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Dácio A. de Moraes S.A Av. São João 1821-1845 Centro Irregular de esquina - 570 m² 1º ao 13º pav.: 11 kitch. de 25m² 1 ap. de 1 dorm. - 42 m² 14º pav.: 10 kitch. de 23 m² 15º pav. : 5 ap. de 1 dorm. - 39 m² Total: 171 unidades Acrópole 234, 1958, p. 212-213 elevado costa e silva av. são joão al. glee 10.8 - Área total = 6152,70m² 69 % Ruim Alta Folheto de vendas do Ed. Araraúnas - 1955 6.8 Edifício Araraúnas 1953-55 Foto: Edson Lucchini Jr. terreno unidades publicações coef. de aproveitamento taxa de ocupação conservação descaracterização construção endereço e localização Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr. Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950 183

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Dácio A. de Moraes S.A

Av. São João 1821-1845 Centro

Irregular de esquina - 570 m²

1º ao 13º pav.: 11 kitch. de 25m²1 ap. de 1 dorm. - 42 m²

14º pav.: 10 kitch. de 23 m²15º pav. : 5 ap. de 1 dorm. - 39 m²

Total: 171 unidades

Acrópole 234, 1958, p. 212-213

elevadocosta e silva

av. são joão

al. glette

10.8 - Área total = 6152,70m²

69 %

Ruim

AltaFolheto de vendas do Ed. Araraúnas - 1955

6.8 Edifício Araraúnas 1953-55

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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

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A avenida São João é uma das mais importantes vias da cidade de São Paulo não só no âmbito viário como no simbólico. Foi a primeira via pavimentada da cidade, e em sua conformação atual, pode ser considerada uma via arterial que liga o centro da cidade à zona oeste. Nos anos 1940, o Plano de Avenidas de Prestes Maia incluiu a São João no perímetro de irradiação, resultando no seu alargamento e em outras reformas que atribuíram à avenida uma maior fluidez de tráfego, além de definirem um importante vetor de expansão vertical na cidade. A São João foi também, dos anos 1930 aos anos 1970, um dos principais núcleos culturais da cidade, principalmente pelo seu caráter de cinelândia, como foi visto na análise do edifício Lucerna e cine Comodoro (p.160). (TOLEDO, 2004)

A topografia da cidade de São Paulo é predominantemente acidentada, o que de certa forma definiu ruas e avenidas com características mais curvas, repletas de aclives de declives, com exceção das que ocuparam os leitos ou várzeas de rios e córregos; estas são planas, mas nem sempre lineares. A São João é uma das poucas avenidas da cidade que tem sua conformação integralmente linear, que a definiu como um grande eixo, cujo ponto focal é o imponente edifício Altino Arantes, sede do Banespa47, inspirado no célebre Empire State Building48 de Nova Iorque. A construção do elevado Costa e Silva49 , em 1970, trouxe inúmeras consequências negativas para o centro da cidade, já amplamente conhecidas, porém, talvez a pior delas seja o fato do elevado ter tirado da São João o caráter de eixo visual, já que quando se trafega sob ele, perde-se a noção do todo e não se enxerga o ponto focal. O edifício Araraúnas, foco desta análise, é um dos muitos prejudicados pelo elevado, que está a apenas 5,00m de sua fachada.

A ocupação vertical da São João, assim como em quase todo o centro da cidade, foi intensa e acelerada a partir do início da década de 1940. Um exemplar notável, e precedente do edifício Araraúnas, é o edifício Trussardi, projetado por Rino Levi em 1941; este edifício possui elementos que serão incorporados por Franz Heep em vários projetos posteriores, como a subtração do volume principal por terraços, e fechamentos parciais com cobogós, atribuindo movimentos de cheios e vazios à fachada.

Av. São João em 1976Fonte: http://drivaneios.files.wordpress.com/2009/02/aveni-dasaojoao19701.jpg - acesso em maio de 2010

Ed. Trussardi - Rino Levi - 1941Fonte: FIGUEROA, Mário. Habitação coletiva em São Paulo 1928 -1972. Tese de doutora-mento. São Paulo: FAU/USP, 2002, p.203

Av. São João em 1942 - Edifício do BANESPA como ponto focal.Fonte: Revista Life, nº123, 1942

Av. São João atualmente - Eleva-do tira a percepção da avenida como um eixo visual.Foto: Edson Lucchini Jr

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

(47) - Banco do Estado de São Paulo, atual Santander S.A(48) - O Empire State Building é um arranha-céu de 102 andares de estilo Art déco situado na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. De 1931 a 1972 foi o edifício mais alto do mundo.(49) - Também conhecido por “minhocão”, o Elevado Costa e Silva é uma via expressa da cidade de São Paulo que liga o centro a zona oeste. Foi construído sobre a rua Amaral Gurgel e avenida São João e responsável, em parte, pela degradação do centro da cidade.

A Avenida São João

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O terreno onde localiza-se o Edifício Araraúnas situa-se na esquina da Alameda Glette com a Avenida São João e possui sua maior face voltada para esta. Conta com 570m² de área e uma geometria irregular, sem faces paralelas. O edifício possui térreo e mais 15 pavimentos, definindo uma proporção de 49,00m de altura por 36,00m de largura e aproximadamente 11,30m de profundidade no corpo elevado. A relação proporcional quase quadrada da fachada principal resultou numa volumetria onde a sensação de verticalidade não é tão intensa ao observador localizado no térreo, em frente ao edifício, fato reforçado pelo recuo obrigatório dos dois últimos pavimentos, por imposição legislativa da época. O gabarito não possui discrepâncias com o entorno, já que a grande maioria dos vizinhos foram construídos na mesma época, sob as mesmas premissas da legislação.

O edifício foi construído junto a três alinhamentos do terreno com os lotes lindeiros e com a Alameda Glette, porém, a principal face do volume, que é voltada para a avenida São João e orientada ao leste, é levemente curva, sendo portanto a única que não acompanha o alinhamento, deslocando-se gradativamente dele. A curvatura da fachada principal, assim como todos os demais elementos do edifício, resulta de decisões de projeto que revelam certo interesse; embora não haja como comprovar as verdadeiras intenções do arquiteto, restam algumas interpretações possíveis. O primeiro dos benefícios conseguidos pela curva é espacial, já que ela gera o aumento da superfície de fachada, consequentemente resultando numa maior área do pavimento tipo, e por fim, num maior número possível de unidades, ou em espaços mais generosos para elas. O segundo resultado importante obtido pela solução curva é o aumento da amplitude visual do edifício para quem trafega no sentido centro-bairro da avenida São João, ou para quem vem ao encontro dele pela Alameda Glette. Outro item a ser considerado é o fato de que a curvatura do volume principal o desloca gradualmente do alinhamento, liberando e ampliando o passeio da esquina, onde uma marquise também curva, cobre o espaço vazio criado. Além disso, esta curvatura também resulta num encurtamento do percurso do pedestre que vem na Avenida São João em direção à Alameda Glette, enaltecendo a inserção urbana do edifício. Hoje, com o fechamento lateral desta marquise de esquina para ganho de espaço interno das lojas, os conceitos de encurtamento de percursos e valorização da esquina se perderam.

corpo de circulação

vertical

volume principal

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- percurso de pedrestres sob marquise

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Terreno, implantação, volumetria e entorno

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O térreo ocupa praticamente a totalidade do lote, com exceção de dois pequenos vazios para a iluminação natural que beneficia cinco das seis lojas existentes. Todas estão voltadas para a Avenida São João, com exceção de uma, que é acessada pela alameda Glette. O subsolo do edifício não é destinado à garagens e não é servido pelos elevadores, funcionando apenas como estoque para as lojas. É acessado por escadas individuais, presentes em cada uma delas. O edifício conta com dois acessos no térreo. O social é feito pela avenida São João e se dá através de um corredor de 2,55m, que corresponde à largura de uma das kitchenettes dos pavimentos superiores. Este corredor leva à parte posterior do terreno, onde se encontra o corpo de circulação vertical. O acesso de serviço ocorre pela Alameda Glette. Um corredor, adjacente à divisa do lote, conduz ao hall de elevadores.

Situada em um volume destacado do principal, a circulação vertical do edifício é composta por dois elevadores e uma escada em forma de ferradura, sem patamar intermediário. Na transposição do primeiro andar para o térreo, a escada torna-se linear, já que o pé-direito mais elevado deste resulta num maior número de degraus.

O Araraúnas possui, assim como o edifício Icaraí (p.78), uma grelha que abriga os terraços, se tornando o principal elemento da fachada em ambos os edifícios. Porém, no Icaraí esta grelha é estrutural pois as paredes que dividem os terraços são pilares que sustentam as suas lajes e travam a estrutura do edifício. Já no Araraúnas, essas paredes que dividem os terraços não possuem papel estrutural; os terraços estão em balanço, com os pilares recuados da fachada e com um vão de 2,55m, que corresponde à largura das kitchenettes. No térreo há uma mudança no ritmo estrutural, de modo que o vão passa a ser

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loja

49 m²

loja

51 m²

loja

49 m² loja

49 m² loja

49 m²

loja

68 m²

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Esquema de distribuição do pavimento térreo

circulação horizontalcirculação verticallojas

Térreo do Araraúnas atualmenteFoto: Edson Lucchini Jr.

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Térreo e subsolo

Circulação Vertical

Estrutura

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de 5,10m, correspondendo exatamente à largura de duas das kitchenettes superiores. Esta mudança, possibilitada pela adoção de uma viga de transição, foi necessária para tornar as lojas maiores e com a planta livre.

O Edifício Araraúnas possui o mesmo arranjo espacial do 1º ao 13º andar, contando com 11 kitchenettes situadas na face curva do volume, todas voltadas para a avenida São João e orientadas ao leste. Além disso, são organizadas em pares, espelhadas entre si, definindo uma parede hidráulica comum para os seus respectivos banheiros. Na face voltada para a alameda Glette, com orientação sul, encontram-se unidades maiores, de um dormitório. A circulação horizontal nos pavimentos é feita por um corredor que, ventilado e iluminado por cobogós, acompanha a curvatura do volume principal. Esta solução, corrente em grande parte dos edifícios laminares da época, é fundamental para a ventilação natural das cozinhas e banheiros, já que eles estão voltadas para o corredor.

As unidades do tipo kitchenette possuem plantas compostas por uma cozinha, um banheiro, uma sala-living e um terraço, totalizando 25m². A cozinha conta com 1 metro de largura por 70cm de profundidade, espaço suficiente para abrigar uma pia com cuba, um fogão de duas bocas e uma pequena geladeira sob o tampo. O banheiro possui planta em “L”, derivada da subtração do espaço da cozinha. As medidas mais generosas do banheiro, são decorrentes da necessidade deste espaço também ser utilizado como uma opcional área de serviço, além do uso do bidê, muito comum na época. A sala-living é um espaço retangular de 2,55m de largura por 5,20m de profundidade, que possui um armário embutido junto à parede que a separa do banheiro, além de um caixilho piso-teto que a separa do terraço. É um ambiente cujas dimensões obrigam a compactação da função de dormir com a de estar, sugerindo o uso de um sofá-cama. O caixilho piso-teto que separa a sala-living do terraço é composto por uma porta de madeira com veneziana superior de ventilação permanente, além de duas folhas de vidro de correr com bandeira e peitoril também em vidro. Este caixilho, do mesmo tipo do utilizado no edifício Icaraí, confere uma boa ventilação e iluminação à sala-living, além de integrá-la visualmente ao

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Esquema de distribuição do pavimento tipo, do 1º ao 13º andar

Planta das unidades de 25m², do 1º ao 13º andar

Caixilho - sem a bandeira original comvenezianaFoto: Edson Lucchini Jr.

circulação horizontalcirculação verticalunidades

25 m²

42 m²

25 m²25 m² 25 m² 25 m²

25 m² 25 m² 25 m² 25 m² 25 m² 25 m²

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Pavimento tipo e unidades

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terraço, que é um espaço de 2,55m de largura por 1,10m de profundidade e funciona como uma espécie de brise, impedindo que o caixilho da sala-living fique diretamente exposto ao sol nascente. As kitchenettes do Edifício Araraúnas possuem um arranjo espacial muito semelhante às do edifício Icaraí, porém com dimensões bem inferiores. Pode-se afirmar que são as menores unidades de todas as demais estudadas nesta obra, e possivelmente, as menores projetadas por Heep em São Paulo.

Ao se observar o arranjo espacial em pares espelhados das kitchenettes, nota-se que a unidade da extremidade direita, para quem da avenida São João vê o edifício de frente, poderia ser maior que as demais, apropriando-se do espaço do corredor. Porém isso não ocorre, pois esse aumento de espaço traria uma mudança total no acesso e nas áreas molhadas desta unidade. Esta opção por mantê-la igual às demais pode ser justificada através de uma análise do método projetual de Heep, que, adepto ao ideário racionalista, priorizava a padronização e a repetição de elementos arquitetônicos e construtivos ao máximo possível. Assim sendo, o arquiteto optou por não mudar a planta desta unidade da extremidade do corredor, para não perder a vantagem da parede hidráulica comum para dois banheiros, já que o ganho de espaço não seria tão significativo.

Os apartamentos voltados para a alameda Glette possuem um programa definido por um hall de entrada, uma sala de estar e uma de jantar que compartilham o mesmo espaço , além de um dormitório, uma cozinha e um banheiro, somando 42m² de área útil. As aberturas em fita da sala e dormitório estão voltadas para a face sul, o que talvez explique o fato delas serem bem menores que as das kitchenettes, dotadas de caixilhos piso-teto envidraçados.

Os recuos impostos pela legislação geraram um escalonamento dos últimos dois pavimentos do edifício, tornando os seus arranjos espaciais diferentes dos demais inferiores. No 14º andar as kitchenettes são dispostas da mesma maneira que as dos andares inferiores, porém com a sala-living medindo 1,00m de comprimento a menos, e os seus terraços descobertos; as dez unidades do pavimento contam com 23m² cada, sendo portanto as menores do edifício. Este andar possui uma kitchenette a menos na extremidade esquerda, para quem da avenida São João vê o edifício de frente, graças ao escalonamento também necessário na fachada da alameda Glette; por este mesmo motivo, o 14º andar não conta mais com o apartamento de

Planta das unidades de 42m², do 1º ao 13º andar

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Esquema de distribuição do 14º pavimento

circulação horizontalcirculação verticalunidades

23 m²23 m²

23 m²23 m²

23 m²23 m² 23 m² 23 m² 23 m² 23 m²

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42m² voltado para alameda Glette, resultando num terraço de uso comum.

A diminuição de 1,40m no sentido longitudinal do 15º pavimento, graças a mais um recuo em relação ao 14º, acarretou na necessidade do aumento das dimensões das unidades no sentido transversal, porém, a consequência foi a redução do número delas no pavimento, que conta agora com apenas cinco unidades de um dormitório, com 39m² cada.

O arranjo espacial das unidades do 15º pavimento conta com um corredor de acesso, situado na porção central da planta, que separa a cozinha do banheiro; este conta com 3,30m², área suficiente para a colocação de vaso, pia, bidê e banheira. A cozinha possui 4,40m², podendo abrigar uma geladeira comum, sem a necessidade dos “kits” de cozinha compacta vistos na análise do edifício Normandie (p.50). O corredor termina num hall onde se acessa o dormitório e a sala; esta possui 10,00m² e pode abrigar as funções de estar e comer. O dormitório, cuja medida é de 8,40m², possui armário embutido. Tanto a sala como o dormitório, possuem ligação com o terraço descoberto. Esta distribuição de planta para apartamentos de um dormitório e dimensões semelhantes, repete-se com frequência na obra de Heep, como já visto no edifício Normandie, além de outros que foram estudados, como o Ibaté (p.94) e o Lucerna (p.160).

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Esquema de distribuição do 15º pavimento

circulação horizontalcirculação verticalunidades

39 m²

39 m²39 m²

39 m² 39 m²

Planta das unidades de 39m² do 15º andar

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Perspectiva do Araraúnas em sua condição original

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Na fachada principal do edifício Araraúnas, verificam-se três momentos distintos, que caracterizam uma base, correspondente ao térreo, um corpo principal, correspondente aos pavimentos de 1 a 13, e um coroamento, que corresponde aos dois últimos pavimentos (14º e 15º) escalonados. No térreo, predominam na fachada as portas metálicas das lojas, com bandeiras superiores em cobogós quadriculados de concreto para ventilação permanente. O acesso social é feito por uma porta de altura maior que a das lojas e de linguagem bem distinta delas, a fim de destacar a posição de entrada para a torre de apartamentos. No térreo também se destaca a marquise curva que protege a esquina, já mencionada anteriormente. Na porção térrea da fachada lateral, voltada para a rua Glette, não há elementos de destaque; apenas há a porta de uma loja, na mesma linguagem das da fachada principal, além do acesso de serviço do edifício.Edifício Araraúnas

Foto: Edson Lucchini Jr.

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Fachadas

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O corpo principal da fachada do Araraúnas, que é voltada para a avenida São João, tem como elemento principal uma grelha, onde cada unidade, que corresponde a um apartamento, possui de 2,55m de largura por 2,80m de altura e 1,20m de profundidade. A grelha abriga os terraços e segue a curvatura do volume principal, além de que perceptivamente, ela atribui cheios e vazios à fachada, criando terraços sombreados. Por mais que, em termos construtivos, se saiba que a grelha é um elemento adicionado ao corpo principal da edificação, em termos perceptivos, ela pode ser vista como quadrados subtraídos do volume maior. Os guarda-corpos dos terraços são compostos por tubos metálicos na parte inferior e por um elemento mais marcante e espesso em concreto na parte superior, que reforça as linhas horizontais da fachada. As kitchenettes da extremidade direita, de quem da avenida São João olha o edifício de frente, não possuem terraços, quebrando o ritmo corrente da fachada e definindo um elemento vertical que contrapõe a marcante horizontalidade, já citada dos terraços.

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A kitchenette da extremidade esquerda, de quem da avenida São João vê o edifício de frente, não pôde ter a abertura de seu banheiro voltada para o corredor como as demais. Portanto, a solução adotada para se resolver a ventilação e a iluminação dele foi voltar a sua abertura para a fachada lateral, através de uma “janela indevassável”. Este termo encontrado na matéria da revista Acrópole nº 214 sobre o edifício Araraúnas, se refere aos volumes retangulares salientes que se destacam na fachada lateral, ventilando e iluminando os banheiros sem deixá-los expostos. Além disso, são elementos que conferem volume, sombras e ritmo à fachada da alameda Glette. Esta, além dos volumes descritos, também é composta pelas janelas em fita dos apartamentos de um dormitório e por estreitas aberturas sem caxilho, que ventilam lateralmente os terraços das kitchenettes da extremidade esquerda, para quem da avenida São João vê o edifício de frente. A fachada da rua Glette, por estar orientada ao sul, de pouca insolação e ventos frios, possui mais superfícies opacas em alvenaria, além de caixilhos menores.

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No 14º andar, o recuo da fachada faz com que a grelha, que predominava nos andares inferiores, se transformasse em pórticos que separam as unidades, conferindo um elegante coroamento ao edifício; os pórticos, que ajudavam a minimizar a percepção do escalonamento dos últimos pavimentos, eram percebidos por quem trafegava na avenida São João e ruas do entorno. Foi sem dúvida uma solução criativa que o arquiteto encontrou para lidar com o escalonamento dos últimos pavimentos, imposto pela legislação da época; na maioria dos casos presentes na cidade, os edifícios com as mesmas caraterísticas não possuem nenhum tratamento arquitetônico em seus escalonamentos, resultando numa estética desagradável.

O Araraúnas possui uma grande semelhança tipológica ao edifício Icaraí, já estudado, não só no que diz respeito à planta, mas também com relação à fachada. Em ambos edifícios, Heep utilizou a idéia dos terraços, obrigando o recuo do caixilho, tirando-o da exposição direta ao sol. Como no Icaraí, os terraços criam uma fachada repleta de cheios e vazios. Porém hoje, com a presença do elevado Costa e Silva a menos de 6,00m do edifício, os terraços foram em sua maioria fechados por caixilhos de alumínio de diversos tipos, descaracterizando a fachada e empobrecendo o seu volume original, agora desprovido do jogo de sombras e da sensação de profundidade que os terraços abertos promoviam.

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O Edifício Araraúnas encontra-se hoje num estágio muito elevado de descaracterização com relação ao projeto original de Adolf Franz Heep, além da má conservação, muito comum no entorno e agravada certamente pela presença do elevado Costa e Silva a 6,00m da fachada principal. O fechamento dos terraços por caixilhos variados e a escolha de cores sem critérios, são os principais elementos que descaracterizam o edifício, originalmente pintado na cor branca. Além disso, os pórticos do coroamento foram fechados por diferentes tipos de caixilho e telhas de amianto, para ganho de área nos apartamentos dos dois últimos pavimentos, criando no topo do edifício uma desuniformidade visual, semelhante à de uma favela. No térreo, o principal fator de descaractarização é o fechamento lateral da marquise curva para ganho de mais uma loja. Isto prejudicou o conceito original de generosidade com o espaço público, já que o projeto tornava o passeio da esquina mais amplo e coberto.

Fotos do edifício Araraúnas atualmente - Descaracterização e degradaçãoFotos: Edson Lucchini Jr.

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Situação Atual

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planta do pav. térreoesc. 1:250

planta do pav. tipo1º ao 13º pav.esc. 1:250

1 - acesso social2 - áreas descobertas3 - acesso de serviço

4 - lojas

apto. 1 dorm. - 42 m²1 - sala estar/jantar2 - cozinha3 - banho

4 - dormitório

kitchenettes - 25 m²1 - banho2 - mini cozinha3 - sala-living

4 - terraço

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kitchenettes - 23 m²

1 - banho2 - mini cozinha3 - sala-living

4 - terraço

apto. 1 dorm. - 39 m²

1 - cozinha2 - banho3 - sala4 - dormitório5 - terraço

planta do 14º pav.esc. 1:250

planta do 15º pav.esc. 1:250

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corte AA

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fachada av. são joão

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fachada al. glette

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detalhe do térreo

detalhe da modulação da fachada

Marquise curva cobre a esquina; acesso social destacado das portas das lojas.Grelha dos terraços em balanço sobre o térreo.

Fachada modulada pelos terraços, cuja medida corresponte exatamente ao vão da estrutura. Utilização de caixilho piso-teto

detalhe do coroamento

Os Pilares do 14º andar tornam-se pórticos para conferir um coroamento elegante

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1º pav.: 2 kitch. de 44m², 9 kitch. de 35m2 2 ap. de 62m², 1 ap. de 71m2, 1 ap. 105m²

2º ao 8º pav: 4 kitch. de 44m2, 8 kitch. de 35m2

4 ap. de 62m²9º pav.: 2 kitch. de 44m², 8 kitch de 35m²

2 ap. de 66m², 3 ap. de 52m²10º pav.: 2 kitch. de 44m², 8 kitch de 35m²

2 ap. de 70m², 2 ap. de 62m²Total: 155 unidades

pça. roosevelt

r. marti

ns fontes

r. da consolação

r. nestor pestana

Otto Meinberg S.A

R. Nestor Pestana 87 - Centro

Irregular - 2780 m²

7.3 - Área total = 20.240m²

99 %

Razoável

Média

Térreo com 3 lojas e garagens, 2 sobrelojas, 2 subsolos - 292 vagas para autos

6.9 Edifício Guaporé 1956-59

Foto

: Eds

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u n i d a d e s

c o e f . d e a p r o v e i t a m e n t o

t a x a d e o c u p a ç ã o

c o n s e r v a ç ã o

d e s c a r a c t e r i z a ç ã o

o b s e r v a ç õ e s

c o n s t r u ç ã o

e n d e r e ç o e l o c a l i z a ç ã o

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O Edifício Guaporé está situado na rua Nestor Pestana, uma via de calha estreita, trânsito local e muito arborizada. É uma via de usos muito diversificados; num trecho de 400m encontram-se diversos bares, boates, edifícios comerciais, institucionais, residenciais e religiosos. A rua Nestor Pestana ainda conta com o teatro Cultura Artística, projetado por Rino Levi em 1942.

O Guaporé é mais uma de muitas obras da parceria Franz Heep - Otto Meinberg; num raio de 1,5km, são nove50 edifícios residenciais projetados por Heep e executados por Meinberg nos anos 1950. O Edifício Guaporé pode ser considerado híbrido, pois concentra usos comerciais, residenciais e institucionais; o térreo possui três lojas voltadas para a rua. Além disso, há duas sobrelojas que abrigam uma das sedes do CREA-SP. Há quatro níveis de garagens, totalizando 292 vagas para automóveis, o que representa um fato incomum na época, não só na obra de Heep, mas como nas demais situadas na região central da cidade, que na maioria dos casos nem sequer possuiam garagens.

O terreno onde situa-se o Guaporé possui a topografia plana no sentido perpendicular à rua Nestor Pestana e um desnível de 50cm no sentido da direita para a esquerda, para quem da rua, vê o edifício de frente. A geometria do terreno é irregular; na sua porção frontal, ele possui ângulos retos entre a face principal e as laterais, porém, nos fundos, o fechamento do polígono que define o lote se dá por divisas não paralelas, sem ângulos retos. A principal face do terreno, voltada para a rua Nestor Pestana, não é a maior e possui 33m; a face lateral direita mede cerca de 85m, configurando um terreno de 2780m² de área. O corpo elevado, situado no terço frontal do terreno e disposto de modo transversal em relação a ele; é composto por um embasamento de 33,00m de comprimento que faceia o alinhamento com a rua Nestor Pestana, por 34,20m de profundidade e 14,35m de altura, compreendendo o térreo mais dois andares de sobrelojas. O volume mais alto, que compreende os apartamentos residenciais, é divido em dois blocos, ambos situados sobre o embasamento; o bloco voltado para a rua Nestor Pestana está recuado 5,50m do alinhamento

bloco 2

bloco 1

circ.

vertical

circ.

vertical

garagens

embasamento

rua nestor pestana

Teatro Cultura Artística - Rino Levi - 1942Fonte: http://lucianasabbag.files.wordpress.com/2008/08/02.jpgacesso em janeiro de 2010

(50) - Ver tabela completa com a relação de edifícios e suas respectivas construtoras na página 8

Terreno, implantação, volumetria e entorno

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com ela e possui 33,00m de comprimento por 11,20m de profundidade e 28,70m de altura, porém, este bloco frontal sofre o escalonamento obrigatório, que abrange o 9º e o 10º andares; o fato deste bloco estar recuado 5,50m do alinhamento, minimizou este escalonamento dos andares superiores. O volume posterior, voltado para os fundos do lote, se separa do frontal por um vazio de 5,00m de largura por 20,00m de comprimento, e possui uma relação proporcional de 33,00m de comprimento por 12,60m de largura e os mesmos 28,70m de altura do volume frontal, porém, não sofre escalonamento. A disposição transversal do corpo elevado em relação ao terreno, possivelmente deve-se à orientação com relação à insolação; as faces do volume onde se localizam as áreas de estar e repouso dos apartamentos voltam-se para oeste no bloco frontal, e a leste no bloco posterior, favorecendo a insolação das unidades. Se a disposição dos blocos fosse no sentido longitudinal, certamente teria sido possível um melhor aproveitamento em termos de área construída, resultando em mais apartamentos, porém, isto acarretaria em blocos com faces orientadas no sentido norte-sul, prejudicando a insolação de metade das unidades residenciais, já que a orientação sul não é recomendada para ambientes de longa permanência. Isto é um indício de que a arquitetura, naquele momento, ainda era capaz de se impor em relação ao mercado, privilegiando a qualidade e a salubridade dos espaços, mesmo que isto gerasse menos lucro.

O embasamento e os dois blocos não possuem recuos laterais, conformando empenas cegas e possibilitando assim, a construção de edifícios vizinhos também sem recuos laterais. O lote lindeiro à lateral direita do Guaporé, para quem da rua o vê de frente, é ocupado por um edifício de gabarito semelhante; do lado esquerdo há um lote sem edificações, fato que permite a visão da empena cega lateral do edifício em análise. O entorno, apesar de possuir alguns terrenos vazios ou com construções de gabarito muito baixo, é composto predominantemente por edifícios verticais de gabarito maior ou igual ao do Guaporé.

Como já citado anteriormente, o Guaporé é um edifício híbrido, sendo que o térreo e as sobrelojas possuem usos comerciais e institucionais. A porção frontal do térreo, voltada para a rua Nestor Pestana, é dividida, no sentido

Térreo, embasamento e subsolo

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transversal, em cinco partes de larguras semelhantes; a parte da extremidade direita, para quem da rua vê o edifício de frente, é destinada à portaria dos blocos residenciais e das sobrelojas. A parte central representa o acesso de veículos às garagens e as demais partes correspondem às lojas. No sentido longitudinal, pode-se dizer que as lojas ocupam um terço do terreno; os dois terços restantes são ocupados por garagens cobertas, o que resultou numa taxa de ocupação do terreno de praticamente 100%. Há quatro níveis de garagens, que totalizam 292 vagas de estacionamento; no térreo, elas ocupam a área do terreno restante das áreas das lojas e dos acessos sociais. Sobre esta mesma projeção, há um pavimento destinado exclusivamente às garagens. O edifício ainda conta com dois subsolos, cujas plantas são praticamente idênticas; ambos ocupam a totalidade do lote.

A circulação vertical do edifício Guaporé possui duas situações distintas; o embasamento possui um elevador independente, assim como escadas, que possuem uma largura de 2,50m; estas dimensões generosas devem-se ao fato delas servirem às sobrelojas, que abrigam o CREA-SP, e portanto, possuem um intenso fluxo de pessoas. Nos blocos residenciais, a circulação vertical situa-se entre o bloco frontal e o posterior; há três elevadores dispostos lado-a-lado e escadas lineares, sem patamar intermediário, porém, diferentemente dos demais edifícios estudados, os elevadores e escadas não estão agrupados em um único nicho; a caixa de elevadores situa-se próxima à extremidade esquerda da planta, para quem da rua vê o edifício de frente, e as escadas localizam-se na extremidade oposta.

O pavimento tipo do edifício Guaporé apresenta-se disposto espacialmente do seguinte modo: a circulação horizontal, feita através de corredores, circunda o vazio existente entre os dois blocos, distribuindo os fluxos para os apartamentos. Os corredores são iluminados e ventilados naturalmente por cobogós retangulares de concreto; esta solução se faz necessária pelo fato das aberturas das cozinhas e banheiros das unidades estarem voltadas para o corredor.

Acesso ao hall de elevadores no térreoFoto: Edson Lucchini Jr.

Escadas de acesso às sobrelojasFoto: Edson Lucchini Jr.

r. nestor pestana

garagens

loja

115 m²

loja

125 m²

loja

140 m²

Esquema de distribuição do pavimento térreo

circulação horizontalcirculação verticallojas

Circulação Vertical

Pavimento tipo e unidades

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No 1º pavimento de apartamentos, situado logo acima do embasamento do edifício, é possível acessar o vazio central entre os blocos. Neste espaço, hoje utilizado como uma espécie de praça comum do edifício, quando se olha para cima, pode-se observar os fechamentos com os cobogós de concreto dos corredores de todos os pavimentos superiores. Ao analisar o projeto original, acredita-se que este espaço não tenha sido pensado para ser uma área de lazer do edifício, pois nele encontrava-se o depósito de lixo, cujo espaço hoje é ocupado pelo escritório do síndico; era comum em edifícios contemporâneos ao Guaporé a presença de dutos de lixo, por onde os sacos eram jogados de cada pavimento, caindo em um depósito térreo.

Há várias distribuições distintas das unidades ao longo dos pavimentos do Guaporé; o bloco posterior, voltado para o fundo do lote e orientado a leste, possui sempre a mesma distribuição de unidades do tipo kitchenette em todos os pavimentos, com duas unidades de 44m² nas extremidades da planta e oito unidades de 35m² na porção central. Já no bloco frontal, voltado para a rua Nestor Pestana e orientado a oeste, as unidades variam nas dimensões e nos arranjos espaciais de acordo com o pavimento. O fato do primeiro andar estar logo acima do embasamento permitiu que os apartamentos tivessem terraços descobertos de 5,50m de comprimento, que corresponde ao recuo da torre de apartamentos em relação ao alinhamento com a via. As cinco unidades do primeiro pavimento no bloco frontal possuem quatro arranjos espaciais e dimensões distintas; na extremidade direita da planta do primeiro pavimento, para quem da rua vê o edifício de frente, há um apartamento de 105m², o maior de todo o edifício, além de ser o único a possuir dois dormitórios e área de serviço com dormitório de empregada. Ao acessá-lo, depara-se com um corredor que distribui os fluxos para a área de serviço, cozinha e para as áreas sociais. Um único espaço de geometria retangular e 25m² de área abriga a sala de estar e de jantar, que, assim como os dois dormitórios, abrem-se para o terraço descoberto de 53m².

Esquema de distribuição do 1º pavimento

circulação horizontalcirculação verticalunidades

44 m² 44 m²35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m²

35 m² 62 m² 62 m²71 m²

pátio interno

terraçosdescob.

105 m²

r. nestor pestana

Planta da unidade de 105m² do 1º andar

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Na extremidade esqueda da planta do pavimento tipo, situa-se o segundo maior apartamento de todo o edifício com 71m² de área, contando com um dormitório; esta unidade também possui a sala de estar e o dormitório voltados para o terraço descoberto. Na porção central da planta do bloco frontal do primeiro pavimento ainda encontram-se duas unidades de 62m² e um dormitório, cujo arranjo espacial se repetirá nos andares superiores. Há também uma kitchenette de 44m²; ambos possuem abertura para o terraço descoberto sobre o embasamento.

Planta da unidade de 71m² do 1º andar

Planta da unidade de 62m² do 1º andar

Vazio central do Edifício Guaporé - cobogós de concreto dos corredoresFoto: Edson Lucchini Jr.

Cobogós de iluminação e ventilaçãoFoto: Edson Lucchini Jr.

“Praça” do 1º pavimentoFoto: Edson Lucchini Jr.

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Do 2º ao 8º pavimento, a distribuição das unidades ao longo dos andares é a mesma; o bloco frontal conta com duas kitchenettes de 44m² nas extremidades da planta e quatro apartamentos de 62m² e um dormitório, na porção central. As kitchenettes das extremidades do pavimento possuem um arranjo espacial muito semelhante ao das menores, de 35m², porém, contam com uma cozinha maior e disposta de maneira diferente. As kitchenettes menores possuem a distribuição espacial e conceitos iguais aos dos edifícios Araraúnas e Icaraí, projetados também por Heep e já estudados anteriormente. Os quatro apartamentos de 62m² contam com um corredor de entrada de 3,45m de comprimento, que separa o banheiro da cozinha, além de conduzir ao dormitório e à sala, ambos com saídas para os terraços cobertos, que do 2º ao 8º pavimentos possuem 3,00m de comprimento por 1,50m de largura.

circulação horizontalcirculação verticalunidades

44 m²

44 m² 44 m²

44 m²35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m²

62 m² 62 m² 62 m² 62 m²

r. nestor pestana

Esquema de distribuição do pavimento tipo, do 2º ao 8º andar

Planta das unidades de 62m² do 2º ao 8ª pavimento

Planta das kitchenettes de 35m² do 1º ao 10ª pavimento

Planta das kitchenettes de 44m² do 1º ao 10ª pavimento

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O 9º pavimento possui, no bloco frontal, uma distribuição diferente das unidades devido ao fato de ser o primeiro pavimento a sofrer o recuo obrigatório; não há mais kitchenettes, existindo apenas apartamentos de um dormitório, sendo que os dois das extremidades possuem 66m² e os três do centro possuem 52m², totalizando cinco unidades. Não há relevantes variações no arranjo espacial destes apartamentos com relação aos demais, também de um dormitório, descritos anteriormente.

O 10º pavimento sofre o segundo recuo obrigatório, causando uma diminuição do pavimento no sentido longitudinal; isto fez que se diminuíssem de cinco para quatro o número de unidades, agora, menores que as dos pavimentos inferiores no sentido longitudinal, mas maiores no sentido transversal. As duas unidades das extremidades são idênticas e espelhadas, contando com 70m² de área cada. As duas do centro também são iguais, espelham-se, e possuem 62m² cada; o arranjo espacial destas é único em todo o edifício. Elas contam com um hall de entrada de 3,50m², que também funciona como distribuidor de fluxos para todos os ambientes do apartamento, que são: sala de estar, dormitório, cozinha e banheiro. Há um terraço descoberto de 8,00m de comprimento por 1,85m de largura que é acessado pela sala e pelo dormitório. Os dois apartamentos das extremidades contam com 70m² de área e uma distribuição espacial onde não há hall de entrada; se adentra ao apartamento pela sala de jantar, que está contida no mesmo espaço retangular de 18,00m² que também abriga a sala de estar. Um corredor de 3,15m de comprimento distribui os fluxos para a cozinha, dormitório e banheiro.

circulação horizontalcirculação verticalunidades

circulação horizontalcirculação verticalunidades

44 m²

44 m²

70 m² 70 m²

66 m² 66 m²

44 m²

44 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

35 m²

52 m² 52 m² 52 m²

r. nestor pestana

r. nestor pestana

Esquema de distribuição do 9º pavimento

Esquema de distribuição do 10º pavimento

62 m² 62 m²

Planta das unidades de 62m² do 10ª pavi-mento

Planta das unidades de 70m² do 10ª pavi-mento

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Do 1º ao 9º andar, o ritmo de distribuilção estrutural do edifício Guaporé é o mesmo; nos apartamentos das extremidades o vão é de 3,90m, e nos demais, o vão é de 3,00m, que define a largura das kitchenettes no bloco posterior, e a largura dos quartos e salas no bloco frontal. Apenas no 10º pavimento, o que sofre o segundo recuo obrigatório, a necessidade de um novo arranjo espacial dos apartamentos obrigou uma mudança neste ritmo, apenas no bloco frontal, como mostram os esquemas ao lado.

Entre o primeiro pavimento e o embasamento existe uma transição estrutural que reduz o número de vãos de dez para cinco no sentido transversal. No sentido longitudunal, os vãos permanecem os mesmos. As necessidades espaciais que os usos presentes nas sobrelojas e no térreo possuem são obviamente diferentes dos usos residenciais, portanto, a transição se fez necessária para que as lojas do térreo e as sobrelojas fossem menos compartimentadas. O mesmo ritmo estrutural presente no térreo e sobrelojas, também é aplicado aos subsolos.

Esquema estrutural do 1º ao 9º pav.

Esquema estrutural do 10º pav.

Estrutura

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