5. a inclusão do aluno com deficiência intelectual no ensino regular maria miguel

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Revista Ciências da Educação Maceió, ano I, vol. 02, n. 01, Abr./Jun. 2014 A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO REGULAR Márcia Maria Miguel de Oliveira [email protected] RESUMO O referido artigo apresenta uma abordagem a respeito da inclusão do aluno com deficiência intelectual no ensino regular. Tem como objetivo proporcionar uma análise e reflexão sobre a política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva e a inserção do aluno com deficiência intelectual no ensino regular. Para o desenvolvimento da pesquisa, se fez inicialmente uma revisão bibliográfica de autores que investigaram a temática e sua relevância no processo educacional. Como possíveis resultados, pode-se constatar que esse paradigma faz com que a escola reflita sobre os seus princípios, que vai desde a convivência com esses alunos em um mesmo espaço até uma mudança na organização de todo o trabalho pedagógico da instituição. Assim, acredita-se que a inserção do aluno com deficiência intelectual na escola, realizada dentro da proposta de inclusão escolar possa constituir uma experiência fundamental no seu desenvolvimento integral como sujeito efetivo no processo de inclusão na sociedade. Sem ter a pretensão de esgotar o assunto, a temática abordada é de grande relevância para novos estudos por parte de estudantes, pesquisadores e profissionais de áreas afins. Palavras-chave: Educação inclusiva. Deficiência intelectual. Ensino regular. _________________________________________________________________________ * Mestranda em Ciências da Educação: Formação Educacional, Interdisciplinaridade e Subjetividade pela Universidad Autónoma Del Sur-UNASUR. Pós Graduada em Educação Especial e Inclusiva (2012) e Psicopedagogia Clínica e Institucional (2010) ambas pela FACINTER. Graduada em Pedagogia pela UNEAL (2006). Professora das séries/Anos iniciais da Rede Pública do Município de Coité do Nóia-Alagoas; atua na Secretaria Municipal de Educação como Operadora Municipal Máster.

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Page 1: 5. a inclusão do aluno com deficiência intelectual no ensino regular maria miguel

Revista Ciências da Educação

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Maceió, ano I, vol. 02, n. 01, Abr./Jun. 2014

A INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO

REGULAR

Márcia Maria Miguel de Oliveira

[email protected]

RESUMO

O referido artigo apresenta uma abordagem a respeito da inclusão do aluno com deficiência intelectual no ensino regular. Tem como objetivo proporcionar uma análise e reflexão sobre a política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva e a inserção do aluno com deficiência intelectual no ensino regular. Para o desenvolvimento da pesquisa, se fez inicialmente uma revisão bibliográfica de autores que investigaram a temática e sua relevância no processo educacional. Como possíveis resultados, pode-se constatar que esse paradigma faz com que a escola reflita sobre os seus princípios, que vai desde a convivência com esses alunos em um mesmo espaço até uma mudança na organização de todo o trabalho pedagógico da instituição. Assim, acredita-se que a inserção do aluno com deficiência intelectual na escola, realizada dentro da proposta de inclusão escolar possa constituir uma experiência fundamental no seu desenvolvimento integral como sujeito efetivo no processo de inclusão na sociedade. Sem ter a pretensão de esgotar o assunto, a temática abordada é de grande relevância para novos estudos por parte de estudantes, pesquisadores e profissionais de áreas afins. Palavras-chave: Educação inclusiva. Deficiência intelectual. Ensino regular.

_________________________________________________________________________

* Mestranda em Ciências da Educação: Formação Educacional, Interdisciplinaridade e Subjetividade pela Universidad

Autónoma Del Sur-UNASUR. Pós Graduada em Educação Especial e Inclusiva (2012) e Psicopedagogia Clínica e Institucional

(2010) ambas pela FACINTER. Graduada em Pedagogia pela UNEAL (2006). Professora das séries/Anos iniciais da Rede

Pública do Município de Coité do Nóia-Alagoas; atua na Secretaria Municipal de Educação como Operadora Municipal Máster.

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1. INTRODUÇÃO

O referido artigo aborda a inclusão do aluno com deficiência intelectual no

ensino regular por meio de mudanças estruturais e humanas como materiais

psicopedagógicos, organização de suportes e instrumentais e profissionais

capacitados para que os alunos possam ter a participação social em igualdade de

oportunidades e condições. Essa concepção de educação inclusiva exige mudanças

nas atitudes e nas práticas relacionadas a todos os grupos excluídos.

As políticas públicas direcionadas à Educação Especial têm proporcionado

melhores situações de convivência entre as pessoas com e sem deficiência.

Abrangidas pela Educação Inclusiva, as pessoas com deficiência intelectual

historicamente eram associadas, pela sociedade, ao fracasso escolar. Por mais

diversos que fossem os encaminhamentos propostos a esses alunos, culminavam

em situações de evasão e segregação, fazendo com que eles permanecessem, por

longos períodos, à margem da sociedade. As concepções contemporâneas da

deficiência intelectual preconizam o respeito à diversidade, não só levando em conta

a capacidade intelectual de cada um, mas também seus interesses e motivações.

Deste modo, a pesquisa pretende proporcionar uma análise e reflexão sobre

a política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva e a inserção

do aluno com deficiência intelectual no ensino regular. Para isso, foram consultados

alguns autores como: Brasil (1996) Pan (2008), Giroto, Poker e Omote (2012),

Garcia (2013), entre outros.

A inclusão de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais

vem mobilizando tanto a comunidade escolar, quanto a sociedade frente à

necessidade de oferecer uma educação de qualidade, na qual todos os alunos

devem estar incluídos nas salas de aulas do ensino regular.

Portanto, a educação inclusiva, na área da deficiência intelectual, é um

desafio à escola do novo milênio, e seu princípio deve estar envolvido no trabalho de

educar, regido pela ética e pelo direito à cidadania, com expectativa à implantação de

uma escola para todos e à configuração de um mundo em que cada indivíduo possa ocupar

um lugar através da busca pelo conhecimento que leva a sua autonomia.

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2. A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO

INCLUSIVA

O conceito de educação inclusiva surgiu associado à educação dos alunos com

necessidades educativas especiais, grupo tradicionalmente vulnerável à exclusão e ao

insucesso. Porém, esse conceito é bem mais abrangente, sendo a tônica colocada na

qualidade da educação e nas mudanças a introduzir no contexto educacional para

responder às necessidades de todos os alunos.

A política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva enfatiza a

“garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com

base na igualdade de oportunidades”, pois esse direito está assegurado na legislação

brasileira através da Constituição Federal (1988), Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional-LDBEN (1996) e Emendas Constitucionais pelos Decretos nº. 186/2008 e nº.

6.949/2009.

A educação nos últimos anos tem conseguido conquistas quanto à noção

de inclusão escolar, capaz de acolher e reter no seu seio grupos de crianças e

jovens tradicionalmente excluídos. Esta perspectiva, dada a sua dimensão

eminentemente social, tem merecido o apoio de profissionais, da comunidade

científica e de pais. Assim, enquanto orientação que respeita as diferenças

individuais, a inclusão escolar, pressupõe diversidade curricular e de estratégias de

ensino/aprendizagem. A inclusão é um processo complexo, que envolve diversas

esferas da vida pessoal e de ordem institucional. Uma sociedade inclusiva é uma

sociedade onde todos partilham plenamente da condição de cidadania e a todos são

oferecidas oportunidades de participação social.

Como se observa, o processo de inclusão depende de várias ações

asseguradas por lei que garantem a participação de todos na efetivação de uma

educação de qualidade verdadeiramente inclusiva. A legislação brasileira tem uma

orientação inclusiva que aponta a escola regular como o local preferencial para o

atendimento especializado dos alunos com deficiências ou necessidades educativas

especiais. A Constituição Federal de 1988 enfatiza com clareza a responsabilidade

do Estado com a educação quando diz em seu: “Art. 208. O dever do Estado com a

Educação será efetivado mediante a garantia de: III – atendimento educacional

especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de

ensino”.

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Ter clareza dos fundamentos teóricos da inclusão e conhecer os

instrumentos legais que lhe atribuem sustentação no sistema educacional que são

conhecimentos imprescindíveis ao educador deste milênio. Já a LDBEN nº 9.394/96,

no Capítulo V – da Educação Especial explicita em seu: “Art. 58: Entende-se por

educação especial, para efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar,

oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores

de necessidades especiais”.

O aluno devidamente matriculado no ensino regular participa da aula com os

demais alunos e no turno oposto receberá o atendimento especializado. Assim, a

Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2008), destaca que a educação inclusiva tem como objetivo:

Assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superlotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008, p.14 ).

Vale ressaltar que o decreto não acaba com as instituições especializadas

no ensino de pessoas com necessidades especiais. Mas, passam a auxiliar a escola

regular, firmando parcerias para oferecer atendimento especializado no período

contrário. Em todos esses documentos há uma diretriz clara para que a escola seja

de fato inclusiva e ofereça uma educação de qualidade a todas as crianças com

necessidades educativas especiais.

Ainda conforme a LDBEN nº 9394/96 “a educação especial é definida como

uma modalidade da educação escolar”. Os conceitos presentes nestes documentos

trazem diversos avanços à compreensão da educação especial, uma vez que a

insere no contexto geral da educação, com finalidade de apoio pedagógico e

complementação aos serviços educacionais comuns, oferecendo meios para o

desenvolvimento dos sujeitos envolvidos neste processo: os alunos com

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necessidades educacionais especiais. Assim, a educação especial pode ser

oferecida na forma de recursos e serviços especializados que possibilitam

aprendizagem e participação nas atividades propostas que envolvam todos os

alunos, respeitando-se suas necessidades.

A oferta de apoios especializados direcionada por uma política de inclusão

não significa apenas a permanência física de alunos com necessidades

educacionais especiais na rede regular de ensino, compartilhando apenas a mesma

sala de aula com os demais educandos, mas sim, implica rever concepções e

paradigmas ligados ao potencial dessas pessoas, respeitando suas necessidades

por meio da promoção de sua acessibilidade (física, instrumental e comunicacional),

aprendizagem significativa e real participação social.

Esses atendimentos especializados estão assegurados em dois contextos

de ensino, nos seguintes parágrafos do art. 58 da LDBEN nº 9394/96:

§1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. §2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. (LDBEN, 1996).

A legislação aponta dois contextos possíveis para a oferta de atendimento

educacional especializado. Um é denominado contexto inclusivo, o qual refere-se ao

espaço da escola regular, abrangendo desde a educação infantil até o ensino

superior. Para que isso se efetive, as escolas inclusivas devem ser aquelas que,

além de promover o acesso à matrícula de todas as crianças, adotem um projeto

pedagógico flexível e dinâmico, aberto à reversão de práticas pedagógicas

tradicionais e homogêneas que levam à exclusão do aluno. Já no outro contexto,

essa ação pode ser viabilizada por instituições privadas de ensino ou conveniadas

com o poder público ou oferecida por escolas especiais ou centros especializados

que farão parceria com as áreas da saúde, assistência social e do trabalho para

garantir atendimento integral às necessidades dos alunos, principalmente aqueles

em situação de deficiência.

No entanto, há uma imensa quantidade de problemas socioeconômicos

como a fome, o isolamento social, os maus tratos, as drogas, entre outros, que

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podem ser revertidos se as respostas educacionais dispensadas pela escola fossem

mais efetivas, pois é na escola e no processo de ensino aprendizagem que algumas

dificuldades de aprendizagem e problemas de adaptação originam-se ou

intensificam-se. Assim, ambos os grupos necessitam da ação da escola a qual deve

oferecer recursos educacionais adequados a cada caso: necessidades permanentes

(deficiências e distúrbios) ou temporárias (contingências sociais, culturais e

familiares).

Contudo, para atender às necessidades de uma escola inclusiva, o

estabelecimento de ensino deverá investir como recursos os de natureza humana,

técnica e materiais, além de reorganizar os componentes curriculares como os

objetivos, a metodologia e a avaliação.

3. O ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E SEU PROCESSO DE ENSINO

APRENDIZAGEM

O aluno com deficiência intelectual tem dificuldade de construir

conhecimentos como os demais alunos e de demonstrar sua capacidade cognitiva,

principalmente na escola conservadora, a qual inibe o processo de aprendizagem. É

por isso que a concepção inclusiva é fundamental, uma vez que, a adaptação ao

conteúdo escolar é realizada com o objetivo da emancipação intelectual do aluno.

De acordo com Pan (2008), classifica-se como:

Retardo mental leve (nível de Q.I. 50-55 até aproximadamente 70); retardo mental moderado (nível de Q.I. 35-40 até aproximadamente 50-55); retardo mental severo (nível de Q.I. de 20-25 até 35-40); retardo mental profundo (nível de Q.I. abaixo de 20 ou 25). Acrescenta a categoria retardo mental de gravidade inespecificada, aplicando-a quando as condições deficitárias da pessoa não permitam mensuração da inteligência. (PAN, 2008, p. 64).

Em 1995, foi alterado o termo deficiência mental por deficiência intelectual,

no sentido de diferenciar a deficiência mental da doença mental (quadros

psiquiátricos não necessariamente associados a déficit intelectual). A deficiência

intelectual constitui um impasse para o ensino regular e para a definição do seu

atendimento especializado, pela complexidade do seu conceito e pela grande

quantidade e variedades de abordagens do mesmo. Contudo, a existência de

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dificuldade em se detectar com clareza os diagnósticos de deficiência intelectual tem

levado a uma série de definições e revisões do seu conceito.

Nesta perspectiva, o aluno com deficiência intelectual apresenta um

funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, oriundo do período de

desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas de

conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às

demandas da sociedade, como comunicação, cuidados pessoais, desempenho na

família e na comunidade, habilidades sociais, independência na locomoção, saúde e

segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho.

O aluno com deficiência intelectual tem suas limitações e aprende em ritmo

lento e precisa ser desde cedo estimulado. A maioria de suas limitações não está

relacionada com a deficiência em si, mas com a credibilidade e as oportunidades

que são oferecidas às pessoas com deficiência intelectual, uma vez que a vida de

uma pessoa deficiente passa a girar em torno de sua limitação ou incapacidade,

quando as suas potencialidades e aptidões não são levadas em conta.

De acordo com o Decreto n 7.611 (2011), que dispõe sobre a educação

especial e o atendimento educacional especializado determina as seguintes

diretrizes:

I - garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades; II - aprendizado ao longo de toda a vida; III - não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência; IV - garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais; V - oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação; [...] VII - oferta de educação especial preferencialmente na rede regular de ensino. (BRASIL, 2011).

A escola precisa se organizar para atender às necessidades dos alunos com

deficiências através de atividades diferenciadas e significativas, adaptando sua

prática de acordo com suas peculiaridades, permitindo aos educandos aprenderem

e ter reconhecidos e valorizados os conhecimentos que são capazes de produzirem,

segundo suas possibilidades.

Segundo Giroto, Poker e Omote (2013, pg. 9), a escola é um contexto

diferenciado e, por características próprias, é um lócus privilegiado para a inclusão.

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É a responsável pela disseminação, para os mais novos, do conhecimento

acumulado pela cultura de um povo. Assim, os avanços na educação propiciaram

que o mesmo seja organizado em ordem de complexidade de forma a ser

apresentado de acordo com as potencialidades de cada aluno.

É um verdadeiro desafio modificar as práticas discriminatórias, isso implica

em inovações na forma do professor e o aluno avaliarem o processo de ensino e

aprendizagem. As mudanças acontecerão também na forma de avaliação, que

passará de classificatória e excludente para ceder espaço a uma avaliação

emancipatória, visando à busca de soluções que venham beneficiar o aluno de todas

as maneiras possíveis, a fim de garantir o desenvolvimento educacional do aluno.

O desafio pedagógico em relação ao ensino e aprendizagem dos alunos

com deficiência intelectual e seu processo de inclusão no ensino regular requer

revisões, apontando a necessidade de instauração de formas democráticas de

participação, a fim de que o sentido da inclusão direcione novas práticas discursivas,

pedagógicas e sociais.

O processo de inclusão exige mudanças principalmente em relação à

consciência da necessidade de luta por uma sociedade mais sensível, que deseje

conviver com a diferença e com ela aprender. A mudança de paradigma significa

desejar uma educação para todos, não uma educação especial para alguns, e,

sobretudo, querer um mundo especial, mais igualitário e melhor para todos, regidos

pela dignidade e pelo respeito aos outros e às suas diferenças.

Na perspectiva de uma escola voltada para a diversidade humana, um dos

grandes desafios está em compreender a dinâmica de desenvolvimento de cada

sujeito, implicando conhecer e respeitar as peculiaridades do seu funcionamento na

aprendizagem e compreender como este sujeito singular elabora seus afetos e seus

vínculos com o contexto escolar.

As diferentes maneiras pelas quais os sujeitos apresentam necessidades

especiais só toma sentido quando educadores e seus familiares oportunizam seu

desenvolvimento, concebendo-os como pessoas humanas com potenciais a serem

descobertos e aprimorados, possibilitando assim, condições dignas de acesso tanto

à educação como à vida em sociedade. Portanto, a escola tem a importante função

no processo de inclusão, e o professor o papel fundamental no desenvolvimento do

aluno, na medida em que pode proporcionar novas formas de construção do

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conhecimento, criar vínculos e oportunidades que facilitem o ensino e

aprendizagem.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise crítica do conjunto de fundamentos legais que norteiam a

educação escolar é o que possibilita, em primeira instância, que as diversas ideias

pedagógicas sejam compreendidas nas políticas públicas voltadas à educação,

definindo o tipo de cidadão que se pretende formar e as estratégias para sua

materialização em diferentes condições socioeconômicas. Para o educador

comprometido com as transformações sociais, esse conhecimento é imprescindível

principalmente àqueles que desejam desenvolver na prática um trabalho voltado

para inclusão no ambiente escolar.

Diante da análise deste estudo, observou-se que a inclusão de alunos com

deficiência intelectual no ensino regular apresenta-se como um dos desafios da

escola que tem a função de construir saberes prazeroso e aprendizagem

contextualizada e significativa para todos os alunos. Assim, percebe-se que apesar

do avanço da educação inclusiva presente na legislação brasileira, é urgente

repensar o desafio apresentado pelo processo inclusivo. E isto é possível através da

construção de práticas pedagógicas voltadas à diversidade, uma vez que, cada um

desses aspectos contribui para as mudanças na sociedade, tornando-a acessível,

solidária e cooperativa, em benefício de todos.

Portanto, é através de uma estreita colaboração entre profissionais e

famílias que será possível compreender globalmente o aluno com deficiência

intelectual e planejar a intervenção nos diferentes contextos. Assim, a prática efetiva

e bem-sucedida da inclusão depende de diversos fatores e de todos os envolvidos

no processo, além de uma atuação responsável e comprometidos com as ideias de

uma escola democrática e inclusiva onde todos podem fazer a diferença.

5. REFERÊNCIAS

BRASIL. 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal,

2004. ISBN 85-7018-219-8.

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_____. Decreto Legislativo n. 186, de 9 de julho de 2008. Aprova o texto da Convenção

sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados

em Nova Iorque, em 30 de março de 2007. Senado Federal, Brasília, DF, 2008. [Consult. 20

Mai. 2014]. Disponível em WWW:<URL: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao

/congresso/DLG/DLG-186-2008.htm>.

_____. Decreto nº 6.949, 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre

os Direitos das Pessoas com Deficiência. Presidência da República, Casa Civil. Brasília, DF,

2009. [Consult. 24 Mai. 2014]. Disponível em WWW:<URL:http://www.planalto.gov.br/cci

vil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>.

______. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial,

o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Presidência da Repúbli-

ca, Casa Civil. Brasília, DF, 2011. [Consult. 20 Mai. 2014]. Disponível em WWW:<URL:http://

www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-014/2011/Decreto/D7611.htm>.

_____. LDBEN: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. N. 9394/1996, de 20 de

dezembro de 1996. Série Legislação n. 102. 8ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados, 2013.

ISBN 978-85-402-0101-9.

_____. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. 2009. Desenvolvimento da Educação Inclusiva: da

retórica à prática. Resultados do plano de ação 2005-2009. Livramento: Cercica, 2009. p.7.

ISBN 978-972-742-314-9.

CAPE-Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado. Deficiência intelectual: realidade e ação.

Secretaria da Educação. São Paulo: SE, 2012. [Consult. 20 Mai. 2014]. Disponível na

internet:<URL: http://cape.edunet.sp.gov.br/cape_arquivos/Publicacoes_Cape/P_4_Defici

encia_Intelectual.pdf>. ISBN: 978-85-7849-522-0.

GARCIA, Rosalba Maria Cardoso. Política de educação especial na perspectiva inclusiva e

a formação docente no Brasil. Revista Brasileira de Educação. Vol. 18, n. 52 (2013), p. 101-

239. [Consult. 30 Mai. 2014]. Disponível na internet:<URL:http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v1

8n52/07.pdf>. ISSN 1413-2478.

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GIROTO, Claudia R. M.; POKER, Rosimar Bortolini; OMETE, Sadao (org.). As tecnologias

nas práticas pedagógicas inclusivas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. [Consult. 30 Mai.

2014]. Disponível na internet:<URL: http://www.marilia.unesp.br/Home/Publicacoes/as-

tecnologias-nas-praticas_e-book.pdf>. ISBN 978-85-7983-259-8.

PAN, Miriam Aparecida G. de Souza. 2008. O direito a diferença: uma reflexão sobre

deficiência intelectual e educação inclusiva. Curitiba: Ibpex. ISBN 978-85-7838-046-5.

SARNO, Cecília Ribeiro. Captação de pessoas com deficiência intelectual: um estudo

comparado. Revista Cadernos de Pesquisa-NPGA. Vol. 3, n 2 (2006), p. 185-196. [Consult.

28 Mai. 2014]. Disponível na internet:<URL:http://www.cadernosnpga. ufba.br/viewarticle.

php?id=113>. ISSN: 1982-100X.