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Prática Processual Civil Bibliografia consultada: - Edgar Valles, “Prática Processual Civil” (Almedina) - Teixeira de Sousa, “Introdução ao Processo Civil” (Lex) - António Abrantes Geraldes, “Temas da Reforma do Processo Civil”, Vol. I e II (Almedina) I - A Consulta Jurídica 1.1 - A consulta ao cliente O cliente deve ser atendido no escritório. A consulta deve ser marcada sem precipitações, com a brevidade possível. - não fazer esperar o cliente - não ter pressa - aconselhar com segurança, nem que seja necessário chamar o cliente uma segunda vez - tomar nota do que o cliente diz 1.2 - Tentativa de resolução amigável do processo Se a parte contrária estiver representada por advogado, o contacto terá de ser efectuado directamente com esse advogado (art. 107 Lei 15/2005). Acordo: - é o cliente quem decide se quer acordo ou não, e em que termos (art. 95/1 c) EOA) - o advogado pode dar a sua opinião, pode orientar, mas não pode sobrepor a sua vontade ao cliente - acordo enquanto título executivo: o direito deve estar definido, de forma a que, em caso de incumprimento, se possa recorrer à execução - o documento do acordo deve estar assinado pelo cliente e pela contraparte Prática Processual Civil Lara Geraldes 1 DISCLAIMER Estes apontamentos não dispensam a consulta dos manuais recomendados pela Ordem dos Advogados e dos apontamentos das aulas

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Prática Processual Civil

Bibliografia consultada:- Edgar Valles, “Prática Processual Civil” (Almedina)- Teixeira de Sousa, “Introdução ao Processo Civil” (Lex)- António Abrantes Geraldes, “Temas da Reforma do Processo Civil”, Vol. I e II

(Almedina)

I - A Consulta Jurídica

1.1 - A consulta ao cliente

O cliente deve ser atendido no escritório.A consulta deve ser marcada sem precipitações, com a brevidade possível.- não fazer esperar o cliente- não ter pressa- aconselhar com segurança, nem que seja necessário chamar o cliente uma

segunda vez - tomar nota do que o cliente diz

1.2 - Tentativa de resolução amigável do processo

Se a parte contrária estiver representada por advogado, o contacto terá de ser efectuado directamente com esse advogado (art. 107 Lei 15/2005).

Acordo:- é o cliente quem decide se quer acordo ou não, e em que termos (art. 95/1

c) EOA)- o advogado pode dar a sua opinião, pode orientar, mas não pode sobrepor a

sua vontade ao cliente- acordo enquanto título executivo: o direito deve estar definido, de forma a

que, em caso de incumprimento, se possa recorrer à execução- o documento do acordo deve estar assinado pelo cliente e pela contraparte

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DISCLAIMER

Estes apontamentos não dispensam a consulta dos manuais recomendados pela Ordem dos Advogados e dos

apontamentos das aulas

1.3 - A gestão do cliente e do seu processo

Honorários

Os advogados estão obrigados a praticar honorários adequados aos “serviços efectivamente prestados” (art. 100/1 EOA).

Não existe nenhuma tabela de fixação de honorários. Critérios de fixação:- art. 100 EOA: 1. compensação económica adequada pelos serviços prestados;2. apresentação de conta ao cliente com discriminação dos serviços prestados;3. critérios: importância dos serviços prestados, dificuldade e urgência do

assunto, grau de criatividade intelectual, resultado obtido, tempo despendido, responsabilidades assumidas e usos profissionais.

Não podem ser apresentados “orçamentos”, mas apenas estimativas. Mas é permitido um ajuste prévio de honorários (art. 101/3 EOA).

Tabelas de honorários (Parecer do Conselho Superior da OA de 8 de Fevereiro de 2006):- aplica-se a legislação da concorrência, sendo o advogado, profissional liberal,

equiparado a uma empresa, e a OA a uma associação profissional que actua em representação dos seus membros;

- art. 4/1 a) Lei da Concorrência proíbe práticas concertadas entre empresas, que tenham por objecto a restrição da concorrência;

- por isso, a OA não pode aprovar tabelas de honorários, mínimos ou máximos, uma vez que essas tabelas são contrárias à legislação actual (nulidade).

Organização

Agenda: deve estar organizada e conter indicações dos assuntos a tratar, no decurso de cada dia, incluindo os prazos judiciais de processos cuja tramitação esteja a decorrer em tribunal.

Classificação de tarefas: começar pelas tarefas mais importantes.

As actividades semelhantes devem ser concentradas por assuntos ou áreas, para uma maior eficiência.

As reuniões devem ser marcadas com ordem de trabalhos e objectivos concretos.

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II - Acesso ao Direito

2.1 - Modalidades do acesso ao direito e à justiça

Modalidades de resolução extra-judicial de conflitos (por ordem):

• Negociação:- não é propriamente um mecanismo extra-judicial de resolução de litígios,

uma vez que nele apenas participam ambas as partes (sem mediador ou conciliador)

• Mediação de conflitos:- pretende-se que ambas as partes encontrem uma solução extra-judicial- o mediador não pode propor uma solução

• Conciliação:- o conciliador propõe a solução a aplicar, mas essa proposta não vincula as

partes

• Arbitragem:- a decisão do tribunal arbitral vincula ambas as partes

2.2 - O conceito de insuficiência económica

Protecção jurídica

Manifestação do direito ao acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva, consagrado no art. 20 CRP:

Artigo 20.º(Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva)

1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.

2. Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.

3. A lei define e assegura a adequada protecção do segredo de justiça.

4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objecto de decisão em prazo razoável e mediante processo equitativo.

5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efectiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos.

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- art. 208 da CRP:Artigo 208.º

(Patrocínio forense)

A lei assegura aos advogados as imunidades necessárias ao exercício do mandato e regula o patrocínio forense como elemento essencial à administração da justiça.

Modalidades de protecção jurídica (art. 6 da Lei 34/2004 - Regime do Acesso ao Direito e aos Tribunais):- consulta jurídica- apoio judiciário

Conceito de insuficiência económica (art. 8 da Regime do Acesso ao Direito e aos Tribunais)Encontra-se em situação de insuficiência económica aquele que não tem condições objectivas para suportar pontualmente os custos de um processo, tendo em conta, em relação ao seu agregado familiar:- o rendimento- o património- a despesa permanente

A insuficiência económica é apreciada de acordo com os critérios constantes do art. 8-A da Regime do Acesso ao Direito e aos Tribunais e da Portaria 1085-A/2004.

Apoio judiciário

Requerimento de protecção jurídica (incluindo apoio judiciário): a apresentar em qualquer serviço da da segurança social (art. 22/1 da Regime do Acesso ao Direito e aos Tribunais). A decisão deverá ser proferida no prazo de 30 dias (art. 25/1) - se os serviços da segurança social nada disserem, entende-se que o pedido foi tacitamente diferido (art. 25/2).

É vedado aos advogados que prestem serviços no âmbito da protecção jurídica auferir, com base neles, outra remuneração que não aquela que consta da Portaria 10/2008 (Regulamentação do Regime de Acesso ao Direito e aos Tribunais).

2.3 - Revogação e caducidade do benefício

Cancelamento da protecção jurídica: art. 10

Caducidade da protecção jurídica: art. 11- pelo falecimento/dissolução da pessoa a quem foi concedida, salvo se:

• os sucessores na lide juntarem cópia do requerimento de apoio judiciário (no incidente de habilitação de herdeiros) - cfr. 8.4 infra

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- pelo decurso do prazo de um ano após a concessão de protecção jurídica sem que tenha sido prestada consulta ou instaurada acção em juízo (por motivo imputável ao requerente, e não ao patrono)

Supervenientemente: art. 13 - aquisição de meios económicos suficientes.

2.4 - Efeitos na instância

O apoio judiciário deve ser requerido antes da primeira intervenção processual (v.g. petição inicial ou contestação) - art. 18/2 da Regime do Acesso ao Direito e aos Tribunais. Quando o pedido é apresentado na pendência de acção o prazo que estiver em curso interrompe-se (v.g. prazo para contestar). A *contagem do prazo não se suspende - reinicia-se (art. 24/4 e 5); o prazo entretanto decorrido fica sem efeito.

No caso de não se encontrar a decorrer ainda nenhuma acção, a acção considera-se proposta na data em que for apresentado o pedido de nomeação de patrono (art. 33/4).O patrono nomeado para a propositura da acção deve intentá-la nos *30 dias subsequentes à notificação da nomeação (art. 33/1).

O patrono nomeado pode pedir escusa nos termos do art. 34, em requerimento a apresentar junto da OA. Neste caso, o *prazo que estiver em curso interrompe-se nos mesmos termos supra (art. 24/5, ex vi do art. 34/2). Deve, contudo, comunicar no processo o facto de ter apresentado esse pedido (art. 34/3).

*Nota sobre prazos:A contagem dos prazos obedece às regras gerais do processo civil (art. 38).

Conclusão:- o pedido de concessão de apoio judiciário interrompe os prazos judiciais nos

termos supra uma vez que a insuficiência económica não é imputável ao requerente

No caso de concessão de apoio judiciário, o advogado deve referir, na parte final da peça processual:

“Junta: [•] documentos, comprovativo do pedido de apoio judiciário junto da Segurança Social e duplicados legais

O Advogado,(nomeado oficiosamente)

[carimbo: assinatura e domicílio profissional]”

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Nomeação oficiosa

Nomeação oficiosa (art. 43): não deve confundir-se com o regime da protecção jurídica (apoio judiciário) supra. Resulta do imperativo constitucional da garantia de acesso ao direito e à Justiça (art. 20/1, 1ª parte CRP - “a todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos”). - exemplo: nomeação de advogado oficioso para quem não encontre quem

voluntariamente aceite o patrocínio - neste caso, na parte final da peça processual, deve o advogado referir:

“Junta: [•] documentos, comprovativo de nomeação oficiosa de patrono e duplicados legais

O Advogado,(nomeado oficiosamente)

[carimbo: assinatura e domicílio profissional]”

Nos exercícios e testes de Prática Processual Civil, é frequente que o caso prático seja formulado nos seguintes termos: “Imagine que foi nomeado por Alberto para...”.

2.5 - Protecção jurídica em casos de litígios transfronteiriços

Decreto-Lei 71/2005: Regime do Acesso ao Direito e aos Tribunais no Âmbito dos Litígios Transfronteiriços.

Conceito de litígio transfronteiriço: requerente de protecção jurídica tem, à data de apresentação do pedido, domicílio ou residência habitual num Estado membro da UE, diferente do Estado membro do foro (art. 2/2).

III - Actos Processuais das Partes

3.1 - Forma dos actos

A forma dos actos deve obedecer ao disposto no art. 138.

3.2 - Lugar da prática dos actos

Quando nenhuma razão imponha outro lugar, os actos realizam-se no tribunal, nos termos do art. 149/2.

3.3 - Modalidades do prazo

Os actos devem ser praticados dentro dos prazos fixados pela lei processual.

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Prazo peremptório e prazo dilatório

O prazo processual pode ser (art. 145/1):- peremptório: período de tempo dentro do qual um acto pode ser realizado

• v.g. art. 486/1: o réu pode contestar no prazo de 30 dias a contar da citação

• o decurso do prazo peremptório extingue o direito de praticar o acto (art. 145/3)

- dilatório: prazo a partir do qual o prazo peremptório é contado, ou seja, constitui uma adição ao prazo peremptório (noção prevista no art. 145/2)

• v.g. o mesmo art. 486/1: “(...) começando o prazo a correr desde o termo da dilação, quando a esta houver lugar”

O prazo dilatório soma-se ao peremptório, contando-se como um só (art. 148).

Dilação: circunstâncias que justificam um acréscimo de prazo; art. 252-A - ao prazo [peremptório] de defesa do citado (v.g. 30 dias) acrescem:- 5 dias: citação realizada em pessoa diversa do réu (arts. 236/2 e 240/2 e 4)

• carta recebida por pessoa que se encontre na residência ou local de trabalho do réu (no caso de citação de pessoa singular) - art. 236/2

- já as pessoas colectivas podem ser citadas na pessoa de qualquer empregado, sem haver lugar à dilação em “pessoa diversa” (art. 231/3)

• citação por agente de execução ou funcionário judicial com hora certa [i.e., deslocação ao local, mas sem citar], após deixar nota com indicação do dia e hora para a diligência, e:

- realizar a citação na pessoa do citando ou em pessoa capaz de transmiti-la ao citando (art. 240/2); ou

- afixar a nota de citação na presença de duas testemunhas (art. 240/4)- 5 dias: citação fora da comarca sede do tribunal onde pende a acção (v.g.

acção que corre em Lisboa e o réu é citado em Setúbal, onde reside) - 15 dias: citação nas regiões autónomas e acção corre no continente e vice-

versa- 30 dias: citação no estrangeiro, por edital ou quando o domicílio tenha sido

convencionado nos termos do art. 237-A/5• acções para cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de

contrato reduzido a escrito em que as partes tenham convencionado o local onde se têm por domiciliadas

• o domicílio convencionado é habitualmente inserido numa cláusula final dos contratos

A dilação resultante de citação realizada em pessoa diversa do réu acresce à dilação eventualmente resultante dos demais motivos supra indicados (art. 252-A/4) - v.g. tendo sido o réu citado em pessoa diversa e fora da comarca sede do tribunal onde pende a acção, a dilação é de 10 dias (5+5).

3.4 - Prazo supletivo legal

Prazo supletivo legal: na falta de disposição legal ou de fixação de prazo pelo juiz, as partes podem requerer qualquer acto ou diligência, arguir nulidades,

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deduzir incidentes ou exercer qualquer outro poder processual, bem como responder à parte contrária, no prazo de 10 dias, contados a partir da notificação do acto a que se responde (art. 153).

3.5 - Suspensão e interrupção do prazo

Férias judiciais

O prazo processual é contínuo, suspendendo-se durante as férias judiciais (art. 144/1). Por isso, em princípio, na contagem dos prazos contam-se sábados, domingos e feriados de forma contínua. Por isso, se o primeiro dia do prazo for uma sexta-feira, sábado e domingo são o 2º e 3º dia, respectivamente.Excepções:- duração do prazo igual ou superior a 6 meses- processos urgentes (v.g. procedimentos cautelares - cfr. infra 10., processo

de insolvência, etc.)

As férias judiciais encontram-se previstas no art. 12 LOFTJ (ver Anexo I, infra):- de 22 de Dezembro a 3 de Janeiro- Domingo de Ramos (em 2011, 17 de Abril) à segunda-feira de Páscoa (em

2011, 25 de Abril)- de 16 de Julho a 31 de AgostoEm qualquer um destes períodos o prazo suspende-se, pelo que a contagem do prazo “congela-se” e recomeça no termo de cada período.

Não se praticam actos processuais nos dias em que os tribunais estiverem encerrados, nem durante o período de férias judiciais (art. 143/2).Excepções:- citações- notificações- actos que se destinem a evitar dano irreparável

3.6 - Prazos: regras gerais

Citação e notificação: quando se consideram feitas?

Citação: chamamento do réu ao processo, para se defender, ou chamamento de qualquer interessado na causa (art. 228/1).Notificação: comunicação de factos a qualquer uma das partes, num processo já pendente, ou chamamento a juízo de qualquer pessoa nos demais casos (art. 228/2).

• a notificação de (i) despachos que designem dia para qualquer acto em que devam comparecer determinadas pessoas e de (ii) sentenças e despachos em geral, deve ser feita oficiosamente pela secretaria nos termos do art. 229/1.

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O réu é citado apenas uma vez (para contestar), mas pode ser notificado várias vezes, através do seu advogado (art. 253/1).

Conforme já referimos, as citações e notificações podem ser efectuadas em férias judiciais (art. 143/2), mas o prazo para a prática de actos processuais encontra-se suspenso. Por isso, o primeiro dia do prazo é o primeiro dia após as férias (mesmo que sábado, domingo ou feriado).

Citação

A instância inicia-se pela propositura da acção. A acção considera-se proposta, intentada ou pendente logo que seja recebida na secretaria ou transmitida nos termos do art. 150 (via CITIUS). Porém, o acto da propositura da acção não produz efeitos em relação ao réu senão a partir do momento da citação (art. 267).

A citação pode ser (art. 233/1):• pessoal • edital (citação de pessoa incerta ou de paradeiro desconhecido)

Meios de citação pessoal (art. 233/2):- transmissão electrónica de dados- entrega ao citando de carta registada com aviso de recepção- contacto pessoal do agente de execução ou de funcionário judicial (uma vez

frustrada a via postal)

A citação postal considera-se feita no dia em que o destinatário assina o aviso de recepção (art. 238/1).

Modelo de citação

Assunto: Citação por carta registada com aviso de recepção

Nos termos do disposto no art. 236 do CPC, fica V. Exa. citado para, no prazo de [30] dias, contestar, querendo, a acção acima identificada, com a advertência de que a falta de contestação importa a confissão dos factos articulados pelo autor.

Pode no mesmo prazo deduzir em reconvenção o seu direito a indemnização e/ou a benfeitorias.

Ao prazo de defesa acresce uma dilação de [•] dias.

No caso de pessoa singular, quando a assinatura do aviso de recepção não tenha sido feita pelo próprio, acrescerá a dilação de 5 dias (art. 236 e 252-A do CPC).

A citação considera-se efectuada no dia da assinatura do aviso de recepção.

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O prazo é contínuo, suspendendo-se, no entanto, durante as férias judiciais, que correm de 22 de Dezembro a 3 de Janeiro, de Domingo de Ramos à segunda-feira de Páscoa e de 16 de Julho a 31 de Agosto (ver Anexo I, infra).

Terminado o prazo em dia que os tribunais estiverem encerrados, transfere-se o seu termo para o primeiro dia útil seguinte.

[Fica advertido de que é obrigatória a constituição de mandatário judicial]

Juntam-se, para o efeito, um duplicado da petição inicial e as cópias dos documentos que se encontram nos autos.

Nota: sendo requerido nos serviços de Segurança Social benefício de apoio judiciário na modalidade de nomeação de patrono, deverá o citando juntar aos presentes autos, no prazo da contestação, documento comprovativo da apresentação do referido requerimento, para que o prazo em curso se interrompa até notificação da decisão do apoio judiciário (Lei 34/2004).

O Oficial de Justiça,

Notificação

(i) Por carta registada

A maioria das notificações é feita por carta registada, sem que seja utilizado o aviso de recepção.

A notificação postal presume-se feita (art. 254/3) [presunção ilidível]:- no 3º dia posterior ao do registo, quando registada [na contagem incluem-se

sábados, domingos e feriados, mas o 3º dia tem de ser um dia útil]; ou- no 1º dia útil seguinte a esse, quando não seja registada.O dia em que a notificação se considera feita é também o dia “0” da contagem do prazo. Exemplo: se a notificação for expedida sexta-feira, considera-se feita na segunda-feira (3 dias depois, incluindo sábado e domingo) e o primeiro dia de prazo é terça-feira.Se o 3º dia posterior ao do registo for sábado, domingo ou feriado, a notificação considera-se feita no 1º dia útil seguinte (cfr. art. 144/2, que veremos infra).

O advogado deve trabalhar com base no dia em que a notificação se considera feita, de acordo com as regras supra, independentemente do dia do efectivo recebimento.

(ii) Por via electrónica: CITIUS

Os mandatários que pratiquem actos processuais através do CITIUS (meio preferencial de prática dos actos pelas partes, segundo o art. 150/1) deixam

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de ser notificados por correio registado e são notificados também através do CITIUS (art. 254/2 e Portaria 114/2008).- art. 21-A/5 da Portaria 114/2008 - a expedição da notificação através do

CITIUS presume-se feita:(i) no 3º dia posterior ao da elaboração, ou(ii)no 1º dia útil seguinte a esse, quando o final do prazo termine em dia

não útil- deixa também de ser necessário referir a notificação do mandatário da

contraparte na “juntada”, bastando a referência expressa da utilização do CITIUS para a prática desse acto processual; exemplo:

“Junta (via CITIUS): procuração forense, [•] documentos, DUC e comprovativo do pagamento da taxa de justiça”

Início da contagem do prazo

Conforme foi referido supra, as citações e notificações podem ser efectuadas em férias (art. 143/2). Mas, neste caso, o primeiro dia do prazo é o primeiro dia após as férias, mesmo que seja um dia não útil.

Na contagem dos prazos aplicam-se ainda duas regras gerais:- art. 153/2: o prazo para qualquer resposta conta-se sempre da notificação do

acto a que se responde; e- art. 279 b) CC: na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia em que

ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr.Da conjugação das duas regras supra resulta que na contagem de prazos judiciais não se inclui o dia em que a notificação se considera/presume feita ou em que o réu é citado. Por isso, o primeiro dia de contagem do prazo é o dia seguinte ao da notificação/citação, independentemente de esse dia ser útil ou não.

Em conclusão, o primeiro dia do prazo pode ser um sábado, domingo ou feriado (dia não útil).

Nota: - pergunta-se: se, ao prazo de contestação em processo sumário (20 dias) for

acrescida dilação de 5 dias, v.g. por citação fora da comarca sede do tribunal onde pende a acção, o “primeiro dia do prazo” é o primeiro dia do prazo de 25 dias (os dois prazos contados como um só, ou seja, 20 dias + dilação de 5 dias), ou antes o primeiro dia do prazo de 30 dias proprio sensu, após a dilação de 5 dias?

- exemplo: A foi notificado no dia 30 de Abril, data em que assinou o aviso de recepção; uma vez que foi citado fora da comarca sede do tribunal, o primeiro dia do prazo para contestar é o dia 6 de Maio, ou seja, o 6º dia após a notificação (decorrida a dilação).

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Último dia do prazo

Se o último dia do prazo for um dia em que os tribunais estejam encerrados (sábado, domingo, feriado, ou dia de tolerância de ponto, v.g.), transfere-se o seu termo para o primeiro dia útil seguinte (art. 144/2). Exemplo: se o último dia for sábado, o prazo termina na segunda-feira.

Prorrogação do prazo

A prorrogação do prazo é possível em determinados casos, expressamente previstos na lei (art. 147/1). Exemplo:- contestação, quando haja motivo ponderoso que impeça ou dificulte

anormalmente ao réu ou ao seu mandatário judicial a organização da defesa (art. 486/5); neste caso, o juiz profere despacho no prazo de 24 horas;

- a possibilidade de prorrogação é ainda aplicável a todos os articulados subsequentes à contestação, nos termos do art. 504.

A prorrogação acresce ao prazo peremptório:Se o pedido de prorrogação for deferido, o primeiro dia da prorrogação é o primeiro dia a seguir ao termo do prazo inicial.

Modelo de requerimento de prorrogação do prazo

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], [autor/réu] nos autos à margem identificados, em que é [réu/autor] [•], vem expor e requerer a V. Exa. o seguinte:

1. o [autor/réu] foi notificado para apresentar [contestação/réplica/tréplica] no prazo de [•] dias;

2. sucede que ... [“motivo ponderoso”], cfr. documento [•] que ora se junta;3. estando a findar o prazo para apresentar o articulado, vem solicitar a V.

Exa. se digne conceder prorrogação do prazo, nos termos do art. [486/5 ou 504] do CPC.

Junta: um documento.

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

Nota geral sobre a elaboração de peças processuais:- o advogado deve sempre redigir a peça na 3ª pessoa do singular, uma vez

que o faz em nome da parte (“junta”, “requer”, etc.).

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Multa

Independentemente de justo impedimento (cfr. 3.7 infra), as partes podem praticar o acto nos 3 dias úteis subsequentes ao termo do prazo mediante pagamento imediato de multa progressiva (1/4 da taxa de justiça por cada dia de atraso, não podendo a multa exceder 3 UC - art. 145/5).A parte deverá ainda fazer prova do pagamento da multa, juntando o comprovativo de pagamento aos autos.

A parte que beneficiar de apoio judiciário está também sujeita ao pagamento da multa progressiva, excepto em casos de “manifesta carência económica” (art. 145/8).

1 UC = 1 unidade de conta (actualmente, € 102)3 UC = € 306

Passos para resolução de exercícios sobre prazos

1. qual a data em que se considera feita a citação/notificação? (ver infra §1.)- pode ocorrer durante as férias judiciais; caso em que o primeiro dia do prazo será o primeiro dia após as férias (v.g. 1 de Setembro)2. qual o prazo do acto a praticar? (prazo peremptório)- ver forma de processo (ordinário, sumário, sumaríssimo)3. na contagem dos prazos não se inclui o próprio dia (art. 153/2 e art. 279/b)

CC)4. suspensão de prazos em férias judiciais - art. 12 LOFTJ e Anexo I, infra;

mas podem começar ao sábado, domingo ou feriado5. há alguma dilação? (prazo dilatório)- se sim, a dilação resultante de citação em pessoa diversa do réu (alínea a))

acresce às demais (v.g. 5 dias + 5 dias; 5 dias + 15 dias, etc.) - art. 252-A - o prazo dilatório e o prazo peremptório contam-se como um só (art. 148)6. multa progressiva: 3 dias úteis (art. 145/5)

Data em que se considera feita a citação:

citação pessoalcitação pessoalcitação pessoalcitação pessoal citação edital

carta registada AR domicílio convencionado

funcionário jud./ solicitador exec.

mandatário judicial

no dia em que foi assinado o AR (art. 238/1)

no dia em que é lavrada certificação da nota do distribuidor do serviço postal (art. 237-A/3)

no dia em que é lavrada certidão da entrega (art. 239/3)

no dia em que é lavrada certidão da entrega (art. 239/3, ex vi do art. 245/1)

no dia da publicação do último anúncio ou dia da afixação dos editais (art. 250/1)

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Data em que se considera feita a notificação:

notificações pela secretaria notificações entre mandatários

presume-se feita no 3º dia posterior ao do registo da expedição (art. 254/3)- se o 3º dia for sábado, domingo ou

feriado, a notificação considera-se feita no 1º dia útil seguinte, mesmo que em férias

1º dia do prazo: o dia seguinte àquele em que se considera feita a notificação, mesmo que sábado, domingo ou feriado

o prazo começa a contar ao sábado, domingo e feriado, nos termos gerais

notificação por transmissão electrónica

presume-se feita na data da expedição (mesmo que às 18 horas de 6ª feira) - art. 254/5

considera-se feita no dia em que foi efectivamente recebida (v.g. notificação por carta registada com AR: presume-se feita no 3º dia) - art. 260-A/1

1º dia do prazo: o dia seguinte àquele em que se considera feita a notificação, salvo se- notificação se considerar feita em véspera

de sábado, domingo ou feriado--- 1º dia de prazo: 1º dia útil seguinte- notificação se considerar feita em véspera

de férias judiciais--- 1º dia de prazo: 1º dia após as férias

notificação por transmissão electrónica

notificação considera-se feita no dia da expedição (art. 150/1, ex vi do art. 260-A/1)

qual é o dia da expedição?pelo CITIUS (art. 21-A Portaria 114/2008): - expedição presume-se feita no 3º dia

posterior ao da elaboração;- expedição presume-se feita no 1º dia útil

seguinte a esse, quando o final do prazo termine em dia não útil

3.7 - Justo impedimento

Justo impedimento: evento não imputável à parte ou ao seu mandatário que obste à prática atempada do acto (arts. 145/4 e 146/1).Apresentação de requerimento pela parte ao juiz logo que o impedimento cessar, oferecendo logo a respectiva prova (art. 146/2).A verificação do impedimento é de conhecimento oficioso quando o evento não imputável à parte ou ao seu mandatário que obste à prática atempada do acto constitua facto notório (arts. 146/3 e 514/1).

IV - Exames de Processos e Passagem de Certidões

Publicidade do processo: o processo civil é, em princípio, público (art. 167/1) - vs. processo penal. Exemplos de excepções (art. 168):- anulação de casamento, divórcio e separação de pessoas e bens- procedimentos cautelares pendentes A publicidade do processo implica o direito dos advogados ao exame e consulta dos autos na secretaria e de obtenção de cópias ou de certidões de quaisquer peças do processo, sem necessidade de exibir procuração, em termos que veremos infra (art. 167/2 e art. 74 EOA).

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4.1 - Processos que podem ser examinados

Podem ser examinados todos os processos em que a divulgação do seu conteúdo (art. 168/1):- não cause dano à dignidade das pessoas- não cause dano à intimidade da vida privada ou familiar- não cause dano à moral pública- não ponha em causa a eficácia da decisão a proferir

O acesso aos processos pode ainda ser feito por meios informáticos, nos termos do art. 167/3.

Exame fora da secretaria

Nos termos do art. 169 (confiança do processo), os advogados (incluindo os patronos por nomeação oficiosa) e os magistrados do MP podem solicitar, oralmente ou por escrito, que os processos pendentes lhes sejam confiados para exame fora da secretaria do tribunal. Compete à secretaria a decisão do pedido.

Modelo de pedido de confiança no processo (exame fora da secretaria)

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Escrivão

[Nome], Advogado, com escritório na [•], mandatário do [autor/réu] [•], necessitando de examinar o processo no seu escritório, requer a sua confiança pelo período de cinco dias.

O Advogado, [carimbo: assinatura e domicílio profissional]

4.2 - Prazos e limites para passagem de certidões

A secretaria deve, sem precedência de despacho judicial, passar as certidões de todos os termos e actos processuais que lhe tenham sido requeridas (oralmente ou por escrito) - art. 174:- pelas partes- por mandatário judicial- por quem revele “interesse atendível” em obtê-las

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Prazos

As certidões são passadas dentro do prazo de 5 dias, salvo em caso de urgência ou de manifesta impossibilidade (art. 175).

Limites

Contudo, nenhuma certidão será passada sem prévio despacho judicial sobre a justificação da sua necessidade, em requerimento escrito, relativamente aos processos cuja divulgação do seu conteúdo (art. 168/1, ex vi do art. 174/2):- cause dano à dignidade das pessoas- cause dano à intimidade da vida privada ou familiar- cause dano à moral pública- ponha em causa a eficácia da decisão a proferir O despacho deverá referir os limites da certidão (v.g. apenas a um número limitado de fls. do processo, ou relativamente a uma das peças processuais, etc.).

Recusa

A recusa, pela secretaria, da passagem de certidões dá lugar à remessa do processo ao juiz para decisão judicial, nos termos do art. 172/2, ex vi do art. 175/2.

V - Custas Processuais

As custas processuais compreendem (art. 447):- taxa de justiça (art. 447/2: o montante devido pelo impulso processual de

cada interveniente) - cfr. infra 5.1- encargos (arts. 447/3 e 447-C: despesas resultantes da condução do

processo, requeridas pelas partes ou ordenadas pelo juiz)• v.g. honorários de peritos em prova pericial ou compensações devidas às

testemunhas- custas de parte (art. 447/4 e 447-D: corresponde ao que cada parte haja

despendido com o processo e tenha direito a ser compensada em virtude da condenação da parte contrária) - cfr. infra 5.4

• v.g. honorários de advogados ou taxa de justiça

O novo Regulamento das Custas Processuais, aprovado pelo Decreto-Lei 34/2008, aplica-se a todos os processos entrados a partir do dia 1 de Setembro de 2008.

5.1 - As taxas de justiça

A taxa de justiça é paga pelas seguintes partes (art. 447-A):- autor e réu - exequente e executado

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- requerente e requerido- recorrente e recorrido

No caso de reconvenção ou intervenção principal só é devida taxa de justiça suplementar quando o reconvinte deduza um pedido distinto do autor (art. 447-A/2).

Com o Regulamento das Custas Processuais deixa de existir a distinção entre taxa de justiça inicial e subsequente, passando a haver um só momento de pagamento para cada parte, na totalidade.

A taxa de justiça é expressa com recurso à “unidade de conta” (UC) que tem, em 2011, um valor de € 102 (art. 5/1 do Regulamento das Custas Processuais).

A taxa de justiça é fixada de acordo com o valor e a complexidade da causa e deve ser paga até ao momento da prática do acto processual sujeito à taxa (arts. 6/1 e 14/1 do Regulamento das Custas Processuais):- pelo autor, até ao momento de apresentação da petição inicial- pelo réu, até ao momento de apresentação da contestaçãoA taxa de justiça é, assim, suportada pelo autor e pelo réu.

Consideram-se de especial complexidade as acções que (art. 447-A/7):(i) digam respeito a questões de elevada especialização jurídica, especifidade

técnica ou importem a análise de questões jurídicas de âmbito muito diverso

(ii)impliquem a audição de um elevado número de testemunhas, a análise de meios de prova extremamente complexos ou a realização de diligências de produção de prova morosas

A parte que entregar a peça processual via CITIUS beneficia de “descontos” substanciais do valor da taxa de justiça.

(i) Petição inicial

O autor deve juntar à petição inicial o documento comprovativo do prévio pagamento de taxa de justiça ou da concessão do benefício de apoio judiciário (dispensa total ou parcial do pagamento da taxa de justiça) - cfr. art. 467/3.

• ficam dispensadas do pagamento prévio da taxa de justiça as partes que beneficiarem de apoio judiciário (art. 15 b) do Regulamento das Custas Processuais)

O montante deverá ter sido previamente liquidado pelo autor, através do seu mandatário:- por transferência bancária- através do multibanco (pagamentos ao Estado > custas judiciais > taxa de

justiça)

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(ii) Contestação

O réu deve igualmente juntar o documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça (art. 467/3 e 4, ex vi do art. 486-A/1).

5.2 - Consequência da falta de pagamento

(i) Petição inicial

A petição inicial é recusada pela secretaria quando não tenha sido comprovado o prévio pagamento da taxa de justiça, nos termos do art. 474 f). Neste caso, ao autor é-lhe conferido o benefício de juntar o documento em falta (art. 476).

(ii) Contestação

Se o réu não juntar o documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça, será notificado pela secretaria para, em 10 dias, efectuar o pagamento omitido, com acréscimo de multa (art. 486-A/3).Se, mesmo assim, não o fizer, e depois de verificado o procedimento a que alude o art. 486-A/4 e 5, o tribunal determina o desentranhamento da contestação e, se for caso disso, da réplica (art. 486-A/6).

5.3 - Responsabilidade pelas custas

Quando há lugar ao pagamento de custas? - art. 446/1: • decisão que julga uma acção• decisão que julga algum dos incidentes de uma acção• recurso

Regra geral: é condenada em custas a parte que (i) der causa às custas [i.e., a parte vencida, na porção em que o for] ou (ii) tirou proveito do processo (art. 446/1, in fine e nº 2).

A solidariedade em obrigação solidária estende-se às custas (art. 446/3).

Caso a sentença não seja inteiramente condenatória (v.g. condenação em € 1.000, quando o pedido era de € 10.000), as custas são “na proporção de vencido”, pelo que o réu apenas pagará 1/10 das custas, e o autor pagará o remanescente.

5.4 - A restituição de custas de parte

As custas de parte (incluindo honorários, taxas de justiça, encargos, etc.) são restituídas nos termos do art. 447-D: a parte vencedora deverá enviar uma nota discriminativa e justificativa das custas de parte ao tribunal e à parte vencida, até 5 dias após trânsito em julgado da acção (art. 447-D/3 e art. 25/1 do Regulamento das Custas Processuais).

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Diplomas em vigor consoante a data de entrada do processo:

- até 1 Janeiro 2004: Código das Custas Judiciais (na versão anterior ao Decreto-Lei 324/2003)

- entre 1 Janeiro 2004 e 20 Abril 2009: Código das Custas Judicias (na versão do Decreto-Lei 324/2003)

- após 20 Abril 2009: Regulamento das Custas Processuais

Multas

Regra geral: quando nada se diga, a multa será fixada entre 0,5 e 5 UC (art. 27/1 do Regulamento das Custas Processuais).

VI - Actos da Secretaria; Citação e Notificação

6.1 - Actos da secretaria

A prática de actos processuais que exijam a intervenção de serviços judiciários pode ser solicitada a outros tribunais ou autoridades através de (art. 176/1):- carta precatória: a realização do acto é solicitada [pelo tribunal deprecante] a

um tribunal [o tribunal deprecado] ou a um cônsul português • v.g. imóvel localizado fora da comarca sede do tribunal onde pende a

acção, e é necessário que um perito proceda à avaliação do mesmo- carta rogatória: a realização do acto é solicitada a autoridade estrangeira

• v.g. inquirição de testemunhas residentes no estrangeiro pelo próprio tribunal estrangeiro ou por teleconferência

Mandado: ordem dada pelo tribunal para execução de acto processual a entidade que lhe está funcionalmente subordinada (art. 176/2).

• v.g. mandado de despejo (depois de proferida sentença em acção de despejo)

Apensação: as causas que, por lei ou despacho, devam considerar-se dependentes de outras são apensadas àquelas de que dependerem (art. 211/2).

• v.g. incidente de habilitação de herdeiros, quando uma das partes haja falecido (art. 372/2) - cfr. 8.4, infra

Notificações oficiosas: cabe também à secretaria notificar oficiosamente as partes para responder a requerimentos, oferecer provas ou exercer algum direito processual (art. 229/2).

6.2 - Modalidades da citação

Conforme referimos (3.6 supra), a citação pode ser (art. 233/1):

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• pessoal • edital

Meios de citação pessoal (art. 233/2):- transmissão electrónica de dados- entrega ao citando de carta registada com aviso de recepção- contacto pessoal do agente de execução ou de funcionário judicial

6.3 - A regra da oficiosidade das diligências de citação

A regra da oficiosidade das diligências de citação encontra-se prevista no art. 234: incumbe à secretaria promover oficiosamente, sem necessidade de despacho judicial prévio, as diligências que se mostrem adequadas à efectivação da regular citação do réu.Excepções:- casos em que a citação depende de prévio despacho judicial (art. 234/4)- citação por agente de execução (arts. 233/2 c) e 239)- citação promovida por mandatário judicial (arts. 233/3 e 245) - cfr. infra 6.4

Há efectivamente casos em que a citação depende de prévio despacho judicial, para além dos casos especialmente previstos na lei (art. 234/4):- procedimentos cautelares e quando incumba ao juiz decidir da prévia

audiência do requerido- casos em que a propositura da acção deva ser anunciada- citação de terceiros a intervir em causa pendente- processo executivo (arts. 812-E/5 e 812-F/2)- citação urgenteNestes casos, pode o juiz indeferir liminarmente a petição inicial, quando o pedido seja manifestamente improcedente ou ocorram, de forma evidente, excepções dilatórias insupríveis e de que o juiz deva conhecer oficiosamente (arts. 234-A/1 e 495). O autor pode apresentar outra petição, nos termos do art. 476 (cfr. art. 234-A/1, in fine).

6.4 - Citação promovida por mandatário judicial

Modelo de certidão de citação promovida por mandatário judicial

[Nome], Advogado com domicílio profissional na [•] e cédula profissional n.º [•], em [data], procedeu à citação pessoal de [Nome], a quem informou que contra ele foi proposta acção de [•].

Foi informado que, no prazo de [30] dias, pode contestar, querendo, a acção acima identificada, com a advertência de que a falta de contestação importa a confissão dos factos alegados pelo A.

Foi o mesmo advertido da suspensão do prazo e da obrigatoriedade de constituição de advogado.

Foi entregue cópia da petição inicial e dos documentos juntos pelo A.

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Citação promovida por mandatário: encontra-se prevista nos arts. 233/3, 245 e 246 e segue o regime da citação por agente de execução ou funcionário do tribunal, mutatis mutandis (art. 239, ex vi do art. 245/1).

6.5 - Notificações entre mandatários

Os actos processuais que devam ser praticados por escrito pelas partes após a notificação da contestação do réu ao autor (i.e., a réplica, a tréplica, etc.), são notificados pelo mandatário judicial da parte ao mandatário judicial da contraparte, nos termos dos arts. 229-A e 260-A.- a notificação considera-se feita no dia em que foi efectivamente recebida

(v.g. notificação por carta registada com AR: presume-se feita no 3º dia) - art. 260-A/1

- especificidades do prazo (art. 260-A/4): se a notificação ocorrer no dia anterior a feriado, sábado, domingo ou férias judiciais, o prazo para resposta (réplica, tréplica, resposta a requerimento autónomo) inicia-se no primeiro dia útil seguinte (ou, no caso das férias, no primeiro dia posterior ao termo das mesmas), salvo no caso de processos urgentes; já na notificação pela secretaria, aplica-se a regra geral: a notificação considera-se efectuada no dia da expedição do fax, v.g., pelo que o primeiro dia do prazo é o dia seguinte a esse (mesmo que se trate de dia não útil)

• porquê? - para evitar que o mandatário notifique o mandatário da parte contrária às 23:59 de uma sexta-feira, por exemplo

• o não cumprimento do dever de notificação do mandatário da parte contrária é uma mera irregularidade, e implica a condenação na multa prevista no art. 152/3, ex vi do art. 260-A/1, 2ª parte

As notificações entre mandatários são realizadas por todos os meios permitidos por lei para a prática de actos processuais (arts. 150 e 152, ex vi do art. 260-A/1):- preferencialmente via CITIUS- correio registado- fax, etc.

Dispõe a Portaria 114/2008:

Artigo 21.º -A (Notificações electrónicas)

1 — As notificações por transmissão electrónica de dados são realizadas através do sistema informático CITIUS, que assegura automaticamente a sua disponibilização e consulta no endereço electrónico http://citius.tribunaisnet.mj.pt. 2 — Quando as notificações sejam realizadas por transmissão electrónica de dados, não há lugar a notificações por qualquer outro meio. 3 — As notificações entre mandatários judiciais das partes são realizadas por transmissão electrónica de dados quando ambos os mandatários: (a) Se tenham manifestado nesse sentido através do sistema informático CITIUS;

ou (b) Tenham enviado para o processo qualquer peça processual ou documento

através do sistema informático CITIUS.

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4 — As notificações às partes em processos pendentes são realizadas por transmissão electrónica de dados, na pessoa do seu mandatário, quando: (a) O mandatário se tenha manifestado nesse sentido através do sistema

informático CITIUS; ou (b) O mandatário tenha enviado, para o processo, qualquer peça processual ou

documento através do sistema informático CITIUS. 5 — O sistema informático CITIUS assegura a certificação da data de elaboração da notificação, presumindo-se feita a expedição no terceiro dia posterior ao da elaboração, ou no primeiro dia útil seguinte a esse, quando o final do prazo termine em dia não útil. 6 — Para efeitos da alínea a) dos n.ºs 1 e 2, os mandatários judiciais registados junto da entidade responsável pela gestão dos acessos ao sistema informático podem declarar, através do endereço electrónico http://citius.tribunaisnet.mj.pt, que pretendem ser notificados apenas por transmissão electrónica de dados em qualquer processo a que a presente portaria se aplique e em que estejam registados no sistema informático como mandatários. 7 — Quando o acto processual a notificar, nos termos do n.º 2, contenha documentos que apenas existam no processo em suporte físico, deve ser enviada cópia dos mesmos ao mandatário, nos termos do artigo 254.º do Código de Processo Civil. 8 — O disposto no presente capítulo aplica-se às notificações enviadas pelo ou para o Ministério Público, no exercício das competências resultantes das alíneas a), d), e) e g) e o) do n.º 1 do artigo 3.º do Estatuto do Ministério Público.

Artigo 21.º -B (Notificações electrónicas entre mandatários)

1 — O sistema informático CITIUS assegura a indicação de que o mandatário da contraparte se manifestou no sentido de ser notificado por via electrónica ou que já enviou, para o processo, uma peça processual ou documento através do sistema informático CITIUS. 2 — Nos casos referidos no número anterior, o sistema informático CITIUS assegura a notificação por transmissão electrónica de dados automaticamente após a apresentação de qualquer peça processual ou documentos pelo mandatário notificante através do sistema informático CITIUS. 3 — Sem prejuízo dos números seguintes, o mandatário notificante fica dispensado do envio de qualquer cópia ou duplicado à contraparte da peça processual ou documento entregue através do sistema informático CITIUS e de juntar aos autos documento comprovativo da data de notificação à contraparte. 4 — Quando o acto processual a notificar contenha documentos entregues em suporte físico, nos termos do disposto no n.º 5 do artigo 5.º ou do n.º 3 do artigo 10.º, deve ser disponibilizada cópia dos mesmos à contraparte, no prazo máximo de cinco dias por qualquer meio legalmente admissível para a prática de actos processuais. 5 — A declaração feita pelo mandatário, nos formulários, da data em que procedeu ou vai proceder ao envio dos documentos referidos no número anterior dispensa o envio de documento comprovativo desse envio, sem prejuízo de o juiz poder determinar a sua apresentação, caso a data declarada seja contestada ou exista outro motivo que o justifique. 6 — Nos casos em que o mandatário declare, nos formulários, que vai proceder ao envio da notificação à contraparte, esse envio deve ser feito no prazo máximo de um dia útil.

6.6 - Notificação judicial avulsa

Notificação judicial avulsa: requerimento dirigido ao juiz, em que se pede ao tribunal para ordenar, mediante despacho, a notificação de um determinado destinatário [o notificado], de modo mais solene do que a carta registada com

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aviso de recepção (art. 261). O requerimento é apresentado em duplicado (art. 261/4). O duplicado da notificação é posteriormente entregue ao notificado pelo agente de execução ou por funcionário de justiça, juntamente com cópia dos documentos que a acompanham, lavrando-se certidão do acto. (art. 261/1 e 2). Não se admite oposição à notificação judicial avulsa, uma vez que não consiste numa acção judicial (art. 262).

Vantagens: a notificação judicial avulsa pode constituir título executivo, sem necessidade de sentença judicial. Exemplos:- A (proprietário) celebrou contrato de arrendamento com B (arrendatário); B

não paga renda há 4 meses, e A pretende pôr termo ao contrato, nos termos do art. 1083/3 CC; nos termos do NRAU (aprovado pela Lei 6/2006), art. 9/7, a resolução é comunicada, entre outros, através de notificação judicial avulsa

- A, vítima de acidente de viação, pretende propor acção de indemnização contra B, condutor; os elementos de prova ainda não foram todos recolhidos pelo seu mandatário e o seu direito está prestes a prescrever; solução: notificação judicial avulsa, uma vez que esta (bem como a citação) interrompe a prescrição, nos termos gerais (art. 323/1 CC)

Pode ainda ser utilizada como forma de interpelação mais formal do que a carta registada com aviso de recepção. Exemplo: A empresta determinada quantia a B (contrato de mútuo); B não restitui o dinheiro na data aprazada e A interpela-o para cumprir a obrigação, mediante notificação judicial avulsa (art. 805/1 CC); mesmo que B não proceda à restituição da quantia devida, o seu eventual silêncio poderá vir a ser interpretado, caso uma acção judicial venha a ser intentada, de que efectivamente celebrou o referido contrato com A.

Modelo de notificação judicial avulsa

Tribunal Judicial de [Comarca]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•], contribuinte n.º [•], vem requerer NOTIFICAÇÃO JUDICIAL AVULSA de [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•], contribuinte n.º [•],O que faz nos termos e com os fundamentos seguintes:

[•]

Pelo que requer a notificação judicial do Requerido, de forma a que lhes seja comunicada [v.g. a resolução do contrato [•]] e a consequente obrigação de [•].

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Nestes termos, e nos demais de direito, deve o Requerido ser notificado de [•] e da consequente obrigação de [•], sob pena de execução.

Junta: procuração forense e [•] documentos.

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

VII - Patrocínio Judiciário

7.1 - O mandato judicial

Patrocínio judiciário (arts. 32 ss.) - o advogado intervém no processo através de:- nomeação oficiosa (apoio judiciário em situações de insuficiência económica -

ver 2.2 supra); ou- contrato de mandato

Mandato judicial: forma de contrato de prestação de serviços (art. 1157º CC).Tradicionalmente, o mandato forense é celebrado mediante outorga de procuração forense:

Modelo de procuração forense

• Quando o cliente é uma pessoa singular:[Nome], contribuinte fiscal n.º [•], portador do [bilhete de identidade/cartão de cidadão] n.º [•], com [residência/domicílio profissional] em [•], constitui seus bastantes procuradores [•], Advogado, e [•], Advogado Estagiário, ambos com domicílio profissional em [•], aos quais concede os poderes forenses gerais [incluindo os de *substabelecer] [bem como os especiais para desistir, confessar e transigir].

• Quando o cliente é uma pessoa colectiva:[Firma], [sociedade comercial anónima/por quotas / associação / fundação] registada na [Conservatória do Registo Comercial] de [•] sob o número único de pessoa colectiva [•], com sede na [•], com o capital social de € [•] [!], neste acto representada por [Nome], na qualidade de [administrador/gerente], com poderes para o acto, constitui seus bastantes procuradores [•], Advogado, e [•], Advogado Estagiário, ambos com domicílio profissional em [•], aos quais concede os poderes forenses gerais [incluindo os de *substabelecer] [bem como os especiais para desistir, confessar e transigir].

*Nota sobre o substabelecimento:- não é necessária a referência expressa ao substabelecimento, uma vez que

este poder já está incluído no mandato forense e não depende da aceitação do cliente (art. 36/2);

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- substabelecimento com reserva: o primeiro advogado mantém-se no processo, uma vez que reservou para si uma parte dos poderes; o segundo advogado apenas intervém pontualmente (v.g. em situação de impedimento do primeiro); quando nada se disser, entende-se que o substabelecimento é feito com reserva;

- substabelecimento sem reserva: com a intervenção do segundo advogado, o advogado inicial afasta-se do processo, deixando de ter quaisquer poderes (v.g. em caso de ruptura entre o primeiro advogado e o cliente).

Modelo de substabelecimento

Com reserva, substabeleço no Exmo. Colega [•], Ilustre Advogado, com escritório na [•], os poderes forenses que me foram conferidos por [Cliente].Todas as notificações devem continuar a ser remetidas para o advogado signatário.

Patrocínio exercido por advogado estagiário

Competência dos advogados estagiários (art. 189 EOA) - requisitos para intervenção judicial:- obtenção de cédula profissional como advogado estagiário- sob a orientação do patronoActos que podem ser praticados:- todos os actos da competência dos solicitadores;- exercer a advocacia em processos:

• penais: da competência do tribunal singular; • não penais: quando o valor da acção caiba na alçada do tribunal da

primeira instância (€ 5.000 - art. 31/1 Nova LOFTJ); e• da competência dos tribunais de menores e em processos de divórcio

por mútuo consentimento.- exercer a consulta jurídica- intervir em todos os demais processos, independentemente da sua natureza

ou valor, desde que efectivamente acompanhado de advogado que assegure a tutela do seu tirocínio (patrono ou patrono formador); todavia, poderá fazer requerimentos autonomamente nestes processos, desde que não sejam levantadas questões de direito (art. 32/2).

Em qualquer acto em que intervenha, o advogado estagiário deve indicar sempre a sua qualidade profissional de advogado estagiário.O patrono formador deve estar presente em todas as diligências orais a que haja lugar.

7.2 - Consequências da não atribuição do mandato

A falta de procuração e a sua insuficiência ou irregularidade podem ser arguidas pela parte contrária e suscitadas oficiosamente pelo tribunal, a todo o tempo (art. 40/1).- cumpre estabelecer a seguinte distinção:• caso de falta de mandato (cfr. infra 7.4);

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• caso de não comprovação do mandato judicial existente - existência de procuração, a qual não foi junta ao processo: não há lugar a ratificação do processado, uma vez que o advogado já estava a agir enquanto tal (na petição inicial, contestação, etc.), mas apenas a junção de procuração.

7.3 - Poderes forenses gerais e especiais

Poderes gerais: poderes para intervir no processo judicial, sem limitação, com possibilidade de recurso até ao STJ.

Poderes especiais: “bem como os especiais para desistir, confessar e transigir”- desistência (art. 295): o réu terá interesse em que a desistência seja do

pedido e não apenas da instância, uma vez que assim o autor não poderá voltar a intentar nova acção a esse respeito;

- confissão: ao mandatário é-lhe conferida a possibilidade de reconhecer, na totalidade ou parcialmente, a procedência do pedido;

- transacção: possibilidade de celebração de acordos que ponham termo ao processo.

Não é permitida confissão, desistência ou transacção que importe a afirmação da vontade das partes relativamente a direitos indisponíveis (art. 299).

7.4 - A representação sem mandato

Caso de falta de mandato: inexistência de qualquer procuração (e, por isso, de mandato forense). Neste caso, o juiz profere despacho, em que fixa um prazo para a junção de procuração, com ratificação do processado.

Modelo de requerimento para junção de procuração

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], Advogado com escritório na [•], notificado do despacho a fls., no processo em que é [autor/réu] [•], vem juntar aos autos procuração forense a favor do advogado signatário, com ratificação do processado.

Junta: procuração forense, com ratificação do processado.

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

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7.5 - A insuficiência de poderes

Regime do patrocínio a título de gestão de negócios, em casos em que o advogado não está autorizado a intervir, mas fá-lo devido à urgência e no interesse da parte (art. 41).

7.6 - Ratificação da gestão

Quando o mandatário não tem os poderes especiais ou haja qualquer irregularidade no mandato, a sentença homologatória é notificada pessoalmente ao mandante (cliente) [a sentença homologatória é a sentença em que o tribunal se limita a verificar a validade dos actos praticados, v.g. a confissão, a desistência do pedido ou a transacção entre as partes - art. 300/3]. Se o mandante nada disser, o acto tem-se por ratificado e a nulidade suprida (art. 301/3).

7.7 - Renúncia ao mandato

Renúncia e revogação do mandato forense (art. 39): constitui dever do advogado, nas relações com o cliente, não cessar, sem motivo justificado, o patrocínio das questões que lhe estão cometidas (art. 95/1 e) EOA). O advogado não deve afastar-se do processo quando não lhe corre de feição.- renúncia (cessação do mandato pelo advogado): não se deve justificar os

motivos da renúncia no requerimento de renúncia, uma vez que o tribunal nada tem a ver com as relações entre o cliente e o advogado;

- revogação (cessação unilateral do mandato pelo cliente).Em qualquer um dos casos o substabelecimento sem reserva é preferível.

Modelo de requerimento de revogação do mandato

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], Advogado, e [Nome], Advogado Estagiário, ambos com escritório na [•], mandatários de [•], [autor/réu] no processo à margem identificado, vêm, nos termos do art. 39/1, renunciar ao mandato.

Juntam: duplicados.

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

O Advogado Estagiário,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

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VIII - A Instância

Instância: relação que se estabelece entre as partes e o tribunal durante a pendência da causa (art. 264), mantendo-se desde a propositura da acção ao julgamento, mesmo que uma parte seja substituída por outra, o objecto seja alterado ou o processo seja remetido para outro tribunal. As vicissitudes da instância podem determinar a sua suspensão, interrupção ou extinção, conforme veremos infra em 8.5.

8.1 - O princípio da estabilidade da instância

Princípio da estabilidade da instância (art. 268): uma vez citado o réu, a instância deve manter-se a mesma quanto às pessoas, ao pedido e à causa de pedir, salvas as possibilidades de modificação previstas na lei (cfr. infra 8.4).

8.2 - O princípio da cooperação

Princípio da cooperação (art. 266): assume principal relevo na audiência preliminar, com vista à tentativa de conciliação entre as partes. Corolários:- dever de prestar esclarecimentos- dever de comunicação atempada de qualquer facto impeditivo da realização

de diligências

8.3 - A iniciativa da instância

Princípio do dispositivo

Princípio do dispositivo (arts. 3/1 e 264): o processo encontra-se na disponibilidade das partes, na medida em que respeita predominantemente a interesses privados que devem ser acautelados mediante atribuição de faculdades [ónus] às partes. O processo é, por isso, mero instrumento do direito substantivo.- ao contrário do processo penal, onde vigora o princípio da oficialidade (mais

ou menos intenso consoante a natureza do crime)- este princípio subdivide-se em dois princípios:(i) impulso processual - prática de actos, pelas partes, que determinem a

pendência da causa e o andamento do processo, através do ónus de impulso processual inicial e sucessivo (arts. 3/1 e 264)

(ii)disponibilidade do objecto - incumbe às partes o ónus de definição do objecto do processo (art. 467) e o ónus de realização da prova dos factos alegados (art. 342 CC).

Correlativamente, cabe ao tribunal um dever de cognição segundo duas perspectivas: (i) dever de apreciar os factos apresentados (sob pena de omissão de

pronúncia, art. 660/2); e

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(ii)dever de não apreciar factos não invocados (sob pena de excesso de pronúncia, art. 661/1).

Ambos os extremos da pronúncia constituem fundamento de nulidade da sentença (art. 668/1 d)).

Formulação do pedido

A formulação do pedido pelo autor permite delimitar o objecto do processo. Regra de vinculação do juiz ao pedido formulado pelo autor:- a sentença não pode, por isso, condenar em quantidade superior ou em

objecto diverso do que se pedir (art. 661/1)• estes limites referem-se ao pedido global, e não a parcelas

indemnizatórias, pelo que o tribunal pode condenar o réu no pagamento de montante superior ao montante pedido pelo autor, desde que, no cômputo global, não exceda o pedido total

• a sentença pode condenar em quantidade inferior• regras especiais: - acção de posse (art. 661/3)- acção de divórcio sem consentimento do outro cônjuge (art. 1407/7)- procedimentos cautelares (art. 392/3)

- no entanto, o tribunal não está sujeito à qualificação jurídica das partes, e pode concluir por um pedido diferente, desde que com efeitos práticos idênticos ou análogos:

• v.g. formular-se o pedido de “despejo” em acção de despejo quando o pedido deveria antes ser o de decretar a resolução do contrato de arrendamento e, consequentemente, o despejo (acto material de entrega do locado)

Alegação de factos

Antes da Reforma de 1995: o réu seria absolvido do pedido se o autor não apresentasse na petição inicial todos os factos indispensáveis à procedência da acção.

Hoje: aproximação ao princípio da verdade material, em detrimento da verdade formal.O juiz não está sujeito às alegações das partes no que respeita à interpretação e aplicação das regras de direito, mas só pode servir-se dos factos articulados pelas partes (arts. 664 e 264/2).- mas o juiz pode ainda tomar em consideração (ainda que não alegados pelas

partes) (i) os factos instrumentais que resultem da discussão e instrução da causa e (ii) os factos essenciais à procedência das pretensões formuladas ou das excepções deduzidas, que resultem da discussão e instrução da causa, desde que a parte interessada manifeste vontade de deles se aproveitar e à parte contrária tenha sido facultado o exercício do contraditório (art. 264/2 e 3)

(i) factos instrumentais: factos que apenas servem para, da sua existência, se concluir pela existência dos fundamentos de direito ou da excepção

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deduzida (Anselmo de Castro) - servem de prova indiciária dos factos essenciais

• v.g., numa acção de denúncia de arrendamento com fundamento em necessidade da casa para habitação própria, são factos instrumentais: a condição económica do senhorio, a sua situação profissional, etc.

(ii) factos essenciais: factos que constituem, modificam ou extinguem o direito; são essenciais os factos sem cuja verificação o pedido não pode ser julgado procedente• v.g., na mesma acção de denúncia de arrendamento com fundamento

em necessidade da casa para habitação própria, são factos essenciais: alegação de factos de onde possa constar a situação de carência do prédio arrendado

Esquema:

Petição inicial (art. 467): o autor deve alegar os factos constitutivos do seu direito, i.e., indicar a causa de pedir (art. 467/1 d)).

Contestação (art. 486): o réu deve opor-se à pretensão do autor (por impugnação ou por excepção), alegando os factos necessários à improcedência da acção [com ou sem reconvenção - art. 501].

Réplica (art. 502): caso tenha sido deduzida alguma excepção pelo réu, ou formulado pedido reconvencional, o autor pode, na réplica, ampliar ou alterar a causa de pedir, alegando novos factos (art. 273/1).

Tréplica (art. 502): caso o autor tenha alegado novos factos na réplica, o réu pode apresentar tréplica relativamente a esses novos factos. - o exercício do contraditório após o último articulado é assegurado no art.

3/4: se, na tréplica, o réu deduzir alguma excepção, o autor pode responder na audiência preliminar ou, na falta desta, no início da audiência final.

Convite ao aperfeiçoamento (“despacho pré-saneador” - art. 508/3): terminada a fase dos articulados, o juiz deve convidar as partes a suprir as imprecisões ou insuficiências da matéria de facto. - o aperfeiçoamento também é possível na audiência preliminar, por iniciativa

própria das partes ou a convite do juiz

Articulados supervenientes (art. 506): os factos constitutivos, modificativos ou extintivos do direito que forem supervenientes podem ser deduzidos até ao termo da discussão.

8.4 - Incidentes da instância

A instância pode sofrer várias vicissitudes ou modificações (i.e., incidentes) - arts. 302 ss.

• v.g. morte de uma das partes (arts. 270/a) e 371 ss. - incidente de habilitação de herdeiros)

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• devem logo ser indicados os meios de prova (art. 303/1)A oposição ao incidente deve ser deduzida no prazo de 10 dias (art. 303/2).

Intervenção [de terceiros]: até ao trânsito em julgado da decisão que julgue ilegítima alguma das partes por não estar em juízo determinada pessoa, pode o autor ou o réu reconvinte chamar essa pessoa a intervir, nos termos dos arts. 325 ss. (ex vi do art. 269).- intervenção principal (para assumir a posição de autor ou réu)

• espontânea (arts. 320 ss.)• provocada (meio de suprimento da ilegitimidade do réu, pelo autor -

arts. 325 ss.; v.g. chamamento de cônjuge do réu, em acção de despejo em que o bem locado é também a casa de morada de família - cfr. art. 28-A/3)- com alegação da causa e justificação do interesse (art. 325/3)

- intervenção acessória• provocada (arts. 330 ss. - v.g. direito de regresso)

- intervenção acessória do MP

Assistência: intervenção de terceiro como assistente [de uma das partes] de quem tiver interesse jurídico em que a decisão seja favorável a uma das partes (arts. 335 ss.).

Oposição: intervenção de terceiro como oponente para fazer valer, no confronto de ambas as partes, um direito próprio, total ou parcialmente incompatível com a pretensão deduzida pelo autor ou pelo réu reconvinte (arts. 342 ss.).- oposição espontânea- oposição provocada- embargos de terceiro

Habilitação de herdeiros: chamamento dos sucessores da parte falecida (arts. 371 ss.).- pode ser feita pelo juiz, notário ou conservador do Registo Civil

Liquidação: incidente deduzido pelo autor antes de começar a discussão da causa, que permite quantificar o pedido genérico, quando este se refira a uma universalidade ou às consequências de um facto ilícito (arts. 378 ss.)- v.g. acidente de aviação

O valor dos incidentes é o valor da causa (art. 316).

Modelo de incidente de habilitação de herdeiros

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

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[Nome], vem, nos termos do art. 371 do CPC, deduzirINCIDENTE DE HABILITAÇÃO DE HERDEIROS,por óbito de [Nome], [autor/réu] nos autos à margem identificados, em que é [réu/autor] [Nome], o que faz nos termos e com os fundamentos seguintes:

[Nome], [pai/mãe] do ora Requerente, e também [autor/réu] nos autos, faleceu a [data], conforme se pode comprovar pela certidão de óbito junta aos autos como documento [•].

O de cujus deixou como herdeiro único e universal o ora Requerente, filho único, conforme escritura de habilitação de herdeiros, que protesta juntar assim que a mesma tenha sido celebrada [alternativa: certidão de nascimento do Requerente e prova testemunhal].

Em virtude do falecimento do de cujus, o ora Requerente é parte legítima na acção e... [v.g. credor do réu, credor do autor reconvindo - em caso de reconvenção, etc.].

A presente habilitação determina a imediata suspensão da instância, nos termos da alínea a) do art. 276 do CPC.

Termos em que se requer a V. Exa. se digne admitir a presente habilitação e:(i) julgar procedente o incidente de habilitação; e(ii)julgar habilitado o ora Requerente, para que

com ele prossigam os termos da acção a que estes actos hão-de ser apensos.

Valor do incidente: o da acção [art. 316]

Junta: procuração forense, [1] documento, duplicado e cópia do documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça

O Advogado, [carimbo: assinatura e domicílio profissional]

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Legitimidade activa e passiva

A legitimidade é a susceptibilidade de ser parte numa acção. Não se pretende apurar quem é que pode estar em juízo, em abstracto, mas tão-só quem é que pode ser parte numa determinada causa in concreto.

Legitimidade das partes (arts. 26 ss.):- legitimidade singular:

• directa: reconhecida ao titular ou a quem tem interesse em discutir com ele a titularidade do direito

• indirecta: concedida a alguém que se substitui ao titular do direito [substituição processual]

- legal (v.g. art. 271: transmissão da coisa ou direito em litígio)- voluntária (v.g. art. 28-A/1: acções que podem ser interpostas por um

dos cônjuges, com consentimento do outro)- legitimidade plural: pluralidade de partes principais ou assistência (art. 335):

• litisconsórcio: legitimidade que se verifica entre sujeitos que, singularmente, já tinham legitimidade para ser partes- necessário (art. 28) – implica a ilegitimidade dos que estejam em

juízo (i) legal (v.g. arts 28-A, 419/1 CC e 496/2 CC)(ii)convencional (negócio jurídico) - v.g. art. 535 CC(iii)natural (pela natureza do objecto, art. 28/2)- voluntário (art. 27) – ausência não determina ilegitimidade: v.g.

obrigações solidárias, art. 512 CC

8.5 - Suspensão, interrupção e extinção da instância

Suspensão da instância (arts 276 ss.): durante a suspensão da instância apenas podem ser praticados os actos urgentes destinados a evitar dano irreparável e os prazos judiciais não correm (art. 283). Causas de suspensão da instância:- morte/extinção de uma das partes - morte de advogado de uma das partes- suspensão ordenada pelo tribunal (v.g. quando a decisão da causa estiver

dependente do julgamento de outra causa já proposta)

Interrupção da instância (arts. 285 e 286): a instância interrompe-se quando o processo estiver parado durante mais de um ano por negligência das partes em promover os seus termos ou os de algum incidente do qual dependa o seu andamento.

Extinção da instância (arts. 287 ss.) - causas:- julgamento- compromisso arbitral- deserção

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- desistência, confissão ou transacção- impossibilidade ou inutilidade superveniente da lide - e ainda pela morte/extinção de uma das partes que torne impossível ou inútil

a continuação da lide (art. 276/3)O réu deve ser absolvido da instância nos seguintes casos (art. 288):• incompetência absoluta do tribunal (art. 105)• anulação de todo o processo• ilegitimidade de alguma das partes- exemplo: ilegitimidade passiva do réu em acção de despejo que deveria ter

sido intentada contra ambos os cônjuges, uma vez que o locado é também a casa de morada de família (art. 28-A/3)

• procedência de excepção dilatória (art. 493)- cumpre estabelecer a distinção entre absolvição da instância e absolvição do

pedido:• absolvição da instância: implica caso julgado formal e consequente

arquivamento do processo (questão jurídica fica pendente e o autor não fica inibido de propor nova acção contra o mesmo réu)

• absolvição do pedido: implica caso julgado material e não repetição da acção sobre a mesma causa e entre as mesmas partes

IX - O Processo

9.1 - Formas de processo comum e especial

Processo comum: processo utilizado em geral (art. 460), nos casos a que não corresponda processo especial. Pode ser (arts. 461 e 462):- ordinário- sumário (art. 463/1)- sumaríssimo (art. 464)O critério da forma do processo comum é o do valor da causa, em comparação com as alçadas das instâncias, i.e., com o limite do valor das causas dentro do qual o tribunal julga sem possibilidade de recurso ordinário (cfr. arts. 462, 678/1 e e 31 Nova LOFTJ):- ordinário (+ de € 30.000 - valor superior à alçada do Tribunal da Relação)- sumário (entre € 5.000 e € 30.000 - valor entre a alçada da 1ª instância e a

alçada do Tribunal da Relação)- sumaríssimo (três critérios cumulativos)

• valor inferior a € 5.000 (alçada da 1ª instância); e• acção destinada ao cumprimento de obrigações pecuniárias,

indemnização por dano ou entrega de coisa móvel; e• sem se aplicar processo especial (!) - vs., por exemplo, acção para

cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato, uma vez que se trata de acção sob a forma de processo especial prevista no Decreto-Lei 269/98 (que aprovou o regime das injunções - “processo sumaríssimo especial”) - cfr. infra 9.2.

Processo especial: aplica-se a todos os casos expressamente designados (excepção - art. 460/2). Exemplos:

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- acção de divisão de coisa comum (compropriedade - arts. 1052 ss.)- acção de divórcio sem consentimento do outro cônjuge (art. 1407)O processo especial não assume nenhuma forma (“ordinária”, “sumária”, etc.).

Deve fazer-se menção da forma do processo na petição inicial. Tratando-se de processo especial, deverá ser referido:

“[Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•], contribuinte n.º [•], vem propor acção especial de [•]”...

9.2 - O processo especial para cumprimento de obrigações

Conforme referimos (supra 9.1.), o regime da acção declarativa especial para cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato consta do Decreto-Lei 269/98, que instituiu ainda o procedimento de injunção (arts. 7 ss. do Anexo ao diploma). Este regime foi especialmente concebido para empresas que negoceiam com milhares de consumidores, com vista a alcançar uma “desjudicialização” consensual.- injunção: providência que tem por fim conferir força executiva a

requerimento destinado a exigir o cumprimento das obrigações pecuniárias emergentes de contrato; permite, de forma célere e simplificada, que o credor de obrigação pecuniária obtenha título executivo.

- o Decreto-Lei 269/98 aplica-se a obrigações pecuniárias que não excedam € 15.000 (art. 1); todavia, em virtude da aprovação do Decreto-Lei 32/2003, o credor passou a poder recorrer à injunção independentemente do valor da obrigação em dívida, desde que:

• resulte de transacção comercial, i.e., de uma relação entre duas empresas

Dois cenários possíveis de actuação no âmbito da cobrança judicial de dívidas:(a) existência de título executivo -- acção executiva; exemplos (art. 46):

• sentença condenatória, decisões arbitrais e despachos judiciais• documentos exarados ou autenticados por notário• documentos particulares, assinados pelo devedor (v.g. confissão de

dívida)(b) inexistência de título executivo - opção entre:

(i) injunção(ii)acção declarativa

Nota: - recorde-se que, nos termos gerais, o devedor só fica constituído em mora

depois de ter sido interpelado para cumprir a obrigação em falta (v.g. mediante carta de interpelação - cfr. art. 805/1 CC).

No cenário da inexistência de título executivo (cenário (b)), o credor de obrigações pecuniárias pode:

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(i) tratando-se de transacção comercial: recorrer à injunção (requerimento de injunção) - arts. 7 ss. do Anexo ao Decreto-Lei 269/98, sem necessidade de constituição de mandatário, caso em que:

• deduzida oposição por parte do requerido (± contestação), a acção é distribuída como acção declarativa sob a forma de processo especial (art. 222 e art. 16 do Anexo ao Decreto-Lei 269/98)

• se não for deduzida oposição por parte do requerido, o requerimento de injunção é validado pelo oficial de justiça e constitui título executivo

(ii)tratando-se de relação comercial entre empresa e particular: duas alternativas

• recorrer à injunção, mas com limitação de valor até à alçada do Tribunal da Relação (€ 30.000) - cfr. Decreto-Lei 107/2005; ou [uma vez que a injunção é facultativa]

• optar por intentar a acção declarativa com processo comum sob a forma ordinária, sumária ou sumaríssima, consoante o valor; esta opção é preferível quando se prevê que a dívida venha a ser objecto de oposição por parte do devedor

Em conclusão, se o cliente (credor) entregar ao advogado a documentação relativa à dívida a cobrar, incluindo uma carta do devedor, opondo-se à dívida, é preferível não utilizar a injunção e recorrer à acção declarativa.

9.3 - Julgados de paz

Os julgados de paz foram instituídos pela Lei 78/2001 e têm competência para a resolução de questões cujo valor não exceda a alçada do tribunal de 1ª instância (€ 5.000).

9.4 - Regime processual civil experimental

O Decreto-Lei 108/2006 aprovou a criação de um regime processual civil de natureza experimental, simplificado e flexível, antes do alargamento do âmbito da sua aplicação.

X - Procedimentos Cautelares

10.1 - Noção e natureza

Providências ou procedimentos cautelares (arts. 381 ss.): medidas destinadas a salvaguardar o efeito útil de uma decisão que podem ser decretadas sem audição da parte requerida (periculum in mora - art. 385). Neste caso, o contraditório é diferido (art. 388). - requeridas se houver fundado receio de que o réu cause lesão grave e

dificilmente reparável ao direito do autor, a fim de assegurar a efectividade do direito ameaçado (art. 381/1)

- é sempre dependente da causa que tenha por fundamento o direito acautelado e pode ser instaurado como preliminar ou como incidente de acção declarativa ou executiva (art. 383/1)

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10.2 - Tramitação processual

Os procedimentos cautelares revestem sempre carácter urgente (art. 382/1), pelo que constituem um exemplo de um caso em que o prazo processual não se suspende durante as férias judiciais (arts. 144/1 e 12 LOFTJ) - cfr. supra 3.5.- devem ser decididos, em 1ª instância, no prazo máximo de 2 meses ou, se o

requerido não tiver sido citado, de 15 dias (art. 382/2)

Cumpre estabelecer a seguinte distinção:(i) procedimento cautelar requerido antes de proposta a acção: deve ser

apensado aos autos da acção logo que esta seja instaurada; se a acção vier a correr noutro tribunal, o apenso é remetido para esse tribunal (arts. 383/2 e 211/2)

(i) procedimento cautelar requerido no decurso da acção: deve ser instaurado no tribunal onde corre a acção e processado por apenso (arts. 383/3 e 211/2)

10.3 - Regras gerais

O requerente deverá oferecer, com a petição, prova sumária do direito ameaçado, nos termos do art. 384/1. O contraditório do requerido será exercido perante o tribunal, em audiência, excepto quando puser em risco sério o fim ou a eficácia da providência (art. 385/1).

O requerido pode deduzir oposição se for ouvido antes do decretamento da providência (art. 385/2).

10.4 - Caducidade

O procedimento cautelar extingue-se e, quando decretada, a providência caduca, nos seguintes casos (art. 389):- se o requerente não propuser a acção da qual a providência depende dentro

de 30 dias a partir da notificação- se o processo estiver parado mais de 30 dias, por negligência do requerente- se a acção vier a ser julgada improcedente, por decisão transitada em

julgado- se o réu for absolvido da instância e o requerente não propuser nova acção

em tempo de aproveitar os efeitos da proposição da anterior- se o direito que o requerente pretende acautelar se tiver extinguidoNos termos do art. 381/4, não é admissível, na pendência da mesma causa, a repetição de providência que tenha caducado.

10.5 - Recursos

Nos termos do art. 387-A, das decisões proferidas nos procedimentos cautelares não cabe recurso para o STJ, sem prejuízo dos casos em que o recurso é sempre admissível.

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Casos em que o recurso é sempre admissível (art. 678/2), independentemente do valor da causa e da *sucumbência:- decisões que violem regras de competência internacional ou em razão da

matéria ou da hierarquia, ou que ofendam o caso julgado- decisões respeitantes ao valor da causa ou dos incidentes, com o fundamento

de que o seu valor excede a alçada do tribunal de que se recorre- decisões proferidas contra jurisprudência uniformizada do STJ

*Nota:- valor da sucumbência: o valor da sucumbência, para efeitos de

admissibilidade de recurso, reporta-se ao montante do prejuízo que a decisão recorrida importa para o recorrente; equivale, assim, ao valor do recurso, traduzido na utilidade económica que, através dele, se pretende obter (ou seja, corresponde à diferença entre o montante da condenação fixado na decisão recorrida e o que a parte pretende seja fixado na decisão do recurso)

10.6 - O procedimento cautelar comum

O procedimento cautelar comum encontra-se previsto nos arts. 381 ss. e aplica-se na ausência de procedimento cautelar especificado (infra 10.7).

10.7 - Os procedimentos cautelares especificados

Procedimentos cautelares especificados (arts. 393 ss.):1. restituição provisória da posse2. suspensão de deliberações sociais3. alimentos provisórios4. arbitramento de reparação provisória5. arresto 6. embargo de obra nova7. arrolamento

XI - O Processo Comum de Declaração

O processo caracteriza-se pela pluralidade de actos das partes e do tribunal encadeados e relacionados entre si, constituindo uma realidade unitária e estruturada.

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Fases do processo

articulados saneamento ou condensação

instrução julgamento sentença recurso

arts. 467 ss. arts. 508 ss. arts. 513 ss. arts. 646 ss. arts. 658 ss. arts. 676 ss.

partes apresentam por escrito as suas posições

o processo é reduzido à matéria essencial e são decididas as excepções dilatórias

indicação dos meios de prova

produção da prova

decisão sobre a pretensão formulada pelo autor [e pelo réu reconvinte]; são conhecidas as excepções peremptórias

impugnação da decisão, em certos casos

Após a fase dos articulados pode a parte apresentar articulados supervenientes (cfr. 11.5 infra).

11.1 - Petição inicial

Modelo de petição inicial

Tribunal Judicial de [Comarca]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•], contribuinte n.º [•], vem intentar e fazer seguir contra[Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•], contribuinte n.º [•],[acção declarativa de condenação, na forma ordinária],[acção de despejo, com processo sumário],[acção com processo especial de divórcio sem consentimento],nos termos e com os fundamentos seguintes:

I - Factos

[descrição dos factos: v.g. “o A. celebrou contrato de [•] com o R. em [data]”; para cada facto, um artigo]

II - O Direito

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[v.g. “o R., com o seu comportamento, violou grave e reiteradamente o dever de [•], nos termos do art. [•]”]

[“sendo pois, tal comportamento, fundamento de [•]...]

Nestes termos, e nos melhores de Direito, deve a presente acção ser julgada procedente por provada e, em consequência, o R. ser condenado [•]...

Valor: [•] euros.

Prova testemunhal:1. [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•];2. [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•];3. [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•].

Junta: procuração forense, [•] documentos, duplicados legais, *DUC e comprovativo do pagamento de taxa de justiça.

*DUC: Documento Único de Cobrança, documento que permite a cobrança das receitas de qualquer entidade através da Rede de Cobranças do Estado: Multibanco, Instituições de Crédito, Serviços Locais de Cobrança dos Impostos e das Alfândegas, CTT, etc. Para além do DUC deve ainda ser juntado o comprovativo do pagamento.

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

Requisitos essenciais

Pressupostos processuais:• competência • personalidade judiciária• capacidade judiciária• representação judiciária• patrocínio judiciário• legitimidade• [interesse processual - para Teixeira de Sousa]

Requisitos da petição inicial:Na petição inicial devem ser alegados factos materiais, concretos, e não conceitos normativos. É ao juiz que cabe a subsunção desses factos ao direito, sem prejuízo de o autor indicar, na parte final da petição inicial, as normas jurídicas que considera aplicáveis (uma vez que o autor “deve expor os factos e as razões de direito que servem de fundamento à acção” - cfr. art. 467/1 d)).

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Exemplo: é insuficiente referir conceitos normativos como “o R. injuriou o A.”, “o A. foi agredido pelo R.” ou “o R. circulava a uma velocidade excessiva”; devem ser alegados factos que preencham esses conceitos normativos.Constituem exemplos de conceitos normativos [matéria de direito, e não de facto]:- falta de residência permanente (concretizando: “o inquilino deixou de residir

no locado”)- adultério- má fé- abuso do direito- diligência do bom pai de família- culpa- inconsideraçãoetc.

Os demais requisitos essenciais da petição inicial constam do art. 467. Em rigor, não é necessário indicar o domicílio profissional do mandatário do autor (art. 467/1 b)), uma vez que o carimbo do advogado já contém essa informação.

Não é necessário fazer-se qualquer menção à citação do réu, para contestar, uma vez que esta é feita oficiosamente pela secretaria, sem despacho judicial prévio, nos termos do art. 234.

Nota:As acções de condenação de acidente de viação devem ser propostas unicamente contra a Companhia de Seguros do proprietário do veículo que causou o sinistro, se o pedido do autor estiver contido dentro dos limites do seguro obrigatório. A este respeito, tem aplicação o Decreto-Lei 522/85 (seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel).

Competência

Perpetuatio fori: a competência fixa-se quando a acção se propõe, sendo irrelevantes quaisquer modificações de facto ou de direito (art. 24/1 Nova LOFTJ). Razões subjacentes a este princípio: defesa de interesses do autor, v.g. o réu que muda de domicílio na pendência da causa.

O tribunal interno competente, uma vez aferida a competência internacional dos tribunais portugueses, é determinado consoante as regras de competência territorial que constam do art. 73.

1. competência territorial (arts. 73 ss):- regra geral: domicílio do réu (art. 85/1) - critério geral de competência

territorial, sempre que outro tribunal não seja territorialmente competente por força dos artigos anteriores (critério residual face aos critérios especiais)

• v.g. acção de anulação de um negócio (incluindo o casamento)- acção de despejo: lugar da situação do imóvel (art. 73) - forum rei sitae

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- acção de reivindicação (art. 73/1) - cfr. art. 1311 CC- acção de cobrança de dívida: domicílio do réu, ou lugar onde a obrigação

deveria ser cumprida (art. 74/1 - responsabilidade contratual)- acção de acidente de viação: lugar onde o facto ocorreu (art. 74/2 -

responsabilidade extracontratual ou aquiliana) - forum delicti comissi- acção de divórcio ou de separação de bens: domicílio do autor (art. 75)2. tribunal em concreto (LOFTJ)3. competência genérica ou especializada (juízos, etc. - Regulamento da

LOFTJ)

Causa de pedir e pedido

Objecto do processo: matéria sobre a qual o tribunal é chamado a pronunciar-se, sendo constituído pelo pedido e pela causa de pedir.

A petição inicial requer a exposição da causa de pedir e do pedido (arts. 467/1 d) e e) e 193/2 a)). O tribunal, por seu lado, aprecia o pedido formulado apenas segundo a causa de pedir invocada pela parte (art. 664, 2ª parte), pelo que não lhe é permitido apreciar factos não invocados ou deixar de se pronunciar sobre factos alegados (art. 668/1 d). Estas normas apontam para a importância do pedido e da causa de pedir, enquanto elementos constitutivos do objecto processual.

(i) Causa de pedir

Causa de pedir (art. 467/1 d)): o autor deve expor os factos [essenciais ou probatórios] e as razões de direito que servem de fundamento à acção - cfr. supra 8.3 quanto à noção de factos essenciais.- a condenação da causa de pedir implica caso julgado material e não

repetição da acção sobre a mesma causa e entre as mesmas partes (o réu é absolvido do pedido)

- na consulta com o cliente, o advogado deve verificar se existe causa de pedir para o que o cliente pretende (resolução de contrato, divórcio, etc.).

(ii) Pedido

Pedido: forma de tutela jurisdicional requerida para uma situação jurídica de direito material

• apreciação da existência ou inexistência de um direito ou de um facto• condenação na realização de uma prestação• constituição, modificação ou extinção de uma situação jurídica• execução(ver art. 4 quanto às espécies de acções consoante o fim)

O objecto é delimitado exclusivamente através do pedido.Exemplos: “nestes termos, e nos mais de direito, deve a presente acção ser julgada procedente, por provada, e, em consequência...”

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- acção de condenação (v.g. acidente de viação): “... ser o R. condenado no pagamento da quantia de [•] euros ao A., acrescida de juros à taxa legal desde a citação até integral pagamento”;

- acção de despejo: “... ser decretada a resolução do contrato de arrendamento e o R. condenado a despejá-lo de imediato”;

- acção de divórcio: “... ser decretado o divórcio do A. e do R.”;- acção de alimentos: “ser o R. condenado no pagamento à A. de pensão

mensal no valor de [•] euros, anualmente actualizável”.

O pedido deve ser certo, referindo-se a um objecto individualizado e determinado. Por exemplo, a parte não pode pedir a reivindicação de uma parcela de terreno sem indicar a sua área, sob pena de a falta de concretização do pedido o tornar ininteligível e implicar a ineptidão da petição inicial (art. 193/2 a)).

Ressalvam-se as situações em que seja possível a formulação de um pedido genérico (art. 471/1):- quando o objecto mediato da acção seja uma universalidade, de facto ou de

direito• universalidade de facto: v.g. uma biblioteca• universalidade de direito: v.g. a herança indivisa (art. 2101 CC)

- quando não seja possível determinar as consequências do facto ilícito, ou o lesado pretenda exigir a indemnização sem indicar a importância exacta da mesma, nos termos do art. 569 CC

- quando a fixação do quantitativo esteja dependente da prestação de contas ou de outro acto a praticar pelo réu

Com efeito, o pedido genérico refere-se a uma quantidade indeterminada. Não se confunda este conceito com o de obrigações genéricas – v.g. o pedido de entrega de mil litros de vinho: embora corresponda a uma obrigação genérica, não é um pedido genérico em termos processuais.

Pedido de prestação vincenda: a parte formula o pedido de condenação da contraparte numa prestação cujo cumprimento ainda não é exigível – condenação in futurum (arts. 4/2 b) e 472).

(iii) Consequências

É nulo todo o processo quando for inepta a petição inicial.Causas de ineptidão da petição inicial (art. 193/2):- quando falte ou seja ininteligível a indicação do pedido ou da causa de pedir- quando o pedido esteja em contradição com a causa de pedir- quando se cumulem causas de pedir ou pedidos substancialmente

incompatíveis

Conforme referimos em 6.3 supra, o juiz pode indeferir liminarmente a petição inicial quando o pedido seja manifestamente improcedente ou ocorram, de forma evidente, excepções dilatórias insupríveis e de que o juiz deva conhecer oficiosamente (arts. 202, 234-A/1 e 495). Neste caso, é concedido ao autor o

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benefício de apresentar outra petição, nos termos do art. 476 (cfr. art. 234-A/1, in fine).Exemplos de excepções dilatórias insupríveis e de conhecimento oficioso (Abrantes Geraldes):- incompetência absoluta em razão da matéria, nacionalidade e hierarquia (art.

105/1)- falta de personalidade judiciária insanável (art. 8)- ilegitimidade singular (já a ilegitimidade plural é sempre suprível)- ineptidão da petição inicial (art. 193/2)- total inadequação da forma processual utilizada pelo autor (que implique o

não aproveitamento de qualquer um dos actos praticados - art. 199)

Valor

O valor da acção é determinado com base nas regras constantes dos arts. 305 ss.: o critério geral previsto no art. 306 apenas se aplica se se afastar a aplicação dos critérios especiais (arts. 307 ss.).

Independentemente da natureza patrimonial ou não patrimonial do objecto do processo, a toda a causa deve ser atribuído um valor certo, expresso em moeda legal, e correspondente à utilidade económica do pedido (art. 305/1).O valor da causa releva para a fixação da competência do tribunal, a aferição da forma do processo comum e a definição da relação da causa com a alçada do tribunal, para efeitos de recurso - cfr. 9.1 supra.

Impende sobre as partes (autor e réu reconvinte) o dever de indicação do valor da causa. Mas, para obstar a indicação de valor superior ao valor devido (para, assim, não se afastar a hipótese de recurso até ao STJ), a actual redacção do art. 315 atribui ao juiz a incumbência de fixar o valor da causa (em princípio, no despacho saneador), sem prejuízo do dever de indicação supra.

(i) Valor da acção em caso de cumulação objectiva inicial

Cumulação objectiva inicial: o autor requer a procedência simultânea de todos os pedidos cumulados e a produção de todos os seus efeitos (art. 470/1). É o caso do autor que instaura uma acção pedindo a entrega de uma máquina de fotocópias e o pagamento de uma indemnização pela mora: se a acção for julgada totalmente procedente, o réu deve realizar ambas as prestações.

Cumulando-se vários pedidos, o seu valor é a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles (art. 306/2). Caso cada um dos pedidos não represente uma diferente utilidade económica, a cumulação é meramente aparente:

• v.g. a acção de reivindicação em que se pede o reconhecimento da propriedade e a restituição da coisa (art. 1311/1 CC);

• ou a resolução do contrato de arrendamento com o pedido de despejo do imóvel arrendado.

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(ii) Valor da acção em caso de cumulação alternativa

Na cumulação alternativa, a parte requer a procedência de todos os objectos cumulados, mas pretende obter apenas, segundo a escolha do réu, os efeitos de um desses objectos (art. 468). É o caso da acção de condenação do réu na entrega de um quadro ou de uma jóia: sendo a acção julgada procedente, deve o réu realizar uma das prestações a que foi condenado.

Aqui, atende-se apenas ao pedido de maior valor, uma vez que o autor pretende a procedência de todos os objectos formulados, embora só possa obter os efeitos correspondentes a um deles (art. 306/3, 1ª parte).

(iii) Valor da acção em caso de cumulação subsidiária

Na cumulação subsidiária, o autor requer a procedência do objecto principal e, subsidiariamente, a de um outro (o objecto subsidiário, art. 469/1). O objecto que é formulado subsidiariamente só é apreciado se se verificar a procedência ou a improcedência do objecto principal.

Modalidades de cumulação subsidiária:- cumulação subsidiária própria: o objecto subsidiário é formulado para o caso

de o objecto principal não proceder (art. 469/1)• v.g. autor que intenta uma acção de reivindicação da propriedade de um

imóvel e, subsidiariamente, pede o reconhecimento do seu direito de usufruto sobre o mesmo imóvel

• valor da causa: o valor do objecto principal, i.e, do pedido formulado em primeiro lugar (art. 306/3, 2ª parte)

- cumulação subsidiária imprópria: a apreciação do objecto subsidiário é requerida apenas no caso de o objecto principal ser procedente (art. 306/2, 2ª parte, implicitamente)

• v.g. autor que pede a condenação do devedor no cumprimento da prestação em dívida e requer, subsidiariamente, a sua condenação na sanção pecuniária imposta por cada dia de atraso

• valor da causa: soma dos valores de cada um dos objectos cumulados, no caso de o tribunal julgar procedente o objecto principal e o objecto subsidiário (art. 306/2, 1ª parte, aplicável por analogia).

Prova

Nos termos do art. 467/2, o autor pode, no final da petição inicial, apresentar desde logo rol de testemunhas e requerer outras provas.

(i) Prova documental

- danos causados [danos emergentes e lucros cessantes, danos morais]: documento comprovativo de Hospital; participação policial

- despejo: contrato de arrendamento

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- propriedade de um bem imóvel: certidão predial (emitida pela Conservatória do Registo Predial)

- divórcio: certidão de casamento (emitida pela Conservatória do Registo Civil)- acção de alimentos (em procedimento cautelar de alimentos provisórios ou

em acção declarativa de condenação): certidão de casamento (emitida pela Conservatória do Registo Civil), facturas, recibos de vencimento, etc.

- morte de alguma das partes: escritura de habilitação (outorgada em Cartório Notarial) - cfr. 8.4 supra

11.2 - Contestação

Modelo de contestação (com reconvenção)

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], R. nos autos à margem identificados, em que é A. [Nome],vem, ao abrigo do disposto no art. 486 do CPC, apresentar CONTESTAÇÃO e deduzir RECONVENÇÃO, o que faz nos termos e com os fundamentos seguintes:

A acção improcede, de facto e de direito.

I - Por excepção:

(i) Excepções dilatórias:

Estamos, por isso, perante uma excepção dilatória (art. 494, alínea [•]) que, nos termos do art. 493/2 do CPC, implica absolvição do R. da instância.

(ii) Excepções peremptórias:

Estamos, por isso, perante uma excepção peremptória que, nos termos do art. 493/3 do CPC, implica absolvição [total/parcial] do R. do pedido.

II - Por impugnação:

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Impugnam-se os factos constantes dos artigos [•], [•] e [•].

Quanto aos factos aludidos nos artigos [•], [•] e [•], ainda que verdadeiros, ... [exemplo: foram tacitamente perdoados pelo A.; não fundamentam a pretensão do A. uma vez que..., etc.]

III - Reconvenção:

[descrição dos factos que fundamentam o pedido reconvencional]

Pelo que o A. deve ser condenado no [pagamento da quantia de [•] euros, a título de [•]].

Termos em que:(i) deve a excepção dilatória [•] ser julgada

procedente, absolvendo-se o R. da instância;(ii)caso assim não se entenda, deve a excepção

peremptória [•] ser julgada procedente, absolvendo-se o R. do pedido;

[no caso de excepções do mesmo tipo apenas - v.g. excepções dilatórias, “devem ser julgadas procedentes as excepções dilatórias deduzidas, e o R. absolvido da instância”]

(iii)ou, caso assim não se entenda, deve a presente acção ser julgada totalmente improcedente, por não provada, absolvendo-se o R. do pedido; e

(iv)deve o pedido reconvencional ser julgado procedente, por provado, e o reconvindo [i.e., o autor] condenado a [•], a título de [•].

Prova testemunhal:1. [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•];2. [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•];3. [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•].

Valor da reconvenção (!): [•] euros.

[Valor da acção: deve ser indicado se o réu impugnar também o valor da acção - art. 308/2]

Junta: procuração forense, [•] documentos, duplicados legais, *DUC e comprovativo do pagamento de taxa de justiça devida pela contestação e reconvenção.

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*DUC: Documento Único de Cobrança

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

Prazo

Uma vez citado, o réu dispõe de um prazo para contestar (i.e., opor-se à acção).- processo ordinário: 30 dias (art. 486/1)- processo sumário: 20 dias (art. 783)- processo sumaríssimo: 15 dias (art. 794/1)A contagem dos prazos deverá obedecer às regras referidas no ponto III supra.

Havendo vários réus, e o prazo para defesa termina em dias diferentes, a contestação de todos ou de cada um deles pode ser oferecida até ao termo do prazo que começou a correr em último lugar (art. 486/2).

Defesa

Toda a defesa deve ser deduzida na contestação, incluindo as excepções (art. 489/1).

Face à repartição do ónus de alegação entre autor e réu, a procedência da acção depende da:- verificação dos factos constitutivos da situação jurídica alegada pelo autor

(causa de pedir)- verificação dos factos impeditivos, modificativos e extintivos daquela

situação, invocados pelo réu, ou impugnados por este

Com efeito, o réu defende-se por impugnação ou por excepção (art. 487/1).

(i) Por impugnação (defesa directa)

Defesa por impugnação (art. 487/2, 1ª parte): contradizendo os factos articulados (v.g. negação) ou, sem os contradizer, afirmando que não podem produzir o efeito jurídico pretendido pelo autor (v.g. admitir a dor e sofrimento do autor, mas negar que tal fundamenta o pedido de indemnização por danos morais, uma vez que se tratam de “meros incómodos”). Objectivo: absolvição do R. do pedido.Exemplo:“Impugnam-se os factos constantes dos artigos [•], [•] e [•]”.

Com efeito, o réu tem o ónus de impugnação (art. 490), ou seja, tem de tomar uma posição definida perante os factos articulados na petição inicial. A não

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impugnação dos factos implica, em princípio, a sua admissão por acordo (art. 490/2), a não ser que:- os factos não impugnados estejam em oposição com a defesa considerada no

seu conjunto- não for admissível confissão sobre os factos não impugnados (art. 299/1 -

não é permitida confissão relativamente a direitos indisponíveis, v.g. acções sobre o estado das pessoas, como é exemplo a acção de divórcio)

- os factos não impugnados só podem ser provados por escrito (v.g. aquisição de um imóvel)

O ónus de impugnação não se aplica aos incapazes, ausentes e incertos, quando representados pelo MP ou advogado oficioso, dadas as dificuldades de recolha de informações sobre a matéria de facto (art. 490/4).

Dos factos invocados pelas partes não necessitam de prova os factos não controvertidos, i.e., os factos invocados por uma das partes e não impugnados pela contraparte, considerados admitidos por acordo (rectius, ficção de acordo - cfr. arts. 490/1, 505 e 513).

(ii) Por excepção (defesa indirecta)

Defesa por excepção dilatória (art. 487/2, 2ª parte, na parte em que se refere que “alega factos que obstam à apreciação do mérito da acção”): o não preenchimento dos pressupostos processuais constitui uma excepção dilatória, circunstância alegada por uma parte ou conhecida oficiosamente pelo tribunal (art. 495) que impede o conhecimento de mérito da causa [para uma lista dos pressupostos processuais, cfr. supra 11.1].- excepções processuais- determinam a absolvição do réu da instância (v. art. 288/1) ou a remessa do

processo para outro tribunal (art. 493/2), pelo que o autor não fica inibido de propor nova acção contra o mesmo réu

• remessa dos autos: incompetência relativa do tribunal (art. 111/3)• absolvição do réu da instância: demais casos infra

- exemplos (art. 494, exemplificativo):• incompetência absoluta ou relativa• *nulidade (v.g. por ineptidão da petição inicial - art. 193/1)• falta de personalidade ou de capacidade judiciária de alguma das partes• ilegitimidade de alguma das partes• coligação de autores ou réus, sem que haja a conexão entre pedidos

exigida no art. 30• pluralidade subjectiva subsidiária fora dos casos previstos no art. 31-B• falta de constituição de advogado ou insuficiência/irregularidade do

mandato• *litispendência ou *caso julgadoetc.- uma vez que o elenco constante do art. 494 é exemplificativo, admitem-se excepções dilatórias inominadas (art. 288/1 e))

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Segundo o art. 288/3, as excepções dilatórias só subsistem enquanto a respectiva falta ou irregularidade não for sanada nos termos do art. 265/2 (e do art. 508), ou seja, por iniciativa do juiz.

Notas:- nulidade do processo:

• v.g. ineptidão da petição inicial (art. 193/2)• ou erro na forma do processo (art. 199)

- em qualquer caso, estas nulidades só podem ser arguidas até à contestação ou na própria contestação, nos termos do art. 204/1

- devem ser apreciadas no despacho saneador, se antes o juiz não as tiver apreciado em despacho ad hoc; se não houver despacho saneador, pode ser conhecida até à sentença final (art. 206/2)

- litispendência: repetição da causa, encontrando-se a anterior ainda em curso e obstando a que o tribunal contradiga ou reproduza decisão anterior (arts. 497/1, 1ª parte e 498)

- caso julgado: a pendência das acções verifica-se em momentos distintos , depois de a primeira causa ter sido decidida por sentença que já não admite recurso ordinário (arts. 497/1, 2ª parte e 498)

Em ambos os casos exige-se que a anterior acção tenha sido idêntica quanto aos sujeitos, ao pedido e à causa de pedir (art. 498/1).

Como deduzir, na prática, a excepção dilatória?1. [alegar os factos relativos à matéria da excepção]2. referir a norma relativa ao pressuposto processual em causa (nos termos do

art. [•]...)3. pelo que se verifica a excepção dilatória [•], que determina a [absolvição do

R. da instância/remessa dos autos para o Tribunal [•]]

Defesa por excepção peremptória (art. 487/2, na parte em que se refere que “alega factos que (...), servindo de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pelo autor, determinam a improcedência total ou parcial do pedido”): invocação de um objecto cuja procedência obsta à produção dos efeitos decorrentes do objecto definido pelo autor.- excepções materiais- determinam a absolvição, total ou parcial, do pedido (art. 493/3)- tipos e exemplos (os exemplos não estão previstos na lei, ao contrário das

excepções dilatórias):

• excepção peremptória impeditiva: obstam ao preenchimento de uma previsão legal, impedindo a produção de uma consequência jurídica; exemplos:

- nulidade do negócio jurídico- vícios da vontade e da declaração- incapacidade acidental

• excepção peremptória modificativa: determinam uma modificação do objecto invocado pelo autor, passando a ser outro depois da sua

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invocação pelo réu; deverá ser conjugada com a modificação consensual do pedido e da causa de pedir (art. 272) e com a modificação pelo autor, na réplica, do pedido e da causa de pedir (art. 273); exemplos:

- excepção do não cumprimento do contrato- modificação do contrato com fundamento em alteração anormal das

circunstâncias

• excepção peremptória extintiva: destroem as consequências jurídicas decorrentes do preenchimento de determinada previsão legal; exemplos:

- verificação de uma condição resolutiva- prescrição (3 anos, no caso do direito de indemnização - art. 498/1 CC)- caducidade (1 ano, no caso do direito de resolução de contrato de

arrendamento - art. 1085/1 CC)- todas as causas de extinção das obrigações (arts. 837 ss. CC):

(a) cumprimento(b) dação em cumprimento(c) compensação(d) consignação em depósito(e) novação(f) remissão(g) confissão

A dedução de excepção peremptória implica uma cumulação objectiva sucessiva, na medida em que o réu delimita um objecto distinto daquele que é alegado pelo autor. Todavia, não implica qualquer alteração do valor da causa (vs. reconvenção, infra).

A dedução da excepção peremptória constitui um ónus, a ser deduzida na contestação, ficando precludida a sua invocação em momento posterior ou em acção autónoma (art. 489/2).

A alegação de excepção peremptória permite que o autor conteste a matéria da excepção num articulado próprio: a réplica (art. 502/1), conforme veremos infra 11.3. Se não o fizer, uma vez mais, os factos consideram-se admitidos por acordo (art. 490/2, ex vi do art. 505). Por isso, e para evitar que o réu deduza “excepções encapotadas”, as excepções deduzidas devem ser especificadas separadamente (art. 488), sob pena de condenação por litigância de má fé (art. 456/2).

Como deduzir, na prática, a excepção peremptória?1. [alegar os factos relativos à matéria da excepção]2. referir o direito (nos termos do art. [•]...)3. pelo que se verifica a excepção peremptória [•], que determina a absolvição

do R. do pedido

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Reconvenção

Réu: autor do pedido reconvencional, ou reconvinteAutor: réu do pedido reconvencional, ou reconvindo

Pedido reconvencional: a reconvenção consiste na formulação pelo réu de um pedido, distinto do pedido normal de defesa (a absolvição do pedido), cuja procedência é requerida contra o autor (art. 274/1 e 501/1).- exemplo: condenação do autor no pagamento da prestação sinalagmática

que o réu pretende - o pedido reconvencional torna necessário apreciar um objecto diferente

daquele que é invocado pelo autor, mas não se confunde com a modificação do objecto do processo: aqui não há qualquer substituição de um objecto por outro (permanecendo um único objecto), mas sim a apresentação de um novo objecto, a par do objecto inicial, o que determina a pendência de vários objectos no processo

Justifica-se por razões de economia processual, nos casos em que é admitida.

Admissibilidade da reconvenção (art. 274/2):- quando o pedido do réu emerge do facto jurídico que serve de fundamento à

acção ou à defesa (conexão com o objecto apresentado pelo autor ou a defesa deduzida pelo réu)

• conexão com o facto jurídico que fundamenta a acção: v.g. o autor intenta uma acção pedindo o cumprimento de uma prestação contratual e o réu pede a condenação do autor a realizar a prestação sinalagmática do mesmo contrato

• conexão com o facto jurídico que fundamenta a defesa: v.g. o autor pede a condenação do réu na realização de uma prestação contratual e o réu invoca a nulidade do contrato, pedindo a restituição do que prestou (art. 289 CC)

- quando o réu se propõe obter a compensação ou tornar efectivo o direito a benfeitorias ou despesas relativas à coisa cuja entrega lhe é pedida

• obtenção de compensação: v.g. quando o pedido reconvencional visa conseguir a compensação do crédito do autor sobre o réu com um contra-crédito do réu sobre o autor (art. 847 CC)

• tornar efectivo o direito a benfeitorias ou despesas com a coisa: v.g. o autor propõe uma acção de reivindicação de um prédio e o réu pede o pagamento das benfeitorias realizadas no prédio reivindicado (art. 1273 CC)

- quando o pedido do réu tende a conseguir o mesmo efeito jurídico que o autor se propõe obter

• v.g. o autor instaura uma acção de divórcio e o réu pede o decretamento do divórcio a seu favor, por violação de deveres conjugais; ou

• o autor instaura uma acção de reivindicação de um imóvel e o réu deduz um pedido de reivindicação do mesmo imóvel, considerando-se ele o verdadeiro proprietário

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Contra a reconvenção inadmissível pode ser deduzida, pelo autor ou reconvindo, excepção dilatória inominada, na réplica, que o absolva da instância reconvencional (art. 288/1 e)).

Nota: é ténue a linha que separa a excepção peremptória da reconvenção, quando o réu alegue a extinção da obrigação pela compensação do crédito (arts. 847 ss. CC); neste caso:- excepção peremptória: invocação da compensação apenas para extinção do

crédito- reconvenção: invocação da compensação com pedido de condenação do

autor [reconvindo] no pagamento da diferença, v.g.

É um pedido autónomo do réu [reconvinte] contra o autor [reconvindo], pelo que requer o preenchimento de todos os pressupostos processuais exigidos para a generalidade das acções (i.e., deve ser equiparado a uma petição inicial, cfr. art. 467):

• competência [absoluta] do tribunal (art. 98 - material, hierárquica e internacionalmente)

• personalidade judiciária• capacidade judiciária• representação judiciária• patrocínio judiciário• legitimidade• [interesse processual - para Teixeira de Sousa]

A reconvenção deve ser expressamente identificada e deduzida separadamente na contestação, concluindo-se pelo pedido (art. 501/1).

Uma vez que a dedução de reconvenção implica a apreciação de um objecto autónomo e independente, a formulação de um pedido reconvencional distinto daquele deduzido pelo autor implica a soma do seu valor ao valor inicial da causa. Por isso, deve indicar-se o valor da reconvenção na contestação (cfr. modelo de contestação com reconvenção supra e art. 501/2). Quanto ao valor da acção, v. art. 308/2. Se, em função da alteração do valor da acção (incluindo agora o valor da reconvenção), o tribunal deixar de ser competente em razão do valor, cabe remessa oficiosa para o tribunal competente.

Identidade de formas de processo (art. 274/3): o pedido reconvencional não é , em princípio, admissível se a um dos objectos corresponder processo comum e ao outro processo especial, sob pena de absolvição do reconvindo da instância reconvencional.

Para garantir a observância do contraditório, a dedução da reconvenção implica a possibilidade de resposta do autor em qualquer das formas do processo comum:- processo ordinário: réplica - 15 dias (art. 502/1, 2ª parte e nº 3)- processo sumário: resposta - 20 dias (arts. 786 e 463/1)

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- processo sumaríssimo: não está previsto nenhum articulado de resposta do autor [reconvindo] à reconvenção do réu [reconvinte], pelo que se deve integrar esta lacuna com base no princípio do contraditório (art. 3/1), segundo Teixeira de Sousa (art. 464).

À reconvenção deduzida pelo réu não pode o autor, contudo, opor outra reconvenção (art. 502/1, 2ª parte).

Reconvenção interveniente: reconvenção acompanhada pela intervenção principal de um terceiro na acção pendente e que está sujeita aos pressupostos dessa cumulação subjectiva. A reconvenção interveniente pode ser deduzida pelo réu contra:1. o autor da acção [reconvindo] e um terceiro, cuja intervenção no processo é

provocada pelo réu [reconvinte] - cfr. art. 326:• exemplo: o autor propõe uma acção de reivindicação de um imóvel e o

réu, considerando-se proprietário do mesmo imóvel, deduz um pedido reconvencional de reivindicação e provoca a intervenção do cônjuge do autor (arts. 28-A e 326)

2. o terceiro apenas:• exemplo: o réu demanda a Companhia de Seguros para o pagamento de

uma indemnização relativamente a um acidente de viação3. o autor apenas, conjuntamente pelo réu e por um terceiro:

• exemplo: o autor reivindica do réu um imóvel e este, julgando-se comproprietário do mesmo, provoca a intervenção do outro comproprietário [terceiro] para que juntos deduzam um pedido reconvencional de reivindicação

Revelia

Revelia:- absoluta: réu não pratica qualquer acto na acção pendente (art. 484/1)- relativa: réu não contesta, mas pratica em juízo qualquer outro acto

processual, v.g. a constituição de mandatário judicial

A revelia - quer a relativa, quer a absoluta - pode ser operante ou inoperante:- operante: produz efeitos quanto à composição da acção (ou seja,

consideram-se confessados os factos articulados pelo autor - art. 484/1)- inoperante: a falta de contestação nada implica quanto à decisão da causa

(ou seja, não se consideram confessados os factos) - pelo que carecem de prova, nos termos do art. 513

A revelia é inoperante nos casos referidos no art. 485 (aplicável também ao processo sumário e sumaríssimo, por via da aplicação do disposto no art. 463/1, 2ª parte):- quando, havendo vários réus, algum deles contestar- quando o réu ou algum dos réus for incapaz - quando o réu ou algum dos réus foi citado editalmente e permaneça na

situação de revelia absoluta

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- quando a vontade das partes for ineficaz para produzir o efeito jurídico que pela acção se pretende obter

- quando se trate de factos para cuja prova se exija documento escrito (v.g. propriedade de bem imóvel)

11.3 - Réplica

Modelo de réplica a contestação com pedido reconvencional

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], A. nos autos à margem identificados, em que é R. [Nome], vem apresentar RÉPLICA,o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

I. Excepção [dilatória/peremptória]:

Alega o R. que [•]...

Porém,

Nos termos do art. [•], ...

Pelo que [•]..., improcedendo a excepção [dilatória/peremptória]

II. Da Reconvenção:

Não é verdade que [•]...

Impugnam-se, por isso, os factos constantes dos artigos [•], [•] e [•] da reconvenção.

Termos em que:

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(i) deve a excepção [dilatória/peremptória] ser julgada improcedente, por não provada; e

(ii)deve o pedido do A. ser julgado procedente, condenando-se o R. e absolvendo-se o A. do pedido reconvencional (!)

Junta: procuração forense, [•] documentos, duplicados legais e (!) comprovativo da notificação à parte contrária.

*não há lugar ao pagamento da taxa de justiça

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

O autor pode responder na réplica em dois casos:(i) se o réu deduzir alguma excepção, o autor pode (e deve) responder quanto

à matéria da excepção (art. 502/1, 1ª parte); • exemplo: o autor pede uma indemnização pelo incumprimento de uma

prestação contratual; o réu invoca a anulabilidade do contrato [excepção peremptória impeditiva], pelo que o autor pode pedir subsidiariamente que, se essa excepção for considerada procedente, o réu seja condenado a indemnizar o interesse contratual negativo (cumulação sucessiva de pedidos, admissível nas condições de alteração do pedido ou da causa de pedir - por analogia, arts. 272 e 273)

(ii)se o réu deduzir pedido reconvencional, o autor pode deduzir toda a defesa quanto à matéria da reconvenção (art. 502/1, 2ª parte).

• à reconvenção deduzida pelo réu não pode o autor opor outra reconvenção (art. 502/1, 2ª parte)

- prazo: 15 dias a contar da notificação da contestação, ou 30 dias, em caso de reconvenção ou de acção de simples apreciação negativa (art. 502/3)

- se o réu tiver simultaneamente deduzido alguma excepção e pedido reconvencional, a réplica responderá a ambas as matérias em duas partes distintas e o prazo para apresentação será o prazo mais longo (30 dias)

- se o autor apresentar réplica sem que o réu haja deduzido qualquer excepção ou pedido reconvencional, o juiz ordena, no despacho saneador, o desentranhamento da réplica, i.e., a sua retirada do processo

A não contestação das excepções pelo autor ou a falta de impugnação dos factos alegados pelo réu no pedido reconvencional provoca a admissão, por acordo, dos respectivos factos, nos termos do art. 490/2 (ex vi do art. 505), a não ser que:- os factos não impugnados estejam em oposição com a defesa considerada no

seu conjunto- não for admissível confissão sobre os factos não impugnados - os factos não impugnados só podem ser provados por escrito

Notificações (cfr. 3.6 supra) - os prazos para apresentação da réplica contam-se a partir do dia em que a notificação se considera feita:

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- pela secretaria - a notificação postal presume-se feita (art. 254/3):• no 3º dia posterior ao do registo, quando registada [na contagem

incluem-se sábados, domingos e feriados, mas o 3º dia tem de ser um dia útil - cfr. art. 144/2]; ou

• no 1º dia útil seguinte a esse, quando não seja registada- os mandatários que pratiquem actos processuais através do CITIUS deixam

de ser notificados por correio registado e são notificados também através do CITIUS (art. 254/2 e Portaria 114/2008)

- por sua vez, o mandatário do autor que apresente réplica tem o dever de notificar o mandatário da parte contrária, nos termos do art. 260-A, cfr. veremos infra em 11.4 (no âmbito da tréplica)

Modificação pelo autor, na réplica, do pedido e da causa de pedir (art. 273): quer na modificação do pedido, quer na modificação da causa de pedir, onde se lê “na réplica” (arts. 273/1, 1ª parte e 273/2, 1ª parte), deve ler-se “na réplica, em processo ordinário, e na resposta à contestação, em processo sumário” (art. 785) [no processo sumário, a réplica designa-se “resposta à contestação”]. A modificação unilateral do pedido ou da causa de pedir na réplica justifica que o réu possa apresentar um articulado de resposta, a tréplica. 11.4 - Tréplica

Admite-se resposta do réu, por meio de tréplica, nos seguintes casos (art. 503/1):(i) se houver réplica e nesta for modificado o pedido ou a causa de pedir (art.

273/2)(ii)se o réu tiver deduzido pedido reconvencional, e o autor tiver, em resposta,

deduzido alguma excepção- prazo: 15 dias a contar da notificação da réplica (art. 503/2)

O exercício do contraditório após o último articulado é assegurado pelo art. 3/4: se, na tréplica, o réu deduzir alguma excepção, o autor pode responder na audiência preliminar ou, na falta desta, no início da audiência final.

Notificações (cfr. 3.6 e 6.5 supra): o autor apresentou a petição inicial e a secretaria citou o réu, oficiosamente; por sua vez, o réu apresentou a contestação, com reconvenção, e a secretaria notificou o mandatário do autor (tudo em conformidade com o que referimos supra em 11.3).Ora após esta última notificação, todos os articulados e *requerimentos autónomos apresentados subsequentemente serão notificados pelo mandatário judicial da parte ao mandatário judicial da contraparte, nos termos dos arts. 229-A e 260-A.- especificidades do prazo (art. 260-A/4) - já referido em 6.5: se a notificação

ocorrer no dia anterior a feriado, sábado, domingo ou férias judiciais, o prazo para resposta (réplica, tréplica, resposta a *requerimento autónomo) inicia-se no primeiro dia útil seguinte (ou, no caso das férias, no primeiro dia posterior ao termo das mesmas), salvo no caso de processos urgentes; já na

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notificação pela secretaria, aplica-se a regra geral: a notificação considera-se efectuada no dia da expedição do fax, v.g., pelo que o primeiro dia do prazo é o dia seguinte a esse (mesmo que se trate de dia não útil)

• porquê? - para evitar que o mandatário notifique o mandatário da parte contrária às 23:59 de uma sexta-feira, por exemplo

• o não cumprimento do dever de notificação do mandatário da parte contrária é uma mera irregularidade, e implica a condenação na multa prevista no art. 152/3, ex vi do art. 260-A/1, 2ª parte

Nota:- requerimentos autónomos:

• requerimentos probatórios• reclamações por nulidades processuais ou por nulidades da decisão,• requerimentos de aclaração da decisãoetc.

As notificações entre mandatários são realizadas por todos os meios permitidos por lei para a prática de actos processuais (arts. 150 e 152, ex vi do art. 260-A/1):- preferencialmente via CITIUS- correio registado- fax, etc.

11.5 - Articulados supervenientes

Modelo de articulado superveniente

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], [autor/réu] nos autos à margem identificados, em que é [réu/autor] [Nome], vem deduzir ARTICULADO SUPERVENIENTE, nos termos do art. 506 do CPC,com os seguintes fundamentos:

1. no dia [data], o [autor/réu] teve conhecimento de [•], conforme documento n.º 1 que ora se junta;

2. [descrição dos factos novos];3. os factos referidos têm manifesto interesse para a causa, uma vez que a

acção foi proposta em data anterior à do conhecimento de [•] e, por outro lado, nenhum dos artigos da *base instrutória permite a sua inclusão nos meios de prova [cfr. 11.6 e seguintes quanto à base instrutória e à prova];

4. assim, requer-se que os factos referidos em 1 e 2 sejam incluídos na matéria da base instrutória.

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Prova da superveniência

Junta: [•] documentos, duplicado e comprovativo de notificação à parte contrária (!)*não é necessário juntar a procuração forense, uma vez que já deverá ter sido junta aos autos

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

Articulado superveniente (art. 506): conhecimento, pela parte, de factos novos relevantes após a fase dos articulados (vs. ampliação da causa de pedir, na réplica - art. 273).- são supervenientes (art. 506/2):

• os factos ocorridos posteriormente ao termo dos prazos de apresentação dos articulados (superveniência objectiva)

• os factos anteriores aos articulados de que a parte só tenha conhecimento depois de findarem esses prazos (superveniência subjectiva)

- podem ser deduzidos em articulado até ao encerramento da discussão (art. 506/1, in fine e 3):

• se houver audiência preliminar - quanto aos factos que tenham ocorrido até então ou de que a parte tenha tido conhecimento

- se os factos forem posteriores à audiência preliminar; ou- se a audiência preliminar não se tiver realizado:

• o articulado superveniente deve ser apresentado dentro do prazo de *10 dias depois da designação da data para a audiência de julgamento

- se os factos forem posteriores às datas anteriormente referidas; ou- se a parte só tiver conhecimento em data posterior às datas referidas:

• o novo articulado será oferecido na audiência de julgamentoNão pode alegar desconhecimento de um facto, a sociedade que, na pessoa da sua funcionária, recebeu determinada carta e arrumou-a numa gaveta, tendo ficado esquecida. Aqui, tem aplicação a regra geral constante do art. 231/3, segundo a qual as pessoas colectivas podem ser citadas na pessoa de qualquer empregado.

Prazo

*O prazo de 10 dias referido na alínea b) do art. 506/3 conta-se a partir da notificação do despacho que designou o dia para a audiência de julgamento.

Cumpre apreciar:Conforme foi referido em 3.6, A notificação postal presume-se feita (art. 254/3):- no 3º dia posterior ao do registo, quando registada [na contagem incluem-se

sábados, domingos e feriados, mas o 3º dia tem de ser um dia útil]; ou- no 1º dia útil seguinte a esse, quando não seja registada.

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Exemplo:- o despacho de designação do dia para a audiência é recebido pela parte no

dia 11 de Abril de 2011, segunda-feira, em carta com data de registo do dia anterior; uma vez que a notificação postal é, in casu, registada, considera-se feita no 3º dia [não útil, sendo que o 3º e último dia tem de ser dia útil], dia 14 de Abril, quinta-feira; em conclusão: o primeiro dia do prazo é sexta-feira, dia 15 de Abril de 2011

Prova

Prova documental: os documentos destinados a fazer prova da superveniência devem logo ser apresentados com o articulado superveniente (art. 523/1). Quando apresentados extemporaneamente, o requerimento probatório deve pedir a dispensa de multa.

Resposta

Abrantes Geraldes: em obediência do princípio do contraditório (art. 3/3), o juiz deve ouvir a parte contrária uma vez apresentado o articulado superveniente. - por isso, a parte contrária é notificada para responder em 10 dias (prazo

supletivo legal constante do art. 153)- em caso de não impugnação, os factos consideram-se admitidos por acordo

(arts. 505 e 490), desde que não se verifique uma das hipóteses referidas no nº 2 do art. 490

11.6 - Fase do saneamento ou condensação

Fase do saneamento ou condensação: intervenção do juiz, com vista a:- despacho “pré-saneador” (art. 508): remover obstáculos de natureza

processual, convidando as partes a suprir as deficiências ou irregularidades dos articulados; casos em que é obrigatório:

• suprimento de excepções dilatórias• convite ao aperfeiçoamento dos articulados• suprimento de insuficiências na exposição da matéria de facto

- despacho saneador (art. 510) [v. infra em 11.7]

Despacho “pré-saneador”

(i) Suprimento de excepções dilatórias

Conforme referimos supra em 11.2, o não preenchimento dos pressupostos processuais constitui uma excepção dilatória.Cumpre, por isso, recordar os pressupostos processuais:Pressupostos processuais:

• competência • personalidade judiciária• capacidade judiciária

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• representação judiciária• patrocínio judiciário• legitimidade• [interesse processual - para Teixeira de Sousa]

Com efeito, o despacho “pré-saneador” o juiz conhece das excepções dilatórias e convida as partes a suprí-las (quando sanáveis) - art. 508. Quando susceptíveis de serem afastadas pelo preenchimento superveniente do pressuposto em falta, as excepções dilatórias consideram-se sanáveis (art. 288/3 e 265/2).

São sanáveis as seguintes excepções dilatórias:- incompetência relativa (arts. 108 ss.)

• violação de regras de competência relativas ao valor da causa e forma do processo, divisão judicial do território e pactos de jurisdição/competência

• conhecimento oficioso nos casos do art. 110, m que só poderá ser suscitada pelo juiz até ao despacho saneador ou até ao primeiro despacho subsequente à fase dos articulados

• se houver remessa oficiosa para o tribunal competente (art. 111/3), o processo é apreciado noutro tribunal, que não pode reapreciar a decisão de incompetência anterior [embora se possa declarar incompetente – princípio kompetenz-kompetenz]

- falta de personalidade judiciária (apenas nos casos previstos no art. 8)- incapacidade judiciária

• o suprimento da incapacidade judiciária opera pelos meios normais, previstos no art. 10 (v.g. representação legal dos menores, pelos progenitores ou, subsidiariamente, pelo instituto da tutela - art. 124 CC)

- falta de representação • verifica-se quando não haja lugar ao suprimento da incapacidade

judiciária pelo representante legal ou pelo curador (art. 23/1)• sanável pela mera intervenção ou citação do representante• se não for sanada nos termos do art. 23/2, 1ª parte, e se o incapaz for o

autor, o processo extingue-se e o réu é absolvido da instância, sendo que tudo o que fora anteriormente praticado fica sem efeito (arts. 23/2, 2ª parte, 493/2 e 288/ 1 c)); se o incapaz for o réu, fica sujeito ao regime da sub-representação (arts. 23/2, 2ª parte e 15) e correm novamente os prazos para a prática dos actos

- irregularidade na representação (v.g. por representação por falso curador ou tutor) - art. 23/1

• se não se assistir à ratificação ou repetição do art. 23/2, 1ª parte, o réu fica em revelia inoperante, nos termos do art. 485/b), sendo que os factos articulados pelo autor não se têm por confessados

• no caso de se tratar de pessoa colectiva, o art. 485/b) não pode ser aplicado, pelo que se a irregularidade não for suprida a pessoa colectiva entra em revelia absoluta (art. 484/2) e têm-se por confessados os factos articulados pelo autor (Paula Costa e Silva)

- falta de patrocínio judiciário quando este é obrigatório

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• pode ser arguida em qualquer momento pela contraparte (art. 40)etc.Nestes casos, o juiz profere despacho, tendo em vista o suprimento da excepção (arts. 508/1 a) e 265/2).

São insanáveis as seguintes excepções dilatórias:- incompetência absoluta (arts. 101 ss.)

• violação de regras de competência material (competência genérica, especializada), internacional e hierárquica

• conhecimento oficioso, implica absolvição do réu da instância (art. 105/1), ou o indeferimento liminar (art. 234-A)

• impede o tribunal de proferir uma decisão de mérito sobre a causa, ainda que possa haver a repropositura da acção [não faz caso julgado material]

- falta de personalidade judiciária (excepto se se tratar de um dos casos previstos no art. 8)

• verificada esta excepção, a petição inicial deve ser indeferida liminarmente no despacho liminar (art. 234-A/1, dado ser insuprível)

• se não houver despacho liminar, o pressuposto personalidade judiciária deve ser apreciado no despacho saneador e, na ausência deste, absolve o réu da instância (arts 493/2 e 288/1 c))

- litispendência- caso julgadoetc.Nestes casos, o despacho do juiz deve determinar a absolvição da instância (art. 288/1).

(ii) Convite ao aperfeiçoamento dos articulados

No despacho “pré-saneador”, o juiz pode ainda convidar as partes a aperfeiçoar os articulados (art. 508/1 b)) - também conhecido por “despacho de aperfeiçoamento”.- v.g. quando os articulados careçam de requisitos legais (como a indicação do

valor do pedido reconvencional) ou a parte não haja juntado documento essencial (razões meramente formais)

- não há lugar a despacho de aperfeiçoamento ante uma petição inicial inepta (art. 193/2), mas sim absolvição do réu da instância

- na ausência de prazo fixado pelo juiz para o suprimento das irregularidades, aplica-se o prazo supletivo legal previsto no art. 153 (10 dias)

11.7 - Audiência preliminar e despacho saneador

(i) Audiência preliminar

Concluídas as diligências com vista (i) ao suprimento de excepções dilatórias ou (ii) ao aperfeiçoamento dos articulados, se a elas houver lugar (ou seja, se houver necessidade de despacho “pré-saneador”, nos termos supra), o juiz

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convoca audiência preliminar, a realizar nos 30 dias subsequentes (art. 508-A/1).

A audiência preliminar constitui regra no processo ordinário, mas o juiz pode dispensá-la nos processos mais simples, nos termos do art. 508-B.

Finalidade da audiência preliminar (art. 508-A/1):- tentativa de conciliação (art. 509) - necessidade de procuração com poderes

pessoais, se a parte não comparecer pessoalmente; problema do segredo profissional, na tentativa de conciliação perante juiz (art. 87 EOA)

• obtido o acordo, é lavrada acta e o juiz profere sentença homologatória- discussão de facto e de direito, pelas partes, quando o juiz:

• aprecie as excepções dilatórias; ou• tencione conhecer do mérito da causa

- discutir as posições das partes - delimitação dos termos do litígio e suprimento das deficiências ou imprecisões na exposição da matéria de facto

- proferir despacho saneador (art. 510)- seleccionar a matéria de facto que e considera assente e aquela que constitui

base instrutória (art. 511) - admitindo-se reclamação • factos provados (matéria assente) - v.g. factos não impugnados ou

factos comprovados por documento autêntico (como a data de nascimento do autor); a matéria assente é sistematizada por alíneas

• factos por provar (base instrutória) - elaborada numa sequência numérica, terminando com pontos de interrogação; a resposta deverá ser “provado” ou “não provado”

- v.g. “no dia 5 de Maio o R. deu dois socos na cara do A.?”Complementarmente, na audiência preliminar poderão ser ainda (art. 508-A/2):- indicados os meios de prova- designada a data para a realização da audiência final- requerida a gravação da audiência final ou a intervenção do colectivo (sendo

a prova gravada, deixa de haver lugar à constituição do tribunal colectivo - art. 646/2 b))

(ii) Despacho saneador

Audiência preliminar e despacho saneador poderão corresponder a um só momento processual (art. 508-A/1 d)). Com efeito, o despacho saneador pode ser logo ditado para acta na audiência preliminar, pelo que, neste caso, o trabalho de selecção da matéria de facto será feito pelo juiz, na presença dos advogados das partes (art. 510/2, 1ª parte). Se, todavia, a complexidade da causa o justificar, o despacho saneador poderá ser proferido por escrito pelo juiz no prazo de 20 dias (art. 510/2, 2ª parte).

Assim, uma acta de audiência preliminar para a qual tenha sido ditado o despacho saneador, estará organizada da seguinte forma:1. presentes: autor e réu, na pessoa dos respectivos mandatários2. tentativa de conciliação - frustrada

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3. despacho saneador, pelo juiz:- conclui-se pela inexistência de qualquer excepção dilatória - a fórmula

mais comum é a seguinte:“O tribunal é competente, em razão da nacionalidade, da matéria, da hierarquia e do território.Não existem nulidades que invalidem todo o processo.As partes têm capacidade e personalidade judiciária, mantêm-se devidamente representadas em juízo e são legítimas.Não existem nulidades, excepções processuais ou outras questões prévias que cumpra conhecer”.- esta declaração genérica sobre o preenchimento dos pressupostos constitui caso julgado formal e obsta a que o tribunal se volte a pronunciar sobre a questão concretamente apreciada (art. 510/3)

4. selecção da matéria de facto relevante, pelo juiz:- factos assentes- base instrutória

5. palavra aos mandatários para reclamarem da selecção da matéria de facto6. palavra aos mandatários para apresentarem os respectivos meios de prova7. pedido de gravação da audiência final8. despacho, pelo juiz:

- admite prova apresentada pelas partes- difere o pedido de gravação da audiência final- marca audiência de discussão e julgamento

Todavia, pode haver lugar a despacho saneador sem audiência preliminar (art. 510/1). Exemplo de como está organizado o despacho neste caso:1. dispensa da audiência preliminar - com explicação dos motivos2. despacho saneador:

- conclui-se pela inexistência de qualquer excepção dilatória - utilizando-se a fórmula que transcrevemos supra (“O tribunal é competente, em razão da nacionalidade...”)

3. selecção da matéria de facto relevante, pelo juiz:- factos assentes- base instrutória

Despacho saneador (art. 510) - finalidades:- conhecer das excepções dilatórias suscitadas pelas partes ou de

conhecimento oficioso• se insupríveis: *saneador-sentença, absolvendo o réu da instância (v.g.

ilegitimidade passiva pelo facto de a acção de despejo não ter sido deduzida também contra o cônjuge do réu, uma vez que o bem locado é igualmente a casa de morada de família - art. 28-A/3)

- no caso em apreço, o autor pode ainda suprir a ilegitimidade nos termos dos arts. 269/2 e 325 ss.

- conhecer das nulidades • exemplo: se o autor apresentar réplica sem que o réu haja deduzido

qualquer excepção ou pedido reconvencional, o juiz ordena, no despacho

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saneador, o desentranhamento da réplica, i.e., a sua retirada do processo

• outros exemplos: ineptidão da petição inicial ou erro na forma do processo - arts. 193 e 199, ex vi do art. 206/2

- conhecer imediatamente do mérito da causa (saneador-sentença): sempre que o estado do processo o permitir, v.g. quando o réu não impugna nenhum dos factos na contestação

*Exemplo de saneador-sentença [verificação de excepção dilatória insuprível]:“A causa de pedir que serve de fundamento à presente acção é um contrato de transporte marítimo.Ora sucede que compete aos tribunais marítimos conhecer das questões relativas a contratos de transporte por via marítima [•]...Pelo exposto, julgo este Tribunal absolutamente incompetente para tramitar e julgar a presente acção, razão pela qual absolvo o réu da presente instância.Custas pelo autor.Registe e notifique.”

Do despacho saneador cabe recurso, excepto no caso previsto no art. 510/4.

(iii) Reclamação da selecção da matéria de facto

Conforme referimos supra, a selecção da matéria de facto é feita na audiência preliminar, e consiste num trabalho de selecção de factos assentes e de factos por provar que é feito pelo juiz, na presença dos advogados das partes. É ao juiz que cabe a última palavra quanto à selecção da matéria de facto (art. 511/1).

A selecção da matéria de facto admite reclamação, com fundamento em (art. 511/2):- deficiência (factos que deveriam constar da matéria assente/base instrutória

e que não foram seleccionados pelo juiz; factos que constam da base instrutória e que deveriam constar da matéria assente, por serem factos provados)

- excesso (factos que constam da matéria assente e que deveriam constar da base instrutória, por não provados)

- obscuridadeA reclamação da selecção da matéria de facto pode ser feita na própria audiência preliminar (art. 508-A/1 e), in fine), caso em que é ditada oralmente para acta: “O Ilustre mandatário do [autor/réu] apresentou a seguinte reclamação sobre a [matéria assente/base instrutória]: ...”. O mandatário da contraparte pode responder oralmente à reclamação (princípio do contraditório, art. 3/3).Alternativamente, a reclamação pode ser apresentada por escrito:

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Modelo de reclamação da matéria assente/base instrutória [constante do despacho saneador]

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], [autor/réu] nos autos à margem identificados, em que é [réu/autor] [Nome], notificado do douto despacho saneador (!), vem RECLAMAR DA [MATÉRIA ASSENTE/BASE INSTRUTÓRIA], nos termos do art. 511/2 do CPC,com os seguintes fundamentos:

O [autor/réu] alegou no artigo [•] da [petição inicial/contestação] que [•].

O [réu/autor] [não impugnou esse facto, pelo que se deve considerar admitido por acordo / impugnou esse facto, pelo que não se pode considerar admitido por acordo], nos termos do art. 490/2 do CPC.

Todavia, foi [esse facto incluído na base instrutória como artigo [•] / esse facto foi incluído na matéria assente como artigo [•]].

Requer, por conseguinte, [que esse facto seja transferido da base instrutória para a matéria assente / que esse facto se mantenha na base instrutória, porquanto foi impugnado].

Termos em que deve a presente reclamação ser julgada procedente.

Junta: comprovativo de notificação à parte contrária (!).*não é necessário juntar a procuração forense, uma vez que já deverá ter sido junta aos autos

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

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A resposta à reclamação seguirá o mesmo esquema que esta, mas deverá concluir por: “Termos em que deve a reclamação do [autor/réu] ser julgada improcedente”.

O despacho que decide sobre as reclamações não é susceptível de recurso (art. 511/3), salvo em caso de interposição de recurso da sentença final. Nesse caso, o tribunal superior pode reapreciar a questão suscitada na reclamação.

11.8 - Provas

Modelo de requerimento probatório

Tribunal Judicial de [Comarca][•] Juízo [•] SecçãoProc. n.º [•]

Exmo. Senhor Juiz de Direito

[Nome], [autor/réu] nos autos à margem identificados, em que é [réu/autor] [Nome], notificado do [douto despacho saneador / despacho a fls.] (!), vem pelo presente apresentar REQUERIMENTO DE PROVA,nos termos e com os fundamentos seguintes:

I. Prova documental

Requer a junção aos autos dos seguintes documentos:

Doc. 1: [•], referente a [•]- para prova do art. [•] da base instrutória

Doc. 2: [•], referente a [•]- para prova do art. [•] da base instrutória

II. Requisição de informações

Nos termos do art. 535 do CPC, vem o [autor/réu] requerer a V. Exa. se digne requisitar a seguinte informação junto da [organismo oficial/contraparte/terceiro], uma vez que este se recusou a prestá-la ao ora requerente:- ...- para prova do art. [•] da base instrutória

III. Depoimento de parte

Nos termos do art. 552/2 do CPC, requer o depoimento de parte do [réu/autor] à matéria constante dos arts. [•], [•] e [•] da base instrutória.

IV. Prova pericial

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Nos termos dos arts. 568 e ss. do CPC, requer a realização de prova pericial ([•]), a realizar na pessoa do [autor/réu]- para prova dos arts. [•] e [•] da base instrutória

V. Prova testemunhal

1. [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•];2. [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•], a apresentar (!)3. [Nome], [estado civil], [profissão], residente na [•].

VI. Inspecção judicial

Nos termos do art. 612 do CPC, requer a V. Exa. a deslocação do tribunal a [•], a fim de averiguar [•]- para prova dos arts. [•], [•] e [•] da base instrutória

Junta: [•] documentos e comprovativo da notificação à parte contrária.*não é necessário juntar a procuração forense, uma vez que já deverá ter sido junta aos autos

O Advogado,[carimbo: assinatura e domicílio profissional]

Instrução

Fase da instrução: indicação dos meios de prova (arts. 513 ss.).- a prova é a actividade realizada em processo tendente à formação da

convicção do tribunal sobre a realidade dos factos controvertidos (arts. 341 ss. CC)

Requerimento probatório (cfr. o modelo supra): junção de documentos e referência aos quesitos que os mesmos visam provar.- a produção antecipada de prova pode também ser requerida ao abrigo do art.

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Meios de prova: elementos portadores da informação que permite a formação da convicção do tribunal sobre a realidade dos factos controvertidos. - prova testemunhal (art. 392 CC e 616 ss. CPC)

• o rol de testemunhas deve indicar o nome, estado civil, profissão e morada

• limite em processo ordinário: 20 testemunhas no total (art. 632/1) e um máximo de 5 testemunhas por facto/artigo (art. 633)

• as testemunhas são inquiridas quanto aos factos constantes da base instrutória

• inquirição por teleconferência (art. 623)• deslocação da testemunha: referir a expressão “a apresentar” depois da

identificação da testemunha, no rol de testemunhas

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- v.g. André Bento Cordeiro, casado, engenheiro, residente na Rua das Flores, 37, Bragança, a apresentar

- prova documental (art. 362 CC e 523 ss. CPC)• a apresentar com o articulado em que se aleguem os factos

correspondentes (art. 523/1)• o documento oferecido com o último articulado (contestação, réplica ou

tréplica) ou depois dele é notificado à parte contrária, para se pronunciar sobre o mesmo - prazo de exame, de 10 dias [prazo supletivo] (arts. 526 e 153); se for junto em pleno julgamento, o mandatário pede a palavra e dita para acta o requerimento, e a notificação ao mandatário da contraparte é imediata

- a contraparte pode: (i) “opor-se à junção, em virtude de o documento não ter qualquer

relação com o quesito”; (ii) impugnar a genuinidade do documento [documento particular]

(art. 544), alegando “ignora se a letra e assinatura do documento correspondem à entidade a quem vêm atribuídas, pelo que impugna o documento nos termos do art. 544 do CPC” - neste caso, dá-se uma inversão do ónus da prova; ou

(iii)demonstrar a falsidade do documento [documento autêntico]• a parte pode ainda requerer ao tribunal a requisição de informação/

documentos a organismos oficiais, à contraparte ou a terceiros (art. 535); neste caso, a parte tem de alegar que não foi possível obter a informação ou documentação pela própria parte

- prova por confissão (art. 352 CC e 552 ss. CPC) - depoimento de parte (não é a regra, em processo civil - vs. processo penal)

• o depoimento de parte não pode ser requerido nas acções que versem sobre direitos indisponíveis (v.g. acção de divórcio), relativamente aos quais não é admissível confissão (art. 299/1)

- prova pericial (art. 388 CC e 568 ss. CPC): v.g. exame à escrita, quantificação de incapacidade resultante de acidente, etc.

• mão há desistência da perícia sem o acordo da parte contrária- inspecção judicial (art. 390 CC e 612 ss. CPC): deslocação do tribunal ao

local do acontecimento dos factos (v.g. local do acidente de viação - deslocação do juiz e de um funcionário judicial)

Factos necessitados de prova

Conforme estudado supra, o objecto da prova é delimitado pelos factos alegados pelas partes (arts. 664, 2ª parte). Há, todavia, factos alegados pelas partes que não se integram no objecto da prova: dos factos invocados, só necessitam de ser provados os factos controvertidos (aqueles que, alegados por uma das partes, são impugnados pela contraparte, art. 490/1) e, desse âmbito, somente os factos pertinentes para a decisão da causa (art. 511/1).

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Factos dispensados de prova

- factos não controvertidos: • dos factos invocados pelas partes não necessitam de prova os factos não

controvertidos, i.e., os factos invocados por uma das partes e não impugnados pela contraparte, considerados admitidos por acordo (arts. 490/2 e 505)

• também não carecem de prova aqueles factos que, de entre os factos alegados, estão abrangidos pela força de caso julgado de uma decisão anterior vinculativa para as partes (v.g. se ficou estabelecida em anterior acção a propriedade do imóvel, na acção de desocupação do mesmo não cabe voltar a produzir a prova desse facto)

- factos não necessitados de alegação: • os factos que não estão submetidos ao ónus de alegação não carecem

de ser provados pela parte:- factos notórios: arts. 514/1 CPC – factos que são do conhecimento geral

de uma opinião pública medianamente informada, presumindo-se que o tribunal deveria ter igualmente conhecimento deles (v.g. acontecimentos históricos, naturais ou económicos)

- factos de conhecimento funcional: art. 514/2 – factos conhecidos do tribunal pelo exercício da função jurisdicional e que sejam documentalmente demonstráveis (v.g. a morte de uma das partes)

- factos de conhecimento oficioso: factos que, apesar de não serem notórios nem de conhecimento funcional, o tribunal pode conhecer, por força da lei, independentemente de alegação das partes (o facto que a parte não tem o ónus de alegar, também não tem o ónus de provar, enfim)

11.9 - Audiência final

Marcação do julgamento: art. 155.

Causas de adiamento da audiência: art. 651.- v.g. falta de advogado (art. 155/5)- a falta de testemunha notificada não origina adiamento da audiência, mas

apenas da inquirição (art. 629/3 b))- os advogados podem ainda, por acordo, provocar a suspensão da instância

pelo prazo máximo de 6 meses (art. 279/4)

Ordem dos actos do julgamento [que poderá desdobrar-se em várias sessões]:1. depoimentos de parte (arts. 552 ss.)2. esclarecimentos verbais dos peritos3. inquirição das testemunhas

• são inquiridas, em primeiro lugar, as testemunhas do autor (art. 634)• o advogado da contraparte pode fazer as instâncias indispensáveis para

se completar ou esclarecer o depoimento (cross-examining) - art. 638/2;

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tentará, por isso, abalar a credibilidade do depoimento da testemunha arrolada pela contraparte (art. 640)

• o juiz procurará compreender a “razão de ciência” de cada testemunha, i.e., a forma pela qual a testemunha tomou conhecimento dos factos em apreço

• inquirição de testemunha não arrolada (art. 645): oficiosamente, pelo tribunal

• depoimento por escrito (art. 639/1): em caso de impossibilidade ou grave dificuldade de comparência, mediante autorização do juiz e com acordo das partes (excepção: acordo das partes não é necessário no depoimento por escrito em acção especial de cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato (Decreto-Lei 269/98, art. 5)

4. alegações sobre a matéria de facto• fixação dos factos que devam considerar-se provados e aqueles que não

o foram, tendo atenção a prova global que foi produzida durante todo o processo (e não apenas na audiência de julgamento)

• devem ser curtas, incisivas e directas5. decisão sobre a matéria de facto ou “respostas aos quesitos”

• na maior parte dos casos, a resposta não é imediata, mas sim em despacho posterior (art. 653/2)

• factos provados; factos não provados; provado apenas que...• o tribunal aprecia livremente as provas, decidindo os juízes segundo a

sua prudente convicção acerca de cada facto (art. 655/1)6. reclamações

• apenas se admite reclamação contra a decisão sobre a matéria de facto nos seguintes casos (art. 653/4):

- deficiência- obscuridade- contradição - falta de motivação

7. discussão escrita sobre os aspectos jurídicos da causa (alegações de direito)• a matéria provada constante da decisão sobre a matéria de facto indicia

desde logo, na maior parte dos casos, a decisão que irá ser aplicada• por isso, por vezes as partes prescindem das alegações de direito• alternativamente, poderão as partes apresentar alegações de direito, por

escrito, nos termos do art. 657, em prazos sucessivos de 10 dias para cada uma das partes (em primeiro lugar o autor, depois o réu)

11.10 - Sentença

Dever de cognição do tribunal sob duas perspectivas:(i) dever de apreciar os factos apresentados (sob pena de omissão de

pronúncia, art. 660/2); e(ii)dever de não apreciar factos não invocados (sob pena de excesso de

pronúncia, art. 661/1) - condenar em quantia superior ao pedido ou em objecto diverso.

Ambos os extremos da pronúncia (omissão e excesso de pronúncia) constituem fundamento de nulidade da sentença (art. 668/1 d)).

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Esquema de sentença:1. relatório: - identificação das partes e sumário da petição inicial e da contestação2. identificação das questões a resolver na acção3. fundamentação de facto- factos provados4. fundamentação de direito- com sistematização de cada uma das matérias e identificação das normas

aplicáveis5. decisão

XII - Recursos

12.1 - Espécies

A interposição de recurso permite a impugnação de decisões judiciais através da intervenção de tribunal hierarquicamente superior, com a finalidade de obter:- anulação da sentença:

• por erro de procedimento; ou• por erro de julgamento

- substituição da sentença

Nos termos do art. 676, os recursos podem ser:- ordinários: interpostos num momento em que ainda não ocorreu o trânsito

em julgado• de apelação (arts. 691 ss.)• de revista (arts. 721 ss.)* o recurso de agravo foi abolido

- extraordinários: interpostos após o trânsito em julgado• uniformização de jurisprudência (arts. 763 ss.)• revisão (arts. 771 ss.)

Nota:- a decisão considera-se transitada em julgado quando não seja susceptível de

recurso ordinário ou de reclamação (art. 677)

12.2 - Prazos

Nos termos do art. 685, o prazo para a interposição do recurso é de 30 dias, contados a partir da notificação da decisão.- excepção: processos urgentes

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Anexo I

Calendário Judicial 2011

Feriados 2011:- 1 de Janeiro- 8 de Março- 22, 24 e 25 de Abril- 1 de Maio- 10 e 23 de Junho- 15 de Agosto- 5 de Outubro- 1 de Novembro- 1, 8 e 25 de Dezembro

Férias judiciais 2011 (art. 12 LOFTJ):- de 22 de Dezembro a 3 de Janeiro- de 17 de Abril (Domingo de Ramos) a 25 de Abril (2ª feira de Páscoa)- de 16 de Julho a 31 de Agosto

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Anexo II

Organização Judiciária Nova LOFTJ*(passos para a determinação da competência)

*a Lei 52/2008 é apenas aplicável às Comarcas-piloto (ver infra); este esquema inclui as alterações introduzidas pelos seguintes diplomas:- Lei 46/2011, de 24 de Junho- Decreto-Lei 74/2011, de 20 de Junho

1. Quanto à hierarquia:

(i) Supremo Tribunal de Justiça

(ii) 2ª Instância: Relações (Lisboa, Porto, Coimbra, Évora e Guimarães)

(iii) 1ª Instância: Tribunais comuns

2. Quanto ao território:- regras constantes dos arts. 73 ss. do CPC- da aplicação dessas regras concluímos pelo território das Comarcas-piloto

(incluindo duas comarcas recém-criadas)? - se sim, aplica-se a Nova LOFTJ:• Alentejo Litoral (sede: Santiago do Cacém)• Baixo Vouga (sede: Aveiro)• Grande Lisboa-Noroeste (sede: Sintra)• Cova da Beira (sede: Covilhã) - Decreto-Lei 74/2011, de 20 de Junho (!)• Lisboa (sede: Lisboa) - Decreto-Lei 74/2011, de 20 de Junho (!)

- em caso negativo, aplica-se a antiga LOFTJ, aprovada pela Lei 3/99

3. Quanto à matéria e ao valor:

(i) Juízos de competência genérica (arts. 110 ss.)

(ii)Juízos de competência especializada (arts. 74 ss.), com as alterações introduzidas pela Lei 46/2011, de 24 de Junho:

• instrução criminal (art. 111)• família e menores (art. 114)• trabalho (art. 118)• comércio (art. 121)• propriedade intelectual (art. 122)• concorrência, regulação e supervisão (novo! - art. 122-A, aditado)• marítimos (art. 123)• execução de penas (art. 124)• execução (art. 126)• instância cível (art. 128)• instância criminal (art. 131)

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