6ª unidade texto 23 - teorias do comércio internacional.pdf
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Professor Livio William Reis de Carvalho
1. Introdução
Sabemos que historicamente as sociedades, os países, se engajam no comércio entre si,
vendendo e comprando uma infinidade de itens. Sabemos também que é um comércio que difere
do comércio interno (realizado dentro de cada país) por várias razões: para realizar este comércio,
em boa parte das vezes, tem-se que vencer distâncias muito maiores que aquelas do comércio
interno, significando maior custo de transporte; principalmente, tem-se que levar em conta que os
países têm moedas diferentes (vamos nos abstrair da experiência da zona do euro). Se uma
empresa brasileira quer comprar (importar) um bem nos Estados Unidos (uma exportação dos
Estados Unidos) ela tem que adquirir dólares. De outra parte, se uma empresa dos Estados Unidos
quer adquirir um produto no Brasil (uma importação dos Estados Unidos e uma exportação
brasileira) ela vai pagar em dólares, que serão convertidos em reais pela empresa brasileira. Isto
tudo sem falar nos contextos institucional e legal diferenciados entre países, o que pode ter
implicações para o comércio entre eles.
Intuitivamente, é possível dizer que deve haver fortes razões para existir o comércio entre
os países, já que tantos países se engajam nesta atividade e alguns já chegaram a travar guerras
por causa de interesses comerciais.
Este texto procura dar indicações no sentido de responder a perguntas do tipo: por que
dois países comercializam? Que produtos devem comercializar? Vamos começar por uma teoria já
conhecida de todos nós, que foi apresentada, na Unidade 1 de nosso curso.
2. Teoria das Vantagens Comparativas
Vimos que quando uma pessoa (firma, país) produz algo (bem ou serviço) melhor, mais
eficientemente, com maior produtividade do que outra pessoa (firma, país), dizemos que a
primeira pessoa (firma, país) tem vantagem absoluta na produção deste bem ou serviço em
TEORIAS DO COMÉRCIO
INTERNACIONAL
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relação à segunda pessoa (firma, país). Exemplo: se numa jornada de 8 horas (em condições
idênticas de trabalho, especificações de material, ferramentas etc.) Pedro produz 20 kg de cereais,
enquanto José produz apenas 15 kg, dizemos que Pedro tem uma vantagem absoluta sobre José
no desenvolvimento desta atividade.
Vamos supor agora que Pedro e José são dois donos de sítios que produzem carne e
cereais. Vamos supor também que Pedro tenha vantagem absoluta bem marcante na produção de
carne e José tenha essa mesma vantagem absoluta marcante na produção de cereais. Com o
passar do tempo, provavelmente eles chegariam à conclusão que seria melhor Pedro se
especializar na produção de carne e José na produção de cereais e cada um com a venda de seus
produtos que excedesse o consumo de suas respectivas famílias, comprar outros bens.
Examinaremos, agora, o que aconteceria se Pedro tivesse vantagem absoluta na produção
de ambos os bens, com um exemplo bem simples, mostrado na Tabela abaixo, que apresenta a
produção de carne e cereais por Pedro e José numa jornada de 8 horas de trabalho (4 horas para
cada produto):
Produção Carne Cereais Produção por Hora
Produtor Carne Cereais
Pedro 24 48 6 12
José 8 32 2 8
As curvas de possibilidade de produção são mostradas abaixo (em gráficos com escalas diferentes):
Vê-se que trabalhando 4 horas na produção de cada um dos bens Pedro produziria 24 kg de carne e
48 kg de cereais, enquanto José produz 8 kg de carne e 32 kg de cereais.
Pedro
Carne
cereais
Carne
José 16
64
48
96 48
24 8
32
cereais
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Ressalte-se que Pedro tem vantagem absoluta na produção dos dois bens. Será que numa
situação como esta teria alguma vantagem para Pedro especializar-se em algum
produto e propor uma parceria com José? Ou, já que ele é mais eficiente, não seria melhor para
ele continuar produzindo os dois bens e José que fosse tratar de sua vida? Examinemos os
números para responder a estas perguntas.
Para tanto, vamos utilizar um conceito já visto na Unidade 1: o conceito de custo de
oportunidade. Para Pedro, cada hora adicional que ele dedicar à produção de cereais ele deixa de
produzir 6 kg de carne e pode produzir 12 kg de cereais. Ou seja, a relação é de 1 kg de carne para
2 kg de cereais. Diz-se, então, que para Pedro o custo de oportunidade (CO) de 1 unidade de carne
em termos de cereais é 2 ou, se invertermos a direção do cálculo, diz-se que para Pedro o CO de 1
unidade de cereais em termos de carne é 1/2. Agora vamos examinar a questão do ponto de vista
de José. Vemos que para José o CO de 1 unidade de carne em termos de cereais é 4, ou o CO de 1
unidade de cereais em termos de carne é 1/4, como mostrado na Tabela abaixo:
CO Carne /Cereal CO Cereais / Carne
Pedro 2 1/2
José 4 1/4
Vê-se que Pedro tem custo de oportunidade menor que o de José em carne, mas José tem
menor CO do que Pedro em cereais. Dito de outra forma: Pedro tem vantagem comparativa na
produção de carne, e José vantagem comparativa na produção de cereais.
Nesse caso, se José der (por exemplo) 3 kg de cereais para Pedro em troca de 1 kg de
carne, os dois melhoram de situação. Sem a troca, José, para obter 1 kg de carne, teria que deixar
de produzir 4 kg de cereais (pois essa é sua relação interna de transformação, seu CO). Ou seja,
teria um custo maior. Pedro, por sua vez, para obter 3 kg de cereais, sem a troca, teria que abrir
mão de 1,5 kg de carne (pois seu CO de 1 kg de cereais é 0,5 kg de carne). Ele também teria um
custo maior, sem a troca. Vê-se, então, que ambos claramente ganham com a troca de
mercadorias entre eles. É fácil ver que a condição para que ambos tenham ganhos é que a relação
de troca se situe entre as relações internas de transformação de Pedro e de José.
Quais as lições que podemos extrair deste exercício? A primeira é que a especialização na
produção pode ser vantajosa para as duas partes, cada uma se especializando no bem que produz
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com menor custo relativo (custo de oportunidade). A segunda é que, embora Pedro tenha
vantagem absoluta em ambos os bens, há proveito na especialização e na troca porque Pedro tem
vantagem comparativa na produção de carne e José na produção de cereais. Ou seja, o que conta
são os custos relativos de cada um deles na produção de um bem em relação ao outro. José é
menos eficiente do que Pedro na produção dos dois bens em termos absolutos, mas é mais
eficiente na produção de cereais do que de carne, e isto abre espaço para haja comércio entre ele
e Pedro, com ganhos para ambos.
Podemos visualizar esses ganhos considerando as possibilidades de consumo antes e
depois do comércio. Sem troca, a Curva de Possibilidades de Consumo (CPC) necessariamente
coincide com a Curva de Possibilidades de Produção (CPP). Suponhamos que inicialmente Pedro
consumisse 38 de carne e 20 de cereais, e José 8 de carne e 32 de cereais (cada um em ponto de
sua CPC≡CPP. Especializando-se inteiramente na produção de carne, Pedro poderia trocar com
José 10 kg de carne por 30 kg de cereais. Seu consumo saltaria então para 38 kg de carne (como
antes) e 30 kg de cereais (em lugar de 20 kg): o ponto B, que antes do comércio seria inatingível.
Esse ponto pertence a uma nova CPC de Pedro, exterior à sua CPP. Por sua vez José,
especializando-se inteiramente na produção de cereais, ficaria, após a troca, com 34 kg de cereais
(64 produzidos menos 30 dados em troca) e 10 kg de carne. Consumiria agora mais de ambos os
bens do que antes. O ponto B de sua nova CPC estaria igualmente fora de seu alcance, antes do
comércio. Ver os gráficos abaixo. Podemos concluir que o bem-estar dos dois, medido pela
quantidade de bens que consomem, é maior após a especialização e a troca do que antes.
No exemplo numérico que acabamos de ver, se substituíssemos “Pedro” e “José” por
“Indústria de Carne” e “Indústria de Cereais”, ou por “País A” e “País B”, as conclusões
permaneceriam válidas.
Pedro José
cereais
carne carne
cereais
48 16
24
8
96
64
48 32
38
30
B
34
B
20
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Esse exemplo ilustra a chamada Teoria de Vantagens Comparativas, elemento central da
análise do comércio internacional, desde que foi proposta, no início do século XIX, por David
Ricardo, economista inglês descendente de judeus portugueses.
No Anexo 1 – Uma Formalização da Teoria das Vantagens Comparativas, generaliza-se o
exemplo numérico utilizado para o caso de dois produtos e dois países, explicitando-se melhor
algumas hipóteses implicitamente utilizadas, tal como o uso de um só fator de produção, o fator
trabalho.
3. Outras Teorias para Explicação do Comércio Internacional
Por que existem vantagens comparativas? Porque diferentes países têm custos diferentes
de produção, para um mesmo produto. E por que há diferenças de custo? No caso das correntes
de comércio típicas do século XIX, ou períodos anteriores, grande parte da explicação residia em
vantagens naturais ou históricas: países como o Brasil produziam café ou açúcar a custos
menores, e exportavam esses produtos, porque tinham terra e clima favoráveis para isso,
enquanto os países que tinham tido acesso aos enormes ganhos de produtividade trazidos pela
Revolução Industrial exportavam artigos industrializados.
A teoria das vantagens comparativas não leva em conta a dotação diferenciada de fatores
entre os países, que pode ser uma das explicações para os fluxos de comércio. Nem tampouco
considera a existência de ganhos de escala — ou seja, aumentos de produtividade associados ao
aumento na escala de produção —, seja para o conjunto de um setor, de uma indústria, ou para
uma empresa isolada.
Para entender as correntes de comércio contemporâneas, economistas têm sugerido
outras explicações para diferenças de custo de produção entre países. Vamos começar por uma
teoria que abandona a hipótese simplificadora da existência de um só fator de produção, o fator
trabalho.
3.1 – A Teoria da Dotação de Fatores
Esta teoria é conhecida como teoria neoclássica ou de Hecksher-Ohlin-Samuelson (os
economistas que a desenvolveram). No centro da explicação para a existência do comércio
internacional está a diferença na dotação dos fatores de produção capital e trabalho entre os
países, e diferenças na utilização desses fatores entre setores da economia.
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São consideradas as seguintes hipóteses para montagem da teoria: existem dois fatores de
produção – capital e trabalho; os países possuem dotação de fatores diferentes; existem produtos
que usam intensivamente mão-de-obra (ou seja, usam grande quantidade de mão-de-obra em
relação ao capital investido) e produtos que usam intensivamente o fator capital (o oposto); há
concorrência perfeita em todos os setores e conhecimento tecnológico disseminado entre os
países.
Suponhamos, então, um mundo com dois países (A e B) e dois produtos (alimentos e
máquinas/equipamentos). Do conjunto de hipóteses acima se deduz que as curvas de
possibilidade de produção desses países são diferenciadas, como mostrado no gráfico abaixo:
Por possuir uma dotação maior de mão-de-obra o País A tem condições mais favoráveis de
produzir alimentos, um “bem” cuja produção em geral usa mão-de-obra intensivamente. Ao
contrário do País B, que por ser bem dotado do fator capital, tem melhores condições de produzir
máquinas, um “bem” cuja produção em geral exige a utilização intensiva do fator capital. Nestas
condições, o País A tenderá a exportar alimentos e o País B a exportar máquinas.
Como já visto anteriormente, os custos de oportunidade (dados pelas inclinações de suas
respectivas CPPs) dos dois países são bem diferenciados. Para o País A, o custo de oportunidade
de máquinas em termos de alimentos é elevado e para o País B, o oposto: o custo de
oportunidade de alimentos em termos de máquinas é elevado. Há, portanto, oportunidades de
comércio, com ganhos para os dois lados.
Máquinas
Alimentos
CPP do país B
CPP do país A
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Então, a explicação para a diferença de custos de oportunidade entre países e, portanto,
para a possibilidade de comércio internacional, com ganhos recíprocos, baseia-se na diferença de
dotação de fatores entre países. Os países com abundância relativa de mão-de-obra tenderiam a
exportar produtos que usam intensivamente este fator na sua produção, enquanto os países com
relativa abundância de capital tenderiam a exportar produtos que na sua fabricação utilizam
intensivamente o fator capital.
Essa explicação foi incorporada à teoria do comércio internacional a partir da primeira
metade do século XX, como uma extensão da teoria de vantagens comparativas de Ricardo. Com
essa configuração, constitui uma base satisfatória para análise de vários casos de fluxo de
comércio entre países, principalmente no que tange àqueles produtos baseados na
disponibilidade física de fatores. Contudo, algumas características importantes do comércio
internacional da atualidade ficam a descoberto.
3.2 – Considerações Sobre as Limitações da Teoria de Vantagens Comparativas
Um ponto a ressaltar na teoria de vantagens comparativas é que essa conceituação conduz
à conclusão de que cada país tenderá a se especializar na produção de bens em que tenha
vantagem comparativa, e importar os demais. Na vida real, no entanto, há várias circunstâncias
que levam um país a produzir um bem para consumo interno apesar de não possuir vantagem
comparativa na sua produção.
Há várias razões para que a especialização não se dê de forma tão extremada no mundo
real:
i) A simplificação de supor apenas dois fatores de produção, capital e trabalho,
e um conhecimento de técnicas de produção uniforme entre países não é
adequada em muitos casos. Máquinas e equipamentos na maioria das vezes
embutem um nível de conhecimento tecnológico que pode diferenciar-se
significativamente entre países; de certa forma, o conhecimento tecnológico,
ou a capacidade de gerá-lo, pode ser considerado um fator de produção em
separado. Também os recursos naturais não são, como é evidente,
distribuídos igualmente entre os países, o que pode ser importante para a
produção de certos bens, e para as trocas internacionais destes;
ii) Os registros históricos demonstram que os países costumam proteger a sua
produção interna, seja na agricultura, na indústria ou nos serviços, por razões
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independentes das vantagens comparativas (para proteger o nível de
emprego nessas atividades, por exemplo). Este fato introduz um elemento
que interfere diretamente nos fluxos de comércio e nos resultados potenciais
em contraste com um mundo onde não existissem essas interferências;
iii) O mundo não é pontual. Os países são distantes uns dos outros e, portanto,
os custos de transportes não são nulos. Em alguns casos, como o de bens com
uma baixa relação custo do produto/peso, o custo de transporte pode
inviabilizar a comercialização entre países. No setor serviços há exemplos
óbvios em que a comercialização se torna difícil ou impossível. Como se vai
comercializar um conserto de automóvel ou o serviço de babá ou de uma
manicure? Esses constituem os chamados bens não-comercializáveis, onde
grande parcela da renda dos países é gasta.
iv) Países têm tamanhos diferentes. Mesmo num modelo simples de dois
produtos e dois países, um deles bem maior do que o outro, é fácil ver que,
dependendo das preferências de consumo no país grande, pode não ser
possível ao país menor, mesmo especializando-se inteiramente no produto
em que tem vantagem comparativa, fornecer toda a quantidade necessária à
satisfação da demanda por este produto no país maior.
De qualquer forma, a teoria das vantagens comparativas é, de forma geral, uma
ferramenta útil para explicar as razões para o comércio entre países, assim como para mostrar os
efeitos desse comércio no bem-estar dos países. Embora ela não seja inteiramente adequada para
descrever as causas e efeitos de todas as formas de comércio entre países, a evidência empírica
corrobora seus principais ditames: a importância da produtividade e a prevalência das vantagens
comparativas (e não das vantagens absolutas) na explicação do comércio.
Contudo, além dos pontos ressaltados acima, há algumas características importantes do
comércio internacional, na atualidade, que não são bem descritas pela teoria de vantagens
comparativas. Uma delas é o comércio intra-indústria: uma mesma indústria tanto exportando
como exportando seus produtos, uma situação comum hoje em dia. Naquela teoria se supõe que
um país tenha vantagem em certa indústria (vantagem esta expressa por menores custos de
oportunidade): o comércio se daria inter-indústrias e não dentro de uma mesma indústria. Outro
aspecto é o pressuposto de concorrência perfeita na produção, que pode não ser adequada em
muitas situações. Novas conceituações foram propostas para explicar tais situações.
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3.3 – Teoria do Ciclo de Vida do Produto
Esta teoria se deve ao economista Raymond Vernon. Ela relaxa duas hipóteses restritivas
acima mencionadas, ou seja, as hipóteses da concorrência perfeita e da livre disponibilidade do
conhecimento tecnológico.
Na explicação sobre as razões do comércio jogam papel importante o progresso
tecnológico e o poder de monopólio transitório adquirido pelas empresas dos países mais
desenvolvidos, que continuamente lançam no mercado novos produtos incorporando alto
conhecimento tecnológico. E por que nos países mais desenvolvidos? Porque estes países
possuem mão-de-obra altamente qualificada, empresas que regularmente desenvolvem pesquisas
e, além disso, têm renda elevada e, consequentemente, uma estrutura de demanda diversificada.
Numa fase inicial, as empresas inovadoras gozam de poder de monopólio com relação aos
novos produtos que lançam no mercado. Com o passar do tempo, esse poder vai-se diluindo em
decorrência de um processo de imitação desses produtos por parte de outras empresas, inclusive
empresas de outros países. À medida que os novos produtos vão-se padronizando, sua produção
pode passar a ser feita em países menos desenvolvidos, que podem mesmo se tornar
exportadores de tais produtos.
Algumas características atuais do comércio internacional seriam explicadas, então, pelas
diversas fases da vida de um produto: na fase inicial (de desenvolvimento e introdução no
mercado) as vantagens comparativas seriam dos países inovadores (os mais desenvolvidos); nas
fases posteriores (de maturação e pós-maturação do produto), a vantagem estaria com os países
em desenvolvimento, onde o custo de mão-de-obra é menor (enquanto a tecnologia de produção
já estaria difundida, imitada, copiada, etc.).
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Como ilustrado na figura acima, a abordagem de Vernon relaciona as exportações
no país inovador, País A, às importações do país em desenvolvimento, País B, nas fases de
introdução do produto no mercado e de maturação. Nesta fase tem início a produção no
País B, mas ainda não suficiente para atender totalmente o mercado interno. Na fase pós-
maturação o País B produz o suficiente para atender o mercado interno e para exportar
para outros países, inclusive o próprio país inovador. Esta última fase pode estar
relacionada ao processo de substituição de importações e/ou a investimentos externos.
3.4– Teorias com a Presença de Economias de Escala
3.4.1- Concorrência Monopolística e Comércio Intra-Indústria
O modelo de concorrência monopolística considera as seguintes características dos
mercados:
Existência de economias de escala internas a cada empresa;
Os produtos são ligeiramente diferenciados;
A entrada no setor é livre.
País A Inovador
País B, C,... N Emergentes
Produção Interna
Exportações
Procura Interna
Importações
Importações
Produção Interna
Exportações
Introdução no mercado Maturação Pós-maturação
Ciclo de vida dos produtos
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Com a diferenciação dos produtos, apesar da presença de economias de escala, nenhuma
empresa tem condições de produzir sozinha toda a gama de produtos diferenciados do setor.
Nessas condições, há um forte incentivo para o comércio intra-indústria, ou seja, um país
exportando um produto X, digamos automóveis, e importando outra variedade do mesmo bem.
que é uma característica marcante dos fluxos de comércio na atualidade. Esta foi uma tendência
que se intensificou a partir do último terço do século passado.
Essa característica do comércio, no mundo atual, concentra-se fortemente nas trocas entre
países ricos, que têm uma estrutura produtiva e níveis de renda per capita parecidos. O
economista sueco B. Linder foi quem primeiro chamou a atenção para esse aspecto — exportação
e importação do mesmo tipo de bem —, explicando-o, fundamentalmente, pela semelhança nos
níveis de renda per capita (e, portanto nos padrões de demanda) e nas estruturas produtivas,
onde marcam presença importante empresas que concorrem entre si num regime de concorrência
monopolística.
Concorrência imperfeita, economias de escala e ausência de disseminação tecnológica são,
assim, elementos da realidade do mundo atual que novas teorias explicativas dos fluxos de
comércio procuram incorporar.
Uma característica importante da concorrência monopolística, como vimos antes, é
exatamente a diferenciação dos produtos e a presença de economias de escala, fatores que
corroboram a observação de Linder quanto à pujança do comércio Norte-Norte, baseado nas
trocas intra-indústria. Com a ocorrência de muitas empresas produzindo o mesmo tipo de
produto, mas com diferenciações, nenhuma empresa tem capacidade de produzir sozinha todas as
variedades demandadas (levando em conta as economias de escala). Essa particularidade favorece
o comércio, já que as empresas passam a dispor de um mercado mais amplo, e favorece também
aos consumidores, já que a maior concorrência entre empresas (e entre variedades do mesmo
produto) abre caminho para reduções de preços. E oferece também um leque mais amplo de
produtos para escolha do consumidor, aumentando portanto o seu bem-estar.
Há vantagens para os países? Sim, porque aumenta o volume de comércio entre eles.
O gráfico abaixo ilustra uma situação de queda de preços com o aumento da escala:
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Antes do comércio, a típica empresa encontra-se no ponto 1 (q1,p1), onde vende q1 ao
preço p1. Com a abertura das economias e a entrada de novos produtos no mercado, a empresa
pode aumentar a sua escala e vender mais a preços menores, passando para o ponto 2 (q2,p2) seu
equilíbrio de longo prazo, vendendo q2 ao preço p2, trabalhando, como antes, sem lucros
extraordinários, em razão da livre entrada de concorrentes.
Numa situação de oligopólio valem as mesmas considerações acima, com a diferença que
é pequeno o número de empresas e pode existir a presença de lucros extraordinários, já que não
existe livre entrada no setor.
3.4.2 – Comércio Intra-Empresas e Expansão do Comércio
Algumas breves considerações sobre comércio intra-empresas, que é também uma
característica do comércio atual e favorece substancialmente a expansão do comércio mundial.
Com a expansão das empresas multinacionais no mundo, aumenta também a importância
do comércio intra-empresas. Quando essa expansão se avoluma com o processo de globalização,
um produto final fabricado no país A é, às vezes, o resultado da junção de componentes
produzidos pela mesma empresa em vários outros países. Noutras situações, uma empresa produz
o produto X no país A e o exporta para os outros países; produz o produto Y no país B e o exporta
para os outros países; produz Z no país C e o exporta para os outros países, e assim por diante.
Custo médio
Preço e Custo médio
Quantidade
1
2
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Durante o processo de expansão das multinacionais para os países em desenvolvimento,
foi comum exigir dessas empresas o cumprimento de metas de nacionalização do produto, ou
seja, que a empresa tivesse um grau crescente de produção interna no país (como se fez na
implantação da indústria automobilística no Brasil). Ou exigir metas de exportação. As duas
situações podem criar oportunidades para expansão do comércio internacional (embora a
primeira possa significar maiores custos de produção, ao menos temporariamente).
3.4.3 – Economias de Aglomeração e Comércio Internacional
Vamos denominar de economias de aglomeração as economias de escala que ocorrem no
setor, na indústria como um todo, para diferenciá-las das economias de escala que ocorrem
internamente, dentro das empresas. Apesar de essas economias ocorrerem para o conjunto do
setor, isto não significa que as empresas individualmente delas não se beneficiem.
Por que será que quase todas as empresas de informática nos Estados Unidos estão
localizadas, ou pelo menos têm escritório, no Vale do Silício, na Califórnia? Por que a indústria
automobilística no Brasil (pelo menos até pouco tempo atrás) se localizava em São Paulo? A
indústria de calçados principalmente em Franca (SP) e Novo Hamburgo (RS) (até que começassem
a migrar para o Nordeste, há poucos anos)? E aqui em Brasília, no Plano Piloto, por que
vendedores de material elétrico se concentram na 309/310 Sul, e lojas de produtos para noivas na
304/305 Norte?
A resposta a essas perguntas é uma só: as vantagens que essas empresas obtêm por
estarem juntas (próximas), as economias externas oriundas da aglomeração geográfica. É
interessante observar que muitas vezes as razões para iniciar-se um conglomerado num certo
local têm muito mais a ver com o acaso ou a história do que com motivos puramente econômicos.
Mas, uma vez estabelecido o conglomerado, prevalecem as razões econômicas e ele tende a ser
auto-sustentado e a se reforçar a cada nova empresa que a ele se junta.
Paul Krugman mostra vários exemplos desses casos (Krugman, P. Geography and Trade,
MIT Press, 1991): ”... a maioria das análises econômicas permanece dominada por um estilo de
modelo que eu trato de TTFE: a ideia que o comportamento da economia é basicamente
determinado por suas preferências (T, de "Tastes"), tecnologia (T, de "Technology") e dotação de
fatores (FE, de "Factor Endowments") — todos dados exogenamente. Em contraposição, temos a
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ideia de que aspectos importantes de uma economia são contingentes, determinados pela história
e até por acidente". 1
Quem primeiro abordou este assunto foi o economista inglês Alfred Marshall, no início do
século passado. Segundo ele, existem três razões para um conglomerado de empresas (cluster) ser
mais eficiente que uma empresa isolada:
i) A capacidade de um conglomerado justificar economicamente a presença de
fornecedores altamente especializados.
Um conglomerado, ao reunir várias empresas, tem escala suficiente para sustentar
fornecedores especializados. A empresa individual não teria essa capacidade, mas ela
se beneficia destas economias porque se liberta da obrigação de ela mesma ter que
produzir internamente o que lhe é fornecido por terceiros especializados. O conjunto
dos fornecedores especializados, por sua vez, fortalece a concentração e cada nova
empresa que surge no setor e na região fortalece o conglomerado. Nessas
circunstâncias, uma empresa do setor que se estabeleça em outro país, ou mesmo
outra região do mesmo país, não pode contar com estes benefícios e já começa em
desvantagem.
ii) A capacidade de um conglomerado justificar o aparecimento de um mercado
comum de trabalho.
Na mesma linha do raciocínio anterior, o conjunto das empresas de um conglomerado
tem condições de criar um amplo mercado para mão-de-obra com elevada
especialização. Se as empresas estiverem espalhadas territorialmente não se cria este
mercado comum que beneficia tanto as empresas, que diminuem seus custos de
recrutamento, quanto os trabalhadores especializados, que têm maiores facilidades
para encontrar emprego. Uma empresa de fora do conglomerado, ou de outro país,
não tem estes benefícios, que se refletem positivamente em seus custos e em sua
produtividade. Por exemplo: existem, na Suíça, várias instituições voltadas à formação
de mão-de-obra especializada nos delicados mecanismos dos relógios de precisão, ou
de luxo, produzidos tipicamente nesse país.
1 Tradução livre. Trecho original:”... most economic analysis remain dominated by a style of model that I like to think
of as TTFE: the idea that the economy’s behavior is basically determined by its (exogenously given) tastes, technology and factor endowments. In opposition we have the idea that important aspects of an economy are contingent, determined by history and accident.” (Krugman, loc. cit., p.102)
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iii) A capacidade de um conglomerado facilitar os vazamentos de conhecimento.
No mundo moderno, o conhecimento técnico é um fator tão importante quanto, ou até
mais, que outros fatores de produção, principalmente nas indústrias mais inovadoras.
Esse conhecimento técnico pode ser adquirido através de pesquisas, por meio de
concorrentes e, ainda, de maneira informal, pela troca de informações entre técnicos
especializados. Esta última forma pode acontecer com maior facilidade no seio de um
conglomerado, onde a concentração das empresas numa mesma área permite o
convívio que favorece uma troca de informações. Uma empresa de fora desse
conglomerado não desfruta de tal benefício.
As considerações acima sobre as economias de aglomeração levam à conclusão de que
numa indústria com essas características seguramente haverá retornos crescentes de escala, o
que significa que quanto maior a indústria, menores seus custos. Quanto maior a indústria, menor
o preço que as empresas poderão cobrar.
Vamos examinar agora as conseqüências das economias de aglomeração para o comércio
internacional.
Uma primeira conseqüência é que se um país se torna grande produtor de algum bem, em
razão de economias externas de aglomeração, ele certamente terá custos relativamente baixos e
tenderá a permanecer como grande produtor e exportador, ainda que apareçam novos
produtores. A explicação para isto é que os custos associados à ausência de escala nas fases
iniciais da produção, e ainda os custos de entrada no mercado do país novato no setor impedem
que este país produza a preços competitivos.
Os custos de entrada no mercado envolvem ainda outro fator: uma vez firmada a tradição
de certo conjunto de produtores, estes podem às vezes cobrar um sobrepreço pela fama de seus
produtos, seja essa fama justificada ou não. “Relógio suíço” ou “chocolate belga” passa a ser
sinônimo de qualidade. Isso naturalmente dificulta a entrada de novos produtores. Há no mundo,
em alguns nichos de mercado, um comércio que poderíamos chamar de tradição (assim como
relógios suíços, conhaques franceses, casimiras inglesas, cachaças de Salinas, etc.), que se justifica
também pela presença de economias de aglomeração. No Anexo 2, ilustra-se graficamente uma
situação semelhante.
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4 – Conclusão
Existem outros modelos para explicar o comércio internacional, como os que utilizam
empresas oligopolistas como ponto de partida. Os resultados desses modelos vão depender dos
efeitos de economias de escala sobre os custos de produção, da curva de aprendizado das
empresas, do fato de serem os bens homogêneos ou diferenciados e ainda da reação que os
concorrentes tenham em relação às iniciativas de cada um deles.
Para um curso introdutório de economia, no entanto, os modelos apresentados acima, de
forma resumida, são suficientes para mostrar as vantagens do comércio internacional para os
países envolvidos. E ainda que o elemento central para explicação dessas vantagens está no custo
de oportunidade de um produto em relação a outro, dentro de cada país. São elementos
importantes, em diferentes situações, como vimos, a dotação de fatores do país; a evolução da
tecnologia de produção; a existência de economias de escala internas às empresas; e as
economias de escala oriundas de economias externas às empresas e internas ao setor ou indústria
(economias de aglomeração). De toda sorte, pode-se dizer, de modo geral, que um país exporta
certo produto quando tem vantagem comparativa em sua produção (e não vantagem absoluta),
venha de onde vier essa vantagem.
Para concluir estas notas sobre as teorias de Comércio internacional é interessante fazer
duas referências:
i) As políticas brasileiras e de outros países da América Latina com relação ao
setor industrial, no período que se seguiu à Segunda Guerra, foram muito
influenciadas por críticas feitas aos modelos tradicionais de comércio por
autores como Raúl Prebisch, um economista argentino. Argumentava-se que
os ganhos do comércio internacional eram assimétricos, em razão das
características dos tipos de mercadorias exportadas em geral pelos países
centrais, de um lado (produtos industriais), e pelos países periféricos, de outro
(produtos primários, pouco processados: alimentos, matérias-primas). O
argumento baseava-se nos seguintes pontos:
baixa elasticidade-renda da demanda por produtos primários, em
contraposição a uma elasticidade-renda mais elevada dos produtos
industrializados;
baixa elasticidade-preço da demanda por produtos primários;
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retração da procura por várias matérias-primas de exportação dos países
periféricos, em razão de ganhos de eficiência em seu uso e do
desenvolvimento de substitutos industrializados (metal substituído por
plástico, borracha natural por borracha sintética, algodão por tecidos
sintéticos, etc.); e
baixo valor adicionado dos produtos primários.
O efeito cumulativo dessas características seria a deterioração das relações
de troca dos países periféricos (ou seja, queda no preço de suas exportações
em relação ao preço das importações), com consequente distanciamento cada
vez maior entre o nível de renda dos países centrais e dos países periféricos.
Para reverter esta tendência os países periféricos deveriam adotar medidas
para incentivar a substituição das importações, em especial pelo
desenvolvimento de seus setores industriais, a partir de políticas
governamentais de incentivo.
Não há dúvida de que a indústria brasileira teve crescimento muito
expressivo, especialmente entre 1950 e 1980, sob o estímulo de várias políticas
favoráveis à substituição de importações (o que sucedeu também, em maior ou
menor grau, em outros países da região). Mas as grandes modificações no
comércio internacional no período mais recente tornam as idéias de Prebisch
pouco aplicáveis, especialmente no que se refere às tendências de preços.
Basta referir o grande aumento dos preços do petróleo, desde o início da
década de 1970, ou a evolução recente nos preços de produtos agrícolas e do
minério de ferro, sob o estímulo de uma forte expansão na demanda
internacional por esses produtos. A observação das relações de troca do Brasil
não mostra uma tendência de queda no longo prazo: há períodos de redução,
como na década de 1930 ou no início da década de 1980, mas outros de
crescimento, como ao longo dos últimos 25 anos.
O que é significativo em experiências, como a brasileira, de industrialização
com o estímulo de políticas governamentais, em termos de explicação das
correntes de comércio, é que tais políticas — embora envolvendo muitas vezes
ineficiências e distorções — podem em alguns casos modificar as vantagens
comparativas do país. Isso na medida em que os setores que se desenvolvam
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sob proteção e estímulo do governo cheguem a alcançar competitividade
internacional, a partir do aproveitamento de economias de escala e obtenção
de ganhos de produtividade. Um exemplo nesse sentido é o caso da EMBRAER,
empresa criada pelo governo brasileiro e posteriormente privatizada, e que é
hoje um dos principais produtores mundiais de aviões de porte médio.
ii) Uma avaliação das teorias para explicação dos fluxos de comércio
resumidamente apresentadas mostra que cada uma delas é capaz de explicar
aspectos particulares dos fluxos de comércio. Mas uma das características
atuais desses fluxos é o fenômeno da globalização: a ampliação, diversificação
e sofisticação desses fluxos numa escala nunca atingida anteriormente, sendo
que 2/3 desse fluxo são transações inter e intra-empresas transnacionais.
Um aspecto particular dessa tendência é o avanço significativo dos processos
de integração, que alavancam as trocas internacionais entre grupos de paísess
(North-American Free Trade Agreement – NAFTA, na América do Norte; União
Europeia, na Europa Ocidental; MERCO-SUL, na América do Sul; Associação
das Nações do Sudeste Asiático; Comunidade Econômica da África Ocidental;
etc.).
O que essas referências enfatizam é que, além da dotação de recursos produtivos, fatores
tecnológicos e culturais, economias de escala, etc., atributos construídos por governos, empresas
e pela população, ao longo do tempo, podem contribuir para explicar os fluxos de comércio.
Michael Porter (The Competitive Advantage of Nations, N.York, Free Press, 1990) mostra que
muitos elementos do conjunto complexo de atributos que influenciam a competitividade de
indústrias e países podem ser criados e desenvolvidos. Enquanto outros podem ser simplesmente
herdados e consolidarem uma tradição pela constituição de conglomerados, que uma vez
estabelecidos historicamente perpetuam as vantagens deles decorrentes, vantagens que se
manifestam em termos dos fluxos de comércio.
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ANEXO 1 – UMA FORMALIZACÃO DA TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS2
Vamos, então, supor um país, País A, que produz dois produtos, X e Y. A tecnologia
utilizada por este país é demonstrada através da produtividade do trabalho. Ou seja, o número de
horas de trabalho necessárias para produzir uma unidade do produto, que vamos representar por
CX para o produto X e CY para o produto Y. Então se:
- LA é a disponibilidade total do fator trabalho
- QXA é a quantidade produzida do produto X pelo País A
- QYA é a quantidade produzida do produto Y pelo País A
Podemos escrever a CPP do País A como:
Onde toda a disponibilidade de trabalho é utilizada
Numa economia com um só fator, a CPP é uma reta e o que o País abre mão de um
produto para produzir uma unidade a mais do outro produto, ou seja, o CO é a inclinação da reta
do CPP (em valores absolutos), como mostrado no gráfico abaixo:
2 Ver: Krugman, P. & Obstfeld, M. Economia Internacional - Teoria e Política, 6ed., Pearson Education, 2005
CPPa
Quantidade Max.
De X em A
Quantidade
Max. De Y
em A
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Gráfico 1: Adaptado de Krugman e Obstfeld
Vamos agora introduzir outro País, o País B. Então os requisitos unitários de trabalho deste
país serão, respectivamente CXB e CYB; a disponibilidade total do fator trabalho LB e assim por
diante. Podemos então escrever a CPPB como:
e , como mostrado no gráfico abaixo:
Gráfico 2: Adaptado de Krugman e Obstfeld
Se CXA< CXB, dizemos que o País A tem uma vantagem absoluta na produção de X. Se CYA <
CYB dizemos que o País A tem uma vantagem absoluta na produção de Y. Mas como vimos no
exemplo numérico, não são as vantagens absolutas que determinam os benefícios da
especialização e sim as vantagens comparativas, que são indicadas pelos custos de oportunidade.
Agora se CXA/CYA < CXB/CYB, o que implica que CXA/CXB < CYA/CYB, os custos relativos em
termos de requisitos unitários de trabalho são menores em relação ao produto X no País A. Ou,
em outros termos, o custo de oportunidade de X em relação a Y é menor no País A. Isto significa
que A tem uma vantagem comparativa na produção de X. Em decorrência, seguem todas as
conclusões: o País A deverá especializar-se na produção de X produzindo a quantidade LA/CXA do
produto X. O País B se especializará na produção de Y, produzindo a quantidade LB/CYB de Y. Com
o comércio os dois países estarão em melhores condições do que antes. As quantidades
Quantidade Max.
De X em B
Quantidade
Max. De Y
em B
CPPb
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exportadas de X e Y, assim como os preços de X e Y nos dois mercados vão depender das
demandas relativas nos dois mercados.
A única situação em que não haverá vantagem com o comércio é se CXA/CYA = CXB/CYB, ou
seja, quando os custos de oportunidade forem iguais. Neste caso, os dois países continuariam
produzindo os dois produtos e não haveria vantagem em especializar-se.
O modelo que acabamos de expor resumidamente pode ser estendido para uma situação
com dois países e vários produtos. Para saber em quais produtos cada país vai se especializar tem-
se de comparar os gastos salariais unitários para cada produto nos dois países. Então, se WACXA<
WBCXB, o País A deve se especializar na produção de X, onde WA e WB são as taxas de salário nos
dois países e CXA e CXB os requisitos unitários de trabalho para a produção de X nos dois países.
ANEXO 2 – ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO E BARREIRAS À ENTRADA
Considere-se o gráfico abaixo:
Onde:
CMa é o custo médio do País A, pioneiro no setor
CMb é o custo médio do País B, novato no setor
Dm é a demanda mundial pelo produto
Vemos que a demanda mundial pode ser satisfeita tanto pelo País A quanto pelo País B. Só
que o País B, novato no setor poderia produzir a custos mais baixos, e se lhe fosse permitido, ele
Custo,
Preço
Quantidade
Gráfico 5: Adaptado de Krugman e Obstfeld
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atenderia o mercado mundial a um preço p2 < p1. Acontece que na fase inicial de sua participação
no mercado o País B começaria produzindo ao custo COb, bem mais elevado que p1. Assim, ele não
participa do mercado e importa o produto ao preço p1.
Um segundo aspecto a ser examinado é que na presença de economias de aglomeração um
país pode estar numa situação pior com o comércio do que sem o comércio. Suponhamos que o
País B na ausência de comércio e em razão de seus baixos custos médios pudesse atender a sua
demanda interna DB ao preço PB < P1 (o preço cobrado no mercado internacional, que é o preço do
país pioneiro). Nesta situação, o País B estaria pior com o comércio do que na ausência do
comércio. Cabe notar que mesmo nesta situação o mundo (o conjunto dos demais países) estaria
melhor com o comércio. Mas o País B estaria potencialmente pior. Potencialmente porque
continuam a prevalecer os custos elevados das fases iniciais de produção (C0B). Esta é uma
situação em que o País B poderia, eventualmente, proibir a importação desse bem, ou introduzir
pesadas tarifas para esta importação, iniciando-se um processo de substituição de importações.