a afetividade sob um olhar psicopedagÓgico · que ela dedica à criança, especialmente nos cinco...

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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A AFETIVIDADE SOB UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO Alinne de Oliveira Sousa Prof. Carly Machado Rio de Janeiro 2010

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Page 1: A AFETIVIDADE SOB UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO · que ela dedica à criança, especialmente nos cinco primeiros anos de vida, é responsável por grande parcela da sua personalidade

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A AFETIVIDADE SOB UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO

Alinne de Oliveira Sousa

Prof. Carly Machado

Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A AFETIVIDADE SOB UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia Orientadora: Profa. Carly Machado.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida.

Aos meus pais pelo valioso e constante apoio ao longo de toda minha

vida.

Ao meu marido Rafael pelo apoio, carinho, amor, dedicação, paciência e

incentivo não apenas pelo período letivo como em todos os momentos que

precisei.

A todos os familiares e amigos que compreenderam a minha ausência

durante esse tempo e que me deram conforto e apoio nos momentos difíceis.

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RESUMO

O presente trabalho intitulado de A afetividade sob um olhar psicopedagogico tem como proposta trazer para o público em geral informações sobre relevância da afetividade no processo de ensino-aprendizagem, ressaltando ser imprescindível na aquisição do conhecimento e que contribui consideravelmente para a formação integral do individuo. O interesse pela investigação do tema está diretamente relacionado com as necessidades encontradas em decorrência dos problemas de eniso-aprendizagem. Partindo do pressuposto que as escolas privilegiam o aspecto cognitivo em detrimento do aspecto afetivo bem como de que muitos professores desconhecem a importância de se trabalhar a afetividade como elo de desenvolvimento e construção do processo de ensinagem, o estudo busca a comprovação desses fenômenos vislumbrando identificara o longo do processo do trabalho a importância das relações afetivas desvendando à visão de que as dificuldades inerentes ao processo de aprendizagem não necessariamente significa distúrbios de aprendizagem. O trabalho sustenta que afeto e cognição constituem aspectos inseparáveis, presentes em quaisquer atividades, embora em proporções variáveis, as quais se estruturam nas ações dos indivíduos que precisa estar emocionalmente bem para construir o seu processo de ensino e aprendizagem e,sobretudo a necessidade das instituições desenvolverem trabalhos que elejam a afetividade como caminho necessário a percorrer despertando à todos os que fazem a escola (aluno, professor, funcionários e pais) para o viver a vida, o viver das relações de afeto de solidariedade, de amor, respeito às diferenças; o viver do seu próprio “eu”,para um melhor desenvolvimento da personalidade enquanto ser histórico e ativo,transformando esse espaço que é a escola não apenas no lugar de aquisição ou repasse de conhecimento, mas um espaço que transcende contribuindo e sendo determinante para o desenvolvimento do ser humano com um ser multidimensional que é em potencial.

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METODOLOGIA

Este trabalho apresenta uma revisão bibliográfica das teorias de Piaget,

Vygotsky, Freud e alguns seguidores correlacionando-as com o

desenvolvimento da afetividade e sua influencia na aprendizagem.

Desenvolvido a partir de leitura e análise desse material teórico,

constituído de livros, artigos científicos e acessos a sites de acordo com o

tema pesquisado.

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SUMÁRIO

Introdução ---------------------------------------------------------------------------------------- 7

Capítulo I - Afetividade ------------------------------------------------------------------------ 9

1.1. Construção dos afetos ---------------------------------------------------------------- 10 1.2. Desenvolvimento emocional--------------------------------------------------------- 13

Capítulo II - A influência da afetividade na aprendizagem ------------------------- 18

2.1. Relação professor-aluno -------------------------------------------------------------- 20 Capítulo III - Motivações para aprender ------------------------------------------------- 24

3.1. A abordagem psicopedagógica ------------------------------------------------------ 26

Conclusão -------------------------------------------------------------------------------------- 29

Bibliografia -------------------------------------------------------------------------------------- 31

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INTRODUÇÃO

Apesar de a psicopedagogia ainda não ser uma profissão

regulamentada, ela foi implementada devido a necessidade de atender ao

grande número de crianças e adolescentes com fracasso escolar. Ela estuda o

processo de aprendizagem humana visando identificar a complexidade inerente

ao que produz o saber e o não saber e sendo na escola onde a maior parte do

aprendizado acontece.

Considerando a escola uma das responsáveis por grande parte da

formação do ser humano (formação acadêmica, social, cultural), o trabalho do

Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter, principalmente

preventivo no sentido de procurar criar além de competências e habilidades

para impedir o surgimento dos problemas, vem também com o intuito de

propiciar um ambiente cada vez mais adequado para a aprendizagem.

Vygotsky (1994), ao destacar a importância das interações sociais, traz a

idéia da mediação e da internalização como aspectos fundamentais para a

aprendizagem, defendendo que a construção do conhecimento ocorre a partir

de um intenso processo de interação entre as pessoas. Portanto, é a partir de

sua inserção na cultura que a criança, através da interação social com as

pessoas que a rodeiam, vai se desenvolvendo. Nesse sentido, ele destaca a

importância do outro não só no processo de construção do conhecimento, mas

também de constituição do próprio sujeito e de suas formas de agir.

Com a finalidade de auxiliar essas crianças com dificuldades de

aprendizagem e/ou com outros problemas, como neste trabalho será discutido

– a afetividade – é que a intervenção psicopedagógica vem se tornando cada

vez mais necessária seja no contexto escolar como familiar.

Este estudo, baseado em uma revisão bibliográfica, teve como objetivo

apontar os maiores problemas relacionados a falta de afetividade, identificando

a influência da afetividade na aprendizagem, discutir o papel da família e dos

educadores no desenvolvimento escolar e mostrar como uma abordagem

psicopedagógica nos conflitos afetivos pode ser útil.

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Os resultados a serem encontrados ajudarão as pesquisas posteriores

assim como entender melhor como minimizar os problemas com dificuldades

na aprendizagem.

Esta monografia se estrutura em três capítulos. No primeiro capítulo será

retratado o conceito de afetividade, a construção dos vínculos afetivos e o

desenvolvimento emocional. No segundo capítulo será dada ênfase a

influencia da afetividade na aprendizagem e a relação professor-aluno, já no

terceiro capítulo a motivação para aprender e a abordagem psicopedagógica

serão os assuntos centrais.

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CAPÍTULO I

Afetividade

A palavra afeto vem do latim affectur e significa sentimento de carinho,

de ternura por algo ou alguém e constitui elemento básico da afetividade. A

afetividade, para Ferreira (2000), é o conjunto de fenômenos psíquicos que se

manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhadas

sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de

agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza estando diretamente relacionada

ao convívio social.

Na escola as relações afetivas se evidenciam, pois o convívio social

aumenta tendo pelo menos dois tipos de relação diferentes dos existentes em

um lar. A primeira é a relação aluno-aluno, onde além de troca de experiências

vividas anteriormente por cada um deles há também a convivência. A segunda

relação é do professor-aluno onde existirá permuta de conhecimentos e onde o

afeto também deverá estar presente uma vez que é uma relação interpessoal.

Nesta dinâmica podemos compreender que a afetividade é a substância que

nutre estas relações.

Para Jean Piaget (1990), é inegável que o afeto desempenha papel

fundamental na construção de conhecimentos, pois para ele, sem afeto não há

interesse e desta forma não há questionamentos/problemas a serem

resolvidos.

Para Henri Wallon (1975), não é possível separar o aspecto cognitivo do

afetivo. Em seus trabalhos, ele dedica uma grande abertura às emoções como

constituição intermediária entre o corpo, sua fisiologia, seus reflexos e as

condutas psíquicas de adaptação. A atuação esta intimamente ligada ao

movimento, e as posturas são primeiras figuras de expressão e comunicação

que servirão de base ao pensamento concebido, antes de tudo, como uma das

formas de ação. O movimento é a base do pensamento, é a primeira forma de

integração com o exterior e a emoção é a fonte do conhecimento.

Já para Sara Pain (1992), existem duas condições fundamentais para a

aprendizagem, a primeira seria a condição externa e a segunda a interna. As

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condições externas são adquiridas pelos estímulos dado pelo meio em que o

sujeito esta inserido, estando incluídas nesta condição as relações

interpessoais realizadas por este indivíduo. As internas são definidas pelo

próprio sujeito, pelo seu interesse, curiosidade e vontade própria de

relacionamento com o novo, com a nova aprendizagem.

Para Lev Vygotsky (1988), o que nos torna humanos é a nossa

capacidade de relacionamento social. O ser humano é um membro de uma

espécie biológica que só se desenvolve no interior de um grupo social. Com

isso, ele afirma que para que haja qualquer tipo de aprendizagem, seja ela

cultural, social ou mesmo intelectual é necessário um relacionamento estreito e

propício para que sejam adquirias as habilidades e os conhecimentos

necessários para aquele indivíduo.

1.1.Construção dos afetos

O ser humano nasce com uma grande fragilidade e vulnerabilidade

necessitando do cuidado do outro para que possa desenvolver de forma

significativa suas habilidades sensoriais, físicas e cognitivas.

Estudos realizados por autores como Bowlby (2004) e Spitz (2000),

apontam a importância dos vínculos afetivos para o desenvolvimento saudável

da criança, tendo, portanto, a família e a escola um papel fundamental no

crescimento da criança e do adolescente.

O bom desenvolvimento das crianças depende do apego maior ou

menor que elas dedicam aos seus cuidadores. Na proporção que o afeto é

maior, maior a chance de a criança tornar-se um adulto moral e socialmente

independente. Caso contrário, a criança ficará exposta aos riscos provenientes

da pouca vinculação e poderá desenvolver comportamentos anti-sociais

quando adolescente e na fase adulta. (BOWLBY 2004).

Estudos realizados por John Bowlby e por René Spitz (apud BALLONE,

2004), defendem não só a formação do vínculo e a sua importância entre a

criança, mãe/cuidador/professor, como também a continuidade deste, na busca

de uma troca significativa e eficaz desta relação. Segundo esses autores,

quando surge a descontinuidade desta ligação, ou seja, quando a criança é

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abandonada em um orfanato ou creche, quebra-se esse processo afetivo e os

resultados podem ser desastrosos, podendo gerar sérios problemas de ordem

física e psicológica no desenvolvimento da criança.

O vínculo pode ser descrito como um comportamento de grande

interação entre uma criança e seu cuidador. Este processo se constitui no início

da primeira infância tendo influência no desenvolvimento desta criança por toda

a sua vida. O ser humano na sua essência necessita de cuidados, ou seja, de

amor materno que possa ser traduzido em forma de um sentimento de

proteção e segurança, sendo a proteção e a segurança fatores importantes

para que a criança possa ter um bom desenvolvimento, emocional e cognitivo.

Uma das necessidades básicas mais importantes do ser humano é ao

de pertencer, sentir-se parte integrante de um grupo familiar e social. A família

é o grupo primário onde o qual se estabelece vínculos afetivos seguros,

duradouros e pessoais. Nas escolas este vínculo também tem sua relevância

pois, é neste local onde passarão grande parte do tempo para trocar

conhecimentos, desta forma terão a necessidade de estabelecer fortes vínculos

afetivos.

A problemática emocional está ligada aos conflitos interiores e dispersão

do indivíduo, o que dificulta sua interação com o meio, prejudica sua

capacidade de atenção, concentração e de relacionamento interpessoal. A

figura materna tem papel decisivo na "prevenção" desses problemas. O afeto

que ela dedica à criança, especialmente nos cinco primeiros anos de vida, é

responsável por grande parcela da sua personalidade na vida adulta, pois a

ligação mãe-filho nessa faixa etária é muito intensa e a criança se fixa na mãe,

tendo-a como exemplo e modelo para suas atitudes futuras.

NOVAES (1984) nos mostra que a carência afetiva determina uma série

de fatores que prejudicam o desenvolvimento global da criança, tanto no

âmbito físico como psíquico. Essa carência pode ser identificada pela

incapacidade do indivíduo em manter trocas afetivas normais com outros seres

humanos. Segundo ela, esses sintomas diagnosticados na escola é

conseqüência de um descontrole na relação mãe-filho, pois tanto a carência

como o excessivo cuidado pode acarretar problemas emocionais graves na

criança pequena.

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O desvinculamento do seio da mãe poderá desencadear sintomas de

angústia e mal-estar que variam conforme a sua idade, grau de dependência

dos pais e, principalmente, quanto a natureza dos cuidados maternos. Essa

angústia revela uma relação emocional e afetiva normal entre a mãe e a

criança, pois retrata uma quebra no processo de afetividade que vem sendo

construído por ambas (NOVAES, 1984).

Na escola, a criança terá dificuldades de adaptação ao meio de acordo

com o grau de relacionamento com a mãe. Ao nascer, a criança se fixa naquela

pessoa que ela considera de sua posse, no caso a mãe. Na escola ela terá de

se relacionar com um número bem maior de pessoas ao qual está acostumada

e isso é um fator importante na avaliação do desenvolvimento emocional da

criança, funciona como um teste. Através dele podemos definir novos rumos na

educação da criança e dos seus pais. A socialização com outras crianças de

sua idade e professores é uma nova etapa no processo de formação da

personalidade da criança e deve ocorrer de forma saudável. A escola deve

oferecer um ambiente que evite a criança desenvolver angústias e mal-estar,

característicos do afastamento da figura materna.

De acordo com NOVAES (1984) a carência afetiva materna não só

produz choque imediato, mas deterioração progressiva, tanto mais grave,

quanto mais longa e precoce for a carência. Essa deterioração é um processo

evolutivo que pode culminar numa desintegração da personalidade, como

também provocar distúrbios sérios na área somática. Enfim, a angústia

provocada, em crianças pequenas, pela perda ou separação da figura materna

determina mecanismos de defesa que podem comprometer e modificar a sua

personalidade.

Desta forma observamos uma grande importância do primeiro professor

da criança, pois ele será, para ela, a substituição da mãe. Cabe então a esse

profissional o devido cuidado de manter um bom relacionamento que dê

continuidade à relação saudável mãe-filho ou alterar seu comportamento para

elevar a afetividade de uma criança que demonstra problemas emocionais

decorrentes da relação que tem com sua mãe. Sendo assim, o professor não

pode estar alheio à vida do aluno. É necessário que ele conheça os pais, seus

problemas físicos, psíquicos e um pouco da vida que a criança levava antes de

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ingressar na escola. Só assim poderá entender as dificuldades na adaptação

ao novo meio e no processo de aprendizagem.

Tanto o excesso como a falta de afeto pode prejudicar a aprendizagem.

Por isso, a maturidade afetivo-emocional deve estar até certo ponto

desenvolvida quando a criança for levada a ingressar na escola. Esse grau de

maturidade é o que vai definir os rumos do desenvolvimento cognitivo e para

que tudo corra bem será necessário ter um clima de segurança emocional tanto

em casa como na escola.

Problemas físicos e psíquicos são facilmente identificados como

indicadores dos problemas de adaptação e aprendizagem das crianças na

escola, sem deixar de lado os problemas emocionais. A escola e professores,

especialmente os de maternal, devem prever e estar preparados para atender

prontamente essas crianças com problemas emocionais decorrentes de sua

relação familiar, propiciando-lhes um clima de estabilidade emocional e

contribuindo para que o ingresso e permanência da criança na escola ocorram

de maneira normal e tranqüila, onde haja uma socialização efetiva dessa

criança com os professores e funcionários da instituição bem como com as

demais crianças. O nível de aprendizagem deve ser avaliado observando o

fator emocional que condiciona a criança a ter certas atitudes como

desatenção, falta de concentração, apatia, agressividade ou indiferença,

dificultando seu desenvolvimento cognitivo.

1.2. Desenvolvimento emocional

O desenvolvimento emocional de uma pessoa se inicia ainda na primeira

infância e precisa de grande interferência, principalmente de seus cuidadores,

que são os primeiros com que essa criança tem contato. Este desenvolvimento

quando é bem trabalhado favorece a criança no seu desenvolvimento pessoal,

uma vez que essa criança se sente segura, possui uma alta autoestima e desta

forma constitui um bom relacionamento interpessoal. De acordo com Cória-

Sabini (2008) Pode-se dividir o desenvolvimento emocional de acordo com a

idade ou fase de vida do indivíduo.

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► Os dois primeiros anos de vida: Nesta fase, onde a criança ainda é bastante

dependente do seu cuidador, a tarefa principal é a construção da noção do

“eu”. A criança precisa diferenciar as próprias sensações orgânicas e a

resposta que o cuidador dá as suas sensações para que consiga ter, mesmo

que vaga, uma consciência de si mesmo como um ser individual.

É necessário também, que a criança adquira a confiança básica que é a

certeza de que as suas necessidades serão atendidas assim que forem

manifestadas. Esta confiança é indispensável na forma como a criança vê o

seu cuidador, se o verá com confiança por ele sempre atender as suas

necessidades com prontidão ou se verá esse adulto como um ser ameaçador,

duvidoso tornando assim uma criança ansiosa e com medo de abandono.

A base do “aprender a ser” está no prazer que a criança sente ao ser

pega no colo, ao ser embalada com amor e quando as pessoas falam com ela

com carinho.

Para Freud (1977) a relação do cuidador – criança é fundamental no

desenvolvimento da confiança e é consequência de um clima emocional

estável que estimula e nutre a capacidade inerente da criança de se tornar um

ser com personalidade segura.

► De dois a seis anos de idade: Nesta fase a aquisição da linguagem é um

fator extremamente importante para o desenvolvimento da personalidade do

individuo. Nesta fase a criança começa a identificar melhor o seu nome como

algo realmente seu o que a auxilia no estabelecimento da consciência de si

mesmo, além do próprio nome outros objetos o auxiliam nessa construção

como as suas roupas, os seus brinquedos. Nessa construção há a distinção de

si mesmo em relação as demais pessoas.

Apesar desta distinção, as crianças desta fase não conseguem separam

o mundo real do mundo imaginário, o interior do exterior. Para ela todas as

suas fantasias existem além da sua imaginação.

A criança desta fase tem uma forte reação de oposição ou negativismo

às ordens de seus cuidadores, para elas atender a essas ordens é uma

ameaça potencial à sua própria identidade.

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► De sete a doze anos de idade: Nesta etapa a ênfase acontece no processo

de socialização, pois é nesta fase do desenvolvimento que ocorre a

alfabetização. A alfabetização é uma das habilidades que faz com que a

criança comece a entrar no mundo dos adultos, pois além de aprender a ler e

escrever inicia-se também o desenvolvimento de habilidades que lhe serão

úteis para o seu futuro. Assim, a criança descobre a aceitação ou rejeição

social dependendo de suas realizações e desta forma elaboram o autoconceito.

Este autoconceito é baseado naquilo que ouve de outras pessoas, acreditando

cegamente no que ouve.

Para a criança os relacionamentos na escola são mais difíceis do que os

relacionamentos familiares, pois além de adaptar-se a novas exigências do

professor, tem que aprender a conviver com competição e critica dos colegas.

Nesta etapa, inicia-se também a valorização do desempenho acadêmico o que

faz com a criança busque a aprovação dos adultos e o respeito doa colegas

pela suas realizações. Num esforço para ser aceita ou para se defender da

rejeição, a criança pode desenvolver comportamentos inadequados como:

• Agressividade (física ou verbal) – a criança pode apresentar

comportamento agressivo com o professor como forma de compensar a

rejeição. A rejeição pode ser feita através de desenhos, no

relacionamento com os colegas ou mesmo no material escolar.

• Retraimento – a criança evita aquilo que o faz sentir-se ameaçado ou

inferiorizado, fugindo das situações ou vivendo um mundo de faz-de-

conta

• Regressão – a criança exibe comportamentos de uma fase anterior ao

seu desenvolvimento, fugindo para uma fase que foi gratificante no

passado.

É nesta fase também que se adquire os valores éticos sendo estes produtos

de experiências cotidianas vividas por cada criança e decorrentes dos conflitos

entre as ações individuais e as sanções sociais decorrentes.

► Adolescência: Nesta fase há a expansão das tarefas sociais e a inserção do

jovem na vida dos adultos. Os pais passam a exigir dos filhos, coisas muito

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importantes como tomada de decisão, resolução de seus próprios problemas e

a escolha vocacional.

Para que o jovem tenha um bom equilíbrio emocional existem alguns

pontos de grande desafio, são eles o crescimento físico muito rápido e a

maturidade sexual. Esses aspectos influenciam no nível de satisfação pessoal,

uma vez que a aceitação social se dá por meio de aparência física, das

habilidades acadêmicas, sociais e esportivas. Desta forma o jovem passa a

adquirir sua identidade pessoal. Um jovem que se sente seguro em relação aos

aspectos citados, tem maior facilidade de se relacionar com o sexo oposto, é

um jovem que promove mais facilmente seu autodesenvolvimento, ao contrário

de um jovem inseguro.

O jovem que adquire uma identidade positiva de si mesmo está mais

apto a enfrentar com segurança e tranquilidade os desafios apresentados pela

vida.

► Adulto: Não é possível encontrar desenvolvimento emocional do adulto, pois

este já se encontra com seu lado emocional desenvolvido. No adulto é possível

encontrar vários problemas emocionais causados pelo fracasso ocorrido em

seu desenvolvimento.

GOTTMAN (1997) diz que os pais, muitas vezes agem negativamente

na preparação emocional de seus filhos quer mostrar que, principalmente

quando os sentimentos demonstrados pela criança são do tipo "negativos"

como raiva, medo, tristeza... a maioria das vezes os pais, ignoram ou mesmo

recriminam o sentimento da criança com atitudes desagradáveis à ela sendo as

atitudes: aconselham a criança, reclamam com ela ou mandam fazer outra

atividade. No fundo o que estão fazendo é se livrando do problema e

valorizando mais um sentimento que outro o que é extremamente prejudicial,

pois a criança desenvolve conceitos de inferioridade e baixa auto-estima,

sentindo-se ínfera às outras pessoas da família.

Para GOTTMAN (1997) existem cinco passos para a preparação

emocional:

1- Perceber a emoção da criança.

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2- Reconhecer a emoção como uma oportunidade de intimidade ou

transmissão de experiência.

3- Escutar com empatia, legitimando os sentimentos da criança.

4- Ajudar a criança a nomear e verbalizar as emoções.

5- Impor limites e, ao mesmo tempo, ajudar a criança a resolver seus problemas.

A preparação emocional se torna imprescindível para que haja um bom

desenvolvimento interpessoal gerando um indivíduo com boa habilidade social,

preparado para enfrentar os problemas cotidianos.

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Capítulo II

A influência da afetividade na aprendizagem

A aprendizagem constitui-se em um processo que ocorre além do

ambiente escolar e que, além disso, acontece a qualquer pessoa de qualquer

faixa etária. A aprendizagem, como experiência, guarda um elemento universal

do humano, na medida em que permite a transmissão do conhecimento e, por

meio desse processo, garante a semelhança e a continuidade do coletivo, ao

mesmo tempo permitindo a diferenciação e a transformação. O aprender

envolve simultaneamente a inteligência, os desejos e as necessidades e, por

meio do cognitivo, busca-se generalizar, classificar, ordenar, identificando-se

semelhanças, enquanto que, por meio dos desejos e das necessidades,

buscam-se o individual, o subjetivo e o diferente.

O individuo tem uma relação particular e individual com o conhecimento

e o significado do aprender. A aprendizagem ocorre pela ação individual, ou

seja, ocorre pela que a pessoa transforma, reproduz em função dos seus

recursos próprios, portanto, aprender é construir seu próprio significado.

Piaget (1954) afirma que a afetividade não modifica a estrutura no

funcionamento da inteligência, porém é a energia que impulsiona a ação de

aprender, podendo acelerar ou retardar o desenvolvimento dos indivíduos, e

até interferir no funcionamento das estruturas da inteligência.

Para Dell´Agil e Brenett, (2006, p.32) “A ação, seja ela qual for,

necessita de instrumentos fornecidos pela inteligência para alcançar um

objetivo, uma meta, mas é necessário o desejo, ou seja, algo que mobiliza o

sujeito em direção a este objetivo e isso corresponde a afetividade”.

Wallon (1975) em sua teoria faz distinção entre emoção e afetividade:

afetividade é um conceito amplo, que inclui um componente orgânico, corporal,

motor, plástico (emoção), um componente cognitivo, representacional

(sentimentos) e um componente expressivo (comunicação).

Para Sara Pain (1992), existem duas condições importantes para a

aprendizagem as condições internas e as condições externas. Sendo as

externas adquiridas pelo estímulo dado pelo meio em que o sujeito está

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inserido e as internas são definidas pelo sujeito, ou o corpo como mediador da

ação. Ainda nesta linha teórica, Alicia Fernandez (1991) prossegue que, o ser

humano para aprender deve pôr em jogo seu organismo individual herdado,

seu corpo construído especularmente, sua inteligência autoconstruída

internacionalmente e a arquitetura do desejo, desejo que é sempre desejo do

desejo do outro.

Para Oliveira (2003), o desenvolvimento de uma criança é o resultado da

interação de seu corpo com os objetos de seu meio, com as pessoas com

quem convive e com o mundo onde estabelece ligações afetivas e emocionais.

Existem sinais, emitidos principalmente pelas crianças, que prejudicam a

aprendizagem. Pode-se exemplificar: a raiva, a agressividade, o medo, a

timidez excessiva, a ansiedade e a insegurança revelada pela baixa

autoestima.

A raiva e a agressividade surgem da frustração, que ocorre quando o

indivíduo se vê impedido, seja por outra pessoa ou por ele mesmo, de realizar

um desejo seu.

O medo é o estado afetivo originado pela consciência de perigo. O medo

prejudicar a aprendizagem quando impede a motivação do individuo de superar

este sentimento.

A timidez e inibição prejudicam a aprendizagem, pois o individuo com

essas características dificilmente de expõe com medo de ser ridicularizado,

criticados. Essas pessoas são facilmente influenciáveis ao formar sua opinião,

não exponde seus sentimentos e pensamentos, tornando-se acomodadas e

pouco vitais.

Indivíduos ansiosos podem ter sua aprendizagem comprometida uma

vez que são desatentas, com baixa concentração e com grande dificuldade de

controlar suas emoções, podem ter suas percepções distorcidas. A ansiedade

poder ser geradas por fatores, principalmente externos, como insegurança,

dificuldade de entender ou executar tarefas ou quando são muito exigidos

frente às expectativas dos outro.

A autoestima é caracterizada em função do caráter positivo ou negativo

que é dado a um individuo. Considera-se uma alta autoestima quando o

indivíduo tende a ser valorizar e sentir-se bom consigo mesmo, sendo a

autoestima baixa o contrário, o indivíduo se desvaloriza e sente-se mal consigo

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mesmo. Portanto, as características individuais de cada indivíduo tem um fator

determinante na aquisição e elaboração da autoestima.

Ao adquirir cada vez mais competência cognitiva, o individuo vai sendo

cada vez mais capaz de elaborar sua autoestima, sendo cada vez menos

influenciado pela opinião de outras pessoas, isso ocorre em função de a

pessoa conseguir observar e discernir seus próprios resultados e conquistas.

Em uma pesquisa realizada por Wens-Groos e Siperstein em 1997

destacou-se a importância da família no desenvolvimento da aprendizagem.

Esta pesquisa investigou crianças com e sem dificuldades de aprendizagem,

estabelecendo comparações coma rede de interação social, suporte social,

amizades e ajustamentos e constataram que crianças com problemas de

aprendizagem procuram menos a família, bem como seus pares para obter

suporte na solução de problemas. Em 1979, a pesquisa de Watts com crianças

deficientes podem estar relacionadas a problemas afetivos que advêm das

dificuldades de comunicação dessas crianças, destacando desta forma a

importância de um bom ambiente familiar e de uma boa relação professor-

aluno como variáveis significativas nesse processo.

O indivíduo carrega para o ambiente escolar toda a carga afetiva de seu

desenvolvimento com familiares. Os indivíduos que apresentam um

amadurecimento e desenvolvimento emocional conseguirão desempenho

favorável a um desenvolvimento cognitivo.

2.1. Relação professor-aluno

Cabe ao professor um importante papel nas inter-relações escolares. As

características individuais dos professores (autoritário, permissivo,

democrático) e seus traços de personalidade são apontados como

responsáveis por maior ou menor eficiência como docentes.

Professor autoritário: ausência total de dialogo com os alunos. O

professor é aquele que sabe, que ensina, que fala, que informa, que transmite

conhecimentos para o aluno, que é passivo, um mero recebedor de conteúdos.

Professor permissivo: total liberdade de expressão. Os alunos são

ouvidos e observados, mas não há imposição de limites, um direcionamento

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dado pelo professor, uma vez que faltam objetivos educacionais mínimos

estipulados em planejamento a serem atingidos.

Professor democrático: o meio-termo entre o permissivo e autoritário. O

professor tem um diálogo, desenvolve o conhecimento, existe uma troca de

experiências entre professor e aluno.

O professor precisa estabelecer uma relação afetiva com os alunos e

que perceba que como indivíduo, seus alunos também têm algo a oferecer e

que a aprendizagem se faz por intermédio das interações que são

estabelecidas. O professor oferece por meio de suas atitudes, uma série de

informações ao aluno que irão contribuir na formação de seu autoconceito.

Portanto, as expectativas que o professor tem para com seu aluno poderão

contribuir sobre seu desempenho. O aluno que tem suas características

valorizadas pelo professor, tende a acentuá-las cada vez mais, enquanto

aquele que se sente rejeitado ou discriminado tende a se afastar da situação e

acaba por ver as expectativas negativas do professor confirmadas.

O professor como mediador do processo deve ajudar ou facilitar os

alunos a construir aprendizagens significativas e, para tal, precisa atribuir um

sentido pessoal à aprendizagem para que os alunos compreendam não apenas

o que têm de fazer, mas também por que e para quê. A participação ativa dos

alunos acontece quando estes sentem que podem ter êxito em sua

aprendizagem e para isso devem ser propostas atividades que eles sejam

capazes de resolver com as ajudas necessárias, e sejam encorajados pelo

esforço e não pelo resultado.

Os aspectos comportamentais do professor que se correlacionam com

os resultados acadêmicos dos alunos, são a quantidade e o ritmo do ensino, a

forma como o professor apresenta sua informação, as perguntas aos alunos, a

reação às respostas destes e a organização do trabalho individual na sala de

aula e em casa, dos alunos (Brophy e Good, 1986).

Diante de tais considerações encontramos o professor que usa a

motivação como instrumento metodológica na relação de aprendizagem,

entendendo que esta se realiza na interação entre ele e o aluno, discordando

da posição autoritária que antes designava esta função.

Conforme Cury (2003) os professores precisam deixar de serem bons e

se tornarem fascinantes para que suas aulas e conteúdos façam sentido e

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possam ser assimilados por seus alunos. Ele afirma também que são sete os

pecados capitais dos professores. São eles:

►Corrigir publicamente: Causa um clima desagradável para todos os

presentes, além do trauma que a pessoa terá que enfrentar dali em diante. O

ideal continua sendo conversar e levar a pessoa a refletir sobre seu ato em

particular;

►Expressar autoridade com agressividade: A autoridade dos pais e

professores deve ser conquistada com inteligência e amor. Expressar

autoridade com agressividade faz com que o respeito ocorra por temor e não

pelo reconhecimento do caráter;

►Ser excessivamente crítico, obstruindo a infância da criança: Através dos

erros e falhas também ocorre aprendizado. É importante deixar os alunos

experimentarem, errarem, para poderem pensar a respeito e descobrirem o

mundo que os rodeia. Crianças se desenvolvem através de brincadeiras,

corridas, quedas e travessuras. Enclausurar um criança num conjunto de

regras adultas só contribui para que ela seja um adulto infeliz;

►Punir quando estiver irado e colocar limites sem dar explicações: Punir num

momento de ira significa tentar se vingar do erro do aluno. Compreender a

situação e levar o indivíduo a reflexão é o melhor caminho. As explicações são

sempre necessárias.

►Ser impaciente e desistir de educar: Quando o jovem ou a criança parece

não ter jeito, falta paciência para educar. As dores vividas por eles e seus

pedidos de ajuda, carinho e conforto são das mais variadas formas, até com

agressividade. Nessas horas, temos que acreditar e investir para que não se

percam nos seus mundos de sofrimento;

►Não cumprir com a palavra: falar não é uma forma de educar as emoções,

desde que uma vez dada a palavra, esta não volte atrás. As frustrações vividas

por um não recebido ensinam ao jovem que nem tudo que ele desejar,

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obrigatoriamente alcançará. É fundamental cumprir com a palavra, caso

contrário, este individuo ficará despreparados para esse tipo de situação em

suas vidas;

►Destruir a esperança e os sonhos: sonhos e esperanças são razões para

viver. O jovem sem motivação torna-se opaco, sem alegria.

A participação psicopedagógica nesta relação é de, inicialmente,

procurar conhecer o professor e sua preparação pedagógica, o projeto político

pedagógico da escola e os mecanismos que usam para alcançar o

desenvolvimento ensino-aprendizagem, para que sua intervenção seja feita de

modo consciente e compatível com os envolvidos nesta relação.

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Capítulo III

Motivações para aprender

Tezolin (2003) explica que as informações adquiridas por um individuo

passam por três áreas diferentes do cérebro, sendo elas: consciente,

subconsciente e inconsciente e que a cada nova experiência que vivemos

temos a oportunidade de combinar informações já incorporadas anteriormente

com as obtidas nesta nova situação. O resultado da combinação entre o que já

sabemos e a nova experiência é um novo conhecimento que será acumulado

no consciente e, posteriormente, no subconsciente.

Quando expostos a uma terceira situação, podemos evocar esse

conhecimento acumulado, trazendo-o para o consciente. No entanto, para que

a informação passe de uma região para outra, ela precisa atravessar uma zona

de turbulência. Para que haja uma nova e significativa aprendizagem, o

conhecimento prévio deve fluir naturalmente de uma região para outra e, para

que haja essa passagem natural, devemos diminuir a turbulência nessa área.

Para Tezolin (2003) o novo conhecimento fica por pouco tempo no

consciente e a passagem do consciente para o subconsciente é mais fácil

porque acontece enquanto dormimos e nosso organismo se mantém relaxado.

Para Cury (2003) dez técnicas compõem o "Projeto Escola da Vida" que

objetiva:

"... a educação da emoção, a educação da auto-estima, o desenvolvimento da solidariedade, da tolerância, da segurança, do raciocínio esquemático, da capacidade de gerenciar os pensamentos nos focos de tensão, da habilidade de trabalhar perdas e frustrações. Enfim, formar pensadores.".

Uma delas é a Música ambiente em sala de aula que, para Cury (2003),

contribui para desacelerar o pensamento, aliviar a ansiedade, melhorar a

concentração, desenvolver o prazer de aprender e educa a emoção. Dessa

forma, o fluxo de informações do subconsciente para o consciente no momento

da aula ocorre com maior facilidade e rapidez, contribuindo assim para uma

aprendizagem mais expressiva e duradoura.

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As outras nove técnicas apresentadas por Cury (2003) para desenvolver o

"Projeto Escola da Vida" e construirmos a "Escola dos Nossos Sonhos" são:

·Sentar em círculo ou em U, para que seja trabalhada a habilidade de

participação e construída a idéia de coletividade entre os integrantes da turma

e professor;

·Exposição interrogada, através da qual o professor exercita a arte de

interrogar, instigando seus alunos a pensar por meio de desafios propostos;

·Exposição dialogada, quando o professor pergunta e estimula seus alunos à

participação, debelando a timidez e melhorando a concentração;

·Ser contador de histórias, criando clima de confiança e descontração,

educando a emoção e dando significado ao que é trabalhado;

·Humanizar o conhecimento, dando a oportunidade aos alunos de conhecerem

as ansiedades, os medos, os erros e a vida daqueles que construíram os

conceitos estudados em sala de aula, para que percebam que foram pessoas

normais como eles;

·Humanizar o professor, desmistificando a idéia de um profissional sem

sentimentos e emoções, cruzando as experiências e aprendizagens dele com a

dos alunos, contribuindo assim para socialização, afetividade e valorização do

"ser";

·Educar a auto-estima, elogiando sempre antes de criticar e evidenciando a

importância que cada ser humano tem, ajudando a educar a emoção, a auto-

estima e a resolver conflitos, além de promover a solidariedade;

·Gerenciar os pensamentos e as emoções, resgatando a liderança do eu

através do gerenciamento dos pensamentos negativos e das emoções

angustiantes;

·Participar de projetos sociais, a fim de desenvolver a responsabilidade social,

a solidariedade, o trabalho em equipe, educando-se para a saúde, paz e

direitos humanos.

Com a utilização destas técnicas pretende-se adquiri uma boa relação

interpessoal que ajude a formar cidadãos capazes de compreenderem e

enfrentarem as situações conflituosas que a vida impõe, além de serem

sensíveis ao problema do outro e do planeta.

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Infelizmente, nem todos os alunos estão intrinsecamente motivados e,

por isso, é necessário que haja estratégias para que estes consigam ter

vontade para aprender. É importante compreender que o clima da sala de aula

e relacionamento professor-aluno pode facilitar ou impedir a sua motivação

para aprendizagem.

3.1. A abordagem psicopedagógica

No contexto ensino-aprendizagem, o indivíduo que apresenta

dificuldades emocionais, como baixa autoestima e dificuldade de comunicação

com pais e responsáveis, poderá sofrer conseqüências que dificultarão o

desempenho de suas atividades acadêmicas.

A interação social que se estabelece no ambiente escolar contribui para

o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, pois este passa a ser

constantemente confrontado com diferentes pontos de vista e de vida e passa

a ser influenciado pela escala de valores que o grupo adota. Destas interações

sociais se determinará o papel que cada um desempenhará socialmente.

Nos estudos de Miller (1984) onde foi verificada a aceitabilidade social

dos estudantes com dificuldades de aprendizagem, os resultados indicaram

que os sujeitos sem dificuldades de aprendizagem tendem a aceitar,

primeiramente, os colegas sem dificuldades de aprendizagem; depois aqueles

com dificuldades de aprendizagem; em seguida, os surdos; depois os cegos;

em quinto lugar os deficientes físicos e em sexto lugar os colegas com retardo

mental.

As pesquisas também indicaram que, quanto maior a aceitação social,

menor será a dificuldade de aprendizagem e o baixo desempenho, e quanto

maior a rejeição, maior será a dificuldade e o baixo desempenho e que as

reações agressivas também se encontram diretamente ligadas a essa

aceitação (Sisto & Martinelli, 2006, p. 26).

De acordo com a ABPp (Associação Brasileira de psicopedagogia) o

psicopedagogo tem possibilidade de tomar as seguintes ações com a

finalidade de facilitar a aprendizagem e promover uma boa relação

interpessoal, dentre essas ações estão:

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- Explicitar sobre habilidades, conceitos e princípios para que ocorra a

aprendizagem

- Trabalhar para promover a formação continuada dos professores

- Atuar na reflexão sobre currículos e projetos junto com a coordenação

pedagógica, propiciar reflexão na escola, auxiliando a repensar seus valores e

crenças com relação à diversidade e à igualdade;

- Atuar junto com a família/alunos que apresentam dificuldades de

aprendizagem, apoiado em uma visão holística, levando-o a aprender a lidar

com seu próprio modelo de aprendizagem, considerando que esses problemas

podem ser derivados:

§ Das suas estruturas cognitivas

§ De suas questões emocionais

§ Da sua resistência em lidar com o novo

§ Ou outra derivação que possa se apresentar.

- Auxiliar os pais a pensarem sobre as dificuldades de seus filhos e perceberem

se a insistência a respeito da inclusão não está atrelada à negação da

dificuldade;

- Conhecer o real potencial da criança a ser incluída e as possibilidades que o

meio possui para estimular este potencial;

- Não focar na doença, e sim nas possibilidades do sujeito e do contexto;

- Auxiliar a escola a encontrar saídas metodológicas e avaliativas não

exclusivas;

- Divulgar uma proposta de trabalho grupal, descentralizador do papel do

professor;

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- Divulgar o ensino pela pesquisa, para que todos possam participar,

independente de suas dificuldades;

- Indicar as possibilidades de adaptação de linguagens e materiais, quando isto

for necessário.

Com este trabalho em conjunto entre os professores, psicopedagogos,

família e escola a chance de que uma criança apresente ou desenvolva

maiores complicações em relação a vida pessoal e acadêmica será cada vez

menor.

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CONCLUSÃO

Os seres humanos diferem uns dos outros em vários aspectos como a

inteligência, as habilidades, os esquemas de conhecimento que empregam, as

estratégias de aprendizagem, os interesses, as expectativas, as motivações e

todos esses aspectos incidem sobre os processos de ensino-aprendizagem de

forma distinta e particular para cada aluno.

As teorias de afetividade e do desenvolvimento humano que foram

surgindo tem nos mostrado o quanto essas especificidades intervêm na

individualidade humana e, portanto, não podemos estabelecer leis psicológicas

gerais que devem ser aplicadas igualmente a todos os seres humanos. São

muitos os esforços praticados atualmente para adaptar o ensino às

características individuais a que foram submetidos, a dimensão social e

tecnológica e as relações sociais que estabelecem com os demais.

Todos esses aspectos devem ser compreendidos como importantes na

construção global do individuo. Não intencionando tornar um fator mais

importante que o outro ressalvo a importância do professor na construção e no

desenvolvimento da aprendizagem como mediador dos interesses que se faz

entre a aprendizagem e a afetividade. As considerações apresentadas como

positivas na relação professor-aluno descrevem as mudanças que ocorreram

no processo de ensino aprendizagem ao longo dos últimos anos. A educação

ideal como sendo a construção progressiva de sistemas de significados

compartilhados entre o professor e alunos e a transferência progressiva do

controle do professor para os alunos.

Para Paulo Freire (1996) “ quem forma se forma e re-forma ao formar e

quem é formado forma-se forma ao ser formado” , confirmando a necessidade

de uma educação global, visando o completo desenvolvimento do indivíduo e a

compreensão do docente de que o processo de ensino e aprendizagem não

esta centrado no conhecimento do professor, mas que deve ser construído e

produzido a partir da interação deste como educando. O individuo deve ser

estimulado em todas as habilidades e, para isso, o professor deve estar ciente

de que ensinar é uma especificidade humana, não é transferir conhecimentos,

e exige a participação de todos os segmentos envolvidos.

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Além do importante papel do professor na formação do individuo, a

família atua de forma fundamental para a construção de uma sociedade

mentalmente saudável. A educação dos filhos abrangendo os aspectos

cognitivos, sociais, afetivos e motores deve ser a principal meta da família. A

presença do pai e da mãe na construção de valores de uma criança contribui

para a formação de um individuo com atitudes e pensamentos de um cidadão

efetivo e um ser humano com capacidade de resolução de problemas, sem

preconceitos e com senso de justiça.

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