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1 8º ENCONTRO DA ABCP 01 a 04/08/2012, Gramado, RS Área Temática 11: Segurança Pública e Segurança Nacional O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DO EXÉRCITO NO BRASIL E NO CHILE EM PERSPECTIVA COMPARADA Adriana A. Marques (EBAPE/Instituto Meira Mattos/ECEME) Jacintho Maia Neto (EBAPE/Instituto Meira Mattos/ECEME) RESUMO Desde o final da Guerra Fria, a maioria das Forças Armadas latino-americanas, os Exércitos em particular, estão passando por um processo de transformação estrutural tendo em vista as mudanças na configuração da ordem internacional e o restabelecimento da democracia na região. O presente artigo analisará a transformação do Exército no Brasil e no Chile de forma comparada buscando identificar a gênese do processo em cada país, a visão institucional que orientou sua adoção e os objetivos propostos por cada força armada, lembrando que a transformação de instituições militares visa projetá-las para o futuro através do desenvolvimento de novas capacidades para cumprir novas missões ou desempenhar novas funções em combate. Palavras-chave: Política Comparada, Relações Civis-Militares e Transformação Organizacional.

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8º ENCONTRO DA ABCP

01 a 04/08/2012, Gramado, RS

Área Temática 11: Segurança Pública e Segurança Nacional

O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DO EXÉRCITO NO

BRASIL E NO CHILE EM PERSPECTIVA COMPARADA

Adriana A. Marques (EBAPE/Instituto Meira Mattos/ECEME)

Jacintho Maia Neto (EBAPE/Instituto Meira Mattos/ECEME)

RESUMO

Desde o final da Guerra Fria, a maioria das Forças Armadas latino-americanas,

os Exércitos em particular, estão passando por um processo de transformação

estrutural tendo em vista as mudanças na configuração da ordem internacional

e o restabelecimento da democracia na região. O presente artigo analisará a

transformação do Exército no Brasil e no Chile de forma comparada buscando

identificar a gênese do processo em cada país, a visão institucional que

orientou sua adoção e os objetivos propostos por cada força armada,

lembrando que a transformação de instituições militares visa projetá-las para o

futuro através do desenvolvimento de novas capacidades para cumprir novas

missões ou desempenhar novas funções em combate.

Palavras-chave: Política Comparada, Relações Civis-Militares e

Transformação Organizacional.

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1 INTRODUÇÃO1

Em maio de 2010, o então chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro,

general Fernando Sérgio Galvão, tornou público um documento chamado O

processo de transformação do Exército. Na capa, uma foto da Terra vista do

espaço focando o território brasileiro e as datas 2015, 2020, 2025, 2030, 2035

impressas em vermelho simulando uma contagem regressiva. O marco

temporal a que se refere a imagem, compreende o período no qual se espera

que o Exército adquira as capacidades necessárias para fazer face às

demandas de um país que, na visão governamental, será um ator global com

interesses a preservar em todo o mundo. A necessidade de transformação da

estrutura e da cultura organizacional da instituição partiu da constatação de

que a continuar o estado atual da articulação e do equipamento da Força,

estaríamos chegando ao final do ano de 2030 com um Exército articulado

nacionalmente e equipado para combater com armamento, material, estrutura e

doutrina da Segunda Guerra Mundial (BRASIL, 2010).

Dois países, um europeu e outro sul-americano, servem de referência e

são analisados no processo de transformação do Exército: a Espanha e o

Chile. Esta escolha não é fortuita. Tanto a Espanha quanto o Chile transitaram

de um regime autoritário para um regime democrático nas últimas décadas e

estão transformando suas estruturas organizacionais de modo a adaptá-las à

nova configuração da ordem internacional pós-Guerra Fria e pós 11 de

setembro. Além disso, a transformação do exército espanhol foi o parâmetro a

partir do qual os chilenos iniciaram seu processo de transformação

organizacional em 2002.

Porém, se no âmbito internacional podemos dizer que as mudanças no

ambiente estratégico impactaram profundamente os exércitos nacionais em

várias regiões, levando, entre outras medidas, à redução de verbas e de

efetivos, à relocação de tropas das grandes potências, à busca de tecnologias

que aumentassem o poder dissuasório e a reconfiguração desses exércitos

1 Os autores agradecem a Luis Claudio Weber Orellana pelo acesso às fontes documentais sobre o

processo de transformação do exército chileno. Também aproveitamos para lembrar que as análises feitas

neste artigo são de nossa responsabilidade e não refletem a opinião da instituição na qual trabalhamos.

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nacionais para atender às novas demandas de segurança e defesa como a

guerra assimétrica, as operações de não-guerra (OEA, 2003). Além de

demandar um aumento significativo de missões de paz da ONU com

características que as diferem muito das tradicionais missões de imposição e

manutenção da paz (Capítulos 7 e 8 da Carta da ONU). No âmbito regional,

ainda que possamos identificar características semelhantes em regiões

diferentes como a crescente atuação dos órgãos regionais de segurança e

defesa em suas respectivas áreas de influência, muitas vezes sob a égide da

ONU, as especificidades locais fazem com que a comparação entre exércitos

da mesma região seja mais frutífera.

O objetivo desse artigo é compreender o processo transformacional dos

exércitos do Brasil e do Chile em perspectiva comparada, de forma a contribuir

para o debate sobre segurança e defesa no subcontinente sul-americano.

Entendemos que no cômputo regional, e em especial no brasileiro, as novas

demandas de Defesa (sejam elas convencionais ou não-convencionais,

internas ou externas) tais como a atuação em operações de garantia da lei e da

ordem, em desastres naturais, na segurança de grandes eventos e na defesa

das/nas fronteiras, têm exigido das Forças Armadas novas adequações

estruturais que lhes permitam agir com presteza a esses desafios. Dentro

desse contexto, que exige das instituições militares uma nova estrutura que

possa atendê-lo, considera-se que “transformar é alterar a realidade ao mesmo

tempo em que se muda a maneira de pensar; é crer no poder das ideias, nos

limites da realidade e na capacidade infinita de os seres humanos buscarem

novas formas de ser e de agir.” (MOTTA, 2001, p.59). É sob esse enfoque que

pretendemos realizar uma análise comparativa entre os processos

transformacionais dos dois exércitos.

Deve-se enfatizar que ao comparar esses processos não buscaremos

apenas identificar o que há de comum aos dois casos. Acreditamos como Cohn

que através da comparação será possível trazer à tona o que é peculiar a cada

um dos casos analisados (COHN, 2008). O espaço temporal a ser analisado

nesse artigo serão as duas últimas décadas, lembrando que o Chile publicou a

primeira edição do seu Livro Branco de Defesa em 1997 e já está na terceira

edição do documento (2010). E o Brasil que, recentemente, encaminhou ao

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Congresso Nacional sua primeira edição do Livro Branco2, vem pautando a

transformação do seu exército na segunda edição da Política de Defesa

Nacional (2005) e na Estratégia Nacional de Defesa (2008). Faremos uma

rápida menção ao processo de transição de regime nos dois países, pois

acreditamos que o “modo” de transição para a democracia influenciou tanto a

decisão de iniciar o processo de transformação organizacional quanto os

objetivos da transformação.

Um ponto em comum pode ser destacado nos documentos chilenos e

brasileiros: os dois exércitos buscam reestruturar-se com base em capacidades

e não somente em hipóteses de emprego. Também devemos ressaltar que as

demandas de segurança e defesa no subcontinente sul-americano são muito

similares, o que, em tese, pode favorecer a consolidação do Conselho de

Defesa Sul-americano. Neste sentido, um estudo comparado do processo

transformacional dos exércitos do Chile e do Brasil pode nos ajudar a

compreender como a mudança estrutural em duas das principais forças

armadas da região – uma tradicionalmente voltada para o Pacífico e outra para

o Atlântico - pode impactar a configuração do sistema de segurança e defesa

regional. Por fim, acreditamos que esta comparação também nos permitirá

refletir sobre a contribuição da bibliografia norte-americana mais recente sobre

relações entre civis e militares para o estudo dos países em questão.

2 AS TRANSIÇÕES DE REGIME NO CHILE E NO BRASIL E SEUS

IMPACTOS NO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO ORGANIZACIONAL

DOS EXÉRCITOS NOS DOIS PAÍSES

Os estudos sobre a transição de regimes autoritários para democracias

na América Latina criaram algumas tipologias a partir das quais foi possível a

construção de modelos explicativos que apontassem com certa precisão de

que forma a correlação de forças entre os civis e militares no momento da

transição influenciaria a estabilidade e a consolidação do novo regime. O grau

de subordinação dos militares ao poder civil passou então a ser visto como um

bom indicativo para se medir a maturidade, a institucionalização e a qualidade

da democracia (O’DONNELL E SCHMITTER, 1988; STEPAN, 1988;

2 Em 17/07/2012. Fonte: http://www.defesa.gov.br.

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ZAVERUCHA, 1994). Além de aferir características mais amplas da

democracia nascente, como o grau de estabilidade do novo regime, o modo de

transição também pode nos ajudar a compreender como a formulação e

implementação de políticas públicas para algumas áreas sensíveis do Estado,

como a política de defesa dependem em certa medida do tipo de arranjo feito

entre os opositores e defensores do antigo regime no momento da transição

política.

Munck e Leff (1997) apresentam uma interpretação interessante a

respeito de como a identidade dos agentes de mudança e as estratégias por

eles adotadas influenciam as políticas pós-transição. Os autores argumentam

que as transições importam porque elas geram heranças relativamente

duráveis que impactam o regime resultante e as políticas pós-transição por

meio dos seguintes mecanismos causais: sua influência no padrão de

competição entre as elites, nas regras institucionais que são produzidas

durante o período de transição e na disposição dos atores relevantes a aceitar

as novas regras do jogo (MUNCK; LEFF, 1997, p. 73).

No caso chileno o impulso para a mudança veio de fora da elite

governante, de grupos que haviam sidos excluídos da arena política no regime

anterior. Mesmo não tendo sido capazes de evitar a mudança, as elites

situacionistas tiveram sucesso em exercer mais controle sobre a transição do

que qualquer outro caso latino-americano. Como o ímpeto para mudança veio

de fora da elite governante, uma ampla coalizão de forças com identidade

própria e forte foi formada para pressionar pelo fim do regime, mas o fato da

antiga elite ter se mantido como uma força política viável e ativa colocou uma

série de entraves institucionais ao processo de redemocratização, como a

permanência do general Pinochet no posto de comandante do Exército e

senador vitalício. Por isso, mesmo tendo vencido o plebiscito que decretou a

fim do regime autoritário do general Pinochet, a oposição teve que adotar uma

estratégia de acomodação e atuar dentro de um marco legal limitado para

garantir a estabilidade do novo regime (MUNCK; LEFF, 1997).

Contando com poucos mecanismos institucionais para garantir a efetiva

subordinação dos militares ao poder civil e temendo um retrocesso no lento e

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sinuoso processo de redemocratização do Chile, os novos governantes tiveram

que lançar mão de mecanismos informais e aproveitar as brechas no marco

legal que a Constituição de 1980 permitia para tentar mudar o padrão das

relações entre civis e militares no país. Claudio Fuentes mostra como os dois

primeiros governos da Concertación, a coalizão oposicionista que venceu as

eleições em dezembro de 1990, utilizou os recursos de que disponha para

tentar negociar com os militares sobre temas específicos, porém importantes

como a promoção de oficiais e a alocação do orçamento militar (FUENTES,

2000). Ainda segundo o autor, especialmente a partir do governo de Eduardo

Frei (1994-2000) os governantes civis mudaram o foco do relacionamento com

a instituição militar passando a enfatizar a importância da discussão dos

assuntos relacionados à Defesa e da formulação de políticas públicas voltadas

para esta área bem como a necessidade de um maior envolvimento da

sociedade civil com a temática militar. A agenda do controle civil sobre os

militares ficou num segundo plano (FUENTES, 2000).

Esta “estratégia indireta” dos governantes civis para lidar com as Forças

Armadas surtiu efeito. O fortalecimento e a diversificação da agenda de

pesquisa em Defesa qualificou o debate sobre o tema e aproximou a Academia

da instituição militar. O ressentimento da sociedade civil chilena em relação aos

casos de violação dos direitos humanos no país durante a era Pinochet, no

entanto, impedia o aprofundamento das reformas necessárias para adequar as

Forças Armadas aos novos contextos nacional, regional e internacional que se

desenhavam. Com o tempo os militares perceberam que a mera manutenção

das prerrogativas herdadas da Constituição de 1980 não seria suficiente para

garantir os recursos financeiros que eram necessários para a reestruturação

das Forças Armadas e também não seria útil, pelo contrário, poderia dificultar o

apoio dos políticos que combateram o antigo regime aos projetos de interesse

militar (GUTIÉRREZ, 2008).

Os militares então mudaram sua estratégia de aproximação com a

sociedade civil. O Exército em particular passou a focar nas atividades que

desenvolvia em apoio à população (assistência humanitária, profissionalização

dos jovens que prestam serviço militar, etc.) e ao desenvolvimento nacional.

Por sua vez, o envolvimento do ex-ditador em escândalos financeiros (os

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“pinocheques”), sua detenção em Londres (em razão das violações aos direitos

humanos ocorridas durante sua presidência) e seu falecimento em 2006

(GUTIÉRREZ, 2008), levaram ao processo de “despinochetização” do exército

chileno que procurou paulatinamente desvincular sua identidade/imagem do

regime do general Pinochet. É neste contexto que o processo de transformação

organizacional do exército chileno ganha força.

O caso brasileiro é um exemplo clássico de reforma negociada já que a

elite situacionista manteve uma postura ambígua em relação às mudanças

democráticas enquanto as contra-elites pressionavam por elas. No entanto,

após as eleições estaduais de 1982, a oposição ao regime militar obteve

ganhos tão substantivos que conduziram as elites governantes a uma escolha

crítica: adotar medidas crescentemente repressivas para frear a liberalização

ou permitir que a liberalização se tornasse democratização e usar seu

considerável poder residual para conduzir o processo de transição de regime. A

segunda opção foi à escolhida. E a elite civil brasileira que apoiava o regime

militar, ao contrário da elite civil chilena, também não ofereceu resistência ao

processo de transição de regime. Parte desta elite, aliás, juntou-se ao principal

partido de oposição, o PMDB, formando a coalizão que venceu as eleições no

colégio eleitoral em 1985. A incorporação de parte da elite que apoiava o

regime militar às fileiras do PMDB diluiu a identidade do partido e enfraqueceu

o ímpeto reformador das forças mais comprometidas com a democracia

(MUNCK; LEFF, 1997).

O modo de transição brasileiro impactou profundamente o padrão das

relações entre os civis e os militares que se estabeleceu a partir de então: sem

contar com forças políticas que tivessem um projeto claro para a adaptação

dos militares à democracia nascente - dada a perda de identidade da coalizão

oposicionista – podemos afirmar que a reinserção dos militares à democracia

foi sendo feita através da desativação de certos mecanismos institucionais

(extinção do Conselho de Segurança Nacional, do Serviço Nacional de

Inteligência, dos ministérios militares) e da criação de novas normas e

estruturas (a reestruturação das Comissões de Defesa no Congresso Nacional,

a criação do Ministério da Defesa, a promulgação da Política de Defesa

Nacional, da Estratégia Nacional de Defesa e do Livro Branco) sem que estas

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decisões governamentais tenham identificação com uma força política em

particular.

Ao contrário do Chile, no Brasil, o Exército nunca deixou de contar com o

apoio da população, especialmente a mais pobre, que é por ele assistida por

meio de suas ações cívico-sociais. O serviço militar obrigatório também

desempenha um papel importante neste sentido ao oferecer qualificação

profissional aos jovens de baixa renda (OLIVEIRA, 2005). Os políticos que

assumiram o poder depois de 1985 também nunca deixaram de apoiar, ao

menos formalmente, os projetos de interesse da Força. No entanto, as

demandas surgidas no campo da segurança e defesa, em razão das

modificações operadas nos âmbitos nacional, regional e internacional, exigem

que o Exército transforme sua estrutura para atender adequadamente as

necessidades do país.

3 A TRANSFORMAÇÃO DO EXÉRCITO NO CHILE E NO BRASIL: ALGUNS

PONTOS PARA COMPARAÇÃO.

Iniciado em 2002, o processo de transformação do Exército chileno é

tido como a principal mudança organizacional da instituição desde a

“prussianização” do final do século XIX, quando o país recebeu uma missão

militar alemã comandada por Emilio Körner (PAREDES, 2006). O Ex-

comandante do Exército, Juan Emilio Cheyre Espinosa, estabelece uma

interessante relação entre o contexto político no Chile no final do século XIX,

em 1973 e nos dias atuais. Segundo a narrativa do ex-comandante, tanto no

final do século XIX quanto em 1973, o país estava passando por uma profunda

crise política, mas com uma diferença fundamental: em 1973 o Exército

permaneceu unido e não assumiu um dos lados da disputa política que no final

do século XIX levou a uma guerra civil que ceifou cerca de dez mil vidas

humanas. Em 1973, a perda de vidas teria sido menor, porém a divisão da

sociedade teria sido mais profunda em razão dos condicionantes da Guerra

Fria. Para o general Cheyre Espinosa, o principal mérito do processo de

transformação atual do Exército chileno é ele ter sido iniciado pela própria

instituição, com seus próprios recursos humanos, materiais, visão estratégica e

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sem interferência estrangeira (ESPINOSA, 2005) É importante lembrarmos que

o processo chileno teve início após a publicação de duas edições do livro

branco no país.

No documento de 2010, “O Processo de Transformação do Exército”

(PTEx) é apresentada uma sinopse histórica das transformações pelas quais o

Exército brasileiro passou, especificamente, a partir de 1964. Não há menção

ao papel político desempenhado pela instituição, mas às mudanças

organizacionais na Força que foram realizadas de 1964 a 1984. E a motivações

para o processo de mudança vêm do novo marco legal ao qual as Forças

Armadas estão submetidas, especialmente da Estratégia Nacional de Defesa

(END). A END, em seu escopo, definiu ações estratégicas de médio e longo

prazo, objetivando modernizar a estrutura nacional de defesa, com base em

três eixos estruturantes: a reorganização das Forças Armadas, a

reestruturação da indústria brasileira de material de defesa e uma política de

recomposição dos efetivos das três Forças (BRASIL, 2008, p.3).

O Exército Brasileiro materializou as suas ações decorrentes da END, na

Estratégia Braço Forte (EBF), composta de 02 (dois) Planos, 04 (quatro)

Programas e 824 (oitocentos e vinte e quatro) Projetos, distribuídos em 129

(cento e vinte e nove) Ações Estratégicas (BRASIL, 2009, p.7). Essa estratégia

foi elaborada com estudos feitos pelo Estado-Maior do Exército (EME), por

todos os Órgãos de Direção Setorial (ODS) e os Comandos Militares de Área

(C Mil A).

A EBF compreende os Planos de Articulação e Equipamento, que

possuem dois Programas cada um:

- Plano de Articulação: Programas Amazônia Protegida e Sentinela da

Pátria;

- Plano de Equipamento: Programas Mobilidade Estratégica e Combatente

Brasileiro.

O Estado-Maior do Exército, ao tentar viabilizar a EBF e demais ações

decorrentes da END, verificou que não havia uma estrutura adequada para

conduzir os projetos e que as ações estratégicas a serem implementadas não

seriam viabilizadas sem uma transformação estrutural e a quebra de alguns

paradigmas da instituição.

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Nos dois processos de transformação uma diferença em especial nos

chama atenção: a passagem de um Exército territorial para um exército

funcional no Chile (JUAN, 2005). Ao adotar esta postura, o Exército passou a

utilizar parâmetros cada vez mais próximos de uma organização empresarial3.

Iniciou-se um processo de racionalização dos gastos, do efetivo e das unidades

militares. Os antigos regimentos foram reestruturados para atuarem como

sistemas operacionais integrais, comparando com o caso brasileiro, os antigos

regimentos estão se fundindo e se transformarão em brigadas no futuro. A

menor presença no território e a redução do efetivo foram compensadas com

uma maior mobilidade em decorrência dos novos sistemas de armas adquiridos

e do investimento na inovação tecnológica. O exército profissional ganha

prevalência em relação ao exército de conscritos. A interoperabilidade com as

outras forças armadas é uma exigência cada vez maior e a capacidade

operacional obtida neste processo é vista como o “produto” produzido pela

“empresa mais querida do Chile”, nas palavras do ex-comandante do Exército

(ESPINOSA, 2005).

No caso brasileiro, vemos que o Exército trabalha com duas

perspectivas paralelas. Na Amazônia, o Exército continuará com sua estratégia

de presença, criando novas unidades militares e agregando mobilidade com

novos meios de transporte e apoio logístico, comunicações, etc. No restante do

país a mobilidade ganhará prevalência em relação à presença. O PTEx prevê o

aumento e não a redução do efetivo militar e a manutenção do serviço militar

obrigatório tal como ele se encontra. A interoperabilidade com as outras forças

está no horizonte do processo de transformação (ver o quadro 01).

A postura funcional e não mais territorial adotada pelo exército chileno

também se traduz na maneira como o Chile pretende se relacionar com o

mundo. Após décadas de isolamento político e diplomático, durante o regime

de Pinochet, o país reforça suas relações com o Pacífico e retoma sua vocação

universalista no plano das relações internacionais (ARAVENA, 1997). No plano

militar isso significa maior envolvimento com as missões de paz sob mandato

da ONU e uma maior aproximação com os países sul-americanos, em especial

com os vizinhos. Neste ponto vemos novamente as diferenças em relação ao

3 Para uma melhor visualização das diferentes perspectivas organizacionais dos Exércitos do Brasil e do

Chile, ver as figuras 01 e 02 ao final do texto.

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Brasil. O Chile trabalha com a perspectiva de cooperação internacional em

matéria de segurança e defesa, por isso adotou o modelo da OTAN como

referência para pensar suas relações com as outras Forças Armadas. Já o

Brasil pensa a cooperação primeiramente em nível regional. O Exército,

particularmente, atua mais no âmbito das relações bilaterais e toma como

referência o entorno geoestratégico brasileiro (América do Sul e Atlântico Sul)

para definir suas prioridades.

Na relação com os vizinhos, os dois exércitos enfrentam situações

diferentes, mas adotam posturas estratégicas iguais: a dissuasão. O Chile

avançou muito na cooperação militar com a Argentina tendo inaugurado este

ano uma brigada bi-nacional no padrão OTAN e tenta estabelecer relações

amistosas com o Peru e a Bolívia, ainda que persistam as disputas territoriais.

O Brasil não tem problemas fronteiriços com nenhum de seus vizinhos e adota

o discurso da dissuasão extra-regional. No plano internacional, os dois

exércitos identificam as mesmas ameaças difusas (terrorismo, “novas

ameaças”) e, apesar das diferenças apontadas, os dois exércitos têm como

meta o planejamento por capacidades e não mais baseado em hipóteses de

guerra (ver o quadro 02).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: PRERROGATIVAS OU EFICÁCIA, COMO

ANALISAR OS NOVOS EXÉRCITOS SUL-AMERICANOS?

Por fim, podemos constatar que se o exército chileno de fato está

migrando para um modelo funcional, ou ocupacional como quer Charles

Moskos (1977), o exército brasileiro ainda apresenta fortes traços de uma

instituição total. O que nos leva a refletir sobre quais modelos analíticos podem

nos ajudar a compreender melhor o processo de transformação pelos quais os

exércitos sul-americanos estão passando tendo em conta o atual panorama de

segurança e defesa na região com a criação do Conselho de Defesa Sul-

americano.

Há algum tempo, autores como Feaver (1999) e Nielsen (2005)

trouxeram para o debate acadêmico uma questão basilar para o estudo das

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relações entre os civis e os militares: se as Forças Armadas norte-americanas

e europeias estariam migrando de um modelo institucional para um modelo

ocupacional, cada vez mais parecido com uma organização empresarial como

havia previsto Charles Moskos no final dos anos 70, por que os cientistas

políticos ainda estão baseando suas análises num modelo teórico construído

para explicar o comportamento de Forças Amadas que se veem e atuam como

uma instituição total? Para os autores citados, o modelo analítico baseado no

estudo das prerrogativas militares seria inadequado para estudar as atuais

organizações armadas que estariam perfeitamente adaptadas à democracia e

subordinadas ao poder civil. Este paradigma, portanto, deveria ser revisto. O

foco mais adequado para se compreender o comportamento das Forças

Armadas contemporâneas seria sua eficácia como organização e não suas

prerrogativas políticas.

Trazendo esta discussão para terras sul-americanas, identificamos dois

casos de exércitos que estão transformando suas estruturas organizacionais

para se adequar a uma nova realidade nacional, regional e internacional.

Nenhum dos dois exércitos estudados, nem o chileno nem o brasileiro,

contestam a autoridade civil e se adaptaram a contento ao regime democrático.

Mas nem por isso, eles podem ser estudados levando em conta apenas sua

eficácia como organização, pois mesmo que o exército chileno se identifique e

se organize cada vez mais como “empresa” é preciso reconhecer que os

militares chilenos ainda desempenham funções típicas de uma instituição

estatal que busca legitimidade junto à sociedade. O exército brasileiro, por sua

vez, ainda que comporte como uma típica instituição estatal, e muitas vezes a

única presente em algumas partes do território brasileiro também não deve ser

estudado considerando-se apenas as prerrogativas que possui. A “eficácia”

com que a Força vem procurando se adaptar aos novos tempos e

principalmente ao novo papel do Brasil no cenário internacional também

merece nossa atenção.

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REFERÊNCIAS

ARAVENA, Francisco Rojas. Chile mudança política e inserção internacional, 1964-1997. Revista Brasileira de Política Internacional, 40 (2), p. 49-75, 1997. BRASIL. Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF, 2008. ______. Exército. Estratégia Braço Forte. Brasília, DF, 2009. ______. Exército. Processo de Transformação do Exército. Brasília, DF, 2010. COHN, Gabriel (org.). Weber. Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Editora Ática, 2008. ESPINOSA, Juan Emilio Cheyre. Aula Magna. Seminario de Liderazgo Estratégico: hombres que han produzido cambios. Universidad Adolfo Ibáñez. Santiago, Chile, 2005. FEAVER, Peter D. Civil-Military Relations. Annu. Rev. Politic Science. v.2, p. 211–41, 1999. FUENTES, Claudio A. After Pinochet: Civilian Policies toward the Military in the 1990s Chilean Democracy. Journal of Interamerican Studies and World Affairs, 43, 3, p. 111-142, 2000. GUTIÉRREZ, Carlos. Una mirada desde la transición democrática. In: SEPÚLVIDA, Isidro; ALDA, Sonia (org.). La Administración de la Defensa en América Latina, Tomo II, Análisis Nacionales. Madrid: Instituto Universitário General Gutiérrez Mellado, 2008. JUAN, Mauricio Pontillo. La preparación de La Fuerza en El contexto de La transformación del ejercito. In: EJÉRCITO DE CHILE. Memorial del Ejército de Chile, n. 476, diciembre, 2005. MOSKOS, Charles. From Institution to Occupation: Trends in Military Organization. Armed Forces and Society, 4, n. 01, p. 41-50, 1977. MOTTA, Paulo R. Transformação organizacional: a teoria e a prática de inovar. Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, 2001. MUNCK, Geraldo L.; LEFF, Carol Skalnik. Modos de transição em perspectiva comparada. Lua Nova, São Paulo: CEDEC, n. 40/41, p. 69-95, 1997.

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NIELSEN, Suzanne C. Civil-Military relations theory and military effectiveness. Public Administration and Management v 10, nº 2, p. 61-84, 2005. O’DONNELL, Guillermo; SCHMITTER, Phillipe. Transições do regime autoritário: primeiras conclusões. São Paulo: Vértice, 1988. OLIVEIRA, Eliézer Rizzo. Democracia e Defesa Nacional: a criação do Ministério da Defesa na presidência de FHC. Barueri, SP: Manole, 2005. ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Declaração sobre segurança nas Américas. Conferência dos Ministros de Estado da Defesa, México, 2003. Disponível em: < file:///C:/Documents%20an%20Settings/Funcional/Desktop/FGV_Doutorado/ Artigos/Declara%C3%A7%C3%A3o%20sobre%20Seg%20nas%20Am%C3%A9ricas_102803..htm>. Acesso em: 18 mar. 2012. PAREDES, Javier Urbina. La Modernización y Transforamación de um Ejército. In: EJÉRCITO DE CHILE. Memorial del Ejército de Chile, n. 477, junio, 2006. STEPAN, Alfred. As prerrogativas militares nos regimes pós-autoritários. In: STEPAN, Alfred. Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1988. ZAVERUCHA, Jorge. Rumor de sabres: controle civil ou tutela militar. São Paulo: Ática, 1994.

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FIGURAS E QUADROS

Figura 01 - Mapa Estratégico do Exército brasileiro

Fonte: EXÉRCITO Brasileiro. Boletim do Exército, no. 51, de 22 de dezembro de 2006.

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Figura 02 – Mapa Estratégico do Exército chileno

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XI

1.INTRODUÇÃO

2. POLÍTICAS DEFESA

3. MISSÃO E VISÃO

3. TRANSFORMAÇÃO

4.1FUNDAMENTOS

4.2ORGANIZAÇÃO

4.3DOUTRINA

4.4PROJETOS

5. CONCLUSÃO

RESPONSABILIDAD SOCIAL INSTITUCIONALDESARROLLO DE LA CAPACIDAD MILITAR

GESTIÓN DE LA ORGANIZACIÓNTEMAS ESTRATÉGICOS

PERSPECTIVA

DE

RESULTADOS

PERSPECTIVA

DE

PROCESOS

PERSPECTIVA

DE

CRECIMIENTO

PERSPECTIVA

DE

RECURSOS

GESTIONAR EL FUNCIONAMIENTO DE LA INSTITUCIÓN EN FORMA MODERNA, REGLAMENTADA Y EFICIENTE

CONTRIBUIR AL ESFUERZO CONJUNTO DE LAS FUERZAS ARMADAS Y DEL PAÍS, EN LOS ESCENARIOS PREVISTOS O REQUERIDOS

DISPONER DE UNA FUERZA TERRESTRE CON CAPACIDAD DE COMBATE Y DE PROYECCIÓN

EJECUTAR OPERACIONES INTERNACIONALES

INCREMENTAR EL RECONOCIMIENTO CIUDADANO AL EJÉRCITO Y LA VALORACIÓN DE LA FUNCIÓN MILITAR POR LA SOCIEDAD

1. ASIGNAR ESTRATÉGICAMENTE LOS RECURSOS FINANCIEROS EN FUNCIÓN DE LOS OBJETIVOS INSTITUCIONALES

2. REFORZAR LA CONDUCTA MILITAR

11. COOPERAR AL DESARROLLO Y UNIDAD NACIONAL MEDIANTE EL EMPLEO DE CAPACIDADES INSTITUCIONALES, SIN DESNATURALIZAR LA FUNCIÓN MILITAR

8. IMPLEMENTAR EL SISTEMA DE GESTIÓN ESTRATÉGICA DEL EJÉRCITO

3. DESARROLLAR UN SISTEMA DE INFORMACIÓN INSTITUCIONAL INTEGRADO

13. IMPLEMENTAR CAPACIDADES PARAPARTICIPAR EN LA COOPERACIÓN MILITARINTERNACIONAL

10. IMPLEMENTAR UN EQUIPAMIENTO Y APOYO SUSTENTABLE A LA FUERZA TERRESTRE DURANTE SU PREPARACIÓN, ALISTAMIENTO Y EMPLEO

12. IMPLEMENTAR FUERZAS CON UNA ADECUADA CAPACIDADOPERACIONAL, PARA SER EMPLEADAS EN LOS ESCENARIOSREQUERIDOS

9. IMPLEMENTAR UNA INSTRUCCIÓN Y ENTRENAMIENTO QUE AUMENTE LA CAPACIDAD DE COMBATE DE LA FUERZA TERRESTRE

5. CONTAR CON PERSONAL CON LAS COMPETENCIAS PARA EMPLEAR Y APOYAR LA FUERZA TERRESTRE

6. MEJORAR LA CALIDAD DE VIDA DEL PERSONAL

7. DISEÑAR UN EQUIPAMIENTO Y APOYO SUSTENTABLE A LA FUERZA TERRESTRE

4. DESARROLLAR LA DOCTRINA DE OPERACIONES Y DE FUNCIONAMIENTO INSTITUCIONAL

VISIÓN: Un ejército para el combate; eficaz y eficiente en la disuasión, la cooperación internacionaly el conflicto; polivalente, interoperativo, actualizado y sustentable; con una adecuadacapacidad de gestión, con un actuar funcional y valorado por la sociedad a la cual sirve.

Fonte: EJÉRCITO DE CHILE. Memorial del Ejército de Chile, n. 476, diciembre, 2005.

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Quadro 01 – Processo de transformação do Exército no Brasil e no Chile:

mudanças organizacionais

BRASIL CHILE

Exército territorial Exército funcional

Presença – Amazônia Mobilidade

Mobilidade

Aumento do investimento Redução dos gastos

Criação de novas unidades militares Fechamento de unidades militares

Sistema operacional – Brigada Sistema operacional – Brigada

Aumento do efetivo Redução do efetivo

Exército de conscritos Exército profissional

Maior dependência da mobilização Menor dependência da mobilização

Interoperabilidade Interoperabilidade

Preparo por capacidades Preparo por capacidades

Quadro 02 - Processo de transformação do Exército no Brasil e no Chile: visão

geoestratégica

BRASIL CHILE

Atlântico Pacífico

Cooperação regional em segurança e defesa (América do Sul/Atlântico Sul)

Cooperação internacional em segurança e defesa (protocolo da OTAN)

Acordos militares bilaterais Acordos internacionais

Fronteiras consolidadas Disputas fronteiriças com Bolívia e Peru

Postura estratégica dissuasiva Postura estratégica dissuasiva