a análise fílmica - philippe dubois
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CURSO DE PHILIPPE DUBOIS - 2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC) E VILA DAS ARTES
Título: A Análise Fílmica - Teorias e Métodos
Período e horário: 26 a 29 de agosto de 2013, de 14h a 17h
Trabalhos práticos de análises fílmicas
Trabalho efetuado pelos estudantes a partir das instruções de Philippe Dubois, seguido por um
professor da UFC. Os alunos da Vila das Artes serão acompanhados pela própria Escola de
Audiovisual.
- A exibição de lista filme coletivo (ver lista abaixo)
- Leitura de texto de análise, recomendada pelo professor
- Elaboração de um trabalho analítico de filmes de cada grupo de alunos (cada aluno irá
preparar duas análises detalhadas de curtas sequências de filmes).
O grupo de trabalhos práticos será reservado a um número limitado de alunos.
As sessões "teóricas” serão abertas a todos os estudantes que desejem participar.
* * *
Segunda, 26 agosto de 2013
O que é a análise?
1. Introdução e apresentação do Programa.
Instruções sobre o trabalho (lista dos filmes a ver, leituras e bibliografia, trabalho solicitado etc.)
2. Falar do Cinema: os “discursos de escolta (de apoio ?) sobre o filme: o discurso de análise, da
critique, da teoria, do essaio, da história, etc.
3. Analisar é decompor: a importancia das distinções, dos níveis e das unidades.
4. Analisar é estabelecer relações: a importância das ligações (internas e externas) e da construção
do conjunto (Nicole Brenez)
5. Analisar é remontar o problema – então a obra oferece uma solução » (Jacques Aumont)
Questões de Método (1) - Não existe análise sem metodologia
Os 3 gestos fundamentais: descrever, analisar
- Descrever: dizer o que a obra diz.
- Analisar o que a obra sabe
- Interpretar: dizer o que a obra pensa.
1. A Descrição :
Importância de uma boa descrição: (bem) ver para descrever; descrever para
(melhor) ver. Precisão, finesse, exatidão, pertinência.
O objeto da descrição: que descrever? o fundo (ou conteúdo): ideias, motivos,
personagens, lugares, tempos, ações, narrativa, etc.), a forma (imagens, quadros, campos,
movimentos, espaço, plasticidade, cores, etc.), as matérias, o estilo (montagem,
enquadramento, pontos de vista, sonorizações etc.), as unidades (o todo, as partes, os
detalhes, as articulações), os efeitos e questões (sobre o espectador, globais), etc.
A questão do estilo descritivo e de sua retórica. O exemple de ekphrasis grega:
descrever fazer ver com as frases.
Como descrever (em palavras) um objeto visual (e sonoro)? Ver não é dizer. Pode-se
ter confiança no ver? E no dizer? Linguagem-objeto e metalinguagem. Objeto mundança,
descrição estabilizada. Objeto sinóptico, descrição linear.
Como descrever uma cor, um movimento, um rosto, um gesto, um som etc.?
Comparação com as outras artes. Problema da transcrição.
As ferramentas da transcrição: segmentação por sequência, decupagem por plano,
quadros sinópticos e gráficos, esquemas (dinâmicos) e enquadramentos e de planos,
esquemas de implantação do solo, fotos e storyboard, analisar os filmes com as imagens (e
os sons) vídeos ou numéricos, etc.
Problema de seleção de de finalidade. Descrever para que fazer? Não existe
descrição em si mas em função de um objetivo (a descrição é um instrumento, não uma
finalidade). Como fixar os critérios de pertinência de uma descrição?
Terça, 27 agosto de 2013
Questões de Método (2)
2. A Análise (sensu stricto)
Importancia da questão do saber: a análise é fundada sobre um conhecimento
(temático, forma, genérico, histórico, filosófico, político, etc.) – modelo iconográfico de Erwin
Panofsky;
Saber(es) interno(s) ao saber(es) externo(s):
- O texto da obra (literal, explícito, denotativo),
- O sub-texto (implícito, conotativo, métaphorique)
- O sobre-texto (o gênero),
- O intertexto (as ligações de vizinhanças, as referências, influências,
confluências e outras sobrevivências)
- O contexto (histórico, cultural, politique, filosófico, etc.);
Os instrumentos documentais à propósito do filme (antes, duraante, após,
paralelamente, etc.). Documentos primários e secundários. Onde e como procurar
documentos (papel dos arquivos) ? A necessidade da maior especialização possível;
A questão dos níveis de análises: decompor, decupar, identificar os níveis (de sentido
e de formas);
A questão das articulações entre as unidades e os níveis;
A Coerência da análise: verificações, recoupements, conformidade histórica, etc.;
A pertinência da análise: ela abre a interpretação fundada.
3. A Interpretação
A tradição hermenêutica;
A tradição da Psicoanálise;
A interpretação, exprimir o que a obra não diz (explicitamente) mas que ela pensa
(por vezes apesar dela ou a seu conhecimento) ou a que ela faz pensar;
Os filmes (as imagens) podem pensar? Como? Em quais condições? Em quais
circunstâncias?
Importância do principio da invenção na interpretação: a noção de hipótese, a noção
de originalidade, a noção de violência feita ao objeto;
Importância do princípio de coerência interpretativa: verificações, recoupements,
papel do contexto, conformidade histórica, etc.;
4. Relação entre análise e teoria
Como articular a atenção para o objeto singular e a necessidade de um modelo
explicativo geral?
Toda análise implica uma teoria e toda teoria pressupõe uma análise;
Da análise à teoria, da teoria a análise (as idas e vindas do objeto aa sistema
explicativo): démarche (empírico-) indutiva ou (hipotético-) dedutiva.
Quarta, 28 agosto de 2013
Questões de teorias: História das teorias da análise fílmica (1)
1. As tentativas informais (in-disciplinadas) da análise de filmes antes de 1960
A análise de filmes é uma disciplina?
2. Os anos 60-70 : a formalização (multi-)disciplinar da análise
O modelo estruturalista;
Toda potência do estruturalismo nas ciências humanas : a semiologia/semiótica
generalizada;
Os conceitos-chave de signo, de estrutura, de código, de texto;
Os campos principais (linguísticos, discursos, literário, antropológicos,
psicoanalíticos, sociológico, artes, música, arquitetura, moda, etc.) e secundários (cinema,
pintura);
Semiótica e análise textual de filmes (R. Barthes, Chr. Metz, R. Odin);
Segmentação do filme (o estatuto das unidades, a arquitetura dos emboîtements);
A lógica do extrato de filme. Por que o fragmento? Como articular o fragmento e a
totalidade? O fantasma totalizante;
A análise dos inícios de filmes como emblema ou matriz;
As dimensões da análise: micro- ou macro-análise;
Os instrumentos descritivos : como citar um filme?
O estatuo do fotograma do filme como objeto de análise;
Os modelos interpretativos: narratologia, psicanálise, ideologia, etc.;
Narratologia e análise da narrativa fílmica
O enunciado narrativo (Vl. Propp, Cl. Brémond, A.J. Greimas, R. Barthes, Chr. Metz):
- Os temas e os motivos;
- O sistema dos personagens;
- A lógica das ações.
A enunciação narrativa (Gérard Genette, François Jost, Roland Barthes)
- O tempo narrativo: ordem, duração, frequência;
- O ponto de vista narrativo: focalização, ocularização, auricularização;
- A voz narrativa: relações narrador/personagens.
Psicanálise do cinema (JL. Baudry, Chr. Metz, R. Bellour, JP. Oudart)
- Psicanálise do autor;
- Psicanálise das personagens (complexo de Édipo);
- Psicanálise da enunciação fílmica (teorias do dispositivo).
A análise ideológica do dispositifo cinematográfico (L. Althusser, JL. Comolli, JL.
Déotte)
- As noções herdadas da teoria marxista: aparelhos ideológicos do Estado, aparelho de
base;
- Técnica e ideologia: Os aparelhos não são neutros;
- A ideologia humanista da câmera obscura, a profundidade de campo.
Quinta, 29 agosto de 2013
Questões de teorias: história das teorias de análise fílmica (2)
3. Os anos 80-90 : os anos da abertura do pós-estruturalismo
A análise estética do filme e a história da arte
- Um antecedente famoso: as análises plásticas do filme dos anos 20 e 30
° A Escola francesa: a cineplasticidade, a fotogenia (Elie Faure, Jean Epstein, Louis
Delluc);
° A Escola alemã: a fisionomia polifônica, o pensamento visual, a imagem
dialética (Rudolph Arnheim, Béla Balazs, Siegfried Kracauer, Walter Benjamin);
° A Escola Soviética: o quadro dinâmico, a montagem-rei (idéias, forças, conflitos,
choque, dialética, escritura de imagens etc.) - (S. M. Eisenstein, Dziga Vertov).
- O aporte dos historiadores da arte (clássicas e modernas):
Aby Warburg, Biblioteca e Atlas, sobrevivência e fórmulas de pathos
Erwin Panofsky, o modelo iconográfico e iconológico
Hubert Damisch, a teoria da núvem e a origem da perspectiva
- A relação Cinema/Pintura na análise de filmes:
Os anos modernos: Eric Rohmer e sua análise do Faust de Murnau
Os anos 1990: Jacques Aumont e sua história de O Olho interminável;
Jean-Louis Leutrat e sua análise iconográfica de Nosferatu;
Philippe Alain Michaud e a questão do movimento das imagens;
Luc Vancheri e sua síntese didática sobre Cinema e pintura.
- Em direção à noção de Figural:
Jean-François Lyotard, Georges Didi-Huberman,
A Análise de filmes e história do cinema
- O grande retorno da História após os anos estruturalistas
- O alargamento dos corpus de análise
- A corrente “História e Cinema”:
O filme como documento histórico (relação documento/monumento)
Marc Ferro, Michèle Lagny, Jean-Pierre Bertin Maghit, Sylvie Lindeperg
- A corrente “Histoire du cinéma”
- A importância da análise contextualizada, de estudo das condições de produção e de
recepção, das fontes diretas ( aproximações genéticas) e indiretas (uso dos arquivos), a
problematização de história (Jean-Louis Leutrat, Michel Marie, François Albéra, Antoine de
Baecque, etc.)
A análise do filme e a filosofia.
- A figura de Gilles Deleuze: entre semiótica, fenomenologia e história
4. Os anos 2000 : A análise figural de filmes
4 categorias da Figura: o Figurativo, o Figurado, o Figurável e a Figura
4 noções operatórias: Acontecimento da imagem, Ficção da imagem, Potência e Configuração
Nicole Brenez, Philippe Dubois, Luc Vancheri, Emmanuel Siety