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14 ESTADO DE GOIÁS MINISTÉRIO PÚBLICO 81ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIA Rua 23, esquina com Avenida Fued José Sebba, Qd.06 Lt.15/25, Sala 149, Setor Jardim Goiás Edifício Sede do Ministério Público, Goiânia, Goiás – CEP 74805-100 E-mail: [email protected] Telefones: 243-8224 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DE FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA - GO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meio dos Promotores de Justiça que esta subscrevem, titular da 81a Promotoria de Justiça da Capital e coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo – CAO-MAPCU, integrantes do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente, com endereço no rodapé da inicial, onde receberá, pessoalmente, as comunicações processuais de estilo, com fulcro nos artigos 129, inciso III; 225, caput, e § 3º da Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo 127 da Constituição do Estado de Goiás, nas Leis Federais n.º 6.938/81 e 7.347/85, Lei Estadual n.º 8.544 de 17 de outubro de 1978, artigos 461, 566, II, 568, I, 576, 580 e seu parágrafo único, 583, 584, VII, 612 usque 620, 642, 643 e 645, todos do Código de Processo Civil , vem, respeitosamente; à presença de Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO DE EXECUÇÃO COM PEDIDO DE LIMINAR

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ESTADO DE GOIÁS

MINISTÉRIO PÚBLICO81ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIA

Rua 23, esquina com Avenida Fued José Sebba, Qd.06 Lt.15/25, Sala 149, Setor Jardim GoiásEdifício Sede do Ministério Público, Goiânia, Goiás – CEP 74805-100

E-mail: [email protected] Telefones: 243-8224

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DE FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA - GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meio dos Promotores de Justiça que esta subscrevem, titular da 81a Promotoria de Justiça da Capital e coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo – CAO-MAPCU, integrantes do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente, com endereço no rodapé da inicial, onde receberá, pessoalmente, as comunicações processuais de estilo, com fulcro nos artigos 129, inciso III; 225, caput, e § 3º da Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo 127 da Constituição do Estado de Goiás, nas Leis Federais n.º 6.938/81 e 7.347/85, Lei Estadual n.º 8.544 de 17 de outubro de 1978, artigos 461, 566, II, 568, I, 576, 580 e seu parágrafo único, 583, 584, VII, 612 usque 620, 642, 643 e 645, todos do Código de Processo Civil, vem, respeitosamente; à presença de Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO DE EXECUÇÃO COM PEDIDO DE LIMINAR

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em desfavor da AGÊNCIA GOIANA DE ESPORTE E LAZER – AGEL, autarquia estadual, inscrita no CNPJ sob nº 05.470.294/0001-39, situada no Estádio Serra Dourada, na av. Fued José Sebba, nº 1170, Ala Norte, 2º andar, Jardim Goiás, nesta capital, representada por seu presidente Sr. César Augusto Sebba e

GERÊNCIA EXECUTIVA DO FUNDO ESPECIAL DE REESTRUTURAÇÃO DO AUTÓDROMO INTERNACIONAL AYRTON SENNA, representada pelo Sr. Sérgio Camilo Câmara, RG nº1402900 – SSP/GO, com sede no mesmo endereço da AGEL, informado acima, pelos fatos e motivos que passa a expor:

DOS FATOS:

Aos 5 de setembro de 2005, por força de distribuição (cf. ofício 798/2005/CAOMA de 02/09/2005), da REPRESENTAÇÃO dos moradores do Alphaville Flamboyant Residencial e Residencial Portal do Sol I e II, foi instaurado o INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO RA Nº 211, GEDOC 69139/2005, cujo objeto é a investigação da poluição sonora gerada pela utilização indevida do autódromo para “shows” e eventos.

Segundo referida representação, os residenciais mencionados acima congregam mais de 3.000 famílias, que residem nos condomínios de mesmo nome, os quais situam-se nas áreas limítrofes ao “AUTÓDROMO INTERNACIONAL DE GOIÂNIA”, cujo nome oficial é Autódromo Internacional Ayrton Senna.

Informa a representação que o autódromo, de propriedade e responsabilidade da AGEL e de sua gerência executiva, está sendo utilizado para a realização de diversos mega-eventos musicais, “shows” e que por se tratar de lugar aberto, em razão da natureza dos eventos, vem impossibilitando a “condição de habitabilidade de todos os condomínios limítrofes, sem exceção, criando uma situação de verdadeiro caos para milhares de pessoas que ali residem” (fls. 06).

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Noticia a peça reclamatória, além da poluição sonora, a utilização indevida de espaço público, paga, “em benefício a empresários artísticos, em busca de lucro fácil, o que é inconcebível, em se tratando de bem público, com destinação específica” ( fls. 07).

Os representantes relatam, ainda, atos de vandalismo, barbárie, algazarra, orgias etc., tudo nas proximidades dos muros dos condomínios, além da formação de um grande depósito de lixo, ao final dos eventos. Ressaltam, por fim, a banalização da utilização do autódromo, com a proliferação de “shows” e eventos no local, quase que semanalmente, principalmente aos finais de semana, em horários destinados ao descanso, entre às 19h00min e às 06h00min.

Posteriormente, somou-se à representação dos condomínios Alphaville e Portal do Sol, I e II, conforme vê-se às fls. 124/134, reclamação dos moradores do CONJUNTO FABIANA e do PARQUE ATHENEU ( fls. 124/134).

A despeito da representação, ou melhor, das representações realizou-se, no mês de setembro de 2005, o mega-evento CARNAGOIÂNIA, cujo responsável, ciente da instauração do procedimento, entrevistou-se informalmente com o titular da 81º Promotoria de Justiça, do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente.

Na oportunidade, o responsável indagou acerca da posição do Ministério Público a respeito de eventuais medidas judiciais propostas, ocasião em que lhe foi esclarecido, também informalmente, que face à proximidade do evento quase que à época da instauração do procedimento, à necessidade de sua instrução e a fim de não gerar prejuízos econômicos aos consumidores e aos empresários, não seria ajuizada nenhuma medida visando impedir a realização do evento daquele ano, 2005, mas que a partir de sua realização, em razão da patente, incontestável, pública e notória produção de poluição sonora e da caracterização de lesão à interesse difuso ou coletivo, poderia ocorrer a “interdição” administrativa e, se necessário, judicial, do espaço para festas, “shows” e eventos, que não aqueles de natureza automobilística e esportiva, para os quais foi o autódromo concebido.

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No curso do inquérito civil foi notificado o então gerente executivo do fundo de reestruturação do autódromo, Sr. Walmir Santos Aguiar, o qual, em suas declarações formalizadas às fls. 52 do inquérito, reconheceu a procedência das reclamações e esclareceu que em razão delas foi editada a PORTARIA 214 DE 15 DE SETEMBRO DE 2005, vedando a autorização ou permissão de uso para as Praças de Esporte, Ginásios, Estádios e Autódromo Internacional de Goiânia, remunerada ou não, sob a administração da AGEL, para a realização de qualquer evento que não fosse estritamente esportivo.

O gerente executivo informou, ainda, que abriu exceção para a realização de dois eventos previamente agendados: Carnagoiânia e Moto Show, mas que em razão da procedência das reclamações, da patente poluição sonora e episódios desta natureza, a partir de então, não mais seriam sediados no autódromo, que passaria a receber tão somente eventos compatíveis com sua natureza, relacionados à automobilismo e motociclismo (fls. 52). Cópias da Portaria 214, encontram-se acostadas às fls. 55 e 57.

Diante da solução espontânea do problema, por parte da administração, que não mais permitiu a utilização do autódromo para festas e eventos, nada de relevante aconteceu na instrução do inquérito civil público até que, em janeiro de 2006, o Ministério Público recebeu expediente do INSTITUTO GOIANO DO TERCEIRO SETOR – IGTS, responsável pela promoção do “CARNAGOIÂNIA”, que o comunicava oficialmente da programação dos shows para o ano de 2006, nas datas de 25/03, 03 ou 10/06, 01/07 e 22, 23 e 24 de setembro (fls. 101).

Em razão do estranho expediente, foi expedido o ofício 118/2006/81ª Prom., de 02 de fevereiro de 2006, recebido em 09/02/06 pelo IGTS (fls. 109), que tratava da existência de inquérito civil público, tendo por objeto a ocorrência de poluição sonora em razão de eventos no autódromo, e da Portaria 214/06, proibindo a utilização do espaço para shows e eventos. Ao final, recomendava-se ao IGTS a não realização dos eventos noticiados em razão da falta de isolamento acústico e de proibição legal para episódios daquela natureza (fls. 109).

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Não foi suficiente, novo expediente do IGTS. em 8/02/2006, reiterava a intenção de realizar o evento “Nana Fest”, com apresentação da Banda Chiclete com Banana no dia 25 de março de 2006 no Autódromo Internacional de Goiânia, constante de programação oficial já informada. Solicitava, ainda, intervenção do Ministério Público no sentido de oficiar junto à SEMMA e à AGEL, acerca da liberação para realização do evento (fls. 105).

Em razão desse descalabro, a 81ª Promotoria de Justiça expediu novo ofício no qual constava nova e incisiva explanação fática e legal da questão, bem como reiterava a recomendação ao IGTS, responsável pelo “CARNAGOIÂNIA, no sentido de não realização de qualquer evento no autódromo. O ofício foi recebido pelo IGTS em 20/02/2006, conforme documento às fls. 110/114. Esclareceu-se, ainda, que ao Ministério Público não compete a liberação ou autorização de eventos, shows, festejos e muito menos intervenção junto à organismos administrativos, mas tão somente a fiscalização acerca do cumprimento da lei e a adoção de providências no sentido de adequação, impedimento de sua violação e responsabilização de infratores. Esclareceu-se novamente acerca das vedações e que nos termos do artigo 47, VII da Lei Orgânica Estadual do Ministério Público compete ao órgão a expedição de recomendações à SEMMA e à AGEL tão somente visando ao cumprimento da legislação e ao desenvolvimento regular e pertinente de seus serviços e prestações, sob as penalidades da lei (fls. 110/114).

Dessa maneira, em 13 de fevereiro de 2006 recomendou-se à SEMMA – Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a não autorização e licenciamento dos eventos anunciados no autódromo. A referida recomendação foi recebida pelo órgão ambiental em 21/02/2006.

Recomendou-se, ainda, à AGEL – Agência Goiana de Esporte e Lazer, em 13/02/2006 – recomendação recebida em 20/02/2006 - a manutenção da Portaria 214/2005 e a proibição de autorização de uso das Praças de Esporte, Ginásios, Estádios e Autódromo Internacional de Goiânia, remunerada ou não, sob a administração desta agência, para a realização de qualquer evento que não seja estritamente esportivo, haja vista o desvio de

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finalidade e a produção de ruídos em níveis superiores aos permitidos em lei, caracterizadores de poluição sonora.

Ademais, foi expedida requisição à AGEL – Agência Goiana de Esporte e Lazer e à Gerência Executiva do Fundo Especial de Reestruturação do Autódromo, informações quanto aos eventuais “shows” e eventos agendados para o ano de 2006 no “Autódromo Internacional de Goiânia” (fls. 117).

Em resposta, o ofício 129/2006-GAB., de 06 de março de 2006 da Presidência da Agência Goiana de Esporte e Lazer, devidamente instruído com o MEMO nº 001/2006-FERAIAS, subscrito pelo gerente executivo do fundo, informando que até o momento não havia sido agendado, para o ano em curso, no Autódromo Internacional Ayrton Senna, nenhum evento quer seja esportivo ou musical. Isto, frise-se, em março de 2006 conforme provam os documentos acostados às fls. 140/141.

Determinou-se, ainda, as notificações do Presidente da AGEL e da Gerência Executiva do Fundo de Reestruturação do Autódromo, a fim de comparecerem à sede da 81ª Promotoria de Justiça para prestarem declarações e serem indagados acerca da possibilidade de assinatura de termo de compromisso e ajustamento de conduta.

No dia 16 de março de 2006, no período vespertino, na sede da 81ª Promotoria de Justiça desta capital, compareceu o Sr. César Augusto Sebba e declarou que encontrava-se em pleno vigor a PORTARIA 214/2005, não sendo a intenção da administração o seu descumprimento, e com relação ao aperfeiçoamento do termo de ajustamento de conduta, seria necessário submeter referida proposta à superior esfera administrativa, sendo que dentro de 15 dias seria apresentada resposta definitiva e conclusiva ao Ministério Público a respeito (FLS. 159 – DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE DA AGÊNCIA GOIANA DE ESPORTE E LAZER).

Posteriormente, o Ministério Público recebeu o ofício 009/2006-FERAIAS, o qual contém despacho do Presidente do Conselho Consultivo do Fundo de Reestruturação do Autódromo Internacional Airton

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Senna – FERAIAS, no sentido de se dar cumprimento à PORTARIA 214/2005 (fls. 170).

Somente após estes atos, que traduziram a vontade da Presidência da Agência Goiana de Esporte e Lazer - AGEL e do Conselho Consultivo do FERAIAS , conforme despacho de seu Presidente às fls. 170, é que foi celebrado o TERMO DE COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA, objeto da presente execução, acostado às fls.182/186.

DO TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL: TERMO DE COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA

Reza o art. 5º, § 6º, da Lei 7347/85, que:

“Os órgão Públicos legitimados poderão tomar do interessado compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.”

O Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta, tendo como signatários a Agência Goiana de Esporte e Lazer – AGEL, autarquia, em cujo patrimônio se encontra o Autódromo Internacional Ayrton Senna, devidamente representada pelo seu Presidente, e o Fundo Especial de Reestruturação do Autódromo Internacional Ayrton Senna – FERAIAS, criado pela Lei n.º 15.153, de 19 de abril de 2005, por meio de seu Gerente Executivo, titular da Secretaria Executiva, conforme Decreto nº 6.217 de 05 de agosto de 2005 (anexos) - foi firmado em abril de 2006, conforme consta às fls. 182/186 do inquérito civil público, e teve como principais cláusulas e obrigações as seguintes:

Cláusula primeira: “os compromissários reconhecem a procedência do objeto constante do Procedimento administrativo e de GEDOC 69139/2005 e RA211, que tramita junto a esta Promotoria de Justiça, em razão da realização de shows e eventos musicais no Autódromo Internacional de Goiânia, que por suas próprias caracterísitcas, trata-se de local aberto, sem o devido isolamento acústico, em desacordo com a Lei Complementar

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014/92, o que vem causando transtorno à comunidade circunvizinha” (grifo nosso).

Na cláusula segunda estabeleceu-se a seguinte OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER: “OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER consubstanciada na proibição de causar poluição desta natureza, especialmente a sonora, a fim de não realizar, promover, permitir a realização ou promoção de shows e eventos com utilização de som mecânico ou ao vivo, no Autódromo Internacional de Goiânia, diretamente ou por locação, autorização ou permissão de uso, POR CARACTERIZAREM produção de ruídos acima dos índices permitidos, na legislação vigente em local aberto, desprovido de vedação acústica, visando a proteção do meio ambiente equilibrado e dos interesses coletivos e difusos do cidadão, no modo e tempo previstos nas cláusulas seguintes” (grifo nosso).

Cláusula terceira: “os compromissários assumem o compromisso e responsabilidade consistente na OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER consubstanciada no dever de não desviar a finalidade original do Autódromo Internacional de Goiânia, de sediar eventos automobilísticos e esportivos, devendo para tanto, não autorizar ou permitir realização de eventos musicais ou similares no local” (grifo nosso).

Observa-se que na cláusula segunda a poluição sonora se presume, em razão de sua redação taxativa: “por caracterizarem produção de ruídos acima dos índices permitidos na legislação vigente”, não se cuidando, na hipótese, da necessidade de se medir estes índices de ruídos, posto tratar-se de local aberto, desprovido de vedação acústica. A compromissária expressamente reconheceu esta extrapolação.

A cláusula terceira, por sua vez, contempla verdadeira vedação de se desviar a finalidade original do autódromo, que é destinado à sediar eventos automobilísticos e esportivos, sendo expressamente vedada a autorização ou permissão para eventos musicais ou similares no local.

A cláusula quarta prevê a imposição de multa moratória no valor de R$20.000,00 (vinte mil reais), por dia de evento realizado, prevendo ainda a

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imediata interdição do Autódromo Internacional de Goiânia, para fins de não realização do evento ( CLÁUSULA QUARTA DO T.C.A.C. , FLS. 184/185).

DA INADIMPLÊNCIA:

Celebrado o Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta em abril de 2006 (fls.182/186), após consulta dos signatários à administração superior, conforme se depreende do termo de declarações às fls. 159 e ofício 009/2006, às fls. 170, entendia o Ministério Público que a questão estava sepultada, pois não era vontade da administração realizar qualquer evento musical no local.

Contudo, por cautela, o Ministério Público, que já tinha informação negativa da administração do autódromo de agendamento de “shows” e eventos no local, para o ano de 2006, requisitou informações ao Instituto Goiano do Terceiro Setor – IGTS, responsável pela realização do “carnagoiânia”, informações acerca da existência de requerimentos ou solicitações de utilização, locação ou permissão de uso do Autódromo Internacional Ayrton Senna em relação ao ano de 2006 e seguintes, bem como eventuais contratos firmados com a administração do autódromo, e, em caso de inexistência de documentação nesse sentido, requereu o encaminhamento de resposta por escrito, conforme ofício requisição 407/2006/81ª Prom. de 10/05/2006, às fls. 204.

Em resposta, a 81ª Promotoria de Justiça recebeu um documento de 2004 no qual consta apenas pedido de renovação de “locação” do autódromo, pelo período de cinco anos, com o objetivo específico de se realizar o evento “carnagoiânia”, sem qualquer manifestação de deferimento ou formalização de contrato, conforme vê-se às fls. 201. Ocorrência aos 22 de maio de 2005.

Entretanto, em que pese a falta de contrato entre a AGEL e promotores de eventos; a existência da Portaria 214/2005 proibitiva de “shows” e eventos no autódromo; celebração do termo de compromisso e ajustamento de conduta que avençou referida proibição, os organizadores do evento “carnagoiânia” começaram a divulgar de maneira ampla, ostensiva, em diversos veículos de

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comunicação, rádios, jornais e outros, não só a realização do mega-evento “CARNAGOIÂNIA”, nos dias 22, 23 e 24 de setembro de 2006, no AUTÓDROMO INTERNACIONAL DE GOIÂNIA, como também iniciaram a venda de ingressos, os chamados “abadás”.

Além dessa divulgação ter sido pública e notória, principalmente pela imprensa, montou-se, ainda, “stand” de vendas de camarotes e “abadás” no “Shoping” Buena Vista, nas antigas dependências da loja “Gasômetro”, piso térreo, conforme provam as reproduções fotográficas acostadas às fls. 211/212, nas quais, inclusive, vê-se com clareza, as datas da programação: 22, 23 e 24 de setembro e o local: AUTÓDROMO DE GOIÂNIA (fls. 211/212).

Pela “internet”, através do “site” www.carnagoiania.com.br/eventos, houve divulgação de toda a programação, datas e local: AUTÓDROMO INTERNACIONAL DE GOIÂNIA, e até mesmo o preço de ingressos, os quais chegam à R$ 500,00 (QUINHENTOS REAIS) à vista, conforme vê-se às fls. 213/216.

Devidamente notificados, os representantes do Instituto Goiano do Terceirto Setor – IGTS, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, de natureza cultural e turística, conforme qualificação pelos próprios fornecida, Sr. José Pedro Celestino de Oliveira Júnior e Sr. Adacto Artur Dornas de Oliveira, formalizaram declarações perante a 81ª Promotoria de Justiça, na qual não só confirmaram a realização do evento “CARNAGOIÂNIA neste ano, no AUTÓDROMO INTERNACIONAL DE GOIÂNIA, nas datas já divulgadas, como também declararam a intenção de realizar o evento nos anos seguintes, pelo menos até 2009, com a anuência e consentimento, por óbvio, da atual administração do autódromo. (TERMO DE DECLARAÇÕES, FLS. 218/219).

Na oportunidade, os representantes do IGTS, protocolizaram requerimento contendo argumentação instrumentalizada de alterações legislativas que, segundo eles, justificariam a realização do evento, justificação esta que será objeto de análise e refutação em um tópico específico.

Instados a se manifestarem, o Presidente da AGEL e o atual Gerente Executivo do FERAIAS, César Sebba e Sérgio Camilo Câmara, declararam

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expressamente a intenção de realizar o evento “CARNAGOIÂNIA” no AUTÓDROMO , sob a argumentação de sua necessidade para arrecadação de fundos (termo de ocorrência, às fls. 220).

A extrapolação dos limites de decibéis, que indicam a violação não só do Código de Posturas, mas de toda a legislação vigente, caracterizando descumprimento da cláusula segunda do T.C.A.C., encontra-se cabalmente demonstrada no LAUDO DA SEMMA – SECRETARIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE, acostado às fls. 266/270, no qual consta não só a extrapolação dos limites de decibéis permitidos, como também dos horários para os quais havia sido expedida a autorização do evento. Vejamos:

“Constatou-se que o evento possuia autorização para o som ao vivo (trios elétricos) até 02h00min e para som mecânico dos camarotes até 04h. Ocorre que, às 22h25 min foi constado som mecânico nos camarotes, cuja intensidade alcançava 78 db e permaneceu se estendendo além das 04h.”

“Quanto aos Trios Elétricos com som ao vivo, o primeiro iniciou às 23h30min, com média de 90 db e pico de 100 db e o segundo iniciou às 02h05min com média de 90 db e pico de 96 db perdurando até aproximadamente 04h. Após este horário outro trio já se preparava para se apresentar e o som mecânico do camarote permanecia, com média de 78 db e picos de 80 db(LAUDO FLS. 267)

Comprova-se aqui a extrapolação dos limites em valores bem superiores aos permitidos no ordenamento jurídico.

DAS ESDRÚXULAS E INFUNDADAS JUSTIFICATIVAS PARA A REALIZAÇÃO DO EVENTO: ALTERAÇÕES DO

CÓDIGO DE POSTURAS:

Por ocasião de suas declarações junto à 81ª Promotoria de Justiça, os representantes do IGTS, responsáveis pelo “carnagoiânia”, juntaram documento no qual constam, dentre outras, as seguintes argumentações:

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“Entendendo que o nosso Código de Postura Municipal, necessitava urgentemente de atualizações quanto às normas que regiam a realização de eventos e a poluição do meio ambiente referentes aos mesmos, obtivemos importantes vitórias junto à Câmara Municipal de Vereadores de Goiânia, quando conseguimos a aprovação de dois Projetos de Lei (fls. 225).

Daí em diante, passam a reproduzir a vergonhosa letra legislativa, fruto do casuísmo e interesse dos empresários de eventos que atuam na capital, que segundo eles, possibilitariam a realização do evento, a despeito até mesmo da existência do termo de compromisso e ajustamento de conduta, na condição de título executivo extrajudicial.

De fato, as alterações, ou melhor as aberrações foram introduzidas na Lei Complementar n.º 014/92 – Código de Posturas de Goiânia, vejamos:

O artigo 49 da Lei Complementar 014/92 estabelece:

“Art. 49 – A intensidade do som ou ruído, medida em decibéis não pode ser superior à estabelecida nas normas técnicas da ABNT.

§ 3º - O nível máximo de som ou ruído permitido para a produção por pessoas, atividades ou por qualquer tipo de aparelho sonoro, orquestras, instrumentos, utensílios ou engenhos, máquinas compressores, geradores estacionários ou equipamentos de qualquer natureza, terá por limites os valores estabelecidos na tabela abaixo:

DIURNO NOTURNOZona de Hospitais 50 45Zona Res. Urbana 55 50Centro da Capital 65 55Área Predominantemente Industrial 70 60

Daí, em decorrência do fruto do TRABALHO DOS PROMOTORES DE EVENTOS, EM ESPECIAL DO IGTS, ENTIDADE SEM FINS LUCRATIVOS, A

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LEI COMPLEMENTAR N.º 153 DE 09 DE MAIO DE 2006, a qual acrescenta o § 7º ao artigo 49, vejamos:

“§ 7º - Os proprietários de equipamentos de som que utilizem equipamentos sonoros em eventos tradicionais tais como carnaval, festas juninas, festas de largo, eventos religiosos e similares, estão obrigados a efetivar acordo com órgão competente quanto aos níveis máximos de emissão sonora em valores diferenciados ao disposto neste artigo” (grifo nosso).

Não bastasse, ainda produziram (“obtivemos importantes vitórias junto à Câmara de Vereadores de Goiânia”) a LEI COMPLEMENTAR N.º 156, DE 13 DE JUNHO DE 2006, que altera a redação do artigo 46 e do inciso III, do § 2º do artigo 47 do malfadado Código de Posturas, acrescentando ao texto original, as exceções já introduzidas pelo § 7º, acima, vejamos:

“Art. 46 – É proibido perturbar o sossego e o bem estar público ou da vizinhança com ruídos, algazarras, barulhos ou sons de qualquer natureza, excessivos e evitáveis, produzidos por qualquer forma, exceto para festas de largo, eventos religiosos e similares, festas juninas e grantes eventos artísticos, esportivos, culturais e turísticos, de organização da iniciativa pública ou privada” (grifo nosso).

Art. 47...§ 2º ....III – É vedado a realização de som ao vivo em local totalmente aberto que

cause transtorno e perturbação, ou que não tenha vedação acústica necessária, exceto para festa de largo, eventos religiosos e similares, festas juninas e grandes eventos artísticos, esportivos, culturais e turísticos, de organização da iniciativa pública ou privada” (grifo nosso).

Concluem seu documento argumentando que, do ponto de vista legal e jurídico, ante a legislação vigente, nada há que proíba a realização do evento e que pretendem realizá-lo no Autódromo Internacional de Goiânia, nos dias 22, 23 e 24 de setembro de 2006 (fls. 227).

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DA EXIGIBILIDADE DO TÍTULO EXECUTIVO INDEPENDENTEMENTE DAS ALTERAÇÕES

LEGISLATIVAS INTRODUZIDAS:

Emérito Julgador, da simples leitura do Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta, título executivo extrajudicial, objeto da presente Ação de Execução, às fls. 183/186, depreende-se a sua independência em relação aos parâmetros do Código de Posturas, primeiro porque tem por fundamento, a proibição de realização de shows e eventos musicais no Autódromo Internacional de Goiânia em razão da poluição sonora provocada, por tratar-se de local aberto sem o devido isolamento acústico, por caracterizarem produção de ruídos acima dos índices permitidos na legislação vigente.

Não só o Código de Posturas prevê limites de produção de ruídos. O Decreto Estadual n.º 1.745, de 06 de dezembro de 1979, que regulamenta a Lei Estadual n.º 8.544, de 17 de outrubro de 1978, que dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente, assim dispõe:

“Art. 67 – Os níveis de intensidade de som ou ruído fixados por este regulamento atenderão às normas técnicas estabelecidas e serão medidas pelo Medidor de Intensidade de Som, em decibéis (DB).”

“Art. 69 – O nível máximo de som ou ruído permitido a máquinas, motores, compressores, vibradores e geradores estacionários, que não se enquadram no artigo anterior, é de 55 db (B) cinqüenta e cinco decibéis medidos na curva (B), no período diurno, das 7 às 19 horas, e 45 db (A) quarenta e cinco decibéis, medidos na curva (A), no período noturno, das 19 às 7 horas do dia seguinte, ambos à distância de 5m (cinco metros) no máximo de qualquer ponto das divisas do imóvel onde localizam ou no ponto de maior nível de intensidade de ruídos do edifício do reclamante (ambiente do reclamante).

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§ 1º - Aplicam-se os mesmos níveis previstos neste artigo aos alto falantes, rádios, orquestras, instrumentos isolados, aparelhos ou utensílios de qualquer natureza, usados para quaisquer fins em residências e estabelecimentos comerciais ou de diversões públicas.”

Não deverá prevalecer, para a hipótese, a exceção do artigo 75 do citado diploma legal, pois o “carnagoiânia”, não é festa tradicional como querem fazer crer com a sua inclusão no calendário turístico cultural, pois trata-se de festa comercial, paga, atividade empresarial da indústria do entretenimento, sem qualquer motivação cultural local, visto que não ligado às raízes de nossa cultura ou tradição, mas tão somente à exploração de um modismo denominado “axé”, ou simplesmente música baiana.

Por outro lado, a RESOLUÇÃO DO CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE N.º 001, DE 08 DE MARÇO DE 1990 (documento anexo), assim dispõe:

“I – A emissão de ruídos, em decorrência de qualquer atividade industriais, comerciais sociais ou RECREATIVAS, inclusive as de propaganda política, obedecerá, no interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução.

II – São prejudiciais à saúde e ao sossego público, para os fins do item anterior os ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.152 – Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas, visando o conforto da comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.”

A NBR 10152, por sua vez, em sua Tabela 1, estabelece que o máximo de ruído aceitável em nível ambiente são 60 decibéis (documento anexo).

Além disso, o título executivo, objeto da presente ação, é exigível, líqüido e certo, perfeitamente válido, independentemente das aberrações introduzidas no Código de Postura Municipal, em razão também de sua CLÁUSULA TERCEIRA, QUE VEDA O DESVIO DE FINALIDADE ORIGINAL DO

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AUTÓDROMO, RESERVANDO-O TÃO SOMENTE PARA EVENTOS AUTOMOBILÍSTICOS E ESPORTIVOS, vejamos:

“Os Compromissários assumem o compromisso e a responsabilidade consistente na OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER, consubstanciada no dever de NÃO DESVIAR A FINALIDADE ORIGINAL DO AUTÓDROMO INTERNACIONAL DE GOIÂNIA, de sediar eventos automobilísticos e esportivos, devendo para tanto, NÃO AUTORIZAR OU PERMITIR REALIZAÇÃO DE EVENTOS MUSICAIS OU SIMILARES NO LOCAL”(CLÁUSULA TERCEIRA DO TCAC, FLS. 184).

Ou seja, Senhor Magistrado, a vedação é taxativa.

DA INCONSTITUCIONALIDADE DAS ALTERAÇÕES DO CÓDIGO DE POSTURAS DE GOIÂNIA:

As alterações à Lei Complementar 014/92, também chamada de Código de Posturas, introduzidas pelas Leis Complementares 153 e 156, respectivamente, de 09 de maio e 13 de junho de 2006, cópias anexas, são vergonhosamente, aberrações jurídicas, feitas de encomenda para beneficiar específico grupo empresarial, ou seja, viciadas desde a sua gestação e manifestamente inconstitucionais, por ferirem diversos artigos da Carta Magna.

Primeiramente, é inconstitucional porque fruto de encomenda da indústria do entretenimento, especialmente o Instituto Goiano do Terceiro Setor – IGTS, que textualmente, em seu documento, entregue à 81ª Promotoria, fls. 223/228, credita a edição das questionadas leis à “IMPORTANTES VITÓRIAS JUNTO À CÂMARA DE VEREADORES DE GOIÂNIA”.

Ora, este casuísmo, a alteração de normas que visam à proteção da sociedade, do bem comum, em favorecimento específico à este ou aquele, fere os princípios da impessoalidade e moralidade da administração pública, insculpidos no artigo 37, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil.

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O § 7º, acrescentado ao artigo 49, da Lei 014/92:

“Os proprietários de equipamentos de som que utilizem equipamentos sonoros em eventos tradicionais tais como carnaval, festas juninas, festas de largo, eventos religiosos e similares, estão obrigados a efetivar acordo com órgão competente quanto aos níveis máximos de emissão sonora em valores diferenciados ao disposto neste artigo”, além de ferir o princípio da impessoalidade, pois remete ao Secretário do Meio Ambiente (“órgão competente”) sem qualquer critério objetivo, a liberação ou licenciamento do evento, ainda fere o princípio da isonomia, pois permite a determinados grupos, promotores de eventos, a extrapolação de limites previstos no § 3º do artigo 49, (texto normativo já transcrito anteriormente), que varia de 45 a 70 decibéis, o que não é permitido para outras atividades ou estabelecimentos. Violado novamente o já citado artigo 37, que estabelece que a administração pública reger-se-á pelos princípios da impessoalidade e moralidade, bem como, o artigo 5º, ambos da Constituição, segundo o qual: “ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”

As demais alterações, introduzidas no artigo 46, e no inciso III do § 2º, do artigo 47, ambos da Lei Complementar n.º 014/92:

“Art. 46 – É proibido perturbar o sossego e o bem estar público ou da vizinhança com ruídos, algazarras, barulhos ou sons de qualquer natureza, excessivos e evitáveis, produzidos por qualquer forma, exceto para festa de largo, eventos religiosos e similares, festas juninas e grandes eventos artísticos, esportivos, culturais e turísticos, de organização de iniciativa pública ou privada.”

Art. 47...§ 2º...III – É vedado a realização de som ao vivo em local totalmente aberto que

cause transtorno e perturbação, ou que não tenha vedação acústica necessária, exceto para festa de largo, eventos religiosos e similares, festas juninas e

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grandes eventos artísticos, esportivos, culturais e turísticos, de organização de iniciativa pública ou privada.

Ferem, igualmente, o artigo 5º da Constituição da República, que estabelece o princípio da isonomia, segundo o qual, todos são iguais perante a lei.

Ora, que igualdade é esta, que os produtores de grandes eventos, grandes festas podem produzir ruídos sem qualquer limitação, enquanto que os demais agentes, tais como donos de bares, restaurantes com som ao vivo ou mecânico, indústrias, um particular que quer comemorar seu aniversário ou de seu filho, cidadãos comuns em geral, são obrigados a respeitar os limites de decibéis estabelecidos no §3º do art. 49 do Código de Posturas.

TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI OU A LEI SÓ VALE PARA PESSOAS OU GRUPOS QUE NÃO POSSUEM O PODER DE SE ORGANIZAR E FAZER VALER SEUS INTERESSES PERANTE OS PODERES E AS INSTITUIÇÕES?

SERÁ QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO E O JUDICIÁRIO TERÃO QUE SER CONIVENTES OU FAZER VISTAS GROSSAS A ESSE TIPO DE CASUÍSMO, ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS EM FAVOR DE ESPECÍFICO INTERESSE EMPRESARIAL? SERÁ QUE CHEGAMOS OU CHEGAREMOS A ESSE NÍVEL DE DETERIORAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES?

Não bastasse, as alterações introduzidas pelas Leis Complementares 153 e 156, ainda cometem o absurdo de revogar o artigo 42, incisos I, II, III e IV do Dec.-lei nº 3.688 de 03/10/1941, a chamada LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS, pois ao permitirem a produção de ruídos fora dos limites estabelecidos no § 3º do artigo 49 e das normas técnicas da ABNT, limites estes já indicados, PERMITEM, IGUALMENTE, A PERTURBAÇÃO DO TRABALHO OU DO SOSSEGO ALHEIO, ou seja, o Município legislou em direito penal, pois compete privativamente à União legislar sobre Direito Penal, conforme art. 22, inciso I, da Constituição da República.

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Da mesma forma, tais alterações legislativas padecem de inconstitucionalidade em razão de contrariarem os artigos 1.277 e seguintes do Código Civil, que dispõem sobre os direitos da vizinhança e uso anormal da propriedade. Violou, novamente, por conseguinte, o artigo 22, inciso I, da Constituição da República que estabelece a competência privativa da União para legislar sobre direito civil.

Por último, as exceções introduzidas, em verdade estabelecem a algazarra, a balbúrdia, o direito de produzir ruídos sem qualquer limitação. Estipulam que é proibido poluir, excetuando-se as atividades que efetivamente poluem e tal situação desvirtua e invalida o próprio espírito do Código de Posturas e fere sobremaneira o artigo 225 da Constituição da República:

“Art. 225 – Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Endente-se, por poluição, conforme definição legal trazida pelo artigo 3º da Lei 6.938/81:

“ Art. 3º - Para os fins previstos nesta lei, entende-se por:

I - meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;II - degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente;III - poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas:

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c) afetem desfavoravelmente a biota;d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;IV - poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera.”

DA EXECUÇÃO ESPECÍFICA, DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA E DA NECESSIDADE DE UMA PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL EFETIVA:

A execução específica, também denominada de execução in natura, pode ser definida como a execução em que se procura, tanto quanto possível, atribuir ao titular do direito, tudo aquilo a que teria direito se, independente do processo, o seu direito fosse respeitado.

Isso se dá pelo fato de que as antigas formas de execução mostram-se insatisfatórias para a tutela dos interesses difusos e coletivos, pois é inócuo pretender proteger o meio ambiente apenas com sanções econômicas. Na verdade, a proteção do meio ambiente só se torna eficaz quando os poluidores forem obrigados a cessar imediatamente a atividade predatória e recompor o meio ambiente ou então, impedidos eficazmente de deteriorarem o equilíbrio natural.

Portanto, deve ficar claro que a multa cominada não é meio de sub-rogação da obrigação, que então persistirá independente da aplicação da pena, aliás, no próprio Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta estipulou-se a natureza apenas moratória da multa, vejamos:

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“Certificam os Compromissários possuírem pleno conhecimento de que o presente Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta tem eficácia de título executivo extrajudicial, podendo ser executado imediatamente após constatado o inadimplemento, independentemente de prévia notificação, bem como que o não cumprimento total ou parcial das obrigações estabelecidas nas cláusulas anteriores, impõe ao mesmo multa no valor de R$20.000,00 (vinte mil reais), por dia de evento realizado, a título de cláusula penal de natureza moratória,...até o adimplemento total da obrigação, nos termos do disposto no parágrafo 6º do artigo 5º, da Lei Federal n. 7347/85, implicando ainda na imediata interdição do Autódromo Internacional de Goiânia, PARA FINS DE NÃO REALIZAÇÃO DO EVENTO” (CLÁUSULA QUARTA DO TERMO DE COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA, FLS. 184/185 DO INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO).

Dessa maneira, deve ser promovida a INTERDIÇÃO do autódromo, bem como adotadas outras medidas eficazes no sentido de impedir a ocorrência da lesão ao meio ambiente, no caso, poluição sonora, conforme efetivamente restou demonstrado no laudo da SEMMA, às fls. 266/268, tais como apreensão de equipamentos sonoros, trios elétricos, caixas de reprodução acústica, enfim, toda a parafernália utilizada para a produção dos ruídos excessivos, com utilização de força policial inclusive, evitando-se a deterioração do meio ambiente, posto que depois de acontecido o evento de nada valerá a sentença de deferimento ou procedência da execução, visto que a prestação jurisdicional não seria efetiva, de nada valendo a aplicação da multa, QUE SERIA SATISFATORIAMENTE, PARA NÃO DIZER RISIVELMENTE SUPORTADA PELOS PROMOTORES DO EVENTO, QUE TERIAM O MAIOR PRAZER EM REPASSÁ-LA À EXECUTADA.

Neste sentido é o espírito da lei, vejamos o artigo 11 da Lei nº 7.347/85:

“Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for

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suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor”(grifo nosso).

No mesmo sentido são as disposições do Código de Processo Civil, vejamos:

“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação, ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento (grifo nosso).

§ 1º - A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente(grifo nosso).

§ 5º - Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial” (grifo nosso).

Outro aspecto que deve ser levado em conta é que, para a tutela jurisdicional ser efetiva, para a viabilidade da tutela específica, NECESSÁRIA SUA CONCESSÃO DE FORMA LIMINAR OU ANTECIPADA, conforme já ventilado anteriormente, pois não se pode esperar a realização de eventos, seja o “carnagoiânia” ou outro, para a efetivação da execução. Impõe-se a interdição do autódromo e a adoção de medidas outras, capazes de tornar a prestação jurisdicional eficaz, antes de sua realização.

Ocorre que, com a prévia divulgação do evento, fato público e notório, também devidamente comprovado nos autos de inquérito civil público, suas datas, preços de comercialização, confirmação de sua realização não só pelos seus promotores, como pelos representantes dos executados, caracterizou-se JUSTIFICADO RECEIO DE INEFICÁCIA DO

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PROVIMENTO SE CONCEDIDO AO FINAL, configurando o chamado periculum in mora, não sendo necessário esperarmos a realização do “CARNAGOIÃNIA” para a caracterização da inadimplência, bastando sua iminência, que se transformará em certeza se não houver a devida intervenção do Poder Judiciário.

Já a presunção do bom direito decorre normalmente do título executivo, devidamente formalizado e de toda a legislação que lhe dá suporte, conforme exaustivamente demonstrado no corpo desta inicial.

DE QUE VALERIA A PROCEDÊNCIA DA EXECUÇÃO APÓS A REALIZAÇÃO DO EVENTO, APÓS A CONSUMAÇÃO DA POLUIÇÃO SONORA, DO TRANSTORNO À COMUNIDADE CIRCUNVIZINHA? NECESSÁRIA A INTERDIÇÃO DO AUTÓDROMO PARA QUE NENHUM EVENTO OCORRA, ACOMPANHADA DE MEDIDAS OUTRAS, TAIS COMO APREENSÃO DE EQUIPAMENTOS E ATÉ MESMO USO DE FORÇA POLICIAL, DE FORMA A ALCANÇARMOS A EFETIVAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL, QUE NO CASO, DEVERÁ SER CONCEDIDA DESDE O INÍCIO.

Dispõe o artigo 273 do Código de Processo Civil:

“Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verosimilhança da alegação e:

I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; “

Lógico, se houver o evento, irreparável será o dano.

Neste sentido é o § 3º do artigo 461:

“Art. 461...§ 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e

havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz

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conceder a tutela liminarmente ou mediante justificativa prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada” (grifo nosso).

POR OUTRO LADO NÃO DEVE SER CONTEMPLADO A POSSIBILIDADE DE PREJUÍZO OU RISCO PARA OS ORGANIZADORES DE EVENTOS, POSTO QUE EXISTIA A PORTARIA PROIBITIVA, O TERMO DE COMPROMISSO E AJUSTAMENTO DE CONDUTA QUE FORA CELEBRADO EM ABRIL DE 2006, AS RECOMENDAÇÕES DE PROIBIÇÃO DE UTILIZAÇÃO DO AUTÓDROMO PARA REALIZAÇÃO DO EVENTO EXPEDIDAS E RECEBIDAS AINDA EM FEVEREIRO DE 2006, CONFORME DOCUMENTOS ACOSTADOS ÀS FLS. 109/114 DO INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO.

REFERIDO ÓBICE FOI OBJETO INCLUSIVE DE MATÉRIA JORNALÍSTICA NO JORNAL “O POPULAR”, VEICULADO EM 30 DE ABRIL DE 2006. PORTANTO, SENHOR JULGADOR, “TODOS” ERAM SABEDORES DA PROIBIÇÃO DE SE REALIZAR EVENTOS NO AUTÓDROMO, NÃO PODENDO PREVALECER QUALQUER ARGUMENTO DE PRÉ – AGENDAMENTO, MEDIDAS PROIBITIVAS DE ÚLTIMA HORA, TODAS A FIM DE CORROBORAR COM A CHAMADA INDÚSTRIA DO FATO CONSUMADO, INSTRUMENTO DE BURLA Á LEI, Á ORDEM JURÍDICA COMO UM TODO E DE AFRONTA ÁS INSTITUIÇÕES DESTE PAÍS (FLS. 271).

DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO:

A legitimação ativa do Ministério Público, in casu, fundamenta-se na defesa dos interesses difusos e coletivos relacionados ao meio ambiente, uma das macrodestinações da instituição, conforme disposição do artigo 129, inciso III da Constituição da República, recepcionando as atribuições constantes do artigo 5º da Lei Federal n. 7.347/1985, bem como o estatuído no artigo 14, § 1°, 2ª parte, da Lei Federal n. 6.938/1981.

O artigo 129, III, da Constituição Federal, diz textualmente:

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" Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:I - (...)II - (...)III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.”

Em primeiro plano, pretende-se com a medida judicial proposta, a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, cuja obrigação de defender e preservar para a presente e futuras gerações, cabe ao Poder Público e à coletividade (art.225, da CF/88) .

A lição do renomado jurista, GIANNINI, nos ensina que o meio ambiente pode ser considerado em pelo menos três aspectos:

"a) meio ambiente como modo de ser global da realidade natural baseada num dado equilíbrio dos seus elementos - equilíbrio ecológico, que se retém necessário e indispensável em relação à fruição da parte do homem, em particular à saúde e ao bem-estar físico; o ambiente enquanto ponto de referência objetivo dos interesses e do direito respeitante à repressão e prevenção de atividades humanas dirigidas a perturbar o equilíbrio ecológico, convertendo-se o dano ao ambiente em dano do próprio homem;

b) o ambiente como uma ou mais zonas circunscritas do território, consideradas pelo seu peculiar modo de ser e beleza, dignas de conservação em função do gozo estético, da sua importância para a investigação científica, ou ainda pela sua relevância histórica: isto é, o ambiente enquanto soma de bens culturais, enquanto ponto de referência objetivo dos interesses e do direito à cultura;

c) o ambiente como objeto, de um dado território, em relação aos empreendimentos industriais, agrícolas e dos serviços: isto é, o ambiente enquanto ponto de referência, objeto dos interesses e do direito urbanístico respeitantes ao território como espaço, no qual se desenvolve a existência e

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atividade do homem na sua dimensão social." Ambiente: Saggio sui diversi suoi aspetti

giuridici", "in" Ver. Trim. Dir. Pub., 1973, p.15 e segs.

Portanto, inexiste uma noção unitária de ambiente, posto que este pode ser considerado como paisagem (noção cultural), como bem sanitário, ou ainda, como ordenamento do território (noção urbanística).

Essas lesões, na sua concepção urbanística, são caracterizadas como interesses difusos, que são, pois, interesses de grupos indeterminados de pessoas, entre as quais inexiste vínculo jurídico ou fático muito preciso. Em sentido lato, os mais autênticos interesses difusos, como o meio ambiente, podem ser incluídos, na categoria do interesse público.

O que se pretende demonstrar é que qualquer lesão ao meio

ambiente deve ser tida como lesão a um interesse difuso. Aliás, a proteção ao meio ambiente enquadra-se na primeira categoria de direitos difusos de que cuida a Lei 7.347/85, art.1º, inciso I.

O Código de Defesa do Consumidor (art.81,II) define o que vem a ser interesses coletivos: "são interesses transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si, ou com a parte contrária, por uma relação jurídica base".

Do exposto conclui-se, portanto, que tais interesses são legitimamente defendidos pelo Ministério Público como parte ativa, por força do dispositivo constitucional, sendo a defesa dos interesses de tais direitos, uma de suas funções institucionais.

DOS OBJETIVOS DA PRESENTE AÇÃO:

São objetivos da presente ação, a execução específica das obrigações de não fazer por parte da AGÊNCIA GOIANA DE ESPORTE E LAZER – AGEL e FUNDO DE REESTRUTURAÇÃO DO AUTÓDROMO - FERAIAS, responsáveis pelo Autódromo Internacional Ayrton Senna, conforme discriminado nas

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cláusulas do Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta, a fim de combater a poluição, evitar danos irreparáveis ao meio ambiente e impedir o exercício, pelas executadas, de atividades em desrespeito à Constituição da República e às normas legais e regulamentares vigentes.

DO PEDIDO:

Diante do exposto, requer o Ministério Público:

1) – Seja determinada, liminarmente, a interdição do Autódromo Internacional Ayrton Senna, para fins de realização do “CARNAGOIÃNIA”, nos dias 22, 23 e 24 de setembro de 2006, ou em qualquer outra data, bem como para fins de realização de qualquer “show” ou evento com a utilização de som, mecânico ou ao vivo.

2) – Seja determinada, liminarmente, a apreensão, com uso da força policial necessária, e remoção de qualquer equipamento de reprodução ou ampliação sonora tais como trios elétricos, caixas acústicas, amplificadores, parafernálias etc. locados no autódromo ou para lá deslocados, destinados à realização ou viabilização do evento “CARNAGOIÂNIA”, ou qualquer outro evento musical, nos dias 22, 23 e 24 de setembro de 2006, bem como em outra data porventura agendada.

3) – Seja determinado, liminarmente, o desfazimento de qualquer infra-estrutura destinada à realização ou viabilização do evento “CARNAGOIÂNIA 2006”, ou outro, nos dias já noticiados ou em outros porventura agendados, tais como tendas, “camarotes”, guaritas e outras.

4) - Seja requisitada força policial necessária a fim de se conferir eficácia ao deferimento dos pedidos formulados.

5) – Sejam o réus, AGÊNCIA GOIANA DO ESPORTE E LAZER - AGEL, e FUNDO ESPECIAL DE REESTRUTURAÇÃO DO AUTÓDROMO INTERNACIONAL AYRTON SENNA – FERAIAS, citados na

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pessoa de seus respectivos representantes legais, no endereço funcional, av. Fued José Sebba n.º 1770, Estádio Serra Dourada, Ala Norte, Jardim Goiás, CEP 74.805.100, para dar cumprimento às seguintes obrigações de não fazer consistentes em:

5.1) – proibição de causar poluição sonora, a fim de não realizar, promover, permitir a realização ou promoção de “shows” e eventos com a utilização de som mecânico ou ao vivo, no Autódromo Internacional de Goiânia, diretamente ou por locação, autorização ou permissão de uso, por caracterizarem produção de ruídos acima dos índices permitidos na legislação vigente em local aberto, desprovido de vedação acústica, visando a proteção do meio ambiente equilibrado e dos interesses coletivos e difusos do cidadão;

5.2) – não desviar a finalidade original do “Autódromo Internacional de Goiânia, de sediar eventos automobilísticos e esportivos, devendo para tanto, não autorizar ou permitir realização de eventos musicais ou similares no local.

6) - Sejam deferidos os pedidos formulados, em razão da validade, liqüidez, certeza e exigibilidade do título executivo extrajudicial consubstanciado no Termo de Compromisso e Ajustamento de Conduta, independentemente das aberrações jurídicas introduzidas pelas Leis Complementares 153 e 156, respectivamente de 09 de maio e 13 de junho de 2006, em razão de todo o restante de nosso ordenamento jurídico.

7) – Sejam também deferidos os pedidos formulados em razão da inconstitucionalidade das Leis Complementares Municipais 153 e 156, de 09/05 e 13/06 de 2006, que introduziram aberrações na Lei Complementar Municipal nº 014/92, a qual deverá ser reconhecida em caráter incidental.

8) – Seja determinado ao titular da Secretaria Municipal do Meio Ambiente que se abstenha de licenciar e/ou autorizar o evento “CARNAGOIÂNIA” ou qualquer outro evento ou show musical, no Autódromo Internacional de Goiânia,

Page 29: 81ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE GOIÂNIA - mp.go.gov.br · executivo do fundo, informando que até o momento não havia sido agendado, para o ano em curso, no Autódromo Internacional

nos dias 22, 23 e 24 de setembro de 2006, ou em outra data porventura a ser agendada.

9) – Requer a juntada de cópia dos artigos 46 e seguintes da Lei Complementar Municipal n.º 014/92 – Código de Posturas do Município de Goiânia, transcritos no corpo da incial, que dispõem sobre o sossego público; de cópia das Leis Complementares Municipais 153 e 156, respectivamente de 09/05 e 13/06 de 2006, que introduziram as alterações questionadas no Código de Posturas, cópia da RESOLUÇÃO DO CONAMA 001 de 08 de março de 1990, cópia da NBR 10.152 da Associação Brasileira de Normas Técnicas, em razão da remessa da resolução da CONAMA; DECRETO N.º 1.745, de dezembro de 1979, que regulamenta a Lei Estadual n.º 8.544, de 17/10/1978 e por útlimo, Lei Estadual n.º 15.153, de 19 de abril de 2005.

10) – a procedência “in totum” dos pedidos, com o atendimento dos objetivos elencados, condenando-se, inclusive, os réus no ônus da sucumbência.

Embora trate-se de questão inestimável, pois cuida de direitos indisponíveis, fora do comércio, apenas para valores fiscais e legais dá-se a presente o valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais).

Goiânia, 28 de agosto de 2.006.

Marcelo Fernandes de Melo Ricardo Rangel de Andrade Promotor de Justiça Promotor de justiça