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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Arq. Edson Lucchini Jr. Orientadora: Drª Ruth Verde Zein São Paulo 2010 edifícios residenciais Adolf Franz Heep: Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950

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UNIVERSIDADEPRESBITERIANAMACKENZIE

Arq. Edson Lucchini Jr.Orientadora: Drª Ruth Verde Zein

São Paulo 2010

edifícios residenciaisAdolf Franz Heep: Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

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edifícios residenciaisAdolf Franz Heep: Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

Arq. Edson Lucchini Jr

Orientadora: Drª Ruth Verde Zein

São Paulo 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

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Agradecimentos

Aos meus avós Vittoria e Domenico, que deram os primeiros passos...

Aos meus pais Rosa Maria e Edson, que ampararam os meus passos...

Aos queridos Renzo, Monica, Marilda, Dario, Luiz e Sonia, que me ajudaram a desviar das pedras.

Ao meu amigo, irmão e sócio Ricardo Ruiz Martos, pelo companheirismo, exemplo e paciência.

Ao amigo Friedrich Blanke e Marcia Prata, pela hospitalidade e a imensa colaboração com meu trabalho, com materiais e informações fundamentais.

À Diney e Reinaldo Martos pelo constante incentivo à carreira acadêmica e às correções deste trabalho.

À Ruth Verde Zein, minha orientadora, pelas inúmeras oportunidades oferecidas para a ampliação do meu conhecimento, além de me ensinar a escrever tecnicamente e analisar uma obra de arquitetura.

Ao amigo e professor Mario Arturo Figueroa Rosales, que me ensinou a ver a arquitetura que estudo hoje.

Aos integrantes da minha banca de qualificação Paulo J. V. Bruna, Mario Figueroa e Ruth Verde Zein pelas pertinentes considerações que foram fundamentais para a evolução deste trabalho.

Ao amigo Fernando Martinelli, pela cordialidade e o fornecimento de um material precioso para esta pesquisa.

Aos engenheiros Aizik Helcer, André Gorenstein e equipe da Construtora Auxiliar pelos depoimentos e materiais fornecidos.

Ao arquiteto Ruy Debs Franco, que nem imagina o quanto me motivou e inspirou para a execução deste trabalho.

Ao mestre Adolf Franz Heep, por ter deixado ótimos edifícios que inspiraram esta dissertação.

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para

Domenico Serio1918-2010

e

Carlos Alberto Ferreira1948 - 2010

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As razões que me levaram a escolher a obra residencial vertical de Adolf Franz Heep como tema deste trabalho, são fruto de referenciais oriundos da infância, somados a uma considerável coincidência recente.

Nos anos 1980, eu morava na cidade de Jundiaí, e visitava meus avós em São Paulo aos finais de semana. Enquanto os meninos daquela vila da Mooca só queriam jogar futebol, a minha alegria era passear de metrô com o meu avô, principalmente em direção ao centro da cidade. Embarcávamos na estação Belém e descíamos sempre na estação República. O fato do nível da plataforma estar muito abaixo do nível da cidade, faz com que a República seja uma estação dotada de muitas escadas rolantes, e isto, para uma criança, é muito atrativo.

Quando subíamos o último lance de escadas da estação, que leva à superfície, a cidade ia aparecendo gradualmente, e toda a sua pujança ia se revelando, na velocidade da escada rolante. Neste momento, formava-se em minha retina a imagem do edifício que mais me impressionava: o Itália, que, até então, eu nem imaginava que era um projeto de Franz Heep. Hoje, depois de uma certa vivência profissional e acadêmica, consigo justificar o encantamento pelo Itália sob premissas arquitetônicas, mas quando era criança, eu só conseguia dizer que adorava aquele prédio, mas sem saber exatamente o motivo.

Posso dizer que a minha relação com o centro da cidade, que desde criança era forte, se intensificou no momento em que passei a estudar arquitetura na Universidade Mackenzie. Em alguns momentos, quando me dispersava da aula, olhava pela janela do prédio nove e conseguia ver o topo do edifício Itália e um pedaço do Copan; era um privilégio, para um aluno de arquitetura, olhar para o lado e ver estes ícones da arquitetura paulistana tão próximos.

No sétimo semestre do curso, o meu então professor, Mario Figueroa, organizava passeios pelo centro com os alunos. Nesta época, ele escrevia o seu doutorado sobre edifícios residenciais modernos no centro de São Paulo; com os passeios, Mario mostrava aos estudantes estes edifícios in loco e contava um pouco da história de cada um. Foi neste momento que entendi, de uma maneira

Uma das saídas da estação República do metrô de São PauloFoto: Edson Lucchini Jr

Edifício Itália - 1956 - Adolf Franz Heep Foto: Edson Lucchini Jr.

Apresentação

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

V

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mais técnica e aprofundada, a importância de edifícios que desde criança me chamavam a atenção além do Itália, como o Viadutos (Artacho Jurado) e a Galeria Metrópole (Salvador Cândia e Gian Carlo Gasperini).

Dentre os edifícios residenciais que víamos nos passeios, dois me despertaram um maior interesse: o Ouro Preto, situado na avenida São Luiz, e o Lausanne, na avenida Higienópolis. Quando Mario Figueroa me disse que estes edifícios haviam sido projetados pelo mesmo arquiteto do Itália, um alemão chamado Adolf Franz Heep, quis conhecer outras obras deste arquiteto, até então desconhecido para mim.

Com o doutorado de Figueroa, pude conhecer mais dois edifícios residenciais de Heep: o Icaraí, situado na praça Roosevelt e o Normandie, na 9 de Julho.

Este interesse pela habitação vertical, produzida pela arquitetura moderna em São Paulo, me levou à escolha deste tema para a elaboração da monografia final do curso de arquitetura; nela, fiz um fichamento pouco aprofundado de treze edifícios modernos de habitação no centro de São Paulo, sendo que dentre eles, cinco eram de Franz Heep.

Cinco anos após a conclusão do curso de arquitetura, resolvi retomar o contato com os estudos e optei pelo mestrado. A escolha do tema ocorreu de maneira muito natural, devido ao meu grande interesse pela habitação vertical moderna. Mas era necessário um recorte mais preciso de toda esta vasta produção; foi aí que meu amigo e sócio, Ricardo Ruiz Martos, me disse: “Você não adora o Heep? Então, estude só a obra do Heep! Neste momento, surgia o meu tema de mestrado: os edifícios residenciais de Franz Heep em São Paulo.

Edifício Lausanne - 1953-58 - Adolf Franz Heep Foto: Edson Lucchini Jr.

Edifício Ouro Preto - 1954-57 - Adolf Franz Heep Foto: Edson Lucchini Jr.

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

VI

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Com o mestrado já em andamento, uma grande coincidência reforçou ainda mais a escolha do tema. Nos anos 1960, minha avó, Vittoria Birolini, e meu avô, Domenico Serio (o mesmo que passeava comigo de metrô) adquiriram um apartamento de veraneio na cidade de São Vicente, no litoral paulista; foi o local onde passei muitas de minhas férias, na infância e adolescência.

Em meados do ano de 2008, Friedrich Blanke, um amigo alemão que também estuda a obra de Franz Heep, me mostrava uma relação de obras do arquiteto no Brasil; ao observar a lista tive uma grande surpresa: o edifício Jequitibá, onde eu passava minha férias em São Vicente, é de autoria de Heep. Dentre as centenas de edifícios situados na orla de Santos e São Vicente, meus avós compraram justamente um apartamento num edifício de Franz Heep, sem saberem a autoria do projeto e sem imaginarem que, décadas mais tarde, eu viria a me interessar pela obra deste arquiteto.

Além das justificativas citadas, outro fator que contribuiu para escolha do tema é a ausência de estudos mais aprofundados sobre a produção residencial vertical de Heep. Encontram-se na internet, em dissertações de mestrado, periódicos e livros, inúmeras publicações sobre os edifícios mais famosos, como o Itália, o Lausanne e o edifício do jornal O Estado de São Paulo; porém, ainda não há uma obra que tenha como foco a produção de Heep para o intenso mercado imobilário paulistano dos anos 1950.

Diante de todas estas considerações pessoais, emocionais e arquitetônicas, creio ser válida e verdadeira a escolha deste tema, que visa resgatar e difundir a imagem de Adolf Franz Heep e a sua grande contribuição para a arquitetura, através de seus edifícios residenciais.

Edifício Jequitibá

Edifício Jequitibá e a intensa verticalização da orla de Santos e São Vicente Foto: Edson Lucchini Jr.

Edifício Jequitibá - 1957 - São Vicente, SP - Adolf Franz Heep Foto: Edson Lucchini Jr.

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

VII

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Sumário

Parte I

Parte II

Introdução

Os edifícios: objetos de estudo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

1Adolf Franz Heep: edifícios residenciais

Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

Acerca dos objetivos desta pesquisa 6

Sinopse / Abstract 4

Metodologia de trabalho 7

Referenciais teóricos 9

Da necessidade de reconhecimento de uma prática projetual

11

Modernidade de berço: a trajetória de Adolf Franz Heep da Europa ao Brasil

13

Algumas obras não residenciais significativas 17

A cidade que mais cresce no mundo: panorama da modernização e verticalização de São Paulo no pré e pós 2ª guerra

21

3.1 - Edifício do jornal O Estado de São Paulo 17

3.2 - Edifício Casa da França 18

3.3 - Edifício Souza Naves 18

3.4 - Edifício São Marcos 18

3.5 - Edifício Itália 19

3.6 - Igreja São Domingos 20

5.1 - Critérios metodológicos de análise 26

5.2 - Critérios de ordenação das análises 27

5.3 - Tabela geral dos edifícios a serem analisados

28

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Parte IIIConclusões

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

As análises 30

6.1 - Edifício Ouro Verde 31

113

142

160

7.1 - Tabela com os demais edifícios de Heep em São Paulo

249

7.2 - Considerações sobre os edifícios não analisados

251

8.1 - Inserção Urbana

253

8.2 - Insolação e conforto térmico

257

8.3 - Fachadas

261

8.1.1 - Valorização e entendimento de esquinas

254

8.3.1 - Grelhas

261

8.1.2 - Térreos elevados

255

8.1.3 - Implantação

256

6.2 - Edifício Normandie 50

6.3 - Edifício Icaraí 78

6.4 - Edifício Ibaté 94

6.5 - Edifício Lausanne

6.6 - Edifício Ouro Preto

6.7 - Edifício Lucerna - Cine Comodoro

6.8 - Edifício Araraúnas 183

6.9 - Edifício Guaporé 202

6.10 - Edifícios Lugano e Locarno 226

Sumário

2Adolf Franz Heep: edifícios residenciais

Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

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3Adolf Franz Heep: edifícios residenciais

Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

Sumário

8.4.1 - Geometria e racionalização

274

8.4.2 - Setorização e fluxos

274

8.4.3 - Arranjos espaciais e racionalização hidráulica

276

8.3.2 - Composição entre caixilhos, guarda-corpos, floreiras e cobogós; célula e todo

263

8.3.3 - Fachadas livres e caixilhos piso-teto 265

8.3.4 - Cobogós 266

8.3.5 - Uniformidade nas fachadas, dissimulação das compartimentações internas e aleatoriedade

268

8.3.6 - Ordem, simetria, assimetria e hierarquia

270

8.3.7 - Coroamentos

271

8.3.8 - Fachadas laterais e de fundos

273

8.4 - Plantas

274

9.1 - Considerações finais

283

9.2 - Bibliografia

284

9.3 - Anexos - desenhos originais

287

8.5 - Importância do detalhe bem resolvido

278

Capítulo 9

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AbstractSinopse

Adolf Franz Heep foi uma das mais importantes personalidades a deixar sua marca no pujante cenário arquitetônico paulistano e brasileiro dos anos 1950 e 1960; neste período, ele projetou inúmeros edifícios, sendo que alguns deles se tornaram referências da arquitetura brasileira tendo contribuído para as transformações que elevaram a cidade de São Paulo ao patamar de metrópole moderna.

Nascido na cidade de Fachbach, Alemanha, no ano de 1902, Heep forma a sua personalidade arquitetônica num momento histórico em que as discussões sobre os conceitos de moradia mínima e de racionalização eram recorrentes. Em Paris, nos anos 1930, após trabalhar com Le Corbusier, desenvolve alguns edifícios verticais de habitação para a classe média, em sociedade com Jean Ginsberg; esta experiência foi fundamental para a definição das bases de sua produção paulistana, anos mais tarde.

Após a 2ª guerra mundial, Franz Heep chega a São Paulo, onde atuará na consolidação e racionalização de um modelo vertical de morar, produzindo duas dezenas de edifícios residenciais que serão o objeto desta pesquisa.

A partir de um reconhecimento sistemático dessa produção foi realizado o estudo pormenorizado, de caráter descritivo e analítico de uma amostra de dez edifícios projetados por Heep em São Paulo, destacando os seus aspectos espaciais, plásticos, técnicos e urbanos; como método para aprofundar os estudos, os edifícios foram redesenhados em meio digital, não apenas com o intuito de ilustrar as situações descritas no texto, mas também de registrar graficamente as suas condições originais.

Esta pesquisa visa não apenas gerar uma documentação gráfica de qualidade acerca dos edifícios residenciais de Franz Heep, mas também identificar elementos recorrentes, que revelam o perfil projetual do arquiteto, contribuindo para o conhecimento mais aprofundado de sua obra e a ampliação do reconhecimento da arquitetura moderna brasileira e paulistana.

Adolf Franz Heep was one of the most important personalities to live his mark over the strong architectonic scenarios in São Paulo and Brazil in the years of 1950 and 1960. Around that period, he had projected countless buildings in a way that some of than turn to be a reference of the Brazilian architecture along with a contribution to transform São Paulo in one of the cities that reach status of modern metropolis.

Born in the city of Fachbach in Germany on the year of 1902, Heep develops his architectonics personality during a special moment in the history when appealing discussions about minimal dwelling places and rationalization were frequent. In Paris during 1930 years, after have worked for Le Corbusier, he develops various vertical housing buildings, focusing the middle class, together with Jean Ginsberg. That experience was fundamental for the definition of the basis in his production in Sâo Paulo City later on.

After the 2º World War Franz Heep arrives in São Paulo were he worked on the consolidation and rationalization of a vertical way of leaving the same time as he produced two groups of ten buildings, witch will be the object of this research.

Beginning from the systematic recognition of this production, it was accomplish a detailed scrutiny, focusing analyses and description on a sample of ten buildings developed by Heep in São Paulo, enhancing its spatial, plastics, technical and urban aspects as a method to go deeper on the dissection of the buildings itself. Those buildings, chosen to be the object of the analyses, were redesigned by digital methods not only to illustrate the diverse situation described in the text, but to record graphically the original conditions of the project made by Heep.

This research aim, not only, generate quality graphical documentation about the residential buildings projected by Franz Heep, but also identify appealing elements that reveal the way of working profile attitude of the architect. This is our contribution to go deeper in the knowledge of his achievements and enlarge the recognition of the modern architecture in Brazil and São Paulo city.

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

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Parte I Introdução

Adolf Franz Heep ao lado da maquete do Edifício Itália - final dos anos 1950Fonte: Acervo pessoal de Friedrich E. Blanke

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O arquiteto e professor Marcelo Barbosa, concluiu no ano de 2002 o seu mestrado pela FAU-USP, cujo título é “A obra de Adolf Franz Heep no Brasil”. É um importantíssimo trabalho sobre a obra deste arquiteto, que abrange toda a sua produção em nosso país, inclusive muitos dos edifícios que serão estudados neste trabalho.

A amplitude e complexidade do recorte escolhido por Barbosa para o seu mestrado, definiu um caráter panorâmico, enfatizando o reconhecimento da obra de Franz Heep. Na atual dissertação se propõe, em contraponto, um estudo pontual, que justamente busca dar continuidade aos estudos já iniciados sobre a obra deste arquiteto. O objeto de pesquisa será um estudo aprofundado, mas apenas dos edifícios residenciais verticais, produzidos por Heep em São Paulo.

Adolf Franz Heep é praticamente um desconhecido do público em geral, talvez pelo fato dele não ter trabalhado muito com obras públicas, como Oscar Niemeyer ou Vilanova Artigas por exemplo, somado à ínfima difusão que a arquitetura possui nos meios de imprensa do Brasil. Porém, se pode afirmar que ele é bem reconhecido no meio acadêmico, por ter projetado alguns edifícios icônicos da metrópole paulistana, como o Itália, o do jornal O Estado de São Paulo e o Lausanne; porém, a grande maioria dos exemplares de sua considerável contribuição para a arquitetura moderna paulistana e para a habitação coletiva voltada ao pujante mercado imobiliário dos anos 1950, repousam no esquecimento.

Diante destes fatos, a presente pesquisa visa estudar sistematicamente dez dos vinte e um edifícios residenciais de Franz Heep em São Paulo, através da análise pormenorizada dessas obras, com foco em seus aspectos formais, construtivos e de detalhamento arquitetônico; as análises contarão com o redesenho dos edifícios, afim de produzir um conteúdo gráfico de linguagem uniforme.

A pesquisa visa também realizar análises mais abrangentes sobre o conjunto dessa obra, de modo a identificar elementos recorrentes do repertório de Heep, utilizados em seus edifícios; com isso, será permitido traçar muito do seu perfil como arquiteto e o seu modo de reagir frente às inerentes condicionantes de um projeto.

Acerca dos objetivos desta pesquisa

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Enfim, este trabalho se propõe a produzir um conteúdo gráfico que contribua com a documentação da arquitetura moderna paulistana e brasileira, difundindo-a de modo a que todos os interessados por habitação coletiva e pela obra de Franz Heep, contem com uma fonte de pesquisa de qualidade e de fácil compreensão.

Após a escolha do tema e a definição dos edifícios residenciais de Franz Heep em São Paulo como recorte, iniciou-se o primeiro passo da pesquisa: procurar a relação exata de edifícios projetados por Heep em São Paulo. Esta listagem foi encontrada, em grande parte, na dissertação de mestrado de Marcelo Barbosa, e em pesquisas feitas anteriormente para a elaboração da tese de doutorado de Friedrich Blanke1.

Paralelamente a isso, se iniciaram estudos para a elaboração de um capítulo introdutório. Este deveria ser capaz de contextualizar, de forma concisa, a inserção dos edifícios de Franz Heep na cidade de São Paulo, cujo panorama, no pós 2ª guerra mundial, era de uma intensa verticalização e modernização. Além disso, o trabalho ainda conta com uma breve biografia, que traça a trajetória profissional de Franz Heep, da Europa ao Brasil.

Em relação aos edifícios, como resultado da primeira etapa de pesquisa foram identificados vinte e um exemplares residenciais verticais projetados por Heep na cidade de São Paulo. Consequentemente se definiu o recorte temporal do trabalho, que abrange o período entre 1949 a 1959 (ver tabela na página 8).

Com a identificação e a localização destes vinte e um edifícios, se iniciou o processo de visita a cada um deles, para levantamento fotográfico e um primeiro contato com os síndicos, em busca de algum material que pudesse contribuir com a elaboração dos desenhos. Em muitas situações, não foi permitido o acesso ao interior dos edifícios e não foi fornecido nenhum tipo de material; nestes casos, foi preciso contatar a construtora que executou o edifício, porém, somente uma entre as quatro2 com quem Heep trabalhou, ainda funciona nos dias de hoje e pôde fornecer algum tipo de material gráfico.

(1) - Friedrich E. Blanke, alemão residente no Brasil, está com sua tese de doutoramento em andamento com o título “O arquiteto Adolf Franz Heep e a influência dele na arquitetura de São Paulo” pela Carl von Ossietzky Universität Oldenburg, na Alemanha(2) - A construtora Auxiliar é a única que ainda atua na área da construção civil nos dias de hoje, dentre os dez edifícios escolhidos para análise; as demais, C.N.I, Otto Meinberg S.A e Dacio. A de Moraes foram extintas.

Metodologia de trabalho

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

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Para as situações em que não se conseguiu material referente aos edifícios, nem com os síndicos e nem com as construtoras, se tentou recorrer ao DAMP3 da prefeitura de São Paulo, porém, não foi obtido sucesso em nenhum dos casos em que esta solução foi necessária; portanto, em algumas situações, não foi possível coletar nenhum tipo de material gráfico, o que prejudicou ou impediu a análise do edifício.

A revista Acrópole foi uma importante fonte de pesquisa; seis4 dos vinte e um edifícios, foram publicados nesta revista, fator que contribuiu com a análise deles neste trabalho. A revista Habitat também foi utilizada na pesquisa, já que publicou dois5 edifícios de Heep.

Após a coleta de todo material possível sobre os vinte e um edifícios, se iniciou uma pré-análise, em que eles foram organizados segundo grupos tipológicos distintos. Com isso, foi possível constatar que em cada categoria tipológica identificada, havia um edifício-chave, cujos elementos principais foram retomados em outros exemplares de seu grupo. Dos vinte e um edifícios conhecidos, se pode dizer que doze possuem elementos tipológicos marcantes e distintos, que foram retomados nos demais nove. Após esta conclusão, a idéia inicial de analisar os vinte e um edifícios foi abandonada, pois o trabalho poderia se tornar repetitivo; portanto, as análises se concentrariam em doze edifícios-chave que definem matrizes tipológicas indicadas pelo enfoque da pesquisa.

Infelizmente, em dois casos, o material conseguido não foi suficiente para a elaboração de uma análise completa; isto definiu, como amostra final, um grupo de dez edifícios.

A partir daí se iniciavam as análises de cada caso. A primeira fase é gráfica; foram redesenhadas o máximo de plantas, cortes e fachadas possíveis de cada edifício, por meio vetorial computadorizado (CAD). A quantidade de desenhos de cada obra, dependeu necessariamente da qualidade e quantidade de material primário conseguido.

Com as plantas concluídas, todos os edifícios escolhidos foram modelados em três dimensões através de um “software” específico para este fim. A modelagem digital dos edifícios teve a intenção de resgatar suas feições originais, que em muitos casos se perderam nos dias de

os dois edifícios que não entraram na amostra a ser analisada por falta de material

os dez edifícios selecionados

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

(3) - O DAMP ( Divisão de Arquivo Municipal de Processos) é um setor da Prefeitura de São Paulo que tem como atribuição conservar o acervo de processos administrativos encerrados, dos exercícios de 1921 até hoje.(4) - Os edifícios de Heep publicados na Revista Acrópole são: Normandie, Icaraí, Ouro Preto, Araraúnas, Lausanne e Lugano e Locarno(5) - Os edifícios de Heep publicados na Revista Habitat são: Ibaté e Tucumàn

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hoje através de reformas arbitrárias ou pela degradação sofrida. Foram também desenhados diversos croquis analíticos, que ilustram as situações descritas nos textos. Cabe afirmar que todos os desenhos elaborados por meio digital presentes neste trabalho, foram executados pelo próprio autor; acredita-se que o domínio do processo gráfico, contribuiu muito para a elaboração das análises textuais, já que o redesenho de uma obra seja talvez a maneira mais fácil de compreendê-la. Além disso, há uma linguagem gráfica única para todos os edifícios analisados, de modo a criar uma sistematização, que visa facilitar a visualização e o entendimento dos projetos.

A primeira página de cada obra consiste sempre numa ficha técnica, com informações sucintas sobre o edifício. As páginas seguintes são destinadas aos textos, que são divididos em alguns temas arquitetônicos; em cada um há um momento meramente descritivo, sempre seguido por conclusões analíticas, deduzidas das descrições. Considerações mais detalhadas referentes à estrutura de análise de cada edifício serão comentadas no capítulo 5, na página 26.

Após as análises das dez obras há um capítulo de conclusões gerais, onde se encontram as relações entre os edifícios e a identificação de elementos recorrentes nas obras.

A metodologia de análise presente nesta obra é fruto da somatória de referenciais teóricos extraídos de trabalhos anteriores, como artigos, livros, dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Os artigos escritos por Catharine Gatti para as revistas Projeto (1987) e AU (1994) constituem pesquisas importantíssimas e pioneiras sobre a obra de Adolf Franz Heep e a sua contribuição para a arquitetura. Além de abrirem caminho para estudos posteriores sobre Heep, os artigos de Catharine serviram de base teórica para a presente pesquisa.

A dissertação de mestrado de Marcelo Barbosa6, cujo tema é a obra de Adolf Franz Heep no Brasil, foi muito

Referenciais teóricos

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

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(6) - Marcelo Consiglio Barbosa é arquiteto e professor da FAU-MACKENZIE.

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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

importante para a elaboração do trabalho atual, pois conta com muitas fontes primárias e uma primeira abordagem sobre muitos dos edifícios que serão aqui estudados.

Outra importante fonte para a elaboração deste trabalho foi a dissertação de mestrado da Drª Ruth Verde Zein7, cujo título é ”Arquitetura brasileira, escola paulista e as casas de Paulo Mendes da Rocha”. Apesar desta dissertação contar com um tema bem diferente do trabalho atual, ela foi fundamental para a definição dos parâmetros metodológicos de análise arquitetônica que foram aqui utilizados.

O livro “Arquitetura Metropolitana” de Denise Xavier8, também contribuiu com a elaboração do sistema de análise desta dissertação, e com temas pertinentes à contextualização das obras aqui estudadas.

A tese de doutorado do Mario Arturo Figueroa Rosales9, cujo título é “Habitação Coletiva em São Paulo, 1927>1972”, além da similaridade com o presente tema, também representa uma importante referência para a elaboração desta dissertação. Além das razões teóricas, a tese de Figueroa, com o seu pioneiro sistema de fichamento de edifícios, inspirou a composição das fichas de análise de cada obra desta dissertação.

(7) - Ruth Verde Zein é arquiteta pela FAU-USP (1977), mestre pela UFRS (1999) e doutora pela UFRS (2005) e pós-doutora pela FAU-USP (2008) e orientadora desta presente pesquisa.(8) - Denise Xavier é arquiteta pela FAU PUCCAMP (1988) e mestre pela EESC- USP (2000).(9) - Mario Arturo Figueroa Rosales é arquiteto formado pela FAU PUCCAMP (1988) doutor pela FAU-USP (2002)

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Considera-se da maior relevância o reconhecimento de uma prática projetual corrente entre os arquitetos da geração de Adolf Franz Heep. Neste capítulo, haverá uma breve reflexão sobre a qualidade projetual proposta por essa geração de arquitetos, em contraposição às práticas atuais, através do uso de exemplos relevantes da arquitetura moderna paulistana, preferencialmente no âmbito dos edifícios verticais habitacionais, já que estes são o objeto deste trabalho.

As décadas de 40 e 50 marcaram um período áureo da arquitetura paulistana. Nesses anos, promotores do recém-nascido mercado de incorporações, incumbiram muitos excelentes arquitetos da época, da missão de projetar edifícios habitacionais verticais, principalmente nas áreas centrais, num primeiro momento, e mais tarde ao longo do setor sudoeste da cidade, onde alguns bairros inteiros foram construídos com excelentes exemplares habitacionais verticais.

Os edifícios projetados nesta época, por nomes como Vilanova Artigas, Adolf Franz Heep, Abelardo de Souza, Maurício Kogan, e muitos outros, destacam-se por demonstrarem relações claras e elementos desenhados segundo uma estrutura que acusa uma ordem categórica, utilizando-se muitas vezes de um tipo de fechamento em painéis modulados. Esses painéis são grandes caixilhos que geralmente são do tipo piso-teto, dotados de venezianas tipo “guilhotina”. No mercado da época, este caixilho amplamente utilizado se chamava “Janela Ideal”. Considerações mais completas sobre este tipo de caixilho serão vistas na análise do edficío Ibaté (p.94), de Franz Heep, que utiliza este recurso. (ESPALLARGAS GIMENEZ, 2009)

Capítulo 1Da necessidade de reconhecimento de uma prática projetual

“Para mim, ela (arquitetura moderna) depende de uma relação necessária entre três determinantes: o programa de necessidades; a técnica construtiva e a intenção plástica dentro de uma condição indispensável, a atualização sincrônica dessas providências”(LEMOS, 2005)

Propaganda da Janela “Ideal” Fonte: Revista Acrópole nº236, janeiro de 1958

Edifício Louveira – J.B. Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi – 1946.Fonte: Vilanova Artigas – arquitetos brasileiros – brazilian architects. São Paulo: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi: Fundação Vilanova A.rtigas, 1997

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A boa qualidade projetual dos edifícios se dá por muitos aspectos, como clareza, pertinência, eficiência e economia, além do fato das fachadas não sugerirem decisões associadas a estilos, figuras ou modelos, excluindo a arbitrariedade e o exagero. São obras concisas e consistentes, captadas pelo olhar e rapidamente associadas à estética moderna. Além disso, “não há mediação entre as partes porque há precisão construtiva e as medidas justas correspondem a múltiplos” (ESPALLARGAS GIMENEZ, 2009).

Isso se aplica também aos ambientes, que são uma “sucessão de quadriláteros regulares e íntegros a partir da laje que é seu retângulo maior”, gerando plantas sintéticas que resolvem a questão funcional. (ESPALLARGAS GIMENEZ., 2009).

Hoje em dia, e já há alguns anos, nota-se uma situação bem diferente O tema “habitação vertical” está fatalmente vinculado à produção comercial voltada ao lucro, menosprezando o projeto e colocando-o em um papel secundário. Edifícios são indiscriminadamente copiados por toda a cidade, resultando em obras que não foram pensadas para o terreno onde elas se encontram, ignorando assim a relação com ele e com a cidade.

No início dos anos 60, com a consolidação do modelo de morar em edifícios verticais, a demanda cresceu abruptamente fazendo com que as construtoras passassem a fazer uso de soluções mais simplificadas, com o intuito de diminuir custos e prazos. Assim, as decisões de projeto passaram das mãos dos arquitetos para as mãos do incorporador resultando no tipo de edifícios massificados que encontramos hoje por toda a cidade de São Paulo.

Por um lado há este tipo de construção sem atributos, e por outro, há o tipo de arquiteto que ao tentar combater esta monotonia acaba esbarrando em soluções “pretensiosas, caras e inclusive ineficientes”, que podem surpreender pela imponência, elevando o nome do autor, mas que na verdade ocultam grandes falhas no uso dos materiais e nos demais aspectos construtivos. (ESPALLARGAS GIMENEZ., 2009)

Edifício Paulicéia - Jacques Pilon (colaboração de Gian Carlo Gasperini) - 1958Fonte: Revista Acrópole nº246, 1958, p. 205

Edifício Paulicéia - Jacques Pilon (colaboração de Gian Carlo Gasperini) - 1958Fonte: Revista Acrópole nº246, 1958, p. 206

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“Nessa modernidade cenográfica, a intenção plástica se sobrepõe e é absolutamente independente do programa de necessidades e condiciona ou domina à sua vontade caprichosa o sistema estrutural”. (LEMOS, 2005)

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Este capítulo10 tratará brevemente da vida e obra de Adolf Franz Heep, desde a sua formação européia à sua produção no Brasil, para que se compreenda melhor como o contexto de sua época definiu o seu perfil como arquiteto, ressonando diretamente em seu trabalho na cidade de São Paulo.

Adolf Franz Heep é natural da cidade de Fachbach, Alemanha; nasceu no dia 24 de julho de 1902. Estudou arquitetura na Escola de Artes e Ofícios de Frankfurt, que assim como a Bauhaus11, foi uma escola que sofreu profundas reformas no ensino da arte e da arquitetura; entre outros fundamentos, a nova tendência enfatizava a necessidade do projeto se voltar para uma prática afinada com as realidades contemporâneas, baseada na separação daquilo que é meramente arbitrário do que é essencial e típico, sem abrir mão da criatividade e do design.

Na escola de Frankfurt, Heep teve a oportunidade de ser aluno de Walter Gropius e Adolf Meyer, com quem posteriormente trabalhou na prefeitura de Frankfurt, entre 1924 a 1928. Neste período, a construção dos bairros de Höhenblick e Römerstadt12, de Ernst May, ocorriam na cidade; lá já se utilizavam métodos de construção industrializada com o uso de paredes em painéis pré-fabricados e caixilharias padronizadas, elementos que comparecerão em seu trabalho no Brasil, décadas depois.Na mesma época em que Heep trabalhava em Frankfurt, ocorria o II CIAM, em 1929, nesta mesma cidade, com o tema “A moradia para o mínimo da existência”.

Diante desses fatos, é possível inferir que a formação da personalidade arquitetônica de Heep se deu num contexto em que racionalização, padronização e pré-fabricação, eram itens amplamente discutidos e difundidos nas práticas profissionais arquitetônicas da Alemanha, que se espalharam posteriormente para o mundo.

No ano de 1928, Heep se mudou para Paris. Trabalhou por um curto período no escritório de André Lurçat13, que o apresentou a Le Corbusier; Heep colaborou com o mestre franco-suíço por quatro anos, devido à sua já considerável experiência adquirida em canteiros de obras.

Capítulo 2Modernidade de berço: a trajetória de Adolf Franz Heep da Europa ao Brasil

Bairro Höhenblick - Frankfurt - AlemanhaFonte: http://farm3.static.flickr.com/2026/2303433900_5e48cab5e6.jpg?v=0

Bairro Römerstadt - Frankfurt - AlemanhaFonte: http://farm3.static.flickr.com/2026/2303433900_5e48cab5e6.jpg?v=0

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(10) - As informações presentes neste capítulo foram compiladas a partir das seguintes obras: BARBOSA, Marcelo Consiglio. A obra de Adolf Franz Heep no Brasil. Dissertação [Mestrado em Arquitetura e Urbanismo] - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2002; GATTI, Catharine. Perfil do arquiteto - Franz Heep. Revista Projeto nº 97, São Paulo, março de 1987, p. 98-104(11) - A Bauhaus foi uma escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda que funcionou entre 1919 e 1933 na Alemanha (ARGAN, Giulio Carlo; Arte moderna; São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1992)(12) - Höhenblick e Römerstadt são bairros de Frankfurt cujos projetos foram desenvolvidos por Ernrst May, H. Boehm e C.H. Rudloff (BARBOSA, 2002, p.17)(13) - André Lurçat, arquiteto modernista francês, estudou na Ecole des Beaux-Arts de Nancy, e possuia um escritório de arquitetura, design de móveis e urbanismo em Paris nos anos 1930. (COHEN, Jean-Louis. André Lurçat (1894-1970): l’autocritique d’un moderne, IFA, 1995.)

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Em 1932, Heep ficou sócio do polonês Jean Ginsberg14. Eles tiveram a oportunidade de projetar alguns edifícios residenciais em Paris que se tornariam referência de qualidade para a arquitetura destinada ao mercado imobiliário da época. O método racional, que conciliava uma arquitetura capaz de atender às necessidades da classe média com baixo custo de execução, primava pela ausência de formalismos gratuitos, porém, sem abrir mão de um bom aspecto estético, em concordância com a época. No ano de 1945, Heep encerra a parceria com Ginsberg e volta para a Alemanha, arrasada pela guerra.

O despedaçado ambiente europeu do pós-guerra, fez com que muitos profissionais de várias áreas realizassem uma verdadeira diáspora, em busca de campos de trabalho mais férteis. No âmbito da arquitetura, a Europa pouco tinha a oferecer, devido a um cenário econômico precário, tornando a profissão do arquiteto subordinada a trabalhos de reconstrução.

A divulgação na Europa do livro “Brazil Builds” despertou o interesse desses profissionais desiludidos pela destruição da guerra, soando como uma possibilidade da produção de uma arquitetura de vanguarda, num pais em desenvolvimento, com muito a se fazer.

A arquiteta italiana Lina Bo Bardi, que imigrou da Itália para o Brasil em 1946, descreve assim sua reação ao ter contato com o livro “Brazil Builds”:

Além de Lina, nomes como Lucjan Korngold (Polônia), Hans Broos (Áustria), Giancarlo Palanti (Itália), Gian Carlo Gasperini (Itália), Victor Reif (Polônia) entre muitos outros, vieram ao Brasil, onde viveram e obtiveram muito êxito na prática arquitetônica. Com Adolf Franz Heep não foi diferente. Ele chegou ao Brasil em 1947; passou alguns dias no Rio de Janeiro e logo veio à capital paulista. Elgson Ribeiro Gomes15, que trabalhou muitos anos com Heep em São Paulo, relata em entrevista a Friedrich Blanke uma história sobre a chegada do arquiteto a São Paulo:

“Quando estava no último ano de faculdade, saiu um livro sobre a grande arquitetura brasileira, que, naquele tempo, no imediato pós-guerra, foi como um farol de luz a resplandecer num campo de morte (...) era uma coisa maravilhosa.” (PROJETO, 1992, p.64)

Lina Bo Bardi

Gian Carlo Palanti

Capa do livro “Brazil Builds”Fonte: http://www.coverbrowser.com/image/dust-jackets/1653-5.jpgacesso em maio de 2009

Lucjan Korngold

Hans Broos

Gian Carlo Gasperini

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(14) -Jean Ginsberg, arquiteto polonês, foi para Paris no ano de 1924; estudou na Ecole Spéciale D’architecture e abriu seu escritório na mesma cidade em 1930. Foi sócio de Franz Heep de 1932 a 1945. (BARBOSA, 2002, p. 20)(15) - Elgson Ribeiro Gomes é arquiteto formado pela Universidade Mackenzie. Trabalhou no escritório de Franz Heep nos anos 1950. Em 1959, se mudou para Curitiba, onde contribuiu para a consolidação da arquitetura moderna local. (GNOATO, L. Salvador P. Arquitetura e urbanismo de Curitiba – transformações do Movimento Moderno. Tese de Doutorado: FAU USP, São Paulo, 2002)

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“Heep chegou em São Paulo de trem e se hospedou num hotel próximo à estação da Luz. Ao olhar os detalhes horrorosos das janelas do quarto em que ele estava, logo pensou: “eu sei fazer detalhes de janelas muito melhores; serei feliz neste país”.

Certamente, Heep buscava, no progresso econômico que a cidade de São Paulo vivia e na citada vanguarda arquitetônica que havia no Brasil de então, uma atraente possibilidade para exercer a sua arquitetura. Além disso, alguns familiares de sua esposa já residiam no Brasil, fator que contribuiu para a sua vinda.

Heep foi procurar emprego; saiu pela cidade de São Paulo olhando as placas de grandes obras, a fim de conhecer os escritórios. A placa com o nome de Jacques Pilon chamou a sua atenção, por ser um nome francês, cuja língua era de total domínio para ele.

Franz Heep procurou Jacques Pilon, que possuía um dos maiores escritórios de projetos de São Paulo na época. A experiência adquirida por Heep em seus trabalhos com Jean Ginsberg e Le Corbusier, além da fluência na língua francesa, foram decisivas para a sua contratação por Pilon, que também fora um arquiteto imigrante, mas em condições totalmente diferentes das de Heep.

Trabalhando no escritório de Pilon, Heep contribui muito para a mudança do perfil projetual do escritório, ainda vinculado aos estilos acadêmicos e ao Art Decò. O principal exemplo disso, é a alteração do projeto da nova sede do jornal O Estado de S. Paulo.

Ainda no escritório de Pilon, Heep desenvolve diversos edifícios comerciais e residenciais; entre os destinados às moradias, encontram-se o edifício Davina Lara Nogueira, situado na avenida São João e o Tinguá, situado no largo do Arouche. Ambos encontram-se na relação dos vinte e um edifícios residenciais de Heep em São Paulo, pré-selecionados para análise neste trabalho.

Heep trabalhou no escritório de Pilon até 1950; neste mesmo ano, montou uma sociedade com Henrique Mindlin16, que durou pouco tempo. No ano de 1952, Heep abre o seu prório escritório, situado na rua Barão de Itapetininga, centro da cidade de São Paulo.

Figura de Jacques PilonFonte: http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/176/arquiteto-empreendedor-116503-1.asp acesso em maio de 2009

Edifício Davina Lara NogueiraSão Paulo - 1949 - J.Pilon e F. HeepFoto: Edson Lucchini Jr.

Edifício TinguáSão Paulo - 1949 - J.Pilon e F. HeepFoto: Edson Lucchini Jr.

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(16) - Henrique Mindlin (1911-1971) formou-se engenheiro-arquiteto pela Universidade Mackenzie em 1932.

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No mesmo ano da abertura de seu escritório, Heep estabelece uma parceria com a construtora de Otto Meinberg, voltada principalmente para o mercado imobiliário habitacional, mas que também produziu o edifício mais célebre de Heep: o Itália, de caráter comercial.

O período que vai de 1952 a 1962 foi o que compreendeu a maciça produção de Heep como arquiteto. Nestes anos foram projetados vinte e um edifícios residenciais em São Paulo que atenderam, desde as classes mais abastadas, com os luxuosos edifícios de Higienópolis, até as mais humildes, com os grandes edifícios de kitchenettes do centro. Além disso, Heep projetou inúmeros edifícios comerciais, fábricas e casas. As obras mais significativas deste período serão comentadas mais adiante. Dos dez edifícios a serem analisados neste trabalho, cinco foram produzidos pela parceria Heep-Meinberg, que durou até 1962. São eles o Ouro Verde, Icaraí, Ibaté, Ouro Preto e Guaporé. Porém, dentre os vinte e um edifícios residenciais conhecidos de Heep em São Paulo, doze são fruto desta parceria com Meinberg.

Heep estabeleceu outras parcerias, além da que tinha com Otto Meinberg; outra muito importante foi com a Construtora Auxiliar17. Com ela, Heep teve a oportunidade de projetar seu edifício residencial mais conhecido, o Lausanne, além das torres gêmeas Lugano e Locarno e o edifício Lucerna, que abrigava o cine Comodoro18. Os três estão dentro da amostra a ser analisada neste trabalho.

No período entre 1958 e 1965, Heep envolve-se com a área acadêmica, lecionando a disciplina de projeto na Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie.

Em 1972, com problemas cardíacos, Heep muda-se para a cidade do Guarujá, no litoral paulista, onde continua trabalhando até 1975; neste ano, Heep inicia um processo de arteriosclerose. Em 1978, sua esposa o leva de volta a Paris, onde falece no dia 4 de março.

“A atuação de Heep foi fundamental para o sucesso dos empreendimentos de que participou, graças ao método de trabalho, ao profissionalismo, ao gosto pelo detalhe e à preocupação com o rigor tecnológico no canteiro de obras”. (BARBOSA, 2002, p. 89)

Ed. Normandie - Adolf Franz Heep - 1953 - KitchenettesFonte: Revista Acrópole 219, 1957, p.95.

Ed. Lausanne - Adolf Franz Heep - 1953 - Alto padrãoFonte: Revista Acrópole 239, 1958, p.504.

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(17) - Informações mais detalhadas sobre a Construtora Auxiliar estão presentes na página 278(18) - Informações mais detalhadas sobre o Cine Comodoro estão presentes na página 160

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Este icônico edifício da cidade de São Paulo foi concebido inicialmente por Jacques Pilon, no ano de 1946, em estilo Art Decò. Quando foi contratado para trabalhar no escritório de Pilon, Heep teve a oportunidade de desenhar uma nova proposta de fachada para o edifício, encomendado por Julio de Mesquita, dono do jornal O Estado de São Paulo.

Devem-se a Heep a inserção dos painéis de Di Cavalcanti e a concavidade do chanfro que forma a fachada principal, conferindo ao edifício um interessante entendimento da esquina e marcando-a incisivamente. Outra grande contribuição de Heep para o projeto é a solução dos brise-soleils móveis; foi a primeira vez que eles foram utilizados numa obra deste porte em São Paulo. Mesquita se entusiasmou com a nova proposta, que começou a ser executada em 1948, elevando o patamar de Heep dentro do escritório de Pilon, de mero desenhista, para um cargo de chefia.

Capítulo 3

3.1- Edifício do Jornal O Estado de São Paulo

Algumas obras não residenciais significativas19

Apesar do objeto desta pesquisa serem os edifícios residenciais produzidos por Franz Heep em São Paulo, cabe realizar, de modo geral, um apanhado de outras obras importantes do arquiteto, dentro e fora da capital paulista.

Ed. O Estado de São de São Paulo - 1948Foto: Edson Lucchini Jr.

Ed. O Estado de São de São Paulo - 1948Fonte: Revista Acrópole 181, 1953, p.485.

Ed. O Estado de São de São Paulo - 1948Foto: Edson Lucchini Jr.

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

(19) - As informações presentes neste capítulo foram compiladas a partir das seguintes obras:BARBOSA, Marcelo Consiglio. A obra de Adolf Franz Heep no Brasil. Dissertação [Mestrado em Arquitetura e Urbanismo] - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2002; GATTI, Catharine. Perfil do arquiteto - Franz Heep. Revista Projeto nº 97, São Paulo, março de 1987, p. 98-104, além de pesquisas realizadas por Friedrich Blanke para a realização de sua tese de doutoramento.

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Este também foi um projeto desenvolvido por Heep dentro do escritório de Jacques Pilon; situa-se no centro do Rio de Janeiro, muito próximo ao célebre edifício do Ministério da Educação e Saúde. Foi construído com apoio do governo da França e da colônia oriunda deste país radicada no Brasil. O projeto data de 1950.

O Souza Naves é um edifício público, desenvolvido por Heep, já em seu próprio escritório, em parceria com Elgson Ribeiro Gomes. O projeto era destinado ao Instituto de Pensões e Aposentadorias dos Servidores do Estado (IPASE). Está localizado na cidade de Curitiba e seu projeto data de 1953.

O São Marcos é um edifício de escritórios projetado por Heep em 1959, na cidade de São Paulo. Possui fachadas voltadas para três alinhamentos sendo que a principal volta-se para a Praça da Sé. As demais voltam-se para a rua XV de Novembro e Anchieta. Destacam-se neste edifício, a fachada ritmada pela caixilharia. A predominância dos envidraçamentos se dá pela orientação sul da fachada principal, que se volta para a Praça da Sé. A fachada norte, muito sombreada pelos edifícios vizinhos, também conta com muitas superfícies envidraçadas.

3.2- Edifício Casa da França

3.3- Edifício Souza Naves

3.4- Edifício São Marcos

Ed. Casa da França - Rio de Janeiro - 1950 - J. Pilon e F. HeepFonte: Revista Acrópole 217, 1956, p.22.

Ed. Souza Naves - Curitiba - 1953 - F. Heep e Elgson R. GomesFonte:http://circulandoporcuritiba.blogspot.com/2010_03_01_archive.html - acesso em maio de 2010

Ed. São Marcos - São Paulo - 1959 - Adolf Franz HeepFoto: Edson Lucchini Jr.

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O edifício Itália, além de ser a obra mais conhecida de Adolf Franz Heep, é um dos maiores ícones da produção edilícia vertical paulistana e brasileira do século XX.

A inserção do Itália se deu em um terreno situado numa das esquinas mais importantes do centro da cidade de São Paulo: a da avenida Ipiranga com a São Luiz; o entorno já era bastante ocupado por edifícios verticais, levando Heep a uma habilidosa solução em que edifícações mais baixas, pertencentes ao conjunto do Itália, dialogam com o gabarito do entorno, liberando o corpo principal para um desenvolvimento vertical pleno. Desta forma, o resultado foi um conjunto harmonioso que possui um grande entendimento do entorno e da esquina, e se tornou um ponto focal no centro da cidade.

Além da precisão de sua inserção urbana, o Itália também conta com elementos inovadores no que diz respeito à “dinâmica de circulação”20 do edifício , além de questões espaciais, estéticas e estruturais.

“Representante da influência norte-americana de crescimento vertical metropolitano, e mesmo apresentando pouca altura em relação aos marcos estrangeiros que lhe eram referências, o edifício Itália representou para a época uma conquista ímpar ao alcançar, em 1959, a altura de 151 metros, sendo considerado o edifício mais alto da América Latina e o mais alto do mundo em estrutura de concreto armado (...)”.(XAVIER, 2007, p. 75)

“O projeto exibe em cada decisão o seu evidente comprometimento com os princípios modernos de converter a ação projetiva numa ação racional”. (XAVIER, 2007, p. 78)

3.5- Edifício Itália

Ed. Itália - São Paulo - 1956 Foto: Edson Lucchini Jr.

Ed. Itália - São Paulo - 1956 Fonte: Revista Acrópole 210, 1956, p.222.

Perspectiva do saguão do ed. Itália - São Paulo - 1956 Fonte: Revista Acrópole 210, 1956, p.229.

Ed. Itália - São Paulo - 1956 Foto: Edson Lucchini Jr.

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(20) - Termo extraído de (XAVIER, 2007, p. 78)

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Em 1953 Heep projetou para os Dominicanos a Igreja São Domingos, situada no bairro de Perdizes, em São Paulo. A conclusão da obra se deu no ano de 1961.

O campanário situa-se no topo de volume que conta com 34 metros de altura e uma planta quadrada, com seus cantos arredondados. Este volume, todo perfurado por losangos, contrapõe a horizontalidade do bloco que contem a nave, tornando-se um marco visual para o bairro.

“A volumetria baseia-se no conceito da nave única, onde um teto de casca de concreto abobadada, apoia-se em paredes estruturais em zigue-zague alternando empenas cegas e vazadas, sendo que as aberturas voltadas para as faces de maior insolação projetam uma luz natural intensa no sentido do altar proporcionando uma sensação de amplitude e leveza no espaço interior (...)”. (BARBOSA, 2002, p. 162)

3.6- Igreja São Domingos

Igreja São Domingos - São Paulo - 1953 Fonte: Revista Acrópole 325, 1965, p.41.

Igreja São Domingos - São Paulo - 1953 Fonte: Revista Acrópole 325, 1965, p.43.

Igreja São Domingos - São Paulo - 1953 Fonte: Revista Acrópole 325, 1965, p.43.

Igreja São Domingos - São Paulo - 1953 Fonte: Revista Acrópole 325, 1965, p.41.

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Neste capítulo pretende-se abordar, através de uma ampla, mas breve revisão bibliográfica, os principais elementos que conformam a transformação e verticalização da cidade de São Paulo. Estes processos se iniciam alguns anos antes da 2ª grande guerra, e se consolidam após ela, época em que a cidade vem a se afirmar como metrópole industrial pujante.

As décadas de 1930 e 1940 foram marcadas pela afirmação das propostas modernistas, concomitantemente com os primeiros movimentos de verticalização de São Paulo, não somente no centro histórico, mas também no centro novo21, Bela Vista e Higienópolis.

A legislação já começava a se adaptar à nova realidade emergente vertical da cidade. O Código Arthur Saboya22, de 1929, permitiu a construção de edifícios fora da área central. O Plano de Avenidas, elaborado por Prestes Maia, é um importante elemento que, além do papel de estruturação viária da cidade, definiu vetores23 de expansão da verticalização na cidade de São Paulo. Dois deles são a avenida São João, alargada e reformada com o plano, e a 9 de Julho, que foi construída. Considerações um pouco mais detalhadas acerca do Plano de Avenidas serão vistas mais adiante na análise do edifício Normandie (ver p.50), situado na 9 de Julho e de autoria de Adolf Franz Heep.

Durante o período da 2ª grande guerra, a indústria da construção em São Paulo foi fortemente abalada pela interrupção da importação de itens fundamentais. A incipiente indústria nacional ainda não era capaz de suprir todas as demandas do canteiro, não só pelo seu atraso tecnológico, mas também pela incapacidade de produzir chegando a preços finais competitivos com o material importado.

Somando-se a isso, as sucessivas leis de inquilinato, iniciadas a partir de 1942, congelaram os preços dos aluguéis, e acabaram desestimulando um importante nicho de mercado da época que era o da construção para aluguel, gerando uma enorme crise habitacional. Naquele

Capítulo 4A cidade que mais cresce no mundo: panorama da modernização e verticalização de São Paulo no pré e pós 2ª guerra.

São Paulo em 1949Fonte: http://obviousmag.org/archives/2006/03/angulos_paulist.htmlacesso em maio de 2010

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

(21) - Entende-se por “centro novo” de São Paulo, a parte dele que transpôs o Vale do Anhangabaú em direção ao oeste.(22) - O “Código de Obras Arthur Saboya” teve sua promulgação como lei municipal nº 3.427 em 1929(23) - Termo extraído de (FIGUEROA, 2002)

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momento, a promoção privada vinha sendo incapaz de suprir as necessidades de moradia de uma cidade em crescimento populacional descontrolado.

O quadro ao lado comprova, em números de construções por ano, os efeitos da crise durante os anos da 2ª grande guerra, seguida por uma grande recuperação nos anos seguintes.

A grande massa proletária, agora engrossada pelos migrantes nordestinos, foi obrigada a resolver os seus problemas de habitação com os seus próprios recursos, com a construção de casas feitas por eles próprios em loteamentos clandestinos em terreno residuais entre as áreas industriais juntos à orla ferroviária. Mesmo assim, a carência de casas populares foi crescendo abruptamente até os dias de hoje. Ao contrário, a classe média, incapaz de construir com suas próprias mãos, encontrava-se sem saída, devido à escassez de imóveis para comprar e alugar.(AMARAL DE SAMPAIO, 2002 p.121)

Com o fim da guerra, São Paulo viveu um crescimento industrial acelerado que impulsionava os demais setores econômicos, intensificando o processo de verticalização da cidade, que abriu as portas para a colocação em prática de alguns dos ideais, formas e técnicas propostos pela arquitetura moderna, graças à grande e intensa demanda por projetos de edifícios de todos os tipos, porém agora, não mais para aluguel, e sim para venda. É o momento da gênese do mercado da incorporação em São Paulo.

As feições da cidade de São Paulo passam por profundas mudanças, já que o modelo de verticalização muda do paradigma europeu, de “compleição compacta e de verticalidade moderada” para o americano, que consiste na cidade “congestionada e vertical”. (SOMEKH, 1987, p.52)

”Surge nesse momento a figura do incorporador imobiliário, o promotor de ofertas de uma nova mercadoria, o apartamento em condomínio. E, até certo ponto, essa recente figura veio também se definir como uma espécie de agente cultural a condicionar as necessidades ou as expectativas da classe média a soluções programáticas ainda não experimentadas e até a novas tendências arquitetônicas”. (AMARAL DE SAMPAIO, 2002 p.121)

Fonte: AMARAL DE SAMPAIO, 2002 p.145

Av. São João em 1952Fonte:http://br.geocities.com/giba_fotografo/paginafotosdesp03.htm acesso em agosto de 2009

Construção do Edifício Copan - Oscar Niemeyer - 1954Fonte: http://cidadecopan.zip.net/images/copan_construcao_baixa.jpgacesso em maio de 2010

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Esta conjuntura de “boom” imobiliário configurou um campo muito fértil para os arquitetos brasileiros, tanto aqueles formados em escolas locais como os arquitetos estrangeiros que se radicaram aqui devido às contingências da guerra européia e graças às possibilidades abertas por essa efervescência cultural e econômica.

São Paulo, nesses anos, é um local de transformações rápidas, já que a população mais que duplica seu tamanho entre 1940 e 1950. Ao mesmo tempo, via-se a verticalização maciça do centro e a expansão horizontal dos limites da cidade.

Dentro deste contexto de verticalização e modernização, é possível destacar o bairro de Higienópolis como um exemplo de grande relevância. Na presente pesquisa, serão estudados três edifícios de Adolf Franz Heep construídos neste bairro; diante disto, se torna válida uma breve introdução acerca dele.

A construção dos edifícios residenciais em Higienópolis ocorreu mais precisamente em sua parte mais antiga, onde predominavam os maiores palacetes, com os maiores lotes, sendo assim, as áreas de maior valor. Estes palacetes, já então com 40 ou 50 anos de idade, encontravam-se abandonados por seus antigos proprietários, que os alugavam para o uso de pensões, e em alguns casos, cortiços. Suas dimensões generosas demandavam uma enorme e onerosa criadagem, além do programa arquitetônico e instalações obsoletos.

Esses fatores fizeram com que os casarões virassem alvo do novo mercado imobiliário, já que esses terrenos, além de todas as suas boas características espaciais, ainda se encontravam numa região da cidade já dotada de uma boa infra-estrutura.

“É o momento da criação dos museus, das comemorações do quarto centenário e da instituição das bienais. Surgiram novos prédios de apartamentos, teatros, salas de cinemas, museus, etc. onde os arquitetos participavam da construção das novas feições da metrópole. Esse processo foi promovido especialmente pelo mercado imobiliário, com os arquitetos modernos disputando diretamente o gosto do público para os novos lançamentos”. (SANCHES, 2004, p.89)

Cartaz com o símbolo das comemorações do IV Centenário - 1954Fonte: http://www.sampa.art.br/images/142.jpgacesso em maio de 2010

Construção dos edifícios Lugano e Locarno na av. Higienópolis - 1959Verticalização avançando sobre os palacetesFonte: http://www.sampa.art.br/images/142.jpgacesso em maio de 2010

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As novas construções verticais no bairro de Higienópolis impulsionam um processo de modernização de todos os serviços, no âmbito público e privado. Algumas casas térreas e de dois pavimentos, que escaparam da demolição para construção de edifícios, se tornam comércios..

Com o rápido crescimento do número de automóveis, diversas mudanças nas regras de tráfego, como mudanças em mãos de direção e alargamentos, começam a ser adotadas.

No início do processo de verticalização do bairro de Higienópolis, as famílias que viviam nos casarões não aceitaram prontamente a idéia de morar em edifícios verticais, cujo modelo ainda não tinha se consolidado entre as classes mais abastadas. A presente pesquisa conta, mais adiante, com uma análise do edifício Lausanne (p.24), em que serão comentados brevemente alguns aspectos referentes a esta transição sobre o modo de morar; dos palacetes aos edifícios.

“Os postos de gasolina, originalmente em estilo neocolonial são reformados de modo a se adaptarem ao prevalecente espírito moderno. Outros mais são construídos nas esquinas de maior movimento, em especial na Avenida Angélica” (MACEDO, 1987, p.113)

“[...] a Avenida Angélica é alargada e perde a sua arborização original. As ruas recebem novos serviços públicos e os equipamentos urbanos são implantados de modo a facilitar a vida dos moradores”(MACEDO, 1987, p.113)

Avenida Angélica atualmenteFonte: www.artistaseartes.com.br/img/3465/3465_1.jpgacesso em maio de 2010

Ilustração da avenida Angélica nos anos 1940Fonte: acervo de Marco Agneli

Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr.Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950

“Com a derrubada dos casarões e sua substituição progressiva por prédios de apartamentos, o bairro perde as suas características horizontais, mas mantém o seu traçado original, suas ruas arborizadas e o predomínio de boas construções. As condições de vida talvez não sejam como as do passado, mas o bairro ainda conserva um modelo padrão e que se destaca dos demais bairros que o cercam. O bairro ainda é uma referência”. (GAGGETTI, 2000, p.121)

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