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MARIZÂNGELA APARECIDA DE BORTOLO A APROPRIAÇÃO E O SENTIDO DO “VERDE” NOS 2006 CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS EM LONDRINA-PR Londrina

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MARIZÂNGELA APARECIDA DE BORTOLO

A APROPRIAÇÃO E O SENTIDO DO “VERDE” NOS

2006

CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS EM LONDRINA-PR

Londrina

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Marizângela Aparecida de Bortolo

A APROPRIAÇÃO E O SENTIDO DO “VERDE” NOS CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS EM

LONDRINA-PR

Monografia apresentada ao curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina como Requisito à obtenção do título de bacharel

Orientadora: Prof. Drª Yoshiya Nakagawara Ferreira

LONDRINA 2006

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Marizângela Aparecida de Bortolo

A

COMISSÃO EXAMINADORA _________________________________________ Orientadora: Prof. Dra. Yoshiya Nakagawara Ferreira Departamento de Geociên _____________________ Prof. Dra. Rosely Sampai Departamento de Geociências/ UEL

_________________________________________ Prof. Dra Ideni Terezinha Antonello

Departamento de

Londrina, ____de___________de 2006.

FOLHA DE APROVAÇÃO

APROPRIAÇÃO E O SENTIDO DO “VERDE” NOS CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS EM LONDRINA-PR

cias/ UEL

____________________ o Archela

Geociências/ UEL

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A Deus, aos meus pais, Lorival e Rosa pelo sonho e

a você Rafael.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que de maneira direta ou indireta, contribuíram para

ue eu pudesse hoje apresentar esta monografia, em especial, aos amigos de

ondrina e àqueles que mesmo distante sempre estiveram comigo.

Aos amigos do Laboratório de pesquisas urbanas pelo incentivo e

poio na elaboração deste trabalho, em especial a Valdete, Alessandra e Yoríca.

A todos os meus orientadores de iniciação pelo respeito e

madurecimento intelectual adquirido, como também aos professores Omar e Mirian,

ela possibilidade da realização do trabalho de campo.

Aos professores do curso de Geografia; aos verdadeiros profissionais,

om quem aprendi o valor e a importância desta ciência e também àqueles ditos

eógrafos, que pela sua incompetência, me apresentaram o lado mais triste da

cademia, o sentimento de inutilidade.

Aos meus pais Lorival e Rosa, pelo exemplo, apoio e pela confiança

condicional durante esta etapa da minha vida.

Ao Rafael, meu companheiro Geógrafo, a quem devo muito na

onclusão desta fase, pelo amor, pela força, que mesmo distante sempre foi a minha

base forte.

À professora Drª Yoshiya Nakagawara Ferreir

aprendizado e incentivo para a realização deste trabalho.

q

L

a

a

p

c

G

a

in

c

a, pela orientação,

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BORTOLO, Marizângela A. de. A apropriação e o sentido do “verde” nos condomínios horizontais fechados em Londrina-PR. 132f. Monografia

Estudar a apropriação e o sentido do “verde” nos condomínios horizontais fechados é nta

para a sociedade atual. Foram muitos os sentidos atribuídos à Natureza ao longo dos

como fator propulsor de um desenvolvimento econômico, base da produção industrial

Natureza como elemento imprescindível à vida da sociedade nas cidades industriais. ução e reprodução, tendo a

ciência e a tecnologia como importantes pilares da economia e da sociedade. Assim,

dos aspectos científicos e informacionais, diante da nova estrutura econômica e

que o movimento de revalorização da Natureza apresenta uma outra faceta da

tendo a incorporação do “verde” no espaço urbano, como forma de valorização rocesso, o papel importante que o marketing

detém, no sentido de ligar desejos e ideologias a objetos. Dessa forma, a apreensão

demonstra uma série de intencionalidades envolvidas por um “Poder Simbólico”, do ova lógica de reconhecimento dos

ambientes naturais na cidade. O resultado é a configuração de uma diferenciação

materializada nos condomínios horizontais fechados, que representam os anseios,

Palavras-chave: Homem/Natureza; “verde”; condomínios horizontais fechados;

(Bacharelado em Geografia)- Departamento de Geociências/ UEL, Londrina, 2006.

RESUMO

sem dúvida, um caminho para a compreensão daquilo que a Natureza represe

anos. A princípio como sinônimo de hostilidade e perigo, chegando à Era Industrial

do século XVIII. Apesar disso, nesse mesmo período, há o reconhecimento da

Hoje, a sociedade vive sob a lógica capitalista de prod

em meio ao grau técnico atingido, a Natureza adquire um valor subjetivo por meio

social global. Assim, é com a emergência do risco da escassez dos bens naturais,

problemática ambiental, baseada na valorização da Natureza como um símbolo,

imobiliária. Destaca-se, mediante esse p

de uma ideologia do “verde” nos empreendimentos do grupo Teixeira & Holzmann,

qual Bourdieu (1989) se refere, resultado da n

físico-social à cidade, dada a partir da diferenciação do “verde”, sendo esta

os valores atribuídos ao “verde” nas novas formas de morada.

simbolismo; diferenciação físico-social.

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BORTOLO, Marizângela A. de. La apropriación y el sentido del “verde” en los

Resumen

studiar la apropiación y el sentido del “verde” en los condominios horizontales

s nuevas formas de oradía.

condominios horizontales privados en Londrina-PR. 132 f. Monografía (Bachillerato en Geografía) – Departamento de Geociências/UEL, Londrina, 2006.

Eprivados es, sin duda, un camino para la comprensión de aquello que la Naturaleza representa para la sociedad actual. Muchos han sido los sentidos atribuidos a la Naturaleza a lo largo de los años. Primeramente como sinónimo de hostilidad y de peligro, ha llegado a la Era Industrial como factor propulsor de un desarrollo económico, base de la producción industrial del siglo XVIII. A pesar de eso, ocurre entonces el reconocimiento de la Naturaleza como elemento inpescindible a la vida de la sociedad en las ciudades industriales. Hoy, la sociedad vive bajo la lógica capitalista de producción y reproducción, con la ciencia y la tecnología como importantes pilares de la economía y de la sociedad. Así, en medio al grado técnico alcanzado, la Naturaleza adquiere un valor subjetivo por medio de los aspectos científicos e informacionales, delante de la nueva estructura económica y social global. De esa manera, con la emergencia del riesgo de la escasez de los bienes naturales, que el movimiento de revalorización de la Naturaleza presenta una otra faceta de los problemas ambientales, basada en la valorización de la Naturaleza como un símbolo, con la incorporación del “verde” en el espacio urbano, como forma de valorización inmobiliaria. Se destaca, mediante ese preceso, el papel importante que el marketing detiene, en el sentido de unir deseos e ideologías a objetos. Así, la aprehensión de una ideología del “verde” en los emprendimientos del grupo Teixeira & Holzmann, demuestra una serie de intencionalidades envueltas por un “Poder Simbólico”, al cual Bourdieu (1989) se refiere, resultado de la nueva lógica de reconocimiento de los ambientes naturales en la ciudad. El resultado es la configuración de una diferenciación físico-social en la ciudad, dada desde la diferenciación del “verde”, que se materializa en los condominios cerrados, que representan los deseos, los valores atribuidos al “verde” en lam Palabras clave: Hombre/Naturaleza; “verde”; condominios horizontales privados; simbolismo; diferenciación físico-social.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1: Projetos preocupados com a valorização ambiental, sempre com a

corporação de muito “verde”..............................................................................................83 Figura 2: Folder de vendas do condomínio oyal Forest, Londrina. : ....................... 87

in

R Figura 3: Piscina, área de lazer coletiva. Uma combinação de técnicas de paisagismo e elementos naturais. ................................................................................................ 97

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LISTA DE FOTOS

e ambientes naturais nos condomínios horizontais fechados do grupo Teixeira &

oto 3: Reserva ambiental e a proximidade dos equipamentos de lazer. Valorização o “verde” ................................................................................................................ 104

oto 4: O contato com ambientes naturais e a retomada de velhos hábitos de fância. ................................................................................................................... 107

oto 5: Vista para o lago com pista de caminhada, paisagem que expressa bem o oder do “verde” contido nos empreendimentos imobiliários .................................. 111

Foto1: Lago artificial, um dos elementos característicos da incorporação e recriação dHolzmann. ................................................................................................................................76 Foto 2: Contraste entre a área residencial com seus equipamentos de lazer e a reserva ambiental incorporada ao empreendimento. ............................................... 89 Fd Fin Fp

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SUMÀRIO

.. 8

. 11

.2 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 13

.1 HOMEM/NATUREZA: HOSTILIDADE, O PRINCÍPIO DA DESIGUALDADE E A 9

.3 FIM DA HOSTILIDADE E O REENCONTRO COM A NATUREZA..................... 31 2.4 SOCIEDADE/NATUREZA HOJE ........................................................................ 34 CAPÍTULO 3 - O RISCO DA ESCASSEZ E A REDESCOBERTA DA NATUREZA: DOS LIMITES DO CRESCIMENTO À NATUREZA IDEOLOGIZADA ..................... 39 3.1 MOVIMENTO AMBIENTALISTA E A CONSTITUIÇÃO DE UMA IDEOLOGIA DO “VERDE”.................................................................................................................... 48 3.2 O AMBIENTALISMO NO BRASIL ....................................................................... 57 3.3 MOVIMENTO AMBIENTALISTA E O PAPEL DA MÍDIA NA CONFIGURAÇÃO DE UMA IDEOLOGIA DO “VERDE”.......................................................................... 61 CAPÍTULO 4 - CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS E A APROPRIAÇÃO DO “VERDE”............................................................................................................ 65 4.1 CONDOMÍNIOS FECHADOS E A RELAÇÃO ENTRE O AMBIENTE RURAL E URBANO................................................................................................................... 70 4.2 CONDOMÍNIOS FECHADOS E A APROPRIAÇÃO DO “VERDE” ..................... 75 4.3 ROYAL FOREST: APROPRIAÇÃO, RECRIAÇÃO E O REENCONTRO COM A NATUREZA............................................................................................................... 84 CAPÍTULO 5- O “PODER SIMBÓLICO” DA NATUREZA NOS CONDOMÍNIOS FECHADOS: O SIMBOLISMO DA NATUREZA NOS CONDOMÍNIOS FECHADO 93 5.1 DISCURSO AMBIENTAL E A RELAÇÃO SIMBÓLICA..................................... 101 5.2 O RECONHECIMENTO .................................................................................... 108 5.3 EXPANSÃO URBANA E A IMPOSIÇÃO ALIADA AO DESEJO DO “VERDE”.. 115 CAPÍTULO 6- HIPÓTESES PARA FUTUROS TRABALHOS DE PESQUISA ...... 126

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................LISTA DE FOTOS....................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 - CONTEXTUALIZANDO...................................................................1.1- JUSTIFICATIVA DA PESQUISA........................................................................ 12 11.2.1 Objetivos Específicos ....................................................................................... 141.2.2 Metodologia da Pesquisa ................................................................................. 14 CAPÍTULO 2- QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS VINCULADAS AO OBJETO DE ESTUDO.............................................................................................. 18 2RUPTURA. RELAÇÕES E CONFLITOS ENTRE A SOCIEDADE E A NATUREZA . 12.2 NATUREZA ENQUANTO OBJETO DE STATUS SOCIAL ................................. 27 2

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BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 128 ANEXO ................................................................................................................... 133

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11

CAPÍTULO 1 - CONTEXTUALIZANDO

“verde” nos empreendimentos imobiliários de média e alta renda, na tentativa de

procurar entender de que forma se apresenta a Natureza, o “verde”, e a sua

compreensão dada pela sociedade atual como um forte elemento simbólico nos

condomínios horizontais fechados em Londrina.

Por isso, diante da relação simbólica do “verde” nos condomínios

fechados, apresentam-se intrinsecamente, interesses subjetivos voltados à

população predisposta a habitar esses empreendimentos, cuja preocupação é

fundamentalmente a busca por qualidade de vida ligada à valorização do lugar.

Contudo, essa valorização tem como suporte, os interesses dos incorporadores que

imprimem a sua marca no espaço urbano, relacionando o “verde” à qualidade de

vida, procurando uma maior valorização do seu empreendimento.

Nesse sentido que compreendemos tal movimento, como a

materialização daquilo que apresentamos como sendo fruto da redescoberta da

natureza pela sociedade atual, que passa pela idéia de risco e escassez dos

recursos naturais, tão alertados pela mídia e que tem nos movimentos

ambientalistas, o impulso para a configuração de uma ideologia do “verde”.

As expressões Natureza e “verde” que serão muito utilizadas neste

trabalho, possuem significados distintos tanto do ponto de vista etimológico como

simbólico. A expressão Natureza, do ponto de vista conceitual estará significando

todos os atributos da Natureza, portanto, com a letra maiúscula. Por outro lado, como

“verde”, do ponto de vista conceitual, nos referiremos à presença de amenidades,

Este trabalho consiste em uma análise da apropriação e o sentido do

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como resquícios de matas, lagos artificiais ou de ambientes construídos ou

parcialmente construídos ou modificados pela ação do Homem, como, por exemplo,

pelo paisagismo, denotando como um dos indicadores da qualidade de vida. A opção

do significado da expressão “verde” está fundamentada, também no imaginário da

população residente nos condomínios horizontais fechados, que a utilizam nesse

sentido.

O objeto de estudo está localizado na cidade de Londrina, um

município com aproximadamente com 500.000 habitantes, com sete décadas de

existência, cujo espaço urbano se encontra bastante fragmentado, do ponto de vista

da sua apropriação e com um uso do solo bem heterogêneo do ponto de vista do seu

conteúdo social e formas de organização espacial.

teresses

subjetivos e col

1.1- JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

Trabalhar a relação simbólica do “verde” nos condomínios horizontais

fechados parece indicar uma tendência observada hoje nos parcelamentos rurais e

urbanos que se transformam em locais de morada. Novas formas e novos estilos de

vida surgem rapidamente no espaço urbano, impregnando-se de in

etivos que reproduzem a lógica capitalista, criando vários ambientes

construídos, onde a Natureza passa a ser capitalizada e reproduzida com

intensidade.

Diante disso, materializam-se na cidade desejos, sonhos e

expectativas, confrontadas com a realidade caótica, na qual as cidades estão

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envolvidas. Assim, os condomínios horizontais fechados soam como um ambiente

representativo dessas aspirações, principalmente porque têm como discurso

justamente a qualidade de vida, o conforto ambiental e a segurança como atrativos

primordiais.

Ao relacionar o “verde” aos condomínios, indiretamente

contemplamos este elemento como mais uma mercadoria veiculada pelo marketing,

esse que detém

ontais fechados, influindo como

um importante mediador da relação simbólica do “verde” com o desejo de consumo.

Uma outra justificativa que consideramos importante ressaltar é a

necessidade da realização de trabalhos na área da pesquisa urbana da cidade de

Londrina, de cunho contemporâneo e s

O trabalho teve como objetivo central, estudar a relação simbólica da

Natureza, do “v

um papel fundamental na configuração do simbolismo da Natureza

nos empreendimentos imobiliários.

Tendo em vista o exposto acima, um dos propósitos deste trabalho é

fazer um estudo na tentativa de verificar a relação e a importância do marketing

realizado sobre os lançamentos de condomínios horiz

ignificativo, envolvendo não somente o

conhecimento geográfico, mas, buscando subsídios também em outros campos de

conhecimento.

1.2 OBJETIVO GERAL

erde” nos condomínios horizontais fechados em especial os do grupo

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Teixeira & Holzmann em Londrina, a fim de compreender a lógica de apropriação do

“verde” e as suas conseqüências físico-sociais para a cidade.

1.2.1 Objetivos Específicos

I. Entender como a Natureza, o “verde”, têm sido compreendidos pelo

Homem na sua relação de vida, sobrevivência e conflitos gerados no

espaço e no tempo;

II. Analisar as ações e as estratégias utilizadas pela sociedade, em

relação ao risco e à escassez dos recursos naturais, como também o

papel dos movimentos ambientalistas no estabelecimento de uma

ideologia do “verde”, base de sustentação da difusão de

empreendimentos imobiliários dessa natureza;

III. Realizar uma revisão bibliográfica em estudos que abordaram como

tema os condomínios horizontais fechados;

IV. Estudar o rebatimento espacial destes empreendimentos na cidade de

Londrina e a relação de complemento Natureza, “verde” na oferta de

condomínios.

Pesquisa

das entrevistas informais e da observação na paisagem urbana formada pelos

1.2.2 Metodologia da

Paralelamente à revisão na literatura sobre o tema problema

proposto nesta pesquisa, realizamos várias incursões no campo, verificando através

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condomínios horizontais fechados, procurando uma aproximação ou contraposição

entre algumas questões teóricas e a realidade observada.

A partir do material bibliográfico selecionado, buscou-se

a do “verde” nos condomínios horizontais fechados

em Londrina, tendo como amostra os empreendimentos do grupo Teixeira &

Holzmann, localizados na porção sudoeste da cidade.

Foram selecionados os empreendimentos do grupo, porque nos

últimos anos, a empresa tem-se voltado para criação de um “novo” conceito de

morada, em condomínios fechados, destacando como chamariz e diferencial em

relação aos demais condomínios, o apelo às áreas ”verdes”, baseado na criação de

lagos artificiais, nos jardins projetados paisagisticamente, além da incorporação de

resquícios de matas, relacionando-os à qualidade de vida de seus moradores.

Com relação à pesquisa de campo, ela se baseou em entrevistas

informais a corretores e moradores, na tentativa de apreender questões relevantes

que viessem nortear o desenvolvimento do trabalho, fugindo de um modelo de

questionário simples, onde poderíamos pecar pela padronização das respostas e,

portanto, levar o trabalho a um empobrecimento conceitual.

Para a realização desta pesquisa, tomamos como base inicial, alguns

estudos de abordagens distintas com relação aos condomínios horizontais fechados,

autores como Caldeira (2000), Dacanal (2004), Henrique (2004), e outros que

indicaram tend

compreender a relação simbólic

ências e que contribuíram para o amadurecimento de nossas

indagações, levando-nos à concretização de um estudo crítico.

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Quanto aos termos Natureza e “verde”, cabe ressaltar que eles

apresentam significados distintos, tanto do ponto de vista etimológico como

simbólico. Assim

marketing e que transmite ao

imaginário dos

squisa

apresentando

flitos entre a sociedade e

a Natureza, os s

ologia do “verde”,

incorporada pela sociedade e concretizada nas novas formas de morada.

, ao nos referirmos à expressão Natureza, estaremos falando de

todos os atributos da Natureza.

Como “verde”, relacionaremos todos os itens representativos de

amenidades, conforme veiculado pelas empresas de

consumidores, parcelas da Natureza como resquícios de matas,

gramados verdejantes, lagos artificiais, elementos estes pincelados por técnicas de

paisagismo e que fazem parte da utopia de consumo, relacionando à qualidade de

vida no espaço urbano. Por isso, todos esses atributos físicos, subjetivos e estéticos,

fazem da Natureza, do “verde”, mais um ícone na nossa sociedade capitalista.

Sendo assim, no primeiro capítulo, norteamos a nossa pe

como introdução, uma breve justificativa, objetivos gerais e

específicos, a metodologia que encaminhou o trabalho e os caminhos percorridos

para a realização deste trabalho.

No segundo capítulo, apresentamos questões teórico-metodológicas

vinculadas ao nosso objeto de estudo, como a relação e con

entidos que o Homem atribuiu à Natureza em diferentes momentos e

a relação simbólica estabelecida.

No terceiro capítulo, abordamos a problemática do risco e escassez

e o movimento de redescoberta da Natureza, a fim de demonstrar a influência dos

movimentos ambientalistas na configuração de uma ide

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O quarto capítulo apresenta o processo de apropriação do “verde”

pelos empreendimentos imobiliários estudados, bem como as estratégias utilizadas

para colocá-lo como uma mercadoria complementar à morada nos condomínios

horizontais fechados, induzindo como um novo estilo, além da segurança e de

determinado sta

s como reflexões finais.

tus de vida.

Como resultados da pesquisa, discutimos no quinto capítulo a

relação simbólica da Natureza nos condomínios fechados, a partir de entrevistas com

corretores e moradores dos empreendimentos do grupo Teixeira & Holzmann, para

verificar a relação da morada com referências simbólicas ou não em relação ao

“verde”, como possíveis vinculações ao exclusivismo, segregação sócio-espacial e à

qualidade de vida.

No capítulo seis, como considerações finais, apresentamos algumas

hipóteses para futuros trabalhos a serem desenvolvidos sobre o tema problema

estudado. Fizemos também, à guisa de conclusão, algumas inferências que para o

presente estudo foram importante

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OBJETO DE ESTUDO

envolveu a idéia de Natureza do ponto de vista da

representativida

nto, não será nosso objetivo estudar o conceito de Natureza,

porque represe

Quanto à configuração atual, a Natureza tem-se apresentado com

objetivos e usos que vêm desafiando os pesquisadores a buscarem respaldos em

vários ramos do conhecimento científico, acrescentando e promovendo discussões

inflamadas a respeito da sua apropriação e uso.

Para pensar um pouco na relação dialética estabelecida entre

Natureza e Sociedade é que partimos para uma discussão geográfica e histórica,

pois, analisamos essa relação partindo da idéia de inseparabilidade desses

elementos enquanto componentes participantes e integrantes do espaço geográfico.

CAPÍTULO 2- QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS VINCULADAS AO

Nossa discussão teve como objetivo, analisar a importância atribuída

à Natureza e como se des

de enquanto elemento físico, mas também como subjetividade, fato

que tem proporcionado os mais diversos sentidos a essa relação. Dentro dessa

perspectiva, discutimos de modo geral alguns pontos relevantes a nossa pesquisa,

demonstrando como se dava a relação Homem/Natureza e como se constitui nos

dias atuais.

Porta

ntaria uma discussão à parte, e que nos levaria a tecer outros

caminhos, que aqui, não pretendemos percorrer. Nosso objetivo buscou estabelecer

um paralelo entre aquilo que representou um dia, e como é configurada hoje esta

relação diante da nossa sociedade capitalizada.

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Assim, na tentativa de ilustrar melhor como se dá esta relação entre

stado

e Natureza” apresentado por Rousseau (1997), corroboramos com a idéia de que “o

al não está n

Em seu segundo discurso, Rousseau (1997) descreve como se dá a

ruptura entre o Homem e a Natureza, com o intuito de justificar como se estabelece a

(1999, p.30), lembra que “a história dos esforços humanos para dominar a Natureza

relação de inseparabilidade entre Homem/Natureza, torna-se fundamental

compreender a evolução do Homem, para assim observar a sua relação com a

Assim, para Rousseau em sua obra Discurso sobre a origem e

olução do homem se dá em três

estágios: 1) o estado puro da Natureza; 2) o estado selvagem - já usando objetos de

trabalho; 3)o estado de barbárie.

Natureza, ele é representado pelo homem primitivo, cujas relações com outros

sociedade e Natureza, iniciamos nossa discussão partindo da concepção de “e

d

m a Natureza, mas na sociedade” (ROUSSEAU apud SANTOS, 1998, p.

101).

2.1 HOMEM/NATUREZA: HOSTILIDADE, O PRINCÍPIO DA DESIGUALDADE E A RUPTURA. RELAÇÕES E CONFLITOS ENTRE A SOCIEDADE E A NATUREZA

desigualdade econômica e social entre os homens, dentro dessa perspectiva, Pontes

é também a história da subjugação do homem pelo homem”. Portanto, diante da

Natureza.

fundamentos da desigualdade entre os homens, a ev

Com relação ao primeiro momento classificado de estado puro da

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homens se limitava ao necessário. Assim, “a Natureza conforta o homem de todas as

maneiras, e ao oferecer-lhe tudo, o homem nem ao menos tem consciência de sua

existência” (ROUSSEAU, apud SANTOS, 1998, p. 104).

Neste momento, homem e Natureza estão equiparados, o homem

recebendo apenas aquilo que a Natureza o oferecia, não constrói nenhum

strumento que o diferencie, pois realmente não há a necessidade de qualquer tipo

a

armônica, no qual a sua sobrevivência se dava a partir daquilo que a Natureza lhe

proporcionava, e assim:

Observamos então que nesse momento, o homem se apresenta

enquanto ser integrante, mas dependente da Natureza, já que suas ações em prol da

sobrevivência ainda se constituem de maneira pouco transformadora. Contudo, essa

harmonia não se reduz à passividade, pois veremos que foi na medida em que os

povos se desenvolveram “[...] em inteligência e liberdade, à medida que

compreenderam melhor a ação dessas forças que os arrastam, souberam reagir

sobre o mundo exterior [...]” (RECLUS, 1985, p. 41).

Assim, essa relação se altera de acordo com Rousseau (1997), a partir

de alterações climáticas, que impõem ao homem obstáculos à sua vida, pois agora o

homem passa a concorrer diretamente com os animais por alimentos, ele é então

in

de aparato para o estabelecimento da sua vida.

Ou seja, o homem se relacionava com a Natureza de form

h

[...] o homem da Natureza escolhia aquelas suas partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da vida, valorizando, diferentemente, segundo os lugares e as culturas, essas condições naturais que constituíam a base material da existência do grupo. Esse meio natural generalizado era utilizado pelo homem sem grandes transformações (SANTOS, 2004, p. 235).

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forçado a construir armas, já que agora a Natureza representava enquanto algo

hostil.

A respeito dessa hostilidade Henrique (2004), apresenta a Natureza

frágeis, os homens tinham de lutar contra obstáculos tão numerosos,

agens das florestas; sua vida era uma luta ininterrupta: sob tante ameaça da fome ou massacre, não podiam dedicar-se à

Temos

sta autora:

nesse momento enquanto possuidora de uma maior influência sobre o meio, tendo o

homem como mais um de seus elementos.

Mas, aqui o contato com a Natureza representa um grande desafio ao

homem, pois,

Durante a infância das sociedades, isolados ou agrupados em tribos

que não podiam sonhar em se apropriar da superfície da Terra como seu domínio: aí viviam, escondidos e temerosos, como os animais selvconsexploração da região e ainda desconheciam as leis que lhes teriam permitido utilizar as forças da Natureza. Mas a força do homem se mede pelo seu poder de acomodação ao meio (RECLUS, 1985, p. 41). então nesse momento uma nova realidade impressa, fato que

conduz à passagem para o segundo estágio concebido por Rousseau, o da

selvageria. Aqui, o autor diferencia o homem dos demais animais, principalmente por

possuírem o dom da liberdade e da perfectibilidade. Ou seja, ao homem concerne

respectivamente o dom de escolher suas ações e de construir instrumentos

(ROUSSEAU, 1997).

Baseada em Rousseau, Santos (1998) discorre a respeito do

desenvolvimento de técnicas pelo homem, segundo e

Diferentemente dos animais se aperfeiçoa e constrói instrumentos: o anzol, o arco. A partir daí se inicia o estado da cultura. Entre o homem e a Natureza se interpõem agora novos objetos, construídos por suas próprias mãos e que não são ofertados pela Natureza (SANTOS, 1998, p. 107).

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Com todo esse desenvolvimento do homem frente à Natureza há a

constituição de bandos e o surgimento da primeira divisão internacional do trabalho

que ocorre a segunda grande revolução do estado da Natureza.

Esses novos conhec

naturais, a relação d

“pois tudo aquilo qu

(SANTOS, 1998, p. 1

Porém

em se coloca a produzir o ferro, não quer dizer que sua

de modelo para a

sua imitação, e que p

Com

mor próprio, a vaid ção ao estado de liberdade, já que se

entre homem e mulher. Sendo que, a mulher cuida da casa, enquanto o homem

cuida da subsistência da família, o que representou a primeira revolução do estado

de Natureza. (ROUSSEAU, 1997, p. 91).

Entretanto, é com o surgimento de novas técnicas como a metalurgia

e a agricultura

imentos até aqui, ainda serviam de arma diante dos obstáculos

o homem com a Natureza se dava ainda de forma harmônica,

e ele consome ou produz provêm diretamente da Natureza”

12).

, com o desenvolvimento de um conjunto de habilidades o

homem pôde utilizar os seus conhecimentos não mais somente para vencer os

obstáculos naturais, indo além da própria Natureza. Assim, Rousseau apresenta o

fim do estado de Natureza, pois segundo ele “[...] foram o ferro e o trigo que

civilizaram os homens e perderam o gênero humano” (ROUSSEAU, 1997, p.94).

Assim, a Natureza se apresenta enquanto um instrumento, um recurso,

assim, quando o hom

condição de sobrevivência estivesse em perigo, da mesma forma que um vulcão não

representava mais um risco para a sua sobrevivência, ele servia

or sua vez eram representados pelas conquistas dos homens.

as inovações técnicas aprimoram-se outros fatores, tais como o

ade, até mesmo em relaa

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estabelece um sistema desigual entre os homens, levando um homem a se tornar

escravo do outro. Todas essas características conduzem ao estabelecimento de uma

“má sociedade”, atingindo então, o estado de barbárie. Assim, “[...] desviou-se de sua

essência natural e edificou uma sociedade que caminha contra a Natureza. Quanto

mais se socializa, constrói técnicas e se torna antinatural” (SANTOS, 1998, p.116).

período mesolítico e neolítico, de acordo com Thomas

(1989,

que conhecemos já fora estabelecida, geralmente numa paisagem de

[plausivelmente], preferiam o campo aberto às florestas por sua

antecedência( THOMAS, 1989, p. 232 ).

A sociedade tem então a Natureza como um recurso, fato que conduz

ao estabelecimento de desigualdades entre os homens, na medida em que a

mentalidade capitalista passa a ditar uma nova lógica de produção e reprodução.

Diante da nova realidade impressa à relação Homem/Natureza, com o

tempo, a idéia de soberania e progresso humano esteve ligada à destruição de

matas, principalmente no

p. 231) as florestas muitas vezes davam espaço a campos e pastagens, mas

eram também utilizadas na construção de casas, como combustíveis industriais,

manufaturas do ferro, produção de vidro e cerâmica.

Quanto à devastação em curso:

No final do século XIII a maior parte da implantação humana

trilhas sinuosas e campos traçados sem regularidade, recortados a duras penas das áreas florestais. Em algumas partes do país, porém, como nos Brecklands ou na região de Cambridge, as árvores já haviam desaparecido por completo (THOMAS, 1989, p. 230).

Contudo, vale lembrar que as florestas, por muito tempo sinalizavam

como perigo, desta forma:

[...] esse processo simbolizava o triunfo da civilização. As florestastinham sido sinônimo de rusticidade e perigo, como nos lembra o termo “selvagem” (de silva, selva).Os primeiros homens, sugeria-se

segurança:era possível ver o que se aproximava e defender-se com

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Ainda nos remetendo à idéia de hostilidade da Natureza, lembremo-

nos que a literatura relacionada às conquistas do século dezenove, ainda retrata

essa idéia de hostilidade baseada na relação Homem/Natureza, caracterizando o

sertão como Natureza selvagem, um destes autores Smith (1988), que, ao classificar

a Natureza americana no período de desbravamento do país afirma que:

O sertão é a antítese da civilização; ele é estéril, terrível, até mesmo

da

o século XV com a expansão

marítimo-come cnico-científico, que se desenvolveu

essa nova concepç

racionalidade capitali

conhecimento” objeti omem

sobre a Naturez

r que, de acordo com alguns preceitos teológicos nos

períodos Tudor e Stu

as outras espécies e

sua existência era “[

sinistro, não tanto por ser a morada do selvagem, mas por ser seu habitat “natural”. O natural e o selvagem eram uma coisa só;eles eram obstáculos a serem vencidos na marcha do progresso e civilização ( SMITH, 1988, p. 37 ).

Observe que nem as incertezas proporcionadas por uma Natureza

selvagem, detém o homem da apropriação da Natureza, realidade justificada

principalmente pelo desenvolvimento de instrumentos técnicos e de uma

racionalidade do homem em relação a Natureza, tendo-a agora enquanto um recurso

e instrumento fundamental para o desenvolvimento econômico.

Pontes (1999) lembra que, foi a partir d

rcial, com o desenvolvimento té

ão de Natureza, como um recurso, ligada, portanto a uma

sta, e que, portanto, “[...] devem, sem dúvida à definição de um

vo” e “racional” enquanto um instrumento de domínio do h

a”( PONTES, 1999, p.30 ).

Vale lembra

art, a visão de mundo era baseada na idéia de que o mundo e

stavam subjugados aos desejos e necessidades dos homens. A

...] unicamente para servir aos interesses humanos” (THOMAS,

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1989, p. 22). Ou seja, aqui, o domínio do homem sobre a Natureza era um ideal

proclamado pelos primeiros cientistas modernos, afirma o autor.

Nesse sentido, o jardim do Éden, uma das primeiras (a primeira

maravilha) do mundo foi criado e confiado ao homem (Gênesis 1:11; 24; 26). Ou

seja, esta relação sempre teve o predomínio humano como justificativa de uso e

apropriação. De acordo com Burroughes, “O predomínio humano tinha, portanto,

lugar central no pla

declarava” (BURROU

conseguinte, se quer a todo o custo encontrar-lhe um lugar, existe

que não nasceu da Natureza e que é feito para nela permanecer (

tudo minucioso sobre as ideologias e

prática a his

no divino. O homem era o fim de todas as obras de Deus,

GHES, 1657 apud THOMAS, 1989, p. 23).

Apesar da relação de domínio da Natureza pelo homem embasada

segundo prescrições teológicas, aqui a Natureza é objeto de criação divina, portanto,

a sua concepção não se relaciona à idéia de homem produtor independente e

controlador, pois a Natureza detém desígnios divinos que perpassam qualquer ideal

humano.

Assim:

o homem, dizia o cristianismo, não se situa na Natureza como um elemento num conjunto:não tem o seu lugar nela como as coisas têm o seu lugar; é transcendente em relação ao mundo físico;não pertence à Natureza, mas à graça, que é sobrenatural; e, por

apenas um, o primeiro, com a condição ainda de precisar de imediato

LENOBLE, 1969 apud HENRIQUE, 2004, p.44 ).

Henrique (2004) fez um es

s n tória, quando aborda na sua tese de doutorado, a questão do Direito à

Natureza na cidade. Ele relata sobre a questão do domínio do homem sobre a

Natureza, quando, no Período Teológico, essa dominação era evidente.

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Prosseguindo, o autor fala das mudanças dessa relação de dominação do homem

sobre a Natureza, apoiando-se em Lenoble, assim se expressa:

Geograficamente, a nova forma de inserção do homem na natureza,

mudanças mais aceleradas da paisagem, pois a derrubada da vegetação, de bosques e florestas para o estabelecimento das ordens religiosas e a preparação de terras para o cultivo estão ratificadas pelo pensamento teológico (HENRIQUE, 2004, p. 47).

O autor complementa ainda que este homem que estava

transformando a Natureza era um homem rural, um homem que vivia no campo.

Mas, segundo o autor, algumas mudanças na maneira de se p

nos últimos séculos da Idade Média, irá representar algumas

ensar o homem na

Remetendo-nos às concepções gregas, observamos que, com

emergem outras formas de se conceber a

Natureza e a sua re

34), atribuem-se aq

elementos naturais

superioridade da Nat , para Aristóteles,“

Natureza, principalmente com o apoio ao desmatamento para cultivo e mesmo o

estabelecimento de ordens religiosas, trouxeram um outro sentido a esta relação, no

qual o homem livre de qualquer temeridade divina busca transformar o espaço

geográfico de acordo com seus objetivos e desejos.

Aristóteles e outros filósofos gregos

lação com o homem. Ainda de acordo com Henrique (2004, p.

ui fatores estéticos principalmente com a incorporação de

na arquitetura e a idéia dos jardins1, além disso, a idéia de

ureza relacionada a divindade prevalece pois

apesar de uma posição proeminente na Natureza, o homem ainda é infinitamente

muito mais fraco que a Natureza”.

Aqui a Natureza é objeto de contemplação e respeito, no entanto, o

homem enquanto um ser independente controla e executa ações sempre em busca

1 Menção aos famosos jardins da Babilônia

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da sua melhor sobrevivência, temos então uma visão antropocêntrica, ou seja, aqui o

homem já produz e reproduz a Natureza, de acordo com os seus interesses, mesmo

que esses não sejam

Na Idade Média com a inserção do trabalho animal e o

desenvolvimento de

amente do solo e, tornados pela gentes geológicos, transformaram

ideslocaram fauna e flora.

Domínio que mais adiante, já por volta do século XVIII, daria a

Natureza um novo status diante da sociedade, pois ao contrário do expressado

acima, aqui a Natureza adquirirá um valor subjetivo, ou seja, ela deixa de ser

continuamente destruída para se tornar objeto de status social.

ETO DE STATUS SOCIAL

homem, fatos de natureza social passam a influir na concepção da Natureza, agora

o objetivo geral do grupo.

novas técnicas de cultivo, a implementação dos moinhos de

água, aumentaram ainda mais a capacidade do homem em modificar a Natureza, a

partir da criação de grandes áreas para o cultivo de cereais e de estradas para

facilitar os transportes, como demonstra a evolução das civilizações em várias partes

do mundo.

Esses fatores favoreceram ainda mais o controle da Natureza pelo

homem, pois segundo Reclus (1985, p. 41),

[...] foram se apropriando gradativforça de associação verdadeiros ade várias maneiras a superfície dos continentes, mudaram a economia das correntes, modificaram até mesmo os cl mas,

2.2 NATUREZA ENQUANTO OBJ

Prosseguindo na idéia da evolução do domínio da Natureza pelo

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já menos hostil, mais social. Na Inglaterra como passatempo dos abastados, o cultivo

de árvores e a preocupação com o paisagismo, adquire uma importância muito

grande para a sociedade. Há uma valorização por parte das classes mais

orecidas sob

, principalmente com a implantação da política de cercamento e

conse ntem

nto da Revolução Industrial, no século

XVIII. Baseados ness

Em es

da Natureza Intocad bservação sobre a relação vida nas

irrespirável. A vida no campo passou a ser idealizada sobretudo pelas na produção agrícola

(DIEGUES, 1998, p.24),

Além disso, Thomas (1989) sugere também que o crescimento

inado um sentimento

nti-social, levando a uma atitude de contemplação da Natureza selvagem, como

lugar de isolam

fav re a Natureza, fato que impulsiona o cultivo de flores pela população,

assim, o cultivo de flores e árvores se destaca a “importância emocional” (THOMAS,

1989).

Atentemo-nos a essa revalorização da Natureza, pois vale lembrar

que foi a apropriação privada das terras que se configurou uma nova lógica de uso

às florestas

qüe ente, o fim de parques antes reservados à caça, dando espaço a

matéria prima necessária ao desenvolvime

e ideal houve um avanço significativo do desmatamento.

tudos recentes como, por exemplo, de Diegues, na obra O mito

a, há ma importante ou

cidades, vida no campo.

[...] a vida nas cidades que antes era valorizada como sinal de civilização em oposição à rusticidade da vida no campo, passou a ser criticada, principalmente porque o ambiente fabril tornava o ar

classes sociais não diretamente envolvidas

populacional, principalmente nas cidades inglesas, teria orig

a

ento e reflexão.

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Em relação à importância dada a esses ambientes, ressaltamos que

hoje, mais do que nunca se apelou tanto ao fator emocional na tentativa de se

estabelecer novos usos, novos produtos. Assim, observamos que a importância e o

valor simbólico dado a Natureza estão postos desde o início dos tempos modernos,

principalmente na Inglaterra, como já apresentado anteriormente com a criação dos

seus jardins, parques, reservas ou mesmo com a proximidade ornamental

igente

Mais

também “as florestas

conservação de árvo

um valor ornamental

incalculável, pois, mais que uma necessidade espacial, elas adquiriram um valor

proporcionada em ambientes naturais, já que eles representavam um símbolo de

posição social.

Quanto a nova configuração dada a Natureza, destacamos também

para uma resignificação da idéia de Natureza como recurso, pois, uma nova visão de

recurso deve incluir não somente recursos utilitários, mas também a noção de

“recursos amenidades”, na era da urbanização e industrialização, realidade v

na Inglaterra nesse momento, já que a Natureza detinha uma função higienizadora,

responsável pela renovação do ar nas cidades (PERLOFF,1969 apud

PONTES,1999).

que isso, alguns acreditavam que os parques populares como

reais produziram uma razão adicional e mais duradoura para a

res, notadamente a crença de que a mata acrescentava beleza

e dignidade ao cenário” (THOMAS, 1989, p. 241).

Contudo, apesar de nos séculos XVI e XVII, as pastagens avançarem

sobre as reservas devido ao mercado lucrativo e em expansão que se propagava, as

áreas verdes que permaneciam, automaticamente adquiriam

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30

estétic tornan

emplo, grandes avenidas cercadas por árvores anunciavam a

ia de “cidade-jardim”. (THOMAS, 1989, p.247). Essa idéia foi

origina em 1

menta Thomas apoiando-se nas

xpressões Th

o do-se “objeto de prazer” para a sociedade Inglesa da época, ou seja,

explora-se nesse momento o valor simbólico e subjetivo da Natureza representado

por ambientes naturais (THOMAS, 1989).

A princípio, o plantio de árvores teve o intuito de oferecer áreas com

sombra proporcionando um ambiente mais agradável, mas também como forma de

proteger as casas de fortes ventos. Contudo, foi nas cidades com o plantio de

árvores objetivando o ornamento que elas se tornaram um sinônimo de distinção

social. Por ex

residência de uma pessoa importante, e assim foi sendo disseminada a idéia, a

importância da proximidade da Natureza. Hoje, mais que importância, há uma

necessidade de estar junto a ambientes naturais, mesmo que estes sejam ambientes

recriados de forma bucólica (THOMAS, 1989).

Ainda, lembrando da sociedade inglesa, tanto se valorizava plantio

como a criação de bosques, parques nas cidades que, com o tempo, foram-lhe

atribuídas a idé

da 661 por John Evelyn, que ficara impressionado, viajando por países

europeus com o ambiente agradável que as flores e árvores ofereciam. Com essas

características, não nos espanta que, “a definição de um lugar perfeito fosse uma

cidade, mas uma cidade cheia de árvores” co

e omas Traherne (THOMAS, 1989, p. 246).

Em meio ao desenvolvimento desses novos conceitos é que aos

poucos, os cinturões de proteção, as alamedas, parques e bosques foram sendo

apropriados pela camada abastarda e passaram a se apresentar enquanto

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agradáveis e lucrativos, adquirindo uma valorização imensa, pois o chamado “plantio

Aristocrático” representava uma forma de exibição das propriedades.

2.3 FIM DA HOSTILIDADE E O REENCONTRO COM A NATUREZA

Todo o aparato criado em torno da necessidade e busca por áreas

, movimento intitulado de “volta à

Natureza”, originado com o fim dos temore

ameaçadora das florestas, pois,

No século XVIII, com as idéias naturalistas, a Natureza é encarada

como algo necessário à sobrevivência humana, pois servia de fonte de prazer

intelectual e moral oriundo de sua observação (HENRIQUE, 2004).

verdes na Europa, será observado mais adiante já no século XIX, a partir do

movimento de desbravamento da América do Norte nos Estados Unidos, depois do

difícil encontro (desbravamento das matas)

s relacionados a uma Natureza hostil e

[...] como a Natureza selvagem foi domada, a Natureza exterior assumiu uma aparência menos ameaçadora. O desbravamento da Natureza ensejou sua dissecação mais cuidadosa nas mãos da ciência; o fascínio substituiu o temos (SMITH, 1988 p. 37).

Com isso, nas cidades onde esse movimento teve seu impulso, ela

adquiriu força quando passou a ser estudada e representada por artistas, como

muito mais que simples elemento natural, a incorporação da Natureza pela

sociedade transformou-se em uma necessidade. Mais que algo externo, agora ela

“Domesticada, higiênizada e estendida sobre as mesas de café, a Natureza era um

pertence, da mesma forma com um gato de família” (SMITH, 1988, p. 38).

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Assim, a busca pela Natureza se tornou um programa cultural da

sociedade, o estar junto à Natureza transformou-se em algo inerente ao movimento

e volta à Natureza. Essa cultura ganhará ainda mais elementos quando a Natureza,

além de sinônimo de prestígio social se impregna de ideologias, como observado na

percorreram praticamente o mesmo caminho. Antes da valorização, veio o medo e as

2

visava o domínio de algo que representava incertezas a sociedade. Quanto à

valorização podemos destacar o seu caráter

uma Natureza virtu

identificou nos E.U. A

d

sociedade atual.

Mas, esse movimento de busca por ambientes naturais e

principalmente a valorização de ambientes naturais nos parece um pouco

contraditório não é? Observem que as sociedades acima discutidas, todas

incertezas, no qual a Natureza poderia representar posteriormente o seu domínio e

devastação, para só então ser revalorizada.

Podemos dizer que a idéia de Natureza hostil nesse momento

desempenha um papel social , que seria promover a legitimação da devastação, pois

ideológico contido por trás da idéia de

osa, que Smith, apoiando-se no historiador George Mowry

pois para ele, ,

[...] o entusiasmo pela Natureza e pelo ambiente representava uma nostalgia ecológica que era politicamente conveniente para as classes economicamente dominantes dos E.U.A, para fomentar as virtudes rurais( SMITH, 1988, p. 39 ).

Já Diegues (1998), diz haver elementos próprios ao pensamento

empírico-racional, como a concepção de que existem funções ecológicas e sociais

2 Para Smith (1988), o conceito de Natureza é um produto social e principalmente no tratamento da Natureza na frente pioneira americana, esse conceito tem uma clara função social e política.

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da ssim, a criação de Yellowstone, 1º parque nacional do mundo nos

Estados Unidos em 1872, estabelecido justamente no auge da devastação das

florestas no país no século XIX, fruto de um movimento de proteção da Natureza

selvagem, teria como justificativas para o seu estabelecimento tanto interesses

econômicos como

Natureza. A

poéticos (DIEGUES, 1998).

esse que havia perdido na Queda do

perdas podem ser reparadas, mesmo que em parte, ainda nesta vida;

ant, o homem não só produz e cria, ele busca

experimentar na ten

homem como agen ra isso, busca-se adaptá-la

Portanto, compreende-se a Natureza como um resultado do próprio

s

Diante disso, observamos que o homem detém o controle e produção

da Natureza, seja pelo seu desbravamento e a constituição de áreas agricultáveis,

seja pela sua presença marcante nas ciências, nas artes. Ou seja, o homem agora

enquanto agente produtor e dominador alcança posição de destaque, e fazendo

menção a Francis Bacon, em sua obra Novum Organum, lembra que há a retomada

do direito de domínio da Natureza, direito

paraíso e que agora pela ciência resgatava o desejo de Deus.

Assim,

o homem perdeu a inocência e o domínio das criaturas. Ambas as

a primeira com a religião e com a fé; a segunda, com as artes as ciências (BACON, 1999, 128).

Por isso, chamamos a atenção para o caráter mecanicista da

Natureza tanto em Bacon como de K

tativa de lhe impor sentidos. Assim, ressalta-se o caráter do

te transformador da Natureza, pa

segundo os seus objetivos, posição justificada principalmente pelo período histórico-

ideológico no qual estão inseridos, o Iluminismo.

processo de evolução do homem na sociedade, onde estão inseridos. Os valore

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atribuídos, independentes da sua Natureza vinculam-se também às conveniências,

ora religiosas, ora econômicas ou, dependendo das circunstâncias temporais e

espaciais, as concepções se referem a determinadas práticas da sociedade, seja

aristocrática no seu tempo e práticas de cultivo da terra ou a práticas relacionadas à

morada na cidade.

2.4 SOCIEDADE/NATUREZA HOJE

Diante disso, para nós, geógrafos preocupados com a questão

entender como o homem se apropria da Natureza e estabelece relações, a partir da

apropriação e as rel

discussão em torno d principalmente nos séculos XVIII e

importantes pilares da economia e

ambiental, tão premente no mundo contemporâneo, a forma de utilização da

Natureza tem sido uma preocupação que ainda requer muitas discussões, não só no

âmbito do conhecimento relacionado às ciências naturais e humanas. Cabe-nos

ações sociais que a permeiam. Como foi observada acima, a

esta relação tem seu apreço

XIX, segundo ideais iluministas, no qual remetemos alguns autores.

O interessante é observar que nesse momento, as concepções de

Natureza se apresentam como conseqüência da própria mudança de valores e

conceitos empregados na sociedade vigente.

Hoje, a sociedade vive sob a lógica capitalista de produção e

reprodução, tendo a ciência e a tecnologia como

da sociedade. Por isso, em meio ao grau técnico atingido, pelos aspectos científicos

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e informacionais, a Natureza passa a adquirir também um valor subjetivo, diante da

nova estrutura econômica e social global.

Assim, “os séculos XIX e XX marcam definitivamente, através da

produção, das técnicas, das indústrias e mesmo da cultura, a incorporação da

Natureza à vida social” (HENRIQUE, 2004, p.86). Dessa forma, produzem-se

bjetos, ações e desejos que passam a incluir a Natureza.

Portanto, diante de um período em que se caracteriza cada vez mais

vive um período de reaproximação de

elementos representativos de um ambiente natural. Como então compreender tal

Para Rousseau, o avanço da ciência degeneraria o homem, na

Assim, ao invés de c

Com isso, a Natureza para a sociedade ocidental representa um misto

de objetos técnicos e naturai

o

o afastamento da Natureza, a sociedade

movimento? Cabe então adiantar que quanto às ações em prol da Natureza, se deve

hoje, principalmente perante o medo da escassez dos recursos naturais, realidade

que assola a humanidade, fruto do alto grau de desenvolvimento técnico-científico e

informacional do mundo contemporâneo.

medida em que “[...] o homem mais conhece a Natureza (pela ciência) ele mais

desconhece a si mesmo, tornando-se alienado” referido por Santos (1998, p.69).

onduzi-lo a um equilíbrio perfeito, a ciência cada vez mais o

separa da Natureza.

s, que segundo Santos “[...] juntam à razão natural sua

própria razão, uma lógica instrumental que desafia as lógicas naturais, criando, nos

lugares atingidos, mistos ou híbridos conflitivos” (SANTOS, 2004, p. 237).

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Essa realidade faz com que se desenvolva toda uma rede de ações,

no sentido que a Natureza agora é apropriada e transforma de acordo com as

neces ades d

técnica como esfera dependente do sistema econômico e da

p. 18), chama a atenção

para o ato de

e pelo seu uso “é tão social como o

trabalh o capita

sociedade atual não percebe as influências sociais, políticas e

econô cas qu

de lagos

artificiais e a apropriação de resquícios de mata se apresentam como valores

sid a sociedade e que para Andrade (1997, p.19),

Tal condição corresponde à perspectiva corrente de estabelecer a

produção material, atuando impositivamente sobre os fenômenos naturais.

Quanto à Natureza recriada, Santos (2000,

f que “a Natureza, hoje, é um valor, ela não é natural no processo

histórico. Ela pode ser natural na sua existência isolada, mas no processo histórico,

ela é social” .O que temos, portanto, é uma valorização em função de uma história e

a importância hoje apontada, segue valores estabelecidos pela sociedade.

Ainda Santos (2000, p. 18), ressalta que, em meio ao processo de

globalização da economia, temos o surgimento de uma Natureza globalizada, e essa

Natureza globalizada pelo conhecimento

o, l, a política” .

Com isso, a relação que a sociedade possui hoje com a Natureza se

constitui como apontado por Lenoble (1969) apud Henrique (2004, p.91), como uma

“coisa-imagem”, que para nós, representa muito mais imagem do que coisa. Dentro

dessa perspectiva, a

mi e permeiam a idéia de Natureza, como pode ser compreendido em

muitas circunstancias, como, por exemplo, na cidade de Londrina, uma capital

regional com cerca de 500.000 habitantes com grande expansão de loteamentos

fechados, que são ofertados como condomínios, onde a construção

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agregados aos

esenvolvem-se novas

necessidades, fatore

res de uso, acarretará exploração sistêmica da Natureza ara descobrir novas propriedades úteis nas coisas, enfim, a

novos, quanto novas propriedades úteis dos velhos [...] (QUAINI,

mem, ou seja, agora como um símbolo, uma imagem

lotes, objeto do presente estudo, dentro de um contexto espacial e

temporal.

Na verdade, com a ampliação do consumo, d

s que conduzem à:

[...] produção de necessidades novas e a descoberta e a criação de novos valopexploração completa da terra para descobrir tantos objetos úteis

1979 apud PONTES, 1999, p.39).

O fato é que hoje, a Natureza é recriada, ou mesmo apropriada de

acordo com a lógica consumista da sociedade capitalista, cujo objetivo está pautado

na produção de mercadorias, de novos valores e estilos de vida.

Aliás, isso demonstra bem qual a concepção de Natureza promovida

hoje, podendo ser compreendida como muito mais que um simples recurso, hoje

capitalizada, a Natureza tem seus consumidores, seus clientes, aqueles que a

percorrem, compram e a conso

de poder, de qualidade de vida. Ressalta-se, portanto, o caráter simbólico atribuído

ao “verde” nesse processo, pois, com a ajuda da publicidade, esses

empreendimentos exercem aquilo que Bourdieu (1989) classificou de “Poder

simbólico”.

Com isso, o movimento em prol da revalorização da Natureza tem seu

rebatimento na constituição de uma ideologia do “verde”, na medida em que se

desenvolve na sociedade a partir dessa concepção, “movimentos ambientalistas ou

esteticistas”, já que, na verdade, suas ações buscam conservação da Natureza

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38

pensando no seu valor estético, voltado, portanto à valorização econômica e

subjetiva, como é o caso da conservação de parques, reservas e outros.

ente o que seria e em que se transformou a

relação Homem/ Nat

. Agora, porém, há uma enorme udança [...] mas socialmente fragmentada, durante tantos séculos,

Estados e classes hegemônicas. Mas não é mais a Natureza Amiga,

eza passa pelo

entendimento do momento histór

Para finalizar esta pequena discussão, vale lembrar algumas palavras

de Milton Santos que expressam claram

ureza.

Sem o Homem, isto é, antes da história, a Natureza era uma. Continua a sê-lo, em si mesma, apesar das partições que o uso do planeta pelos homens lhe infligiuma Natureza é agora unificada pela história, em benefício de firmas,

e o Homem também não é mais seu amigo (SANTOS, 1996, p. 19).

Portanto, a compreensão da relação sociedade/Natur

ico no qual estamos inseridos, assim, diante do

nível técnico-científico de desenvolvimento, a questão ambiental surge como o novo

desafio da sociedade capitalista, movimento que conduz ao estabelecimento da

Natureza como uma mercadoria consumível, agora mais do que nunca entendida

também como um símbolo, como veremos nos próximos capítulos.

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CAPÍTULO 3 - O RISCO DA ESCASSEZ E A REDESCOBERTA DA NATUREZA: DOS LIMITES DO CRESCIMENTO À NATUREZA IDEOLOGIZADA

magnitude? Não temos a menor idéia. Algumas pessoas reditam que o homem já degradou a tal ponto o meio

ambiente, que um dano irreversível já foi causado aos grandes sistemas naturais. Não sabemos o limite máximo preciso da

jeto de estudo os

loteamentos horizontais fechados, que passam a ser denominados de “condomínios

horizontais fechados”, denominação dada nos folders para efeito de comercialização,

cujo principal produto é a Natureza maquiada ou artificializada, a partir da

reprodução de ambientes bucólicos.

Para tanto, buscaremos levantar em qual momento dentro da relação

entre Natureza e Sociedade, a degradação do ambiente passa a preocupar a

sociedade e, assim, o seu rebatimento espacial, dado com a criação de novas

necessidades e estilos.

Poderão os sistemas naturais da terra suportar uma intrusão de tal ac

capacidade do globo de absorver a combinação de todos os outros tipos. No entanto, sabemos que há um limite máximo; ele já foi ultrapassado em muitos meios ambientes locais. O caminho mais seguro para atingir, globalmente, este limite máximo, é aumentar exponencialmente, tanto a população quanto as atividades poluidoras de cada pessoa (MEADOWS, 1978, p. 82).

Nossa discussão tem como objetivo demonstrar como a Natureza

passa a preocupar a sociedade a partir da idéia do risco da escassez dos recursos

naturais, remetendo assim a um movimento de redescoberta da Natureza, cuja

materialização é dada com a apropriação e recriação de ambientes naturais,

estabelecidas na sociedade atual.

Aqui, discutiremos esse processo tomando como ob

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Como foi expressado por Carlos (1994, p.256), a relação

[...] o homem não pode criar sem a Natureza, sem o mundo exterior; ela é a matéria-prima a partir da qual se realiza o trabalho, através da qual o homem atua e por meio da qual se produz como home

Dessa for

ambiente enquanto produ

conjunto de relações soc

recriação e re-funcionaliza

os processos estabelecid

umanos.

posições de controle e ampliada para a escala global , p.115).

Natureza, o que lhe podia ser útil para a renovação de sua vida: e vegetais, pedras, árvores, florestas, rios, feições

geológicas (SANTOS, 1996, p. 16).

Para não ir muito longe, vale lembrar que, até há algumas décadas,

não havia qualquer preocupação ambiental, aliás, as questões ambientais, como

relatado por Arlete Moysés Rodrigues, elas se resumiam basicamente a eventos

Homem/Natureza, se dá de forma dialética e não oposta, sendo assim,

m.

ma, conforme a autora assinala pensar a questão do

to da construção social, ou seja, o ambiente como um

iais, econômicas, políticas e culturais que influenciam na

ção da Natureza e do ambiente, ajuda-nos a compreender

os, cujo produto é resultado da apropriação de espaços

h

Quanto à produção social do espaço e as relações sociais

compreendidas, nas concepções de Soja,

[...] são produzidas numa espacialidade concretizada e criada, que tem sido progressivamente ‘ocupada’ por um capitalismo que avança, fragmentada em pedaços, homogeneizada em mercadorias distintas, organizadas em[...] (SOJA, 1993

É assim que a relação entre Natureza e o ambiente se apresentam,

e, de maneira estratégica, são apropriados e reproduzidos. Porém, houve na história

um momento em que as relações entre Homem/Natureza se davam de outro modo:

Ontem, o homem escolhia em torno, naquele seu quinhão de

espécies animais

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41

naturais. A Nat

ção da vida

(ELIADE, 1979 apud

O ho era

necessário à vid

hoje, pois, concebe-se o homem como parte integrante da Natureza.

, mas o surgimento da propriedade privada e da economia monetária, o que conduziu os cristãos a explorar o

Milton Santos assinala que a relação homem/Natureza se altera na

medida em que “[...] o homem se descobre como indivíduo e inicia a mecanização do

planeta, armando-se de novos instrumentos para tentar dominá-lo”, mundializando a

sua dimensão. (SANTOS, 1996, p.17 e 18).

A pri

período de 1880-191 Industrial, já que os efeitos da

urbanização e i

ureza era tida como “mágica”, independente da ação humana, mas

interferindo mesmo no nível simbólico e no nível real de organiza

RODRIGUES, 1994).

mem voltava-se à Natureza em busca só daquilo que lhe

a, isto é, dentro das suas necessidades. As relações entre homem e

Natureza aconteciam de forma harmônica, sendo assim, pouco se alterava na

Natureza dentro dessa lógica de uso. Porém, de acordo com preceitos teológicos,

“todas as criaturas foram feitas para o homem, sujeitas a seu governo e destinadas a

seu uso” (THOMAS, 1989, p. 23). Essa concepção, que tem referência bíblica, não é

mais aceita

Contudo:

[...] não foi sua religião

mundo natural de uma forma que os judeus nunca fizeram; foi aquilo que ele chamou “a grande influencia civilizadora do capital” que, finalmente, pôs fim à “deificação da Natureza” (MARX apud THOMAS, 1989, p. 29).

meira grande onda ambiental na Europa Ocidental ocorreu no

0, fruto dos efeitos da Revolução

ndustrialização vinham transformando a paisagem, com a destruição

de áreas naturais e a poluição do meio ambiente (DALTON, 1994 apud TAVOLARO,

2001).

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No entanto, só a partir do início do século XX, a preocupação em

torno da questão ambiental toma lugar nas discussões globais. Importante é pensar

que, sendo a Natureza um recurso, há preocupações com o esgotamento de

reservas natura

de

combustíveis fósseis, elevou os índices de poluição, não esquecendo da destruição

das florestas, que tro

de ozônio e os gase

que estes problemas

s inteiras do globo, tais como a diminuição umento da temperatura global, a diminuição

da disponibilidade de recursos naturais, etc., os assuntos ambientais

is e, conseqüentemente, o futuro das gerações futuras, ou seja, aqui,

os acontecimentos se mostram de forma acelerada em várias frentes, como a

econômica, ecológica e política, o que força mudanças nas relações entre pessoas,

nações e governos (MACNEILL, 1991).

Mas, de acordo com Rodrigues (1994), é somente a partir da década

de 1960 que se evidenciam danos em grandes extensões. O desenvolvimento de

novas tecnologias e o conseqüente aumento da produção industrial, o aumento

uxe com mais veemência a preocupação com relação à camada

s tóxicos que a destroem. Assim, observa-se a dimensão global

alcançaram, não se restringindo mais somente à escala local.

Até a década de 1970, esses problemas eram tratados de maneira

despreocupante e até marginal, mas,

[...] com a emergência de problemas ambientais que atravessaram visivelmente as fronteiras nacionais e que, portanto, convertiam-se em ameaças para regiõeda camada de ozônio, o a

começam a colonizar a escala global (VARGAS, 2005, p.8).

Nesse sentido, um estudo inédito realizado por pesquisadores de

todo o mundo e coordenados por Dennis Meadows (1978), teve como objetivo

justamente demonstrar o “dilema da humanidade”, com o relatório e livro intitulado de

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“Limites do cr

onclusão parece “terrorista”, mas, indicava o

grau de degrada

d

PINHEIRO, 200

nível de crescimento e utilização de matérias

prima, Meadows (197

umo de cursos naturais e o aumento projetado nestas taxas, a grande

extremamente dispendiosa daqui a 100 anos.

Toda preocupação favoreceu o surgimento de organizações não

governamentais e comunitárias a se unirem na defesa da problemática ambiental,

escimento”, baseado nas conseqüências do crescimento e do

progresso para a sociedade mundial.

Apesar do relatório, segundo alguns autores como Pepper (1996),

seguir uma tendência neomalthusiana, o estudo chegou a conclusão de que, se a

tendência de crescimento mundial da população, da industrialização, dos níveis de

poluição e da diminuição de recursos se mantivesse, os limites dos recursos seriam

facilmente alcançados em cem anos. A c

ção e de impacto do crescimento global.

Para ilustrar melhor esse fato, de acordo com Meadows (1978), a

taxa de crescimento econômico mundial de 1961/68 foi de 2.38%, vale lembrar que

até então quem mais se destacava eram os EUA, o Japão, a antiga URSS, a China

contavam com uma taxa de crescimento ínfima de 0.3%, enquanto que hoje a

estimativa para o seu crescimento em 2006 é de 8.2%, somando um total de 4.3%

para o mundo todo (WORLD ECONOMIC OUTLOOK DO FMI, 2006 apu

6).

Assim, em relação ao

8, p. 61), apontava que:

A crosta terrestre contém vastas quantidades das matérias primas que o homem aprendeu a extrair e a transformar em objetos. Contudo, por mais vastas que sejam essas quantidades, elas não são infinitas (...) Considerando-se as taxas atuais de consremaioria das reservas não-renováveis, atualmente importantes, será

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assim também, surgem grupos de pesquisas e até um mercado consumidor verde, a

partir da demanda por produtos de agricultura orgânica, como colocado por Viola

(1991). Com is

ção ou parada imediata do

crescimento ec

pulação estável (VIOLA 1991).

desenvolvimento, fat

A dé

integrando um nov

sustentabilidade social e ambient o aprimoramento da

agenda ambiental, foi a criação da Comiss

so, pudemos observar o surgimento de movimentos ambientalistas,

cuja origem está atrelada aos movimentos populares.

Até que em 1972, em Estocolmo é lançado um programa das Nações

Unidas para o meio ambiente. Nesse momento, o mundo se depara com uma grande

contradição, estabelecida entre crescimento econômico e o meio ambiente. Surgem

então, posturas radicais que pregavam a idéia da estagna

onômico e populacional, em resposta à busca por preservar o

ambiente.

No entanto, como expressado no documento de Estocolmo 1972,

pensava-se na necessidade de estabelecer imediatamente mecanismos de proteção

ambiental, que agissem corretivamente sobre os problemas causados pelo

desenvolvimento econômico e reverter à dinâmica demográfica, buscando atingir em

médio prazo uma po

Ou seja, o Homem é que deveria se moldar às condições naturais,

procurando por um equilíbrio social e natural, um retrocesso à idéia de

o que mais adiante tomaria outra face.

cada de 1980 tem como suporte a idéia de sustentabilidade,

o modelo de desenvolvimento atrelado ao princípio da

al. Mas, o grande passo para

ão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, estabelecida pela Assembléia geral das Nações Unidas em 1983.

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45

O objetivo principal dessa comissão era a consolidação do conceito de

“desenvolvimento sustentável”, que se tornaria pedra de toque do discurso

ambientalista, segundo a Executive Intelligence Review (2001).

Fato que conduziu o empresariado a ações mais estratégicas em

busca de um no

em significativo crescimento, do empresariado começou a orientar

Apesar disso, segundo a Executive Intelligence Review, esse

conceito não constitui nov

o embutida no discurso do

empresariado. Quanto à idéia de desenv

essos de trabalho,

dos produtos e do consumo, conforme colocado por Harvey (1992).

vo mercado, preocupado com a problemática ambiental. Assim,

Ainda na segunda metade da década de 80 um setor reduzido, mas

suas decisões de investimento e a gestão dos processos produtivos segundo o critério da proteção ambiental. Este setor pretende compatibilizar o lucro individual com o interesse social de longo prazo percebendo que existe uma verdadeira janela de oportunidades empresariais vinculadas à proteção ambiental (VIOLA 1991, p. 12).

idade, “[...], pois representa tão somente uma retomada,

sob nova roupagem, do conceito de ”crescimento limitado” defendido anteriormente

pelo clube de Roma” (2001, p.63).

Dessa forma, paralelamente ao princípio da sustentabilidade, surge

de forma sugestiva a idéia de desenvolviment

olvimento, logo é remetida à noção de

progresso material, já que vivemos sob a hegemonia do pensamento neoliberal, cuja

acumulação flexível do capital apóia-se na flexibilidade dos proc

Há então, um contraste entre as necessidades de desenvolvimento

do mundo e as evidencias dos limites ambientais da Terra, apresentando um

paradoxo evidente e que impulsiona ainda mais o debate acerca da sustentabilidade

posta em questão.

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Porém, quanto à efetivação e estabelecimento da questão da

sustentabilidade, MACNEILL (1991, p.32), não se mostra muito otimista, pois

segundo ele,

[...] a questão da sustentabilidade tornou-se prioritária e central por são

s,

Já S a

enquanto uma “crise da racionalidade c

consolidou um pressuposto subjacente de ruptura

marco do ambientalismo no Brasil (SOUZA, 2005, p.8).

A década de 1990 é a tomada pelas discussões da década anterior,

mostrando-se enquanto um período de inflexão, na definição da problemática

ambiental no Brasil, cujo principal vetor consiste na necessidade de se pensar as

relações entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental.

Isso se torna mais forte a partir UNCED 92 (Conferencia das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento), a Rio 92, realizada no Brasil,

que influenciou muito na conscientização e na propagação de debates sobre a

problemática ambiental mundial e brasileira.

força da aceleração dos acontecimentos. As respostas a ela nãoevidentes. O horizonte pode refulgir com oportunidades tecnológicamas os obstáculos a sustentabilidade não são principalmente técnicos: são sociais, institucionais e políticos. Dadas as coações para baldar quaisquer esforços de mudança social, institucional e política, ninguém pode excluir um futuro de progressivo colapso ecológico.

uza (2005), ao levantar o termo sustentabilidade o classifico

ientificista, erigida no bojo da modernidade”,

que tem acirrado contradições entre concepções de visões de Natureza.

Lembra ainda que,

Tal acirramentoentre sociedade e Natureza, base das argumentações e dos discursos dos ambientalistas nas mais variadas vertentes ideológicas e origem das matrizes discursivas das quais emanam as principais orientações teóricas acerca da incorporação da sustentabilidade no

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47

Diante da globalidade do problema, espera-se que as soluções

m venham na mesma escala. Para isso, implementa-se políticas globais que també

visam atacar problemas mais relevantes a humanidade. Contudo, a idéia de

globalidade,

Desse modo, a ênfase ao globalismo acarreta o “empobrecimento

conceitual” seg

mológicos e

geopolíticos, na ilizam alguns e camuflam outros, podendo então

classificá-lo como um

Diant

aço, onde o eário do desenvolvimento é predominante, o conceito de

equivocadas, alardeadas es

[...] tem o efeito de colocar o nacional, o regional e o local num status subordinado, já que o global se associa ao universal e, qualquer reivindicação feita nesta escala, parece estar revestida de mais legitimidade, por se achar que transcende qualquer particularismo (VARGAS, 2005, p. 10).

undo a autora, pois, poderia representar a retirada das condições

espaciais dos fenômenos, o que remeteria a uma suposta omissão na

territorialização do ambiente, podendo pensá-lo como dispositivos episte

medida em que viab

dispositivo geopolítico.

e disso, Rodrigues (1994, p.55) faz o seguinte alerta:

No atual momento histórico em que a crise ambiental põe em destaque as contradições da produção social do espiddesenvolvimento sustentável parece jogar uma cortina de fumaça sobre as contradições .

Vale ressaltar que a dimensão dos problemas ambientais é

contestada por alguns autores, como Bjorn Lomborg (2002, p.15), que em seu livro O

ambientalista cético, trata-os enquanto mitos criados a partir de “[...] alegações

palhafatosamente, repetidas vezes, sem qualquer

referência-alegações nas quais as pessoas acreditam”.

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48

O autor alega a falta de documentos e métodos científicos que

provem efetivamente tal situação de colapso da questão ambiental no planeta, para

ele, tudo não passa de uma ladainha incansavelmente repetida. O fato é que, tais

afirmações de colapso global têm influenciado no desenvolvimento de novos estilos

de vida, na criação d

um aliado na promoç

Podemos então, pensar no caráter contraditório que o movimento

ambientalista te

3.1 MOVIMENTO AMBIENTALISTA E A CO“VERDE”

Para

ontribuição ao estab ologia do “verde”, procuraremos também

demonstrar de q

e novos produtos, que tem nos movimentos ambientalistas mais

ão daquilo que podemos chamar de “produtos verdes”.

m conduzido suas ações, pois, na medida em que a discussão sobre

a problemática ambiental passa a fazer parte da sociedade atual, suas ações em prol

da Natureza acabam se transformando em uma grande estratégia de marketing,

como veremos a seguir.

NSTITUIÇÃO DE UMA IDEOLOGIA DO

analisar o surgimento de movimentos ambientalistas e a sua

elecimento de uma idec

ue maneira as transformações culturais ocorridas no século XX, fruto

das mudanças técnico-científicas, no qual a sociedade está imersa influenciaram no

estabelecimento de organizações preocupadas com a Natureza, fato que tem

conduzido e reafirmado o movimento de redescoberta da Natureza na sociedade

atual.

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Como colocado acima, é com a emergência de situações de risco e

escassez na sociedade moderna que surgem grupos preocupados com as

conseqüências do avanço técnico-científico, isto é, com o aumento da mecanização,

do uso de agrotóxicos, destruição das florestas, etc...

Cabe nos então, a tentativa de analisar essas instituições, a fim de

demonstrar o seu caráter ideológico, no qual estão envoltos, revelando a cada dia

novos sentidos,

s), que se resumia na criação de uma estrutura de governo

mundial, cujo objetivo era o controle sob armas nucleares e que posteriormente

chegou a setores do meio ambiente e questões como a promoção da democracia,

dentre outros.

m a Executive Intelligence Review (2001), está

também relacio

ambientalista de massa foi parte fundamental da introdução generalizada do irracionalismo como forma de controle social, que mudou radicalmente a maneira como os estratos educados da sociedade percebem a causalidade dos processos de reprodução e desenvolvimento da sociedade e da economia, ou seja, o próprio

novos significados.

Quanto à criação do movimento ambientalista, de acordo com a

Executive Intelligence Review (2001, p.29), teve grande importância para a

configuração de uma “mudança de paradigma cultural” alavancada pelas “oligarquias

mundiais” (países centrai

corrupção,

Ainda de acordo co

nada a esse processo uma reforma do sistema educacional, pautada

na simples formação de “profissionais”, a disseminação do culto antiautoritário, que

ia contra as instituições da sociedade (igreja, família, forças armadas), chegando até

a reorientação da economia, cuja tendência é a especulação financeira como base

dos lucros. Assim,

[...] o impulso dado pela oligarquia à criação do movimento

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50

processo civilizatório (EXECUTIVE INTELLIGENCE REVIEW

2001, p.50).

Tavolaro (2001) apresenta o movimento de redescoberta da

Natureza como conseqüência sim do risco e escassez, mas também como fruto da

mudança cultural ocorrida no seio da sociedade capitalista, fruto da modernidade

avançada.

Para o autor, as transformações econômicas, o avanço técnico-

científico, levou a mudanças de paradigmas, principalmente devido ao grau de

desintegração social da sociedade contemporânea, com destaque para a

monetarização do mundo da vida, como também a burocratização do mundo da vida.

(HABERMAS, 1990 apud TAVOLARO, 2001, p.138/39).

Sendo assim, antes do movimento ambientalista influenciar tais

mudanças, eles se apresentam enquanto fruto de um movimento enraizado pelas

mudanças de paradigma ocasionadas pela sociedade moderna, capitalizada.

O importante é observar a ligação dada entre o movimento

ambientalista e o movimento de mudança de paradigma cultural, eles na verdade

tem o mesmo objetivo, que é o de articular a sociedade, mover grandes massas em

favor de uma causa, a ambiental, política, cultural e econômica. Mas, essa relação se

torna indissociável, justamente porque ambas fazem parte de um “projeto de

engenharia social”.

Como “engenharia social”, compreende-se “[...] a técnica de

moldagem das cren

facilitar o controle

(EXECUTIVE INTELL

ças e padrões de comportamento de um grupo social, para

pelos grupos detentores do poder político e econômico”

IGENCE REVIEW, 2001, p.36).

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51

Dess

efetivação da ”mudança de paradigma cultural”, no qual, o movimento ambientalista

também esteve alicerçado. Então, aos movimentos com o elo sociedade/ Natureza,

uma série de causas foram incorporadas ao ideal de Natureza, tecendo um cenário

amplo de reivindicações, como forma de se manifestar a favor das suas diferentes

tribos, como é o caso do feminismo. A partir disso,

[...] por diversas formas, desde táticas de guerrilha até o

ecologistas radicais estabelecem um elo de ligação entre ação

o discurso ambiental, tais

movimentos ca

estões

societárias. Co

o ponto interessante que reforça o caráter ideológico da questão

ambiental é ap

conflitos por recursos naturais,

a forma, os tais “engenheiros sociais” abriram caminho para a

espiritualismo, passando pela ecologia profunda e o ecofeminismo, os

ambiental e revolução cultural, ampliando ainda mais o escopo de um movimento ambientalista abrangente e visando à construção da ecotopia (CASTELLS, 2000, p.149).

Portanto, observamos que, em meio a

rregam uma carga de interesses políticos econômicos ligados

mundialmente por instituições governamentais ou não governamentais, que

promovem ações na tentativa de englobar as causas ambientais a qu

m isso, os movimentos ambientalistas se apresentaram como um

campo fértil para o desenvolvimento de técnicas de “engenharia social”, na medida

em que enfatizam ameaças, exageram nos números e promovem um alarmante

estado da Natureza, indiretamente estabelecendo uma ideologia do “verde” a

sociedade atual.

Outr

ontado pela Executive Intelligence Review (2001), e diz respeito à

relação entre a “nova ordem mundial” e a criação de uma agenda ambiental, no

sentido de que diante da lógica de produção estabelecida na sociedade globalizada,

há o interesse de instrumentalizar a OTAN para travar

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52

é claro que s

uição de novos estilos de vida, já

que a sociedade ac

agora quase “escass

e novas formas de se

rma de manipulação de argumentos ambientais como forma de

inviabilizar o de

ob a égide do discurso ambiental. Nessa perspectiva, estamos

acompanhando “[...] desde o início da década de 90 um”esverdeamento” das forças

armadas e dos serviços de inteligência do eixo anglo-americano” (EXECUTIVE

INTELLIGENCE REVIEW, 2001, p.72).

Tais reflexos podem ser notados atualmente com o movimento de

volta a Natureza, e a sua materialização na constit

aba recriando um ambiente representativo daquela Natureza

a”. Daí, a criação de parques, reservas florestais, lagos artificiais

morar cujo apelo ao verde é o carro chefe de suas vendas.

Para Brandão e Borges (2004), os movimentos ambientalistas e/ou

ecológicos se apresentam no campo das neo-instituições de ação social, estando,

portanto, entre os novos movimentos sociais.

Assim, o ambientalismo se apresenta como uma arma política

eficiente, cuja finalidade, ainda segundo a Executive Intelligence Review (2001), é a

de disseminar o irracionalismo e o pessimismo principalmente em relação ao meio

ambiente; legitimar o estabelecimento de estruturas legislativas, no caso do

Protocolo de Kioto, representando um obstáculo ao desenvolvimento econômico

global; e uma fo

senvolvimento de alguns países.

Esse conceito, já à primeira vista, apresenta o que representam os

movimentos ambientalistas hoje no mundo, um misto de cientistas, grupos de

militantes, pessoas que se identificam pela causa ambiental. Essas pessoas, por

meio de símbolos, imagens e idéias de Natureza, conduzem ao desenvolvimento de

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53

um novo modo de vida, àquele ligado à idéia de proximidade da Natureza que

automaticamente é valorizada, sendo entendida como mais um objeto de consumo.

Vale lembrar então o contexto histórico, no qual estão inseridos os

novos movimentos sociais:

[...] De um tempo ao outro demos não um salto, mas um quase vôo

“meio de produção” e a criar instrumentos mecânicos e sistemas de organização em vários planos. E as sociedades em que surgem os “novos movimentos” instauraram tecnologias de produção de bens simbólicos, de linguagens e de meta-linguagens, de informações e de sistemas cada vez mais complexos de comunicações (intra e inter, meta e trans). Elas aprenderam a criar e a produzir não somente os “meios”, mas também os “fins” da produção. Assim também os das demandas e das representações (BRANDÃO e BORGES, 2004, p

de qualidade. As sociedades industriais capacitaram-se a transformar

. 8).

ambientalistas, que segundo os

autores, prezar

Ou seja, hoje o surgimento dos movimentos sociais tem no seu

contexto histórico vivido pela sociedade a justificativa para o estabelecimento de

novos estilos de vida, novos valores.

Podemos dizer que este discurso ambientalista tem sua

compreensão estabelecida na problemática do meio ambiente pós II Guerra Mundial.

Segundo Tassara (1992, p.12), “os discursos políticos pós II Guerra Mundial

consolidaram e sustentaram a difusão hegemônica da ideologia do ambientalismo,

tendo como substrato a ideologia da conservação da Natureza”.

Nesse sentido, Brandão e Borges (2004, p.18), apontam para uma

das principais características dos movimentos

ia menos por “[...] uma mudança política das grandes estruturas

sociais, e mais por uma transformação de mentes e corações com uma

transformação de” mentes e corações” voltados a uma nova “lógica de Natureza”.

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54

Essas colocações sugerem uma compreensão da vida e do ambiente

de forma integrada, tanto na acepção de que a Natureza, o homem e a sociedade,

devem ser com

o também entender o sistema Natureza, ou a lógica da

Natureza como a lóg

A pa

impregnados os mov

restringem na maior

mudança na esfera

atinge efetivame

de problema “teórico-conceitual”, que tem sua

origem nas dife

uanto ao movimento

ambientalista qu

preendidos como partes de um grande sistema, sem fragmentação,

de qualquer natureza, com

ica da vida do homem neste planeta.

rtir disso, fica evidente o caráter ideológico no qual estão

imentos ambientalistas, pois, na medida em que suas ações se

ia das vezes em valores subjetivos, não se efetua nenhuma

da legislação com relação ao meio ambiente, ou seja, não se

nte o objetivo alçado, que é o compromisso com a Natureza.

Na verdade, os movimentos ambientalistas hoje, como afirma Souza

(2005), se encontram diante de uma

rentes concepções de Natureza adotadas por diferentes movimentos,

esse fato reforça ainda mais o caráter ideológico ao ambientalismo.

Castells (2000, p.143) considera o movimento ambientalista devido a

sua diversidade, como “[...] um movimento social descentralizado, multiforme,

orientado à formação de redes e de alto grau de penetração”. Q

e surgiu nos EUA na década de 1960, ele teve como pressuposto o

ideal preservacionista, cujo objetivo era preservar áreas de Natureza selvagem, para

isso, contavam com um grande apoio popular, servindo segundo o autor, de fonte de

inspiração para movimentos de contraculturas dos anos 1960 e 1970, como vimos

acima.

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55

Dentre algumas concepções de Natureza, temos a visão Ecocêntrica/

holística, ligadas a uma dimensão espiritual, de vinculação pessoal relacionado à

vivência, sendo defendida pelos ambientalistas segundo uma perspectiva holística.

Outra concepção é a Biocêntrica, inserindo-se aqui os preservacionistas, e a corrente

conhecida como Ecologia profunda, que tem como objetivo como o próprio nome diz

ações mais rí

05).

incipalmente aos

relatórios e estu

r ações em prol de uma efetiva intervenção societária, já que passam a ser

alvo de disputas políticas e econômicas pelas diferentes correntes.

gidas em relação à Natureza, preservar é o objetivo, já o

Antropocentrismo, que representa o auge da evolução da sociedade, tendo o

controle e experimentação dos fenômenos naturais e sócias, exaltasse o progresso,

mesmo que isso represente a degradação da Natureza (PELIZZOLI, 1999;

PASSMORE, 1980; NORTON, 1991; GOODPASTER, 1978 apud COLTRO, 20

Temos ainda a visão tecnocêntrica que segundo Pepper (1996,

p.60), aceita os problemas ambientais, mas acredita que por meio de ações de

gestão econômica e ambiental podem ser solucionadas. Em meio ao nível de

desenvolvimento industrial pelo qual o mundo está subjugado, e pr

dos que já demonstravam as limitações planetárias e a necessidade

de um crescimento zero (MEADOWS, 1978). Surge então o termo

ecodesenvolvimento, que tem como ideal, o desenvolvimento centrado na busca do

equilíbrio no uso dos recursos naturais, visando às futuras gerações, englobando

tanto a preservação quanto a conservação.

A questão é que diante de tantas visões distintas, tem-se no

problema conceitual, a confirmação do caráter ideológico do movimento, pois tende a

dificulta

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56

Vale lembrar que a preocupação com a qualidade ambiental e a

perspectiva de uma vida ecológica como visto no capitulo 2 são ideais do século

XVIII e XIX, e a princípio se restringiam às elites no caso da Inglaterra. No entanto,

foi somente na década de 1960, que surge nos EUA, Alemanha e Europa Ocidental,

um movimento ambientalista ligado a classe popular, embasada principalmente na

opinião pública.

Mas o que fez com que essa ideologia tomasse tal dimensão?

Sabemos nós que na Inglaterra, o movimento de valorização de ambientes naturais

teve origem nas conseqüências postas pela industrialização e urbanização naquele

momento, que transformaram as cidades em um ambiente caótico, tornando-se

imprescindíveis

gia como os principais meios e fins da economia e da sociedade; e a dominação da identidade cultural por

a existência de amenidades representadas pelas áreas verdes para

a sobrevivência das pessoas nas cidades industriais.

Hoje, não muito longe desse propósito, mais com um outro contexto,

a nova conjuntura econômica e social, tem conduzido a sociedade a uma relação

caótica com o meio ambiente. Essa nova conjuntura social e econômica tem

proporcionado condições para o desenvolvimento da ideologia ambientalista, pois

como afirma Castells (2000, p.154), fazemos parte de uma sociedade em rede que

tem,

[...] a ciência e tecnolo

fluxos globais abstratos de riqueza, poder e informações construindo virtualidades reais pela rede da mídia.

Para a Executive Intelligence Review (2001), foi a combinação das

fundações oligárquicas, com a ampla massa de manobra proporcionada pelas

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57

massas desorie

lismo multifacetado, é o antídoto à cultura da virtualidade real que

caracteriza os

3.2 O AMBIENTALISMO NO BRASIL

apud Souza (2005).

Mas,

da década de 70 que partindo de ações locais de

conscientização

desenvolvidas por todo o país.

ntadas pela contracultura e pelos programas de “engenharia social”,

que deram uma base sólida de apoio para a ascensão do movimento ambientalista.

Desse modo, o movimento ambientalista tem na mídia um aliado

importantíssimo no estabelecimento de novos estilos de vida e de uma ideologia do

“verde” na sociedade contemporânea, pois “[...] a cultura verde, na forma proposta

por um ambienta

processos dominantes de nossas sociedades (CASTELLS, 2000,

p.160)”.

Como foi visto neste item, a questão é complexa e exige estudos

aprofundados, mas sentimos uma presença muito forte das questões ideológicas que

movem e alimentam todo o processo social e político das questões ambientais e os

ambientalistas.

No Brasil, as influências ao início das lutas ambientalistas de cunho

conservacionistas foram os movimentos de contracultura dos anos 60 ocorridos na

Europa e nos EUA, como apontado por Waldman (1992)

como apontado por Viola (1992), é apenas na primeira metade

emerge o ambientalismo brasileiro,

pública. Sendo assim, é apenas a partir do final da década 70 que o

movimento ambientalista no Brasil adquire força nacional, com ações e campanhas

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Como demonstrativo daquilo que representava o movimento

ambientalista no Brasil neste período, Souza (2005), lembra da primeira telenovela,

cujo foco eram

des, cujo marco principal foi a construção do jardim Botânico do Rio e

Janeiro. Já pa

Surgem assim no país, movimentos ambientalistas ligados a

uestões sociais, sendo denominados de ecologismo social, que se caracterizavam

pela incorporação de seringueiros, povos atingidos por barragens, por movimentos

indígenas, propondo a participação das comunidades no planejamento e na gestão

das unidades de conservação (BREDARIOL e VIEIRA, 1991

problemática do saneamento básico, sendo que todos esses fatores se encontram na

as preocupações ambientalistas, intitulada de “O Grito” em 1982.

Segundo ela, essa novela representa o nível de disseminação das idéias

ambientalistas no Brasil naquele momento.

Quanto a influência das diferentes visões de Natureza, elas puderam

ser apreciadas como aponta a autora, a partir do estabelecimento de áreas verdes

nas cida

ra Viola e Nickel (1995) apud Tavolaro (2001), o movimento

ambientalista sofreu uma mudança significante entre 1971 e 1986, pois passou a

vincular os esforços à crise ambiental as crises sociais.

q

apud SOUZA, 2005).

Quanto à problemática ambiental brasileira ressalta-se a exploração

das florestas, a expansão irracional da agricultura, o uso excessivo de agrotóxicos, a

base do movimento ambientalista brasileiro.

No entanto, foi com a realização da Eco 92, no Rio de Janeiro, que

foi realmente efetivado o desenvolvimento de ações em prol da redução dos níveis

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59

de consumo, a

o. Dessa forma, é englobada a escala

produtiva os ide

cias do mercado.

e

problemática am

do caráter difuso de compreensão da referencia de realidade das

ção.

imagens, de símbolos, que tendem a condicionar pessoas e produtos. Sendo assim:

doção de novos estilos de vida menos degradantes, além de ser

nesse momento incorporado o princípio da sustentabilidade.

Diante do ideal de sustentabilidade em meio a proposta de um

consumo sustentável, surgem então ações advindas do empresariado, preocupado

em alcançar esse novo mercado em criaçã

ais de respeito à Natureza, conferindo certificados ambientais para

os produtos, servindo de alavanca para os produtos denominados “verdes”.

Fica assim, clara a influência da visão antropocêntrica no âmbito do

ambientalismo social, como também, o papel que os ideais ambientalistas tiveram na

configuração de produtos, de empresas preocupadas com o novo mercado verde,

que para isso se readequaram segundo as novas exigên

Evidente também é o papel dos movimentos ambientalistas no

desenvolvimento de uma ideologia do “verde”, assentada em valores subjetivos, que

impulsionam agora a sociedade, o empresariado, a cada vez mais ter na idéia de

produto sustentável a afirmação de uma preocupação ambiental.

Há, portanto, paralelamente, a construção de uma imagem d

biental mundializada, que de acordo com Tassara (1992, p. 12),

[...] fundamenta-se em conflitos racionais não identificados originados

teorias científicas da Natureza, mas propaga-se mobilizando-se sobre provocações de cunho ético e humanístico- sobre uma crítica latente do “ocidente”como civiliza

Essa propagação da problemática ambiental tem como suporte

sistemas de comunicação visual ou o marketing, como instrumento reprodutível de

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60

A compreensão deste processo de difusão “mundializada” de um

para a produção e propagação de processmaterial e não material, vem requerer análises complexa

discurso ambientalista elaborado, que vem se mostrando instrumental os políticos de dominação

s

upado e

que busca por p

izentes,

programas de q

, em análise, os

condomínios fec

der,

no sentido de poder

compreendidos como

desenvolvidas em contexto dinâmico de determinações (TASSARA, 1992, p. 14).

Dentro dessa perspectiva, observamos hoje, a apropriação de tais

discursos ambientalistas pelas diferentes esferas da sociedade, atualmente as

empresas têm no discurso da sustentabilidade o grande impulso para a venda e

certificação de seus produtos, conseqüentemente, cria-se um mercado preoc

rodutos “sustentáveis”.

Outro ponto importante é que esse discurso também tem sido muito

explorado por governos e partidos, que tem em suas plataformas de governo, um

ideal de proteção a Natureza, para isso são realizadas legislações cond

ue visam melhorar a qualidade de vida das pessoas com a criação de

áreas verdes, parques, lagos artificiais, como é o caso de Londrina.

Propaga-se dessa forma, o discurso ambientalista como forma de

persuasão, que impõe estilos e modelos. No nosso caso

hados em Londrina que, apoiados no apelo ao “verde” tem o grande

impulsionador da atratividade para as vendas. A eles são conferidos status e po

usufruir uma paisagem bucólica, e esteticamente perfeita, sendo

sinônimos de qualidade de vida.

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61

3.3 MOVIMENTO AMDE UMA IDEOLOGIA

tecnológico, que bas

Na verdade, tais movimentos têm as suas ações totalmente voltadas

à mídia, pois buscam a mobilização pública como forma de exercer pressões sobre

as instituições e sobre a população de forma geral, já que a partir da teoria da

“engenharia social”, o objetivo principal é “[...] a neutralização da razão que orienta

BIENTALISTA E O PAPEL DA MÍDIA NA CONFIGURAÇÃO DO “VERDE”

Torna-se, portanto, imprescindível pensar a questão dos movimentos

ambientalistas e o importante papel que a mídia detém enquanto a ferramenta

fundamental para a mobilização popular, ou seja, para a configuração de uma

ideologia do “verde”.

Como já trabalhado acima, o movimento ambientalista se utiliza

técnicas de “engenharia social”, que tem como aliados os meios de comunicação,

meio pelo qual são vinculadas imagens e notícias alarmistas, com o propósito de

criar um controle subjetivo sobre a sociedade.

Assim, esses movimentos têm como aliados o desenvolvimento

eados na Internet, nos noticiários de TV, rádio, tem os

instrumentos fundamentais para que suas ações adquiram um nível global. Destaca-

se, portanto, o papel que os meios de comunicação em massa detêm na nossa

sociedade globalizada, pois sabemos que grande parte da compreensão da

realidade está subjugada a esse meio, sendo então responsável em grande parte

pela nossa visão de mundo.

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as atitudes individuais e a sua substituição pela irracionalidade coletiva”

(EXECUTIVE INTELLIGENCE REVIEW, 2001, p.36).

também no papel da mídia na constituição de

um marketing pessoal para esses movimentos, afinal, a imagem vendida induz a

participação de

os bombardeados com más notícias a respeito da questão

ambiental, que

exaltando valores humanos, esses

movimentos con

cionistas, levante de recursos para suas pesquisas e

mesmo para a p

Contudo, vale pensar

novos membros, sendo ativos participantes de ações e mesmo

contribuintes. Para Lomborg (2002), a veiculação de palavras como “medo” e

“acidentes”, é uma ferramenta lucrativa para os meios de comunicação, sendo assim,

cada dia mais, som

se tornou um combustível para os meios de comunicação.

Por isso, dentro da lógica impressa pela mídia, observamos ações

arriscadas de ativistas que interrompem cerimônias, detêm obras, todas

manifestações em prol da Natureza. Assim,

seguem atingir a população tendo como porta voz a mídia, que com

o auxilio tecnológico, divulgam e manipulam imagens, a fim de criar uma imagem de

Natureza degrada que atinja a população como um todo.

O que observamos é um excesso de pessimismo veiculado, que

muitas vezes se relaciona com interesses de organizações não governamentais,

pesquisadores e governos, que fazem de tal alarme fonte de sustento para a

realização de ações interven

romoção dessas ONGs.

Não poderíamos esquecer de citar o papel da mídia também na

influência e pressão exercida sobre governos e instituições internacionais, pois o

ambientalismo assume efetivamente seu caráter ideológico ao adentrar a política por

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63

meio dos partidos verdes. Os partidos verdes têm então no estabelecimento de um

discurso ambiental, o grande chamariz para exercer influência sobre os eleitores,

mediante a mo

principal

destaque vincul

o. Tal relação se apresenta

um tanto quant

que funciona como alternativa eficaz dentre as estratégias usadas

bilizações em torno da questão. Castells (2000, p.164) chama a

atenção para esse processo apontando que diante dessa tática “[...] o ambientalismo

vem se tornando uma das mais importantes forças da opinião pública, exigindo

reconhecimento pelos partidos e candidatos de diversos países [...]”.

Contudo, cada vez mais as organizações ambientais têm buscado se

ligar a grandes corporações com o intuito de promover novas normas de produção,

incorporando aos produtos a questão ambiental, que acaba sendo o

ado nos informes publicitários.

A partir disso, são incentivadas ações em prol do ambientalismo; no

entanto, essas ações acabam se tornando uma grande estratégia de marketing, ou

seja, mais um produto em busca da obtenção de lucros cada vez maiores pelas

empresas, levando conseqüentemente a uma maior produção, ou seja, estabelece-

se uma relação contraditória entre produção e conservaçã

o ambígua, cheia de intencionalidades que acabam configurando o

caráter ideológico do movimento ambientalista, na medida em que esse discurso se

torna mais uma estratégia publicitária na busca por novos mercados, efetivamente

preocupados com a questão ambiental.

Assim,

[...] palavras como ecológico, ambiental e natural viraram um clichê,

pelo marketing e pela mídia, em geral, como possibilidade de persuasão ao público (SANTANA, 1996, p.48).

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Talvez por isso, observamos atualmente um outro movimento em

torno da problemática ambiental, no qual tem apresentado o ambiente enquanto uma

mercadoria consumível, e que, portanto pode ser reproduzida, levando assim

definitivamente a uma troca de valores, já que, segundo Santana (1999, p.179) os

bens naturais são classificados enquanto “novas raridades”. Desse modo, constata-

se que “Os “bens naturais” tornados “novas raridades”são objetos de uso corrente e

a condição de s

anto, a partir da classificação

da Natureza co

er raro atribui a ele o valor de troca, por conseguinte são passíveis de

serem convertidos em mercadorias” .

Portanto, observamos que a idéia de escassez apresenta-se como

conseqüência do modo de produção capitalista. No ent

mo raridade lhe é conferido um valor simbólico, relacionado ao apelo

subjetivo da qualidade de vida, vinculado principalmente às cidades. Assim, o

movimento de redescoberta da Natureza tem como conseqüências a materialização

de novas necessidades, literalmente expressadas nas propostas alavancadas pelos

condomínios horizontais fechados em Londrina, como será visto no próximo capítulo.

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CAPÍTULO 4 - CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS E A APROPRIAÇÃO

A expansão do espaço urbano da cidade de Londrina em direção às

áreas rurais em praticamente todos os quadrantes da cidade, tem trazido algumas

particularidades do ambiente fisiográfico. Por exemplo, no setor sul-sudeste,

encontramos loteamentos situados em áreas de acentuada declividade, onde os

problemas de afloramento das rochas basálticas têm ocasionado problemas de

higiene e de dificuldades nas construções de infra-estrutura básica.

Enquanto isso, no setor sul-sudoeste, temos outra realidade: esta é

uma área de grande incorporação de terras rurais, transformando-as em urbanas,

principalmente com a presença de muito capital financeiro, não só local, como

regional e extra-regional. Essa incorporação é relativamente recente, há menos de

duas décadas. Uma das grandes alavancas dessa expansão físico-territorial foi a

escolha dessa região para a localização de um shopping center, no início da década

de 1990, na área de uma fazenda de soja.

Assim, a partir desse empreendimento, muitos outros como a

localização de um hotel, de três universidades particulares, de um jardim botânico e

vários empreendimentos comerciais ou de serviços tem sido encaminhados para

essa área.

É nesse contexto que se situam os condomínios horizontais fechados,

dentre eles os do grupo Teixeira & Holzmann, cujo destaque de marketing

representado pelos elementos naturais, que são incorporados como atratividade para

o mercado consumidor.

DO “VERDE”

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Foi apresentado no capítulo anterior, algumas discussões sobre o

ssez da natureza”, que tem imprimido um novo sentido diante da

sociedade capitalista, cujos reflexos são materializados nas novas formas de se

morar, como por exemplo, nos condomínios horizontais fechados.

Essas novas formas espaciais são rebatimentos espaciais que têm

crescido rapidamente, sob a ótica da terceira revolução industrial, no qual as

características peculiares se utilizam de espaços geográficos de distintas formas,

como apontado por Spósito (1999, p.84), “[...] novas lógicas de comportamento

espacial às empresas, de expansão extensiva das áreas residenciais, e de

multiplicação do consumo, gerando assim novas espacialidades [...]”.

As espacialidades referidas por Spósito, fazem parte de uma das

extensões do processo de acumulação capitalista, apropriando-se de espaços

urbanos, requalificando-os, dando novos sentidos e novos estilos de morar.

No Brasil esse tipo de empreendimento surge em meados da década

de 1970, com o objetivo de atender a parcela mais nobre da população

(TRAMONTANO, 2001). Na verdade, o primeiro condomínio horizontal fechado foi

inaugurado em 1975 em Barueri, região metropolitana de São Paulo, sendo o

primeiro da marca Alphaville.

O empreendimento criado pela construtora Albuquerque Takaoka S/A

é de uso misto, ou seja, possui áreas residenciais, comerciais e de serviços, hoje, já

são aproximadamente 30.000 habitantes em 14 áreas residenciais distribuídos pelo

país. Posteriormente Alphaville veio a se tornar um modelo de condomínio horizontal,

sinônimo de distinção e requinte, com empreendimentos espalhados por todo o país,

risco da “esca

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67

como Campina

que ele se torna

acessível à cla

aulo e região

quisição,

enquadrados na Lei 6766/79, junto aos loteamentos.

essa forma,

s (1997), Belo Horizonte (1998), Goiânia (2002), Londrina (2003),

dentre outras.

No entanto, é na década de 1990 que este tipo de empreendimento

adquire status de um fenômeno urbano consolidado, na medida em

sse média, representando assim mais uma modalidade habitacional

para o país (TRAMONTANO, 2001).

Com relação à dimensão desse fenômeno, Santos (2001), se

apoiando nos dados da Empresa brasileira de estudos de patrimônio, aponta que,

entre 1992 a 2000, o número de condomínios horizontais fechados passou de 168

para 2.535, tendo a média de 70 lançamentos por ano em São P

metropolitana. Desse modo, os números confirmam a tendência da população em

buscar tais empreendimentos, principalmente apoiados no discurso da violência nas

grandes cidades, como também incentivados pelas facilidades para a sua a

como os financiamentos que proporcionaram a sua acessibilidade às classes média

e alta.

Contudo, apesar do crescimento expressivo dessa modalidade, vale

ressaltar que ainda não há no Brasil uma lei que regulamente a criação dos

condomínios horizontais, sendo

D podemos então pensar na legalidade dos condomínios, também

conhecidos como loteamentos fechados, já que de acordo com Souza (2003, p.1),

eles não se enquadrariam nem a Lei Federal 4591/64, que define a figura do

condomínio como espaço privado, nem à Lei Federal 6766/79, que se refere a

loteamentos que têm natureza pública. Observa o autor:

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[...] é importante salientar que o termo corretamente utilizado, condomínios fechados, representa uma redundância, pois, do ponto de vista legal, todo condomínio é, por natureza, uma figura jurídica de Direito Privado, regulamentada pela Lei Federal nº 4.591/64 (que

Não entraremos em detalhes quanto à juridicidade do termo

caracterização dos condomínios fechados que, do ponto de vista legal, seriam

fechado”.

desses loteamentos, assim se reporta:

“loteamento fechado”, pois todo parcelamento do solo destinado à implantação de loteamentos é regulamentado pela Lei Federal nº 6.766/79 (que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, e foi

uma falsa sensação de segurança aos seus adquirentes (SOUZA,

endimentos.

dispõe sobre o condomínio em edificações e das incorporações), tendo, portanto sua espacialidade e seus limites definidos, regulados e decididos na esfera e no domínio do Direito Privado. Em outras palavras, é, por lei, um espaço de uso restrito e privativo de seus condôminos (SOUZA, 2003, p.1).

loteamento ou condomínio, pois encontramos algumas dificuldades em relação à

“loteamentos fechados”. Entretanto, em todos os folders e propagandas, como

também os moradores se referem ao seu local de morada como um “condomínio

Souza, prosseguindo na sua análise sobre o enquadramento legal

De forma análoga, não existe a figura jurídica do chamado

modificada parcialmente pela Lei Federal 9.785/99), que define e regulamenta as normas dos loteamentos para fins urbanos, e que são, pela sua natureza jurídica, espaços de uso público. Ou seja, a acessibilidade ao seu território não pode ser restrita a seus moradores, apesar dos inúmeros exemplos em contrário existentes em nossas cidades. A prática corrente do setor imobiliário em denominar uma coisa como sendo outra, além de constituir um ato jurídico imperfeito, representa uma propaganda enganosa, pois cria

2003, p.1).

Portanto, essa indefinição jurídica vem contestar o caráter de

exclusividade dado aos equipamentos e a todo o espaço físico dos condomínios,

realidade apresentada e vendida nos folders pelos empre

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69

Na ve

loteamentos fechado

novo padrão de desig

novo padrão substitu

utro tipo de espaç ia da periferia

combinada com o empobrecimento da classe trabalhadora; da industrialização; da

centro, que tende a buscar por lugares mais seguros, dando origem aos chamados

[...] enclaves tendem a ser ambientes socialmente homogêneos.

as (CALDEIRA, 2000, p. 259).

Entre os atrativos, estão a segurança, os equipamentos de lazer

como quadras poli

relacionado às áreas

atrativo. Todos esse

proporcionada pelo m

aos seus moradores

caráter segregativo n

Ressaltam-se, portanto, as novas configurações de habitar urbano, e

as suas conseqüênc

rdade, segundo Caldeira (2000), a criação de condomínios e

s em São Paulo, faz parte de um processo que caracteriza um

ualdade social e segregação espacial na cidade. Para ela, esse

i o conceito de centro/rico, periferia/pobre, dando lugar a um

os segregados, fragmentados, fruto da melhoro

expansão das atividades terciárias e do deslocamento da classe média para fora do

“enclaves fortificados”.

Sendo assim, os,

Aqueles que escolhem habitar esses espaços valorizam viver entre pessoas seletas (ou seja, do mesmo grupo social) e longe das interações indesejad

esportivas, campo de golf, sauna, quiosques, tudo muito

verdes, que se constituem em muitos casos no seu principal

s elementos, além é claro, de uma boa dose de “exclusividade”

arketing, conferem aos empreendimentos e conseqüentemente

, o status necessário para a efetivação de um equipamento de

as cidades.

ias para o espaço urbano. Aqui, especialmente em relação aos

condomínios fechados, hoje, se apresentam como uma das soluções de morada

para as classes média e alta, na medida em que são atraídas pelo slogan da

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70

qualid de v

s e ambientes rurais que passam a compor o mesmo lócus

e expansão, r s condomínios fechados, como veremos a seguir.

4.1 CONDOMÍNIOS TE RURAL E

A idéia de distanciamento da cidade, e aproximação do campo

contida na proposta dos condomínios fechados sinaliza, para o reforço de

subjetividades, dada a partir da esfera econômica, contida na idéia de qualidade de

vida, o que tem provocado a redefinição do espaço rur-urbano.

Esse fato configura a realidade do mundo contemporâneo, onde de

acordo com Castilho (2004, p. 62),

As transformações que ocorrem no espaço, fruto das mudanças de

rural e no meio urbano, pois há uma maior fluidez entre esses dois

ade ida, relacionada ao apelo subjetivo do “verde”, fato que tem conduzido

a periferização da cidade. Esses segmentos sociais buscam se distanciar do urbano

e se aproximar do campo, em busca de ambientes naturais e das amenidades

expressas pelo contato direto com as áreas verdes dos seus quintais.

Já a volta à Natureza, conduz a um movimento de volta aos

ambientes rurais, que, em se tratando dos condomínios fechados, cujo lócus é a

cidade, estaria representada principalmente nos seus limites, onde ainda podem ser

incorporadas áreas verdes e resquícios de matas. Assim, configuram-se ao mesmo

tempo ambientes urbano

d epresentados pelo

FECHADOS E A RELAÇÃO ENTRE O AMBIENURBANO

períodos econômicos, proporciona modificações intensas no meio

meios, está cada vez mais complicado diferenciar o urbano do rural.

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71

Assim, é com o crescimento da cidade e a expansão do perímetro

urbano, que passamos a observar tal processo. Atualmente, o setor Sul da cidade de

Londrina tem apresentado sua expansão urbana, pautada em condomínios de alto

padrão, que a partir do prolongamento dos limites urbanos e com a incorporação

áreas rurais, t

rural, e que a expansão urbana alarga suas fronteiras em direção as áreas rurais,

novos espaços rur-banos e alguns conflitos vão surgindo geralmente, no processo de

ação, seja nas desapropriações de caráter institucional, ou na imposição

de preços dos investidores, junto aos pequenos proprietários rurais.

as expressões urbanidade, ruralidade, aqui,

faremos um breve c

fronteiras, tomemos c

[...] o processo de expansão da urbanização, os espaços naturais, bem como os espaços rurais, se tornam cada vez mais raros. O

em como carro chefe, justamente as amenidades do campo, a

qualidade de vida, a proximidade do “verde”, como elementos primordiais para suas

vendas.

Na verdade, esses empreendimentos se apropriam de elementos do

meio rural, como remanescentes de matas, rios, além da própria recriação de

paisagens, ambientes naturais, ou seja, na medida em que o urbano incorpora o

comercializ

Essa faixa de fronteiras entre o urbano e o rural, hoje tem assumido

um ambiente que, alguns autores têm utilizado a expressão ruralidade e urbanidade.

Esses ambientes ou meio, “[...] se tornam mais fluídos, criando tanto as ruralidades

quanto as urbanidades no campo”. (CASTILHO, 2004, p.64).

Por não fazer parte do nosso objetivo e também pela necessidade de

um aprofundamento maior sobre

omentário sobre o assunto. Para caracterizar essa faixa de

omo um exemplo às referências de Maia:

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processo já é bastante conhecido: a cidade expande-se sobre o

cidade. O espaço mundial parece caminhar para uma total urbanização, guiado pelos anseios de uma sociedade urbana. Contudo, [...] a realidade em sua complexidade não se mostra homogênea, e o espetáculo da cidade vai compor não só pelo progresso, mas também por seu reverso. É o campo, longe de ter desaparecido, permanece nas dissimulações dos seus limites (MAIA, 1999 apud CASTILHO, 2004, p.64)

Spósito (1999, p.84), chama a atenção para o fato de que, “o

desenvolvimento do meio técnico-científico

campo. Desaparece, portanto o até então evidente conflito campo x

coloca cada vez mais a cidade além da

cidade, redefinindo a dialétic

cidades, os símbolos e signos que nelas e através delas expressam o

sentido dessa urbanização e em que medida a reprodução do urbano

cidade na perspectiva de um conteúdo de urbanidade (SPÓSITO,

déia do rural. É com a

crescente urba

a cidade-urbano. Essa redefinição encerra uma outra: a

da relação cidade-urbanidade”.

Assim a autora, afirma que,

Se as relações cidade-campo não expressam [...] aquelas entre o urbano e o rural, por que as relações que se estabelecem a partir das

que é urbano estão além das cidades, é preciso refletir sobre qual é o

pode gerar não o fim da distinção cidade-campo, mas a ausência da

1999, p.84 ).

Há, portanto, uma maior abrangência da idéia de espaço rural e

urbano, principalmente sob a ótica da cidade, pois, cada vez mais há um movimento

de retomada de costumes, de hábitos rurais na cidade, da mesma forma em que o

próprio processo de reprodução da cidade tende a negar a i

nização e o desenvolvimento de um espaço caótico, que, como

movimento reverso, são revalorizados ambientes naturais, e tudo aquilo que

expressa a proximidade, o contato com o campo.

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73

Tal r

negação, mas sim

sociedade capitalista

icos do homem do campo nas

al, no entanto, quando analisamos a constituição dos

condomínios fechados em Londrina, constatamos que esse movimento se dá de

maneira planejada,

com um ambiente “r

caótico que se tornou

Nesse sentido, Spósit

ído de amenidades e qualidade de

vida.

elação pode ser compreendida não como um movimento de

enquanto uma relação dialética, que passa a fazer parte da

, sendo então compreendida com,

[...] o auge do capitalismo transforma o meio rural e o meio urbano, trazendo uma “mistura” também entre as culturas do homem rural e urbano. Já são encontrados hábitos típcidades, ou seja, há a presença da cultura rural na área urbana (CASTILHO, 2004, p. 63).

Com relação ao termo ruralidade, vale pensar que a cidade em seu

processo de reprodução tende a avançar sobre o campo, sendo assim, a cidade

sempre deterá resquícios do rur

pois, o objetivo é realmente levar seus moradores ao contato

ural”, ou melhor, às amenidades do campo, longe do ambiente

a cidade.

o (1999, p.95), nos indica que,

[...] as novas formas de habitat e consumo urbano expressam, não apenas um conjunto de determinantes de natureza econômica, mas também, em certa medida, uma necessidade de recuperar um quadro de vida rural, entendido aqui como de melhor qualidade de vida, em comparação às dificuldades impostas pela vida nas grandes áreas urbanas [...].

Mas, vale lembrar que esses empreendimentos vêem contidos de

uma carga notável de características urbanas, sejam pelas vias de escoamento

asfaltadas, pelas câmeras de vigilância, pelos muros que o cercam e fazem então o

limite entre o “urbano” caótico, e o “rural” constitu

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74

Diante disso, como então pensar tal relação a partir da constituição

dos condomínios fechados? Como então definir a expressão do rural-urbano nas

cidades atualmente? Cabe então a nós, compreendermos esse movimento tanto nas

cidades como nas ár

dual, na medida em

alternativas para am das cidades, como também o campo

se torna alvo d

burguesa, a cultura do capitalismo, o capitalismo como processo vadem, recobrem, absorvem ou recriam o campo com

outros significados (IANNI apud Rua, 2005, p.49).

Portanto, o tecido urbano incorpora gradativamente o rural,

transformando e cria

fechados, que geram

o rural, da mesma forma que áreas rurais vão se tornando alvos da especulação

capitalista, que

Por isso, a relação centro-periferia deve ser entendida no seu sentido

duplo, pois há uma reestruturação do espaço urbano, já que, hoje a “periferia” não é

eas agrícolas enquanto algo indissociável, como um movimento

que cada vez mais a população, o poder público tem buscado

nizar o ambiente caóticoe

e urbanidades, pois lhe são incorporadas tecnologias, novas formas

de se morar (condomínios fechados), criadas áreas de lazer, de turismo rural,

pesque e pagues, dentre outras atividades.

Já um outro autor faz a seguinte observação, afirmando que:

Acontece que faz tempo que a cidade não só venceu como absorveu o campo, o agrário, a sociedade rural. Acabou a contradição cidade e campo, na medida em que o modo urbano de vida, a sociabilidade

civilizatório in

ndo novas formas de produção, como é o caso dos condomínios

uma vasta ampliação de espaços fronteiriços entre o urbano e

tem no marketing, a base para o estabelecimento de novas

necessidades, tendo o “verde”, e a proximidade de ambientes naturais como

indispensáveis à vida humana, fatores que tem conduzido a redefinição da relação

centro periferia.

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75

mais lugar só

de mercadorias representa justamente a

destruição da adoxal,

observamos que os

para a venda de lote

representada por la

mercadorias co

de conjuntos habitacionais e descaso, ela é sim alvo de grandes

investimentos, valorização espacial, sendo o habitat da classe média e alta, definindo

assim novas relações espaciais como também constituindo estilos diferentes do

habitar urbano.

O fato é que a cidade capitalista tem sua lógica estabelecida na

produção de mercadorias, por isso, “a imposição das necessidades do capital

redefine a centralidade, fragmentando-a em diversos setores e reunindo a mesma

através dos interesses e sentidos da produção capitalista” (ALFREDO, 1999, p.139).

Porém, a produção alienada

própria Natureza, tão almejada. Diante dessa relação par

incorporadores usam a crise ambiental urbana como argumento

s, cujo produto em especial é a Natureza, que agora fetichizada,

gos artificiais e resquícios de matas, se apresentam como

nsumíveis, objeto de um negócio bastante lucrativo.

É a partir da apropriação da “Natureza” enquanto uma mercadoria

consumível, tanto esta na forma concreta, como também simbólica que esta

“Natureza” é recriada e reclassificada de acordo com interesses, algo que é inerente

à sociedade atual.

4.2 CONDOMÍNIOS FECHADOS E A APROPRIAÇÃO DO “VERDE”

Os ambientes naturais, como forma de valorização imobiliária tem

sido muito difundido hoje nas cidades, a partir da construção de jardins, parques,

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76

lagos artificiais, mas nada tem chamado mais a atenção do que a construção de

empreendimentos imobiliários com esse apelo, principalmente pelo seu gigantismo e

ousadia na criação e recriação de ambientes e mesmo da apropriação e expansão

sobre áreas rurais para a sua incorporação ao espaço urbano.

Foto1: Lago artificial, um dos elementos característicos da incorporação e recriação de ambientes naturais nos condomínios horizontais fechados do grupo Teixeira & Holzmann.

Aliá

Fonte: Broniera (2006).

s, na associação entre especulação imobiliária e Natureza, os

incorporadores buscam por áreas cujas características se aproximam dos seus

preferência próximas da área urbana. Pautados nesse ideal de Natureza, se exalta

muito o seu uso

objetivos. Assim, são valorizadas áreas com resquícios de matas, rios e de

, relacionado às áreas verdes e a qualidade de vida proporcionada

nesses locais.

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Em relação à Natureza na cidade, Henrique (2004) apoiando-se em

Capel (2002), considera que o jardim é tão necessário à cidade quanto à família e ao

homem, sendo um lugar indispensável ao homem. Os espaços verdes nas cidades

são importantes para todos, observando-se uma falta destes espaços em muitos

loteamentos de baixo poder aquisitivo, como também em alguns bairros de classe

média. Para Capel, a Natureza na cidade tem também a função de renovar o ar,

cada vez mais poluído e carregado de doenças. (CAPEL apud. HENRIQUE, 2004).

Vale lembrar que na Inglaterra, a idéia de Natureza na cidade tem

seu ápice com o modelo de cidades-jardim, que além da sua função higienizadora

para a época, estabelece seu papel fundamental como elemento estético nas

cidades (HENRIQUE, 2004).

No entanto, a apropriação estética do “verde” como forma de agregar

valor a uma propriedade privada (condomínios fechados), tem como conseqüência a

diferenciação espacial do “verde” na cidade, dada a partir de uma diferenciação

social, no sentido de que se determina um padrão de vida urbana, com o

estabe as

stratégias das imobiliárias.

a simbólica.

lecimento do público alvo, seguindo leis de mercado, de acordo com

e

Como observado nos itens anteriores deste trabalho é no século XIX

que emerge um movimento mais intenso de associação entre a Natureza na cidade e

a especulação imobiliária, dada a partir da construção de jardins e parques, com o

objetivo de valorizar os loteamentos no seu entorno, ou seja, a Natureza é

apropriada por incorporadores, podendo ser compreendida como uma imagem que

possui uma forç

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78

Assim, para Mumford (1998, p.461),

[...] a cidade, desde o princípio do século XIX, foi tratada não como

ser aperfeiçoada de qualquer modo que pudesse aumentar a rotatividade e fazer subirem ainda mais os valores dos terrenos.

Quanto à apropriação da Natureza pelos empreendimentos

imobiliários, ela pode se dar de duas formas: uma direta e outra indireta (RECLUS,

1886 apud HENRIQUE, 2004).

De forma direta, poderíamos lembrar as belas paisagens naturais

uma instituição pública, mas como uma aventura comercial privada, a

,

como as monta

ão indireta diz respeito a sua utilização para a venda

de produtos. N

de Londres pela coroa e os

seus objetivos

nhas, cachoeiras, dentre outras belezas naturais, que, a partir da sua

apropriação, adquirem o caráter de propriedade privada e que são, portanto,

elementos de especulações imobiliárias.

Já a apropriaç

esse sentido, chamamos a atenção para os condomínios fechados,

onde seus incorporadores se apropriam de resquícios de áreas verdes e do discurso

da qualidade de vida atribuída a estes locais, como forma de agregar valor para

alavancar suas vendas.

Aliás, com relação à valorização espacial ligada a ambientes

naturais, mencionamos a construção do Regent’s Park

comerciais, pois, segundo Mumford (1998, p.414) ,“[...] o próprio

parque foi abertamente considerado como um artifício para aumentar o valor dos

terrenos de propriedades vizinhas, pertencentes à Coroa Real”.

Assim, dentro da lógica do processo de organização do espaço

urbano, a Natureza se apresenta cada vez mais racionalizada e valorizada como um

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79

objeto técnico, mediante um engenho humano

proposital, e dotado d

Milto

assinala que “[..

” (SANTOS, 1992, p.96).

referência de consumo, complementa a autora.

ade das suas idéias,

no mundo capit

ou seja, é produzida artificialmente,

e sentido de acordo com suas funções utilitárias.

n Santos, em seu artigo sobre a “Redescoberta da Natureza”,

.] quando o natural cede lugar ao artefato e a racionalidade triunfante

se revela através da natureza instrumentalizada, esta, portanto domesticada, nos é

apresentada como sobrenatural

Na verdade, essa idéia de Natureza sobrenatural conduz ao

estabelecimento de um discurso ideológico e mercadológico que, embasado no risco

de escassez impulsiona a apropriação e exploração do “verde” principalmente nos

empreendimentos imobiliários.

Santana, analisando a questão da mundialização da Natureza, pela

socialização, observa que: “[...] a questão ecológica invade a vida cotidiana

produzindo uma nova necessidade na base da sociedade de consumo” (SANTANA,

1999, p. 181). Portanto, a afirmação e disseminação da consciência ecológica

induzem um gosto e uma p

Harvey, na sua obra Condição Pós-Moderna, traz considerações

importantes sobre a idéia de compreensão do tempo-espaço na pós-modernidade,

referindo-se à influência das novas tecnologias e da imagem, para demonstrar as

alterações ocorridas na esfera social e cultural na sociedade atual. Ela traz

importantes referências no assunto, pela atualidade e universalid

alista, principalmente, a relação entre o mundo capitalista, a mídia, o

consumo, a mercadoria e os empreendimentos imobiliários (HARVEY, 1992).

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80

Reafirmando suas idéias, pode-se constatar que o desenvolvimento

de um mercado consumidor do “verde” partindo dessa lógica urbana tem como

aliados a mídia

e desejos e gostos a partir

das imagens,

tão, que dentre muitos desenvolvimentos da arena do

consumo, há u

meio de acelerar o ritmo do consumo não somente em termos de

ivendo.

Ainda Harvey se expressa da seguinte forma:

e a publicidade, que buscam adaptar os produtos ao uso particular.

Nesse sentido, a publicidade torna-se elemento importante dentro da dinâmica do

capitalismo.

Á publicidade se atribui a manipulação d

que por sua vez “se tornaram, em certo sentido, mercadorias”

(HARVEY, 1992, p.260). Daí a necessidade de buscar pelo “verde”, fato que leva ao

desenvolvimento da arena do consumo.

Vale lembrar en

m processo de efeito dominó, a partir de certos tipos de consumo.

Harvey refere-se também aos estilos de vida e hábitos como lazer, esporte:

A mobilização da moda em mercados de massa (...) forneceu um

roupas, ornamentos e decoração, mas também numa ampla gama de estilos de vida e atividades de recreação (hábitos de lazer e de esporte) [...] (HARVEY, 1992, p.258).

Isto é, criam se novos estilos de vida, novas necessidades. Isso nos

ajuda a compreender o estabelecimento de empreendimentos imobiliários de alto

padrão, loteamentos horizontais fechados, cujo projeto explora ao máximo o contato

com um ambiente natural, mesmo que ele seja produzido e reproduzido. Portanto, se

há a oferta desse tipo de produto, é porque há também um mercado consumidor que

busca por esta mercadoria.

Na tentativa de ilustrar melhor o período no qual estamos v

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[...] temos vivido nas duas ultimas décadas uma intensa fase de

desorientado e desruptivo sobre as práticas político-econômicas, sobre o equilíbrio do poder de classe, bem como sobre a vida social e cultural (HARVEY,1992, p.257).

Esse fato nos conduz a algumas situações caracterizadas como

crises do tem

compreensão do tempo-espaço que tem tido um impacto

po, como por exemplo, a crise ambiental, crise de identidades expressa

em uma crise

plificando um eixo de mudanças em relação

aos estilos de v

características especiais que precisam ser radas. O tempo de giro de consumo de certas imagens com

certeza pode bem curto (perto do ideal do “piscar de olhos” que Marx

modo, muitas imagens podem ser vendidas em massa o (HARVEY, 1992, p. 260).

cultural. Harvey traz importantes discussões para compreender a

passagem da modernidade à pós-modernidade, na cultura contemporânea. Na Parte

III da sua obra acima referida, ele apresenta importantes referências sobre a

experiência do espaço e do tempo, exem

ida da sociedade do consumo. Faz uma discussão profunda sobre o

sistema de signos e imagens, e apoiando-se em uma expressão de Baudrillard,

relata que:

[...] a análise da maxiana da produção de mercadorias está ultrapassada, porque o capitalismo agora tem preocupação predominante com a produção de signos, imagens e sistemas de signos, e não com as próprias mercadorias (BAUDRILARD, 1981 apud HARVEY, 1992, p. 260).

Na concepção de Harvey, a transição que Baudrillard indica é

importante, entretanto, Harvey coloca que não haveria dificuldades sérias para

entender a teoria da produção da mercadoria de Marx ao seu tratamento, mas na

expressão de Harvey há um alerta que transcrevemos:

[...] os sistemas de produção e comercialização de imagens (tal como os mercados da terra, dos bens públicos ou da força de trabalho) de fato exigem algumas conside

viu como ótimo da perspectiva da circulação do capital). Do mesmo

instantaneamente no espaç

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Pross

imagens têm tomado

as imagens têm que ...] possuiriam aura de autoridade

e de poder, na s

dessas imagens de permanências e de poder requerem uma

a estabilidade da imagem enquanto se acentuam a adaptabilidade, a

imagem ((HARVEY, 1992, p. 260).

esferas da sociedade contemporânea, ligadas não somente a marca, ao produto,

mas também relacion

Harvey, indicam e

“confiabilidade”, “inov gura demonstrativa de uma área de lazer

eguindo nas discussões de Harvey sobre a relevância que as

no mundo contemporâneo, este pesquisador afirma que, “[...]

esempenhar outras funções [d

ociedade individualista”.

As seguintes expressões têm um sentido de alerta:

[...] ela se tornou, com efeito, o meio fugidio, superficial e ilusório mediante o qual uma sociedade individualista de coisas transitórias apresenta sua nostalgia de valores comuns. A produção e venda

satisfação considerável, porque é preciso conservar a continuidade e

felxibilidade e o dinamismo do objeto, material ou humano, da

Dessa forma, as imagens adquirem um papel fundamental na

elaboração de valores subjetivos e de sentidos, que caracterizam as diferentes

adas às diversas situações e circunstancias que na opinião de

assumem idéia de “respeitabilidade”, “qualidade”, “prestígio”,

ação”. Abaixo uma fi

projetada, que representa bem o poder das imagens veiculadas pelos

empreendimentos imobiliários e alguns de seus atrativos.

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muito “verde”. Fonte: Teixeira & Holzmann, [ s.d]

Uma outra estudiosa Paola Verri Santana estudando a questão da

socialização e a mundialização da natureza, observa que “[...] desejos e

necessidades se mostram unânimes quando se atrelam aos objetos” (SANTANA,

1996, p.48).

Com isso, pensando a cidade como construção humana, “produto

histórico social”, expressa o período em que a sociedade atual tem

Figura 1: Projetos preocupados com a valorização ambiental, sempre com a incorporação de

Organização: Bortolo (2006).

vivido, nela é que

se materializam os processos enquanto ação humana. Assim, a valorização do

“verde” nos condomínios fechados, expressa nada mais que os valores idealizados

pela sociedade, revelando “[...] a indissociabilidade entre espaço e sociedade [...]”

(CARLOS, 2004, p.14).

Portanto, diante dessa lógica de consumo, observamos a redefinição

da Natureza na cidade, agora como uma mercadoria consumível que é materializada

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84

nas novas formas de morar e disseminada a partir do marketing e da propaganda,

elementos que conduzem a efetivação de um mercado agregado pelo “verde”, por

meio de condomínios horizontais fechados.

4.3 ROYAL FOREST: APROPRIAÇÃO, RECRIAÇÃO E O REENCONTRO COM A NATUREZA

Royal Forest é o nome dado a um dos empreendimentos da empresa

Teixeira & Holzmann, onde as questões acima apresentadas sobre a relação

simbólica do “verde”, estabelecida na oferta de condomínios horizontais fechados

têm hoje como carro chefe o apelo ao “verde”, sendo esses elementos

de vida e conforto aos seus moradores, não só no

discurso, mas também na materialização espacial desse recurso.

Assim, na tentativa de ilustrar melhor aquilo que buscamos

denominado de Royal Forest Residence & Resort. A expressão resort está agregada

em todas as denominações dos condomínios ofertados, conforme especificação

abaixo:

-Royal Golf

-Royal Tennis Residence & Resort

-Royal Forest Residence & Resort

,

representativos de qualidade

problematizar em nossa discussão teórica, tomamos como exemplo este condomínio

-Royal Park Residence & Resort

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85

No setor sudoeste da cidade de Londrina, percebemos que houve

um movimento de expansão urbana acelerada nessa região, cujos fatores já

mencionamos anteriormente. Esse empreendimento foi aprovado em 2003, tendo

como proposta 252 lotes, cada um com 300m2 de área útil e um total de área

utilizável de 850m2 por lote.

Posteriormente, em 2004 uma nova proposta para a fase II do Royal

Forest Residence & Resort também foi aprovada, sendo mais 121 lotes. Observe

que, em pouco

são construídas e

áreas de lazer,

[...] outros empreendimentos poderiam ter os atrativos como a segurança, os muros eletrificados, a vigilância, etc, porém, o “verde” seria mais uma vantagem nossa agregada, supervalorizando os lotes para efeito de comercialização

((Flamínio, corretor da Teixeira & Holzmann, Londrina/PR.

Ago.2006)

eendimentos do grupo têm como

característica a paisagem de um bairro-jardim, com a agregação de lagos artificiais

mais de um ano, foram criados 373 novos lotes, sendo que 70% dos

lotes já estão comercializados, segundo informações dos corretores. Mas, o que atrai

e faz desses empreendimentos um sucesso? Com certeza, a questão da segurança

acompanhada do apelo ao “verde”, baseado na idéia de proximidade e de

propriedade em relação aos ambientes recriados nos condomínios, utilizando-se de

resquícios de matas, onde é possível conviver com trilhas que

nesse ambiente onde a “Natureza” está próxima dos moradores.

Essas características e particularidades é que personalizam os

empreendimentos dessa empresa, em relação aos outros. Segundo informações dos

corretores da empresa entrevistados,

De forma geral, todos os empr

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que são constru

atas ao empreendimento, também se busca criar toda

uma Natureza

para

estabelecer nov

m tempo e uma sociedade em que os signos são tomados como mercadoria, a ponto de não terem relação com a

r-real, um espaço de simulação que confunde o real e o racional (Baudrillard 1991:8). A realidade é transfovelocidades cada vez maiores, i

ultiplicidade de experiências dos receptores-consumid1998 apud DACANAL,2004, p.83).

ídos a partir dos córregos que circundam a região, havendo também

em um dos empreendimentos mais antigos, até um campo de golf com 9 buracos.

Podemos assim, pensar na esfera da apropriação e da recriação da

Natureza dada nos condomínios, pois, ao mesmo tempo em que são apropriados e

incorporados resquícios de m

artificial caracterizada por projetos de paisagismo, que tem como

objetivo valorizar esteticamente essa paisagem.

Observa-se, portanto, uma paisagem constituída por um misto de

objetos naturais e objetos recriados intencionalmente pelo homem, tornando-se

assim, indutores da busca e aproximação oferecida pelo marketing, cujo rebatimento

espacial, da uma visão de casas urbanas próximas de chácaras urbanas e sítios.

Com isso, observamos que esse ambiente assim constituído adquire

um valor simbólico diante da influência da propaganda, que, com o auxílio de

imagens, muitas vezes irreais, sendo na verdade imagens idealizadas servem

os estilos, novos gostos. A respeito da incorporação de imagens

como estratégia de marketing, vejamos a seguinte observação:

Estamos vivendo u

realidade, afastando-se de seus significantes e assumindo novos significados, como nos demonstra Baudrillard em sua obra. Segundo ele, a sociedade está gerando simulacros do real, um real sem origem nem realidade: um hipe

rmada em uma série de imagens, que sucedem em ntensificando e possibilitando a

ores (DEL mRIO,

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Desse modo, são incorporados valores simbólicos como a qualidade

de vida e todas as amenidades proporcionadas nesses locais, sendo então

valorizados subjetivamente pela imagem simbólica de proximidade com a Natureza

veiculada nos folders e nos discursos da empresa.

Organização: Bortolo (2006).

Figura 2: Folder de vendas do condomínio Royal Forest, Londrina. Fonte:Teixeira & Holzmann, [s.d]

Dentr

da Natureza dentro

nativa com 5 alqueir

com o folder, uma “

elementos reforçam omem urbano com um

e alguns elementos que expressam essa idéia de proximidade

do condomínio Royal Forest, destaca-se uma reserva de mata

es paulistas3 com trilha ecológica que representaria, de acordo

academia ao ar livre”, além de lago para pesca. Todos esses

um certo caráter de identificação do h

3 Correspondente a 24.200 m2

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saudosismo rur

éia de Natureza, do “verde” nos

condomínios em um produto consumível, elemento representativo de status por

quem o habita. Em uma pesquisa realizada por Cristiane Dacanal junto aos

moradores de condomínios de várias cidades brasileiras, relata que, “morar em um

condomínio significa um diferencial ambiental qualitativo e privilégio social”, segundo

suas entrevistas (DACANAL, 2004, p.81).

A idéia de Natureza passa a representar um símbolo de status, na

medida em que se pode contar com uma área total para cada lote de 850m2 de muita

qualidade de vida, e requinte, caracterizada pelas belas paisagens esteticamente

impecáveis e de muito bom gosto, um atrativo ao bem estar e à qualidade de vida da

população.

al, porém com um estilo diferente de usufruir desse ambiente com um

novo estilo de vida, de forma contemporânea.

Todos esses fatores são reforçados com o poder de persuasão do

marketing e da propaganda, que transformam a id

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Foto 2: Contraste entre a área residencial com seus equipamentos de lazer e a reserva

fechados como um simulacro, aliás, vivemos na sociedade do

simulacro, já reportado por vários pesquisadores filósofos, sociólogos e geógrafos,

cuja expressão já é recorrente quase como senso comum. Nessa sociedade, tudo

pode ser recriado e transformado em mercadoria, esse é o caso da ”Natureza”

nesses empreendimentos, cujo principal objetivo é seduzir por meio de imagens e

valores subjetivos.

Em relação à produção de “simulacros”, “[...] a natureza destruída aos

poucos pela técnica recria-se de forma artificial, produzindo enquanto simulacros,

base dos espaços turísticos” (CARLOS, 1999, p.67). Aqui, ela se refere à exploração

econômica de espaços turísticos, no entanto, nas cidades, a Natureza como

ambiental incorporada ao empreendimento. Fonte: Broniera (2006).

Compreende-se que a Natureza agregada esteja sendo ofertada nos

condomínios

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simulacro tem maior destaque nos empreendimentos de alto padrão residencial em

Londrina.

Ainda a autora, chama a atenção para estes espaços como sendo:

[...] dominados por estratégias de marketing e que só tem o sentido que lhe é conferido pelo marketing na medida em que são vistos como uma imagem e um signo de bem estar e felicidade que apaga sua configuração de mercadoria, que invade a vida das pessoas através do marketing, tornando-se lugares de desejo (CARLOS, 1999, p.68).

Uma das características da sociedade contemporânea é a destruição

da própria Natureza. Pode-se afirmar que os incorporadores usam a crise ambiental

urbana como um dos argumentos para a venda de lotes, cujo produto em especial, é

a “Na de

lazer, como piscinas, chalés, campos de golf, etc, como se fossem um único objeto.

Dentro dessa perspectiva, é vendida uma Natureza bucólica, perfeita,

atual, recriada com objetivos estéticos, bases para induzir uma qualidade de vida

distinta, exclusiva e elemento de status, portanto de valorização aos negócios. Há,

então, a efetivação da Natureza como uma mercadoria, cada vez mais racionalizada,

possuidora de sentidos, portanto, objeto de perfeita especulação imobiliária.

O fato é que a propaganda e os anúncios buscam justamente ligar

imagens, a fim de atingir desejos e, por isso, desde o seu nome esses

empreendimentos tentam seduzir por meio de símbolos, como é o caso da idéia de

Natureza sempre muito bem vendida pelos anúncios imobiliários. Atribui-se, portanto,

à mídia, a produção de “[...] signos do bem-estar, da satisfação e da felicidade pelo

ato de consumo de lazer” como expressou Carlos (1999, p. 69).

tureza”. Assim, são agregadas às paisagens produzidas, equipamentos

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Para Caldeira (2000, p. 265), os condomínios fechados

representariam a versão ideal de um “novo conceito de moradia” que relacionaria

cinco elemento e

social, equipamentos

distinto da cidade

moradores, tendo o

comodidades.

exclusivo de pra

na, com

o esta lecime

m a cidade e muito

menos a Natureza, não são mais as mesmas.

s básicos, sendo estes: segurança, isolamento, homogeneidad

e serviços. Esses fatores sugerem um lugar completamente

ao redor, fatores que lhe conferem certo status aos seus

“verde” como mais um produto em meio ao pacote de

São, portanto, os condomínios fechados entendidos como “ilhas”,

conforme assinalado pela autora, quando observa a imagem dos condomínios

vendida pelo marketing: “Os anúncios apresentam a imagem de ilhas para as quais

se pode retornar todos os dias para escapar da cidade e para encontrar um mundo

zer entre iguais” (CALDEIRA, 2000, p.265).

Diante disso, a apropriação estética do “verde” como forma de

agregar valor a uma propriedade privada (condomínios fechados), tem como

conseqüência a diferenciação espacial do “verde” na cidade, dada a partir de uma

diferenciação social, no sentido de que se determina um padrão de vida urba

be nto do público alvo, seguindo leis de mercado, potencializando as

estratégias imobiliárias.

Assim a relação entre condomínios fechados e ambientes naturais

artificializados, tem-se a efetivação da Natureza como um símbolo, sendo

compreendida como sinônimo de status, símbolo de qualidade de vida, um símbolo

representativo da morada perfeita, fatores indicativos de que ne

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No próximo capítulo, aprofundaremos que tão do “poder imbólico”

da Natureza na relação que se estabelece entre o vendedor e o consumidor da

morada urbana de médio e alto nível, particularmente nos condomínios horizontais

fechados.

a s s

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FECHADOS: O SIMBOLISMO DA NATUREZA NOS CONDOMÍNIOS FECHADOS

CAPÍTULO 5- O “PODER SIMBÓLICO” DA NATUREZA NOS CONDOMÍNIOS

Chegamos então, a um momento de análise da relação simbólica

atribuída à Natureza nos condomínios fechados, com o intuito de tentar demonstrar

como esta é entendida pela sociedade capitalista e os seus reflexos para o espaço

urbano de Londrina.

Vale reafirmar que tal compreensão deve passar pelo entendimento

do momento histórico no qual estamos inseridos, pois, é a partir do momento

histórico vivido que podemos caminhar em busca do nosso objetivo. Assim, para

compreender o processo de valorização da Natureza na sociedade atual e o seu

sentido agora não mais somente enquanto um recurso, mas como um símbolo,

lembremo-nos do nível técnico-científico no qual estamos envoltos, pois, há a

emergência da questão ambiental, no fim do século XX, que para nós foi uma das

justificativas para o movimento de revalorização da Natureza.

O fato é que, diante da nossa sociedade capitalizada, a Natureza

adquire funções que perpassam qualquer interesse pela questão ambiental, ela

atinge o patamar de um “bem simbólico”, na medida em que lhe é agregado um valor

simbólico e a ele é atribuído um valor econômico (THOMPSON, 1999). Quanto a

valor simbólico, segundo o autor “[...] é aquele que os objetos têm em virtude dos

modos pelos quais, e na extensão em que são estimados pelos indivíduos que os

produzem e os recebem (THOMPSON, 1999, p.203)”.

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Nesse sentido, para o filósofo Charles Pierce, um grande especialista

m semiótica afirma que,

de uma lei, geralmente uma associação de idéias gerais que opera no sentido de levar o símbolo a ser interpretado como se referindo àquele objeto (...). Assim sendo atua através de uma réplica (1975,

ue representa algo a alguém. Por isso, entendemos a Natureza

no momento atu

e destaque para a cor

verde, que é m

estaca a realização de uma

e

um símbolo é um signo que se refere ao objeto que denota por força

p.102),

Ainda para o autor, “o símbolo é aplicável a tudo aquilo que possa

concretizar a idéia relacionada com a palavra” (PIERCE, 1975, p. 129). Resumindo,

um símbolo é aquilo q

al não somente como um recurso, mas como um símbolo, já que, a

ela hoje lhe é atribuída uma série de novos significados, novas funções

estabelecidas pela sociedade capitalista, da qual somos integrantes.

Mas, de que forma surgem esses símbolos? Como eles passam a

ocupar um lugar de destaque hoje? Se observarmos os relatos dos moradores, como

também dos corretores que entrevistamos, veremos que essa relação simbólica,

surge desde a concepção do projeto, que por sua vez, cumpre as exigências dos

seus futuros habitantes. No material publicitário, há um grand

uito explorada. Esse apelo é muito importante e segundo o relato de

um dos corretores entrevistados,

a Natureza e os aspectos ambientais são muito fortes... é um fator muito importante, as pessoas gostam disso, buscam isso

(Flamínio, corretor da Teixeira&Holzmann, Londrina/PR.

Ago.2006)

Justamente com o intuito de identificar e induzir o público alvo, além

daquilo que essas pessoas buscam que o corretor d

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pesquisa minuc

l mercado consumidor. Segundo ele:

xpandir? Quem quer expandir? Qual é a camada social que uer ir pra lá? Quem busca? O que busca?

(Flamínio, corretor da Teixeira&Holzmann, Londrina/PR.

ste mais um serviço oferecido no seu pacote de

venda, sendo, portan

O “verde” passa a ser entendido como um símbolo, sendo recriada na forma de

ambientes bucólicos, por meio do paisagismo ou mesmo pela apropriação de

resquícios de áreas verdes, comercializada com expressão de uma “Natureza

exclusiva”.

iosa, feita por uma empresa especializada, contratada, cujo objetivo é

o de identificar um possíve

a gente faz uma pesquisa violenta, esse é o ponto inicial de tudo, nós não fazemos nada sem a pesquisa, mas nada! nós não compramos um alqueire[...] Qual é o público alvo? Qual é o público que tem condições de comprar da gente? Qual é a necessidade que a cidade tem de eq

Ago.2006.

Assim, relacionada às exigências dos futuros moradores está o poder

da propaganda, do marketing na divulgação do produto que potencializa desejos e

acaba efetivando a relação simbólica que se estabelece entre comprador e o produto

ofertado.

Com essa afirmação, o corretor parece indicar um determinado

público ou os possíveis compradores; vale destacar que o público alvo dos

empreendimentos é a classe média alta e alta, pessoas que podem se sujeitar a um

longo deslocamento até a área central, pois possuem automóvel e que podem pagar

pelo pacote oferecido.

Nessa perspectiva, os condomínios horizontais fechados se

apropriam do “verde”, fazendo de

to, compreendido como sinônimo de qualidade de vida e status.

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No entanto, apesar do destaque à qualidade de vida e às áreas

verdes, compreendemos esses espaços, enquanto jardins “carpintejados”4, como

assinala Tuan (1980

medida em que a

comunitário, como

caminhada, parques infantis.

ndo que as áreas “verdes”, como a mata é toda “maquiada”, ou seja,

artificialmente p

), já que se distanciam da idéia de “Natureza selvagem”, na

estes espaços são combinados equipamentos de lazer

piscinas, quadras poliesportivas, lagos artificiais, pistas de

Os destaques são os jardins e os grandes gramados,

preparada se

ara que a sua imagem corresponda às aspirações, aos anseios dos

seus moradores de uma Natureza livre de imperfeições e objeto de consumo.

O carpintejado4 Para Tuan (1980), há dois tipos de categorias de habitats, sendo o carpintejado e o não carpintejado.

se caracterizaria pela regularidade das linhas, ângulos tendo a cidade como representação. Já o não carpintejado traria a irregularidade como característica marcante, sendo atribuído a Natureza e ao campo.

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Figura 3: Piscina, área de lazer coletiva. Uma combinação de técnicas de paisagismo e elementos naturais. Fonte: Teixeira & Holzmann, [s.d]

Organização: Bortolo (2006).

Quanto à questão do consumo e comercialização dos signos,

Baudrillard (1995, p.150), aponta para o fato de que hoje, a relação entre signo e

mercadoria pode ser concebida como indissociável, ou seja, “[...] a mercadoria é

imediatamente produzida como signo, como valor/signo, e os signos como

mercadoria”.

É nessa direção que caminham os empreendimentos do grupo

Teixeira & Holzmann. O interessante é observar a forma como o apelo à Natureza,

ao “verde” é explorado nesses empreendimentos, sendo claramente identificados

enquanto mais um dos seus serviços oferecidos, elemento que agrega valor ao

empreendimento, sendo a alta valorização econômica incorporada aos lotes

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representativa do padrão social de seus moradores, realidade que apresenta como é

concebida a Natureza hoje, um bem restrito, exclusivo para poucos.

É por isso que Caldeira (2000), afirma que os “enclaves fortificados

conferem status”, ou melhor, representam a “construção de símbolos de status”. Para

a autora, este processo representa a elaboração de diferenças sociais, criando

assim, meios para a afirmação de distância e desigualdades sociais.

Na verdade, a idéia de exclusividade da Natureza a determinadas

populações, representa nada mais que uma relação de caráter dialético, estabelecida

entre indivíduos e bens simbólicos, já que cada indivíduo tende a lhe atribuir um

determinado valor, seja este sentimental, econômico, em maior ou menor nível.

Porém, é uma característica da classe média hoje buscar por qualidade de vida,

repre ão,

quantidade de áreas verdes

m símbolos de status. Essa elaboração é evidente nos anúncios

imobiliários (CA

sentada por fatores tais como segurança, o morar em uma casa, a localizaç

a .

Assim, quando analisamos os condomínios horizontais fechados,

constatamos que tais elementos exclusivos (muro, guarita, áreas verdes, câmeras...),

são envoltos por uma relação fortemente simbólica, que a estudiosa Caldeira se

refere à transformação dessa relação em [...] enclausuramento, isolamento, restrição

e vigilância e

LDEIRA, 2000, p. 259).

Contudo, a relação entre valorização simbólica e valorização

econômica se mostra inseparável ao atual movimento de redescoberta da Natureza,

pois, na medida em que ela se apresenta como um bem escasso, no qual

automaticamente lhe são atribuídos valores sentimentais, subjetivos, hoje

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determinantes de um valor econômico, muitas vezes também se determina os

indivíduos ou aqueles que poderão usufruí-la.

Inseparável também é a relação entre a crescente comercialização

de bens simbólicos e os meios de comunicação. A mídia é a grande alavanca nesse

processo, pois a ela compete ligar a valorização econômica à valorização simbólica,

a fim de atingir uma ampla circulação dos produtos. O objetivo da propaganda é

seduzir, por iss

hoje o melhor lugar para se habitar, sensações

desencadeadas

“paraíso terrenos”, como apontado por Tuan

(1980, p.286), p

sonhos da humanidade de um mundo ideal: a floresta, a praia, o vale

o, aqui, o valor simbólico da Natureza é claramente identificado, pois

neste momento, valores reais se juntam a valores subjetivos, que somados são

vendidos pelo marketing.

Tais valores subjetivos podem ser entendidos, enquanto uma relação

topofílica estabelecida entre as pessoas com o meio material oferecido pelos

condomínios, Tuan (1980). A esta relação topofílica se atribui a idéia de que os

condomínios horizontais são

muitas vezes pelas amenidades encontradas, principalmente pelas

áreas verdes. Assim, “[...] os espaços são comercializados por sua simbologia e são

percebidos não pelo que realmente são, mas pela imagem simbólica que lhe fora

atribuída no Marketing” (DACANAL, 2004, p. 84).

Diante da imagem simbólica atribuída pelo marketing, tais

empreendimentos passam a representar

ois,

Certos ambientes naturais têm figurado de maneira proeminente os

e a ilha. A construção do mundo ideal é uma questão de remover os defeitos do mundo real. A geografia fornece necessariamente o conteúdo do sentimento topofílico. Os paraísos têm uma certa semelhança familiar porque os excessos da geografia (muito quente

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100

ou muito frio, muito úmido ou muito seco) são removidos. Em todos

eles abundam as plantas e animais úteis e amigos do homem.

E assim, ao analisarmos a representatividade desses símbolos,

concluímos que eles são um misto de m

é potencializada pelos desejos dos seus futuros compradores, já que, foram

condomínios para com a sociedade.

falamos da economia dos bens simbólicos, como apontado por Bourdieu (2003),

pois, sem dúvida ess

produto ofertado pelos condomínios fechados. Assim, essa relação dual se mostra

e a realidade objetiva” (Bourdieu, 2003, p.161), que atingimos a lógica de uso dos

com exclusivismo vendido a todo o moment

do resgate e proximidade da Natureza. Todos são valores subjetivos que determinam

“serviços” já remeteriam um certo status,

que também, está em

Apoia

aquele:

obilização pela propaganda, que por sua vez

devidamente pensados para que uma determinada classe social deseje pertencer

àquele lugar, tornando então evidente o “poder simbólico” do “verde” nos

Mas, importante é observarmos a dualidade das ações quando

a dualidade do qual o autor fala, está intimamente relacionada a

esse movimento de revalorização da Natureza, e aqui, como um componente do

indissociável, na medida em que é na contradição posta entre “[...] verdade subjetiva

bens simbólicos.

Pensando na economia das trocas simbólicas, ou na relação

simbólica da Natureza nos condomínios fechados, elas se confundem com distinção,

o, ligado a um ideal de qualidade de vida,

o seu valor econômico (objetivo). Esses

butido ao empreendimento imobiliário.

ndo-nos no pensamento de Bourdieu, poder simbólico seria

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101

[...] poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo,

ação sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que

econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce

ntável, ecologicamente correto, vindo assim de encontro com aquilo

que já discuti

dos recursos naturais.

, muito antes de prezarem realmente pela questão ambiental, isto é, a

apermite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou

se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário (BOURDIEU, 1989, p.14).

Caracteriza-se assim, o “poder simbólico” do “verde” nos

condomínios horizontais fechados, um poder invisível, mas que tem proporcionado

um silencioso movimento de expansão urbana ligada a valorização subjetiva de

aspectos ambientais.

5.1 DISCURSO AMBIENTAL E A RELAÇÃO SIMBÓLICA

Diante da valorização simbólica atribuída à Natureza, ao “verde”,

destacam-se as estratégias de marketing que trazem embutidas a questão ambiental

como mais um atrativo, pois, vincula-se dessa forma todo um discurso de

condomínio suste

mos nos capítulos anteriores, tendo a problemática ambiental

incorporada ao produto e ofertada como um produto que agrega qualidade de vida.

Tal valorização faz parte daquilo que denominamos de redescoberta

da Natureza, dada a partir da incorporação de uma ideologia do “verde” pela

sociedade contemporânea, conforme já explicitado e que agora passa a fazer parte

dos desejos das pessoas em meio à idéia de risco e escassez

No entanto, esses empreendimentos, ao se remeterem a um ideal de

Natureza

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102

necessidade de cons

a qualidade de vida

diferencial para o se

lote.

rva ambiental. Veja o que o corretor diz sobre a mata de um

os loteamentos do grupo Teixeira & Holzmann:

erva ambiental, eu guardei pra qualidade mesmo, pra quem vai morar!

o

diferencial com

(Flamínio, corretor de imóveis, Londrina/PR. Agost.2006)

ervação de ambientes naturais e mesmo uma preocupação com

da população no espaço urbano, têm nessa problemática um

u negócio, diferencial esse que está embutido no preço final do

Assim, a preocupação com a escassez está adjacente e

intrinsecamente impregnada de interesses comerciais, o que é caracterizado mais

adiante na fala do corretor, quando ele indica sem qualquer restrição, o real objetivo

de se manter uma rese

d

[...] não que eu guardei porque é uma res

(Flamínio, corretor da Teixeira & Holzmann, Londrina/PR. Ago. 2006).

Ou seja, as palavras do corretor são bem claras; aqui, a valorização

de áreas verdes vai de encontro com a problemática ambiental veiculada, tendo as

questões subjetivas, legais, todas atreladas a um interesse mercadológico. A

incorporação da problemática ambiental fica mais evidente, quando ele relaciona a

mata a uma necessidade futura da sociedade, pois, segundo ele “o “verde” é

relação aos outros condomínios” e ainda completando diz,

[...] um diferencial e grande, porque daqui a 10 anos quem vai ter uma mata, vai morar no meio de uma mata, vai ter uma mata no meio do condomínio?

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103

Observe então, a forma com que está embutida a questão ambiental

no discurso do empreendimento, justamente se ligando a importância de se ter uma

mata no seu quintal, referindo-se indiretamente à idéia de risco e escassez

subentendidos a um futuro próximo. É nesse sentido, que entendemos a constituição

de empreendim

lo que Baudrillard, entende por

ideologia:

edução e de abstração do aterial simbólico numa forma – mas esta abstracção redutora dá-se

im(transcendente), como representação de consciência (sign(BAUDRILLARD, 1995, p.147).

Dessa forma, o discurso ambiental é relacionado a todos os

empreendimentos do grupo Teixeira & Holzmann. Nesse sentido, a construção de

um lago teria a função de filtro para a água da chuva, além do que, o esgoto do

condomínio é tratado por um sistema ecológico por zona de raízes sistema esse

que caracteriza também uma preocupação com os fundos de vale que, apesar de

serem de domínio público, também foram incorporadas como área de proteção.

Soma

verde dos condomín média de 250m2 por habitante, sendo que a

média mundial recomendad

entos com o apelo ambiental, como sendo a materialização de uma

ideologia do “verde”, estabelecida e veiculada hoje, cujos principais agentes seriam

os movimentos ambientalistas e o papel fundamental da mídia, como já relatado

anteriormente.

Tal compreensão passa por aqui

A ideologia é, de facto, todo o processo de rm

ediatamente como valor (autónomo), como conteúdo ificado)

5

dos a todos esses elementos, está a ampla extensão da área

ios, tendo uma

a pela ONU é de 20m2, conforme veiculado no Royal

5 Ver anexo 1

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104

News, veículo de informação e propaganda da empresa. Vale lembrar que todos os

entrevistados relacionaram qualidade de vida às áreas verdes, o que de certo modo,

expressa um pouco daquilo que representam esses locais em termos de qualidade

ambiental6.

Foto 3: Reserva ambiental e a proximidade dos equipamentos de lazer. Valorização do “verde”.

Fonte: Broniera ( 2006).

problemas psicológicos da população; ação de controle sobre a proliferação de vetores de doenças, particularmente os insetos, pois fornece um ambiente adequado para o desenvolvimento dos predadores (pássaros); favorece a infiltração das águas fluviais evitando as enchentes e

a recarga do lençol freático”.

6 Segundo a OMS as áreas verdes proporcionam um “aumento da umidade relativa do ar, reduzindo as doenças respiratórias; redução da poluição sonora; melhoria da temperatura ambiente; absorção dos gases expedidos pelos veículos (CO2), reduzindo a poluição do ar; efeito positivo no comportamento humano, sendo que as cidades mais arborizadas têm menores índices de violência e

proporcionando

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Todos esses fatores, ainda segundo o mesmo informante, fazem

desses empreendimentos, importantes instrumentos para que,

os parâmetros e conceitos, propostos pela Teixeira & Holzmann e acatadas pelos poderes públicos, trazem novamente a Londrina à vanguarda da consciência de preservação do meio ambiente (TEIXEIRA & HOLZMANN).

Contudo, tal afirmação pode ser também entendida a partir da “teoria

da ação”, proposta por Bourdieu (2003). Para ele, essa teoria,

[...] implica em dizer que a maior parte das ações humanas tem por base algo diferente da intenção, isto é, disposições adquiridas que fazem com que a ação possa e deva ser interpretada como orientada em direção a tal ou qual fim, sem que se possa, entretanto, dizer que ela tenha por princípio a busca consciente desse objetivo (p.164).

Outro caminho para a compreensão dessa dualidade é dado com o

uso de eufemismos, ou seja, com uma figura de linguagem de recusa, mas que

implicitamente traz o real objetivo da troca, figura muito utilizada pela indústria do

marketing, justamente para camuflar informações ou mesmo persuadir as pessoas.

Para Bourdieu (2003), essa seria uma forma de conformação, de aceitação da

dualidade impregnada aos objetos.

Temos então caracterizados, os mecanismos para que as propostas

dos e

que, embasados nesse ideal de qualidade de vida e qualidade ambiental, têm

alavancando a constituição de empreendimentos com tais discursos.

A importância da questão ambiental também é ressaltada pelos

mpreendimentos sejam efetivadas e assimiladas pelos seus futuros moradores

moradores, assim, quando perguntados se o discurso ambiental pesou na hora da

compra, Maríza, chama a atenção para o pacote como um todo, para ela:

Acho que pesa um pouco sim, acho que entra nesse pacote sabe, acho que é um pouco de tudo, isso também, pesou sim!

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(Mariza, 40, professora, Londrina/PR. Set.2006).

Para Solange, outra moradora, essa questão teve um peso grande

na hora da compra d

o ambiental eu sou naturalista né, então so tem um peso muito forte pra mim, a gente procura muito não

ndrina/PR. Set.2006).

Ela a

para o lixo produzido

um outro projeto vo s

projetos estão r

quando perguntado sobre os benefícios de se

morar próximo a

vai explicar m isso é muito

importante, eu assim, acho que não tem felicidade maior né. Esses

apartamento eu tinha que sair procurando planta pra poder fazer o

da manhã, e ir um dia

o lote,

Contou sim! Quanto à questãiscontribuir pra nada que agrida a Natureza

(Solange, 51, corretora de imóveis, Lo

inda chama a atenção para os projetos ambientais voltados

no condomínio, como a separação do lixo reciclável, além de

ltado para a construção, chamado de obra limpa. Todos o

elacionados a uma preocupação ambiental interna do condomínio.

Já para Fernanda, 35, a questão ambiental liga-se à qualidade de

vida das suas filhas, com idades de 10 e 15 anos. Para ela, morar no condomínio

representa a garantia de um padrão de vida que ela na sua infância pôde ter

morando em casa, com um amplo quintal, em contato com áreas verdes, animais,

em um ambiente saudável. Assim,

áreas verdes, diz ela:

Eu falo que não tem alegria maior do que eu ver as minhas filhas poderem ter contato com terra, com grama, com planta, com bicho, a alegria delas de ver uma aranha colorida andando, mãe vem ver! Um grilo gordo e aí a cachorra vem e come o grilo, daí você porque a cachorro come o grilo. Então pra mi

dias mesmo elas fizeram um trabalho na escola, quando morava no

trabalho, hoje não, eu saio e tenho no quintal da minha casa planta, raiz, casca de árvore, eu tenho tudo por aqui, coisa que eu não tinha e daí!? A gente até deu risada porque eram sete e meiaeu saí e peguei, se fosse há um ano atrás eu tinha quantes, sair ir procurando na vizinhança entendeu!? (Fernanda, 35, enfermeira, Londrina/PR. Set.2006).

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Foto 4: O conFonte: Bronie

todo esse sistema simbólico se efetive é

preciso que ele:

Porta

efetivação de tal sist

tato com ambientes naturais e a retomada de velhos hábitos de infância. ra (2006).

Conclui-se que, para a efetivação de um ato simbólico, aqui

relacionado a esse discurso ambiental nos condomínios é preciso que haja a

aceitação de ambos os lados, sendo, portanto, um ato de “conhecimento e

reconhecimento” (BOURDIEU, 2003, p.168).

Dessa forma, para que

[...] seja sustentado por toda uma estrutura social, logo, pelas estruturas mentais e disposições produzidas por essa estrutura social; é preciso que exista um mercado para as ações simbólicas conformes, que haja recompensas, lucros simbólicos, com freqüência conversíveis em lucros materiais [...] (BOURDIEU, 2003, p. 169). nto, todas essas condições formariam o palco propício para a

ema na nossa sociedade capitalista, isto é, todos esses fatores

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ligados a um grande objetivo, que é o lucro, sendo este o resultado do

reconhecimento dessa população às propostas dos condomínios.

5.2 O RECONHECIMENTO

Como já dito anteriormente, um ato simbólico se caracteriza por um

movimento de “conhecimento e reconhecimento”, sendo assim, ninguém melhor que

os próprios habitantes dos condomínios para demonstrar de que forma é

compreendida tal relação simbólica da Natureza nos condomínios.

Um elemento importante a ser ressaltado e que caracteriza bem essa

dema cam

apreender os

ssibilita a sua criação.

anos, residente em São Paulo, Regina Toledo, o sucesso dos

empreendimentos es

uma relação mate

HOLZMANN).

O forte apelo pelos produtos da Teixeira & Holzmann quanto à Natureza também foram revelados nas pesquisas. “mais do que

nda são as pesquisas de geomarketing, quantitativas e qualitativas que bus

desejos de possíveis futuros habitantes e que também revelam

tendências. É justamente nesse ponto, que o ato de reconhecimento é materializado

e compreendido, como base para o sucesso destes empreendimentos, entre outras

palavras, é a lei da oferta e da procura que po

Segundo informações da consultora da empresa que atua no setor

há mais de 30

tá ligado a oferecer exatamente o que o mercado pede, “[...]

mática: adequação da oferta à demanda” (TEIXEIRA &

Quanto à questão ambiental, ela é levantada pelos entrevistados nas

pesquisas, e, de acordo com o informativo Royal News da Teixeira & Holzmann,

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nunca o londrinense sabe entender que é importante preservar os

condomínios”. Com relação aos lagos marca Royal Golf como no Royal Park representa a materializa

recursos naturais, daí a necessidade de uma mata no interior dos registrada tanto no

ção de um símbolo da cidade, o Lago Igapó. “Mas o consumidor entende que o lago tem inclusive uma função climática”, explica a pesquisadora7.

, quando perguntado a alguns moradores, a razão pela

ual escolheram morar em um condomínio observamos que, a idéia de qualidade de

vida está atrela

foi pela área que tem de lazer, esse espaço, tem realmente alguns reza, aquela mata

maravilhosa lá na entrada, o lago, a qualidade que ia trazer pra nós

ficando desassossegada e eu fui aspirando pela tranqüilidade, pelo silencio e tudo isso aqui me encantou!

Sendo assim

q

da nos discursos dos moradores, tendo o “verde” como um elemento

fundamental. Segundo observações de um dos moradores desse condomínio:

lugares que eles preservaram realmente a Natu

todos esses itens, qualidade de vida

(Mariza, professora, Londrina/PR.Set.2006).

Já Solange, 51, corretora de imóveis, moradora do condomínio há

um ano e meio, a proposta do empreendimento foi muito importante para a compra

do lote, pois, diante do ambiente caótico da cidade, a proximidade de ambientes

naturais lhe proporcionaria um ambiente mais saudável; por isso,

foi pela proposta do sussego, e pela proposta do condomínio que me encantou muito, o lago, o fato da gente poder caminhar a noite e a qualquer horário do dia, porque a gente tem segurança também né, e eu estou muito sensível ao barulho, eu morei muito no centro de Londrina, eu moro aqui há 32 anos e nós sempre moramos próximos da Higienópolis, e eu peguei todo o barulho da Higienópolis e de todos os barzinhos da madrugada sabe, os caminhões de lixeiro de madrugada em todas as ruas ao redor da minha quadra, então eu

(Solange, 51, corretora de imóveis, Londrina/PR. Set.2006).

7 Vale lembrar que o foldepois todos os empreendim

r corresponde a um período anterior a criação do Royal Tennis, Forest I e II, entos possuem estes mesmos atrativos.

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Apes

apartamento localiza

Santos, do condomí

padrão, aconte

vida

o apartamento. Assim, quando perguntada sobre a importância de se morar

próxima a áreas verd

undamental. É fundamental pra inha saúde, física, emocional, tudo, pra mim é fundamental! eu não

conseguiidéia eu cheguei a co

mata, já que para

ela o “verde” foi sem

ar disso, como pode ser analisado acima, a sua mudança de um

do na região central, na rua Pará entre as ruas Belo Horizonte e

nio Costa do Caribe, área conhecida pelos edifícios de alto

ce principalmente por motivos de saúde, já que ela passa a sofrer

com vários problemas, como disritmia, gastrite, etc. Por isso, morar bem passou a

ser fundamental para a sua vida. Podemos então, relacionar nesse caso os

problemas de saúde, a relação topofóbica estabelecida por ela para com a sua

n

es, ela diz:

Em termos de qualidade de vida é fmestava mais ndo morar lá no apartamento, para você ter uma

mprar aqueles plugues de proteção auditiva pra poder morar no centro de Londrina.

(Solange, 51, corretora de imóveis, Londrina/PR. Set.2006).

Contudo, a relação topofílica estabelecida por ela para com o

condomínio, teve como suporte alguns elementos como o lago, a

dúvida o diferencial, pois,

o lago encantou a gente de uma tal maneira, tudo aqui eu não sei dizer o que mais me encantou, o verde foi muito forte!

(Solange, 51, corretora de imóveis, Londrina/PR. Set.2006).

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Foto 5: Vista para o que expressa bem o poder do “verde” contido nos empr

ta o seu diferencial com relação a

outros empreendime

...] cam

Todo mundo deu segurança, todo mundo deu de lazer, mas e daí? Tem verde!

(Flamínio, corretor da Teixeira&Holzmann, Londrina/PR. Ago.2006).

A importância desse elemento fica caracterizada nas palavras de

outra entrevistada, a Fernanda, 35, enfermeira:

lago com pista de caminhada, paisagemeendimentos imobiliários. Fonte: Broniera (2006).

O destaque para o “verde” e a sua importância na hora da compra

pode ser explicitado, quando o corretor da Teixeira & Holzmann discute a questão da

concorrência entre os condomínios e apresen

ntos. De acordo com ele o “verde” seria,

[ o maior...o primeiro, o diferencial muito forte, na hora que o arada fica não sei se pego ali ou aqui, aí ele faz essa

comparação, o verde!área

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Na verdade, a gente nem escolheu, a gente tinha terreno num outro condomínio e por acaso a gente descobriu esse aqui, e a gente gostou realmente por causa da área verde que ele oferece... a segurança das crianças...

(Fernanda, 35, enfremeira, Londrina/PR. Set.2006).

A reação de Fernanda nos remete ao que Tuan (1980, p.110) indica

como o despertar para a beleza ambiental, para ele,

O despertar profundo para a beleza ambiental, normalmente acontece como uma revelação repentina. Este despertar não depende muito de opiniões alheias e também em grande parte independe do caráter do meio ambiente. As cenas simples e mesmo as pouco atrativas podem revelar aspectos que antes passavam desapercebidos e este novo insight na realidade é, às vezes, experienciado como beleza.

Por isso, para Fernanda o “verde” foi o determinante; além disso, ao

mencionar um outro condomínio ela reafirma o diferencial do grupo com relação aos

outro

Foi, porque o meu sonho na verdade era comprar no Terras de Santana, quando eu conheci o Terras de Santana eu me decepcionei,

quando eu conheci aqui, que vi a proposta da Teixeira & Holzmann

os amigos de outro

condomínio de renom

T

, p.170),

s empreendimentos,

por que é muito cimento, o Terra de Santana é puro cimento, daí

daí a gente ficou apaixonada pelo lugar, aí nós construímos aqui.

(Fernanda, 35, enfermeira, Londrina/PR. Set.2006).

Completando ainda, ela indica que vári

e nacional, o Alphaville, estão se transferindo para o seu:

foram três pessoas que eu conheci já, que estão vendendo lá para comprar aqui, no nosso condomínio, porque gosta muito da mata, do

go, daquilo que ele oferece la

(Fernanda, 35, enfermeira, Londrina/ PR. Set.2006).

odos esses relatos nos sugerem pensar o “verde”, a Natureza hoje,

como um capital simbólico, já que para Bourdieu (2003

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[...] o capital simbólico é uma propriedade qualquer (...) que percebida pelos agentes sociais dotados das categorias de percepção e de avaliação que lhes permitem percebê-la, conhecê-la, torna-se simbolicamente eficiente, como uma verdadeira força mágica: uma

ropriedade que, por responder às “expectativas coletivas”, socialmente cde ação a distancia [...]

Assim, o movimento de redescobe

representa essa expe

em torno principal

anteriormente.

Na verdade, é a partir da const

a representar desejos e necessidades

para a sociedade, cria-se uma série de

vinculadas principalm

Portan

dessa proposta do grupo Teixeira &

pensando nesse

volvidas na injunção que lhe é dirigida OURDIEU, 2003, p.171).

Justifica-se assim, o sucesso dos empreendimentos do grupo, pois

estes procuram relacionar ideologia, afetividade, a questões relevantes para a

ponstituídas, em relação às crenças, exerce uma espécie

rta da Natureza, dado na sociedade

atual e dessa forma materializado na proposta do grupo Teixeira & Holzmann,

ctativa coletiva posta pelo autor, fruto de um simbolismo criado

mente de uma ideologia do “verde”, como já discutido

ituição de uma ideologia do “verde”

que nós podemos pensar na efetivação da Natureza, como um bem simbólico, pois,

na medida em que tais elementos passam

expectativas, uma série de crenças

ente à questão ambiental.

to, poderíamos então justificar a aceitação e adesão imediata

Holzmann e o seu sucesso em Londrina,

processo, apoiando-nos na visão analítica e filosófica que Bourdieu

faz referindo-se como,

[...] uma submissão dóxica8 às injunções do mundo, obtida quando as estruturas mentais daquele a quem se dirige a injunção, estão de acordo com as estruturas en(B

8 Significado de glória, crença.

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114

sociedade atual, no

em realidades. É

simbólicos, pois a ló

“aquele que responde às expectativas coletivas, que, sem qualquer cálculo, ajusta-se

à problemática ambiental e a disseminação de uma

ciais constituídos, em seus modos de

de Londrina, caracterizando a região sul-

sudoeste como uma área “nobre”, cu

empreendimentos im

que fazem investimentos imobiliários com de infra-estrutura

caso, a qualidade de vida, transformando sonhos e aspirações

dessa forma que se estabelece todo um mercado de bens

gica desse mercado tem a sua base relacionada, sobretudo, a,

de imediato às exigências inscritas em uma situação, tira todo o proveito do mercado

de bens simbólicos” (BOURDIEU, 2003, p.171).

Por isso, relacionado à solução de problemas encontrados nas áreas

centrais, onde o barulho, o trânsito e a falta de amenidades estabelecem um

ambiente caótico, somado

ideologia do “verde”, esses empreendimentos adquirem sustentação e toda uma

lógica de comercialização, envolta por anseios e desejos da sociedade.

Portanto, a idéia de capital simbólico, pressupõe nas expressões

desse autor,

[...] a existência de agentes sopensar, de tal modo que conheçam e reconheçam o que lhes é proposto, e creiam nisso, isto é, em certos casos, rendam-lhe obediência e submissão (BOURDIEU, 2003, p.173).

O sucesso dos empreendimentos da Teixeira & Holzmann tem se

materializado e ampliado no espaço urbano

ja valorização tem atraído outros

obiliários não só da cidade, como também de outras cidades

grandes investimentos

atrelados ao poder de persuasão pela estratégia do marketing.

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115

preocupação e importância atribuída aos ambientes naturais e sua redescoberta nas

cidades, pela ação de empreendimentos imobiliár

5.3 EXPANSÃO URBANA E A IMPOSIÇÃO ALIADA AO DESEJO DO “VERDE”

Partindo das questões levantadas anteriormente, diante da

ios, cujo produto principal é a oferta

criados, chamamos a atenção para a expansão urbana ocorrida na área sudoeste de

ento, como um símbolo na sociedade atual, tende a

alavancar os empr

naturais, de tal form o inerente aos

domínios horizontais

chados nessa área. No entanto, ressalta-se nesses empreendimentos o “verde”

omo o carro chefe das suas vendas, relacionando-o sempre ao tamanho dos lotes,

de lotes acompanhada de qualificativos do “verde”, a partir da apropriação de

resquícios naturais, ou mesmo com a criação de ambientes bucolicamente re

Londrina, cujas características particulares redefinem o crescimento do espaço

urbano.

Buscamos, portanto, demonstrar como o movimento de redescoberta

da Natureza e o seu estabelecim

eendimentos imobiliários contidos no apelo aos ambientes

a que a importância do “verde” passa a ser alg

condomínios fechados, daí então, a idéia de “imposição”, misturada aos desejos dos

compradores.

Em Londrina, esse fato tem configurado à cidade recentemente uma

expansão urbana com a rápida incorporação de áreas rurais a malha urbana,

principalmente na sua porção sudoeste. É claro que a essa expansão somam-se

outros fatores, que contribuíram para o estabelecimento de con

fe

c

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as amplas áreas de lazer jardinadas, lagos artificiais e resquícios ou fragmentos de

mata nativa.

so, outros fatores contribuíram para o estabelecimento de

loteamentos nessa área, hoje em franca expansão. Assim, vale destacar que

população distribuída na área urbana.

Apesar dis

Londrina possui aproximadamente 500.000 mil habitantes (IBGE, 2000). A tabela

abaixo demonstra o rápido processo de urbanização da cidade de Londrina,

principalmente a partir de 1970, quando a população urbana já ultrapassa os 70% da

população total, em menos de 40 anos da sua instalação. Hoje, são quase 97% da

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A dimensão da população urbana de Londrina já a caracteriza como

uma metrópole regional de expressão nacional, cuja externalidade nos serviços

urbanos do terc

, a partir do início da década 1990. Esse

empreendimento foi o dinamizador dessa região, atraindo vários tipos de

investimentos, desde o crescimento vertical para residências, como também o

parcelamento da área rural em forma de condomínios de chácaras e para lazer.

Essas construções em pouco mais de 10 anos, trouxeram uma revitalização para a

área, atraindo outros investimentos, como a construção de escolas de ensino

superior, hotéis de alto nível.

Assim, a construção do Shopping Catuaí deu uma nova dinâmica

àquela área, fato que remete a ação dos “promotores imobiliários”, referidos por

Corrêa (2004), que identifica nesses atores e nas suas estratégias como tendo forte

rebatimento espacial, na medida em que as ações estão sempre vinculadas ao

elevado preço da terra e ao status de alto nível do bairro, à garantia de

acessibilidade, a eficiência e segurança dos meios de transporte, às amenidades

naturais ou socialmente criadas, ao esgotamento dos terrenos para a construção em

dadas áreas e a criação de novas áreas nobres, de grande valor comercial.

iário superior, demonstra a sua potencialidade social e econômica.

Nosso recorte temporal pautou-se entre 1990 a 2004, período no qual foram

dinamizados alguns fatores que direcionaram a expansão urbana na parte sudoeste

da cidade, porção onde se localiza o objeto de estudo.

Um dos elementos catalisadores do crescimento urbano dessa área,

em direção ao setor sudoeste da cidade, foi a construção do Shopping Center

Catuaí, pelo capital de origem local

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Entre outros fatores, pretendemos destacar o aspecto da ilegalidade

com que o processo de parcelamento em condomínios horizontais fechados tem

crescido na cidade de Londrina (no presente trabalho não trataremos da questão

formal da constituição dos condomínios, objeto de um outro trabalho que estamos

elaborando). Muitas vezes, são lançados condomínios de chácaras ou destinados às

residências, fora do perímetro urbano estabelecido pelo poder público local.

Há muitos conflitos e tensões entre os poderes público e privado, que

entram no jogo da relação, legalização e formas de implantação dos condomínios,

onde, entre pareceres dados pelo IAP (Instituto Ambiental do Paraná), a aprovação

desses condomínios inicialmente como loteamentos, pela prefeitura local, como

também, as pressões exercidas pelo poder privado junto aos poderes estabelecidos,

ampliam-se os perímetros urbanos.

No mapa abaixo, podemos observar o avanço da malha urbana na

porção sudoeste e a proximidade do shopping Catuaí, um dos fatores dinamizadores

da área.

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119

Mapa 1. Shopping Catuaí e Condomínios Fechados.

Pode-se destacar então a lei 7.485/98, cujo capítulo II artigos 12 e 13

estabelecem essa área, como zona residencial de baixa densidade populacional,

com o tamanho mínimo dos lotes de 500 m², ou seja, a área se restringiu a

residências de alto padrão. Outro fator importante é o fato de que com a expansão

do perímetro urbano, alguns resquícios de mata foram englobados aos

empreendimentos agregando valor aos mesmos. Assim, tais fatores propiciaram as

condições necessárias para o sucesso desse tipo de empreendimento na porção

sudoeste da cidade.

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120

A expansão urbana pautada nos condomínios horizontais fechados

nessa área tem sua maior expressão a partir de 2000, principalmente com os

empreendimentos do grupo Teixeira & Holzmann, que, apenas entre 2000 e 2004

lançou 4 novos empreendimentos, com destaque principal ao apelo a qualidade de

vida ligado às áreas verdes, mediante a construção de lagos artificiais, arborização e

jardins, elementos que se tornam com a publicidade mercadorias consumíveis.

Assim, a “imposição” do “verde” por meio dos condomínios

horizontais fechados tem como instrumentos imprescindíveis a publicidade e o

marketing, lançados sobre estes empreendimentos, pois eles têm o poder de

manipular desejos e gostos a partir de imagens, assunto explorado por David Harvey

na sua obra A condição pós-moderna:

[...] a publicidade e as imagens da mídia passaram a ter um papel muito mais integrador nas práticas culturais, tendo assumido agora uma importância muito maior na dinâmica do crescimento do capitalismo. Além disso, a publicidade já não parte da idéia de informar ou promover no sentido comum, voltando-se cada vez mais para a manipulação de desejos e gostos mediante imagens que

podem ou não ter relação com o produto vendido [...] (HARVEY,1992, p. 259).

Ressalta-se, portanto, o caráter simbólico atribuído ao “verde” nesse

processo, pois, com a ajuda da publicidade, esses empreendimentos exercem aquilo

que Bourdieu (1989, p.7-8) classificou de “poder simbólico”, poder invisível, no qual

“[...] só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que

lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”. Ou seja, a materialização dos

empreendimentos só é dada porque há a concordância dessa subjetividade, daí a

aceitação do mercado e o sucesso desse tipo de empreendimento.

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É justamente apoiando-se em um poder invisível, que a propaganda

se apresenta como um mecanismo para a efetivação do “poder simbólico” do “verde”

nos condomínios fechados, já que ela tem o poder de mobilizar sentimentos, desejos

que passam a ser apreendidos como verdades.

Então, a “imposição” do “verde” nos condomínios fechados pode ser

caracterizada a partir do ato de reconhecimento, representado pelo sucesso dos

empreendiment

um trabalho anterior, freqüentemente invisível e, em todo o caso, esquecido, recalcado, tenha produzido, naqueles

É ne

manipuladores e pro

“verde” nos condomínios fechados, t

cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de .11).

os e com a conseqüente expansão urbana desencadeada na porção

sudoeste da cidade. Portanto, o processo no qual denominamos de “imposição do

verde” tem sua lógica estabelecida com as palavras de Bourdieu (2003, p.170-171),

na eficácia de uma força mágica, invisível, sendo que, para a sua efetivação,

[...] é preciso que

submetidos ao ato de imposição, de injunção, as disposições necessárias para que eles tenham a sensação de ter de obedecer sem sequer se colocar a questão da obediência. sse sentido que o marketing e a propaganda agem como

pagadores de um ideal de qualidade de vida relacionado ao

endo como conseqüência, o processo de

expansão urbana atribuída a esses empreendimentos, cujo apelo ambiental alavanca

suas vendas. Assim, não só discretamente, mas, sutilmente, o processo de

“imposição” do “verde” é efetivamente concretizado. Comungamos com Bourdieu

quando ele menciona a legitimação da dominação pelo poder simbólico:

É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de conhecimentos que os sistemas simbólicos

legitimação da dominação [...] (BOURDIEU, 1989, p

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Assim, a expansão urbana atribuída aos empreendimentos dessa

área, representa a efetivação do discurso relacionado a ambientes naturais, que

como vimos, anteriormente, tem seu alicerce fundado no movimento de redescoberta

da “Natureza” principalmente com a idéia de escassez, desse modo são criados

novos desejos, novas necessidades (HARVEY, 1992).

Observamos então que, em um intervalo de 9 anos foram lançados

na porção sudoeste da cidade, mais precisamente na gleba cafezal, 7 novos

empreendimentos tendo o “verde” como principal destaque, na comercialização,

dentre esses, só a Teixeira & Holzmann lançou 5, conforme a tabela a seguir:

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Pode-se ressaltar que, pressionado pela expansão urbana que se

dirigia no sentido sul-sudoeste desde a década de 1990, por ações de empresas

privadas, como construtoras, loteadores e incorporadores, o poder público viabiliza

também investimentos através de infraestruturas necessárias como a abertura de

novas vias de circulação, serviços de água e luz e um incipiente processo de

saneamento bá

e vida

está fortemente vinculado ao marketing e à redescoberta da Natureza como uma

composição e complemento atrelado à oferta de um novo estilo de morar, como

também, capitaneada pelo marketing que, nas suas estratégias age como se

oferecesse uma “nova” qualidade de vida.

Desde meados da década de 1990, premido pela necessidade da

realização de um Plano Diretor conforme a constituição de 1988, um grupo de

técnicos e docentes da Universidade Estadual de Londrina, passa a fazer

levantamentos e estudos, fazendo um diagnóstico das condições de expansão do

tecido urbano de Londrina.

Esses estudos apontaram a região sul como uma área constituída de

diferentes conteúdos sociais, como também uma área fragmentada, pela forma de

parcelamento e apropriação por diferentes camadas sociais. Tendo em vista que

essa região estava em franco processo de reorganização espacial, uma das

características prementes foi a ampliação do perímetro urbano de Londrina,

sico, viabilizando empreendimentos de várias naturezas nessa

região.

Portanto, o poder público torna-se um importante coadjuvante na

efetivação dessa região como um local de morada diferenciada, cujo estilo d

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transformando

visando criar condições de realização e reprodução da sociedade capitalista, isto é, condições que viabilizem o processo de acumulação e a reprodução das classes sociais e suas frações

ado, e que sem dúvida passa pela

compreensão d

ssez que tal reconhecimento se materializa.

grandes faixas rurais desse entorno em áreas de expansão urbana,

tendo em vista as tendências já verificadas por esse estudo, ou seja, o intenso

parcelamento e incorporação de parte das glebas rurais em áreas urbanas.

Corrêa (2004) faz a seguinte análise com relação à participação do

Estado nesse processo:

A atuação do estado se faz, fundamentalmente e em última análise,

(CORRÊA, 2004, p.26).

Por isso, a “imposição” do “verde” veiculada pela publicidade e

efetivada com a rápida expansão urbana atribuída à porção sudoeste de Londrina,

pode ser justificada pelo valor simbólico atribuído aos ambientes naturais.

Todos esses fatores exprimem de que maneira o apelo dos

condomínios fechados pôde ser efetiv

a Natureza, apresentada como um símbolo, sinônimo de distinção e

de qualidade de vida. Porém, vale destacar o papel dos movimentos ambientalistas

na propagação de uma ideologia do “verde”, uma das bases para o estabelecimento

dessa relação simbólica dada pela sociedade atual para com a Natureza, já que é a

partir da idéia de risco e esca

Apesar disso, constatou-se que a materialização dessa ideologia

muito antes de prezar pela problemática ambiental, e que, portanto, diz respeito a

toda a população, é fruto de uma ação individualizada e consumista, sendo que a

questão ambiental, o “verde”, é apresentado enquanto exclusividades no espaço

urbano de Londrina, cujo resultado é a distinção social, dada a partir da incorporação

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do “verde” objetivando a valorização imobiliária e, como conseqüência tem-se a

configuração de uma cidade fragmentada.

A compreensão da relação simbólica do “verde” nos condomínios

fechados indica

bem aquilo que a Natureza, o “verde”, representam para a

nossa sociedade. U

propaganda e que in

nova vida nos c que sugere ambientes urbanos

fragmentados,

es, novos

símbolos, cuja

a lógica de reprodução capitalista no qual estamos inseridos. Nossos

entrevistados exprimem

m misto de sonhos e desejos pessoais inflamados pela

dicam uma nova e distinta relação entre a vida na cidade e a

ndomínios, realidadeo

com diferentes conteúdos, tanto do ponto de vista social, como

cultural e econômico, onde a Natureza se apresenta como um componente não de

forma integrada que seria desejável, mas, transfigurada como novos valor

semiótica urbana é, antes de tudo uma expressão e um dos estilos

pós-modernos, sob o ponto de vista cultural.

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CAPÍTULO 6- HIPÓTESES PARA FUTUROS TRABALHOS DE PESQUISA

Ao chegarmos ao final deste nosso trabalho, algumas questões

relevantes devem ser ressaltadas, a fim de levantar possibilidades e caminhos para

futuras pesquisas.

Diante da nova lógica de constituição da cidade, pautada na

apropriação e valorização do “verde” nos condomínios horizontais fechados, como

mais um elemento representativo dos anseios subjetivos da sociedade

contemporânea, nos deparamos com um novo caminho para se pensar o espaço

urbano, tendo como suporte o movimento de redescoberta da Natureza e a

valorização simbólica atribuída ao “verde” nas novas formas de morada.

Destaca-se, portanto, a importância de se analisar o espaço urbano

tomando a subjetividade como base teórico-conceitual indispensável, já que assim,

abarcamos as novas estratégias mercadológicas e as transformações sócio-

espaciais materializadas na cidade, que são como apresentado anteriormente,

resultado de uma nova lógica de reconhecimento estabelecida pela sociedade.

Quanto à nova lógica de reconhecimento, ela se efetiva a partir da

compreensão da Natureza, do “verde”, como um símbolo, relacionado a valores

subjetivos e que tem como forte aliado o marketing, pois, a ele atribuímos o papel

primordial que é o da manipulação de desejos, de sentimentos ligados ao lugar,

estratégias que se ligam à idéia de “Poder Simbólico”, apresentado por Bourdieu

(1989). É através dele que se efetiva a idéia de qualidade de vida vinculada ao status

social, esse fato tem como conseqüência a emergência de práticas exclusivistas, que

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demonstram o choque entre subjetividade e materialidade, cujo resultado é a

nte.

Por isso, a compreensão dos sentidos e dos valores atribuídos ao

“verde” nos condomínios horizontais fechados, representa não somente o estudo de

um fenômeno localizado de grandes dimensões em Londrina, mas um estudo de

uma tendência apresentada pela sociedade contemporânea que é a incorporação de

valores subjetivos, de símbolos. Portanto, com este estudo atingimos a compreensão

da cidade nos seus processos invisíveis, baseados nas estratégias dos diferentes

agentes integrantes do espaço urbano, tendo no imaginário das pessoas, nos valores

atribuídos e compreendidos, um caminho para a análise das novas realidades

urbanas e os seus reflexos para a sociabilidade da cidade como um todo.

Sendo assim, com a Natureza hoje sendo recriada, ou mesmo

apropriada de acordo com a lógica consumista da sociedade capitalista, ela passa a

cumprir o objetivo que está pautado na produção de mercadorias, de novos valores e

estilos de vida. Daí pensarmos na esfera social da crise ambiental tão alarmada, pois

essa realidade caótica quando transferida a cidade por meio de práticas

mercadológicas, assume dimensões múltiplas, que são materializadas no espaço

urbano, redefinindo as relações; Homem-Natureza, objetividade-materialidade, crise

ambiental e crise sócio-espacial.

configuração de uma cidade segregada sócio-espacial e também ambientalme

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ANEXO