urgente - mp.go.gov.br · excelentÍssimo senhor doutor juiz de direito da comarca de sÃo ......
TRANSCRIPT
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA/GO
URGENTE
“... afastam-se, pois, os ineptos e os apaziguados, que costumam abarrotar
as repartições, num espetáculo degradante de protecionismo e falta de
escrúpulos de políticos que se alçam e se mantêm no poder leiloando
empregos públicos ”.1
EMENTA - ACP – CONCURSO PÚBLICO – NOMEAÇÃO DE CANDIDATOS
APROVADOS E CLASSIFICADOS QUE FORAM PRETERIDOS POR
SERVIDORES QUE ATUAM NO SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL SOB O ABRIGO
DE CONTRATOS PRECÁRIOS – MERA EXPECTATIVA DE DIREITO QUE SE
TRASMUDA EM DIREITO LÍQUIDO E CERTO – PRECEDENTES DO STF, STJ e
TJGO. FLAGRANTE VIOLAÇÃO e BURLA AO ART. 37, II, da CF/88.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por
intermédio da Promotora de Justiça oficiante nesta Comarca, que ao final subscreve, vem,
perante Vossa Excelência, no uso de suas atribuições legais e com base nos artigos 127,
129, III e 37, caput e incisos II, III e IV da Constituição Federal, artigos 117, III e 92 da
Constituição Estadual, art. 25, IV, “a” e “b” da Lei n.º 8.625/93, art. 46, VI, “b”, da Lei
Complementar n.º 25/98 e na Lei n.º 7.347/85, propor
1 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 17. ed. atualizada. In: AZEVEDO, Eurico de Andrade; ALEIXO, Délcio Balestero; BURLE FILHO, José Emmanuel (revisores). São Paulo: Malheiros, 1992.
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 1
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONDENATÓRIA, COM PEDIDO COMINATÓRIO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, MEDIANTE CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR ESPECÍFICA em face do
MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA/GO, pessoa
jurídica de Direito Público interno, com sede na Av. José Pereira do Nascimento, Nº 3.581,
Fone: 62 – 3977 – 7100, Paço Municipal, Setor Oeste, nesta cidade, representada pelo
Senhor Prefeito, Ademir Cardoso dos Santos, brasileiro, casado, podendo ser localizado
no endereço em destaque;
em virtude dos fundamentos fáticos e jurídicos doravante
expostos:
I - DA SINÓPSE FÁTICA:
Através do Edital inscrito sob o Nº 01/2007 (fls. 489/499), o
Município de São Miguel do Araguaia, ainda no ano de 2007, realizou Concurso Público
destinado a selecionar candidatos para a constituição de Reserva Técnica e para o provimento de vagas existentes no seu quadro de pessoal, em conformidade com o
artigo 37, II, da Constituição Federal, mediante a publicação do Edital n.º 01, de 16 de
maio de 2007.
O Edital n.º 01/2007 (fls. 489/499) destinou-se ao
preenchimento de vagas em diversos cargos, dentre eles o de professor, conforme quadro
sinótico descrito abaixo:
nº
Cargo Vagas *
1 Agente de Combate a Endemias 15
2 Auxiliar de Serviços de Higiene e Alimentação 60
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 2
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
3 Auxiliar de Serviços de Saúde 15
4 Biomédico 3
5 Cirurgião – Dentista – Clínico Geral 6
6 Cirurgião – Dentista – Endodontia 1
7 Cirurgião – Dentista – Odontólogo Para Pacientes Com Necessidades Especiais
1
8 Enfermeiro 10
9 Farmacêutico 2
10
Farmacêutico - Bioquímico 2
11
Fisioterapeuta 4
12
Fonoaudiólogo 2
13
Médico Cardiologista 1
14
Médico Cirurgião Geral 3
15
Médico Clínico Geral 7
16
Médico Ginecologista/Obstetra 2
17
Médico Ortopedista/Traumatologista 1
18
Médico Pediatra 1
19
Psicólogo 3
20
Técnico em Enfermagem 34
21
Técnico em Radiologia 2
22
Assistente Social 2
23
Operador de Serviços Gerais 35
24
Professor III 46
TOTAL 258* Total de vagas incluindo às destinadas aos Portadores de Necessidades Especiais.
As provas foram realizadas em 02 de dezembro de 2007,
sendo considerados aprovados e classificados os candidatos referidos às fls. 343/352, por
intermédio do edital 08/2007, de 21 de dezembro de 2007.
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 3
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
Por sua vez, em 21 de dezembro de 2007 foi homologado o
concurso, dando publicidade através do Diário Oficial do Estado nº 20.280, publicado em
02 de janeiro de 2008 (fls. 353/358).
Antes de exaurimento do prazo de validade, o concurso foi
prorrogado por mais 01 (um) ano, mediante edição do Decreto Executivo Municipal
inscrito sob o nº 412/2009 com previsão para o término de sua validade em 02/01/2011.
(fls. 648/649).
Desde a época da homologação do concurso, vários aprovados
e classificados foram nomeados, mas muitos permaneceram sem a devida nomeação,
tendo em vista que o Governo Municipal de São Miguel do Araguaia-GO, acabou
preterindo os candidatos aprovados e classificados, lançando mão dos famosos
“contratos especiais”, permitindo o ingresso de pessoal no serviço público municipal a
margem do que preleciona os arts. 37, II e V, da CF.
Noticiando e confirmando a prática de contratações irregulares,
em prejuízo dos candidatos aprovados e classificados no concurso em debate, uma
comissão representativa dos candidatos classificados e aprovados no mencionado
concurso público, formularam representação junto à Promotoria de Justiça de São Miguel
do Araguaia/GO, sendo inscrita sob o protocolo de nº 2010629 de 07/12/2010, solicitando
a adoção de providências no sentido de evitar as nefastas contratações precárias e
buscar compelir o Município de São Miguel do Araguaia-GO a se abster da prática de
efetuar contratações precárias a margem da legislação pertinente, assim como ser
compelido a nomear os candidatos aprovados e aproveitar os candidatos classificados no
mencionado concurso, fato que culminou na juntada da representação evidenciada, no
Procedimento Preparatório de Inquérito Civil Público 005/2007, em razão da sua
pertinência temática. (fls.668/721).
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 4
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
Ocorre que se apurou através do Procedimento Preparatório de
Inquérito Civil Público 005/2007 uma verdadeira burla a este concurso público, por parte
do Município, em flagrante desrespeito às leis, em especial à Constituição Federal, e aos
princípios que regem a Administração Pública.
Veja-se que tal situação foi objeto de representação formulada
por candidatos classificados no mencionado concurso público. (fls. 668/721 e termos de
declarações lançado às fls. 722/723 e 732/734)
Não se vai aqui buscar provar a veracidade dessas afirmações
feita nos mencionados Termos de Declarações, mesmo por não ser esta a finalidade da
ação, porém em todas essas afirmações feitas nas declarações, ela toca-se no cerne da
questão (contratação ilegal de servidor público em detrimento de candidato aprovado e
classificado em concurso público), e isso só é possível pelo fato de não se atender ao
preceito constitucional constante do art. 37, II, que exige a efetivação dos servidores
públicos.
Obviamente, a não realização de concurso público, ou sua
realização e não obediência estrita, como no presente caso, acabam por possibilitar as
práticas clientelistas enfatizadas nas declarações prestadas em linhas volvidas. No caso
vertente, os candidatos aprovados e classificados deveriam ter sido convocados para a
posse e devidamente efetivados ao invés de serem aviltados pelo Governo Municipal de
São Miguel do Araguaia-GO em priorizar as contatações precárias em manifesto flagrante
de burla constitucional.
Todavia, optou a Administração Pública por “contratar
servidores sob o abrigo de contratos temporários e precários”, situação esta
evidentemente ilegal. E pior, este tipo de procedimento, ilegal, possibilita que servidores
não concursados venham a ser “contratados”, como de fato ocorreu, privilegiando os
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 5
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
apadrinhados políticos que não foram aprovados e classificados no concurso público.
Em verdade, foram e são eles contratados em razão da
necessidade do Município ter profissionais em seus quadros para a execução de serviços
públicos, dentre eles, o de promoção a educação e a saúde, tão relevante para a
sociedade, serviço estes essenciais, de forma que a necessidade em mantê-las revela-se
de forma contínua e não eventual e/ou casual, em homenagem ao Princípio da
Continuidade do Serviço Público.
Agindo assim, usa a Administração Pública de uma prática
comum no Brasil e contumaz neste município, que prestigia o clientelismo, em razão de
interesses políticos-pessoais, em detrimento das normas e da Constituição Federal.
Ao invés de dar posse aos aprovados e classificados,
investindo-os nos cargos, parte-se para a “contratação precária”. Isso dá uma conotação
de “favor” ao ato do Administrador Público, e torna o “contratado/beneficiado” vulnerável
quanto ao seu “emprego”, e até mesmo sua “subsistência”.
Abre-se assim espaço para manipulações, pressões, bem
como para a famigerada troca de favores, consubstanciada na manutenção do emprego
em troca do voto. Isso decorre do fato de se “dar um emprego” a quem dele precisa, o
que é muito bem usado pelos políticos brasileiros, e, como, não podia ser diferente,
tornou-se prática reiterada, corriqueira e festejada neste município.
Observa-se, que as declarações mencionada em linhas
volvidas, confirma tudo o que foi consignado até agora quanto ao uso político das vagas
no Serviço Público Municipal, o que garante a continuidade da “malfadada prática” no
decorrer do tempo, inclusive em Gestões anteriores. Logo, dúvida não resta de que a
“contratação temporária” é uma opção política, e clientelista, e manifestamente
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 6
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
antijurídica.
Por sua vez, o concurso público tem por um dos fundamentos
exatamente o oposto, no caso, acabar com esta idéia de “favor”, já que o aprovado
investiu-se em cargo público através da sua meritocracia e do seu próprio esforço, pois se
preparou para obter a aprovação.
Por outro lado, a condição de efetivo lhe confere estabilidade
no cargo público, o que tem dois grandes aspectos: primeiro, o fato de ter estabilidade no
cargo, rompendo-se a dependência em relação ao Administrador quanto a permanência
no cargo, e com sua consequência, a garantia conferida ao servidor de não submeter aos
humores do gestor público, já que possui garantias asseguradas pelo ordenamento
jurídico.
Em razão das observações feitas, a investidura no cargo
público enfraquece as práticas clientelistas e, usando o jargão popular, o famoso “toma
lá, dá cá”, o que não agrada aquele Administrador oportunista e não comprometido com
os reais valores da sociedade.
Claro também que os concursados são pessoas que estão
devidamente preparada para o exercício de cargo público, uma vez que tiveram seus
conhecimento testados. Nesse aspecto, impõe observar, que a título de ilustração, é
preciso pontuar, que dentre as vagas oferecidas no mencionado concurso público,
encontra-se uma das mais nobres e importantes, a de professor, demonstrando que a
investidura no cargo de professor por intermédio de concurso público representa
qualidade de ensino e qualificação dos alunos, além de prestigiar e valorizar a carreira do
magistério público.
A ilegal prática de “contratação precária e temporária” traz para
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 7
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
o corpo docente do município pessoas cuja qualificação é no mínimo questionável, ante a
ausência de parâmetro quanto ao preparo destes profissionais.
Diante das informações prestadas foram requisitadas ao
Município São Miguel do Araguaia-GO a informação sobre a existência de servidores
contratados sem concurso público, sendo facilmente percebido que existem vários
servidores exercendo cargos públicos nesta municipalidade ao arrepio da lei, conforme
denota-se da documentação remetidas pela Srª Secretária Municipal de Governo e
Administração, a Srª. Enaity Alencar Parreira Veloso, inclusa no Procedimento Ministerial
anexo. (fls.82/328).
Na mesma linha, mediante requisição formulada pelo Ministério
Público a Secretária Municipal de Educação buscando levantar informações sobre o
quantitativo de contratações precárias, apontou que somente em relação ao cargo de higiene e alimentação existem 22 pessoas sob abrigo de contratações precárias no
exercício deste cargo em detrimento dos aprovados e classificados. (fls. 769/773) e de
igual maneira, no tocante ao cargo de Professor, foram informados que existem 20 pessoas que foram contratadas para ocuparem cargos de professores junto à Rede Municipal de Ensino. (fls.776/783) e duas pessoas que foram precariamente
contratadas para ocuparem os cargos de enfermeira, sendo que uma delas (Bibiana Cristina Silva de Oliveira) foi classificada no concurso em destaque e até o presente
momento não foi convocada, porém encontra-se sob abrigo de contrato precário. (fls.
126/128 e 150/152).
A despeito disso, convém registrar que a representação
formulada por uma comissão de candidatos ao mencionado Concurso Público, inscrita
sob o protocolo de nº 2010629 de 07/12/2010, trouxe a tona a informação de que
somente na Secretária de Educação existem 20 servidores exercendo ilegalmente o cargo de professor, sendo que alguns deles encontram-se no exercício ilegal do Magistério Público a mais de 03 (três) anos. (fls. 668/675), acrescendo-se a isso, o
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 8
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
quantitativo de 57 pessoas que ocupam ilegalmente o cargo de operador de serviços gerais travestido de agente de serviços. (fls. 743/768).
Assim, restou comprovado que existem vagas a serem
preenchidas e que existe também orçamento para o pagamento dos nomeados, situação
que leva ao reconhecimento do direito subjetivo dos aprovados e classificados à
nomeação para os respectivos cargos ofertados no Concurso Público 01/2007.
O prazo de validade do concurso estava na iminência de
expirar-se, (até o presente momento não houve nenhuma informação oficial que tenha
sido prorrogado), e diante do direito subjetivo dos aprovados e classificados no concurso
público e do perigo de demora em esperar a boa vontade do Município de São Miguel do
Araguaia/GO a nomear os candidatos aprovados e aproveitar os classificados, a única
solução para dirimir este conflito de interesse é a via judicial, realizando um juízo sobre o
direito subjetivo dos concursados à nomeação.
II - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A proteção do patrimônio público e social enquadra-se entre as
funções institucionais do MINISTÉRIO PÚBLICO, emanada da própria Constituição
Federal, que conferiu ao Parquet a defesa de vários interesses e direitos que afetam a
sociedade de forma relevante.
A legitimidade do MINISTÉRIO PÚBLICO para promover a
defesa do patrimônio público e social encontra-se estampada nos artigos 127 e 129, III,
da Constituição Federal, art. 117, III, da Constituição do Estado de Goiás, art. 1º, IV, e 5º
da Lei n.º 7.347/85 e art. 25, IV, “a” e “b”, da Lei n.º 8.625/93.
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 9
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
Sem delongar no trato de ponto pacífico, vale trazer aos autos
dois precedentes do Egrégio SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA que não deixam
margem para dúvidas quanto à legitimidade do Ministério Público no presente caso:
“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO.
LEGITIMIDADE. INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS. CONCURSO PÚBLICO. 1. A
legitimação do Ministério Público para propositura da ação civil pública está
na dependência de que haja interesses transindividuais a serem defendidos,
sejam eles coletivos, difusos ou, ainda, os tidos por direitos ou interesses
individuais homogêneos tratados coletivamente. 2. Em se tratando de
concurso público cuja realização, em tese, fugiu aos princípios da legalidade,
impessoalidade (acessibilidade) e moralidade, ocorre o interesse do Ministério
Público na propositura de ação civil pública tendente a decretar a nulidade do
certame. 3. Propugnando-se, na ação civil pública, a anulação de concurso
público ante a inobservância de princípios atinentes à administração pública,
o interesse em tutela é metaindividual difuso. Em sentido inverso, houvesse a
intenção de assegurar eventuais direitos dos candidatos inscritos no certame,
presente estariam interesses individuais homogêneos. 4. Recurso especial
conhecido e provido.” (STJ, 2ª Turma, REsp 191.751/MG, rel. Min. JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, v. u., DJ 06.06.2005 p. 240).
“Ação civil pública. Concurso para professor universitário. Legitimidade do
Ministério Público. 1. O Ministério Público é parte legítima para ajuizar ação
civil pública em defesa dos princípios que devem reger o acesso aos cargos
públicos por meio de concurso, configurado o interesse social relevante. 2.
Embargos de divergência conhecidos e providos.” (STJ, Corte Especial,
EREsp 547.704/RN, rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, v. u., DJ
17.04.2006 p. 160).
A fim de revelar que a própria Corte Superior comunga de tal
entendimento, convém cotejar trecho da notícia lançada no azado site do STJ
(www.stj.jus.br), na data de 04 de janeiro de 2011, sob o título “MP PODE AJUIZAR AÇÃO CIVIL
PÚBLICA EM MATÉRIA PREVIDENCIÁRIA ”:
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a
legitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública em matéria
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 10
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
previdenciária. O entendimento, baseado em voto da ministra Laurita Vaz, se
alinha à posição que vem sendo adotada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
no sentido de valorizar a presença do relevante interesse social envolvido no
assunto, que diz respeito, em grande parte, a pessoas desvalidas social e
economicamente.
Em seu voto, a ministra Laurita ressaltou que a jurisprudência recente do STJ
tem sido pela tese desfavorável à legitimidade do MP. Entretanto, a ministra
resgatou vasta doutrina e jurisprudência recente do STF que autorizam o
órgão a ajuizar ação civil pública para tutela de direitos individuais
homogêneos sem relação de consumo.
No STJ, o recurso é do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF4) considerou legítima a atuação do
Ministério Público Federal em demanda que diz respeito à revisão de
benefícios previdenciários. A autarquia recorreu, mas não teve êxito.
A ministra Laurita explicou que os interesses individuais homogêneos
classificam-se em subespécies dos interesses coletivos, e que o MP tem
legitimidade para propositura de ação na defesa de interesses individuais
homogêneos, sociais e coletivos. “A ação civil pública presta-se à tutela não
apenas de direitos individuais homogêneos concernentes às relações
consumeristas, podendo o seu objeto abranger quaisquer outras espécies de
interesses transindividuais”, afirmou.
Sendo assim, o STF já admitiu a atuação do MP para ajuizar ação para discutir
não só a revisão de benefício previdenciário (RE 549.419 e RE 607.200), como
a equiparação de menores sob guarda judicial a filhos de segurados, para fins
previdenciários (RE 491.762) e o critério de concessão do benefício
assistencial a portadores de deficiência e idosos (RE 444.357). No mesmo
sentido é a posição do STF quanto à proteção de direitos sociais, como a
moradia e a educação.
Considerando que a Constituição Federal, tal como fez à moradia e educação,
elevou a previdência social à categoria de garantia fundamental do homem,
inserindo-a no rol dos direitos sociais, para a ministra do STJ é indiscutível a
presença do relevante interesse social no âmbito do direito previdenciário, o
que viabiliza a atuação do MP na demanda.
“O reconhecimento da legitimidade (...) mostra-se patente tanto em face do
inquestionável interesse social envolvido no assunto, como, também, em
razão da inegável economia processual, evitando-se a proliferação de
demandas individuais idênticas com resultados divergentes, com o
consequente acúmulo de feitos nas instâncias do Judiciário, o que,
certamente, não contribui para uma prestação jurisdicional eficiente, célere e
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 11
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
uniforme”, disse. Coordenadoria de Editoria e Imprensa do STJ.
III – DO DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO DOS APROVADOS E CLASSIFICADOS.
Antes de adentrar no mérito, sobre o direito subjetivo à
nomeação dos aprovados e classificados, convém registrar, que conforme o disposto no
edital nº 01, de 16 de maio de 2007, o Concurso Público regulamentado por este edital,
destina-se a selecionar candidatos para a constituição de Reserva Técnica e para o Provimento de vagas existentes no Quadro de Pessoal da Prefeitura de São Miguel do
Araguaia-GO.
Desta forma, é perfeitamente possível o aproveitamento dos candidatos classificados, pois o item 20 do mencionado edital, cujo título ficou assim: Das Disposições Finais, em seu sub item 20.6, preleciona que o candidato classificado permanecerá na Reserva Técnica do Concurso, podendo ser convocado durante o período de validade do mesmo, de acordo com a necessidade e o interesse do Município de São Miguel do Araguaia-GO.
Assim, mesmo que não houvesse tal previsão expressa, não
haveria nenhum óbice legal ao aproveitamento dos classificados, que o diga, com
expressa previsão e mediante necessidade do serviço público, pois ao contratar servidor
mediante contrato precário em detrimento dos candidatos aprovados e classificados, ficou
patente a necessidade do serviço público e a disponibilidade financeira para o custeio da
remuneração dos servidores.
Noutro vértice, necessário pontuar, que na atual conjuntura
doutrinária e jurisprudencial já não encontra mais respaldo a tese comumente defendida
pelos gestores públicos, que os candidatos aprovados fora do número de vagas
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 12
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
estabelecidas no Edital, não podem ser nomeados, ao falso argumento de que esses
candidatos não possuem direito líquido e certo à nomeação, devendo esta estar adstrita
ao mero juízo de conveniência e oportunidade do Gestor Público responsável pela
realização do Concurso Público. Essa tese, encontra-se rechaçada pela moderna
construção jurisprudencial dos Tribunais Superiores.
Ainda que a nomeação dos candidatos aprovados fora do
número de vagas deva ocorrer nas hipóteses em que as nomeações não foram
integralmente preenchidas pelos candidatos aprovados e classificados, oportuno registrar
que, in casu, o direito desses candidatos em serem nomeados encontra-se amparado
pela construção jurisprudencial e doutrinária hodierna, conforme se demonstrará.
Nesse ponto, merece esclarecimento que o Município de São
Miguel do Araguaia-GO deveria convocar e nomear os candidatos aprovados e
classificados no aludido concurso, ao invés de lançar mão dos famosos contratos
precários.
Ressalta-se que a situação do Município de São Miguel do
Araguaia é grave, porquanto não bastasse o número excessivo de comissionados, ainda
não convoca os candidatos do concurso realizado no ano de 2007.
A desídia do Governo Municipal de São Miguel do Araguaia-GO
está fartamente demonstrada no Procedimento Administrativo incluso.
Impende ressaltar que apurou-se no Procedimento
Administrativo anexo, que inúmeras funções desempenhadas por servidores
comissionados são típicas dos cargos efetivos objeto do concurso público o que, por si só,
constitui fraude a obrigatoriedade constitucional do concurso público.
Assim, diante da contratação ilegal de servidores
comissionados por esta municipalidade, não há dúvidas da necessidade de ocupação
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 13
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
dos cargos públicos, bem mesmo de que o Município de São Miguel do Araguaia-GO
possui disponibilidade financeira para tanto. Destarte, não subsiste razão plausível para
que o município réu se negue a nomear os candidatos aprovados e classificados no
concurso público.
In casu, o direito subjetivo à nomeação dos candidatos
aprovados e classificados no concurso público se dá sob dois enfoques: primeiro pela
vinculação que se submete a Administração Pública em preencher os cargos
disponibilizados no concurso público e, segundo, pela obrigatoriedade de se nomear
candidatos aprovados e classificados em concurso público em face da existência de
contratos a título precário firmados pela Administração Pública fora das hipóteses
autorizadas por lei.
No primeiro caso, o Superior Tribunal de Justiça por
reiteradas ocasiões manifestou-se da seguinte forma:
RECURSO ORDINÁRIO – MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO.
CITAÇÃO DOS DEMAIS CANDIDATOS. DESNECESSIDADE – OMISSÃO
QUANTO À NOMEAÇÃO DE SERVIDOR CLASSIFICADO. CANDIDATOS
REMANESCENTES APROVADOS. CARGOS VAGOS. NOMEAÇÃO. ATO
VINCULADO. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. A
Administração Pública só pode ser exercida em conformidade com a lei. A
atividade administrativa consiste na expedição de atos infralegais e, portanto,
complementares à lei. 2 . O candidato em concurso público têm assegurado o
direito à nomeação, se aprovado dentro do limite de vagas previsto no edital,
em face do disposto em lei estadual. O provimento no cargo, na hipótese dos
autos, não consiste em mera expectativa de direito, mas em ato vinculado à
clara e expressa determinação legal. 3. Na espécie, o direito atribuído aos
candidatos classificados dentro do número de vagas há de ser deferido aos
demais aprovados, diante da impossibilidade de serem providas as vagas com
os candidatos classificados, desde que respeitada a ordem de classificação. 4.
A Administração não pode deixar de prover as vagas, nomeando os
candidatos remanescentes, depois da prática de atos inequívoco, a
necessidade de preenchimento de vagas. Recurso provido.” (STJ, 6ª Turma, Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 14
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
RMS 21.308/MG, rel. Ministro Paulo Medina, julgado em 05.09.2006, DJ
02.10.2006, p. 314). (Destacou-se).
No voto condutor do Acórdão acima transcrito, o Relator
Ministro Paulo Medina prestou as seguintes considerações pertinentes a hipótese ora
tratada, verbis:“Conforme consta no relatório, logo após a data da homologação do
concurso, a Administração nomeou seis candidatos. Cinco deles na listagem
geral e um portador de deficiência. Desses, apenas uma encontra-se
empossada no cargo. Assim, é forçoso reconhecer que há vagas não providas
que deverão ser preenchidas pelos candidatos remanescentes.”
E continuou:“ Entendo que há similitude entre as situações postas à apreciação do
Judiciário, pois, na espécie dos autos, embora não tenha surgido novas vagas,
dos candidatos aprovados dentro do limite das vagas, somente um permanece
efetivamente no cargo. A Administração, além disso, demonstrou a
necessidade de provimento dos cargos, ao empossar, ou tentar empossar, os
seis candidatos aprovados nos limites das vagas. Tais fatos têm o condão de
transmudar a mera expectativa de direito em direito subjetivo.”
No mesmo sentido, a melhor Doutrina por Celso Antônio Bandeira de Mello2, ao tratar em sua obra acerca da nomeação candidatos aprovados
em concurso público, ensina que:
“Como consequência dessa prioridade, a Administração só com eles poderá
preencher as vagas existentes dentro do seu período de validade, quer já
existissem quando da abertura do certame, quer ocorridas depois. É certo,
outrossim, que não poderá deixá-lo escoar simplesmente como meio de evadir
ao comando de tal regra, nomeando em seguida os aprovados em concurso
público sucessivo, que isso seria um desvio de poder. Com efeito, se fosse
possível agir desse modo, a garantia do inciso IV do art. 37 da CR/88 não
valeria nada, sendo o mesmo uma letra morta”. (Sem ênfases no original)
Conclui-se, portanto, que exteriorizada a vontade de contratar
2Curso de Direito Administrativo, Malheiros, 15ª ed. p. 259 Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 15
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
da Administração Pública, o número de vagas por ela ofertados deverá ser preenchido em
razão de sua vinculação ao motivo que justificou a realização do concurso público.
Aplicável ao caso, portanto, a Teoria dos Motivos Determinantes que na doutrina de José dos Santos Carvalho Filho3 pode ser
compreendida da seguinte forma:
“Desenvolvida no direito francês, a teoria dos motivos determinantes baseia-
se no princípio de que o motivo do ato administrativo deve sempre guardar
compatibilidade com a situação de fato que gerou a manifestação da vontade.
E não se afigura estranho que se chegue a essa conclusão: se o motivo se
conceitua como a própria situação de fato que impele a vontade do
administrador, a inexistência dessa situação provoca a invalidação do ato.
Acertada, pois, a lição segundo a qual 'tais motivos é que determinam e
justificam a realização do ato e, por isso mesmo, deve haver perfeita
correspondência entre eles e a realidade.” (Grifo conforme texto original).
Quanto ao segundo enfoque - omissão na nomeação de
candidatos aprovados em concurso público em benefício de contratações precárias –
Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves4, na consagrada obra Improbidade
Administrativa, prestam as seguintes considerações:
“Considerando que a discricionariedade reside na liberdade de aferir a real
necessidade da nomeação para a satisfação do interesse público, não
guardando similitude com o arbítrio que há muito corrói a administração
pátria, afigura-se evidente que é defeso ao administrador contratar agentes
outros, concursados ou não, com vínculo temporário ou permanente, para
desempenhar a atividade que deveria ser executada pelos aprovados no
concurso e que ainda não foram nomeados. Neste caso, a contratação de
agentes que não participaram do certame, durante o lapso de validade deste,
torna evidentes, a um só tempo, a necessidade de que novos servidores sejam
contratados e o arbítrio do administrador ao não nomear aqueles que haviam
sido aprovados. Verificada esta situação, a expectativa dos aprovados se
transmuda em direito líquido e certo, o que, além de tornar cogente a sua
3Manual de Direito Administrativo. Aut e Op Cit.. Editora Lumen Juris, 17ª Ed. 2007. p. 107/1084 Improbidade Administrativa. 3ª Ed. Lumen Juris. Rio de Janeiro 2006. p. 369/370 Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 16
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
nomeação, legitima o Ministério Público a pleitear tal providência em
juízo, já que afastada a discricionariedade inerente a atos dessa natureza.”
E continuam:
“Os cargos em comissão são criados por lei e destinam-se apenas às
atribuições de direção, chefia e assessoramento. Devem ser criados em
número compatível com a necessidade do serviço e a disponibilidade
orçamentária do ente responsável pelo pagamento de sua remuneração, sendo
vedado exercer atividades outras que não as referidas na Constituição.
Havendo nítido desequilíbrio entre o número de cargos em comissão e as
atividades a serem desempenhadas, ou mesmo a superioridade em relação
aos cargos de provimento efetivo, ter-se-á a inconstitucionalidade da norma
que os instituiu, restando violados os princípios da proporcionalidade e da
moralidade”. (Destacou-se).
No mesmo sentido, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, no Mandado de Segurança nº 16662-6/101, sob a relatoria do Desembargador
Rogério Arédio Ferreira, proferiu o Acórdão, cuja ementa segue abaixo transcrita:
“MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CONVOCAÇÃO.
RESERVA TÉCNICA. CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES A TÍTULO PRECÁRIO. 1
– A jurisprudência é pacífica no sentido de que a aprovação em concurso
público gera mera expectativa de direito a nomeação, competindo a
administração, na seara de seu poder discricionário, nomear os candidatos
aprovados de acordo com a sua conveniência e oportunidade. 2 – A mera
expectativa se transforma em direito subjetivo, com a imposição a
administração de nomear os aprovados dentro do prazo de validade do
concurso, caso tenha havido preterição na ordem classificatória ou
contratação a título precário para preenchimento de vagas existentes, em
detrimento da nomeação dos candidatos aprovados em concurso público
válido. Segurança concedida”. (TJGO – 3ª Câmara Cível. DJ 224 de 26/11/2008.
Rel. Des. Rogério Arédio. Processo 200801343458). (Destacou-se).
Destarte, não há dúvidas de que quando candidatos aprovados Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 17
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
e classificados em concurso público forem preteridos com a contratação de servidores
comissionados para desempenharem as funções que lhes são típicas, a
discricionariedade do ato administrativo “transmuda-se” para ato vinculado, e a
expectativa de direito à nomeação em direito subjetivo.
Ademais, a contratação precária de servidores pelo Município
Réu constitui fraude ao concurso público, passível de penalização dos agentes públicos
às sanções enumeradas no art. 12 da Lei 8.429/92.
O Superior Tribunal de Justiça, em decisão recente, assim
decidiu:ADMINISTRATIVO - RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA -
CONCURSO PÚBLICO - NECESSIDADE DO PREENCHIMENTO DE VAGAS,
AINDA QUE EXCEDENTES ÀS PREVISTAS NO EDITAL, CARACTERIZADA POR
ATO INEQUÍVOCO DA ADMINISTRAÇÃO - DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO
- PRECEDENTES.
1. A aprovação do candidato, ainda que fora do número de vagas
disponíveis no edital do concurso, lhe confere direito subjetivo à nomeação
para o respectivo cargo, se a Administração Pública manifesta, por ato
inequívoco, a necessidade do preenchimento de novas vagas.
2. A desistência dos candidatos convocados, ou mesmo a sua
desclassificação em razão do não preenchimento de determinados requisitos,
gera para os seguintes na ordem de classificação direito subjetivo à
nomeação, observada a quantidade das novas vagas disponibilizadas.
3. Hipótese em que o Governador do Distrito Federal, mediante decreto,
convocou os candidatos do cadastro de reserva para o preenchimento de 37
novas vagas do cargo de Analista de Administração Pública – Arquivista,
gerando para os candidatos subsequentes direito subjetivo à nomeação para
as vagas não ocupadas por motivo de desistência.
4. Recurso ordinário em mandado de segurança provido. (STJ – 2ª Turma,
RMS 32105/DF. Rel. Ministra Eliana Calmon. Dje 30/08/2010). (Destacou-se)
Logo, o direito subjetivo à nomeação dos candidatos aprovados
e classificados no Concurso Público 01/2007 realizado pelo Município de São Miguel do
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 18
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
Araguaia/GO é público e notório, tendo em vista a existência de cargos vagos para os
quais foram nomeados e contratados a título precário, como exaustivamente demonstrado
na presente ação e fartamente comprovado através das provas robustas produzidas no
Procedimento Ministerial incluso.
Noutro vértice, o ato unilateral do Poder Público em realizar
contratações precárias representa não só a existência de recursos financeiros para
efetivamente realizar contratações, bem como a necessidade de preenchimento dos
referidos cargos.
Durante as investigações em sede de Procedimento Preliminar
nesta Promotoria de Justiça, foram requisitados informações sobre a existência de
contratos temporários e precários realizados pelo Município, sendo comprovado que
várias pessoas foram contratadas a título precário para o exercício dos cargos oferecidos
no Concurso Público 001/2007, com especial ênfase para os cargos de professor, Auxiliar
de higiene e alimentação e Operador de Serviços Gerais, fato que comprova a inércia do
Poder Público em nomear os aprovados na área.
Os contratados temporariamente pelo Município encontram-se
desempenhando as mesmas funções que os aprovados e classificados no mencionado
concurso, e mesmo assim, o Município prefere manter os referidos contratos a nomear os
aprovados no certame, razão pela qual surge não mera expectativa, mas sim o direito
subjetivo à nomeação dos aprovados e classificados para os referidos cargos.
Nessa linha de intelecção, convém registrar, que recentemente
o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, acatou pedido formulado pelo
Ministério Público do Estado de Goiás em sede de apelação Cível, e garantiu à nomeação e posse de candidatos classificados em cadastro de reserva técnica nos
cargos de gestor de tecnologia de informática e de analista de tecnologia de informática
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 19
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
do quadro geral do Governo do Estado de Goiás, tendo em vista que a Administração realizou contratação precária de servidores em detrimento dos candidatos aprovados e classificados no concurso. Segue ementa do julgado:
APELACAO CIVEL. ACAO CIVIL PUBLICA. CONCURSO PUBLICO. AUSENCIA
DE INTERESSE DE AGIR SUPERVENIENTE. EXPIRACAO DO PRAZO DE
VALIDADE DO CERTAME. NAO CONFIGURACAO. CANDIDATOS
CLASSIFICADOS NA RESERVA TECNICA. MERA EXPECTATIVA DE DIREITO A
NOMEACAO. CONTRATACAO PRECARIA DE SERVIDORES EM DETRIMENTO
DOS CANDIDATOS APROVADOS NO CONCURSO. ILEGALIDADE. DIREITO
SUBJETIVO A NOMEACAO E POSSE NO CONCURSO. I - O ESCOAR DO
PRAZO DE VALIDADE DO CONCURSO NAO TEM, POR SI SO, IMPLICACAO
COM QUALQUER PRESSUPOSTO PROCESSUAL, NEM ESGOTA O INTERESSE
DO AUTOR, QUANDO O OBJETIVO DO PLEITO PORTICO CINGE-SE AOS
AUTOS RELACIONADOS A NOMEACAO DE SERVIDORES SUPOSTAMENTE
PRETERIDOS. DE MAIS A MAIS, TEM-SE QUE, SE A ACAO FOI AJUIZADA
DENTRO DO PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME (10/02/08), A DEMORA DE
SEU JULGAMENTO INSITO A FORMALIDADE DO PROCEDIMENTO JUDICIAL,
NAO PODE ENSEJAR A EXTINCAO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO
MERITO. II - COMO REGRA, INSTITUI-SE A SISTEMATICA DE QUE A
APROVACAO EM CONCURSO PUBLICO FORA DO NUMERO DE VAGAS
ORIGINARIAMENTE PREVISTAS, INTEGRANDO OS CLASSIFICADOS O
CHAMADO CADASTRO DE RESERVA TECNICA, TAMBEM GERA MERA
EXPECTATIVA DE DIREITO A NOMEACAO, COMPETINDO A ADMINISTRACAO
PUBLICA DECIDIR ACERCA DA OPORTUNIDADE E CONVENIENCIA EM
PROVER OS CARGOS QUE PORVENTURA FIQUEM DISPONIVEIS DURANTE O
PRAZ O DE VALIDADE DO CERTAME. III - CONTUDO, ESSA EXPECTATIVA SE
CONVOLA EM DIREITO SUBJETIVO, IMPONDO-SE A ADMINISTRACAO O
DEVER DE NOMEAR, CASO TENHA HAVIDO PRETERICAO NA ORDEM
CLASSIFICATORIA OU CONTRATACAO A TITULO PRECÁRIO, DE
SERVIDORES, PARA O PREENCHIMENTO DE VAGAS EXISTENTES, EM
DETRIMENTO DA NOMEACAO DE CANDIDATOS APROVADOS NA RESERVA
TECNICA EM CERTAME AINDA VALIDO. NESTES CASOS, A NOMEACAO E A
POSSE, QUE SERIAM, A PRINCIPIO DISCRICIONARIAS, TORNAM-SE
VERDADEIROS ATOS VINCULADOS, GERANDO EM CONTRAPARTIDA,
DIREITO SUBJETIVO PARA O CANDIDATO APROVADO DENTRO DE TAL
PREVISAO. IV - RESTADO COMPROVADO NOS AUTOS, QUE EXISTEM
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 20
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
CANDIDATOS APROVADOS PARA OS CARGOS DE GESTOR DE TECNOLOGIA
DE INFORMATICA E DE ANALISTA DE TECNOLOGIA DE INFORMATICAO, E,
ESTANDO INCONTROVERSO QUE HOUVE A CONTRATACAO, EM CARATER
PRECARIO, DE PROFISSIONAIS PARA SUPRIR A CARENCIA DE PESSOAL NA
AREA DE INFORMATICA, HAJA VISTA A EXISTENCIA DE CARGOS VAGOS, NO
PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME, NESCE, ASSIM, O DIREITO LIQUIDO E
CERTO DE EXIGIR DA AUTORIDADE COMPETENTE PELA REALIZAÇÃO DO
CERTAME, A NOMEACAO, POIS DEMONSTRADA, INEQUIVOCAMENTE, A
NECESSIDADE DE SERVIDORES PARA INTEGRAR O QUADRO DE PESSOAL
DA ADMINISTRACAO. V - CONSTATADA A ILEGALIDADE DA CONDUTA DA
ADMINISTRACAO, REVELA-SE INQUESTIONAVEL O DIREITO SUBJETIVO,
DOS CLASSIFICADOS NO CADASTRO DE RESERVA TECNICA, A NOMEACAO
E POSSE NOS CARGOS DE GESTOR DE TECNOLOGIA DE INFORMATICA E DE
ANALISTA DE TECNOLOGIA DE INFORMATICA, DESDE QUE SEJA
OBSERVADA A ORDEM DE CLASSIFICACAO. APELACAO CONHECIDA E
PROVIDA. (1ª Câmara Cível – DJ 368 de 03/07/2009 – Acórdão: 09/06/2009 –
Relator: Des. Luiz Eduardo de Sousa – Recurso: 133338-6/188 – apelação cível-
processo nº 200804175408)
Infelizmente, as contratações precárias que vem ocorrendo no
Município possuem natureza essencialmente política, e a omissão em não nomear os
aprovados representa uma afronta aos mínimos preceitos estabelecidos pelo Estado de
Direito que vivemos, pois não somente a moralidade, impessoalidade, como a
razoabilidade, a legalidade, a indisponibilidade e a supremacia do interesse público ficam
feridas diante desta conduta omissiva.
Logo, na hipótese em apreço, a necessidade do serviço e a
existência das vagas almejada restaram comprovados nos autos de modo inequívoco, vez
que, conforme anteriormente observado, houve contratação precária de servidores pela
Administração, em caráter precário, dentro do prazo de validade do certame.
IV – DA ILEGALIDADE DOS CONTRATOS TEMPORÁRIOS:
No caso em tela, o objeto da discussão é a existência de
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 21
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
Contratos Temporários e precários feitos pelo Município para prover as vagas no Serviço
Público Municipal e o direito subjetivo a nomeação dos aprovados e classificados dentro
do período de validade do concurso.
Após uma busca incansável pela verdade dos fatos ficou
devidamente comprovado no procedimento investigativo anexo aos autos, que o
Município de São Miguel do Araguaia/GO realizou contratações de servidores sem
concurso público, sendo que existem aprovados e classificados nas respectivas áreas
aguardando nomeação.
O prazo de validade do referido concurso público foi prorrogado
pelo próprio Município, mas mesmo assim, este ignora os padrões de legalidade, do
interesse público e da moralidade administrativa, pois ao invés de nomear os aprovados,
vem contratando temporariamente servidores não aprovados em concurso público.
A Constituição Federal pátria, estabelece os preceitos
fundamentais e indispensáveis num Estado Democrático e de Direito, no que tange a
organização da Administração Pública, em seu artigo 37 disciplina a estrutura de
princípios que o Administrador deve ter em suas condutas.
“Artigo 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência,”
Sob o enfoque doutrinário, imprescindível a lição idealizada
pelo eminente doutrinador ALEXANDRE DE MORAES, em sua obra “Direito
Constitucional”, 13ª edição, 2003, ed. Atlas , São Paulo – SP, pg. 311, conceituando o
princípio da legalidade:
“O tradicional princípio da legalidade, previsto no artigo 5º, II, da Constituição
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 22
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
Federal e anteriormente estudado, aplica-se normalmente na Administração
Pública, porém de forma mais rigorosa e especial. Pois o administrador
público somente poderá fazer o que a lei autoriza, diferentemente da esfera
particular, onde será permitido a realização de tudo que a lei não proíba. Esse
princípio coaduna-se com a própria função administrativa, de executor do
direito, que atua sem finalidade própria, mas sim em respeito à finalidade
imposta pela lei, e com a necessidade de preservar-se a ordem jurídica.”
A Constituição Federal em seu artigo 37, IX, dispõe sobre a
contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de
excepcional interesse público, norma repetida pela Constituição do Estado de Goiás em
seu artigo 92, X, e pela Lei Orgânica Municipal, em seu art. 116.
Art. 37- IX- C.F. – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.”
Desta forma, três são os requisitos a serem observados pela
Administração nas contratações por tempo determinado, sob pena de
inconstitucionalidade: o interesse público, a temporalidade da contratação e hipóteses
previstas em lei.
Por excepcional interesse público deve-se entender como
aquele revelador de uma situação de exceção, de excepcionalidade, que pode ou não
estar ligado à imperiosidade de um atendimento urgente.
Conclui-se que o traço marcante do excepcional interesse
público é o caráter eventual e emergencial da contratação por tempo determinado.
Nesse sentido, não há de se conceber contratação por tempo
determinado para o atendimento de atividades permanentes, rotineiras, para o provimento
de cargos típicos de carreiras, como é o caso do cargo de professor.
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 23
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
A jurisprudência brasileira é unânime ao censurar situações
análogas a aqui exposta, onde existem temporários em lugar de aprovados em concurso
público com o prazo de validade aberto, sendo assim :
Nesse sentido, confira-se o entendimento esposado pelos
tribunais pátrios:
EMENTA – TJSP - Demanda condenatória - Aprovação em concurso público;
dentro do número de vagas - Expiração do prazo de validade do concurso sem
efetivação da nomeação - Direito subjetivo à nomeação - Apelação e reexame
necessário parcialmente providos; APELAÇÃO CÍVEL N° 990.10.244493-7;
COMARCA: BANANAL; RECORRENTE: JUÍZO EX OFFICIO; APELANTE:
PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAPEI; APELADO: ROSEMEIRE MARIA
ARANTES CHANTAL; JUÍZA PROLATORA DA DECISÃO RECORRIDA: DRA.
MARIA ISABELLA CARVALHAL ESPOSITO.
Acórdão: Apelação Cível em Mandado de Segurança 2004.010332-8 Relator:
Luiz Cézar Medeiros Data da Decisão: 31/08/2004. EMENTA: ADMINISTRATIVO
- CONCURSO PÚBLICO - CANDIDATO APROVADO - PRETERIÇÃO -
CONTRATAÇÃO DE TERCEIROS A TÍTULO PRECÁRIO - EXISTÊNCIA DE
VAGAS - DIREITO LÍQUIDO E CERTO À NOMEAÇÃO É certo que a aprovação
em concurso público gera apenas expectativa de direito à nomeação; todavia,
"a mera expectativa se convola em direito líquido e certo a partir do momento
em que, dentro do prazo de validade do concurso, há contratação de pessoal,
de forma precária, para o preenchimento de vagas existentes, em flagrante
preterição àqueles que, aprovados em concurso ainda válido, estariam aptos a
ocupar o mesmo cargo ou função" (RESP n. 476.234/SC, Min. Felix Fischer).
Em recente e elogiável decisão, o Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de Minas Gerais, firmou entendimento idêntico ao que se busca por intermédio
desta ação civil pública:TJMG - EMENTA: ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. APROVAÇÃO
EXCEDENTE. DIREITO À NOMEAÇÃO E POSSE. CONTRATAÇÃO PRECÁRIA. I
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 24
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
- Sem olvidar a regra de que, em princípio, candidato aprovado em concurso
público detém não mais que expectativa de direito à nomeação, a
jurisprudência recente do STJ tem orientado no sentido de que, quando
aprovado dentro do número de vagas previstas no edital, o candidato possui
direito subjetivo à nomeação. II - Lado outro, demonstrada a necessidade de
preenchimento das vagas ante a celebração de contratos temporários, ainda
que com candidatos aprovados, a Administração tem por dever buscar, nos
candidatos excedentes, por ordem de classificação, aquele a ser nomeado. III -
Uma garantia-individual - daquele habilitado em certame frente ao cargo objeto
de contratação temporária - não se sobrepõe à outra, maior, mais ampla, que
rege, também, o provimento público, ligada à legitimidade preferencial dos
demais candidatos que hajam obtido melhor classificação. AGRAVO DE
INSTRUMENTO N° 1.0143.09.021990-6/001 - COMARCA DE CARMO DO
PARANAÍBA - AGRAVANTE(S): MUNICÍPIO CARMO PARANAIBA
REPRESENTADO(A)(S) POR MARCOS AURELIO COSTA LAGARES -
AGRAVADO(A)(S): ENI MARIA ALVES VELOSO - RELATOR: EXMO. SR. DES.
FERNANDO BOTELHO ; Relator: Des.(a) FERNANDO BOTELHO Relator do
Acórdão: Des.(a) FERNANDO BOTELHO Data do Julgamento: 23/09/2010 Data
da Publicação: 24/11/2010.
IV-A) No tocante as contratações precárias ao arrepio da ordem constitucional:
As contratações temporárias e precárias realizadas no âmbito
do Município de São Miguel do Araguaia-GO, não possuem caráter ocasional nem
emergencial.
Em verdade, no que tange a todas as aludidas contratações,
verifica-se que existe uma necessidade contínua do Município de São Miguel do
Araguaia-GO em contar com esse quadro de pessoal, já que as atividades possuem
natureza contínua, a saber, cargos de Professor, Médico, Enfermeiro, Psicólogo,
Fisioterapeuta, Auxiliar de Serviços Gerais, Auxiliar de Higiene e Alimentação, etc, razão
pela qual o Município deveria ter aproveitado os aprovados e classificados no Concurso
Público 01/2007, ao invés de recorrer aos malfadados contratos precários, conforme
determina o seguinte preceito constitucional:
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 25
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
“Art. 37 - II - a investidura em cargo ou emprego público
depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de
acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação
e exoneração”.
A respeito do tema, é oportuno trazer à baila a valorosa
doutrina de Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso de Direito Administrativo, Malheiros Editores, 15º
edição, ano 2002, página 261):
“A Constituição Federal prevê que a lei (entende: federal, estadual, distrital ou
municipal, conforme o caso) estabelecerá os casos de contratação para o
atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público (art.
37, IX). Trata-se, aí, de ensejar suprimento de pessoal perante contingências
que desgarrem da normalidade das situações e presumam admissões apenas
provisórias, demandadas em circunstâncias incomuns, cujo atendimento
reclama satisfação imediata e temporária (incompatível, portanto, com o
regime normal de concursos). A razão do dispositivo constitucional em
apreço, obviamente, é contemplar situações nas quais ou a própria atividade a
ser desempenhada, requerida por razões muitíssimo importantes, é
temporária, eventual (não se justificando a criação de cargo ou emprego, pelo
quê não haverá cogitar do concurso público), ou a atividade não é temporária,
mas o excepcional interesse público demanda que se faça imediato
suprimento temporário de uma necessidade (neste sentido, 'necessidade
temporária'), por não haver tempo hábil para realizar concurso, sem que suas
delongas deixem insuprido o interesse incomum que se tem de acobertar”.
Discorrendo a respeito dos requisitos constitucionais
necessários para autorizar a contratação temporária, sem concurso público, de agente
público, o renomado José dos Santos Carvalho Filho leciona (Manual de Direito Administrativo,
Editora Lumen Juris, 19º edição, ano 2008, páginas 544 e 545):
“...O primeiro deles é a determinação temporal da contratação, ou seja, os
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 26
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
contratos firmados com esses servidores devem ter sempre prazo
determinado, contrariamente, aliás, do que ocorre nos regimes estatutário e
trabalhista, em que a regra consiste na indeterminação do prazo da relação de
trabalho. Constitui, porém evidente simulação a celebração de contratos de
locação de serviços como instrumento para recrutar servidores, ainda que
seja do interesse de empresas públicas e sociedades de economia mista .
“Depois, temos o pressuposto da temporariedade da função: a
necessidade desses serviços deve ser sempre temporária.
Se a necessidade é permanente, o Estado deve processar o recrutamento
através dos demais regimes. Está, por isso, descartada a admissão de
servidores temporários para o exercício de funções permanentes; se tal
ocorrer, porém, haverá indisfarçável simulação, e a admissão será
inteiramente inválida. Lamentavelmente, algumas administrações, insensíveis
(para dizer o mínimo) ao citado pressuposto, tentam fazer contratações
temporárias para funções permanentes, em flagrante tentativa de fraudar a
regra constitucional. Tal conduta, além de dissimular a ilegalidade do objeto,
não pode ter outro elemento mobilizador senão o de favorecer alguns
apaniguados para ingressarem no serviço público sem concurso, o que
caracteriza inegável desvio de finalidade .
“O último pressuposto é a excepcionalidade do interesse público que obriga
ao recrutamento. Empregando o termo excepcional para caracterizar o
interesse público do Estado, a Constituição deixou claro que situações
administrativas comuns não podem ensejar o chamamento desses servidores.
Portanto, pode dizer-se que a excepcionalidade do interesse público
corresponde à excepcionalidade do próprio regime especial.
Algumas vezes, o Poder Público, tal como sucede com o pressuposto anterior
e em regra com o mesmo desvio de poder, simula desconhecimento de que a
excepcionalidade do interesse público é requisito inafastável para o regime
especial.
“Sensível a esse tipo de evidente abuso – no mínimo ofensivo ao princípio da
moralidade administrativa, o STF julgou procedente ação direta e declarou a
inconstitucionalidade de lei estadual que permitia o recrutamento de
servidores pelo regime especial temporário, calcando-se em dois
fundamentos: 1º) falta de especificação das atividades de excepcional
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 27
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
interesse público; 2º) ausência de motivação quanto à real necessidade
temporária das funções a serem exercidas . A decisão é de todo louvável e
registra acertado controle sobre esse tipo de admissão de servidores em
desconformidade com o parâmetro constitucional.
“Lamentavelmente, a contratação pelo regime especial, em certas situações,
tem servido mais a interesses pessoais do que ao interesse administrativo.
Por intermédio desse regime, têm ocorrido contratações 'temporárias' com
inúmeras prorrogações, os que as torna verdadeiramente permanentes” .
Dessarte, à luz dos ensinamentos dos juristas
supramencionados, resta clarividente que as contratações em questão, travestidas sob a
máscara de “contratos temporários e precários”, configuram, em verdade, contratação
temporária de agentes públicos para o exercício de funções permanentes, as quais foram
realizadas sem concurso público, fora das hipóteses admitidas constitucionalmente, uma
vez que as contratações temporárias só são admitidas pela Carta Constitucional Brasileira
“para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público” (art. 37, IX).
Impende argumentar que a conduta do gestor municipal que
efetua inconstitucionalmente contratações temporárias e precárias, além de configurarem
ofensa à Carta Constitucional, em virtude de caracterizarem transgressão aos princípios
da legalidade, da eficiência e da moralidade, as referidas contratações temporárias
caracterizam a prática do ato de improbidade administrativa previsto no caput do artigo 11
da Lei nº 8.429/92 .
A respeito do tema em questão, os Tribunais Pátrios sedimentaram o seguinte posicionamento:
TJMG - Ementa: ADMINISTRATIVO - AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE - MUNICÍPIO DE BERILO - LEI MUNICIPAL QUE
AUTORIZOU A CONTRATAÇÃO DE PESSOAL EM CARÁTER TEMPORÁRIO -
HIPÓTESE DE CONTRATAÇÃO PREVISTA CONSTITUCIONALMENTE PARA
ATENDER SITUAÇÕES INCOMUNS, EXCEPCIONAIS E DE RELEVANTE
INTERESSE PÚBLICO - NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DOS
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 28
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
PRESSUPOSTOS LEGAIS INTRÍNSECOS - TEMPORARIEDADE E
EXCEPCIONALIDADE NÃO COMPROVADOS - DESVIRTUAMENTO DO
ALCANCE DA NORMA LEGAL NO CASO PRESENTE - ABUSO DAS
HIPÓTESES CONSTITUCIONAIS ADMITIDAS – PROCEDÊNCIA PARCIAL DA
REPRESENTAÇÃO. O sistema constitucional vigente prevê como regra que a
investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em
concurso público de provas ou de provas e títulos (art.37, II da Constituição
Federal). Entretanto, revelando-se verdadeira exceção à regra do concurso
público, tem-se a norma permissiva da contratação temporária, prevista no
artigo 37, inciso IX da Carta Federal que dispõe que a lei estabelecerá os casos
de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária
de excepcional interesse público. - No caso em exame, a Lei Municipal prevê,
em alguns de seus normativos, a contratação temporária de pessoal para a
realização de atribuições e funções comuns e permanentes, usualmente
desempenhadas pelos servidores públicos efetivos, em nada atendendo aos
pressupostos intrínsecos à legitimidade da contratação por tempo
determinado prevista no ordenamento pátrio vigente, quais sejam, a
determinação temporal, a temporariedade e a excepcionalidade da
contratação, revelando-se cogente a sua retirada do mundo jurídico, com o
consequente acolhimento desta representação. V.V.P”. “TJ/MG - Número do
processo: 1.0000.08.479112-8/000(1) - Numeração Única: 4791128-
77.2008.8.13.0000. Relator: ANTÔNIO CARLOS CRUVINEL. Data do
Julgamento: 09/09/2009. Data da Publicação: 27/11/2009.
TJMG - Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SERVIDOR PÚBLICO. CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA. NÃO OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. ILEGALIDADE.
A contratação temporária de servidores para funções permanentes sem a
observância dos seus requisitos e do caráter de excepcionalidade do interesse
público, é prática vedada pelo ordenamento pátrio”; - Número do processo:
1.0481.07.077671-3/001(1) - Numeração Única: 0776713-09.2007.8.13.0481.
Relator: BELIZÁRIO DE LACERDA; Data do Julgamento: 29/09/2009; Data da
Publicação: 16/10/2009.
TJRS - EMENTA: CONTRATAÇÕES EMERGENCIAIS. SUCESSIVAS LEIS
ESTADUAIS E PRORROGAÇÃO, BEM COMO RENOVAÇÃO DE CONTRATOS
ASSIM ROTULADOS. ART. 19, IV, CE/89 E ART. 37, IX, CF/88. HIPÓTESES
ESTRANHAS À EXCEÇÃO CONSTITUCIONAL. BURLA AO COMPETITÓRIO
PARA INGRESSO NO SERVIÇO PÚBLICO. ART. 20, CE/89, E 37, II, CF/88.
FIXAÇÃO DO MOMENTO DE EFICÁCIA DA DECLARAÇÃO DE
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 29
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
INCONSTITUCIONALIDADE. Afigura-se inconstitucional a lei estadual, naquilo
em que ainda não está superada pelo decurso do prazo de vigência, ao reiterar
a renovação de supostas contratações emergenciais, quanto a hipóteses de
todo estranhas à excepcionalidade com que a Constituição Estadual, assim
como a Federal, admitem tal forma de ingresso no serviço público, terminando
por incidir em verdadeira burla à regra básica do competitório, fixando-se a
eficácia da declaração de inconstitucionalidade em consonância com o art. 27,
Lei n.º 9.868/99, para momento em que se evite o descalabro em serviços
essenciais. (Ação Direta de Inconstitucionalidade Nº 70007502479, Tribunal
Pleno, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Armínio José Abreu Lima da Rosa,
Julgado em 10/05/2004).
EMENTA – TJSP - Visto. Ação Direta de Inconstitucionalidade – Leis
Complementares n°s 13/94 e 127/03; artigo 4o,parágrafo único da Lei n°
6.103/02 e art. 2° da Lei n° 6.349/03, do Município de Araçatuba - Contratação
temporária de servidor público - Não se tratando de contratação em regime de
urgência, imprescindível a realização de concurso público, consoante
determina o art. 37, II, da Constituição Federal – Genéricas alterações
introduzidas na legislação municipal que acarretaram indevida ampliação do
leque de contratações temporárias, seja no que concerne às funções
apontadas, seja no que respeita ao excessivo tempo deferido para que os
contratados permanecessem no serviço público - Ofensa aos artigos 111 e 115,
X, da Constituição Estadual - Procedência da ação”.“TJ/SP - VOTO N° 23.953 -
ADIN N. 994.09.225514-3 (183.715-0/0), DE SÃO PAULO. COMARCA: SÃO
PAULO. REQUERENTE: PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA. REQUERIDO:
PREFEITO MUNICIPAL DE ARAÇATUBA E OUTRO.
Ante o exposto, é possível concluir que as reiteradas
contratações precárias realizadas pelo Governo Municipal de São Miguel do Araguaia-GO
foram efetuadas em desconformidade com a Constituição Federal, em nítido propósito de
burlar o Princípio Constitucional do Concurso Público, insculpido no art. 37, II, da CF/88.
Logo, restou demonstrado que os aprovados e classificados
aos respectivos cargos oferecidos por intermédio do concurso público 01/2007, tem o
direito subjetivo à nomeação, pois ficou exaustivamente comprovado, que o Município
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 30
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
vem celebrando contratos temporários, preterindo o direito constitucional dos aprovados e
classificados à nomeação. A propósito, leciona CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO:
"No caso, entretanto, o direito a não ser preterido se liga ao direito de ser
nomeado, porque a preterição funciona como fato revelador da ocorrência de
fato anterior que é o que constitui o candidato aprovado no direito a ser
nomeado. A saber: a preterição revela de modo evidente que o Poder Público
considerou necessário o preenchimento do cargo (e, portanto, escolhido já o
momento de preenchê-lo). Ora, como o aprovado só não tinha o direito à
nomeação (de acordo com o próprio fundamento das decisões acertadas do
STF) porque competia ao Poder Público determinar o momento oportuno de
efetuá-la, desde o instante em que ele haja sido definido pelo Poder Público,
nasce o direito à nomeação. O Estado tem competência discricionária quanto
ao instante oportuno para preencher os cargos. Contudo, quando, de algum
modo, revela já ter efetuado sua escolha discricionária, exaure tal poder,
concretizando-o. E, ao concretizá-lo, passa-se do campo do discricionário para
o campo do vinculado" (in Regime dos Servidores da Administração Direta e
Indireta. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1995) (g.n.).
E prossegue o autor:
"A admissão de pessoal a qualquer outro título ou a designação de outros
servidores, em desvio de função, para exercerem as correspondentes aos
cargos postos em concurso são outros tantos fatos demonstradores, e de
modo inequívoco, de que o Poder Público considerou necessário o
preenchimento daqueles cargos e, por isso mesmo, já definiu o momento de
provimento deles - ainda que se queira furtar a tal obrigação. Sempre que isto
suceda, há direito dos aprovados em concurso à obtenção de suas
nomeações"
V – Da eventual expiração do prazo do concurso e a permanência do interesse utilidade da presente ação e o seu consequente processamento e julgamento.
Sobre esse tópico, convém registrar, que a expiração do prazo
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 31
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
de validade do concurso público antes ou depois do ajuizamento da ação não tem o
condão de ensejar na extinção da ação por perda superveniente de objeto ou por falta de
interesse processual, sendo irrelevante para o processamento da demanda, o aspecto
temporal atinente ao prazo de vigência do concurso público 01/2007.
Nesse sentido, convém registrar, em razão da sua pertinência
temática, trecho do voto condutor do Ministro do Egrégio STJ - Superior Tribunal de
Justiça, Arnaldo Esteves Lima, no julgamento de RMS (mandado de segurança nº 13.823
– DF), cuja a ementa ficou assim definida:
EMENTA - ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
PÚBLICO. FISCAL AGROPECUÁRIO FEDERAL. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA
DE INTERESSE DE AGIR. REJEIÇÃO. CONTRATAÇÃO PRECÁRIA DENTRO DO
PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME. PRETERIÇÃO. 1. O fato de ter-se
encerrado o prazo de validade antes da impetração do mandamus não enseja
falta de interesse processual quando o impetrante, dentro do prazo
decadencial de 120 (cento e vinte) dias, não questiona as provas do concurso
público, mas atos diretamente relacionados à nomeação de aprovados,
ocorridos enquanto válido o certame.
A SEGUIR, TRECHO DO VOTO DO EMINENTE RELATOR ARNALDO ESTEVES
LIMA:
De início, impõe-se ressaltar que o fato de ter-se encerrado o prazo de
validade antes da impetração do mandamus não enseja falta de interesse
processual quando o impetrante, dentro do prazo decadencial de 120 (cento e
vinte) dias, não questiona as provas do concurso público, mas atos
diretamente relacionados à nomeação de aprovados, ocorridos enquanto
válido o certame.
De fato, não se pretende, no caso, o refazimento de provas ou etapas de
concurso público, mas tão-somente o exame de possível preterição, em última
análise. Nesse cenário, persiste o interesse processual do impetrante,
considerando que o candidato aprovado não pode remanescer prejudicado
quanto ao exame de suposta violação a direito líquido e certo tão-somente
porque os atos questionados foram praticados na iminência de encerramento
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 32
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
do prazo de validade do certame.
A propósito, transcrevo a seguinte ementa:
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO PARA
PROVIMENTO DO CARGO DE FISCAL FEDERAL AGROPECUÁRIO. EDITAL
1/2004-MAPA. DECADÊNCIA. AFASTAMENTO. FALTA DE INTERESSE
PROCESSUAL. PRAZO DE VALIDADE EXPIRADO. NÃO-OCORRÊNCIA.
INSURGÊNCIA CONTRA ATOS DE NOMEAÇÃO. CANDIDATO APROVADO, MAS
NÃO CLASSIFICADO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO À NOMEAÇÃO.
INEXISTÊNCIA. SEGURANÇA DENEGADA.
2. O fato de ter-se encerrado o prazo de validade antes da impetração do
mandamus não enseja falta de interesse processual do impetrante, porquanto
ele não questiona as provas do concurso público, mas atos diretamente
relacionados à nomeação de aprovados, ocorridos enquanto válido o certame
e dentro do prazo decadencial; 6. Segurança denegada. (MS 11.090/DF, de
minha relatoria, Terceira Seção, DJ 23/10/03) (sem ênfases no original).
Na mesma linha de intelecção jurisprudencial:
EMENTA-STJ: ADMINISTRATIVO. CONCURSO PUBLICO. INSURGENCIA
CONTRA ATO DE NOMEACAO após EXPIRACAO DO PRAZO DE VALIDADE.
FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL. INOCORRENCIA. Não caracteriza falta
de interesse processual o fato de a acäo ter sido intentada após expirado o
prazo de validade do concurso, nos casos em que nao se questionam os atos
da Administração relacionados a realização do concurso público, mas sim
atos referentes a nomeação dos demandantes. Precedentes. Agravo
regimental desprovido. (Processo: Agravo Regimental no Agravo 1039539 /
MG; Processo n. 2008/0080737-5; Relator(a) Ministro FELIX FISCHER; Orgão
Julgador: T5 - QUINTA TURMA; Data do Julgamento 16/12/2008; Data da
Publicação /Fonte Dje 02/03/2009). (g.n.).
Na esteira da jurisprudência do STJ, confira-se o entendimento
jurisprudencial firmado pelo TJGO em sede de Ação Civil Pública em caso semelhante ao
objeto desta ação:
EMENTA – TJGO - APELACAO CIVEL. ACAO CIVIL PUBLICA. CONCURSO
PUBLICO. AUSENCIA DE INTERESSE DE AGIR SUPERVENIENTE. EXPIRACAO
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 33
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
DO PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME. NAO CONFIGURACAO. CANDIDATOS CLASSIFICADOS NA RESERVA TECNICA. MERA EXPECTATIVA DE DIREITO A
NOMEACAO. CONTRATACAO PRECARIA DE SERVIDORES EM DETRIMENTO DOS CANDIDATOS APROVADOS NO CONCURSO. ILEGALIDADE. DIREITO
SUBJETIVO A NOMEACAO E POSSE NO CONCURSO. I - O ESCOAR DO PRAZO DE VALIDADE DO CONCURSO NAO TEM, POR SI SO, IMPLICACAO COM QUALQUER PRESSUPOSTO PROCESSUAL, NEM ESGOTA O INTERESSE DO AUTOR, QUANDO O OBJETIVO DO PLEITO PORTICO CINGE-SE AOS AUTOS RELACIONADOS A NOMEACAO DE SERVIDORES SUPOSTAMENTE PRETERIDOS. APELACAO CONHECIDA E PROVIDA. (1ª Câmara Cível – DJ 368
de 03/07/2009 – Acórdão: 09/06/2009 – Relator: Des. Luiz Eduardo de Sousa –
Recurso: 133338-6/188 – apelação cível- processo nº 200804175408)
Logo, mutatis mutandi, com base no forte entendimento
jurisprudencial mencionado em linhas recuadas, torna-se irrelevante para fins de
apreciação da questão ora posta a disposição do Poder Judiciário, eventual prazo de
expiração de validade do concurso público 01/2007, pois o Ministério Público ao intentar
a presente Ação Civil Pública, não se busca questionar os atos da Administração
relacionados a realização do concurso público, mas sim atos referentes a nomeação dos
candidatos aprovados e classificados, que estão sendo preteridos em sua nomeação por
contratação precárias em flagrante violação a ordem constitucional.
Assim, permanece presente o interesse processual e a
necessidade utilidade desta ação, legitimando a sua tramitação, apreciação e julgamento
por Vossa Excelência.
VI – DA LIMINAR
A Lei n.º 7.347/85 prevê expressamente no seu art. 12 a
possibilidade de concessão de liminar com ou sem justificação prévia para evitar dano
irreparável ou de difícil reparação, presentes, claro, os requisitos do fumus boni iuris e
do periculum in mora.
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 34
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
Para a concretização da providência jurisdicional pedida - a nomeação dos aprovados e classificados para os cargos que foram objeto de realização do Concurso Público 01/2007 - imperiosa a concessão de medida liminar no
sentido de nomear os aprovados e classificados, sob pena de perecimento do direito
subjetivo dos concursados à nomeação, pelos fatos e motivos expostos em linhas
recuadas.
Acerca do tema da liminar em Ação Civil Pública, leciona
Rodolfo de Camargo MANCUSO:
Em dois dispositivos trata a Lei nº 7.347/85 sobre a tutela cautelar dos
interesses difusos. Dá-lhes ação cautelar, propriamente dita, no art. 4.º e prevê
a possibilidade de concessão de mandado liminar, “com ou sem justificação
prévia”, no artigo 12.... Cabe ressaltar, desde logo, que o art. 4.º contém uma
particularidade: a cautela não apenas preventiva, como seria curial, mas pode
conter um comando, uma determinação para um non facere, ou mesmo para
um facere, tudo em ordem a “evitar o dano ao meio ambiente, ao
consumidor...” etc...Conjugando-se os arts. 4.º e 12.º da Lei nº 7.347/85, tem-se
que essa tutela de urgência há de ser obtida através de liminar que, tanto pode
ser pleiteada na ação cautelar (factível antes ou no curso da ação civil pública)
ou no bojo da própria ação civil pública, normalmente em tópico destacado da
petição inicial. Muitas vezes, mais prática será a segunda alternativa, já que se
obtém a segurança exigida pela situação de emergência, sem a necessidade
de ação cautelar propriamente dita (in Ação Civil Pública, 6.ª edição, Editora
Revista dos Tribunais, 1999).
E ainda:
“Não há necessidade de ajuizar-se ação cautelar, antecedente de
ação principal, para pleitear, com evidente desperdício de tempo e atividade jurisdicional. O
pedido de concessão de liminar pode ser cumulado na petição inicial de ACP de conhecimento
cautelar ou de execução” (JTJSP 113/312).
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 35
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
Explica José dos Santos CARVALHO FILHO, in Ação Civil
Pública, 6ª ed., Ed. Lumen Juris: Rio de Janeiro, 2007, pp. 344-345:
"Podemos, portanto, entender que o mandado liminar, a que se refere a lei,
tem o sentido de ato judicial de natureza cautelar, concedido logo ao início do
processo e documentado através de mandado, que tem por fim prevenir a
ocorrência de danos aos interesses difusos ou coletivos cuja proteção é
perseguida na ação civil. [...]. O mandado que expressa a concessão da
medida liminar pode ser emitido dentro da ação cautelar ou da ação civil
pública principal. [...]. Muitas controvérsias foram levantadas a respeito do
cabimento de medidas liminares contra atos do Poder Público, todas elas
fundadas no confronto entre dois princípios: o da salvaguarda aos direitos
subjetivos individuais ou coletivos, de um lado, e o da continuidade regular
dos atos do Poder Público, de outro. Sem dúvida, a questão da concessão de
liminares nesse caso só pode ser resolvida com um perfeito balanceamento
entre esses postulados. Nem se deve permitir que direitos continuem sendo
atingidos por atos públicos, sem que seus titulares tenham meio rápido para
fazer cessar a ofensa, sob pena de tornar-se irreversível o dano, nem se deve
admitir que, a todo momento, seja paralisada a atividade do Estado, criando
sérios gravames à coletividade. O assunto deve ser tratado como se houvesse
uma balança, a fim de que nela pudesse ser perseguido um perfeito equilíbrio
entre os interesses em jogo."
A concessão da medida liminar consistente na nomeação dos
aprovados e classificados no Concurso Público 01/2007, faz-se necessária, no presente
caso, para impedir, imediatamente, o perecimento do direito dos aprovados e
classificados à nomeação, conforme amplamente demonstrado na fundamentação. Caso
contrário, quando da sentença, ante a necessidade de resguardar o interesse público e
mediante a disponibilidade orçamentária e de vagas, o município de São Miguel do
Araguaia, continuará causando prejuízos ao erário, pois irá reiteradamente lançar mão
das contratações precárias, a margem do disposto no art. 37, II e V, da CF/88, sendo
incompreensível e inconcebível tal conduta, pois existe necessidade em convocar os
aprovados e classificados, porém, não se faz e lança mão de contratação precária.
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 36
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
No presente caso, mostra-se patente o fumus boni juris e o
periculum in mora. Sobre o tema tem-se:
“o fumus boni juris não é um prognóstico de resultado favorável no processo
principal, nem uma antecipação do julgamento, mas simplesmente, um juízo
de probabilidade, perspectiva essa que basta para justificar o asseguramento
do direito.” (GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. Ed.
Saraiva, 1986, v. 3, p. 154 e 158).
O primeiro requisito das medidas cautelares está no direito subjetivo à nomeação diante do surgimento de vagas durante o prazo de validade do
concurso, evidenciado, pois, pelas desistências dos cargos realizadas pelos candidatos
classificados dentro do número de vagas e pelas contratações precárias realizadas para o exercício de cargos públicos previsto no presente edital e desempenho de funções que guardam similitudes com as hora ofertadas no Concurso Público Nº 01/2007.
Isso também fica patente ao se verificar que alguns candidatos
foram aprovados e classificados para os respectivos cargos oferecidos no presente
Concurso Público, não foram convocados para a investidura em cargo público, porém
encontra-se exercendo funções idênticas aos cargos que foram ofertadas neste
Concurso, assim como pelo fato de haver majoração da carga horária do quadro de
profissionais que encontram-se no exercício efetivo do Magistério Público, que foram
aprovados para uma jornada de 20 (vinte) horas e atualmente vem cumprindo uma
jornada de 40 (quarenta) horas. Logo é óbvia a existência de cargos vagos apta à
convocação dos próximos aprovados e classificados. Ademais, a contratação exagerada
de temporários em afronta a própria moralidade pública, assegura a fumaça do bom
direito necessária à concessão da liminar. Nessa esteira:
EMENTA – STJ - RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA.
CONCURSO PÚBLICO. PROFESSOR. ENSINO MÉDIO. APROVAÇÃO EM
PRIMEIRO LUGAR. RESERVA TÉCNICA DE VAGAS. PREENCHIMENTO DE
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 37
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
VAGAS ACIMA DO NÚMERO PREVISTO NO EDITAL A TÍTULO DE CADASTRO-
RESERVA. CONVOCAÇÃO REITERADA DE OUTRO PROFESSOR PARA
REGIME ESPECIAL DE TRABALHO. NECESSIDADE DO SERVIÇO
DEMONSTRADA. DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO.
1. Tem direito líquido e certo à nomeação o candidato, aprovado dentro do
número inicial de vagas previstas a título de reserva técnica em edital de
concurso público, ante a ulterior nomeação de candidatos em número superior
ao previsto no edital, e a reiterada convocação de professor do quadro efetivo
para o exercício de carga horária adicional no cargo para o qual foi aprovado,
que demonstram a efetiva necessidade do serviço. 2. Recurso ordinário
provido. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 22.908 - RS
(2006/0222713-6)
De outra sorte, o interesse que justifica o pedido cautelar
consiste “no estado de perigo no qual se encontra o pedido principal, possibilidade ou a
certeza de que a atuação normal do direito chegaria tarde. Portanto, ‘o perigo na demora’
– periculum in mora – é que apresenta a nota característica das medidas cautelares,
prescindindo de uma indagação profunda do primeiro pressuposto, ou seja, admitindo
apenas a probabilidade da existência do direito acautelado, bastando, pois, a ‘fumaça do
bom direito’ (fumus boni juris)”.1.1 BARROS, Romeu Pires de Campos. Do processo
cautelar no CPC de 1973. Revista do Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976,
n.º 1, p. 138.
Note-se que mesmo diante das reiteradas tentativas de
candidatos em formularem requerimento administrativo postulando a sua convocação em
razão do provável término do prazo de validade do concurso público em comento, 03 de janeiro de 2010, (pois até a presente data não houve nenhuma informação oficial
sobre eventual prorrogação do concurso) o MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA/GO não se manifestou sobre a convocação do pessoal aprovado e
classificado, quedando-se inerte.
O Ministério Público e o Poder Judiciário não podem tolerar a
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 38
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
omissão da Administração Pública em não nomear o pessoal regularmente aprovado e
classificado para os cargos supracitados e, muito menos, ignorar a prática ilegal e
reiterada do Poder Público em contratar temporariamente servidores para prestação de
serviços de natureza permanente, em flagrante desrespeito ao princípio constitucional da
legalidade – que deve nortear todas as condutas do agente público.
Bem por isso, a medida liminar consistente na nomeação dos aprovados no concurso público realizado nos anos de 2007/2008 (edital 01/2007) para os cargos disponibilizados no aludido Concurso Público há que ser deferida inaudita altera pars, vez que, caso a tutela não seja prestada imediatamente,
quando do provimento final, os atos ilegais praticados pelo Município terão sido
perpetuados ou continuados, causando danos ao Estado Democrático de Direito, à
legalidade, ao erário e ao serviço público, que continuará tendo em seus quadros pessoas
de qualificação duvidosa, além de eventual medida judicial tardia revelar-se ineficaz e
frustrar o direito subjetivo dos aprovados e classificados aqui defendido pelo Ministério
Público.
Desse modo, inclusive, eventual alegação de incapacidade orçamentária do Município para a efetivação dos servidores cai por terra, pois ano após ano, são “contratados” servidores sob o abrigo de contratos precários, que obviamente recebem por isso. Logo, não há qualquer surpresa orçamentária por isso.
Por outro lado, também é necessário dar um basta nestas
admissões ilegais, proibindo-as, em respeito à moralidade administrativa e ao acesso
igualitário dos cidadãos aos cargos públicos e ao erário, abastecidos pela sociedade.
Outrossim, sobre a possibilidade do pedido, a jurisprudência já
se manifestou a respeito, senão vejamos:
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 39
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
“AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – LIMINAR CONCEDIDA
PARA SUSPENDER OS PROCESSOS SELETIVOS INSTAURADOS PARA
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE SERVIDORES – DECISÃO ACERTADA –
RECURSO DESPROVIDO – Nos termos do artigo 37, inciso II, da Constituição
Federal, a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação
prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em Lei.
Somente em casos excepcionais é que se admite a contratação de serviço
temporário.'' (TJPR – Ag Instr 0104810- 4 – (21073) – Reserva – 3ª C.Cív. – Relª
Desª Regina Afonso Portes – DJPR 25.02.2002)
Satisfeitos os requisitos autorizadores da concessão de medida
liminar em sede de Ação Civil Pública, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO a concessão de medida liminar inaudita altera pars determinando-se ao MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA/GO que nomeie os aprovados e classificados no concurso público para os cargos regidos pelo Edital n.º01/2007, e com homologação publicada no Diário Oficial do Estado n.º 20.280, de 02 de janeiro de 2008, observando rigorosamente a ordem de classificação para os respectivos cargos, até o número das contratações precárias e designações realizadas para os cargos mencionado no referido edital, tomando-se como parâmetro o número de cargos ocupados por servidores contratados sem concurso, tendo em vista a gravidade do ferimento constitucional.
Estes argumentos importam, ainda, se rejeitada a liminar
prevista na Lei da Ação Civil Pública, na aceitação dos requisitos descritos no art. 273, do
Código de Processo Civil, relacionados com a antecipação de tutela, igualmente possível
neste caso.
VII – DOS PEDIDOS
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 40
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
Em face de todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS requer a Vossa Excelência:
1 - O recebimento da presente ação, sua autuação e
processamento na forma e rito ordinário, juntando, para tanto,
os documentos anexos;
2 - A concessão de medida liminar inaudita altera pars
determinando-se ao MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA/GO que promova a imediata nomeação dos aprovados e classificados no concurso público, regidos
pelo Edital n.º01/2007, e com homologação publicada no
Diário Oficial do Estado n.º 20.280, de 02 de janeiro de 2008, observando rigorosamente a ordem de classificação para os respectivos cargos, até o número das contratações precárias e designações realizadas para os cargos mencionado no referido edital, tomando-se como parâmetro o número de cargos ocupados por servidores contratados sem concurso, tendo em vista a gravidade do
ferimento constitucional, sob o pena de multa diária de R$ 1000,00 ( um mil reais), a recair pessoalmente sobre o Gestor deste município, o Srº Ademir Cardoso dos Santos;
3 - A citação do MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA-GO, na pessoa do atual Prefeito, o Sr. Ademir
Cardoso dos Santos, que pode ser encontrado na sede da
Prefeitura deste Município, situada no endereço mencionado
no preâmbulo desta inicial, sob pena de confissão quanto à
matéria de fato e sob os efeitos da revelia;
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 41
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
4 - A comunicação pessoal dos atos processuais a este
representante do Ministério Público, nos termos do art. 236, §
2º, do Código de Processo Civil, e do art. 41, IV, da Lei n.º
8.625/93;
5 - Ao final seja JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO para
confirmar a liminar pleiteada e declarar o direito subjetivo à
nomeação dos aprovados e classificados, com a consequente
determinação ao MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA/GO de proceder à nomeação dos candidatos
aprovados, e classificados no concurso público, regidos
pelo Edital n.º01/2007, e com homologação publicada no
Diário Oficial do Estado n.º 20.280, de 02 de janeiro de 2008, observando rigorosamente a ordem de classificação para os respectivos cargos, até o número das contratações precárias e designações realizadas para os cargos mencionado no referido edital, tomando-se como parâmetro o número de cargos ocupados por servidores contratados sem concurso, tendo em vista a gravidade do
ferimento constitucional;
6 - A fixação, na sentença, de multa diária, nos termos do art.
11, da Lei n.º 7.347/85, no valor de R$ 1000,00 (mil reais), a
recair sobre a pessoa do Prefeito do Município de São Miguel
do Araguaia-GO, o Senhor Ademir Cardoso dos Santos por ser
responsável pelo ato de nomeação dos aprovados e
classificados.
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 42
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE SÃO MIGUEL DO ARAGUAIA
7 - A condenação do réu ao pagamento das custas,
emolumentos processuais e ônus de sucumbência;
8 - A produção de todas as provas legalmente admitidas,
inclusive testemunhais, periciais e especialmente documentais.
Dá-se à presente causa o valor de R$ 1000,00 (um mil reais),
para efeitos legais.
Nestes Termos
Pede deferimento.
São Miguel do Araguaia/GO, 02 de fevereiro de 2011.
Cristina Emília França Malta Promotora de Justiça
Índice:1.0 – Às fls. 489/499 – edital do concurso público.
2.0 - Às fls. 648/649 - Termo de prorrogação do concurso.
3.0 - À fls. 82/328, 668/679, 769/773, 776/783, relação dos servidores contratados sem
concurso público, com especial ênfase para os cargos de Professor, Operador de
Serviços Gerais, Auxiliar de Serviços de Higiene e Alimentação e Enfermeiro.
4.0 - Às fls. 353/358 termo de homologação de Concurso Público, homologado no dia 21
de dezembro de 2007 e publicado no Diário Oficial do Estado Nº 20.280, em 02 de janeiro
de 2008.
5.0 – Às fls. 343/352, por intermédio do Edital Nº 08/2007, de 21 de Dezembro 2007, foi
divulgado a relação dos candidatos aprovados e classificados.
6.0 – Às fls. 722/723, 732/734, 743, Termos de declarações prestados por candidatos ao
mencionado concurso público que foram preteridos por contratações precárias.
Av. Maranhão, esquina com Rua 10, ED. do Fórum, Setor Alto Alegre. Fone/FAX: 62 3364 1020 43