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ENGEVISTA, V. 16, n. 2, p.266-281, Junho 2014 266
AS ESTRATGIAS DE INTERNACIONALIZAO DA INDSTRIA DO PETRLEO
Evandro La Macchia
1
Julio Cesar Wasserman2
Jacob Binsztok3
Gilson Brito Alves Lima4
Resumo. Este artigo trata da questo da internacionalizao das empresas da indstria de
petrleo no Brasil. O tema analisado ganha maiores dimenses nas discusses, quando do
advento das descobertas nas reas de fronteiras exploratrias do pr-sal. O artigo cita que,
em futuro breve, as referidas descobertas colocaro a indstria de petrleo brasileira e o
seu maior representante, a Petrobrs, em uma posio de grande exportador lquido de leo
cru, o energtico na forma de matria prima bruta. A questo que se quer levantar se este
modelo exportador de matrias primas bruta ou semiacabadas, predominante na histria do
Brasil desde o seu descobrimento, ser benfico para o pas ou mesmo para o maior cone
da indstria nacional de petrleo, a Petrobras. Tambm ser feita uma anlise de outras
empresas, suas estratgias e forma de operao, empresas de outras nacionalidades, de
capital estatal e privado, internacionalizadas desde o seu nascimento ou em francos
processos de internacionalizao, onde a atuao em pases diferentes das suas sede ser,
ou passou a ser, objetivo a ser perseguido por suas organizaes. Finalmente ser analisado
uma iniciativa de internacionalizao, que foi a aquisio de 87,5% de participao da
ExxonMobil na empresa japonesa, NSS Nansei Sekiyu KK, pela Petrobras em 2008. A
empresa adquirida tem em seu portflio de ativos, uma refinaria, um terminal de
armazenagem e um porto composto por trs atracadouros e uma monobia para barcos do
tipo VLCC (Very Large Crude Carriers). A aquisio de empresa com operao no Japo
por empresa de capital Latino Americano foi indita na histria daquele pas.
Palavras-chave: Estratgia de Empresa. Indstria de Petrleo. Internacionalizao. Fuses
e Aquisies.
Abstract: This article addresses the issue of internationalization of companies in the oil
industry in Brazil. The subject analyzed gaining ground in discussions of this industry,
when the advent of new discoveries in the areas of exploration frontiers, the areas of pre-
salt. It seems to be approaching a future where new discoveries bring the Brazilian oil
industry, notably its highest representative and almost totally dominant, Petrobras, in a
position of net exporter of raw crude oil. The question that want to raise here is whether
this model of exporting raw materials or semi-finished materials, predominantly in Brazil's
history since its discovery, will be of benefit to the country or even for the greatest icon of
national oil industry, Petrobras. Analysis will also be made of other companies, strategies
and mode of operation, companies from other countries, state and private capital,
internationalized since birth or in francs internationalization processes, where the
operations in different countries of these headquarters are the objective of their
organizations. Finally will be studied one case of internationalization initiative, which was
the acquisition of 87.5% stake in the Japanese company ExxonMobil, NSS Nansei Sekiyu
KK by Petrobras in 2008. The NSS have a refinery, storage terminal and port which
included a point for VLCC (Very Large Crude Carrier). The acquisition of a Japanese
1Rede UFF de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel (REAMDS-UFF), Universidade Federal
Fluminense. e-mail: [email protected] 2Rede UFF de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel (REAMDS-UFF), Departamento de Anlise
Geoambiental, Universidade Federal Fluminense. e-mail: [email protected] 3Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal Fluminense. e-mail:
[email protected] 4Programa de Ps-Graduao em Sistemas de Gesto, Universidade Federal Fluminense. email:
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company with operations in Japan by Latin American company was unprecedented in that
country.
KeyWords: Company Strategy. Oil Industry. Internationalization. Mergers and
Acquisitions.
1. INTRODUO
Desde o perodo colonial o Brasil
tem tido suas atividades econmicas
relacionadas a operaes internacionais,
seja no escoamento de riquezas para
Portugal, seja nos processos de
exportao com finalidade de equilibrar
balanas comerciais. Inicialmente, o pas
teve como principal atividade econmica
a exportao de matrias primas bruta
como as madeiras, os minrios diversos e
o acar. Este ltimo que, atravs de
processo de beneficiamento primrio nos
conhecidos engenhos, foi e continua
sendo, um dos principais produtos de
pauta de exportao e consequente
atuao internacional. Conforme cita
Bueno (2010),o ingresso do Brasil no
cenrio mundial de comercio se deu pela
cana de acar plantada no litoral
nordestino e o seu produto semimanu-
faturado, o acar, que ocupava o lugar
de destaque na gerao de riqueza da
nova terra.
Embora participante do mercado
internacional, desde o descobrimento, o
Brasil no conseguiu quebrar
completamente o modelo de pas
exportador de matria-prima bruta, como
mostra a Figura 1, confeccionada a partir
de estudo do Ministrio do
Desenvolvimento, Indstria e Comrcio
Exterior (2013).Apesar de um
significativo desenvolvimento em
algumas reas muito especficas como a
aeronutica, o pas ainda no aprendeu a
dominar as tecnologias de ponta, sendo
que os processos mais sofisticados ainda
precisam ser adquiridos no exterior. Na
Figura 1 apresentado o perodo de 2003
a 2012, onde as nossas exportaes so
constitudas por 60,4% de produtos
primrios e semimanufaturados. A Figura
nos mostra que esta posio alcanada em
2012, o resultado de uma tendncia de
dez anos de comportamento que vem
consolidando a posio de exportador de
commodities. Alm disto, a futura
ampliao da posio de exportador
lquido de leo cru agravar a condio
de exportador de produtos bsicos.
Figura 1: Exportaes brasileiras por fator agregado entre 2003 e 2012. Fonte: Secretaria
de Comrcio Exterior do Ministrio do Desenvolvimento, da Indstria e do Comrcio
Exterior (2013).
A marca de exportador de
commodities, na forma de matrias primas brutas, persegue o pas e suas
empresas h mais de 500 anos e, embora
se tenha acesso aos mercados
internacionais desde ento, muito pouco
se fez no Brasil em termos de esforos
para a internalizao dos seus produtos.
como se o pas no conseguisse entrar
nos mercados propriamente ditos,
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entregando as matrias primas e produtos
semi acabados nas suas praias, para que outros agentes, mais sofisticados, as
beneficiem e as comercializem, auferindo
assim uma srie de vantagens,
decorrentes desta forma de se posicionar
e operar. Neste sentido, o presente artigo
tem por objetivo, demonstrar que a
indstria do petrleo deve escapar do
modelo de mero exportador de matria
prima, buscando um modelo capaz de
abranger todo o ciclo de vida dos
derivados do petrleo. O modelo
proposto inspirado nas estratgias das
maiores empresas petroleiras e
apresentado de forma geral, devendo ser
adaptado de acordo com as suas
necessidades.
2. A INDSTRIA DO PETRLEO
Analisando os principais atores da
gigante indstria de petrleo mundial, as
empresas, os governos e os
consumidores, vemos que desde os seus
primrdios pensam e atuam de forma
internacional.Com o propsito de ilustrar
a evoluo do mercado do petrleo, no
que tange as empresas, Yergin (1994)
observa que nas dcadas de 1870 e 1880,
a exportao de querosene era
responsvel por mais da metade de toda a
produo americana, dos quais pelo
menos 90% passava pelas operaes da
Standard Oil, empresa que originou os
gigantes da indstria petrolfera mundial,
ExxonMobil e Chevron, organizaes
classificadas no ranking das maiores do
mundo em 2013 pela revista Fortune Global 500 (2013), sendo a ExxonMobil
a terceira maior e a Chevron a dcima
primeira. Desde seus primrdios, a
indstria do petrleo j aplicava um
grande esforo na industrializao dos
produtos, em detrimento da venda de leo
cru extrado e produzido de seus prprios
campos, mesmo que isto significasse
cruzar fronteiras e instalar suas operaes
em diferentes pases. Considerando a
dimenso da indstria de petrleo, a
busca de mercados externos vista como
condio natural do negcio. Estas
empresas pensam e se posicionam de
maneira diferente da empresa de petrleo
brasileira no que tange as operaes
internacionais.
Atualmente a indstria de petrleo
mundial a responsvel pelo suprimento
de aproximadamente 58% do consumo
primrio de energia global, sendo 33%
via leo cru e 25% via gs, o que afirma
a publicao anual da empresa BP
(2013a)representada na Figura 2. Trata-se
de uma indstria internacional e global
pela sua prpria dimenso e dependncia
mundial dos energticos por ela
produzidos, beneficiados e distribudos.
Figura 2: Distribuio do consumo global de energia detalhado por tipo de matriz
energtica (dado em milhes de toneladas equivalentes). Fonte BP (2013).
Tendo como uma de suas
principais caractersticas, desde o
surgimento desta indstria, a atuao
internacional, ela possui uma histria de
atuao de mais de um sculo. Com outra
forte peculiaridade que vale apena
0
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Carvo
Renovveis
Hidroeletricidade
Energia nuclear
Gs natural
Petrleo
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destacar, as operaes das grandes
empresas so integradas e verticalizadas.
Nelas operam de maneira conjunta a
estrutura de explorao e produo,
segmento denominado de upstream, e o refino e petroqumica, segmento
denominado de downstream, sendo que os dois segmentos trabalham de maneira
integrada. Acrescenta-se aos grandes
segmentos supracitados, uma logstica
prpria tambm de dimenses globais, e
por fim, a distribuio e a
comercializao, com priorizao aos
seus prprios produtos. Ou seja, as
grandes corporaes, produzem sua
matria prima, as transformam em
diferentes combustveis, para as mais
diversas aplicaes e lanam mo de
sofisticadas redes de logstica para vend-
los em diferentes mercados. Graas ao
controle de toda a cadeia produtiva, as
gigantes do petrleo garantem a maior
eficincia e eficcia de seu negcio.
As grandes empresas de
abrangncia global estruturaram suas
redes de produo de maneira a dirigir as
molculas de hidrocarboneto produzidas
em seus campos para os caminhos de
maior rentabilidade, sem deixar os
sistemas internos da empresa. Elas
definem o que vo produzir, no que diz
respeito matria prima, determinam
onde esta matria prima ser processada e
cuidam da comercializao de forma
mais otimizada possvel. A fragmentao
do processo produtivo leva inexorvel
deteriorao de alguns segmentos cruciais
para a estruturao de uma empresa,
tornando-a vulnervel s intempries do
mercado.
A caracterstica de operao
internacional e integrada das grandes
empresas da indstria do petrleo est
ligada s prprias caractersticas do
negcio e so inerentes a ele. Esta
indstria combina operaes de alto risco
(a explorao e produo) que podem ser
caracterizadas como atividades
semelhantes minerao, com atividades
de natureza industrial, como o refino e a
petroqumica. A estas duas cadeias so
agregados um sistema de logstica e
distribuio igualmente sofisticados.
Alm de ser um negcio de alto risco, o
petrleo demanda alto capital empregado
e longo perodo de maturao. O tempo
de maturao, definido como o perodo
compreendido entre a aquisio de uma
rea exploratria at a produo do
primeiro leo pode ser de mais de dez
anos. O negcio ainda est exposto a
riscos geolgicos e geofsicos, riscos de
operaes expostas a intempries da
natureza, oscilaes de preos domsticos
e internacionais, ambientes regulatrios,
riscos contratuais e instabilidades
polticas e sociais. Gomes e Alves,
(2007), tratam dos desafios da indstria
quando citam que muito se falou e se fala
sobre os tempos de ocorrncia da
chamada teoria do peakoil, porm muito
pouco se duvida de que a fase do
conhecido cheapoil j foi ultrapassada em
muito. Entramos no sculo XXI j tendo
passado pelo momento do peak of cheap
oil.
O petrleo o meio de energia de
maior mobilidade at os dias de hoje o
que o expe, por esta natureza, a questes
globais. Como cita Yergin (1994), a
mobilidade do leo foi comprovada na
disputa entre as armadas alems e
inglesas na I Grande Guerra Mundial.
Churchil e Fisher foram bem sucedidos
quando decidiram pela adaptao da
Armada Real para os derivados de
petrleo. Isto deu armada inglesa
melhor posio competitiva dada a sua
maior autonomia, maior velocidade e
reabastecimento mais veloz. Ao contrrio
a armada alem de alto mar, que no incio
permaneceu suprida com o carvo e viveu
srias restries quanto ao seu
reabastecimento, impondo-lhe limitaes
quanto autonomia e flexibilidade na
logstica de reabastecimento. Embora o
carvo ocupe a segunda posio na oferta
de energia primria mundial, desde o
surgimento do petrleo e seus derivados,
ele vem perdendo participao na referida
matriz (BP, 2013b).Talvez por esta
caracterstica, o petrleo supri
aproximadamente 60% da matriz
primria de consumo mundial de
energia(BP 2013a).A nica maneira de se
proteger um negcio que sofre tantas e
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intensas influncias globais e locais,
naturais e competitivas, a sua
verticalizao e a distribuio do seu
risco por mais de um pas e por toda a
cadeia produtiva, ou seja, torn-lo o mais
global e verticalizado possvel. O termo
verticalizado se refere estrutura da
indstria do petrleo, desde a explorao,
at sua distribuio para os
consumidores.
Em uma anlise mais ampla,
Michael Porter (1999) cita que, a
estratgia internacional se estabelece na
capacidade da empresa multinacional de
conquistar vantagens competitivas
atravs de uma atuao mundial. Realizar
uma estratgia global, significa se
envolver em operaes que ocorrem de
maneira simultnea em diversos pases,
buscando-se assim o atingimento de
economias de escalas, impossveis de
serem alcanadas em operaes de
natureza nica domstica ou nacional.
Outros fatores citados como criadores de
vantagem competitiva so a capacidade
desenvolvida de assimilar particulari-
dades de outros mercados, aprendendo a
responder a elas; acessos a recursos como
capital domstico, mo de obra, matria
prima e tecnologia. Em uma operao
global tem-se disponvel e pode-se lanar
mo destas fontes em vrios pases de
maneira simultnea. Ou seja, se o pas,
atravs de suas empresas, no cruzar
fronteiras, estimulando-as a se instalar em
outros mercados, em busca dos recursos e
das vantagens competitivas aqui citados,
seu acesso aos referidos recursos, estar
limitado por suas prprias fronteiras.
Esta forma de pensar e agir das
grandes organizaes desta indstria
atravessou sculos, e persiste at os dias
de hoje.A empresa ExxonMobil, afirma
atravs de seu presidente RexTillerson,
em seu relatrio pblico anual
(ExxonMobil, 2013),dirigido aos atuais e
potencias futuros acionistas da empresa
que dentre os seus principais diferenciais
competitivos est o fato da empresa ter
um portflio balanceado, disciplina nos
investimentos, tecnologias de alto
impacto, excelncia operacional e
operaes integradas globalmente. A
Figura 3 apresenta o portflio de
negcios da empresa e ilustra a sua
estratgia desde o incio do sculo
passado. Observa-se nesta figura os
vrios segmentos de negcios integrados
em diferentes localidades do mundo.
Em documento semelhante, a
Shell (2013), explica sobre seu
diversificado e integrado portflio global,
relacionando os projetos estratgicos da
empresa e apresenta no grfico da Figura
4, as diferentes origens regionais das suas
receitas. A despeito das incertezas
econmicas, em 2012 a empresa
continuou a investir em um diversificado
portflio de ativos que dar a ela as bases
para um crescimento sustentvel e de
longo prazo. Estes ativos incluem grandes
projetos de explorao e produo, que
faro frente s demandas futuras e
crescentes mundiais por energia, aliados a
um portflio global de refinarias e plantas
petroqumicas que permitem empresa a
captao mxima de valor dos recursos
produzidos em seus campos de petrleo
espalhados pelo mundo.
No documento, a empresa ressalta
ainda, que dentre os itens que lhe do
fora competitiva, est o fato de ter uma
operao global e integrada. Vale
lembrar, que a Shell foi produto da fuso
da empresa predominantemente de
explorao e produo de petrleo
holandesa Royal Dutch (com atuao
original nas ndias Orientais
Holandesas)com a Shell, empresa inglesa
predominantemente de refino, transporte
e comercializao. A fuso das empresas
se deu pela necessidade premente de ter
operaes internacionais e integradas, ou
seja, um brao de explorao e produo
de leo integrado a um brao industrial, o
de refino, e de logstica e distribuio. O
Objetivo maior era o enfrentamento da
global e integrada Standard Oil. Segundo
Yergin (1994), nos primrdios da
operao da Royal Dutch, seu ento
presidente Deterding, via como crucial as
fuses entre diferentes empresas de
petrleo. A empresa tem no seu embrio
estas caractersticas de operaes globais
e integradas. Por operao integrada, no
h melhor definio do que a
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demonstrada no fluxograma da Figura5,
adaptada do mesmo documento da Shell
(2012).
Figura 3: Relatrio referente ao sumrio anual das operaes da ExxonMobil para o ano de
2012. Fonte: adaptado de ExxonMobil (2013).
Figura 4: Relatrio referente ao sumrio anual das operaes da Shell para o ano de 2012.
Fonte: adaptado de Shell(2013).
A national oil company Saudi
Aramco, maior produtora e exportadora
de petrleo mundial, declarou em seu
Annual Review (Aramco, 2012) que
esforos de investimentos em refino e
petroqumica tm sido realizados em
parcerias com outras empresas, como
Sinopec, ExxonMobil, Shell, Total,
Chevron, Sumitomo e outras, em varias
partes do mundo. No portflio de
investimentos da empresa h uma grande
diversificao geogrfica, incluindo
pases como Estados Unidos, China,
Japo, Coria do Sul e Europa, de
maneira a diminuir sua posio de
exportador lquido de leo cru. Hoje a
empresa tem participao de4.5 milhes
de barris dia de capacidade de refino,
sendo 2.4 milhes barris por dia em joint
ventures internacionais, 1.1 milhes de
barris por dia em joint ventures
internacionais dentro da Arbia Saudita e
1.0 milhes de barris por dia em
operaes domsticas sem a presena de
scios.
Upstream: explorao e produo
Downstream: refino
Petroqumica
Continente
Europa
sia, Oceania, frica
Estados Unidos
Outros das Amricas
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ENGEVISTA, V. 16, n. 2, p.266-281, Junho 2014 272
Figura 5: Relatrio referente ao sumrio anual das operaes da Shell para o ano de 2012.
Fonte:adaptado de Shell(2013).
Outro fruto da estratgia de
internacionalizao e globalizao da
SaudiAramco encontra-se no seu esforo
de diminuir lacunas de conhecimento
estratgico, atravs de investimentos em
centros de pesquisas espalhados pelo
mundo como ela demonstra na Figura
6apresentada no mesmo documento.
Stevens (1998), quando trata da
integrao internacional do
downstream com o upstream nas empresas de petrleo nacionais, j citava
no final do sculo passado que a
integrao vertical, alm de reduzir
custos, dilui o risco e aumenta o potencial
de captura de margens de todos os
segmentos da cadeia do negcio. As
margens das fases separadas, explorao,
produo, comercializao, transporte,
refino, distribuio e vendas no varejo,
flutuam assimetricamente. A integrao
ajuda a balancear as operaes da
empresa e proteg-la da inerente
instabilidade dos mercados. Em outras
palavras, a flutuao assimtrica se
estabelece quando o preo do leo cru
est baixo, o refino e a comercializao
apresentam, geralmente, margens altas e
vice-versa. (Stevens 1998
Figura 6: Relatrio referente ao sumrio anual das operaes da Shell para o ano de 2012.
Fonte adaptado de Saudi Aramco(2013).
Explorao
Petrleo e gs
Produo
Petrleo e gs
Desenvolvi-mento decampos
leo em reservatrios
de areia
Liquefaode gs
Extrao de xisto
Transporte
Dutos
Petroleiros
Refino
Refino de petrleo e
outros
Regasifi-cao
Liquefaode gs
Produo de Biocom-
bustveis
EnergiaElica
Beneficia-mento
Petro-qumica
Comercia-Lizao
Produtosquimicosprimrios
Combustveise lubrificantes
Gs
U p s t r e a m Downstream Distribuio
5
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3
4
6
7
81
2
3
4
5
6
7
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Detroit, Michigan
Houston, Texas
Cambridge, Massachusetts
Aberdeen, Esccia
Paris, Frana
Beijing, China
Delft, Holanda
Kaust, Arbia Saudita
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Brito et al. (2013), , ressaltam que
nos anos 1980, a poltica de pases
produtores de leo cru era de adquirir
refinarias no exterior, com o objetivo de
garantir a colocao de seus excedentes
de produo. Tal poltica resultou na
minimizao dos impactos das crises de
preos baixos entre 1985 e 1999, quando
as margens dos outros segmentos da
indstria, o refino e a distribuio
puderam ser agregadas aos resultados das
referidas empresas, beneficiando de
maneira direta tambm seus pases. O
trabalho menciona ainda que tais
solues devem ser aplicadas no Brasil,
uma vez que devero ser construdos
caminhos para a destinao do petrleo
produzido nas reas do pr-sal em
ambiente econmico marcado por
enormes incertezas e riscos reais de
sobre-oferta global. Os autores ainda
sugerem, como realizado por outros
produtores de petrleo, que se estude o
desafio da securitizao de mercados, ou
seja, da garantia de oportunidades de
alocao da produo do leo cru atravs
de entrada em ativos de refino em outros
pases.
3. ATUAO INTERNACIONAL DA PETROBRAS
A Petrobras foi criada em 1953
pelo ento nacionalista presidente Getlio
Vargas, dentro de uma estratgia de
governo pautada pela ideia de monoplio
para o setor petrleo, sob forte apelo da
campanha, igualmente nacionalista, O Petrleo Nosso. Embora a Petrobras tenha uma histria de busca por
verticalizao das suas operaes, o que
tem feito com sucesso, no que diz
respeito s operaes internacionais, tem
um registro de comportamento errtico.
Como citado pela empresa, em seu livro,
Histrias da Internacionalizao,
(Petrobras, 2007)desde o seu surgimento
em 1953, a Petrobras discute os desafios
e a deciso de operar ou no no exterior.
Nos seus primrdios no havia como
desprezar as gigantescas reservas
disponveis no Oriente Mdio. O
primeiro chefe do departamento de
explorao da empresa, o gelogo
americano, Walter Link, insistiu na
estratgia de se realizar esforos
exploratrios fora do Brasil nas
promissoras regies do Oriente Mdio. J
na poca se discutia e se entendia, dentro
da Petrobras, que a indstria de petrleo
era por natureza uma indstria de
caractersticas internacionais. Estas
marcas dos primrdios da empresa, ainda
esto presentes no seu dia a dia. O dilema
de operar somente no Brasil ou realizar
parte de suas operaes no exterior
permanece at os dias de hoje.
Testemunha deste dilema a estratgia
atual de venda de seus ativos no exterior,
com o objetivo de obter mais capital para
suas operaes no Brasil. Com as vendas
destes ativos, a empresa vai
desmobilizando suas atividades
internacionais e concentrando assim, cada
vez mais, suas operaes no Brasil.
Desde a sua criao, a empresa,
por no possuir produo no Brasil, j
atuava no mercado internacional de
petrleo, importando 80% da sua
necessidade de consumo. Em 1972, surge
ento a primeira grande iniciativa de
realizar operaes de explorao e
produo de leo no exterior, com o fim
de suprir o pas com petrleo e buscar o
aprimoramento tcnico e administrativo
da empresa. fundada a Braspetro,
baseada em cinco razes estratgicas, a
saber: 1) Existncia, no exterior, de capacitao gerencial e tecnologia
avanada para explorao e produo de
petrleo; 2) Bacias sedimentares
brasileiras, em terra, sem perspectivas de
poder abastecer o mercado nacional; e
inexistncia de tecnologia para
operaes na plataforma continental; 3)
Grande mercado consumidor (Brasil),
oferecendo Petrobras (nica
importadora) grande poder de barganha
nas importaes de petrleo e em
operaes de contrapartida;
4)oportunidades de diversificar riscos
exploratrios e de garantir fontes de
suprimento, com a consequente
manuteno de reservas nacionais e
reduo de riscos de desabastecimento
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ENGEVISTA, V. 16, n. 2, p.266-281, Junho 2014 274
no Brasil. 5) Expanso da Petrobras e da
indstria brasileira para o mercado
externo. (Petrobras, 2007). A Braspetro atuou com sucesso no exterior, tendo
entrado em dez pases na sua primeira
dcada de existncia, com descobertas na
Lbia, Iraque, Ir e Arglia. A principal
rea foco foi o Oriente Mdio, onde
destacou-se poca a descoberta do
campo de Majnoon no Iraque, at hoje
um dos maiores e de maior capacidade de
produo do mundo.
A segunda iniciativa estruturada
de atuao internacional surge com a
criao da empresa de comercio exterior,
a Petrobras Comercio Internacional,
Interbras, criada em 1975 e extinta em
1990. A empresa foi criada, com o
objetivo de estabelecer contrapartidas
com produtos brasileiros s importaes
de leo feitas pela empresa.
Em 1999, dois anos aps a
promulgao da Lei 9.478 de 1997, lei de
flexibilizao do monoplio estatal do
petrleo no Brasil, a Petrobras lana um
plano estratgico onde estabelece trs
pilares para a empresa: a consolidao do
mercado brasileiro, a implementao das
atividades de gs e energia, e o
incremento e acelerao do processo de
internacionalizao (Petrobras, 2007).
Findam aqui as atividades operacionais
da Braspetro e surge em meio profunda
reestruturao organizacional implantada
em 2000, a rea de Negcios
Internacionais. A nova rea surge com a
incumbncia de consolidar a posio de
empresa integrada e internacional de
energia.
4. A AQUISIO DA NSS NANSEI SEKIYU KK E O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAO
Em seu Plano de Negcios 2002-
2007, dentre outras polticas, a Petrobras
iniciou um processo de
internacionalizao atravs de aquisies
de ativos em outros pases. Dentre as
aquisies realizadas, citamos as
refinarias na Argentina, Bolvia, EUA e
Japo, sendo que esta ltima operao
destacaremos a seguir.
Em 2007, analisando o
comportamento de outras empresas
internacionais ou em processo de
internacionalizao como a ExxonMobil,
Shell, Saudi Aramco, aqui citadas, a
Petrobras adquiriu ento participaes na
empresa japonesa, NSS NanseiSekiyu
KK, dona de complexo formado por
terminal de armazenagem, porto e
refinaria. Cabe destacar, que este evento
de aquisio por empresa sulamericana,
de ativo ou empresa japonesa operando
dentro do Japo, nico na histria
daquele pas e do nosso continente.
Na poca, aproximadamente um
quarto do leo cru exportado, declarado
pela Petrobras ,tinha como destino a sia
do Pacfico. No mesmo documento, so
detalhadas as razes da referida compra:
Est prevista a utilizao da capacidade do terminal para impulsionar
a comercializao de biocombustveis no
Japo e no mercado asitico e
complementar a atual comrcio de
petrleo e derivados no mercado asitico
de aproximadamente 100.000barris por
dia. O negcio representa um marco
muito importante para a Petrobras que,
pela primeira vez, entrar na sia em
operaes de refino. O acordo est
alinhado ao Planejamento Estratgico da
Companhia referente ao incremento da
capacidade de refino de petrleo no
exterior e contribui de forma significativa
para o aumento da comercializao de
petrleo e derivados produzidos pela
Petrobras. (Petrobras, 2007, Fato Relevante). Estabelece-se ento uma
quebra de paradigma que se daria atravs
da integrao das operaes da empresa
compradora, a Petrobras, que exportaria
seu leo para a refinaria tambm de sua
propriedade, localizada dentro do
mercado japons. Esta forma de atuar, a
tornaria captadora de toda a margem da
cadeia, que incluiria a produo do leo,
o transporte, o refino e venda dos
derivados diretamente no mercado
japons e asitico. Isto daria empresa
tanto uma condio de captao maior de
margem, como de um posicionamento
competitivo mais robusto, em
contrapartida ao que teria dado a
-
ENGEVISTA, V. 16, n. 2, p.266-281, Junho 2014 275
condio de mero exportador de matria
prima. Haveria aqui tambm uma
securitizao de mercados para o seu leo
cru.
Outro aspecto estratgico que vale
a pena mencionar, o fato de que ao se
adquirir uma empresa da ExxonMobil no
Japo, adquiriu-se por consequncia,
tecnologias de operao de refino,
logstica, armazenagem, marketing,
gesto de segurana, meio ambiente e
sade e principalmente, tecnologia da
gesto do negcio. Tem-se uma real
oportunidade, de herdar tais
competncias e de no mnimo, ter
elementos de comparao para
questionamento de paradigmas arraigados
nas operaes domsticas brasileiras. As
oportunidades de aprendizados imbudas
na transao so incalculveis.
Como demonstra o relatrio da
BP(BP, 2013), de que a necessidade de
derivados de petrleo em grandes
mercados como Estados Unidos,
Alemanha, Japo, China, Brasil,
suprida, na sua maior parte, por
capacidade de refino instalada dentro
destes mercados. Uma das razes para tal
comportamento a questo logstica.
mais barato e mais fcil transportar o leo
cru, matria prima bruta, do que
transportar e distribuir seus derivados
pelos mercados. Segundo Gomes e Alves
(2007), no caso do transporte martimo, o
valor unitrio do frete varia de acordo
com o tamanho dos navios. Barcos de
grande porte, utilizados para transporte de
leo cru, podem chegar a metade do frete
de barcos menores que so utilizados no
transporte de derivados.
Afeta tambm o custo da logstica
a exigncia de qualidade do produto a ser
preservada. As exigncias de controle de
qualidade dos derivados so muito
maiores do que as do leo cru,o que faz
com que o seu transporte seja realizado
por barcos mais sofisticados, elevando
ainda mais o valor do frete. Como cita
Porto (2008), existe uma distino e
definio para os navios de petrleo e
seus derivados, os quais so classificados
como navios de claros ou limpos, os
adequados para o transporte de gasolina,
leo diesel, querosene de aviao e a
nafta, os quais demandam equipamentos
e estruturas mais sofisticadas. Os navios
classificados como escuros so os
indicados para a movimentao do
petrleo e dos leos combustveis. Logo,
dada a cara e sofisticada logstica exigida
para o transporte dos derivados,
indicado que o parque de refino se instale
dentro ou o mais prximo possvel do
mercado.
Outra importante questo a se
destacar so as barreiras comerciais de
importao de derivados para estes
pases, dentre elas as colocadas pelos
prprios refinadores instalados nestes
mercados. Desde 1997, no Brasil, como
em alguns outros pases, a importao de
derivados de petrleo, teve o seu
monoplio flexibilizado, contudo, at o
presente ano no se v outro importador
significativo no pas. Para se exportar
derivados para o Brasil, o pretenso
exportador ter que enfrentar barreiras de
entrada como a poltica de preos interna
adotada pela empresa, ou mesmo o
acesso sua logstica para internalizao
do produto.
Segundo Porter (1999), ao se
pretender entrar em novos mercados, uma
das foras que devem ser vencidas o
poder de negociao dos fornecedores
locais. Um novo entrante ter que
considerar pelo menos os seis principais
sustentculos das barreiras de entrada
citados pelo autor, a saber: 1) economia
de escala, 2) diferenciao de produto, 3)
exigncias de capital, 4) desvantagens de
custo independente do tamanho, 5) acesso
a canais de distribuio e 6) polticas
governamentais. Ningum entra no
mercado dito dos outros, sem esta
mnima, histrica e clssica anlise.
Como citado ainda por Porter (1999), a
concorrncia usar recursos para impedir
uma que nova empresa entre em seu
mercado. Recursos excessos de caixa,
maior disponibilidade de crdito
financeiro, capacidade de produo
instalada e posio consolidada junto a
canais de distribuio e clientes. No caso
da indstria do petrleo, destaca-se a
barreira da capacidade de refino instalada
-
ENGEVISTA, V. 16, n. 2, p.266-281, Junho 2014 276
nos mercados, o poder dos canais de
distribuio e logstica, que no caso do
Brasil, pertencem aos prprios
competidores verticalizados, e os
diferenciais de custo a serem vencidos,
dados os valores com o frete de
exportao. O autor cita ainda que, no
esforo de impedir que um novo
concorrente entre em seu mercado,
suprimindo parte de sua participao
conquistada, as empresas estabelecidas,
se mostram em geral dispostas a realizar
poltica de reduo de preos atravs de
descontos em seus produtos. Embora o
pas seja um dos maiores mercados de
derivados de petrleo do mundo, a
poltica de preo dos combustveis e dos
derivados de petrleo imposta pela
Unio, acionista controlador da
Petrobras,, inviabiliza qualquer inteno,
quer seja de exportao de combustveis
para o pas, quer seja a instalao aqui de
um novo refinador.
Dadas as dificuldades de entrada
aqui citadas, uma estratgia histrica e
usada de maneira ampla pela indstria de
petrleo para atingir novos mercados so
as fuses e aquisies. Vide as fuses e
aquisies de Exxon com Mobil,
Chevron com Texaco, Statoil com Hidro,
Total com Elf, e a mais antiga de todas
Royal Dutch com Shell (j mencionada
anteriormente). A prpria Standard Oil
cresceu atravs de agressivo programa de
aquisies. Como exemplo adicional e
nacional vale destacar a Consan, que em
operao recente, adquiriu os ativos de
distribuio da Esso e a seguir se fundiu
com a Shell Brasil para a formao da
empresa Raizen. Neste movimento, as
empresas se verticalizaram, ligando a
produo de etanol distribuio de
combustveis. Com a fuso, a Consan
passa a ter acesso ao circuito
internacional de desenvolvimento
tecnolgico do qual a Shell faz parte.
Seguindo a estratgia de entrada
em mercados via aquisio, foi adquirida
ento, pela Petrobras, a participao da
ExxonMobil (87,5%) na empresa NSS NanseiSekiyuKK, ficando como scia a
Sumitomo Corporation (12.5%). A
empresa est localizada no arquiplago
de Okinawa, no Japo, possui entre os
seus principais ativos uma refinaria de
100.000 barris de capacidade de
processamento de petrleo, terminal de
armazenagem de 9.3 milhes de barris de
leo e derivados e porto com trs
posies de per e uma posio de
atracagem tipo monobia, para barcos do
tipo VLCC (Very Large Crude Carriers).
Neste processo de aquisio foi possvel
perceber diferentes maneiras de pensar e
atuar, tanto dos governos japons e
americano, como das corporaes aqui
citadas. Ressalta-se ainda que a excelente
posio geogrfica da NSS, a coloca em
condies de atingir os mercados da
China e de Taiwan. Para que a estratgia
fosse implementada seria necessria a
realizao de transformao da refinaria
para o processamento do leo pesado
produzido no Brasil.
Tal estratgia foi abandonada com
a deciso de se implantar as refinarias de
exportao nos estados do Maranho e
Cear. Esta estratgia de exportao de
derivados aos mercados europeus teria
que vencer todas as barreiras de entrada,
descritas acima. Alm disto, as duas
futuras refinarias encontrar-se-o muito
distantes dos mercados alvos. Dada a
necessidade de importao de derivados
para atendimento ao mercado brasileiro,
manteve-se a estratgia de construo de
novas refinarias no Brasil, porem agora
voltadas ao mercado domstico. O pas,
entre os anos de 2003 e 2012, mais do
que dobrou sua importao de derivados
de petrleo, como demonstra a Tabela1.
-
ENGEVISTA, V. 16, n. 2, p.266-281, Junho 2014 277
Tabela 1: Importao de derivados de petrleo, energticos e no energticos 2003 a 2012. Fonte: adaptado de Ministrio de Desenvolvimento, Indstria e Comrcio (2013).
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 12/11%
Energtico+no energticos 13139,40 11744,40 10921,60 13501,30 15959,50 17913,70 15936,70 27375,40 30314,90 27173,50 -10.36 Soma dos Energticos 6488,80 4870,80 2764,40 6111,30 7921,10 9713,50 7354,70 14727,40 17427,20 16152,40 -7.32
Gasolina A 181,70 55,40 71,20 28,20 10,00 0,20 - 505,10 2186,80 3780,20 72.86 Gasolina de aviao 3,90 1,70 3,10 6,20 6,10 6,20 1.64
GLP 2039,90 1880,10 947,60 1585,50 1794,60 2188,80 2556,70 3122,60 3389,70 2520,30 -25.65
leo combustvel 93,00 130,40 52,90 251,70 116,90 198,30 10,20 160,70 709,40 212,30 -70.07
leo diesel 3818,40 2694,70 2371,30 3545,10 5099,40 5829,30 3515,00 9007,00 9332,80 7970,20 -14.60
QAV 352,00 108,50 324,50 700,80 891,20 1496,90 1269,60 1922,80 1802,70 1663,20 -7.74 Soma dos no energticos 6650,60 6873,60 8157,20 7390,00 8038,40 8200,20 8582,00 12648,00 12887,70 11021,10 -14.48
Com o abandono da estratgia de
entrada em mercados estrangeiros atravs
de investimento em parques de refino,
como o ocorrido no Japo, todo o
excedente de leo bruto produzido no
pas dever ter destino aos mercados
estrangeiros, porm na condio de
matria bruta. Volta-se ento mesma
condio do Brasil colonial. Enquanto as
refinarias novas no ficarem prontas, o
pas ficar na condio de exportador de
matria prima bsica e importador de
produtos acabados. Caso mantida a
estratgia de aquisio de refinarias no
exterior, este suprimento de derivados
poderia ser feito a partir de ativos de
propriedade da prpria Petrobras,
beneficiando-se assim da condio de
integrao. Hoje estes produtos so
importados de outros pases que dispe
de estrutura adequada de refino.
5. EFEITOS NO BRASIL E PETROBRAS
Embora com queda de produo
de leo e lquidos de gs natural no ano
de 2013 em relao ao ano de 2012
(Figura8), a Petrobras continua
exportando crus (Figura 9).
Figura8: Demonstrativo da produo de petrleo pela Petrobras desde o primeiro trimestre
de 2012 at o segundo trimestre de 2013 (parcelas do Pr-sal e do Ps-sal
discriminadas).Fonte: adaptado de Petrobras (2013).
0
500
1000
1500
2000
2500
1T12 2T12 3T12 4T12 1T13 2T13
109 115 140 188 233 240
1957 1855 1764 1792 1677 1691
Outros campos
Pr-sal
-
ENGEVISTA, V. 16, n. 2, p.266-281, Junho 2014 278
Figura 9. Balano da importao e exportao de petrleo e derivados. Fonte: adaptado de
Petrobras (2013).
Com o aumento futuro da
produo de leo cru provocado
principalmente pelas promissoras
descobertas do pr-sal brasileiro,e
esperado excedente de leo para a
exportao, (o mercado domstico de
refino no absorver toda a produo
prevista, Figura 10), a principal questo
saber se haver uma mudana na
estrutura e forma, tradicional e histrica,
de atingimento de mercados no exterior,
ou se haver uma quebra desta tendncia.
Existe uma real oportunidade de quebra
da tendncia, atravs de movimento de
entrada em mercados de combustveis
internacionais, via as aquisies de
capacidade de refino. Esta estrutura
integra a exportao de matria prima
produzida pela empresa, produo de
produtos acabados atravs de parques
prprios de refino instalados dentro dos
mercados alvos, e consequente venda
destes produtos a mercados consumidores
externos.
Este movimento teria como
objetivo, os alvos tais como os
apresentados pelas empresas
ExxonMobil, Shell e Saudi Aramco aqui
citadas. As vantagens desta poltica
resultam da valorizao mxima dos
esforos de explorao e produo,
agregao de valor via captao de
margens provenientes do refino e da
venda e distribuio dos produtos
derivados do petrleo nos mercados e
garantia de mercados para a produo de
petrleo. No o petrleo, nem somente
os produtos destas empresas, que cruzam
os mares em movimentos de exportao,
mas sim as suas prprias organizaes.
Figura 10. Produo de leo e lquidos de gs natural e produo de derivados.
Fonte: adaptado de Petrobras (2013).
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
2T12 1T13 2T13
Exportao
Outros derivados OC Petrleo
2T12 1T13 2T13
Importaes
Diesel Gasolina Outros derivados Petrleo
2T12 1T13 2T13
Importaes
Diesel Gasolina
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Mb
p d
ia-1
Produo de leo e LGN Produo de derivados
-
ENGEVISTA, V. 16, n. 2, p.266-281, Junho 2014 279
Se compararmos as duas curvas
apresentadas na Figura 10, a qual
considera apenas a produo da Petrobras
e o seu refino no Brasil, se prev um
excedente de leo cru para ser exportado
no valor de 1.4 milhes de barris dia. Isto
colocar a Petrobras no grupo de maiores
exportadores de leo cru do mundo.
Considerou-se a produo de petrleo de
4.2 milhes de barris dia, menos a
capacidade de refino de 2.8 milhes de
barris dia em 2020, considerando um
fator de utilizao das refinarias de 93%.
Neste perodo, considera-se que 100% do
refino e da importao de combustveis
do pas ser feita pela Petrobras e no h
perspectiva da entrada de outras empresas
no negcio at 2020.
Cabe destacar que fora a produo
da Petrobras, que prev as exportaes
lquidas de 1.4 milhes de barris por dia
mencionadas acima, o modelo regulatrio
aprovado em dezembro de 2010, para as
concesses das promissoras reas do pr-
sal, ser o modelo de partilha, onde
significativas parcelas da produo das
novas reas ser destinada ao governo
federal.
No modelo regulatrio para
explorao e produo nas reas do pr-
sal, a previso de transformao do
petrleo produzido em moeda, ser feita
atravs da venda do leo cru, seja para o
mercado domstico brasileiro seja para o
mercado internacional. O modelo da
forma como est proposto deve fazer,
mais uma vez, o papel de incentivador de
exportaes de matrias primas. Esta
produo ainda no existe, pois a
primeira rea do pr sal foi leiloada no
ms de outubro de 2013,sendo que no
compe a curva de produo apresentada
pela Petrobras, como acima citado.
6. CONCLUSO
A operao integrada na cadeia de
produo dos combustveis (vertical) e
distribuda por mais mercados
(horizontal) fortalecer estrategicamente
e financeiramente a Petrobras que ficar
mais equilibrada diante dos constantes
problemas sofridos, que so gerados por
fatores estruturais, descritos a seguir:
i)Variao cambial da moeda brasileira Petrobras tem sido fortemente afetada
pela desvalorizao cambial,
principalmente pelo fato de que
praticamente 100% de suas receitas so
realizadas em Real e a maior parte do seu
endividamento est vinculado ao Dlar
americano. Como no h gerao
significativa de receitas em outras
moedas ditas fortes, o impacto da
variao cambial sofrido pela empresa
muito grande.
ii)Poltica de preos desfavorvel A Unio, na condio de acionista
controlador da Petrobras, tem imposto a
empresa a adoo de uma poltica de
preos que no contempla a referncia de
preos internacionais. Este fator adverso,
principalmente em momentos em que a
empresa se torna importadora lquida de
petrleo e combustveis, no se d s pelo
fato de uma poltica de preos
desfavorvel, mas em razo da quase
totalidade das suas vendas acontecerem
dentro do mercado brasileiro. A Petrobrs
est vulnervel por estar exposta
realidade de preos de um nico
mercado.
iii) Variaes de mercado como praticamente 100% das vendas da
Petrobras ocorrem no Brasil e a sua
capacidade de refino no atende ao
mercado nacional, variaes nas
demandas a colocam sistematicamente
em situao difcil. Com expanses como
as atualmente vividas, a empresa
colocada em posio de importadora
lquida de GLP (gs de cozinha),
gasolina, querosene de aviao e diesel, e
com possveis retraes, esta no tem a
proteo de operar dentro de um conjunto
de mercados que variam de maneira
assimtrica. Se a empresa possusse
parque de refino no exterior, como
acontece com as empresas internacionais
integradas, o suprimento da necessidade
de importao poderia estar sendo feito
atravs do prprio sistema Petrobras.
iv) Mercado de Gs Natural certo que a Petrobras est exposta a variaes de
chuvas e consequentes despachos de
gerao termoeltricos. Mas isto um
fato ligado sua participao na gerao
eltrica via gs natural e ao fato de o pas
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ENGEVISTA, V. 16, n. 2, p.266-281, Junho 2014 280
ter um vasto sistema de gerao
hidroeltrica. exceo do suprimento
de gs da Bolvia onde as operaes
internacionais da empresa esto
integradas a suas operaes no Brasil, ela
est exposta necessidade de importao,
e isto tem se tornado a regra da operao,
dadas as variaes do mercado brasileiro.
Finalmente, no sem razo, que
desde os primrdios da histria da
indstria do petrleo, empresas
comparveis Petrobras, tentam
constantemente se posicionar de maneira
global, nos mais diversos segmentos que
se apresentam nesta indstria e de
maneira otimamente verticalizada. Se o
alvo segurana e desenvolvimento da
empresa e do pas, o peso do energtico
petrleo sugere este posicionamento .A
exposio a apenas um destes quatro
fatores estruturais, aqui citados, j deve
ser motivo de preocupao da empresa e
do pas, quanto mais sua exposio
simultnea aos quatro fatores. Desprezar
esta caracterstica histrica da indstria
tem trazido perdas Petrobras, a coloca
em posio de fragilidade e por
consequncia, dada a sua posio de
quase monopolista, expe tambm o pas
a riscos no segmento de energia.
7. AGRADECIMENTOS
JCW e JB agradecem ao CNPq
por suas bolsas de produtividade em
pesquisa
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