armazenado para coleta.

S N NA (4 ) ( 0 ) ( 4 )

1.15.2 Outros resíduos (sólidos e gasosos) adequadamente tratados e lançados sem causar incômodo à vizinhança e ao meio ambiente.

S N NA (2)(0)(2)

ITEM/QUESTÃO DESCRIÇÃO PONTUAÇÃO

1.16 Local apropriado para limpeza e desinfecção de equipa-mentos e utensílios, dotado de água quente e produtos adequados, e isolados das áreas de processamento.

S N NA (2)(0)(2)

TOTAIS TS1( ) TNA( )

PB1 – Pontuação do bloco 1 TS1 – Somatória das notas SIM obtidas TNA1 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K1 = 60 (Constante no bloco 1) P1 = 10 (Peso do bloco)

¦S1____ PB1 = X P1

K1-¦NA1

PB1 = ___________ x P1 60 -

PB1 =

2 EQUIPAMENTOS E UTENSÍLIOS 2.1 Equipamentos/maquinários adequados:

2.1.1 Equipamentos dotados de superfície lisa de fácil limpeza e desinfecção. Em bom estado de conservação e funciona-mento.

S N NA (2)(0)(2)

2.1.2 Em perfeitas condições de limpeza. S N NA

(4)(0)(4)

2.2 Utensílios adequados:

2.2.1 Utensílios lisos, em material não contaminante, de tamanho e forma permitam fácil limpeza. Em bom estado de conservação.

S N NA (2)(0)(2)

2.2.2 Em perfeitas condições de limpeza. S N NA

(4)(0)(4)

2.3 Móveis (Mesas, bancadas, vitrines, etc...)

2.3.1 Em número suficiente, de material resistente, liso e impermeável, com superfícies íntegras (sem rugosidade e frestas). Em bom estado de conservação.

S N NA (2)(0)(2)

2.3.2 Em perfeitas condições de limpeza. S N NA

(4)(0)(4)

2.4 Equipamentos para proteção e conservação sob refrigeração adequados:

2.4.1 Equipamentos com capacidade adequada com elementos e superfícies lisas, impermeáveis e resistentes. Com termômetro e em bom estado de conservação e funciona-mento.

S N NA (8)(0)(8)

2.4.2 Em perfeitas condições de limpeza. S N NA

(8)(0)(8)

139

2.5 Limpeza e desinfecção adequadas:

2.5.1 Utilização de água quente, detergente e desinfetantes registrados no Ministério da Saúde.

S N NA (8)(0)(8)

2.6 Armazenamentos de utensílios e equipamentos em local apropriado, de forma ordenada e protegidos de contaminação.

S N NA (8)(0)(8)

TOTAIS TS2 ( ) TNA2 ( )

PB2 – Pontuação do bloco 2 TS2 – Somatória das notas SIM obtidas TNA2 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K2 = 50 (Constante no bloco 2) P2 = 15 (Peso do bloco 2)

PB2 = ¦S2____ X P2

K2-¦NA2

PB2 = ___________ x 15 50 -

PB2 =

3 PESSOAL NA ÁREA DE PRODUÇÃO/MANIPULAÇÃO/VENDA:

3.1 Roupas adequadas:

3.1.1 Utilização de aventais fechados ou macacões de cor clara, sapatos fechados e gorros que contenham todo o cabelo, em bom estado de conservação.

S N NA (2)(0)(2)

3.1.2 Rigorosamente limpos. S N NA

(8)(0)(8)

3.2 Asseio pessoal adequado. Boa apresentação, asseio corporal, mãos limpas, unhas curtas, sem esmalte, sem adornos (dedos, pulso e pescoço)

S N NA (8)(0)(8)

3.3

Hábitos higiênicos adequados. Lavagem cuidadosa das mãos antes da manipulação de alimentos e depois do uso de sanitário. Não espirrar sobre alimentos, não cuspir, não tossir, não fumar, não manipular dinheiro, não executar ato físico que possa contaminar o alimento.

S N NA (4)(0)(4)

3.4 Estado de saúde controlado:

3.4.1 Ausência de afecções cutâneas, feridas e supurações, ausência de sintomas de infecção respiratória, gastrointestinais.

S N NA (8)(0)(8)

3.4.2 Realização de exames periódicos. S N NA

(2)(0)(2)

140

TOTAIS TS3 ( ) TNA3 ( )

PB3 – Pontuação do bloco 3 TS3 – Somatória das notas SIM obtidas TNA3 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K3 = 32 (Constante no bloco 3) P3 = 25 (Peso do bloco 3)

PB3 = ¦S3_____ X P3

K3-¦NA3

PB3 = ___________ x 25 32 -

PB3 =

4 MATÉRIAS-PRIMAS/PRODUTOS EXPOSTOS À VENDA:

4.1

Procedência controlada: matérias-primas e/ou produtos expostos à venda provenientes de fornecedores autorizados; embalagens, rótulos e explicações regulamentadas, registradas no Ministério da Saúde e/ou Ministério da Agricultura.

S N NA (4)(0)(4)

4.2 Características organolépticas normais: alimentos e matérias-primas com cor, sabor, odor, consistência e aspectos sem alteração.

S N NA (8)(0)(8)

4.3 Conservação adequada: condições de tempo e temperatura de conservação das matérias-primas e/ou produtos ex-postos à venda que garantam a não alteração dos mesmos.

S N NA (4)(0)(4)

4.4 Empacotamento e identificação adequadas: embalagens íntegras e identificação visível. Prazo de validade respeitado.

S N NA (8)(0)(8)

TOTAIS TS4 ( ) TNA4 ( ) PB4 – Pontuação do bloco 4

TS4 – Somatória das notas SIM obtidas TNA4 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K4 = 24 (Constante no bloco 4) P4 = 20 (Peso do bloco 4)

¦S4_____ PB4 = X P4

K4-¦NA4

PB4 = ___________ x 20 24 -

PB4 =

141

5 FLUXO DE PRODUÇÃO / MANIPULAÇÃO/ VENDA E CONTROLE DE QUALIDADE: 5.1 Fluxo adequado:

5.1.1 Fluxo linear de 1 (um) só sentido, evitando a contaminação cruzada. Locais para pré-preparo (“área suja”) e preparo (“área limpa”) isolados (a separação física e necessária em estabelecimentos com grande produção).

S N NA (4)(0)(4)

5.1.2 Manipulação mínima e higiênica. S N NA

(8)(0)(8)

5.2 Proteção contra contaminação:

5.2.1 Alimentos protegidos contra pó, saliva, insetos e roedores. S N NA

(4)(0)(4)

5.2.2 Substâncias perigosas como inseticidas, detergentes e desinfetantes, identificadas, armazenadas e utilizadas de formas a evitar a contaminação.

S N NA (4)(0)(4)

5.3 Armazenamento adequado:

5.3.1 Alimentos perecíveis mantidos à temperatura de congelamento (-15º C), refrigeração a (2 a 10º C), ou acima de 65º C de acordo com o produto.

S N NA (8)(0)(8)

5.3.2 Alimentos armazenados separados por tipo ou grupo; sobre estrados ou prateleiras adequadas; ausência de material estranho, estragado ou tóxico; em local limpo e conservado.

S N NA (4)(0)(4)

5.4 Eliminação imediata das sobras de alimentos. S N NA

(4)(0)(4)

5.5 Características organolépticas normais do produto acabado/produtos expostos à venda: cor, odor, consistência e aspecto sem alterações.

S N NA ( 4 ) (0 ) ( 4 )

5.6 Empacotamento e identificação adequada do produto acabado/produtos expostos a venda:

5.6.1 Embalagens íntegras com identificação visível (nome do produto, nome do fabricante, endereço, nº de registro, prazo de validade).

S N NA (2)(0)(2)

5.6.2 Dizeres de rotulagem de acordo com o aprovado. S N NA

(1)(0)(1)

5.7 Controle de qualidade adequado na matéria-prima, do produto acabado e dos produtos expostos à venda.

S N NA (4)(0)(4)

5.8 Pessoal qualificado: pessoal devidamente treinado para a atividade. S N NA

(2)(0)(2)

5.9 Análise laboratorial com freqüência adequada: todos os lotes produzidos no estabelecimento devem ser analisados.

S N NA (2)(0)(2)

5.10 Transporte adequado, protegido e limpo. S N NA

(2)(0)(2)

TOTAIS TS5 ( ) TNA5 ( )

142

PB5 – Pontuação do bloco 5 TS5 – Somatória das notas SIM obtidas TNA5 – Somatória das notas não aplicáveis obtidas K5 = 53 (Constante no bloco 5) P5 = 30 (Peso do bloco 5)

PB5 = ___¦S5____ X P5 PB5 =

K5-¦NA5

PB5 = ___________ x 30 53 -

PARTE C – PONTUAÇÃO DO ESTABELECIMENTO

PE = PB1 + PB2 + PB3 + PB4 + PB5

PE = + + + + =

PONTUAÇÃO CLASSIFICAÇÃO

91 – 100

81 – 90

61 – 80

Até 60

Excelente (E)

Bom (B)

Regular (R)

Deficiente (D)

Classificação: _________________ OBSERVAÇÕES:______________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

143

ANEXO B

Parecer Consubstanciado n° 97.402/2012

144

MATERNIDADE CLIMÉRIO DE

OLIVEIRA ((MCO/UFBA))

PROJETO DE PESQUISA

Título: QUALIDADE, IDENTIDADE E NOTORIEDADE DA FARINHA DE MANDIOCA DE NAZARÉ DAS FARINHAS-BA: UMA CONTRIBUIÇÃO A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA

Área Temática:

Versão: 1

CAAE: 05935412.0.0000.5543 Pesquisador: Ryzia de Cassia Vieira Cardoso

Instituição: Escola de Nutrição da Universidade Federal da

Bahia/ ENUFBA

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

Número do Parecer: 97.402

Data da Relatoria: 13/09/2012

Apresentação do Projeto:

O cultivo da mandioca e a produção de farinha na Bahia compreendem uma tradição, com destaque para a cidade de Nazaré onde a produção de farinha de mandioca constitui uma das principais fontes de renda para grande parte da população do município. É relato e consenso popular que uma excelente farinha era feita na Fazenda Copioba, localizada na Serra de mesmo nome, entre os municípios de Nazaré, Maragojipe e São Felipe. Depois, toda farinha bem feita na região passou a se chamar farinha de copioba, embora nem toda farinha de Nazaré fosse de copioba. Assim, por ser considerada a melhor farinha, os demais locais produtores de farinha também passaram a adotar o nome copioba para designar a farinha de boa qualidade, fina e torrada, independente de onde quer que ela fosse fabricada.

As casas de farinha de Nazaré ganharam destaque devido à diferenciação da farinha, sem terem avançado no sentido de qualificação e adequação à legislação. Muitas delas ainda utilizam sistemas rudimentares e artesanais considerados valiosos no sentido de manutenção na originalidade e aspectos sensoriais da farinha produzida. Questões como a higiene e a qualidade sanitária, na maioria das vezes negligenciadas pelos pequenos produtores, constituem uma forte preocupação.

A presente proposta tem como objetivo avaliar a qualidade das farinhas de mandioca produzidas em Nazaré (BA), e através da correlação destes parâmetros com dados geográficos, meteorológicos e humanos, de onde é proveniente, identificar a sua identidade e notoriedade, contribuindo assim, para a futura construção de uma Indicação Geográfica (IG) do produto, no pressuposto da existência de uma vinculação entre a notoriedade comprovada e a sua origem (território).

Para uma Indicação Geográfica (IG) é necessário esclarecer o modo tradicional como uma farinha é produzida, observar as condições de inocuidade do processo de produção considerando-se, como ¿riscos¿ a presença inaceitável de contaminantes químicos, físicos e biológicos na matéria prima ou na farinha e não obediência aos regulamentos técnicos e adequações às legislações vigentes. Um levantamento do número de casas de farinhas existentes em Nazaré, da notoriedade da farinha produzida, da territorialidade, da qualidade das farinhas, da conformidade e adequações as legislações vigentes, contribuirá para avaliar o potencial do produto para um pedido de IG contribuindo para o desenvolvimento social da região: valorizando de propriedades; agregando valor à cadeia da mandioca e incentivo ao plantio e à produção, aumento de lucros e empregos na agricultura.

Endereço: Rua do Limoeiro, 137 Bairro: Nazaré CEP: 40.005-150 UF: BA Município: SALVADOR Telefone: (71)3283-9210 E-mail: [email protected]

145

MATERNIDADE CLIMÉRIO DE

OLIVEIRA ((MCO/UFBA))

Objetivo da Pesquisa:

Objetivo Primário: Avaliar a qualidade das farinhas de mandioca produzidas em Nazaré - BA, e a partir da correlação destes parâmetros com indicadores geográficos, meteorológicos e humanos de onde é proveniente, identificar a sua identidade e notoriedade, contribuindo para a futura construção de uma Indicação Geográfica do produto.

Objetivso Secundários: A-Caracterizar os atores sociais responsáveis pela produção da farinha de mandioca, na perspectiva de organização social do trabalho; B-Descrever a tradição da produção de farinha de mandioca na região; C-Avaliar as condições higiênicas da produção de farinha e o perfil microbiológico; D-Avaliar a farinha quanto à granulometria e à presença de corpos estranhos por microscopia; E-Caracterizar a farinha quanto aos aspectos sensoriais, cor, composição nutricional e de atendimento aos parâmetros físico-químicos vigentes; F-Identificar o percentual de produtores que produzem a farinha dentro dos padrões de qualidade exigidos por legislação; G-Desenvolver uma prospecção da notoriedade da farinha produzida em Nazaré visando o processo de encaminhamento do pedido de indicação geográfica; H-Contribuir para a valorização de produtos com diferencial de qualidade e identidade para aumentar a competitividade no agronegócio; I-Promover a cadeia produtiva da farinha no município de Nazaré e os seus atores sociais; J-Contribuir para a constituição de territorialidade econômica, a partir da identidade de um território geográfico, cultural de um Estado e País tão diversificados como a Bahia e o Brasil.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

Riscos: A aplicação das entrevistas não representa riscos aos indivíduos que aderirem à pesquisa. Benefícios: Aumentar o valor agregado do produto, diferenciando-o dos demais; Preservar as particularidades do produto, o patrimônio das regiões específicas; Estimular os investimentos na própria área delimitada pela IG, com valorização das propriedades, aumento do turismo, do padrão tecnológico e da oferta de emprego; Fidelizar o consumidor, que, sob a etiqueta da IG, sabe que vai encontrar um produto ou serviço de qualidade e com características regionais; Melhorar a comercialização dos produtos, facilitando o acesso aos mercados através da propriedade coletiva; Conferir maior competitividade no mercado regional, nacional e internacional.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

Inicialmente será feito um levantamento do número total de unidades produtoras de farinha no município de Nazaré, atentando-se para a delimitação geográfica das unidades localizadas no Vale da Copioba seguindo-se com obtenção de amostras e caracterização da farinha de copioba e da sua diferenciação em relação as demais farinhas produzidas na localidade. Com esta finalidade serão realizadas as seguintes análises cujos resultados, quando pertinentes, serão avaliados frente aos parâmetros estabelecidos na legislação dfederal: A-Composição centesimal das farinhas - análises de umidade, lipídios totais, cinzas, proteína, carboidratos, fibras alimentares - solúvel, insolúvel e total, e também da atividade de água; B-Determinação de cor; determinação de carotenóides totais; C-Avaliação microbiológica para coliformes termotolerantes/Escherichia coli, Bacillus cereus, Salmonella spp e contagem de bolores e leveduras; D-Avaliação macroscópica e microscópica para pesquisa de sujidades; E-Caracterização sensorial das farinhas. Questionários, destinados para avaliações quantitativas e qualitativas, serão aplicados junto tanto a comunidade rural quanto a atores sociais de instituições de pesquisa (Embrapa) e outros órgãos de

Endereço: Rua do Limoeiro, 137 Bairro: Nazaré CEP: 40.005-150 UF: BA Município: SALVADOR Telefone: (71)3283-9210 E-mail: [email protected]

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MATERNIDADE CLIMÉRIO DE

OLIVEIRA ((MCO/UFBA))

fomento de apoio à cadeia produtiva.

Após essas etapas e análises de dados, será conduzida a capacitação dos atores envolvidos em um pedido de Indicação de Indicação Geográfica (IG)- os atores envolvidos no depósito de um pedido de IG deverão ser mobilizados/induzidos para apreender os diferentes aspectos relacionados ao processo de IG.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

Foram apresentados 4 TCLE- todos eles quando dirigidos a diversos participantes da pesquisa estão redigidos em linguagem clara e acessível. Objetivos, procedimentos, participação voluntária, cifiabilidade e contato tanto com o pesquisador quanto com o Comitê de Ética estão explicitados.

Recomendações:

Não há

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

Trata-se de um estudo observacional, de natureza multidisciplinar, com abordagem quantitativa e qualitativa, cujo desfecho busca contribuições científicas, tecnológicas e sócio econômicas.

Situação do Parecer:

Aprovado

Necessita Apreciação da CONEP:

Não

Considerações Finais a critério do CEP:

SALVADOR, 13 de Setembro de 2012

Assinado por:

Eduardo Martins Netto

Endereço: Rua do Limoeiro, 137 Bairro: Nazaré CEP: 40.005-150 UF: BA Município: SALVADOR Telefone: (71)3283-9210 E-mail: [email protected]