4_ identificação e avaliação de impactos ambientais

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IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 1. INTRODUÇÃO Este tópico visa contextualizar, apresentar e ponderar as distintas considerações acerca dos impactos e aspectos ambientais e da avaliação de impacto ambiental, que permeiam as literaturas, o entendimento jurídico, os casos práticos e inesperados, bem como a forma com que esses impactos apresentam-se no Porto Organizado de Vitória. Incontestavelmente nos dias de hoje o termo impacto ambiental é divulgado por todos os meios de mídia com muita freqüência, único e exclusivamente, como algum prejuízo ao meio ambiente, e por via de regra, para chocar a opinião pública. Não obstante disso, nesse sentido, é difundido também na mídia outro termo bastante subjetivo: impacto ambiental significativo. Se procurarmos no dicionário a palavra significativo, teremos sinônimo de expressivo. No entanto é com a conotação de altamente degradante que o impacto ambiental significativo toma proporções maiores nas divulgações de mídias. Por definição impacto ambiental é a alteração da qualidade ambiental que resulta da modificação de processos naturais ou sociais provocadas por uma ação humana (Sánchez, 1998). O impacto ambiental pode ser: Impacto positivo: deve ser considerado impacto positivo aquele aspecto que quando gerado é reaproveitado, reciclado ou aquele que minimiza, previne a geração de um impacto negativo. Impacto negativo: deve ser considerado impacto positivo aquele aspecto que ao ser gerado necessita de medidas de controle e acompanhamento para cumprimento da legislação ou atendimento as partes interessadas e política ambiental estabelecida (Sánchez, 1998). A avaliação de impacto ambiental é uma das ferramentas da Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecida em 1980 com a finalidade de confiabilidade da solução a ser adotada em determinada atividade, além dos estudos especiais de alternativas. Para se realizar uma avaliação de impacto ambiental deve-se na verdade levantar primeiramente os aspectos dos impactos ambientais potenciais, e não somente tentar diagnosticar os impactos ambientais de expressão, ou os chamados impactos significativos. Devemos ainda, assim como em qualquer avaliação que se pretende fazer de algo, valorar os impactos ambientais oriundos de seus respectivos aspectos gerados

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IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

1. INTRODUÇÃO

Este tópico visa contextualizar, apresentar e ponderar as distintas

considerações acerca dos impactos e aspectos ambientais e da avaliação de

impacto ambiental, que permeiam as literaturas, o entendimento jurídico, os casos

práticos e inesperados, bem como a forma com que esses impactos apresentam-se

no Porto Organizado de Vitória.

Incontestavelmente nos dias de hoje o termo impacto ambiental é divulgado

por todos os meios de mídia com muita freqüência, único e exclusivamente, como

algum prejuízo ao meio ambiente, e por via de regra, para chocar a opinião pública.

Não obstante disso, nesse sentido, é difundido também na mídia outro termo

bastante subjetivo: impacto ambiental significativo. Se procurarmos no dicionário a

palavra significativo, teremos sinônimo de expressivo. No entanto é com a

conotação de altamente degradante que o impacto ambiental significativo toma

proporções maiores nas divulgações de mídias.

Por definição impacto ambiental é a alteração da qualidade ambiental que

resulta da modificação de processos naturais ou sociais provocadas por uma ação

humana (Sánchez, 1998). O impacto ambiental pode ser:

Impacto positivo: deve ser considerado impacto positivo aquele aspecto que quando gerado é reaproveitado, reciclado ou aquele que minimiza, previne a geração de um impacto negativo. Impacto negativo: deve ser considerado impacto positivo aquele aspecto que ao ser gerado necessita de medidas de controle e acompanhamento para cumprimento da legislação ou atendimento as partes interessadas e política ambiental estabelecida (Sánchez, 1998).

A avaliação de impacto ambiental é uma das ferramentas da Política Nacional

do Meio Ambiente, estabelecida em 1980 com a finalidade de confiabilidade da

solução a ser adotada em determinada atividade, além dos estudos especiais de

alternativas. Para se realizar uma avaliação de impacto ambiental deve-se na

verdade levantar primeiramente os aspectos dos impactos ambientais potenciais, e

não somente tentar diagnosticar os impactos ambientais de expressão, ou os

chamados impactos significativos.

Devemos ainda, assim como em qualquer avaliação que se pretende fazer de

algo, valorar os impactos ambientais oriundos de seus respectivos aspectos gerados

em determinada atividade. A atividade desenvolvida, o aspecto ambiental gerado

pela mesma e o impacto ambiental resultante, são indicadores para que possamos

valorar os impactos ambientais, indicando se necessita medida de controle ou não e

finalmente classificando-o.

O estudo de impacto ambiental é uma forma e modalidade de avaliação de

impacto ambiental. Compete ao poder público exigir, na forma da lei, para instalação

de qualquer atividade ou obra causadora de impactos e degradação ao meio

ambiente, um estudo de impacto ambiental, anterior as suas instalações.

Figueiredo (2011), relata que antes do advento da Constituição de 1988 era

compreensível que esses estudos estivessem apenas previstos nas resoluções do

CONAMA, porém atualmente este dispositivo permanece sendo regulado por essas

resoluções, fato que gera um alto grau de insegurança jurídica pela ausência do

efeito de lei. O poder público deve controlar processos e produtos que ofereçam

riscos para o meio ambiente. Por isso que estudos prévios de impactos ambientais

estão transcritos no art. 225, § 1º, IV, da Constituição Federal.

Portanto, este capítulo tem como alvo a identificação da potencialidade dos

impacto ambientais inseridos ou que possam ocorrer nas operações portuárias do

Porto Organizado de Vitória, caracterizando assim a nossa avaliação de impacto

ambiental, permitindo que essas operações tenham um comprometimento com o

controle e planejamento cada vez maior e melhor de suas ações.

A potencialidade de certa ação humana ser capaz ou não de acarretar

modificações ambientais está ligada as cargas de poluentes imposta ao ecossistema

no qual o projeto está inserido, ou fruto de sua ação sobre o mesmo, somada a

vulnerabilidade do meio.

Outros autores trazem o conceito de impacto ambiental formulado de diversos

modos, mas com similaridades em suas noções fundamentais, mesmo que essa

noção narre somente uma parte do conceito. Pode-se citar como contextualização

técnica de impacto ambiental:

• Qualquer alteração do meio ambiente em um ou mais de seus

componentes – provocada por uma ação humana (Moreira, 1992, p.

113);

• O efeito sobre o ecossistema de uma ação induzida pelo homem

(Westman, 1985, p. 5);

• A mudança em um parâmetro ambiental, em um determinado período e

determinada área, que resulta de uma dada atividade, comparada com

a situação que ocorria se essa atividade não estivesse sido iniciada

(Wathern, 1988a, p. 7).

Pode-se ilustrar o impacto ambiental, tal qual a Figura 1, tendo como

característica fundamental a extensão da dinâmica dos processos no meio

ambiente, como base no entendimento das alterações ambientais, ou seja, os

impactos.

Figura 1 . Ilustração de indicador de impacto ambiental.

Fonte : Sánchez (2008).

E com a Figura 2 podemos visualizar uma ilustração da funcionalidade de

uma avaliação de impacto ambiental, através dos agentes envolvidos.

Figura 2 . Ilustração de indicador de impacto ambiental.

Fonte: Sánchez (2008).

Na prática da avaliação ambiental dos impactos, nem sempre é possível

empregar esse conceito, devido à dificuldade de se prever a evolução da qualidade

ambiental em uma dada área.

Os impactos a serem identificados na atividade portuária, objeto de nosso

estudo, são decorrentes de modificações:

� Das propriedades:

• Física (ex.: aterros, dragagens e maus dimensionamentos de obras);

• Químicas (ex.: alteração da qualidade dos corpos hídricos por

possíveis contaminações de agentes químicos e com o

deslastramento); e

• Biológicas (ex.: alteração do meio biótico, supressão de vegetação e

agressões á ictiofauna e ictioflora através da atividade de

deslastramento);

� E nas atividades:

• Sociais (ex.: condições sanitárias inadequadas, insegurança para a

população); e

• Econômicas (ex.: aumento de diferentes atividades comerciais e da

arrecadação tributária).

Assim, poder-se-á chegar a conclusão ao final desse tópico que a atividade

portuária poderá apresentar-se como altamente impactante, seja positivamente ou

negativamente, identificando que a origem dos impactos resultam de ações física,

química, biológica e ou sociais.

É importante lembrar que toda forma de poluição gera um aspecto ambiental

e por conseqüência causa um impacto ambiental. Mas é importante firmar que um

impacto ambiental não necessariamente causará alguma forma de poluição.

2. ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS EM AMBIENTES COST EIROS

A preocupação com a qualidade ambiental da zona costeira vem do

reconhecimento das características ecológicas da vida marinha. Aí, como nos

ecossistemas terrestres, a produtividade ecológica dos diferentes espaços é

desigual.

Conforme Diegues (1995) é na zona de costa onde ocorrem as interações

terra-mar, é onde a cadeia alimentar marinha se inicia a partir de uma enorme

atividade de fotossíntese das espécies vegetais, muitas delas de pequeno porte.

Escapa muitas vezes ao senso comum que a fotossíntese que ocorre no mar,

especialmente na zona costeira, produz a maior parte do oxigênio de nossa

atmosfera. Ou que os cardumes que aproveitamos para a pesca dependem, para

sua renovação, da vida que ocorre nessas regiões.

Diegues (1995), ainda esclarece que os espaços naturais costeiros têm

diferentes graus de contribuição para este conjunto de fenômenos vitais, devendo-se

reconhecer a importância ecológica extraordinária dos ecossistemas estuarino-

lagunares, onde as águas doces e salgadas se encontram e se misturam e

formações como os manguezais desempenhando funções que muitos comparam à

de berçários das espécies marinhas, por fornecerem abrigo, nutrientes e outros

fatores ambientais propícios a múltiplas espécies em diferentes estágios da

reprodução e crescimento.

Percebe-se que é drástica a mudança dos espaços costeiros, a partir da

instalação dos processos de transformação, armazenamento e transporte de

produtos e matérias primas com maior ou menor potencial de risco ambiental, e dos

assentamentos urbanos estruturados.

Notou-se nesse estudo que há uma segregação espacial dos segmentos de

baixa renda com a apropriação especulativa dos espaços mais nobres em termos de

atratividade paisagística. Mas em todos os casos sem maiores cautelas no que se

refere à liberação de diferentes formas de poluição; percebe-se a evidente

descaracterização cultural e urbana; desalojo e marginalização de populações

tradicionais.

Por exemplo, a atividade pesqueira enfrenta a redução de cardumes,

associada às diferentes formas de poluição e devastação em que se inclui a própria

pesca predatória e os aterramentos das áreas de manguezais.

Os ecossistemas brasileiros costeiros e litorâneos (Estuarinos, Recifes de

corais, Manguezais, Marismas, Restingas, Lagunas Costeiras, etc), são habitats de

boa parte dos recursos marinhos.

Algumas áreas são exploradas por pescadores e produtores artesanais de

comunidades tradicionalmente pesqueiras, com as suas áreas de criação e capturas

de peixes, moluscos e crustáceos, outras pela pesca industrial (ou de arrastão

realizadas por embarcações em alto mar) com a mesma atividade fim, porém de

modo mais hostil a essas espécies e as comunidades tradicionais.

Há ainda em várias outras áreas do litoral brasileiro a implantação de outras

atividades, como o turismo e onde são realizadas operações portuárias.

As atividades supra mencionadas, que de alguma forma exploram a zona

costeira, provocam alguns ou vários impactos ambientais na região de seu

desenvolvimento, sendo que algumas apresentam impactos altamente expressivos e

outras, impactos de menor potencial significativo.

Diegues (1995), expressa através da elaboração da matriz abaixo, que para

podermos identificar alguns dos possíveis impactos resultante de atividades

humanas nos referidos ambientes, tem-se que caracterizar os poluentes inseridos

em suas condições físicas capazes de ocasionar possíveis mudanças nos

ambientes costeiros.

3. ATIVIDADES PORTUÁRIAS E IDENTIFICAÇÃO DE ASPECTO S E IMPACTOS

AMBIENTAIS

A atividade desenvolvida nos portos exerce papel fundamental na economia

brasileira.

Enfatiza-se em todos os relatórios governamentais e das instituições de

pesquisa a necessidade de incremento da produtividade nos recursos de infra-

estrutura para permitir a sustentabilidade do crescimento econômico nos pais.

Portanto, é imprescindível a atualização dos modelos de gestão de terminais

portuários no Brasil.

Ao iniciar o trabalho, no Porto Organizado de Vitória, com vistas à

identificação dos possíveis impactos ambientais, averiguou-se inicialmente os

aspectos decorrentes das operações portuárias.

O registro dos aspectos e impactos deu-se a partir do levantamento de

informações colhidas diretamente nos Cais do Porto Organizado de vitória, assim

como, em bibliográficas que constituem dados secundários de dizem respeito ao

mesmo. O levantamento de campo permitiu realizar os registros fotográficos das

atividades portuárias e a dinâmica existente no Porto Organizado de Vitória,

envolvendo colaboradores e comunidade do entorno. Segue abaixo, alguns

exemplos de registros fotográficos de interesse para o estudo, conforme Figuras 03

a 8.

Figura 03. Registro de aspectos e impactos ambientais das atividades

portuárias.

Fonte : Equipe Técnica FAPEU.

Figura 04. Registro de aspectos e impactos ambientais das atividades

portuárias.

Fonte : Equipe Técnica FAPEU.

Figura 05. Registro de aspectos e impactos ambientais das atividades

portuárias.

Fonte : Equipe Técnica FAPEU.

Figura 06 : registro de aspectos e impactos ambientais das atividades

portuárias.

Fonte : Equipe Técnica FAPEU.

Figura 07 . Registro de aspectos e impactos ambientais das atividades

portuárias.

Fonte : Equipe Técnica FAPEU.

Figura 08 . Registro de aspectos e impactos ambientais das atividades

portuárias.

Fonte : Equipe Técnica FAPEU.

Na identificação de determinado impacto localizado que exista legislação

associada e que o mesmo necessite de medida de controle, ou de remediação, faz-

se necessária uma investigação com vistas a verificar se o mesmo constitui ou não

em um passivo ambiental. As atividades portuárias geram os aspectos e ocasionam

por conseqüência os impactos, e as mesmas tornam-se os principais agentes

responsáveis pela elaboração da matriz dos aspectos e impactos ambientais de

nosso estudo.

Para a metodologia adotada de instrumentos de avaliação de impactos

ambientais – IAIA – constata-se que determinada atividade pode gerar diferentes

aspectos, ocasionando diversos impactos, e este por sua vez pode ou não

apresentar um passivo ambiental, daí a necessidade da investigação.

Através da caracterização técnica e da área de Influência do Porto

Organizado de Vitória, segundo as Normas Legais, pode-se aplicar métodos para

avaliar os impactos existentes. Verifica-se assim, que a atividade portuária é uma

atividade altamente impactante, positivamente ou negativamente, seja na

implantação, operação, manutenção e expansão dos portos.

Pois, ora o impacto apresenta-se de maneira benéfica, com o aumento na

oferta de empregos, a diversificação da economia, arrecadação tributária do

município e cidades vizinhas, incremento de novos meios de transportes (aumento

da frota do transporte público, mas também com consequente aumento na emissão

de CO2), e ora de modo negativo, com os processos erosivos, as ameaças a saúde

da população e degradação estética e da água com a descarga de lixos e esgotos

sanitários dos navios, supressão de ecossistemas costeiros (manguezais), e de

lixiviação.

Se os impactos ambientais são alterações do meio ambiente provocada por

ação humana, pode-se dizer que impacto ambiental é a causa da geração de

determinado poluente, ou interferência, provocada pelo homem nos ecossistemas

através das suas atividades.

As inúmeras atividades executadas na área de influência portuária por um

Porto Organizado podem produzir diferentes transformações nos ambientes locais e

regionais, resultando em diferentes formas de impactos, especialmente no meio em

que se inserem.

O Canal da Baía de Vitória por onde trafegam os navios que chegam ao Porto

Organizado de Vitória é do ponto de vista da atividade portuária, infra-estrutura

técnica. Essas mesmas águas podem ser utilizadas para a pesca, sendo

reconhecidas dessa forma como um ecossistema provedor de recursos. Outros

atributos de qualidade do mesmo espaço pode ser para serviços turísticos ali

localizados.

Generalizando, quanto aos aspectos e impactos ambientais portuários, a

operacionalização do porto é de vital importância para a economia, logística e

transporte de cargas no Brasil, e o seu comércio com o exterior.

Isso devido a sua pujança, confiabilidade, destreza e investimentos

constantes para os custos envolvidos serem cada vez mais competitivos em todos

os setores abarcados, de tal forma que em contra partida a atividade portuária

(desde a implantação até as modificações) é fonte de poluição, degradação e

contaminação de nossas águas e ecossistemas costeiros.

Mesmo sendo os impactos ambientais da atividade portuária decorrentes das

alterações de novas frentes de atracação, de dragagens de berços, de canais de

acesso, de derrocamentos, de aterros, de armazenagem, de construções e

ampliações de um modo geral, estas quando dimensionadas de forma inadequada,

podem gerar modificação negativas no regime dos corpos d'água, alteração da linha

de costa, supressão de vegetação, agressão a ecossistemas e poluição dos

recursos naturais.

Do mesmo modo, as operações de manuseio, transporte e armazenagem da

carga, bem como os serviços de manutenção da infra-estrutura, o abastecimento e

reparo de embarcações, máquinas, equipamentos e veículos em geral, podem,

quando feitos de forma inadequada, gerar resíduos sólidos e líquidos, poluição do

ar, da água, do solo, perturbações diversas por trânsito de veículos pesados, entre

outros.

A simples navegação dos navios no canal de acesso também traz efeitos no

meio ambiente, como os impactos gerados pelo funcionamento dos propulsores e

motores. Resultantes desse funcionamento tem-se as perturbações nos

ecossistemas aquáticos, principalmente em águas rasas, podendo afetar as

comunidades bentônicas. A passagem das embarcações pode provocar ao longo do

tempo a instabilidade do leito e das margens dos cursos d’água.

Nas áreas portuárias, os usos das águas estão na base da dinâmica

territorial, assumindo papel central na vida das cidades portuárias, desafiadas pelas

mudanças produtivas e tecnológicas dos portos a redesenharem-se e reinventarem-

se como paisagem, espaço urbano, meio de sobrevivência e socialização, lugar com

identidade própria na rede global (Ferreira e Castro, 1999; Meyer, 1999).

Historicamente, as cidades portuárias alternam ciclos de maior e menor integração

com seus portos, ora deles vivendo, ora sobrevivendo a eles.

A relação do porto com o meio físico também muda na história. Espaços de

águas calmas e abrigadas, em certas áreas ideais para abrigar as estruturas de

carga e descarga, podem tornar-se limitados para os novos navios de grande

calado. Não se pode esquecer que as áreas de influência do Porto Organizado de

Vitória correspondem aos espaços físico, biótico e das relações sociais, políticas e

econômicas passíveis de sofrer os potenciais efeitos decorrentes das operações de

suas atividades.

Para que ocorra um aumento e melhoria da atual infra-estrutura, com

qualificação ambiental, é imprescindível o atendimento e aplicação com eficácia das

normas, leis e resoluções ambientais.

O presente estudo visa adequar o Porto Organizado de Vitória ao pleno

atendimento às regulamentações e diretrizes ambientais exigidas pela legislação

vigente, qualificando-o para minimizar e mitigar os possíveis impactos ambientais

decorrentes de sua operacionalização num futuro próximo. Pois, um porto que

respeita e atende com rigor as leis, normas e resoluções ambientais, propiciará um

número bem menor de aspecto, impactos e possíveis passivos ambientais (ou a

eliminação desse último), refletindo diretamente na melhoria da infra-estrutura

existente, diminuindo números de doenças da população do entorno, gastos

desnecessários por conta dos danos ambientais e abrindo a possibilidade de novos

mercados, de exportação e importação, para países que não comercializam com

economias sem responsabilidades sustentáveis.

4. METODOLOGIA DE INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE IMPA CTOS

AMBIENTAIS

As implicações sociais, econômicas e ambientais das atividades humanas e

suas alterações da qualidade ambiental ocasionados nos ecossistemas (litorâneos e

costeiros) pela potencialidade de seus impactos, resultam em uma análise, dos

mesmos bem como sua forma de geração, chamada de método de avaliação de

impactos ambientais. (Sánchez, 2008).

Sánchez (2008), diz que a avaliação de impacto ambiental consiste em um

sistema complexo e aberto dos projetos e estudos destinados a proteção e

recuperação ambiental, assim como a manutenção da boa qualidade ambiental que

apresenta-se.

O mesmo autor explica que o define como um sistema complexo, porque não

trata os diversos procedimentos administrativos de avaliação ambiental de forma

excludente. Todos os métodos integram esse sistema, não proporcionando

ressalvas. Aberto, porque admite a inserção de novas modalidades dos

procedimentos administrativos, ambientais, avaliatórios.

Conforme relata Figueiredo (2011), a avaliação de impactos ambientais pode-

se valer de todos os possíveis estudos ambientais, para a prevenção como o

controle ambiental de determinadas atividades e reparação dos danos ambientais

ocasionados.

As metodologias adotadas de avaliação de impacto ambiental, geralmente,

são dirigidas aos tomadores de decisões.

Diegues (1995), relata que a parte mais difícil do processo é a identificação

dos impactos, procedida de sua estimativa e valoração, pois essa técnica implica em

uma intensa investigação de dados a respeito da fase do projeto, das atividades

envolvidas e seus aspectos.

De tal forma pode-se citar como principais passos metodológicos,

independente da localização geográfica do projeto:

• Verificar a viabilidade técnica, econômica, social e ambiental;

• Recolher o maior número de informações da dinâmica populacional e

dos ecossistemas existentes na área em que pretende-se implantar o

empreendimento;

• Verificar como as deformações dos atuais processos naturais ou

sociais podem interagir com o projeto, identificando, estimando e

valorando os impactos dos possíveis aspectos que podem ser gerados;

• Na identificação de um impacto negativo propor alternativas que visem

à minimização e mitigação, a fim de reduzi-lo quando esse não puder

ser evitado;

• Atendimento na íntegra da legislação associada para toda a atividade

do empreendimento;

• Verificar se a situação da atividade é normal ou anormal e se

determinado impacto necessita medida de controle, para não tornar-se

futuramente um passivo ambiental; Elaborar uma matriz de aspecto e

impactos ambientais;

• Expor alternativas para uma melhor combinação que minimize os

impactos negativos e intensifique os positivos.

Pode-se dizer que o objetivo da avaliação de impacto ambiental não é forçar

os tomadores de decisão a adotar a alternativa de menor dano ambiental. Nem

sempre isso é a solução.

A avaliação de impacto ambiental na fase da tomada de decisão ajuda na

concepção, no planejamento e readequações de projetos, na retirada de projetos

inviáveis, bem como, na consolidação dos que são viáveis, na negociação sócio-

ambiental com as melhores escolhas locacionais, objetivando a obtenção de um

processo adequado e real de gestão ambiental.

5. MATRIZ DE IDENTIFICAÇÃO DOS ASPECTOS E DOS IMPAC TOS

AMBIENTAIS

Identificar as características e as quantidades geradas, dos resíduos sólidos,

das emissões atmosféricas, dos ruídos externos ao porto, entre outros, são medidas

essenciais para o controle de qualidade (ambiental) na área portuária.

Portanto, faz-se necessário uma análise das informações dos principais

aspectos durante as fases de instalação e de operação do porto, objetivando

identificar os impactos ambientais.

Com isso, tem-se subsídios suficientes para poder elaborar uma matriz de

aspectos e impactos ambientais das atividades do porto organizado de Vitória, na

qual poderá valorar-se o impacto quanto a sua significância por meio da relação

existente entre o tempo, quantidade e importância na área de influência portuária.

Para a elaboração da matriz, apresentada no Quadro 1, utilizou-se a

metodologia de Sánchez (1998), onde o quesito valor é o cálculo da significância do

impacto, que se dá através da seguinte fórmula: Duração x Severidade x Escala =

Significância do Impacto (valor). Dessa forma tem-se:

DURAÇÃO (tempo)/PROBABILIDADE - Para situações normais e anormais: GRAU 1 - quando ocorre num pequeno espaço de tempo; GRAU 3 - quando ocorre num espaço de tempo moderado; GRAU 5 - quando ocorre num espaço de tempo longo (contínuo). SEVERIDADE (importância) - GRAU 1 - impactos gerados que, quando acontecerem, não afetarão os quesitos de atendimento à legislação ambiental, Política Ambiental e partes interessadas. GRAU 3 - impactos gerados que, quando acontecerem, afetarão os quesitos de atendimento, à Política Ambiental e as partes interessadas, mas não a legislação ambiental. GRAU 5 - deve ser atribuído grau 5 aos impactos gerados que, quando acontecerem, afetarão os quesitos de atendimento à legislação ambiental, a Política Ambiental e as partes interessadas. ESCALA (quantidade) - Para situações normais e anormais: GRAU 1 - quando ocorre em pequena intensidade, quantidade; GRAU 3 - quando ocorre em moderada intensidade, quantidade; GRAU 5- quando ocorre em uma intensidade crítica. (Sánchez, 1998. p.111)

Ainda nos quesitos escala e duração, Sánchez (1998) utiliza os graus 1, 3 e 5

para situações emergenciais, porém os mesmos não são contabilizados na matriz.

QUADRO 1. MATRIZ DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS DO PORTO ORGANIZADO DE VITÓRIA. Lo

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Administração Portuária

Geração de resíduos Gastos com transporte e destinação

final adequada SN - E A 1 5 3 15 SM S

Existência de passivos ambientais Aumento de despesas na empresa devido a investigação de passivos

ambientais SA - E A 1 5 3 15 SM S

Geração de efluentes sanitários Gastos com tratamento de efluentes sanitários

SN - E A 1 5 3 15 SM S

Geração de efluentes sanitários Poluição por esgoto no Rio Santa Maria SN - E A 1 5 3 15 SM S

Programação de Navios (entrada e saída de navios)

Importação e exportação Dinamização do comércio exterior e interior SN + E A 3 5 3 45 SI S

Geração de efluentes sanitários Poluição por esgoto no Rio Santa Maria, oriundo de embarcações SN - E A 1 5 3 15 SM S

Geração de água de lastro Introdução de organismos nocivos

ou patogênicos por meio das águas de lastro

SN - E A 3 3 3 27 SM S

Importação e exportação Dinamização da navegação de cabotagem SN + E A 3 5 3 45 SI S

Introdução de espécies exóticas Alteração da qualidade da bióta aquática SN - E A 5 5 5 125 SI S

Dragagem de Manutenção

Acidentes ambientais Aumento de despesas na empresa devido a biorremediação SA - E A 1 5 3 15 SM S

Consumo de materiais fósseis Diminuição das fontes de RNR SN - E A 3 5 3 45 SI S

Emissão de gases Poluição do ar SN - E A 5 5 3 75 SI S

Disposição do material dragado Perda de biodiversidade SN - E A 5 5 5 125 SI S

Geração de empregos Aumento da oferta de empregos SN + E A 3 5 3 45 SI N

Geração de ruídos Poluição sonora SN - E A 5 5 3 75 SI S

Interferência na comunidade pesqueira Conflito/tensão Social SN - I A 5 5 5 125 SI S

Interferência na comunidade catraeira Conflito/tensão Social SN - I A 5 5 5 125 SI S

Quebra na cadeia trófica Afugentamento da fauna SN - E NA 5 5 5 125 SI S

Retirada de espécies nativas Perda de biodiversidade SN - E NA 5 5 5 125 SI S

Armazenamento (Armazéns)

Consumo de madeira Diminuição das fontes de RR SN - E A 1 5 3 15 SM S

Geração de empregos Aumento da arrecadação tributária SN + E A 1 5 1 5 SM N

Geração de mão-de-obra Aumento da oferta de empregos SN + E A 1 5 3 15 SM N

Geração de poeira Danos à saúde do operador portuário SN - E A 3 5 3 45 SI S

Geração de poeira Poluição do ar SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de resíduo Gastos com transporte e destinação final adequada SN - E A 5 5 3 75 SI S

Retirada de espécies nativas Perda de biodiversidade SN - E NA 5 5 5 125 SI S

Manutenção da Drenagem

Geração de ruído Poluição sonora SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de resíduo Gastos com transporte e destinação

final adequada SN - E A 5 5 3 75 SI S

Manutenção adequada do sistema de drenagem

Escoamento das águas de modo eficiente SN + E A 3 5 5 75 SI S

Manutenção adequada do sistema de drenagem Sem riscos de alagamentos SN + E A 3 5 3 45 SI S

Manutenção da Pavimentação

Consumo de RNR Diminuição das fontes de RNR SN - E A 3 5 3 45 SI S

Geração de entulho Gastos com disposição (Muitas Vezes Desnecessários) SN - E A 1 5 1 5 SM S

Geração de poeira Poluição do ar SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de poeira Danos à saúde do operador portuário SN - E A 3 5 3 45 SI S

Geração de resíduo Gastos com transporte e destinação final adequada SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de ruídos Poluição sonora SN - E A 5 5 3 75 SI S

Movimentação e Transbordo de cargas (Ferro Gusa, Cobre,

GLP, Óleo e Grãos)

Acidentes ambientais Aumento de despesas na empresa devido a biorremediação SA - E A 1 5 3 15 SM S

Acidentes ambientais Poluição acidental de cargas perigosas SN - E A 5 5 5 125 SI S

Perdas de grãos no transbordo

Atração da fauna sinantrópica com Danos à saúde do operador

portuárioe comunidade circunvizinha

SN - E A 3 5 5 75 SI S

Consumo de energia Comprometimento da disponibilidade da matéria prima SN - E A 1 5 1 5 SM S

Consumo de materiais fósseis Diminuição das fontes de RNR SN - E A 3 5 3 45 SI S

Emissão de Material Particulado Poluição do ar SN - E A 5 5 3 75 SI S

Emissão de Material Particulado Danos à saúde do operador portuário SN - E A 3 5 3 45 SI S

Geração de empregos Aumento da arrecadação tributária SN + E A 1 5 1 5 SM N

Geração de mão-de-obra Aumento da oferta de emprego SN + E A 1 5 3 15 SM S

Geração de resíduo Poluição da água SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de ruído Poluição sonora SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de ruído Danos à saúde do operador portuário SN - E A 3 5 3 45 SI S

Transporte

Acidentes ambientais Aumento de despesas na empresa SA - E A 1 5 3 15 SM S

Consumo de madeira Diminuição das fontes de RNR SN - E A 3 5 3 45 SI S

Consumo de materiais fósseis Diminuição das fontes de RNR SN - E A 3 5 3 45 SI S

Consumo de materiais fósseis Contribuição para formas difusas de poluição SN - E A 3 5 1 15 SM S

Desperdício de produtos e cargas

Atração da fauna sinantrópica comdanos à saúde do colaborador

e comunidade circunvizinha SN - E A 3 5 3 45 SI S

Gastos com transporte e destinação de resíduos SN - E A 1 5 1 5 SM S

Emissão de Material Particulado

Poluição do ar SN - E A 5 5 3 75 SI S

Danos à saúde do operador portuário

SN - E A 3 5 3 45 SI S

Geração de empregos Aumento da arrecadação tributária SN + E A 1 5 1 5 SM N

Geração de ruído Danos à saúde do operador portuário SN - E A 3 5 3 45 SI S

Geração de ruído Poluição sonora SN - E A 5 5 3 75 SI S

Interferência na comunidade pesqueira Conflito Social SN - I A 5 5 3 75 SI S

Interferência na comunidade catraeira Conflito Social SN - I A 5 5 3 75 SI S

Limpeza dos Berços e da Retro-Área Portuária

Adequação do pavimento na área do cais nos berços 201 e 202 Prevenção do acúmulo de resíduos SN + E A 3 5 5 75 SI S

Consumo de RNR Diminuição das fontes de RNR SN - E A 3 5 3 45 SI S

Geração de entulho Gastos com disposição (Muitas

Vezes Desnecessários) SN - E A 1 5 1 5 SM S

Geração de poeira Poluição do ar SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de poeira Danos à saúde do operador portuário SN - E A 3 5 3 45 SI S

Geração de resíduo Gastos com transporte e destinação final adequada SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de ruídos Poluição sonora SN - E A 5 5 3 75 SI S

Limpeza por umectação Diminuição das fontes de emissão de efluentes SN + E A 5 5 5 125 SI S

Consumo de energia Comprometimento da disponibilidade do recurso SN - E A 3 5 1 15 SM S

Limpeza por via seca Prevenção as fontes de poluição SN + E A 5 5 5 125 SI S

Remoção periódica dos resíduos acumulados sobre o piso dos

berços Prevenção as fontes de poluição SN + E A 5 5 5 125 SI S

Recepção Rodoferroviária

Acidentes ambientais Aumento de despesas na empresa SA - E A 1 5 3 15 SM S

Perdas de grãos no transbordo Atração da fauna sinantrópica com

danos à saúde do colaborador e comunidade circunvizinha

SN - E A 3 5 5 75 SI S

Consumo de energia Comprometimento da

disponibilidade da matéria prima SN - E A 1 5 1 5 SM S

Consumo de materiais fósseis Diminuição das fontes de RNR SN - E A 3 5 3 45 SI S

Emissão de Material Particulado Poluição do ar SN - E A 5 5 3 75 SI S

Emissão de Material Particulado Danos à saúde do operador portuário SN - E A 3 5 3 45 SI S

Geração de empregos Aumento da arrecadação tributária SN + E A 1 5 1 5 SM N

Geração de mão-de-obra Aumento da oferta de emprego SN + E A 1 5 3 15 SM S

Geração de resíduo Poluição da água SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de ruído Poluição sonora SN - E A 5 5 3 75 SI S

Geração de ruído Danos à saúde do operador portuário SN - E A 3 5 3 45 SI S

Implantação do sistema de despoeiramento

Prevenção as fontes de poluição atmosférica SN + E A 5 5 5 125 SI S

Relatório fotográfico da implantação do sistema de despoeiramento

Controle da funcionalidade do sistema de despoeiramento SN + E A 5 5 5 125 SI S

Legenda: SA = Situação Anormal. I = Inexiste. SI = Significativo. SM = Significância Moderada. S = Sim.

SN = Situação Normal. E = Existe. ÑS = Não Significativo. Ñ = Não.

6. ASPECTOS AMBIENTAIS

Com a intenção de que os aspectos ambientais das atividades portuárias

possam ser identificados e estabelecer um controle sobre as mesmas, assim

como seus produtos e subprodutos, deve-se instituir e manter procedimentos

de identificação para esses. Necessariamente deverá estar documentado, para

que sejam periodicamente revisados e discutidos, visando uma melhoria

contínua.

O item aspectos ambientais está diretamente ligado a verificação dos

requisitos legais existente em cada aspecto gerado e conseqüente impacto

causado. Pode-se até se referir a este item como um dos mais importantes na

fase de planejamento, pois, juntamente com os impactos ambientais, trarão um

controle na determinação de metas e objetivos.

Em uma atividade portuária tem-se como principais aspectos ambientais

a geração de resíduos de escritórios e resíduos sólidos de modo geral em toda

a extensão portuária (bem como a disposição inadequada), de efluentes (seja

ele difuso ou sanitário), de emprego, de ruídos, de materiais recicláveis, além

das emissões de poeiras e material particulado, além dos consumos de

recursos naturais renováveis (RR) e dos recursos naturais não-renováveis

(RNR).

Nas Figuras 09 á 12, busca-se visualizar alguns desses aspectos acima

relacionados.

Figura 09. Disposição inadequada de resíduos sólidos.

Fonte : Equipe Técnica FAPEU 2012.

Figura 10 . Disposição inadequada de resíduos sólidos.

Fonte: Equipe Técnica FAPEU 2012.

Figura 11. Lançamento irregular de efluentes líquidos no canal de acesso.

Fonte : Equipe Técnica FAPEU 2012.

Figura 12 . Geração de poeira na atmosfera transportada pelos ventos.

Fonte : Equipe Técnica FAPEU 2012.

Visualizando essas atividades, o aspecto ambiental pode ser entendido

como mecanismo através do qual uma ação de origem antrópica causa um

impacto ambiental.

Certamente que uma mesma ação pode também levar a vários aspectos

ambientais e por conseqüência causar diversos impactos ambientais. Do

mesmo modo um determinado impacto ambiental pode ter várias causas.

Uma característica positiva de boa distinção entre aspecto e impacto

ambiental, é que a emissão de um poluente não é um impacto ambiental. A

alteração da qualidade ambiental (poluição) resultante dessa emissão, geração

ou consumo, é o impacto ambiental.

Situações tipicamente descritas como aspectos ambientais são a

emissão de poluentes e a geração de resíduos. Gerar efluentes líquidos,

poluentes atmosféricos, resíduos sólidos e ruídos não são os objetivos das

atividades antrópica, mas esses aspectos estão indissociavelmente atrelados

aos processos produtivos geradores de tais. São elementos ou parte das

atividades. Esses elementos que podem interagir com o ambiente designam-se

de aspectos ambientais.

Observa-se bem essa situação na metodologia de avaliação de impactos

ambientais, adotada para elaboração da matriz constante no item 7.4. Nessa

matriz existe um item que auxilia na avaliação, para valorar, chamado de

situação da atividade. Nesse item menciona-se determinado aspecto gerado

(da atividade sendo avaliada) se é normal ou não, ou seja, mesmo o aspecto

ambiental não sendo o alvo da atividade analisada, não consegue-se dissociar

o mesmo desta atividade ou ação antrópica geradora.

Por exemplo: o transporte por caminhões, de determinada carga, nas

vias internas do porto, constitui-se de uma atividade impossível de não gerar

poluição atmosférica por conta da queima de combustíveis fósseis, deparando-

nos assim com uma atividade normal geradora de poluição. Outro exemplo:

como situação anormal de determinada atividade, ou seja, que foge das

situações integrantes do processo podemos citar uma simulação de

emergência para o porto e colaboradores. A simulação de emergência não faz

parte da atividade ou do processo produtivo, entretanto essa gera um aspecto

e impacto positivo.

Os aspectos ambientais são os mecanismos ou os processos pelos

quais ocorrem as conseqüências.

7. IMPACTOS AMBIENTAIS

Os impactos ambientais decorrentes do Porto Organizado de Vitória,

desde o seu planejamento até a sua operacionalização, podem gerar inúmeros

conflitos. Pois, esses impactos afetam interesses de importantes setores da

sociedade e economia, como os de proteção ambiental e expansão urbana, de

pesca, turismo e de lazer, devendo-se envolver profissionais das áreas

administrativas, de engenharia, de ciências, do comércio exterior, e do agro

business entre outros.

No âmbito do sistema portuário e impactos ambientais, o berço de

atracação, apresentado nas Figuras 13 a 15, pode ser considerado um dos

principais elos entre esses elementos.

Figura 13. Berços 101 e 102 do Cais Comercial de Vitória.

Fonte : CODESA.

Figura 14. Visão de entrada no berço 206, pelo portão do Cais de Peiú.

Fonte : CODESA.

Figura 15. Visão dos depósitos de resíduos no berço 201 no Cais de

Capuaba.

Fonte : CODESA.

É no berço que se registra as diferentes cargas com geração de

resíduos e efluentes doméstico, além dos resíduos de taifa. Junto ao mesmo e

fazendo parte de sua estrutura, tem-se as áreas destinadas para atracação de

navios onde se registra a geração de gases, as áreas dos pátios, com geração

de material particulado, os espaços de amarração e acostagem, com

possibilidade de vazamentos, e por fim, os armazéns, que poderão apresentar

passivos de suas cargas depositadas ao longo dos tempos.

Na Figura 16, avista-se a área de atracação de navios de passageiros e

as vias internas de circulação dos mesmos.

Figura 16 . Área de atracação de navios de passageiros.

Fonte : equipe FAPEU 2012.

Sabe-se também, que o entorno das áreas portuárias recebe uma

intensa atividade comercial e industrial, com descarte de materiais muitas

vezes de maneira inadequado. Com isso lista-se algumas possibilidade de

contaminação das áreas portuárias com as seguintes formas:

• Modificações hidrológicas;

• Atividade mineradora;

• Esgotos pluviais;

• Drenagem de superfícies impermeáveis para esgotos ou canos

antes de descarregarem para águas superficiais;

• Construção de barragens;

• Disposição inadequada de diversos tipos de resíduos;

• Despejo de água de lastro (deslastramento) nos berços de

atracação;

• Vazamentos e Solubilização de metais pesados.

Ainda quanto aos impactos ambientais, na Política Ambiental do

Ministério dos Transportes (2012), estão referenciados três princípios: a

viabilidade ambiental dos empreendimentos de transportes, o respeito às

necessidades de preservação ambiental e a sustentabilidade ambiental dos

transportes.

Mesmo com esses princípios gerais adotados, a mesma política aponta

à enorme potencialização de impactos ambientais dos portos (como verificado

no Porto Organizado de Vitória), partindo de sua implantação às suas

atividades portuárias diárias e demais operacionalizações necessárias e

futuras.

Devido à sua implantação, às necessárias alterações, manutenções, e

processos de expansão, as atividades desenvolvidas pelo Porto Organizado de

Vitória somada as atividades comerciais do entorno, apresentam como

resultado uma gama de impactos ambientais causados pelos mesmos:

• Gastos com transportes e destinação final adequada dos resíduos

gerados;

• Gastos com tratamento de efluentes sanitários;

• Dinamização do comércio exterior e interior;

• Dinamização da navegação de cabotagem;

• Contribuição para diferentes formas de poluição;

• Alteração da biota aquática;

• Aumento de despesas devido à investigação de passivo

ambiental;

• Aumento de despesas devido à biorremediação

• Aumento da oferta de emprego;

• Conflito/tensão social;

• Aumento da arrecadação tributária;

• Danos à saúde do operador portuário,

• Presença de fauna sinantrópica;

• Comprometimento da disponibilidade de matéria prima;

• Diminuição das fontes de poluição (atmosférica, líquida, e

residual);

• Diminuição das fontes de emissão de efluentes;

• Ruídos internos acima do estabelecido pela norma;

• Poluição por esgoto no Rio Santa Maria, oriundo de instalações

portuárias, de embarcações, e da urbanização;

• Ocorrência de acidentes ambientais (derrames, explosões,

incêndios, perdas de cargas);

• Afugentamento da fauna;

• Poluição acidental de cargas perigosas;

• Introdução de organismos nocivos ou patogênicos por meio das

águas de lastro;

• Comprometimento de outros usos dos recursos ambientais,

especialmente os tradicionais;

• Sem riscos de alagamento, devido à manutenção adequada do

sistema de drenagem;

• Escoamento das águas de modo eficiente, devido à manutenção

adequada do sistema de drenagem;

• Geração de resíduos sólidos nas embarcações (taifa), nas

instalações portuárias e na operação e descarte de cargas;

• Comprometimento dos estuários, por interesses e usos

conflitantes;

• Perda da Biodiversidade;

• Diminuição das fontes de Recursos Naturais Renováveis (RR) e

Recursos Naturais Não Renováveis (RNR);

• Prevenção às fontes de poluição;

• Entre outros.

Deste modo a região estuarina da Baía de vitória sofre um sério impacto

ambiental como corpo receptor de esgotos urbanos e efluentes industriais,

comprometendo a vida dos organismos aquáticos. A ocupação habitacional

desordenada e os aspectos locais de desenvolvimento urbano levam ao

assentamento de habitações da população de baixa renda nos manguezais,

piorando os problemas sanitários já existentes.

Para recuperar a qualidade ambiental alterada, na área de influência do

Porto Organizado de Vitória, necessita-se de investimentos nessa área, como

por exemplo, no resgate da rodovia federal de mão dupla que serve como

principal acesso ao Cais de Capuaba, no qual a população portuária vizinha

ocupou de forma desordenada, chegando a tomar conta e bloquear uma das

pistas, para substabelecer atividades particulares. Situação esta que pode ser

melhor entendida com as Figuras 17 e 18.

Figura 17. Rodovia federal de mão dupla tomada pela população local,

principal acesso ao Cais de Capuaba.

Fonte : equipe FAPEU, 2012.

Figura 18. Visão aproximada da rodovia federal.

Fonte : equipe FAPEU 2012.

Juntamente com esse conflito encontra-se o fluxo intenso de caminhões

de modo desorganizado, pois muitos transportam granéis sólidos, além de

outras cargas consideradas perigosas, circulando com a caçamba sem

cobertura de lonas (Figura 19) e com perda de carga ao logo do caminho

(Figura 20), atraindo por exemplo, pombos, ratos e demais animais da fauna

sinantrópica, apresentando-se como grandes causadores e transmissores de

doenças para a população ali estabelecida. Além disso, há a emissão de

material particulado e dióxido de carbono (CO2), por parte dos caminhões. No

interior do porto verifica-se também a emissão dos gases citados, além de

óxidos de nitrogênio e enxofre, (NOx) (SOx), monóxido de carbono (CO).

Figura 19. Caminhão circulando com caçamba em condições inadequadas.

Fonte : Equipe FAPEU.

Na qualidade das águas, outro impacto ambiental existente no Porto

Organizado de Vitória é a dragagem de manutenções periódicas, por conta dos

sedimentos oriundos dos corpos hídricos que desembocam nas baías e dos

efluentes das cidades vizinhas ao porto. O acumulo desse material acaba

assoreando o canal de navegação obrigando-se a realizar dragagens de

manutenção que distingue-se das dragagens de implantação dos portos.

As dragagens são obras extremamente necessárias ao

aprofundamento dos canais de acesso, cais e berços de atracação, mas os

serviços de dragagens proporcionam, tanto na área de retirada como na área

de despejo, grandes quantias de sedimentos em colunas d’água. Uma das

conseqüências do revolvimento dos sedimentos na coluna d’água é a

diminuição do grau de penetração da luz, devido ao aumento da turbidez, que

afeta diretamente a flora e fauna do local. Tem-se ainda em conseqüência da

dragagem, mesmo que temporariamente, danos na pesca artesanal.

Figura 20 . caminhão circulando com caçamba em condições inadequadas.

Fonte : Equipe FAPEU.

Outro impacto ambiental, em relação às dragagens, são as modificações

em canais de maré e áreas de mangue, devido ao aspecto ambiental de

sedimentos ressuspendidos.

Conforme o monitoramento de ruídos realizado pela equipe técnica da

FAPEU no Porto Organizado de Vitória os ruídos gerados internamente não

apresentam influencia significativa na comunidade de entorno, em decorrência

do ruído de fundo externo provocada pela circulação de veículos, de pessoas,

e de equipamentos de som instalados nos pontos comerciais para fins de

publicidade. Contudo, ficou registrado que os ruídos gerados internamente na

área portuária Influenciam na qualidade de vida dos operadores, tornando-se

necessário o uso de Equipamentos de Proteção Individuais - EPIs.

Quanto aos resíduos sólidos identificados na área do Porto Organizado

de Vitória, verifica-se que os mesmos são provenientes de escritório, transporte

e depósito de granéis sólidos, varrição da área portuária, e da reposição de

equipamentos e de peças metálicas que são acumuladas de forma

inadequada.

Nesse âmbito é importante mensurar a exata importância do Plano de

Gerenciamento de Resíduos Sólidos - PGRS, que para ser eficaz, mitigando e

corrigindo os impactos apresentados por conta dos aspectos ambientais e dos

resíduos sólidos, desde a sua causa e origem até a disposição final, tem que

atender a regulamentação da norma da ABNT, NBR 10004 de 2004.

Todavia, ao passo que a expressão, impacto ambiental, é utilizada de

forma incisivamente maléfica e algoz, muitas vezes é confundida e aplicada

como sinônimo de poluição ambiental. Buscando esclarecer a sua

diferenciação, Sánchez (2008), afirma que é apropriado mostrar algumas

características divergentes de poluição e impacto ambiental, como as que

seguem:

• Poluição é uma das causas de impacto ambiental, mas os

impactos podem ser ocasionados por outras ações além do ato

de poluir (como já citado, algumas vezes, anteriormente ao longo

desse tópico);

• Poluição tem somente conotação negativa, enquanto impacto

ambiental pode ser benéfico ou adverso;

• Impacto ambiental é um conceito mais amplo e substancialmente

distinto de poluição;

• Várias ações humanas causam significativo impacto ambiental

sem que estejam diretamente ligadas à emissão de poluentes;

• Nem todo impacto ambiental tem a poluição como causa, mas

toda poluição causa um impacto ambiental.

Portanto, a identificação e avaliação dos impactos ambientais nas

instalações do Porto Organizado de Vitória foi desenvolvida considerando as

situações dos aspectos ambientais estabelecidos, através de visitas técnicas

em suas instalações, assim como, nas comunidades vizinhas de seu entorno.

8. GRAU DE SIGNIFICÂNCIA DA ATIVIDADE

Descrevem-se neste tópico, as orientações quanto à leitura e

interpretação do quesito valor (grau de significância) das atividades analisadas

na matriz dos aspectos e dos impactos ambientais identificados no Porto

Organizado de Vitória.

Segundo Sánchez (1998) o impacto ambiental da atividade,

independente de sua valoração, pode ter uma orientação positiva ou negativa,

o que representa na prática, uma consequência boa ou ruim, respectivamente.

Ainda em relação ao impacto, o resultado da valoração pode ser definido

em grau não-significativo, em grau de significância moderada e em grau

significativo.

Dessa forma, o resultado da valoração dos impactos compreendidos

entre:

� 1 – 3 é não significativo (ÑS);

� 5 – 27 é com significância moderada (SM); e

� 45 – 125 é significativo (SI).

A medida de controle está diretamente associada ao impacto ambiental

e não ao quesito valor. Classifica-se a mesma, se o impacto necessita de

medida de controle (S) ou não (N), independente da orientação e do valor

apresentado.

Se analisarmos os oitenta e cinco (85) aspectos ambientais identificados

no Porto Organizado de Vitória, inseridos na Matriz do quadro zzz do item 7.4,

tem-se que setenta e um por cento (71%) dos aspectos ambientais daquele

porto apresentam valoração significativo (S), e que vinte e nove por cento

(29%) dos aspectos ambientais apresentam valoração com significância

moderada (SM), o que permite concluir, que há necessidade da aplicação de

maiores dispositivos de controle ambientais no desenvolvimento das atividades

operacionais do Porto Organizado de Vitória.

Contudo há ainda outros dois quesitos, que conforme Sánchez (1998),

não estão ligados ao valor e sim ao impacto. Um deles faz o apontamento se

existe ou não legislação associada ao impacto ambiental e outro se atinge ou

não a parte interessada. Para tanto, apresentar-se-á abaixo, apontamentos

relativo a legislação associada à atividade portuária.

REFERÊNCIAS

MOREIRA, I. V. D. Vocabulário Básico de Meio Ambiente . Rio de Janeiro: Feema/Petrobrás, 1992.

WESTMAN, W. E. Ecology, Impact Assessment, and Environmental Planning. New York: Wiley, 1985.

WATHERN, P. Environmental Impact Assessment: Theory and Practice. London: Unwin Hyman, 1988.

DIEGUES, A. C. S. Ecologia Humana e Planejamento em Áreas Costeiras. São Paulo: NUPAUB-USP, 1996.

FERREIRA, V.M.; CASTRO, A. Cidades de Água – a lenta “descoberta” da frente marítima de Lisboa. Lisboa: Bizâncio, 1999.

MEYER, H. City and Port: Transformation of Port Cities: London, Barcelona, New York, Rotterdam. Utrecht : International Books, 1999.

SÁNCHEZ, L.E. Conceitos de Impacto Ambiental: Definições Diversas Segundo Diferentes Grupos Profissionais. In: Anais do VII Encontro Anual da Seção Brasileira da Internation Association for Impact Assesment (IAIA), Rio de Janeiro 1998.

SÁNCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de Impacto Ambiental: Conceitos e Métodos. São Paulo: Oficina de textos, 2008. 495p