(4) gusmÃo (2011) a crítica da epistemologia na sociologia do conhecimento de karl mannheim

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  • 8/2/2019 (4) GUSMO (2011) A Crtica da Epistemologia na Sociologia do Conhecimento de Karl Mannheim

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    221Revista Sociedade e Estado - Volume 26 Nmero 1 Janeiro/Abril 2011

    A Crca da Epistemologia

    na Sociologia doConhecimento de Karl

    Mannheim

    Lus de Gusmo1

    Resumo: O argo analisa a crca da epistemologia normava na obra de Karl

    Mannheim, sublinhando a sua presena tanto na fase mais losca, associada

    ao elogio do historicismo, como na Sociologia do Conhecimento posterior. Cha-

    ma a ateno tambm para a atualidade dessa crca: ao censurar os epistem-

    logos do seu tempo por no levarem na devida conta os achados das cincias

    empricas parculares, Mannheim antecipa, em dcadas, tendncias mais re-

    centes da Sociologia do Conhecimento e da reexo epistemolgica.

    Palavras-chave: Sociologia do Conhecimento, Epistemologia Normava, Filoso-

    a da Histria

    1. Introduo

    Em Ideologia e Utopia, Mannheim, antecipando em dcadas tendncias da

    epistemologia e da Sociologia do Conhecimento mais recentes2, vai cen-

    surar uma reexo epistemolgica normava e apriorsca que insisa

    em ignorar o problema de como os homens realmente pensam nos contextos

    concretos da vida codiana, problema esse, contudo, iniludvel numa invesga-

    o emprica acerca do conhecimento humano. Segundo ele, os epistemlogoserravam ao idencar o conhecimento tal como o concebiam o produto lgico-

    lingusco de um sujeito epistmico abstrato, isolado, desvinculado de qualquer

    situao existencial como a nica forma possvel do conhecimento convel,

    desqualicando, assim, aqueles modos de pensamento que resultavam da vida

    social, nasciam das prcas e para as prcas desenvolvidas no mbito dessa vida.

    Mannheim concede aos epistemlogos uma concesso que soaria inaceitvel

    aos defensores do chamado programa forte de Sociologia do Conhecimento3

    ser, de fato, possvel encontrar um saber no qual buscaramos em vo as marcasdisnvas de um mundo social parcular, um saber destudo, nesse sendo,

    de razes sociais e avistas, expresso, na verdade, de um ponto de vista de

    Recebimento:

    30.08.2010Aprovado:24.02.2011

    1. Professor Adjun-to III do Departa-mento de Sociolo-

    gia da Universidadede Braslia (UnB)Email: [email protected]

    2. Essas tendnciasapontam no sendo

    de um abandonocrescente do pontode vista normavo,preocupado coma juscao doconhecimento hu-

    mano com base em

    critrios universaisde ciencidade,em favor de abor-dagens empricas,ancoradas nas con-

    tribuies das ci-ncias parculares

    e voltadas, priori-tariamente, para aexplicao causal e/ou funcional desseconhecimento. Nes-sa perspecva, aepistemologia assu-me o status de uma

    disciplina empricae j no se disngueessencialmente das

    cincias empricasparculares. Essa

    mudana de assun-to, essa preocu-pao em fazer daepistemologia umempreendimentoemprico e no maisnormavo, repre-senta uma das prin-cipais contribuiesda obra de Thomas

    Kuhn, cujo impac-to foi, vale a penalembrar, enorme

    no mbito da So-ciologia do Conheci-mento mais recente

    (ver Barnes, 1986).

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    nenhum lugar, na formulao to sugesva de Thomas Nagel. Tal saber no

    constua, portanto, concede Mannheim, uma invencionice losca, pura c-

    o normava cuja nica funo seria proporcionar um padro transcendental

    com base no qual uma epistemologia normava e apriorsca, cada vez mais

    distanciada das cincias empricas parculares, decidia taxavamente acerca

    daquilo que devia ou no contar como conhecimento racional. Mannheim no

    vai to longe assim em sua crca da reexo epistemolgica! O conhecimento

    tal como os epistemlogos o concebiam, admite ele, de fato exisa. Contudo,

    prossegue Mannheim, esse conhecimento s podia ser encontrado em campos

    especiais da invesgao cienca, nas cincias naturais e exatas, no esgo-

    tando, portanto, o universo do conhecimento humano convel. Cabia incluir

    tambm, nesse universo, aquele saber existencialmente condicionado, perspec-

    vista, ligado ao, do qual os indivduos (a se incluindo os epistemlogos!)sempre se valiam quando precisavam tomar decises prcas nos contextos da

    vida coleva. No havia razo para exclu-lo, no havia razo para estabelecer

    uma disjuno total, exclusiva, entre tal saber e aquilo que admiamos como

    conhecimento convel. O saber formal, abstrato, desenraizado, cuja expresso

    mais acabada podia ser encontrada nas cincias naturais e exatas, no cons-

    tua, ao contrrio do que sugeria a reexo epistemolgica, todo o conhecimen-

    to humano possvel.

    Contra os epistemlogos de seu tempo4, mas tambm, em larga medida, contraa teoria da ideologia em Marx, que insisam em vincular o erro intelectual, a

    cegueira ideolgica, na linguagem marxista, inuncia negava das situaes

    existenciais no mundo das ideias, Mannheim vai armar a possibilidade do co -

    nhecimento objevo existencialmente enraizado. A compreenso dessa possi-

    bilidade resultaria, por sua vez, de avanos da invesgao social que nham

    em Marx o seu ponto de parda. Vejamos isso mais de perto.

    2. Marx e a Sociologia do Conhecimento

    Segundo Mannheim, um conjunto de circunstncias sociais, polcas e intelec-

    tuais, associadas ao advento do mundo moderno, tais como a ascenso das

    classes mdias, a democrazao do sistema polco e o colapso do monoplio

    intelectual da Igreja, to acentuado no mundo medieval, havia tornado cada vez

    mais visvel o fenmeno do condicionamento social das ideias: pontos de vista

    divergentes, mas com igual pretenso de validade, passavam a ser sustentados

    pelos disntos grupos sociais, e tais divergncias intelectuais, longe de soarem

    independentes das acirradas lutas econmicas e polcas nas quais esses gruposse envolviam, ali encontravam, na realidade, as suas razes mais profundas. Em

    O ponto de vistanormavo, na suaexpresso maisestridente, mais

    maante, pode serencontrado, por suavez, na obra de Po-pper e de sua esco-la, autores nos quaisa Teoria da Cinciaaparece claramentecomo uma provnciada losoa moral.Para um instru-vo confronto entreesses dois pontosde vista, ver Imre

    Lakatos e Alan Mus-grave: A Crca e oDesenvolvimento do

    Conhecimento, SoPaulo: Cultrix: Ed. daUniversidade de SoPaulo.

    3. O programa for-te de Sociologiado Conhecimento,

    elaborado por soci-logos da Unidadede Estudos da Cin-

    cia da Universidadede Edimburgo, emparcular por BarryBarnes e David Blo-or, representou umatentava de natura-lizao da epistemo-logia com base naanlise sociolgica,tentava esta quepretendia deixarpara trs o pontode vista normavo

    e apriorsco da ve-lha epistemologia.Nessa perspecva,no apenas os er-ros mas tambm osacertos da inves-gao cienca de-viam ser explicadossociologicamente.Sendo assim, j nohavia lugar para essavelha epistemologia.Numa aberta ruptu-

    ra com a Sociologiado Conhecimentomais tradicional,

    e x e m p l a r m e n t e

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    outras palavras, no embate das ideias ecoavam diferenas e antagonismos ex-

    tratericos, existenciais.

    A teoria marxista da ideologia representava um lcido e pioneiro reconhecimen-to desse fenmeno. Com efeito, Marx nha sublinhado acertadamente as razes

    sociais e avistas de determinadas doutrinas loscas, econmicas e polcas

    de seu tempo, revelando o quanto tais doutrinas, longe de habitarem um pla-

    tnico (ou popperiano!) mundo das ideias em si, expressavam, na verdade,

    pontos de vista parculares de classes sociais parculares.

    Assim, por exemplo, em A Ideologia Alem, obra seminal no desenvolvimento

    da moderna Sociologia do Conhecimento, Marx vai sugerir, esta a hiptese

    central do livro, uma conexo, no mesmo passo causal e funcional5

    , entre asideias loscas de autores como Bruno Bauer e Max Srner, os jovens hegelia-

    nos contra os quais asperamente polemiza, e as condies sociais e polcas da

    Alemanha nos anos 40 do sculo XIX: o gosto por abstraes vazias, destudas

    de qualquer contedo emprico, a inclinao especulava, a ausncia completa

    de um sendo de realidade, a incapacidade, em suma, de ver as coisas como

    elas realmente so, to acentuada na reexo losca dos jovens hegelianos,

    expressaria, na verdade, a misria da sociedade alem dessa poca, mais exata-

    mente de sua burguesia: esta, num contraste vivo com sua congnere francesa,

    protagonista de uma revoluo exemplar, no se revelava capaz de promoveras mudanas sociais e polcas necessrias consolidao de seu domnio de

    classe, pois abria mo, temerosa do avano das massas, da revoluo burguesa,

    renunciava ao poder polco direto, conciliava vergonhosamente com o passado

    feudal, obstaculizando assim o progresso social.

    A Alemanha atrasada, retardatria numa era de Revolues, assustada com os

    desaos formidveis colocados pelo curso da histria, produzia, assevera Marx,

    uma losoa complacente com o presente, pseudocrca, escapista. Para os l-

    sofos, a Alemanha se encontrava ento s voltas com uma revoluo grandiosa,

    sem precedentes, uma revoluo diante da qual as jornadas francesas de 1789no passavam de brincadeiras de criana. Portanto, sugeriam eles, as coisas cor-

    riam muito bem no mundo alemo! Contudo, prossegue Marx, tal revoluo

    no passava, na verdade, de uma fantasia losca, pois, longe de envolver,

    como fora o caso na Frana, as classes sociais numa luta real, longe de impli-

    car mudanas reais nas relaes entre os homens, resumia-se numa disputa

    estridente entre fraseologias rivais os conitos no interior da escola de He-

    gel, contrapondo jovens a velhos hegelianos , numa tagarelice losca vazia

    que deixava intocada a sociedade alem, servindo to somente para desviar a

    ateno dos graves e inescapveis problemas colocados para essa sociedade.

    representada nosestudos de Merton

    sobre a cincia, osporta-vozes do pro-

    grama forte vo serecusar a uma divi-

    so de tarefas comos epistemlogosnormavos, divisona qual caberia aoslmos a explica-o do sucesso dainvesgao cien-ca, concebidoaqui como triunfoda razo universal,e aos socilogos

    to somente o in-ventrio dos fato-res externos quevieram obstaculizar,

    em circunstnciasparculares, essetriunfo. Com isso,a Sociologia do Co-nhecimento vai con-

    vergir com as ideiasde Quine e Kuhn no

    sendo de conce-ber a reexo epis-temolgica comoum empreendimen-to essencialmente

    emprico. Para umacrca desse progra-ma de pesquisas,ver Laudan (1981),e para uma crcadessa crca, verBloor (1981).

    4. Mannheim, nessacrca, no costu-ma citar autores e

    textos parculares,mas parece ter emmente, em algumaspassagens, o cha-mado empirismolgico. Para umaexposio clssi-ca das teses dessa

    escola losca,ver Ayer (1946).

    5. A presena de ex-plicaes funcionaisem Marx foi luci-

    damente sublinha-da pelo chamadomarxismo analco,de longe a mais

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    Nesse sendo, os lsofos, os idelogos, como Marx os denomina, traduziam

    numa linguagem obscura, pedante, no jargo hegeliano, a incapacidade do bur-

    gus alemo de encarar a realidade, de responder aos desaos do presente,

    levando a cabo mudanas sociais e polcas cada dia mais inadiveis. Os jovens

    hegelianos, conclui Marx, falam da necessidade de substurem a conscincia

    atual por uma conscincia losca crca, mas, na verdade, so os maiores

    conservadores, pois no lutando contra a fraseologia de um mundo que se

    luta contra o mundo que realmente existe (MARX, s/d, p. 17). O signicado

    objevo do que se passava no mundo intelectual alemo dessa poca devia ser

    buscado, assim, fora desse mundo, devia ser buscado nas condies sociais e

    polcas concretas da sociedade alem de ento.

    Marx, contudo, observa Mannheim, no levara esse lcido reconhecimento dadeterminao social do epistmico s lmas consequncias, pois se limitara a

    pens-la em termos de uma sociologia do erro. Com efeito, para Marx, as for-

    mas de pensamento socialmente condicionadas ou ideolgicas, como prefere

    chamar, constuam uma falsa conscincia, uma imagem distorcida das coisas,

    objevamente compromeda com estruturas de dominao econmicas e po-

    lcas, no conhecimento convel acerca do mundo social. nesses termos

    que Marx pensa a determinao social das ideias. Assim, soa compreensvel

    o fato de que jamais tenha situado o conhecimento cienco, a se incluindo

    a sua prpria obra assim que ele a percebe , na superestrutura ideolgi-ca do mundo social. Com isso, Marx acaba reduzindo a anlise sociolgica das

    razes pr-tericas, existenciais, do conhecimento humano denncia da pre-

    sena intelectualmente destruva dos interesses sociais e polcos na produo

    desse conhecimento. Do ponto de vista marxista, com efeito, a revelao dessa

    presena implicava invariavelmente a desqualicao intelectual. Desse modo,

    Marx permanece ainda muito prximo da reexo epistemolgica tradicional

    ao associar o erro ao enraizamento scio-histrico da vida intelectual.

    Contudo, o andamento subsequente da invesgao sociolgica, assegura Man-

    nheim, vai deixar para trs as limitaes da teoria marxista da ideologia, com base

    num duplo passo, a saber: 1) ampliando a hiptese relava determinao exis-

    tencial das ideias, de modo a incluir, nos domnios dessa determinao, o conjunto

    do conhecimento social, a se incluindo o marxismo e os desenvolvimentos pos-

    teriores da Sociologia do Conhecimento, que adquiria assim uma dimenso au-

    torreexiva em Ideologia e Utopia, por exemplo, Mannheim vai estabelecer as

    circunstncias scio-histricas que tornaro possvel essa sociologia; 2) dissocian-

    do tal determinao da inevitabilidade do erro intelectual e, em decorrncia dis-

    so, acolhendo a possibilidade do conhecimento objevo socialmente enraizado.

    Nessa perspecva, a elucidao das razes sociais e avistas de um determinado

    sensata, a menos

    obscuransta inter-pretao da obramarxiana.

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    ponto de vista j no implicava necessariamente a sua desqualicao intelectu-

    al: o saber do qual se valiam os seres humanos nos contextos concretos da vida

    codiana trazia, cabia reconhecer, as marcas desses contextos, mas no soava

    plausvel reduzi-lo, em razo disso, a miscaes ideolgicas.

    A Sociologia do Conhecimento deixava Marx para trs ao revelar a universalida-

    de desse condicionamento existencial das interpretaes pblicas da realidade

    social e ao dissoci-lo da cegueira ideolgica compromeda com a preservao

    de estruturas de dominao. A Sociologia do Conhecimento vinha sublinhar a

    existncia de formas de pensamento indissoluvelmente ligadas aos contextos da

    ao, ecientes e indispensveis nesses contextos, formas de pensamento essas

    que j no cabiam no conceito marxiano de ideologia.

    3. Da Filosoa da Histria Sociologia do Conhecimento como cinciaemprica

    Mas esses avanos tericos da invesgao sociolgica no se mostravam com-

    paveis, alerta Mannheim, com a ideia de conhecimento objevo da velha

    epistemologia. Mais ainda: no soavam sequer possveis luz dessa ideia! Na

    perspecva dos epistemlogos, a conquista da objevidade implicava a mais

    completa eliminao das caracterscas parculares, especcas, do sujeitoepistmico, a se incluindo, naturalmente, todas aquelas que resultavam de sua

    insero num dado mundo social: no produto lgico-lingusco, admido como

    conhecimento objevo, tais caracterscas simplesmente deviam desaparecer!

    Caso isso no ocorresse, a almejada objevidade estaria seriamente compro-

    meda. Do ponto de vista dos epistemlogos, a ideia de um conhecimento, no

    mesmo passo, objevo e existencialmente situado, soava absurda, inaceitvel.

    Portanto, o confronto com a Sociologia do Conhecimento parecia realmente ine-

    vitvel.

    Ora, argumenta Mannheim, como a reexo epistemolgica, longe de ser inde-

    pendente dos progressos realizados no mbito das cincias empricas parcula-

    res, como sugeria a ambio fundacionista dos epistemlogos, dele dependia, a

    mencionada incompabilidade colocava a necessidade iniludvel de uma reviso

    do conceito vigente, to central na reexo epistemolgica, de objevidade. As

    descobertas empricas da Sociologia do Conhecimento no precisavam ser legi-

    madas por uma epistemologia desenvolvida numa poca em que tais desco-

    bertas no haviam sido feitas. A relao inversa na realidade se impunha: cabia

    epistemologia atualizar-se, ajustar-se s novas evidncias empricas disponveis,

    com elas tornar-se compavel. Sendo assim, assevera Mannheim, a Sociologia

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    do Conhecimento implicava uma salutar e bem-vinda renovao da reexo

    epistemolgica (ver Mannheim, 1982, p. 90, 309, 310).

    No seria, talvez, exagerado dizer que a Sociologia do Conhecimento de Man-nheim consiste, em larga medida, numa verdadeira cruzada na qual o inel apa-

    rece na gura de uma epistemologia supostamente caduca, prisioneira que de

    uma concepo de conhecimento objevo demasiado restriva e excludente,

    fruto da eleio, compreensvel mas indbita, de um po parcular de conhe -

    cimento aquele encontrado apenas nas matemcas e nas cincias naturais

    como o ideal exclusivo e supremo de todo o conhecimento convel. Ao rejeitar

    tal epistemologia, Mannheim vai reivindicar o direito da invesgao social em-

    piricamente orientada de prosseguir no seu caminho sem ser importunada por

    um despropositado veto losco. Com isso, Mannheim se coloca na posiode porta-voz de uma disciplina emprica, a saber, a Sociologia do Conhecimento,

    cujas descobertas empricas estariam sendo desautorizadas por uma epistemo-

    logia dogmca, aferrada ao passado intelectual, incapaz de aprender com os

    avanos da invesgao cienca.

    A polmica de Mannheim com os epistemlogos passa, vale a pena sublinhar,

    por duas etapas disntas: numa primeira etapa, muito bem representada no

    ensaio Gnese e natureza do historicismo, ele vai censur-los com base numa

    Filosoa da Histria (o historicismo) acolhida, nesse momento, em termos que

    lembram o elogio do marxismo em Sartre: tratava-se da viso de mundo incon-

    tornvel dos tempos modernos, uma fora intelectual de extraordinrio sig-

    nicado com a qual todos ns teramos que nos haver, quisssemos ou no.

    Na contramo dessa losoa, qual devamos a compreenso da historicidade

    inescapvel do conjunto dos fenmenos sociais, a se incluindo o mundo das

    ideias, os epistemlogos, prisioneiros ainda de uma losoa estca da razo,

    no teriam se dado conta da dimenso histrica, dinmica, mutvel, do entendi-

    mento humano, no teriam percebido o quanto as categorias mais gerais desse

    entendimento variavam, tanto na forma como no contedo, ao longo da his-

    tria intelectual, no cabendo, portanto, conceb-las em termos absolutos. Os

    epistemlogos, legmos herdeiros da tradio iluminista, insisam numa con-

    cepo scio-historicamente desenraizada, supratemporal, da racionalidade hu-

    mana, mas tal concepo, na verdade, resultava ela prpria de uma poca, e de

    uma poca que cava para trs.

    Nessa etapa, a crca da epistemologia levada a cabo por Mannheim com-

    pletamente tributria da aceitao entusisca da Filosoa da Histria, do

    historicismo (em Mannheim esses termos parecem intercambiveis), con-

    cebido aqui como uma metasica dinmica sintonizada com a moderni-dade. Nesse sendo, tal crca vai consisr num embate losco, numa

    disputa acirrada entre duas losoas rivais epistemologia vs historicismo

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    para saber qual delas merecia o status de cincia fundamental de todo conhe-

    cimento humano. Mannheim, naturalmente, no alimentava qualquer dvida

    acerca do desfecho desse embate. ele quem escreve: o lugar da epistemo-

    logia como cincia fundamental ser ocupado pela Filosoa da Histria como

    uma metasica dinmica (MANNHEIM, s/d, p. 151). Por outro lado, vale a pena

    observar, a legimidade da invesgao sociolgica parece derivar aqui da sua

    compabilidade com as lies dessa Filosoa da Histria, pois, para Mannheim,

    nesse momento, a sociologia apenas uma daquelas esferas que, dominadas

    de forma crescente pelo princpio do historicismo, reetem com mais delidade

    nossa nova orientao na vida (p. 138). Nessa perspecva, os epistemlogos

    aparecem como uns insensatos, indivduos incapazes de entrar em sintonia com

    essa nova orientao na vida.

    Contudo, em Ideologia e Utopia e nos ensaios reunidos em Sociologia da Cul-

    tura, obras posteriores ao mencionado estudo sobre o historicismo (publica-

    do originalmente em 1924), buscaramos em vo qualquer elogio da Filosoa

    da Histria: as referncias, quando aparecem, so todas negavas. Assim, por

    exemplo, discundo no captulo I de Sociologia da Cultura a importncia vital,

    para a invesgao sociolgica, de reunir e sintezar as contribuies dos estu-

    dos sociais especializados, Mannheim alerta para o risco de se relegar tal sntese

    s extemporaneidades dos lsofos da histria (MANNHEIM, 1974, p. 8). A

    rudeza desse alerta, to contrastante com a atude apologca presente no en-saio sobre o historicismo, soa compreensvel quando lembramos da importn-

    cia crescente da metodologia empirista na obra de Mannheim: se as snteses da

    Filosoa da Histria soam agora extemporneas, inaceitveis para a moderna

    invesgao social, isso se deve, sobretudo, ao fato de que no pertencem ao

    reino da experincia vericvel, lugar onde se situa essa invesgao, vivendo

    antes na atmosfera rarefeita da especulao.

    A Filosoa da Histria aparece agora como uma reexo especulava, destuda

    de qualquer contedo emprico, desenvolvimento das premissas volivas deseus autores, invencionice losca cheia de personicaes da histria como

    uma fora produva, um agente catalisador ou um poder inexorvel. Os lsofos

    da histria pareciam conceber o movimento histrico sem levar em conta aquilo

    que efevamente se movia, sem referncias aos contextos sociais concretos, s

    foras reais que ali atuavam, nicas responsveis por tal movimento. Os lsofos

    da histria nham, na verdade, negligenciado a substncia da histria. Com isso,

    acabavam reduzindo a sociedade ao cenrio passivo do curso preordenado dos

    acontecimentos histricos (p. 20-21). Sendo assim, cabia invesgao social

    empiricamente orientada rejeitar, sim, as extemporaneidades desses lsofos.

    Em Sociologia da Cultura, Mannheim faz um balano, to lcido quanto

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    impiedoso, daqueles aspectos metodolgicos das obras de Marx e Hegel nos

    quais ecoava uma losoa especulava da histria, aspectos esses incompa-

    veis, alerta ele, com os procedimentos usuais numa cincia emprica genuna.

    Aps observar que esses procedimentos envolviam a comunicabilidade, suposi-

    es parlhadas e critrios pblicos de evidncia, Mannheim conclui:

    Se o edicio conceitual de Hegel uma teologia racional da ordem polca

    e social de seu tempo, o de Marx um cnone da Revoluo (...) mas, nem

    o diagnsco de Hegel nem o de Marx so produzidos de modo anlogo

    ao ulizado pelos irmos Grimm para detectar a famlia de lnguas indo-

    europias, ou por Mendeleiev para chegar periodicidade dos elementos

    atmicos. Pelo contrrio, as duas snteses so verses plenamente desen-

    volvidas dos pontos de vista iniciais dos autores. O carter insustentvel da

    presente ordem social uma premissa voliva do pensamento marxista,

    assim como a nalidade do Estado de 1830 um axioma do pensamento

    hegeliano. (MANNHEIM, 1974, p. 25)

    Mannheim reconhece, bem verdade, as contribuies decisivas de Hegel e

    Marx para a gnese e o desenvolvimento da moderna invesgao social. No

    se trata, portanto, de rejeit-los em bloco. Assim, por exemplo, a sugesto he-

    geliana de que apenas o recurso a categorias mediatas, no reduveis ob-

    servao direta do fenomnico, sempre atomsca e fragmentria, possibilitariauma viso integrada do mundo da cultura, acolhida por Mannheim como uma

    contribuio importante e duradoura metodologia das cincias sociais, algo

    que, infelizmente, escapava a um empirismo mais estreito (p. 26-41). Marx, por

    sua vez, teria estabelecido os alicerces, como j vimos, de uma Sociologia do

    Conhecimento, ao sublinhar as razes scio-histricas das doutrinas econmicas

    e polcas de seu tempo. Contudo, este o ponto fundamental, tais contribui -

    es soavam aceitveis na medida, e apenas na medida, em que se revelavam

    compaveis com as severas exigncias da pesquisa emprica: ulizar categorias

    mediatas, assevera Mannheim, no signica abandonar o reino da experinciavericvel para entrar na atmosfera rarefeita da especulao, mas antes passar

    da viso subjeva e fortuita anlise objeva (p. 26). O condicionamento social

    das ideias, por sua vez, constua, repete Mannheim exausto, um fato muito

    bem estabelecido no mbito dos estudos empricos do mundo social.

    O adeus s iluses da losoa especulava da histria, resultante, deixem-nos

    reper, da aceitao explcita de princpios metodolgicos empiristas, acom-

    panhado, por outro lado, do enquadramento sociolgico da invesgao hist-

    rica. Mannheim connua sublinhando a relevncia de uma abordagem histricado mundo das ideias ou, com mais abrangncia, do mundo da cultura; connua

    armando a necessidade de buscarmos as razes scio-histricas desse mundo.

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    229Revista Sociedade e Estado - Volume 26 Nmero 1 Janeiro/Abril 2011

    Contudo, tal abordagem agora explicitamente colocada sob a gide da socio-

    logia como conhecimento do geral. O que procuramos, esclarece ele, uma

    iluminao sociolgica da histria. Nesse Mannheim, como de resto, no con-

    junto da moderna teoria social, com a exceo talvez do Weber de alguns textos

    metodolgicos, as descries do historiador (ou do etngrafo), no importa o

    quanto exausvas e rigorosas possam de fato ser, nunca bastam por si mesmas,

    nunca so sucientes na busca de uma compreenso cienca dos fenmenos

    sociais, pois tais descries s ganham sua plena inteligibilidade luz da sociolo-

    gia como conhecimento do geral. Assim, cabia falar numa iluminao sociol-

    gica da histria. Em Sociologia da Cultura, essa subordinao do conhecimento

    histrico teoria sociolgica, uma subordinao, diga-se de passagem, talvez

    indissocivel da prpria ideia de sociologia, formulada por Mannheim nos se-

    guintes termos:

    A sociologia geral constui um legmo quadro de referncia: em virtude

    de seu alcance geral, suas categorias tm precedncia sobre as categorias

    da descrio histrica. Nesse nvel, os fenmenos singulares da histria

    so vistos como combinaes parculares de tendncias supra-histricas,

    como so observadas ao nvel da sociologia geral. (p. 39)

    Com essa passagem progressiva de um Mannheim mais losco, entusiasta e

    paladino da Filosoa da Histria, concebida como cincia fundamental, parao Mannheim socilogo emprico da cabea aos ps de nossas lmas citaes,

    um autor preocupado em fazer avanar uma cincia emprica da cultura, crco

    impiedoso dos arroubos especulavos dos lsofos da histria, da tutela, neles

    to acentuada, de preocupaes extracognivas, morais e polcas (as referidas

    premissas volivas) sobre a invesgao social; com essa passagem, deixem-nos

    reper, vo estar dadas as condies de possibilidade da segunda etapa da cr-

    ca da epistemologia acima sumariamente apresentada.

    O Mannheim socilogo emprico j no censura os epistemlogos com basenuma viso totalizante, losca, supracienca do curso da histria universal

    (o historicismo); j no recorre, ao combat-los, a generalidades metasicas

    acerca da historicidade lma de todas as coisas, da mobilidade eterna e sem-

    pre estruturada do mundo dos homens, preferindo antes sublinhar o fosso que

    se instalara entre a reexo epistemolgica e descobertas empricas bem esta-

    belecidas no mbito da moderna invesgao social, no caso, aquelas relavas

    s razes sociais e avistas do conhecimento humano.

    Segundo Mannheim, tal fosso resultava do apego dos epistemlogos a uma

    concepo de conhecimento objevo, que soava, como j vimos, com-pletamente inadequada em face das descobertas empricas da Sociologia

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    do Conhecimento. Os socilogos nham revelado, com base em pesquisas em-

    pricas, o condicionamento existencial de determinadas formas do conhecimen-

    to humano, a saber, aquelas de que se valem os indivduos nos contextos con -

    cretos da vida coleva. Na contramo dessas descobertas, os epistemlogos,

    porm, insisam em vincular a conquista da objevidade produo de um

    po de conhecimento no qual no deveramos encontrar jamais as marcas de

    indivduos (ou colevidades) parculares, situados em mundos parculares, um

    conhecimento resultante, na verdade, de procedimentos cognivos genricos e

    universais. Com isso, eles acabavam estabelecendo uma oposio absurda en-

    tre o conhecimento objevo, tal como o concebiam, e parcelas considerveis do

    conhecimento humano, idencadas agora como um saber inexato, imperfeito,

    pr-cienco (ver Mannheim, 1982, p. 30). Para Mannheim, tal situao colo-

    cava a necessidade de uma reviso da velha epistemologia, de modo a torn-lacompavel com as novidades ciencas em questo. Em Ideologia e Utopia,

    Mannheim formula essa necessidade nos seguintes termos:

    No conseguiremos angir uma psicologia e uma teoria do conhecimento

    adequadas enquanto nossa epistemologia deixar, desde o incio, de reco-

    nhecer o carter social do conhecer, e no encarar o pensar individualiza-

    do apenas como um momento excepcional. (p. 59)

    Caberia aos epistemlogos aprenderem com as cincias empricas parculares,acompanharem as novidades ali apresentadas, pois s assim ganhariam a ne-

    cessria exibilidade e abrangncia6. Nas palavras de Mannheim:

    Somente atravs de um recurso constante aos procedimentos das cincias

    empricas especcas podem os fundamentos epistemolgicos tornarem-

    se sucientemente exveis e extensos para no somente sancionar as

    pretenses das formas mais angas de conhecimento (sua nalidade ori -

    ginal), mas igualmente as formas mais recentes. (p. 310)

    Semelhantes concluses, todavia, pressupunham, vale a pena sublinhar, a

    passagem acima mencionada da losoa especulava da histria Sociologia

    do Conhecimento como cincia emprica. Esta lma pertencia por inteiro ao

    reino da experincia vericvel e, nessa condio, possua autonomia e pre -

    cedncia em relao a qualquer presumida cincia fundamental. O erro dos

    epistemlogos foi exatamente no terem se dado conta desse fato, foi terem

    reivindicado para a reexo epistemolgica, numa verdadeira inverso da or-

    dem natural das coisas, uma independncia em face das cincias empricas par-

    culares, na verdade, inexistente.

    Embora Mannheim no chegue a sustentar abertamente a necessidade da

    6. Para uma interes-sante discusso so-bre as relaes entrea epistemologia nor-mava e o conheci-mento substanvoacerca do mundo

    oferecido pelas ci-ncias empricas,ver Laudan (1988) e

    Worrall (1989). Parauma tentava deconciliar a natura-

    lizao da reexoepistemolgica comas tradicionais pre-ocupaes norma-vas dessa reexo,ver Kitcher (1998) eGoldman (1998).

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    231Revista Sociedade e Estado - Volume 26 Nmero 1 Janeiro/Abril 2011

    eliminao pura e simples da reexo epistemolgica tradicional, no-emprica,

    normava e juscacionista em favor de abordagens resolutamente naturalistas

    (sociolgicas ou no), ciencas e no loscas, do conhecimento humano,

    sua polmica com os epistemlogos parece apontar agora, em larga medida,

    nessa direo: a epistemologia renovada que resultaria, segundo ele, do reco-

    nhecimento daquela dimenso existencial e avista da vida intelectual, to lu-

    cidamente sublinhada, desde Marx, por uma invesgao social empiricamente

    orientada, j no guardaria muita semelhana com a velha epistemologia, uma

    disciplina losca com status quase transcendental, situada, de fato, fora e su-

    postamente acima do mundo das cincias empricas parculares, autoprocla-

    mada guardi da razo universal. Mannheim vai rejeitar categoricamente a pos-

    sibilidade e a legimidade de semelhante disciplina e, nessa rejeio, antecipa

    em muitas dcadas as abordagens naturalistas da epistemologia e da Sociologiado Conhecimento mais recentes.

    4. Sociologia da reexo epistemolgica

    Na cruzada que leva a cabo contra os epistemlogos de seu tempo, Mannheim

    no se limita a uma armao genrica acerca da precedncia e autonomia das

    cincias empricas parculares em face da reexo epistemolgica. Alm disso,

    fechando o cerco, ele busca o enquadramento scio-histrico da epistemolo-gia: esta disciplina, longe de situar-se acima de todas as culturas parculares

    (a suposta condio de possibilidade do conhecimento objevo), resultaria, na

    realidade, de um conjunto de circunstncias sociais e histricas especcas, de-

    las seria uma expresso intelectual. Com isso, Mannheim procura incluir, na lista

    das provas empricas disponveis relavas ao condicionamento social das ideias,

    o exemplo da prpria epistemologia! Contra as iluses transcendentalistas dos

    epistemlogos, cabia inclu-la tambm, ao lado do pensamento social e polco,

    no vasto universo das ideias existencialmente situadas. Vejamos isso mais de

    perto.

    A ideia geral de que a epistemologia, como de resto toda a reexo losca,

    lana as suas razes e fundamento lmo em solo pr-terico, atravessa a obra

    de Mannheim, podendo ser encontrada tanto em sua fase mais losca como

    em seus lmos escritos. Com efeito, j no ensaio sobre o historicismo (1924),

    localizamos referncias s condies scio-histricas da doutrina da autono-

    mia da esfera terica, na qual estaria ancorada a reexo epistemolgica: tal

    doutrina, esclarece Mannheim, emerge apenas nos tempos modernos, como

    expresso intelectual de um determinado processo histrico, a saber, o da au-

    tonomizao progressiva das diferentes esferas da vida social, um fenmeno

    completamente ausente no mundo feudal que cava para trs. Nas palavras de

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    Mannheim:

    Como evidncia de que os fundamentos da doutrina da autonomia da

    teoria so pr-tericos, podemos mencionar de passagem que durante aIdade Mdia a relao ancilar de subordinao que a losoa e todas as

    outras teorias mannham com a teologia e com a esfera religiosa existente

    por trs dela, era algo absolutamente acima de qualquer dvida (...) no

    Renascimento que as diferentes esferas da vida comeam a se emancipar e

    angem a autonomia da ao moral, da criao arsca e do pensamento

    terico. (p. 149)

    Contudo, a sociologia da epistemologia realizada por Mannheim nesse ensaio

    ainda demasiado sumria e incipiente, alm de completamente tributriade uma losoa especulava da histria, mais tarde, como j vimos, rejeitada:

    Mannheim no discute ali, como far em Ideologia e Utopia, teses epistemolgi-

    cas especcas, tais como a disno entre os contextos da descoberta e da jus-

    cao7 , limitando-se a invesr contra a losoa do Iluminismo, censurada

    por encerrar uma doutrina da supratemporalidade da razo. A Sociologia do

    Conhecimento ainda aparece ali como uma espcie de subproduto intelectual

    de uma metasica dinmica concebida como cincia fundamental.

    Em Ideologia e Utopia, na parte I desse livro, ausente na edio original alem

    de 1929, escrita especialmente para a edio inglesa de 1937, Mannheim apre-senta, em contraparda, uma anlise sociolgica circunstanciada daquilo que

    teria sido o solo pr-terico, existencial, da epistemologia moderna. Segundo

    ele, essa disciplina losca veio responder necessidade colocada para os mo-

    dernos, para homens vivendo num mundo onde tudo que era slido e estvel

    se esfumava (Marx), de encontrar um ponto de apoio, um reduto de certezas

    intelectuais no qual pudessem se ancorar. Com a derrocada da sociedade feudal,

    acompanhada como fora da contestao bem-sucedida do monoplio intelec-

    tual da Igreja e da proliferao de pontos de vista alternavos e rivais, j no se

    dispunha de uma viso unicada e inabalvel do mundo exterior, espelho dascoisas como elas realmente so. A crena no ordenamento objevo desse mun-

    do, no ordenamento independente de qualquer sujeito epistmico, to acentu-

    ada no pensamento medieval, soobrava junto com a autoridade inconteste da

    Igreja, seu maior sustentculo. O mundo exterior, alvo de interpretaes diver-

    gentes, j no parecia oferecer um fundamento seguro para o conhecimento

    humano. Nesse contexto de crise intelectual, fruto de transformaes scio-his-

    tricas decisivas, os indivduos se voltaram, prossegue Mannheim, para o sujeito

    epistmico, concebido em termos gerais e abstratos, nele buscando um anco-

    radouro para a existncia objeva. Para Mannheim, tanto o racionalismo comoo empirismo clssicos apontavam nessa direo. ele quem escreve:

    7. Em Ideologia eUtopia, Mannheim

    rejeita a disnoradical, to cara aosepistemlogos, en-tre o contexto dadescoberta enquan-to o conjunto dascondies naturaise sociais associadas

    gnese de umadeterminada ideia,

    legmo objeto deinvesgaes emp-

    ricas, e o contextoda juscao, es-pao das razes l-gicas e metodolgi-cas gerais com basenas quais decidimosacerca da aceita-

    bilidade ou no deenunciados ou siste-

    mas de enunciados,

    sem levar em conta

    agora quaisquer cir-cunstncias vincula-

    das s suas origens,domnio exclusivoda reexo episte-molgica. SegundoMannheim, tal dis-

    no podia valerpara as cincias na-turais e exatas, masno cabia aplic-laquando se lidavacom o conhecimen-

    to existencialmentesituado. Para umacrca ainda maisradical dessa dis-

    no, ver Latour(1997).

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    Todas essas tentavas [racionalistas e empiristas] pressupem a conside-

    rao mais ou menos explcita de que o sujeito nos mais imediatamente

    acessvel que o objeto que, como resultado das muitas interpretaes di-

    vergentes, passou a ser por demais ambguo. (p. 42)

    A epistemologia representava, assim, uma tentava de solucionar, com base

    numa anlise do sujeito epistmico, de sua natureza e avidades, o problema

    dos fundamentos do conhecimento humano, problema esse que soava incon-

    tornvel para os modernos em razo do colapso da f incondicional na viso

    unicada do mundo, de inspirao religiosa at ento prevalecente. Nesse sen-

    do, a reexo epistemolgica resultava de uma crise intelectual datada cujas

    razes scio-histricas j estavam bem estabelecidas. Mannheim vai ainda mais

    longe nesse enquadramento sociolgico da epistemologia: no apenas a crise,mas tambm a soluo apresentada trazia as marcas dessa poca, lanava as

    suas razes e fundamento lmo em solo pr-terico: com efeito, na reexo

    epistemolgica, com a sua nfase exclusiva no indivduo isolado, independente,

    situado fora de qualquer contexto comunitrio, com seu descaso para com o

    carter social do conhecimento humano, ecoava, assevera Mannheim, a viso

    de mundo individualista e subjevista da sociedade que emergia na Europa das

    runas do mundo feudal (p. 59-60).

    Prossigamos. Mannheim vai sublinhar tambm, nesse enquadramento scio-

    histrico da reexo epistemolgica, as conexes entre tal reexo e as ten-

    dncias democrazantes associadas s origens do mundo moderno. O ponto de

    vista epistemolgico, centrado nas avidades cognivas do sujeito epistmico

    genrico, aceitando apenas os controles estabelecidos no mbito dessas avi-

    dades, representaria um formidvel desao autoridade da Igreja como intr-

    prete ocial do universo: o conhecimento convel j no deveria ser estabe-

    lecido agora com base nos pronunciamentos desse intrprete, mas sim como

    resultado de procedimentos cognivos acessveis, em princpio, a qualquer in-

    telecto. Assim, conclui Mannheim, a reexo epistemolgica vinculava-se, de

    fato, s inclinaes democrazantes da modernidade, ali encontrava o seu lugar.

    Em Sociologia da Cultura, no captulo intulado O problema da intelligent-

    sia: um estudo do seu papel no passado e no presente, Mannheim segue na

    mesma direo. Nesse captulo, com efeito, ele vai destacar as similitudes en-

    tre o ponto de vista epistemolgico e a mentalidade democrca das classes

    mdias em ascenso nos comeos do mundo moderno: ambos envolveriam

    princpios universalistas, niveladores e anaristocrcos. Os critrios epistemo-

    lgicos, completamente gerais e abstratos, com base nos quais caberia decidir

    acerca da aceitabilidade ou no de um dado juzo, deveriam valer para todos osseres humanos, sem excees. Nessa perspecva, ningum, absolutamente nin-

    gum, estava autorizado a dispensar tais controles gerais, e todos, em princpio,

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    todos deles poderiam parcipar: as provas empricas disponveis de um juzo

    factual ou a demonstrao rigorosa da necessidade lgica de um juzo analco

    podiam ser objeto de escrunio por todos os indivduos. Para os epistem-

    logos, como para os defensores do iderio polco democrco, a publicidade

    irrestrita soava obrigatria, iniludvel.

    Nesse sendo, o ponto de vista epistemolgico, convergindo aqui com a men-

    talidade democrca, implicava a mais cabal rejeio da viso de mundo elista

    e aristocrca, expresso espiritual de uma sociedade estracada com base

    numa rgida disno entre homens superiores e inferiores, para a qual o co-

    nhecimento humano em suas formas mais desenvolvidas, como, de resto, qual-

    quer outro produto cultural socialmente valioso, devia situar-se num plano su-

    perior, inacessvel aos homens normais. Os epistemlogos, sintonizados com osnovos tempos, apresentavam assim uma teoria geral do conhecimento humano

    na qual j no havia nenhum lugar para elites epistemologicamente privilegia-

    das, nem para intrpretes ociais do Universo, uma teoria na qual ecoava lm-

    pida a ideia democrca da igualdade fundamental de todos os seres humanos.

    Os epistemlogos vinculavam-se, ainda, cultura democrca na preferncia

    revelada por abstraes e generalidades, em detrimento da ateno dispensada

    aos aspectos mais concretos, mais parculares, de seu objeto de anlise. Com

    efeito, o sujeito epistmico do qual falavam constua uma endade altamen-

    te abstrata, destuda de qualquer contedo parcular, situada aparentemente

    fora e acima da natureza e da cultura. Ora, tal inclinao por abstraes, com

    o sacricio dos contedos parculares da experincia humana, constua, na

    realidade, prossegue Mannheim, um dos traos mais caracterscos das socie-

    dades democrcas: que a mulplicidade e a diversidade dos grupos sociais,

    ali atuando como legmos protagonistas da vida pblica, inviabilizariam as co-

    municaes mais concretas, as mensagens dotadas de contedos especcos,

    acessveis apenas queles indivduos que dispusessem de experincias e as-

    sociaes similares. Nesse contexto, o recurso a uma linguagem mais abstrata,

    mais distanciada das vivncias singulares de grupos sociais singulares, represen-

    taria a nica forma de assegurar uma comunicabilidade mais completa e geral. O

    carter abstrato da reexo epistemolgica resultaria dessa tendncia societria

    mais ampla, nela lanaria as suas razes pr-tericas. Portanto, assegura Man-

    nheim, cabia reconhecer que

    A necessidade de abstrao e anlise no imposta pelas coisas; sua ori-

    gem social; surge a parr das propores e da estrutura do grupo no

    interior do qual o conhecimento deve ser parlhado (...) mais provvel

    que relaes abstratas sejam descobertas em sociedades democrcas doque aristocrcas. (p. 156)

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    Buscando detalhar mais essa sociologia da epistemologia moderna, Mannheim

    vai localizar, nas ideias epistemolgicas de Kant, relavas ao papel avo e cons-

    truvo do sujeito epistmico no processo cognivo, os ecos da experincia so-

    cial pr-terica de seu tempo. Nessas ideias, sugere ele, podemos encontrar a

    expresso losca da crescente incluso social e polca de camadas da popu-

    lao at ento dependentes e passivas, camadas essas que passavam agora a

    parcipar avamente da vida polca dos povos. A concepo kanana do pro-

    cesso cognivo como avidade criava do sujeito epistmico implicava o aban-

    dono de concepes anteriores, nas quais tal sujeito desempenhava um papel

    puramente passivo e recepvo em face do objeto.

    Para Mannheim, essa mudana losca acompanhava a mencionada mudana

    societria mais geral: a epistemologia kanana traduzia, na linguagem abstra-ta dos lsofos, a experincia social pr-terica dos processos democrazantes

    em curso na Europa. O novo status do sujeito epistmico correspondia ao novo

    status social e polco dos protagonistas desses processos. Na imagem kanana

    do sujeito epistmico, teramos o desfecho de um processo cultural mais amplo,

    cujas origens remontavam Renascena, de transformaes na autoapresenta-

    o dos seres humanos nos tempos modernos. Nesse sendo, tal imagem ex-

    pressava o ponto de vista de indivduos situados num mundo social parcular,

    numa etapa parcular de seu desenvolvimento histrico. Sendo assim, conclui

    Mannheim, a epistemologia kanana, como, de resto, o conjunto da moder-na reexo epistemolgica, representava, ao contrrio do que pareciam supor

    os epistemlogos, prisioneiros de iluses transcendentalistas, uma ilustrao

    exemplar da tese sociolgica relava s determinaes scio-histricas do co-

    nhecimento humano.

    Como j vimos, Mannheim, nesse aspecto socilogo da cabea aos ps, subor-

    dinava a invesgao histrica s verdades abstratas da sociologia geral. Cabia

    buscar, assevera ele, uma iluminao sociolgica da histria. Ora, isso valia

    igualmente, supruo diz-lo, para a histria das ideias: tambm, nesse caso,

    as descries do historiador no bastavam, devamos buscar uma iluminao

    sociolgica dessas descries. Nesse sendo, cabia disnguir uma sociologia

    da epistemologia de uma histria das ideias epistemolgicas que se limitasse a

    estabelecer conexes entre tais ideias e contextos scio-histricos parculares,

    sem, contudo, desembocar em concluses de ordem mais geral.

    Mannheim leva realmente a srio tal disno: no se tratava apenas de realizar

    uma histria das ideias atenta ao impacto de circunstncias histricas parcu-

    lares num ambiente intelectual parcular; no se tratava apenas de demons-

    trar que uma crise intelectual datada, scio-historicamente enraizada, resultounuma busca losca de fundamentos tambm datada. Mannheim, como os

    pais fundadores da moderna teoria social, dos quais um legmo e ilustre

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    236 Revista Sociedade e Estado - Volume 26 Nmero 1 Janeiro/Abril 2011

    herdeiro, , antes de tudo, um pensador terico: embora, como eles, se valha

    da erudio histrica, dela se benecie amplamente, busca ultrapass-la na am-

    bio intelectual, uma ambio intelectual expressa na tentava de estabelecer,

    para l dessa erudio, padres e relaes de dependncia mais gerais.

    Nesse aspecto, diga-se de passagem, o Mannheim mais losco e o Mannheim

    socilogo emprico esto muito prximos: ambos subordinam as invesgaes

    histricas especcas ao conhecimento do geral, sendo que, para o primeiro, tal

    conhecimento idencado com a Filosoa da Histria enquanto metasica

    dinmica, ao passo que, para o segundo, ele aparece na gura da moderna

    teoria social, concebida como cincia emprica genuna.

    A Sociologia da epistemologia levada a cabo por Mannheim consiste to so-

    mente numa ilustrao parcular da hiptese geral, constuva da Sociologia

    do Conhecimento como disciplina terica, acerca das razes sociais e avistas

    do pensamento humano. Com essa ilustrao, Mannheim busca sublinhar a

    fecundidade e o alcance explicavo de uma histria da vida intelectual socio-

    logicamente iluminada: desvendar o solo pr-terico da epistemologia no

    signicava desvendar apenas uma peculiaridade da vida intelectual no Oci-

    dente moderno, mas sim fornecer novas provas empricas da generalidade e

    abrangncia do fenmeno da determinao social do conhecimento humano. A

    sociologia da epistemologia vinha demonstrar que, mesmo nas reexes mais

    abstratas, aparentemente mais distanciadas dos contextos concretos da ao

    coleva, seria possvel sim, graas iluminao sociolgica do material histrico,

    localizar tal determinao. Nesse sendo, a sociologia da epistemologia oferecia

    uma ilustrao histrica parcularmente valiosa das verdades gerais da Sociolo-

    gia do Conhecimento.

    5. Consideraes Finais

    No cabe na extenso limitada deste trabalho, voltado to somente a uma expo-

    sio, a mais el possvel, das objees dirigidas por Mannheim aos epistemlo-

    gos de seu tempo, um balano crco dessas objees, uma crca da crca: isso

    realmente nos levaria muito longe! Gostaramos, contudo, nestas consideraes

    nais, de deixar registrado nosso respeito intelectual por esse autor merecida-

    mente idencado por muitos como o lmo dos grandes clssicos da moderna

    teoria social. Isso no implica acolh-lo sem reservas, endoss-lo no conjunto

    de suas concluses. Nada mais longe da verdade: se a crca da epistemolo-

    gia apriorsca e normava permanece, em larga medida, relevante e atual, o

    mesmo no pode ser dito do enquadramento sociolgico dessa epistemolo-gia levado a cabo por Mannheim. Este, legmo herdeiro da ambio terica

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    237Revista Sociedade e Estado - Volume 26 Nmero 1 Janeiro/Abril 2011

    ilimitada de Marx e Durkheim, aposta alto demais na capacidade do conheci-

    mento do geral de tornar plenamente inteligvel o conjunto da vida social, e isso

    o leva a diculdades de toda ordem: decididamente no uma tarefa das mais

    fceis explicar as formas parculares assumidas pela nossa vida intelectual com

    base num corpo de conceitos gerais e abstratos8.

    Seja l como for, de Mannheim poderamos dizer, com razo, aquilo que Lnin,

    j prximo do m, disse de Rosa Luxemburg: mesmo quando errava, mesmo

    quando comea os maiores tropeos, ela no perdia a grandeza, pois uma guia

    ocasionalmente voando baixo connua a ser uma guia. A leitura de Man-

    nheim nos deixou plenamente convencidos, pelo menos, de uma coisa: estamos

    diante de um esprito poderoso, de um grande autor, cuja prosa constui, ainda

    hoje, fonte do mais genuno prazer intelectual. Isso, leitor, convenhamos, deci-didamente no pouco!

    Abstract: The arcle analyzes the crique of normave epistemology in the work

    of Karl Mannheim, stressing its presence both in his more philosophical phase,

    associated with the praise of historicism, and in his later Sociology of Knowledge.

    It also calls aenon to the relevance of this crique: aacking the epistemolo-

    gists of his me by not taking into proper account the ndings of parcular em -

    pirical sciences, Mannheim ancipated by decades recent trends in the Sociology

    of Knowledge and epistemological reecon.

    Keywords: Sociology of Knowledge, Normave Epistemology, Philosophy of His-

    tory

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    8. Mannheim nodispe de um cor-po de hiptesesuniversais cujascondies de apli-cao tenham sidoclaramente esta-

    belecidas, mas sim

    to somente de umquadro conceitualmais ou menos abs-

    trato, e com base

    em semelhante fer-ramenta intelectual

    simplesmente no possvel oferecer,como sonha esse

    autor, explicaescausais e/ou funcio-nais situadas almdas descries com-preensivas do co-nhecimento social

    do po conteuds-co. Infelizmente,

    no podemos de-senvolver aqui esseponto de importn-cia, contudo, deci-

    siva num balanocrco da Sociologiado Conhecimento

    de Mannheim.

  • 8/2/2019 (4) GUSMO (2011) A Crtica da Epistemologia na Sociologia do Conhecimento de Karl Mannheim

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