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NOVO CÓDIGO CIVIL COMENTADO CAPÍTULO II - DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível. Histórico O dispositivo em comento não foi submetido a emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. A atual redação corresponde ao art. 880 do Código Civil de 1916. Doutrina A regra geral é a de que a obrigação de fazer pode ser executada pelo próprio devedor ou por terceiro à custa deste (art. 249), salvo quando a pessoa do devedor é eleita em atenção às qualidades que lhe são próprias, quando, por exemplo, se contratam os serviços de um advogado de nomeada ou se encomenda determinado quadro a um pintor célebre. Dir-se-á nesses casos que a obrigação de fazer é personalíssima. O art. 247 delineia a principal distinção entre as obrigações de dar e restituir e a obrigação de fazer personalissima . Nos dois primeiros casos, o devedor pode vir a ser forçado ao cumprimento da obrigação, ou seja, a entregar ou restituir a coisa. No terceiro caso, não. Se o devedor não cumpre a prestação a que se obrigou, a obrigação se resolve em perdas e danos, não havendo como compeli-lo a executar, ele mesmo, o que fora avençado. Repugna aos princípios do direito moderno que o devedor seja fisicamente coagido a cumprir a prestação a que se obrigou. O Código Civil argentino já estabelecia que o credor poderia exigir a execução forçada, desde que não implicasse violência contra o devedor O Código Civil francês, mais liberal, estabelece que toda obrigação de fazer e não fazer, em caso de inexecução pelo devedor, resolve-se em perdas e danos (“art. 1142: Toute obligation de faire ou ne pas faire se résout en dommages et intérêts, en cas d’inexécution de la part du débiteur”). Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-a a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. Histórico Este artigo não foi atingido por nenhuma espécie de modificação, seja da parte do Senado Federal, seja da parte da Câmara dos Deputados, no período final de tramitação do projeto. Corresponde ao an. 879 do Código Civil de 1916. Doutrina A regra aqui é idêntica à que rege as obrigações da dar coisa certa. Inexistindo culpa do devedor, resolve-se a obrigação, retomando-se ao statu quo ante, sem que o devedor tenha direito a qualquer reparação, além da devolução do que eventualmente já houver pago. Se o devedor se houve com culpa, contribuindo para a impossibilidade da prestação, o credor fará jus, também, às perdas e danos. Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. Histórico O dispositivo em destaque não foi alvo de nenhuma espécie de alteração, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Câmara dos Deputados, durante a tramitação final do projeto. Corresponde ao art. 881 do CC de 1916, com acréscimo de parágrafo único, no qual se prevê a execução direta das obrigações pelo credor Doutrina • Vide arts. 632 a 641 e ainda Art. 461 do CPC, com a redação dada pela Lei n. 8.952/94. Se a obrigação de fazer não é daquelas que só o devedor pode executar, e havendo recusa pelo devedor, pode o credor optar entre mandar executar a obrigação por terceiro, à custa do devedor, ou simplesmente receber as perdas e danos.

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  • NOVO CDIGO CIVIL COMENTADO

    CAPTULO II - DAS OBRIGAES DE FAZER

    Art. 247. Incorre na obrigao de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestao a ele s imposta, ou s por ele exeqvel.

    Histrico O dispositivo em comento no foi submetido a emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da

    Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. A atual redao corresponde ao art. 880 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina A regra geral a de que a obrigao de fazer pode ser executada pelo prprio devedor ou por terceiro

    custa deste (art. 249), salvo quando a pessoa do devedor eleita em ateno s qualidades que lhe so prprias, quando, por exemplo, se contratam os servios de um advogado de nomeada ou se encomenda determinado quadro a um pintor clebre. Dir-se- nesses casos que a obrigao de fazer personalssima.

    O art. 247 delineia a principal distino entre as obrigaes de dar e restituir e a obrigao de fazer personalissima . Nos dois primeiros casos, o devedor pode vir a ser forado ao cumprimento da obrigao, ou seja, a entregar ou restituir a coisa. No terceiro caso, no. Se o devedor no cumpre a prestao a que se obrigou, a obrigao se resolve em perdas e danos, no havendo como compeli-lo a executar, ele mesmo, o que fora avenado.

    Repugna aos princpios do direito moderno que o devedor seja fisicamente coagido a cumprir a prestao a que se obrigou. O Cdigo Civil argentino j estabelecia que o credor poderia exigir a execuo forada, desde que no implicasse violncia contra o devedor O Cdigo Civil francs, mais liberal, estabelece que toda obrigao de fazer e no fazer, em caso de inexecuo pelo devedor, resolve-se em perdas e danos (art. 1142: Toute obligation de faire ou ne pas faire se rsout en dommages et intrts, en cas dinexcution de la part du dbiteur).

    Art. 248. Se a prestao do fato tornar-se impossvel sem culpa do devedor, resolver-se-a a obrigao; se por culpa dele, responder por perdas e danos.

    Histrico Este artigo no foi atingido por nenhuma espcie de modificao, seja da parte do Senado Federal, seja da

    parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Corresponde ao an. 879 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina A regra aqui idntica que rege as obrigaes da dar coisa certa. Inexistindo culpa do devedor, resolve-se

    a obrigao, retomando-se ao statu quo ante, sem que o devedor tenha direito a qualquer reparao, alm da devoluo do que eventualmente j houver pago. Se o devedor se houve com culpa, contribuindo para a impossibilidade da prestao, o credor far jus, tambm, s perdas e danos.

    Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, ser livre ao credor mand-lo executar custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuzo da indenizao cabvel.

    Pargrafo nico. Em caso de urgncia, pode o credor, independentemente de autorizao judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

    Histrico O dispositivo em destaque no foi alvo de nenhuma espcie de alterao,

    seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Cmara dos Deputados, durante a tramitao final do projeto. Corresponde ao art. 881 do CC de 1916, com acrscimo de pargrafo nico, no qual se prev a execuo direta das obrigaes pelo credor

    Doutrina Vide arts. 632 a 641 e ainda Art. 461 do CPC, com a redao dada pela Lei n. 8.952/94. Se a obrigao de fazer no daquelas que s o devedor pode executar, e havendo recusa pelo devedor,

    pode o credor optar entre mandar executar a obrigao por terceiro, custa do devedor, ou simplesmente receber as perdas e danos.

  • O pargrafo nico inova de maneira substancial o direito anterior ao permitir que o credor, em caso de urgncia, realize ou mande realizar a prestao, independentemente de autorizao judicial. Trata-se, segundo lvaro Villaa Azevedo, de princpio salutar de realizao de justia pelas prprias mos do lesado, pois a interveno do Poder Judicirio retardaria, muito, a realizao do seu direito (Teoria geral das obrigaes, cit., p. 74).

    CAPTULO III - DAS OBRIGAES DE NO FAZER

    Art. 250. Extingue-se a obrigao de no fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossvel abster-se do ato, que se obrigou a no praticar.

    Histrico O art. 250 no serviu de palco a nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da

    Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Tal redao, na verdade, corresponde ao art. 882 dp Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina A obrigao de no fazer pode resultar da lei (relaes de vizinhana, servides etc.), de sentena ou de

    conveno das partes. Em qualquer dessas hipteses, se o ato praticado inexistindo culpa do devedor, resolve-se a obrigao, retornando-se ao statu quo ante. Se houver culpa, o credor far jus a perdas e danos. Em ambos os casos, fica o devedor obrigado a devolver o que haja recebido para que o ato no se realize.

    Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja absteno se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaa, sob pena de se desfazer sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.

    Pargrafo nico. Em caso de urgncia, poder o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorizao judicial, sem prejuzo do ressarcimento devido.

    Histrico O dispositivo em anlise no foi objeto de emenda pelo Senado Federal nem pela Cmara dos Deputados, no

    perodo final de tramitao do projeto. A redao atual a mesma do anteprojeto. Tratou-se de repetir o Art. 883 do Cdigo Civil de 1916, com o acrscimo do pargrafo nico, em que, semelhana do Art. 249, se previu o desfazimento do ato mnotu proprio pelo credor.

    Doutrina O novo Cdigo avana em relao ao de 1916, permitindo no pargrafo nico que, em casos de urgncia, o

    credor promova esse independentemente de autorizao judicial. Comentando sobre essa possibilidade ainda luz do direito anterior, Bevilqua, citado por Carvalho Santos, era contrrio a essa possibilidade afirmando que o credor no poder fazer por autoridade prpria, porque seria uma fonte de abusos e uma anarquia imprpria de uma legislao sistematizada. E que mesmo nos casos de urgncia e perigo, no lcito fazer justia com as prprias mos, isto porque, em regra, a lei fornece meios e medidas preventivas dos quais poder lanar mo o credor, para evitar qualquer dano. Por onde se v que. em hiptese alguma, poder-se- admitir que o prprio credor aja sem estar autorizado pelo juiz (J. M. de Carvalho Santos, Cdigo Civil brasileiro interpretado, cit., p. 92-3). A controvrsia resta agora definitivamente superada com o advento do Cdigo Civil de 2002, com grande vantagem para as partes, ao se evitar, nos casos de urgncia, a interveno do Judicirio. Os eventuais abusos que possam vir a ser praticados pelo credor sero coibidos e reparados por meio da competente ao de perdas e danos.

    CAPITULO IV - DAS OBRIGAES ALTERNATIVAS

    Art. 252. Nas obrigaes alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa no se estipulou. 1o No pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestao e parte em outra. 2o Quando a obrigao for de prestaes peridicas, a faculdade de opo poder ser exercida em

    cada perodo. 3o No caso de pluralidade de optantes, no havendo acordo unanime entre eles, decidir o juiz, findo o prazo por este amimado para a deliberao. 4o Se o ttulo deferir a opo a terceiro, e este no quiser, ou no puder exerce-la, caber ao juiz a escolha se no houver acordo entre as partes.

    Obrigao alternativa: Diz-se alternativa a obrgao quando comportar duas prestaes, distintas e independentes, extinguindo-se a obrigao pelo cumprimento de qualquer uma delas, ficando a escolha em

  • regra com o devedor e excepcionalmente com o credor. O terceiro, at pela denominao, no sujeito da obrigao, mas sim mandatrio ou representante dos

    interessados.

    Art. 253. Se uma das duas prestaes no puder ser objeto de obrigao ou se tomada inexeqvel, subsistir o dbito quanto outra.

    Histrico O dispositivo sob anlise no foi alvo de nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado Federal,

    seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto, salvo no tocante a pequena correo gramatical no verbo tornar. Trata-se de mera repetio do art. 885 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina Se cabia ao devedor a escolha e uma das prestaes se impossibilita, quer a impossibilidade seja natural ou

    jurdica, quer o devedor tenha agido ou no com culpa, a soluo ser uma s: a obrigao ficar concentrada na prestao remanescente, indiferentemente de manifestao do credor. A soluo a mesma dada pelo Cdigo Civil francs: Art. 1193:Lobligation alternative devient pure et simple, si lune des choses promises prit et ne peut plus tre livre, mme par la faute du dbiteur.

    Se a escolha era do credor e no houve culpa do devedor, a soluo a mesma. Se, porm, tiver havido culpa do devedor, na impossibilidade de uma das prestaes, pode o credor optar entre receber a prestao remanescente ou o equivalente em dinheiro da que se impossibilitou, acrescido de perdas e danos ( Art. 255, 1a parte).

    Art. 254. Se, por culpa do devedor, no se puder cumprir nenhuma das prestaes, no competindo ao credor a escolha, ficar aquele obrigado a pagar o valor da que por ltimo se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar.

    Histrico O artigo em destaque no serviu de palco a nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Tal redao, na verdade, mera repetio do art. 886 do Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao.

    Doutrina Se houver culpa do devedor, diante da impossibilidade de todas as prestaes, e couber a ele a escolha, a

    soluo encontrada pelo legislador foi a de obrig-lo a pagar a que por ltimo se impossibilitou, mais perdas e danos. Como ensina Pothier, nesse caso o devedor perde o direito de escolher, porque com a extino da primeira prestao ficou devendo obrigatoriamente a segunda, j a nica devida, de modo que, tornando-se tambm esta impossvel, s por ela deve responder o devedor (di Tratado das obrigaes, cit., p. 204).

    Sempre que houver culpa, haver perdas e danos.

    Art. 255. Quando a escota couber ao credor e uma das prestaes tornar-se impossvel por culpa do devedor, o credor ter direito de exigir a prestao subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestaes se tornarem inexeqveis, poder o credor reclamar o valor de qualquer das duas, alm da indenizao por perdas e danos.

    Histrico O presente artigo no foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Cmara dos

    Deputados no perodo final de tramitao do projeto. A redao atual a mesma do Art. 887 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    Doutrina Se a escolha couber ao credor, pode ele exigir o valor em dinheiro de qualquer das prestaes que se

    impossibilitaram, alm das perdas e danos. No fosse assim, estar-se-ia subtraindo ao credor o direito de escolha, quando, na verdade, o credor s poder ficar privado desse direito por um fato decorrente de caso fortuito ou fora maior, jamais por ato culposo do devedor, que poderia. propositadamente, fazer perecer a prestao mais valiosa, no intuito de causa prejuzo ao credor

    Art. 256. Se todas as prestaes se tornarem impossveis sem culpa do devedor, extinguir-se- a

  • obrigao.

    Histrico O dispositivo em anlise no foi atingido por nenhuma espcie de modificao, seja da parte do Senado

    Federal, seja da parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do Art. 888 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    Doutrina

    A obrigao se exaure por falta de objeto, desde que no tenha havido culpa do devedor ou do credor. a chamada impossibilidade inocente. Despiciendo ressaltar que o devedor estar obrigado a restituir o que houver recebido pelas prestaes que se impossibilitarem.

    Se, no entanto, tiver havido culpa do credor, este ter de indenizar o devedor pelo valor de uma das prestaes. E a razo bvia, como diz Carvalho Santos: o devedor estava obrigado a efetuar uma s das prestaes, embora a escolha fosse feita entre duas ou mais, de sorte que o desaparecimento de ambas as coisas, por culpa do credor, importa para o devedor em desfalque de seu patrimnio, que precisa ser indenizado; ele perdeu a coisa que ficaria em seu poder, depois de feita a escolha e satisfeita a obrigao com a entrega da que fora escolhida (Cdigo Civil brasileiro interpretado, cit., p. 132).

    CAPTULO V - DAS OBRIGAES DIVISVEIS E INDIVISVEIS

    Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigao divisvel, esta presume-se dividida em tantas obrigaes, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

    Histrico Este dispositivo no foi alvo de nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por

    parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do Art. ~9o O do Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao, nem mesmo de ordem redacional.Doutrina

    Obrigao divisvel: So divisveis as obrigaes cujas prestaes podem ser cumpridas parcialmente e em que cada um dos devedores s estar obrigado a pagar a sua parte da dvida, assim como cada credor s poder exigir a sua poro do crdito. Diferentemente do que ocorre com as obrigaes alternativas, aqui a prestao uma s. A pluralidade dos sujeitos da obrigao.

    Se houver um s credor e um s devedor, a obrigao ser sempre indivisvel, j que nem o credor estaria obrigado a receber pagamentos parciais, nem o devedor estaria compelido a faz-los. Nesse sentido dis-punha o art. 889 do Cdigo Civil de 1916.

    Art. 258. A obrigao indivisvel quando a prestao tem por objeto uma coisa ou um fato no suscetveis de diviso, por sua natureza, por motivo de ordem econmica, ou dada a razo determinante do negcio jurdico.

    Histrico Este artigo no serviu de palco a nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da

    Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto No h artigo correspondente no Cdigo Civil de 1916.

    DoutrinaObrigao indivisvel: Diz-se indivisvel a obrigao caracterizada pela impossibilidade natural ou jurdica de fracionar a prestao, na qual cada devedor obrigado pela totalidade da prestao e cada credor s pode exigi-la por inteiro. O conceito, inexistente no Cdigo Civil de 1916, j estava presente no Cdigo Civil francs: Art. 1218: Lobligation est indivisible, quoique la chose ou le fait qui en est lobjet soit divisible par sa nature, si le rapport sous lequel elle est considre dans lobligation ne la rend pas susceptible dexcution partielle.O novo Cdigo inova o direito anterior, no, somente pelo acrscimo do conceito de obrigao indivisvel, como sobretudo por deixar claro que a indivisibilidade no decorre apenas da natureza da prestao (indivisibilidade fsica) ou da lei (indivisibilidade legal), mas tambm por motivo de ordem econmica, posio que j era trilhada pela doutrina. Ou seja, tambm indivisvel a prestao cujo cumprimento parcial implique a perda de sua viabilidade econmica.Sobre O conceito de bens indivisveis, vide ainda art. 87 deste Cdigo.

    Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestao no for divisvel, cada um ser obrigado

  • pela divida toda.pargrafo nico. O devedor, que paga a divida, sub-roga-Se no direito do credor em relao aos outros

    coobrigados.

    HistricoO presente dispositivo no foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Cmara dos Deputados no perodo final de tramitao do projeto. A redao atual a mesma do art. 891 do Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao, nem mesmo de ordem redacional.

    Doutrina No pode o co-devedor de prestao indivisvel quitar parcialmente a dvida, ou seja, mesmo no estando

    obrigado pela divida toda, deve pag-la integralmente, pois no pode dividir a obrigao. No se trata de solidariedade, como veremos mais adiante, em que o devedor deve o todo.

    Prescrio : Questo das mais palpitantes em tema de obrigao indivisvel diz respeito prescrio. A regra geral a de que a prescrio de uma dvida indivisvel aproveita a todos os co-devedores e prejudica igualmente a todos os co-credores natural que, se a prpria obrigao foi atingida pela prescrio, nenhum dos devedores estar compelido a cumpri-la, nem qualquer dos credores poder cobr-la. O proble-ma surge quando nas obrigaes indivisveis, havendo pluralidade de devedores, a prescrio operada apenas em favor de um deles. Indaga-se: aproveita aos demais? Clvis Bevilqua, em seu Direito das obri-gaes, fazendo remisso a regra geral da interrupo da prescrio (art. 176, coput. do CC/l6 e art. 204, caput, do CC/2002), sustenta expressamente que a prescrio operada contra um dos devedores no prejudica aos demais (p. 37). No mesmo sentido a doutrina de Washington de Barros Monteiro. Orlando Oomes. Silvio Rodrigues. Caio Mrio e lvaro Villaa AzevedO no abordam a questo.

    Art. 260. Se a pluralidade for dos credores , poder cada um destes exigir a dvida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigaro pagando:

    I a todos conjuntamente II a um, dando este cauo de ratificao dos outros credores

    Doutrina A pluralidade de credores, tambm chamada de concurso ativo, pode ser originria ou sucessiva, ou seja,

    pode a obrigao j nascer com vrios credores ou apenas com um s e depois sobrevir o concurso, decorrente de sucesso, por ato inter vivos ou mortis causa.

    Embora facultado a um s dos concredores exigir a dvida toda, em regra, no pode o devedor liberar-se da obrigao pagando o total da dvida a um s deles, como lapidarmente sintetiza Tito Fulgncio:Demanda facultativamente individual, mas pagamento obrigatoriamente coletivo (Do direito das obrigaes, 2. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1952, p. 218).

    A regra, entretanto, no absoluta. O prprio inciso fl do artigo em comento traz a primeira exceo, consubstanciada na hiptese de o concredor que receber apresentar uma autorizao ou prestar cauo de ratificao pelos demais. Essa cauo nada mais do que uma garantia oferecida pelo credor que recebe o pagamento de que os outros co-credores o reputam vlido e no cobraro posteriormente do devedor as suas quotas no crdito. A segunda exceo ocorre quando o pagamento feito a um s dos concredores aproveitar a todos. Bufnoir, citado por Tito Fulgencio, lembra o caso de construo a se levantar em terreno comum, quando nenhum dos outros credores teria interesse em acionar o devedor (cf. Do direito das obrigaes, cit., p. 219).

    Art. 261. Se um s dos credores receber a prestao por inteiro, a cada um dos outros assistir o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.

    Doutrina Se o objeto da prestao for fracionvel. o credor que recebeu dar a cada concredor a sua parte na coisa

    divisvel. Se no for possvel o fracionamento, aplica-se o disposto no presente artigo e o valor a ser exigido pelos demais credores deve ser apurado de acordo com aparecia que caberia a cada um na obrigao.

    Art 262. Se um dos credores remitir a divida, a obrigao no ficar extinta para com os outros; mas estes s a podero exigir, descontada a quota do credor remitente.

    Pargrafo nico. O mesmo critrio se observar no caso de transao, novao, compensao ou confuso.

  • Histrico O presente dispositivo no foi alvo de nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado Federal, seja

    por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do Art. 894 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina O preceito em comento, alm de no inovar o direito anterior, repete no novo Cdigo redao que j era

    criticada luz do Cdigo Civil de 1916, como observa Joo Luiz Alves: A prestao indivisvel pode ser de coisa divisvel ou indivisvel. No primeiro caso, pode ser descontada a quota do credor remitente; no segundo, evidentemente, no. O devedor, nesse caso, tem direito de ser indenizado do valor da parte remitido (Cdigo Civil anotado, cit., p. 611). Ou seja, se o objeto da prestao no for divisvel, no se poderia falar em desconto.

    Diz lvaro Villaa Azevedo que se o objeto da prestao for divisvel, os devedores efetuaro o desconto do valor dessa cota para entregarem s o saldo aos credores no remitentes. (...) Na obrigao indivisvel, como este desconto impossvel, os devedores tm de entregar o objeto todo, para se reembolsarem do valor correspondente cota do credor, que perdoou a dvida (Teoria geral das obrigaes, cit., p. 94).

    Sugesto legislativa: Pelas razes expostas, oferecemos ao Deputado Ricardo Fiuza proposta para alterao deste dispositivo, cujo caput passaria a contar com a seguinte redao:

    Art. 262. Se um dos credores remitir a dvida, a obrigao no ficara extinta para com os outros; mas estes s podero exigir reembolsando o devedor pela quota do credor remitente.

    Art. 263. Perde a qualidade de indivisvel a obrigao que se resolver em perdas e danos. 1o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, respondero todos

    por partes iguais. 2o Se for de um s a culpa, ficaro exonerados os outros, respondendo s esse pelas perdas e danos.

    Histrico O dispositivo em anlise no foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da

    Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. A redao atual a mesma do art. 895 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina A indenizao pelas perdas e danos expressa sempre em dinheiro, sendo a obrigao pecuniria divisvel

    por sua prpria natureza, dai por que seria at mesmo desnecessrio o caput do dispositivo. Se houver culpa de todos os devedores na resoluo, todos respondero pela indenizao em partes iguais.

    Se a s um deles for imputada a culpa, lgico que s o culpado dever responder pelas perdas e danos. Observa-se, no entanto, que o 2o se refere exonerao dos demais co-devedores apenas no tocante s

    perdas e danos e no quitao de suas quotas na dvida.

    CAPTULO VI - DAS OBRIGAES SOLIDRIAS

    Art. 264. H solidariedade, quando na mesma obrigao concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, dvida toda.

    Histrico O presente dispositivo no serviu de palco a nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por

    parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do pargrafo nico do art. 896 do Cdigo Civil de 1916, erigido condio de artigo autnomo, mas sem qualquer alterao, nem mesmo de ordem redacional, tal qual fez o Projeto de Cdigo de Obrigaes em seu art. 122 (Projeto n. 673, de 1967).

    Doutrina Obrigao solidria: Diz-se solidria a obrigao quando a totalidade da prestao puder ser exigida

    indiferentemente por qualquer dos credores de quaisquer dos devedores. Cada devedor deve o todo e no apenas sua frao ideal, como ocorre nas obrigaes indivisveis. Diferencia-se da indivisibilidade, visto que esta se relaciona ao objeto da prestao, enquanto a solidariedade se funda em relao jurdica subjetiva. Tanto assim que, convertida a obrigao em perdas e danos, desaparece a indivisibilidade, permanecendo, no entanto, a solidariedade (art. 271).

  • Art. 265. A solidariedade no se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

    Histrico Este artigo no foi atingido por nenhuma espcie de modificao, seja da parte do Senado Federal, seja da

    parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do caput do art. 8% do Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao, nem mesmo de ordem redacional.

    DoutrinaO artigo em comento elenca as duas nicas fontes da solidariedade: a lei ou a vontade das partes. No havendo previso expressa na lei ou no contrato, presume-se inexistente a solidariedade, salvo prova em contrrio, admitida, aqui, inclusive a prova testemunhal.

    Art. 266. A obrigao solidria pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagvel em lugar diferente, para o outro.

    HistricoO dispositivo em anlise no foi alvo de nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado

    Federal, seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto.

    Doutrina O art. 266 procurou manter no novo diploma a disposio contida no art. 897 do Cdigo Civil de 1916,

    alm de promover o acrscimo da clusula final pagvel em lugar diferente, como alis j havia feito o Projeto de Cdigo de Obrigaes (Art. 123).

    O modo de ser da obrigao solidria pode variar de um co-devedor ou co-credor para outro. A obrigao pode at ser vlida para um e nula para o outro, sem afetar a solidariedade. Observa a Prof Maria Helena Diniz no ser incompatvel com a sua natureza jurdica a possibilidade de estipul-la como condicional ou a prazo para um dos co-credores ou co-devedores, e pura e simples para outro, desde que estabelecido no ttulo originrio. Assim, o co-devedor condicional no pode ser demandado seno depois da ocorrncia do evento futuro e incerto, e o devedor solidrio puro e simples somente poder reclamar reembolso do co-devedor condicional se ocorrer a condio. Como se v, no h prejuzo algum solidariedade, visto que o credor pode cobrar a dvida do devedor cuja prestao contenha nmero menor de bices, ou seja, reclamar o dbito todo do devedor no atingido pelas clusulas apostas na obrigao (Curso de direito civil brasileiro, 6. ed., So Paulo, Saraiva, 1990-1991, .. 2. p. 131). O dispositivo inova o direito anterior somente quando fez inserir a clausula final acerca do pagamento em lugar diferente apenas em relao a alguns dos devedores solidrios. A disposio foi transplantada do projeto de Cdigo de Obrigaes ( art. 123)/ No caso de clusula ou condio pactuada aps o surgimento da obrigao, vide Art. 278.

    Da solidariedade ativa

    Art. 267. Cada um dos credores solidrios tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestao por inteiro.

    Histrico O presente artigo no foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Cmara dos

    Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do Art. 898 d Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao, nem mesmo de ordem redacional.

    Doutrina Eis aqui a essncia da solidariedade ativa o direito que cada credor tem de exigir de cada devedor a

    totalidade da dvida e no poder o devedor ou os devedores negarem-se a fazer o pagamento da totalidade da dvida, ao argumento de que existiriam outros credores.

    Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidrios no demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poder este pagar.

    Doutrina Iniciada a demanda, o devedor s poder pagar ao autor da ao e no mais a quaisquer dos co-credores.

    Isso porque o credor que primeiro exerceu o seu direito previne o exerccio do mesmo direito pelos demais credores. Uma vez submetida a questo ao Judicirio, dever o devedor pagar em Juzo.

    Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidrios extingue a dvida at o montante do que foi

  • pago.

    Histrico O dispositivo em tela no foi atingido por nenhuma espcie de modificao, seja da parte do Senado

    Federal, seja da parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Corresponde ao art. 900 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina O dispositivo inova de forma substancial o direito anterior ao estabelecer que o devedor poder pagar

    parcialmente o dbito, visto que a extino da obrigao se dar na proporo do que foi pago. O artigo avanou em relao ao seu correspondente no Cdigo Civil de 1916 (Art. 900), em que s havia previso para o pagamento total da dvida.

    O devedor, se no houver sido cobrado pelo todo, pode pagar apenas uma parcela da divida a qualquer dos co-credores, uma vez que permanece a obrigao solidria em relao ao remanescente. Qualquer dos demais co-credores poder exigir do devedor o restante da dvida, abatendo o que foi pago.

    Art. 270. Se um dos credores solidrios falecer deixando herdeiros, cada um destes s ter direito a exigir e receber a quota do crdito que corresponder ao seu quinho hereditrio, salvo se a obrigao for indivisvel.

    HistricoO dispositivo em comento no sofreu nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do art. 901 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    Doutrina A solidariedade desaparece para os herdeiros, mas permanece em relao aos demais co-credores

    sobreviventes. Ressalta Washington de Barros Monteiro que os herdeiros do credor falecido no podem exigir, por conseguinte, a totalidade do crdito e sim apenas o respectivo quinho hereditrio, isto , a prpria quota no crdito solidrio de que o de cujus era titular, juntamente com os outros credores. Assim no acontecer, todavia, nas hipteses seguintes: a) se o credor falecido s deixou um herdeiro; 1 se todos os herdeiros agem conjuntamente; c) se indivisvel a prestao. Em qualquer desses casos, pode ser reclamada a prestao por inteiro. Para os demais credores, nenhuma inovao acarreta o bito do consorte; para eles permanece intacto, em toda a plenitude e em qualquer hiptese, o vnculo de solidariedade, com todos os seus consectrios (Curso de direito civil, cit., p. 170).

    Parece, no entanto, ser desnecessria a referncia feita obrigao indivisvel. Qualquer dos herdeiros do credor solidrio poder exigir a totalidade do crdito, no em decorrncia da solidariedade, mas pelo fato de ser indivisvel a obrigao. Aplicar-se-iam, portanto, as regras dos arts. 257 a 263.

    Art. 271. Convertendo-se a prestao em perdas e danos, subsiste,para todos os efeitos, a solidariedade.

    Histrico O presente dispositivo no foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da

    Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Corresponde ao Art. 902 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina O Art. 271 procurou manter no novo Cdigo a regra insculpida no Art. 902 do Cdigo Civil de 1916,

    suprimindo, no entanto, a sua antiga clusula final: e em proveito de todos os credores correm os juros de mora.Nesse particular inova o direito anterior ao eliminar disposio suprflua. Se permanece a solidariedade, obvio que os juros de mora aproveitaro a todos os co-credores.

    Conforme tivemos a oportunidade de expor em nossos comentrios ao art. 261, reside aqui um dos principais traos diferenciadores entre solidariedade e indivisibilidade. Nesta, resolvida a obrigao em perdas e danos, desaparece o vnculo e cada credor s poder exigir do devedor a sua parte.

    Art. 272. O credor que tiver remitido a dvida ou recebido o pagamento responder aos outros pela parte que lhes caiba.

    Histrico

  • O anteprojeto de Agostinho Amida Alvim atribua redao diversa ao dispositivo: O credor que tiver remido a dvida ou recebido o pagamento, responder aos outros pela pane, que lhes cabia. Durante a tramitao no Senado, alterao promovida pelo ento Senador Fernando Henrique Cardoso restaurou a redao ento em vigor no art. 903 do Cdigo de 1916. Alegou o Senador Fernando Henrique que se a forma verbal remitido~, no sendo incorreta, j ingressou na prtica jurdica, inconveniente seda substitu-la.

    DoutrinaQuando o credor solidrio, por ato pessoal, libera o devedor do cumprimento da obrigao, assume responsabilidade perante os demais co-credores, que podero exigir do que recebeu ou remitiu a parte que lhes caiba. S que a cada um s poder exigir a sua quota e no mais a dvida toda, uma vez que a solidariedade se estabelece apenas entre credor e devedor e no entre os diversos credores ou diversos devedores entre si. Nas relaes dos credores solidrios entre si, h tantos crditos quantos so os credores, e a responsabilidade entre eles sempre pro parte.

    Art. 273. A um dos credores solidrios no pode o devedor opor as excees pessoais oponveis aos outros.

    Doutrina O dispositivo inova o direito anterior ao introduzir na Seo II, que trata da solidariedade ativa, comando

    antes presente apenas no regramento da solidariedade passiva (art. 911 do CC/1916). Apesar de criticado por alguns, entendemos merecer elogios a insero do artigo, que se harmoniza com o disposto no art. 281. O dispositivo vem deixar expressa a regra de que as defesas que o devedor possa alegar contra um s dos credores solidrios no podem prejudicar aos demais. VaJt dizer, se a defesa do devedor diz respeito apenas a um dos credores solidrios, s contra esse credor poder o vcio ser imputado, no atingindo o vnculo do devedor com os demais credores (t. art. 274). .

    Observa, ainda, o Prof. lvaro Vilaa Azevedo a propriedade -de utilizar a palavra exceo, que tem significado tcnico especfico, previsto na lei processual. O melhor seria, na opinio do mestre, utilizar o vocbulo genrico defesas.

    Sugesto legislativa: Em face do acima exposto, encaminhamos ao Deputado Ricardo Fiuza proposta para alterar a redao dos arts. 273, 274, 281, 294 e 302, substituindo a palavra exceo por defesa.

    Art. 274. O julgamento contrrio a um dos credores solidrios no atinge os demais; o julgamento favorvel aproveita-lhes, a menos que se funde em exceo pessoal ao credor que o obteve.

    HistricoO artigo em tela no foi alvo de nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto, havendo sido copiado do Projeto de Cdigo de Obrigaes organizado pelo Professor Caio Mrio da Silva Pereira (art. 217), em que se procurou deixar explcita a regra de que o comportamento de um s dos co-credores no pode prejudicar aos demais.

    Doutrina O dispositivo, inexistente no Cdigo Civil de 1916. complementa o au. 273 e constitui um dos

    desdobramentos da regra geral contida no art. 266 deste Cdigo (Art. 897 do CC/19l6), segundo a qual a obrigao pode ter caractersticas de cumprimento diferentes para cada um dos co-credores, podendo, inclusive, vir a ser considerada invlida apenas em relao a um deles, sem prejuzo aos direitos dos demais.

    Da solidariedade passiva

    Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dvida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

    Pargrafo nico. No importar renncia da solidariedade a propositura de ao pelo credor contra um ou alguns dos devedores.

    Histrico O dispositivo em anlise no foi alvo de nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado Federal,

    seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Procurou-se reunir em

  • um s artigo as regras constantes dos ais. 904 e 910 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina Na solidariedade passiva, cada um dos devedores est obrigado ao cumprimento integral da obrigao, que

    pode ser exigida de todos conjunta-mente ou apenas de algum deles. Como a solidariedade passiva consti-tuda em benefcio do credor, pode ele abrir mo da faculdade que tem de exigir a prestao por inteiro de um s devedor, podendo exigi-la, parcialmente, de um ou de alguns. S que nesta ltima hiptese permanece a solidariedade dos devedores quanto ao remanescente da dvida. Nesse sentido a doutrina consolidada.

    Observa o mestre Alves Moreira que o direito que o credor tem de exigir a dvida de qualquer dos devedores pode ser limitado pelo acordo feito entre ele e os devedores, em virtude do qual se determine a ordem por que deve ser feito o pedido (Guilherme Alves Moreira

    O pargrafo nico, que no Cdigo Civil de 1916 estava posto como artigo autnomo, estabelece que o fato de o credor propor demanda judicialcontra um dos devedores no o impede de acionar os demais. Isso porque, enquanto no for integralmente paga a dvida, mantm-se ntegro o direito do credor em relao a todos e a qualquer dos outros devedores, no se podendo, mesmo, presumir a renunciar de tais direitos do fato de j ter sido iniciada a ao contra um dos devedores (J. M. de Carvalho Santos, Cdigo Civil brasileiro interpretado, cit., p. 250). Se, no entanto, for proposta mais de uma ao pelo credor, devem os processos Ser reunidos, a fim de se evitar julgamentos contraditrios (v. Art. 77, inciso li!, do Cdigo de Processo Civil).

    Art. 276. Se um dos devedores solidrios falecer deixando herdeiros, nenhum destes ser obrigado a pagar seno a quota que corresponder ao seu quinho hereditrio, salvo se a obrigao for indivisvel; mas todos reunidos sero considerados como um devedor solidrio em relao aos demais devedores.

    Histrico Este dispositivo no foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Cmara dos

    Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. A redao atual a mesma do anteprojeto concebido pelo mestre Agostinho de Amida Alvim e trata-se de mera repetio do Art. 905 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    Doutrina O artigo d aplicao ao princpio geral de que os herdeiros s respondem pelos dbitos do de cujus at os

    limites de suas quotas na herana. No h qualquer inovao em relao ao direito anterior. Sobre o assunto, Lacerda de Almeida, citado por

    Joo Luiz Alves, j explanava: Falecendo um dos devedores solidrios, a obrigao, obedecendo a um princpio geral, divide-se de pleno direito entre os herdeiros. Em virtude deste princpio ficam os herdeiros do devedor solidrio na posio entre si de devedores simplesmente conjuntos ( pro parte ) Todavia, como pelo fato de passar a herdeiros a condio da dvida no se transmuta, so eles.coletivamente considerados e em relao aos co-devedores originrios como constituindo um devedor solidrio (Obrigs.. 5 41, pdg. 53) (Cdigo Civil anotado, cit.. p. 618).Sobre o assunto, vide ainda comentrios ao art. 270.

    Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remisso por ele obtida no aproveitam aos outros devedores, seno at concorrncia da quantia paga ou relevada.

    HistricoO dispositivo em anlise no serviu de palco a nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do Art.906 do Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao, nem mesmo de ordem redacional.

    DoutrinaEssa disposio vem desde o Digesto Portugus, no implicando inovao, nem mesmo quando da publicao do Cdigo Civil de 1916.

    Divergindo aqui do Cdigo francs, o nosso Cdigo no exonera os coobrigados solidrios na hiptese de o credor perdoar um deles ou receber de apenas um o pagamento parcial das dvidas. A solidariedade subsiste quanto ao dbito remanescente, ou seja, os outros devedores permanecem solidrios, descontada a parte do co-devedor que realizou o pagamento parcial ou foi perdoado.

    Sobre remunerao da solidariedade em face de um dos co-devedores, ver Art. 282.

    Art. 278. Qualquer clusula, condio ou obrigao adicional, estipulada entre um dos devedores solidrios e o credor, no poder agravar a posio dos outros sem consentimento destes.

  • DoutrinaA alterao gravosa da obrigao s pode ocorrer com a aquiescncia de todos os devedores solidrios. Nenhum dos co-devedores poder. Sozinho, agravar a posio do outro na relao obrigacional.

    Art. 279. Impossibilitando-se a prestao por culpa de um dos devedores solidrios, Subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos s responde o culpado.

    Doutrina O princpio o mesmo do direito romano. No havendo culpa, resolve-se a obrigao. Havendo culpa de

    todos os co-devedores, todos eles respondero solidariamente pelo valor da prestao. alm das perdas e danos.Se a culpa, no entanto, foi de apenas um dos co-devedores, s o culpadoresponder pelas perdas e danos, mas a obrigao de repor ao credor o equivalente em dinheiro pela prestao que se impossibilitou ser de todos e, quanto a esta, permanece a solidariedade.

    Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ao tenha sido proposta somente contra um mas o culpado responde aos outros pela obrigao acrescida.

    Histrico O artigo em anlise no foi atingido por nenhuma espcie de modificao, seja da parte do Senado Federal,

    seja da parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto.

    DoutrinaSe todos so solidrios na dvida, devem responder conjuntamente pelas conseqncias do inadimplemento, ainda que um s deles seja culpado pelo atraso. Como assinala Washington de Barros Monteiro, embora o retardamento culposo imputvel seja a um s devedor, respondem todos perante o credor pelas conseqncias da inexecuo da obrigao, entre as quais se incluem juros da mora. Essa responsabilidade coletiva decorre da fora comunicativa inerente constituio em mora. Se, do ponto de vista das relaes externas, oriundas da solidariedade, todos os devedores respondem pelos juros moratrios, do ponto de vista interno, concernente s relaes particulares dos devedores entre si, s o culpado suporta o acrscimo, s a este se carregar dita verba, no acerto interno e final das contas. Trata-se de outra aplicao do princpio da responsabilidade pessoal e exclusiva, pelos atos eivados de culpa, h pouco referido (auctore non egrediuntur) (Curso de direito civil, cit., p. 185).

    Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as excees que lhe forem pessoais e as comuns a todos; no lhe aproveitando as excees pessoais a outro co-devedor.

    Histrico O presente dispositivo no serviu de palco a nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal,

    seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do art.911 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    Doutrina O dispositivo foi praticamente copiado do Cdigo Civil francs (Art. 1.208), no constituindo novidade, mesmo poca de elaborao do Cdigo Civil de 1916. J nos ensinava Alves Moreira que quanto s excees ou meios de defesa pessoais, o devedor solidrio no pode invocar os que sejam pessoais dos outros devedores, mas s os que pessoalmente lhe competem. E assim que ele no poder defender-se, quando seja demandado pelo credor, com a no realizao duma condio suspensiva, nem com o fato do dolo, erro ou violncia, ou por qualquer incapacidade relativa, quando os fatos e a incapacidade referidos no digam respeito a ele, mas a outros dos condevedores solidrios (Guilherme Alves Moreira.

    Explica, ainda, Silvio Venosa que podem existir meios de defesa, excees. particulares e prprias s a um (ou alguns) dos devedores. A ento , s o devedor exclusivamente atingido por tal exceo que poder aleg-la. So as excees pessoais, que no atingem nem contaminam o vnculo dos demais devedores. Assim, um devedor que se tenha obrigado por erro, s poder alegar esse vcio de vontade em sua defesa. Os wtros devedores, que se obrigam sem qualquer vcio, no podem alegar da sua defesa a anulabilidade da obrigao, porque o outro coobrigado laborou em erro. Destarte, cada devedor pode opor em sua defesa, nas obrigaes solidrias, as excees gerais (todos coobrigados podem faz-lo), bem como as excees que lhe so proprias. as pessoais Assim, no pode o coobrigado, que se comprometeu livre e espontaneamente, tentar invalidar a obrigao porque outro devedor entrou na solidariedade sob coao

  • (Silvio de Salvo Venosa, Direito civil, cit., p. 129). Sobre propostas de alterao deste artigo, vide comentrios ao Art. 273.

    Art. 282. O credor pode renunciar solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores.Pargrafo nico. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistir a dos demais.

    Histrico No foi o Art. 282 objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Cmara dos

    Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. A redao atual a mesma do anteprojeto e corresponde ao art.9l2 do Cdigo Civil de 1916.

    DoutrinaSe o credor renunciar ou exonerar da solidariedade todos os devedores, cada um passar a responder apenas pela sua participao na dvida. Extinguir-se- a obrigao solidria passiva, surgindo, em seu lugar, uma obrigao conjunta, em que cada um dos devedores responder exclusivamente por sua parte.

    Observe-se que estamos tratando de renncia solidariedade e no de renncia obrigao, que permanece intacta. Como bem observa Maria Helena Diniz ntida a diferena entre remisso da dvida e renncia ao benefcio da solidariedade, pois o credor que remite o dbito abre mo de seu crdito, liberando o devedor da obrigao, ao passo que apenas aquele que renuncia a solidariedade continua sendo credor, embora sem a vantagem dc poder reclamar de um dos devedores a prestao por inteiro (Curso de direito civil brasileiro, cit,, p. 141).

    Se a exonerao for apenas de um ou de alguns dos co-devedores, permanece a solidariedade quanto aos demais. Nessa outra hiptese, s poder o credor acionar os co-devedores solidrios no exonerados abatendo a parte daquele cuja solidariedade renunciou. A obrigao do devedor beneficiado permanece como obrigao simples. Ter-se-, ento, urna dupla obrigao: a simples, em que o devedor beneficiado passar a ser sujeito passivo, e a solidria, na qual figuram no plo passivo os demais co-devedores.

    Art. 283. O devedor que satisfez a dvida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no dbito, as partes de todos os co-devedores.

    HistricoO artigo em comento no foi alvo de nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Corresponde ao art. 913 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina O dispositivo no inova o direito anterior. O co-devedor que sozinho paga a dvida, paga alm da sua parte

    e por isso tem o direito de reaver dos outros coobrigados a quota correspondente de cada um. Ressalta novamente a Protb Maria Helena Diniz que mediante ao regressiva que se restabelece a situao de igualdade entre os co-devedores, pois aquele que paga o dbito recobra dos demais as suas respectivas partes (RF, 148:108; Ad, 100:134; RT, 81:146). Todavia, as partes dos co-devedorespodem ser desiguais. pois aquela presuno relativa ou jurts tantum assim, o devedor que pretender receber mais ter o onus probandi da desigualdade nas quotas, e se o co-devedor demandado pretender pagar menos, suportar o encargo de provar o fato (CPC, Art. 333, 11) (Curso de direito civil brasileiro, cit., p. 144).

    Sobre as origens do direito de regresso em face dos demais co-devedores, vide ainda Washington de Barros Monteiro, Curso de direito civil, cit., p. 190-2.

    O novo Cdigo, entretanto, repete no artigo expresso que j era criticada no Cdigo Civil de 1916, quando se refere ao pagamento ou satisfao da dvida por inteiro, fazendo parecer que o devedor solidrio que fez um pagamento parcial no teria direito de regresso contra os demais co-obrigados. Joo Luiz Alves, ainda em 1917, j se contrapunha expresso, afirmando: O cdigo refere-se a pagamento por inteiro. Se o pagamento, no for por inteiro, mas de metade ou de dois teros da dvida, perder o devedor o direito de haver dos co-obrigados a sua quota, proporcional a esse pagamento? Ningum o afirmar. Por isso, seria prefervel a redao sem a clusula por inteiro (Cdigo Civil anotado, cit., p. 622).

    Sugesto legislativa . Pelos fundamentos expostos, apresentamos ao Deputado Ricardo Fiuza sugesto no sentido de propor Cmara dos Deputados a supresso da expresso por inteiro, em benefcio da clareza.

    Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuiro tambm os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigao incumbia ao insolvente-

  • Histrico O dispositivo em tela no foi atingido por qualquer espcie de modificao, seja da parte do Senado

    Federal, seja da parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Corresponde ao art. 914 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    DoutrinaAssegura o dispositivo, como observa Washington de Barros Monteiro, fazendo remisso ainda a Clvis BeviLulua e Seiva Lopes, o direito dos co-devedores repartir, entre todos, a parte do insolvente. Trata-se de ponto importante, porque o rateio alcana o devedor exonerado pelo credor.Pode este romper o vnculo da solidariedade em relao ao seu crdito, mas no pode dispor do direito alheio, O exonerado da solidariedade pelo credor contribuir, portanto, proporcionalmente, no rateio destinado a cobrir a quota do insolvente (Curso de direito civil, cit., p. 192-3).

    Art 285. Se a dvida solidria interessar exclusivamente a um dos devedores, responder este por toda ela para com aquele que pagar.

    Histrico Este dispositivo no serviu de palco a nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte

    da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Tal redao, na verdade, corresponde ao art. 915 do Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao, nem mesmo de ordem redacional.

    DoutrinaEste artigo prev hiptese em que o co-devedor que paga a dvida toda no tem direito de regresso contra os demais, mas apenas contra aquele a quem a dvida interessava exclusivamente. O exemplo clssico o da fiana: sendo um o afianado e vrios os fiadores, e estabelecida no contrato a renncia ao benefcio de ordem, poder o credor acionar indistintamente tanto o afianado como quaisquer dos fiadores. Mas o fiador que pagar integralmente o dbito s ter o direito de reembolsar-se do afianado, que tinha interesse exclusivo na dvida, no podendo acionar os demais co-fiadores. O mesmo se d quando o afianado quem paga a dvida. bvio que no existir direito de regresso deste contra os fiadores.

    TTULO III - DO ADIMPLEMENTO E EXTINO DAS OBRIGAES

    CAPTULO 1 - DO PAGAMENTO - Seo 1 - De quem deve pagar

    Art. 304. Qualquer interessado na extino da dvida pode pag-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes exonerao do devedor.

    Pargrafo nico. Igual direito cabe ao terceiro no interessado, se o fizer em nome e conta do devedor, salvo oposio deste.

    Histrico Este dispositivo no serviu de palco a nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte

    da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Tal redao, na verdade, corresponde ao texto original do Projeto de Lei n. 675/75, em que se tratou de repetir o ali. 930 do Cdigo Civil de 1916, com inovao operada no pargrafo nico, para fazer constar expressamente a possibilidade de o devedor se opor realizao do pagamento pelo terceiro no interessado (v. ali. 306).

    Doutrina So interessados no pagamento da dvida o fiador, o avalista, o devedor solidrio, o sublocatrio, o scio, o

    terceiro que prestou hipoteca ou penhor, o herdeiro. Todos eles podem pagar independentemente do consentimento do devedor ou do credor e mesmo contra a sua vontade. J o terceiro no interessado s pode pagar pelo devedor e, em conseqncia desse pagamento, sub-rogar-se nos direitos de credor do devedor, se este no se opuser. Havendo oposio do devedor, o terceiro s poder pagar em nome prprio, aplicando-se a regra do art. 305.

    Observe-se que a nica inovao trazida no bojo desse Art. 304 foi justamente a insero dessa clusula final no pargrafo nico, privilegiando as hipteses em que, por razes de ordem moral, religiosa ou jurdi-ca, no seja conveniente ao devedor que determinada pessoa realize o pagamento.

    Art. 305. O terceiro no interessado, que paga a dvida em seu prprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas no se sub-roga nos direitos do credor.

  • Pargrafo nico. Se pagar antes de vencida a dvida, s ter direito ao reembolso no vencimento.

    Histrico O presente dispositivo no foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da

    Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do art. 931 do Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao.

    Doutrina Mesmo havendo oposio do devedor, pode o terceiro no interessado quitar a dvida, desde que o faa em

    nome prprio, ainda que em benefcio do devedor. Em respeito regra geral de vedao ao enriquecimento sem causa, pode o terceiro reembolsar-se, junto ao

    devedor, pelo que houver pago, sem, no entanto, sub-rogar-se nos direitos do primitivo credor Como no lhe seria possvel onerar a posio do devedor, pagando valor superior ao devido ou em data anterior ao vencimento, o reembolso estar limitado ao valor do dbito e s poder ser cobrado na data do vencimento.

    Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposio do devedor, no obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ao.

    Histrico O artigo em tela no foi atingido por nenhuma espcie de modificao, seja da parte do Senado Federal,

    seja da parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto.

    Doutrina Promoveu-se aqui substanciosa alterao no correspondente art. 932 do Cdigo Civil de 1916, para prever

    hiptese em que o devedor se eximir da obrigao de reembolsar o terceiro que houver pago o dbito, independentemente do beneficio que tinha experimentado, sempre que o pagamento se d sem o seu consentimento ou com a sua oposio, quando tinha, ele, devedor, meios ou instrumentos de evitar a cobrana do dbito pelo credor, como se d, por exemplo, nas hipteses cm que o devedor dispe de defesas pessoais, s oponveis ao primitivo credor.

    Na antiga redao do art. 932 do Cdigo Civil de 1916, o devedor, mesmo opondo-se ao pagamento pelo terceiro no interessado, estava obrigado a reembols-lo, ao menos at a importncia em que o pagamento lhe foi til. O art. 306 do novo Cdigo promove importante modificao na regra de reembolso, passando a dispor que o devedor, mesmo aproveitando-se, aparentemente, do pagamento feito pelo terceiro, no estar mais obrigado a reembols-lo, desde que dispusesse, poca, dos meios legais de ilidir a ao do credor, vale dizer, de evitar que o credor viesse a exercer o seu direito de cobrana. Na verdade, se o devedor tinha meios para evitar a cobrana, e ainda assim, com a sua oposio ou seu desconhecimento, vem um terceiro e paga a dvida, sofreria prejuzo se tivesse que reembolsar quele, significando inaceitvel onerao de sua posio na relao obrigacional por fato de terceiro. Merece, portanto, os maiores elogios a inovao do art. 306. A sua redao, no entanto, talvez no tenha sido a mais feliz, como ressalta lvaro Villaa Azevedo: A redao do texto analisado deixa a desejar, principalmente, quanto a esta ltima expresso, muito generalizada. Tem-se a impresso de estarem os mesmos dispositivos referindo-se ao do terceiro, mas isso no seria possvel, mormente se o devedor desconhecesse o pagamento por ele realizado. No caso a referncia aos meios de defesa do devedor junto ao credor, ilidindo a ao deste, na cobrana de seu crdito (Teoria geral das obrigaes, cit., p. 119).

    Entendemos assistir parcial razo ao mestre Villaa. Sugesto legislativa: Pelas razes antes expostas, oferecemos ao Deputado Ricardo Fiuza a seguinte

    sugesto de redao para o dispositivo:Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposio do devedor no obriga a

    reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ao do credor na cobrana do dbito.

    Art. 307. S ter eficcia o pagamento que importar transmisso da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.

    Pargrafo nica: Se se der em pagamento coisa fungivel no se poder mais reclamar do credor que, de boa-f, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente no tivesse o direito de alien-la.

    Histrico O presente artigo sofreu emenda por parte da Cmara dos Deputados no perodo inicial de tramitao do

    projeto. A redao original proposta pelo Prof. Agostinho Alvim no anteprojeto repetia a redao do art. 933 do Cdigo Civil de 1916. A emenda do Deputado Ernani Styro apenas substituiu a expresso S valer o pagamento por S ter eficcia o pagamento. E o fez atendendo a ponderao do Prof. Miguel Reale. Segundo Reale, a emenda teve por fim colocar o dispositivo em consonncia com os demais artigos

  • do projeto, em que a validade sempre se refere vigncia, enquanto a eficcia se refere conseqncia do ato, ou a sua aplicao.

    Doutrina A nica inovao relevante do dispositivo em relao ao direito anterior foi a substituio da palavra

    validade por eficcia. Sobre o assunto, vide nota ao art. 288. O pagamento que importar em alienao (obrigao de dar) no ter eficcia se feito por quem no era

    dono da coisa (alienao a non domino).Se porm era fungvel a coisa e o credor a recebeu e a consumiu de boa-f, reputa-se eficaz o pagamento e do credor nada se poder reclamar, cabendo ao terceiro, que era o verdadeiro proprietrio, buscar as reparaes cabveis do devedor que entregou o que no lhe pertencia.

    Seo II - Daqueles a quem se deve pagar

    Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de s valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

    Doutrina O pagamento s produzir eficcia liberatria da dvida quando feito ao prprio credor (aqui includos os

    concredores de dvida solidria , os cessionrios , os portadores de ttulo de crdito , entre outros). seus sucessores ou representantes. Essa a regra geral. Ser eficaz tambm se, feito a um estranho, vier a ser posteriormente ratificado pelo credor, expressa ou tacitamente. Ou ainda se se converter em utilidade ao credor. Se o pagamento, mesmo frito a um estranho no credor, ainda assim refletiu, favoravelmente, sobre o credor, proporcionando-lhe as mesmas vantagens, que poderia haurir se pessoalmente funcionasse cumprimento da prestao, perfeitamente eqitativo que se considere como realmente desatado o elo da cadeia obrigacional, que Jungia o devedor (Clvis Bevilqua, Direito das obrigaes, cit., p. 88) . Cabe ao devedor provar que o pagamento verteu em beneficio do credor.

    Art. 309. 0 pagamento feito de boa-f ao credor putativo vlido, ainda provado depois que no era credor.

    Histrico No foi este artigo objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Cmara dos

    Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. A redao atual a mesma do Anteprojeto, repetindo-se o art. 935 do Cdigo Civil de 1916, com pequena modificao redacional.

    Doutrina Credor putativo: aquele que, no s vista do devedor, mas nos olhos de todos, aparenta ser o verdadeiro

    credito o seu legitimo representante.Ttulo da obrigao. Uma variante bastante interessante desse caso a do pagamento feito ao possuidor de ttulo litigioso, que vem posteriormente a perder a propriedade do crdito. A hiptese descrita por Bevilqua: o pagamento ao possuidor do crdito vlido, ainda que, posteriormente, seja este vencido em juzo sobre a propriedade da dvida. Aparentemente era esse o credor, e o direito lhe reconhecia e garantia essa qualidade, enquanto se no demonstrasse que, em verdade, lhe no cabia ela por lei; por isso chamado credor putativo. At que chegue esse momento, no h outro a quem pagar. E, feito o pagamento durante o decurso de tempo, em que o indivduo era, juridicamente, o sujeito ativo da obrigao, sem nimo doloso, sem outra inteno, bvio que o pagamento est vlido e irrevogavelmente feito. Ao possuidor, porm, que assim recebeu o que se veio a verificar no lhe pertencer, cumpre restituir o que, por equvoco, lhe foi s mos (Clvis Bevilqua, Direito das obrigaes, cit., p. 87). Outra situao interessante a relatada por Slvio Venosa: Suponhamos o caso de algum que, ao chegar a um estabelecimento comercial, paga a um assaltante, que naquele momento se instalou no guich de recebimentos, ou a situao de um administrador de negcio que no tenha poderes para receber, mas aparece aos olhos de todos como efetivo gerente. No se trata apenas de situaes em que o credor se apresenta falsamente com o ttulo ou com a situao, mas de todas aquelas situaes em que se reputa o accipiens como credor (Sflvio de Salvo Venosa, Direito civil, cit., p. 170).

    A condio de eficcia do pagamento feito ao credor putativo a boa-f do devedor, caracterizada pela existncia de motivos objetivos que o levaram a acreditar tratar-se do verdadeiro credor No basta a crena subjetiva. Efetivado o pagamento nessas condies, fica o devedor exonerado, s cabendo ao verdadeiro credor reclamar o seu dbito do credor putativo, que o recebeu indevidamente.

    Art. 310. No vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor no

  • provar que em benefcio dele efetivamente reverteu.

    DoutrinaO pagamento, como todo e qualquer ato jurdico, exige plena capacidade das partes. Se feito ao absolutamente incapaz, nulo de pleno direito. Se feito ao relativamente incapaz, poder ser ratificado posteriormente, quer pelo seu representante legal, quer pelo prprio incapaz, aps cessada a incapacidade. Em ambos os casos, ser vlido o pagamento, provando o devedor que foi proveitoso ao incapaz.O dispositivo, apesar de transplantado do Cdigo Civil de 1916, afigura-se, at certo ponto, dispensvel, uma vez que suas hipteses de incidncia podem ser compreendidas como abrangidas pelo art. 308 deste Cdigo. Se o credor incapaz de quitar, no pode receber o pagamento, que deve ser feito ao seu representante legal. Equipara-se ao pagamento feito ao no-credor, sobre o qual j discorremos. Vide nossos comentrios ao art. 308.

    Se o devedor, por justificada razo, desconhecia a incapacidade do credor, aplica-se o mesmo princpio do artigo anterior, reputando-se vlido o pagamento, independentemente de comprovao de que trouxe proveito ao incapaz.

    Art 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitao, salvo se as circunstncias contrariarem a presuno da resultante.

    Histrico A nenhuma alterao se submeteu o presente artigo, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da

    Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Tal redao, na verdade, corresponde ao art. 937 do Cdigo Civil de 1916, com pequena modificao redacional.

    Doutrina O dispositivo foi praticamente copiado do Cdigo Civil alemo (art. 370). A presuno juris tantum (presume-se qu o credor autorizou o portador a receber a dvida, caracterizando verdadeiro mandato tcito). O portador da quitao deve, no entanto, aparentar a qualidade pela qual se apresenta, a ponto de induzir o devedor a erro, tal qual a hiptese do credor putativo. Havendo controvrsia sobre o portador da quitao, no ter eficcia o pagamento. Caber, no entanto, ao credor provar que o devedor sabia ou tinha motivos para saber que o portador no podia usar a quitao.

    Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crdito, ou da impugnao a ele oposta por terceiros, o pagamento no valer contra estes, que podero constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.

    Histrico Este dispositivo em tela no foi alvo de nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado Federal,

    seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repeti-o do art. 938 do Cdigo Civil de 1916, com pequena modificao redacional.

    Doutrina O artigo versa sobre a hiptese em que o pagamento feito ao verdadeiro credor mas, mesmo assim, no

    tem eficcia, vez que o credor estava impedido legalmente de receber. A penhora retira o crdito da esfera de disponibilidade do credor, razo por que ele no pode receb-lo. Se o devedor intimado de penhora incidente sobre o crdito ou de impugnao judicial oposta por terceiros e, ainda assim, paga ao credor, estar pagando mal, e corre o risco de vir a ser compelido a pagar novamente. Em tais casos, como observa Franzen de Lima, o exeqente e o oponente substituem o credor por ao judicial e o pagamento dever ser feito a eles no momento oportuno, ou por depsito judicial, livrando-se o devedor da obrigao (Joo Frazen de Lima, Curso de direito civil brasileiro, Rio de Janeiro, Forense, 1958, v. 2, p. 126).

    O objetivo do dispositivo proteger os direitos dos credores do credor, uma vez que os crditos fazem parte de seu patrimnio e este a garantia dos credores. O devedor, ciente da penhora ou da oposio judicial que paga o dbito diretamente ao credor, ser cobrado novamente pelos credores daquele, nada lhe restando fazer seno procurar reaver do seu credor o que havia pago.

    Seo III - Do objeto do pagamento e sua prova

    Art. 313. O credor no obrigado a receber prestao diversa da que lhe devida, ainda que mais valiosa.

    Histrico

  • No foi este dispositivo objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. A redao atual a mesma do Projeto n. 634, de 1975. Trata-se de mera repetio do art. 863 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    Doutrina Este artigo, no Cdigo Civil de 1916, estava inserido na Seo Ido Captulo 1, que tratava das obrigaes

    de dar coisa certa. No novo Cdigo o dispositivo foi deslocado para o Captulo II, referente ao pagamento, posio, a nosso ver, mais adequada, uma vez que a norma se aplica s vrias espcies de obrigaes, e no apenas de dar coisa certa.

    O devedor s se desonera da obrigao aps entregar ao credor exatamente o objeto que prometeu dar, ou realizar o ato a que se comprometeu, ou se abster da prestao, nas obrigaes de no fazer. Do contrrio, a obrigao converter-se- em perdas e danos, conforme j tivemos oportunidade de explicar nos comentrios anteriores.

    Art. 314. Ainda que a obrigao tenha por objeto prestao divisvel, no pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim no se ajustou.

    Histrico O artigo em anlise no foi atingido por nenhuma espcie de modificao, seja da parte do Senado Federal,

    seja da parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto.

    Doutrina O presente dispositivo no inova o direito anterior, visto que se trata de mera repetio do art. 889 do

    Cdigo Civil de 1916, cabendo idntico tratamento doutrinrio. As prestaes parciais s podem ser aceitas quando houver previso especfica no contrato ou assentimento expresso do credor.

    Art. 315. As dvidas em dinheiro devero ser pagas no vencimento , em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqentes.

    Histrico Os arts. 315 a 317, tal como se apresentavam na redao aprovada inicialmente pela Cmara, disciplinavam

    a aplicao da correo monetria. Chegando o texto ao Senado, uma emenda do Senador Gabriel Hermes vinha a suprimir os trs dispositivos, ao argumento de que a correo monetria, tpico instituto de vigncia transitria e emergencial, no poderia ser cristalizada no Cdigo Civil, em carter permanente. Ento, o Senador Josaphat Marinho, em desacolhendo a emenda Gabriel Hermes, manteve os trs artigos, excluindo as referncias correo monetria. No h artigo correspondente no Cdigo Civil de 1916.

    DoutrinaDvidas em dinheiro: So aquelas cujo objeto da prestao a prpria na moeda, ou seja, o dinheiro em si, como se d no mtuo. Diferem das dvidas de valor, aquelas em que o dinheiro serve apenas para medir ou valorar o objeto na prestao. Exemplos tpicos de dvida de valor, citados por Alvaro Villaa Azevedo, so a penso alimentcia, na qual o devedor deve ao credor no determinada soma de dinheiro, mas a que for necessria subsistncia do credor dessa penso, e a indenizao devida nas desapropriaeS, em que ser paga ao expropriado no uma soma em dinheiro, simplesmente mas uma importncia que corresponda ao valor da coisa desapropriada (Teoria geral das obrigaes, eit., p. 132).

    Art. 316. licito convencionar o aumento progressivo de prestaes sucessivas.

    Histrico Tal como se apresentavam na redao aprovada inicialmente pela Cmara, os mis. 315 a 317 disciplinavam

    a aplicao da correo monetria.

    Doutrina o dispositivo permite a atualizao monetria das dvidas em dinheiro e daquelas de valor, ao dispor sobre a

    possibilidade de as partes convencionarem o aumento progressivo das prestaes sucessivas. o que a doutrina convencionou chamar de clusula de escala mvel, mediante a qual o valor da prestao ser automaticamente reajustado. aps determinado lapso de tempo, segundo ndice escolhido pelas partes. A aplicao dessa clusula serve tambm para afastar o vetusto princpio do nominalismo, segundo o qual a obrigao s poder ser satisfeita levando-se em conta o seu valor nominal, o que em poca de inflao daria azo ao enriquecimento sem causa de uma das partes.

    A Lei n. 10.192, de 14-2-2001, declara nula de pleno direito qualquer estipulao de reajuste ou correo

  • de periodicidade inferior a um ano.

    Art. 317. Quando, por motivos imprevisveis, sobrevier desproporo manifesta entre o valor da prestao devida e o momento de sua execuo, poder o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possvel, o valor real da prestao.

    Doutrina O dispositivo, invocando o direito anterior, adota a teoria da impreviso, a fim de permitir que o valor da

    prestao seja corrigido por deciso judicial, sempre que houver desproporo entre o que foi ajustado du-rante a celebrao do contrato e o valor da prestao na poca da execuo. Para tanto, imprescindvel que a causa da desproporo tenha sido realmente imprevisvel e que tenha havido pedido expresso de urna das partes, sendo vedado ao juiz determinar a correo de ofcio. Na vigncia do Cdigo Civil de 1916, a ausncia desse dispositivo foi compensada pela jurisprudncia com a aplicao da clusula rebus sic stantibus , do direito romano.

    A clusula rebus sic stantibus, diz Regina Beatriz lavares da Silva, a abreviao da frmula contractus qui habent tractum sucessivum et depenlentiam de finura rebus sic stantibus intelliguntur, que, na Idade Mdia, era admitida tacitamente nos contratos com dependncia do futuro e que equivalia a estarem todos os contratos sucessivos ou a termo dependentes da permanncia da situao ftica existente na data da cele-brao contratual. Como conseqncia do individualismo, que passou a prevalecer nas relaes jurdicas, tal entendimento foi relegado ao esquecimento no decorrer do sculo XIX, mas ressurgiu com as novas idias solidaristas, que comearam a ganhar vulto desde o incio do presente sculo. Resultou, assim, da antiga clusula rebus sic stantibus a teoria da impreviso, com a preocupao moral e jurdica de evitar graves injustias, ao ser exigido cumprimento de contratos que no tenham execuo imediata, na forma estipulada, admitindo-se sua reviso ou resoluo, por meio de interveno judicial, se as obrigaes assumidas tornarem-se excessivamente onerosas pela supervenincia de fatos anormais e imprevisveis poca da vinculao contratual (Regina Beatriz Tavares da Silva Papa dos Santos, Clusula rebus sic stantibus ou teoria da impreviso, Belm, Cejup, 1989, p. 9).

    A regulamentao da clusula rebus sic stantibus vinha sendo tentada no Brasil desde 1941, com o primeiro Anteprojeto do Cdigo de Obrigaes. O novo Cdigo, nesse particular, tomou como modelo o Cdigo italiano de 1942, que, sem se afastar da regra geral pacta sunt servanda, previu a interveno judicial nos contratos, sempre que houver desproporo manifesta no valor da prestao, decorrente de fato imprevisvel.

    Sobre Teoria da Impreviso, vide ainda comentrios ao art. 478.

    Art. 318. So nulas as convenes de pagamento em ouro em ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferena entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legis-lao especial.

    Histrico Este dispositivo no foi objeto de emenda, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Cmara dos

    Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. A redao atual a mesma do Anteprojeto. Corresponde ao art. 947 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina O novo Cdigo repete regras constantes no Decreto n. 23.501, de 27-111933, e no Decreto-Lei n. 857, de

    11-9-1969, que j declaravam nulas quaisquer estipulaes de pagamento em ouro ou em outra espcie de moeda que no fosse a nacional, salvo previso em legislao especfica. o que a doutrina chama de curso forado da moeda nacional.

    A Lei n. 10.192, de 14-2-2001, estabelece expressamente, em seu art. 12, incisos I e II, in verbis: Art. 12 As estipulaes de pagamento de obrigaes pecunirias exeqveis no territrio nacional devero ser feitas em Real, pelo seu valor nominal. Pargrafo nico. So vedadas, sob pena de nulidade, quaisquer estipulaes de: 1 pagamento expressas em, ou vinculadas a ouro ou moeda estrangeira, ressalvado o disposto nos arts. 22 e 32 do Decreto-Lei n. 857, de 11 de setembro de 1969, e na parte final do art. 6o da Lei n. 8.880, de 27 de maio de 1994; II reajuste ou correo monetria expressas em, ou vinculadas a unidade monetria de conta de qualquer natureza

    As excees previstas em lei especial, portanto, so as seguintes: contratos de exportao e importao em geral, bem como os acordos resultantes de sua resciso; contratos de compra e venda de cmbio;contatos celebrados com pessoa residente e domiciliada no exterior, excetuados os contratos de locao de imveis situados no territrio nacional, bem como a sua transferncia ou modificao a qualquer ttulo, ainda que ambas as partes j estejam nessa oportunidade residindo no Pas.

    contratos de locao de bens mveis, desde que registrados no Banco Central do Brasil;

  • contratos de leasing celebrados entre pessoas residentes no Pas, com base em recursos captados no exterior.

    Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitao regular, e pode reter o pagamento, enquanto no lhe seja dada.

    Histrico O artigo em anlise no foi submetido a nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado Federal,

    seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do art. 939 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    Doutrina Quitao: Na clssica lio de Silvio Rodrigues, um escrito no qual o credor, reconhecendo ter recebido

    o que lhe era devido, libera o devedor, at o montante do que lhe foi pago (Enciclopdia Saraiva do Direito, So Paulo, Saraiva, 1977, v. 63, p. 106).

    Prova-se o pagamento pela quitao ou recibo. Se o devedor satisfez a obrigao, tem o direito de exigir a comprovao de seu ato. Recusando-se o credor, pode o devedor reter o pagamento ou obter deciso judicial que substitua a quitao mediante ao de consignao em pagamento ou medida cautelar de depsito.

    Art. 320. A quitao, que sempre poder ser dada por instrumento particular, designar o valor e a espcie da dvida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.

    Pargrafo nico. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valer a quitao, se de seus termos ou das circunstncias resultar haver sido paga a dvida.Doutrina

    O caput do artigo, repetindo o art. 940 do Cdigo Civil de 1916, estabeleceu os requisitos da quitao, ao tempo em que o pargrafo nico, acrescido no novo Cdigo, releva esses mesmos requisitos, sempre que, pelos prprios termos do recibo ou pelas circunstncias em que ele foi passado, se puder concluir que a dvida foi paga.

    O Cdigo de Processo Civil de 1973 j admitia em seus arts. 402 e 403 a prova testemunhal da quitao, desde que houvesse comeo de prova por escrito.

    Art 321. Nos dbitos, cuja quitao consista na devoluo do ttulo, perdido este, poder o devedor exigir, retendo o pagamento, declarao do credor que inutilize o ttulo desaparecido.

    Histrico O artigo sob anlise no se submeteu a nenhuma espcie de modificao, seja da parte do Senado Federal,

    seja da parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do Art. 942 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    Doutrina A declarao de inutilizao do ttulo em que se fundamenta a dvida produz os mesmos efeitos da quitao

    regular, desde que ele seja intransfervel. Isso porque nos ttulos ao portador ou ordem, que podem ser transferidos ou cedidos, se o ttulo tiver sido transferido a terceiro de boa-f, este poder exigi-lo do devedor, que, mesmo de posse da declarao de inutilizao, ser obrigado a pagar novamente.

    A melhor soluo para o devedor, nessas hipteses, ser o pagamento em Juzo, com citao editalcia dos terceiros, a fim de se evitar futura alegao de desconhecimento do pagamento realizado.

    Art. 322. Quando o pagamento for em quotas peridicas, a quitao da ltima estabelece, at prova em contrrio, a presuno de estarem solvidas as anteriores.

    Histrico No foi objeto de emenda, quer par pane do Senado Federal, quer par parte da Cmara dos Deputados, o

    presente dispositivo, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do art. 943 do Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao, nem mesmo de ordem redacional.

    Doutrina Nas obrigaes de prestaes sucessivas, a exemplo dos contratos de locao, o pagamento da ltima

    parcela faz supor (presuno juris tantum) que as anteriores estejam pagas. A razo dessa presuno reside na ponto de no ser natural ao credor receber a cota subseqente sem que as

  • anteriores tenham sido adimplidas. Ressalta Bevilqua, no entanto, que a presuno em beneficio do devedor, ainda pelo motivo de que ele , de ordinrio, a parte mais fraca, e de que a obrigao lhe restringe direitos (Clvis Bevilqua, Cdigo Civil comentado, 4. ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1934, v. 4, p. 99).

    Art. 323. Sendo a quitao do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos.

    Histrico O artigo em anlise no foi alvo de nenhuma espcie de alterao, seja por parte do Senado Federal, seja

    por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do art. 944 do Cdigo Civil de 1916, sem alterao alguma, nem mesmo de ordem redacional.

    Doutrina A regra geral j explicitada em comentrios anteriores a de que o acessrio acompanha o principal.

    Assim, de presumir que a quitao liberatria da obrigao principal tambm libere o devedor da obrigao acessria, que no tem existncia autnoma.

    A presuno, na entanto, tal qual a estabelecida no artigo anterior, juris tantum, cabendo ao credor provar que no recebeu os juros.

    Art. 324. A entrega do ttulo ao devedor firma a presuno d pagamento.Pargrafo nico. Ficar sem efeito a quitao assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a

    falta do pagamento.

    Histrico Este artigo no serviu de palco a qualquer alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por pane da

    Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao da projeto. Corresponde ao art. 945 do Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina O artigo estabelece outra presuno juris tantum, em benefcio do devedor, mas no constituiu inovao,

    nem mesmo em 1916, pais j estava presente no direito portugus e na maioria dos cdigos da poca, a exemplo do francs, do espanhol, do mexicano, do uruguaia e do argentino. J nos explicava Bevilqua, poca, o fundamento dessa presuno: o ttulo a prova da existncia da obrigao; extinta esta, o credor o restitui ao devedor; conseqentemente, se o ttulo se acha nas mos do devedor, parque o credor, satisfeito o dbito, lho entregou. Como, entretanto, a entrega do ttulo deve ser feita, voluntariamente, pelo credor, na momento de receber a pagamento, e pode acontecer que esse documento v ter s mos da devedor por meios ilcitas (violentos ou dolosos), tem o credor direito de provar que o no entregou, voluntariamente, que no foi solvida a obrigao. Este seu direito extingue-se em sessenta dias (Clvis Bevilqua. Cdigo Civil comentado, cit., p. 101).

    No Cdigo de 1916 (art. 945, 2~), vedava-se ao credor fazer a contraprova sempre que a quitao se desse par escritura pblica. O dispositivo, em boa hora suprimida, continha clusula estranha ao artigo, j que, havendo escritura pblica de quitao, pouco importaria se o ttulo tivesse sido entregue ou no. A presuno pela entrega do ttulo, j dizia Joo Luiz Alves, s se justificava por no haver outro instrumento de quitao.

    Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitao; se ocorrer aumento por fato do credor, suportar este a despesa acrescida.

    Doutrina Apesar de manter a regra geral j constante do art. 946 do Cdigo Civil de 1916, no sentido de competir ao

    devedor as despesas com o pagamento e a quitao. o art. 325 generaliza a responsabilidade do credor sempre que a devedor vier a arcar com nus a que no deu causa.

    Entre as despesas referidas no artigo esto o transporte, a pesagem. a contagem. taxas bancrias etc. Claro que o dispositivo se refere apenas aos nus extrajudicial. pois os encargos judiciais. no caso de execuo forada da divida, sero pagos de acordo com o que vier a ser estabelecido no titulo judicial.

    Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se- no silncio das partes, que aceitaram os do lugar da execuo.

    Histrico O artigo sob comento, quer por parte do Senado Federal, quer por parte da Cmara dos Deputados, no

  • perodo final de tramitao do projeto, no se submeteu a emenda. Trata-se de mera repetio do art. 949 do Cdigo Civil de 1916, sem qualquer alterao, nem mesmo de ordem redacional.

    Doutrina Os sistemas de pesos e medidas podem variar de acordo com o pas. V-se, por exemplo, que nos pases de

    colonizao anglo-saxnica as distncias so medidas em milhas, enquanto aqui a unidade utilizada o quilmetro. O art 326 estabelece, portanto, que todas as obrigaes exeqveis no Brasil regular-se-o, no silncio das partes, pelo sistema mtrico. Claro que as partes podem convencionar medir ou pesar a prestao por sistema diverso.

    Algumas medidas podem variar dentro do prprio Pas. Maria Helena Diniz cita o exemplo da arroba, que em determinados lugares corresponde

    Seo IV - Do Lugar do Pagamento

    Art. 327. Efetuar-se- o pagamento no domiclio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrrio resultar da lei, da natureza da obrigao ou das circunstncias.

    Pargrafo nico. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.

    HistricoO dispositivo em tela no foi alvo de nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. Trata-se de mera repetio do art. 950 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    Doutrina Lugar do pagamento: o local onde deve ser cumprida a obrigao. Sua fixao tem importncia prtica

    inclusive para o estabelecimento da mora. Quem pagar em local errado, arcar com os nus decorrentes. Dvidas quesveis e portveis: Diz-se quesvel ou qurable a dvida que houver de ser cobrada pelo credor,

    no domicilio do devedor. Compete ao credor procurar o devedor para receber o pagamento. Portvel ouportble a dvida que deve ser paga no domicilio do credor Cabe ao devedor portar, levar, o pagamento at a presena do credor. Em regra, toda dvida qurable, ou seja, deve ser buscada pelo credor no domicilio do devedor o que estabelece o art. 327 ora em comento: no silncio do contrato, presume-se que aquela foi a vontade das partes. Excees regra geral: O lugar do pagamento de livre conveno das partes, da que a regra geral da dvida quesvel s tem aplicao quando os contratantes no convencionarem do modo diverso. E mesmo no silncio do contrato, muitas vezes as circunstncias da avena, a natureza da obrigao ou a prpria lei que determinam o lugar do pagamento. Assim que no caso de mercadoria despachada por reembolso postal, a dvida ser paga pelo devedor no lugar da retirada. As dvidas fiscais devem ser pagas na repartio competente, por imposio legal.

    Se o contrato estabelecer mais de um lugar para o pagamento, caber ao credor, e no ao devedor, escolher aquele que mais lhe aprouver. Compete ao credor cientificar o devedor, em tempo hbil, sob pena de o pagamento vir a ser validamente efetuado pelo devedor em qualquer dos lugares, sua escolha.

    Se o devedor de dvida quesvel muda de domicilio, sem anuncia do credor, caber-lhe-o as despesas que o credor houver tido com a mudana do local do pagamento, tais como taxas de remessa bancria, corres-pondncias etc.

    Art. 328. Se o pagamento consistir na tradio de um imvel, ou em prestaes relativas a imvel, far-se- no lugar onde situado o bem.

    HistricoEste dispositivo, no perodo final de tramitao do projeto, no serviu de palco a nenhuma alterao, seja por parte do Senado Federal, seja por parte da Cmara dos Deputados. Trata-se de mera repetio do art. 951 do Cdigo Civil de 1916, com pequena melhoria redacional.

    DoutrinaO art. 328 no inova o direito anterior, limitando-se a repetir regra constantedo art. 951 do Cdigo Civil de 1916, j objeto de crticas dos doutos (cf. Franzen de Lima e Clvis Bevilqua). A primeira parte do dispositivo flagrantemente redundante: se o pagamento consistir na entrega de um imvel, bvio que s poder se realizar no local da situao do bem. A transferncia da propriedade imobiliria s ocorre com o registro do ttulo no cartrio de imveis do lugar do bem. J a segunda parte do dispositivo confusa, pois d a entender que toda e qualquer prestao relativa ao imvel, a exemplo dos aluguis, ter de ser realizada no lugar da situao, o que nem sempre verdade. Pacificou-se na doutrina que as prestaes referidas no artigo no abrangem os aluguis, mas apenas as decorrentes de servios s realizveis no local

  • do imvel, como a construo de um muro, a restaurao de uma fachada etc. E mesmo nesses casos a regra no absoluta. Podem as partes convencionar que o pagamento seja feito mediante depsito em determinado banco, que no tem agncia na mesma localidade do imvel.

    Sugesto Legislativa: Em face dos argumentos acima aludidos, encaminhamos ao Deputado Ricardo Fiuza proposta para alterao do dispositivo, que passaria a contar com a seguinte redao:

    Se o pagamento consistir na tradio de um imvel, far-se- no lugar onde situado o bem. Se consistir em prestao decorrente de servios realizados no imvel, no local do servio, salvo conveno em con-trrio das partes.

    Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se no efetue o pagamento no lugar determinado, poder o devedor faz-lo em outro, sem prejuzo para o credor.

    Histrico O artigo em anlise no se submeteu a nenhuma espcie de modificao, seja da parte do Senado Federal,

    seja da parte da Cmara dos Deputados, no perodo final de tramitao do projeto. No h artigo correspondente no Cdigo Civil de 1916.

    Doutrina O dispositivo no esteve presente no Cdigo Civil de 1916, inovando o direito anterior ao estabelecer que o

    devedor pode alterar o local predeterminado para o pagamento, sempre que ocorrer motivo grave e desde que no haja prejuzo ao credor

    Apesar da crtica de alguns juristas no que tange indeterminao da expresso motivo grave, que poderia dar azo a alguma mutabilidade, consideramos salutar a insero desse novo comando normativo. Caber ao juiz, em cada caso concreto, decidir sobre a gravidade do motivo. Alis, esse o esprito do novo Cdigo, como vem afirmando de maneira reiterada o relator-geral Ricardo Fiuza: manter os seus comandos suficientemente abertos, afastando o positivismo exagerado do Cdigo Civil de 1916 e permitindo que o texto possa se amoldar tal como as circunstncias sociais do presente e do futuro, sem que venha a necessitar de grandes modificaes. O que motivo grave hoje, pode deixar de s-lo amanh, no competindo lei que se quer perene definir hermeticamente a gravidade do motivo.

    Se a mudana do local do pagamento implicar o acrscimo de quaisquer despesas, estas sero de responsabilidade do devedor.

    Art