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Prof. Marinho – Processo Inflamatório (19/05/2003)- Rosana Abreu PROCESSO INFLAMATÓRIO INFLAMAÇÃO: Reação de um tecido vivo a uma agressão. AGENTES AGRESSORES Agentes físicos: frio, calor, trauma, radiação ionizante. Agentes químicos: CCl4, Hg, etc. Agentes biológicos: bactérias, fungos, vírus, protozoários, reações imunológicas. Quando um desses agentes agride a célula, eles vão agredir os sistemas bioquímicos da célula. Por exemplo: toxina bacteriana- pode inibir a ATPase, daí diminui o ATP, então vai haver comprometimento da bomba de Na/K (transporte ativo), então vai sair K da célula e entrar água, o que levará a degeneração hidrópica (célula tumefeita). Essa degeneração evolui. Vai haver inchaço de mitocôndria, de lisossoma, os ribossomos ficam dispersos no citoplasma. Daí cai a síntese protéica (a basofilia desaparece). Enzimas lisossômicas (endonucleases) vão ao núcleo, e provocam rutura de carioteca, seguida de cariorréxis e cariólise. A entrada de cálcio também sela a morte celular, pois impede a fosforilação oxidativa. Diversos sistemas bioquímicos podem ser alterados. Por exemplo: infiltração gordurosa: os fosfolipídios são destruídos, então as membranas são alteradas e extravasamento de substancias que podem lesar a célula. Essas lesões podem ser reversíveis ou irreversíveis. Ex: Vírus: quando ele sai da célula que ele parasitou ele deixa proteínas virais na membrana, e isso pra célula é um antígeno, daí ela lança anticorpos (reação imunológica). Isso é lesivo a células, além do efeito direto do vírus sobre a célula.

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Prof. Marinho – Processo Inflamatório (19/05/2003)- Rosana Abreu

PROCESSO INFLAMATÓRIO

INFLAMAÇÃO: Reação de um tecido vivo a uma agressão.

AGENTES AGRESSORESAgentes físicos: frio, calor, trauma, radiação ionizante.

Agentes químicos: CCl4, Hg, etc.

Agentes biológicos: bactérias, fungos, vírus, protozoários, reações imunológicas.

Quando um desses agentes agride a célula, eles vão agredir os sistemas bioquímicos da célula. Por exemplo: toxina bacteriana- pode inibir a ATPase, daí diminui o ATP, então vai haver comprometimento da bomba de Na/K (transporte ativo), então vai sair K da célula e entrar água, o que levará a degeneração hidrópica (célula tumefeita). Essa degeneração evolui. Vai haver inchaço de mitocôndria, de lisossoma, os ribossomos ficam dispersos no citoplasma. Daí cai a síntese protéica (a basofilia desaparece). Enzimas lisossômicas (endonucleases) vão ao núcleo, e provocam rutura de carioteca, seguida de cariorréxis e cariólise. A entrada de cálcio também sela a morte celular, pois impede a fosforilação oxidativa.

Diversos sistemas bioquímicos podem ser alterados. Por exemplo: infiltração gordurosa: os fosfolipídios são destruídos, então as membranas são alteradas e extravasamento de substancias que podem lesar a célula. Essas lesões podem ser reversíveis ou irreversíveis.

Ex: Vírus: quando ele sai da célula que ele parasitou ele deixa proteínas virais na membrana, e isso pra célula é um antígeno, daí ela lança anticorpos (reação imunológica). Isso é lesivo a células, além do efeito direto do vírus sobre a célula.

Então os mecanismos bioquímicos vão ser alterados Alteração funcional da célula Alteração morfológica = ALTERAÇÕES DE NATUREZA INFLAMATÓRIA OU REACIONAL.

É a alteração morfológica que podemos detectar na microscopia.

Existem vários tipos de degeneração, devido a produtos que se acumulam dentro da célula: Degeneração hidrópica (água), degeneração gordurosa (esteatose), degeneração hialina (proteína).

Uma degeneração hidrópica pode levar, por exemplo, a um halo perinuclear, a uma coilocitose, porque não tem nada pra corar na célula, só água.

Essas alterações morfológicas são inespecíficas (independem do agente agressor).

As alterações regressivas ou degenerativas levam a uma alteração na função da célula. Podem ser fisiológicas (mama na gravidez, pós menopausa) ou patológicas.

Podem ser reversíveis ou irreversíveis.

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ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS

Fase Inicial (Reversível) Fase Final (Irreversível)

Hipertrofia nuclear Rutura da carioteca (cariorréxis)

Espessamento da carioteca Cariopicnose

Hipocromasia nuclear Cariólise

Hipertrofia nucleolar Liquefação do citoplasma (acidofilia)

A necrose é o pós-morte (processo degenerativo). Ocorre após a fase final. Quando a célula morre sofre autólise e heterólise.

Ex.: paciente idosa: queda de estrogênio e de progesterona, o epitélio fica atrofiado, a mucosa subjacente (tecido conjuntivo) fica atrofiada, daí tem pouca vascularização, o que leva a hipóxia e anóxia. A falta de oxigênio vai levar a todas essas alterações. Por isso se diz que estas alterações podem ser fisiológica.

Só haverá alterações morfológicas se houverem alterações no sistema bioquímico, no funcionamento da célula. Então, só ocorre isso se a célula estiver sento agredida.

ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS NO PROCESSO INFLAMATÓRIO * CRITÉRIOS DE INFLAMAÇÃO *

CITOPLASMA:1) Metacromasia (Policromasia ou Anfofilia): citoplasma de 2 ou mais cores2) Pseudoeosinofilia: células que normalmente se coral cianofilicamente, coradas eosinofilicamente (é a liquefação do citoplasma)3) Halo perinuclear: halo claro pequeno em volta do núcleo.4) Coilocitose: grande halo em torno do núcleo (coilos = cratera)5) Formas bizarras (aberrantes): fibra, fuso, raquete, amebóide6) Apagamento das bordas citoplasmáticas: bordas mal delineadas7) Dobramento de bordas citoplasmáticas em CP: em célula intermediaria é ação do progesterona.8) Vacuolização citoplasmática: pode ser uma degeneração hidrópica, gordurosa (diversos vacúolos). Quando é somente um vacuolo rechaçando o núcleo não é inflamação, é atividade celular aumentada (cl. mucípara). Quando são diversos vacúolos pelas bordas citoplasmáticas de tamanha variado, é uma alteração degenerativa (pode ser provocado por um agente infeccioso. Pode ser acumulo de gordura na célula, que foi removido pelo xilol durante a coloração).9) Citoplasma esgarçado10) Granulações cerato-hialinas: depósito de proteínas

NÚCLEO:

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1) Hipercromasia: 2) Contorno nuclear irregular: 3) Vacuolização nuclear: 4) Extrusão da cromatina: a cromatina migra só pra um lado da carioteca5) Bi ou multinucleação: também ocorre em processo normal.6) Cariomegalia: aumento exagerado do núcleo 7) Hipertrofia nuclear: o núcleo aumenta 1x ou 1 e 1/2x o tamanho normal8) Espessamento da carioteca9) Hipocromasia nuclear10) Cariopicnose11) Rutura da carioteca12) Cariorrexis13) Cariólise

* as alterações degenerativas podem ser fisiológicas.

FUNDO DA LÂMINA:1) Número de leucócitos2) Número de macrófagos3) Número de hemácias

A maioria dos critérios é inespecífico. Poucos critérios são patognomônicos, como por exemplo a célula herpetica.

CLASSIFICAÇÃO DO PROCESSO INFLAMATÓRIO

AGUDO – predomínio de PMNCRÔNICO – predomínio de linfócitos, plasmócitos e macrófagos (histiócito)

Se tiver muito eosinófilo é um processo alérgico. A alergia também provoca agressão celular.

ESPECÍFICO – se eu encontrar o possível agente agressorINESPECÍFICO – se eu não encontrar o possível agente agressor

*-*-*-*-*-*-*-*

SLIDES

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Gardnerella vaginalis: existe a célula indicadora de Gardnerella (chamada clue cell), que é uma célula epitelial onde os coco bacilos ficam tapeteando toda a célula, inclusive na borda citoplasmática a concentração de coco bacilo é maior. Mas só isso não pode ser considerado gardnerella. O quadro de G. tem que ter muita picnose, pois a G. induz picnose. Produtos do metabolismo celular impedem a diapedese, então outra característica é o esfregaço leucopênico. Não tem critérios de atipia reacional, quer dizer: não tem processo inflamatório porque é uma vaginose. Também não tem bacilos de Doederlein, que quando tem é muito pouco (porque o Doederlein produz H2O2, e a gardnerella é anaeróbica, então ela não prolifera).Então:- não tem que ter atipia reacional- tem muita picnose- doederlein diminuído ou desaparecido- esfregaço leucopênico

O corrimento é acinzentado ou pardacento, bolhoso, fétido e não é pruriginoso (a não ser que esteja associado a fungo ou Trichomonas). É positivo pra KOH: quando alcaliniza o meio ele libera aminas aromáticas (putrecina, cadaverina, tiramina) que produto do metabolismo da gardnerella.

Ela é um coco bacilo, anaeróbico, pleomórfico, gram negativo a gram variável, imóvel. Provoca vaginose.OBS: qualquer proliferação excessiva de bactérias vai formar esse tapeteamento, e nem sempre é gardnerella.

Actinomyces: é um anaeróbio. Aparece na forma de tufo bacteriano, de onde saem prolongamentos. Parece um ouriço do mar, uma bola de algodão. Tem como habitat natural a cavidade oral e o intestino grosso. Eventualmente ele aparece no meio vaginal. Ocorre geralmente em usuárias de DIU, porque o DIU é instalado dentro do corpo do útero e fica um fio guia que sai no orifício externo, então ele ascende por ai. É responsável por DIP (doença inflamatória pélvica). Na instalação do DIU há traumatismo no corpo do útero, então vai ter necrose de tecido, ali tem sangue, tudo o que o anaeróbio gosta. Ele cora de marrom.

Fusobacterium: também é anaeróbio. É fino e comprido. É de 6 a 10 vezes maior que um doederlein, mas é menor que o leptothrix umas 10 vezes. Ta relacionado a doença séptica pós aborto.

Leptothrix vaginalis: bactéria anaeróbia filamentosa. Forma letras. Cora em marrom escuro ou negro pelo papanicolaou. Quando tiver poucos não citar no laudo, pois hoje é considerado flora normal. Geralmente (em 80% dos casos) está associado a trichomonas. O inverso não ocorre.

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Cocos gram positivos: melhor não citar no laudo. Neste caso são streptococos em forma de rosário. Cocos (com exceção do diplococos gram negativo – neisseria) geralmente não provocam inflamação em maio vaginal. Se tratar pode desequilibrar a flora e causar uma leucorréia iatrogênica.

Diplococos extracelulares: tem que citar no laudo.

Bacilo Difteróide: é gram positivo. Tem abaulamento nas duas extremidades. Parece um palito de fósforo com duas cabeças. Se for infante ou mulher na menopausa, é melhor não citar. Durante a menacme deve citar porque ele provoca corrimento, mas na criança e na idosa não citar.

Enterobacterias: Bacilos curtos e grossos, geralmente aos pares unidos pelas extremidades (imersão). Em caso de dúvida deve ver com imersão. Provoca leucorréia grave. Trata com aminoglicosidio.

Trichomonas: é um anaeróbio. Varia de tamanho (8-20 micras). Pode ser oval, redondo, o citoplasma pode corar em verde, azul, cinza e ate cor de rosa. O que é importante é ver o núcleo excêntrico, alongado. Se você não ver o núcleo, pode ser resto de célula. Não tem flagelo porque o ácido clorídrico destoe. As vezes você vê os efeitos indiretos. Digamos que a mulher fez uma ducha vaginal antes da coleta, então na lâmina não vai ter trichomonas, mas tem uma serie de alterações que caracterizam um quadro indireto de trichomoniase. Os critérios são hipertrofia nuclear, muito halo perinuclear, bi ou multinucleação, hipercromasia nuclear, célula em chumbo grosso (uma célula epitelial tapeteada por PMN), pseudoeosinofilia. O trichomonas é um agressor muito intenso, ele leva a erosão, por isso eu encontro células profundas. Estes são os sinais indiretos de trichomonas, então posso fazer uma observação no laudo. Causa corrimento amarelo esverdeado, fétido, bolhoso, pruriginoso, dá reação positiva para KOH.

Toxoplasma: é muito raro. Só aparece em esfregaço atrófico.

Cândida albicans: aparece na forma de hifa e de esporos. Cora em rosa ou marrom escuro. Tem espessamento de carioteca, pseudoeosinofilia.As hifas costumam estar entre os agrupamentos celulares. Tem corrimento pruriginoso, disúria.

Cândida glabrata ou Torulopsis glabrata: se apresenta na forma de esporos (não tem hifa). Os esporos são pseudoencapsulados (na imersão da pra ver). Esse diagnostico diferencial é importante. Esse esporo tem de 2 a 4 micras de diâmetro, é pequeno. No exame de urina não se vê. Ele é resistente a nistatina. A reação inflamatória é menos intensa que a da cândida. É comum estar

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associado a fusobacterium. As vezes vem associado a C. albicans. Cora da mesma tonalidade da cândida, rosa ou marrom escuro.

Geotrichum candidum: não forma hifas, forma artrosporos. Cora da cor da cândida e também é resistente a nistatina.

Clamídia: foi deletado pelo sistema bethesda. Tem predileção por células endocervicais e por células metaplásicas. É uma inclusão intracitoplasmatica. Tem um vacuolo no citoplasma e no centro do vacuolo tem um corpo cocoide, também chamado de corpúsculo reticular. Ela se divide por divisão binária, o citoplasma arrebenta e o corpo reticular que é intracitoplasmáticos vai pro meio extracelular, então se chama corpo elementar que é a forma infectante. Ele se aproxima da célula, é fagocitado e passa a ser corpo reticular. Esse ciclo biológico dura 49 horas. Há uma tendência dos vacúolos se amoldarem ao núcleo da célula do hospedeiro. O corpo cocóide pode ser basofilico, mas 75% deles são acidofilicos.

HPV- Papiloma vírus humano: coilocitose (grande halo perinuclear com margem espessada – célula balonisada) + discariose (núcleo aumentado e hipercromático) + disceratose (citoplasma ceratinizado). Pode ter bi ou multinucleação. A disceratose é um transtorno na ceratinização: invés de acontecer em célula superficial ocorre na camada intermediária. (orange tem afinidade pela ceratina).

HERPES: é uma das poucas reações celulares especificas. Características patognomônicas de herpes:- Célula multinucleada (pode ser 1 núcleo)- Tem amoldamento nuclear- Espessamento da carioteca- Núcleo com aspecto gelatinoso ou de vidro fosco (porque a cromatina nuclear migra pra carioteca, então entre a inclusão e a carioteca fica esse espaço rarefeito de cromatina, que da o aspecto de vidro fosco)- No centro tem uma inclusão acidofilica, onde estão as proteínas virais.

- Pode ter basofilia- Na fase final da virose tem uma inclusão acidofilica (80%) ou basofilica (20%)- Citoplasma pode ser acidofilo ou basofilico- Geralmente tem muito PMN.

# Obs: os critérios de inflamação são inespecíficos (independem do agente agressor)