a arte contemporÂnea: instalaÇÕes artÍsticas e suas contribuiÇÕes para um processo educativo...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO PEDAGÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MARIA DA PENHA FONSECA A ARTE CONTEMPORÂNEA: INSTALAÇÕES ARTÍSTICAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA UM PROCESSO EDUCATIVO EM ARTE. VITÓRIA 2007

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTOCENTRO PEDAGGICO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO

    MARIA DA PENHA FONSECA

    A ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES ARTSTICAS ESUAS CONTRIBUIES PARA UM PROCESSO

    EDUCATIVO EM ARTE.

    VITRIA2007

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  • MARIA DA PENHA FONSECA

    A ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES ARTSTICAS ESUAS CONTRIBUIES PARA UM PROCESSO

    EDUCATIVO EM ARTE.

    Dissertao apresentada ao Programa dePs-graduao em Educao do CentroPedaggico da Universidade Federal doEsprito Santo, como requisito parcial paraobteno do grau de Mestre em Educao,na rea de Educao e Linguagem noverbal.Orientadora: Prof Dr Moema MartinsRebouas.

    VITRIA2007

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  • F676a Fonseca, Maria da Penha.Arte Contempornea: instalaes artsticas e suas contribuies para umprocesso educativo em arte / Maria da Penha Fonseca 2007165 f.

    Orientador: Moema Martins RebouasDissertao (mestrado) Universidade Federal do Esprito Santo, CentroPedaggico.

    1. Educao. 2. Arte-Educao. I Rebouas, Moema Martins. IIUniversidade Federal do Esprito Santo. Centro Pedaggico. III.Ttulo.

    CDD700.1

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  • MARIA DA PENHA FONSECA

    A ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES ARTSTICAS ESUAS CONTRIBUIES PARA UM PROCESSO

    EDUCATIVO EM ARTE.

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao do CentroPedaggico da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito parcial paraobteno do grau de Mestre em Educao na rea de Educao e Linguagem noverbal.

    Aprovada em 12 de novembro de 2007.

    COMISSO EXAMINADORA

    _____________________________________________Prof Dr. Moema Martins RebouasUniversidade Federal do Esprito SantoOrientadora

    _____________________________________________Prof Dr. Anamelia Bueno BuoroFaculdade de Comunicao e Arte Senac/SPFaculdade de Moda Senac/SPCurso Superior de Formao de Professores Singularidades/SP

    _____________________________________________Prof Dr. Maria Auxiliadora CorassaUniversidade Federal do Esprito Santo

    _____________________________________________Prof. Dr. Csar ColaUniversidade Federal do Esprito Santo

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  • A Carlos, Bruno e Cristiano, razo de minha vida.Meus pais Elson (in memorian) e Elza, que me deram a vida.Meus familiares, aos profissionais do Colgio Marista e amigos quecompreenderam minhas ausncias.Aos Arte Educadores da Rede Municipal de Ensino - Vila Velha,ES.A Equipe do Museu Ferrovirio Vale do Rio Doce.E especialmente prof Dra. Moema Rebouas, minha orientadoraa quem agradeo o companheirismo, a ajuda e as trocas.

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  • A grandeza de uma obra de arte estfundamentalmente no seu carter ambguo, quedeixa ao espectador decidir sobre o seu significado.

    Theodor Adorno

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  • RESUMO

    A pesquisa busca analisar como se configura o saber, fazer e refletir, desenvolvidos

    por um grupo de professores de Arte, que participam dos encontros de formao

    continuada por rea, na Rede Municipal de Educao e Ensino de Vila Velha, a

    partir da insero da arte contempornea no processo educativo: as instalaes

    artsticas como fonte para a produo e socializao do conhecimento artstico; das

    instalaes como expresso artstica e como proposta educativa que deve ser

    submetida a uma escolha e anlise por parte do professor; da semitica discursiva

    como proposta metodolgica para leitura do texto imagtico, com estratgias

    descritivas que possibilitam a construo do sentido do texto no ato de sua anlise.

    Autores diversos - tericos da Educao, da Arte-Educao, da Filosofia da Arte, da

    Linguagem entre outros - ajudaram a construir os conceitos e conhecimentos

    necessrios pesquisa. A realizao de uma oficina-pedaggica para a

    contextualizao da arte contempornea, a visitao Exposio Babel, do artista

    carioca Cildo Meireles e a realizao de um workshop no Museu Ferrovirio Vale do

    Rio Doce durante a exposio foram os recursos metodolgicos de coleta e anlise

    de dados. Conclumos que a explorao de uma abordagem discursiva, por meio do

    princpio esttico-expressivo das instalaes artsticas, poder contribuir para uma

    experincia de ensino-aprendizagem que possibilite o fazer, o apreciar e o refletir a

    produo social e cultural da arte por meio do sensvel, contextualizando os objetos

    artsticos e seus contedos. Para que tal abordagem se concretize fundamental

    que o professor esteja em estado de busca constante de pesquisa, de estudo e de

    produo reflexiva, de modo que possa garantir um contedo atualizado em relao

    cultura e educao para aqueles a quem ele educa.

    PALAVRAS-CHAVES: Formao de professores. Arte Contempornea.Instalao Artstica. Semitica Discursiva.

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  • ABSTRACT

    This research search to analyze as the knowledge is configured, the practice and the

    reflecting developed by a group of Art teachers that were part of meetings on

    continuous study in Rede Municipal de Educao e Ensino de Vila Velha, starting

    from the insertion of Contemporaneous Art in the educational process: artistic

    installations as a source for production and socialization of artistic knowledge;

    installations as artistic expressions and as educational proposal that must be

    submitted to a choice and to an analyzes by a teacher; about discursive semiotics as

    a methodological proposal for reading an imagetic text, with descriptive strategies

    that allow the building of sense in the text during its analysis. Several authors

    theoretitians in Education, Art-Education, Philosophy of Art and Language among

    others have helped us build concepts and knowledge necessary to our research.

    Having a pedagogical workshop to contextualize Contemporaneous Art, visiting

    Babel art exhibit, by Cildo Meireles from Rio de Janeiro, and having a workshop in

    Museu Ferrovirio Vale do Rio Doce during the exhibit were methodological sources

    to collect and analyze data.

    We realize that exploring a discursive approach, through the aesthetic-expressive

    principle of the artistic installations may contribute to an experience on learning-

    teaching that allows the practice, the appreciation and the reflection on the social and

    cultural production of art through the sensitive, contextualizing the objects of art and

    its contents. In order to make that approach possible it is fundamental that the

    teacher is in a state of constant search and research, study and reflective production,

    in a way that he may guarantee a current content related to culture, education and

    the ones he teaches.

    KEY WORDS: Teacher continuous study. Contemporaneous Art. Artistic Installation.

    Discursive Semiotics.

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  • LISTA DE FOTOGRAFIAS

    Fotografia 1 Natureza-morta .......................................................................... 15

    Fotografia 2 Ventilador ................................................................................... 15

    Fotografia 3 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 16

    Fotografia 4 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 16

    Fotografia 5 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 17

    Fotografia 6 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 17

    Fotografia 7 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 17

    Fotografia 8 Fantasias do Carnaval do Eco Lixo ........................................... 17

    Fotografia 9 Projeto Cpsula do Tempo ........................................................ 18

    Fotografia 10 Alunas confeccionando arranjos de flores com garrafa PET ..... 21

    Fotografia 11 Alunas montando a Instalao Arte e Meio Ambiente ............... 21

    Fotografia 12 Visita a Exposio/Alunos da EI................................................. 22

    Fotografia 13 Visita a Exposio/Alunos da EI................................................. 22

    Fotografia 14 Alunos na Instalao Arte e Meio Ambiente .............................. 22

    Fotografia 15 Avaliao da produo plstica ................................................. 22

    Fotografia 16 Blide Cara de Cavalo, de HO.................................................... 46

    Fotografia 17 Detalhe do Blide Cara de Cavalo, de HO ................................ 46

    Fotografia 18 Hlio Oiticica e a obra Blide Cara de Cavalo ........................... 46

    Fotografia 19 ltima Ceia, de Leonardo da Vinci (1495 1498) ..................... 61

    Fotografia 20 Santa Ceia, de Nelson Leirner (1990) ....................................... 62

    Fotografia 21 Homem rolando fumo, de Almeida Jnior ................................. 75

    Fotografia 22 O Mamoeiro, de Tarsila do Amaral ............................................ 76

    Fotografia 23 Caixa de Baratas, de Lygia Pape .............................................. 80

    Fotografia 24 Os Bichos, de Lygia Clark .......................................................... 82

    Fotografia 25 Parangols, de Hlio Oiticica ..................................................... 83

    Fotografia 26 Parangols, de Hlio Oiticica ..................................................... 83

    Fotografia 27 Parangols, de Hlio Oiticica ..................................................... 83

    Fotografia 28 Parla, de Cildo Meireles ............................................................. 86

    Fotografia 29 Tropiclia, de Hlio Oiticica ....................................................... 88

    Fotografia 30 Penetrveis PN2 e PN3, de Hlio Oiticica ................................. 88

    Fotografia 31 Desvio para o vermelho, de Cildo Meireles ............................... 89

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  • Fotografia 32 Sala dos espelhos, de Ken Lum ................................................ 90

    Fotografia 33 a, e, i, o, u, de Miroslaw Balka ................................................. 91

    Fotografia 34 a, e, i, o, u, de Miroslaw Balka ................................................. 91

    Fotografia 35 True Rouge, de Tunga (1998) ................................................... 93

    Fotografia 36 Prdio do Museu Vale do Rio Doce ......................... 99

    Fotografia 37 Locomotiva (1945) MVRD .................................................... 100

    Fotografia 38 Montagem da obra Torre de Babel, no MVRD ........................ 108

    Fotografia 39 Inseres em Circuitos Ideolgicos, de Cildo Meireles ............. 111

    Fotografia 40 Inseres em Circuitos Ideolgicos, de Cildo Meireles ............. 111

    Fotografia 41 Inseres em Circuitos Ideolgicos, de Cildo Meireles ............. 111

    Fotografia 42 Espaos Virtuais, de Cildo Meireles .......................................... 112

    Fotografia 43 Documenta 11 Alemanha ....................................................... 113

    Fotografia 44 Elemento em vias de desaparecimento, de Cildo Meireles ....... 113

    Fotografia 45 Noite de Vernissage - Torre de Babel, de Cildo Meireles .......... 115

    Fotografia 46 Noite de Vernissage Marulho, de Cildo Meireles .................... 115

    Fotografia 47 Noite de Vernissage - Cildo Meireles e Penha Fonseca ........... 115

    Fotografia 48 Malhas da Liberdade, de Cildo Meireles ................................... 119

    Fotografia 49 Torre de Babel, de Cildo Meireles ............................................. 122

    Fotografia 50 Professora apreciando a obra Torre de Babel .......................... 122

    Fotografia 51 Glover Trotter, de Cildo Meireles ............................................... 126

    Fotografia 52 Professoras apreciando a obra Glover Trotter ........................... 126

    Fotografia 53 Professoras apreciando a obra Marulhos .................................. 128

    Fotografia 54 Professoras apreciando a obra Marulhos .................................. 128

    Fotografia 55 Professoras no Workshop MVRD ... 132

    Fotografia 56 Professoras no Workshop MVRD ... 132

    Fotografia 57 Professoras no Workshop MVRD ... 133

    Fotografia 58 Caixas produzidas no Workshop MVRD ............................ 134

    Fotografia 59 Produo de alunos / relato de experincia .............................. 137

    Fotografia 60 Produo de alunos / relato de experincia .............................. 137

    Fotografia 61 Produo de alunos / relato de experincia ............................... 137

    Fotografia 62 Produo de alunos / relato de experincia ............................... 138

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  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Pesquisas desenvolvidas no PPGE Grande Vitria ................... 67

    Grfico 2 Questionrios Respondidos ........................... ............................... 69

    Grfico 3 Tempo de Formao na rea ......................................................... 70

    Grfico 4 - Mantm-se informado sobre as manifestaes artsticas cont. ...... 71

    Grfico 5 Gosta de arte contempornea? ..................................................... 71

    Grfico 6 Freqenta espaos artsticos culturais? ......................................... 72

    Grfico 7 Preferncias artsticas na Arte Contempornea ........................... 72

    Grfico 8 J visitou Exposies com Instalaes Artsticas ......................... 73

    Grfico 9 Utiliza Arte Contempornea em projetos na escola ...................... 73

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  • LISTA DE SIGLAS

    CACI Centro de Arte Contempornea de Inhotim

    CEB - Cmara de Educao Bsica

    CNE - Conselho Nacional de Educao

    EFVM - Estrada de Ferro Vitria a Minas

    FAEB - Federao de Arte Educadores do Brasil

    LDB - Lei de Diretrizes e Bases

    MAM-RIO Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

    MEC/SEF Ministrio da Educao e Cultura

    MFVRD Museu Ferrovirio Vale do Rio Doce

    MOMA Museu de Arte Moderna de Nova York

    PCNs - Parmetros Curriculares Nacionais

    PPPP Projeto Poltico Pastoral Pedaggico

    PUC-RJ Pontifcia Universitria Catlica do Rio de Janeiro

    PUC-SP Pontifcia Universitria Catlica de So Paulo

    UFES Universidade Federal do Esprito Santo

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

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  • SUMRIO

    TEMPOS E ESPAOS RE-ENCONTRADOS ............................................... 141 DELIMITANDO A PROBLEMTICA E DEFININDO OBJETIVOS............. 261.1 O ENSINO DA ARTE E SUA PRTICA EDUCATIVA ............................. 271.1.1 Da Legislao e da Prtica ................................................................... 271.1.2 Arte e Conhecimento ........................................................................... 311.2 OBJETIVOS .............................................................................................. 331.2.1 Objetivo Geral ....................................................................................... 331.2.2 Objetivos Especficos .......................................................................... 332 REFERENCIAL TERICO .......................................................................... 342.1 ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES ............................................. 342.1.1 Contextualizando a Arte Contempornea ............................................ 352.2 A CENA CONTEMPORNEA NAS DIFERENTES LINGUAGENS............ 422.2.1 As Linguagens Artsticas Contemporneas ........................................ 432.2.2 Produo Cultural na Contemporaneidade ....................................... 442.3 A EXPERIENCIA ESTTICA COM A ARTE CONTEMPORNEA ......... 472.4 PRESENA DA ARTE NA EDUCAO ................................................... 502.5 SEMITICA, TEXTO E DISCURSO ......................................................... 542.6 INTERTEXTUALIDADE E CONTRATOS COMUNICACIONAIS .............. 593 A EXPERINCIA ESTTICA NA ARTE CONTEMPORNEA ................... 663.1 OS SUJEITOS DA PESQUISA .................................................................. 673.2 FORMAO PEDAGGICA .................................................................... 683.2.1 Inscries e Coleta de Dados .............................................................. 693.2.1.1 Coleta dos dados dos questionrios ................................................... 703.2.2 Oficina: Arte Contempornea Instalaes Artsticas .................... 743.2.2.1 Da arte Acadmica Arte Contempornea 753.2.2.2 Instalaes artsticas ........................................................................... 874 O ESPAO E A OBRA DE ARTE CONTEMPORNEA ............................ 994.1 O MUSEU VALE DO RIO DOCE ................................................................. 994.1.1 Memria Ferroviria ............................................................................. 1004.1.2 Cultura .................................................................................................. 1014.1.3 Educao .............................................................................................. 1044.2 CILDO MEIRELES E SUA POTICA ESTTICA ...................................... 107

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  • 4.2.1 A Produo Artstica de Cildo Meireles .............................................. 1104.2.1.1 Inseres em Circuitos Ideolgicos ..................................................... 1114.2.1.2 Espaos Virtuais .................................................................................. 1114.2.1.3 Elemento em vias de desaparecimento .............................................. 1124.2.2 Exposio Babel ................................................................................... 1144.2.3 Visitao a Exposio Babel, de Cildo Meireles ................................ 1174.2.3.1 Malhas da Liberdade ........................................................................... 1194.2.3.2 Torre de Babel ..................................................................................... 1214.2.3.3 Glover Trotter ....................................................................................... 1254.2.3.4 Marulhos .............................................................................................. 1274.2.4 Workshop............................................................................................. 1304.2.5 Relato de Experincia ........................................................................... 1364.2.5.1 Relato: Satlites Coloridos ................................................................... 1365 CONSIDERAES FINAIS.......................................................................... 141REFERNCIAS................................................................................................ 147ANEXOS .......................................................................................................... 153

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  • 14

    TEMPOS E ESPAOS RE-ENCONTRADOS

    Esta pesquisa nasceu ao retornar um olhar para a prtica pedaggica em sala de

    aula, como professora de Arte, no Colgio Marista Nossa Senhora da Penha, em

    Vila Velha / ES. Desde 1995, venho compartilhando e vivenciando as modificaes

    do ensino da arte, no universo escolar do qual fao parte e me vejo como uma

    apaixonada pela arte contempornea, acreditando que por meio dela existem

    possibilidades infinitas de desenvolver projetos interdisciplinares (envolvendo outras

    disciplinas de forma integrada), transdisciplinares (utilizando teorias, conceitos e

    instrumentos de outras reas de conhecimento) e transversais (temas integrados na

    Educao para a cidadania: tica, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Sade,

    Educao Sexual, Trabalho e Consumo), desenvolvendo com o aluno a capacidade

    criadora e reflexiva, assim como o olhar crtico sobre a forma como o homem se

    integra ao mundo natural.

    Ao rever esse percurso pedaggico, foram resgatados alguns trabalhos

    desenvolvidos, conforme se segue:

    O Projeto Fotografando e Desenhando o Espao Escolar partiu do estudo da

    imagem fotogrfica com os alunos da 4 srie do Ensino Fundamental, marcando o

    incio do interesse pela arte contempornea. Tal proposta surgiu aps assistir a uma

    palestra com a professora Lucimar Bello, no Seminrio Capixaba sobre o Ensino de

    Arte Centro de Artes / UFES, oportunidade em que a mesma relatou uma

    experincia realizada em Uberlndia, MG, na qual convidava, em tardes de domingo,

    os transeuntes do Parque Municipal a recolherem materiais que encontrassem soltos

    na praa (folhas, galhos, latas e/ou outros objetos encontrados). Ao retornarem,

    esses materiais, eram transformados em objetos plsticos, provocando assim na

    comunidade uma sensibilizao pela arte.

    Aps relatar aos alunos a experincia vivida pela professora e artista, propus a

    realizao de desenhos com materiais recolhidos no espao escolar, os quais

    seriam fotografados.

    Num primeiro momento samos pelo colgio recolhendo materiais encontrados

    cados no cho (folhas, latas de refrigerante, flores, guardanapos de lanche, pacote

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  • 15

    de biscoito). Feito o desenho, tudo foi fotografado. O resultado foi muito variado e,

    dependendo do horrio, antes ou aps o recreio, os materiais eram diferentes.

    Aproveitamos a oportunidade para conversar de que forma tal comportamento (uso

    inadequado das lixeiras) pode prejudicar o Meio Ambiente, ressaltando que esse

    no um espao distante, mas sim o ambiente no qual vivemos. Portanto, ao

    destru-lo, prejudicamos a ns mesmos, por sermos parte desse meio, fazermos

    parte do planeta Terra e termos responsabilidades sobre ele.

    No segundo momento, j com as fotografias reveladas, efetuamos a apreciao das

    imagens. No era uma fotografia tal qual eles estavam acostumados a observar,

    como a de pessoas, de paisagens, de comemoraes e outras, mas uma fotografia

    em que os elementos, por serem inusitados, apresentavam-se como uma nova

    linguagem com objetos que desenhavam linhas, formas, texturas, algo como nunca

    tinham pensado antes. Aps a reflexo do processo da produo fotogrfica, os

    alunos escolheram ttulos para as mesmas, registraram relatos e num terceiro

    momento realizamos a exposio fotogrfica, a fim de partilhar com a comunidade

    escolar as imagens produzidas pelas turmas de 4 srie.

    As fotografias 1 e 2 so exemplos dessa produo.

    Fotografia 1: Natureza-morta Fotografia 2: VentiladorFonte: Fotos pelo autor Fonte: Fotos pelo autor

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  • 16

    O Projeto: Carnaval do Ecolixo foi uma proposta transdisciplinar com o objetivo de

    reduzir, reutilizar, recuperar, reciclar e repensar o lixo, contribuindo no apenas para

    a formao de uma conscincia ecolgica, mas tambm visando tratar de questes

    mais amplas como a Ecologia Integral.

    Nas aulas que antecederam ao Carnaval, conversamos sobre a questo do

    consumo consciente e o lixo que se produz no dia-a-dia. A proposta envolveu

    vrias linguagens e abrangeu diferentes reas de conhecimento, ficando a cargo das

    Artes Visuais a criao (desenho e confeco) de fantasias com materiais reciclveis

    e reutilizveis, utilizando-se sucatas e materiais diversos; das Artes Musicais, a

    composio de pardias dos Sambas enredos, enfatizando a problemtica do Meio

    Ambiente; e em Ingls e Educao Fsica a elaborao das coreografias.

    Esse evento acontece h sete anos no interior do Colgio. Os pais so convidados

    para assistirem e/ou participarem. O tema : Ecologia Integral: Voc. Os outros. A

    cidade. A natureza. Tudo importa.

    As fotografias de 3 a 8 expem o resultado do trabalho desenvolvido pelos alunos.

    Fotografias 3 e 4: Fantasias produzidas com materiais reciclveis e reutilizveis.Fonte: Fotos pelo autor

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  • 17

    Fotografias 5 a 8: Fantasias produzidas com materiais reciclveis e reutilizveis.Fonte: Fotos pelo autor

    Na passagem do milnio, desenvolvemos uma proposta a qual denominamos A

    Cpsula do Tempo, uma escultura confeccionada pelas turmas da 4 srie,

    utilizando uma caixa de madeira, com um metro quadrado, fixada em forma de

    desequilbrio sobre um suporte do mesmo material. A finalidade da construo dessa

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  • 18

    escultura foi a de depositar as metas traadas para a entrada do novo sculo pelos

    alunos da Educao Infantil ao Ensino Mdio. Tais metas foram apresentadas em

    forma de desenhos ou textos verbais, registrando as expectativas dos alunos em

    relao a esse momento e foram guardadas dentro da escultura, separadas por

    turmas, em envelopes ou caixas. A Cpsula do Tempo foi lacrada e colocada na

    recepo central do Colgio, onde permaneceu at o fim do ano. Essa escultura fez

    parte do Projeto Preservar Preciso, com o objetivo de conscientizao da

    importncia de preservar-se o meio e de nos colocar como construtores da histria,

    considerando que esse perodo foi exatamente a virada do milnio. Ao final do ano

    letivo, a Cpsula do Tempo foi aberta e os envelopes devolvidos aos alunos para

    fazerem uma anlise e reflexo do que havia sido proposto no incio do ano, suas

    conquistas e/ou frustraes.

    Fotografia 9: Escultura Cpsula do TempoFonte: A Tribuna - Vitria-ES, em 04 de maio de 2001

    O Projeto Arte e Meio Ambiente marcou o interesse da turma em pesquisar sobre a

    Arte Contempornea, tornando-se mais latente ainda em 2004, a partir do

    desenvolvimento de uma proposta transdisciplinar, envolvendo as disciplinas de Arte

    (Artes Visuais e Msica) e Educao Fsica, com alunos do Ensino Fundamental - 1

    [...] A cpsula foi construda pelas turmas de 4 srie doEnsino Fundamental. Com criatividade, as crianasrevestiram uma caixa de madeira com vrios tipos dematerial reciclado, como tampinhas de garrafa, rolos depapel higinico, jornal, plstico, rolhas, barbantes.A professora de Arte Maria da Penha Fonseca disse queos alunos ficaram entusiasmados com a idia deconstrurem uma cpsula do tempo.Quando comearam a ver o efeito que estavam criandocom os materiais, as cores, as texturas, eles seempolgaram com o trabalho. Muitas crianas at ficaramna sala de Arte na hora do recreio porque no queriamparar de fazer a caixa (A TRIBUNA - VITRIA-ES -Sexta-feira - 04/05/2001).

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  • 19

    4 srie, tendo como temtica: Arte e Meio Ambiente. Como contedo na disciplina

    Arte, procurou-se contemplar a Esttica e Crtica da Arte, A Funo da Arte, Histria

    da Arte no Brasil: Arte Contempornea: Objeto e Instalao1, seguindo orientaes

    do Projeto Poltico Pastoral Pedaggico (PPPP).

    Nas aulas de Artes Visuais, antes de apresentarmos algumas imagens e o conceito

    de Instalaes Artsticas2, iniciamos o estudo com as Construes e Objetos3

    tridimensionais, produzidas por Pablo Picasso, Menina pulando corda e Cabea de

    Touro, por j ser um artista trabalhado anteriormente no incio do ano letivo; e de

    Marcel Duchamp, Roda de Bicicleta.

    Durante as apreciaes das obras xerocadas em transparncia e ampliadas em

    retroprojetor, demos nfase ao processo criativo dos artistas que fizeram uso de

    materiais prontos e j existentes, fazendo a apropriao / transformao em objeto

    artstico.

    Buscamos conhecer um pouco da vida dos artistas Picasso e Marcel Duchamp. Em

    Picasso enfatizamos as pesquisas e proposies para a produo artstica com a

    apropriao de materiais extra-artsticos, tais como: objetos de cozinha; restos de

    madeira; pedaos de jornais e sucatas diversas reagrupando-os em esculturas e

    objetos. Sua participao destaca-se em diversos movimentos da arte moderna e no

    movimento cubista4. E em Duchamp, a apropriao e uso de objetos j prontos,

    usados no dia-a-dia, transformados em obras de arte os ready-made, que em

    portugus quer dizer j prontos.

    Consideramos a importncia do conhecimento de fatos e aes que contribuem com

    a obra do artista e nela esto presentes, tais como: o contexto da poca em que elas

    foram produzidas; os fatores que os motivaram para a busca de novas formas de

    expresso artstica e a contribuio para uma compreenso da obra apreciada.

    1 Tpicos que norteiam o Ensino da Arte no PPPP MARISTA- volume 6.2 As instalaes so construdas como ambientes cenogrficos, geralmente fechados, que possuemdiversas formas de expresso artstica em conjunto com os cinco sentidos humanos. Seu objetivoprincipal o de envolver o espectador atravs da interatividade direta e completa.3 Tipo de escultura em que so utilizados elementos colados, soldados ou amarrados. Podem serformadas de um mesmo material ou de materiais variados.4 Cubismo O cubismo um movimento esttico que ocorreu entre 1907 e 1914, tendo comoprincipais fundadores Pablo Picasso e Georges Braque. O cubismo tratava as formas da natureza pormeio de figuras geomtricas, representando todas as partes de um objeto no mesmo plano.

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  • 20

    Ressaltamos, entretanto, que s vezes declina-se a relatar dados biogrficos ou

    fofocas ntimas dos artistas que em nada auxiliam para o estudo das obras.

    As produes foram realizadas coletivamente, utilizando-se sucatas diversas, como

    tampinhas, copos de iogurte, bandejas de isopor, latinhas de refrigerante, caixas de

    sapatos e outros objetos descartveis, resultando numa variedade de peas

    consideradas tanto como elementos plsticos quanto elementos ldicos.

    Constatamos que, trabalhando o projeto e a montagem da construo de uma

    escultura ou de um objeto, os alunos percebem a profundidade, a sobreposio, a

    incidncia de luz e os diferentes materiais que compem um objeto tridimensional.

    Consideramos gratificante o envolvimento deles, visto que trouxeram materiais de

    casa e buscaram informaes na biblioteca, revistas e sites, enriquecendo as idias

    iniciais, que lhes proporcionou a construo de conhecimentos, assim como o

    trabalho coletivo.

    Ao final da proposta, realizamos a avaliao do projeto e os alunos apontaram como

    pontos positivos: a integrao de idias, a partilha de materiais, o raciocnio para a

    elaborao, o trabalho em grupo e o fato de criarem algo novo com o j existente e

    considerado por muitos como lixo.

    A partir dos conhecimentos adquiridos sobre Objetos e Construes, os alunos

    quiseram saber mais sobre Instalaes, pois ao pesquisarem haviam encontrado

    imagens em revistas, jornais, catlogos e outros materiais impressos. Alguns alunos

    comentaram que ao perguntarem aos pais sobre o tema, receberam como resposta

    que sabiam o que era uma instalao eltrica ou hidrulica, mas artstica no. O que

    eles acharam muito engraado, uma palavra com mais de um sentido e o

    desconhecimento dos pais sobre a linguagem artstica.

    As imagens de obras artsticas, encontradas pelos alunos eram de diferentes

    artistas: Alexander Calder, Hlio Oiticica, Cildo Meireles, Lygia Clark e Siron Franco.

    Com essas imagens e reportagens organizamos um painel informativo, deixando um

    espao em aberto: aprendendo mais... para acrescentarem novas informaes.

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  • 21

    Aps analisarmos as informaes e imagens, alguns alunos concluram que as

    Instalaes possuem criticidade, podendo estar relacionadas a alguns problemas

    sociais, econmicos, ambientais, estticos, ticos e outros.

    Com a pesquisa, surgiu ento a proposta de fazermos a Instalao: ARTE e Meio

    Ambiente, utilizando como suporte as garrafas PET5, material esse que havia

    sobrado do trabalho anterior. Tal escolha deu-se ao fato de os alunos j terem

    estudado e identificado o material altamente poluente. O mesmo ao ser jogado ao

    meio ambiente leva por volta de 400 anos para se decompor, e devido ao alto

    consumo de refrigerantes em suas famlias, questionaram sobre o que poderia

    acontecer aps dez anos, se todos os dias forem lanadas em grande quantidade no

    meio ambiente. Outro dado levantado foi que no municpio de Vila Velha no existe

    recolhimento seletivo de lixo, nem tampouco uma usina de seleo de lixo ou

    indstrias de reciclagem. Sabe-se, tambm, que o consumo de bebidas que utilizam

    esse tipo de embalagem relativamente grande. Tais questes e reflexes sobre o

    tema enriqueceram o desenvolvimento da produo plstica.

    Durante todo o ms de maio, as garrafas PET foram transformadas em arranjos de

    flores, e no dia cinco de junho, um sbado, culminou na Instalao Arte e Meio

    Ambiente, em comemorao ao Dia do Meio Ambiente, conforme fotografias 10 e 11

    Fotografia 10: Confeco de arranjos de flores Fotografia 11: Montagem da Instalao ArtsticaFonte: Foto pelo autor Fonte: Foto pelo autor

    5 PET ou Poli Tereftalato de Etila, um polister, polmero termoplstico ou plstico, desenvolvidopor dois qumicos britnicos Whinfield e Dickson em 1941, formado pela reao entre o cidotereftlico e o etileno glicol, formando um polister. Utiliza-se principalmente na forma de fibras paratecelagem e de embalagens para bebidas. Disponvel em: . Acessoem: 25 jul. 2007.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/PET>.http://www.pdfdesk.com
  • 22

    A montagem foi nos corredores do Colgio formando um enorme tapete. Utilizaram

    tambm papis de bala, embalagens de sucos, biscoitos e outros elementos

    recolhidos durante a semana no ptio do recreio, pela rea de Educao Fsica e

    penduraram-se, nas laterais e tetos, mbiles sonoros feitos tambm com sucatas

    diversas.

    As fotografias 12 e 13 mostram os alunos da Educao Infantil visitando o trabalho

    de arte e conversando sobre a exposio.

    Fotografia 12: Visita a Exposio/Alunos da EI Fotografia 13: Visita a Exposio/Alunos da EIFonte: Foto pelo autor Foto pelo autor

    Ao ser concluda toda a montagem da Instalao, realizamos a apreciao e a

    reflexo com os alunos participantes, buscando relacionar conceitos de belo e feio,

    por meio de sensaes como agradvel (belo) e desagradvel (feio) e ainda o que

    queremos perto de nossa casa e o que mandamos para perto da casa de outros.

    Refletimos sobre os menos favorecidos e os mais favorecidos e qual a postura que

    devemos ter em relao ao meio ambiente. As fotografias 14 e 15 retratam a

    participao dos alunos e professores na reflexo sobre a atividade desenvolvida.

    Fotografia 14: Alunos na Instalao Fotografia 15: Avaliao da produo plsticaFonte: Foto pelo autor Fonte: Foto pelo autor

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  • 23

    Ressaltamos a relevncia de um projeto que teve como ponto de partida um material

    descartvel e descartado cotidianamente por ns, como a PET, e como se pode

    propor sua reutilizao atribuindo-lhe uma outra definio ou destinao tanto

    esttica quanto tica.

    O tempo proposto para a Instalao ficar exposta foi at o dia nove de junho,

    vspera do feriado de Corpus Christi, porm, antes da data prevista, houve a

    necessidade de resignificarmos o espao, pois devido apropriao de materiais

    tais como papis de bala e outros, surgiram outros sujeitos dispostos a participar: as

    formigas. Alteramos o espao, distribuindo os arranjos nas janelas e muro dos

    corredores, o que foi aprovado por todos que por ali passavam, inclusive os

    familiares.

    Ao avaliarmos o desenvolvimento das aes junto aos alunos, percebemos que o

    projeto proposto inicialmente passou por adequaes que foram positivas para o

    resultado final e se fizeram necessrias em diferentes momentos, tais como:

    adaptao ao material trabalhado, grande nmero de pessoas envolvidas, tempo

    para elaborao (1 hora / aula semanal por turma), decomposio do material

    utilizado. H aqui uma processualidade que est presente nas obras de arte

    contempornea, marcando a modificao da matria, sua interveno no meio e sua

    temporalidade.

    Projetos dessa natureza em espaos educativos aproximam os alunos a uma

    vivncia da arte no que ela traz de imprevisvel, de processual, de dinmica.

    Durante o desenvolvimento desse projeto, da busca de fontes bibliogrficas sobre a

    temtica, das pesquisas on-line, da tentativa de agendar visitas para os alunos a um

    espao cultural no qual se estivessem expondo Instalaes, diversas questes me

    inquietaram: primeiramente veio a frustrao e depois a constatao de que as

    dificuldades encontradas eram devido s poucas publicaes e reflexes sobre a

    Arte Contempornea e de modo especial - as Instalaes artsticas em espaos

    escolares.

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  • 24

    Os questionamentos e a busca de solues para os problemas surgidos no dia-a-dia

    na sala de aula levaram-me ento a pensar em investigar e pesquisar um estudo

    que possibilitasse a mim e a outros professores de arte, uma explorao mais eficaz

    e profunda de conhecimentos especficos sobre a arte contempornea, em especial

    as instalaes artsticas.

    Portanto, no corpo desse trabalho, apresentaremos a pesquisa realizada, expondo

    os caminhos percorridos e as consideraes s quais chegamos.

    No primeiro captulo situamos a escolha pela temtica, fundamentando e justificando

    essa seleo, delimitando a problemtica, definindo objetivos e apresentando um

    panorama sobre o ensino da Arte na educao escolar, a legislao e as

    proposies da arte como disciplina no currculo.

    No segundo captulo apresentamos os conceitos, os autores e as fundamentaes

    tericas que nortearam esta pesquisa.

    Com Coelho (2001), Favaretto (2000), Canton (2007), Jameson (1995), entre outros

    construmos o conceito de arte, sua contextualizao, as diferentes linguagens

    artsticas contemporneas e a produo cultural na contemporaneidade.

    A experincia esttica com a arte contempornea no mbito educacional, descrita

    por Teixeira (2000) em sua dissertao de mestrado, muito motivou a busca de

    conhecimentos e possibilidades de prticas artsticas em sala de aula.

    Na Semitica Discursiva encontramos o embasamento metodolgico para a leitura

    do texto imagtico com Oliveira (2004) e Rebouas (2003) o qual foi ampliado e

    enriquecido com a pesquisa de Betts (2002) ao tratar da Intertextualidade e

    contratos comunicacionais.

    Relacionando os conceitos abordados por esses estudiosos com o nosso foco de

    estudo na Arte-Educao, buscamos embasamento em pesquisas e teorias

    desenvolvidas por Barbosa (1998/2002), Buoro (1996/2002), Ferreira (2004),

    Hernandez (2001) e Iavelberg (2003).

    No terceiro captulo, abordamos os caminhos metodolgicos desta pesquisa que

    possui natureza qualitativa e como instrumentos de coletas de dados recorremos a

    um questionrio, entrevista, observao participante e oficina pedaggica.

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  • 25

    No quarto captulo tratamos da apresentao do espao cultural no qual

    desenvolvemos a pesquisa por se tratar de um espao voltado arte

    contempornea, ressaltando como o mesmo promove a arte contempornea nos

    mbitos cultural, educacional e cultural. Ainda nesse captulo tratamos do processo

    criativo do artista Cildo Meireles, comentando algumas de suas obras e em especial

    as da exposio Babel, na qual focamos o olhar durante a pesquisa. Empreendemos

    a anlise dos dados coletados no espao de formao continuada; na oficina-

    pedaggica; na visitao Exposio Babel, do artista carioca Cildo Meireles; no

    workshop e no relato de experincia esttica desenvolvida por uma das professoras

    integrantes do grupo envolvido na pesquisa. Utilizamos para as anlises a

    triangulao das informaes e a anlise do discurso.

    Por fim, abordamos os aspectos vislumbrados nas anlises do papel do professor,

    como responsvel por sua prpria formao continuada, e a sua participao tanto

    nas oficinas-pedaggicas quanto no espao de vivncia e experincia artstica.

    Ressaltamos a insero das instalaes artsticas em sala de aula como uma

    possibilidade de desenvolvimento do olhar sensvel, crtico e esttico do apreciador

    em relao ao texto presente na obra.

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  • 26

    1 DELIMITANDO A PROBLEMTICA E DEFININDO OBJETIVOS

    A proposta desta pesquisa tem como foco a Arte Contempornea: as Instalaes

    Artsticas e suas contribuies para um processo educativo em Arte no Ensino

    Fundamental se justificando pela sua relevncia nas dimenses da vivncia pessoal,

    terica / prtica, por meio da valorizao da experincia esttica, do uso da arte

    contempornea e seus recursos plsticos.

    A inteno no simplesmente incluir a Arte contempornea na Educao; mas por

    meio da formao continuada do professor, de uma proposta de estudo, de visitas a

    exposies e da experimentao de materiais com participao em workshop, lev-

    lo a repensar suas metodologias, seus conhecimentos prvios sobre a arte e sua

    prtica educativa no ensino bsico.

    Os Parmetros Curriculares Nacionais - PCNs ARTE (MEC/SEF, 1998), orientam

    para que o professor de Arte tenha momentos de vivncias de criao pessoal em

    arte, a fim de lhe propiciar a assimilao de conhecimentos especficos, envolvendo

    a apreciao, a reflexo e o fazer artstico. As vivncias artsticas possibilitam-nos

    ao reconhecimento das manifestaes artsticas como produto cultural e histrico da

    humanidade. Portanto, podemos dizer que o contato e a apreciao da arte

    enriquece e acrescenta conhecimentos, procedimentos e habilidades na formao

    do professor de Arte, possibilitando-lhe melhor desempenho na realizao da

    transposio didtica nas situaes de aprendizagem, facilitando a elaborao de

    propostas e ou projetos pedaggicos, o que conseqentemente evitar que esteja

    preso s chamadas atividades prontas.

    Hoje, a profisso j no a transmisso de um conhecimento acadmicoou a transformao do conhecimento comum dos alunos em umconhecimento acadmico. A profisso exerce outras funes: motivao,luta contra a excluso social, participao, animao de grupos, relaescom estruturas sociais, com a comunidade... E claro que tudo isso requeruma formao: inicial e permanente (IMBERNN, 2005, p. 14).

    A formao permanente do profissional de educao necessria e, atravs de

    leituras, observou-se em algumas pesquisas6 realizadas que uma parcela de

    6 Nardin e Ferraro (apud Ferreira, 2004), Teixeira (2000) e sobre as discusses: Docncia, artista:arte, gnero e tico-esttica docente realizada no GT de Formao do Professor na 28 ANPEd, emCaxambu, MG

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  • 27

    professores de Arte tem dificuldades em lidar com o ensino da Arte Contempornea,

    devido falta de formao inicial e permanente, ao tempo de servio e/ou formao,

    falta de leitura, participaes em seminrios, congressos e outros.

    O professor deve manter-se atualizado e bem informado, tanto acerca dos

    conhecimentos especficos em arte quanto aos conhecimentos gerais, sem se

    esquecer dos avanos tecnolgicos e sua insero na Educao e na produo

    artstica contempornea.

    Com o objetivo de compreender a arte dentro do contexto escolar, resgatamos um

    pouco da histria do Ensino de Arte no currculo escolar brasileiro: a legislao e a

    prtica.

    1.1 O ENSINO DA ARTE E SUA PRTICA EDUCATIVA

    1.1.1 Da Legislao e da Prtica

    Segundo os PCNs7 ARTE (5 a 8 srie), a Arte na escola j foi considerada

    matria, disciplina, atividade, mas sempre mantida margem das reas curriculares

    tidas como mais importantes. Esse lugar menos privilegiado corresponde ao

    desconhecimento de como trabalhar o poder da imagem, do som, do movimento e

    da percepo esttica como fonte de expresso e de conhecimento. At fins da

    dcada de 60 existiam pouqussimos cursos de formao de professores nessa rea

    no Brasil, e professores de quaisquer disciplinas, artistas e outros que

    demonstrassem habilidades no artesanato ou nos trabalhos manuais poderiam

    assumir as disciplinas de Desenho, Desenho Geomtrico, Artes Plsticas, Msica e

    Arte Dramtica.

    Em 1971, a Arte includa no currculo escolar baseada em ideologias de

    educadores norte-americanos que, sob um acordo oficial (Acordo MEC-USAID),

    reformularam a Educao Brasileira, estabelecendo os objetivos e o currculo

    7 Os Parmetros Curriculares Nacionais so um conjunto de documentos criados por comisses deeducadores, num projeto promovido pelo Governo Federal, onde cada professor de escola pblicaganhou um kit com diversas temticas para trabalhar em sala de aula. Os Parmetros incluem umaparte de contedos, metodologias, avaliao e uma bibliografia a ser utilizada. O PCN ARTE propeque o professor desenvolva o estudo das Artes Visuais, do Teatro, da Dana e da Msica.

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  • 28

    configurado na Lei n 5692, denominada Diretrizes e Bases da Educao (LDB), a

    qual propunha uma educao tecnologicamente voltada para a profissionalizao

    dos alunos a partir da 7 srie, a fim de formar mo-de-obra barata para as

    companhias multinacionais que conquistavam espao dentro da economia brasileira,

    sob o regime de ditadura militar de 1964 a 1983.

    Nesse perodo, aqui no Brasil, no havia curso de Licenciatura em Arte nas

    universidades, apenas cursos tcnicos8 para preparar professores de desenho, e

    principalmente de desenho geomtrico.

    Fora das universidades surgiram as Escolinhas de Arte9, que ofereciam cursos,

    estudos e estgios para professores e artistas, assim como oficinas para crianas e

    adolescentes com o objetivo de uma educao pela arte.

    Conforme Frange (2001), as Escolinhas de Arte no Brasil foram desencadeadoras

    de idias e experincias que, ao longo dos anos, possibilitaram novas diretrizes e

    outros ncleos de educao criativa. No Brasil foram fundadas 130 Escolinhas de

    Arte, que tiveram forte influncia do pensamento de Herbert Read em educao

    principalmente a partir de seu livro Educao atravs da Arte.

    [...] Na tica Readiana o artista autntico era capaz de simbolizarsentimentos arqutipos e intuies em formas jamais vistas. E o que essepensador escreveu sobre Henry Moore esclarece de modo mais precisoessa sua concepo:mas o artista no um cientista, um psiclogo ou umhistoriador. Ele um criador de imagens... e impelido a faz-la pelo seusenso de percepo das formas que so vitais vida da humanidade.(FRANGE, 2001, p. 215)

    No entanto, os cursos de formao de professores realizados nas Escolinhas de Arte

    no eram reconhecidos e aceitos pelo sistema governamental, que exigia do

    professor o grau universitrio para lecionar.

    Na expectativa de solucionar o problema, em 1973, o Governo Federal criou como

    alternativa o curso universitrio de licenciatura curta (durao de dois anos),

    coexistindo com a licenciatura plena (durao de quatro anos), com o objetivo de

    preparar professores para a disciplina Educao Artstica, habilitando-os para o

    8 Artes Plsticas, Desenho, Msica, Artes Industriais e Artes Cnicas.9 As Escolinhas tiveram seu incio em 1948, no Rio de Janeiro, com o encontro de trs artistas:Augusto Rodrigues, Lcia Alencastro Guimares (hoje, Lcia Valentim) e Margaret Spence.(FRANGE, 2001, p. 218)

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  • 29

    domnio das diferentes linguagens (Artes Plsticas, Educao Musical e Artes

    Cnicas). Entretanto, tal ao no alcanou uma boa qualidade de educao,

    conforme o histrico do ensino de Arte no Brasil apresentado nos PCNs ARTE,

    formando professores que no dominavam conhecimentos especficos das

    linguagens. A falta dos conhecimentos especficos nas diferentes linguagens

    ocasionou a busca por maiores informaes em documentos oficiais (guias

    curriculares para professores) e livros didticos, que em geral privilegiavam a

    aprendizagem reprodutiva de modelos e tcnicas, os quais no explicitavam

    fundamentos, orientaes terico-metodolgicas, ou mesmo bibliografias

    especficas.

    A partir dos anos 80, inicia-se com o movimento Arte - Educao10 a proposta do

    Ensino da Arte numa nova perspectiva. Professores de Arte de todo o pas

    participam da ampliao das discusses sobre o compromisso, valorizao e

    formao do professor. Tais idias e mudanas da concepo da arte na educao

    se expandiram pelo pas por meio de encontros, seminrios, congressos promovidos

    por instituies pblicas e particulares, fazendo surgir novos paradigmas e

    metodologias para o ensino e aprendizagem de Arte nas escolas.

    Com a promulgao da Constituio Brasileira em 1988, iniciam-se as discusses

    sobre a nova LDB, sancionada apenas em 1996, com a Lei n 9.394/96, em que a

    Arte passa a se constituir como disciplina obrigatria em toda a educao bsica: O

    ensino da Arte constituir componente curricular obrigatrio, nos diversos nveis da

    educao bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos

    (artigo 26, pargrafo 2).

    Porm, mesmo aps a promulgao da lei, muitas metas ainda no foram

    conquistadas, permanecendo o ensino da arte em diversas regies do pas de forma

    inadequada, inclusive em nosso estado, com professores sem a formao

    especfica.

    10 Tendo como finalidade conscientizar e organizar os profissionais, o que resultou na mobilizao degrupos de professores de arte, tanto de educao formal como da informal. Esse movimento permitiuque se ampliassem as discusses sobre a valorizao e o aprimoramento do professor [...](PCNs:ARTE, 1997, p. 30).

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  • 30

    A prpria nomenclatura da disciplina ficou indefinida de 1996 at 2005, sendo

    denominada nesse perodo como: Educao Artstica, Arte-Educao, Arte ou

    Ensino da Arte.

    Em novembro de 2005, conforme o Boletim Notcias do Instituto Arte na Escola (ano

    II n 17 novembro de 2005), a retificao solicitada h tantos anos aprovada

    por unanimidade pela Cmara de Educao Bsica (CEB) do Conselho Nacional de

    Educao (CNE), no dia quatro de novembro, com a resoluo n. 22/2005,

    constante do Anexo A, deste estudo, que substitui nas Diretrizes Curriculares

    Nacionais para o Ensino Fundamental a denominao Educao Artstica por Arte.

    A mesma foi solicitada pela Federao de Arte Educadores do Brasil (FAEB), para

    quem a substituio do termo define melhor a noo de rea de conhecimento e fica

    em consonncia com a LDB.

    Durante as dcadas de 80 e 90 muitas pesquisas foram realizadas sobre o ensino

    da arte, desenvolvidas por Ana Mae Barbosa, Anamelia Bueno Buoro, Analice Pillar

    Dutra, Maria Helosa Ferraz, Fayga Ostrower, Mariazinha Fusari, Lucimar Bello

    Frange, Rosa Iavelberg, Mirian Celeste Martins, Lcia Pimentel, entre outras. Tais

    pesquisas trouxeram dados importantes para a elaborao de propostas

    pedaggicas, pois consideram tanto os contedos a serem ensinados quanto os

    processos de aprendizagem dos alunos.

    [...] importante desenvolver-se a competncia de saber ver e analisar aimagem, para que se possa, ao produzir imagens, fazer com que ela tenhasignificao tanto para @ autor @ quanto para quem vai v-la. Assim, preciso conhecer a produo artstica visual contempornea, valorizarnossa herana cultural e ter conscincia da nossa participao enquantofruidores e construtores da cultura do nosso tempo (PIMENTEL, in:BARBOSA, 2002, p. 113-114).

    Considerando tal caminhada, percebe-se que o Ensino da Arte nas ltimas dcadas

    vem ampliando e conquistando o respeito graas ao envolvimento de vrios

    profissionais da rea que se organizaram nas mais diversas localidades do Brasil,

    buscando melhor formao profissional, participando de seminrios e congressos,

    ocasionando, conseqentemente, o surgimento de novos pesquisadores, a

    elaborao de materiais didticos e paradidticos atualizados e de melhor qualidade.

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  • 31

    Tal postura promove, por conseguinte, a mudana de viso de alunos, professores

    de outras reas de conhecimento, coordenaes, diretorias e familiares dos alunos

    em relao ao espao da arte no currculo escolar.

    1.1.2 Arte e Conhecimento

    A partir dos estudos desenvolvidos por Buoro (2002) e Teixeira (2000),

    aprofundaram-se as abordagens contemporneas11, assim denominadas por Ana

    Mae Barbosa, para o ensino da arte com a leitura da imagem visual, considerando-a

    como um dos desafios a ser aprimorado por ns, professores de Arte, a fim de

    enriquecermos o processo de ensino-aprendizagem.

    Em sua dissertao de mestrado, Buoro (1996) apresenta uma experincia em Arte,

    realizada no Ensino Fundamental 1 4 srie utilizando como eixo central a

    pintura modernista e contempornea. Seu projeto pedaggico um dilogo entre a

    prtica e a reflexo terica e tem como objetivo construir um olhar a partir do ver,

    observar, sentir, fazer, expressar e refletir o objeto artstico.

    Tal pesquisa ampliada pela autora em sua tese de doutorado, ao defender que

    para o professor adquirir conhecimentos a fim de construir um olhar necessrio

    que seja capaz de construir sua prpria competncia, movido por aes de querer,

    poder, dever e fazer, apropriando-se conscientemente da prpria vontade de ser

    competente. Ou seja, deve estar mobilizado por um querer ser professor, mais que

    um dever definido pela Instituio na qual trabalha.

    Percebemos, portanto, que por meio da ao pedaggica, com os conhecimentos

    especficos do ensino da Arte, que o professor direciona o processo de

    aprendizagem da leitura visual, motivando assim o aluno a desenvolver a habilidade

    de leitura de mundo, considerando sua vivncia anterior, possibilitando a

    sensibilidade do olhar e ampliando seus repertrios visuais e grficos, e tambm

    construindo uma conscincia mais crtica da sociedade em que vive.

    11 Abordagens contemporneas termo utilizado por BARBOSA (1991) com relao Arte dos anos80 e novos anos.

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  • 32

    [...] de fundamental importncia investir na formao e na sensibilizaodo professor para a leitura da imagem, a fim de que, de posse plena dessacompetncia, ele se torne capaz de trabalhar na contracorrente dequalquer olhar redutor, condicionado e esvaziado, imposto pelos ritmos docotidiano, em meio superabundncia de imagens que se alternam diantedo olhar (BUORO, 2002, p. 43).

    Assim, vale ressaltarmos que cabe ao professor a tarefa de investir em sua

    formao, para que ento seja capaz de desenvolver em seu aluno a competncia

    de compreender e realizar a leitura da imagem visual, percebendo-a presente na

    histria da humanidade desde as primeiras manifestaes da pr-histria. A Arte

    um meio do homem entender o mundo ao seu redor e a relacionar-se com o mesmo.

    Considerando a Arte como manifestao humana, contextualizada em cada

    momento especfico e de acordo com a cultura, percebemos que a produo

    artstica est impregnada de marcas scio-culturais, histricas, filosficas, estticas

    e ticas.

    O conhecimento do meio bsico para a sobrevivncia, e represent-lo fazparte do prprio processo pelo qual o ser humano amplia seu saber.Esse processo de conhecimento pressupe o desenvolvimento decapacidades de abstrao da mente, tais como identificar, selecionar,classificar, analisar, sintetizar e generalizar. Tais atividades so ativadaspor uma necessidade intelectual existente na prpria organizao humana(BUORO, 1996 p. 20).

    Compreendendo-a como resultado do embate homem / mundo, ou seja, que por

    meio dela que o homem interpreta sua prpria natureza, construindo formas de

    descobrir, inventar, figurar e conhecer.

    A partir do pressuposto, que o homem est inserido na histria de sua poca e que

    manifesta por meio da arte sua maneira de ver, perceber e sentir o mundo deixando

    suas marcas impressas e/ou presentes na sua produo artstica, sentimos a

    motivao em observar e investigar como a Arte Contempornea est presente no

    processo educativo, direcionando o foco da pesquisa para as instalaes artsticas.

    Como elas configuram-se como linguagens no mbito educacional para professores

    do Ensino Fundamental e, como tal, quais so as possibilidades de leitura utilizadas.

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  • 33

    1.2 OBJETIVOS

    1.2.1 Objetivo Geral

    Analisar como se configuram os saberes/fazeres desenvolvidos por um grupo de

    professores de Arte, que participam dos encontros de formao continuada por rea,

    no Sistema Municipal de Ensino de Vila Velha, a partir da insero da Arte

    Contempornea Instalaes artsticas e suas contribuies para um processo

    educativo em Arte como fonte de leitura imagtica, produo e socializao do

    conhecimento histrico em sries do Ensino Fundamental;

    1.2.2 Objetivos Especficos

    Refletir com os professores de Arte sobre as possibilidades da utilizao da

    Arte Contempornea: Instalaes Artsticas no processo de ensino-

    aprendizagem do Ensino Fundamental e Ensino Mdio, compreendendo-a

    como uma linguagem artstica;

    Analisar a construo do discurso visual presente na obra artstica, a partir do

    dilogo entre o mtodo e o instrumental terico da semitica discursiva;

    Promover uma socializao sobre o conceito de Arte Contempornea

    Instalaes Artsticas, atravs de uma oficina pedaggica, da visitao ao

    Museu Vale do Rio Doce Exposio Babel do artista carioca Cildo Meireles

    e participao de workshop no mesmo espao artstico, de forma que os

    professores enriqueam, fundamentem, critiquem, questionem, vivenciem,

    experimentem e elaborem possibilidades de estratgias educativas em sala

    de aula;

    Realizar anlise do discurso dos professores de Arte, sobre as implicaes da

    abordagem discursiva de obras artsticas contemporneas, para os

    saberes/fazeres de sua prtica docente.

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  • 34

    2 REFERENCIAL TERICO

    Durante a busca por trabalhos j realizados sobre a temtica, encontramos poucas

    pesquisas que abordassem a Arte Contempornea, especialmente as Instalaes

    Artsticas no mbito educacional. Primamos por pesquisar trabalhos que

    demonstrassem mudanas na prtica pedaggica12 para o Ensino da Arte a partir de

    discusses tericas iniciadas na dcada de 80, que auxiliassem no desenvolvimento

    da pesquisa, norteando, assim, todo o processo realizado.

    Detivemo-nos na pesquisa realizada por Teixeira (2000), em sua dissertao de

    Mestrado, sob o ttulo: A experincia esttica ampliada em Lygia Clark e Hlio

    Oiticica: uma proposta em Arte Educao, envolvendo jovens de diferentes camadas

    sociais, com idade entre dezesseis a vinte anos, no Colgio de Aplicao da UFRJ -

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Rio de Janeiro, onde lecionava e a

    desenvolvida por Betts (2002) tambm em sua dissertao de Mestrado na PUC -

    SP, sob o ttulo: Intertextualidade e contratos comunicacionais apropriaes

    semiticas na obra de Nelson Leirner.

    Ambas pesquisas contriburam para a construo de conceitos e abordagens

    relativas Arte Contempornea e nos impulsionaram a pesquisar mais, buscando

    embasamento em outros autores especficos da Arte, os quais citaremos no decorrer

    dessa pesquisa.

    2.1 ARTE CONTEMPORNEA: INSTALAES

    Atualmente convivemos com linguagens artsticas desde as mais tradicionais como a

    pintura, escultura, arquitetura e gravura at as surgidas a partir da evoluo

    tecnolgica, como a fotografia, cinema, vdeos, instalaes, infoarte e outros que

    tm como suporte o computador.

    12 Mudanas na prtica pedaggica no ensino da Arte: maior compromisso com a cultura e com ahistria; nfase na inter-relao entre o fazer, a leitura da obra de arte e as contextualizaeshistricas, estticas e sociais da obra; Arte quanto rea de conhecimento especfico, etc.

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  • 35

    Entre tantas elegemos a Instalao, por ser uma expresso artstica contempornea

    que mistura pintura, escultura e objetos industrializados em ambientes preparados

    para estimular as percepes sensoriais, que podem ser apropriados no meio, tanto

    da natureza quanto de objetos industrializados, resignificados e da mdia (som, TV,

    vdeo, computador). Nessa manifestao artstica, geralmente, o artista tem como

    objetivo provocar o espectador a se aventurar, a perceber, a ter uma postura mais

    participativa extrapolando muito os limites do deleite com o belo, a criticar e refletir

    sobre a prpria vida e o meio que o cerca. Os artistas esto cada vez mais

    interessados em explorar a percepo e a ao imaginativa do espectador,

    propondo muitas possibilidades de leitura de seus atos e de suas produes.

    Advogamos que a Instalao uma expresso artstica que, ao ser trabalhada no

    Ensino da Arte integrada s demais disciplinas, pode ser um eixo norteador de

    aprendizagem. Como exemplo, citamos as obras da Arte Contempornea,

    desenvolvidas por artistas brasileiros como Hlio Oiticica, Lygia Clark, Nelson

    Leirner e Cildo Meireles, entre outros, que contextualizadas em relao ao tempo e

    espao, fazem com que o aluno perceba a histria da arte presente na histria da

    humanidade, critique ou questione as questes polmicas de nosso tempo (polticas,

    sociais, econmicas e culturais), quebre com paradigmas de ideais de beleza e

    outras categorias, tais como harmonia, perfeio, acabamento e o naturalismo.

    Defendemos a opo pela arte contempornea na escola proporcionando um

    processo formativo pelo qual o aluno desenvolve sentidos e significados que

    orientam sua ao no mundo, transcendendo os muros da escola para inserir-se no

    contexto cultural em que se encontra.

    2.1.1 Contextualizando a Arte Contempornea

    Para compreendermos o conceito de Arte Contempornea preciso saber identificar

    os movimentos artsticos na arte ocidental e as transformaes provocadas pelos

    mesmos na produo artstica de cada poca histrica, do renascimento ao moderno

    e conseqentemente ao ps-moderno.

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  • 36

    Segundo Buoro (2002), a Arte uma manifestao humana, contextualizada em

    cada momento especfico e de acordo com a cultura, s assim percebe-se que a

    produo artstica est impregnada de marcas socioculturais, histricas, filosficas,

    estticas e ticas.

    Assim sendo, torna-se necessrio retomarmos alguns conceitos para uma melhor

    compreenso da contemporaneidade.

    As obras criadas no Renascimento, final do sculo quinze, foram concebidas a partir

    de ideais da arte mimtica (tal qual se v no mundo natural, a natureza), sob um

    olhar aristotlico, em que reinava a harmonia, perfeio, beleza e apuro tcnico.

    Alguns destes princpios permaneceram em movimentos e estilos como no Barroco,

    Romantismo, Realismo, Neoclassicismo, permanecendo, portanto, a nfase na

    figurao que vai ser rompida com a arte moderna. Porm, mesmo depois de seu

    surgimento, muitas pessoas do sculo XX, e mesmo desse incio de sculo XXI,

    consideram as obras modernistas e contemporneas, no mnimo, muito estranhas.

    O estranhamento s manifestaes da arte modernista e contempornea pode estar

    associado a um olhar ainda impregnado por uma esttica clssica e idealista que

    busca uma interao com a obra, reconhecendo em sua figuratividade os elementos

    do mundo natural e os ideais de beleza propostos para essa viso de mundo.

    Na viso de Coelho (2001, p. 14) a maioria das pessoas sabe reconhecer alguma

    coisa como moderna, embora seja incapaz de descrever ou definir em que consiste

    essa modernidade. Isto no porque a palavra moderna seja vazia, mas porque oca

    na verdade nossa referncia do que seja moderna, oca nossa idia de moderno,

    oco o pensamento do moderno.

    Ele define o Modernismo como, antes de qualquer coisa, um estilo. Uma linguagem,

    um cdigo, um sistema ou um conjunto de signos com suas normas e unidades de

    significaes. Porm, devemos estar atentos a tal definio, considerando que o

    modernismo no um nico estilo, pois ele congrega vrios estilos, como

    surrealismo, fauvismo, cubismo, concretismo e outros.

    Conforme Coelho (2001, p. 13) o incio do Projeto de Modernidade est delimitado

    nos ltimos trs sculos da cultura ocidental, quando passou a existir a clara

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  • 37

    distino entre cincia, arte, moral e com o aparecimento posterior de outros

    campos, como o da lei e o da poltica. Na base dessa diviso est a segmentao

    da religio em domnios distintos do conhecimento. No incio do sculo XVII, cincia

    e religio formavam um par e quem propusesse a sua separao poderia acabar na

    fogueira em praa pblica, como aconteceu com Giordano Bruno. Mais adiante, a

    Arte deixa de estar atrelada religio e passou a ter o seu prprio projeto a partir

    dos iluministas que propem a separao entre pensamento e ao: a f de um

    lado, a verdade (cincia) de outro.

    No inicio do sculo XVI um mesmo homem podia avanar pelos caminhos da

    cincia, da tcnica, da esttica, da arte e outros tantos, como Da Vinci, mas

    medida que se avanou em direo ao sculo XIX, essa diversidade num s homem

    tornou-se mais especfica, no s a arte, mas tambm a cincia, a filosofia e a

    cultura como um todo.

    As teorias de Einsten tiveram um impacto que a sociedade contemporneaainda no absorveu e incorporou. Podemos perceber tal fato namodalidade clssica da narrativa, na literatura, no cinema ou teatro, aaplicao da concepo newtoniana do espao-tempo: comeo-meio-fim; Ainterrupo da narrativa do presente para que a personagem se recorde dealgo acontecido no passado foi uma inovao tcnica que esta sociedadeno digeriu completamente. um recurso moderno muito utilizado pela TVnas novelas e no cinema. Seria Newton um moderno e Einstein um ps-moderno? (COELHO, 2001, p. 26).

    Considerando a citao anterior, observa-se que ao apreciarem-se obras artsticas

    da modernidade ressalta-se uma de suas caractersticas, que s a ps-modernidade

    comear a praticar: que uma viso de mundo no supera a outra, convive com ela,

    ou seja, no h uma compartimentalizao nem uma hierarquizao e sim uma

    simultaneidade. Os signos da modernidade geram a si mesmos e se sobrepem

    num ritmo exasperante e sufocam a histria.

    Como exemplo, trazemos um comentrio de Coelho (2001, p. 27) destacando que

    em 1907 diferentes estilos eram representados, quando Picasso concluiu a tela

    Demoiselles dAvignon, obra que prenuncia o nascimento da pintura cubista, que

    quase a aplicao da teoria da relatividade pintura, com o objeto visto ao mesmo

    tempo sob vrios aspectos, variando de acordo com o ngulo de observao.

    Acrescentamos aqui o Fovismo com relao ao uso cromtico bastante diferente do

    real. Podemos considerar portanto, o Cubismo e o Fovismo como os primeiros

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  • 38

    movimentos do sculo XX a lanarem bases de uma nova esttica visual ao no

    representar a imitao do real. No nos importa se Picasso e Matisse tinham

    conhecimento de tal teoria, mas sim que os princpios destas so um trao cultural

    do momento, passvel de aflorar em vrios ramos da reflexo quase ao mesmo

    tempo. A importncia desses movimentos est no rompimento com o modelo de ver

    da Antigidade, o primeiro baseado no conceito de ver a perspectiva de um s

    ponto, passando a observar o objeto em sua totalidade, de vrios pontos de vista e o

    segundo com a proposta de uma pintura diferente do real, com o uso de cores

    puras.

    Outro paradigma importante para o ensino da Arte que a sociedade ps-moderna

    passa por mudanas muito rpidas, ou seja, primeiramente na sociedade moderna

    os avanos tecnolgicos aconteciam de dcadas em dcadas, anos em anos e na

    atualidade acontecem quase que diariamente, ou ainda sem querer exagerar, de

    minuto a minuto. E tais avanos ocasionam mudanas sociais, morais e ideolgicas,

    como por exemplo na relao mulher/homem, empregado/patro, negro/branco e

    criana/adulto.

    Favaretto (2000), no livro As invenes de Hlio Oiticica, faz referncias sobre as

    mudanas ocorridas no perodo de vanguarda e como os artistas que fazem parte

    dessa sociedade vivenciam esse momento.

    A modernidade vanguardista do incio do sculo XX libera os artistas para aaventura da constituio da autonomia da arte, ancorados na presuno deruptura do sistema da arte e na valorizao absoluta do binmiodesconstruo-construo. [...] Simultaneamente, por efeito do mpetoutpico, pretende tirar partido de uma situao histrica que permite aosartistas a iluso de poder utilizar a arte como aspecto de luta pelatransformao social, agenciando experimentalismo, inconformismoesttico e crtica cultural que, imbricados compe a atitude tico-poltica.[...] a modernidade investe o desejo na desmontagem das mistificaesque recobrem a concepo idealizada da arte, sem a imposio dequalquer realidade e individualidade prvias. (FAVARETTO, 2000, p. 20).

    Para ele, durante a dcada de 60 constata-se na arte um fenmeno, em que as

    diversas tendncias exercitam a multiplicidade de estilos, a mescla de tcnicas, o

    carter heterogneo e multidisciplinar da arte. Pintura, escultura, msica, teatro,

    cinema e poesia convivem em um espao esttico aberto, tendo como referencial os

    herdeiros do Dad e os construtivistas. A produo artstica desse perodo passa

    por transformaes quanto eficcia de suas aes, devido tendncia da

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  • 39

    especializao de mercado - efeito de uma reavaliao do sentido e funo da arte

    na sociedade de consumo e a aceitao da integrao arte / consumo,

    principalmente na TV e no cinema. Esse confronto atinge duramente a relao dos

    artistas com o circuito e o pblico, contaminando as estratgias dos artistas, por

    expectativas do pblico e provocando reviravoltas no processo de criao. Alguns

    artistas visando projetos em que o espectador arrancado de sua imobilidade,

    estimulado por objetos, situaes, idias, exercitando o ldico num misto de

    abandono e de escolha. O artista espera por um pblico sensvel e informado, quel

    passar da posio de espectador, consumidor ou contemplador, para a de

    participante, construtor, destruidor e devorador.

    Em contrapartida, diferentes tendncias empenham-se em arruinar as circunstncias

    da noo e da prtica da arte. uma luta de duas foras; de um lado, o confronto

    com o mercado e o pblico; de outro, a exacerbao de procedimentos, alguns j

    experimentados, visando ao seu limite expressivo.

    Frente a esse quadro, mas sem se deixar determinar exclusivamente pelassolues predominantes de um lado, as provenientes do circuitointernacional e, de outro, por aquelas que no Brasil pretendem assumir oconflito entre experimentao e participao social -, o programa de HlioOiticica cifra as propostas da vanguarda brasileira, considerada por elecomo posio especifica e fenmeno novo no programa internacional daarte. Seguindo-se uma interessante idia de Lyotard, pode-se dizer que asintervenes de Oiticica configuram um trabalho de anamnese:manifestam, pelo vigor das proposies e ousadia das aes, a situaocrtica do processo de integrao e destruio do projeto moderno no Brasil(Ibidem, 2000, p. 23).

    Observamos que com o passar do tempo, a arte moderna sofreu um desgaste. Por

    um lado, tornou-se to experimental que acabou por afastar-se do pblico, que

    passou a achar suas manifestaes cada vez mais estranhas e de difcil

    compreenso. No final dos anos 60, o movimento da arte conceitual fazia uma

    reviso no que se entendia por histria e por histria da arte, como uma arte

    imaterial, sem suporte material, com suporte efmero, propondo, como todo o ps-

    modernismo que se seguiu, no uma anti-histria, apenas uma crtica radical ao

    passado.

    Isso aconteceu particularmente a partir dos anos 60 e 70, em Nova York, para onde

    se transferiu a vanguarda artstica dos centros europeus depois da Segunda Guerra.

    A importncia dada moda, aparncia e atitude, produziram um padro de

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  • 40

    beleza sociedade, que aliada a uma tecnologia sofisticada levaram a busca de

    formas perfeitas por meio de cirurgias, implantes, aparelhos de ginstica, fazendo

    do corpo um campo de experimentaes e de boa forma. A valorizao das formas

    perfeitas, ao corpo em forma passa a ser utilizado por diferentes artistas

    contemporneos, tornando a representao do corpo dentro do momento histrico

    um grande assunto a ser tratado. Alguns artistas destacam e refletem em suas obras

    que os avanos rpidos e simultneos afetam a capacidade da sociedade em lidar

    com a memria, com a afetividade, com o corpo e com a identidade.

    Como podemos perceber, desvendar os mistrios propostos pelos artistas nas obras

    de arte, no uma tarefa das mais fceis, at mesmo porque a arte sempre foi um

    terreno de inquietudes e experimentaes. Para decifr-las, preciso o

    desenvolvimento de uma cultura de formao, de leitura, de vivncia e de

    apreciao da produo artstica, principalmente quando se fala em arte

    contempornea, j que se est acompanhando seu processo, o surgimento de

    novos suportes e tcnicas.

    E hoje podemos dizer que as informaes so transmitidas em alta velocidade,

    nosso tempo em contato com o mundo muito rpido, em poucos segundos

    sabemos e assistimos a cenas que acontecem do outro lado do mundo, ou seja, so

    muitas coisas a que se tem acesso simultaneamente e isso logicamente interfere em

    nossa maneira de ser e na produo artstica contempornea.

    As manifestaes da ps-modernidade aparecem como reaes s formascannicas da modernidade, opondo-se ao predomnio dos modelosmodernistas ainda muito utilizados pelas universidades, em museus eoutros locais culturais. Outro fator que caracteriza essas manifestaes odesgaste da velha distino entre cultura erudita e cultura popular (acultura de massas) (JAMESON, 1985, p. 12).

    O que Jameson (1995) faz uma crtica assumidamente perplexa sobre o assunto,

    o modo de viver na contemporaneidade, valendo-se da questo do desaparecimento

    da histria, ou seja, de como a sociedade contempornea parece ter perdido a

    capacidade de reter seu prprio passado - vivendo um presente perptuo e/ou

    intenso e uma perptua mudana que faz esquecer os tipos de tradies

    preservadas por formaes sociais anteriores. Em seu modo de ver, o ps-

    modernismo revela um tempo e espao de mutao ainda no acompanhado por

    nossa percepo. Isto pelo fato de nossa percepo estar formada ainda sob os

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  • 41

    matizes do modernismo cannico. Para ele, a modernidade se baseou na inveno

    de um estilo pessoal e privado, sua esttica liga-se a uma concepo de um eu e de

    uma identidade privada nicos e singulares, a partir da ideologia do individualismo

    burgus. Com o declnio desta ideologia, a modernidade cede espao ao ps-

    modernismo.

    A arte moderna rompeu com paradigmas de movimentos artsticos anteriores em

    que predominava a representao da natureza, experimentando novas

    possibilidades de expresso. A Arte Contempornea aquela que prope um novo

    sobre o novo proposto pela Arte Moderna, ou seja, experimenta novas tcnicas,

    suportes e manifestaes na atualidade. Ela est em desenvolvimento, em

    construo e em formao.

    Segundo Nardin & Ferraro (in: FERREIRA, 2004, p. 191) pode-se falar da obra

    contempornea como uma estrutura em rede, pluralista, multicultural, que interliga

    em si diversos e variados smbolos: imagens e formas que podem fazer parte da

    vida cotidiana dos indivduos e tambm da histria das culturas e das artes.

    Ktia Canton (2007), em seu artigo Pulsao de nosso tempo, diz que a Arte

    Contempornea supera as divises do Modernismo e reflete o esprito de nossa

    poca, ocupada com as questes da identidade: o corpo, o afeto, a memria etc.

    Artistas contemporneos buscam sentidos (...) que fincam seus valores nacompreenso (e apreenso) da realidade, infiltrada na passagem do tempoe na formatao da memria, na constituio dos territrios que constitueme legitimam a vida, nos meandros da histria, da poltica e da economia,nas vias do corpo como carne e smbolo, nos territrios da afetividade.(CANTON, in SEMINRIOS INTERNACIONAIS VALE DO RIO DOCE,2007. p. 23).

    Como percebemos, a Arte Contempornea entra em cena com a mudana global

    que se delineia em meados do sculo XX, tornando-se mais gritante ainda a

    necessidade de uma modificao no conceito de arte. Mais do que isso: se adapte

    aos novos paradigmas do fim do sculo XX e incio do sculo XXI, por meio de

    narrativas, de imagens ligadas prpria histria de vida do artista e as micropolticas

    referentes sociedade.

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  • 42

    2.2 A CENA CONTEMPORNEA NAS DIFERENTES LINGUAGENS

    Conforme j comentamos anteriormente, a Arte Contempornea est presente em

    diferentes linguagens artsticas desde meados do sculo XX, entretanto, existem

    pessoas que diante de uma obra contempornea ainda se sentem incomodadas,

    no a compreendem e no a reconhecem como objeto artstico. Elas ainda possuem

    uma viso artstica da renascena, em que a imagem naturalista teve sua

    predominncia, olhar esse que nem chegou a ser moderno, no compreendendo,

    portanto, os paradigmas da modernidade, como por exemplo arte abstrata, em que

    predomina as formas, as cores, a expresso de marcas e de movimentos.

    No decorrer de minha docncia tenho presenciado muitos momentos em que alunos,

    independente da faixa etria ou segmento, indo do Ensino Fundamental ao Nvel

    Superior, ao se depararem com uma obra abstrata dizem: Isso arte?, Isso

    tambm eu fao!, Algum compra esses rabiscos?, Vou fazer o mesmo e ganhar

    uma nota!, entre outros comentrios.

    No se pode dizer que tal situao se deve falta de publicaes sobre o assunto,

    pois, desde o incio da Arte Contempornea no Brasil, vrios artigos foram editados

    com o objetivo de informar a sociedade sobre o assunto, colocando em circulao

    informaes e conceitos ainda pouco difundidos. Como exemplo podemos citar:

    Entre maro /1959 e outubro /1960, Ferreira Gullar publicou no SuplementoDominical do Jornal do Brasil, uma srie de artigos sob a denominaogeral: Etapas da Arte Contempornea. (FAVARETTO, 2000. p 31).

    Mrio Pedrosa, em 26 de junho de 1966, publicou um artigo no jornalCorreio da Manh com o titulo Arte Ambiental, arte ps-moderna, HlioOiticica, fazendo referncia ao aparecimento da arte-ps-moderna noBrasil, diferenciando-o radicalmente do movimento de arte moderna,inaugurado por Picasso, em Mademoisellles dAvignon e ao novomovimento, Pop Art e que teria uma vocao antiarte. (COELHO, 2001. p.58).

    A compreenso da obra artstica tambm foi tema recente publicado no Caderno

    Dois, do Jornal A Gazeta, com o ttulo Quem tem medo de arte?, sinalizando a

    importncia da formao do pblico para a visitao das exposies, principalmente

    da Arte Contempornea. A reportagem destaca que diferentes espaos culturais,

    como museus e galerias esto tomando a iniciativa e promovendo encontros com

    artistas, debates, catlogos e uma srie de outras atividades para aproximar os

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  • 43

    visitantes. Uma das galerias oferece inclusive ao pblico que freqenta o espao,

    numa livraria anexa, diversos ttulos sobre arte. Para a galerista Lcia Brotas, uma

    das principais vantagens da leitura a formao de pblico. Essas publicaes

    ajudam a quem quer comear a entender. A partir desse momento comea a

    conhecer e dominar esse universo, surge ento o envolvimento (A GAZETA, 10

    maio. 2007, p. 1)

    2.2.1 As Linguagens Artsticas Contemporneas

    Na Arte Contempornea, as diferentes linguagens artsticas: a arquitetura, a msica,

    a dana, o teatro e a pintura, assumem um aspecto diferente, devido s mudanas

    de paradigmas sociais, polticos, econmicos, culturais e estticos provocados pela

    industrializao, globalizao, redimensionamento das geografias mundiais e

    institucionais, entre outros.

    Destacamos que vrias linguagens aparecem como ps-modernas: arquitetura,

    cinema, fotografia, artes plsticas, porm no so rigorosamente contemporneas,

    por no pertencerem ao mesmo tempo sob vrios aspectos. Cada uma tem um

    tempo e um espao prprio, cada uma vive sua ps-modernidade e deixa seus

    traos13 que somados ou colocados uns ao lado dos outros no conseguiro compor

    o quadro geral da ps-modernidade. Imagem do todo, mas o todo ser bem mais

    amplo que o conjunto das imagens parciais.

    As instalaes quebram um pouco esses paradigmas, pegando a mesmice dos

    objetos e unificando-a com o mundo dos que a visitam. Promovendo o deslocamento

    espacial e propondo funes diferentes, em que o espao faz parte do objeto, do

    mesmo modo como o objeto faz parte do espao, que , por sua vez, resultado de

    interao entre artes visuais e arquitetura e vice-versa. Por outro lado, h tambm

    por parte do sujeito que interage com /e numa instalao o ato de assumir um papel,

    sem, entretanto, abandonar o seu eu, como o do ator que vivencia a experincia de

    uma encenao.

    13 Coelho determina como traos da ps-modernidade: vestgios, pistas, indcios, sugestes,pegadas, etc.

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  • 44

    Apesar das diferenas existentes entre as linguagens artsticas, Coelho prope uma

    zona comum entre as mesmas:

    Parataxe: processo que consiste em dispor, lado a lado, blocos de

    significao sem que fique explcita a relao que os une;

    Aproximao entre arte e cincia: para a ps-modernidade, no haver mais

    essa distino entre ambos os procedimentos. A arte no combate mais a

    cincia e tecnologia como era no moderno; porm, no significa que a arte

    tenha aderido aos procedimentos da cincia e da tecnologia, a cincia que

    se aproxima do processo potico. Ambos se colocam num mesmo plano;

    A relao com a histria um dos principais pontos de atrito entre ps-

    modernidade e seus crticos diz respeito s relaes do ps-moderno com a

    histria, ao uso que o ps-moderno faz da histria. Coelho destaca as crticas

    feitas ao ps-moderno por ser este um retorno ao passado, algumas atitudes

    reacionrias, s quais se contraporia a outra atitude revolucionria e

    progressista, voltada apenas para o futuro. Deve-se perceber em que

    consistem as crticas mais consistentes a respeito das relaes entre ps-

    modernidade e histria.

    Na contemporaneidade no se coloca a questo da verdade e sim a sua pluralidade.

    No significa confundir a histria com o passado; significa outra viso da Histria e

    do passado que no pode ser entendida pelos que se aprisionam numa concepo

    de histria como expresso da verdade e da razo apenas. Para o presente ser

    realmente contemporneo, tem-se de aprender a conviver com a pluralidade.

    Retomando os conceitos at aqui levantados, fica-nos claro que a Arte

    Contempornea corresponde ao desdobramento, a consumao e a superao da

    Arte Moderna, a arte no tem mais a funo de representar a realidade, mas de criar

    uma realidade, superando assim conceitos postulados anteriormente.

    2.2.2 Produo Cultural na Contemporaneidade

    A Arte Contempornea tem ainda como caracterstica as apropriaes, os diferentes

    estilos acontecendo simultaneamente e a insero da tecnologia na Arte.

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    Coelho (2001) destaca a Bienal de Veneza de 1982 como um dos momentos que

    mostra claramente tais caractersticas, pois a mesma props ao mundo um novo

    olhar sobre a vanguarda e o novo, quando abriu uma seo dedicada gerao de

    artistas de hoje que ficaram sombra do grande barulho feito ao redor das

    vanguardas tradicionais. Essa atitude considerada ps-moderna, um novo

    conceito de histria que comea, e isso significa que a vanguarda passa a ter novos

    companheiros de viagem.

    No podemos desconsiderar as relaes entre vanguarda e herosmo, uma vez que

    a vanguarda s tem sentido enquanto espao para o heri, seja poltico, militar ou

    heri de criao (pessoa de destaque).

    Coelho destaca que aqui no Brasil entre os anos entre 1964 e 1974, o heri poltico

    sumiu. Segundo seu ponto de vista, na contemporaneidade a relao entre arte,

    artista e pblico se faz conforme os cdigos que esto inseridos em cada

    manifestao artstica e nesse perodo nas relaes entre vanguarda e heri, o heri

    militar poltico, o indivduo que se destaca. O prprio fato poltico vivido aqui entre

    esses anos fez com que o heri sasse de circulao. A eleio indireta de Tancredo

    Neves, que encerra um perodo de ditadura militar de vinte anos, est longe de ser

    um movimento herico por ser um resultado de massas que se mobilizaram.

    Tancredo Neves nada tem de heri, nem outros polticos que participaram do

    movimento, ningum heri.

    No entanto, o ser humano necessita da figura do heri e de tempos em tempos

    surgem figuras que se destacam ou so destacadas na sociedade. Existem inclusive

    tentativas ao longo da modernidade e da ps-modernidade da construo de um

    novo conceito de heri. Como por exemplo, Hlio Oiticica, em 1966 constri seu

    blide Cara de Cavalo, numa tentativa de construo bizarra de heri.

    Segundo Favaretto (200, p. 131), Oiticica ressalta uma atitude individual do

    inconformismo social, como figura de sua prpria marginalidade. Nas faces internas

    de uma caixa (sem tampa e com a parede anterior estendida ao solo) h fotografias

    do bandido Cara de Cavalo, amigo de Oiticica, morto pela polcia.Trata-se de uma

    caixa-poema, no expresso de Oiticica, que falava do silncio herico do

    marginal. Mais tarde, em 1968, a caixa virava uma bandeira-poema onde se via o

    http://www.pdfdesk.com
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    corpo do marginal deitado no cho quase na posio de Cristo crucificado e a

    inscrio: Seja marginal, seja heri. Oiticica via-o como vtima da sociedade,

    conforme mostram as fotografias 16, 17 e 18.

    Fotografias 16, 17 e 18: Detalhes da obra Cara de Cavalo, de Oiticica e Hlio OiticicaFonte: Acesso em 25 jul. 2005.

    [...] Conheci Cara de Cavalo pessoalmente e posso dizer que era meuamigo, mas para a sociedade ele era um inimigo pblico n 1,... O que medeixava perplexo era o contraste entre o que eu conhecia dele como amigoalgum com quem eu conversava no contexto do cotidiano tal comofazemos com qualquer pessoa, e a imagem feita pela sociedade, ou amaneira como seu comportamento atuava e em todo mundo mais. Vocnunca pode pressupor o que ser a atuao de uma pessoa na vidasocial: existe uma diferena de nveis entre sua maneira de ser consigomesmo e a maneira como age como ser social... Violncia justificadacomo sentido de revolta, mas nunca de opresso (OITICICA, inFAVARETTO, 2000, p. 131).

    Em maio de 1994, a Bienal Brasil coloca uma seo dedicada contemporaneidade

    sob o signo de Hlio Oiticica e Lygia Clark. E o totem da contemporaneidade mostra

    exatamente uma reproduo da Bandeira Poema de 1968 Seja marginal, seja

    heri.

    Percebemos nas obras de Oiticica sua preocupao poltica, tica e social, trata-se

    de um smbolo que permanece em muitas delas. Tal posicionamento est presente

    inclusive em seus comentrios sobre as mesmas, como podemos observar no

    pequeno trecho sobre Manifestaes Ambientais:

    [...] Surge a uma necessidade tica de outra ordem de manifestao, queincluo tambm dentro da ambiental, j que os seus meios se realizamatravs da palavra, escrita ou falada, e mais complexamente do discurso: a manifestao social, incluindo a fundamentalmente uma posio tica(assim como poltica) que se resume em manifestaes do comportamentoindividual... (OITICICA , in FAVARETTO, 2000, p. 122).

    http://ar.geocities.com/marginalia2000/dossier/index.html>http://www.pdfdesk.com
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    Compreende-se que a obra de Oiticica importante para a Arte Contempornea no

    Brasil, visto que abre caminho para muitos outro