8º congresso brasileiro das raças zebuínas

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Resumo de Palestras 15/08/2011 Palestra 1 Dr. Carlos Eduardo P. Cerri Esalq/USP Pag. 2 a 14 Palestra 2 Dr. Valdinei Paulino APTA Pag. 15 a 38 Palestra 3 João Paulo Guimarães Soares Pag. 39 a 67

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Resumo das palestras apresentadas durante o primeiro dia (15/08/2011) do 8º Congresso Brasileiro das Raças Zebuínas, em Uberaba/MG.

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  • Resumo de Palestras 15/08/2011

    Palestra 1 Dr. Carlos Eduardo P. Cerri Esalq/USP Pag. 2 a 14 Palestra 2 Dr. Valdinei Paulino APTA Pag. 15 a 38

    Palestra 3 Joo Paulo Guimares Soares Pag. 39 a 67

  • Palestra 1

    Balano das emisses de gases do efeito estufa da pecuria brasileira e aes para a mitigao

    Carlos Eduardo P. Cerri1, Joo Luis N. Carvalho2, Ciniro Costa Junior2, Carlos Clemente Cerri2

    1Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP). Departamento de Cincia do Solo Avenida Pdua Dias, 11 CEP 13418-970 Piracicaba, SP. 2Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP). Laboratrio de Biogeoqumica Ambiental. Avenida Centenrio, 303 CEP 13400-970 Piracicaba, SP.

    1. INTRODUO

    Tem sido crescente a preocupao mundial em relao as mudanas do clima no planeta,

    decorrentes, principalmente, das emisses de dixido de carbono (CO2) e outros gases de efeito

    estufa, tais como o metano (CH4) e o xido nitroso (N2O). Estes gases so responsveis pela

    manuteno da temperatura mdia de 16-180C na terra, promovendo o chamado "efeito estufa",

    essencial para a existncia da vida no planeta.

    Estudos revelam que, nos ltimos 200 anos, a concentrao desses gases na atmosfera,

    principalmente de CO2, tem aumentado; sendo este aumento mais significativo nas ltimas dcadas.

    Uma das principais conseqncias deste aumento na concentrao dos gases da atmosfera o que

    podemos chamar "aumento do efeito estufa" ou efeito estufa antrpico - eleva-se a quantidade

    dos raios infra-vermelhos refletidos para a terra, promovendo um desequilbrio energtico.

    O aumento das emisses destes gases so decorrentes da queima de combustveis fsseis

    pelas indstrias, meios de transporte, mquinas e o uso da terra para fins agrcolas e as mudanas no

    uso da terra pelo desmatamento e subseqente queima de biomassa.

    Recentemente, verificou-se que grande parte dos gases do efeito estufa so oriundos de

    atividades relacionadas a agricultura e pecuria, principalmente o CH4 e o N2O, caracterizando esse

    setor de produo como um vilo na questo do efeito estufa. Por outro lado, se tcnicas adequadas

    de manejo do solo forem adotadas, tais como boas prticas de manejo, controle eroso, plantio

  • direto e tambm atravs de reflorestamento/aflorestamento, pode-se remover carbono atualmente

    contido na atmosfrica.

    O solo se constitui em um compartimento chave no processo de emisso e sequestro de

    carbono. Globalmente, h duas a trs vezes mais carbono nos solos em relao ao estocado na

    vegetao e cerca do dobro em comparao com a atmosfera. Portanto, manejos inadequados

    podem mineralizar a matria orgnica e transferir grandes quantidades de gases do efeito estufa

    para a atmosfera.

    importante salientar a diferena entre balano e sequestro de carbono no solo. O primeiro

    est mais restrito a diferena de estoques de carbono entre dois manejos ou sistemas agrcolas. O

    segundo, mais amplo, envolve a diferena de estoques, mas tambm as variaes nas emisses de

    CH4 e N2O, uma vez que o cmputo do CO2 esta embutido na diferena dos estoques de carbono do

    solo. As diferenas entre estoques no solo e fluxo de gases so normalmente expressas na unidade

    equivalente em Carbono, onde leva-se em considerao o potencial de aquecimento global dos

    gases envolvidos.

    O uso agrcola do solo com tcnicas convencionais de cultivo, incluindo araes e gradagens,

    tem sido apontado com uma das principais causas das emisses de gases do efeito estufa para a

    atmosfera, potencializando o aquecimento global, cujas consequncias adversas podem influenciar a

    prpria produtividade agrcola. Mais recentemente, a adoo de sistemas de manejo

    conservacionistas como o sistema de plantio direto na palha, tem modificado esse paradigma.

    Resultados de pesquisas mostram que essas prticas podem reduzir as emisses de gases para a

    atmosfera e incorporar e armazenar carbono no solo, o qual encontrava-se anteriormente na

    atmosfera sob a forma de CO2.

    Em recente estudo, Cerri et al. (2009) observaram que a pecuria terceira maior fonte de

    GEE no Brasil, ficando atrs somente do desmatamento e da queima de combustveis fsseis (Figura

    1). O desmatamento representou 52 % das emisses totais de GEE, seguido pela queima de

    combustveis (17 %), fermentao entrica de animais ruminantes (12 %) e solos agrcolas (9 %)

    (Figura 1).

    Estes valores, baseados nos valores referentes ao ano de 2005, esto na mesma ordem de

    grandeza dos observados no primeiro inventrio nacional de GEE, elaborado com dados referentes ao

    ano base de 1994 (MCT, 2004). Entretanto, quando esses inventrios so comparados, observam-se

    aumentos das emisses de 8, 44, 26, 31 %, respectivamente para os setores acima mencionados.

  • Mudanca de uso da

    terra

    1074 MtCO2-eq

    Fermentao

    entricaSolos agrcolas

    52%

    347 Mt CO2-eq

    Queima de

    combustveis fsseis

    17% 12%

    248 Mt CO2-eq

    9%

    192 Mt CO2-eq

    Figura 1. Quantidade de GEE emitida no Brasil nas quatro principais sub-setores. Dados so

    referentes ao ano de 2005. Compilado de Cerri et al. (2009).

    Os animais ruminantes convertem carboidratos e protenas vegetais em protena animal com

    eficincia de 5 - 45%, dependendo do tipo do animal e sistema de manejo (Oenema, 2006), sendo o

    restante basicamente emitido na forma de CH4. Dessa forma, o setor pecurio brasileiro torna-se

    responsvel por grande parte das emisses nacionais de GEE, devido ao pas possuir o maior rebanho

    bovino comercial (cerca de 190 milhes de cabeas) e ser o maior produtor de carne do mundo.

    Conseqentemente, os inventrios citados atribuem pecuria, em especial a de corte, a

    maior fonte de emisso de CH4, oriundas da fermentao entrica de ruminantes, e uma das

    principais emissoras de N2O e CH4 resultantes no manejo dos dejetos (fezes e urina) e sua deposio

    em solos agrcolas. Entretanto, apesar destes inventrios nacionais apresentarem uma ordem de

    grandeza das emisses de GEE de uma atividade, para a correta avaliao das emisses associadas

    produo de carne no Brasil, muitas outras fontes de gases devem ser computadas,

    Existem diversos estudos em todo o mundo avaliando as emisses totais de GEE no processo

    de produo de carne (Phetteplace et al., 2001; Lovett et al., 2005, Ogino et al., 2007, Pelletier et al.,

    2010; Peters et al., 2010;). No entanto, o Brasil mesmo sendo o maior exportador mundial de carne

    bovina, ainda no apresenta estudos conclusivos avaliando essas emisses (pegada de carbono)

    decorrentes dessa produo.

  • Nesse sentido, a completa avaliao das fontes de emisses de GEE associadas ao processo de

    produo de carne deve incluir: i) fermentao entrica; ii) manejo e disposio dos dejetos; iii)

    utilizao de fertilizantes e corretivos agrcolas nas pastagens; iv) uso de combustveis e energia

    eltrica nas agropecurias; v) utilizao insumos agropecurios (sal mineral, vacinas, vermfugos); vi)

    produo de alimentos para os animais em confinamentos; e vii) dinmica de carbono nos solos sob

    pastagens.

    Inventrios nacionais resultam em uma importante ferramenta para o diagnstico global das

    principais fontes de GEE do pas. Todavia, faz-se necessrio a realizao de estudos visando

    completa avaliao todas as fontes de GEE associada ao processo produtivo, e em suas principais

    variaes de manejo, para que dessa forma possa conferir maior qualidade e sustentabilidade

    ambiental carne produzida no Brasil.

    2. EMISSO DE GEE DA PECURIA DE CORTE: ESTUDOS PRELIMINARES

    2.1. Descrio do estudo

    Com o objetivo de quantificar as emisses de GEE na pecuria de corte foi realizado um

    estudo piloto no estado de Mato Grosso avaliando a produo carne sob dois sistemas de manejo. O

    estudo foi realizado em fazendas associadas Associao dos Criadores de Mato Grosso (ACRIMAT).

    Foram avaliadas quatro fazendas, sendo duas de pecuria extensiva com terminao a pasto e duas

    com terminao em confinamento. Foram avaliadas as emisses de GEE apenas do perodo de

    terminao dos animais em ambos os sistemas de manejo. Em ambos os sistemas de manejo, foi

    considerado como perodo de terminao quando os animais estavam com um peso mdio de

    aproximadamente 340 kg para os machos e 280 kg para fmeas. Todos os animais avaliados eram da

    raa nelore. Na Tabela 1 so apresentadas as idades mdias de abate dos animais e ainda ganho de

    peso mdio dirio no perodo de terminao em cada um dos sistemas de manejo.

    Tabela 1. Idade dos animais ao abate e ganhos de peso mdio dirio em quatro propriedades no

    Estado de Mato Grosso com sistemas de produo carne distintos.

    Informaes Pastagens extensivas Confinamentos

    Ext.1 Ext.2 Conf.1 Conf.2 Conf.3 Conf.4

  • Machos Fmeas Machos Machos Machos Fmeas Idade de abate (meses) 34 33 25 23 28 28 Ganho de peso (kg animal-1 dia-1)

    0,43 0,36 1,17 1,30 1,17 1,19

    A relao da dieta e da quantidade diria de alimento consumido por animal no perodo de

    confinamento est inserida na Tabela 2. Para os animais terminados a pasto foi realizada apenas

    suplementao mineral (sal mineral). Nas duas fazendas com terminao a pasto, importante

    ressaltar que as pastagens eram produtivas e no exibiam sintomas de degradao.

    Tabela 2. Consumo de forragem e gros pelos animais em confinamento em quatro confinamentos

    avaliados no Estado de Mato Grosso

    Informaes Conf.1 Conf.2 Conf.3 Conf.4

    Dieta (kg animal-1 dia-1) 15,0 20,5 20,0 20,0 Silagem de milho - - 12 12 Cana hidrolisada 5,9 12 - - Sorgo 5,7 4,8 2,5 2,5 Milho - 1,3 2,5 2,5 Caroo de algodo 2,0 2,0 2,9 2,9 Casquinha de soja 1,0 - - - Mineral 0,4 0,4 0,1 0,1

    Para a realizao dos clculos das emisses de GEE associados produo de carne foram

    utilizados os seguintes fatores de emisso: i) Fermentao entrica (Comunicao nacional, 2004); ii)

    Deposio de dejetos (IPCC, 2006); iii) Aplicao de dejetos em solos agrcolas (IPCC, 2006); Queima

    de combustveis (IPCC, 2006); Aplicao de fertilizantes nitrogenados e calcrio (IPCC, 2006); Energia

    eltrica (MCT, 2009).

    2.2. Emisses totais de GEE por animal

    Observaram-se pequenas variaes nas emisses dirias de GEE dos animais nos diferentes

    sistemas de terminao (Figura 2). Tendncia de maior emisso diria foi observada nos

    confinamentos que utilizaram cana-de-acar hidrolisada como volumoso (Conf.1 e Conf.2), quando

    comparado aos demais confinamentos (Conf.3 e Conf.4) e pastagens extensivas (Ext.1 e Ext. 2). As

    principais fontes de GEE verificadas nesse estudo foram fermentao entrica, manejo de dejetos

  • (fezes e urina) e as emisses associadas produo de gros e volumoso, os quais foram utilizados no

    confinamento. A queima de combustveis fsseis e utilizao de energia eltrica resultaram em

    emisses insignificantes em todas as reas avaliadas.

    0,0

    1,0

    2,0

    3,0

    4,0

    5,0

    6,0

    7,0

    Ext.1 Ext.2 Conf.1 Conf.2 Conf.3 Conf.4

    kg d

    e C

    O2

    eq

    an

    imal

    -1d

    ia-1

    CH4 enterico Alimento Alimentos Combustivel Eletricidade

    Figura 2. Emisses totais de gases do efeito estufa (kg de CO2 eq animal-1 dia-1) na fase agrcola de

    produo de carne, em quatro propriedades no Estado de Mato Grosso com sistemas de produo

    distintos.

    A emisso de CH4 derivada da fermentao entrica foi a principal fonte de GEE evidenciada

    nesse estudo. Nas reas sob pastagem extensiva, baseadas apenas em forragem e suplementao

    mineral (Ext.1 e Ext.2), resultaram em emisses variando de 61,6 a 65,3 kg de CH4 animal-1 ano-1. Nos

    confinamentos onde o volumoso foi cana-de-acar hidrolisada as emisses de CH4 foram 43,7 e 44,6

    kg animal-1 ano-1. Os melhores indicadores, ou seja, as menores emisses de CH4 foram verificadas

    nos confinamentos baseados em silagem de milho, variando de 34,5 e 30,6 kg animal-1 ano-1.

    Entretanto, apesar das emisses de GEE por animal ser um indicador de sustentabilidade da

    pecuria de corte, a melhor avaliao destas emisses deve ser ponderada pelo ganho peso dirio do

    animal.

    2.3. Emisses de GEE por kg de carne produzida

  • Ponderando as emisses de GEE por animal dia-1, pelo ganho de peso dirio estimou-se a

    emisso GEE, em kg de CO2 eq kg de carne-1.

    Nas reas de terminao em pastagem (Ext.1 e Ext.2) observaram-se emisses da ordem de

    13,9 e 15,7 CO2 eq kg de carne-1, respectivamente para machos e fmeas em condies similares de

    pastagens.

    Quando a terminao foi efetuada em confinamentos, a emisso de CO2 eq para produzir 1 kg

    de carne foi significativamente menor em relao s reas terminao a pasto. Os confinamentos

    exibiram emisses muito semelhantes entre s, variando de 4,3 a 5,6 kg CO2 eq kg de carne-1 (Figura

    3). Estes valores de pegada de carbono para produzir 1 kg de carne no perodo de terminao em

    confinamento so similares ao verificado por Phetteplace et al., 2001 nos Estados Unidos. As

    menores emisses de CO2 eq por kg de carne produzida foram verificadas nos confinamentos que

    utilizaram silagem de milho, esto provavelmente associadas maior quantidade de energia

    digestvel nas dietas que utilizam este volumoso. Os resultados observados nesse estudo so

    consistentes com outros observados na literatura, os quais evidenciam que a melhoria da dieta e o

    aumento das taxas de engorda do animal reduzem as emisses de CH4 e N2O (Holter and Young,

    1992; Benchaar et al., 2001; Phetteplace et al., 2001; Lovett et al., 2005). Por exemplo, Casey and

    Holden (2006) observaram que a utilizao de dietas altamente concentradas e a reduo do tempo

    para terminao dos animais reduzem as emisses de GEE na produo de carne.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

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    Ext.1 Ext.2 Conf.1 Conf.2 Conf.3 Conf.4

    kg d

    e C

    O2

    kg d

    e c

    arn

    e p

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    uzi

    da-

    1

    CH4 entrico Dejetos Alimentos Combustveis fsseis Eletricidade

    13,9

    15,7

    5,65,0 4,6 4,3

  • Figura 3. Emisses totais de gases do efeito estufa, alocada por fontes (kg de CO2 eq kg de carne-1) na

    fase agrcola de produo, em quatro propriedades no Estado de Mato Grosso com sistemas de

    produo distintos.

    A dieta mais pobre em protenas, carboidratos e minerais dos animais terminados em

    pastagens resultou em maiores emisses de CH4 entrico. Nestas reas, as emisses de CH4 entrico

    representaram aproximadamente 70% das emisses totais.

    Nas reas onde a terminao realizada em confinamentos, os animais se locomovem muito

    pouco e conseqentemente gastam menos energia. J na terminao em pastagens extensivas, os

    animais utilizam muita energia para locomoo o que resulta em menor ganho de peso dirio e

    conseqentemente aumenta as emisses de CH4 entrico por kg de carne. Nos confinamentos as

    emisses de GEE oriundas da fermentao entrica (em kg de CO2 eq kg de carne-1) foram

    aproximadamente 5 vezes menores do que nas situaes de terminao a pasto.

    Atualmente muito se discute sobre a gerao e a destinao dos dejetos (fezes e urina)

    gerados na atividade pecuria, sobretudo em condies de confinamento. O manejo e o tratamento

    inadequado dos dejetos significam uma importante fonte de CH4 e N2O para a atmosfera.

    Avaliando as emisses de GEE oriundas dos dejetos, em kg de CO2 eq kg de animal-1 dia-1 pode

    resultar em concluses equivocadas. Quando se avaliou as emisses de GEE, derivadas das emisses

    diretas e indiretas de CH4 e N2O de fezes e urina por animal, observaram maiores emisses nos

    confinamentos (Figura 4A). Entretanto, quando estas emisses foram ponderadas pelo ganho de peso

    dirio, a situao foi exatamente o contrrio, sendo observadas nos confinamentos as menores

    emisses de CO2 eq kg de carne-1 (Figura 4B). Vale ainda ressaltar que os confinamentos avaliados

    neste estudo no apresentam um manejo adequado dos dejetos, o que resultou em maiores

    emisses de GEE para atmosfera. Em todos os confinamentos avaliados os dejetos (fezes e urina) so

    deixados no prprio local, sem nenhum manejo durante todo o perodo de confinamento e so

    aplicados no solo como fertilizante orgnico somente no ano seguinte. Caso estes dejetos gerados

    nos confinamentos sejam manejados e tratados adequadamente, ou utilizados para gerao de

    energia eltrica as emisses lquidas de GEE por kg de carne podem ser reduzidas significativamente,

    conferindo assim uma melhor qualidade ambiental carne produzida.

    As emisses de GEE oriundas da utilizao de fertilizantes nitrogenados, calcrio, queima de

    combustvel fssil e eletricidade na fase agrcola de produo da alimentao fornecida na dieta do

  • confinamento (silagem de milho, cana-de-acar, milho, sorgo, soja e caroo de algodo)

    representaram aproximadamente 0,7 kg de CO2 eq kg por de carne produzida em todos os

    confinamentos avaliados (Figura 4).

    0,0

    1,0

    2,0

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    4,0

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    Ext.1 Ext.2 Conf.1 Conf.2 Conf.3 Conf.4

    kg

    de

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    1d

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    5,0

    Ext.1 Ext.2 Conf.1 Conf.2 Conf.3 Conf.4k

    g d

    e C

    O2

    eq

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    de

    ca

    rne

    -1

    (A) (B)

    Figura 4. Emisses de GEE derivadas do manejo de dejetos em kg CO2 eq animal-1 dia-1 (A) e em kg

    CO2 eq kg de carne produzida-1 (B) na fase agrcola de produo, em quatro propriedades no Estado

    de Mato Grosso com sistemas de produo distintos.

    3. MITIGAO DAS EMISSES GEE NA PECURIA DE CORTE

    A pecuria de corte se apresenta como uma das principais fontes de GEE do

    Brasil e tambm como uma das atividades com maior potencial para mitigar as emisses do pas. A

    seguir so apresentadas algumas das principais estratgias da pecuria de corte visando reduo

    das emisses na produo de carne no Brasil.

    3.1. Reduo da idade de abate

    A reduo da idade de abate dos animais no Brasil est associada a uma srie de atividades,

    tais como: i) recuperao de pastagens degradadas; ii) melhoramento gentico; iii) suplementao

    mineral adequada; iv) terminao dos animais em confinamento.

    De modo geral, a pecuria de corte no Brasil exibe baixos ndices de produtividade, de

    lucratividade e de sustentabilidade. A produo nacional baseada em sistemas extensivos, e em

    grande parte sob pastagens degradadas. Nesse sentido, uma importante atividade para mitigao das

  • emisses de GEE est associada recuperao ou reforma das pastagens degradadas. Pastagens em

    estgios avanados de degradao, alm de resultar em baixas produtividades de carne, altas

    emisses de CH4 por kg de carne, ocasionam ainda reduo dos estoques de carbono do solo e

    emisso de CO2 para a atmosfera. Dentre as diversas formas de reforma de pastagens deve-se

    destacar a adoo dos sistemas de integrao lavoura-pecuria (ILP).

    Os sistemas de ILP propem a incorporao estratgica de cultivos agrcolas em reas sob

    pastagens visando correo das restries fsicas e qumicas do solo e a formao de pastagens de

    qualidade. Dentre dos benefcios da ILP podemos destacar a reduo dos custos da reforma das

    pastagens e o aumento nos estoques de carbono do solo. Estudos recentes tm verificado que a

    implantao de sistemas de ILP aumenta os estoques de carbono do solo (Salton, 2005; Carvalho et

    al., 2010).

    O melhoramento gentico do animal parte fundamental na reduo das emisses de GEE na

    produo de carne no Brasil. Animais mais precoces produzem carne em menor tempo, reduzindo

    dessa forma as emisses de GEE em todo o seu ciclo de vida do animal. O melhoramento gentico

    deve ser direcionado no somente para aumentar a precocidade do animal, mas tambm no sentido

    aumentar a absoro de nutrientes pelo animal e dessa forma emitir menos CH4 por fermentao

    entrica.

    A suplementao mineral, em conjunto com o estabelecimento de pastagens de boa

    qualidade e animais mais precoces, auxilia no crescimento e engorda dos animais e reduz a emisso

    de GEE por unidade animal produzida.

    Outra estratgia relevante visando reduo da idade de abate est associada utilizao de

    confinamentos na terminao dos animais. Conforme j evidenciado neste trabalho, a dieta mais rica

    em nutrientes do confinamento reduz significativamente as emisses de GEE por kg de carne

    produzida. Outro recente trabalho analisando as emisses de GEE na produo de carne relataram

    que o confinamento resultou em menor emisso comparado a pecuria extensiva (Peters et al.,

    2010). Segundo os autores, essa diminuio foi associada principalmente ao aumento da eficincia

    em ganho de peso/tempo devido adoo de uma dieta de melhor qualidade, compensando, at

    mesmo, o esforo adicional na produo e transporte de alimentos.

    3.2. Tratamento e reaproveitamento dos dejetos

  • Os dejetos (fezes e urina), sobretudo aqueles derivados de animais em confinamento, quando

    tratados adequadamente podem reduzir as emisses de GEE na produo de carne. Dentre as

    diferentes tcnicas de tratamentos dos dejetos bovinos, podemos citar a utilizao de biodigestores.

    Biodigestores proporcionam a formao de CH4 que pode ser utilizado para a gerao de energia

    eltrica e ainda forma como produto final o biofertilizante, capaz de promover a diminuio da

    produo e do uso de fertilizantes sintticos (Kaparaju & Rintala, 2011).

    3.3. Aproveitamento dos co-produtos da indstria da carne

    A pecuria de corte pode auxiliar na mitigao das emisses de GEE atravs da utilizao do

    sebo para a obteno de biodiesel. Segundo estimativas, o sebo bovino atualmente responsvel por

    16 % do biodiesel produzido Brasil (UBRABIO, 2010). Entretanto, estimativas indicam que este valor

    pode ser muito maior. Quando o sebo bovino utilizado na produo de biodiesel, gera-se um off

    set de substituio energtica, ou seja, deixou-se de utilizar combustvel fssil, gerando dessa forma

    um supervit de emisses de GEE para a pecuria de corte.

    3.4. Uso de co-produtos ou subprodutos na dieta dos animais

    Atualmente, a preocupao mundial est voltada para a produo de alimentos para

    sustentar uma populao mundial que cresce acintosamente. Nesse contexto, a competio de reas

    para produo de alimentos para a humanidade, para a criao de animais e ainda para a produo

    de biocombustveis vem recebendo merecido destaque. Visando a reduo das emisses de GEE na

    produo de carne no Brasil, sobretudo aquelas derivadas dos animais em confinamento, deve-se

    priorizar para alimentao animal o uso de co-produtos e ou subprodutos das indstrias de gros,

    fibras, citrcola e de biocombustveis. Dentre os alimentos que exibem alto potencial para

    alimentao de animais em confinamento pode-se citar os resduos da extrao de leos de soja

    (tortas de soja, milho, girassol, mamona), polpa ctrica, resduos de armazns (casquinha de soja,

    quirera de milho), subprodutos da extrao fibras (caroo de algodo), dentre outros.

  • 4. Consideraes finais

    Atualmente quando se fala de emisso de GEE no Brasil, a pecuria de corte colocada como

    uma vil da histria. Entretanto, dentre os diversos setores da economia, este o setor que exibe a

    maior capacidade para reduzir suas emisses e mitigar significativamente as emisses do pas.

    A mudana na postura dos pecuaristas, a adoo de estratgias eficientes de manejo, quando

    associadas utilizao de tecnologias mais limpas podem conferir ao setor pecurio a to falada e

    buscada sustentabilidade ambiental da cadeia da carne.

    Referncias

    Carvalho, J.L.N.; Raucci, G.S.; Cerri, C.E.P.; Bernoux, M.; Feigl, B.J.; Wruck, F.J.; Cerri, C.C. Impact of pasture, agriculture and crop-livestock systems on soil C stocks in Brazil. Soil & Tillage Research, v.110, n.1, p.175-186, 2010. Casey, J. W.; Holden, N. M. Greenhouse gas emissions from conventional, agri-environmental scheme, and organic Irish suckler-beef units. Journal of Environmental Quality, v.35, n.1, p. 231239, 2006. Cerri, C.C.; Maia, S.M.F.; Galdos, M.V.; Cerri, C.E.P.; Feigl, B.J.; Bernoux, M. Brazilian greenhouse gas emissions: the importance of agriculture and livestock. Scientia Agrcola, v.66, n.6, p.831-843, 2009. Holter, J., Young, A. Methane prediction in dry and lactating Holstein cows. Journal of Dairy Science, 75, n.8, 21652175, 1992. IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change. IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories, prepared by the National Greenhouse Gas Inventories Programme, edited by: Eggleston, H. S., Buendia, L., Miwa, K., Ngara, T., and Tanabe, K., Volume 4, Chapter 11, N2O emissions from managed soils, and CO2 emissions from lime and urea application, IGES, Hayama, Japan. 2006. Kaparaju, P.; Rintala, J. Mitigation of greenhouse gas emissions by adopting anaerobic digestion technology on dairy, sow and pig farms in Finland. Renewable Energy, v.36, n.1, p.31-41, 2011. Lovett, D., Stack, L., Lovell, S., Callan, J., Flynn, B., Hawkins, M., OMara, F. Manipulating enteric methane emissions and animal performance of latelactation diary cows through concentrate supplementation at pasture. Journal of Dairy Science, v.88, n.8, p.28362842, 2005.

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  • Palestra 2

    SUSTENTABILIDADE DE PASTAGENS MANEJO ADEQUADO COMO MEDIDA REDUTORA DA

    EMISSO DE GASES DE EFEITO ESTUFA

    Valdinei Tadeu Paulino1; Erika Maria de Lima Celegato Teixeira2; Natalino Mendes Raquinho2; Karen

    Marques dos Santos2; Alline Maria Schumann2

    1 Professor e Pesquisador do Instituto de Zootecnia, Centro de Nutrio Animal e Pastagens,

    APTA/SAA, Nova Odessa-SP, e-mail: [email protected];

    2 Ps-graduandos em Produo Animal Sustentvel, IZ-APTA/SAA, e-mail: [email protected];

    [email protected]; [email protected]

    RESUMO: A produo animal sustentvel tem sido o foco de pesquisa em todo mundo, frente s

    mudanas climticas globais. A produo animal est baseada principalmente em pastagens. As

    pastagens ocupam dois teros da rea agricultvel no mundo. A baixa fertilidade do solo e o manejo

    incorreto so apontados como causas principais da degradao das pastagens, isto provoca a

    diminuio no seqestro de carbono que representa uma compensao s emisses de metano e

    xido nitroso. Este trabalho apresenta dados sobre altura pr e ps-pastejo das principais gramneas

    forrageiras tropicais, algumas tcnicas tais como dieta alimentar, melhoramento gentico, uso de

    microorganismos metanotrficos para mitigar a emisso de metano. A prtica da integrao lavoura-

    pecuria, uso de leguminosas figuram dentre outras tecnologias como promissoras para reduzir a

    curva de emisso de carbono.

    Palavras-chave: gs carbnico, integrao lavoura-pecuria, manejo da pastagem, metano

    PASTURE SUSTAINABILITY - ADEQUATE MANAGEMENT OF PASTURES AS A TOOL TO MINIMIZE THE

    EMISSION OF THE GREENHOUSE GAS EFFECT

    ABSTRACT: Sustainability animal production has been the focus of the research in all world, owed of

    the global climatic changes. The animal production is based mainly on pastures. The pastures occupy

  • two thirds of the cultivatable area in the world. The low fertility of the soil and the incorrect

    management are pointed as main causes of the degradation of the pastures, this causes the decrease

    in the sequestration of carbon that represents a compensation to the emissions of methane and

    nitrous oxide. This text provides data on height pre and post-grazing of some tropical grasses, some

    such techniques as alimentary diet, genetic breeding, use of methanotrophic bacteria to mitigate the

    emission of methane. Animal-crop integration system, legume use are technologies as promising to

    reduce the curve of emission of carbon.

    Index terms: Animal-crop integration system, carbon dioxide, methane, pasture management,

    Sustentabilidade das Pastagens

    As pastagens de um modo geral abrangem as terras no cultivadas e que servem de pastejo para

    pastoreio dos animais domsticos, ocupando cerca de 70 % da superfcie terrestre no mundo

    (HOLECHEk et al., 2004). A imensa cobertura das pastagens fornece muitos produtos e servios a

    sociedade, tais como: gado, animais selvagens, gua, recreao, minerais, forragens e outros

    produtos vegetais, esttica, dentre outros).

    Alguns fatores ambientais alteram o padro de mudanas climticas e sua relao com a

    produo animal em grandes escalas. Dentre estes figuram o aumento na populao global, com

    intensificao no uso de recursos naturais, aumento no consumo e demanda de produtos e servios;

    incremento na produo mundial de alimento, com uso de agricultura irrigada em reas de

    pastagens; degradao do solo (eroso, encharcamento ou salinizao); reduo na biodiversidade;

    efeito do dixido de carbono atmosfrico nas plantas e os efeitos dos combustveis fsseis no gs

    carbnico atmosfrico.

    Os modelos de produo devem buscar a sustentabilidade, que deveria contemplar, os

    componentes; social ser socialmente justo; ambiental ambientalmente correto e econmico -

    economicamente vivel.

    O modelo citado por ELKINGTON (1994), Figura 1, explica uma interconexo, onde o

    desenvolvimento de um deles, pode prejudicar os demais, reforando a idia de que a ao de um

    gera reaes em outrem; de que os recursos por mais que no demonstrem so finitos.

  • Figura 1 - Triple Bottom Line ou Trip da Sustentabilidade (Elkington, 1994). Desenvolvimento sustentvel o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da

    gerao atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras geraes. o

    desenvolvimento que no esgota os recursos para o futuro. A produo animal com sustentabilidade

    contempla os aspectos scio-econmicos e ambientais. A Figura 2 ilustra os principais componentes

    relacionados com a produo animal sustentvel.

    Figura 2 - Componentes relacionados produo animal sustentvel, dados adaptados de Chaudhry,

    2008.

    PRODUO ANIMAL SUSTENTVEL

    Animal Forrageiras

    capins ...

    Climas e

    fontes

    Scio-

    economicos

    Intensiva

    extensiva

    Raa, gentica,

    reproduo

    Sade & Bem-

    estar

    Alimentao

    & Nutrio

    Biotecnologia

    & Eficincia

    Diversidade

    & Misturas

    Espcies &

    Variedades

    Inputs baixo

    & Alto

    Insetos, Doenas,

    Proteo

    Eficincia

    & Manejo

    gua & Seca

    Qualidade

    da gua

    Polticas e

    Campanhas

    Uso da terra,

    conservao

    Energia

    & Fontes Produtores,

    Empregos

    Tipo de solo

    & Integridade

    Regies &

    Culturas

    Qualidade do

    ar, ambiente

    Qualidade Alimento

    consumidores

  • As pastagens cobrem cerca de dois teros de toda a rea agricultvel do globo terrestre. No

    Brasil, as pastagens ocupam cerca de trs quartos da rea agrcola nacional (Brasil, 2006), cerca de

    210 milhes de hectares, assumindo posio de destaque no cenrio agrcola brasileiro. Entretanto

    30% dessas pastagens estariam degradadas. Estima-se que o Brasil tenha mais de 120 milhes de

    hectares de pastagens cultivadas, e que 85% dessa rea seja ocupada por braquirias. Somente no

    Estado de So Paulo, as braquirias ocupam em torno de 7,2 milhes de hectares num total de 9,2

    milhes de hectares com pastagens, e que aproximadamente 50% desse total j se encontrem em

    algum estdio de degradao. No entanto, apesar de sua representatividade, esse fato no reflete a

    excelncia de produo, e frequentemente as pastagens apresentam nveis de produtividade de

    forragem e produes animais bastante baixas, reflexos de algum estdio de degradao, resultante

    de manejo inadequado.

    A degradao da pastagem faz com que haja reduo na produtividade, perda de matria

    orgnica do solo, ou emisso de CO2 para atmosfera, com reduo no seqestro do carbono na

    pastagem.

    Ecossistema das Pastagens Sustentabilidade ambiental e produo animal

    O interesse, sobre os prejuzos ambientais da alimentao animal e seus efeitos na produo

    de gases de efeito estufa (GEE) e amonia (NH3), tem sido mundialmente crescente e esto

    relacionados com a degradao da qualidade do ar, aquecimento global e seus impactos sobre a

    perda de nutrientes na qualidade da gua (KREBEAB et al., 2011).

    O ecossistema pastagem, com manejo adequado, tem recebido destaque por seu papel no

    combate ao aumento do efeito estufa, ao atuar em favor do seqestro de carbono. A concentrao

    de gs carbnico (CO2) na atmosfera vem apresentando ao longo de dcadas, um crescimento

    ininterrupto, impulsionado a partir da chamada Revoluo Industrial no sculo XVIII. A utilizao de

    combustveis fsseis (petrleo, carvo mineral, etc.) para gerao de energia e, mais recentemente, a

    derrubada e queima de extensas reas de floresta tropical para o cultivo agrcola so os principais

    agentes causadores do aumento do efeito estufa, o que segundo o IPCC (International Panel on

    Climate Change), um painel de pesquisadores e cientistas da Organizao das Naes Unidas (ONU),

    poder provocar mudanas drsticas no clima do planeta.

  • A condio de fertilidade do solo afeta a produo de biomassa area e radicular, que por sua

    vez afeta diretamente a quantidade de resduos depositados no solo e conseqentemente o

    seqestro de C. Estudos realizados em diversas partes do mundo estimaram que as prticas de

    manejo da fertilidade do solo em pastagens podem aumentar de 50 a 150 kg/hectare a quantidade

    de carbono seqestrada. Por outro lado, a ausncia de N e a utilizao menos freqente da pastagem

    resultaram em perda para a atmosfera de 57 g C/m2 por ano. Os autores concluram que a converso

    de terras arveis em pastagens perenes teve efeito positivo sobre o balano de C no sistema, embora

    o efeito tenha sido mais pronunciado nos trs primeiros anos aps a converso. A reduo no uso de

    fertilizantes como a lotao animal reduziu as emisses de CH4 e N2O por unidade de rea. Entretanto

    este tipo de estratgia diminuiu o potencial de seqestro de C pelo solo. Esses resultados fortalecem

    a hiptese de que o aumento das emisses prejudiciais de CH4 e N2O freqentemente compensado

    pelo seqestro de C no solo.

    Manejo das pastagens, mitigao de gases de efeito estufa e sequestro de carbono em

    pastagens

    O manejo da pastagem visa otimizar: a produo da forrageira, a eficincia de uso da

    forragem, o desempenho animal, a produo animal por hectare, o retorno econmico, melhorar a

    distribuio estacional de forragem, garantir a persistncia da pastagem. O manejo do pastejo

    correto inclui: altura entrada no piquete, resduo ps-pastejo, perodo descanso, perodo ocupao,

    etc. tecnicamente recomendados de acordo com a espcie forrageira, clima, solo e categoria animal.

    Dados apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3 ilustram as alturas de entrada, de sada e o perodo de

    descanso para as principais forrageiras recomendadas no Brasil.

    Tabela 1. Altura de entrada dos animais em piquetes.

    ESPECIE FORRAGEIRA ALTURA DE ENTRADA (cm)

  • Capim-elefante (PD=30 a 35 dias) 140 a 150 Colonio e Tanznia 70 a 80

    Tobiat, Mombaa e Milnio 80 a 90

    Massai 50 a 60

    Braquiaro (Marandu) 40 a 50

    B. decumbens 35 a 40

    Setria 50 a 60

    ries, Aruana 25 a 30

    Tifton 85, Coast-cross, estrela, etc 25 a 35

    PD= perodo de descanso

    As aes no manejo das pastagens permeiam o monitoramento dos animais e da vegetao.

    Uma taxa de lotao (numero de cabeas por unidade de rea) muito baixa resulta em subpastejo

    com sobra excessiva de pasto, perda da qualidade com formao de macega de baixo valor

    nutricional. Por outro lado, sob alta taxa de lotao pode ocorrer um superpastejo, que compromete

    a produtividade da pastagem e se esta lotao persistir leva, invariavelmente, a menores valores de

    produo animal por rea e degradao do pasto. H uma taxa de lotao tima, que varivel e

    corresponde a maior perenidade da pastagem aliando produo de forragem com qualidade e maior

    produtividade animal. Deve-se otimizar a colheita de forragem e a produo animal.

    No caso das pastagens quanto maior a produo de folhas melhor. Os parmetros altura (pr

    e ps-pastejo: altura de entrada na pastagem e de sada dos animais) condicionam ciclos de pastejo

    (perodos de ocupao e de descanso). Como regra geral, 95 % de interceptao luminosa no relvado

    em pr-pastejo corresponde a maior proporo de folhas ou uma taxa liquida de folhas +

    colmos/material senescente mais elevada, indicando mais forragem disponvel e de melhor qualidade

    nutricional (Figura 3). O rpido crescimento das plantas tem conduzido a cortes mais cedo, evitando-

    se consumo de forragem passada com valor nutritivo mais baixo. Para capins cespitosos como os do

    gnero Panicum e Brachiaria brizantha um resduo mais baixo corresponde a maiores produes de

    forragem, com maior eficincia de uso, promove controle na emisso de inflorescncias e reduz as

    perdas de forragem. O uso de adubao nitrogenada fundamental na produtividade das pastagens

    e conduz variaes nos valores de alturas pr e ps-pastejo. Os mtodos de pastejo mais comumente

    empregados so os de lotao continua ou rotacionada. O desempenho individual privilegiado na

    lotao contnua (com cargas variveis nos perodos das guas e da seca), que exige menos

  • investimentos em infra-estrutura e preserva o bem-estar animal. J a lotao rotacionada, prioriza o

    desempenho animal por rea, maximizando as altas lotaes. Ambos sistemas de explorao animal

    tem seus mritos e podem ser empregados com bons resultados em termos de lucratividade/rea.

    Tabela 2. Altura para sada dos animais nos piquetes.

    ESPECIE FORRAGEIRA ALTURA DE SADA (cm)

    Capim-elefante (PD=30 a 35 dias) 50 a 100 Colonio e Tanznia 25 a 35

    Tobiat, Mombaa e Milnio 30 a 40

    Massai 20 a 25

    Andropogon 20 a 30

    Braquiaro (Marandu) 20 a 30

    B. decumbens 15 a 25

    ruana, ries 15 a 20

    Setria 20 a 30

    Tifton 85, Coast-cross, estrela, etc 10 a 20

    Adaptado de diversos autores; PD = perodo de descanso

    Tabela 3. Sugestes para perodos de descanso de vrias forrageiras em dias.

    ESPECIE FORRAGEIRA DIAS

    Capim-elefante 20 a 35

    Mombaa, Tanznia, Colonio, Milnio 25 a 42

    Capim-andropogon 25 a 30

    Braquiaro (Marandu) 28 a 35

    B. decumbens 28 a 42

    Aruana, ries 25 a 45

    Tifton 85, Coast-cross, etc 24 a 28

  • Figura 3 - Acmulo e senescencia de folhas em pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu

    indicando altura de entrada e de sada dos animais para 95% de interceptao luminosa (IL). Dados

    adaptados de Sbrissia (2004).

    O crescimento das plantas indica as taxas de lotao e perodos de descanso variveis. As

    ferramentas de manejo contribuem na tomada dinmica de deciso afinada com a filosofia de

    manejo adotada. As prticas de manejo devem prover o bem-estar animal e preservar a qualidade do

    meio ambiente no ecossistema da pastagem.

    GIMENES (2010) trabalhando com capim marandu, sob as alturas de pr-pastejo de 25 e 35

    cm durante o ano, no observou diferenas, com exceo ao vero 2009, poca em que maiores

    valores de taxa de lotao foram registrados nos pastos manejados com a altura pr-pastejo de 25

    cm relativamente queles manejados com a altura de 35 cm (Tabela 4). Nos pastos manejados com a

    altura pr-pastejo de 25 cm os maiores valores de taxa de lotao foram registrados durante a

    primavera 2009 e vero 2010, seguidos daqueles registrados durante o vero, outono e inverno de

    2009. Nos pastos manejados com a altura pr-pastejo de 35 cm os maiores valores de taxa de lotao

    tambm foram registrados durante a primavera 2009 e vero 2010, porm seguidos daqueles

    registrados durante o outono, vero e inverno de 2009. Com exceo do vero 2009, pastos

    adubados com 200 kg ha-1 de N apresentaram maior taxa de lotao que pastos adubados com 50 kg

  • ha-1 durante todo o perodo experimental (Figura 4). Para ambas as doses de N avaliadas maiores

    valores de taxa de lotao foram registrados durante a primavera 2009 e o vero 2010, sendo os

    menores valores registrados durante o inverno 2009 (Figura 4).

    Com relao ao desempenho animal, para o ganho de peso mdio dirio (GMD), GIMENES

    (2010) observou que, com exceo do inverno e primavera 2009, os valores de GMD foram maiores

    nos pastos manejados com a altura pr-pastejo de 25 cm relativamente queles manejados com a

    altura de 35 cm (Figura 5). Para as duas alturas pr-pastejo avaliadas os maiores valores de GMD

    foram registrados no vero 2009, poca a partir da qual passaram a diminuir atingindo os menores

    valores durante a primavera 2009, voltando a aumentar durante o vero 2010. Maiores valores de

    GMD foram registrados nos pastos adubados com 200 kg ha-1 de N relativamente queles adubados

    com 50 kg ha-1 apenas durante o outono 2009, sendo que no houve diferena entre tratamentos de

    dose de N nas demais pocas do ano (Figura 6). Para as duas doses de N avaliadas os maiores valores

    de GMD foram registrados durante o vero 2009 e os menores durante a primavera 2009, com

    valores intermedirios no outono e inverno 2009 e vero 2010 (Figura 6). Apesar das variaes

    estacionais e da influncia dos tratamentos de pastejo sobre o GMD, houve aumento crescente

    contnuo no peso corporal dos animais ao longo de todo o perodo experimental (Figura 7).

    Tabela 4. Taxa de lotao (UA ha-1) de novilhos Nelore em pastos de capim-marandu

    submetidos a estratgias de pastejo rotacionado caracterizados pelas alturas de

    pr-pastejo de 25 e 35 cm de fevereiro de 2009 a abril de 2010.

  • Mdias seguidas por letras distintas, minsculas nas linhas e maisculas nas colunas, diferem entre si (P>0,05). Nmeros entre parnteses correspondem ao erro-padro da mdia, * Anlise realizada em dados transformados LOG10(x)

    Letras minsculas comparam efeito de dose de N dentro das pocas do ano; letras maisculas comparam efeito de poca do ano dentro das doses de N. Figura 4 Taxa de lotao (UA ha-1) de novilhos Nelore em pastos de capim-marandu submetidos a

    estratgias de pastejo rotativo e adubao nitrogenada de fevereiro de 2009 a abril 2010.

  • Letras minsculas comparam efeito de altura pr-pastejo dentro das pocas do ano; letras maisculas comparam efeito de poca do ano dentro das alturas pr-pastejo. Figura 5 Ganho de peso mdio dirio (kg animal-1.dia) de bovinos Nelore em pastos de capim-

    marandu submetidos a estratgias de pastejo rotativo caracterizadas pelas alturas pr-pastejo de 25 e 35 cm de fevereiro de 2009 a abril 2010. Fonte: GIMENES (2010).

    Letras minsculas comparam efeito de dose de N dentro das pocas do ano, Letras maisculas comparam efeito de poca do ano dentro das doses de N.

  • Figura 6 Ganho de peso mdio dirio (kg animal-1 dia-1) de bovinos Nelore em pastos de capim-

    marandu submetidos a estratgias de pastejo rotativo e adubao nitrogenada de fevereiro de 2009 a abril 2010 Fonte: GIMENES (2010).

    Figura 7 Evoluo mensal do peso corporal (kg) de novilhos Nelore em pastos de capim-marandu

    submetidos a estratgias de pastejo rotativo e adubao nitrogenada de fevereiro de

    2009 a abril 2010.

    Para o ganho de peso por unidade de rea verificou-se que pastos manejados com a altura

    pr-pastejo de 25 cm apresentaram maior ganho de peso por unidade de rea que pastos manejados

    com a altura de 35 cm (Figura 8). Maior ganho de peso por unidade de rea tambm foi registrado

    nos pastos adubados com 200 kg ha-1 de N relativamente queles adubados com 50 kg ha-1 (Figura 9).

  • Letras minsculas comparam efeito de alturas pr-pastejo Figura 8 Ganho de peso por unidade de rea (kg.ha-1) ao final do experimento em pastos de capim-

    marandu submetidos a estratgias de pastejo rotativo para as alturas pr-pastejo de 25 e 35 cm de fevereiro de 2009 a abril 2010. Fonte: GIMENES (2010).

    Letras minsculas comparam efeito de doses de N Figura 9 Ganho de peso por unidade de rea (kg.ha-1) ao final do experimento em pastos de capim-

    marandu submetidos a estratgias de adubao. Fonte: GIMENES (2010).

  • Estudos realizados por PAULINO e TEIXEIRA (2011) relacionaram o manejo da pastagem de

    Brachiaria brizantha cv. Marandu correspondente 100% de interceptao luminosa (altura de

    entrada de 35 cm) e 95% de interceptao luminosa (altura de entrada de 25 cm) e as adubaes

    com 50 e 200 kg/ha de N com o estoque de carbono no solo. Os estoques de carbono encontrados

    para altura de 35 cm (110 Mg ha-1) foram superiores aos obtidos com entrada de animais a 25 cm

    (84,4 Mg ha-1). Os maiores valores de estoque de carbono foram observados mediante a aplicao de

    200 kg ha-1 de N associado altura de 35 cm de pastejo (119,3 Mg ha-1), Figura 10 e 11. A entrada dos

    animais numa altura de pr-pastejo mais elevada (35 cm) resulta em maiores acmulos de material

    vegetal morto. Outrossim, este fato esta diretamente relacionado as perdas de massa de forragem

    que foram mais elevadas (24,1%) na altura de pr-pastejo de 35 cm que na altura de 25 cm de 20,3 %

    (GIMENES, 2010).

    Figura 10 - Estoques de carbono em pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu sob manejo rotativo e adubao nitrogenada. Fonte: PAULINO & TEIXEIRA, 2011.

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    25/50 35/50 25/200 35/200

    Esto

    qu

    e d

    e C

    arb

    on

    o(M

    g/h

    a)

    Manejo (altura/adubao nitrogenada)

    80,1 C

    100,7 B

    88,7 C

    119,3 A

  • Embora o N possa ter efeito positivo no balano de gases entre a atmosfera e o solo de

    pastagens, o processo de fabricao do adubo nitrogenado alm do prprio transporte do produto

    so atividades que demandam queima de combustveis fsseis e conseqentemente contribuem para

    a emisso de gases para a atmosfera. Dados da literatura apontaram um valor de 1,23 kg de C

    emitidos para cada kg de N produzido, includos todos os processos de fabricao, estocagem,

    transporte e aplicao. Alm disso, o custo de aplicao do fertilizante nitrogenado muitas vezes

    excede o retorno econmico de determinado sistema produtivo.

    Figura 11 - Pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu, com 13 anos de idade, com lotao

    rotacionada e adubada com nitrognio.

    Desse modo, o uso de plantas leguminosas em pastagens, seja em monocultura ou consorciada

    com gramneas tropicais tem sido h muito tempo objeto de estudo de pesquisadores brasileiros

    interessados na economia do uso de fertilizantes. Atualmente, esse interesse se estendeu a fim de

    avaliar o potencial da leguminosa em seqestrar C atmosfrico. Como os estoques de C no solo

    podero ser sustentados no longo prazo apenas se for adicionado N no sistema, seja atravs da

    aplicao de fertilizantes nitrogenados ou pela fixao biolgica, a demanda por informaes a

  • respeito do potencial da leguminosa nesse sistema cresce cada vez mais. Alm disso, as perdas de C

    no solo tendem a aumentar quando os microorganismos do solo so N dependentes.

    Outrossim, fica evidente que a utilizao de leguminosas em consrcio com gramneas

    forrageiras tropicais pode ser um dos principais meios de se conseguir alta produtividade com baixo

    custo, e como efeito secundrio acaba por beneficiar o acmulo de C no solo atuando como

    alternativa para o aumento do seqestro de C atmosfrico.

    As determinaes impostas pelos pases importadores de produtos de origem animal do Brasil

    tm sido cada vez mais abrangentes em termos do sistema produtivo onde os animais so criados,

    passando a exigir mais do que simplesmente alimento.

    Atualmente, os produtos oriundos de sistemas de produo animal so adquiridos com o

    intuito de que ofeream benefcios diretos (paladar, valor nutritivo, segurana alimentar), e tambm

    qualidades indiretas (nvel de bem estar, sistema que preserve o ambiente, sustentabilidade

    ambiental) relacionadas aos processos de produo, as quais no podem ser tratadas isoladamente.

    A produo brasileira deve estar preparada para atender as exigncias da sociedade mundial,

    quanto conservao da gua e do solo, bem-estar animal e mitigao do efeito estufa na produo

    animal.

    Baseado em aspectos de proteo mercadolgica, o Brasil, por ser detentor do maior rebanho

    comercial de bovinos do mundo e por utilizar forrageiras tropicais como base da alimentao destes

    animais. Fatores como baixo custo, grande aptido produtiva e fcil cultivo tornam os pastos a base

    da explorao pecuria no Brasil. A maior parte da produo de ruminantes no Brasil (cerca de 90%)

    gerada sobre pastagens. Alm disso, o uso de pastagens tropicais tem sido enfatizado mundialmente

    como o diferencial da pecuria brasileira. Estima-se que anualmente no Brasil sejam plantados 4

    milhes de hectares de pastagens, e renovados outros 10 milhes. A diversidade de pastagens

    cultivadas nos trpicos precariamente pequena, considerando a grande dependncia de somente

    poucos ecotipos de plantas essencialmente apomticas e que cobrem milhes de hectares. No caso da

    incidncia de uma praga ou doena isso representa um risco permanente para as pastagens, dessa

    forma materiais genticos superiores e novos lanamentos para amenizar esses riscos biticos ou

    abiticos (solo e clima) esto sendo providenciados por empresas publicas e privadas para ampliar o

    leque de opes de forrageiras para explorao pecuria.

    Por outro lado, o Brasil tem sido indicado como importante produtor de metano (CH4), fato

    que pode ser utilizado como embargo aos produtos da pecuria destinados exportao.

  • Devido a anos de esforos na rea de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias aplicadas

    pecuria o sistema produtivo tem grande potencial para colaborar com a mitigao do aquecimento

    global, causado pelos gases de efeito estufa (CO2, CH4 e N2O).

    A colaborao pode ser dada na reduo das emisses de metano e no seqestro de carbono

    pelos solos.

    Como a fermentao entrica dos ruminantes uma fonte importante de emisso de metano

    na agropecuria. Trabalhos realizados pelo Instituto de Zootecnia, da Agncia Paulista de Tecnologia

    dos Agronegcios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de So Paulo e pela

    Embrapa estimaram que os bovinos emitem em mdia 56 kg/ano de metano, dados aceitos como

    referncia pelo IPCC (Intergovermental Panel on Climate Change).

    As produes de metano pelos bovinos variam de acordo com a alimentao:

    Dietas com mais amido produzem menos metano por unidade de amido do que por unidade

    de carboidrato estrutural;

    Aumento da protena na dieta reflete numa menor emisso de CH4 ;

    Os animais alimentados com pastos de capim tropical seco, fibrosos emitem mais metano que

    os alimentados com leguminosas ou gros;

    Quanto maior a ingesto de matria seca digestvel menor a eficincia produtiva de metano

    por quilograma de leite ou carne;

    O uso de concentrados melhora a produo de carne e de leite com menor produo de gases

    por quilo de alimento ingerido;

    Figuram dentre outras medidas mitigadoras da emisso de metano: o uso de aditivos

    (ionforos, etc.), o emprego de volumosos de alta qualidade, emprego de variedades de cana-de-

    acar com melhor relao fibra e acares solveis, uso de consorciao e gramneas de alta

    qualidade, e o manejo adequado das pastagens.

    O Instituto de Zootecnia, APTA/SAA, desenvolve em Sertozinho, h mais de 50 anos a prova

    de ganho de peso que visa seleo e melhoramento de raas zebunas. O uso de animais

    geneticamente mais produtivos, criados em pastos adequadamente manejados contribuiu para a

    reduo da idade de abate de 36 para 18 meses de idade. Essa intensificao na produo capaz de

    reduzir a emisso de metano em at 60%.

    Novas tecnologias, tais como desenvolvimento de vacinas, caracterizao genmica de

    microrganismos metanognicos e metanotrficos esto sendo estudados em diversas partes do

  • mundo. Elas representam contribuies alternativas para atender a proposta nacional em reduzir de

    20 a 30% a emisso de gases de efeito estufa.

    O potencial de seqestro nesses ecossistemas est relacionado sua produo primria, de

    modo a manter o C (carbono) aprisionado nos troncos e galhos de rvores durante seu crescimento.

    Em pastagens, por outro lado, o potencial de seqestro de C reside na capacidade desses sistemas

    em aumentar a concentrao do C orgnico no solo, desde que satisfeitas algumas condies. Apesar

    disso, sistemas pastoris utilizados na produo de ruminantes, seja na produo de carne ou leite,

    convivem continuamente com emisso de gases do efeito estufa (GEE) como metano (CH4) e xido

    nitroso (N2O), originados de processos metablicos nos animais e de aplicao de fertilizantes

    nitrogenados, respectivamente. Esse equilbrio de trocas gasosas que define em que grau

    determinado ecossistema pode ser considerado fonte de gases do efeito estufa ou, de outro modo,

    um dreno com capacidade de reduzir esses gases na atmosfera.

    possvel mitigar em at 6 bilhes de toneladas de gs carbnico-equivalente com a

    agropecuria, dos quais 70% negocivel no mercado de carbono a preo de U$ 100.00 a tonelada

    (IPCC, 2007). O sistema de plantio direto na palha ou a modalidade integrao-lavoura-pecuria

    ocupa atualmente cerca de 30% da agricultura nacional e promovem mitigao de 9 milhes de

    toneladas de carbono, suficientes para compensar a emisso direta das atividades agrcolas

    referentes ao perodo de 1975 a 1995.

    TEIXEIRA (2011) avaliando os estoques de carbono em sistemas de integrao lavoura-pecuria

    verificou maiores estoques de carbono para a associao milho + capim-marandu (84,0 Mg ha-1) e

    milho + ruziziensis (79,8 Mg ha-1) superiores aos da associao milho + capim-piat (67,2 Mg ha-1)

    para a profundidade de 0 a 40 cm. Tais valores representam estoques de carbono 27,9 %, 21,5 % e

    2,3 % superiores aos encontrados no sistema de plantio convencional (milho), cultivado na Fazenda

    Santa Anglica em rea prxima a da rea avaliada nesse experimento, para capim-marandu,

    ruziziensis e piat, respectivamente. As figuras 12 e 13 ilustram a distribuio dos estoques de

    carbono com a profundidade e a rea experimental do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, SP.

  • 0 5 10 15 20 25 30

    30 40 cm

    20 30 cm

    10 20 cm

    0 -10 cm

    Ruziziensis

    Piat

    Marandu

    Pro

    fun

    did

    ad

    es

    Estoque de Carbono - Mg/ha

    Figura 12 - Estoques de carbono (Mg ha-1) no sistema integrao-lvaoura-pecuria (milho +

    ruziziensis, milho + piat e milho + marandu) em funo das profundidades. Fonte:

    TEIXEIRA (2011).

    Desse modo, importante entender se e como as mudanas no nmero e composio de

    espcies de plantas, alm do manejo adotado em reas agricultveis, afetam as taxas de acmulo de

    C no solo.

    A mitigao do efeito estufa pela reduo de emisso de poluentes pelos pases desenvolvidos

    garantiria, no mdio e longo prazo, uma freada no aumento da concentrao de gases na atmosfera.

    Entretanto, os efeitos de uma ao isolada nesse sentido seriam prejudiciais economia global.

    Medidas alternativas e compensatrias a essa esto sendo debatidas e incentivadas, entre as quais se

    destacam a preservao de florestas nativas, a implantao de florestas e sistemas agroflorestais e a

    recuperao de reas degradadas. Na agricultura o crescente aumento da produtividade nas ltimas

    dcadas associada ao uso de tcnicas avanadas de melhoramento gentico animal e vegetal com

    utilizao crescente de fertilizantes e pesticidas foi considerado por muitos, incompatvel com a atual

    necessidade de sistemas considerados ecologicamente corretos do ponto de vista da emisso de

    gases do efeito estufa.

  • Figura 13 - Pastagem de Brachiaria brizantha cv. Piat em rea de integrao-lavoura-pecuria

    (milho-brachiaria) no Instituto de Zootecnia, Nova Odessa/SP. Fonte: PAULINO, 2010.

    No caso especfico de pastagens manejadas para a produo de carne e leite, o aumento da

    taxa de lotao associada utilizao crescente de doses de nitrognio no solo foi considerado

    aspecto negativo do balano de gases na atmosfera, promovendo e colaborando para o aquecimento

    global, em razo principalmente da emisso de metano por ruminantes. Embora seja verdade que o

    aumento da taxa de lotao eleve a emisso de metano por rea, sua capacidade em compensar essa

    emisso seqestrando C da atmosfera e armazenando-o no solo atravs dos processos de

    fotossntese e decomposio permaneceu negligenciado at recentemente. Desse modo futuros

    estudos devero no s levar em considerao a responsabilidade de cada componente sobre a

    emisso de gases, mas tambm o balano geral do fluxo de gases, que no caso das pastagens torna-

    se mais amplo devido participao importante dos ruminantes (SOUSSANA et al., 2007).

    Ponderando que em mdia h no Brasil, 1,1 bovino para cada hectare. Os bovinos emitem 56

    kg de metano e 54 kg de gs carbnico por ano. Por outro lado, as pastagens sustentam a pecuria

    nacional e seqestram o carbono. As estimativas apontam que as pastagens brasileiras seqestram

    cerca de 920 kg/ha/ano. Baseado nessa informao, o saldo da pecuria seria positivo e de 810 kg/ha

    de carbono seqestrado por ano. Considerando a eficincia de pastejo, os contedos de carbono na

    matria seca e o estoque de carbono no solo, grosseiramente eleva-se na ordem de 1,2 a 2,1

    toneladas de carbono seqestrado por unidade animal acrescentada na lotao por area.

  • O metano gerado pela fermentao ruminal, considerando que o rebanho brasileiro contribui

    com apenas 2% do metano global produzido por atividades antrpicas, ou cerca de 10% do metano

    ruminal global, na realidade at o momento o metano no o grande problema dos ruminantes

    (FAO, 2006). O mais relevante o manejo inadequado, quando se utiliza o fogo, gerando calor e CO2

    para a atmosfera, e os animais so submetidos restrio de alimentos, por ocasio do perodo seco

    do ano, uma grande quantidade de gases so gerados para produzir um quilo de carne ou de leite,

    considerando o baixo desempenho dos animais nessas condies. Os valores padres de produo de

    metano por um bovino adulto pastejando em condies normais, podem variar de 40 a 70

    kg/animal/ano, o que equivale a 0,92 a 1,61 t/animal/ano de CO2 equivalente. No entanto, a

    expectativa de fixao de CO2 proveniente da atmosfera pelas plantas forrageiras so bem maiores,

    considerando o potencial de produo de matria seca das plantas de clima tropical. PEDREIRA &

    PRIMAVESI (2008) fizeram uma simulao do balano dos gases gerados em um sistema de produo

    de bovinos em pastejo pode ser visualizada na Tabela 4.

    A explorao atividade pecuria praticada de forma racional uma ferramenta benfica ao

    seqestro de carbono. desde que praticada de forma racional. Evidentemente que a produo de CO2

    equivalente pode variar em funo, por exemplo, do uso de fogo e tambm da decomposio dos

    dejetos dos animais.

    Tabela 4. Emisso de metano (CH4) e de CO2 por bovinos adulto consumindo forragem e sal

    mineral e sequestro de CO2 em pasto bem manejado de braquiaria.

    Fonte: PEDREIRA & PRIMAVESI (2008)

  • Uma quantidade de xido nitroso (N2O) tambm deve ser produzida, principalmente na

    utilizao de adubos nitrogenados. Outro aspecto que deve ser considerado que nesta simulao

    no foi considerada a produo de gases pelo processo de eliminao da vegetao original da rea,

    que deve ser acrescentada quantidade de carbono gerada e diluda pelo tempo produtivo da

    pastagem. O que no pode ser admitido a transformao de floresta em pastagem, pois a floresta

    contem de 120 a 300 t MS/ha, que se queimados vo gerar 240 a 600 t CO2/ha, o que nenhuma

    atividade agropecuria consegue repor (PEDREIRA & PRIMAVESI, 2008). Recuperar uma pastagem

    degradada e torn-la uma pastagem bem manejada, representa vantagem no aspecto de retirada de

    CO2 atmosfrico. Alm disso a queimada gera gases que vo resultar em oznio troposfrico, que

    prejudicial a sade vegetal e animal, ainda retira do ar os ons OH* que deveriam neutralizar o gs

    metano eliminado pelos bovinos.

    Alm da reduo do desmatamento da Amaznia em 80%, anunciada anteriormente pelo

    governo e prevista na Poltica Nacional de Mudanas Climticas, o Brasil, tem como metas COP -15,

    Copenhague (2009) tambm deve:

    - diminuir o desmatamento no Cerrado em 40%;

    - recuperar pastos;

    - realizar plantio direto;

    - fazer fixao biolgica do nitrognio;

    - aumentar a eficincia energtica;

    - incentivar o uso de biocombustveis;

    - expandir o uso de hidreltricas;

    - investir em fontes alternativas, como a elica

    - substituir o carvo proveniente de desmatamento pelo de rvores plantadas na siderurgia

    A pecuria tecnicamente conduzida reduz as emisses de GEE, aproveita melhor

    aproveitamento de resduos, uso de biodigestores, pode incrementar o nitrognio no sistema e

    elevar a eficincia no uso do carbono. O uso de leguminosas em pastagens tem demonstrado quase

    que invariavelmente aumentos no carbono orgnico no solo, quando comparado com a pastagem

    exclusiva de gramnea.

    Segundo MIRANDA (2010) h muitos enganos e mentiras sobre as emisses de CO2 no Brasil,

    sendo que entre 2000 e 2005 os Estados Unidos foram campees do desmatamento ao perder 6% de

  • sua florestas, vindo a seguir o Canad com 5,2% e em terceiro o Brasil com 3,6%, enquanto os dois

    primeiros perderam um total de 280.000 km2, o Brasil perdeu 165.000 km2.

    Segundo os dados da Energy Information Administration Independent Statistics and Analysis

    dos EUA (disponvel em tonto.eia.doe.gov/cfapps/ipdbproject/iedin

    dex3.cfm?tid=908&pid=44&aid=8) e do Balano Energtico Nacional (BEN) (disponvel em

    www.ben.epe.gov.br/) o Brasil est entre os pases que menos contribui para o desbalano de

    emisso de gs carbnico considerando quatro indicadores homogneos de comparao (valor

    absoluto das emisses de CO2 e os valores relativos por habitante, por km2 e riqueza produzida). O

    Brasil o campeo mundial de agroenergia, sendo que nossa agricultura contribui com 28,5 % da

    energia renovvel brasileira.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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  • Palestra 3

    Produo orgnica de leite no Brasil: Tecnologias para a produo sustentvel

    Joo Paulo Guimares Soares1, Luiz Janurio Magalhes Aroeira2, Adivaldo Henrique da Fonseca3, Argemiro Sanavria3, Jenevaldo Barbosa da Silva4, Gisele Maria Fagundes5 1-Zootecnista, D.Sc., Pesquisador A, Embrapa Cerrados, BR 020, km 18, Planaltina, DF - Brasil - CEP 73310-970, Caixa Postal: 08223, E-mail: [email protected] 2-Medico Veterinrio, Dsc., Pesquisador aposentado, Embrapa Gado de Leite. Professor DCAN/PPGPA,Universidade Federal Rural do Semirido (UFERSA) Av. Francisco Mota, 572 Bairro Costa e Silva, Mossor-RN. CEP: 59.625-900 E-mail: [email protected] 3-Medico Veterinrio, Dsc., Professor Titular, Departamento de Epidemiologia e Sade Pblica, Instituto de Veterinria,Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) BR465, Km07, 23890-000, Seropdica, RJ E-mail: [email protected], [email protected] 4-Mestrando em Cincias Veterinrias, Instituto de Veterinria, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) BR465, Km07, 23890-000, Seropdica, RJ - E-mail: [email protected]. 5-Mestranda em Zootecnia, Instituto de Zootecnia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) BR465, Km07, 23890-000, Seropdica, RJ. E-mail: [email protected]

    1- Introduo

    Os sistemas orgnicos de produo de leite so modelos sustentveis de produo que preconizam prticas de manejo em preferncia ao uso de insumos externos propriedade. Leva em conta a adaptao s condies regionais e sempre que possvel, usa prticas zootcnicas e agronmicas, mtodos mecnicos e biolgicos, em detrimento do uso de materiais sintticos, sem deixar de lado a segurana, a produtividade e a rentabilidade para o produtor, onde todos os princpios de agroecologia6 podem ser aplicados. Neste caso, pressupe-se que, alm de primar pela sade animal, necessrio que o pecuarista esteja preocupado com a preservao ambiental e oferea boas condies de trabalho e de vida a seus funcionrios (Soares, 2008).

    Por isso, preciso observar que este sistema no obtidos somente na troca de insumos qumicos por insumos orgnico/biolgico/ecolgicos, mas prevem cuidados com a alimentao do rebanho, as instalaes e o manejo humanitrio, a escolha de animais, a sanidade e at os cuidados higinico-sanitrios durante o processamento e empacotamento do produto (Aroeira et al., 2003).

    As mudanas no nvel de produtividade e na gentica dos animais utilizados na Revoluo Verde foram enormes, contribuindo para o aparecimento de muitas doenas que implicam no uso intensivo de medicamentos e condies artificiais de criao. Os problemas relacionados com a segurana dos alimentos, como o mal da vaca louca, gripes aviria e suna invocam a importncia do uso da rastreabilidade como forma de garantir ao consumidor a qualidade superior desejada (Fonseca, 2000).

    A produo orgnica de leite uma demanda atual da sociedade. O consumidor deseja um

  • produto de qualidade, a preo justo, saudvel do ponto de vista de segurana alimentar, livre de perigos biolgicos (cisticercose, brucelose, tuberculose, prons, etc.), perigos qumicos (carrapaticidas, antibiticos, vermfugos, hormnios, etc.) e produzidos com menor uso de insumos artificiais e cuidados em relao ao bem estar animal. Alm do que, existe a preocupao atual com a preservao do meio ambiente e a biodiversidade e com o papel social da atividade agropecuria, com a gerao de empregos no campo e diminuio do xodo rural. (Soares, 2008).

    O leite orgnico comercializado em pequena escala, principalmente os derivados (padarias, mini mercados, feiras-livres, lojas e cestas a domiclio) face s exigncias de legislao sanitria e logstica para serem colocados num grande canal varejista. As legislaes estaduais e municipais vm facilitando as aes de pequenos agricultores e agroindstrias de pequeno porte (Fonseca, 2000). Embora iniciativas de grande escala como cooperativas na regio oeste de Santa Catarina e Triangulo Mineiro, tem se desenvolvido e apresentam grande potencial.

    Os maiores entraves para o desenvolvimento da produo orgnica de leite referem-se produo de forragem e gros para a alimentao animal e ao controle de doenas para o manejo da sanidade animal. Para alimentao a limitao se d face ao pequeno tamanho das propriedades, escassez de raes orgnicas para suplementao alimentar durante o perodo de estiagem, baixa fertilidade do solo nas reas de pastagens, baixa adoo da prtica da adubao verde e incorporao de matria orgnica, alm do clima desfavorvel em determinadas pocas do ano, em algumas regies, que no caso destes ltimos tambm limitam os sistemas convencionais.

    Para a sanidade esto relacionados ao controle de ecto e endoparasitas sem a utilizao de medicamentos qumicos, assim como a busca por aqueles alternativos. Em relao ao tratamento veterinrio, o objetivo principal das prticas orgnicas de criao a preveno de doenas. Sade no apenas ausncia de doena, mas habilidade de resistir a infeces, ataques de parasitas e perturbaes metablicas. Desta forma, o tratamento veterinrio considerado um complemento e nunca um substituto s prticas de manejo. O princpio da preveno deve ser sempre priorizado e quando houver necessidade de intervenes deve se considerar que o importante procurar as causas e no somente combater os efeitos. Por isso, o foco deve ser a busca de mtodos naturais para tratamento veterinrio como medicamentos homeopticos, fitoterpicos e alimentao equilibrada para manter a sade animal.

    Neste sentido, existe uma srie de alimentos alternativos, no convencionais com caractersticas orgnicas que podem ser produzidos nas propriedades rurais com objetivo de diversificao/rotao de culturas, fixao de nitrognio, gesto do nitrognio e do carbono, melhoria da estrutura do solo, sendo combinados para produo de raes de ruminantes, entre eles a mandioca, os feijes silvestres, a cana-de-acar, o farelo de arroz, o farelo de trigo, subprodutos da indstria e as pastagens consorciadas (gramneas e leguminosas) em sistemas silvipastoris.

    Contudo, imprescindvel destacar que os sistemas de produo orgnicos envolvem uma viso holstica da propriedade, onde animais e vegetais se mantm num manejo integrado em harmonia, reciclando nutrientes e gerando relaes qumicas e biolgicas complexas. Essas relaes necessitam ser esclarecidas de maneira cientfica, para agregar tecnologias cadeias produtivas e diminuir o empirismo que envolvia a produo orgnica, proporcionando o avano do conhecimento e maior oferta nos mercados nacionais e internacionais.

    Neste trabalho sero enfocados algumas tecnologias desenvolvidas e adaptadas pela Embrapa e parceiros as quais tentou-se fornecer resultados de pesquisas para dirimir os maiores entraves identificados para a produo orgnica de leite que so as relacionadas a alimentao e a sanidade dos rebanhos de leite em sistemas orgnicos de produo, assim como apresentar tambm a caracterizao da produo no Brasil, aspectos da legislao e de mercado.

  • 2- Produo orgnica de leite no Brasil

    A produo de leite orgnico no Brasil at 2005 era de 0,01% (Aroeira et al., 2005 ) e cresceu para 0,02% (6,8 milhes de litros em 2010) da produo total de leite produzida no Brasil (28 bilhes de litros em 2010), conforme dados preliminares de levantamentos feitos pelo projeto Sistemas orgnicos de produo animal da Embrapa Cerrados em 2011, junto a produtores e cooperativas em diferentes estados.

    Mesmo com a sada de alguns produtores isolados no Rio de Janeiro e Minas Gerais, este pequeno crescimento se deu em funo do estabelecimento de projetos de algumas cooperativas e ampliao de outras, sobretudo no sul do Brasil e no Triangulo mineiro respectivamente, sendo implantadas com vrios produtores que em parte esto em transio e outros j receberam a certificao.

    Produzir leite orgnico no Brasil compensa, uma vez que quando se comparou o sistema orgnico ao convencional, identificou-se que a remunerao do capital de 5% ao ano, maior do que aquela obtida no sistema convencional (2% ao ano), mesmo ocorrendo uma reduo de produtividade por vaca (33%); da terra (63%); aumento da mo-de-obra (47%) e do custo total por litro de leite (50%). O valor agregado do produto dependendo da regio variou de 50 a 70% a mais do que o valor do leite convencional. Concluiu-se neste estudo que para a produo orgnica de leite seja economicamente vivel necessrio que o preo ao produtor seja 70% superior ao praticado para o leite convencional (Aroeira et al., 2006).

    Foram feitos tambm atravs de levantamentos, a caracterizao de sistemas de produo orgnica de leite na regio sudeste, sul, nordeste, centro-oeste e norte, observando-se que ainda so pequenas com relao a produo convencional. A propriedade com produo orgnica de leite, pde ser caracterizada por possuir em mdia 325ha de rea total, sendo destas, 138ha dedicados atividade leiteira. O rebanho em mdia constitudo de 41 vacas em lactao, 35 vacas secas. Cerca de 60% dos animais so mestios (Europeu x Zebu) e 40% Zebu. A mdia da produo por vaca oscila em torno dos 9,2 kg/dia durante a poca das chuvas e cai para 8,2 kg/dia na seca. Estes valores,sobretudo de rea utilizada, se apresentaram mais elevados do que o esperado, e menores na produo mdia de leite, uma vez que foi considerada na pesquisa regies como centro-oeste/norte e sudeste/sul respectivamente (Aroeira et al., 2005)..

    Com relao a alguns nmeros tambm se pode, atravs das pesquisas mas recentes, observar que hoje no Brasil so 239 produtores que mantm a produo nacional em torno de 6.8 milhes L/ano, produto de 2070 vacas ordenhadas com produo de 3313L/vaca/ano e uma mdia 11 litros/vaca/dia(Soares, (2011)-Pesquisa em andamento).

    O nmero total vacas ordenhadas no Brasil pode ser distribudo, sendo no Sul- 1010 vacas; Sudeste- 630 vacas; Centro-oeste- 130 vacas; Nordeste- 200 vacas e no Norte- nenhuma. Considerando os dados obtidos na pesquisa para a percentagem de vacas em lactao em relao ao rebanho no sistema orgnico serem de 64%, o nmero do rebanho na atividade de 3234 cabeas. As propriedades esto concentradas na regio sul, sobretudo nos Estados do Paran, Santa Catarina e no Sudeste, Minas Gerais (sul de minas e triangulo Mineiro) So Paulo e Rio de Janeiro (Soares, (2011)-Pesquisa em andamento).

    3- Mercado do leite orgnico

    Existem principalmente problemas de logstica e comercializao, alm da necessidade de

  • aumento da produo para reduo do preo no mercado, ou seja a lei da oferta e da procura para haver maior regularidade de produo e os preos se tornarem mais acessveis as diferentes classes e ocorrer aumento da venda.

    Com relao a logstica, a maioria dos produtores de leite orgnico no ligados a cooperativas fazem a industrializao e empacotamento na prpria unidade produtiva tambm tendo que distribuir o produto o que onera o custo de produo Ainda h limitao sobretudo na difuso e transferncia de tecnologias, onde o treinamento da extenso necessria para tornar as diferentes tecnologias disponveis chegarem aos produtores que podem estar tendo problemas e no terem solues disponveis por desconhecimento.

    O leite orgnico comercializado em pequena escala principalmente os derivados (padarias, mini mercados feiras-livres, lojas e cestas a domiclio) face s exigncias de legislao sanitria para serem colocados num grande canal varejista. As legislaes estaduais e municipais auxiliadas pela Lei 10831 facilitam as aes de pequenos agricultores e agroindstrias de pequeno porte. Embora iniciativas de grande escala como cooperativas na regio oeste de Santa Catarina e Triangulo Mineiro tem se desenvolvido e apresentam grande potencial, comercializando em supermercados. Assim como grandes produtores se encontram no interior de So Paulo, Paran e Gois.

    Por outro lado, o leite orgnico produzido (certificado) alcanou como previsto, at trs vezes o valor do produto convencional, se vendido diretamente ao consumidor (Aroeira et al., 2005, Soares et al.2004) atingindo nichos de mercado na regio norte/centro oeste, com exceo do Distrito Federal, mas no sul/sudeste alcanam grandes canais varejistas com preos menores e acesso a maior parcela da populao.

    Quando vendido a cooperativas/laticnios, o produto foi comercializado com 50% de acrscimo. Estudo com consumidores em Minas Gerais mostrou que h disposio para se pagar at 60% de sobrepreo para o leite e seus derivados produzidos de forma orgnica, porm o mesmo estudo mostrou que este valor no suficiente. Para que o mesmo seja economicamente vivel conforme j descrito, necessrio que seu preo seja 70% maior que o convencional. Conclui-se que o ajuste entre a demanda e a oferta do leite orgnico no mercado futuro poder ajustar estes ndices, melhorando o acesso pela reduo do preo a consumidores com menor padro financeiro (Aroeira et al., 2005).

    Mesmo com dificuldades de comercializao possvel sim ter lucros com a atividade, pois esta no mais uma atividade insipiente. Levando-se em considerao que o Brasil quinto pas com maior rea com produo orgnica do mundo 1,77 milhes de hectares at 2007 (IFOAM 2011). A venda de produtos orgnicos no mundo movimentou em 53 bilhes de dlares (IFOAM 2011). Segundo o IBGE (2006) os estabelecimentos de produtores de orgnicos no Brasil representavam 1,8% (ou 90.425 propriedades) do total de estabelecimentos agropecurios e destes 41,7% dedicavam-se, principalmente, pecuria e criao de outros animais.

    No Brasil estima-se que o comrcio anual seja de R$ 500 milhes, sendo 30% para o mercado interno e 70% para exportao. O setor cresce de 20 a 30% ao ano. Com base nestes dados podemos tranquilamente dizer que a produo orgnica de leite, no atende somente um nicho de mercado, tem produo, tem rentabilidade com sustentabilidade sendo um mercado a espera de produo (IBGE, 2006).

    4-Regulamentao da produo orgnica

    A Lei dos Orgnicos (Lei 10.831/03) foi regulamentada pelo Decreto no 6323, de 27 de dezembro de 2007 e aps consulta pblica nos ltimos anos de suas instrues normativas-IN, sendo

  • a principal IN 64 (Brasil, 2009), orienta as prticas e processos de manejo da produo animal e vegetal no Brasil. Todo produto intitulados ecolgico, biodinmico, natural, regenerativo, biolgico, agroecolgico, permacultivado e outros so nomeados pela Lei como produto orgnico (Brasil, 2003). Neste perodo tambm, foi criado, no mbito do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA), o programa Pr-Orgnico, com comisses estaduais de produo orgnica (CPOrg) e a Cmara Setorial da Cadeia Produtiva da Agricultura Orgnica (CSAO). Ambos tm o objetivo de incentivar, estruturar e desenvolver a cadeia de produo a comercializao de produtos orgnicos no Brasil (SOARES et al., 2008).

    Desde 1. de janeiro de 2011 passa a ser fiscalizada pela legislao brasileira todos os sistemas de produo que no so convencionais a se auto intitularem orgnicos pelo uso do novo selo do Sistema Brasileiro de Avaliao da Conformidade Orgnica (SBCO) somente aps passarem pelo crivo das instituies certificadoras autorizadas ou OAC (Brasil, 2003).

    Para estarem aptos comercializao e exportao, os produtos orgnicos tambm tm que ser certificados. Agncias certificadoras credenciadas junto ao Colegiado Nacional para a Produo Orgnica (CNPOrg) fornecem Selos de Qualidade, que garantem o cumprimento das normas de produo orgnica no estabelecimento rural ou na indstria processadora (IBD, 2008).

    O processo de avaliao da conformidade orgnica pode ser realizado de duas formas: A primeira metodologia a certificao auditada e a segunda forma que foi introduzida recentemente, so denominadas de certificao participativa (BRANCHER, 2004). A auditada considerada mais tradicional e feita em todo mundo, utiliza uma terceira parte que d credibilidade aos produtores, comerciantes e consumidores, dando garantia de que os produtos respeitam os procedimentos orgnicos em todas as etapas de produo (BRANCHER, 2004). Os grandes produtores de leite orgnico se encaixam nesta modalidade, pois produzirem e distriburem o produto isoladamente nos grandes canais de comercializao.

    Algumas certificadoras por auditagem de terceira parte possuem credibilidade internacional, onde no se envolvem com a organizao e o assessoramento dos agricultores, como a rede de confiana faz, dedicando-se exclusivamente aos processos de certificao (BRANCHER, 2004).

    Na certificao participativa encontramos algumas caractersticas que a diferencia da certificao por auditagem. Onde a principal diferena observada a confiana, que faz parte dos princpios dos agricultores, tcnicos e consumidores, podem desenvolver as suas aes de forma responsvel e verdadeira visando aprimorar a agroecologia (ECOVIDA, 2004). A fiscalizao no fica somente restrita aos tcnicos altamente especializados, onde os agricultores juntamente com os tcnicos na rea e organizaes tambm realizam a fiscalizao, e so chamadas organismos de controle social-OCS (BRASIL, 2009).

    Na certificao participativa fundamental que os grupos e as associaes dos agricultores tenham ligaes com as organizaes dos consumidores. Aqueles grupos de produtores de leite orgnico de grandes cooperativas, mas que renem muitos pequenos produtores podem ser certificados dentro deste processo de certificao.

    Um exemplo de OCS a rede Ecovida que vem atuando no Brasil na rea de certificao participativa, possuindo 21 ncleos regionais, que abrange cerca de 170 municpios. Seu trabalho abrange 200 grupos de agricultores, 20 ONGs e 10 cooperativas de consumidores. Em toda a rea de atuao da Ecovida, so mais de 100 feiras livres ecolgicas e outras formas de comercializao (ECOVIDA, 2010).

    A certificao apresenta um alto custo para os pequenos agricultores que muitas vezes no podem pagar e com isso comercializar seus produtos como convencionais, deixando assim de vender seus produtos com um preo maior. Com isso a certificao participativa apresenta-se como uma

  • forma de certificao que no apresenta custos aos produtores fazendo com que os mesmos possam realizar a certificao dos seus produtos (SILVA, 2011).

    Por ultimo existe ainda a certificao facultativa (Brasil, 2003) que dada aqueles produtores familiares e que distribuem o seu produto por venda direta e em feiras, porm so reconhecidos pela comunidade e por consumidores. Estes no podem comercializar seus produtos em canais varejistas, sua comercializao esta restrita venda direta e em feiras, mas devendo ser cadastrados nas Superintendncias Federais de Agricultura e estarem num cadastro deste rgo com auxlio das CPOrgs. 5. Aspectos do manejo da produo orgnica de leite (Lei 10831(Brasil, 2003) - IN 64 produo animal-vegetal-(Brasil, 2009)

    Como em qualquer sistema de produo animal, na produo de leite orgnico recomenda-se que a nutrio e alimentao animal seja equilibrada e supra todas as exigncias dos animais. Os suplementos devem ser isentos de antibiticos, hormnios e vermfugos, sendo proibidos aditivos promotores de crescimento, estimulante de apetite e uria, bem como suplementos ou alimentos derivados ou obtidos de organismos geneticamente modificados ou mesmo vacinas fabricadas com a tecnologia da transgenia.

    recomendada a produo de forragem (volumosos e concentrados) por meio da formao e manejo das pastagens, capineiras, silagem e feno. Neste aspecto, importante que a maior parte da alimentao seja proveniente da prpria propriedade e que 85% e 80% da matria seca consumida por ruminantes e monogstricos, respectivamente, seja de origem orgnica.

    No manejo e adubao de pastagens, o consrcio de gramneas e leguminosas recomendado para a gesto do nitrognio no sistema, sendo exigida a diversificao de espcies vegetais. Propem-se a implantao de sistemas agroflorestais, como os silvipastoris, nos quais as rvores e arbustos fixadores de nitrognio (leguminosas) possam se associar a cultivos agrcolas e com pastagens ou serem mantidos alternadamente com pastejos e cultivos, assim como bancos de protenas ou cercas vivas. Na adubao destas reas, em funo da extenso, aconselha-se o chorume e a compostagem como alternativa, sendo permitido o uso de calcrio para a correo da acide