6. memoriais modelo

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XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO 2ª FASE - PENAL DAMASIO EDUCACIONAL XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO – 2ª FASE PENAL Modelo de Memoriais EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 9ª VARA CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE PLANALTINA/DF JOSÉ DE TAL, já qualificado nos autos da ação penal nº ..., que lhe move a Justiça Pública, por seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, dentro do prazo legal, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS Nos termos do artigo 403, §3º, do Código de Processo Penal, pelos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos. I - DOS FATOS José de Tal é processado pela prática do delito previsto no artigo 244, caput, c/c artigo 61, inciso II, alínea “e”, ambos do Código Penal, porque, segundo narra a inicial acusatória, desde janeiro de 2007 até, pelo menos, 4 de abril de 2009, deixou de proporcionar a seu filho, Jorge de Tal, menor de 18 anos, os recursos necessários a sua subsistência, faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicial fixada.

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XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

2ª FASE - PENAL

DAMASIO EDUCACIONAL

XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO – 2ª FASE PENAL

Modelo de Memoriais

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 9ª VARA CRIMINAL DA

CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE PLANALTINA/DF

JOSÉ DE TAL, já qualificado nos autos da ação penal nº ..., que lhe move a Justiça Pública, por

seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, dentro do

prazo legal, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS

Nos termos do artigo 403, §3º, do Código de Processo Penal, pelos fundamentos de fato e de

direito a seguir expostos.

I - DOS FATOS

José de Tal é processado pela prática do delito previsto no artigo 244, caput, c/c artigo

61, inciso II, alínea “e”, ambos do Código Penal, porque, segundo narra a inicial acusatória,

desde janeiro de 2007 até, pelo menos, 4 de abril de 2009, deixou de proporcionar a seu filho,

Jorge de Tal, menor de 18 anos, os recursos necessários a sua subsistência, faltando ao

pagamento de pensão alimentícia judicial fixada.

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XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

2ª FASE - PENAL

DAMASIO EDUCACIONAL

XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

Finda a instrução, o Ministério Público pediu a sua condenação, nos termos em que

denunciado.

II - DO DIREITO

a) Nulidades

(APRESENTAÇÃO DA TESE) No caso dos autos, não houve proposta de suspensão

condicional do processo, o que configura nulidade processual. Vejamos.

(PREMISSA MAIOR) Conforme disposição contida no artigo 89 da Lei nº 9.099/95, “nos

crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por

esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo,

por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido

condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão

condicional da pena”.

(PREMISSA MENOR) Ora, José de Tal é primário e portador de bons antecedentes.

Ademais, a pena mínima abstratamente cominada ao delito a ele imputado (artigo 244 do

Código Penal) é de 1 ano. Com isso, estão preenchidos os requisitos impostos pelo citado

dispositivo legal mencionado.

Assim, no caso, o prosseguimento do presente processo sem o oferecimento de

proposta de suspensão condicional do processo, contraria o mencionado dispositivo do

diploma processual penal, acarretando a nulidade processual, nos termos do artigo 564, inciso

IV, do Código de Processo.

(CONCLUSÃO) Portanto, de rigor a anulação do presente feito.

(APRESENTAÇÃO DA TESE) Ademais, no caso dos autos, citado o acusado, não houve

apresentação de resposta à acusação (artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal), o que

também configura nulidade processual. Vejamos.

(PREMISSA MAIOR) Conforme dispõe o artigo 396-A, §2º, do Código de Processo Penal,

não apresentada a resposta à acusação no prazo legal de 10 dias, deve o juiz nomear defensor

para oferecê-la, ou seja, a peça deve obrigatoriamente ser apresentada por advogado.

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XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

(PREMISSA MENOR) No caso, o réu apresentou resposta à acusação de próprio punho,

visto que não tinha condições de contratar advogado sem prejuízo de seu sustento próprio e

do de sua família.

Ora, o prosseguimento do feito sem a nomeação de defensor para elaborar a sua

defesa técnica, no caso, contraria o mencionado dispositivo do diploma processual penal e

configura cerceamento de defesa, em afronta ao artigo 5ª, inciso LV, da Constituição Federal e

ao artigo 8º, n. 1, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa

Rica), acarretando a nulidade processual, nos termos do artigo 564, inciso IV, do Código de

Processo.

(CONCLUSÃO) Destarte, deve ser o presente feito anulado a partir da citação, com a

devolução do prazo para apresentação da resposta à acusação.

(APRESENTAÇÃO DA TESE) Ainda que não sejam acolhidas as nulidades já apontadas, o

presente feito também é nulo em razão da ausência de defesa técnica na audiência de

instrução.

(PREMISSA MAIOR) Conforme dispõe o artigo 261 do Código de Processo Penal,

“nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor”.

(PREMISSA MENOR) No presente caso, no entanto, José compareceu à audiência de

instrução e julgamento desacompanhado de advogado, realizando-se o ato sem que lhe fosse

nomeado defensor, ao entendimento de que a presença do membro do Ministério Público

seria suficiente.

Tal proceder contraria o mencionado dispositivo do diploma processual penal e

configura cerceamento de defesa, em afronta ao artigo 5ª, inciso LV, da Constituição Federal e

ao artigo 8º, n. 1, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa

Rica), acarretando a nulidade processual, nos termos do artigo 564, inciso IV, do Código de

Processo.

(CONCLUSÃO) Diante disso, mostra-se de rigor a anulação do processo desde a

audiência.

(APRESENTAÇÃO DA TESE) Por fim, há nulidade processual decorrente de cerceamento

de defesa pela não realização de interrogatório.

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(PREMISSA MAIOR) O artigo 185 do Código de Processo Penal determina que “o

acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, será

qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado”.

(PREMISSA MENOR) In casu, ao final da instrução, apesar de José de Tal manifestar

interesse em apresentar a sua versão dos fatos, a realização de seu interrogatório foi

indeferida, ao fundamento de que as provas colhidas já seriam suficientes para a formação do

convencimento judicial.

Tal proceder contraria o mencionado dispositivo do diploma processual penal e

configura cerceamento de defesa, em afronta ao artigo 5ª, inciso LV, da Constituição Federal e

ao artigo 8º, n. 1, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa

Rica), acarretando a nulidade processual, nos termos do artigo 564, inciso III, alínea “e”, do

Código de Processo.

(CONCLUSÃO) Assim sendo, também por esta razão é nulo o presente feito desde a

audiência.

b) Mérito

(APRESENTAÇÃO DA TESE) No mérito, o caso é de improcedência da imputação, por

atipicidade do fato.

(PREMISSA MAIOR) Com efeito, o delito do artigo 244 do Código Penal configura-se

diante de abandono material sem justa causa, ou seja, somente há o crime se não houver

justificativa para que se deixe de prover a subsistência do filho menor.

(PREMISSA MENOR) No presente caso, entretanto, conforme sobejamente

comprovado nos autos, José de Tal deixou de pagar a seu filho a pensão alimentar

judicialmente fixada por não ter condições financeiras para tanto.

Consoante apurado, o réu é ajudante de pedreiro, auferindo 1 salário mínimo por mês,

e mora com sua nova mulher, atualmente desempregada, e seus outros 6 filhos. As

testemunhas ouvidas em Juízo disseram que ele está a procura de mais um empregado para

poder sustentar a todos e comprar os remédios necessários para sua sobrevivência, já que é

portador de doença cardíaca. Mesmo nessa situação, José de Tal paga a pensão a seu filho

menor de forma parcelada, de acordo com a sua condição.

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XII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

Assim, não há que se falar em falta de justa causa, pelo contrário, o atraso é

amplamente justificado e, portanto, não configura o crime em apreço.

(CONCLUSÃO) Desta feita, tendo em vista a atipicidade da sua conduta, de rigor a

absolvição de José de Tal, com fulcro no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.

c) Subsidiariamente

Em caso de condenação, deve a pena-base ser fixada no patamar mínimo legal, por

ausência de circunstâncias judiciais desfavoráveis, cumprindo frisar que o réu é primário e

possui bons antecedentes.

Na segunda fase da dosimetria da pena, é preciso observar a incidência da atenuante

genérica da menoridade relativa, prevista no artigo 65, inciso I, do Código Penal, já que José de

Tal é maior de 70 anos. Ademais, não é aplicável a agravante do artigo 61, inciso II, alínea “e”,

do Código Penal, pois a descendência da vítima já é elementar do crime e a consideração de tal

circunstância também para fins de agravamento da pena resultaria em bis in idem.

Ainda, de rigor a fixação do regime inicial aberto, nos termos do artigo 33, §2º, alínea

“c”, do Código penal, em razão da primariedade do agente e diante da pena a ser aplicada no

patamar mínimo legal, com a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de

direitos, conforme o artigo 44 do Código Penal ou a suspensão condicional da pena, prevista

no artigo 77 do mesmo Diploma Legal.

Por fim, deve ser concedido ao réu o direito de recorrer em liberdade.

III - DO PEDIDO

Ante o exposto, requer-se anulação do processo, considerando-se: i) a falta de

proposta de suspensão condicional do processo; ii) a não apresentação de Resposta à

Acusação por advogado; iii) a ausência de defesa técnica na audiência de instrução e; iv) a não

realização de interrogatório. Caso não seja esse o entendimento, pugna-se pela absolvição do

réu, com fulcro no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal. Subsidiariamente, em

caso de condenação, requer-se a fixação da pena base no mínimo legal, reconhecendo-se a

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atenuante do artigo 65, inciso I, do Código Penal e afastando-se a agravante prevista no artigo

61, inciso II, alínea “e”, do mesmo Diploma Legal, com a fixação do regime inicial aberto e

substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos ou a suspensão

condicional da pena. Ainda, requer-se seja arbitrado no patamar mínimo o valor a ser pago a

titulo de reparação dos danos. Por fim, pleiteia-se a concessão do direito de recorrer em

liberdade.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local, 9 de agosto de 2010.

Advogado

OAB