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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A AVALIAÇÃO ESCOLAR SOB A ÓTICA DA DESIGUALDADE EURÍDICE ARAÚJO ORIENTADOR: Prof. Robson Materko Rio de Janeiro Dezembro/2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A AVALIAÇÃO ESCOLAR SOB A ÓTICA DA DESIGUALDADE

EURÍDICE ARAÚJO

ORIENTADOR: Prof. Robson Materko

Rio de Janeiro Dezembro/2001

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A AVALIAÇÃO ESCOLAR

SOB A ÓTICA DA DESIGUALDADE

EURÍDICE ARAÚJO

Trabalho monográficoapresentado como requisito parcial para a obtenção doGrau de Especialista emDocência do Ensino Superior(Pós-Graduação Lato Sensu)

Rio de Janeiro Dezembro/2001

A Deus, por me dar forças para que realizasse esse trabalho com dinamismo e muito prazer. Aos amigos que colaboraram para o meu sucesso.

SUMÁRIO

RESUMO 6

INTRODUÇÃO 8 1. A AVALIAÇÃO COMO FORMA DE CRIAR HIERARQUIAS 10

2. AVALIAÇÃO UMA DEFINIÇÃO PEDAGÓGICA 14

3. CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO E SEUS PROCEDI- MENTOS 18 4. AVALIAÇÃO X DESIGUALDADES 21 CONCLUSÃO 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 25 ANEXOS 26

RESUMO

A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho

docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e

aprendizagem. Através dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do

trabalho conjunto do professor e dos alunos são considerados com os objetivos

propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para

as correções necessárias. A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade

do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Os dados coletados no

decurso do processo de ensino, quantitativos ou qualitativos, são interpretados em

relaçao a um padrão de desempenho e expressos em juízos de valor (muito bom,

bom, satisfatório etc.) acerca do aproveitamento escolar.

A avaliação é uma tarefa complexa que não resume à realização de provas

e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser

submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação, assim, cumpre funções

pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de controle em relação às quais se recorre

a instrumentos de verificação do rendimento escolar.

A elaboração do presente trabalho resultou em pesquisas realizadas

através do método dedutivo e bibliográfico.

Apresentaremos neste trabalho uma definição de Avaliação Escolar na

prática escolar, características da avaliação, seus instrumentos de verificação e

seu princípio para o êxito escolar ou fracasso.

INTRODUÇÃO

O tema escolhido após várias análises e leituras, tornou-se de grande

interesse, visto que a avaliação é uma questão de sucesso ou fracasso do ser

humano, no processo ensino-aprendizagem.

Nesta monografia mostraremos a importância da avaliação escolar e como

vem sendo tratada pelos responsáveis da educação nos dias de hoje.

Avaliar trata-se muito mais de observar e ser observado, de comparar e ser

comparado, de se diferenciar, de assumir, enfim, um lugar nas relações, em

contraposição e complementaridade, aos outros.

Apesar da proliferação das formas avaliativas, desembocamos em um

labirinto, uma vez que apenas rara ou esporadicamente vêem-se discutidas as

finalidades da avaliação (para quê). Terminada a maratona avaliatória e de posse de

seus resultados, quase sempre retorna-se à velha fórmula: “aprovado ou reprovado”.

Por que, então, tamanha sofisticação técnica? Em nome do que se avalia tanto e de

modos tão variados?

Independente das concepções que se tenha acerca da natureza do ato

avaliativo e seus desdobramentos técnicos, o fato é que em todas elas subjaz a crença,

ou a suposição, de que pela avaliação poder-se-ía chegar ao mundo interno e secreto

do aprendiz.

É muito comum ouvir dos educadores que é necessário avaliar a criança ou

o jovem como um todo. Isso eqüivale a dizer que, na demanda mesma

de um super saber sobre a criança em particular, o que se cria no discurso pedagógico

é um imenso dessaber pelo aluno em geral, confundindo-se o âmbito de competências

da educação escolar com os de outras práticas afins.

Portanto, é o aluno que, na escola, se torna organismo/filho/cidadão para

então, e só assim, voltar a ser aluno.

A avaliação no decorrer deste trabalho será estudada através de várias

colocações que foram pesquisadas através de estudiosos de áreas diferentes e com os

mesmos objetivos fins.

1 – A AVALIAÇÃO COMO FORMA DE CRIAR HIERARQUIAS

A avaliação é uma invenção mais tardia, nascida com os colégios por volta

do século XVII e tornada indissociável do ensino de massa que conhecemos desde o

século XIX, com a escolaridade obrigatória.

Na história da escola, o consenso sobre a modo de avaliar ou sobre os

níveis de exigência nunca foram discutidos. A avaliação inflama as paixões, já que

estigmatiza a ignorância de alguns para melhor celebrar a excelência de outros.

Quando resgatam sua lembranças de escola, certos adultos associam a avaliação a

uma experiência gratificante, construtiva; para outros, ela evoca, ao contrário, uma

seqüência de humilhações. As questões que envolvem a avaliação escolar, denotam

arbitrariedade, incoerência ou falta de transparência dos procedimentos ou dos critérios

utilizados.

Avaliar é criar hierarquias de excelência, em função das quais se decidirão

a progressão no curso seguido, a seleção no início do curso, a orientação para

diversos tipos de estudos, a certificação antes da entrada no mercado de trabalho e, a

contratação.

Avaliar é também privilegiar um modo de estar em aula e no mundo,

valorizar formas e normas de excelência, definir um aluno modelo, aplicado e dócil para

uns, imaginativo e autônomo para outros.

Os historiadores nos ensinam que nos debatemos em disputas quase

rituais, retomadas década após década, em uma linguagem inovadora apenas o

suficiente para dissimular a perenidade das posições e das oposições.

Desde de que a escola existe, pedagogos se revoltam contra as notas e

querem colocar a avaliação mais a serviço do aluno do que do sistema.

Porém, essas evidências são incessantemente redescobertas, a cada

geração crê que nada mais será como antes. O que não impede a seguinte de seguir o

mesmo caminho e de sofrer as mesmas desilusões.

Portanto, nada se transforma de um dia para o outro no mundo escolar,

que a inércia é por demais forte, nas estruturas, nos textos e sobretudo nas mentes,

para que uma nova idéia possa se impor rapidamente. Este século que está

terminando demonstrou a força de inércia do sistema, para além dos discursos

reformistas.

Mesmo que muitos pedagogos tenham acreditado condenar as notas, elas

ainda estão aí, e bem vivas, em inúmeros sistemas escolares.

Com a denúncia da indiferença às diferenças há décadas, as crianças de

mesma idade continuam obrigadas a seguir o mesmo programa, visão pessimista da

escola o que poderia enfatizar o imobilismo.

Lentamente a escola está mudando. A maioria dos sistemas declara agora

querer favorecer uma pedagogia diferenciada e uma maior individualização das

trajetórias de formação. As notas desaparecem em certos graus, em certos tipos de

escolas.

A hierarquia da excelência jamais é o puro e simples reflexo da realidade

das variações. Elas existem realmente, mas a avaliação escolar

escolhe, em um momento definido, segundo critérios definidos, dar-lhe uma imagem

pública; as mesmas variações podem ser dramatizadas ou banalizadas conforme a

lógica de ação em andamento, pois não se avalia por avaliar, mas para fundamentar

uma decisão. Ao final do ano letivo ou do ciclo de estudos, as hierarquias de excelência

escolar comandam o prosseguimento normal do curso ou, se houver seleção, a

orientação para esta ou aquela habilitação. De modo mais global, ao longo de todo o

curso, elas regem o que se chama de êxito ou fracasso escolares. Estabelecida de

acordo com uma escala muito diferenciada, às vezes, apenas um décimo de ponto de

diferença, uma hierarquia de excelência se transforma facilmente, com efeito, em

dicotomia: basta introduzir um ponto de ruptura para criar conjuntos considerados

homogêneos; por um lado, aqueles que são reprovados são relegados às habilitações

pré-profissionais ou entram no mercado de trabalho aos 15-16 anos; por outro, os que

avançam no curso e se orientam para os estudos aprofundados.

A outra função tradicional de avaliação é certificar aquisições em relação a

terceiros. Um diploma garante aos empregadores em potencial que seu portador

recebeu uma formação, o que permite contratá-lo sem fazer com que preste novos

exames. Uma forma de certificação análoga funciona também no interior de cada

sistema escolar, de um ciclo de estudos ao seguinte, até mesmo entre anos escolares.

O mercado da orientação permanece controlado pelo sistema educativo.

Em todos os casos, a avaliação não é um fim em si. É uma engrenagem no

funcionamento didático e, mais globalmente, na seleção e na orientação escolar. A

avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do

trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e

aprendizagem.

A avaliação é uma tarefa complexa que não se resume à realização de

provas e atribuição de notas. A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico-

didáticas, de diagnóstico e de controle em relação às quais se recorre a instrumentos

de verificação do rendimento escolar.

2 - AVALIAÇÃO UMA DEFINIÇÃO PEDAGÓGICA

A função pedagógico-didática se refere ao papel da avaliação no

cumprimento dos objetivos gerais e específicos da educação escolar. Ao se comprovar

sistematicamente os resultados do processo de ensino, evidencia-se ou não o

atendimento das finalidades sociais do ensino, de preparação dos alunos para

enfrentarem as exigências da sociedade, de inseri-los no processo global de

transformação social e de propiciar meios culturais de participação ativa nas diversas

esferas da vida social. Ao mesmo tempo, favorece uma atitude mais responsável do

aluno em relação ao estudo, assumindo-o como um dever social. Cumprindo sua

função didática, a avaliação contribui para a assimilação e fixação, pois a correção dos

erros cometidos possibilita o aprimoramento, a ampliação e o aprofundamento de

conhecimentos e habilidades e, desta forma, o desenvolvimento das capacidades

cognitivas.

Uma das funções de identificação de progressos e dificuldades dos alunos

podem ser analisadas através de diagnóstico que permite identificar a atuação do

professor que, por sua vez, determinam modificações do processo de ensino para

melhor cumprir as exigências dos objetivos.

A avaliação diagnóstica ocorre no início, durante e no final do

desenvolvimento das tarefas. Durante o processo de transmissão e assimilação é feito

o acompanhamento do progresso dos alunos, apreciando os resultados, corrigindo

falhas, esclarecendo dúvidas, estimulando-os a continuarem

trabalhando até que alcancem resultados positivos. Ao mesmo tempo, essa avaliação

fornece ao professor informações sobre como ele está conduzindo o seu trabalho:

andamento da matéria, adequação de métodos e materiais, comunicação com os

alunos, adequabilidade da sua linguagem etc. Finalmente, é necessário avaliar os

resultados da aprendizagem no final de uma unidade didática, do bimestre ou do ano

letivo. A avaliação global de um determinado período de trabalho também cumpre a

função de realimentação do processo de ensino.

O controle se refere aos meios e à freqüência das verificações e de

qualificação dos resultados escolares, possibilitando o diagnóstico das situações

didáticas. Há um controle sistemático e contínuo que ocorre no processo de interação

professor-alunos no decorrer das aulas, através de uma variedade de atividades, que

permite ao professor observar como os alunos estão conduzindo-se na assimilação de

conhecimentos e habilidades e no desenvolvimento. O controle parcial e final se refere

a verificações efetuadas durante o bimestre, no final do bimestre e do semestre ou

ano, caso a escola exija o exame final.

A função pedagógico-didática se refere aos próprios objetivos do processo

de ensino e diretamente vinculada às funções de diagnóstico e de controle.

A prática da avaliação em nossas escolas tem sido criticada sobretudo por

reduzir-se à sua função de controle, mediante a qual se faz uma classificação

quantitativa dos alunos relativa às notas que obtiveram nas provas. Os professores ao

longo dos anos não conseguem usar os procedimentos de avaliação que, sem

dúvida, implicam o levantamento de dados por meio de

testes, trabalhos escritos etc., para atender a sua função educativa. Em relação

aos objetivos, funções e papel da avaliação na melhoria das atividades escolares e

educativas, têm-se verificado na prática escolar alguns equívocos. O mais comum é

tomar a avaliação unicamente como ato de aplicar provas, atribuir notas e classificar os

alunos. O professor reduz a avaliação à cobrança daquilo que o aluno memorizou e

usa somente como instrumento de controle, o que implica em diminuição da

capacidade criativa do aluno e uma desigualdade de condições em relação aos

demais.

Ao fixar critérios de desempenho unilaterais, o professor avalia os alunos

pelo seu mérito individual, pela sua capacidade de se ajustarem aos seus objetivos,

independentemente das condições do ensino e dos alunos e dos fatores externos e

internos que interferem no rendimento escolar.

Um critério errôneo é o de utilizar a avaliação como recompensa aos “bons”

alunos e punição para os desinteressados ou indisciplinados. As notas se transformam

em armas de intimidação e ameaça para uns e prêmios para outros.

Um outro erro é o de verificar através da percepção visual, dispensam

verificações parciais no decorrer das aulas. Neste caso, o prejuízo dos alunos é

grande, uma vez que o seu destino costuma ser traçado logo nos primeiros meses do

ano letivo, quando o professor estabelece quem passa e quem não passa de ano. Os

condenados à repetência são isolados no canto da sala e, não raro, abandonam a

escola.

O entendimento correto da avaliação consiste em considerar a relação

mútua entre os aspectos quantitativos e qualitativos. A escola cumpre uma função

determinada socialmente, a de introduzir as crianças e jovens no

mundo da cultura e do trabalho; tal objetivo social não surge espontaneamente na

experiência das crianças jovens, mas supõe as perspectivas traçadas pela

sociedade e um controle por parte do professor. Por outro lado, a relação pedagógica

requer a interdependência entre influências externas e condições internas dos alunos;

o professor deve organizar o ensino, mas o seu objetivo é o desenvolvimento

autônomo e independente dos alunos.

Portanto, se os objetivos e conteúdos são adequados às exigências da

matéria e às condições externas e internas de aprendizagem dos alunos e se o

professor demonstra um verdadeiro propósito educativo, as provas dissertivas ou

objetivas, o controle de tarefas e exercícios de consolidação e outros tipos de

verificação são vistos pelos alunos como efetiva ajuda ao seu desenvolvimento mental,

na medida em que mostram evidências concretas da realização dos objetivos

propostos.

3 – CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO E SEUS PROCEDIMENTOS O processo de ensino aprendizagem tem a avaliação escolar como parte

integrante, e não uma etapa simples e isolada. Há uma exigência de que esteja

concatenada com os objetivos-conteúdos-métodos expressos no plano de ensino e

desenvolvidos no decorrer das aulas.

Os objetivos explicitam conhecimentos, habilidades e atitudes, cuja

compreensão, assimilação e aplicação, por meio de métodos adequados, devem

manifestar-se em resultados obtidos nos exercícios, provas, conversação didática,

trabalho independente etc.

Um aspecto particularmente relevante é a clareza dos objetivos, pois os

alunos precisam saber para que estão trabalhando e no que estão sendo avaliados.

A avaliação ajuda a tornar mais claros os objetivos que se quer atingir. No

início de uma unidade didática, o professor ainda não está muito seguro de como

atingir os objetivos no decorrer do processo de transmissão e assimilação. À medida

que vai conduzindo o trabalho e observando a reação dos alunos para as atividades

subsequentes.

A avaliação deve ajudar todas as crianças a crescerem: os ativos e os

apáticos, os espertos e os lentos, os interessados e os desinteressados. Os alunos

não são iguais, nem no nível sócio-econômico nem nas suas

características individuais. A avaliação possibilita o conhecimento de cada um, da sua

posição em relação à classe, estabelecendo uma base para as atividades de ensino

aprendizagem.

A avaliação deve ter caráter objetivo, capaz de comprovar os

conhecimentos realmente assimilados pelos alunos, de acordo com os objetivos e os

conteúdos trabalhados. Para que se possa garantir a exigência de objetividade,

aplicam-se instrumentos e técnicas diversificadas de avaliação.

Considera-se a avaliação um termômetro dos esforços do professor. Ao

analisar os resultados do rendimento escolar dos alunos, obtém informações sobre o

desenvolvimento do seu próprio trabalho.

As habilidades, conhecimentos, as atitudes e os hábitos, bem como a

maneira de ser do professor, indicam as crenças e propósitos em relação ao seu papel

social e profissional diante dos alunos. Atitudes de diferenças preferenciais por

determinados alunos, de preconceito social, de ironia em relação ao modo de ser dos

alunos são antidemocráticas, portanto deseducativas.

Portanto, a avaliação é um ato pedagógico. Nela o professor mostra as

suas qualidades de educador na medida em que trabalha sempre com propósitos

definidos em relação ao desenvolvimento das capacidades físicas e intelectuais dos

alunos face às exigências da vida social. Os objetivos também devem expressar as

reais possibilidades dos alunos de modo que estejam em condições de cumprir as

exigências colocadas pela escola.

A avaliação também envolve a objetividade e a subjetividade, tanto em

relação ao professor como aos alunos. Levar em conta apenas aspectos objetivos,

acaba tornando-se mecânica e imparcial; atendo-se somente às

necessidades e condições internas dos alunos, pode comprometer o cumprimento das

exigências sociais requeridas da escola.

O professor precisa ter convicções éticas, pedagógicas e sociais para que

não cometa erros. Ao fazer a apreciação qualitativa dos resultados escolares, levará

em conta os seus propósitos educativos. O fato de um aluno ser pobre não justifica

tolerância com um desempenho escolar fraco, pois o professor deve exigir de todos

uma sólida assimilação de conhecimentos. Objetivos estabelecidos fora do alcance não

é democrático e nem tampouco rebaixar as exigências em relação do rendimento

escolar.

Os procedimentos das práticas pedagógicas convencionais impedem a

mudança de ensino. A rigidez dos procedimentos de avaliação impedem ou retarda

outras mudanças.

Portanto, deve-se mudar a avaliação para mudar a pedagogia, não apenas

no sentido da diferenciação, mas dos encaminhamentos de projetos, do trabalho por

meio de situações-problemas, dos métodos ativos, da formação de conhecimentos

transferíveis e de competências utilizáveis fora da escola.

4. AVALIAÇÃO X DESIGUALDADES

A idéia dos professores olharem seus alunos, além de seus atributos

externos como: raça, etnia, gênero, linguagem, classe social ou deficiências, devem

focalizar, em contrapartida, seu potencial como aprendizes.

“O uso de indicadores educacionais pode favorecer a compreensão do professor sobre seus alunos de modo que, com base nesses conhecimentos construídos – bem como em outros -, possa estabelecer práticas pedagógicas, refletir sobre elas, e reformulá-las na perspectiva do sucesso escolar.

Os indicadores em geral são planejados para oferecer informações sobre o estado de um sistema educacional ou social e constituem instrumentos sinalizadores de que algo possa não estar funcionando bem. Neste sentido, os indicadores per se não oferecem o diagnóstico ou a prescrição do remédio; apenas sugerem que uma ação é necessária”. (Abramowicz, 1997, p.174)

O uso de estatísticas educacionais inadequadas que, nas últimas décadas,

resultaram no estabelecimento de políticas e ações muitas vezes desvinculadas das

necessidades efetivas do sistema escolar e, sobretudo dos alunos.

O desenvolvimento e, sobretudo, os usos de indicadores educacionais

segundo os moldes indicados, podem ser considerados como uma das ferramentas

úteis para a construção de práticas pedagógicas. Possivelmente através do

conhecimento mais detalhado e preciso sobre diversos aspectos da comunidade

escolar, e em especial dos alunos, novas idéias, novas compreensões possam ser

elaboradas pelo professor na perspectiva de

construção de novas ações pedagógicas. Além disso, é provável que possam subsidiar

a elaboração de políticas educacionais voltadas para superação das dificuldades

enfrentadas por alunos e, em conseqüência, do fracasso escolar.

A concepção de desenvolvimento e inteligência considerada por vários

autores como um processo construído nas relações sociais mostra-nos que

compreender o desenvolvimento da leitura e da escrita seria compreender os

processos de apropriação de um objeto socialmente construído.

Ao tratar todas as crianças como iguais, a escola ratifica as desigualdades

culturais iniciais e vai transformando as desigualdades de aprendizagem em

desigualdades de capital escolar.

Portanto, desde as primeiras séries, os alunos aprendem a se comparar e

a se situar frente às normas de excelência estabelecidas pela escola, e vão fazendo as

classificações ; escrever bem, por exemplo, é seguir as normas definidas pela escola

sobre o que significa uma boa escrita; desenhar bem é fazer aquilo que a norma define

como o bom desenho, e assim por diante. Quando as tarefas são as mesmas para

todos e as condições similares, as diferenças de desempenho ficam mais claras e a

hierarquização aparece mais rapidamente. O professor quer queira quer não encarna a

norma.

Perrenoud, (1990), “insiste na idéia de fabricação da excelência escolar

para evidenciar que os juízos e hierarquias escolares, como todas as representações,

são resultado de uma construção cultural, intelectual e social em parte codificada pela

instituição”.

A diferenciação não pode ser limitada a uma metodologia, a um nível de

idade, a uma categoria de conteúdos ou de competências. Para que haja

diferenciação, é preciso vencer uma série de preconceitos e resistências. Por um

lado vencer as representações deterministas de que alguns alunos são mais capazes

do que outros, ou seja, rejeitar a idéia, às vezes confortante, às vezes desesperadora,

de que o fracasso escolar é uma fatalidade. Acreditar, que os alunos em sua maioria

podem dominar os conteúdos mínimos necessários desde que lhes sejam dadas

condições adequadas de aprendizagem.

Diferenciar é dispor-se a encontrar estratégias para trabalhar com os

alunos mais difíceis e desiguais. Se o arranjo da classe, os materiais didáticos, as

atividades planejadas não funcionam com esses alunos, é preciso modificá-las, ou

seja, adequá-las, inventar novas formas, experimentar, assumir o risco de errar e

dispor-se a corrigir.

Diferenciar é, sobretudo, aceitar o desafio de que não há receitas, nem

soluções únicas; é aceitar as incertezas próprias das pedagogias ativas que dependem

grandemente da negociação, da improvisação, da personalidade e das iniciativas dos

seus atores.

CONCLUSÃO

Com tal abrangência, a avaliação escolar possibilita a identificação das

dificuldades, dos sucessos e fracassos, apoiando encaminhamentos e decisões sobre

as ações necessárias, sejam elas de natureza pedagógica, administrativa ou estrutural.

A função da avaliação determinantemente tem que se focar no diagnóstico

e estimulação do avanço do conhecimento. Seus resultados devem servir para

orientação da aprendizagem, cumprindo uma função eminentemente educacional.

A escola tem sua função primordial que é o processo de apropriação e

construção do conhecimento do aluno, a avaliação deve servir de orientação da

aprendizagem. É necessário romper com falsa dicotomia entre ensino e avaliação. Os

erros, os acertos, as dificuldades e dúvidas que o aluno apresenta são evidências

significativas de como está interagindo com o conhecimento.

Os critérios de avaliação não são estabelecidos de modo dissociado das

posições, crenças, visões de mundo e práticas sociais de quem os concebe, mas

emergem da perspectiva filosófica social, política de quem faz o julgamento e que dela

são expressão. Assim, os enfoques e critérios assumidos em um processo avaliativo

revelam as opções axiológicas dos que dele participam.

As considerações sobre as finalidades da avaliação aqui colocadas

partem do compromisso com o sucesso escolar como condição e direito de todos,

rompendo-se com uma concepção classificatória e seletiva. O ato de avaliar, por sua

constituição mesma, não se destina a um julgamento “definitivo” sobre alguma coisa,

pessoa ou situação, pois que não é um ato seletivo. A avaliação se destina ao

diagnóstico e, por isso mesmo, à inclusão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOWICZ, Anete e MOLL, Jaqueline. Para Além do Fracasso Escolar. São Paulo: Papirus, 1997 FONSECA, Vitor da. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2ª edição, 1995. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor) PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre dua lógicas. Trad. Patrícia Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. ZELAN, Karen. Os Riscos do Saber: Obstáculos do desenvolvimento à Aprendizagem Escolar. Trad. Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1993

A N E X O S