a apropriação do parque flamboyant

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1 A APROPRIAÇÃO DO PARQUE FLAMBOYANT Amanda Carolina Soares Estudante de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás RESUMO: Entre os temas que envolvem o urbano, a valorização e segregação de espaços, as metrópoles têm sido objeto de estudo de diversos profissionais. O mercado imobiliário controla o valor da terra, logo, a moradia fica submetida à capacidade financeira. Essas desigualdades sociais acabam por formar a paisagem urbana e sua estruturação espacial. Em Goiânia, este fenômeno também pode ser observado. Em especial, podemos apontar o Bairro Jardim Goiás, onde se localiza o nosso objeto de estudo, o Parque Flamboyant. Para entender como ocorre a dinâmica do espaço é necessário compreender seus agentes produtores e para isto, se utilizar de vários instrumentos morfológicos: fontes históricas, conceitos e pesquisa de campo. PALAVRAS-CHAVE: Espaço urbano, segregação, parque urbano, paisagismo, apropriação e lazer. ABSTRACT: Among the themes that involve the urban, the appreciation and spaces segregation, metropolises have been being subject of study of many professionals. Real estate market controls the value of land and dwelling is subjected to the financial capacity. These social inequalities end up building the urban landscape and its spatial structure. In Goiânia, this phenomenon can also be observed. In particular, we can point out Jardim Goiás neighborhood, where is located our subject of study, the Flamboyant Park. To understand how the dynamic of space occurs, it ‟s necessary to understand its producing agents and to this, make use of several morphological instruments: historical sources, concepts and field research. KEY WORDS: Urban space, segregation, urban park, landscaping, appropriation and leisure.

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Page 1: A Apropriação Do Parque Flamboyant

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A APROPRIAÇÃO DO PARQUE FLAMBOYANT

Amanda Carolina Soares

Estudante de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás

RESUMO:

Entre os temas que envolvem o urbano, a valorização e segregação de espaços, as

metrópoles têm sido objeto de estudo de diversos profissionais. O mercado

imobiliário controla o valor da terra, logo, a moradia fica submetida à capacidade

financeira. Essas desigualdades sociais acabam por formar a paisagem urbana e

sua estruturação espacial. Em Goiânia, este fenômeno também pode ser observado.

Em especial, podemos apontar o Bairro Jardim Goiás, onde se localiza o nosso

objeto de estudo, o Parque Flamboyant. Para entender como ocorre a dinâmica do

espaço é necessário compreender seus agentes produtores e para isto, se utilizar de

vários instrumentos morfológicos: fontes históricas, conceitos e pesquisa de campo.

PALAVRAS-CHAVE:

Espaço urbano, segregação, parque urbano, paisagismo, apropriação e lazer.

ABSTRACT:

Among the themes that involve the urban, the appreciation and spaces segregation,

metropolises have been being subject of study of many professionals. Real estate

market controls the value of land and dwelling is subjected to the financial capacity.

These social inequalities end up building the urban landscape and its spatial

structure. In Goiânia, this phenomenon can also be observed. In particular, we can

point out Jardim Goiás neighborhood, where is located our subject of study, the

Flamboyant Park. To understand how the dynamic of space occurs, it‟s necessary to

understand its producing agents and to this, make use of several morphological

instruments: historical sources, concepts and field research.

KEY WORDS:

Urban space, segregation, urban park, landscaping, appropriation and leisure.

Page 2: A Apropriação Do Parque Flamboyant

2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................2

Capítulo 1. Conceituações do Espaço Urbano.............................................................4

1.1. O Espaço Público como Produto Urbano...........................................4

1.2. Parque Urbano...................................................................................6

1.3. Paisagismo Urbano............................................................................7

Capítulo 2. A Produção do Espaço Urbano em Goiânia..............................................8

2.1. Planos Diretores Municipais e Suas Aplicações..................................10

2.2. O Sistema de Áreas Verdes.................................................................13

2.3. A Implantação do Setor Jardim Goiás..................................................13

Capítulo 3. A Dinâmica do Parque Flamboyant sob o Olhar de Seus Usuários........16

3.1. O Histórico da Implantação do Parque Flamboyant.............................16

3.2. Diferentes Sujeitos/Agentes da Produção e Consumo do Espaço......17

3.3. As Diferentes Leituras dos que Produzem e Consomem o Espaço.....19

3.4. O Parque Flamboyant como Ponto de Referencial em Goiânia...........19

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................20

REFERÊNCIAS..........................................................................................................21

ANEXO.......................................................................................................................22

Page 3: A Apropriação Do Parque Flamboyant

3

INTRODUÇÃO

O projeto urbano de Goiânia foi influenciado por escolas internacionais, como

a escola francesa, com proposições urbanas do movimento moderno. Influenciada

por estas ideias, o traçado de Goiânia foi concebido para ter um caráter monumental

e ser uma “cidade parque”, aqui já pela influência dos protótipos da cidade-jardim de

Ebenezer Howard. Na capital, foram propostas generosas áreas verdes, porém

estas foram negligenciadas e muitas se encontram degradadas.

Alguns dos parques que surgiram posteriormente aos primeiros planos

diretores são de investimentos conjuntos entre o governo e a iniciativa privada.

Essas uniões, levando em consideração o histórico da expansão urbana no Brasil e

a especulação imobiliária, visam atender interesses de ambas as partes. Estes

projetos de parques públicos, mas que possuem investimentos da iniciativa privada,

se enquadram na lógica da produção capitalista. Da análise dos espaços verdes da

cidade Goiânia, pode-se constatar que estes investimentos particulares tendem a

evitar o abandono e a degradação do espaço.

Goiânia, no âmbito nacional, possui um grande destaque por suas áreas

verdes e grandes espaços públicos de lazer. Estes espaços com calçamento,

iluminação e mobiliário urbano diferenciados, tem sido alvo das imobiliárias que, por

meio da especulação, transformam o seu entorno em áreas disputadas e

supervalorizadas pela construção de edifícios de alto padrão destinados às classes

médias e altas. Entretanto, o contexto da cidade sofre com a carência destes

mesmos atendimentos, aos quais se somam os problemas de transporte público e

de outros serviços, resultando que, na capital, podem ser observadas a

precariedade urbana, a desigualdade socioespacial e os impactos ambientais

negativos devido à intensa modernização.

Não muito diferente dos parâmetros nacionais, em 2007 foi inaugurado o

Parque Flamboyant, no bairro Setor Jardim Goiás, em Goiânia, o qual será nosso

objeto de estudo. As reflexões partiram do pressuposto que o parque abriga os mais

diversos tipos de frequentadores, sendo um referencial urbano não apenas para seu

entorno imediato, o Bairro Setor Jardim Goiás, mas também para a cidade.

Page 4: A Apropriação Do Parque Flamboyant

4

O estudo tem como objetivo (?) a entender o processo de desenvolvimento do

bairro e levando em consideração as mais diversas pesquisas, bibliográficas,

documentais e de campo, a fim de se chegar a um diagnóstico. O parque municipal

se enquadra em nas constantes urbanas citadas e instigam a pesquisa e estudo

sobre a produção do espaço urbano por meio de frequentadores.

Com base no exposto e considerando o Parque Flamboyant como foco desta

análise, pergunta-se:

1. Como ocorreu a apropriação deste espaço urbano ao longo dos anos?

2. Como ocorreu a implantação e aprovação do projeto do Parque

Flamboyant?

3. Que transformações a região sofreu desde a sua inauguração?

4. Qual o atrativo da região que leva as pessoas a frequentá-lo?

Assim, esta pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de analisar o espaço

urbano por meio de referências históricas, e também a partir de uma pesquisa de

campo de quem o utiliza, encarando que seu processo faz parte das condições

históricas e como laboratório da vida humana (LEFEBVRE, 1991). Por meio de tais

considerações se desdobram as seguintes hipóteses:

1. A implantação do Parque Flamboyant foi possível devido a investimentos

privados em conjunto com o governo, este permitiu atender também os

interesses das imobiliárias, que transformaram seu entorno num local de

especulação. Isto também foi possível devido sua proximidade do

Shopping Flamboyant e do Estádio Serra Dourada e da sua localização no

Setor Jardim Goiás, bairro que vem se constituindo como uma

centralidade urbana.

2. A região sofreu transformações com a substituição das pequenas casas

de famílias de baixa renda, por edifícios de alto padrão.

3. O espaço do Parque Flamboyant é apropriado não apenas pelos

moradores do bairro, mas também por pessoas de diversos pontos da

cidade, pois o parque se tornou um referencial urbano, além de oferecer

lazer barato ou sem custos.

Page 5: A Apropriação Do Parque Flamboyant

5

Através desta pesquisa espera-se poder contribuir para a tomada de um perfil

do lugar e de seus usuários.

Capítulo 1. Conceituações do Espaço Urbano

Segundo Corrêa, o espaço urbano é “fragmentado e articulado, reflexo e

condicionalmente social, um conjunto de símbolos e campo de lutas.” (1993, p.9

apud CAVALCANTI, 2001, p. 36). ???????????????

1.1. O Espaço Público como Produto Urbano

Para compreensão deste trabalho é importante entender o espaço urbano de

modo geral, considerando as percepções da cidade e quem são seus agentes

produtores. O espaço urbano capitalista é tido como um produto social resultado de

ações acumuladas através do tempo e dos agentes que as produzem e dos agentes

que o consomem, criando, portanto, um espaço complexo e dinâmico. Côrrea (2005,

p.12), aponta como agentes que desempenham o papel de refazer a cidade:

(a) os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes

industriais;

(b) os proprietários fundiários;

(c) os promotores imobiliários;

(d) o Estado; e

(e) os grupos sociais excluídos.

Dentre tais processos é importante apontar a segregação e a

descentralização. O processo de segregação define, segundo Côrrea (2005, p.59), a

divisão social do espaço os quais estão ligados a reprodução de diferentes grupos

sociais que competem entre si e gera locais de dominação de um determinado grupo

social. Já o processo de descentralização, (CÔRREA, 2005, p. 45-49) também

associado ao crescimento da cidade e levando-se em consideração a existência de

Page 6: A Apropriação Do Parque Flamboyant

6

uma Área Central histórica1, desenvolve-se para manter uma taxa de lucro que o

centro não pode mais fornecer. Portanto, há o aparecimento de núcleos secundários

que oferece os mais diferentes tipos de atividades comerciais e gera economias de

transporte e tempo que induz o maior consumo.

Além disso, a cidade rompeu as barreiras territoriais, estando atualmente num

estágio chamado “globalização”, o que fez o espaço urbano assumir novas

características, como o surgimento dos não lugares2, espaços de uso público que se

repetem, especialmente, nas cidades metropolitanas e sempre muito semelhantes,

como grandes aeroportos, shopping centers, feiras e exposições que bem poderiam

estar localizados no Brasil, em algum país europeu, africano ou nos Estados Unidos.

A partir deste contexto pode-se observar o estabelecimento de novos modos de vida

social, marcados pelo porte de objetos que permitem a conexão de internet via Wifi

ou via satélites; a desconexão física, que vem substituindo a comunicação entre as

pessoas que se encontram juntas na mesma mesa dos bares e restaurantes ou em

parques, ligadas aos seus celulares e tablets; o uso de roupas e acessórios de

marcas reconhecidas mundialmente, dos quais estão excluídos apenas as camadas

muitíssimo pobres. Cavalcanti (2001, p.37) explica que os modos de vida são

produtos sociais e em cada época e em cada lugar eles são elaborados, conforme

as necessidades de cada grupo.

Urbanisticamente conforme pesquisas por Leitão (2002, p.3 apud MAYMONE,

2009, p.27) a forma e função dos espaços públicos nas cidades podem ser

sintetizados em três ideias básicas:

1. Exterioridade: como espaço que surge em oposição ao espaço

privado e fechado restrito da casa, o espaço público dele se

diferencia por ser o espaço exterior, aberto/público, de uso comum,

tanto no sentido real, físico – a rua, o pátio, a praça, etc. - quanta no

sentido simbólico, onde o espaço exterior, o espaço da rua, da praça,

e o espaço da liberdade, onde tudo e possível viver.

1O processo de centralização está presente no processo inicial das grandes cidades e é

compreendida como um fenômeno urbano. Nela se concentram as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão pública e privada e os terminais de transportes inter-regionais e urbanos, além de se destacar na paisagem pela sua verticalização. (CÔRREA, 2005, p. 40-42) 2 O antropólogo francês Marc Auge trata deste conceito. O não lugar, nome dado ao tipo de espaço que a

sociedade atual tende a criar, caracterizado pelo deslocamento e pela solidão.

Page 7: A Apropriação Do Parque Flamboyant

7

2. Acessibilidade: É exatamente esta condição que, do ponto de vista

territorial, caracteriza o espaço público. E graças a ela, ainda, que

um determinado espaço, numa localização específica e definida, se

torna, pelo usa que a acessibilidade viabiliza, um espaço comum e,

como tal, espaço público por definição.

3. Significado: espaços públicos costumam estar impregnados de

memória, o que lhes garante um valor simbólico que extrapola em

muito a sua função mais visível. Ruas e praças contem história não

apenas de importância individual, como não cessam de cantar os

poetas mas, sobretudo, de valor coletivo. São nesses espaços

privilegiados que estão registrados os fatos urbanos que constituem

uma cidade.

1.2. Parque Urbano

Os primeiros parques urbanos apareceram na Inglaterra no final do século

XVII e expandiram-se no século XIX devido a Revolução Industrial, como aponta a

pesquisa de Maymone (2009, p.18). Com o crescimento acelerado da população e

desordenada ocupação urbana, as cidades viram aparecer e se intensificar diversos

e graves problemas, muitos dos quais provocados pela insalubridade e falta de

higiene. Sendo assim, várias intervenções foram necessárias e surgiram espaços

ajardinados adequados para o lazer impulsionados pelos novos conceitos

higienistas. No século XX, novas funções foram incorporadas aos parques urbanos,

como as esportivas, culturais e as de conservação de recursos naturais.

???????????????? Desenvolver um parágrafo sobre os parques urbanos no

Brasil: onde e como surgiram, cidades que se destacam por seus parques urbanos,

como Curitiba, etc.

No Brasil, nos anos de 1980, os parques urbanos sofreram grandes

transformações baseados em conceitos ecológicos, então em voga. “A inspiração

para concepção do espaço livre urbano caracterizou-se pelo formalismo, pela

Page 8: A Apropriação Do Parque Flamboyant

8

liberdade de concepção, iniciando uma nova fase, a contemporânea”. (MAYMONE,

2009, p.18)

Conceitualmente, o parque público: “É uma área verde, com função ecológica,

estética e de lazer, no entanto com uma extensão maior que as praças e jardins

públicos.” (DE ANGELIS, 2005, p. 133 apud MAYMONE, 2009, p.27) E conforme

Macebo (2003, p.14 apud MAYMONE, 2009 p. 28)

[...]consideramos parque todo espaço público destinado à

recreação de massa, qualquer que seja o seu tipo, capaz de

incorporar intenções de conservação e cuja estrutura morfológica é

auto-suficente [...]

O lazer como apontado é função fundamental do parque urbano e está

inserido na programação cotidiana, ele é identificado como o uso de um “tempo livre”

que se pode dedicar à atividade de predileção pessoal. Buscando uma definição

mais adequada de lazer, Cavalcanti (2001, p.41-44) nota que a palavra é antiga,

porém seu uso generalizado é recente, histórica e socialmente datado. Dois

elementos definem os dois elementos de lazer: a predisposição e o tempo.

Entretanto, o próprio lazer se tornou um objeto de consumo, assim como

muitos dos espaços a ele destinados, quando o uso destes espaços não é

democrático, pois isto contribui, cada vez mais, para que os cidadãos estejam

isolados e passivos. Isto ocorre quando o espaço dedicado ao lazer é explorado pela

iniciativa privada e exclui a parte da população que não pode pagar este serviço.

Para atender às variadas necessidades da população foram criados diversos

tipos de parques, classificados depois como:

Parques de preservação: têm como finalidade a manutenção de

valores naturais ou culturais que necessitam ser perpetuados;

Parques especiais: são aqueles criados com fins específicos como,

por exemplo, jardins botânicos, zoológicos e pomares públicos;

Parques de recreação: áreas verdes equipadas para atender a

recreação de toda população urbana. (RAMOS, 1985 apud

MAYMONE, 2009, p. 41, grifo do autor)

Page 9: A Apropriação Do Parque Flamboyant

9

1.3. Paisagismo Urbano

Para entender o Paisagismo Urbano é importante o conceito de Paisagem.

Ainda seguindo os estudos de Maymone (2009, p. 34-36), a paisagem está

associada à dimensão visual percebida como uma realidade palpável e concreta. Os

componentes da paisagem são: o espaço físico natural e construído, movimentos e

relações humanas e fenômenos naturais que estão sujeitos a percepção de cada

indivíduo.

Figura 1 - Sistematização da estrutura da paisagem urbana segundo seus elementos a

partir de Spirn (1995), McHarg (1970), Cosgrove (1999), Mesquita (2001) e Santos (1998).

Fonte: Prado (2003, p. 3 apud MAYMONE, 2009, p. 36)

Quanto ao paisagismo, conforme Franco (1997 apud MAYMONE, 2009, p.

36), a predominância de conceitos paisagísticos em projetos do campo da

arquitetura se deve, em parte, ao movimento ambientalista e à contribuição de vários

profissionais de outras áreas relacionadas. Simas confirma isto quando considera

que,

Em todo o mundo a proporção dos espaços verdes tem crescido de

maneira sem precedentes. A introdução da noção de meio ambiente

e a influência da ecologia transformaram a “Arte paisagística” em um

de seus instrumentos de gestão.

Seguindo regras de composição decorativa, o paisagista, ao definir

as espécies vegetais que comporão a paisagem, tira partido,

também, das formas, texturas e cores das copas, troncos e folhagens

e flores. O emprego correto das cores através dos diferentes matizes

de verde, do uso das cores neutras, utilizadas como pano de fundo

Page 10: A Apropriação Do Parque Flamboyant

10

ou separando cores vibrantes e das chamadas cores aromáticas, que

tanto encantam aqueles que visitam jardins famosos, é um recurso

bastante refinado e matéria de profunda pesquisa. Um bom projeto

paisagístico inclui, ainda, elementos vivos, outros construídos pelo

homem, elementos visuais, fixos, móveis e mutáveis. Dependendo

da predominância dos elementos a paisagem poderá ser: Paisagem

natural, paisagem urbana ou paisagem cultural. (SIMAS, 2009 apud

MAYMONE, 2009, p. 37)

Capítulo 2. A Produção do Espaço Urbano em Goiânia

A produção do espaço urbano, como apontado anteriormente, depende de

seus agentes produtores. Goiânia (GONÇALVES, 2002, p. 17-32) surgiu de uma

tentativa de integrar o estado de Goiás ao restante do país trazendo modernidade

para o estado, e foi a primeira cidade brasileira a ser planejada no século XX. Isto

ocorreu na década de 30, quando a Marcha para o Oeste colocou Goiás no

panorama econômico e político nacional, ao concretizar os anseios de expansão e a

necessidade de criar aqui um novo setor urbano-industrial, impostos pela era

Vargas. O local escolhido atendeu às premissas tais e tais, portanto, privilegiado

pelo solo, topografia, matas nativas e rica hidrografia.

Vinculado a estes ideais, o interventor Pedro Ludovico Teixeira, governador

da época, levantando a bandeira de “Capital do Sertão”, utilizou a construção da

nova capital para manter-se no poder. Attílio Corrêa Lima foi o responsável pelas

primeiras ideias e desenhos da cidade, afastando-se em 1935, descontente com a

lentidão das obras e a falta de pagamento. Já havia, então, entregue o Plano Diretor

de Goiânia e uma planta geral da cidade, contendo o detalhamento do Setor Central.

Em 1936, o engenheiro Armando de Godoy foi convidado para revisar os

projetos de Atílio para o governo. Ele possuía uma extensa experiência e estudo

com relação ao urbanismo, porém não possuía o tempo necessário para se dedicar

ao desenvolvimento do projeto da cidade, sendo sua contribuição principalmente no

campo das ideias. Ele orientou que a alteração da zona comercial do Setor Central,

Page 11: A Apropriação Do Parque Flamboyant

11

considerando-a super dimensionada, uma pequena alteração na zona industrial do

Setor Norte, orientou um limite de crescimento para a cidade por um cinturão verde

e a criação de cidades-satélites posteriormente. O plano de urbanização de Goiânia

foi aprovado em julho de 1938.

Não se pode esquecer a grande influência dos irmãos Coimbra Bueno e a sua

construtora na construção da cidade. Para a execução dos projetos contrataram

uma grande quantidade de profissionais e formou um corpo técnico considerável. O

engenheiro agrônomo Werner Sonnemberg foi um dos profissionais que passou

despercebido, sendo ele, possivelmente, o projetista do Setor Sul.

O projeto da cidade de Goiânia foi claramente influenciado pelas ideias de

Unwin e Howard, lembrando uma cidade-jardim. A cidade é uma síntese das

influências de Attílio.

Ainda segundo Gonçalves (2002, p. 111-135), até os anos 40, houve um

grande controle da expansão urbana pelo Estado, contribuindo isto para a

implantação do Plano de Urbanização e combatendo a especulação imobiliária.

Porém, a partir da década de 1950, foram sendo aprovados inúmeros parcelamentos

privados das glebas adjacentes e próximas à cidade planejada que comprometeram

definitivamente o desenho urbano de Goiânia pelo fato de não terem sido

submetidos a nenhuma norma urbanística ou planejamento estrutural, revelando

total descontinuidade do traçado original. Nos anos 50 e 60, houve duas tentativas

de elaboração de um plano diretor, ambas sem sucesso.

Compreender a construção do espaço urbano de Goiânia é reviver a memória

urbana. Para entender a modernidade que construiu a cidade deve-se compreender

a importância da era Vargas e dos interesses por trás do projeto e do seu

desenvolvimento.

2.1. Planos Diretores Municipais e Suas Aplicações

O Plano Diretor de Luís Saia

Contratado pelo governador José Feliciano em 1959, Luís Saia, militante de

esquerda, não teve seu plano executado. Contando com uma equipe multidisciplinar,

Page 12: A Apropriação Do Parque Flamboyant

12

primeiramente fez uma leitura da cidade, identificou seus problemas e apontou

soluções. Sua proposta se baseava em dividir a cidade em seis partes delimitando-

as pelos fundos de vale e córregos, possuindo áreas mais ou menos semelhantes e

interligadas por vias expressas. Algumas de suas propostas foram adotadas de

maneira pontual. (GONÇALVES, 2002, p. 146 a 149)

Segundo Ribeiro (2004), o projeto de Luís Saia partiu das áreas verdes e

sistema de parques já existentes, com um estudo percentual para as áreas já

implantadas e com o fim de adaptação. Era um plano arrojado pelas propostas de

compartimentação, sistema viário, redes de abastecimento de água e tratamento de

esgoto, porém, boa parte do planejamento da cidade foi esquecida devido à

revolução de 64.

O Plano Diretor de Ewald Janssen

Mais modesto que o anterior, de acordo com Gonçalves (2002, p. 149 a 161),

Janssen levantou inicialmente as potencialidades da cidade. Enfatizou a

necessidade de se planejar estabelecendo uma lei de zoneamento e criando um

sistema viário eficiente e adequado, que contava com um anel viário que cortaria a

cidade. Criticou a falta de ligação das residências com a área de trabalho, o Código

de Edificações que dizia a respeito da ampliação da zona urbana para um raio de

quinze quilômetros e os locais inadequados onde estavam as indústrias. Além disso,

elogiou o projeto de Attílio Corrêa Lima “Infelizmente, esse plano foi mutilado em

vários sentidos...” (JANSSEN, 1952, folha 03-16 apud GONÇALVES, 2002, p.151).

Janssen também sugeriu a criação de três cidades satélites, duas residenciais e

uma industrial, com limites rigidamente estabelecidos.

O PDIG de 1969 (p. 167 apud ROSA, 2008, p. 42) descreve que “nas áreas

centrais, famílias das três camadas se avizinham e convivem numa situação

bastante congruente com a atmosfera social local [...]”, nesta época (1967) a

população goianiense por bairros apontava 2.051 habitantes no Setor Jardim Goiás,

densidade de 5,3 h/ha, o que significava 0,6% da população urbana da capital. Estes

dados já alertavam a rápida ocupação da área que gerou consequências que se

agravam até os dias atuais.

Plano Diretor de Goiânia – PDIG/92

Page 13: A Apropriação Do Parque Flamboyant

13

Em 1992, devido à necessidade de uma nova abordagem da situação, foi

aprovado o Plano Diretor de Goiânia – PDIG/92, da Engevix Engenharia S.A. “O

PDIG (1992) reafirmou essa condição de centro tradicional.” (ROSA, 2008, p. 48) O

plano tratou das estruturas geográficas naturais que dão suporte ao tecido urbano,

principalmente a extensa rede hidrográfica regional, focou também nos aspectos

institucionais.

A região sudoeste se destacou pelo maior número de investimentos como

indicado no plano, favorecendo bairros como o Setor Jardim Goiás. O bairro foi

considerado polo de atividades regionais, sujeito a intervenções públicas e privadas.

Page 14: A Apropriação Do Parque Flamboyant

14

Figura 2 - Zoneamento do Setor Jardim Goiás. Fonte: Lei Complementar nº 31, de 29 de

janeiro de 1994 (MURB, 2001 apud ROSA, 2008, p. 50). Organização: Correa, 2006.

Desenho modificado: Adélia Torreal, 2007.

Plano Diretor de Goiânia – PDIG/2007

O Plano Diretor atual foi produzido na Secretaria de Planejamento da

Prefeitura com a consultoria de Luiz Fernando Cruvinel Teixeira, aprovado pela Lei

Complementar nº 171, de 29 de maio de 2007. No PDIG de 2007 (p.33) o Bairro

Jardim Goiás é identificado como área de Desaceleração de Densidade conforme o

artigo 113.

2.2. O Sistema de Áreas Verdes

Na área que se refere aos parques, o estudo feito por Ribeiro (2004), abriu

espaço para uma análise deste a partir do projeto original da capital. Constatou-se

que eles foram em parte preservados, apesar das perdas que reduziram

consideravelmente suas áreas. Comprovaram a institucionalização de novos

parques provenientes de planos anteriores. O plano também apresentou um estudo

das leis ambientais em vigor, e que apesar de vários instrumentos legais

disponíveis, não se manteve uma atuação eficaz nesse setor. Os únicos que se

apresentaram eficientes foram a Lei de Zoneamento e a Lei de Conjunto

Habitacional de Natureza Social, que resguardaram as reservas florestais.

Dado visibilidade aos aspectos ambientais, a Carta de Risco do Município

teve importante destaque, indicando áreas de expansão urbana para sudoeste e

sudeste do território e fazendo sérias restrições à ocupação ao norte, onde deveria

ser mantido o uso já consolidado.

Muitas áreas encontram-se fragmentadas e irreversivelmente degradas,

sejam por ineficiência econômica e/ou política, alguns possuindo até mesmo

problemas de invasão. Os parques a serem implantados não passam de cartas de

intenções.

2.3. A Implantação do Bairro Jardim Goiás

Page 15: A Apropriação Do Parque Flamboyant

15

O Setor Jardim Goiás, de propriedade de Lourival Louza, foi

aprovado pelo Decreto municipal 18, de 22 de setembro de 1950. Um

panfleto que circulou pela cidade e foi publicado no jornal O Popular

em 1950 enaltecia o empreendimento como „uma jóia de perfeição

urbanística à apenas 1.500 metros do Palácio das Esmeraldas‟. O

projeto de urbanismo foi elaborado pelo renomado engenheiro e ex-

prefeito de São Paulo, Francisco Prestes Maia, em colaboração com

o engenheiro Roberto Magno Ribeiro. (CAVALCANTI, 2001, p. 116.)

O bairro Jardim Goiás surgiu a partir do parcelamento de uma fração da

Fazenda Botafogo. Em seu projeto original o traçado era bem orgânico respeitando

a topografia e a mata ciliar do córrego, mas este projeto sofreu alterações com a

construção do Estádio Serra Dourada, retificações viárias e de outros

remembramentos. Apesar disso, durante anos o bairro permaneceu quase intocado.

Figura 3. Projeto original do Setor Jardim Goiás. Autor: Francisco Prestes Maia, 1950.

Fonte: GONÇALVES, 2002 apud ROSA, 2008, p. 56.

Page 16: A Apropriação Do Parque Flamboyant

16

Fazer a ligação entre os parágrafos é fundamental num artigo científico, senão

fica como uma colcha de retalhos...

Como apontado no na defesa de mestrado de Alda Maria Araújo Torreal Rosa

(2008, p.59), por meio de uma pesquisa realizada pelo CRECI-GO em 2007, a

paisagem do Setor Jardim Goiás estava em ampla construção. Em 2007, dos 128

edifícios em construção em Goiânia, 21 se encontravam nesse bairro, ou seja, 16%

desse total. Fato que não mudou muito atualmente, o bairro se assemelha muito a

um canteiro de obras.

Ainda seguindo a pesquisa, as fortes presenças do Shopping Flamboyant e

dos hipermercados, Carrefour e Wal Mart, além de muitas concecionárias e muitos

outros comércios e serviços, diversos edifícios institucionais de peso para a cidade,

inclusive Prefeitura, Ministérios Público, CELG, Saneago e Justiça Federal(?),

justificam a crescente densidade habitacional. Além destes, também localiza-se

neste bairro o Parque Flamboyant, objeto desta pesquisa. O uso do solo é misto e o

preço da terra é alto, cerca de R$ 2,5 mil o metro quadrado em 2007. Atualmente, o

Setor Jardim Goiás é o segundo mais valorizado de Goiânia e o preço do metro

quadrado subiu para R$ 4.697 como aponta o jornal O Hoje3, por meio de uma

reportagem.

A localização próxima às duas rodovias importantes, BR-153 e a GO-020,

contribuem para o dinamismo econômico e é grande fator de atração para os novos

empreendimentos. O mapa que se segue indica a localização do bairro Setor Jardim

Goiás na cidade e as referidas rodovias que o colocam na rota da regionalização

dos grandes empreendimentos ali instalados.

3 Reportagem do dia 01 de fevereiro de 2013, escrita por André Passos. Link nas Referências.

Page 17: A Apropriação Do Parque Flamboyant

17

Figura 4. Localização do Setor Jardim Goiás. Desenho modificado: Amanda Soares, 2013.

Fonte: Prefeitura de Goiânia (2009)

Capítulo 3. A Dinâmica do Parque Flamboyant sob o Olhar de Seus Usuários

Page 18: A Apropriação Do Parque Flamboyant

18

Neste capítulo, apresenta-se o resultado da pesquisa de campo realizado no

Parque Flamboyant, cujo objetivo foi identificar os sujeitos produtores do espaço.

Realizado por meio de entrevistas busca-se responder aos questionamentos

levantados no início desta pesquisa.

3.1. O Histórico da Implantação do Parque Flamboyant

Figura 5. Imagem de satélite do Parque Flamboyant. Fonte: Google Earth (2013)

Originalmente nascente de córrego, o espaço já era previsto no plano diretor

como área de proteção ambiental. O Parque Municipal Flamboyant é um projeto de

Lourival Souza e foi inaugurado em setembro de 2007 com a promessa de “novo

cartão postal de Goiânia”. O que foi confirmado com os poucos anos de existência,

sendo um dos locais que mais recebeu investimentos imobiliários, como

comprovado anteriormente.

Com sua inauguração multiplicou no bairro uma grande quantidade de

construções e lançamentos publicitários de alto custo. Essa supervalorização

consequentemente excluiu a população de baixa renda. (ROSA, 2008, p.63) Isto

Page 19: A Apropriação Do Parque Flamboyant

19

também vem gerando sérios problemas no tráfego, que deve ser agravado com a

inauguração dos novos prédios habitacionais.

O parque é de livre acesso e ocupa cerca de 130.000 m². Oferece pista de

caminhada e ciclismo, lagos, parque infantil e possui um prédio administrativo.

Abriga remanescente de veredas, com buritis e outras árvores nativas do cerrado.

Em 2007, graças a implantação do Parque Flamboyant a Agência Municipal

do Meio Ambiente (AMMA) foi a vencedora da 6ª Edição do Prêmio Crea4 Goiás de

Meio Ambiente na categoria Urbanismo. Foram consumidos R$ 2.300.000,00 na

construção do parque.5

3.2. Diferentes Sujeitos/Agentes da Produção e Consumo do Espaço

A relação natureza e sociedade em Marx e Engels fundamenta-se no

princípio materialista, onde os homens aparecem como resultado

material do processo evolutivo da natureza. Quanto mais se afastam

dos animais, mais se afastam da natureza, sem, contudo, deixarem

de se naturalizarem através da apropriação dos recursos

disponibilizados da mesma. Observa-se, portanto, uma permanente

contradição que se materializa em realidade objetiva ao longo do

processo histórico. (CASSETI, 1999, p. 70 apud CAVALCANTI, 2001,

p. 85)

Após os estudos como instrumentos metológicos para subsidiar esta pesquisa

utilizou-se de questionários e entrevistas, aplicado nos domínios do Parque

Flamboyant. As 108 entrevistas resultaram no seguinte perfil de entrevistados:

4Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

5Fonte: Site oficial do Governo de Goiás

13%

33% 39%

9% 6%

Idade

Até 17 18-25 26-40 41-50 Acima de 50

43%

57%

Gênero dos Entrevistados

Masculino Feminino

Page 20: A Apropriação Do Parque Flamboyant

20

Figura 6.1. e 6.2. Gráficos referentes à IDADE e ao GÊNERO dos entrevistados.

Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

Em sua maioria os entrevistados são mulheres e adultos entre 26 e 40 anos,

solteiros e sem filhos6, com ensino médio completo, estudantes ou trabalhando em

empresas públicas, cuja renda familiar varia entre R$ 1.860,00 a R$ 3.720,00.

Figura 6.3. e 6.4. Gráficos referentes à ESCOLARIDADE e PROFISSÃO dos entrevistados.

Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

Figura 6.5. Gráficos referentes à RENDA FAMILIAR dos entrevistados. Fonte: Pesquisa de

campo, 2013.

A pesquisa de campo se desenvolveu em vários horários e dias da semana,

conseguindo maior número de entrevistas durante o final de semana, pois se trata

dos dias que mais possui usuários no parque³ (100%). A maioria dos usuários

afirmaram estar em sua residência antes de ir ao parque (87%)7, porém como

verificado a maioria não reside próximo ao local, a maioria necessita de se deslocar

sendo o percurso feito de carro (78%). O objetivo é muitas vezes o mesmo, o de

6Dados no ANEXO

7Em alguns casos os valores percentuais foram arredondados para melhor compressão, os reais

valores estão no ANEXO

9%

56%

33%

2%

Escolaridade Até Ensino Fundamental Ensino Médio

Ensino Supeior Técnico

31%

19% 19%

31%

Profissão

Público Privado Autônomo Estudante

7% 9%

43% 17%

18%

6%

Renda Familiar

R$ 620,00 De R$ 620,00 a R$ 1.860,00De R$ 1.860,00 a R$ 3.720,00 De R$ 3.720,00 a R$ 5.580Acima de R$ 5.580 Não possui renda

Page 21: A Apropriação Do Parque Flamboyant

21

lazer/turismo (56%) e passeio (46%). O horário de maior frequência é à tarde (69%),

apesar de que alguns poucos revelaram ir ao parque de madrugada.

3.3. As Diferentes Leituras dos que Produzem e Consomem o espaço

O Parque Flamboyant se tornou um novo polo atrativo para o Setor Jardim

Goiás, se tornando realmente um “cartão postal da cidade” como foi intencionado. O

público é variado, mas quase sempre de média e alta renda. Isto ocorre, pois apesar

do que foi indicado o parque não possui fácil visibilidade, esta escondido pelos

vários empreendimentos imobiliários. Quando não feito de carro, a maneira mais

fácil de chegar ao local é vinda do Shopping Flamboyant visto que poucas linhas

chegam ao parque e sempre em ruas paralelas, os transportes públicos não

conseguem adentrar no local, o que acaba por excluir os usuários de ônibus que são

muitas vezes de baixa renda.

3.4. O Parque Flamboyant como Ponto de Referencial em Goiânia

De fato o parque se tornou um ponto de encontro. Em sua maioria os usuários

encontram-se acompanhados, seja de família (61%) ou amigos (44%). Essas

pessoas que vem de vários bairros da cidade, muitas vezes vem para usufruir

simplesmente os bancos e grama (72%), fazendo um piquenique, sentados a

sombra de uma árvore, bater um papo, entre outros.

E o que leva tantas pessoas a este local? O sentimento de proximidade com a

natureza foi o mais apontado (46%) seguido pelo divertimento (33%). A maioria

avaliou o local como de “muita importância” para a cidade (93%) e de ótima

qualidade (46%). Porém, quando se trata de segurança, a avaliação não é tão boa,

considerando média (56%). Esta é uma reclamação principalmente de moradores e

frequentadores assíduos, muitos reclamam de assaltos ou falta de preservação do

estado pelo local, que possui diversas pichações e objetos quebrados (placas,

pontes, etc.) devido vandalismo.

Page 22: A Apropriação Do Parque Flamboyant

22

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se pode verificar por meio das análises da pesquisa de campo e dos

estudos bibliográficos, a tentativa de responder aos questionamentos apresentados

verificando se as hipóteses apresentadas eram corretas. O Parque Flamboyant

provou ser mais um dos grandes investimentos no Setor Jardim Goiás, que já

possuía outros polos atrativos para região, além da excelente localização. Estes

atrativos atraíram o interesse das imobiliárias e transformaram o local num “canteiro

de obras” de edifícios de alto padrão em contraste com as antigas casas térreas.

Apesar disto, o Parque Flamboyant não é frequentado apenas por moradores,

ainda que haja poucos usuários de baixa renda, verificaram-se pessoas vindas de

vários bairros da cidade. O parque apesar de acesso livre, não tem fácil acesso e

isto dificulta a vinda de pessoas que utilizam meios de transporte públicos, sendo,

portanto excluídas. Como apontou Côrrea (2005, p.9) os bairros são locais de

reprodução dos diversos grupos sociais, tornando a cidade um lugar fragmentado,

complexo, reflexo e condicionante social.

Portanto, o parque também está inserido numa lógica urbana capitalista

resultado das ações sociais através do tempo. Este rápido crescimento do local

incluiu o Bairro Jardim Goiás no atual Plano Diretor como área de Desaceleração de

Densidade.

A pesquisa fornece elementos de entendimento da metrópole goiana, dos

espaços públicos e parques favorecendo o desenvolvimento de estudos mais

aprofundados que podem vislumbrar campos espaciais, sociais e econômicos, a se

desenvolver posteriormente.

Page 23: A Apropriação Do Parque Flamboyant

23

REFERÊNCIAS

CAVALCANTI, Lana de Souza (Org.). Geografia da cidade. Goiânia: Alternativa,

2001.

CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 4.ed. São Paulo: Ática, 2005.

Disponível em: <http://www.ohoje.com.br/noticia/9439/imoveis-verticais-em-goiania-

sobem-18-86> Acesso em: 26 de maio de 2013

Disponível em:

<http://www.goiania.go.gov.br/html/principal/goiania/parquesebosques/parquemunfla

mboyant.shtml> Acesso em: 26 de maio de 2013

GONÇALVES, Alexandre Ribeiro. Goiânia: uma modernidade possível. Brasília:

Ministério da Integração Nacional: Universidade Federal de Goiás, 2002.

MAYMONE, M. Parques Urbanos – Origens, Conceitos, Projetos, Legislação e

Custos de Implantação. 2009. 185f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal

de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, 2009.

RIBEIRO, Maria Eliana Jubé. Goiânia: os planos, a cidade e o sistema de áreas

verdes. Goiânia: Ed. da UCG, 2004. 160 p.

ROSA, A. Jardim Goiás: uma nova área de centralidade em Goiânia.2008. 121f.

Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Goiás,Instituto de Estudos Sócio-

Ambientais, Goiânia, 2008.

Page 24: A Apropriação Do Parque Flamboyant

24

ANEXO

QUESTIONÁRIO – Perfil dos Frequentadores (Valor em %)

SEXO

Feminino Masculino

57,40 42,60

IDADE

0-17 18-25 26-40 41-50 Acima de 50 66+

12,96 33,33 38,89 9,26 5,56 0

ONDE TRABALHA

Público Privado Autônomo Estudante

31,49 18,51 18,51 31,49

MANTIDO PELOS PAIS?

Sim Não

57,40 42,60

Número de Filhos

0 1 2 3 4 + de 5

48,15 22,23 24,07 1,85 1,85 1,85

ESTADO CIVIL

Solteiro Casado

57,40 42,60

NATURAL DE GOIÀNIA?

Sim Não

51,85 48,15

ONDE ESTAVA ANTES DE VIR PARA O PARQUE?

Casa Shopping Outro

87,04 7,40 5,56

QUAL O SEU GRAU DE ESCOLARIDADE?

Não alfabetizado

Alfabetizado Ensino Fundamental

Ensino Médio

Ensino Superior

Técnico

0 0 9,26 55,55 33,33 1,86

COMO CHEGOU ATÉ O PARQUE FLAMBOYANT?

A pé Transporte Coletivo

Moto Carro Bicicleta Outro

7,40 11,11 0 77,78 3,71 0

QUE TIPO DE ATIVIDADE VEM REALIZAR?

Passeio Passagem Trabalho Estudo Lazer/Turismo Exercícios Físicos

46,30 3,70 3,70 5,55 55,55 1,855

QUAL A SUA RENDA FAMILIAR?

R$ 620,00

De R$ 620,00 a R$ 1.860,00

De R$ 1.860,00 a R$ 3.720,00

De R$ 3.720,00 a R$ 5.580

Acima de R$ 5.580

Não possui renda

7,40 9,26 42,60 16,67 18,51 5,56

QUANDO COSTUMA FREQUENTAR O PARQUE?

Segunda-feira

Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Finais de Semana

5,55 3,70 7,40 3,70 5,55 100

QUAL O HORÁRIO QUE COSTUMA FREQUENTAR O PARQUE?

Pela manhã Pela tarde À noite Manhãs e Tardes

Tardes e noites

Outros

0 68,52 1,85 7,40 14,81 7,42

NORMALMENTE ESTÁ ACOMPANHADO?

Page 25: A Apropriação Do Parque Flamboyant

25

Família Amigos Namorado Bicho de Estimação

Não está acompanhado

Outro

61,11 44,44 5,55 11,11 7,40 0

QUE TIPO DE SERVIÇOS QUE O PARQUE OFERECE USUFRUI?

Quiosque Brinquedos Ciclovia Equipamentos de ginástica

Bancos/Grama Outro

46,30 40,74 18,51 9,26 72,22 3,70

QUE TIPO DE SENTIMENTOS O PARQUE LHE TRANSMITE?

Proximidade com a Natureza

Saúde Relaxamento Meditação Divertimento Outro

46,30 12,63 12,63 24,07 33,33 5,55

COMO AVALIA A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO PARA A CIDADE?

Insignificante/Sem importância

De pouca importância

Média importância

Muita importância

Outro

1,85 1,85 1,85 92,59 1,85

COMO AVALIA A QUALIDADE DO ESPAÇO?

Péssimo Ruim Médio Bom Ótimo Excelente

3,70 0 11,11 46,30 31,48 7,41

COMO VOCÊ AVALIA A SEGURANÇA DO ESPAÇO?

Péssimo Ruim Médio Bom Ótimo Excelente

9,26 9,26 55,55 4,74 7,40 13,38