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A CADEIA PRODUTIVA BOVINA E OS IMPACTOS CAUSADOS NO AMBIENTE: UMA ANÁLISE DO DESPERDÍCIO DE ÁGUA NO PROCESSAMENTO DA CARNE BOVINA THE BEEF PRODUCTION CHAIN AND IMPACTS CAUSED IN THE ENVIRONMENT: AN ANALYSIS OF WATER WASTAGE IN BEEF PROCESSING ADRIANE REGINA GARIPPE JOHANN 1 KARLA ROBERTO SARTIN 2 JULIANA DUARTE DE MENDONÇA CASTRO 3 GERALDO LOPES DE LIMA JUNIOR 4 JOSÉ REIS JUNIOR 5 LIZANDRO POLETTO 6 RESUMO:A cadeia bovina tem grande importância para o agronegócio brasileiro. A produção neste setor tem crescido muito, e o Brasil conseguiu ocupar excelentes posições, com possibilidade de se tornar o maior exportador de carnes do mundo em um futuro próximo, caso os investimentos em tecnologia e as melhorias no processo produtivo continuem. O objetivo deste estudo é desenvolver uma análise de série temporal do consumo de água para esta cadeia produtiva. Foram coletados dados do abate de bovinos e estimado o consumo de água para processamento desta carne, a análise de série temporal consta do período de janeiro de 1997 a março de 2014. Foi efetuado um teste de correlação entre o consumo de água para processamento da carne bovina e a evolução do tempo, por meio do software SPSS. Os resultados encontrados demonstram que a correlação entre eles é alta, o que favorece a aceitação do modelo matemático analisado neste estudo como ferramenta para estimar o consumo futuro de água para processamento da carne bovina. Palavras chave: Cadeia bovina. Impactos ambientais. Consumo de água. Exportação. ABSTRACT:Bovine chain has great importance for the Brazilian agribusiness. The production in this sector has grown tremendously, and Brazil managed to occupy excellent positions, with the possibility of becoming the largest meat exporter in the world in the near future, if the investments in technology and improvements in the production process continue. The aim of this study is to develop a time series analysis of water consumption for this production chain. Data from the slaughter of cattle were collected and estimated water consumption of this meat processing, analyze the time series consists of the period from January 1997 to March 2014 a test of correlation was made between the consumption of water for meat processing bovine and the evolution of time, using SPSS software. The results show that the correlation between them is 1 Pesquisadora Adriane Regina Garippe Johann 2 Professora Ma.Karla Sartin. [email protected] 3 Professora Ma. Juliana Duarte de Mendonça Castro. coordenacaoservicosocial@unicamps .com.br 4 Professor Me. Geraldo Lopes de Lima Junior. [email protected] 5 Professor Me. José Reis Junior. [email protected] 6 Professor Me. Lizandro Poletto. [email protected].

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A CADEIA PRODUTIVA BOVINA E OS IMPACTOS CAUSADOS NO

AMBIENTE: UMA ANÁLISE DO DESPERDÍCIO DE ÁGUA NO

PROCESSAMENTO DA CARNE BOVINA

THE BEEF PRODUCTION CHAIN AND IMPACTS CAUSED IN THE

ENVIRONMENT: AN ANALYSIS OF WATER WASTAGE IN BEEF

PROCESSING

ADRIANE REGINA GARIPPE JOHANN 1KARLA ROBERTO SARTIN

2JULIANA

DUARTE DE MENDONÇA CASTRO 3 GERALDO LOPES DE LIMA JUNIOR

4 JOSÉ

REIS JUNIOR5 LIZANDRO POLETTO

6

RESUMO:A cadeia bovina tem grande importância para o agronegócio brasileiro. A

produção neste setor tem crescido muito, e o Brasil conseguiu ocupar excelentes

posições, com possibilidade de se tornar o maior exportador de carnes do mundo em um

futuro próximo, caso os investimentos em tecnologia e as melhorias no processo

produtivo continuem. O objetivo deste estudo é desenvolver uma análise de série

temporal do consumo de água para esta cadeia produtiva. Foram coletados dados do

abate de bovinos e estimado o consumo de água para processamento desta carne, a

análise de série temporal consta do período de janeiro de 1997 a março de 2014. Foi

efetuado um teste de correlação entre o consumo de água para processamento da carne

bovina e a evolução do tempo, por meio do software SPSS. Os resultados encontrados

demonstram que a correlação entre eles é alta, o que favorece a aceitação do modelo

matemático analisado neste estudo como ferramenta para estimar o consumo futuro de

água para processamento da carne bovina.

Palavras chave: Cadeia bovina. Impactos ambientais. Consumo de água. Exportação.

ABSTRACT:Bovine chain has great importance for the Brazilian agribusiness. The

production in this sector has grown tremendously, and Brazil managed to occupy

excellent positions, with the possibility of becoming the largest meat exporter in the

world in the near future, if the investments in technology and improvements in the

production process continue. The aim of this study is to develop a time series analysis

of water consumption for this production chain. Data from the slaughter of cattle were

collected and estimated water consumption of this meat processing, analyze the time

series consists of the period from January 1997 to March 2014 a test of correlation was

made between the consumption of water for meat processing bovine and the evolution

of time, using SPSS software. The results show that the correlation between them is

1Pesquisadora Adriane Regina Garippe Johann

2Professora Ma.Karla Sartin. [email protected]

3Professora Ma. Juliana Duarte de Mendonça Castro. [email protected]

4Professor Me. Geraldo Lopes de Lima Junior. [email protected]

5Professor Me. José Reis Junior. [email protected]

6Professor Me. Lizandro Poletto. [email protected].

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high, which promotes acceptance mathematical model analyzed in this study as a tool to

estimate future consumption of water for processing beef.

Keywords: Beef chain. Environmental impacts. Water consumption. Export.

1 INTRODUÇÃO

A água é um elemento que deve ser preservado e manuseado de forma racional.

A avaliação dos recursos hídricos do Brasil levando em consideração o cenário atual e a

tendência do seu desenvolvimento até 2025, segundo Tucci et al (2000) esta temática

faz parte de um esforço mundial baseado na iniciativa de várias entidades

internacionais. Estes autores alertam que o desenvolvimento dos recursos hídricos e a

conservação dos sistemas naturais constituem um desafio para a sociedade brasileira.

Também comentam que a disponibilidade dos recursos hídricos ainda não é deficitária,

porém em períodos de estiagens algumas regiões brasileiras, a exemplo o semiárido

nordestino e localidades onde o uso de água é intenso como nas regiões metropolitanas,

as condições de abastecimento são críticas.

Existe um conflito entre o uso das águas entre a agropecuária e o abastecimento

humanos nestas regiões críticas, essa situação conflituosa também ocorre no complexo

de produção de carnes, seja o da carne bovina, de aves ou suína. Conforme Steinfeld et

al (2006), a disponibilidade de água sempre foi um fator limitante para as atividades

humanas, em especial para a agricultura. Estes autores argumentam que o setor agrícola

é o maior consumidor de água doce, sendo responsável pelo consumo de 70% do

consumo global de água, porém alerta que nas últimas décadas, o consumo de recursos

hídricos para aplicações industriais tem uma taxa de crescimento bem superior à da

agricultura. Sugerem ainda que projeções do consumo de recursos hídricos apontam

para tensões ainda maiores entre este setor e o consumo doméstico, em função do

crescimento da demanda doméstica.

Um setor industrial apontado por Steinfeld et al (2006) como grande consumidor

de água é o de processamento de carnes bovinas, estes afirmam que o processamento de

carne inclui várias atividades, desde o abate e até a entrega da carne e subprodutos

absorvem o quantitativo considerável de recursos. Elucidam em sua obra Livestock’s

Long Shadow, a problemática referente á escassez de água em vários países, citam que

em uma recente avaliação do Institute International Water Management (IWMI) estima-

3

se que em 2023, 33 por cento da população mundial, ou seja, 1.800 milhões de pessoas

vivem em áreas com escassez de água absoluta água, em países como o Paquistão,

África do Sul e grandes áreas da Índia e da China. Cita ainda que mesmo os países com

recursos suficientes de água terão que expandir seus sistemas abastecimento de água, a

fim de atender à crescente demanda.

Diante dessa problemática pretende-se fazer um levantamento do consumo de

água para processamento de carne bovina, dado o aumento acentuado da produção

devido ao aumento do consumo interno e ao aumento das exportações. O objetivo deste

estudo é desenvolver uma análise de série temporal do consumo de água para esta

cadeia produtiva, e partir desta análise de série temporal construir um modelo

matemático que traduza os volumes de consumo de água com processamento de carne

bovina para os próximos anos. Pretende-se ainda desenvolver reflexões sobre a

necessidade do uso racional da água por este setor. Têm-se como objetivo específico o

desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica relacionada a cadeia bovina para maior

familiarização com o tema e o desenvolvimento de uma análise das etapas do processo

da cadeia bovina que utilizam maior quantidade de água.

Existem questões que são primordiais para a sobrevivência humana, dentre elas

estão a alimentação e a disponibilidade de recursos hídricos. Ao se considerar a

segurança alimentar é importante que se avalie o consumo e a gestão dos recursos

hídricos, quer seja para consumo domésticos quer seja para obtenção de alimentos

através da agropecuária. Esta argumentação justifica um estudo analítico das formas de

utilização dos recursos hídricos no processamento de carnes bovinas.

Para realização deste estudo em um primeiro momento foi feita uma pesquisa

bibliográfica para maior familiarização com o tema analisado. No levantamento

bibliográfico em um primeiro instante foi investigada a cadeia produtiva bovina, sendo

verificadas suas características e sua estrutura, em seguida foi realizada uma análise dos

impactos da cadeia produtiva bovina junto ao meio ambiente. Após pesquisa

bibliográfica, foram descritos os procedimentos metodológicos utilizados. Por fim,

foram descritos os resultados, reflexões e análises obtidas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Para construção do referencial teórico acredita-se ser importante identificar o

comportamento da cadeia produtiva de carne bovina, para que através de suas

4

caraterísticas operacionais e mercadológicas possam ser levantados pontos impactantes

para gestão e análise dos recursos hídricos. Os recursos hídricos não são os únicos

fatores ambientais a serem impactados por esta cadeia produtiva, por tal motivo neste

capítulo também serão citados outros fatores impactados por esta cadeia produtiva.

2.1 Cadeia produtiva bovina

Conforme Ferreira e Padula (1998), a cadeia produtiva da carne bovina pode ser

configurada, genericamente, como a constituição de produtores de gado de corte,

frigoríficos, que efetuam o abate e a industrialização da matéria-prima e distribuidores

dos produtos finais, classificados como atacadistas e varejistas. Os autores comentam a

existência de outros agentes que também fazem parte desta cadeia, neste caso são para a

atividade primária, a indústria de insumos, os “corretores”, que são os agentes que

intermediam produtores e frigoríficos e, entre estes e os distribuidores e as empresas,

que comercializam para o mercado externo. Ainda existe a indústria de subprodutos da

carne, que se relaciona com estes agentes, com foco principal na alimentação animal, e

as instituições de pesquisa e extensão.

Segundo IBGE (2013), o último trimestre de 2013 registrou o oitavo trimestre

consecutivo em que houve alta na quantidade de bovinos abatidos. Com isso, é possível

confirmar a boa performance da bovinocultura no Brasil. Em uma análise de 2008 a

2013, o IBGE ilustrou uma evolução do abate de bovinos trimestralmente no Brasil. A

Figura 1 traz esta evolução.

Figura 1 – Evolução do abate de bovinos no Brasil (trimestre)

5

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária,

Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, 2008.I-2013.III.

Segundo o IBGE (2013) a produção de carcaças de bovinos teve aumento

recorde consecutivamente no terceiro trimestre de 2013. Igualmente à quantidade de

bovinos abatidos, o terceiro trimestre de 2013 também apresentou pela oitava vez

trimestral consecutiva um crescimento da produção de carcaças de bovinos, em

comparação anual dos mesmos trimestres. A Figura 2 ilustra a evolução do peso das

carcaças de bovinos por trimestre acumuladamente.

Figura 2 – Evolução do peso das carcaças de bovinos por trimestre

acumuladamente

6

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária,

Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, 2008.I-2013.III.

2.2 Abate de bovinos e impactos

Conforme Pacheco e Yamanaka (2008), os aspectos e impactos principais

relacionados à indústria da carne e derivados tem relação com o alto consumo de água, à

geração de efluentes líquidos com alto grau de poluição, principalmente orgânica, bem

como consumo alto de energia. Outras questões que também impactam são odor,

resíduos sólidos e ruído, que são considerados muito significativos em algumas

empresas do setor.

O consumo alto de água no setor de carnes está relacionado ao consumo e

lavagem dos animais, lavagem dos caminhões, lavagem de carcaças, vísceras e

intestinos, movimentação de subprodutos e resíduos, limpeza e esterilização de facas e

equipamentos, limpeza de paredes, pisos, bancadas e equipamentos, geração de vapor e

resfriamento de compressores. O fator que mais afeta o consumo de água é a prática da

lavagem (PACHECO E YAMANAKA, 2008). O consumo de energia nos abatedouros,

embora bem menor que o consumo de água também causa impactos ao ambiente. A

eletricidade é utilizada para operar máquinas e equipamentos, bem como para

refrigeração, produção de ar comprimido, iluminação e ventilação.

O consumo de água é alto no processo de abate de bovinos, principalmente na

higienização dos produtos e nos locais onde são realizadas as atividades. Desta forma,

existe uma alta geração de efluentes por unidade animal abatida (GOMES, 2010).

Percebe-se diferenças no consumo de água de unidade para unidade, isto ocorre por

vários aspectos como: tipo de unidade (frigorífico com/sem abate, com/sem graxaria,

etc.), tipos de equipamentos e tecnologias utilizadas, “layout’ da planta e de

equipamentos, procedimentos operacionais, dentre outros (SENAI, 2003).

Os frigoríficos e os matadouros possuem equipamentos e instalações adequados

para o abate, manipulação, preparo e conservação das espécies de açougue de diferentes

maneiras, com aproveitamento completo dos subprodutos não comestíveis, e com

instalações de frio industrial. O Sistema Federal de Fiscalização (SIF) e as

coordenadorias estaduais ou municipais de inspeção animal regulam as normas para o

projeto das instalações. Em nível Federal as exigências são maiores, visto que somente

um estabelecimento com SIF está apto a exportar produtos (SENAI, 2003).

A Tabela 1 traz a geração de efluentes em matadouros-frigoríficos.

7

Tabela 1 – Geração de efluentes em matadouros-frigoríficos

Tipo de resíduo Unidade Animais pequenos Gado

Quantidade de água residuária (*) m3/animal 0,26 0,98

Substâncias sedimentáveis após duas horas L/animal 6 13,5

Matéria sólida Kg/animal 0,19 0,42

Carga específica de DBO5 (*) kg O2/animal 0,43 2,39

(*) quando o sangue não é coletado separadamente ou mesmo inadequadamente, a carga de

contaminação pode ser 2 a 3 vezes maior, bem como a quantidade de água residual (A DBO5

do sangue é

aproximadamente 145.000 mg O2/L).

Fonte: Adaptado de Banco do Nordeste (1999) apud SENAI (2003)

É possível reduzir o desperdício de água nas etapas do processo em frigoríficos e

matadouros. Os procedimentos de limpeza do piso do curral exigem consumo de grande

quantidade de água, não sendo permitida a entrada de novo lote de animais sem que o

ambiente tenha sido limpo e higienizado. Algumas oportunidades para se reduzir o

consumo de água podem ser citadas como: retirada dos resíduos a seco e reforma nos

pisos, que por apresentarem imperfeições, buracos ou fissuras favorecem ao consumo

maior de água durante a limpeza. Na lavagem dos animais também é consumida muita

água, pois em geral, os animais encontram-se muito sujos, gerando desta forma alto

volume de efluentes. O tamanho correto dos furos, bem como a utilização de bicos

aspersores poderão diminuir de forma significativa o consumo de água. Em um

matadouro a lavagem da carcaça dos animais é onde mais se desperdiça água. Para

reduzir este desperdício é importante fazer treinamento com os funcionários, pois

mesmo parecendo um processo simples exige alguns cuidados. Muitas outras

oportunidades de redução do desperdício de água podem ser utilizadas, e com isso é

possível reduzir significativamente o volume de agua utilizada nos matadouros e

frigoríficos (SENAI, 2003).

A redução do desperdício de subprodutos por meio da substituição do sistema

manual de retirada por sistema mecanizado de transporte para a graxaria, pode trazer

alguns benefícios econômicos e benefícios de saúde ocupacional, da mesma maneira

benefícios ambientais tais como: diminuição do impacto ambiental pela diminuição da

carga orgânica do efluente gerado no processo de limpeza das instalações e um

ambiente de trabalho mais organizado e limpo (SENAI, 2003).

2.3 Pastejo

8

Segundo Livestock’s Long Shadow (2006), a pecuária está sofrendo algumas

transformações de ordem complexa da técnica, bem como de ordem geográfica, onde

estão ocorrendo mudanças no foco dos problemas ambientais ocasionados pela

indústria. A pastagem extensiva ocupa grandes áreas de terras degradadas, porém, existe

uma inclinação crescente para a intensificação e a industrialização. Percebe-se uma

mudança nos padrões já estabelecidos de distribuição geográfica de produção animal

das áreas rurais para as áreas urbanas e peri-urbanas, isto é, áreas mais próximas dos

consumidores, bem como para áreas que se encontram nas proximidades dos centros de

transporte. Outra modificação que se observa é o aumento veloz de produção de suínos

e aves, principalmente produzidos industrialmente (espécies monogástricas) e uma

desaceleração na produção de bovinos, ovinos e cabras, muitas vezes criadas em

condições extensivas (ruminantes).

O setor pecuário inicia a competição de forma mais direta e intensa por terra,

água e outros recursos naturais escassos. Desta forma, percebe-se uma melhora na

eficiência, com redução da área de terra que se necessita para a produção pecuária.

Contudo, isto está ocasionando a marginalização de pequenos agricultores e pastores

(LIVESTOCK’S LONG SHADOW, 2006).

Conforme Martha Jr et al (2010), no Cerrado, a estratégia de evolução da

pecuária de corte, focou com força no uso intenso do fator terra, limitando o uso de

insumos no sistema de produção e com isso os índices zootécnicos e econômicos, em

geral, eram insuficientes para assegurar a sustentabilidade da atividade de pecuária. Na

visão do produtor, a produtividade do pasto era baixa e inviável economicamente,

iniciando-se novo ciclo de produção e de degradação da pastagem, em geral mais curto

que o original. Para Martha Jr et al (2007) apud Martha Jr et al (2010), a degradação das

pastagens junto aos problemas econômicos, possivelmente indicarão problemas

ambientais, podendo ocasionar impactos sociais não desejáveis, pois há diminuição de

empregos, da qualidade de vida, e consequentemente do incentivo à permanência no

meio rural.

Martha Jr et al (2010), citam que o padrão de expansão da atividade pecuária foi

claramente alterado na última década. Conforme os Censos Agropecuários de 1985,

1995 e 2006 (IBGE, 1985, 1999, 2009), houve uma variação negativa de 27,1 milhões

de hectares na área de pastagem nativa e entre 1995 e 2006, percebeu-se uma

diminuição de 20,7 milhões de hectares, isto é, uma diminuição de 31% se comparado

9

com a década anterior. Entre 1985 e 1995 a área de pasto cultivado teve um crescimento

em 25,6 milhões de hectares e de 1995 a 2006, identificou-se um aumento de 1,8

milhões de hectares da área de pasto cultivado. As taxas de lotação animal também

tiveram crescimento, sendo que em 1985 eram 0,71 cabeças/ha, em 1995 0,86

cabeças/ha e em 2006 1,08 cabeças/ha. Verificou-se um aumento na produtividade do

pasto, conforme o Censo Agropecuário (IBGE, 2009), sendo em 1995 em torno de 23

kg/ha/ano de carcaça e em 2006, de 43 kg/ha/ano, isto é, um aumento de 87%.

Entre 1995 e 2009, conforme IBGE (2009) apud Martha Jr et al (2010), houve

uma diminuição de aproximadamente 19 milhões de hectares na área de pasto, mesmo

com os vários avanços na produtividade. Os pequenos ganhos econômicos projetados

para a pecuária extensiva não necessariamente oferecem competitividade diante às

demais alternativas de uso do solo. O progresso de lavouras sobre as áreas de pastagens

é inevitável caso a atividade pecuária não adicione ganhos econômicos, principalmente

a soja no Cerrado e a cana-de-açúcar nas proximidades de São Paulo. Desta forma,

alguns efeitos indiretos na utilização da terra podem afetar de forma negativa a

diminuição do desmatamento no Cerrado e na desse bioma com a Amazônia.

2.4 Confinamento

Segundo Manso e Ferreira (2007), a atividade de confinamento tem relação

especialmente com a racionalização do uso do uso, que impede o desmatamento de

áreas grandes para a formação de pastagens. O acúmulo de dejetos de animais, a

formação de resíduos líquidos com concentrações altas de carga orgânica e a chance de

multiplicação de moscas e mosquitos, podem ocasionar poluição direta do local desse

processo intensivo de bovinos, influenciando indiretamente a qualidade do ambiente,

bem como a provável contaminação dos recursos hídricos. O crescimento da atividade

de confinamento se deve principalmente pela abertura do mercado europeu e do oriente

médio, com volumes altos de exportações para estas regiões.

Conforme Albertto et al (2006) apud Manso e Ferreira (2007), a intensidade do

pisoteio de animais tem preocupado produtores e técnicos pela possibilidade de

compactação superficial, e consequentemente a diminuição de aeração, tamanho de

poros, infiltração de água e crescimento da resistência do solo, bem como estado de

compactação, que prejudicam o crescimento radicular e a produtividade das plantas.

Conforme Pohlmann (2000), muitas fazendas com o intuito de aumentar sua

produtividade, ampliam a concentração de animais na propriedade. Com isso, são

10

produzidos muitos dejetos, que prejudicam o solo, sendo também absorvidos pelas

plantas.

Segundo Manso e Ferreira (2007) existem aspectos ambientais relacionados às

etapas de alimentação e manejo dos animais em regime de confinamento. Alguns

aspectos são positivos e outros negativos. Como impactos positivos os autores citam:

redução do desmatamento para a formação de pastagens, redução da necessidade de

formação de pastagens, melhoria da fertilidade do solo agricultável pela aplicação do

estrume, produção de fertilizantes biológicos (estrume) e produção de biogás. Os

impactos negativos identificados são: desenvolvimento de dípteros, cheiro próximo às

casas devido à concentração de animais, pisoteio animal e compactação do solo,

poluição das águas pelo estrume, intoxicação do ser humano pela inalação de gases

liberados pelo resíduo, como amônia, arsênio, manganês e óxido de nitrogênio.

Manso e Ferreira (2007) ressaltam a necessidade da população fazer uma

cobrança mais efetiva junto aos órgãos ambientais sobre as reclamações e denúncias

sobre incômodos e impactos gerados pelo confinamento. Os autores sugerem algumas

medidas que podem auxiliar na redução dos problemas causados pelo confinamento:

especificar o destino a ser dado aos dejetos, melhor maneira de manejar os resíduos,

projetar um sistema eficiente, optar por uma forma de armazenamento ou tratamento,

constante manutenção do terraceamento para direcionar o efluente para as lagoas de

tratamento, plano de controle de dípteros, retirada semanal do volume de esterco gerado

nos currais de engorda e disponibilizar a silagem duas vezes ao dia, com retirada do

excesso logo após a refeição.

2.5 Desmatamento

Segundo as Nações Unidas percebe-se uma redução nos desmatamentos, mesmo

ainda observando-se índices altos em alguns países. Conforme relatório da Organização

das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO (2010), o Brasil, em 2011,

ocupou o segundo país a ter mais áreas de florestas, em termos absolutos. Rússia,

Brasil, Canadá, Estados Unidos e China detém cerca de 53% do total de florestas, e em

contrapartida 64 nações somente 10% do total é ocupado por florestas, onde vivem 2

bilhões de pessoas. Conforme este relatório aproximadamente dois terços das florestas

demonstram que houve intervenção humana.

11

Segundo Ferreira et al (2009) no Estado de Goiás aproximadamente 63% da

vegetação natural foi substituída em virtude da atividade agropecuária. Existe uma

expectativa que os desmatamentos continuem sendo intensificados, isto devido o

aumento na demanda por biocombustíveis. Os autores ressaltam que os desmatamentos

em Goiás têm relação com a expansão agrícola, bem como tem associação com novas

áreas de pastagens.

O Brasil apresenta seis biomas, conforme IBGE (2004), que podem ser

denominados como um conjunto de vida vegetal e animal que se constituem pelo

agrupamento de formas de vegetação próximas e identificáveis regionalmente, com

condições geoclimáticas semelhantes e histórico de mudanças compartilhado, cuja

consequência é uma diversidade biológica própria. O Quadro 1 ilustra quais são os

biomas brasileiros, bem como a área em KM2 e a área total brasileira.

Quadro 1 – Biomas no Brasil

BIOMAS

CONTINENTAIS BRASILEIROSÁREA APROXIMADA (KM

2) ÁREA/TOTAL BRASIL

Bioma AMAZÔNIA 4.196.943 49,29%

Bioma CERRADO 2.036.448 23,92%

Bioma MATA ATLÂNTICA 1.110.182 13,04%

Bioma CAATINGA 844.453 9,92%

Bioma PAMPA 176.496 2,07%

Bioma PANTANAL 150.355 1,76%

Área Total BRASIL 8.514.877

Fonte: IBGE, 2004

O Mapa de biomas trata-se de uma parceria entre IBGE e Ministério do Meio

Ambiente (MMA), com início em 2003, e que é de grande importância para a sociedade

e o governo no Brasil, pois auxilia na formulação de políticas públicas específicas para

os diferentes biomas brasileiros (IBGE, 2004).

Conforme dados do IBGE (2012), em 2010 a devastação do Cerrado, segundo

maior bioma do Brasil, chegou a 49,1%. Em 2009, a caatinga tinha 45,6% de seu total

devastado e o Pantanal aproximadamente 15%, sendo o menor e mais preservado

bioma. Segundo o Instituto o desmatamento aumenta a emissão de gás carbônico na

atmosfera, bem como os danos causados ao solo, aos recursos hídricos e às espécies de

fauna e flora. O acompanhamento (monitoramento) é primordial para se obter bons

resultados, sendo necessário efetuar levantamento de desmatamentos e áreas

remanescentes, para que seja possível identificar quais áreas necessitam de recuperação

e quais poderão servir às atividades econômicas, sem a necessidade de se abrir novas

12

áreas. Na Amazônia entre 2009 e 2011, passou de 741,6 mil km2 para 754,8 mil km

2, de

áreas devastadas. Além de afetar diretamente a vegetação nativa, o desmatamento afeta

o desenvolvimento sustentável brasileiro, com pressupostos de crescimento com

preservação ambiental, qualidade de vida e inclusão social.

2.6 Biodiversidade

Segundo Livestock’s Long Shadow (2006), as ameaças modernas à

biodiversidade são sem fatos ocorridos anteriormente. Dos 24 ecossistemas com

prestação de serviços ambientais, considerados importantes, 15 estão em queda.

Aproximadamente 20% da biomassa total de animais terrestres, estão representados na

pecuária e 30% da área de terra ocupada hoje era povoada anteriormente por vida

selvagem. O setor pecuário tem grande parte da responsabilidade pela perda de

biodiversidade, com grande participação na degradação do solo, desmatamento,

poluição, modificações no clima, superexploração de recursos relativos a pesca, a

sedimentação nas costas e o alastramento de espécies exóticas invasoras.

Conforme Livestock’s Long Shadow (2006) uma análise da Lista Vermelha de

Espécies Ameaçadas da prestigiosa Union for Conservation of Nature (IUCN) ilustra

que grande parte das espécies ameaçadas mundialmente podem vir a perder seu habitat

pela pecuária. Muitas coisas podem ser feitas para mitigar muitas ameaças ao meio

ambiente como clima, poluição do ar, degradação da água e do solo e desmatamento,

bem como podem ser obtidas melhorias da interação de produtores de gado com a vida

selvagem e áreas protegidas e o tema de espécies selvagens em fazendas de criação. O

total de terras onde a conservação da biodiversidade é primordial pode aumentar, caso

ocorra a preservação de áreas selvagens, faixas de proteção e conservação destas. Para

se atingir estes objetivos deve-se ampliar os esforços para integrar a produção de gado e

produtores no manejo da paisagem. Segundo Olf e Ritchie, 1998; Rook e Tallowin,

2003 apud Embrapa (2009), com relação às pastagens, a cobertura vegetal é a base da

biodiversidade e que animais herbívoros têm grande importância na dinâmica dessa

vegetação, independentemente do papel que a biodiversidade desempenha.

2.7 Uso do solo e suas relações

Conforme Livestock’s Long Shadow (2006), o total de área relacionado à

pastagem equivale a 26% da superfície da terra livre do planeta, e por outro lado a

produção de forragem ocupa cerca de 33% das terras aráveis. A ampliação da produção

13

de gado tem grande importância no desmatamento, em especial na América Latina,

onde ocorre este de forma mais intensificada. Na floresta Amazônica, 70% da terra

utilizada atualmente foi convertido em pastagens e culturas alimentares, para cobrir uma

parte extensa da superfície remanescente. Cerca de 73% das pastagens localizadas nas

áreas áridas dos 20% das pastagens e prados do mundo, possui algum estágio de

degradação ocasionada em especial pelo sobrepastoreio, compactação e erosão que

resulta da ação do gado. É possível prevenir a degradação da terra e revertê-la utilizando

métodos de conservação do solo, gerenciamento mais adequado dos sistemas de pastejo,

bem como fixar limites de queima de fogos sem controle pelos pastores e também

exclusão com controle de gado em áreas mais frágeis. Ao se utilizar taxas de

exploração, bem como remover obstáculos à mobilidade nos campos de propriedade

geral, é possível reduzir o sobrepastoreio.

2.8 Atmosfera e clima

Segundo Livestock’s Long Shadow (2006), a pecuária é responsável por 18%

das emissões de gases de efeito estufa, com medições que equivalem a CO2. Ressalte-se

que esse percentual é superior ao estabelecido para o transporte. A pecuária também é

responsável por 9% das emissões de CO2 por fatores causados pelo homem, que em

geral ocorrem por modificações no uso da terra, onde se destacam os desmatamentos

causados pela ampliação de pastagens e de superfície para produzir forragem. A

pecuária também é responsável por emitir outros gases, por exemplo o metano

antrópico, óxido nitroso e amoníaco antropogênicos. Sendo a pecuária responsável por

emitir tantos gases danosos ao meio ambiente, percebe-se que existem muitas

oportunidades para mitigar estas emissões. Ao se aumentar a produtividade do gado e a

produção agrícola de forragem, é possível reduzir as emissões de gases de efeito estufa,

a começar do desmatamento e da degradação de pastagens. As práticas de lavoura de

conservação, culturas de cobertura, sistemas agroflorestais e outras medidas para

restauração da perda do histórico do carbono no solo, tem a possibilidade de reter até

1,3 toneladas de carbono por hectare por ano.

Cada vez mais escuta-se falar nos grandes problemas relacionados à escassez de

água doce e esgotamento aquífero. A expectativa é que em 2025, cerca de 64% da

população mundial viva em bacias com carência de água. A pecuária é responsável por

8% do consumo de água no mundo, sendo assim de grande importância no crescimento

do uso deste recurso, em especial no que diz respeito a irrigação de culturas forrageiras.

14

Desta forma, é provável que a pecuária seja a maior fonte de poluição de água,

auxiliando o surgimento de problemas de saúde nos serem humanos, para a resistência a

antibióticos e outras questões. Os excrementos animais, antibióticos e hormônios,

produtos químicos usados em curtumes, fertilizantes e pesticidas utilizados em culturas

forrageiras e pastagens que causam erosão, são as principais fontes de poluição

(LIVESTOCK’S LONG SHADOW, 2006).

Segundo Livestock’s Long Shadow (2006), se a eficiência dos sistemas de

irrigação for melhorada é possível reduzir o consumo de água. Um gerenciamento mais

eficaz dos resíduos animais em unidades de produção industrial, bem como o avanço

em dietas melhoradas que ajudem na absorção de nutrientes, manejo de dejetos mais

eficiente e melhor utilização de culturas de chorume, podem mitigar o impacto da

pecuária sobre a erosão, sedimentação e regulação da água, por meio de medidas contra

a degradação da terra de execução e contaminação. Fica evidente que algumas medidas

políticas também podem auxiliar na redução do consumo de água e contaminação.

2.9 Irrigação de pastagens

Conforme Embrapa (2003), em pastagens distribuir água artificialmente,

utilizando irrigação é a garantia de produção conforme planejamento, sem que a

ausência de chuvas modifique os índices de produtividade e de rentabilidade

estabelecidos anteriormente. Ressalte-se que a irrigação refere-se a uma tecnologia

agrícola final, isto é, o pecuarista que deseja usá-la também deve ser um bom agricultor.

Antes da irrigação do pasto, devem ser aplicadas tecnologias que estimulem produções

altas de forragem, como preparação do solo, correção da fertilidade do solo baseada em

análise química, escolha da espécie melhor para cultivo, plantio evitando erosões,

adubações de manutenção e cobertura para as plantas, bem como combater pragas e

doenças, em especial as formigas em pastagens.

Para racionalização da aplicação de água às culturas de maneira complementar, o

recurso utilizado é o manejo de irrigação, porém necessita de alguns procedimentos para

estabelecer o turno de rega (frequência), e também medir o total de água da próxima

irrigação (lâmina de água). O manejo de água tem sido usado com grande erro pelos

irrigantes, do ponto de vista técnico, econômico e ecológico, pois no Brasil, existem

muitas dificuldades na utilização das muitas fórmulas que determinam a perda da água

das plantas por evapotranspiração, com o uso de vários métodos como balanço de água

e outros. Foi desenvolvido no Estado de Goiás, um projeto de irrigação em pastagens

15

para gado de corte, com área de 100 hectares (formada por Panicum maximum cvs.

Tânzania e Mombaça), com irrigação de um sistema pivô central com 11 torres, com

total de 564,19 metros irrigados. Durante seis meses, foram terminados 1100 animais, o

que caracteriza, 11 animais por hectare. Foram calculadas as variáveis de investimento,

custo operacional e receita deste projeto. Neste caso, foi possível comprovar que a

irrigação em pastagens para gado de corte é uma técnica viável economicamente

(EMBRAPA, 2003).

Para Mendonça (2006) existe uma grande diferença entre irrigar e molhar o

pasto que é o fator humano (usuário), isto é, se a irrigação não for efetuada de maneira

eficiente não serão obtidos os resultados desejados. Para se obter bons resultados é

necessário que o manejo seja feito de maneira adequada, com manutenção de

equipamentos e o monitoramento da água nos sistemas de produção. Para que isto

ocorra, é fundamental o conhecimento do equipamento de irrigação, do clima, do solo e

da necessidade de água das plantas. Quanto à escolha do equipamento devem ser

observados alguns fatores para decisão na escolha de um sistema de irrigação. Além do

custo de aquisição, deve-se analisar o custo total que inclui: aquisição e instalação,

financeiro, manutenção e operação de mão-de-obra e energia.

Existem três opções mais comuns para determinação da quantidade de água a ser

utilizada via irrigação: o manejo via solo, o manejo via clima e o manejo misto (solo +

clima). No manejo via solo, a quantidade de irrigação (lâmina d’água) é especificada

medindo-se a umidade do solo em dois períodos subsequentes, em intervalos regulares.

A umidade do solo é medida com base em amostras do solo que são retiradas do campo.

No manejo via clima são usados dados de experimentos científicos que efetuam a

simulação do consumo de água da planta, considerando as condições locais de clima

ultrapassando os resultados para outros locais. É possível estimar a umidade atual do

solo se tiver conhecimento do consumo de água da planta, bem como da capacidade de

armazenamento, podendo optar pela irrigação, se tiver necessidade. Existem muitos

métodos na utilização do manejo de água, em pastagens ou em outros cultivos, e a

opção por um deles está relacionada às condições do usuário utilizá-lo adequadamente

(MENDONÇA, 2006).

3 METODOLOGIA

Tendo em vista a ampliação do aumento de processamento de carnes tanto para

consumo interno quanto para exportação, há a necessidade de se desenvolver uma

16

previsão do consumo de água desenvolvendo análise de impacto ambiental, haja vista

que a água é um recurso imprescindível para a sobrevivência do ser humano, acredita-se

que o alto consumo dessa pode estar correlacionada com o processamento de carne ao

longo dos anos, esta investigação pretende testar hipóteses de acordo com a seguinte

relação entre as variáveis, consumo de água por indústrias processadoras de carne

bovina e evolução do tempo.

Para atender ao propósito supracitado o método de investigação utilizado foi o

hipotético dedutivo que segundo Gil (2007) neste são formuladas hipóteses para tentar

explicar um fenômeno e pelo processo de inferência dedutiva identificam-se

consequências que deverão ser testadas ou falseadas. O método de abordagem foi o

estatístico, que consiste na redução de fenômenos a termos quantitativos, obtendo

representações simples a partir de conjuntos complexos.

Quanto à forma de abordagem do problema, esta pesquisa é classificada como

pesquisa quantitativa, caracterizada pelo emprego da quantificação tanto na coleta de

informações quanto no tratamento estatístico das informações. Em relação aos objetivos

esta pesquisa é classificada como descritiva, tendo como objetivo descrever o

comportamento das exportações de carne bovina Quanto aos procedimentos de

pesquisa, este se caracteriza como pesquisa documental, segundo Gil (2007) a pesquisa

documental é elaborada a partir de banco de dados, documentos, entre outros, que não

receberam tratamento analítico e podem ser alterados pelo pesquisador. O tipo de

instrumento adotado foi a obtenção de dados secundários.

Os dados referentes ao quantitativo de cabeças abatidas por mês foram coletados

em documentos disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE, no banco de dados Sidra. Observa-se que as variáveis coletadas eram do tipo

contínua, para Triola (2005) variáveis contínuas são aquelas que assumem vários

valores distintos. Quanto ao nível de manipulação as variáveis podem ser classificadas

como independentes, ou como dependentes. As variáveis dependentes são aquelas que

sofrem influência de outras variáveis. Já as independentes não sofrem influência de

outras variáveis. Neste estudo considerou-se o consumo da água para processamento de

carne bovina como variável dependente, que sofre influência do tempo.

Foi feita a conversão de cabeças abatidas para volume de água consumido,

conforme a proporção: 1 cabeça abatida equivale a um consumo de 3864 litros de água.

Essa proporção foi obtida através do guia técnico ambiental de abate, dos autores

17

Pacheco e Yamanaka (2008). Após a conversão dos dados, foi realizado o tratamento

estatístico. Em um primeiro momento foi realizada uma análise descritiva a fim de se

observar o comportamento do consumo de água para processamento de carne bovino ao

longo dos anos. Seguida da análise descritiva, foi realizada análise de tendência através

do gráfico de dispersão com o objetivo de verificar a evolução do consumo de água

neste processo produtivo.

O diagrama de dispersão é um gráfico de pares (x,y) com x representando o eixo

horizontal e y representando o eixo vertical. Os dados são dispostos em pares que

combinam cada valor de um conjunto de dados com um segundo conjunto de dados.

Como o exame do gráfico de dispersão é subjetivo, Triola (2005) diz que é necessário o

uso de medidas mais precisas e objetivas, sendo usado o calculo do coeficiente de

correlação linear r para definir se há ou não correlação entre duas variáveis. Este

coeficiente linear também é chamado como coeficiente de correlação de produto de

momentos de Pearson. A análise de correlação fornece um número que resume o grau

de relacionamento linear entre as duas variáveis. O cálculo de r é obtido através da

formula:

Sendo:

Y = valores dispostos no eixo vertical;

a = ordenada à origem, ou intercessão no eixo dos Y;

b = coeficiente angular;

X = valores dispostos no eixo horizontal;

n= número de períodos observados;

r = Índice de correlação.

Após o cálculo do coeficiente de Pearson foi feita a interpretação do mesmo.

Conforme Triola (2005) o valor de r deve estar sempre entre -1 e +1. Quando r está

muito próximo de zero conclui-se que não há correlação. Se estiver próximo de -1 ou +1

conclui-se que a relação entre as variáveis investigadas é significante. Caso esteja

próximo de + 1 existe correlação positiva entre as variáveis, se o valor de r estiver

18

próximo de -1 a correlação entre as variáveis é negativa. Se concluído que há correlação

significativa entre duas variáveis, pode-se encontrar uma equação linear que expresse y

em termos de x. O valor de r2 ( ajustado) explica a relação linear entre as variáveis.

Em estatística o teste de significância é um procedimento padrão para testar uma

afirmativa, no caso de análise de correlação deve-se também verificar o nível de

significância.

Para se fazer um teste de significância ou teste de hipóteses é necessário que se

declare a hipótese nula e a hipótese negativa. A hipótese nula (representada por H0) é

uma afirmativa que o valor de um parâmetro é igual a um valor especificado. A hipótese

negativa (representada por H1) é a afirmativa de que um parâmetro é diferente da

hipótese nula. Nesta investigação têm-se que H0: p = 0 (não há correlação linear entre o

consumo de água para processamento de carne bovina e a evolução do tempo) e H1: p ≠

0 (há correlação linear entre o consumo de água para processamento de carne bovina e a

evolução do tempo). A região crítica é o conjunto de todos os valores de estatística de

teste que faz rejeitar a hipótese nula. O nível de significância é a probabilidade que a

estatística de teste quando a hipótese nula for realmente verdadeira.

Dado que houve correlação linear entre as duas variáveis investigadas o próximo

passo foi desenvolver a equação de y em função de x através da regressão linear. A

análise de regressão fornece uma equação que descreve o comportamento de uma das

variáveis em função do comportamento da outra variável. A expressão matemática que

expressa esta reta é , onde é o intercepto de y e é a inclinação. Para

encontrar e têm-se as fórmulas:

2 2

( ) ( )( )

( ) ( )

n X Y X Y

b

n X X

( )Y b X

an

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Segundo o Ministério da Agricultura (2014), a participação do Brasil no

comércio internacional vem crescendo cada vez mais, onde se destacam a produção de

carne bovina, suína e de frango. Até 2020 há uma expectativa de que a produção

19

brasileira de carnes irá suprir 44,5% do mercado mundial. Estima-se que a carne de

frango terá 48,1% e a carne suína 14,2% das exportações mundiais. Caso estas

estimativas se concretize o Brasil irá se tornar o primeiro exportador mundial de carnes

bovina e de frango.

Conforme a Associação Brasileira Das Indústrias Exportadoras De Carne -

ABIEC (2014), O Brasil tornou a registrar aumento nas vendas ao exterior da carne

bovina in natura. Este crescimento ocorreu em volume e receita, em comparação ao mês

de maio de 2013, bem como o mês de abril de 2014. Conforme o Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), houve uma alta de 20,8% na

receita e de 12,2% no volume, no comparativo com o mês de maio do ano passado.

Ao se analisar apenas o fator financeiro esta condição de maior exportador de

carnes mundial é extremamente importante para a economia brasileira, porém há que se

analisar outros aspectos, a exemplo os impactos ambientais. Conforme Pacheco e

Yamanaka (2008), os aspectos mais impactantes ao meio ambiente na produção de

bovinos são: o consumo de água, o consumo de energia, o uso de produtos químicos,

efluentes líquidos, resíduos sólidos, emissões atmosféricas, odor e ruídos. Porém

evidencia o consumo de água como um fator aspecto preocupante.

Com o aumento das exportações de carne e do consumo interno de carnes

vermelhas, aumentou-se consideravelmente o abate de bovinos e consequentemente o

consumo de água destinada ao abate e processamento das carnes nos frigoríficos. O

Gráfico 1 mostra a evolução do consumo de carne de janeiro 1997 a março de 2014.

Observa-se conforme a ABIEC, as exportações de carne brasileira começaram em 1996,

porém intensificaram-se a partir de 1997.

Gráfico 1 - Evolução do consumo de carne (Janeiro 1997 a Março de 2014)

20

Fonte: Adaptado de IBGE (2014)

Em uma unidade frigorífica, que abate e processa carne, segundo Pacheco e

Yamanaka (2008) os padrões de higiene e a segurança sanitária são fatores que

condicionam um elevado consumo de água nas unidades processadoras de carne bovina,

sendo que as atividades do processo produtivo que mais consomem água são o consumo

animal e lavagem dos animais; a lavagem dos caminhões; a lavagem de carcaças,

vísceras e intestinos; a movimentação de subprodutos e resíduos; limpeza e esterilização

de facas e equipamentos; limpeza de pisos, paredes, equipamentos e bancadas; geração

de vapor; e o resfriamento de compressores. Os autores indicam que o consumo de água

para uma atividade completa de processamento de uma cabeça abatida de bovino é de

3.864 litros de água. Considera-se uma atividade completa de processamento carne

bovina, o abate, a industrialização da carne e a graxaria.

Por meio do quantitativo de cabeças abatidas mensalmente de janeiro de 1997 a

março de 2014 e o volume de água consumido por cada cabeça de gado abatida foi

possível estimar o volume mensal de água consumido para o abate e processamento de

carne mensalmente e obter uma série histórica do consumo de água destinada ao abate

de bovinos no Brasil. O valor obtido foi encontrado multiplicando o número de cabeças

por 3.864 litros, em seguida o valor encontrado foi transformado em trilhões de litros

dado as proporções do consumo. Os valores obtidos estão dispostos na Tabela 2.

Tabela 2 - Série histórica do consumo de água destinada ao processamento de carne

bovina

21

mês/ano

Trilhões

de litros

de água

mês/ano

Trilhões

de litros

de água

mês/ano

Trilhões

de litros

de água

mês/ano

Trilhões

de litros

de água

jan/97 4,74 mai/01 6,14 set/05 8,96 jan/10 9,05

fev/97 4,36 jun/01 5,84 out/05 7,97 fev/10 8,49

mar/97 4,46 jul/01 5,95 nov/05 8,92 mar/10 9,83

abr/97 4,84 ago/01 6,61 dez/05 9,61 abr/10 9,51

mai/97 4,74 set/01 5,82 jan/06 9,19 mai/10 10,00

jun/97 4,62 out/01 6,45 fev/06 8,24 jun/10 9,84

jul/97 4,82 nov/01 6,00 mar/06 9,94 jul/10 9,92

ago/97 4,84 dez/01 6,28 abr/06 8,61 ago/10 9,31

set/97 4,96 jan/02 6,19 mai/06 10,37 set/10 9,38

out/97 5,11 fev/02 5,71 jun/06 10,10 out/10 8,97

nov/97 4,69 mar/02 5,74 jul/06 9,96 nov/10 9,11

dez/97 5,34 abr/02 5,97 ago/06 10,68 dez/10 9,72

jan/98 4,74 mai/02 6,43 set/06 10,04 jan/11 9,04

fev/98 4,36 jun/02 6,21 out/06 10,30 fev/11 8,98

mar/98 4,97 jul/02 6,53 nov/06 9,87 mar/11 9,43

abr/98 4,70 ago/02 6,52 dez/06 10,07 abr/11 8,59

mai/98 4,86 set/02 6,41 jan/07 10,50 mai/11 9,62

jun/98 4,79 out/02 7,08 fev/07 9,40 jun/11 9,10

jul/98 4,92 nov/02 7,04 mar/07 10,85 jul/11 9,24

ago/98 4,65 dez/02 7,15 abr/07 9,66 ago/11 9,67

set/98 4,64 jan/03 6,98 mai/07 10,81 set/11 9,24

out/98 4,88 fev/03 6,67 jun/07 9,45 out/11 9,21

nov/98 4,69 mar/03 6,88 jul/07 9,85 nov/11 9,52

dez/98 5,40 abr/03 6,48 ago/07 10,13 dez/11 9,75

jan/99 4,77 mai/03 6,92 set/07 9,49 jan/12 9,03

fev/99 4,79 jun/03 6,42 out/07 9,41 fev/12 8,91

mar/99 5,37 jul/03 6,75 nov/07 9,42 mar/12 9,96

abr/99 5,15 ago/03 6,65 dez/07 9,71 abr/12 9,11

mai/99 5,49 set/03 7,05 jan/08 9,94 mai/12 10,42

jun/99 5,59 out/03 7,76 fev/08 8,97 jun/12 10,07

jul/99 5,59 nov/03 7,11 mar/08 9,10 jul/12 10,28

ago/99 5,75 dez/03 7,96 abr/08 10,09 ago/12 10,94

set/99 5,24 jan/04 7,70 mai/08 10,03 set/12 9,89

out/99 5,53 fev/04 7,08 jun/08 9,32 out/12 10,95

nov/99 5,45 mar/04 8,29 jul/08 9,43 nov/12 10,55

dez/99 6,14 abr/04 7,80 ago/08 9,12 dez/12 10,14

jan/00 5,10 mai/04 8,33 set/08 9,05 jan/13 11,18

fev/00 5,27 jun/04 8,70 out/08 9,06 fev/13 9,95

mar/00 5,45 jul/04 8,91 nov/08 8,03 mar/13 10,27

abr/00 5,02 ago/04 9,06 dez/08 8,75 abr/13 11,30

mai/00 5,84 set/04 8,81 jan/09 8,53 mai/13 11,11

jun/00 5,62 out/04 8,22 fev/09 7,88 jun/13 10,58

jul/00 5,57 nov/04 8,47 mar/09 8,67 jul/13 11,76

ago/00 5,87 dez/04 8,84 abr/09 8,44 ago/13 11,66

set/00 5,30 jan/05 8,41 mai/09 9,08 set/13 10,81

out/00 5,61 fev/05 7,78 jun/09 9,15 out/13 11,66

nov/00 5,57 mar/05 8,71 jul/09 9,39 nov/13 11,23

22

dez/00 5,79 abr/05 9,26 ago/09 9,19 dez/13 11,45

jan/01 5,67 mai/05 9,33 set/09 9,26 jan/14 11,74

fev/01 4,94 jun/05 9,73 out/09 9,73 fev/14 10,32

mar/01 6,07 jul/05 9,68 nov/09 9,06 mar/14 10,27

abr/01 5,45 ago/05 9,94 dez/09 10,07 0,00

Fonte: Os autores, 2014

Depois de estimar o consumo mensal de água, foi realizada uma análise de

correlação para verificar a possiblidade de encontrar uma equação através de regressão

linear simples. O objetivo foi encontrar uma equação que representasse o consumo de

água para processamento de carne bovina e com esta equação fazer uma previsão do

consumo de água para os próximos vinte anos. Para desenvolver a análise de correlação

e regressão foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences).

Em um primeiro instante foi desenvolvido um gráfico de dispersão para verificar

se há uma curva de tendência que descreva o comportamento do consumo de água para

processamento de carnes bovinas. Foi verificada uma tendência de curva crescente, ou

seja, com o passar do tempo o consumo de água aumenta. Em seguida foi calculado

coeficiente de correlação de Pearson, para testar o nível de correlação entre o consumo

de água e a evolução do tempo. Os valores encontrados estão dispostos na Tabela 3. Foi

encontrado um coeficiente de Pearson no valor 0,917, o que indica alta correlação entre

estas duas variáveis. O nível de significância encontrado foi de 0,000 o que indica que

deve-se aceitar a hipótese H1, que diz que há correlação entre o consumo de água para

processamento de carnes bovinas e a evolução do tempo. Tal significância indica uma

maior confiabilidade para o modelo.

Tabela 3 - Análise de correlação entre consumo de água para processamento de carne

bovina e evolução do tempo

mês/ano

Trilhões de litros

de água

mês/ano Índice de correlação 1 ,917**

Significância bicaudal ,000

N 207 207

Trilhões de litros de água Índice de correlação ,917**

1

Significância bicaudal ,000

N 207 207

Fonte: os autores, 2014

23

Verificada a correlação entre as variáveis em estudo, foi realizada uma análise

de regressão linear simples através do software SPSS. Os dados obtidos estão

demonstrados na Tabela 4. O valor de intercepto da reta encontrado foi de 32,73

negativo, e o coeficiente angular da curva crescente foi de 0,0011, obtendo a equação

Y= -159,086 + 1,24E-8

X, ou seja, a cada mês que se passa o volume consumido de água

aumenta em 1,24E-8

trilhões de água. O nível de significância encontrado foi de 0,000,

logo 0,000<0,005, logo H0 é rejeitada e H1 é aceita. Tais resultados traduzem um

confiança de 95% ao modelo desenvolvido. Neste modelo considerou-se o consumo de

água como variável dependente.

Tabela 4 - Análise de regressão do consumo de água para processamento de carnes

bovinas

Model

Coeficientes – equação da

reta

Coeficiente

padronizado

t Sig. B Erro padrão Beta

1 (Constant) -32,73 5,063 -31,418 ,000

mês/ano ´0,0011 ,000 ,917 32,894 ,000

Fonte: Os autores, 2014

Desenvolvida a equação da reta foi feita a previsão de consumo de água para o

processamento de carne até o ano 2020, e a previsão é que o consumo chegue a 14

trilhões de litros de água mensais. O Gráfico 2 mostra a evolução do consumo de água

analisado.

Gráfico 2 - Previsão do consume de água com processamento de carnes bovinas

24

Fonte: Os autores, 2014

Barreto (2008) em sua pesquisa menciona que o consumo médio diário de uma

pessoa é de aproximadamente 100 litros de água, considerando-se um mês com 31 dias,

uma pessoa consumiria aproximadamente 3100 litros de agua por mês. O volume de 14

trilhões de litros de água abasteceria aproximadamente 4,5 milhões de pessoas por mês.

Segundo senso de 2013, o Estado de Mato Grosso possui aproximadamente 2,9 milhões

de habitantes e o Estado de Mato Grosso do Sul possui aproximadamente 1,9 milhões

de habitantes, juntos os dois estados possuem aproximadamente 4,8 milhões de

habitantes, de forma análoga, o consumo de água para o processamento nacional de

carne bovina equivale ao consumo de água de um estado pouco populoso. Tal situação

fortalece a necessidade das empresas processadoras de carne implantarem técnicas de

processamento mais eficientes e tragam uma produção mais limpa.

Dentro dos pilares da produção mais limpo está o uso racional da água, Pacheco

e Yamanaka (2008) sugerem como ações de produção mais limpa: fazer controle da

água com medidores em pontos do processo produtivo onde o consumo é mais

significativo; definir indicadores de consumo; utilização de técnicas de limpeza a seco;

utilização de sistemas de pressão de baixo volume; uso de sistema de fluxo de água

descontínuo; utilizar sistemas de transporte de subprodutos que não utilizem água;

dentre outras ações que visem a redução do consumo de água. Estes autores mostram

que na Dinamarca os frigoríficos gastam apenas 900 litros de água por cabeça abatida, o

que elucida que com a técnica correta e com ações de controle é possível o uso racional

25

da agua que traga um menor impacto ambiental. Os dados e previsões acima mostrados

evidencia uma urgência em se adotar medidas que levem ao uso racional da água.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

A pesquisa efetuada neste estudo foi baseada na cadeia bovina no Brasil e ilustra

a realidade brasileira atual. Com base nos dados levantados verificou-se que a cadeia

encontra-se em expansão e com perspectiva de crescimento para os próximos anos.

Desta forma, devido ao grande consumo de água neste setor buscou-se evidenciar os

fatores que contribuem para este gasto excessivo com água, bem como oportunidades

para redução do desperdício deste elemento tão importante para a sobrevivência.

Inicialmente, tinha-se a impressão de uma pequena correlação entre o consumo de água

para processamento de carne bovina e a evolução do tempo. Contudo, com as análises

efetuadas por meio do software SPSS foi possível comprovar uma alta correlação entre

estas variáveis.

Neste estudo, foi identificada a necessidade de se investir em tecnologia e

equipamentos que ofereçam melhor eficiência no desenvolvimento das atividades de

processamento do setor bovino, bem como pessoas capacitadas para operá-los. É

importante que tecnologia e homem estejam “alinhados” para que os resultados

esperados sejam obtidos, sem desperdício de água.

O presente trabalho teve como objetivo principal o desenvolvimento de uma

análise de série temporal do consumo de água para a cadeia produtiva bovina, e a partir

desta análise de série temporal a construção de um modelo matemático que traduzisse

os volumes de consumo de água com processamento de carne bovina para os próximos

anos. Para se atingir ao objetivo específico foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica

relacionada a cadeia bovina para maior familiarização com o tema e o desenvolvimento

de uma análise das etapas do processo da cadeia bovina que utilizam maior quantidade

de água.

Muitas oportunidades para melhorar a utilização da água no processamento da

carne bovina foram identificadas, e foi verificado que a maior parte do desperdício

desse elemento tão importante, poderia ser evitado com correções simples, como manter

pisos sem buracos, para que diminua o total gasto d’água, bem como a utilização de

mecanismo de remoção a seco, o que diminui também a quantidade de água utilizada no

processo de lavagem.

26

Baseando-se nas informações levantadas foi realizada uma análise crítica com

base no coeficiente linear de Pearson, que mede a correlação entre duas variáveis, por

meio da análise de correlação entre o consumo de água para processamento da carne

bovina e a evolução do tempo utilizando o software SPSS, onde os resultados obtidos

demonstraram que a correlação entre eles é alta, uma vez que o índice de correlação de

Pearson encontrado foi de 0,917, isto é, 91,7% de correlação entre as duas variáveis, o

que facilita a aceitação do modelo matemático analisado neste estudo como ferramenta

para estimativa do comportamento futuro do consumo de água para processamento de

carne bovina.

Com base nas informações mencionadas anteriormente, ressalta-se a importância

do estudo desse trabalho não somente para o agronegócio brasileiro, mas para o

agronegócio no mundo, pois com base nelas as empresas do ramo podem melhorar seus

processos e especializar seus funcionários, para obter um trabalho mais eficiente, bem

como evitar o desperdício de água utilizada no processamento da carne bovina. Em um

trabalho futuro sugere-se ampliar esta pesquisa incluindo as cadeias de aves e suína na

análise, pois ambas também encontram-se em expansão em seu processo produtivo.

Bem como uma análise de outros fatores impactantes, tais como emissão de gás

carbônico, desmatamentos, entre outros.

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