519307_acórdão - agência x representação

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Número do processo: 1.0384.04.026942- 3/001(1) Númeração Única: 0269423- 05.2004.8.13.0384 Processos associados: clique para pesquisar Relator: Des.(a) MÁRCIA DE PAOLI BALBINO Relator do Acórdão: Des.(a) MÁRCIA DE PAOLI BALBINO Data do Julgamento: 17/11/2011 Data da Publicação: 22/11/2011 Inteiro Teor: EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - REPRESENTAÇÃO COMERCIAL - CONTRATO VERBAL - CLÁUSULA DE EXCLUSIVIDADE - AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO - DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL - AUSÊNCIA DE PROVA E DE DANO MORAL - IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO. - O contrato de representação comercial firmado verbalmente não delineia os termos da avença, cumprindo à representante provar as condições ajustadas, para ensejar a indenização por alegados danos materiais e morais. - A exclusividade de representação exige pacto expresso. - O art. 186 do NCC, estabelece que somente haverá responsabilidade civil subjetiva se houver a culpa, dano e nexo de causalidade. - É cediço que o simples não cumprimento adequado do contrato não enseja dano moral indenizável, especialmente se não há prova de descumprimento de contrato. - Recurso conhecido e não provido. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0384.04.026942-3/001 - COMARCA DE LEOPOLDINA - APELANTE(S): MARINATO MOVEIS E ELETRO LTDA - APELADO(A)(S): COMERCIO DE MOVEIS ABREU LTDA, IND MOVEIS MOVELAR LTDA A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. Belo Horizonte, 17 de novembro de 2011. DESA. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO, RELATORA. DESA. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO (RELATORA) V O T O

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Page 1: 519307_Acórdão - Agência x Representação

Número do processo:

1.0384.04.026942-3/001(1)

Númeração Única:

0269423-05.2004.8.13.0384

Processos

associados: clique para pesquisar

Relator: Des.(a) MÁRCIA DE PAOLI BALBINO

Relator do Acórdão: Des.(a) MÁRCIA DE PAOLI BALBINO

Data do Julgamento: 17/11/2011

Data da Publicação: 22/11/2011

Inteiro Teor:

EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS E MATERIAIS - REPRESENTAÇÃO COMERCIAL - CONTRATO VERBAL - CLÁUSULA DE EXCLUSIVIDADE - AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO - DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL - AUSÊNCIA DE PROVA E DE DANO MORAL -

IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO NÃO PROVIDO.

- O contrato de representação comercial firmado verbalmente não delineia os termos da avença, cumprindo à representante provar as condições ajustadas, para ensejar a indenização por alegados danos materiais e morais.

- A exclusividade de representação exige pacto expresso.

- O art. 186 do NCC, estabelece que somente haverá responsabilidade civil subjetiva

se houver a culpa, dano e nexo de causalidade.

- É cediço que o simples não cumprimento adequado do contrato não enseja dano moral indenizável, especialmente se não há prova de descumprimento de contrato.

- Recurso conhecido e não provido.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0384.04.026942-3/001 - COMARCA DE LEOPOLDINA - APELANTE(S): MARINATO MOVEIS E ELETRO LTDA - APELADO(A)(S): COMERCIO DE

MOVEIS ABREU LTDA, IND MOVEIS MOVELAR LTDA

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

Belo Horizonte, 17 de novembro de 2011.

DESA. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO,

RELATORA.

DESA. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO (RELATORA)

V O T O

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Marinato Móveis e Eletro Ltda ajuizou ação de Indenização por Danos Materiais e

Morais contra Indústria de Móveis Movelar Ltda e Lar Móveis, nome fantasia de Comércio de Móveis Abreu Ltda alegando, em síntese: que realizou ajuste com a 1ª

ré para comercializar com exclusividade seus móveis e estofados; que a 1ª ré quebrou o acordo de exclusividade ajustado com ela, passando a fornecer os mesmos móveis para a 2ª ré, sua concorrente na cidade; que houve

descumprimento do ajuste em decorrência da retirada da exclusividade na comercialização dos móveis; que, em razão da conduta da 1ª ré perdeu vendas porque deixou de entregar produtos já comprados por clientes e também deixou de

efetivar novas vendas; que as rés se uniram para exercer a dominância no mercado local, infringindo a ordem econômica. Ao final, requereu a condenação das rés no pagamento de danos materiais, correspondentes ao valor da não entrega de

mercadorias já vendidas aos clientes e não entregues pela 1ª ré, e das mercadorias que deixou de vender, indenização por quebra de contrato e indenização pelos danos morais sofridos. Juntou documentos e fita magnética às f. 12/17.

A 2ª ré, Comércio de Móveis Abreu Ltda, apresentou contestação às f. 23/33,

arguindo a preliminar de ilegitimidade passiva para a causa, ao argumento de não há qualquer ligação envolvendo ela e a autora. Arguiu também a inépcia da inicial, por incompatibilidade entre a causa de pedir e o pedido, requereu o desentranhamento

da fita magnética, ao argumento de que a gravação foi obtida de forma ilícita. Refutou as alegações expendidas na inicial sustentando, em síntese, a ausência de infração à ordem econômica e a ausência de dano moral a ensejar indenização, ante

a inexistência de dano, nexo causal e de culpa. Juntou os documentos de f. 34/36.

A 1ª ré, Indústria de Móveis Movelar Ltda, apresentou contestação às f. 38/49, arguindo a preliminar de inépcia da inicial por ausência de documentos necessários a propositura da ação, incompatibilidade entre o pedido e a causa de pedir,

irregularidade na representação e inexistência de prova ilícita. No mérito, alegou, em síntese, a inexistência de infração à ordem econômica, ausência de exclusividade e a ausência de danos a ensejar a indenização pretendida. Ao final, requereu o

acolhimento das preliminares, o desentranhamento da fita cassete e, alternativamente, pugnou pela improcedência dos pedidos formulados na inicial.

A autora apresentou impugnação refutando as alegações expendidas nas defesas e pugnando pela procedência do pedido inicial. Requereu a designação de perito para

análise da fita magnética juntada aos autos.

Intimadas as partes para especificação de provas, as rés requereram a produção de prova testemunhal, documental e o depoimento pessoal do representante legal da autora (f. 70 e 71). A autora pediu a produção de prova pericial para análise da fita

magnética, prova testemunhal e o depoimento pessoal dos representantes legais de ambas as rés (f. 72).

O MM. Juiz deferiu a produção de prova pericial e nomeou perito (f. 86)

O i. perito juntou o resultado da perícia realizada, à f. 108.

As rés apresentaram manifestação sobre o resultado da perícia (f. 114 e 128/129.

Na audiência realizada, conforme termo de f. 141/142, foi colhido o depoimento da

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representante pessoal da 1ª requerida.

Na audiência realizada, conforme termo de f. 161/164, recusada a proposta de conciliação, foram colhidos os depoimentos de 02 testemunhas arroladas pela autora e o seu depoimento pessoal.

As partes apresentaram alegações finais, às f. 174/177 (autora), f. 189/191 (1ª ré)

e, às f. 193/204, (2ª ré).

Na r. sentença de f. 211/215 o MM. Juiz julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial, por entender que não houve comprovação do dano, sua autoria e nexo causal, suficiente a ensejar a indenização pretendida pelo autor.

Constou do dispositivo da sentença (f. 215):

"Diante de tudo o que foi exposto e segundo as normas da lei civil, não houve

qualquer comprovação robusta do dano, autoria e nexo causal suficiente para que o autor fosse indenizado.

Assim, após o que foi exposto, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO INICIAL, e via de consequência, julgo extinto, pois, o processo com a resolução do mérito nos termos

do art. 269, I, do CPC.

Condeno o vencido ao pagamento das custas e honorários de sucumbência arbitrados em 10% sobre o valor da causa."

A autora apelou, às f. 138/142, pugnando pela reforma da sentença para que sejam julgados procedentes os pedidos formulados na inicial. Inicialmente, sustentou a

invalidade do depoimento da 1ª apelada e a possibilidade de cominação de pena de confissão, ao argumento de que o preposto que a representou em juízo não tinha poderes especiais para depor e confessar. Alegou que os depoimentos das

testemunhas foram fundamentais à corroboração dos fatos alegados na inicial; que é lícita a prova produzida por meio de gravação magnética; que houve infração à ordem econômica, tendo as rés se unido em conluio para prejudicar suas vendas;

que é inegável os prejuízos por ela sofridos com a perda do mercado, a paralisação de fornecimentos de produtos pela 1ª ré e o cancelamento de vendas já efetuadas, cujos produtos não foram entregues pela ré, a ensejar a indenização por danos

materiais e morais.

A 2ª ré apresentou contrarrazões (f. 230/241), pugnando pelo não provimento da apelação.

A 1ª ré não apresentou contrarrazões.

É o relatório.

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Conheço do recurso porque próprio, tempestivo e por ter contado com o preparo

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regular (f. 226).

MÉRITO:

A autora apela da sentença prolatada, em que o MM. Juiz julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial, por entender que não houve comprovação do dano, sua autoria e, o nexo causal, suficiente a ensejar a indenização pretendida pelo

autor.

Inicialmente, sustentou a invalidade do depoimento da 1ª apelada e a possibilidade de cominação de pena de confissão, ao argumento de que o preposto que a representou em juízo não tinha poderes especiais para depor e confessar. Alegou

que os depoimentos das testemunhas foram fundamentais à corroboração dos fatos alegados na inicial; que é lícita a prova produzida por meio de gravação magnética; que houve infração à ordem econômica, tendo as rés se unido em conluio para

prejudicar suas vendas; que é inegável os prejuízos por ela sofridos com a perda do mercado, a paralisação de fornecimentos de produtos pela 1ª ré, o cancelamento de vendas já efetuadas, cujos produtos não foram entregues pela ré, a ensejar a

indenização por danos materiais e morais.

Analisando tudo que dos autos consta, tenho que razão não assiste à apelante. Vejamos.

Não consta dos autos que as partes tenham firmado contrato de exclusividade nem de fornecimento contínuo de produtos.

Ressalte-se que a 2ª ré já comprava móveis da 1ª ré desde 1997 (f. 59), bem antes

da constituição da autora em fevereiro de 2.003 (f. 12/14).

Corroborando tal assertiva as afirmações expendidas pela própria autora na peça inicial à f. 06:

"A primeira ré possuía dois pontos de venda de seus renomados produtos nesta praça: a autora e a segunda ré." (Grifos nossos).

Tal afirmação da autora também revela sua ciência de que a própria 1ª ré tinha

pontos próprios para venda de seus produtos, na tendo a autora contratado exclusividade.

Destarte, não há prova de que a 1ª ré se recusou a vender produtos para a autora ou que se associou à 2ª ré para prejudicar a autora. A apelante apenas alegou, mas,

não comprovou tal fato quer através de testemunhas ou prova documental.

Registre-se, por oportuno, que, nos termos do art. 1º da Lei n. 4.885/65:

"exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que desempenha, em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a realização de negócios mercantis,

agenciando propostas ou pedidos, para, transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios."

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Vale destacar, ainda, que o código civil de 2002 em seu artigo 710 regulou o

contrato de agência, sem, contudo, fazer desaparecer o contrato de representação comercial.

Dispõe o art. 710 do NCC:

"Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e

sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada."

Ensina Jean Carlos Fernandes que:

"Embora se tenha verificado que parte da doutrina cuida do contrato de agência

como sinônimo do contrato de representação comercial, tal entendimento não pode perdurar com o advento do Código Civil de 2002.

O novo estatuto civil disciplinou expressamente em seu artigo 710 o "contrato de agência", dedicando 11 artigos para a sua regulação.

Trata-se, portanto, de contrato típico, com regras específicas ditadas pelo Código

Civil de 2002, o qual, inclusive, ressalva a legislação especial em seu artigo 721, incluindo ai a Lei n. 4.886/65, que trata do representante comercial. Percebe-se ter o legislador objetivado a criação de um novo tipo contratual, diverso do modelo de

representação comercial autônoma já existente.

Tanto é assim que o Código Civil, ao adotar regramento específico para o contrato de agência, deu-lhe contornos diversos do contrato de representação comercial. Exemplificando, o artigo 711 daquele diploma legal estabelece ser implícitas as

cláusulas de exclusividade de agenciamento e de zona, ao passo que o artigo 41 da Lei n. 4.886/65, acrescentando pela Lei n. 8.420/92, permite ao representante comercial exercer sua atividade para mais de uma empresa e empregá-la em outro

mister ou ramos de negócios, ressalvada expressa vedação contratual.

Outrossim, estabelece o parágrafo único do artigo 31 da Lei n. 4.886/65 que "A exclusividade de representação não se presume na ausência de ajustes expressos". (Fernandes, Jean Carlos. Aspectos do contrato de agência no Código Civil de 2002.

Revista de Direito Privado n. 23, São Paulo, RT, julho-setembro de 2005, p. 91-101.

A exclusividade exige contrato escrito com sua regulação, extensão e efeitos em caso de descumprimento.

Nos termos do artigo 31, parágrafo único, da Lei nº 4.886/65, a exclusividade não se presume:

"Parágrafo único. A exclusividade de representação não se presume na ausência de

ajustes expressos."

Ademais, a autora não apresentou qualquer documento capaz de demonstrar que tinha exclusividade para vender os produtos da 1ª ré, não se desincumbindo do ônus

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de provar suas alegações, conforme dispõe o art. 333, I, do CPC:

"Art. 333 - O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;"

A prova testemunhal também não foi apta a comprovar as alegações da autora, pois as testemunhas nada afirmaram, apenas apresentaram conjecturas.

Observo dos depoimentos de f. 162 e 163 que as testemunhas apenas atestam que produtos da 1ª ré não foram entregues à autora, o que em nada contribui para o

julgamento porque inúmeros podem ser os motivos da não entrega.

A prova pericial realizada na fita magnética gravada pelo representante legal da apelante também em nada corroborou no sentido de comprovar o alegado conluio entre as apeladas, pois o perito afirmou à f. 108:

"Foi encaminhado a este Perito, uma micro fita cassete, marca Panasonic MC 60,

referente ao Processo nº 038404026942-3, de ação de indenização, como autor Marinato Móveis e Eletro Ltda, contra Indústria de Móveis Movelar, para efetuar os exames de degravação, comunico a V.Exª, que ao ouvi-la, esta, em todos os trechos

gravados, apresentava ruídos, ou seja, tornando-se impossível o entendimento dos diálogos gravados na mesma"

Nesse sentido:

"EMENTA: AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO - EXCLUSIVIDADE DE REVENDA - ÔNUS DA PROVA DO AUTOR - FALTA DE COMPROVAÇÃO DOS FATOS

ALEGADOS PELO AUTOR - DESISTÊNCIA DE PROVA PERICIAL - PRECLUSÃO DO DIREITO DE PRODUÇÃO DE PROVA DOCUMENTAL. Quedando inerte a parte quanto ao indeferimento da prova documental, não há que se falar em falta de requisição de

notas fiscais, porque precluso o seu direito à sua requisição. Se a parte não comprova o alegado, a improcedência do pedido se impõe." (TJMG) - Apelação Cível N° 1.0074.04.023584-3/001, Relator, Des. Elias Camilo, DJ, 18/09/2007.

"EMENTA: AÇÃO DE COBRANÇA. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. CONTRATO VERBAL.

PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. DIREITO DE AÇÃO. COMISSÃO. EXCLUSIVIDADE. AUSÊNCIA DE PROVA. MULTA RESCISÓRIA NÃO DEVIDA. A prescrição qüinqüenal tratada no artigo 44, parágrafo único, da Lei nº4.886/65, se refere ao direito de ação

do representante comercial contra o representado, para pleitear a retribuição que lhe é devida e os demais direitos que lhe são garantidos pela lei de regência. Tendo o contrato de representação comercial sido firmado verbalmente, o que dificulta o

exame dos termos da avença, cumpre à representante provar as condições ajustadas, para receber os valores que entende devidos. A exclusividade de representação não se presume na falta de ajustes expressos. Ausentes os motivos

elencados no artigo 36 da Lei de representação Comercial que justificam a rescisão do contrato por parte do representante, em razão da não-comprovação das supostas ilegalidades praticadas pela empresa representada, afigura-se indevida a multa

rescisória pleiteada." (TJMG) - Apelação Cível N° 1.0024.02.789954-1/001, Relator, Des. Renato Martins Jacob, DJ, 03/10/2008.

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É certo que não foi comprovado nos autos que a autora era representante comercial

exclusiva da 1ª ré, como alega.

Nesse aspecto, não há dúvida de que possível quebra da exclusividade somente poderia ser acolhida, para fins de procedência do pedido inicial, se existissem nos

autos elementos suficientes a comprovar que a representada ajustou cláusula de exclusividade, o que não ocorre no caso, por não haver qualquer escrito que determine a exclusividade, região de atuação e efeitos de sua eventual quebra pelas

partes.

Como já dito, o contrato foi firmado verbalmente.

Logo, a prova produzida pela recorrente não permite concluir pela existência da suposta exclusividade, que não pode ser presumida, a teor da citada norma e exige forma escrita.

Neste sentido é o entendimento deste Tribunal:

"APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - REPRESENTAÇÃO COMERCIAL - CONTRATO

VERBAL - EXCLUSIVIDADE - AUSÊNCIA DE PROVA - ART. 333, I, DO CPC - INDENIZAÇÃO INDEVIDA - SENTENÇA MANTIDA.

Tratando-se de contrato verbal, eventual descumprimento do avençado somente poderá gerar direito à indenização se restarem efetivamente comprovada nos autos

a inadimplência do réu, ônus este que a teor do art. 333, I do CPC incumbe ao autor. A exclusividade estabelecida entre comerciantes não pode ser presumida, mas devidamente comprovada." (Apelação Cível nº 1.0024.04.517928-0/001, 18ª

Câmara Cível, Rel. Des. D. Viçoso Rodrigues, j. 27.04.2007).

"AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - REPRESENTAÇÃO COMERCIAL - EXCLUSIVIDADE - NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO - RESCISÃO UNILATERAL DO CONTRATO - AUSÊNCIA DE PROVA - NECESSIDADE - ART. 333, I DO CPC - IMPROCEDÊNCIA -

PROTESTO DE CHEQUE - DANOS MORAIS - INOCORRÊNCIA.

Em se tratando de contrato de representação comercial, de conformidade com a regra disposta no art. 31, parágrafo único, da Lei 4.886/65, com as modificações introduzidas pela Lei 8.420/92 - Lei do Representante Comercial -, a exclusividade

de zona ou representação não se presume, mas, antes, deve estar expressa no contrato celebrado entre as partes. (...)" (Apelação Cível nº 2.0000.00.502875-5/000, 12ª Câmara Cível, Rel. Des. Alvimar de Ávila, j. 05.10.2005).

Embora admitida a contratação de representação comercial de forma verbal, a

exclusividade não se presume na ausência de ajuste expresso, não havendo como ser acolhida a tese recursal de conluio das apeladas, a ensejar a quebra da exclusividade.

No tocante à responsabilidade civil, cumpre perquirir a ocorrência dos requisitos que

a ensejam e que, por conseguinte, geram o dever de indenizar.

Neste sentido dispõem os artigos 186 e 927 do NCC:

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"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito".

"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo".

Assim, para que se reconheça o cabimento da indenização mostra-se necessária a constatação da conduta antijurídica que gere o dano, bem como o nexo de causalidade entre a conduta e o dano.

Segundo Caio Mário da Silva Pereira, para a configuração da obrigação de indenizar

por ato ilícito exige-se a presença de três elementos indispensáveis:

"Deste conceito extraem-se os requisitos essenciais: a) em primeiro lugar, a verificação de uma conduta antijurídica, que abrange comportamento contrário ao direito, por comissão ou omissão, sem necessidade de indagar se houve ou não

propósito de malfazer; b) em segundo lugar, a existência de dano, tomada a expressão no sentido de a lesão a um bem jurídico, seja este de ordem material ou imaterial, de natureza patrimonial ou não-patrimonial; c) e em terceiro lugar, o

estabelecimento de um nexo de causalidade entre uma e outro, de forma a precisar-se que o dano decorre da conduta antijurídica, ou, em termos negativos, que sem a verificação do comportamento contrário ao direito não teria havido o atentado a bem

jurídico." (Instituições de Direito Civil, I, Editora Forense, Rio de Janeiro, 20ª edição, 2004, pág. 661).

Assim, para configuração da responsabilidade civil, mister a comprovação da ação ilícita, do dano e que entre o dano e a ação haja nexo de causalidade.

Sobre o tema ensina Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra "Responsabilidade

Civil", 8ª. ed., 2003, São Paulo, Ed. Saraiva, p. 31/34.

"O art. 186 do código civil consagra uma regra universalmente aceita: a de que todo aquele que causa dano a outrem é obrigado a repará-lo. Estabelece o aludido disposto legal, informativo da responsabilidade aquilina:

'Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar

direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito'

A análise do artigo supratranscrito evidencia que quatro são os elementos essências da responsabilidade civil: ação ou omissão, culpa ou dolo do agente, relação de causalidade, e o dono experimentado pela vítima.

Ação ou omissão - Inicialmente, refere-se a lei a qualquer pessoa que, por ação ou

omissão, venha a causar dano a outrem. A responsabilidade pode derivar de ato próprio, de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos causados por coisas e animais que lhe pertençam.

O código prevê a responsabilidade por ato próprio, dentre outros, nos casos de

calúnia, difamação e injúria; de demanda de pagamento de dívida não vencida ou já

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paga; de abuso de direito".

(...)

Culpa ou dolo do agente - Todos concordam em que art. 186 do código civil cogita do dolo logo de inicio: 'ação ou omissão voluntária' passando em seguida, a referir-se á culpa: 'negligencia ou imprudência'.

O dolo consiste na vontade de cometer uma violação de direito, e a culpa, na falta de

diligência. Dolo, portanto, é a violação deliberada, consciente, intencional, do dever jurídico.

Para obter e reparação do dano, a vitima geralmente tem de provar dolo ou culpa stricto sensu do agente, segundo a teoria subjetiva adotada em nosso diploma civil.

(...)

Relação de causalidade - E a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do

agente e o dano verificado. Vem expressa no verbo ' causar', utilizando no art.186. Sem ela, não existe a obrigação de indenizar. Se houve o dano mas sua causa não está relacionada com o comportamento do agente, inexiste a relação da causalidade

e também a obrigação de indenizar. Se verbi gratia, o motorista está dirigindo corretamente e a vitima, querendo suicidar-se, atira-se sob as rodas do veiculo, não se pode afirmar ter ele 'causado' o acidente, pois na verdade foi um mero

instrumento da vontade da vitima, esta sim responsável exclusiva pelo evento.

Dano - Sem a prova do dano, ninguém pode ser responsabilizado civilmente. O dano pode ser material ou simplesmente moral, ou seja, sem repercussão na órbita financeira do ofendido. O código civil consigna um capitulo sobre liquidação do dano,

ou seja, sobre o modo de se apurarem os prejuízos e a indenização cabível. A inexistência de dano é óbice a pretensão de uma reparação, aliás, sem objeto.

O novo código aperfeiçoou o conceito de ato ilícito ao dizer que o pratica quem ' violar direito e causar dano a outrem' (art.186), substituindo o 'ou'('violar direito ou

causar dano a outrem') que constava do art.159 do diploma de 1916.

Com efeito, o elemento subjetivo da culpa é o dever violado. A responsabilidade é uma reação provocada pela infração a um dever preexistente. No entanto, ainda mesmo que haja violação de um dever jurídico e que tenha havido culpa, e até

mesmo dolo, por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, malgrado a ilicitude de sua conduta. A obrigação de indenizar decorre, pois, da existência da violação de direito e do dano, concomitantemente".

No caso, restou demonstrado que não houve qualquer conduta ilícita das rés a

ensejar a indenização pretendida pela autora.

É certo que não pode ser atribuído dano material às rés, quer de vendas não realizadas, quer das que seriam realizadas no futuro.

Não há prova, ressalto, de que a 1ª ré se recusou a vender a vista aos clientes da

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autora, não estando ela obrigada a realizar venda faturada.

Também não há se falar em dano moral pelo simples não fornecimento de produtos à autora, o que equipara à hipótese de mero descumprimento contratual, até porque, repito, não há prova da recusa de venda a vista.

Nesse sentido é o entendimento do STJ:

"CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL -

INOCORRÊNCIA - SEGURO-VIAGEM - DANOS MORAIS - DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL - INOCORRÊNCIA EM REGRA - SITUAÇÃO EXCEPCIONAL NÃO CARACTERIZADA - RECURSO DESACOLHIDO - I - Como anotado em precedente

(REsp 202.504-SP, DJ 1.10.2001), o inadimplemento do contrato, por si só, pode acarretar danos materiais indenização por perdas e danos, mas, em regra, não dá margem ao dano moral, que pressupõe ofensa anormal à personalidade. Embora a

inobservância das cláusulas contratuais por uma das partes possa trazer desconforto ao outro contratante - e normalmente o traz - trata-se, em princípio, do desconforto a que todos podem estar sujeitos, pela própria vida em sociedade. (...)" (STJ - RESP

338162 - MG - 4ª T. - Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira - DJU 18.02.2002 - p. 00459).

Nesse sentido também os julgados deste Tribunal:

1)"AÇÃO ORDINÁRIA - CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - ATRASO NA ENTREGA - CULPA DA VENDEDORA - RESCISÃO CONTRATUAL -

RESTITUIÇÃO INTEGRAL DAS PARCELAS PAGAS - DANO MORAL - INEXISTÊNCIA - JUROS DE MORA DEVIDOS A PARTIR DA CITAÇÃO. Tendo em vista o inadimplemento contratual da vendedora, que não entregou o imóvel na data

avençada, pode a compradora rescindir o contrato, recebendo a integralidade dos valores pagos, sem qualquer desconto, retornando as partes ao statu quo ante. O ordenamento jurídico brasileiro apenas garante a compensação do verdadeiro dano

moral, não de simples dissabor ou decepção, não havendo proteção jurídica para as suscetibilidades pessoais. O simples inadimplemento contratual, desacompanhado de prova de efetiva lesão a qualquer projeção da personalidade da autora, não

configura dano moral. Tratando-se de ilícito contratual, são devidos juros de mora desde a citação". (TJMG) - Apelação Cível n° 1.0024.05.897355-3/001, Relator, Des Eduardo Mariné da Cunha, DJ, 15/02/2007.

2)"COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA - IMÓVEL - OBRIGAÇÃO CONTRATUAL -

DESCUMPRIMENTO - MULTA - INCIDÊNCIA. RESCISÃO - VALOR PAGO - DEVOLUÇÃO - DANO MORAL - IMPOSSIBILIDADE - DIREITO DE RETENÇÃO - FRUIÇÃO - FIXAÇÃO DO QUANTUM - COMPENSAÇÃO - POSSIBILIDADE. O descumprimento de obrigação

legal do incorporador, de regularizar o registro do empreendimento junto ao Cartório de Registro de Imóveis, autoriza a resolução do contrato e a aplicação de multa prevista no art. 35, § 5º da Lei 4.591/64. O adquirente tem o direito de ver

rescindido o contrato, mesmo que, à época, esteja inadimplente, e receber de volta o valor que pagou, devidamente corrigido, podendo, no entanto, o vendedor reter, a

título de multa e compensação, 20% de tal valor. O descumprimento de obrigação contratual, por si só, não caracteriza dano moral indenizável. Cabível a fixação, a favor do vendedor, de valor compensatório em razão da fruição do imóvel pelo

comprador". (TJMG) - Apelação Cível n º 2.0000.00.500933-4/000, Relator, Des.

Page 11: 519307_Acórdão - Agência x Representação

Luciano Pinto, DJ, 01/12/2005.

Com efeito, outra conclusão não caberia ao julgador, no caso dos autos, que não a improcedência do pedido de indenização por danos materiais e morais pretendida pela autora, ora apelante.

DISPOSITIVO

Isto posto, nego provimento à apelação.

Custas recursais, pela autora.

DES. ANDRÉ LEITE PRAÇA (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. EVANDRO LOPES DA COSTA TEIXEIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "RECURSO NÃO PROVIDO."