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A ADOÇÃO DO CUSTO TOTAL DE PROPRIEDADE NO PROCESSO DE COMPRAS DE GRANDES EMPRESAS BRASILEIRAS: UM ESTUDO DE CASOS Fernando Miguel Pinto Saliba Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto Coppead de Administração Mestrado em Administração Orientadora Prof a . Dr a . Rebecca Arkader (COPPEAD / UFRJ) Rio de Janeiro 2006

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A ADOÇÃO DO CUSTO TOTAL DE PROPRIEDADE NO PROCESSO

DE COMPRAS DE GRANDES EMPRESAS BRASILEIRAS:

UM ESTUDO DE CASOS

Fernando Miguel Pinto Saliba

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto Coppead de Administração

Mestrado em Administração

Orientadora Profa. Dra. Rebecca Arkader

(COPPEAD / UFRJ)

Rio de Janeiro

2006

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ii

A ADOÇÃO DO CUSTO TOTAL DE PROPRIEDADE NO PROCESSO

DE COMPRAS DE GRANDES EMPRESAS BRASILEIRAS:

UM ESTUDO DE CASOS

Fernando Miguel Pinto Saliba

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa

em Administração – COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

________________________________________ Orientadora

Profa. Rebecca Arkader, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)

________________________________________

Prof. Peter Wanke, D.Sc. (COPPEAD/UFRJ)

________________________________________

Prof. Leonardo Lustosa, Ph.D. (PUC/RJ)

Rio de Janeiro

2006

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Saliba, Fernando Miguel Pinto A Adoção do Custo Total de Propriedade no Processo de Compras de Grandes Empresas Brasileiras: um Estudo de Casos / Fernando Miguel Pinto Saliba. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2006.

x, 152 p.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2006. Orientadora: Rebecca Arkader. 1. Custo Total de Propriedade. 2. Processo de Compras. 3. Compras Estratégicas. I Arkader, Rebecca (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.

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À minha família.

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v

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pelo amor e apoio constantes em tudo que faço, e ao meu irmão,

pelo companheirismo durante todos esses anos. Tenho em vocês três grandes

exemplos a seguir.

À professora Rebecca Arkader, pela valiosa orientação e troca de conhecimento .

À Flávia Rosário, pela pessoa especial que tem sido pra mim e pela força em todos

os momentos que precisei ao longo desses dois anos de mestrado.

Aos amigos Cláudia Woods e Leonardo Rangel, componentes da equipe

Manguetown. A vitória que juntos conquistamos com certeza ficará para sempre na

minha memória. Simplesmente inesquecível!

Aos amigos Juliana Yonamine e Eduardo Rodrigues, pelo companheirismo durante o

intercâmbio na Holanda. Em especial, à Juliana, pelo apoio e incentivo desde os

anos de graduação.

À turma 2004, pelos momentos vividos ao longo desses dois anos de mestrado.

Ainda fico impressionado com a quantidade de grandes amigos que fiz nessa

instituição. Amizades que, com certeza, seguirão comigo daqui em diante.

Aos professores do COPPEAD, grandes responsáveis pelo sucesso dessa

instituição e de seus alunos. A todos do COPPEAD, especialmente funcionários da

Secretaria Acadêmica e da Biblioteca, por fazerem dessa instituição um lugar tão

especial e agradável para se estudar.

Aos meus familiares e amigos, pela incessante torcida para que tudo desse certo.

Às empresas participantes da pesquisa e, em especial, aos entrevistados, pelo

tempo concedido para que este estudo fosse realizado.

Por fim, aos professores componentes da banca avaliadora, pela disponibilidade e

pelas contribuições certeiras.

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vi

RESUMO

SALIBA, Fernando Miguel Pinto. A Adoção do Custo Total de Propriedade no

Processo de Compras de Grandes Empresas Brasileiras: um estudo de casos.

Orientadora: Rebecca Arkader. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2006. Dissertação

(Mestrado em Administração).

O crescimento da importância estratégica do gerenciamento de compras vem

obrigando as empresas a repensarem a forma como suas decisões de fornecimento

são tomadas. Empresas cujas áreas de compras já desempenham esse novo papel,

mais estratégico, começam a explorar diversas oportunidades relacionadas não só a

benefícios de custos, como também a melhorias de desempenho. Um dos pilares-

chave desse novo processo de compras seria a adoção da metodologia de custo

total de propriedade, ou TCO, do inglês Total Cost of Ownership.

O presente estudo teve como objetivo investigar as principais características da

adoção do custo total de propriedade no processo de compras de grandes empresas

brasileiras. Mais especificamente, buscou-se identificar os fatores que motivaram as

empresas a adotarem o TCO, caracterizar o processo de implementação, relatar os

entraves percebidos e os benefícios obtidos e identificar as perspectivas futuras da

adoção do TCO. Para isso, foram estudados três casos de grandes empresas que

recentemente passaram a utilizar essa metodologia em suas decisões de compras.

Os resultados do estudo indicam que a adoção do TCO é caracterizada como parte

de um grande processo de reestruturação da função Compras das empresas, em

que se destaca a formação de um grupo especializado no desenvolvimento de

análises de TCO e isolado das atividades tradicionais dos processos de compras.

Além dos benefícios de redução de custos, o TCO possibilita que as empresas

estreitem o relacionamento com fornecedores considerados estratégicos. Os

principais entraves observados são as dificuldades no levantamento de informações

de custos e resistências tanto de fornecedores como do pessoal de suprimentos. Em

vista dos resultados da pesquisa, a metodologia parece ser adequada ao processo

de compras de itens estratégicos em grandes empresas do país.

Page 7: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

vii

ABSTRACT

SALIBA, Fernando Miguel Pinto. A Adoção do Custo Total de Propriedade no

Processo de Compras de Grandes Empresas Brasileiras: um estudo de casos.

Orientadora: Rebecca Arkader. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2006. Dissertação

(Mestrado em Administração).

The growing strategic role of supply management is forcing companies to restructure

the way their supply decisions are made. Companies in ing to explore several

opportunities related not only to cost benefits, but also to performance improvement.

One of the main pillars of this new purchasing process is the adoption of the total

cost of ownership methodology. which the Purchase area already plays this new and

more strategic role are start

The purpose of this study is to investigate the main characteristics of the adoption of

the total cost of ownership approach in the purchasing process of large Brazilian

companies. Specifically, the study seeks to point out the factors that motivated

companies to adopt TCO; to characterize the implementation process; to identify

benefits and problems; and to point out future perspectives of TCO adoption. Three

cases of large companies that have recently started to use this methodology were

studied.

The results indicate that the adoption of the total cost of ownership methodology can

be characterized as part of an overall process of reorganization of the Purchasing

function. Within this process, specialized groups are formed to develop TCO

analyses, separate from the conduction of other activities in the purchasing process.

In addition to cost reduction benefits, TCO allows companies to strengthen their

relationships with strategic suppliers. The main problems identified were difficulties to

collect cost information and the resistance of both suppliers and employees of the

Purchasing function. The results point out that the TCO approach seems to be

appropriate in the purchasing process for strategic items in large companies.

Page 8: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1

1.1. OBJETIVO..........................................................................................................................1

1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO ...........................................................................................1

1.3. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO.......................................................................................4

2. REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................................5

2.1. O PROCESSO DE COMPRAS E SUA ORGANIZAÇÃO...........................................5

2.1.1. O Processo de Compras ..........................................................................................5

2.1.2. Organização do Processo de Compras .................................................................7

2.2. O CUSTO TOTAL DE PROPRIEDADE (TCO) ............................................................8

2.2.1. Definições de Custo Total de Propriedade (TCO)................................................8

2.2.2. Aplicações do TCO ao Processo de Compras....................................................11

2.2.3. Modelos de Categorização de Custos do TCO ..................................................12

2.2.4. Classificação dos Modelos de TCO......................................................................21

2.2.5. Aplicação do TCO às Diferentes Categorias de Compras................................28

2.2.6. O TCO em Comparação com Outras Metodologias ..........................................31

2.2.7. Processo de Implementação do TCO ..................................................................33

2.2.8. Principais Entraves da Adoção do TCO...............................................................40

2.2.9. Benefícios da Adoção do TCO..............................................................................43

2.3. QUADRO CONCEITUAL ...............................................................................................49

3. METODOLOGIA .....................................................................................................................53

3.1. QUESTÕES DA PESQUISA.........................................................................................53

3.2. MÉTODO DE PESQUISA..............................................................................................54

3.3. ESCOLHA DOS CASOS................................................................................................55

3.4. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS.............................................................................55

3.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO..........................................................................................56

4. RESULTADOS........................................................................................................................57

4.1. OS CASOS.......................................................................................................................57

4.1.1. A Adoção do TCO na Empresa ALPHA...............................................................57

Page 9: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

ix

4.1.2. A Adoção do TCO na Empresa BETA..................................................................77

4.1.3. A Adoção do TCO na Empresa GAMMA .............................................................95

4.2. ANÁLISE DOS RESULTADOS...................................................................................112

5. CONCLUSÕES.....................................................................................................................132

5.1. RESPOSTA ÀS PERGUNTAS DO ESTUDO ..........................................................132

5.2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO ........................................................................................141

5.3. RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS ...............................................141

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................143

ANEXO – ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM AS EMPRESAS.....................................148

Page 10: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Objetivos e aplicações do TCO ao processo de compras .......................... 11

Figura 2 – Modelo de categorização do TCO por lógica temporal ............................... 17

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Categorização do TCO por atividades-chave de Compras ...................... 13

Quadro 2 – Componentes do TCO identificados por Ferrin e Plank (2002) ............... 20

Quadro 3 – Vantagens e desvantagens do uso dos diferentes modelos de TCO

apresentadas por Ellram (1995) ......................................................................................... 27

Quadro 4 – Categorias de compras submetidas aos estudos de TCO .....................116

Quadro 5 – Classificação dos modelos de TCO utilizados nas empresas................124

Quadro 6 – Principais entraves do processo de adoção do TCO...............................126

Quadro 7 – Principais benefícios obtidos na adoção do TCO.....................................128

Quadro 8 – Comparação entre características do processo de adoção do TCO ....129

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1. INTRODUÇÃO

1.1. OBJETIVO

O presente estudo teve como objetivo investigar as principais características da

adoção do custo total de propriedade no processo de compras de grandes empresas

brasileiras. A partir de uma pergunta de pesquisa geral: “Como se caracterizam os

processos de adoção do custo total de propriedade no gerenciamento de compras

de grandes empresas brasileiras?”, o estudo foi orientado a questões específicas

cujos objetivos seriam identificar os fatores que motivaram as empresas a adotarem

o custo total de propriedade, caracterizar o processo de implementação, relatar os

entraves e benefícios e levantar as perspectivas futuras da adoção do TCO.

1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO

As questões relacionadas à gerência de compras e fornecimento têm-se mostrado

cada vez mais importantes para a gestão empresarial. A área de compras tornou-se

prioritária (Anderson e Katz, 1998; Ellram, Ogden e Zsidisin, 2003) e, cada vez mais,

passa a desempenhar um papel de grande relevância para que grandes

corporações atinjam seus objetivos de economia de custos e aumento de

lucratividade (Anderson e Katz, 1998). De fato, reconhecer a real importância da

função Compras como fonte de competitividade seria fundamental para empresas

que desejem estar presentes, de forma eficaz, em seus mercados hoje e no futuro

(Herrera, 2001).

Os estudos nessa área ganharam ainda mais relevância nos últimos anos graças ao

aumento da participação dos custos de bens e serviços adquiridos externamente

pelas empresas (Monczka, Trent e Handfield, 2002). Além disso, o crescimento da

importância estratégica do outsourcing passou a exigir um gerenciamento mais

eficaz dos custos associados ao processo de fornecimento (Ellram, Ogden e

Zsidisin, 2003). Dessa forma, a área de compras passou a controlar elementos

decisivos para o sucesso competitivo das empresas (Dobler e Burt, 1996).

Page 12: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

2

Como as compras seriam o maior custo existente na maioria das organizações

(Nelson, Moody e Stegner, 2001), a capacidade da área para gerenciar eficazmente

e reduzir custos deveria ser considerada crítica para o sucesso no longo prazo

(Malbert e Skeels, 2002) e poderia resultar em vantagens competitivas de valor

significativo, não transferível e não imitável (Ellram, Ogden e Zsidisin, 2003).

Segundo Slack e Lewis (2001), considerando que a compra de bens e serviços

representa pelo menos 50% do custo total na maioria das organizações, pequenas

reduções nos valores gastos apresentam grande impacto no resultado das

empresas. Monczka, Trent e Handfield (2002) relatam percentuais ainda maiores,

chegando a 55%. De fato, o processo de compras é visto, atualmente, como uma

atividade com enorme potencial de redução de custos para as empresas (Anderson

e Katz, 1998).

A exploração de todo o potencial da área pode gerar vantagem competitiva não só

através de benefícios de custos, mas também através de melhoria de desempenho

(Monczka, Trent e Handfield, 2002). Assim, as organizações passaram a enxergar

seus fornecedores como potenciais agentes para criação de valor (Mol, 2002). Esse

processo poderia indicar que as vantagens competitivas não residiriam mais apenas

dentro das empresas, mas também em suas decisões de fornecimento (Dyer e

Singh, 1998).

Tal crescimento de importância do gerenciamento de compras está obrigando as

empresas a repensarem e a reestruturarem suas decisões de compras (Monckzca et

al., 1998). Uma vez que o papel da função Compras teria mudado dentro das

organizações, as empresas começariam, então, a repensar a forma com que suas

decisões de fornecimento são tomadas (Anderson e Katz, 1998).

Uma das mais importantes distorções que a área de compras ainda pode sofrer,

devido a um posicionamento estratégico inadequado, seria a orientação para ganhos

de preço em detrimento das dimensões mais importantes de custo e serviço

(Herrera, 2001). Fornecedores com os preços mais atraentes não necessariamente

são a melhor opção (Degraeve e Roodhooft, 1999b). Além disso, a ênfase da função

Compras no preço peca por não considerar outros fatores de custos importantes,

Page 13: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

3

que poderiam gerar benefícios de valores mais significativos e de maior

sustentabilidade (Anderson e Katz, 1998).

Em contrapartida, empresas cujas áreas de compras já desempenham esse novo

papel mais estratégico começam a explorar diversas oportunidades para minimizar

seus custos e maximizar o valor dos bens e serviços para seus usuários. Um dos

pilares-chave desse novo processo de compras seria a adoção do conceito de custo

total de propriedade, ou TCO, do inglês Total Cost of Ownership (Anderson, Glenn e

Sedatole, 2000).

O foco no custo total de propriedade em substituição à orientação por preço seria

essencial para a exploração do potencial estratégico da área de compras (Anderson,

Glenn e Sedatole, 2000). Além disso, a adoção do TCO afeta diretamente a forma

como as empresas compram e promove oportunidades para significativas reduções

de custo e aumento de lucratividade (Anderson e Katz, 1998; Ellram e Siferd, 1998).

As oportunidades são ainda maiores tendo em vista os desenvolvimentos no campo

da contabilidade gerencial que permitiriam a quantificação de custos relativos ao

processo de compras e estabeleceriam melhores distinções entre diferentes

fornecedores (Bennett, 1996; Carr e Ittner, 1992; Cavinato, 1992; Degraeve e

Roodhooft, 1999b; Ellram, 1995; Ellram e Siferd, 1993; Roehm et al., 1992).

Além disso, apesar da importância cada vez maior do gerenciamento dos custos

incorridos nas atividades entre empresas (Cooper e Slagmulder, 1999; Spina e

Zotteri, 2000; Handfield et al., 2000; Cokins, 2001; Tomkins, 2001), a literatura ainda

ofereceria pouca evidência empírica do seu papel em tais relacionamentos e o seu

desenvolvimento ainda estaria em etapa inicial (Kulmuala, 2004).

É nesse contexto que pode ser identificada a relevância de um estudo sobre a

adoção do custo total de propriedade no processo de compras das organizações.

Uma vez que decisões erradas de fornecimento podem ser extremamente custosas

para as empresas (Ellram e Siferd, 1993) e que as oportunidades de benefícios

provenientes de melhorias nos processos de compras são consideráveis (Degraeve

e Roodhooft, 1999a), o estudo sobre a adoção de uma metodologia como o TCO é

de grande relevância.

Page 14: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

4

Mais especificamente, o estudo também possui relevância por abordar a adoção do

custo total de propriedade em grandes empresas do Brasil, país em que, apenas

recentemente, tem havido ações empresariais mais consistentes de melhorias no

processo de compras.

1.3. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

O estudo aqui apresentado está organizado da seguinte forma:

ê O primeiro capítulo apresentou os objetivos do estudo e sua relevância.

ê O segundo capítulo traz a revisão da literatura sobre o tema, iniciando-se

com uma descrição do processo de compras e de sua organização. Em

seguida, são abordadas as definições, aplicações e classificações dos

modelos de TCO. São detalhados os principais aspectos do processo de

implementação do TCO, seus entraves e benefícios. Por último, é

apresentado o quadro conceitual que busca resumir os principais pontos

da adoção do custo total de propriedade identificados na literatura.

ê O terceiro capítulo apresenta a metodologia do estudo, trazendo as

perguntas da pesquisa, o método escolhido, o processo de coleta e

análise dos dados e as limitações do método.

ê O quarto capítulo apresenta os três casos estudados, seguindo a estrutura

formada pelas perguntas da pesquisa e a análise dos resultados,

confrontando as práticas identificadas em cada um dos casos e abordando

pontos identificados na literatura.

ê O quinto e último capítulo apresenta as conclusões, as limitações do

estudo e as sugestões para estudos futuros sobre este mesmo tema.

Page 15: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

5

2. REVISÃO DE LITERATURA

O objetivo deste capítulo é apresentar os principais tópicos relacionados à adoção

do custo total de propriedade no processo de compras das empresas. Para tanto,

inicia-se com a descrição do processo de compras e de sua organização. Em

seguida, são definidos o conceito de custo total de propriedade e suas aplicações.

São, então, feitas comparações com outras abordagens para tomada de decisão de

compras e apresentados modelos para categorização dos custos do TCO. Depois,

são detalhadas as principais formas de se classificar os modelos de TCO e suas

aplicações às diferentes categorias de compras. São, então, destacados os

principais pontos relacionados ao processo de implementação do TCO, os principais

entraves da sua adoção e os seus possíveis benefícios. Por fim, é montado um

quadro conceitual que busca resumir os principais pontos associados à adoção do

custo total de propriedade, identificados na literatura, que irão orientar a pesquisa de

campo e a análise das questões tratadas neste estudo.

2.1. O PROCESSO DE COMPRAS E SUA ORGANIZAÇÃO

2.1.1. O Processo de Compras

O processo de compras é um dos processos-chave para o gerenciamento da cadeia

de suprimentos de uma organização (Fleury, 2000), tendo fundamental importância

para as operações da empresa. Seu principal objetivo é disponibilizar os insumos

necessários às operações em tempo hábil e, principalmente, ao menor custo total

(Bowersox e Closs, 2001).

Nas últimas duas décadas, diversos estudos destacaram o fato de que o processo

de compras teria deixado de ser um mero processamento de requisições e pedidos e

estaria, cada vez mais, relacionado a atividades de cunho mais estratégico (Kraljic,

1983; Reck e Long, 1988; Cox, Harris e Parker, 1998; White e Hanmer-Lloyd, 1999).

Segundo Monczka, Trent e Handfield (2002), o processo de compras seria realizado

em ciclo composto por cinco grandes estágios:

Page 16: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

6

1. Identificar ou antecipar necessidades de materiais ou serviços;

2. Avaliar potenciais fornecedores;

3. Selecionar fornecedores;

4. Apresentar requerimentos dos bens e serviços e recebê-los;

5. Avaliar e gerenciar continuamente o desempenho dos fornecedores.

Na mesma linha, Wagner e Schwab (2003) colocam que atividades como a análise

de mercado, especificação de bens e serviços, identificação de potenciais

fornecedores, negociação, seleção e avaliação de fornecedores e gestão de

contratos representariam os principais elementos do processo de compras.

Além dessas principais atividades, seria possível inserir nesse processo atividades

como o envolvimento precoce da área de compras nas equipes de desenvolvimento

de produtos e sua participação no planejamento estratégico da empresa (Dobler e

Burt, 1996).

Neste século XXI, pode-se dizer que as empresas passaram a enxergar em seu

processo de compras oportunidades para melhorar a qualidade de sua cadeia de

suprimentos e reduzir significativamente seus custos (Monczka, Trent e Handfield,

2002). De fato, a organização que busca melhorar seu desempenho teria no seu

processo de compras um importante fator que poderia favorecer e inclusive acelerar

o seu sucesso (Herrera, 2001).

É exatamente essa busca por oportunidades de reduções de custos e melhorias na

execução do processo de compras que estaria fazendo com que as organizações

compradoras passassem a adotar o custo total de propriedade. Tal conceito teria

efeito direto sobre a forma como as empresas compram e promoveria oportunidades

para melhorias significativas no resultado das empresas (Anderson e Katz, 1998).

Page 17: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

7

2.1.2. Organização do Processo de Compras

Observa-se o crescimento em importância do processo de compras na medida em

que este passa a ser realizado progressivamente por equipes multifuncionais dentro

da organização, e não apenas por um único departamento que reage a requisições

de outras áreas (Johnson, Leenders e Fearon, 1998). O impacto cada vez maior das

decisões de compras nas demais áreas da organização faria com que esse processo

necessitasse o envolvimento de equipes multifuncionais (Ellram, 1993).

Além disso, Kotler e Armstrong (1999) destacam como exemplo de mudança da

organização do processo de compras o fato de algumas empresas terem fundido

várias atividades – compras, controle de estoque, planejamento de produção e

transporte – em um processo de alto nível chamado de gerenciamento estratégico

de suprimentos.

Page 18: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

8

2.2. O CUSTO TOTAL DE PROPRIEDADE (TCO)

2.2.1. Definições de Custo Total de Propriedade (TCO)

O custo total de propriedade pode ser definido como uma abordagem complexa que

requer que a organização compradora identifique todos os custos relevantes das

atividades de aquisição, posse e uso de um bem ou serviço comprado, e no qual são

quantificados todos os custos relacionados a um fornecedor específico (Bennet,

1996; Carr e Itner, 1992; Cavinato, 1992; Ellram e Siferd, 1993; Ellram, 1993, 1994,

1995; Ellram, Ogden e Zsidisin, 2003). A seguir são apresentadas algumas

definições de TCO encontradas na literatura.

Verdadeiro Custo de Compras:

Degraeve e Roodhooft (1999a) definiram o TCO como o verdadeiro custo de um

bem ou serviço comprado, sendo formado por seu preço e outros fatores que

reflitam custos adicionais gerados pelos fornecedores na cadeia de valor da

empresa. De fato, seria através da implementação do custo total de propriedade que

o verdadeiro custo de aquisição de um item ou serviço poderia ser determinado

(Degraeve, Labro e Roodhooft, 2000).

Soma dos Elementos de Custo Relevantes para Decisões de Compras:

Somando-se ao componente preço, outros fatores de custo que desempenhariam

papel importante nas decisões de compras ajudariam a compor o custo total de

propriedade (Degraeve e Roodhooft, 1999b; Ferrin e Plank, 2002). Em artigo em que

definiram os principais fundamentos do TCO, Ellram e Siferd (1993) afirmaram que,

para uma tomada de decisão correta em compras, seria necessário incluir custos

relativos a problemas de qualidade como retrabalho, inspeção e atrasos; custos

relacionados à entrega considerando pontualidade, leadtime e pedido completo;

custos relativos à comunicação com o fornecedor, tais como utilização de EDI ou

fluxo de papel; custos associados à prestação de serviço, tais como expedição e

devolução de itens devido a problemas de qualidade, problemas na entrega, erros

na fatura, entre outros; e, por fim, custos administrativos, tais como treinamento e

transferência de tecnologia. Quando todos esses fatores fossem levados em

consideração, fornecedores com os preços mais atrativos não necessariamente

Page 19: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

9

seriam a melhor opção para a empresa (Ellram e Siferd, 1993; Degraeve e

Roodhooft, 1999b).

Custos Incorridos ao Longo do Processo de Compras

O custo total de propriedade poderia ser definido como um conceito de integração,

sendo determinado a partir do fluxo de atividades relativas à compra do bem ou

serviço e dos custos associados a essas atividades (Ellram, 1993, 1994; Ellram e

Siferd, 1993; Ferrin e Plank, 2002). Degraeve e Roodhooft (1999a) também

destacam o levantamento de todas as atividades do processo de compras como

uma característica do TCO. A partir disso, os custos gerados por atividades

realizadas ao longo de toda cadeia de valor da empresa, isto é, antes, durante e

depois da compra, seriam identificados e contemplados nas decisões de

fornecimento.

Através das análises do fluxo do processo de compras feitas no TCO, uma empresa

conseguiria determinar explicitamente quais seriam as atividades realizadas

internamente ou por terceiros que estariam aumentando o custo dos bens e serviços

comprados. Dessa forma, a organização deixaria de considerar apenas os custos

alocados ou pagos externamente para a compra de determinado item (Ellram e

Siferd, 1993).

Identificação de Trade-Offs nas Decisões de Compras e Impactos nas Demais Áreas

Anderson, Wouters e Wynstra (2005) definem o TCO como o processo de

identificação de trade-offs de custo existentes nas decisões de compras. Esses

custos poderiam ser incorridos tanto na área de compras, como em outras áreas da

empresa compradora e até mesmo no próprio fornecedor. A inclusão de trade-offs

existentes nas outras áreas seria característica fundamental do TCO, uma vez que

as decisões de compras teriam impactos significativos em outras funções da

organização (Ferrin e Plank, 2002; Anderson, Wouters e Wynstra, 2005).

A identificação de trade-offs característica do TCO estaria em linha com a busca das

organizações por ofertas de melhor valor tanto do ponto de vista do fornecedor como

do usuário na empresa (Anderson e Narus, 1998, 2004; Doyle, 2000; Ulaga, 2001).

Page 20: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

10

Custos de Compras Sob Ótica de Longo Prazo:

Ellram, Ogden e Zsidisin (2003) afirmam que o TCO ajudaria as organizações a

obterem uma visão de longo prazo do custo de se fazer negócio com determinado

fornecedor. De fato, Ferrin e Plank (2002) associaram à adoção do custo total de

propriedade a realização de análises dos impactos das decisões de fornecimento no

longo prazo.

Além disso, o TCO levaria em consideração custos ao longo de todo o ciclo de vida

do item comprado (Degraeve, Labro e Roodhooft, 2000). Essa perspectiva ampliada

possibilitaria avaliações mais corretas para cada situação de compra e eliminaria o

processo decisório baseado estritamente no curto prazo, isto é, considerando

principalmente a variável preço (Ferrin e Plank, 2002). Atualmente, a tomada de

decisão de compras com base apenas no preço ainda seria dominante em grande

parte das funções de compras das organizações (Anderson, Thomson e Wynstra,

2000).

Custos de Compras ao Longo da Cadeia de Suprimentos

Assim como o conceito de custo total aplicado ao campo da logística, o custo total

de propriedade procuraria examinar custos associados à compra de bens e serviços

ao longo de toda a cadeia de suprimentos. Sendo assim, o TCO consideraria custos

incorridos em toda a operação da empresa, desde a formação de idéias iniciais,

como, por exemplo, o trabalho realizado em conjunto com determinado fornecedor

para o desenvolvimento de um item novo ou aperfeiçoado, até as exigências de

garantia do item uma vez que o produto acabado já estivesse em uso pelo

consumidor final (Ellram, 1993).

Além disso, o TCO estaria diretamente associado às atividades de redução das

barreiras existentes entre a organização compradora e seus fornecedores, como por

exemplo ações de cooperação, compartilhamento de informações e identificação de

trade-offs ao longo da cadeia de suprimentos. O TCO seria base para modificações

na forma como essas empresas fariam negócios juntas, tais como reavaliar qual

empresa seria responsável por determinada atividade ou quais seriam os efeitos de

mudanças no processo de compras. Essa característica, ainda que considerada

Page 21: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

11

pouco presente nas práticas do TCO, estaria em fase de expansão em termos de

sua utilização (Anderson, Wouters e Wynstra, 2005).

2.2.2. Objetivos e Aplicações do TCO ao Processo de Compras

Ellram e Siferd (1998) desenvolveram um modelo em que apresentam os diferentes

objetivos da adoção do TCO e as atividades do processo de compras que seriam

apoiadas pelas análises de custo total de propriedade. Para cada um dos objetivos –

estratégico, tático e operacional – as autoras listaram as principais aplicações dos

modelos de TCO.

Figura 1 – Objetivos e aplicações do TCO ao processo de compras

Fonte: Ellram e Siferd (1998, p.67).

O modelo aqui apresentado ilustra a amplitude de decisões que a abordagem do

TCO pode apoiar, variando desde decisões operacionais de rotina, como por

exemplo o volume comprado que deve ser alocado a determinado fornecedor, até

decisões mais estratégicas, como a identificação de oportunidades de melhoria de

processo e até mesmo indicações se determinada empresa deveria estar atuando

Objetivo do TCO: Principais Aplicações:

Estratégico: Melhoria contínua

Tático: Desenvolvimento de fornecedores

Operacional: Gerenciamento e

avaliação de fornecedores

- questionamento de processos fundamentais - redefinição de processos - decisões de outsourcing - gerenciamento da cadeia de suprimentos

- identificação de fatores que acarretam elevados custos tanto interna quanto externamente

- feedback para fornecedores - acompanhamento de desempenho - seleção de fornecedores - alocação de volume de compras - alocação de custos a produtos

Page 22: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

12

em ramo de negócios específico. Dessa forma, o TCO apresentaria aplicações

bastante diversas para situações e organizações diferentes (Ellram e Siferd, 1998).

2.2.3. Modelos de Categorização de Custos do TCO

Como definido na seção 2.2.1, as análises de custo total de propriedade

contemplam uma série de custos associados às atividades de compras de uma

empresa. Segundo Ellram (1994), se determinado custo deve ou não ser incluído no

TCO de um item específico geralmente depende da importância relativa ou da

magnitude desse para o item comprado.

De acordo com Degraeve e Roodhooft (1999a), a determinação das categorias de

custo que devem ser incluídas nas análises de custo total de propriedade exige um

bom conhecimento dos diferentes processos internos da empresa e, muitas vezes, a

inclusão de determinada categoria está sujeita a discussões internas na

organização.

Para abordar a questão da definição dos custos a serem considerados, Ellram

(1994) sugere a utilização de ferramentas como o gráfico de Pareto, que teriam

como principal objetivo rastrear as categorias de custos mais relevantes para o

processo de compra de determinado item.

Além disso, a literatura apresenta modelos que auxiliam na identificação dos custos

relevantes para as atividades de compras. A seguir são apresentados três desses

modelos que identificam e classificam os custos que devem ser incluídos no TCO. O

primeiro deles segmenta os custos a partir das atividades-chave da função compras

de uma empresa (Ellram e Siferd, 1993). O segundo utiliza uma lógica temporal para

facilitar a identificação de todos os custos incorridos antes, durante e após a compra

propriamente dita (Ellram, 1993). O terceiro modelo busca segmentar os custos em

níveis hierárquicos correspondentes à freqüência de ocorrência dos mesmos

(Degraeve e Roodhooft, 1996, 1999a). Os três modelos encontram-se detalhados a

seguir.

Page 23: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

13

2.2.3.1. Modelo de Categorização por Atividades-Chave de Compras

O modelo proposto por Ellram e Siferd (1993) classifica os custos abordados pelo

TCO em seis principais categorias de atividades: preço de compra, qualidade,

entrega, comunicação, serviço e administração. O quadro a seguir detalha as

atividades e os custos incorridos que compõem o custo total de propriedade em

cada uma das categorias.

Quadro 1 – Categorização do TCO por atividades-chave de Compras

PREÇO DE

COMPRA

Negociação dos termos de contrato com respeito a: quantidade,

qualidade, condições de entrega, custo de frete, descontos,

extensão do contrato, nível de coordenação e cooperação.

QUALIDADE

Seleção e aprovação de fornecedores; avaliação de

desempenho; investigação dos processos do fornecedor;

manutenção de relações de fornecimento; inspeção dos

insumos; retorno de itens defeituosos; tratamento de rejeitos.

ENTREGA

Recebimento de entregas; recebimento de carregamentos

incompletos; expedição de ordens atrasadas; providências para

correção de ordens erradas.

COMUNICAÇÃO

Atualização de previsões junto a fornecedores; preparação e

envio de pedidos de compra por correio, telefone, fax e eletronic

data interchange (EDI); manutenção do sistema de informação

de compras; realização de ajustes nas faturas; cobrança do

valor pago por itens devolvidos; fechamento de pedidos de

compra e registro de notas fiscais; atualização de registros de

estoque.

SERVIÇO

Supervisão da instalação de equipamentos e manutenção;

solicitação de reparos e peças incluídas na garantia;

envolvimento no treinamento dos usuários; gerenciamento de

estoques de peças sobressalentes para reparos não incluídos

na garantia; respostas a reclamações; realização de recall de

produtos.

Page 24: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

14

ADMINISTRAÇÃO

Determinação de estratégia de fornecimento em conjunto com

estratégia corporativa; contratação, avaliação, promoção e

demissão de pessoal dentro da área de compras; coordenação

de atividades com outras áreas; treinamento dos funcionários da

área incluindo orientação inicial, mudanças de procedimento e

desenvolvimento pessoal.

Fonte: Ellram e Siferd (1993, p.166).

Um estudo feito por Ellram (1993) indicou que dentre as seis categorias, as que

possuem os custos que mais freqüentemente são utilizados para compor o TCO nas

empresas seriam as relativas à qualidade e entrega. A categoria de serviço também

seria encontrada com certa freqüência, porém os custos nela incluídos poderiam

variar bastante em cada caso.

2.2.3.2. Modelo de Categorização por Lógica Temporal

Uma segunda forma de identificar os custos que irão compor o custo total de

propriedade é segmentá-los com base no momento em que estes seriam incorridos

pela empresa compradora, em relação à ocasião específica da transação ou

compra. Nesse segundo modelo proposto por Ellram (1993), os custos seriam

divididos em três categorias:

ê custos incorridos nas atividades de pré-transação;

ê custos incorridos durante a atividade de transação;

ê custos incorridos nas atividades de pós-transação.

Essas três dimensões foram desenvolvidas e adaptadas ao contexto de custo total

de propriedade a partir de um modelo de serviço ao cliente proposto por LaLonde e

Zinzer (1976). A seguir, cada um desses três grupos encontra-se detalhado. Além

disso, são feitas considerações sobre o nível de percepção das empresas em

relação a cada uma das três categorias.

Page 25: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

15

2.2.3.2.1. Custos de Pré-Transação

Os custos de pré-transação seriam aqueles que ocorrem antes do recebimento dos

itens comprados e, até mesmo, da colocação do pedido. Essa categoria inclui todos

os custos incorridos pela empresa desde o momento em que algum funcionário tem

a idéia ou inicia o processo para verificação da possibilidade de compra de

determinado item até, de forma exclusiva, a colocação do pedido para compra desse

item.

Alguns custos que ocorrem nesta etapa poderiam passar desapercebidos pelos

compradores, tais como a investigação de fontes alternativas de fornecimento,

qualificação e educação de fornecedores no que diz respeito às expectativas e aos

sistemas da empresa compradora e adaptação de sistemas, práticas e

procedimentos de entrega de novas fontes de fornecimento.

Muitas empresas, devido à constante busca por reduções no preço de compra,

tendem a esquecer o quão custoso pode ser adicionar um novo fornecedor às suas

bases. Como esses custos pré-transacionais muitas vezes não são contabilizados

junto às transações que os geraram, são freqüentemente ignorados pela empresa

compradora. Dessa forma, a seleção e o acréscimo de novos fornecedores podem

ser considerados gratuitos, quando claramente este não deveria ser o caso.

2.2.3.2.2. Custos de Transação

Os custos de transação seriam aqueles diretamente relacionados com a colocação

do pedido e o recebimento, incluindo o preço do bem ou serviço. Os custos incluídos

nessa categoria abrangem desde a colocação do pedido e o recebimento do item

comprado até a preparação desse item para a realização da próxima atividade de

agregação de valor na cadeia de suprimentos da empresa. Como exemplos de

custos de transação podem-se destacar a preparação e colocação do pedido de

compra (EDI, fax, telefone, etc.), o acompanhamento do pedido, o recebimento, a

checagem de dados do recebimento com a fatura e o pagamento da cobrança.

Page 26: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

16

De acordo com Ellram (1993), os custos de transação tendem a ser mais

amplamente reconhecidos pela função compras das empresas do que os de pré e

pós-transação. Isto se dá principalmente porque custos que compõem essa

categoria ocorrem em proximidade de tempo e espaço, possuindo relacionamento

direto com a transação em si. Porém, ainda assim, alguns custos de transação não

seriam considerados nas decisões de compras, tais como a preparação do pedido

de compra, a auditoria e conferência do pedido, no recebimento e no pagamento da

fatura, e a correção de documentação errada.

2.2.3.2.3. Custos de Pós-Transação

Os custos de pós-transação seriam aqueles incorridos depois que o item comprado

já se encontra em propriedade da empresa compradora, de seus agentes ou

inclusive de seus clientes. A ocorrência real de tais custos pode se dar logo após o

recebimento do pedido de compra ou mesmo anos depois, quando o item comprado

encontra-se em uso, conserto ou até em processo de sucateamento. Tibben-Lembke

(1998) inclui nessa categoria do custo total de propriedade os custos de logística

reversa. Quanto mais tempo decorrer após a transação para que determinado custo

ocorra, menor é a probabilidade de tal custo ser relacionado explicitamente com a

compra de um fornecedor específico.

Os custos que se encontram nesta categoria seriam os mais freqüentemente

ignorados pelas empresas. Como exemplos é possível citar os de manutenção, tanto

de rotina como especiais, e custos associados à falta de peças de reposição e/ou

obsolescência. Tais custos costumam ser de difícil rastreamento e podem ocorrer

bastante tempo após a compra.

Para o caso específico de peças componentes, uma empresa apresenta maior

propensão a associar os custos de pós-transação a uma compra específica se estes

ocorrerem próximos à transação. Esses custos incluem paradas na linha de

produção, falha do componente na inspeção do produto acabado e problemas

ocorridos após a venda. Para o caso de bens de capital, custos de pós-transação,

tais como parada do equipamento, reparo e manutenção são normalmente

reconhecidos e associados à compra específica do equipamento. Porém, raramente

Page 27: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

17

uma empresa que não utiliza a abordagem de custo total de propriedade

contabilizaria tais custos de forma separada e analisaria a aquisição do bem a partir

dessa perspectiva.

A seguir, encontra-se uma adaptação do modelo de classificação proposto por

Ellram (1993) contendo os principais componentes de custos de cada categoria.

Figura 2 – Modelo de categorização do TCO por lógica temporal

Fonte: Adaptado de Ellram (1993, p.7).

Componentes Pré-Transacionais:

ê Identificação de necessidade ê Investigação de fontes de fornecimento ê Acréscimo de fornecedor aos sistemas

internos ê Capacitação:

ê do fornecedor nas operações da empresa

ê da empresa nas operações do fornecedor

Componentes Transacionais:

ê Preço ê Preparação e colocação de pedido ê Entrega / transporte ê Tarifas / obrigações ê Fatura / pagamento ê Inspeção ê Devolução ê Acompanhamento e correção

Componentes Pós-Transacionais:

ê Parada da linha ê Produtos finais defeituosos rejeitados antes

da venda ê Problemas no pós-venda ê Reparo / reposição no mercado ê Lealdade do consumidor / reputação da

empresa ê Custo de peças de reparo ê Custo de manutenção e reparo

CUSTO TOTAL DE

PROPRIEDADE

Page 28: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

18

2.2.3.3. Modelo de Categorização por Níveis Hierárquicos de Custos

O terceiro modelo existente na literatura segmenta os custos das atividades de

compras de acordo com a freqüência de ocorrência dos mesmos. Degraeve e

Roodhooft (1996) dividem os custos em três níveis hierárquicos, como a seguir se

expõe.

O primeiro nível hierárquico é chamado de nível do fornecedor. As atividades desse

nível somente ocorrem se determinado fornecedor está sendo utilizado. Os custos

no nível do fornecedor podem incluir, por exemplo o custo de uma auditoria de

qualidade, o salário do pessoal de compras que gerencia o relacionamento com o

fornecedor e, possivelmente, os custos adicionais de pesquisa e desenvolvimento

incorridos pela organização compradora devido ao uso do produto deste fornecedor

específico.

As atividades do segundo nível hierárquico, chamado de nível de pedido de compra,

são realizadas toda vez que uma ordem de compra é colocada para um determinado

fornecedor. Os custos que compõem este nível incluem, por exemplo, recebimento,

preparação de fatura e custos de transporte.

O terceiro nível hierárquico é chamado de nível unitário. Nesse caso, as atividades

são realizadas para uma unidade de produto específica de determinado pedido de

compra. Tais custos podem incluir, por exemplo, os custos adicionais de uma parada

na produção causada por um defeito em um item comprado de determinado

fornecedor ou o prejuízo gerado por um produto final que apresenta defeitos

causados por algum componente comprado desse fornecedor. Nesse modelo, os

custos de estoque seriam classificados como pertencentes a esse terceiro nível

hierárquico.

Em artigo mais recente, Degraeve e Roodhooft (1999a) acrescentaram um quarto

nível posicionado entre o nível do pedido de compra e o nível unitário. Esse quarto

nível foi chamado de nível do lote, e nele encontram-se os custos das atividades

relacionadas a lotes específicos comprados de um fornecedor. Segundo os autores,

a separação dos custos das atividades de compras nesses quatro níveis

Page 29: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

19

hierárquicos pode ser extremamente útil para a formulação dos modelos de custo

total de propriedade.

2.2.3.4. A Crítica e o Resultado do Estudo Exploratório de Ferrin e Plank (2002)

Para Ferrin e Plank (2002), o primeiro modelo de Ellram e Siferd (1993) apenas

abordaria as atividades que contribuem de forma direta para o custo total de

propriedade, apesar de contemplar, inclusive, atividades de suporte e sugerir alguns

direcionadores de custo para essas atividades. Em contrapartida, o modelo de

Ellram (1993) apresentaria uma tipologia mais genérica e passaria a considerar tanto

custos diretos quanto indiretos, podendo representar um bom começo para o

processo de identificação dos custos que irão compor o TCO.

Apesar disso, em estudo exploratório realizado com membros do Institute for Supply

Management (ISM), Ferrin e Plank (2002) constataram elevado número de

elementos na composição do TCO, além de uma natureza subjetiva de muitos. Os

resultados foram classificados em 13 grupos: operação, qualidade, logística,

tecnologia, manutenção, estoque, ciclo de vida, confiabilidade e capacitação do

fornecedor, preço inicial, custos de transação, clientes, custo de oportunidade e

outros. O detalhamento dos componentes de cada um desses grupos encontra-se

na tabela a seguir.

Page 30: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

20

Quadro 2 – Componentes do TCO identificados por Ferrin e Plank (2002)

Qualidade

ê Durabilidade ê Substituição ê Falha no campo ê Inspeção ê Custo de qualidade ê Custo de calibração ê Retrabalho ê Sucata ê Devolução de cliente ê Custo de rejeição ê Melhoria de

qualidade ê Parada não

planejada ê Custos de “fora de

serviço”

Tecnologia

ê Obsolescência de design ê Adequação para fim

pretendido ê Flexibilidade pra novo

fim ê Tecnologia ê Tecnologia em

mudança ê Vantagem no longo

prazo ê Capacidade de

mudança de tecnologia do fornecedor

Operação

ê Manufatura ê Eficiência de maquina ê Programação de

produção ê Economia de mão-de-

obra ê Custo de montagem ê Custo de operação no

longo prazo ê Utilização de

capacidade ê Aumento no output de

produção ê Velocidade do

equipamento ê Custo no uso ê Velocidade da linha

Logística

ê Frete ê Embalagem ê Serviço ao cliente ê Disponibilidade ê Manuseio ê Instabilidade nas

taxas de frete ê Custo de expedição ê Tarifas ê Leadtime ê On-time delivery ê Supplier-managed

inventory ê Armazenagem ê Obrigações ê Cobertura geográfica

para pedidos ê Taxas de importação ê Tarifas portuárias

Estoque ê Estoque de

segurança ê Design /

Procurement para redução de estoque ê Área de estocagem ê Perecibilidade ê Giro de estoque

Confiabilidade e capacitação do fornecedor ê Custos de parceria ê Custos de formação

de times ê Confiança ê Capacitações do

fornecedor ê Termos de pagamento ê Capacitações de P&D ê Capacidade de

crescimento ê Suporte ê Serviços ê Estoques no

fornecedor ê Familiaridade

Manutenção ê Insumos ê Treinamento ê Paradas ê Custos ê Mão-de-obra ê Custos de reparo ê Componentes ê Sobressalentes ê Custo de manutenção

no longo prazo ê Freqüência de

consertos ê Confiabilidade ê Programa de

manutenção preventiva

Ciclo de vida ê Utilização no longo

prazo ê Ciclo de vida

projetado ê Vida útil do produto ê Estabilidade do ciclo

de vida ê Economias de custos ao longo da vida ê Vida útil ê Custo de redesenho ê Custo de

obsolescência

Clientes

ê Satisfação do usuário ê Percepções dos

consumidores ê Especificações de

clientes

Custos de transação ê Administração de

acordos do pós-compra ê Facilidade de

transação ê Custo de mudança

de fornecedor ê Pedidos pequenos ê Procurement ê Ativi dades de

transação ê Economias no longo

prazo

Custo de Oportunidade ê Custo do dinheiro ê Overhead

Preço Inicial ê Custo unitário ê Preço inicial de

compra ê Estabilidade de preço

no longo prazo ê Investimento inicial

Page 31: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

21

Outros

ê Impostos ê Garantia ê Projeto de produto ê Custo de rejeitos ê Salários e benefícios

ê Mão-de-obra indireta ê Depreciação ê Leasing ou compra ê Segurança ê Instalação

ê Facilidade de operação ê Suporte técnico ê Valor residual ê Preço total instalado

ê Questões de câmbio ê Questões ambientais

Fonte: Ferrin e Plank (2002, p.25).

Tendo em vista a grande diversidade dos custos identificados no estudo e a

subjetividade de parte deles, Ferrin e Plank (2002) constataram que a obtenção de

um modelo único e completo de categorização de custos a serem incluídos no TCO

poderia ser considerada uma ilusão.

2.2.4. Classificação dos Modelos de TCO

2.2.4.1. Classificação Quanto à Formalização do TCO

Ellram (1993), a partir dos resultados de estudo realizado com gerentes de compras

que estavam presentes na NAPM’s 1991 Annual International Conference,

identificou que as empresas que consideravam utilizar o custo total de propriedade o

faziam de duas formas distintas. As duas abordagens eram diferentes no que dizia

respeito à formalização do TCO. A seguir, apresentam-se as duas definições dadas

por Ellram (1993) e algumas considerações de outros pesquisadores.

2.2.4.1.1. TCO Informal

Essa abordagem faz referência à maneira informal com que fatores de custo, além

do preço de compra, seriam considerados na seleção e na avaliação de

fornecedores. Por exemplo, o comprador de uma empresa teria consciência sobre os

problemas que freqüentemente ocorreriam no relacionamento com determinado

fornecedor e que o tempo e o esforço dedicados na correção desses problemas

aumentariam o custo de se fazer o negócio. Apesar de desconhecer o valor do

verdadeiro impacto no custo total, o comprador efetuaria um registro mental desses

Page 32: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

22

erros. Porém, ao mesmo tempo em que esses fatores afetariam a percepção da

empresa sobre o fornecedor, eles não seriam especificamente somados ao custo da

compra de um bem ou serviço desse fornecedor.

Além disso, a abordagem informal do TCO estaria sujeita aos efeitos de proximidade

de tempo dos fatos ocorridos. Uma vez que, nesse caso, o comprador seria o

responsável por assimilar, de forma não sistemática, o impacto no custo total,

problemas recentes com determinado fornecedor apresentariam um peso muito

maior nas decisões de compras do que o verdadeiro desempenho histórico. Esse

tipo de influência poderia acarretar decisões de compras não necessariamente

certas sob a ótica do custo total de propriedade.

2.2.4.1.2. TCO Formal

A abordagem formal reconheceria explicitamente os fatores adicionais de custo,

além do preço, como parte do custo de se fazer negócio com determinado

fornecedor. De fato, Ellram (1995) apresenta como definição de TCO formal a

existência, na empresa, de um método escrito e documentado para a determinação

dos custos associados à aquisição, uso e venda de um bem ou serviço de

determinado fornecedor.

O número e os tipos de fatores de custo considerados, a forma como as informações

seriam coletadas e a precisão obtida poderiam apresentar variações. Porém, em

teoria, toda abordagem formal de custo total de propriedade deveria considerar

custos de transporte, recebimento, qualidade (inspeção, retrabalho, devolução),

custos administrativos de compras e, obviamente, o preço final de compra

(Goldenberg e Turner, 1991; Shearer, 1992). Na prática, como observado por Ellram

(1993), algumas empresas não levariam em conta um ou outro elemento de custos

desse grupo. Geralmente , o elemento não considerado seria o relacionado aos

custos administrativos de compras.

Page 33: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

23

2.2.4.2. Classificação Quanto ao Nível de Padronização

No estudo de Ellram (1994), o modelo de TCO adotado pelas empresas foi

classificado quanto ao seu nível de padronização. A autora constatou a utilização de

modelos padronizados e modelos customizados e procurou entender as principais

razões que levariam as empresas a adotarem determinado tipo de modelo. O

resultado do estudo apresenta -se descrito a seguir.

2.2.4.2.1. Modelos Padronizados de TCO

A classificação do modelo de custo total de uma empresa como padronizado diz

respeito à existência de um grupo de fatores comuns nas análises de TCO de cada

compra. O principal aspecto que diferencia esse tipo de modelo de TCO dos

modelos customizados seria o fato de ele poder ser utilizado repetidas vezes para

uma variedade de tipos de compras.

Um modelo padronizado demandaria pouca ou nenhuma modificação nos tipos de

custos incluídos no TCO e na forma como esses custos seriam calculados. Sendo

assim, o usuário apenas teria que inserir os custos relacionados à compra em

questão e excluir os fatores que seriam irrelevantes para a decisão.

A decisão pela adoção de modelos de TCO padronizados limitaria a flexibilidade de

incorporação de elementos de custos diferentes nas análises. Porém, esse tipo de

modelo apresentaria pontos fortes como rapidez e facilidade de uso, devido à

disponibilidade e ao conhecimento adquirido no uso repetitivo. Além disso, seria

mais fácil treinar pessoas e explicar os resultados das análises de TCO de formato

padronizado. Também seria mais simples compilar os dados do TCO das diferentes

compras em toda a empresa, uma vez que estariam disponíveis as mesmas

informações para cada compra.

2.2.4.2.2. Modelos Customizados de TCO

A classificação do TCO adotado por uma empresa como customizado diz respeito ao

desenvolvimento de modelos especificamente voltados para determinadas decisões

Page 34: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

24

de compras. Dessa forma, o modelo seria desenvolvido para a compra de um item

específico.

Em geral, os fatores de custo considerados diferem consideravelmente entre

modelos customizados. Apesar da possibilidade de tais modelos serem baseados

em um conjunto pré-estabelecido de fatores de custo, como por exemplo custos de

qualidade, entrega e serviço, os custos específicos considerados em cada categoria

precisariam ser determinados pelo usuário. Essa formulação poderia se dar a partir

de conhecimento adquirido em experiências anteriores, a partir de seleção de custos

em uma lista contendo os fatores potenciais ou ser desenvolvida partindo-se do

zero.

A decisão pelo desenvolvimento de modelos customizados para cada compra

representaria uma complexidade ainda maior. Porém, em seu estudo, Ellram (1994)

constatou que as empresas que adotaram modelos customizados indicaram que as

vantagens de possuir um modelo perfeitamente adequado às necessidades de uma

compra específica mais que compensam o investimento de tempo no

desenvolvimento. Além disso, o uso de modelos customizados geraria incentivos aos

usuários, uma vez que suas considerações seriam incorporadas na modelagem do

TCO.

2.2.4.2.3. Decisão entre Modelos de TCO Padronizados e Customizados

Em estudo realizado por Ellram (1994), cujo objetivo era identificar quais fatores

levariam as empresas a adotarem modelos de TCO customizados ou padronizados,

a autora verificou uma forte relação entre o modelo adotado e a variedade de

compras existente nas empresas.

As empresas que utilizavam modelos padronizados apresentavam as seguintes

características de compras: (1) a empresa comprava muitos itens de natureza

similar, tais como componentes e peças para a produção, (2) a empresa conseguia

especificar facilmente os elementos-chave de interesse para o custo total desses

itens e (3) os elementos do TCO eram comuns entre eles. Além disso, as empresas

utilizavam esse tipo de modelo em várias compras dentro de uma mesma categoria,

Page 35: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

25

compras essas que apresentavam grande volume, eram realizadas repetidas vezes

e apresentavam interesses similares quanto às características de desempenho do

item comprado.

Em contrapartida, as empresas que adotaram modelos customizados apresentavam

as seguintes características de compras: (1) a empresa possuía poucos itens de

interesse de custo total dentro de determinada categoria de compras e (2) os

fatores-chave do TCO que afetavam tais compras variavam entre os itens

comprados. Sendo assim, o desenvolvimento de modelos customizados estaria

associado às diferenças existentes entre os elementos de interesse para o custo

total dos bens ou serviços analisados.

2.2.4.3. Classificação Quanto às Características das Informações Utilizadas

Ellram (1995) apresentou uma terceira forma de classificação dos modelos de TCO:

quanto às características das informações utilizadas. A autora identificou três tipos

de modelos utilizados: o TCO com base em custos diretos, com base na alocação de

custos e com inclusão de aspectos qualitativos.

2.2.4.3.1. TCO com Base em Custos Diretos

O primeiro modelo procura reunir informações dos custos diretos relacionados a uma

compra específica. Para cada um dos elementos relevantes, o modelo de TCO seria

alimentado com as informações reais de custos incorridos. Os fatores específicos e

os pontos críticos envolvidos em cada situação de compra seriam levantados caso a

caso. A dificuldade de reunir as informações caso a caso seria apresentada como

uma desvantagem desse tipo de modelo. Porém, os resultados obtidos seriam mais

claros e as decisões de compras poderiam ser justificadas mais facilmente.

2.2.4.3.2. TCO com Base na Alocação de Custos

A grande diferença entre esse modelo e o anterior seria a adoção do sistema de

custeio baseado em atividades (ABC) como forma de viabilizar a alocação dos

custos aos itens comprados e aos fornecedores. Um exemplo da utilização do ABC

Page 36: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

26

poderia ser dado na modelagem dos custos da atividade de inspeção de itens

comprados. Através das informações do custo total da atividade de inspeção, o

modelo alocaria esse custo com base no esforço necessário para inspecionar

determinado item. Quando determinada peça necessitasse de inspeção, esta

receberia sua parcela de custos relativa a essa atividade. Os itens que não

precisassem ser inspecionados não receberiam essa parcela em seu TCO. A

adoção desse sistema permitiria que o TCO fosse utilizado de forma mais

sistemática, sem necessidade de se fazer o levantamento de custos caso a caso,

como ocorreria no modelo anterior.

2.2.4.3.3. TCO com Inclusão de Aspectos Qualitativos

O terceiro tipo de modelo apresentado por Ellram (1995) combinaria informações de

custos com outros aspectos mais qualitativos. Tais modelos tenderiam a apresentar

grande complexidade, tendo em vista as dificuldades enfrentadas para quantificar e

ponderar tais aspectos e possibilitar sua incorporação no modelo.

Uma abordagem freqüente adotada nesse tipo de modelo seria o cálculo de um

multiplicador chamado de fator de custo total. Esse fator poderia ser entendido como

reflexo do incremento no custo total gerado devido a problemas de desempenho de

determinado fornecedor. Tal estimativa seria feita a partir da avaliação do histórico

de cada fornecedor para quesitos como qualidade, entrega, tecnologia e suporte . À

medida que o fornecedor apresentasse problemas no seu histórico em cada um dos

quesitos avaliados, um impacto no custo total deveria ser associado ao seu

fornecimento. A metodologia para o cálculo do fator de custo total é apresentada por

Ellram (1995, p.13) e não será tratada neste estudo.

Page 37: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

27

2.2.4.3.4. Vantagens e Desvantagens de Cada Tipo de Modelo

No quadro a seguir, Ellram (1995) apresenta as vantagens e desvantagens

associadas à utilização de cada tipo de modelo.

Quadro 3 – Vantagens e desvantagens do uso dos diferentes

modelos de TCO apresentadas por Ellram (1995)

Vantagens

Desvantagens

TCO com Base em Custos Diretos

ê Fatores específicos de cada situação seriam considerados na decisão

ê Grande flexibilidade

ê Possibilidade de redução de complexidade através de ajuste ao tipo de decisão

ê Apoio à identificação de pontos críticos

ê Exigência de tempo

ê Não faria sentido para decisões de compras que se repetissem

ê Custo-benefício baixo para compras de pouco valor

TCO com Base em Alocação de Custos

ê Facilidade de uso após implementação do sistema de custeio

ê Excelente para decisões que se repetem, em que custos dos fatores-chave poderiam ser determinados

ê Tempo para elaboração do sistema de

custeio

ê Necessidade de revisões e atualizações periódicas

ê Falta de flexibilidade para diferentes tipos de decisões

ê Limitação no leque de fatores considerados

TCO c/ Inclusão de Aspectos Qualitativos

ê Incorporação de questões em que custos não poderiam ser determinados

ê Possibilidade de atribuir importância diferente aos fatores

ê Facilidade de uso para decisões que se repetem

ê Tempo de desenvolvimento: só seria aplicável a decisões importantes ou que se repetissem

ê Subjetividade dos usuários na ponderação dos quesitos.

Fonte: Ellram (1995, p.14).

Page 38: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

28

2.2.5. Aplicação do TCO às Diferentes Categorias de Compras

Segundo Monczka, Trent e Handfield (2002), uma empresa pode comprar oito tipos

de insumos: matérias-primas, componentes e produtos semi-acabados, produtos

acabados, itens de manutenção, reparo e operação (MRO), apoio à produção, bens

de capital e serviços.

Ellram (1993) apresenta algumas considerações específicas do TCO para

determinadas categorias de compras existentes em uma empresa. Os tipos de

compras abordados foram separados em quatro categorias: materiais e peças

componentes, bens de capital, itens de manutenção, reparo e operação (MRO) e

serviços. A seguir, são apresentadas as considerações da autora sobre o custo total

de propriedade referido a cada uma dessas categorias.

2.2.5.1. Materiais e Componentes

Após o componente ou material ser consumido no processo de produção e

transformado em parte do produto ou serviço final, a função Compras é

tradicionalmente desligada das análises subseqüentes. Os custos associados a

defeitos e falhas do material ou componente, uma vez que o produto final já é de

posse do cliente, raramente seriam rastreados e comunicados à função compras.

Porém tais custos, freqüentemente incorridos após o produto ou serviço já ter saído

da empresa, deveriam ser extremamente relevantes para o processo de seleção e

avaliação de fornecedores e para a retenção de clientes. De fato, o entendimento

completo desses custos seria crítico para permitir uma oferta de melhor valor não

apenas para a organização produtora como também para o cliente, que seria o

verdadeiro avaliador da oferta de valor da empresa.

Diversos estudos mostram como o desenvolvimento e a fidelização de um cliente

podem ser extremamente positivos para uma empresa. Um estudo realizado por

Cespedes, Corey e Rangan (1989) mostrou que um aumento da taxa de retenção de

clientes em 2% gera o mesmo impacto no resultado da empresa que uma redução

de custos de 10%. De fato, outros estudos (Srivastava, Shervani e Fahey, 1998;

Reichheld, 1998) também destacam a importância da retenção de clientes como

Page 39: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

29

forma de aumentar a lucratividade das empresas. Assim, a perda de um cliente

devido a defeitos ou falhas em um componente do produto final poderia ser

prejudicial para a organização como um todo. Aplicando uma abordagem mais

integrada às atividades de compras, o impacto da seleção e gerenciamento da base

de fornecedores pode ser extremamente relevante para o serviço ao cliente

oferecido pela empresa.

2.2.5.2. Bens de Capital

Na maioria dos casos, o preço de um bem de capital é apenas uma pequena parte

do custo total desse item ao longo de toda sua vida útil. Um modelo de custo total de

propriedade usado por uma das empresas estudadas por Ellram (1993) identificou

que o preço de um equipamento de produção das operações da empresa

representava 35% do custo total desse equipamento ao longo de toda sua vida útil.

Para esse tipo de compra, os custos incorridos depois do ativo encontrar-se em

utilização responderiam por 50% ou mais do custo total de propriedade. Tais custos

normalmente são denominados custos de ciclo de vida, por serem incorridos ao

longo de toda vida útil do equipamento. (Ellram e Siferd, 1993).

Os custos críticos que deveriam ser considerados no custo total de propriedade de

equipamentos de produção incluem perda de materiais, custos de manutenção,

parada, reparo, despesas gerais e custos de ociosidade de pessoal. Dessa forma,

pode-se perceber que existem outros fatores de custo com impacto no longo prazo

além do preço inicial do equipamento.

O subgrupo de bens de capital não-produtivos inclui itens como computadores

pessoais, carros, máquinas copiadoras e outros similares. Alguns dos principais

custos associados a esse tipo de bem são manutenção, serviços de reposição e

perda de tempo do pessoal quando o equipamento pára de funcionar.

2.2.5.3. Itens de Manutenção, Reparo e Operação (MRO)

Alguns dos maiores custos que uma empresa associa aos itens de manutenção,

reparo e operação são os custos de avaria e substituição quando os equipamentos

Page 40: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

30

já se encontram em uso. Porém, itens de MRO tendem a representar 80% do total

de itens comprados e a responder por apenas 20% do valor das compras. Isto se dá

principalmente porque as compras de itens de MRO respondem por elevado número

de transações e por pequenos valores. Em alguns casos, uma perspectiva de custo

total correta pode revelar que um menor TCO está associado à manutenção de

estoque desses itens. Conseqüentemente, uma abordagem de custo total de

propriedade deve comparar os custos de se manter estoque, e os possíveis riscos

de obsolescência, com os custos gerados devido a paradas e outros provenientes

de inconveniências associadas à inexistência de estoque de um item de MRO.

Algumas empresas delegam para um distribuidor terceiro o gerenciamento dos seus

itens de MRO. Nesses casos, é freqüente que o comprador pague ao terceiro mais

do que se os itens fossem comprados diretamente de fornecedores de MRO. Porém,

tal sistema pode custar menos quando considerado o custo total de propriedade

devido à utilização das capacitações do distribuidor, ao poder de barganha gerado

por maior volume de compra, a menores tempos de resposta e à redução de custos

internos pela eliminação de papelada, erros e estoques.

2.2.5.4. Serviços

Normalmente é mais complicado determinar os custos incorridos depois que um

serviço foi prestado, principalmente devido à sua natureza intangível. Dessa forma,

alguns dos pontos que devem ser ressaltados nesse grupo também são intangíveis;

por exemplo, se o serviço prestado atendeu às necessidades do cliente e fez com

que esse ficasse satisfeito. Alguns pontos mais tangíveis que devem fazer parte do

custo total de propriedade aplicado a serviços incluem itens como a necessidade de

um subseqüente acompanhamento do usuário ou a necessidade de retrabalho

devido a execuções de serviço não satisfatórias ou incompletas, custos para

fechamento de acordos de serviço e custos de serviços executados fora desses

acordos.

Page 41: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

31

2.2.5.5. Outras Considerações

Apesar dos pontos abordados por Ellram (1993), referentes à aplicação do TCO às

diferentes categorias de compra, Ellram e Siferd (1998) afirmam que a literatura

ainda não revela as características das decisões de compras que o custo total de

propriedade apóia em cada categoria.

Em estudo desenvolvido por Ferrin e Plank (2002), no qual se buscou investigar a

utilização do TCO nas diferentes categorias de compras, foi identificado que os

gerentes de compras tenderiam a aplicar a abordagem primeiro à compra de itens

de não-rotina, tais como bens de capital. O uso da ferramenta de TCO na compra de

itens de MRO, componentes e peças se dá em um período posterior, existindo a

possibilidade de nem vir a ocorrer.

Nesse mesmo estudo, Ferrin e Plank (2002) concluíram que a abordagem de custo

total de propriedade por parte das empresas é mais freqüente para as categorias de

compras de bens de capital, matérias-primas e peças fabricadas.

2.2.6. O TCO em Comparação com Outras Metodologias

A abordagem tradicional para a tomada de decisão no processo de compras, que

incluiria seleção e avaliação de fornecedores, ainda seria baseada principalmente no

preço de compra e, possivelmente, em alguns aspectos qualitativos ponderados

através de pontuações dadas para os diferentes critérios de avaliação de

fornecedores. Embora a inclusão de aspectos qualitativos já seja preferível a uma

abordagem baseada exclusivamente no preço de compra, essa metodologia não

abordaria impactos nos custos associados aos diferentes desempenhos dos

fornecedores e ignoraria os custos internos da organização (Ellram, 1995).

Algumas outras abordagens para a tomada de decisão em compras teriam relação

direta com o conceito de custo total de propriedade. Como exemplos seria possível

citar o custo de ciclo de vida (Jackson e Ostrom, 1980; Fernandez, 1990), o zero-

base pricing (Burt, Norquist e Anklesaria, 1990) e a avaliação de desempenho de

Page 42: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

32

fornecedores com base em custos (Monczka e Trecha, 1988). Segundo Ellram

(1995), nenhuma dessas abordagens teria recebido atenção significativa na

literatura ou na prática.

O custo de ciclo de vida seria utilizado principalmente para compras de ativos fixos

ou bens de capital. A ênfase seria dada na determinação de custos de operação,

manutenção e revenda do ativo ao longo de sua vida útil (Jackson e Ostrom, 1980;

Fernandez, 1990). Dessa forma, os custos incorridos pela organização antes da

realização da compra não seriam considerados. Apesar de a metodologia estar

alinhada com as análises do TCO, ela abordaria apenas uma parte do custo total de

propriedade do item comprado (Ellram, 1995).

Tanto o zero-base pricing (Burt, Norquist e Anklesaria, 1990) quanto a avaliação de

desempenho de fornecedores com base em custos (Monczka e Trecha, 1988)

apoiariam a investigação dos custos to tais dos fornecedores. Em contraste com o

TCO, o zero-base pricing enfatizaria o estudo da estrutura de custos do fornecedor e

seu processo de formação de preços. A avaliação de desempenho de fornecedores

com base em custos teria um escopo menor do que o TCO por focar apenas nos

custos externos de se fazer negócio com determinado fornecedor (Ellram, 1995).

Em suma, as análises de TCO seriam diferentes da maioria dos modelos que

procuram investigar o custo de se fazer negócio com um fornecedor de duas

importantes formas: a primeira seria o fato de esta considerar um leque mais

abrangente de custos de aquisição e a segunda seria a consideração de custos de

todo o ciclo de vida do item comprado, incluindo custos que ocorrem antes da

compra e após este já estar em uso (Ellram, 1993).

No próximo item desta revisão de literatura, serão detalhados os pontos

relacionados ao processo de implementação do TCO.

Page 43: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

33

2.2.7. Processo de Implementação do TCO

O processo de implementação do custo total de propriedade exigiria mudanças

significativas no perfil da função Compras das organizações (Ellram, 1993). Antes da

adoção do TCO ser iniciada, a estratégia de compras da empresa precisaria

comportar a mudança da área de uma orientação por preço para uma filosofia de

custo total. A área de compras teria, então, que se comprometer com essa filosofia e

acreditar nela como sendo mais adequada para suas decisões de compras (Ellram,

1993; Anderson, Wouters e Wynstra, 2005).

Apesar de estudos sobre a implementação do custo total de propriedade não terem

identificado um procedimento sistematizado para o seu desenvolvimento (Ellram,

1994), a literatura destaca pontos importantes que deveriam ser abordados no

processo de implementação do TCO.

2.2.7.1. Escolha dos Itens a Serem Comprados pela Abordagem do TCO

Um ponto crítico do processo de implementação seria a determinação de quais itens

comprados seriam analisados. A empresa precisaria decidir se a modelagem seria

feita para um item específico, para uma família de itens ou até mesmo para itens

pertencentes a diferentes categorias (Ellram, 1993).

De acordo com Ellram (1994), a importância do item comprado para a empresa

pareceria estar diretamente relacionada com a decisão de adoção do TCO. A autora

constatou que quanto mais importante o item, tanto em termos monetários quanto

em termos de sua importância estratégica para a organização, maior seria a

propensão das empresas para implementarem o TCO. Além disso, para compras em

que a facilidade de implementação seria grande, a importância e o valor da compra

poderiam não ser requisitos.

Ellram (1994) identificou também que as empresas iniciavam seus esforços de

implementação do TCO nas categorias e itens que consideravam mais críticos para

o sucesso da empresa. Essa criticidade poderia estar atrelada a fatores internos,

como os citados acima – custo relativo do item ou sua importância estratégica para a

Page 44: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

34

empresa, ou a fatores externos, como problemas de fornecimento que estariam

acontecendo ou pressões de mercado que estariam se intensificando.

As perguntas básicas sugeridas pela autora para serem respondidas no momento da

decisão de implementação do TCO seriam: (1) o bem/serviço em questão seria

importante o bastante para exigir uma análise de custo total de propriedade e (2) se

o item realmente exigisse tal análise, como ela deveria proceder considerando quais

seriam os fatores de custo de interesse, as fontes de informação e as pessoas que

deveriam ser envolvidas no processo de implementação.

2.2.7.2. Mapeamento do Processo de Compras e Identificação dos Componentes de

Custos dos Modelos de TCO

Antes da implementação do TCO, a empresa precisaria identificar, ainda que de

forma bastante agregada, os principais elementos de custos do processo de

compras. O mapeamento desse processo poderia ser feito considerando as

diferentes categorias de compras existentes na organização (componentes,

materiais, MRO, bens de capital e serviços). Mesmo que os itens dentro de

determinada categoria de compras demandassem diferentes elementos na

composição do modelo de TCO, a elaboração de um fluxo de processo agregado

para cada categoria poderia fornecer indícios de quais custos afetariam mais

intensamente cada uma delas (Ellram e Siferd, 1993).

A partir disso, o processo de implementação seria iniciado com o mapeamento da

compra do item específico. A realização dessa atividade facilitaria a identificação dos

principais elementos que formariam o custo total de propriedade do item. Após o

entendimento do processo de negócio do qual o item comprado faz parte, a

elaboração do modelo de TCO seria iniciada. Tendo em vista limitações

relacionadas à disponibilidade de informações, a área de compras deveria focar

seus esforços na definição dos custos relevantes para o processo de compra do

item, na definição dos custos que apresentassem indícios de valor significativo e na

definição dos custos que seriam encontrados mais prontamente na organização.

Provavelmente, seriam identificados alguns poucos elementos que representariam a

maior parte do custo total de propriedade do item (Ellram e Siferd, 1993).

Page 45: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

35

Os próximos passos seriam determinar o procedimento pelo qual esses custos

seriam obtidos e iniciar o levantamento das informações. Por fim, os resultados

seriam analisados (Ellram e Siferd, 1993). Compras poderia começar a desenhar o

modelo com base em seus próprios conhecimentos, porém seria indicado buscar o

envolvimento de outras áreas funcionais que seriam diretamente afetadas pela

compra do item estudado (Ellram, 1993).

2.2.7.3. Formação de Equipes Multifuncionais

Tendo em vista que os conhecimentos e informações necessários para a elaboração

dos modelos de custo total de propriedade não seriam de posse exclusiva do

pessoal de Compras, essa área não deveria operar o processo de implementação de

forma isolada. Sozinha, a função Compras não seria capaz de identificar e

selecionar todos os elementos de custos para compor o TCO da grande maioria dos

itens comprados. Os próprios usuários dos bens e serviços e as outras funções que

participassem de alguma forma do processo de compras poderiam fornecer

informações sobre os efeitos das diferentes decisões no custo total de propriedade

do item estudado (Ellram 1993, 1994). De fato, para que as análises de TCO tenham

eficácia, a elaboração dos modelos deveria ser realizada por equipes multifuncionais

(Ferrin e Plank, 2002; Ellram, Ogden e Zsidisin, 2003).

Essas equipes participariam efetivamente tanto do mapeamento das atividades

relativas ao item comprado quanto da definição de quais custos seriam relevantes

para a composição do modelo de TCO. Uma vez que seria responsabilidade da área

de compras levantar as informações para a elaboração dos modelos, ela precisaria

liderar a formação das equipes e se articular com as outras áreas que participariam

do desenvolvimento do modelo de TCO (Ellram e Siferd, 1993). De forma a facilitar a

captação de recursos e garantir a participação efetiva do pessoal de outras áreas, os

objetivos das análises de TCO deveriam estar claros para toda a organização

(Ellram, Ogden e Zsidisin, 2003).

Page 46: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

36

2.2.7.4. Envolvimento da Alta Gerência

A área de compras não conseguiria obter a participação e cooperação de outras

áreas na formação de equipes multifuncionais caso a adoção do TCO não contasse

com forte respaldo da alta gerência (Ellram, Ogden e Zsidisin, 2003). De fato,

iniciativas como a adoção do custo total de propriedade, que exigiriam o

envolvimento de diferentes funções dentro da organização, necessitariam de

participação ativa da alta gerência para gerar comprometimento do pessoal (Ellram e

Siferd, 1993; Anderson, Wouters e Wynstra, 2005).

2.2.7.5. Treinamento Formal e Capacitação Prática

Empresas envolvidas no processo de implementação do custo total de propriedade

poderiam realizar atividades formais de treinamento para os funcionários que fossem

conceber as análises de TCO. Porém, freqüentemente, as capacitações seriam

desenvolvidas apenas na prática, à medida que os profissionais estivessem

envolvidos nos times de elaboração dos modelos de TCO (Ellram, 1994).

2.2.7.6. Processo Contínuo de Implementação do TCO

Outro ponto importante seria que a implementação do TCO poderia ser

caracterizada como um processo contínuo . As empresas tenderiam a incluir novos

itens e categorias de compras ao longo do tempo. Em todos os casos estudados por

Ellram (1994), houve intenção de expansão da implementação do custo total de

propriedade para outras categorias de compras.

Além disso, à medida que novas informações fossem disponibilizadas, os modelos

de TCO incorporariam outros elementos de custo. Dessa forma, flexibilidade de

mudança seria um dos fatores a serem ressaltados no processo de implementação.

Além disso, modificações poderiam ser incorporadas à medida que acontecessem

mudanças no foco da empresa, em sua base de fornecedores e nas condições de

mercado (Ellram, 1994).

Page 47: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

37

2.2.7.7. Duas Abordagens: Projeto-Piloto e Implementação Completa

De acordo com Ellram (1993), existiriam duas abordagens principais para o processo

de implementação do custo total de propriedade. A primeira delas seria o

desenvolvimento de um projeto-piloto, baseado na seleção de um item ou grupo de

itens para o qual seria desenvolvido o modelo de TCO. A segunda abordagem

envolveria uma implementação completa e simultânea para todos os itens de

compras identificados como potenciais para a modelagem do custo total de

propriedade. As duas abordagens identificadas pela autora são discutidas a seguir.

2.2.7.7.1. Projeto Piloto

A opção pela implementação do TCO via projeto-piloto partiria da premissa de que a

adoção de um novo conceito no processo de compras da empresa seria mais eficaz

se focada em grupo limitado de itens, de fácil controle. Ellram (1993) sugere uma

lista de aspectos que o item escolhido para o projeto-piloto deveria atender:

ê A empresa despenderia quantidade relativamente elevada com a compra

do item;

ê A empresa compraria o item com certa regularidade, de forma que a

obtenção de dados históricos seria fácil e, principalmente, existiria

oportunidade para a obtenção de dados de custos correntes;

ê A área de compras acreditaria que o item possui custos de transação

elevados e que ainda não seriam totalmente reconhecidos pela

organização;

ê A área de compras acreditaria que um ou mais custos de transação seriam

individualmente significativos;

ê Existiriam oportunidades de redução dos custos de transação via

negociação, mudança de fornecedor ou através de melhoria de

procedimentos internos;

ê Existiria facilidade para obtenção de cooperação dos compradores e

usuários do item no processo de levantamento de dados.

Page 48: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

38

Se a empresa não conseguisse identificar um item adequado a todos esses pontos,

deveria-se buscar um item que apresentasse características mais próximas aos

aspectos listados. Os pontos da lista seriam relevantes porque ajudariam a

identificar itens comprados cuja implementação do TCO teria alta probabilidade de

sucesso. Uma vez que fosse escolhido um item que apresentasse elevados custos

de transação, seria possível gerar benefícios significativos de redução de custos

através das análises de TCO. Considerando que, para a obtenção das informações

que alimentam o TCO, outras áreas precisariam ser envolvidas no processo, quanto

melhor o resultado apresentado no início da implementação, maior seria o interesse

das outras áreas funcionais, o que faria com que o processo de obtenção de dados

fosse cada vez menos complicado.

O projeto-piloto do TCO poderia representar uma valiosa experiência de aprendizado

e ajudaria a assegurar que alguns impactos da subseqüente expansão da adoção do

custo total de propriedade fossem suavizados. Além disso, essa abordagem seria

uma alternativa caso não existisse na organização total apoio da alta gerência para

a adoção do TCO. A seguir, estão listados os principais benefícios da abordagem do

TCO feita através de projeto-piloto, ainda segundo Ellram (1993):

ê Entendimento sobre as fontes de informação e a disponibilidade/

indisponibilidade de dados;

ê Experimentação com modelos de TCO alternativos (como, por exemplo,

modelos padronizados em comparação aos customizados);

ê Treinamento dado a outras pessoas na empresa acerca do TCO;

ê Melhoria de cooperação dentro da organização a partir do envolvimento

inicial de outras áreas;

ê Convencimento das outras pessoas sobre os benefícios do TCO através

de demonstração prática;

ê Familiarização da área de compras com os modelos de TCO e seus

possíveis problemas.

Page 49: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

39

2.2.7.7.2. Implementação Completa

A segunda abordagem para a implementação do custo total de propriedade seria

uma implementação completa, sem a realização de projeto -piloto. As empresas

poderiam optar pela não realização de projeto-piloto por possuírem total apoio da

alta gerência ou por acreditarem na urgência da implementação. Além disso, os

executivos poderiam estar confiantes com a adoção do TCO e confortáveis com a

forma como tais modelos seriam desenvolvidos dentro de suas empresas. Em um

dos casos estudados por Ellram (1993) em que se optou pela implementação

completa, modelos informais de TCO já eram adotados pelo pessoal da área de

compras. Além disso, o principal executivo da área tinha total confiança na eficácia

da metodologia.

Os benefícios destacados por Ellram (1993) para a implementação completa podem

ser descritos como os seguintes:

ê Resultados bastante abrangentes por toda a empresa;

ê Benefícios mais rápidos;

ê Rápido entendimento da metodologia do TCO;

ê Atenção despertada para a ferramenta, exigindo compromisso e foco.

Em contrapartida, existiria um grande entrave associado a essa segunda

abordagem, que seriam os problemas de disponibilidade de informação para a

composição dos modelos de TCO.

Na próxima seção, são apresentados os principais entraves da adoção do custo total

de propriedade identificadas na literatura.

Page 50: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

40

2.2.8. Principais Entraves da Adoção do TCO

As barreiras potenciais para a adoção do custo total de propriedade encontradas na

literatura podem ser divididas em cinco grupos: disponibilidade de informação

(Ellram, 1994, 1995; Ellram e Siferd, 1993); complexidade de implementação (Ellram

e Siferd, 1998); utilização inadequada dos modelos de TCO (Ellram e Siferd, 1998);

barreiras relativas à cultura organizacional (Ellram, 1994, 1995; Ellram e Siferd,

1998) e custo de implementação (Degraeve e Roodhooft, 1999a). Cada um desses

entraves apresenta-se detalhado a seguir.

2.2.8.1. Disponibilidade de Informação

A primeira barreira identificada seria a carência de informação pronta e acessível

nas empresas para apoiar os esforços de implementação do custo total de

propriedade no processo de compras (Ellram, 1994, 1995). Em um primeiro

momento do processo de implementação, a função Compras precisaria identificar

que informações de custos seriam necessárias para tornar possível a modelagem do

TCO. Tais informações precisariam ser facilmente acessadas pelos usuários do

modelo. Este não seria um objetivo fácil de atingir, principalmente quando se

considera a grande barreira colocada pela contabilidade tradicional de custos

adotada nas empresas (Ellram e Siferd, 1993).

Uma barreira adicional encontrada na etapa de preparação da informação seria a

falta de entendimento, por parte da função Compras, dos elementos de custo chaves

para a composição do modelo de custo total de propriedade (Ellram e Siferd, 1993).

De fato, Ellram (1994) destaca os problemas enfrentados pelas empresas para

definir acertadamente o escopo da modelagem do custo total de propriedade e para

identificar os custos relevantes.

Além disso, a falta de sistemas de informação adequados para apoiar os esforços do

TCO poderia criar outras barreiras. Caso o pessoal responsável pelas análises de

TCO não conseguisse obter as informações necessárias nos sistemas formais da

organização, grande parte dos dados teria que ser coletada fora desses sistemas.

Assim, o desenvolvimento do TCO passaria a exigir demasiado esforço do pessoal

Page 51: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

41

de compras. Sem o suporte de sistemas de informação adequados, o custo total de

propriedade tenderia a demandar um esforço considerável da área de compras,

causando alto nível de frustração já no início da implementação (Ellram, 1994).

2.2.8.2. Complexidade de Implementação

Os principais fatores associados à complexidade de implementação do TCO seriam:

necessidade de grande investimento de tempo no início do desenvolvimento;

dificuldade de entendimento da abordagem e problemas na explicação do conceito

para o pessoal da empresa; receio de que seja uma abordagem muito teórica e

pouco prática; complexidade de alguns modelos em si, acarretando dificuldade de

compreensão; existência de modelos não utilizados uniformemente em todas as

divisões, mesmo em se tratando de um único fornecedor; dificuldade de

desenvolvimento de sistemas padronizados, de fácil estrutura e utilização; carência

de terminologia única; necessidade de modificações freqüentes nos modelos de

forma a garantir sua aplicabilidade em situações de negócios que mudam

constantemente e falta de confiança e capacitação dos usuários (Ellram e Siferd,

1998). De fato, para desenvolver e implementar o TCO, seriam necessárias

capacitações específicas por parte dos profissionais de compras, as quais ainda

seriam vistas como raras (Daugherty et al., 2000; Ogden, Zsidisin e Hendrick, 2002).

2.2.8.3. Utilização Inadequada dos Modelos de TCO

Um dos principais pontos dentro desse terceiro grupo está associado à dificuldade

do usuário determinar que tipos de compras deverão utilizar determinado modelo de

custo total de propriedade. Além disso, o usuário precisaria ser capaz de entender

questões associadas à extrapolação dos modelos de TCO para as diferentes

categorias de compras da empresa (Ellram e Siferd, 1998).

Outras barreiras relativas à utilização adequada dos modelos seriam: resistência por

parte dos usuários a modelos padronizados por medo de perda de flexibilidade;

frustração ao tentar quantificar questões mais qualitativas; falta de confiança no

modelo – seria preciso educar os usuários para utilizarem-no de forma inteligente

sem se prenderem a detalhes de custo-benefício irrelevantes; possível utilização da

Page 52: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

42

ferramenta como arma contra fornecedores e manipulação de resultados devido à

percepção das implicações de custo (Ellram e Siferd, 1998).

2.2.8.4. Entraves Relativos à Cultura Organizacional

As barreiras relativas à cultura organizacional da empresa podem complicar e

frustrar o processo de implementação do TCO. Seria extremamente importante que

a área de compras estivesse atenta a esses potenciais problemas e buscasse o

apoio da alta gerência e de outras áreas funcionais da empresa para educar a

organização sobre a utilização e os benefícios do custo total de propriedade (Ellram,

1994).

Por se tratar de um processo de mudança na forma como as atividades da função

Compras são realizadas, a implementação do custo total de propriedade estaria

sujeita a resistências do pessoal da área. O sucesso da abordagem seria

dependente de importantes mudanças na mentalidade dos compradores. O foco

exclusivamente em preço dos itens comprados precisaria ser abandonado, gerando

necessidade por novo perfil de profissionais de compras (Ellram, 1995; Ellram e

Siferd, 1998).

Além de exigir novas capacitações dos compradores, a adoção do TCO poderia

gerar insegurança quanto a possíveis cortes de pessoal na área de compras. Além

disso, poderia existir o receio de que o trabalho em equipe necessário para

implementação e uso do TCO gerasse perda de controle individual (Ellram, 1994).

2.2.8.5. Custo de Implementação

Degraeve e Roodhooft (1999a) apontam o custo de implementação como uma outra

barreira para a adoção do TCO. Segundo os autores, não haveria dúvida de que a

implementação de sistemas de gerenciamento baseados em custo total como

ferramenta para seleção de fornecedores seria mais custosa do que as abordagens

tradicionais existentes na área de compras de uma empresa. As despesas

associadas ao processo de determinação de atividades e direcionadores de custo

em toda a cadeia de valor da empresa compradora, a alocação dos custos às

Page 53: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

43

diferentes atividades e, por sua vez, a alocação dos custos das atividades aos

diferentes itens de compras e fornecedores poderiam gerar barreiras à

implementação do custo total de propriedade. Porém, observam que a experiência

tem provado que os custos incrementais do levantamento de dados para sistemas

de custeio baseado em atividades, como o custo total de propriedade, têm sido

superestimados. A alta gerência de empresas que implementaram este tipo de

sistema de custeio teriam considerado o custo final aceitável quando comparado aos

benefícios obtidos (Turney, 1990).

Na próxima seção, os benefícios da utilização do custo total de propriedade no

processo de compras são apresentados.

2.2.9. Benefícios da Adoção do TCO

De acordo com Degraeve, Labro e Roodhooft (2000), os benefícios da adoção do

custo total de propriedade podem superar as barreiras enfrentadas em sua

implementação. De forma geral, o custo total de propriedade representa uma

excelente oportunidade de contribuição da área de compras para o sucesso da

organização (Ellram, 1994). Os pontos específicos de como a adoção do TCO pode

trazer benefícios para determinada empresa estão documentados na literatura

(Cavinato, 1991; Ellram, 1993, 1994, 1995, 1996a; Ellram e Siferd, 1993; Degraeve e

Roodhooft, 1998, 1999a, 1999b; Degraeve, Labro e Roodhooft, 2000; Ellram, Ogden

e Zsidisin, 2003; Anderson, Wouters e Wynstra, 2005) e encontram-se detalhados a

seguir.

2.2.9.1. Apoio para Decisões de Outsourcing

A adoção do custo total de propriedade possibilitaria a realização de procedimentos

mais analíticos nas decisões entre realizar uma atividade internamente ou contratá-

la fora. Dessa forma, as análises de TCO, por considerarem todos os elementos

relevantes para essa decisão, poderiam servir de apoio às decisões de outsourcing

(Degraeve e Roodhooft, 1999).

Page 54: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

44

2.2.9.2. Ferramenta para Seleção de Fornecedores

O custo total de propriedade pode formar uma excelente base para a seleção de

fornecedores por prover melhores informações sobre os custos relevantes para cada

decisão de compras. A seleção ocorreria a partir de uma análise mais completa,

mais estruturada e feita de forma sistemática (Ellram, 1993). A abordagem

contribuiria para a redução da subjetividade e para a eliminação de problemas

associados à quantificação de critérios na seleção de fornecedores (Degraeve e

Roodhooft, 1999; Degraeve, Labro e Roodhooft, 2000). De fato, o TCO coloca em

perspectiva o custo total de um item, possibilitando a seleção correta de

fornecedores (Ellram e Siferd, 1993).

Além disso, as análises de TCO ajudariam a responder questionamentos

importantes que influem no processo de seleção de fornecedores, tais como o

impacto da seleção de diferentes alternativas de fornecimento no custo total e a

avaliação de políticas alternativas com relação ao número de fornecedores, número

de pedidos de compras e quantidades mínimas e máximas de itens a serem

comprados (Degraeve, Labro e Roodhooft, 2000). Finalmente, decisões de redução

da base de fornecedores e mudanças na alocação de volume de compras também

seriam tomadas de forma mais consciente com auxílio do TCO (E llram, 1994).

2.2.9.3. Base para Negociação com Fornecedores

O conhecimento sobre os custos que fazem parte do processo de compras e o

elevado nível de detalhamento das informações geradas pelas análises de TCO

formariam uma excelente base de negociação com fornecedores (Ellram, 1993,

1994, 1995; Ellram e Siferd, 1993; Degraeve e Roodhooft, 1999). De fato, a empresa

que documenta sistematicamente os custos associados ao serviço de determinado

fornecedor poderia usar esta informação para exigir compensações, como reduções

no preço de compra ou melhorias no nível de serviço (Ellram e Siferd, 1993).

Page 55: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

45

2.2.9.4. Ferramenta para Avaliação de Desempenho de Fornecedores

Por se tratar de uma abordagem de grande profundidade, as análises de custo total

de propriedade poderiam gerar sensíveis melhorias na forma como a empresa avalia

seus fornecedores (Ellram, 1993). O TCO tornaria possível que a área de compras

levantasse o verdadeiro desempenho de seus fornecedores, ajudando na definição

das expectativas da empresa e das exigências de fornecimento (Ellram, 1994).

As análises de TCO também funcionariam como ferramenta de benchmarking.

Nesse caso, as informações de custo total seriam utilizadas na comparação entre

fornecedores e no acompanhamento de mudanças nos custos de determinado

fornecedor ao longo do tempo (Ellram 1993, 1994). Com a utilização dessa

ferramenta também ficaria mais fácil medir os resultados dos esforços de melhoria

de desempenho e de qualidade dos fornecedores (Ellram, 1993) e as conseqüências

dessas melhorias em relação aos diferentes critérios de avaliação (Degraeve, Labro

e Roodhooft, 2000).

2.2.9.5. Alavancagem de Esforços de Melhoria Contínua e de Redução de Custos

A identificação da magnitude dos custos do processo de compras permitiria a

obtenção de foco nos esforços de melhoria contínua da empresa (Ellram, 1993,

1994, 1995). De fato, a adoção do custo total de propriedade possibilitaria a

concentração dos esforços e recursos em poucas e importantes compras (Ellram,

1994).

Internamente, a investigação dos processos da área de compras permitiria que a

organização compreendesse como suas próprias requisições (especificações,

entrega, estoque, etc.) impactam o aumento dos custos. Dessa forma, a empresa

poderia tomar decisões mais corretas para melhorar estas requisições e eliminar

custos desnecessários (Ellram, 1993).

Externamente, o TCO indicaria para a organização compradora em que áreas os

esforços de melhoria de desempenho de seus fornecedores gerariam resultados

mais significativos. O levantamento de custos, como os relacionados a questões de

Page 56: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

46

qualidade, ditaria prioridades para esforços dos fornecedores em itens e/ou

atividades que apresentassem grande potencial de redução de custos, permitindo a

atuação do fornecedor no problema correto. Dessa forma, ao enfatizar os elementos

mais significativos do processo de compras, o custo total de propriedade ajudaria na

identificação das melhores oportunidades de economias de custo (Ellram, 1993,

1994, 1995).

2.2.9.6. Redesenho de Produto ou Serviço

As informações geradas pelas análises de custo total de propriedade também

ajudariam na identificação de melhorias através de redesenho de produtos ou

serviços e na justificativa de tais mudanças junto aos fornecedores (Ellram e Siferd,

1993).

2.2.9.7. Racionalização do Processo de Compras

As análises de sensibilidade viabilizadas pelo TCO possibilitariam a identificação de

melhorias no processo de compras. Essas melhorias seriam obtidas através de

análises detalhadas das atividades realizadas tanto pela própria empresa como pelo

fornecedor. A partir daí, a empresa compradora poderia atuar reduzindo ou

eliminando certas atividades e custos desnecessários para a decisão de compra

(Ellram, 1993; Degraeve e Roodhooft, 1999, 1999b; Degraeve, Labro e Roodhooft,

2000).

Para Degraeve, Labro e Roodhooft (2000), seria o conhecimento dos diversos

componentes do custo total de propriedade que permitiria a racionalização das

atividades do processo de compras de produtos e serviços e a quantificação dos

trade-offs existentes na área. Ellram e Siferd (1993) exemplificam este benefício: se

uma entrega em atraso resulta em maiores custos para a empresa compradora do

que o recebimento de um pedido incompleto, a empresa poderia exigir de seus

fornecedores que os pedidos não fossem retidos até que o carregamento estivesse

completo. Dessa forma, oportunidades de redução de custos poderiam ser

descobertas e perseguidas mais prontamente.

Page 57: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

47

2.2.9.8. Reduções de Custos da Cadeia de Suprimentos

A adoção do custo total de propriedade aumentaria o foco no gerenciamento de

custos entre organizações e incentivaria a formação de times multifuncionais entre a

empresa compradora e o fornecedor. O trabalho desenvolvido por esses times

possibilitaria reduções nos custos da cadeia de suprimentos (Ellram, 1996a; Nelson,

Mayo e Moody, 1998; Degraeve e Roodhooft, 1999; Lambert e Cooper, 2000).

De fato, ferramentas de gerenciamento estratégico de custos, como o TCO,

forneceriam às empresas excelentes oportunidades para a redução de custos de

produtos e serviços, sem necessariamente exigirem a diminuição das margens dos

fornecedores (Nelson, Mayo e Moody, 1998). Como resultado, o custo total de

propriedade possibilitaria que as empresas enfrentassem as pressões existentes em

seus mercados consumidores sem sacrificarem seus fornecedores (Anderson,

Wouters e Wynstra, 2005).

2.2.9.9. Relacionamento de Longo Prazo com Fornecedores

A utilização do custo total de propriedade aumentaria a eficiência de contratos de

longo prazo entre compradores e fornecedores (Degraeve e Roodhooft, 1999) e

apoiaria esforços em direção a alianças estratégicas (Ellram, 1994).

2.2.9.10. Melhorias no Canal de Comunicação da Área de Compras

O custo total de propriedade possibilitaria à área de compras desenvolver seu canal

de comunicação com outras áreas funcionais da empresa e com seus fornecedores.

As análises de TCO necessitariam o envolvimento de outros departamentos nas

decisões de compras, através da troca de informações e considerações sobre os

custos relevantes dos itens comprados. Além disso, funcionariam como um

excelente veículo de comunicação entre empresa e fornecedores, graças ao

incentivo ao compartilhamento de informações e à disponibilização de informações

sólidas a respeito do desempenho dos fornecedores (Ellram, 1993; Ellram, Ogden e

Zsidisin, 2003).

Page 58: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

48

2.2.9.11. Desenvolvimento dos Profissionais de Compras

As análises de custo total de propriedade podem ampliar a perspectiva da área de

compras dentro da organização e promover o desenvolvimento profissional de seus

funcionários (Cavinato, 1991; Ellram, 1993). O TCO ajudaria a criar, na área de

compras da empresa, um ambiente de solução estruturada de problemas (Ellram,

1993). Além disso, a colaboração entre a área de compras e seus fornecedores,

promovida pelo TCO, possibilitaria o desenvolvimento de recursos humanos de

grande valor para organização (Ellram, Ogden e Zsidisin, 2003).

2.2.9.12. Direcionamento Estratégico Correto para a Função Compras

A realização de análises de TCO faria com que a função Compras fosse cada vez

mais orientada a valor (Anderson, Wouters e Wynstra, 2005). Além disso, por

incorporar uma visão global e de longo prazo, o TCO permitiria melhor compreensão

sobre as decisões de compras e maior domínio sobre fatores e custos que

impactassem mais significativamente o resultado da empresa. A abordagem ajudaria

a responder como as atividades de compras afetam o custo total da empresa e como

afetarão no futuro (Ellram, 1993).

2.2.9.13. Sinergias entre Benefícios da Adoção do TCO

Ellram (1994) observou que alguns dos benefícios identificados na adoção do custo

total de propriedade apresentariam forte relação entre si. Por exemplo, a melhoria do

processo de avaliação do desempenho de um fornecedor levaria a uma melhor

tomada de decisão, e permitiria o desenvolvimento do canal de comunicação com o

fornecedor, através da divulgação de dados precisos de desempenho. Além disso,

existiriam melhorias nas indicações dos problemas de fornecimento, que por sua vez

enfatizariam as áreas potenciais para esforços de melhoria contínua. Dessa forma,

seria possível verificar a existência de sinergias entre grande parte dos benefícios

identificados na adoção do TCO.

Page 59: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

49

2.3. QUADRO CONCEITUAL

No quadro a seguir, são apresentados os principais pontos da literatura que servirão

de base para a pesquisa.

Objetivos e

Aplicações do

TCO ao

Processo de

Compras

ê As análises de custo total de propriedade poderiam apoiar as atividades

do processo de compras em três diferentes níveis (Ellram e Siferd,

1998):

ê Nível estratégico – melhoria contínua: questionamento de

processos fundamentais, redefinição de processos, decisões de

outsourcing e gerenciamento da cadeia de suprimentos;

ê Nível tático – desenvolvimento de fornecedores: identificação de

fatores que acarretam elevados custos tanto interna quanto

externamente;

ê Nível operacional – gerenciamento e avaliação de fornecedores:

feedback para fornecedores, acompanhamento de desempenho,

seleção de fornecedores, alocação de volume de compras e

alocação de custos a produtos.

Classificação

dos Modelos

de TCO

ê Os modelos de custo total de propriedade podem ser classificados

segundo três critérios:

ê Quanto à formalização do TCO (Ellram 1993, 1995);

ê Quanto ao nível de padronização dos modelos de TCO (Ellram,

1994);

ê Quanto às características das informações utilizadas: custos

diretos, alocação de custos (custeio ABC) e aspectos qualitativos

(Ellram, 1995).

Page 60: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

50

O TCO e as

Categorias de

Compras

ê O TCO é utilizado com mais freqüência para as categorias de compras

de bens de capital, matérias-primas e componentes (Ferrin e Plank,

2002).

ê A adoção do TCO normalmente é iniciada pela categoria de bens de

capital. O uso da ferramenta na compra de componentes, peças e itens

de MRO se dá em um período posterior, existindo a possibilidade de

nem vir a ocorrer (Ferrin e Plank, 2002).

O Processo de

Implementação

do TCO

ê Antes do processo de implementação do TCO ser iniciado, precisam

ocorrer mudanças significativas no perfil e no direcionamento

estratégico da função Compras da empresa (Ellram, 1993; Anderson,

Wouters e Wynstra, 2005).

ê A definição dos itens que serão comprados com base nos modelos de

TCO leva em consideração a importância estratégica do item para o

negócio da empresa, o valor da compra e a existência de problemas de

fornecimento (Ellram, 1994).

ê A construção dos modelos de TCO se dá com a formação de equipes

multifuncionais (Ellram 1993, 1994, Ferrin e Plank, 2002; Ellram, Ogden

e Zsidisin, 2003), que são lideradas pela função Compras da

organização (Ellram e Siferd, 1993).

ê Existe participação ativa da alta gerência no processo de

implementação do TCO, principalmente para gerar comprometimento

das equipes multifuncionais (Ellram e Siferd, 1993; Ellram, Ogden e

Zsidisin, 2003; Anderson, Wouters e Wynstra, 2005).

ê As empresas podem optar pela realização de treinamentos formais.

Porém, é bastante comum que o desenvolvimento das capacitações

necessárias à implementação do TCO ocorra na prática (Ellram e

Siferd, 1993).

ê O processo de implementação pode ser realizado através de duas

principais abordagens: projeto-piloto e implementação completa. O

projeto-piloto representa uma valiosa experiência de aprendizado e

capacitação das pessoas envolvidas (Ellram, 1993).

Page 61: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

51

ê A modelagem do TCO pode ser caracterizada como um processo

contínuo que, ao longo do tempo, deve contemplar as mudanças no

foco da empresa, em sua base de fornecedores, nas condições de

mercado e incorporar novas informações de custo disponíveis (Ellram,

1994).

Entraves da

Adoção do

TCO

ê Foram encontrados, na literatura, cinco grupos de entraves potenciais

para a adoção do custo total de propriedade:

ê Disponibilidade de informação (Ellram, 1994, 1995; Ellram e

Siferd, 1993);

ê Complexidade de implementação (Ellram e Siferd, 1998);

ê Utilização inadequada dos modelos de TCO (Ellram e Siferd,

1998);

ê Entraves relativos à cultura organizacional (Ellram, 1994, 1995;

Ellram e Siferd, 1998);

ê Custo de implementação (Degraeve e Roodhooft, 1999a).

Benefícios da

Adoção do

TCO

ê Os benefícios da adoção do custo total de propriedade no processo de

compras, identificados na literatura, podem ser descritos da seguinte

forma:

ê Apoio para decisões de outsourcing (Degraeve e Roodhooft,

1999);

ê Seleção de fornecedores mais correta (Ellram, 1993, 1994;

Ellram e Siferd, 1993; Degraeve e Roodhooft, 1999; Degraeve,

Labro e Roodhooft, 2000);

ê Base para negociação com fornecedores (Ellram, 1993, 1994,

1995; Ellram e Siferd, 1993; Degraeve e Roodhooft, 1999);

ê Ferramenta mais eficaz para avaliação de desempenho de

fornecedores (Ellram, 1993, 1994; Degraeve, Labro e Roodhooft,

2000);

ê Alavancagem de esforços de melhoria contínua e de redução de

custos (Ellram, 1993, 1994, 1995);

Page 62: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

52

ê Redesenho de produto ou serviço (Ellram e Siferd, 1993);

ê Racionalização do processo de compras (Ellram, 1993; Ellram e

Siferd, 1993; Degraeve e Roodhooft, 1999, 1999b; Degraeve,

Labro e Roodhooft, 2000);

ê Reduções de custos da cadeia de suprimentos (Ellram, 1996a;

Nelson, Mayo e Moody, 1998; Degraeve e Roodhooft, 1999;

Lambert e Cooper, 2000; Anderson, Wouters e Wynstra, 2005);

ê Relacionamento de longo prazo com fornecedores (Ellram,

1994; Degraeve e Roodhooft, 1999);

ê Melhorias no canal de comunicação da área de compras (Ellram,

1993; Ellram, Ogden e Zsidisin, 2003);

ê Desenvolvimento dos profissionais de compras (Cavinato, 1991;

Ellram, 1993; Ellram, Ogden e Zsidisin, 2003);

ê Direcionamento estratégico correto para a função Compras

(Ellram, 1993; Anderson, Wouters e Wynstra, 2005).

Page 63: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

53

3. METODOLOGIA

O objetivo principal deste capítulo é apresentar a metodologia escolhida para a

realização desta pesquisa. A primeira parte do capítulo apresenta as questões a

serem respondidas pelo estudo. Logo depois, são apresentadas as razões para a

escolha do estudo de casos como método de pesquisa. São detalhadas também a

escolha dos casos e a etapa de coleta e análise de dados. Finalmente, são relatadas

as limitações inerentes ao método escolhido.

3.1. QUESTÕES DA PESQUISA

O presente estudo tem como objetivo responder à seguinte pergunta:

COMO SE CARACTERIZAM OS PROCESSOS DE ADOÇÃO DO CUSTO TOTAL

DE PROPRIEDADE NO GERENCIAMENTO DE COMPRAS DE GRANDES

EMPRESAS BRASILEIRAS ?

As seguintes perguntas mais específicas são propostas como desdobramento desta

pergunta geral:

(1) Quais fatores motivaram a empresa a adotar o custo total de propriedade no

gerenciamento de compras?

(2) Como se deu o processo de implementação do custo total de propriedade?

(3) Quais os entraves percebidos na adoção do custo total de propriedade?

(4) Quais os benefícios obtidos após a adoção do custo total de propriedade?

(5) Quais seriam as perspectivas futuras da adoção do custo total de

propriedade?

Page 64: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

54

3.2. MÉTODO DE PESQUISA

A definição da estratégia de pesquisa a ser utilizada é uma etapa de grande

relevância para o desenvolvimento de um estudo. Segundo Yin (1989), apesar de

não existirem fronteiras claras e óbvias entre cada uma das estratégias existentes

para coleta e análise de evidência empírica, é importante ressaltar que cada uma

delas possui vantagens e desvantagens que devem ser conhecidas antes da

escolha do método de pesquisa. O objetivo é evitar a utilização de determinada

estratégia quando existe outra claramente mais apropriada.

O método escolhido para a pesquisa foi o de estudo de casos. Yin (2001) aponta o

estudo de casos como a estratégia preferida quando as perguntas a serem

respondidas são do tipo como e por quê e são feitas sobre um conjunto

contemporâneo de acontecimentos sobre o qual o pesquisador tem pouco ou

nenhum controle.

Yin (2001) apresenta uma definição técnica de estudo de caso em que afirma se

tratar de uma investigação empírica que pesquisa um fenômeno contemporâneo

dentro de seu contexto, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o

contexto não estão claramente definidos. O autor acrescenta que a investigação de

um estudo de caso enfrenta uma situação tecnicamente única em que há muito mais

variáveis de interesse do que dados e, por isto, baseia-se em várias fontes de

evidência, cujas informações precisam convergir; além disso, beneficia-se do

desenvolvimento prévio de proposições teóricas que devem conduzir à coleta e à

análise de dados.

Schramm (1971) afirma que a essência de um estudo de casos, isto é, a tendência

central comum a todos os tipos de estudo de casos, é que este tenta levantar

informações sobre uma decisão ou conjunto de decisões: por que elas foram

tomadas, como foram implementadas e que resultados obtiveram.

Por fim, a aplicação do método de estudo de caso em compras é citada

particularmente por Ellram (1996b), que ressalta a existência de excelentes

oportunidades para se usar essa metodologia de pesquisa em muitas áreas desse

Page 65: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

55

campo de estudo. A autora destaca ainda que o método é excelente para oferecer

explicações detalhadas e para propiciar maior entendimento dos dados coletados.

3.3. ESCOLHA DOS CASOS

Para o desenvolvimento do estudo foram selecionadas empresas brasileiras de

grande porte que tivessem passado recentemente pelo processo de adoção do

custo total de propriedade. Porém, o tempo de adoção deveria ser suficiente para a

empresa já estar vivenciando resultados provenientes do uso da metodologia.

Através de discussões com especialistas, o porte da empresa foi identificado como

uma das premissas associadas à decisão pela adoção do TCO, considerando que

as áreas de Compras de empresas de grande porte seriam mais suscetíveis a

desempenhar um papel mais estratégico.

Além disso, foram escolhidas empresas que fazem uso de modelos de custo total de

propriedade do tipo formal, conforme definido por Ellram (1995), isto é, empresas

que possuem um procedimento formal para a elaboração dos modelos e

estabeleceram métodos para determinação dos custos associados ao processo de

aquisição de um bem ou contratação de um serviço.

O estudo foi inicialmente focado na área de Compras dessas empresas. Porém, por

se tratarem de empresas de porte muito grande, pôde-se perceber que a adoção do

custo total de propriedade se deu em uma sub-área dentro da área de Compras.

Dessa forma, a pesquisa teve como principal objeto de estudo as áreas diretamente

ligadas à adoção do custo total de propriedade, sendo utilizados como fontes de

informação os gerentes dessas áreas e profissionais envolvidos no dia-a-dia da

modelagem do TCO.

3.4. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Para a coleta dos dados da pesquisa, foram realizadas entrevistas pessoais com os

gerentes das áreas de Compras que utilizavam o custo total de propriedade em seus

Page 66: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

56

processos. Além disso, também foram entrevistados analistas e engenheiros que

trabalhavam na construção dos modelos de TCO. Em cada uma das empresas

foram realizadas duas entrevistas, a primeira com o gerente da área e a segunda

com um funcionário diretamente ligado à construção dos modelos de TCO.

O roteiro das entrevistas consistiu principalmente de perguntas abertas, para melhor

captar as impressões, percepções, experiências e pontos de vista dos executivos

entrevistados (Anexo). As entrevistas foram gravadas para possibilitar sua posterior

transcrição, de forma que o estudo mantivesse grande fidelidade às declarações dos

entrevistados. Posteriormente, outros dados e esclarecimentos foram obtidos

através de correio eletrônico. As entrevistas foram realizadas durante os meses de

julho e agosto de 2005.

Após a coleta e transcrição dos dados, os casos foram redigidos e posteriormente

analisados à luz do referencial teórico da pesquisa. Além disso, os casos foram

comparados de forma a permitir a identificação de possíveis semelhanças e

diferenças nos processos de adoção do TCO nas três empresas estudadas.

3.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Embora o método de estudo de casos seja amplamente usado em pesquisas no

campo da administração, ele apresenta algumas limitações que precisam ser

levadas em consideração. Uma delas é a possibilidade de introdução de viés por

parte do pesquisador nas suas análises. Além disso, este pode não conseguir

separar e controlar as inúmeras variáveis a que o estudo está exposto. Outro ponto

está relacionado à dimensão da amostra. Por se tratar de uma amostra pequena,

não existe significância estatística para que sejam feitas generalizações.

Junto a isso, é importante destacar que, embora a entrevista seja considerada uma

fonte rica em informação, ela sofre influência das percepções dos entrevistados, fato

que pode introduzir viés pessoal à avaliação dos fatos. Sendo assim, o estudo se

propõe a destacar evidências e considerações para futuros estudos, sem gerar

conclusões generalizáveis a respeito do tema.

Page 67: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

57

4. RESULTADOS

No capítulo de resultados, são apresentadas, inicialmente, as informações coletadas

nas entrevistas realizadas em três empresas que adotaram o custo total de

propriedade em seus processos de compras. Os nomes das empresas foram

alterados de forma a manter a confidencialidade das informações apresentadas.

Posteriormente, são apresentadas análises das características do processo de

adoção do custo total de propriedade por parte dessas empresas, à luz do quadro

conceitual apresentado no capítulo 2.

4.1. OS CASOS

Este item tem como objetivo apresentar os relatos do processo de adoção do custo

total de propriedade conforme as informações coletadas nas entrevistas realizadas

em três empresas. O material apresentado está estruturado de forma a viabilizar a

resposta às perguntas apresentadas no capítulo 3: características da empresa e de

sua área de suprimentos, antecedentes e motivadores para a adoção do TCO, o

processo de implementação, entraves percebidos, benefícios obtidos e, por fim,

perspectivas futuras da adoção do TCO nessas empresas.

4.1.1. A Adoção do TCO na Empresa ALPHA

4.1.1.1. A Empresa

A empresa ALPHA possui forte presença no setor de mineração diversificada. Nos

últimos anos, a empresa iniciou um período de grande crescimento e diversificação

do negócio. Sua estratégia atual é focada na obtenção de novos mercados, na

conquista de uma posição global e na produção e exploração de outros minérios.

Em 2004, a empresa figurou entre as 30 maiores empresas do país em termos de

faturamento. Nesse mesmo ano, a empresa contava com mais de 30.000

Page 68: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

58

empregados. Além disso, aproximadamente 17.000 empresas, de todos os portes,

forneceram bens e serviços para a companhia.

4.1.1.2. A Organização da Área de Suprimentos

A área de suprimentos, na ALPHA, forma uma das diretorias que se reportam à

Vice-Presidência de Recursos Humanos e Serviços Corporativos. Sua existência é

bastante recente dentro da empresa, tendo sido criada no ano 2001. Anteriormente

à sua criação, as compras eram realizadas de forma descentralizada nas próprias

áreas operacionais da ALPHA.

A diretoria conta atualmente com 400 empregados e vem passando por uma forte

mudança no perfil de seus funcionários. Cada vez mais, a empresa busca contratar

recursos com forte visão de negócios e menor perfil operacional. No ano de 2004, o

valor total gasto pela área foi de aproximadamente R$ 11 bilhões, sendo realizadas

800.000 transações. Além disso, em decorrência da ampliação da base de ativos da

empresa, para suportar o crescimento, foi percebido um aumento significativo de

gastos com manutenção dos itens comprados.

Atualmente, a diretoria encontra-se dividida em seis gerências gerais. A Gerência

Geral de Suprimentos Estratégicos reúne três categorias de compras: mineração,

ferrovia e combustíveis. Os itens de compras que estão sob responsabilidade dessa

gerência foram definidos com base em três critérios: alto valor de compra, impacto

direto no negócio ou no crescimento da empresa e mercado fornecedor complexo,

isto é, monopólios, cartéis ou mercados que apresentam restrição de oferta.

Exatamente pelas características dos itens comprados, essa gerência é tida como a

de maior responsabilidade, lidando com os fornecedores mais fortes. Suas compras

em 2004 totalizaram aproximadamente R$ 5 bilhões.

A Gerência Geral de Suprimentos Consolidados é responsável pela compra de itens

de tecnologia de informação e contratação de serviços. Dentro dessa gerência, são

realizadas compras de grande escala e que apresentam mercado fornecedor

competitivo. Seus gastos, em 2004, foram de aproximadamente R$ 3 bilhões.

Page 69: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

59

As demais gerências gerais incluem a Gerência Geral da Categoria de Engenharia e

Implantação de Projetos, responsável por compras ligadas a grandes projetos de

engenharia; a Gerência Geral de Suprimentos para Planejamento, Controle e

Desenvolvimento, que investiga proposições de outsourcing e discute idéias para o

desenvolvimento da área de suprimentos como um todo; a Gerência Geral de

Relacionamento e Suprimentos Regionais, responsável por compras de menor

volume para as regionais da empresa e, por fim, a Gerência Geral de Gestão de

Estoques e Almoxarifados, responsável pela otimização dos estoques da empresa.

4.1.1.3. Os Antecedentes e as Motivações para a Adoção do TCO

A adoção do custo total de propriedade no processo de compras da empresa é tão

recente quanto a criação da própria Diretoria de Suprimentos da ALPHA. O histórico

anterior era de uma cultura de compras com base estritamente no preço, muitas

compras repetitivas e pouquíssimos contratos de longo prazo. Apesar de a empresa,

antes de adotar o TCO, ter desenvolvido estudos sobre a composição de custos dos

itens comprados, o objetivo era entender como variações nos itens de custo

influenciariam o preço desses itens ao longo do tempo. Não existia a preocupação

em investigar os custos gerados por determinada compra ao longo de todo o

processo de compras, da vida útil do item ou da cadeia de suprimentos da empresa.

O processo de mudança iniciou-se no ano de 2001, quando a ALPHA decidiu

centralizar suas compras. A empresa enxergava na criação de uma área de

suprimentos grande potencial para ganhos tanto de redução de custos como de

melhorias de desempenho no processo de compras. Dessa forma, a Diretoria de

Suprimentos passaria a ser uma importante área de negócios com fortes objetivos

de geração de valor para os acionistas da empresa.

Outros motivadores para essa mudança dentro da ALPHA foram a definição de uma

estratégia corporativa de crescimento agressivo e a decisão de transformar a ALPHA

em uma empresa global, com as melhores práticas do seu setor. De forma a apoiar

tal direcionamento estratégico, a companhia necessitaria de importantes mudanças

na suas decisões de fornecimento, isto é, cada vez mais seriam necessários

Page 70: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

60

fornecedores fortes e capacitados a suportar os objetivos e a velocidade de

crescimento da companhia.

Para organizar a nova área e definir suas principais diretrizes, a alta gestão da

ALPHA contratou os serviços de uma consultoria estratégica norte-americana. Ainda

em 2001, a partir das indicações dessa consultoria, seria criada uma sub-área

abaixo da Diretoria de Suprimentos voltada para a compra de itens estratégicos.

Nesse período, ficou decidido que as decisões de compras dessa sub-área seriam

baseadas em análises de custo total de propriedade.

O primeiro time de gestores que assumiu a diretoria no ano de 2001, que, inclusive,

participou das definições estruturais da área junto aos consultores, enfrentou

dificuldades para colocar em prática as novas diretrizes da área de suprimentos.

Nesse período, apesar das tentativas de se incorporar o custo total de propriedade

ao processo de compras de itens estratégicos, as resistências iniciais relacionadas à

centralização da área impediram que tais iniciativas evoluíssem. Os entraves, nesse

caso, foram apontados como sendo relacionados à própria criação da área e não à

adoção do custo total de propriedade.

Foi só com a chegada do segundo time de gestores, no ano de 2003, que a adoção

do TCO nos processos de compras da ALPHA foi realmente iniciada. Apesar de,

atualmente, ainda existirem algumas pessoas que estavam presentes na época da

criação da área pela consultoria, a alta gerência foi toda formada após a saída do

grupo de consultores. Nesse caso, foi destacado que as pessoas contratadas para

formar esse segundo time de gestores, principalmente as que iriam compor a

gerência voltada para a compra de itens estratégicos, traziam experiência de áreas

de suprimentos de outras empresas, que tinham foco no gerenciamento da cadeia,

com visão mais estratégica do negócio e com experiência na adoção do custo total

de propriedade. Eles foram trazidos para a ALPHA exatamente por possuírem esse

tipo de capacitação.

Page 71: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

61

4.1.1.4. O Processo de Implementação do TCO

4.1.1.4.1. A Criação da Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos e a Definição

dos Itens Comprados com Base no TCO

Como dito anteriormente, a Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos foi criada

para gerenciar compras que apresentassem alto valor, impacto direto no negócio ou

no crescimento da empresa e mercado fornecedor complexo. Uma das razões para

a segregação dessa área foi a percepção de que, para que ela atingisse seus

objetivos mais estratégicos, seus profissionais não poderiam estar submetidos a

uma carga transacional muito elevada, isto é, não poderiam estar envolvidos com

atividades tradicionais do processo de compras, como realizar compras spot, tirar

pedidos freqüentemente, fazer follow-up de compra e redigir contratos. A gerência

deveria estar focada em um trabalho muito mais elaborado, diretamente relacionado

à implementação do TCO no processo de compras de itens estratégicos.

A decisão de que itens de compras passariam a utilizar a metodologia do custo total

de propriedade na ALPHA se deu com a própria definição do escopo dessa

gerência. Essa área passaria a ter sob sua responsabilidade basicamente bens de

capital e materiais que satisfizessem os três critérios já citados. Devido ao esforço

considerável, ao elevado custo de controle e à complexidade de implementação

intrínsecos à adoção do TCO, a diretoria decidiu focar sua utilização nessa gerência,

principalmente, por considerar que nela se encontravam as maiores oportunidades

de benefícios do TCO.

4.1.1.4.2. Priorização das Ondas1 para Modelagem do TCO

Dentro da Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos, as ondas para modelagem

de custo total de propriedade foram priorizadas de acordo com uma matriz de

oportunidade de ganhos X complexidade de implementação. O quadrante que

apresentou a combinação de menor complexidade e maiores oportunidades de

ganho foi identificado como prioritário. As oportunidades de ganho para determinado

1 Forma como as empresas costumam denominar seus projetos para modelagem de custo total de propriedade.

Page 72: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

62

item ou família de itens foram mapeadas a partir de análises do estágio de

desenvolvimento em que o processo de compra se encontrava. Isto é, foi verificado

se a ALPHA estava sempre comprando dos mesmos fornecedores, apesar da

existência de outros no mercado, e se existia poder de barganha ainda a ser

explorado.

Além disso, foram priorizadas as compras em que a ALPHA enfrentava escassez de

oferta ou risco de fornecimento. Nesse caso, a investigação do processo do qual o

item comprado fazia parte, além de auxiliar na modelagem do TCO, visava ajudar na

identificação de possíveis itens substitutos.

Com base nesses critérios, a primeira onda foi composta por uma série de famílias

de materiais de ferrovia, como trilhos, rodas, vagões, locomotivas, etc. Essa onda

ocorreu nos anos de 2003 e 2004. No momento da realização desse estudo, a

empresa estava trabalhando na segunda onda, que consistiria no estudo de diversas

famílias de equipamentos de mineração, como perfuratrizes, escavadeiras e

caminhões.

4.1.1.4.3. A Construção dos Modelos de TCO na ALPHA

Preparação Prévia de Informações

Antes de começar a desenvolver os modelos de custo total de propriedade para

determinada família de itens, a Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos da

ALPHA precisa preparar uma série de informações que poderão impactar

diretamente os resultados dos estudos. A primeira atividade é o detalhamento de

como o processo de compras desses itens ocorre atualmente na empresa. A seguir,

é feito o mapeamento da situação do mercado fornecedor. São levantados o nível de

complexidade desse mercado, tendências e os fornecedores potenciais. Em

seguida, são estudadas as demandas corrente e futura da empresa e, após o estudo

das especificações atuais e dos padrões técnicos dos itens, a área procura

identificar itens substitutos e possíveis materiais alternativos.

Page 73: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

63

A Participação da Alta Gerência e a Formação de Equipes Multifuncionais

Com essas informações, a gerência pode, então, definir o escopo do estudo e

estimar os possíveis ganhos. Concluindo-se que existem ganhos potenciais bastante

relevantes para a empresa, a Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos

apresenta a proposta de estudo do TCO para as diretorias que possuem relação

direta com a família de itens em questão (exemplo: no caso dos itens de ferrovia, o

comitê para aprovação do estudo foi formado pela Diretoria de Logística e pela

própria Diretoria de Suprimentos). Essa etapa foi apontada como de grande

importância para que o projeto seja realmente “comprado” pelas áreas que serão

envolvidas na modelagem do TCO.

Uma vez conseguida a aprovação das diretorias, a gerência inicia a captação de

recursos para a formação de times multifuncionais que desenvolverão esse estudo.

Na ALPHA, as equipes normalmente são formadas por um grupo técnico, um grupo

comercial e um grupo de gestão econômica, além das próprias pessoas de

suprimentos. Não existe treinamento formal para aqueles que participarão do

processo de modelagem. A área de suprimentos apenas apresenta para a equipe os

objetivos e a forma como o estudo será conduzido. A capacitação do grupo ocorre

ao longo do próprio processo de modelagem do TCO.

O trabalho desenvolvido por essas equipes multifuncionais, dentro da ALPHA,

possui objetivo de investigar o processo de negócio do qual o item comprado faz

parte. Esse processo foi exemplificado através de um caso em que foram estudados

explosivos para detonação nas minas. A decisão de compra de explosivos na

ALPHA era baseada em preço. Após a formação da equipe multifuncional, foi

apontado que a empresa deveria focar sua análise na operação de desmonte como

um todo e não apenas na compra de explosivo. O preço dos explosivos varia de

acordo com seu potencial energético. Por outro lado, explosivos com maior potencial

necessitam de um menor número de perfurações na mina para que o desmonte seja

realizado com sucesso. A partir disso, a equipe passou a investigar os trade-offs de

custo existentes entre a compra de explosivos mais potentes e a redução do número

de perfurações na mina. No final do estudo, a equipe concluiu que a redução no

número de furos necessários para a operação de desmonte mais do que

compensava o preço mais elevado dos explosivos com maior potencial energético. A

Page 74: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

64

empresa citou que a possibilidade de se olhar o processo de forma holística é

especialmente viabilizada pela formação de equipes multifuncionais.

Outro ponto observado foi que quanto maior é a profundidade desejada nos modelos

de custo total de propriedade, maior a abrangência necessária nas equipes

multifuncionais. Essa afirmação foi exemplificada com um caso atual da empresa. A

Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos encontra-se em pleno desenvolvimento

da onda de equipamentos de mineração. O exemplo dado é relativo à modelagem

do TCO para a compra de escavadeiras. O time concluiu que o fator produtividade

era um componente crítico no modelo de custo total de propriedade desse item e

iniciou a investigação dos custos por tonelada escavada. Porém, os benefícios de

maior produtividade das escavadeiras esbarraram na análise do próprio processo

produtivo das minas, isto é, a equipe precisou entender se a atividade de escavação

era gargalo ou não no processo produtivo e se essa poderia virar gargalo em um

futuro próximo. Além disso, as particularidades dos processos produtivos de cada

mina também precisaram ser contempladas nos modelos. Com isso, a elaboração

do TCO para equipamentos de mineração tem envolvido um grupo de pessoas da

operação de cada uma das minas da ALPHA.

O estágio dos trabalhos dessas equipes multifuncionais é apresentado pela

Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos em comitês que contam novamente

com a participação das outras diretorias. Essas reuniões ocorrem mensalmente com

a finalidade de avaliar o andamento das atividades da equipe. A gerência considera

que, dessa forma, o apoio da alta gestão se dá em todo o processo de modelagem

do TCO e não apenas no momento da decisão inicial.

O Envolvimento de Fornecedores no Processo de Modelagem do TCO

Além do grupo de pessoas internas da ALPHA, a Gerência Geral de Suprimentos

Estratégicos busca envolver, de alguma forma, seus fornecedores no processo de

modelagem do TCO. Segundo a área, são eles que detêm grande parte do know-

how sobre os itens que serão comprados. Além disso, quando são provocados com

perguntas do tipo: “por que eu compraria da sua empresa?” ou até mesmo, no caso

de fornecedores mais desenvolvidos, “qual o custo total do seu item?”, dão

Page 75: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

65

respostas que ajudam a ALPHA a entender os principais componentes dos modelos

de TCO do item que está sendo estudado.

A Identificação dos Principais Componentes de Custo

Apesar de a empresa buscar identificar todos os componentes de custos que

compõem os modelos de TCO da família estudada, o grupo foca seu esforço no

levantamento dos custos considerados mais relevantes para o modelo. Alguns

componentes de custos acabam sendo ignorados devido às dificuldades de

mensuração ou à carência de informações existentes nos sistemas da ALPHA.

Segundo a área de suprimentos, a exploração dos conhecimentos dos próprios

fornecedores é de grande utilidade para que a equipe possa entender quais

componentes de custo devem ser priorizados, isto é, em quais levantamentos o

grupo deve focar seus esforços. A experiência da área no processo de modelagem

de TCO vem indicando que os custos relacionados a rendimento, durabilidade,

desempenho e qualidade são os custos nos quais a ALPHA tem dedicado maior

esforço. Esses custos têm se revelado bastante relevantes para a decisão final de

compra.

Outros componentes de custo que normalmente fazem parte da composição dos

modelos de TCO da ALPHA são: produtividade, custos de operação, manutenção,

sucateamento, custos de rejeição, custos de falha, custos de peças de reposição,

consumo de combustível, outros tipos de consumo, produtos complementares,

custos logísticos, frete, estoque, impostos, embalagem e condições de pagamento.

A Definição da Estratégia de Fornecimento

Após a construção do modelo de custo total de propriedade, a Gerência Geral de

Suprimentos Estratégicos formula sua estratégia de fornecimento buscando

minimizar o custo total de propriedade dos itens estudados. O próprio TCO e os

pesos dados a seus componentes de custos indicam qual o modelo de fornecimento

que deverá ser adotado pela ALPHA. Por exemplo, em um dos modelos de TCO de

um material da categoria de ferrovia, foi identificado que os custos associados à

perda de estoque eram muito significativos, porém o custo da falta do item também

era bastante relevante. Com isso, a ALPHA decidiu contratar um modelo de

Page 76: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

66

fornecimento em que o estoque seria de responsabilidade do fornecedor e o

pagamento só seria efetuado no momento de consumo do item. Além disso, o

contrato exigiria um nível de serviço elevado. Dessa forma, o fornecedor seria o mais

interessado em dimensionar e controlar adequadamente esse estoque, de forma a

aumentar a disponibilidade e reduzir as perdas.

Com a estratégia de fornecimento definida a partir dos pontos sensíveis do modelo

de TCO, a ALPHA seleciona os fornecedores que participarão do processo

concorrencial e inicia a etapa de negociação. A partir desse momento, a empresa

busca implementar indicadores contratuais que cubram os pontos mais sensíveis do

modelo de custo total de propriedade, por exemplo, se o custo de manutenção foi

identificado como bastante significativo, o contrato deverá ser fechado com inclusão

de serviços de manutenção ou precisará contemplar os níveis de manutenção que

estarão cobertos pelo fornecedor, isto é, a partir de que valor os custos de

manutenção passam a ser de responsabilidade do fornecedor.

O Processo Contínuo de Análise do TCO

O processo de fornecimento de itens estratégicos na ALPHA, do qual a modelagem

do custo total de propriedade faz parte, não é finalizado com a contratação. A área

de suprimentos destacou a necessidade de se exercer uma gestão contínua e pró-

ativa sobre os modelos de TCO, principalmente considerando que esses são

utilizados para a aquisição de suprimentos de grande impacto no negócio da

empresa. Apesar de um dos grandes resultados da modelagem do TCO ser a

identificação dos pontos sensíveis de custo que deverão ser contemplados nos

contratos, o gestor de contrato precisa ficar atento a mudanças que possam alterar o

modelo de TCO, como inovações tecnológicas, por exemplo modificações no tipo de

combustível consumido pelo bem e surgimento de materiais alternativos, além de

mudanças no mercado fornecedor, como concentração, aumento de margens,

surgimento de novos players, e outros. Se o gestor de contrato não acompanhar

essa dinâmica, a compra pode estar sendo feita com base em um modelo de TCO

que não reflete mais a realidade da aquisição daquele bem.

Além disso, alguns modelos de custo total de propriedade possuem um tempo de

maturação longo. Por exemplo, a ALPHA está implementando o TCO para a

Page 77: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

67

aquisição de rodas para vagões. Hoje, a área consegue medir os custos até

determinada fase da vida útil do item. Futuramente, os custos serão medidos até o

final do ciclo de vida da roda, incluindo o preço de revenda. Quando isso acontecer,

já terão passado 3 a 4 anos. Então, hoje, o modelo é implementado considerando

preço e alguns outros itens. Aos poucos, dados estatísticos passam a ser

disponibilizados para compor o modelo, permitindo que, no futuro, grande parte dos

custos do ciclo de vida do bem estejam mapeados. Dessa forma, os modelos de

TCO são enxergados pela área de suprimentos da ALPHA como modelos em

evolução, isto é, à medida que outras informações estejam disponíveis, eles

precisam ser revistos.

Outra responsabilidade do gestor de contrato é a validação de pontos específicos

dos modelos. Por exemplo, se a área supôs que determinado item apresentaria uma

duração de 5 anos, o gestor de contrato precisa acompanhar isso na prática. Além

disso, é responsabilidade dele verificar a evolução dos impactos nos centros de

custos ligados a determinada família de itens. Essa etapa de validação do modelo

ainda não está totalmente estruturada na companhia.

De acordo com a empresa, a realização dessas atividades relacionadas à gestão

contínua dos modelos de TCO é o que diferencia a ALPHA de outras empresas que

fazem uso dessa metodologia, principalmente de empresas em que o processo de

adoção de custo total de propriedade envolveu intensa participação de consultorias.

Nesse caso, foi dito que a consultoria realizaria todo o processo de modelagem do

TCO e o entregaria para alguém gerir. Na ALPHA, o próprio responsável pelo

desenvolvimento do modelo é o seu gestor.

4.1.1.5. Características dos Modelos de TCO da ALPHA

A Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos da ALPHA não utiliza um modelo

padronizado de TCO, que contenha os componentes de custo necessariamente

analisados em todos os casos. Para cada família de itens que se deseja estudar, a

área realiza um esforço de identificação dos custos que irão compor o modelo.

Apesar de existir intenção de se estruturar um modelo agregado que serviria como

Page 78: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

68

check-list para futuras análises, as diferenças existentes entre as famílias analisadas

levam à utilização de modelos de TCO customizados. O que poderia ocorrer

futuramente na empresa seria a formatação de modelos bastante agregados que

contemplariam os componentes de custo considerados para itens de natureza

diferentes, isto é, um modelo agregado para a compra de bens de capital e outro

para a compra de materiais, que são os dois tipos de insumos comprados com base

no TCO na ALPHA.

Além disso, são utilizados custos diretos para alimentar os modelos de custo total de

propriedade da empresa. Isso implica grande esforço da Gerência Geral de

Suprimentos Estratégicos no levantamento de custos. Com relação à consideração

de aspectos qualitativos, como por exemplo certificações de fornecedores, a postura

que ALPHA adota é a tentativa de, através de análises de sensibilidade, mensurar o

impacto percentual de determinado aspecto qualitativo no custo total do item

comprado. De acordo com a empresa, se esse impacto em custo não é passível de

mensuração, ou ao menos de realização de estimativas, o aspecto qualitativo em

questão deixa de ser relevante e passa a ser considerado como mera preferência do

comprador, ou seja, não deveria estar influenciando a decisão de compra.

4.1.1.6. Os Entraves Percebidos

Os principais entraves percebidos no processo de adoção do TCO para as decisões

de compras na ALPHA estão relacionados com a resistência de cultura dos

compradores, a disponibilidade de recursos, a obtenção de dados históricos, o

levantamento de informações de custos e o elevado número de variáveis que

impactam alguns dos componentes de custo estudados.

Resistência de Cultura dos Compradores

A resistência à adoção do TCO nas decisões de compras se dá mais fortemente no

momento exato da aquisição. Apesar da Gerência Geral de Suprimentos

Estratégicos constantemente demonstrar os benefícios dos modelos de custo total

de propriedade, ainda existiria a sensação por parte dos compradores de que está

se pagando mais caro por determinado item. Além disso, por estarem preocupados

Page 79: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

69

em não estourar o orçamento do ano em questão, os compradores não dariam a

importância devida aos benefícios de custo, na maioria das vezes de longo prazo,

gerados pelos modelos de TCO e tenderiam a manter o foco em preço.

Um exemplo desse entrave foi percebido na análise de TCO para a compra de

dormentes. A companhia decidiu avaliar a utilização de dormentes de aço frente aos

tradicionais dormentes de madeira. O principal custo relevante para a decisão era

associado à durabilidade do item. Os dormentes de madeira durariam oito anos com

possibilidade de extensão da vida útil para dezesseis anos. Os dormentes de aço

possuíam durabilidade de quarenta anos. Além disso, os acessórios que eram

demandados por cada tipo de dormente eram diferentes e o número de intervenções

na linha férrea também variava. Os dormentes de madeira necessitariam de duas ou

três intervenções ao longo de sua vida útil, enquanto que os de aço não precisariam

de intervenção, o que traduziria em menos tempo de linha parada. Apesar de mais

cara, considerando apenas o preço de compra, a aquisição de dormentes de aço

mostrava-se mais vantajosa para a empresa. Mesmo com a demonstração das

análises de custo total de propriedade, os compradores mostraram resistência em

aceitar a decisão e questionaram um benefício de custo que seria obtido ao longo de

um prazo de quarenta anos. A preocupação era no cumprimento do orçamento do

ano e, claramente, a opção por dormentes de aço teria um impacto negativo maior

no orçamento da área.

Esse exemplo prova que ainda existe receio dentro da ALPHA por parte das

pessoas que irão aprovar as decisões de compras com base nos modelos de custo

total de propriedade. Considerando que os modelos de TCO da empresa muitas

vezes levam a conclusões de que se deveria optar por pagar mais caro por um bem

que terá um desempenho superior ao de outro, a confiança dos compradores nos

resultados do modelo é considerada imprescindível. Para isso, a empresa destacou

a importância de cada vez mais se utilizar dados reais para alimentar os modelos.

Assim, a resistência dos compradores seria reduzida e a confiança nos modelos de

TCO seria aumentada.

Outra forte resistência dos compradores à adoção do TCO se dá quando as análises

indicam que um fornecedor tradicionalmente utilizado pela ALPHA não é o mais

Page 80: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

70

adequado. Os compradores tendem a resistir à mudança por não desejarem sair da

zona de conforto existente no relacionamento com o fornecedor tradicional. Eles

atribuem um alto custo de mudança para a troca de fornecedor, buscando manter a

decisão de fornecimento como era feita anteriormente.

Disponibilidade de Recursos

A necessidade do envolvimento de outras áreas funcionais da empresa (grupo

técnico, grupo de usuários, grupo comercial e grupo de gestão econômica) no

processo de modelagem do custo total de propriedade implica elevada coordenação

de atividades e exige grande disponibilidade de tempo dessas pessoas. Em uma

empresa em ciclo de crescimento como a ALPHA, a demanda existente por essas

pessoas dentro de suas áreas originais é bastante elevada. Com isso, a Gerência

Geral de Suprimentos Estratégicos, responsável pela formação das equipes

multifuncionais, enfrenta grandes dificuldades para retirar as pessoas de suas

operações e envolvê-las nas atividades de elaboração dos modelos de TCO.

Obtenção de Dados Históricos

Para os itens de compras estudados que possuem ciclos de vida longos, existe

carência de informações históricas de rendimento, paradas, manutenção e outros

custos incorridos após a aquisição do item. Inexistindo tais informações na ALPHA, a

área de suprimentos opta pela construção de modelos teóricos. Na construção de

modelos para determinados materiais, a ALPHA compra, de forma independente do

preço, lotes de vários fornecedores e os submete à realização de testes práticos

para a determinação do TCO correto do item. Dessa forma, depois de algum tempo

da aquisição dos lotes, é possível começar a alimentar o modelo teórico com

informações reais. A empresa destacou que quanto mais teórico o modelo de TCO,

maior é a resistência dos compradores para aprovarem as decisões.

Levantamento de Informações de Custos

Além das dificuldades na obtenção de dados históricos, a área de suprimentos ainda

enfrenta problemas para levantar algumas informações de custos. Essas

dificuldades estão relacionadas à existência de contabilizações ainda muito

genéricas que impedem que determinados custos sejam desagregados e que

análises mais profundas sejam realizadas. Além disso, atualmente, a empresa

Page 81: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

71

encontra-se no meio da implantação de seu ERP, o que faz com que as principais

informações de custos para os modelos de TCO ainda sejam obtidas em sistemas

legados da organização, o que só adiciona complexidade ao processo.

Elevado Número de Variáveis que Impactam Alguns Componentes de Custos

Ao longo das ondas de modelagem do TCO, foram enfrentadas dificuldades na

determinação de alguns componentes de custos devido ao elevado número de

variáveis que teriam impacto sobre eles. Um exemplo citado foi a tentativa de

modelar o custo total de propriedade de diferentes trilhos para linhas férreas. Um

dos componentes de custo mais relevantes era a durabilidade do bem. A equipe que

estava analisando os diferentes trilhos identificou que a durabilidade era impactada

por diversas variáveis como o tipo de roda que estaria rolando sobre eles, o

esmerilamento do trilho, além de diversas outras. Apesar da importância desse

componente de custo, a elevada interferência que a durabilidade sofria de outras

variáveis das quais não se tinha controle e a dificuldade de se isolar a análise

fizeram com que a equipe optasse por desconsiderá-la. Em casos como esse, a

ALPHA entende que considerar tais componentes de custo de difícil compreensão

pode levar a decisões de compras erradas.

4.1.1.7. Os Benefícios Obtidos

Os principais benefícios obtidos no processo de adoção do TCO na ALPHA podem

ser descritos como os seguintes: estreitamento do relacionamento com fornecedores

de melhor desempenho, melhorias no processo de seleção, negociação e avaliação

de fornecedores, melhores especificações dos itens comprados, realização de

contratos de longo prazo, incentivo a alianças estratégicas, mudança de cultura dos

fornecedores, reduções de custo, melhorias na visão de suprimentos dentro da

ALPHA e no relacionamento com as áreas usuárias e desenvolvimento do

profissional de compras. Cada um desses benefícios é detalhado a seguir.

Impacto Positivo no Relacionamento com Fornecedores de Melhor Desempenho

A decisão de que a ALPHA passaria a comprar com base no custo total de

propriedade e não mais com foco no menor preço gerou impacto extremamente

Page 82: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

72

positivo no relacionamento com fornecedores de melhor desempenho. A razão

apontada para que isso ocorra é a característica busca por diferenciação desses

fornecedores, principalmente através da oferta de serviços agregados. Quando a

ALPHA passou a olhar custo total e não apenas o preço do item, essa diferenciação

ganhou maior relevância no processo de seleção e os fornecedores que possuíam

as ofertas realmente melhores foram beneficiados. Isso tem sido de grande

importância para a estratégia de crescimento da empresa, uma vez que foi

observada a necessidade de se desenvolverem relacionamentos mais próximos com

os fornecedores de itens estratégicos mais qualificados.

Melhorias no Processo de Seleção e Negociação com Fornecedores

A compra com base no custo total de propriedade tem ajudado significativamente a

ALPHA a selecionar e negociar melhor com seus fornecedores. A partir do momento

em que se começou a medir o TCO dos itens comprados, o discurso dos

fornecedores no processo de negociação teve que mudar. Os fornecedores que

realmente contavam com produtos de qualidade consideraram extremamente

positivo que a empresa passasse a decidir dessa forma. Em contrapartida, aqueles

fornecedores que só possuíam discurso, cujos vendedores claramente não

confiavam em seus produtos e que eram beneficiados pelo fato de a área de

suprimentos da ALPHA não ter conhecimento sobre os custos pós-compra

começaram a se enfraquecer no processo de negociação. Dessa forma, tem

acontecido um verdadeiro processo de separação, em que o fornecedor que

realmente possui know-how e um produto confiável se destaca dos demais.

Além disso, o processo de negociação passou a ser mais transparente à medida que

a ALPHA começou a exigir em seus contratos acordos que cobrissem os pontos

mais sensíveis do TCO de determinado item. A conversa deixou de ser baseada nos

resultados de um futuro que não era auferido pela empresa. Quando o fornecedor

afirma que seu produto vai se comportar de determinada forma ao longo de sua vida

útil, a ALPHA quer que ele garanta isso através da aceitação de indicadores

contratuais que envo lvam os componentes de custo mais relevantes dos modelos de

TCO. Não é considerado simples conseguir que os fornecedores se comprometam

com as compensações. Quanto mais resistente for o fornecedor à aceitação desses

acordos, mais a ALPHA questiona a confiabilidade do que está sendo comprado.

Page 83: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

73

Apesar dessas dificuldades, cada vez mais a empresa tem conseguido fechar

negociações em que são acordados rendimento, disponibilidade do bem e,

principalmente, a remuneração do custo de manutenção, isto é, se os gastos com

manutenção forem superiores ao acordado, o restante das peças deverá ser de

graça para a ALPHA. Com relação à manutenção, a empresa começou a olhar mais

fortemente para esse componente do TCO. A intenção é investigar os custos

associados aos tempos de parada, ou seja, os modelos de TCO deverão incorporar

o verdadeiro custo da manutenção, que deve englobar tanto o valor despendido com

a atividade de manutenção em si como a receita perdida no período de parada da

operação.

Objetividade na Avaliação de Fornecedores

Considerando que os acordos (SLAs - service level agreements) que constam nos

contratos da ALPHA estão diretamente ligados aos pontos sensíveis dos modelos de

custo total de propriedade, a empresa considera que conta com um sistema de

avaliação de desempenho eficiente e com foco nos aspectos mais relevantes para o

fornecimento em questão. Além disso, sendo possível mensurar como o

desempenho dos fornecedores impacta o custo da ALPHA, foram criados sistemas

de penalização e bonificação. Isto é, se determinado fornecedor apresentar um

desempenho aquém do acordado, pode ser penalizado com base no valor do

impacto negativo gerado no custo da empresa. Se o inverso acontecer e

determinado fornecedor conseguir gerar receita para a empresa por desempenhar

sua função de forma superior aos níveis acordados, a ALPHA pode fazer uso do

sistema de bonificação. A bonificação é considerada uma forma de motivar os

fornecedores a melhorarem continuamente seus desempenhos.

Melhorias na Especificação dos Itens Comprados

O processo de modelagem do custo total de propriedade na ALPHA, por reunir, em

um time multifuncional, a área de suprimentos, os usuários, a equipe técnica e um

grupo de gestão econômica, tem permitido, na visão da empresa, que o item que

será comprado seja especificado de maneira adequada às reais necessidades das

áreas usuárias e da operação da qual este fará parte.

Page 84: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

74

Realização de Contratos de Longo Prazo

A adoção do TCO na ALPHA tem implicado a realização de contratos com prazos

maiores. Anteriormente, a área de suprimentos da empresa era uma área gigantesca

que realizava muitas compras repetitivas e só fechava contratos de curto prazo.

Como um dos componentes dos modelos de TCO da empresa é o próprio custo do

processo de compras, foi identificado que a realização de muitas compras spot

gerava um custo transacional muito elevado. Com isso, a empresa passou a

incentivar a realização de contratos com prazos maiores. Esse seria um exemplo de

como a própria área de suprimentos da ALPHA vem utilizando as análises de TCO

como ferramenta para otimização do processo de compras.

Além disso, o aumento no número de contratos de longo prazo tem permitido à

empresa estreitar cada vez mais seu relacionamento com fornecedores importantes

para o crescimento da ALPHA. Graças a isso, a empresa considera que o nível de

maturidade do relacionamento com tais fornecedores de suprimentos estratégicos

vem aumentando consideravelmente.

Incentivo a Alianças Estratégicas

Apesar de a ALPHA não se considerar no estágio de maturidade de adoção do TCO

em que existe aproximação bastante intensa entre fornecedor e empresa

compradora, a empresa já identificou oportunidades para redução de custo total a

partir de colaboração mais próxima com alguns fornecedores específicos,

considerados altamente relevantes para o negócio da empresa. A Gerência Geral de

Suprimentos Estratégicos está iniciando alguns esforços para formação de alianças

estratégicas com objetivo de redução de custo total. A Caterpillar é um exemplo

desse processo e está sendo convidada a empregar seu know-how na operação da

ALPHA de qual fazem parte alguns itens fornecidos por essa empresa.

Mudança de Cultura dos Fornecedores

Pela diversidade de empresas que fazem parte da base de fornecedores da ALPHA,

a companhia lida tanto com fornecedores que já estão totalmente alinhados com o

objetivo de redução do custo total de propriedade, por exemplo GE e Carterpillar,

como com fornecedores, principalmente do mercado brasileiro, que tiveram que

mudar sua forma de negociação e repasse de ajustes de preço. Para os

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75

fornecedores do segundo caso, por várias vezes, a Gerência Geral de Suprimentos

Estratégicos solicitou que a proposta comercial fosse refeita contemplando os pontos

críticos de custo identificados pelo modelo de TCO. Além disso, no repasse do

aumento de custos dos insumos, os fornecedores passaram a ter que apresentar

projetos em que eram discutidas ações para redução do custo da ALPHA. O simples

repasse dos aumentos parou de acontecer, forçando os fornecedores a se

desenvolverem na investigação de oportunidades para reduções do custo total de

propriedade da ALPHA. A discussão de tais projetos, entre a empresa e seus

fornecedores, é vista como uma forma de transmitir conhecimento e know-how e

repassar a cultura de minimização de custo total de propriedade para os

fornecedores da empresa.

Reduções de Custo

Na onda de adoção do custo total de propriedade para a categoria de compras de

ferrovia, a ALPHA obteve redução de custos de aproximadamente R$ 100 milhões,

somente no ano de 2004. Esse resultado representa uma economia de

aproximadamente 5% do valor gasto pela empresa com compras dessa categoria.

Melhorias na Visão de Suprimentos dentro da ALPHA e no Relacionamento com as

Áreas Usuárias

As demais áreas da organização, principalmente as áreas clientes, passaram a

enxergar a área de suprimentos da ALPHA como uma função que agrega valor às

suas atividades. Não existe mais a percepção de que os compradores querem

empurrar os itens com menor preço e fornecedores pouco qualificados, além de não

permitirem que a área cliente compre de quem ela gostaria.

Com a formação das equipes multifuncionais, o processo de compras ganhou em

transparência dentro da organização, possibilitando maior entrosamento entre a

Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos e as outras áreas da empresa, além de

estreitar o canal existente entre suprimentos e as áreas usuárias. Isto significa dizer

que não existem mais surpresas desagradáveis para os usuários. A satisfação

desses com o item comprado tende a ser muito maior. Além disso, a participação

direta no processo de compras criou respeito mútuo entre essas áreas e fez com

Page 86: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

76

que seus objetivos, que antes eram conflitantes (suprimentos querendo empurrar o

menor preço e as áreas usuárias questionando isso), convergissem.

Desenvolvimento do Profissional de Compras

A Diretoria de Suprimentos da ALPHA identificou benefícios relacionados à própria

motivação do funcionário de compras. Com a adoção do custo total de propriedade,

considera-se que os compradores passaram a realizar um trabalho mais nobre no

qual precisam entender do negócio do qual o item comprado faz parte. Seria

necessário também entender o processo como um todo, observando onde e como o

item será usado na companhia. Segundo a empresa, a partir do momento em que

esse profissional para de olhar apenas especificações e cotações dos itens e

procura entender os impactos das compras na organização, surgem boas

oportunidades para seu desenvolvimento dentro da companhia. Um exemplo dessa

mudança seria o aproveitamento de alguns desses profissionais em outras áreas de

negócio da ALPHA. Cada vez mais, com a exposição e o contato com outras áreas,

têm ocorrido convites para que esses funcionários ocupem outros cargos dentro da

companhia.

4.1.1.8. Perspectivas Futuras

Dentro do escopo de compras da Gerência Geral de Suprimentos Estratégicos, a

área já realizou a modelagem do custo total de propriedade para aproximadamente

70% de seu gasto total. Nos próximos anos, os 30% restantes deverão ser

contemplados e, além disso, ocorrerá uma nova onda para os itens já modelados.

Esse novo trabalho sobre itens da categoria de ferrovia e alguns itens da categoria

de mineração será focado em otimização do negócio e revisão dos modelos de TCO

para a incorporação de novos componentes de custos cujas informações não se

encontravam disponíveis durante a primeira onda. Além disso, outros componentes

de custo, como manutenção, apesar de já serem contemplados nos modelos,

possuem espaço para desenvolvimento.

Page 87: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

77

Existe também a perspectiva de tornar o processo de levantamento de informações

de custo menos trabalhoso. Com o fim da implantação do ERP na ALPHA, a área de

suprimentos considera que a obtenção de dados será cada vez menos complicada.

Por fim, um outro ponto interessante é o fato da área estar criando seu manual de

negociação, em que um dos capítulos de destaque foi chamado de Total Cost of

Ownership. Nesse capítulo, é determinado que todas as negociações da Gerência

Geral de Suprimentos Estratégicos deverão ser feitas com base no custo total de

propriedade do item comprado.

4.1.2. A Adoção do TCO na Empresa BETA

4.1.2.1. A Empresa

A empresa BETA tem forte presença na indústria mundial de petróleo, em atividades

de exploração e produção, refino, transporte, armazenagem e distribuição. Nos

últimos anos, a empresa tem se voltado também para outras áreas de energia.

No exercício de 2004, a empresa apareceu entre as 10 maiores empresas brasileiras

em termos de faturamento , contando com cerca de 50.000 empregados em seu

corpo de funcionários efetivos.

4.1.2.2. A Organização da Área de Suprimentos

Posicionada sob a Diretoria de Serviços da BETA e logo abaixo da Gerência

Executiva de Materiais, a Gerência de Estratégia de Contratação de Bens e Serviços

é responsável pela definição da estratégia de compras a ser adotada para os

diferentes itens ou categorias de compras. A área realiza principalmente análises de

criticidade dos itens e complexidade do mercado fornecedor. A partir disso, a

estratégia de aquisição é definida e as compras são divididas entre as diferentes

Gerências Setoriais existentes na empresa. A estratégia escolhida pode variar desde

Page 88: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

78

integração vertical, aliança, desenvolvimento de fornecedor e contratos de longo

prazo a negociação agressiva através de leilão e compra em mercado spot.

A Gerência Setorial que é foco deste estudo é a de Análise de Contratos

Estratégicos, a qual é responsável pela compra de itens estratégicos para a BETA,

isto é, os de alta criticidade e mercado fornecedor complexo. Pode ocorrer também

de essa Gerência ter que estudar determinado item que não se enquadre nessa

classificação. Essa eventualidade normalmente é resultado de uma solicitação direta

da Gerência Executiva de Materiais.

A Gerência de Análise de Contratos Estratégicos é organizada em equipes. Ela

atualmente conta com quatro equipes compostas por três a cinco pessoas, todas de

formação de nível superior e em sua maioria engenheiros e administradores. Cada

time é responsável pelo estudo de uma determinada categoria de compras. Dessa

forma, a gerência opera com quatro frentes de modelagem de custo total que podem

avançar simultaneamente. A definição de que categorias serão priorizadas pelas

equipes é feita em conjunto com a Gerência Executiva de Materiais e a Gerência de

Estratégia de Contratação de Bens e Serviços. O valor anual de compras sob sua

responsabilidade não pôde ser informado.

4.1.2.3. Os Antecedentes e as Motivações para a Adoção do TCO

A adoção do custo total de propriedade no processo de compras da BETA teve seu

início no ano de 2001. Antes disso, as compras hoje feitas com base nos modelos

de custo total de propriedade, eram realizadas através de processos de licitação

bastante simplificados. Alguns fatores além do preço podiam ser considerados,

porém nenhuma análise mais aprofundada era realizada. Em meados do ano 2000,

a empresa contratou um estudo de benchmark sobre os grandes players mundiais

da indústria de petróleo para identificação de melhores práticas e inovações que

poderiam se adequar à realidade brasileira. As principais práticas identificadas

relacionadas às atividades de compras eram associadas ao uso do comércio

eletrônico, atividades de análise e estudo de demanda e implantação de ações de

desenvolvimento de sourcing. A partir disso, a adoção do custo total de propriedade

Page 89: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

79

na BETA foi englobada pelas ações de desenvolvimento da metodologia de

sourcing. Como definição para sourcing, a empresa coloca o seguinte:

“A definição da melhor estratégia de aquisição de uma categoria de

material ou serviço, de forma integradora, focando o menor custo total

e o aumento do nível de serviço da cadeia de suprimento, alinhado

com a visão de negócios da companhia”.

A própria definição da metodologia ajuda a explicitar os principais motivadores que

levaram a BETA a adotá-la em seu processo de compras: além, dos benefícios de

custo, a empresa desejava obter melhorias relacionadas ao nível de serviço

prestado por seus fornecedores e ao nível de satisfação de suas áreas usuárias.

Além disso, a empresa buscava adequar seu processo de compras à nova função

estratégica que a área de Compras adquiria no cenário mundial da indústria de

petróleo.

Dessa forma, foi criada a Gerência de Estratégia de Contratação de Bens e Serviços

e, abaixo dela, as diferentes Gerências Setoriais, incluindo a Gerência de Análise de

Contratos Estratégicos, que seriam responsáveis pela operacionalização das novas

práticas identificadas no estudo de benchmark. O perfil do pessoal deslocado dentro

da empresa para essa nova área era de engenheiros ou técnicos com forte

experiência em Compras.

4.1.2.4. O Processo de Implementação do TCO

4.1.2.4.1. A Contratação da Consultoria DELTA

Após a formulação dessas novas diretrizes resultantes do estudo de benchmark da

indústria do petróleo, a empresa constatou sua carência de know-how para dar

continuidade sozinha à implementação. A partir daí, a BETA inicia o processo de

licitação para contratação de uma empresa de consultoria com conhecimento sobre

a metodologia de sourcing e análises de custo total, que possuísse experiência na

indústria de petróleo e, preferencialmente, atuasse mundialmente. A empresa

Page 90: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

80

considerava que a abrangência de sua cadeia de valor só poderia ser comparada a

outros players mundiais, fato que levou à preocupação pela contratação de uma

consultoria com experiência internacional.

É então que, no ano de 2001, a DELTA passa a compor a equipe que iria

operacionalizar a implementação da metodologia de sourcing e a adoção das

análises de custo total de propriedade no processo de compras da empresa.

4.1.2.4.2. O Papel da Gerência de Estratégia de Contratação de Bens e Serviços e a

Definição dos Itens Comprados com Base no TCO

Por ser responsável pela classificação das categorias de compras dentro das

diferentes estratégias de aquisição, a Gerência de Estratégia de Contratação de

Bens e Serviços teve papel fundamental na determinação de quais categorias iam

ser submetidas ao estudo de custo total de propriedade. Junto à equipe de

consultores, a área levantou informações de todas as categorias de materiais e

equipamentos comprados pela Gerência Executiva de Materiais. Essa avaliação

contou com um processo de investigação que incluía análise de base de dados e

entrevistas com pessoal técnico e áreas usuárias.

Em linhas gerais, a determinação dos itens que seriam submetidos às análises de

custo total considerou três grandes fatores: criticidade do item, complexidade do

mercado fornecedor e valor total da compra. Dessa forma, a empresa definiu seus

itens estratégicos como: “Itens de extrema importância para os processos da BETA,

com mercado concentrado em poucos fornecedores e em que o poder de

negociação tende para eles”.

Caíram sob essa classificação as seguintes categorias: válvulas, catalisadores,

aditivos de refinaria, chapas de aço, commodities químicas, hastes e unidades de

bombeio, bombas de fundo, válvulas, mangotes, cabeças de poço submarino, entre

outras. De posse dessa lista, é possível afirmar que as categorias consideradas para

o estudo de custo total de propriedade foram compostas em sua maioria por

materiais, bens de capital e equipamentos pesados, e produtos químicos.

Page 91: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

81

4.1.2.4.3. Priorização das Ondas para Modelagem do TCO

No início do ano de 2001, a Gerência de Análise de Contratos Estratégicos, em

trabalho conjunto com os consultores, elaborou um diagnóstico de Strategic

Sourcing. Este relatório consistiu no estudo dos benefícios potenciais para cada

categoria de materiais. A partir desse relatório, a equipe pôde validar, junto a

Gerência Executiva, as categorias de compras que seriam estudadas, além de

determinar a ordem para a ocorrência dos projetos.

As categorias de compras foram agrupadas em ondas de acordo com seus

potenciais de ganho e facilidade de implementação. Como indicadores do potencial

de ganho foram considerados o volume dos gastos, a existência de parcelas ainda

negociáveis e outros benefícios percebidos para determinada categoria. Nesse

ponto, a área procurou também identificar possíveis dificuldades enfrentadas pelas

áreas usuárias. No quesito facilidade de implementação, foram investigadas

restrições logísticas, comerciais, técnicas e governamentais, além, do esforço de

gerenciamento.

A partir desse estudo, a gerência chegou a uma definição inicial de cinco ondas e

selecionou os itens que fariam parte da onda piloto. Em meados de 2001, a onda

piloto foi iniciada com propósito de treinamento dos funcionários da BETA e de

geração de resultados práticos para motivar as áreas envolvidas. A participação da

consultoria nessa fase inicial foi bastante intensa, inclusive sendo realizada uma

rotina de treinamentos que contava com aulas sobre a metodologia.

4.1.2.4.4. A Construção dos Modelos de TCO na BETA

A Participação da Alta Gerência e A Formação de Equipes Multifuncionais

Após a formalização do início do estudo para determinada categoria de compras

junto aos representantes da área usuária e a Gerência Executiva de Materiais, é

iniciado o processo de formação de uma equipe multifuncional. Na BETA, tais

equipes são formadas por quatro diferentes grupos: (1) a equipe de Sourcing,

formada por um dos times da área de Análise de Contratos Estratégicos, (2) a

equipe de Suprimentos, que inclui a unidade de negócio, a área corporativa e a área

Page 92: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

82

de materiais, (3) a equipe Técnica, de operação, manutenção e SMS (segurança,

meio ambiente e saúde) que agrega conhecimentos técnicos específicos da

categoria ou item de compras e (4) a equipe de Apoio, que normalmente inclui o

Jurídico, área Tributária, etc.

A equipe de Sourcing assume o papel de líder no estudo. As demais áreas atuam

sob demanda dessa equipe, funcionando como fontes de informação e sendo

solicitadas a intervir no processo quando necessário. A cada nova etapa concluída

do estudo, a equipe de Sourcing se reúne com a gerência e demais áreas para

validar o resultado e dar continuidade ao processo.

É importante destacar que cada uma das equipes da Gerência de Análises de

Contratos Estratégicos conta com a presença de um consultor da DELTA. O objetivo

é que o know-how seja passado no dia-a-dia do trabalho, até o ponto em que a

equipe da BETA seja capaz de atuar de forma independente. Ainda não existe

previsão de quando isso irá acontecer. A área atualmente também conta com um

gerente de projeto da DELTA que supervisiona os consultores.

As Etapas dos Projetos de Modelagem do TCO

Os estudos de custo total de propriedade na BETA são organizados em duas fases:

(A) a definição da estratégia, que inclui as etapas de levantamento de dados e

análise, e (B) a implantação, relativa às etapas de elaboração do contrato.

(A) A Definição da Estratégia - As Etapas de Levantamento de Dados e Análise

Definição de requerimentos internos

A primeira atividade desenvolvida pela equipe de Sourcing é a definição dos

requerimentos internos. Nesse primeiro momento, a equipe levanta dados de

utilização do item, histórico de demanda, representatividade anual da compra,

especificações e padrões técnicos, processo atual de compras, preço atual,

requerimentos específicos das áreas usuárias e como se dá o processo de descarte

do item. Nessa etapa, são feitas a análise e saneamento dos bancos de dados, a

revisão das “Normas BETA” e a adequação das descrições às especificações

técnicas. São realizadas entrevistas e visitas às unidades para se identificar os

Page 93: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

83

principais problemas e dificuldades enfrentados pelas áreas usuárias, além de

sugestões de melhoria para compras futuras.

Análise do Mercado Fornecedor

Na segunda etapa, a equipe tem como objetivo caracterizar o mercado fornecedor

da categoria de compras estudada. Nessa etapa, são feitas a segmentação do

mercado e a definição de sua complexidade, além da identificação de novas

tendências e potenciais fornecedores. Também são estudadas a representatividade

da demanda da BETA para o mercado fornecedor e a estrutura de custos da

indústria.

Junto aos fornecedores cadastrados, novos fornecedores são prospectados e

apresentados ao trabalho que está sendo desenvolvido pela BETA. Os fornecedores

são então convidados a participar do estudo através do fornecimento de informações

solicitadas pela equipe de Sourcing. Nessa fase, a equipe busca trocar informação

com o mercado de forma a evitar que, ao final do estudo, chegue-se a um modelo de

fornecimento que o mercado não consiga atender. Vale destacar que a equipe

também registra as dificuldades apontadas pelos fornecedores.

Construção do Modelo de TCO

Após analisar o mercado fornecedor, a equipe inicia o processo de construção do

modelo de custo total de propriedade. Como exemplo, a empresa apresentou o

modelo utilizado para a compra de mangotes (tubo flexível que recebe os resíduos

de um rebocador). As atividades-chave que compõem este modelo de TCO foram

definidas como: planejamento da demanda; compra; fabricação; entrega do produto;

recebimento e inspeção; armazenagem; transporte para utilização; instalação;

operação e inspeção; remoção; transporte até a oficina; realização de testes

periódicos; manutenção e recuperação; descarte.

Com essas atividades-chave em mente, o time responsável pela modelagem

começa a definir os itens de custo associados a cada atividade. Foram mencionadas

como principais atividades dessa etapa a identificação dos custos do ciclo de vida do

item ao longo da cadeia de suprimento, o detalhamento dos custos considerados

mais relevantes e a priorização desses custos quanto à sua importância para o

Page 94: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

84

modelo de fornecimento. Por priorização entende-se a verificação da

representatividade do componente de custo no custo total de propriedade do item

comprado. Por exemplo, em um dos casos, foi identificado que as atividades de

instalação, operação e remoção representavam 90% do custo total de propriedade

do item. De posse desse conhecimento, a equipe concentrou seu esforço de

detalhamento nos custos ligados a essas atividades.

De forma a detalhar as informações de custo, a equipe de Sourcing vai a cada uma

das áreas consideradas importantes para o processo e coleta as informações

necessárias. Por exemplo, para investigar os custos associados ao processo de

compra, a equipe verifica quantas pessoas são responsáveis pela compra daquele

material, tempo dedicado por cada uma delas, etc. Para detalhar a atividade de

entrega e instalação são determinadas quantas pessoas são necessárias para

receber o material, para realizar o deslocamento até a base de operação, para

instalá-lo, etc. Após a realização de um mapeamento mais detalhado, as áreas são

solicitadas a fornecer as informações de custos associadas aos componentes

identificados. A área de contabilidade da empresa também é bastante acionada

nessa etapa.

De posse do modelo de custo total de propriedade para a categoria estudada, a

equipe de Sourcing pode iniciar a etapa de análise de fornecedores, focando nos

pontos e componentes de custo apontados pelo modelo como mais relevantes.

Análise de Fornecedores

Com base nas informações obtidas na etapa anterior, a equipe define os critérios de

avaliação dos fornecedores que estão de acordo com o objetivo de redução do custo

total. Um exemplo de como o TCO pôde ajudar na avaliação de fornecedores foi

dado para um caso em que a operação de remoção do item aparecia como um dos

pontos críticos do modelo. A atividade de remoção do equipamento pesava bastante

no custo total porque o fornecedor contava com poucos recursos para o

desempenho dessa função. Além disso, a BETA possuía várias plataformas que

continham esse equipamento. A partir daí, a empresa identificou que uma

assistência técnica mais presente e de maior confiabilidade era necessária e passou

a contemplar isso na avaliação dos fornecedores desse bem.

Page 95: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

85

Como exemplo de critérios de avaliação resultantes das análises de TCO foi citada a

existência de serviços associados ao fornecimento do material, tais como:

disponibilização de telefone para emergência, 24 horas, 7 dias por semana,

tratamento de resíduos (incineração, recuperação, etc.), serviços relacionados a

controle e emergências ambientais e existência de área de suporte técnico dedicada

a BETA. Esses são exemplos de critérios resultantes de um modelo de custo total de

propriedade que indicou custos elevados associados à parada do equipamento, a

riscos ambientais e ao processo de descarte.

Junto à definição dos critérios de avaliação também é realizada uma etapa formal de

coleta e análise de informações dos fornecedores identificados no início do

processo. Nessa etapa, a BETA prepara uma Request For Information (RFI)

considerando os critérios definidos através do modelo de TCO. As informações

obtidas na RFI são catalogadas no banco de dados da base de fornecedores da

BETA. Além da RFI, também são realizadas entrevistas com cada um dos

fornecedores. Dessa forma, a equipe da BETA busca conhecer ainda mais a

dinâmica e a estrutura da indústria, apontar as tendências de mercado e conhecer

as capacidades individuais dos fornecedores.

Fora os critérios de avaliação definidos a partir do modelo de TCO, são analisados

fatores como porte da empresa, saúde financeira, tempo de atuação no mercado,

certificações, etc. De posse de todas essas informações, a equipe de Sourcing

seleciona os fornecedores que estariam aptos a atender às exigências do modelo .

Definição do Modelo de Fornecimento

A fase final da etapa de análise consiste na realização de uma segunda rodada de

reuniões com os fornecedores selecionados para a negociação pontual dos itens do

modelo de fornecimento. Nessa reunião, os principais pontos identificados nas

análises de TCO são discutidos e negociados com os fornecedores. Possíveis

alternativas são definidas e estudos de viabilidade do modelo de fornecimento são

realizados. Além da equipe de Sourcing e do representante do fornecedor, participa

também dessa reunião um funcionário da área de Contratação da BETA, isto é, um

diligenciador ou gerente de contrato que estará ligado às próximas etapas do

processo. Como exemplo de pontos abordados nessa segunda reunião podem ser

Page 96: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

86

citados o acordo do prazo de contrato, propriedade do estoque, garantia de

consumo mínimo, modelo de abastecimento, suporte técnico, etc.

Por fim, foi destacado que, desde o momento em que a equipe multifuncional é

formada até o ponto de definição do modelo de fornecimento para determinada

categoria de compras, podem transcorrer de 6 a 8 meses de trabalho.

(B) A Implantação - Etapas de Elaboração do Contrato

Com a definição do modelo de fornecimento, a etapa de análise é finalizada e os

fornecedores selecionados seguem para o processo de licitação. A partir desse

ponto, a equipe de Sourcing deixa de desempenhar o papel principal e passa a

servir apenas de apoio à área de Contratação. É a área de Contratação que irá

desenvolver o processo licitatório: elaboração do edital, condução de negociações e

implementação dos contratos de fornecimento.

A partir desse ponto, a escolha do fornecedor é baseada em preço e/ou em análises

técnicas que se façam necessárias, como, por exemplo, teste de campo do

equipamento e testes químicos realizados pelo centro de pesquisas da BETA. Uma

vez aprovados nos testes, a decisão pelo fornecedor final passa a ser unicamente

baseada em preço. Isso se dá pelo fato de que, nesse ponto, os fornecedores que

participam da licitação já foram aprovados quanto à aderência ao modelo de

fornecimento indicado pelas análises de custo total de propriedade.

É importante destacar que a área de Análise de Contratos Estratégicos atualmente

não participa da gestão de contratos. Essa atividade é realizada pela área de

Contratação, incluindo atividades como diligenciamento, follow-up de fornecimento e

avaliação de fornecedores. Existe a intenção de se formar uma equipe dentro da

área de Análise de Contratos Estratégicos que participe ativamente da gestão de

contratos. Este ponto é detalhado mais à frente no item relativo às perspectivas

futuras.

Page 97: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

87

4.1.2.5. Características dos Modelos de TCO da BETA

A Gerência de Análise de Contratos Estratégicos não possui um modelo

padronizado de TCO. Apesar disso, as semelhanças nos processos dos materiais

estudados tem ajudado na identificação das atividades-chave que irão compor o

modelo. O modelo adotado para a compra de equipamentos e materiais

freqüentemente engloba os custos associados às seguintes atividades:

planejamento da demanda; compra; fabricação; entrega do produto ; recebimento e

inspeção; armazenagem; transporte para utilização; instalação; operação e

inspeção; testes periódicos; manutenção e recuperação; remoção; descarte.

Porém, foi destacado que, em cada caso, a representatividade, em termos do custo

total, de cada um desses componentes pode variar, fazendo com que o

detalhamento das atividades, o levantamento dos custos e, conseqüentemente, os

componentes do modelo de TCO variem de categoria para categoria.

Os modelos de TCO da BETA contemplam tanto custos diretos quanto custos

indiretos associados ao ciclo de vida do item adquirido. Um exemplo de custo

indireto considerado pelos modelos são os custos administrativos do pessoal de

Compras responsável pela aquisição de um determinado item. Foi mencionado que

a empresa faz uso de custeio ABC para alocar tais custos indiretos aos itens

comprados. Essa investigação é feita caso a caso, uma vez que diferentes

categorias de compras exigem funcionários de Compras com formação,

remuneração e dedicação de tempo diferentes.

Com relação à inclusão de aspectos qualitativos, apesar de estes serem levados em

consideração na avaliação do fornecedor, seu impacto no custo não é representado

no modelo de TCO. Aspectos qualitativos, tais como o fornecedor possuir

certificações ISO, podem ser qualificadores para que o fornecedor participe da

licitação em questão.

Page 98: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

88

4.1.2.6. Os Entraves Percebidos

A BETA mencionou como principais entraves percebidos no processo de adoção do

custo total de propriedade a resistência inicial ao projeto por parte das áreas

usuárias, dificuldades enfrentadas no levantamento e análise das informações de

custos, o retorno lento de informações solicitadas aos fornecedores, dificuldades

associadas à diversidade de categorias compradas e a insistência de alguns

usuários em realizarem compras fora do contrato estabelecido. Cada um desses

pontos é apresentado a seguir.

Resistência Inicial das Áreas Usuárias

Quando a equipe de Sourcing da BETA inicia um novo estudo para uma das

categorias de compras, a Gerência de Análise de Contratos Estratégicos se reúne

com as áreas usuárias para apresentar metodologia, objetivos e próximos passos do

estudo. Um dos pontos principais que a gerência frisa nessa apresentação é a

necessidade de mudança cultural das áreas envolvidas no processo de aquisição e

uso daquele item para que o projeto atinja seus objetivos.

Nesse momento inicial, a gerência geralmente enfrenta resistência das áreas

usuárias. Muitas vezes, o pessoal dessas áreas interpreta o projeto como um

questionamento a uma atividade que eles já realizam há tempo. Foi dito que é

comum que alguns comentem “A sua área quer me ensinar a trabalhar? A fazer as

minhas compras?”. A equipe de Sourcing procura contornar esse desconforto inicial

mostrando que os conhecimentos que as áreas usuárias detém são de fundamental

importância para o projeto. De fato, foi mencionado que sem o engajamento das

áreas usuárias e sem a crença delas no resultado do projeto, é praticamente

impossível desenvolver o trabalho.

Levantamento e Análise das Informações de Custos

A quantidade e complexidade das informações necessárias para a construção dos

modelos de TCO foram apontadas como uma das grandes dificuldades enfrentadas

pela equipe de Sourcing ao longo do estudo. Um dos alavancadores dessa

dificuldade mencionado é a própria dimensão das operações da BETA. A equipe de

Sourcing pode se ver diante de informações não padronizadas provenientes de

Page 99: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

89

diferentes unidades de operação da empresa ou diante de informações conflitantes

existentes em mais de um banco de dados. Além disso, por vezes, se faz necessário

que itens de custo sejam desagregados de forma a se adequarem às características

dos modelos. Por fim, não é sempre que as informações desejadas são encontradas

na companhia. Todos esses pontos tornam a fase de construção do modelo de custo

total de propriedade uma das mais complicadas dos estudos.

Retorno Lento de Informações Solicitadas aos Fornecedores

Outra dificuldade está relacionada à necessidade de envolvimento freqüente dos

fornecedores no processo de modelagem do TCO. Além de, muitas vezes, a

resposta dos fornecedores à solicitação de informações demorar além do esperado,

não é raro que estes demonstrem receio em compartilhar certos dados com a equipe

da BETA. Foi mencionado que ainda é possível encontrar fornecedores que

acreditam que a divulgação de certas informações pode lhes ser prejudicial durante

a etapa de negociação.

Dificuldades Associadas à Diversidade de Categorias Compradas

Cada nova categoria de compras estudada possui características técnicas tão

específicas que podem representar desafios completamente novos para a equipe de

Sourcing. A grande variedade de itens comprados foi apontada como um dos

entraves por dificultar o emprego de conhecimentos adquiridos em estudos

anteriores e por gerar novas dificuldades a cada novo estudo. Além disso, a grande

necessidade de conhecimentos técnicos diversos faz com que a participação das

áreas usuárias como fonte de informação seja de extrema importância para o

sucesso do estudo.

Realização de Compras Fora do Contrato Estabelecido

Ainda existiriam na empresa casos em que as áreas usuárias estariam efetuando

compras spot fora dos contratos estabelecidos após o estudo de custo total de

propriedade. Tal fato foi explicado como resultante da falta de conhecimento por

parte dos usuários acerca do estudo e do fechamento do contrato. Esse é um dos

pontos que será atacado pela área em um futuro próximo, através da realização de

um esforço de divulgação dos resultados do estudo para áreas diretamente

Page 100: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

90

impactadas. Esse ponto será abordado mais profundamente no item relativo às

perspectivas futuras.

4.1.2.7. Os Benefícios Obtidos

Os principais benefícios obtidos no processo de adoção do TCO na BETA podem

ser descritos como os seguintes: realização de contratos globais e de longo prazo,

consolidação da base de fornecedores e estreitamento do relacionamento destes

com a BETA, formação de parcerias, redução de custos, negociação baseada em

fatos, benefícios associados a melhorias de nível de serviço, troca de experiência

entre as diversas unidades operacionais, melhoria nas especificações e

padronização dos itens comprados, aumento da satisfação das áreas usuárias e

incentivo ao desenvolvimento dos profissionais de compras. Os benefícios são

detalhados a seguir.

Realização de Contratos Globais e de Longo Prazo

Um dos resultados mais óbvios dos esforços de modelagem de custo total de

propriedade na BETA é a intensificação da realização de contratos de longo prazo.

Desde o início da adoção da metodologia, já foram assinados contratos para 16

categorias de compras. Esses contratos costumam ser assinados com a vigência de

3 a 4 anos, podendo englobar um termo de adição de validade.

Além disso, por serem contratos globais, são gerados benefícios associados à

própria centralização de compras. As compras regionais são eliminadas e o contrato

passa a ser utilizado por todas as unidades operacionais da BETA.

Consolidação da Base de Fornecedores e Estreitamento do Relacionamento com a

BETA

Como resultado do aumento no número de contratos de longo prazo e de

abrangência global, a BETA está consolidando sua base de fornecedores de itens

considerados estratégicos. Tal processo tem permitido que a empresa estreite seu

relacionamento com fornecedores considerados extremamente importantes para o

negócio BETA. As reuniões freqüentes e o envolvimento dos fornecedores nos

Page 101: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

91

estudos da equipe de Sourcing têm gerado reações positivas por parte dos mesmos.

A iniciativa ainda causa surpresa em alguns dos fornecedores da empresa que

afirmam que a BETA nunca antes havia se preocupado em ouvir suas opiniões e

trocar conhecimento.

Formação de Parcerias

Um dos estudos de custo total de propriedade desenvolvidos recentemente mostrou

a ocorrência de muitas compras spot de determinada família de itens de um único

fornecedor. Após a investigação dos benefícios de um relacionamento mais estreito

com esse fornecedor, a equipe de Sourcing encaminhou os resultados do estudo

sugerindo à área de Contratação que fosse formada uma parceria entre a BETA e a

empresa em questão. A formação dessa parceira encontra-se em desenvolvimento.

Redução de Custos

Apesar de a Gerência de Análise de Contratos Estratégicos não dispor do valor

exato de redução de custos para cada categoria estudada, estima-se que o potencial

de ganho esteja entre 10% e 15% da base de gastos. Essa redução provem tanto de

melhorias na operação como melhorias no próprio processo de compras. Foi

observada significativa redução de gastos com emissão e diligenciamento de

compras spot, além da consolidação das diversas AFMGs (Autorizações de

Fornecimento de Material Global) em novos contratos mais abrangentes.

Negociação Baseada em Fatos

A construção de um modelo de TCO para determinada categoria de compras gera

conhecimento suficiente para que a equipe de Sourcing dialogue com os

fornecedores e negocie um modelo de fornecimento adequado às necessidades da

empresa. De posse das informações do custo total, a BETA pode negociar com base

em fatos e, junto aos fornecedores, buscar alternativas viáveis para o modelo. Além

disso, foi mencionado que, na hora dos reajustes de preços, a negociação é muito

mais transparente, permitindo que a BETA se contraponha e, se for o caso, aprove

ou não o reajuste.

Page 102: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

92

Benefícios Associados a Melhorias de Nível de Serviço

A partir da incorporação de critérios de avaliação de fornecedores que levam em

consideração pontos associados ao nível de serviço prestado que aparecem com

extrema relevância em alguns dos modelos de TCO, a BETA passa a desfrutar de

benefícios oriundos de pontos como: otimização logística para redução de falta de

material, cooperação tecnológica e assistência técnica de maior confiabilidade,

atendimento emergencial e planejamento colaborativo, além de redução de riscos

ambientais e à saúde. Com relação a esse último ponto, a BETA tem conseguido

cada vez mais fazer com que fornecedores se comprometam a ir periodicamente às

suas instalações para recolherem os resíduos dos processos e posteriormente tratá-

los. Esse fato vem contribuindo para a redução de riscos associados a vazamentos,

contaminação do meio ambiente e riscos à saúde dos funcionários.

Troca de Experiência entre as Diversas Unidades Operacionais, Melhoria nas

Especificações e Padronização dos Itens Comprados

Através da realização de entrevistas e visitas às diversas unidades operacionais

realizadas na fase inicial do estudo de TCO, a equipe de Sourcing passa a

concentrar informações valiosas que podem ser úteis a outras unidades que utilizam

o mesmo item. Essa troca de experiências permite a identificação de melhorias que

podem ser extrapoladas para outras unidades. No mais, o processo de modelagem

do TCO vem gerando melhorias nas próprias especificações dos itens.

Além disso, a existência de descrições diferentes para o mesmo material em

diferentes unidades operacionais tem possibilitado um processo de padronização.

Dessa forma, a BETA está se beneficiando da compra de produtos mais adequados

às suas necessidades, além de alavancar seu poder de barganha através de

aumento de escala.

Aumento da Satisfação das Áreas Usuárias

Superada a resistência inicial das áreas usuárias, o trabalho desenvolvido dentro

das equipes multifuncionais mostra-se de grande valia para o resultado dos estudos.

Além de garantir que o resultado final esteja de acordo com as expectativas de

todos, as reuniões de validação permitem que o trabalho incorpore idéias e

sugestões dos envolvidos. Como conseqüência, as chances de que o contrato

Page 103: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

93

vingue nas áreas usuárias são bastante elevadas. Para se ter uma idéia da

importância da formação dessas equipes multifuncionais na BETA, foi afirmado que

se o estudo não ocorresse dessa forma, muito provavelmente os contratos seriam

negligenciados pelos usuários.

Outro ponto que impacta a satisfação dos usuários é o fato de que o trabalho

desenvolvido pela equipe de Sourcing gera informações novas que podem ser de

grande utilidade para o pessoal da operação. À medida que esses resultados

aparecem, os estudos de TCO são melhor recebidos pelos usuários.

Incentivo ao Desenvolvimento dos Profissionais de Compras

Com o início dos estudos de custo total de propriedade, foi necessário capacitar os

profissionais que iriam compor a área de Análise de Contratos Estratégicos. Além da

rotina de treinamentos que ocorreu na fase inicial do projeto, a presença dos

consultores no dia-a-dia da empresa tem contribuído para o constante

desenvolvimento desses profissionais. Além disso, com objetivo de manter a área

alinhada com as melhores práticas do setor, alguns profissionais passaram a

participar de congressos internacionais e a assistir cursos sobre assuntos que vão

de encontro aos objetivos estratégicos da área.

4.1.2.8. Perspectivas Futuras

A Gerência de Análise de Contratos Estratégicos encontra-se atualmente

desenvolvendo os estudos das categorias de compras da 5ª onda. Além disso, a

área está atualizando o planejamento das próximas categorias de compras que

serão estudadas. O planejamento não será mais organizado em ondas, uma vez que

os estudos de TCO apresentam durações diferentes e cada equipe encontra-se em

uma etapa do estudo sobre determinada categoria. O planejamento através de

ondas fez sentido no início da implementação quando todos partiram de um mesmo

ponto. Agora, foi citado que a preocupação da área é determinar quais as próximas

categorias que serão estudadas por cada equipe de Sourcing, uma vez que o plano

inicial (as 5 ondas determinadas a partir do diagnóstico de Strategic Sourcing) está

sendo esgotado. Além disso, foi destacado que a área vai começar a desenvolver

Page 104: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

94

estudos de custo total de propriedade dentro da categoria de serviços, tais como

serviços de sondagem terrestre e serviços logísticos.

Outro ponto que aparece no escopo de atividades para o futuro próximo é a

organização de um plano de divulgação dos resultados obtidos dos estudos já

realizados. Como um dos problemas enfrentados atualmente é a realização de

compras fora dos contratos por falta de conhecimento das áreas usuárias sobre a

existência dos mesmos, a área planeja visitar as unidades e distribuir material de

divulgação com as informações dos modelos de fornecimento (CDs, apostilas, etc.)

que poderão ser consultadas pelos usuários. O objetivo é fazer com que os usuários

recorram primeiro ao material sempre que apareça a necessidade de efetuarem

alguma compra. Se a compra necessária for uma válvula, por exemplo, o usuário

deverá consultar a categoria de válvulas e verificar qual o fornecedor contratado,

qual o modelo de fornecimento e utilizar o procedimento descrito no material. Com

essa ação, a gerência acredita que a ocorrência de compras fora do contrato

reduzirá bastante.

Um ponto citado como crescendo cada vez mais em importância nos estudos de

custo total de propriedade é a atividade de descarte. Existe um grupo dentro da

BETA estudando especificamente o processo de descarte, isto é, o que deve ser

feito com os resíduos dos processos produtivos da empresa. A partir desse estudo, a

Gerência de Analise de Contratos Estratégicos pretende amarrar ainda mais os

pontos nos contratos que contemplem obrigações dos fornecedores com relação ao

processo de descarte. À medida que as informações de formas e custo dos

tratamentos dos resíduos estejam disponíveis, os modelos de TCO poderão

contemplar esses pontos que farão então parte do processo de negociação com os

fornecedores.

Outro item atualmente na pauta da área é a criação de uma estrutura para

acompanhamento dos contratos vigentes elaborados a partir dos estudos de TCO.

Como dito anteriormente, atualmente a área de Análise de Contratos Estratégicos

não participa do processo de gestão dos contratos. Essa estrutura seria formada por

um grupo de pessoas que teria a responsabilidade de medir a aderência do modelo

proposto, validá-lo com o que está sendo praticado e avaliar o desempenho do

Page 105: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

95

fornecedor de acordo com o modelo de fornecimento. Além de atuar junto aos

fornecedores e à área de Contratação, essa equipe identificaria os problemas

enfrentados pelos usuários e investigaria as razões para eles agirem fora do modelo

proposto. Adicionalmente, o grupo verificaria se pontos previstos no contrato, tais

como planejamento colaborativo, troca de informações de demanda, planos de

manutenção, etc, estão acontecendo na prática. Esse tipo de conhecimento seria

compartilhado com as equipes de estudo de Sourcing.

Além disso, a equipe de acompanhamento ajudaria no momento de renovação dos

contratos. Com a data de expiração dos contratos se aproximando, essa equipe

estaria respondendo a questões como: a BETA deve aditar o contrato? Mudar

alguma condição do modelo de fornecimento? O próximo contrato deverá incorporar

que novos pontos identificados por esse grupo? Tal estrutura foi apontada pela

gerência como de extrema importância para garantir os resultados dos estudos de

custo total de propriedade, pois, como acontece hoje na empresa, com o fim do

estudo sobre determinada categoria, as equipes se movem em direção às próximas

categorias de compras e dão o estudo por encerrado.

Por fim, foi mencionada a preocupação crescente na observação dos movimentos

dos players mundiais de forma a identificar práticas de vanguarda da área de

Compras dessas empresas. A idéia é atualizar constantemente a visão da área a

cerca de quais seriam as novas melhores práticas da indústria de petróleo no

mundo.

4.1.3. A Adoção do TCO na Empresa GAMMA

4.1.3.1. A Empresa

A empresa GAMMA possui forte presença no setor de gases industriais. Seu

portfólio de produtos inclui diversos tipos de gases atmosféricos, gases de processo,

gases especiais e medicinais, cilindros de aço e equipamentos para aplicação,

transporte e armazenamento de gases.

Page 106: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

96

No ano 2000, a GAMMA foi incorporada por um grupo norte-americano, aqui

chamado de OMEGA. Com vendas anuais de aproximadamente US$ 5 bilhões, o

grupo está no ranking das 500 maiores empresas da Revista Fortune.

Em 2004, a GAMMA figurou entre as 150 maiores empresas brasileiras em termos

de faturamento. Nesse mesmo ano, a empresa contava com 5.500 funcionários.

Além disso, aproximadamente 3.300 empresas forneceram bens e serviços para a

companhia.

4.1.3.2. A Organização da Área de Suprimentos

Com exceção da compra de energia, a função Compras na GAMMA atualmente é

exercida pela Diretoria de Suprimentos e Logística de Materiais, que se reporta à

Vice-Presidência de Operações. Abaixo da Diretoria de Suprimentos e Logística de

Materiais existem duas gerências consideradas estratégicas, a Gerência de

Suprimentos de Negócios e a Gerência de Suprimentos de Capital e duas com

funções mais operacionais, a Gerência de Central de Compras e a Gerência de

Comércio Exterior. O volume total de compras da Diretoria corresponde a US$ 450

milhões.

A Gerência de Suprimentos de Negócio é responsável por cerca de 50% de todo o

volume de compras da empresa. Ela é subdivida em diferentes categorias de

compras que englobam todo e qualquer material que irá gerar receita para a

empresa. Para cada uma delas existe um especialista que é responsável pela

realização dos contratos da categoria. Como exemplos de itens comprados pela

gerência podem ser citados correntes de gases, tubos sem costura para cilindros e

chapas de aço.

A Gerência de Suprimentos de Capital realiza todas as compras de itens

relacionados à construção e manutenção das plantas da GAMMA. Esse grupo é

responsável pela realização dos grandes investimentos associados às obras da

GAMMA (contratação de terraplanagem, construção de plantas, etc.), além da

compra dos bens de capital da empresa.

Page 107: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

97

Tanto a Gerência de Suprimentos de Negócio quanto a Gerência de Suprimentos de

Capital são áreas globais dentro do grupo OMEGA, isto é, existe troca de informação

entre essas áreas da GAMMA e seus respectivos pares nos Estados Unidos,

Europa, Ásia, etc.

Por sua vez, a Central de Compras se ocupa da aquisição e gerenciamento de

contratos de itens que não possuem impacto direto no negócio da empresa, como,

por exemplo, material de escritório, limpeza, vigilância, serviço de alimentação, etc.

Por fim, a Gerência de Comércio Exterior é responsável pela operacionalização das

contratações que envolvam exportação ou importação de itens. Essa gerência pode

ser envolvida nos processos de compras das duas gerências estratégicas.

Para execução dessas atividades a Diretoria conta com 54 funcionários, sendo que

a maior parte delas, 27 pessoas, trabalha na Central de Compras.

4.1.3.3. Os Antecedentes e as Motivações para a Adoção do TCO

A adoção do custo total de propriedade no processo de compras da GAMMA

coincide com a própria incorporação da empresa pelo grupo norte-americano

OMEGA ocorrida no ano 2000.

Anteriormente, no ano de 1998, o grupo OMEGA decidiu realizar ações, nos Estados

Unidos, com forte objetivo de redução de custos. Nesse período, o mercado de

gases industriais havia se estabilizado de maneira que a redução de custos parecia

ser fator imprescindível para a melhoria dos resultados da empresa. Foram criadas,

então, duas frentes de trabalho, a primeira ligada ao aumento de produtividade

focado na implementação de Six-Sigma nas operações da empresa e a segunda

ligada à reestruturação da área de suprimentos. O direcionamento principal dessa

segunda frente era transformar a área de suprimentos, de um grupo operacional, em

um grupo estratégico com grande foco em negócios. Nesse período, o grupo

OMEGA voltou sua atenção para Compras acreditando que esforços nessa área

Page 108: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

98

gerariam as melhorias nos resultados que as ações com foco em crescimento de

vendas não estavam propiciando mais.

Para desenvolver o processo de reestruturação da área de suprimentos nos Estados

Unidos, a empresa contratou a consultoria estratégica PHI. Nos anos subseqüentes,

o modelo desenvolvido nos Estados Unidos foi expandido para as subsidiárias da

empresa localizadas em outros países. A GAMMA, após sua aquisição no ano de

2000, foi a primeira subsidiária a passar pelo processo de reestruturação da área de

suprimentos no qual se incluía a adoção da metodologia de custo total de

propriedade. Aqui no Brasil, inicialmente, o projeto também foi desenvolvido com a

participação da empresa de consultoria PHI.

Na época do início da reestruturação, a área de suprimentos da GAMMA passava

por dificuldades relacionadas ao elevado número de pedidos e compras spot que se

precisava gerenciar. Além disso, as decisões de compras eram basicamente

tomadas em cima do fator preço. Foi mencionado também que, nesse momento, a

área não estava sendo bem vista dentro da organização, sendo considerada uma

área pouco comprometida com o negócio da empresa, além de prestar um

atendimento insatisfatório às áreas usuárias.

4.1.3.4. O Processo de Implementação do TCO

4.1.3.4.1. A Reestruturação da Área de Suprimentos e a Criação da Diretoria de

Suprimentos e Logística de Materiais

Logo no começo do processo, a grande preocupação da empresa era contar com as

pessoas certas desde o princípio do projeto. Sendo assim, a reestruturação da área

de suprimentos foi iniciada por um grande processo de mudança do grupo que

executava a função Compras na empresa. A constatação da carência existente na

área em termos de pessoal capacitado impulsionou a transferência de funcionários

das áreas de negócio da empresa para formarem esse novo grupo. Eram pessoas

que apesar de nunca terem trabalhado diretamente com compras, possuíam o perfil

Page 109: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

99

que a área de suprimentos passaria a exigir. Até hoje, os gerentes da área são

pessoas com grande experiência nas áreas de negócio da empresa.

A idéia inicial da reestruturação previa a criação de um grupo estratégico e a

manutenção de um grupo ainda operacional. O grupo estratégico seria acrescido de

pessoas oriundas das áreas de negócios da empresa, sendo um grupo crescente.

Dessa forma, ocorreria um processo de transferência de capacitações de outras

áreas diretamente relacionadas ao negócio GAMMA para a área de suprimentos. À

medida que o processo de reestruturação avançasse, o grupo operacional seria

reduzido. Nesse momento, ocorreu um número significativo de demissões na área.

Poucas pessoas do grupo operacional foram mantidas na empresa.

O novo grupo foi então isolado da parte operacional da área de suprimentos e

passou a dialogar constantemente com os consultores da PHI. O papel exercido pela

consultoria durante a implementação é descrito no próximo item. Durante três

meses, essas pessoas receberam informações acerca da metodologia e

desenharam o processo estratégico que seria realizado.

Nesse mesmo período, foi criada a Diretoria de Suprimentos e Logística de Materiais

com o propósito de fortalecer o grupo que estava sendo formado. A função Compras

passava então a se reportar diretamente à Vice-Presidência de Operações.

Anteriormente a área de suprimentos existia apenas no nível gerencial.

4.1.3.4.2. O Envolvimento da Consultoria PHI no Processo de Implementação do

TCO

A participação da consultoria foi mais forte no momento de formação do grupo

estratégico da área de suprimentos. Além de ajudar na definição das novas diretrizes

da área, a consultoria participou das atividades de capacitação quanto aos novos

processos que seriam desenvolvidos. Um dos pontos chave dessa capacitação dizia

respeito à metodologia para contratação de fornecedores, que incluía estudos de

mercado, investigação do mercado fornecedor, utilização de modelos de custo total

de propriedade e definição da estratégia de fornecimento.

Page 110: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

100

As atividades de treinamento incluíram apresentações do processo realizado pelo

grupo OMEGA nos Estados Unidos, com participação da própria consultoria PHI,

suas etapas de desenvolvimento e os resultados obtidos após a implementação.

Apesar de ter existido um programa de treinamento formal para o pessoal que fazia

parte do grupo estratégico de suprimentos, foi destacado que grande parte da

capacitação foi obtida na prática, através da liderança da consultoria na execução

das atividades iniciais dos estudos.

4.1.3.4.3. A Definição dos Itens Comprados com Base no TCO

Na época da implementação da metodologia, as compras que hoje são realizadas

com base nos modelos de custo total de propriedade eram de responsabilidade de

duas gerências: a Gerência de Suprimentos de Produtos, a atual Gerência de

Suprimentos de Negócios, responsável pela aquisição de todo material que gera

receita para a empresa, e a Gerência de Suprimentos de Operações, a atual

Gerência de Suprimentos de Capital, responsável pela aquisição de peças e

materiais para abastecimento das unidades industriais da empresa. Sendo assim, os

itens que participaram do processo de modelagem de custo total de propriedade se

enquadravam dentro das categorias de compras de matérias-primas, componentes,

materiais e bens de capital.

No início da implementação, no ano 2000, a Diretoria de Suprimentos e Logística de

Materiais, junto com a consultoria, definiram quais itens iriam ser submetidos aos

estudos de custo total de propriedade. Os itens foram escolhidos de acordo com três

fatores: alto impacto no negócio da empresa, alto valor agregado e risco de

fornecimento elevado.

4.1.3.4.4. Priorização das Ondas para Modelagem do TCO

Após a definição dos itens que participariam dos estudos de custo total de

propriedade, o projeto foi desenvolvido em três diferentes ondas. Os itens que foram

enquadrados na primeira onda, além de apresentarem grande representatividade,

em termos de gastos, refletiam as melhores oportunidades de ganho para a

Page 111: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

101

empresa. Além disso, eram itens nas quais eram esperadas as maiores mudanças

no modelo de fornecimento, como por exemplo, itens que passariam por um

processo de outsourcing ou troca de fornecedor.

A segunda onda era composta por itens em que os ajustes no modelo de

fornecimento tendiam a ser menores. Nessa onda, existiu grande foco na redução de

custos, que podia acontecer através de melhorias no processo de compras,

mudanças de especificações, consolidação de compras, redução da base de

fornecedores, melhores negociações e outros. Essa foi a onda de maior duração,

chegando a quase dois anos de trabalho. Foram varridos os itens que haviam sido

classificados como de dificuldade média e com ganhos esperados de médios a

elevados.

A terceira onda consistiu da revisão dos itens estudados na primeira onda. Tendo

em vista que a primeira onda incluía itens em que as mudanças no processo de

fornecimento eram mais drásticas e que a equipe ainda estava aperfeiçoando seus

conhecimentos acerca da metodologia, a GAMMA identificou que ainda existiria

potencial de ganho a ser explorado dentro dessas categorias. Os estudos incluídos

na terceira onda foram finalizados no ano de 2003.

4.1.3.4.5. A Construção dos Modelos de TCO na GAMMA

Treinamentos Associados à Metodologia

Além do processo de capacitação realizado pela consultoria no início do

desenvolvimento dos estudos, as pessoas que faziam parte desse novo grupo

estratégico de suprimentos receberam treinamentos de negociação, contabilidade,

análise financeira e questões tributárias. Esses quatro assuntos foram identificados

pela diretoria como importantes para o sucesso do desenvolvimento dos novos

processos da área.

A Participação da Alta Gerência e a Formação das Equipes Multifuncionais

A partir da definição da família de itens que seria estudada, a Diretoria de

Suprimentos e Logística de Materiais, iniciou o processo de formação das equipes

multifuncionais. A GAMMA citou duas principais razões para a formação dessas

Page 112: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

102

equipes para a elaboração do TCO. A primeira dizia respeito à carência de

conhecimentos técnicos do pessoal de suprimentos sobre grande parte das famílias

de itens de compras. E a outra era relacionada ao fato de que a construção dos

modelos exigia informações que se encontravam dispersas em outras áreas da

organização.

As equipes eram formadas de acordo com a família de itens que se planejava

estudar. Normalmente faziam parte dessas equipes o pessoal de suprimentos, uma

pessoa da área administrativa, algumas pessoas ligadas à operação e pessoas das

filiais. Apesar de grande parte do estudo ser desenvolvida dentro do próprio grupo

estratégico de suprimentos, as pessoas externas à área foram apontadas como

pontos fundamentais para coleta de informação e questões que exigiam

conhecimento técnico apurado.

O envolvimento da diretoria no momento de formação da equipe multifuncional

ocorria para que a disponibilidade dos recursos das demais áreas fosse assegurada.

Além disso, ao longo da construção do modelo de TCO, a equipe se reunia com as

gerências e, quando necessário, com as diretorias envolvidas pelo estudo para

validar resultados e dar prosseguimento aos trabalhos.

Coleta de Informações, Visita às Operações e Mapeamento de Processos

No momento inicial do estudo, a equipe se focava na coleta de informações da

categoria, tais como histórico de compras, utilização, demanda futura e outras.

Nessa etapa, também eram realizadas visitas ao campo para entendimento do

negócio em que a categoria de compras se incluía. Além disso, eram realizadas

entrevistas com o pessoal da operação.

As informações coletadas serviam de base para a construção do processo de

aquisição dos itens. A equipe procurava identificar quais atividades estavam

associadas à compra específica daquela categoria e a partir daí mapear o processo

de atividades relativas aos itens comprados. Como mencionado pela Gerência de

Suprimentos de Negócios, o objetivo dessa fase era desenhar a cadeia como um

todo, desde a aquisição do item pela GAMMA até o ponto em que ele passava a

compor um produto para o cliente final da empresa ou em que ele era descartado.

Page 113: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

103

Investigação da Base de Gastos e Levantamento de Informações de Custos

Partindo do processo desenhado para a categoria, a equipe de suprimentos iniciava

a investigação da base de gastos da empresa e começava a levantar as informações

de custos que iriam compor o modelo de TCO. Nessa etapa, eram definidos quais

seriam os pontos críticos do modelo de TCO de forma que a equipe pudesse

concentrar seus esforços no detalhamento destes custos. A empresa citou que na

maioria dos casos algumas atividades representavam quase que a totalidade dos

custos associados à compra. Não se mapeava 100% das atividades, pois o esforço

necessário para obtenção e adequação das informações de custos era bastante

elevado. Em alguns momentos, foram usadas técnicas de amostragem, devido à

carência de informações nas bases de dados da empresa.

Definição do Modelo de Fornecimento

A partir dos pontos críticos identificados no modelo de custo total de propriedade, a

equipe definia os principais itens que deveriam ser incluídos no processo de

contratação do fornecedor para aquela categoria de compras. A estratégia de

compras normalmente vislumbrava os próximos cinco anos. A partir daí, a área

utilizava o estudo para preparar uma Request For Proposal (RFP) e iniciava-se o

processo de negociação de contrato com os fornecedores.

A empresa também destacou que, em alguns casos, os estudos de TCO não só

resultavam em um novo modelo de fornecimento, mas também em mudanças de

especificação, redefinição do produto comprado ou definição de uma possível ação

junto ao fornecedor atual para implementação de melhorias de processo.

4.1.3.4.6. O Papel do TCO na Empresa Após a Construção dos Modelos

Após o fim da terceira onda no ano 2004, o grupo estratégico responsável pela

construção dos modelos de TCO passou a compor as duas gerências estratégicas

da área: a Gerência de Suprimentos de Negócios e a Gerência de Suprimentos de

Capital. Uma vez que a carga de trabalho da área foi bastante reduzida, ocorreu

redução de pessoal nessas equipes. A empresa mencionou que, após o fim dos

estudos e a realização das contratações, a área de suprimentos atingiu um momento

de grande estabilidade.

Page 114: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

104

Atualmente, grande parte do tempo dessas gerências é dedicado à realização de

revisões de contratos e avaliação de fornecedores. Quanto aos modelos de TCO, foi

mencionado que um dos pontos que consta no Plano de Gerenciamento de

Fornecedores da empresa é baseado neles, isto é, os fornecedores são avaliados

quanto à evolução dos custos da empresa em relação ao que foi previsto no

momento da elaboração do contrato. Além disso, alguns pontos identificados a partir

desses estudos geraram projetos de melhoria de desempenho e redução de custos

tanto na GAMMA quanto em alguns de seus fornecedores.

4.1.3.5. Características dos Modelos de TCO da GAMMA

O processo de modelagem de TCO na GAMMA foi realizado caso a caso, isto é, não

existia um modelo padronizado que era extrapolado para as diversas categorias

estudadas. Para cada nova categoria, a equipe levantava o processo que serviria de

base para a composição do modelo de custo total de propriedade. Apesar de

agrupar os componentes do modelo através de atividades chave, tais como:

processo de compra, transporte, operação, manutenção, descarte, revenda, etc, os

modelos foram citados como bastante diferentes entre as diversas categorias. Essa

diferença nos modelos era ainda mais intensa entre estudos desenvolvidos para a

compra de matérias-primas e estudos desenvolvidos para compra de equipamentos

e peças.

Além disso, a própria abrangência dos modelos podia variar caso a caso, isto é, a

equipe podia determinar qual era o escopo do estudo. Por exemplo, em alguns itens,

até o processo do fornecedor e do cliente GAMMA foi estudado, enquanto que em

outros o estudo só contemplou as atividades que ocorriam dentro da própria

GAMMA.

Um dos componentes de custo citado como de relevância em quase todos os

modelos de TCO levantados foram os custos logísticos. Tal fato foi justificado pelo

fato da GAMMA ser uma empresa continental com filiais em diversos países da

América do Sul. Um dos casos de trade-off de custo freqüentemente analisados

dentro dos modelos de TCO era o aumento dos custos logísticos comparados com

Page 115: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

105

os benefícios da contratação de um único fornecedor para atender todas as filiais.

Em vários casos, a manutenção de diferentes fornecedores para cada região

mostrou-se mais interessante que os benefícios da consolidação dos contratos.

Com relação aos aspectos qualitativos de avaliação de fornecedores, apesar de

estes não estarem retratados nos modelos de custo total de propriedade, isto é, não

existia uma metodologia dentro da empresa para converter tais aspectos em custos,

eles acabavam sendo pesados no processo de seleção dos fornecedores. Alguns

pontos que eram avaliados fora dos modelos eram certificações, posição financeira,

perspectiva de crescimento, atuação global, etc.

4.1.3.6. Os Entraves Percebidos

Foram citados como principais entraves do processo de adoção do custo total de

propriedade na GAMMA a insegurança e resistência do pessoal da área de

suprimentos, questões relacionadas ao prestígio dessa área dentro da empresa,

resistência por parte dos fornecedores e dificuldades no levantamento de

informações de custos. Cada uma dessas questões é descrita a seguir.

Insegurança e Resistência do Pessoal da Área de Suprimentos

O processo de adoção do custo total de propriedade na empresa fez parte de um

intenso processo de reestruturação da área de suprimentos. As mudanças

decorrentes dessa reestruturação, incluindo demissões do pessoal da área, geraram

um momento inicial de insegurança. Junto a isso, por ser uma metodologia que

estava sendo trazida de fora, provindo da nova controladora da empresa, existia

uma certa desconfiança se tal implementação teria realmente êxito ou se seria

apenas uma nova metodologia que não vingaria na empresa.

Prestígio da Área de Suprimentos

Pelo fato da empresa apresentar um histórico anterior de grande foco em vendas, a

área de suprimentos era vista apenas como uma área de suporte, sem grande

prestígio dentro da organização. Como o novo perfil da área demandava pessoas

mais capacitadas, com forte visão de negócios, alguns funcionários tiveram que ser

Page 116: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

106

deslocados de áreas mais diretamente ligadas ao negócio da GAMMA. Muitos

desses funcionários acreditavam que tal mudança podia significar uma queda em

termos de importância dentro da organização. Esse fato teve que ser contornado

através da comunicação de uma mudança cultural na empresa, que mostrava que

esta estaria olhando para suprimentos com outros olhos. De fato , como mencionado

anteriormente, a própria criação da Diretoria ocorreu para que a área crescesse em

importância dentro da organização.

Resistência dos Fornecedores

Considerando que, por anos, a GAMMA comprava seus itens da mesma forma e, em

muitos casos, dos mesmos fornecedores, a adoção do custo total de propriedade

enfrentou certa resistência por parte desses fornecedores. Tal resistência foi

percebida principalmente no processo de compartilhamento de informações. Além

disso, mudanças em procedimentos como, por exemplo, o processo de reajustes de

preços que passaria a ser baseado no modelo de TCO e não mais em uma

negociação percentual, geraram desconforto. Dessa forma, por mexer na zona de

conforto a qual os fornecedores da empresa estavam acostumados, a adoção do

TCO na GAMMA se deparou com essa dificuldade.

Dificuldades no Levantamento de Informações de Custos

As equipes responsáveis pela coleta das informações de custo necessárias para a

construção dos modelos de TCO enfrentaram grandes dificuldades ao longo das

análises. Devido à má classificação de alguns itens, a alocações erradas dos

componentes de custo, a falta de comunicação entre os sistemas da empresa e ao

próprio neglicenciamento dos usuários com relação à utilização desses sistemas, o

processo de coleta de dados foi extremamente penoso. Por vezes, a equipe teve

que lançar mão de técnicas de amostragem para extrapolar algumas informações.

Além disso, foi destacado que as equipes buscaram focar seus esforços nos itens

que eram considerados de alta relevância para o modelo de TCO. Porém, em alguns

casos, por falta de dados significativos, alguns componentes de custo tiveram que

ficar de fora da modelagem, mesmo sendo considerados importantes para o estudo

em questão.

Page 117: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

107

4.1.3.7. Os Benefícios Obtidos

Os principais benefícios obtidos no processo de adoção do TCO na GAMMA podem

ser descritos como os seguintes: realização de contratos de longo prazo, melhoria

do gerenciamento dos processos de compras, redefinição de processos ou

especificações de produto, redução de custos, melhoria no processo de negociação,

melhoria no processo de avaliação de fornecedores, comprometimento de

fornecedores com a redução de custos da empresa, desenvolvimento do pessoal da

área de suprimentos e mudança de visão sobre a área de suprimentos dentro da

organização. Cada um desses benefícios é detalhado a seguir.

Realização de Contratos de Longo Prazo

Juntas, a Gerência de Suprimentos de Negócios e a Gerência de Suprimentos de

Capital, já possuem 77% de suas compras, em termos de valor, contratadas. Os

contratos fechados a partir dos estudos de custo total de propriedade têm variado de

3 a 5 anos.

Melhoria do Gerenciamento dos Processos de Compras

Nos anos anteriores à implementação da metodologia, a área de suprimentos da

GAMMA enfrentava problemas relacionados à complexidade de gerenciamento dos

processos de compras. Isso ocorria principalmente devido ao elevadíssimo número

de compras spot que eram efetuadas pela área. A partir do momento em que a área

passou a realizar os estudos de TCO e, conseqüentemente, houve um aumento no

número de contratos de longo prazo, a complexidade gerada pelas compras spot foi

consideravelmente reduzida.

Redução de Custos

Além de possibilitar às gerências estratégicas de suprimentos focarem nos pontos

mais relevantes para a redução de custos nos processos de compras, os modelos

de TCO têm ajudado a empresa a atuar sobre o item comprado desde o processo de

fabricação do fornecedor até, muitas vezes, às especificações das necessidades de

seus clientes. Os estudos de TCO realizados na empresa possibilitaram uma

economia de 8% da base de gastos de compras da companhia.

Page 118: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

108

Redefinição de Processos ou Especificações de Produto

Um dos casos de aplicação da metodologia de TCO citados pela empresa se deu a

partir do momento em que os custos de determinado item de compra subiram

consideravelmente. A equipe analisou o processo produtivo do item desde sua

fabricação e fornecimento até a sua utilização dentro do processo do cliente da

GAMMA. A partir desse estudo, foram identificadas possíveis mudanças na

especificação relativas a pontos que não eram percebidos pelo cliente como

relevantes, como, por exemplo, determinado processo de acabamento. Além disso,

mudanças foram implementadas no próprio processo de entrega do fornecedor da

GAMMA. A freqüência de entrega foi reduzida, uma vez que o estudo identificou que

a empresa não precisava receber o item cinco vezes por mês, como vinha

acontecendo, e que uma entrega mensal geraria economias maiores do que os

gastos associados a essa mudança. Esse foi um dos exemplos citados para os

benefícios da adequação das especificações e da redefinição de processos que

foram viabilizados pelo uso dos modelos de TCO.

Melhoria no Processo de Negociação

Pelo fato de que os estudos de TCO têm proporcionado aos funcionários da

empresa um maior entendimento sobre o negócio do qual o item comprado faz parte,

a área apontou que o processo de negociação dos contratos passou a ser feito com

muito mais rigor. Além disso, as informações obtidas através das análises de TCO

resultaram em maior facilidade de convencimento dos fornecedores, de forma que a

área tem conseguido, por muitas vezes, chegar aos números desejados pela

companhia.

Além disso, com a visão do impacto em termos de custo de determinada falha do

fornecedor, a gerência passou a contemplar possíveis penalizações dentro do

contrato.

Melhoria no Processo de Avaliação de Fornecedores

A identificação dos pontos críticos do processo de fornecimento tem permitido que

os fornecedores sejam avaliados de forma mais objetiva. A própria definição dos

indicadores de desempenho passou a levar em consideração os impactos das falhas

no custo de aquisição do item. Além disso, em alguns casos, são colocadas metas

Page 119: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

109

de melhorias e acordos para o desenvolvimento conjunto de projetos para redução

de custos.

Comprometimento de Fornecedores com a Redução de Custos da Empresa

Com o detalhamento das informações de custos do fornecedor, a empresa tem

conseguido incluir em seus contratos pontos que reflitam comprometimento de seus

fornecedores com a realização de projetos para redução de custos. Em alguns

desses projetos, a equipe da GAMMA chega a atuar junto ao fornecedor de forma a

manter o item dentro dos preços e reajustes acordados.

Desenvolvimento do Pessoal da Área de Suprimentos

A partir da reestruturação e da mudança do perfil de atividades que a função

Compras da empresa passou a realizar, a GAMMA precisou investir no

desenvolvimento dos profissionais que passaram a trabalhar nessa área. Além dos

treinamentos diretamente ligados à implementação da metodologia, ministrados pela

consultoria PHI, a área passou a receber treinamentos de negociação, gerência

financeira, contabilidade e questões tributárias, além de participar em alguns

congressos considerados relevantes para a capacitação do pessoal.

Mudança de Visão sobre a Área de Suprimentos dentro da Organização

Com os primeiros resultados dos estudos de TCO sendo percebidos pelas demais

áreas da organização, a visão sobre a área de suprimentos apresentou significativa

melhora. Estes primeiros resultados despertaram interesse das áreas afetadas pelos

estudos. O fato que foi citado como estopim para essa mudança foi o

estabelecimento de um processo claro para toda a organização de como a área de

suprimentos desenvolvia suas atividades. As reuniões de acompanhamento e

validação do que estava sendo feito junto aos usuários contribuíram

consideravelmente para essa transparência e, conseqüentemente, para a mudança

da visão dos usuários acerca da área de suprimentos.

Page 120: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

110

4.1.3.8. Perspectivas Futuras

A Diretoria de Suprimentos e Logística de Materiais considera o trabalho de

modelagem de custo total de propriedade na GAMMA já finalizado. Após a definição

do modelo de fornecimento e o fechamento dos contratos, não existiu mais

preocupação em trabalhar no aprimoramento dos modelos de TCO. O que os

especialistas de cada categoria da área têm desenvolvido atualmente são

basicamente revisões de contratos, buscando detalhar ainda mais os pontos

relacionados aos níveis de serviço acordados com os fornecedores.

Além disso, foi mencionado que a modelagem de custo total de propriedade ainda

pode vir a acontecer para novos itens que surjam no escopo da área devido

principalmente a novos negócios que a GAMMA possa desenvolver. Além disso,

apesar de não acontecer com freqüência, os modelos ainda são utilizados pelos

especialistas quando existe intenção de realizar a troca de fornecedor de

determinado item.

A empresa mencionou que as próximas oportunidades de melhorias tanto no

desempenho da área quando na redução de custos encontram-se em uma

aproximação da empresa de seus fornecedores mais importantes. Existe a intenção

de formar parcerias com alguns desses fornecedores nos casos em que o

relacionamento atual mostra que tal iniciativa faz sentido. Além disso, a GAMMA

está começando a atuar junto a seus fornecedores para implementar melhorias nos

processos deles. Duas iniciativas que parecem despontar como futuras ações da

área junto a esses fornecedores seriam análises de custo total no processo

produtivo dos fornecedores e implementação de Six-Sigma para gerar ganhos de

produtividade.

Outra iniciativa que está sendo desenvolvida é diretamente relacionada à forma

como os usuários enxergam a área de suprimentos atualmente. Encontra-se em fase

de desenvolvimento um sistema de acompanhamento que permitirá que as demais

áreas avaliem o atendimento da área de suprimentos. Dessa forma, a área acredita

que poderá responder rapidamente a possíveis problemas que possam ocorrer, além

Page 121: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

111

de garantir que a visão positiva da empresa acerca dessa área seja mantida pelos

próximos anos.

Por fim, foi destacada a implementação na empresa do sistema integrado de gestão

(ERP) da JD Edwards que se encontra em fase final. Acredita-se que um dos

benefícios gerados pela adoção do sistema será a redução das dificuldades no

processo de levantamento de informações de custo.

Page 122: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

112

4.2. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nos três casos estudados, a adoção do custo total de propriedade pode ser

considerada uma iniciativa recente. A empresa GAMMA passou a utilizar a

metodologia em seu processo de compras no ano 2000. Nas empresas BETA e

ALPHA, a adoção do TCO seria ainda mais recente, ocorrendo em 2001 e 2003,

respectivamente.

Anteriormente à adoção dessa metodologia, as decisões de compras nas três

empresas eram orientadas basicamente pelo fator preço de compra. Herrera (2001)

já havia destacado que, ainda hoje, seria comum encontrar empresas com este

posicionamento estratégico distorcido das suas áreas de suprimentos. Além disso,

nos três casos, eram realizadas muitas compras repetitivas e existiam pouquíssimos

contratos de longo prazo, sendo que, em dois dos casos, nas empresas ALPHA e

GAMMA, foram mencionados problemas ligados à complexidade gerencial

associada ao elevado número de compras spot.

4.2.1. A ADOÇÃO DO TCO COMO PARTE DA REESTRUTURAÇÃO DA ÁREA DE

SUPRIMENTOS

As evidências dos três casos indicam que a adoção do custo total de propriedade

faria parte de um processo mais amplo de profunda reestruturação da área de

suprimentos das empresas. Em nenhum dos casos, a adoção do TCO se deu de

forma isolada. Alguns aspectos em comum observados no processo de

reestruturação, que acompanhou a adoção do TCO nessas empresas, são

apresentados a seguir.

O primeiro deles foi o crescimento da importância da área de suprimentos dentro do

organograma das empresas. Em dois dos casos estudados, empresas ALPHA e

GAMMA, a área de suprimentos foi elevada ao nível de diretoria, passando a compor

uma das funções da alta gestão dessas organizações. Gestores de ambas as

empresas apontaram tal mudança como fundamental para que a área obtivesse o

respaldo necessário para colocar em prática as atividades do novo processo de

Page 123: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

113

compras. Na empresa BETA, a área já formava uma das gerências executivas e,

quando considerados a estrutura organizacional e o porte dessa empresa, pode-se

dizer que ela já era percebida como uma área de significativa importância para a

organização.

O segundo ponto diz respeito à segmentação da área de suprimentos. Em cada um

dos casos, foram criados gerências ou grupos que seriam responsáveis pela

implementação do TCO. Na empresa ALPHA, a Gerência de Suprimentos

Estratégicos foi criada para desenvolver a metodologia de custo total de propriedade

para a aquisição de itens estratégicos de compras. Na empresa BETA, da mesma

forma, foi criada a Gerência de Análise de Contratos Estratégicos, que seria

totalmente dedicada aos estudos de sourcing e à construção dos modelos de TCO.

Já na empresa GAMMA, apesar de, no primeiro momento, não ter sido criada uma

área específica para a implementação do TCO, foi formado um grupo à parte, porém

ainda dentro da área de suprimentos, totalmente dedicado à realização desses

estudos.

As três empresas afirmaram que essa segmentação se fazia necessária para que os

profissionais dedicados à implementação do custo total de propriedade não fossem

submetidos a uma carga transacional muito elevada, isto é, não se envolvessem

com as atividades tradicionais do processo de compras.

O terceiro ponto identificado no processo de reestruturação da área de suprimentos

dessas empresas é referente à seleção dos funcionários que realizariam os estudos

de custo total de propriedade. Nos três casos, foi destacada a importância de se

dispor das pessoas certas para o desenvolvimento das análises de TCO. De fato, de

acordo com a literatura (Ellram, 1995; Ellram e Siferd, 1998), já era de se esperar

que as empresas que decidissem implementar essa metodologia necessitariam de

um novo perfil de profissional de compras, com forte capacidade analítica e de

negociação e conhecimento global sobre o negócio da empresa.

Os fatores considerados pelas três empresas para selecionar os funcionários que

iriam compor suas novas equipes ajudam a caracterizar esse novo perfil da área.

Para formar a Gerência de Suprimentos Estratégicos, a empresa ALPHA selecionou

Page 124: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

114

recursos com forte visão de negócios e menor perfil operacional, além de dar grande

importância a experiências anteriores na realização de estudos de TCO. Levando

em consideração que a empresa ALPHA não contou com a presença de nenhuma

consultoria durante o desenvolvimento dos estudos de TCO, a experiência anterior

foi considerada fator-chave no processo de seleção dos recursos.

A empresa BETA buscou alocar à Gerência de Análise de Contratos Estratégicos

pessoas com formação de nível superior, em sua maioria engenheiros e

administradores, porém com forte experiência em Compras. Não foi exigida

experiência anterior acerca da metodologia.

Talvez, a mudança de perfil do pessoal de Compras que se deu junto à adoção do

TCO tenha seu exemplo mais forte no terceiro caso estudado. Para formar seu novo

grupo de suprimentos, a empresa GAMMA deslocou pessoas provenientes das

áreas de negócio da empresa. Poucas pessoas que faziam parte da antiga área de

suprimentos permaneceram na companhia.

4.2.2. MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS DA ADOÇÃO DO TCO

As três empresas apresentaram objetivos distintos para o desenvolvimento dos

estudos de custo total de propriedade. A empresa ALPHA indicou a necessidade de

se aproximar cada vez mais de fornecedores fortes e capazes de apoiar os objetivos

de crescimento da empresa, especialmente no caso de fornecedores de itens

estratégicos. A empresa passou a utilizar, então, a metodologia do TCO como forma

de desenvolver os processos de contratação desses fornecedores. Além disso, a

ALPHA mencionou o uso do TCO em atividades de desenvolvimento de

fornecedores e melhoria de processos.

A empresa BETA identificou na adoção do TCO uma oportunidade de

desenvolvimento do processo de compras em direção às melhores práticas

existentes na indústria de petróleo. Nesse caso, o TCO serviria como ferramenta

para a implementação das melhorias desejadas na função Compras da organização,

que se refletiriam no nível de serviço da cadeia de suprimentos da empresa e na

Page 125: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

115

satisfação das áreas usuárias e seriam acompanhadas por benefícios de redução de

custos.

Já a empresa GAMMA pareceu focar seus objetivos principalmente na redução dos

custos de compras. Com a incorporação da empresa pelo grupo norte -americano e

com a estabilização de suas vendas, a reestruturação da área de suprimentos, na

qual se incluía a adoção do TCO, foi identificada como uma oportunidade de

melhoria dos resultados da empresa, principalmente através de redução dos custos

de compras.

Considerando o modelo proposto por Ellram e Siferd (1998) que segmenta as

aplicações do TCO de acordo com seus objetivos, seria possível afirmar que, nos

casos ALPHA e BETA, a aplicação da metodologia atingiria o nível estratégico.

Nessas empresas, a adoção do TCO poderia ser caracterizada como um processo

de busca de melhoria contínua. Essa característica seria endossada pela

continuidade dada aos estudos de TCO após a contratação dos fornecedores. Essa

questão é discutida no item 4.2.10. Em contrapartida, na empresa GAMMA, a

utilização do TCO atingiria apenas o nível tático, no qual sua principal função seria a

identificação de fatores que acarretam elevados custos tanto interna quanto

externamente.

4.2.3. AS CATEGORIAS DE COMPRAS SUBMETIDAS AOS ESTUDOS DE TCO

Dentre as categorias de compras apresentadas por Ellram (1993) dentro da

perspectiva do TCO, duas foram contempladas nos casos estudados: bens de

capital e materiais. As três empresas citaram a aplicação de seus estudos de custo

total de propriedade principalmente em itens dessas duas categorias. Além delas, as

empresas BETA e GAMMA também abordaram matérias-primas nas suas análises

de TCO.

A presença maciça de bens de capital e materiais nos casos estudados poderia

indicar que essas duas categorias seriam mais suscetíveis às análises de custo total

de propriedade. De fato, Ferrin e Plank (2002) já haviam identificado que os

Page 126: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

116

gerentes de compras tenderiam a aplicar a abordagem à compra de itens de não-

rotina, citando como exemplo a categoria de bens de capital. Uma das prováveis

justificativas para isso seria o fato de que a maioria dos custos associados à

aquisição de bens de capital seriam incorridos após a compra, isto é, nas atividades

de operação, manutenção e descarte. Sendo assim, a metodologia de custo total de

propriedade poderia gerar benefícios significativos no processo de compra de itens

dessa categoria.

A empresa BETA citou planos para começar a modelagem de custo total de

propriedade em alguns itens da categoria de serviços, como por exemplo serviços

de sondagem terrestre e serviços logísticos. Tais estudos ainda não haviam sido

iniciados no momento da realização dessa pesquisa, porém a empresa mencionou

que o processo de modelagem do TCO provavelmente sofreria adequações para

comportar as diferenças intrínsecas entre a aquisição de bens e a contratação de

serviços.

Quadro 4 – Categorias de compras submetidas aos estudos de TCO

Categorias de compras modeladas ALPHA BETA GAMMA

Bens de capital ü ü ü

Materiais ü ü ü

Componentes ü ü ü

Matérias -primas ü ü

Serviços ü *

* Estudos para itens da categoria de serviços serão realizados futuramente.

Por fim, seria importante destacar que, nos três casos, a seleção dos itens que

foram submetidos aos estudos de custo total de propriedade foi feita com base em

critérios que não possuíam relação direta com a categoria de compras. Os critérios

usados para a seleção dos itens são discutidos a seguir.

Page 127: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

117

4.2.4. A SELEÇÃO DOS ITENS DE COMPRAS PARA MODELAGEM DO TCO

Nas três empresas pesquisadas, a seleção dos itens de compras que seriam

submetidos aos estudos de TCO foi realizada com base em três principais fatores:

valor agregado de compra, importância do item para o negócio da empresa e

complexidade do mercado fornecedor. Tanto a empresa ALPHA como a empresa

BETA definiram como complexidade do mercado fornecedor as características de

concentração desse mercado e o poder de negociação de seus fornecedores. Por

sua vez, a empresa GAMMA classificou o terceiro fator como sendo relacionado ao

risco de fornecimento do item em questão. Portanto, pode-se dizer que as empresas

estariam tendendo a optar pelo TCO no processo de compras de itens considerados

estratégicos para o negócio da empresa.

Na empresa ALPHA, além da consideração desses três pontos, também foram

selecionados itens que possuíam impacto direto sobre o crescimento da empresa.

Vale lembrar que, nessa empresa, um dos principais objetivos da adoção do TCO

era desenvolver a base de fornecedores de forma a que esta suportasse a estratégia

agressiva de crescimento que tem direcionado as ações da empresa nos últimos

anos.

Os resultados obtidos neste estudo estão de acordo com os resultados obtidos por

Ellram (1994). Em seu artigo, a autora conclui que a importância do item comprado

para a empresa estaria diretamente relacionada com a decisão pela adoção do TCO,

isto é, quanto mais importante o item, tanto em termos monetários quanto em termos

de sua importância estratégica para a organização, maior seria a propensão das

empresas para implementarem o TCO.

Um ponto adicional identificado nos casos estudados é que as empresas também

estariam preocupadas em identificar as oportunidades de ganhos e classificar a

complexidade de implementação para cada uma das categorias. De fato, as

empresas tenderiam a começar seus estudos de custo total de propriedade por

aqueles itens em que os benefícios potenciais seriam maiores e em que o esforço

gerencial seria menor. Tanto a empresa ALPHA como a empresa BETA iniciaram

seus estudos por itens que atendiam a essas duas condições. Como medidas para o

Page 128: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

118

potencial de ganho, as empresas citaram o estágio de desenvolvimento do processo

de compras, a existência de poder de barganha a ser explorado e a existência de

questões ainda negociáveis.

Por sua vez, a empresa GAMMA iniciou seus estudos de TCO pelos itens em que os

gestores esperavam as maiores mudanças de modelo de fornecimento.

Teoricamente, tais estudos poderiam ser associados a um grande esforço gerencial,

porém a empresa acreditava que eram exatamente nesses casos que os maiores

potenciais de ganho se encontravam.

4.2.5. O PAPEL DAS EQUIPES MULTIFUNCIONAIS

Em linha com o que Ferrin e Plank (2002) e Ellram, Ogden e Zsidindin (2003)

constataram em seus estudos, a formação de equipes multifuncionais no processo

de elaboração dos modelos de TCO esteve presente nos três casos estudados. Tal

fato indicaria que a formação dessas equipes poderia ser considerada um dos

pilares-chave para o desenvolvimento dos estudos de custo total de propriedade. A

empresa ALPHA chegou a mencionar que quanto maior a profundidade desejada

nos modelos de TCO, maior a abrangência necessária nas equipes multifuncionais.

Apesar de algumas diferenças na composição das equipes nas três empresas, foi

possível observar alguns aspectos em comum. O primeiro deles é a preocupação

com o envolvimento das áreas usuárias da categoria de compras que será estudada.

O pessoal ligado diretamente à operação foi citado pelas três empresas como um

dos grupos mais acionados ao longo do processo de modelagem do TCO. Além

disso, a presença de pessoas com perfil mais técnico na equipe seria imprescindível

para suprir possíveis carências da área de suprimentos com relação a

conhecimentos técnicos acerca da categoria de compras modelada. Por fim, as três

empresas citaram a necessidade de se captar pessoas ligadas a áreas

administrativas (contabilidade, área comercial, área jurídica, etc).

Nas três empresas, o grupo de suprimentos assumiu a posição de liderança dentro

da equipe. As demais áreas atuavam principalmente como fonte de informação e

Page 129: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

119

suporte ao desenvolvimento dos modelos. Além disso, ficou evidente a preocupação

do pessoal de suprimentos com a validação dos modelos de TCO e dos resultados

dos estudos junto às áreas da empresa que sofreriam impacto das mudanças no

processo de fornecimento.

Dentre as individualidades existentes nas equipes multifuncionais formadas nos

casos estudados, a empresa BETA destacou o envolvimento da área de Segurança,

Meio Ambiente e Saúde. A preocupação crescente dessa empresa com a atividade

de descarte pode ser apontada como uma das possíveis razões para a importância

do envolvimento dessa área nas suas decisões de compras.

4.2.6. A PARTICIPAÇÃO DA ALTA GERÊNCIA

Seguindo o que Ellram e Siferd (1993), Ellram, Ogden e Zsidin (2003) e Anderson,

Wouters e Wynstra (2005) haviam apontado, o processo de adoção do TCO nas três

empresas foi caracterizado pela participação ativa da alta gerência. Um fato que

ajudaria a explicar o interesse da alta gerência no resultado dos estudos poderia

estar diretamente relacionado à própria seleção dos itens de compra que foram

analisados. Como afirmado anteriormente, as três empresas decidiram desenvolver

estudos de custo total de propriedade para itens de grande valor agregado e grande

importância para o negócio da organização.

Além da participação direta da Diretoria de Suprimentos nas empresas ALPHA e

GAMA e da Gerência Executiva de Materiais na empresa BETA, foi visto que outras

diretorias ou gerências de primeiro nível foram envolvidas ao longo do processo de

construção dos modelos de TCO. Inclusive, existiria preocupação por parte da área

de suprimentos em conseguir o apoio de outras áreas logo no start-up do estudo, de

forma a viabilizar a captação de recursos para compor as equipes multifuncionais. O

envolvimento das demais diretorias e/ou gerências seria dependente da categoria de

compras que estivesse sendo estudada. Fora o apoio no start-up do projeto, a área

de suprimentos procuraria validar os resultados parciais com as demais diretorias

e/ou gerências ao final de cada etapa de desenvolvimento dos estudos.

Page 130: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

120

4.2.7. A PARTICIPAÇÃO DE CONSULTORIAS ESTRATÉGICAS

Apesar de, nas três empresas, em algum momento, o processo de adoção do custo

total de propriedade ter contado com a presença de consultorias estratégicas, o

papel desempenhado por essas consultorias, em cada um dos casos, apresentou

significativas diferenças.

Na empresa ALPHA, o papel da consultoria se resumiu à indicação do uso da

metodologia do TCO para a aquisição das categorias de compras alocadas à

Gerência de Suprimentos Estratégicos. De fato, a adoção do custo total de

propriedade só foi realmente iniciada em 2003, isto é, quase dois anos após a saída

da consultoria.

Em contrapartida, a empresa BETA ainda contava com o trabalho dos consultores

no desenvolvimento dos estudos de TCO no momento da realização desta pesquisa.

Cada uma das equipes responsáveis pelas análises de custo total de propriedade

possuía um consultor supervisionando o desenvolvimento dos estudos.

Por sua vez, a empresa GAMMA, apesar de ter contado com os consultores durante

os treinamentos realizados no início da implementação da metodologia do TCO,

passou a operar de forma independente logo em seguida.

4.2.8. CAPACITAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DO TCO

Nas empresas BETA e GAMMA, ocorreram programas de treinamento acerca da

metodologia de custo total de propriedade. Esses treinamentos foram realizados

pelas consultorias envolvidas na fase inicial da adoção do TCO nessas empresas.

Além disso, a Diretoria de Suprimentos da empresa GAMMA teria apontado

capacitações nas áreas de negociação, contabilidade, análise financeira e questões

tributárias como aspectos relevantes para o desenvolvimento de estudos de custo

total de propriedade.

Page 131: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

121

Apesar da realização dos programas de treinamento, as duas empresas deram

bastante destaque ao processo de capacitação que se deu na prática, através do

desenvolvimento de estudos-piloto e, no caso da BETA, da presença de consultores

nas equipes que desenvolviam os modelos de TCO. Tal fato estaria em linha com o

que Ellram (1994) havia sugerido. A autora afirmou que as capacitações

relacionadas à metodologia do TCO seriam freqüentemente desenvolvidas na

prática, à medida que os profissionais estivessem envolvidos nos times de

elaboração dos modelos de custo total de propriedade.

Por sua vez, a empresa ALPHA teria se beneficiado da experiência já existente dos

profissionais contratados para formar a Gerência de Suprimentos Estratégicos.

Dessa forma, a empresa não se preocupou em realizar programas de treinamento,

nem estudos-piloto.

4.2.9. O ENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES NO PROCESSO DE

CONSTRUÇÃO DOS MODELOS DE TCO

Os três casos estudados indicaram o envolvimento de fornecedores no processo de

construção dos modelos de custo total de propriedade. A empresa ALPHA afirmou

que a exploração dos conhecimentos dos fornecedores seria de grande utilidade

para a determinação de quais componentes de custo deveriam ser priorizados nos

modelos. A empresa BETA, inclusive, chegaria a realizar um convite formal aos

fornecedores para participar dos estudos de TCO. O principal objetivo dessa

iniciativa seria a troca de informações e conhecimentos entre empresa e

fornecedores.

A empresa GAMMA mencionou dificuldades para conseguir que seus fornecedores

divulgassem alguns dados, especialmente informações de custos. Essa dificuldade

também foi destacada pela empresa BETA, que afirmou que os fornecedores ainda

seriam resistentes a compartilhar determinadas informações.

A necessidade de envolvimento dos fornecedores na construção dos modelos de

TCO poderia indicar que empresas de menor porte encontrariam dificuldades para

Page 132: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

122

adotar a metodologia. Os casos estudados indicaram que, mesmo empresas de

grande porte, característica que poderia significar grande interesse dos

fornecedores, ainda enfrentariam certa resistência dos fornecedores quanto ao

compartilhamento de informações.

4.2.10. A CONTINUIDADE DOS ESTUDOS DE TCO

Um ponto interessante que apareceu como grande diferença entre os casos

estudados diz respeito à continuidade dada pelas empresas aos estudos de custo

total de propriedade. Ellram (1994) afirma que a implementação do TCO deveria se

caracterizar por um processo contínuo. Esse aspecto foi identificado em dois dos

casos estudados: tanto a empresa ALPHA como a empresa BETA apontaram a

gestão contínua sobre os modelos de TCO como um importante fator a ser

considerado na adoção do custo total de propriedade.

Na empresa ALPHA, a Gerência de Suprimentos Estratégicos enxergaria os

modelos de TCO como modelos em constante evolução. Inclusive, foi mencionado

que seria à gestão contínua dos modelos de TCO que a diferenciaria de outras

empresas que fariam uso dessa metodologia, principalmente de empresas em que o

processo de adoção de custo total de propriedade envolveu a participação de

consultorias.

A empresa BETA estaria despertando para esta necessidade somente agora,

apresentando planos de, no curto prazo, estabelecer uma função, dentro da

Gerência de Análise de Contratos Estratégicos, responsável pelo acompanhamento

dos contratos vigentes elaborados a partir dos estudos de custo total de

propriedade. Algumas das principais funções dessa nova estrutura seriam a

validação do modelo de TCO com o quê está sendo praticado, a identificação de

problemas e a implementação de melhorias nos modelos.

Em contrapartida, no caso da empresa GAMMA, as análises de custo total de

propriedade seriam totalmente finalizadas após a definição da estratégia de

fornecimento e o fechamento dos contratos. Não existiria preocupação com o

Page 133: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

123

desenvolvimento contínuo dos modelos e com a incorporação de novos aspectos

nas análises.

4.2.11. CARACTERÍSTICAS DOS MODELOS DE TCO DOS CASOS ESTUDADOS

De acordo com o critério de classificação para modelos de custo total de propriedade

proposto por Ellram (1994), é possível classificar os modelos de TCO existentes nas

três empresas como pertencentes à categoria de modelos customizados. Isso

poderia indicar que, para as empresas pesquisadas, as vantagens da elaboração de

modelos perfeitamente adequados a compras específicas mais do que

compensariam a necessidade maior de tempo para seu desenvolvimento.

Uma das possíveis razões que explicaria a decisão por modelos customizados nos

casos estudados seriam as diferenças existentes entre os elementos de interesse

para a composição do custo total de propriedade das diferentes categorias de

compras. Isso foi especialmente destacado pela empresa BETA que, inclusive, citou

a diversidade das categorias analisadas como fator gerador de complexidade no

processo de modelagem do TCO.

Com relação às características das informações utilizadas nos modelos (Ellram,

1995), as três empresas afirmaram que seus modelos eram compostos basicamente

com informações de custos diretos. Em apenas um dos casos, na empresa BETA,

foi citado o uso de técnicas de custeio ABC para alocação de determinados custos

indiretos como, por exemplo, custos administrativos.

Além disso, com exceção da empresa ALPHA, aspectos qualitativos, tais como

certificações dos fornecedores, prêmios, etc, não entraram na composição dos

modelos de TCO. Tais aspectos eram analisados externamente aos modelos, sendo

algumas vezes considerados critérios qualificadores.

Page 134: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

124

Quadro 5 – Classificação dos modelos de TCO utilizados nas empresas

Categorias de compras modeladas ALPHA BETA GAMMA

Modelos de TCO customizados ü ü ü

TCO com base em custos diretos ü ü ü

TCO com base na alocação de custos ü

TCO com inclusão de aspectos qualitativos ü

4.2.12. PRINCIPAIS ENTRAVES PERCEBIDOS NA ADOÇÃO DO TCO

Dentre os entraves para adoção do custo total de propriedade encontrados na

literatura, os que teriam aparecido com maior destaque nos casos estudados seriam

as dificuldades de levantamento e análise das informações de custo (Elllram, 1994,

1995; Ellram e Siferd, 1993) e as barreiras relativas à cultura organizacional (Ellram,

1994, 1995; Ellram e Siferd, 1998).

As três empresas pesquisadas enfrentaram grandes dificuldades durante a etapa de

levantamento de dados para alimentação dos modelos de TCO. Bases de dados

divergentes, carência de informações completas de custos, ausência de dados

históricos e má classificação dos itens de custo foram alguns dos problemas que

apareceram nos casos. Tais problemas confirmariam o fato de que essas empresas

apenas recentemente teriam passado a se preocupar com o registro e manutenção

correta de informações de custos relativas aos itens comprados.

As empresas ALPHA e GAMMA afirmaram acreditar que o processo de coleta de

informações tenderia a ser facilitado após o início da operação do sistema integrado

de gestão que se encontrava em fase de implementação nessas empresas.

Com relação aos entraves relacionados à cultura organizacional, as evidências dos

três casos parecem indicar que o processo de adoção do custo total de propriedade

enfrentaria certa resistência dentro das organizações. De certa forma, essa

resistência tenderia a se agravar nos casos estudados, uma vez que a adoção do

Page 135: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

125

TCO fez parte de um grande processo de reestruturação da área de suprimentos

dessas empresas.

Em relação a esse ponto, a empresa ALPHA ressaltou a hesitação dos compradores

em basear suas decisões de compras em benefícios de longo prazo, sugeridos pelos

modelos de TCO, em detrimento dos ganhos imediatos relacionados ao fator preço.

Além disso, mudanças significativas nos modelos de fornecimento sugeridas pelas

análises de TCO, como, por exemplo, a troca de fornecedor, gerariam incômodo nos

compradores que já estariam acostumados a determinado procedimento.

A empresa BETA mencionou a resistência das áreas usuárias, fato que viria

acarretando elevada incidência de compras reali zadas fora dos contratos

estabelecidos a partir dos estudos de custo total de propriedade. Por sua vez, a

empresa GAMMA citou o desconforto gerado na área de suprimentos devido ao

elevado grau de mudanças ocorridas durante o processo de reestruturação do qual

fez parte a adoção do TCO.

Além desses dois principais entraves, a empresa ALPHA mencionou questões

relacionadas à complexidade dos modelos, principalmente a existência de elevado

número de variáveis que impactavam alguns componentes de custo. A empresa

BETA também destacou a complexidade dos modelos, porém a atribuiu à

diversidade das categorias de compras modeladas. Questões relacionadas à

complexidade dos modelos de TCO também apareceram no estudo de Ellram e

Siferd (1998).

Além disso, as empresas BETA e GAMMA destacaram problemas no

relacionamento com os fornecedores, que ainda demonstrariam receio em

compartilhar determinadas informações importantes para a construção dos modelos

de TCO.

Por fim, o custo de implementação, que apareceria com certo destaque na literatura

(Degraeve e Roodhoft, 1999a), não foi percebido como entrave por nenhuma das

três empresas. Pode ser que esse fator não tenha sido considerado nos casos pelo

fato da adoção do TCO ter feito parte de um processo amplo de reestruturação da

Page 136: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

126

área de suprimentos. Sendo assim, seria muito difícil determinar exatamente o quão

custosa teria sido a implementação dessa metodologia.

Quadro 6 – Principais entraves do processo de adoção do TCO

Entraves identificados ALPHA BETA GAMMA

Dificuldade para levantar e analisar informações de custos ü ü ü

Obtenção de dados históricos ü

Complexidade na elaboração dos modelos de TCO ü ü

Disponibilidade de recursos ü

Resistência dos fornecedores ü ü

Resistência do pessoal da área de suprimentos ü ü

Resistência das áreas usuárias ü

4.2.13. PRINCIPAIS BENEFÍCIOS PERCEBIDOS NA ADOÇÃO DO TCO

No caso da empresa ALPHA, os benefícios da adoção do TCO parecem se

concentrar principalmente no relacionamento da empresa com seus fornecedores. A

ALPHA destacou melhorias nos processos de seleção e avaliação de fornecedores.

Além disso, a intensificação da realização de contratos de longo prazo teria

permitido à empresa estreitar cada vez mais o relacionamento com fornecedores

fundamentais para o processo de crescimento da companhia.

Da mesma forma, a empresa BETA também apresentou aumento no número de

contratos de longo prazo, fato que tem possibilitado sua aproximação dos

fornecedores de itens estratégicos e tem ajudado no processo de fortalecimento da

base de fornecedores da empresa. Além disso, a empresa destacou melhorias nos

níveis de serviço prestados por esses fornecedores.

Ainda que em fase inicial de desenvolvimento, tanto a empresa ALPHA quanto a

empresa BETA destacaram iniciativas para formação de alianças estratégicas ou

Page 137: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

127

parcerias que teriam sido identificadas a partir dos estudos de custo total de

propriedade.

Esses dois primeiros casos ajudariam a confirmar que a utilização do custo total de

propriedade aumentaria a eficiência de contratos de longo prazo entre compradores

e fornecedores (Degraeve e Roodhooft, 1999) e apoiaria esforços em direção a

alianças estratégicas (Ellram, 19994).

Apesar de tanto a empresa ALPHA quanto a BETA terem vivenciado reduções

significativas nos custos de compras, as duas empresas deram maior destaque aos

benefícios obtidos no relacionamento com seus fornecedores.

No caso da empresa GAMMA, além da intensificação na realização de contratos de

longo prazo, a empresa te ria conseguido incluir em grande parte de suas

contratações pontos que refletiriam o comprometimento de seus fornecedores com a

realização de projetos para redução de custos. De fato, no caso da GAMMA, a

redução de custos de compras apareceu como o principal foco da utilização do TCO.

As três empresas também mencionaram os benefícios gerados pelo TCO na etapa

de negociação com os fornecedores. As empresas afirmaram que, a partir das

análises de custo total de propriedade, o processo de negociação ganharia em

transparência e objetividade, além de permitir que as partes focassem nos itens

realmente relevantes para a compra em questão.

Outros benefícios identificados na literatura também foram observados nos casos

estudados. As três empresas indicaram utilizar as análises de custo total de

propriedade para racionalizar seus processos de compras e implementar melhorias

em suas especificações. Com relação a esse ponto, a empresa BETA acrescentou

os benefícios gerados pela troca de experiência entre as diversas unidades

operacionais que foi viabilizada pelas visitas da equipe de suprimentos às diversas

bases de operação da empresa.

Por fim, existiriam benefícios diretamente relacionados aos trabalhos desenvolvidos

pelas equipes multifuncionais ao longo do processo de modelagem do TCO. As três

Page 138: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

128

empresas destacaram que o processo de contratação passou a ser extremamente

transparente para a organização, fazendo com que a satisfação dos usuários

aumentasse consideravelmente. Como resultado, a própria área de suprimentos

ganhou visibilidade dentro das três empresas, passando a ser percebida como uma

área de importância estratégica para o negócio da organização.

Quadro 7 – Principais benefícios obtidos na adoção do TCO

Benefícios identificados ALPHA BETA GAMMA

Intensificação na realização de contratos de longo prazo ü ü ü

Consolidação da base de fornecedores ü ü ü

Estreitamento do relacionamento com fornecedores de melhor desempenho ü ü

Incentivo à formação de alianças estratégicas e parcerias ü ü

Melhorias na definição das especificações ü ü ü

Melhorias no processo de seleção de fornecedores ü ü ü

Melhorias no processo de negociação ü ü ü

Melhorias na atividade de avaliação de fornecedores ü ü ü

Redução dos custos de compras ü ü ü

Aumento da satisfação das áreas usuárias ü ü ü

Melhoria na visão da área de suprimentos dentro da empresa ü ü ü

Desenvolvimento dos profissionais de compras ü ü ü

Page 139: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

129

4.2.14. QUADRO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE

ADOÇÃO DO TCO NAS TRÊS EMPRESAS ESTUDADAS

Quadro 8 – Comparação entre características do processo de adoção do TCO

Item de análise ALPHA BETA GAMMA

Nível hierárquico da área de suprimentos

Diretoria de Suprimentos (criada durante a reestruturação da função Compras da empresa).

Gerência Executiva de Materiais (gerência de 1º nível).

Diretoria de Suprimentos e Logística de Materiais (elevada à posição de diretoria após reestruturação).

Ano de adoção do TCO 2003 2001 2000

Características do processo de compras anterior à adoção do TCO

Função compras descentralizada, decisões de compras tomadas em função do fator preço.

Processos de licitação bastante simplificados.

Elevado número de compras spot, decisões de compras tomadas em função do fator preço.

Segmentação da função Compras para desenvolvimento dos estudos de custo total de propriedade

Criação da Gerência de Suprimentos Estratégicos.

Criação da Gerência de Análise de Contratos Estratégicos.

Formação de um grupo dentro da Diretoria de Suprimentos e Logística de Materiais.

Perfil profissional dos funcionários selecionados para o desenvolvimento dos estudos de TCO

Contratação externa de pessoas com forte visão de negócios, menor perfil operacional e experiência no desenvolvimento de estudos de TCO.

Transferência de engenheiros / administradores com forte experiência em Compras.

Transferência de pessoas provenientes das áreas de negócios da empresa.

Principais antecedentes

Definição de estratégia agressiva de crescimento e expansão para novos mercados.

Identificação de nova função estratégica da área de compras no cenário mundial do setor a partir de estudo de benchmark sobre principais players mundiais.

Incorporação da empresa por grupo norte-americano, mercado em processo de estabilização, pressões por melhores resultados e reduções de custo na área de suprimentos.

Page 140: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

130

Item de análise ALPHA BETA GAMMA

Principais motivações para adoção do TCO

Fortalecimento da base de fornecedores, de forma a suportar crescimento da empresa.

Adequação do processo de compras às melhores práticas e melhorias no nível de serviço dos fornecedores.

Geração de economias nos custos de compras da empresa.

Critérios de seleção dos itens de compras para os estudos de TCO

Valor total de compra, impacto direto no negócio ou no crescimento da empresa e complexidade do mercado fornecedor.

Valor total de compra, criticidade do item e complexidade do mercado fornecedor.

Valor agregado do item, impacto no negócio da empresa e risco de fornecimento.

Critérios para priorização dos estudos de TCO

Maiores oportunidades de ganho e complexidade de implementação.

Maiores oportunidades de ganho e complexidade de implementação.

Maiores oportunidades de ganho e mudanças mais drásticas nos modelos de fornecimento.

Participação das consultorias estratégicas

Criação da Gerência de Suprimentos Estratégicos e indicação da metodologia de TCO para compra de itens estratégicos.

Desenvolvimento dos estudos de TCO, on-the-job training e acompanhamento das equipes da empresa.

Indicação da metodologia de TCO e treinamentos no início do desenvolvimento dos estudos.

Abordagem no início do processo de implementação do TCO

Não ocorreram treinamentos, nem projeto-piloto.

Ocorreram treinamentos sobre a metodologia e realização de projeto-piloto com presença da consultoria.

Ocorreram treinamentos sobre a metodologia e participação da consultoria no início dos estudos.

Formação de equipes multifuncionais

Grupo de suprimentos, grupo técnico, grupo comercial e grupo de gestão econômica.

Equipe de sourcing, unidade de negócio, equipe técnica, de manutenção e de segurança, meio ambiente e saúde e apoio (jurídico, área tributária, etc.).

Grupo de suprimentos, grupo de operações, pessoas das filiais e área administrativa.

Participação da alta gerência

Aprovação da categoria que será estudada, acompanhamento e validação dos resultados.

Indicação / aprovação da categoria que será estudada, acompanhamento e validação dos resultados.

Aprovação da categoria que será estudada, acompanhamento e validação dos resultados.

Page 141: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

131

Item de análise ALPHA BETA GAMMA

Continuidade dos estudos de TCO

Gestão contínua dos modelos de TCO. Modelos em constante evolução.

Atualmente, estudos encerrados após contratação. Será criada estrutura voltada para acompanhamento dos modelos.

Estudos encerrados após contratação.

Page 142: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

132

5. CONCLUSÕES

O presente estudo teve como objetivo investigar as principais características da

adoção do custo total de propriedade no processo de compras de grandes empresas

brasileiras. De forma mais específica, o estudo buscou identificar os fatores que

motivaram as empresas a adotarem o custo total de propriedade, caracterizar o

processo de implementação, relatar os entraves percebidos e os benefícios obtidos

e identificar as perspectivas futuras da adoção do TCO.

Assim, o estudo foi estruturado de forma a responder à pergunta de pesquisa geral:

“Como se caracterizam os processos de adoção do custo total de propriedade no

gerenciamento de compras de grandes empresas brasileiras?”, que foi desdobrada

nas seguintes perguntas secundárias: (1) Quais fatores motivaram a empresa a

adotar o custo total de propriedade no gerenciamento de compras? (2) Como se deu

o processo de implementação do custo total de propriedade? (3) Quais os entraves

percebidos na adoção do custo total de propriedade? (4) Quais os benefícios obtidos

após a adoção do custo total de propriedade? (5) Quais seriam as perspectivas

futuras da adoção do custo total de propriedade?

A metodologia de estudo de casos foi considerada a mais adequada levando-se em

consideração a natureza exploratória do estudo proposto e o fato de que se

examinaria um conjunto contemporâneo de acontecimentos sobre o qual se teria

pouco ou nenhum controle. Além disso, a essência do estudo em questão estaria no

levantamento de informações sobre o conjunto de decisões associadas ao processo

de adoção do custo total de propriedade, isto é, por que elas foram tomadas, como

foram implementadas e que resultados obtiveram.

5.1. RESPOSTA ÀS PERGUNTAS DO ESTUDO

Esta seção está estruturada de forma a apresentar as respostas, inicialmente, para

cada uma das perguntas secundárias da pesquisa, para depois finalizar com a

resposta à pergunta principal do estudo. Sendo assim:

Page 143: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

133

Quais fatores motivaram a empresa a adotar o custo total de propriedade no

gerenciamento de compras?

O custo total de propriedade é utilizado pelas empresas como uma ferramenta de

adequação dos processos de compras à nova função estratégica que a área passa a

exercer dentro das organizações. Cada vez mais, as empresas procuram

transformar sua área de suprimentos, de um grupo operacional, em um grupo mais

estratégico com grande foco em resultado. Nesse contexto, a adoção do TCO pode

ser caracterizada como um dos pilares da reestruturação que vem ocorrendo dentro

da função Compras dessas empresas.

De forma a apoiar esse novo direcionamento estratégico, seriam necessárias

importantes mudanças nas decisões de fornecimento. É exatamente nesse contexto

que as empresas estariam optando pelo TCO, como forma de estruturar seus novos

processos de compras e adequá-los às suas novas necessidades. Além disso, a

metodologia de custo total de propriedade teria sido posicionada dentro de um

conjunto de melhores práticas da função Compras das empresas.

Adicionalmente, a opção pelo TCO pode surgir como resposta a pressões para

redução de custos de compras e melhorias de nível de serviço, ou seja, as empresas

enxergam na utilização do custo total de propriedade grande potencial para ganhos

tanto de redução de custos como de melhorias de desempenho do processo de

compras. Além disso, tais estudos podem gerar melhorias no suporte prestado aos

clientes internos da área de suprimentos.

Mais especificamente, as empresas estão empregando a metodologia de custo total

de propriedade no desenvolvimento de sua base de fornecedores, principalmente

aqueles considerados estratégicos para suas atividades. Com a realização dos

estudos de TCO, as empresas buscam estreitar o relacionamento com seus

fornecedores estratégicos e viabilizar o fechamento de contratos de maior duração.

Page 144: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

134

Como se deu o processo de implementação do custo total de propriedade?

As empresas iniciam o processo de implementação do TCO com a formação de um

novo grupo dentro da área de compras, seja uma nova gerência ou grupo de

projetos, totalmente dedicado ao desenvolvimento da metodologia. A seleção do

pessoal que irá compor esse grupo tem levado em consideração as exigências do

TCO por um novo perfil de profissional de compras. As empresas não estão

utilizando seus profissionais já pertencentes à área de suprimentos. Novos recursos

são captados para o desenvolvimento desses estudos.

Também pode existir o envolvimento de consultorias estratégicas nas etapas de

planejamento, isto é, na definição dos itens que serão submetidos às análises, no

treinamento dos recursos humanos da empresa e no detalhamento da metodologia.

Em relação a esse aspecto, o envolvimento ou não de consultores no processo de

adoção do TCO poderia resultar em diferenças com relação à participação e

comprometimento dos próprios funcionários da empresa. Porém, uma alternativa

observada para contornar essa questão foi a formação de equipes de funcionários

da empresa que são coordenadas pelos consultores.

Uma etapa importante do planejamento da adoção do TCO consiste exatamente na

seleção das categorias que serão estudadas. A alta gerência tem participação

fundamental na definição de prioridades e na identificação de onde as melhores

oportunidades de ganho dos estudos de TCO se encontram.

Outro ponto de grande destaque foi o fato de que a metodologia de custo total de

propriedade é extremamente dependente da formação de equipes multifuncionais.

Sem o envolvimento dessas equipes, a abrangência dos modelos de TCO poderia

ser comprometida. Dessa forma, um dos momentos críticos do processo de

implementação é a captação de recursos das diversas áreas funcionais da empresa

que possuem relação direta com os itens estudados.

Também é possível afirmar que as empresas têm se preocupado em definir um

processo estruturado e transparente para toda a organização de como os estudos

de custo total de propriedade serão desenvolvidos. As principais atividades desse

Page 145: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

135

processo que puderam ser identificadas foram: coleta prévia de informações

relativas ao item estudado, visitas às unidades de operação, realização de

entrevistas, definição de requerimentos internos, contato com fornecedores,

construção e validação dos modelos de TCO, análise de fornecedores, negociação

dos modelos de fornecimento e contratação. A revisitação dos modelos e o processo

de gestão contínua das análises de custo total de propriedade aparecem como

próximos passos desse processo.

Quais os entraves percebidos na adoção do custo total de propriedade?

A grande quantidade de informações exigida no processo de construção dos

modelos de TCO representa um dos principais problemas enfrentados na adoção da

metodologia. As empresas não estariam habituadas a manter informações de custos

estruturadas de forma a apoiar às análises de custo total de propriedade. As equipes

responsáveis pela construção dos modelos precisam despender grande esforço na

etapa de levantamento de dados.

No caso das empresas brasileiras, também existe a carência de bases de dados

históricos que inviabiliza análises mais aprofundadas dos trade-offs existentes ao

longo do processo de compras. Outro gerador de dificuldades nas etapas de análise

é a existência de contabilizações ainda muito genéricas que impedem que

determinados custos sejam desagregados e que análises mais específicas sejam

realizadas.

Além disso, os modelos de TCO são extremamente dependentes de informações de

posse dos fornecedores. Ainda é observada grande resistência por parte dos

fornecedores quanto ao compartilhamento de dados, especialmente informações de

custos.

Fora os entraves relativos à obtenção de informações para alimentar os modelos de

TCO, a adoção do custo total de propriedade enfrenta resistências dentro da própria

função Compras das empresas. Por se tratar de um processo de significativa

mudança na forma como as atividades da área são desenvolvidas, são exigidas

modificações estruturais na área de suprimentos.

Page 146: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

136

Por fim, ainda existem casos de desconfiança dos compradores quanto à validade

dos modelos. Como grande parte dos benefícios identificados nas análises de custo

total de propriedade acabam se refletindo apenas no longo prazo, os compradores

ainda estariam receosos em aprovar algumas decisões indicadas pelos estudos de

TCO. Tal fato pode indicar que as áreas de suprimentos ainda enfrentariam

dificuldades relacionadas à existência de objetivos de curto prazo conflitantes com a

metodologia de custo total de propriedade, como pressões para realização de

compras com base no menor preço.

É importante ressaltar que, tendo em vista que os três casos estudados foram

relativos a empresas de grande porte, não foi possível identificar alguns entraves

que poderiam aparecer especificamente na adoção do custo total de propriedade por

empresas de menor porte e, conseqüentemente, menor poder de barganha sobre

seus fornecedores.

Quais os benefícios obtidos após a adoção do custo total de propriedade?

Os benefícios da adoção do custo total de propriedade estão concentrados em

quatro grandes tópicos: estreitamento do relacionamento das empresas com

fornecedores estratégicos, melhorias nas atividades do processo de compras,

reduções de custo e desenvolvimento da função Compras dentro das organizações.

A intensificação da realização de contratos de maior duração associada ao

desenvolvimento de estudos de custo total de propriedade tem impacto direto sobre

o relacionamento da empresa com fornecedores de itens estratégicos. A própria

maturidade exigida pelas análises de TCO, em termos de compartilhamento de

informações de custo, visão de longo prazo e maior conhecimento dos processos de

negócio, ajuda no estreitamento do relacionamento entre empresa e fornecedor,

além de aumentar consideravelmente a eficiência dos contratos fechados.

As principais atividades do processo de compras que são beneficiadas pela adoção

do custo total de propriedade são a definição das requisições de fornecimento, a

seleção de fornecedores, o processo de negociação e a avaliação de fornecedores.

De fato, a etapa de negociação apareceu como uma das mais beneficiadas pela

Page 147: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

137

utilização do TCO. As empresas experimentam significativas melhoras ao negociar

com seus fornecedores com base nos estudos de custo total de propriedade. O

processo ganha em transparência e objetividade, além de permitir a inclusão de

sistemas de compensação atrelados aos acordos de fornecimento.

O terceiro grande grupo de benefícios identificado é a redução dos custos de

compras. No curto prazo, essa redução é resultante da racionalização do processo

de compras e da eliminação de custos transacionais elevados causados pela

elevada ocorrência de compras spot. Porém, talvez, os principais benefícios de

redução de custos gerada pela adoção do TCO são observados no longo prazo,

quando os custos de ciclo de vida dos itens comprados, como por exemplo, nas

atividades de operação, manutenção e descarte, passam a impactar o fluxo de caixa

das empresas.

Por fim, a adoção do TCO tem ajudado consideravelmente no desenvolvimento da

função Compras das organizações. A definição de um processo claro, estruturado e

que envolve o trabalho de equipes multifuncionais tem colaborado para melhorar a

visão da área de suprimentos dentro das empresas. As análises de custo total de

propriedade tem gerado maior satisfação das áreas usuárias acerca do pessoal de

suprimentos, além de contribuir para o desenvolvimento profissional dos funcionários

dessa área que passam a se envolver em atividades mais nobres e de menor perfil

operacional.

Quais seriam as perspectivas futuras da adoção do custo total de propriedade?

Futuramente, as empresas que decidiram pela adoção do custo total de propriedade

enfrentarão desafios atribuídos à gestão contínua dos modelos de TCO e a

utilização desses como ferramentas de alavancagem de esforços de melhoria

contínua.

Após a realização dos estudos de TCO para as categorias de compras selecionadas,

as empresas têm voltado suas atenções para a otimização do negócio e para a

revisão dos modelos de TCO, podendo realizar modificações e agregar novos

componentes de custos. Além disso, alguns componentes de custo, já contemplados

Page 148: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

138

nos modelos, possuiriam espaço para desenvolvimento. O próprio fato de, em um

primeiro momento, o levantamento de informações ainda ser extremamente difícil

pode indicar a existência de novas oportunidades de melhorias que só serão

identificadas futuramente.

Ainda existiriam casos em que o processo de construção dos modelos de custo total

de propriedade é encarado como um projeto com princípio, meio e fim, sendo

encerrado após o fechamento dos contratos. Porém, tudo indica que a utilização do

TCO só atingiria seu pleno potencial se as empresas optassem pela gestão contínua

dos modelos.

Além disso, o interesse das empresas em continuar com os estudos e até expandi-

los para outras categorias de compras indica que a metodologia tem sido bem

sucedida e os resultados obtidos tem sido satisfatórios. A expansão do uso da

metodologia para outras categorias de compras, como, por exemplo, a categoria de

serviços, pode representar novos desafios para o pessoal de suprimentos.

Como se caracterizam os processos de adoção do custo total de propriedade no

gerenciamento de compras de grandes empresas brasileiras?

A partir das evidências apresentadas e da posterior análise, a adoção do custo total

de propriedade pode ser caracterizada como parte de um grande processo de

reestruturação da função Compras das empresas. O TCO é utilizado como uma

ferramenta para transformar o processo de compras em um processo de cunho mais

estratégico. Dessa forma, a metodologia do TCO se insere dentro das

transformações que a função Compras tem sofrido, de forma a permitir que todo o

potencial estratégico da área seja explorado pelas empresas.

A implementação dessa metodologia tem sido acompanhada de uma reestruturação

organizacional com destaque para a criação de um grupo com características menos

operacionais, especializado no desenvolvimento de análises de TCO e isolado das

atividades tradicionais dos processos de compras. Dessa forma, a adoção do TCO

tem relação direta com uma mudança considerável no perfil do profissional da área

de suprimentos das empresas.

Page 149: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

139

Muito mais do que apenas responder às pressões por reduções dos custos de

compras, as empresas que optam pela adoção do TCO estão buscando desenvolver

sua base de fornecedores considerados estratégicos para seus negócios. Uma das

principais características que pôde ser associada ao uso do TCO foi o estreitamento

do relacionamento entre compradores e fornecedores, tanto através do

compartilhamento de informações como através da intensificação da realização de

contratos de maior duração.

Além disso, as análises de custo total de propriedade são extremamente

dependentes da organização do processo de compras a partir do trabalho de

equipes multifuncionais. A equipe de suprimentos possui um papel fundamental na

coordenação das atividades dessas equipes. Entretanto, a grande abrangência das

informações necessárias para composição dos modelos de TCO ressalta a

importância do envolvimento de diversas áreas funcionais da empresa ao longo do

desenvolvimento dos estudos.

Tendo relação direta com a necessidade de formação de equipes multifuncionais, a

participação da alta gerência pôde ser caracterizada como intensa, principalmente

nas etapas iniciais dos estudos e na validação dos resultados dos modelos de

fornecimento com as diretorias e/ou gerências das áreas usuárias.

As categorias de compras que aparecem como mais propensas aos estudos de

custo total de propriedade são as de bens de capital e materiais, porém existiriam

indícios de que itens das categorias de matérias-primas e serviços também

poderiam ser abordados pelas análises de TCO.

A participação expressiva das categorias de bens de capital e materiais nos estudos

de custo total de propriedade indica que as empresas percebem maiores benefícios

da metodologia quando utilizada em decisões de compra de itens com ciclos de vida

mais longos. A partir dessa constatação, é possível concluir que outras indústrias,

em que as compras de itens das categorias de bens de capital e materiais são de

grande representatividade, também poderiam se beneficiar consideravelmente da

aplicação do TCO.

Page 150: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

140

Entretanto, é importante destacar que a decisão de em quais compras adotar a

metodologia de custo total de propriedade não está relacionada à categoria de

compras do item e sim à sua importância estratégica. Tendo em vista o considerável

investimento de tempo e de recursos exigidos na elaboração dos modelos, as

empresas têm adotado o TCO apenas no processo de compras de itens

estratégicos, isto é, itens com grande valor de compra, impacto direto no negócio da

empresa e alta complexidade do mercado fornecedor.

As empresas descartariam a implementação simultânea do TCO nas diversas

categorias de compras, optando pela definição de um planejamento inicial e pela

priorização dos estudos. A definição do plano de implementação e da ordem das

categorias de compras tem sido feita a partir de análises de estimativas dos ganhos

e de complexidade dos estudos.

Além disso, os resultados obtidos apontam uma preferência pela construção de

modelos customizados de custo total de propriedade. Tal fato pode indicar que os

benefícios obtidos a partir da construção de modelos customizados mais do que

compensam a necessidade maior de tempo para seu desenvolvimento.

Adicionalmente, a opção por modelos customizados resulta também em maior

complexidade na etapa de levantamento de informações de custos. Porém, um

aspecto que pode indicar que, futuramente, o processo de obtenção de dados

poderá ser simplificado é o uso efetivo de sistemas de informação integrados.

Finalmente, além das iniciativas que começam a surgir nas empresas com relação

ao uso dos modelos de TCO como ferramenta de alavancagem dos esforços de

melhoria contínua, a expansão da utilização da metodologia para categorias de

compras, como, por exemplo, a categoria de serviços, pode representar novos e

interessantes desafios para os profissionais e pesquisadores do campo de Compras.

De forma geral, é possível afirmar que as características da adoção do custo total de

propriedade aqui relatadas parecem indicar que, no Brasil, esse processo tem sido

desenvolvido de forma muito semelhante à implementação do TCO em empresas

Page 151: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

141

norte-americanas e européias, às quais grande parte da literatura utilizada neste

estudo se refere.

5.2. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Pelo fato de a adoção do custo total de propriedade ainda ser uma iniciativa recente

nas empresas estudadas, e considerando que esta seria uma metodologia com

resultados de grande impacto no longo prazo, existiriam algumas limitações com

relação à observação dos resultados, principalmente no que tange os benefícios

obtidos.

Além disso, o estudo focou a adoção do TCO sob a ótica das empresas

compradoras. Buscou-se identificar a percepção dos fornecedores sobre as

mudanças que ocorreram com a implementação da metodologia, porém, tais

percepções foram obtidas a partir da visão das próprias empresas compradoras.

Nenhum fornecedor foi contatado durante a pesquisa.

5.3. RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

O presente estudo focou suas análises no processo de adoção do custo total de

propriedade por empresas brasileiras de grande porte. Como o porte da empresa

poderia ser considerado um dos fatores que determinaria o poder existente entre

compradores e fornecedores, seria interessante entender a diferença nos desafios

enfrentados por empresas de menor porte na adoção do custo total de propriedade.

Apesar de não serem destacadas na literatura possíveis diferenças entre empresas

de grande e pequeno porte, é provável que elas existam, considerando que o TCO é

uma metodologia que exigiria o envolvimento de fornecedores e teria impacto direto

sobre o relacionamento entre compradores e fornecedores.

Além disso, como o relacionamento entre compradores e fornecedores parece ser

fortemente afetado pela adoção do custo total de propriedade, seria interessante

desenvolver um estudo sob a perspectiva dos fornecedores de empresas que

Page 152: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

142

passaram a utilizar essa metodologia em seus processos de compras, isto é, quais

as mudanças percebidas, quais benefícios e quais problemas foram enfrentados por

esses fornecedores.

Page 153: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO – ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM AS EMPRESAS

1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA EMPRESA

Razão Social

Faturamento

Número de empregados

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ÁREA DE SUPRIMENTOS

Organização da área e atribuições. Para quem a área se reporta na empresa?

Divisões e especialização dentro da área de suprimentos. Número de empregados e

formação.

Participação de compras nos custos da empresa

Para quais tipos de compras a empresa utiliza o custo total de propriedade? Por

quê? Existe relação entre importância da compra e uso do custo total de

propriedade? Qual a representatividade dos itens comprados com base no TCO para

o custo total de compras?

3. MOTIVAÇÕES PARA ADOÇÃO DO CUSTO TOTAL DE PROPRIEDADE

Nos anos anteriores à adoção do custo total de propriedade, quais eram os desafios

da área de suprimentos dentro da empresa? Quais os principais problemas que

estavam associados às questões de fornecimento?

Como era realizado o processo de compras (dos itens que agora usam TCO) antes

da adoção do custo total de propriedade? Que ferramentas eram usadas no

gerenciamento de compras? As decisões eram baseadas em que?

Page 159: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

149

Em que ano a empresa decidiu implementar o custo total de propriedade? Como a

empresa tomou conhecimento da ferramenta? Alguém trouxe a idéia (consultoria,

algum funcionário, etc.)? De onde partiu esta decisão? Quais foram as motivações

para adotar esta ferramenta? Quais objetivos eram pretendidos?

4. PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO

Como a empresa se organizou para dar início à implementação? Quem participou do

processo?

Foram formadas equipes multifuncionais? Que outras áreas funcionais da empresa

foram envolvidas no processo?

Houve contratação de consultoria externa? Caso afirmativo, como ela participou do

processo de implementação? Quais eram as responsabilidades delegadas à

consultoria?

Que barreiras/entraves foram enfrentadas no início da implementação? Como estas

barreiras foram superadas? Existiu alguma resistência por parte da organização? E

por parte do pessoal da área de suprimentos?

As etapas da implementação eram bem definidas? Quais eram elas?

A implementação foi simultânea ou ocorreu priorização de determinada categoria de

compras? Existiu projeto piloto ou a implementação foi feita de uma só vez? Quais

foram os critérios para a priorização das categorias?

Ocorreram mudanças na organização da área após a adoção do custo total de

propriedade (mudanças de organograma, mudanças de atribuições, etc)? Quais?

Ocorreu algum treinamento antes e/ou após a implementação? Em que consistiu

este treinamento?

Page 160: a adoção do custo total de propriedade no processo de compras de

150

5. UTILIZAÇÃO DO CUSTO TOTAL DE PROPRIEDADE

Atualmente quem desenvolve os modelos de custo total de propriedade?

Existe um grupo padrão de fatores de custo que são levantados (ex: fatores

associados à qualidade, entrega, comunicação, manutenção, tecnologia, etc.) ou

cada decisão de compra é estudada separadamente? Se existe um grupo de fatores

comuns a todos os modelos, quais são eles?

Existe diferença nos tipos de custos contemplados pelos modelos entre diferentes

categorias de compras? E dentro de determinada categoria? Por quê?

Como foi feita a seleção dos custos que iriam ser contemplados nos modelos de

custo total de propriedade? Como é feito o levantamento desses custos?

Quais custos são considerados mais importantes e por quê?

Que tipos de informações são usadas nos modelos de custo total de propriedade:

custos diretos, alocação de custos (custeio ABC) e aspectos qualitativos? Como os

aspectos qualitativos são considerados no modelo? Como os fatores que não são

quantificáveis são considerados nas decisões de compras (por exemplo,

certificações ISO)?

Como a empresa utiliza o custo total de propriedade no relacionamento com seus

fornecedores? Existe diálogo para questionar a realização de determinadas

atividades? Existe abertura para desenvolver melhorias nos processos do fornecedor

com base nas informações do TCO?

Como o TCO tem ajudado nas negociações com fornecedores? E na avaliação de

desempenho?

Os seus fornecedores utilizam custo total de propriedade? Existe encorajamento da

sua empresa para que eles adotem essa ferramenta?

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151

6. BENEFÍCIOS

Quais foram os benefícios obtidos após a implementação? Quais são os resultados

de redução de custos (%) de compras após a adoção do custo total de propriedade?

Foram implementadas melhorias de processos na área de compras da empresa a

partir das análises de custo total de propriedade? Quais? E no processo dos

fornecedores? É possível citar exemplos?

Ocorreu intensificação na realização de contratos de longo prazo após a adoção do

custo total de propriedade? E na formação de alianças estratégicas com

fornecedores?

A empresa obteve benefícios que não estavam previstos antes da adoção da

ferramenta?

A empresa observou alguma mudança no canal de comunicação da área de

suprimentos com outras áreas corporativas da empresa? Quais os relacionamentos

mais afetados?

A empresa observou alguma mudança no relacionamento com seus fornecedores?

Quais as principais mudanças?

Foi observada alguma mudança relacionada ao desenvolvimento dos profissionais

de compras da empresa? E na visão desta sobre a área de suprimentos após a

adoção do custo total de propriedade?

7. PERSPECTIVAS FUTURAS

Quais os próximos passos relacionados ao uso do custo total de propriedade na

empresa?

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152

Existe alguma intenção de expandir a aplicação do custo total de propriedade para

outros tipos de compras?