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3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itumbiara (GO)
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3.ª VARA CÍVEL/ FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE ITUMBIARA – GO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE
GOIÁS, por seu órgão de execução nesta Comarca, com fulcro na Constituição
Federal, artigos 127 e 129, inciso III; na Lei Federal n.º 7.347/85 (Lei da Ação
Civil Pública); Lei Federal n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público); Lei Federal n.º 8.666/93 (Lei de Licitações); ainda, com base no
Procedimento Preliminar n° 021/2010, em anexo; vem ajuizar a presente
Ação Civil Pública de Obrigação de Fazer (consistente em exigir da Administração Pública direta e indireta do Município de Itumbiara a formal designação de servidores para acompanhar e fiscalizar a execução dos contratos administrativos etc.- Artigos 67 e 68 da Lei 8666/93)
em desfavor de:
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3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itumbiara (GO)
1) MUNICÍPIO DE ITUMBIARA, pessoa jurídica de direito público interno, com sede na Rua Paranaíba, n.º 117, Bairro Centro, Itumbiara-Goiás, representada por seu Prefeito Municipal José Gomes da Rocha;
2)FUNSOL – FUNDAÇÃO DE SOLIDARIEDADE DE ITUMBIARA-GO, autarquia municipal, com sede na Rua Paranaíba, n.º 733, Bairro Centro, Itumbiara- Goiás, representada por seu Presidente Adriano Martins Lopes.
pelos motivos fáticos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:
I. DOS FATOS.
I.1. Aos 29 dias do mês de setembro do ano de 2008, o Ministério Público do
Estado de Goiás, por meio da 3ª Promotoria de Justiça da comarca de Itumbiara-
GO, preocupado com a fiscalização da execução dos contratos firmados pela
municipalidade, enviou ofícios aos órgãos da Administração Pública direta e
indireta do Município de Itumbiara, recomendando que estes, antes da execução
do contrato pelo contratado, designassem especialmente representantes da
Administração para acompanhar e fiscalizar os contratos firmados. Já naquela
época se sabia que tal exigência legal nunca fora cumprida.
I.2. Pelo princípio da legalidade estrita a Administração deveria, ao tomar
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conhecimento do ilícito, ter providenciado a correção da ordem jurídica violada,
uma vez que a omissão em designar o representante para acompanhamento do
contrato além de afrontar diretamente a Lei de Licitações (Lei Federal
8.666/93), também pode ensejar ato de improbidade administrativa nos termos
dos artigo 10 ou 11 da Lei 8.429/92.
I.3. Entretanto, os requeridos deram continuidade à conduta de desrespeito à
exigência legal, ao passo em que mesmo após a recomendação do Ministério
Público, continuaram descumprindo o estipulado na Lei de Licitações no que
tange à execução dos contratos administrativos, não designando representantes
da Administração para a fiscalização dos contratos.
1.4. Neste ano de 2010, quando se requisitou do chefe do controle interno
informações sobre maiores contratos de cada área, aditivos e comunicações
formais que tenha o município de Itumbiara feito aos respectivos fornecedores
relativos a eles após assinado o contrato. Observou-se na resposta total
inobservância no tocante ao cumprimento da lei de licitações nos pontos que são
apontados nesta exordial.
I.4. Como forma de reforço da prova das omissões do poder público no tocante
aos contratos, o Ministério Público colheu declarações do chefe do controle
interno como se depreende do depoimento constante do Procedimento
Preliminar anexado. O Secretário do Controle Interno do município de
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Itumbiara, Kennedy Martins Ferreira, ouvido aos 18/06/2010, do qual se extrai
os seguintes trechos:
“Perguntado ao declarante se o município a cada contrato estipula pessoa responsável para sua fiscalização nos termos do artigo 67 da Lei 8.666/93, o declarante respondeu que a administração municipal não tem formalizado esta fiscalização através de documento (...)Perguntado ao declarante se nos contratos firmados pelo Município de Itumbiara há a indicação do representante da administração pública para a fiscalização dos contratos nos termos do artigo 67 da Lei 8.666/93, o declarante respondeu que, em regra, não há indicação do fiscal, apenas informa a Secretaria que fica responsável pela fiscalização.Perguntado se o fornecedor de mercadorias e serviços da administração pública de Itumbiara é informado, formalmente por meio de documento escrito da administração acerca de quem é a pessoa responsável pela fiscalização de seu contrato, o declarante respondeu que não há esta prática”.
I.4. É inegável que a omissão referida acima importa, em casos de problemas no
contrato, em dificuldade na identificação dos responsáveis, uma vez que surgem
acusações recíprocas infundadas entre fornecedores e agentes públicos, com
danos ao erário e à moralidade administrativa. Outro aspecto é o prejuízo
decorrente no que tange à transparência das atividades dos órgãos e agentes
públicos, eis que se torna impossível apurar a retidão e eficiência da prestação
de serviços e consequentemente tornar a administração pública mais vulnerável
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à ocorrência de prática de subornos, corrupção e tráficos de influências.
I.5. Ainda, temos que a atividade permanente de fiscalização dos contratos
permite à Administração que verifique práticas irregulares e assim adote de
forma mais ágil as providências necessárias para resguardar o interesse público.
De acordo com a competente legislação, a fiscalização induzirá o contratado a
proceder a execução de seus deveres da forma mais eficaz possível.
I.6. Diante das ilegalidades e da tentativa frustrada via administrativa na qual
não obteve acatamento pelo Município, o Ministério Público recorre ao
judiciário com o fim de promover medidas para a defesa da ordem jurídica.
Intenta-se, através desta ação, que seja determinado que quando da assinatura do
termo de contrato e antes do início da execução deste, seja designado
especialmente representante da Administração para acompanhar e fiscalizar o
contrato firmado, além de ser divulgado o nome do representante indicado,
através do Diário Oficial do município.
II. DO DIREITO
II.1. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICOA legitimidade do Ministério Público para promover a defesa do patrimônio
público advém de comando constitucional, bem como da legislação infraconstitucional.
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Constituição Federal :Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público :...III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público.
Na Lei n.º 8.625/93, tem-se, em seu artigo 25:Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:...IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:...b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou de Município, de suas administrações indiretas ou fundacionais ou de entidades privadas de que participem;
O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás tem o mesmo
entendimento.AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 129, III. Tem o Ministério Público legitimidade para propor Ação Civil Pública que objetive a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, e de outros interesses difusos e coletivos1.
1TJGO, Ag. Instr. n.º 5.942-0/180, Rel. Des. Mauro Campos, acórdão de 27/2/92, publicado no DJGO n.º 11.287, de 17/03/92, pág. 09.
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3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itumbiara (GO)Referida legitimidade também está consagrada na Súmula de n°
329 do Superior Tribunal de Justiça, a qual enuncia que: “O Ministério Público
tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patrimônio
público.” Data de Julgamento 02/08/2006. Data da Publicação DJ 10.08.2006 p.
254. Precedentes: AGA 51098 SP, RESP 174967 MG, RESP 631408 GO, RESP
620354 RJ, RESP 409279 PR, RESP 440178 SP, RESP 440178 SP, RESP
173414 MG, RESP 468292 PB, RESP 403135 SP, ERESP 77064 MG, RESP
226863 GO, RESP 67148 SP.
II.2 – DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
De acordo com a lição do professor Dirley da Cunha Júnior, “os
princípios jurídicos são normas jurídicas fundamentais de um sistema jurídico,
dotadas de intensa carga valorativa, e por isso mesmo superiores a todas as
outras, que se espraiam, explícita ou implicitamente, por todo o sistema, dando-
lhe fundamento e uma ordenação lógica, coerente e harmoniosa. Em razão de
sua força normativa e da elevada carga axiológica, os princípios determinam o
conteúdo das demais normas e condicionam a compreensão e aplicação destas à
efetivação dos valores que eles consagram”.2
Destacando a relevância e eficácia dos Princípios, Celso Antônio
Bandeira de Melo acresce que violar um princípio é muito mais grave que
2CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Administrativo. 8.ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus Podivim, 2009.
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transgredir uma norma qualquer, visto que a desatenção a ele não implica tão
somente a ofensa a um mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de
comandos. É a mais grave forma de ilegalidade, representando uma insurgência
contra o sistema, pois corrói a estrutura mestra deste.
Desta feita, o artigo 37, caput, da Constituição Federal de 1988,
relaciona os princípios nos quais devem se pautar todos os atos da
Administração Pública, que foram destacados pelo legislador, verbis :
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”.
Os mesmos princípios foram observados pelo constituinte
estadual, conforme art. 92, caput, da Constituição do Estado de Goiás, e ainda,
pela Lei Orgânica do Município de Itumbiara em seu art. 82, caput. Enfim, é
indubitável o grau normativo dos princípios, o que denota o seu caráter cogente.
Exige-se a necessária conformação aos seus ditames de modo que qualquer ato
que deles destoe será inválido, consequência esta que representa a sanção pela
inobservância de um padrão normativo cuja reverência é obrigatória.
Vejamos o que diz a jurisprudência do STF:
"A administração pública é norteada por princípios conducentes à segurança jurídica – da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência. A variação de enfoques, seja qual for a justificativa, não se coaduna com os citados princípios, sob pena de grassar a insegurança." (MS 24.872, voto do Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 30-6-2005, Plenário, DJ de 30-9-2005.)
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"Princípios constitucionais: CF, art. 37: seu cumprimento faz-se num devido processo legal, vale dizer, num processo disciplinado por normas legais. Fora daí, tem-se violação à ordem pública, considerada esta em termos de ordem jurídico-constitucional, jurídico-administrativa e jurídico-processual." (Pet 2.066-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 19-10-2000, Plenário, DJ de 28-2-2003.)
Em que pese o texto constitucional dispor sobre o fiel
cumprimento dos princípios da Administração Pública, não é esta a conduta dos
agentes políticos municipais, tendo em vista que estes não os observam, já que
não cumprem o que determina a lei e desta forma, atingem diretamente o
princípio que exige o cumprimento integral do que a lei determina, qual seja, o
princípio da legalidade.
II.2.1 – DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LEGALIDADE
No tocante à Administração Pública, o professor Alexandre de
Moraes, ensina que3:
“O tradicional princípio da legalidade, previsto no art. 5º da Constituição Federal e anteriormente estudado, aplica-se normalmente na Administração Pública, porém de forma mais rigorosa e especial, pois o administrador público somente poderá fazer o que estiver expressamente autorizado em lei e nas demais espécies normativas, inexistindo, pois, incidência de sua vontade subjetiva, pois na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza, diferentemente da esfera particular, onde será permitida a realização de tudo o que a lei não proíba (…).”
3MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 3ª. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1998.
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3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itumbiara (GO)É inegável que o princípio da legalidade em relação à
Administração Pública em geral é de suma importância, exigindo-se ainda mais
sua estrita observância no que tange ao processo de licitação, uma vez que este
procedimento está inteiramente vinculado à lei, tendo suas fases rigorosamente
disciplinadas na Lei N.º 8.666/93.
Assim, há a previsão expressa na Lei 8.666/93, em seu artigo 67,
conforme veremos mais adiante, para que seja determinado um representante da
Administração que fiscalize a execução do contrato e assim garanta que este seja
cumprido da forma mais eficiente. Entretanto, não é dessa forma que os agentes
públicos do município de Itumbiara estão agindo, em total descompromisso com
o texto legal.
De fato, no caso presente, houve violação ao princípio da
legalidade, pois este, segundo pontifica Celso Antônio Bandeira de Mello,
“implica a subordinação completa do administrador à lei. Todos os agentes
públicos, desde o que lhe ocupe a cúspide até o mais modesto deles, devem ser
instrumentos de fiel e dócil realização das finalidades normativas4”.
Nesse diapasão, os atos administrativos devem estar adstritos à
legalidade sob pena de nulidade na origem, e atender impreterivelmente o
interesse público. A Lei 8.666/93 não tem palavras inúteis, e por isso não deve
ser ignorada, ao contrário estabelece regras que devem ser criteriosamente
observadas. Assim, a omissão no caso em tela é inconstitucional por contrariar o
princípio da legalidade, além de infringir a Lei de Licitações.
4 In: Legalidade, Motivo e Motivação do Ato Administrativo. Revista de Direito Público.
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II.2.2 – DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA
O saudoso mestre Hely Lopes Meirelles discorreu sobre a
eficiência como um dos deveres da Administração Pública, conceituando-o
como “o que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com
presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da
função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com
a legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório
atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros”.5
Neste sentido, o administrador público deve ser eficiente,
buscando sempre o melhor resultado e primar pela qualidade do serviço público,
para que não haja desperdício de recursos públicos e seja garantida maior
rentabilidade social. Assim, o princípio da eficiência orienta a Administração no
sentido de conseguir a eficácia da prestação contratada, a fim de haja o total
aproveitamento da verba pública utilizada.
Segundo a professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o princípio
em comento deve ser analisado sob dois prismas:
“O princípio da eficiência apresenta, na realidade, dois aspectos: pode ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo objetivo de
5MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2003.
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alcançar os melhores resultados na prestação do serviço público”.
A decisão do Tribunal de Contas do Distrito Federal transcrita
abaixo, salienta a importância da fiscalização para que a execução do contrato
administrativo seja eficiente:
CONTRATO - NECESSIDADE DE FISCALIZAÇÃO EFICIENTE, RIGOROSA E CONCOMITANTE. Contrato: O acompanhamento da execução dos contratos deve ser eficiente, rigorosa e concomitante com a realização do objeto contratado, garantindo, dessa forma, a plena satisfação do interesse público (qualidade do serviço, preço justo, tempestividade, etc.); "alertar aquela Secretaria acerca dos procedimentos pertinentes ao acompanhamento da execução dos contratos, consoante informado ao Tribunal mediante o Ofício n.º 865/01-SE, de 27.09.01, de modo que ocorra eficiente, rigoroso e concomitante acompanhamento da realização do objeto contratado, garantindo, dessa forma, a plena satisfação do interesse público (qualidade do serviço, preço justo, tempestividade etc.). (Decisão TCDF 4674/2004). (grifamos)
É certo que, diante do panorama ético do mundo atual, se faz
mais que necessário a fiscalização da execução dos contratos administrativos,
não só pela ocorrência de eventuais desvios de conduta, mas também porque
quando se trata do erário público, deve haver o máximo cuidado para se garantir
a correta aplicação do dinheiro. E ainda, a fiscalização deve acontecer
sobretudo, porque está prevista na lei.
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II.3 – DA VIOLAÇÃO À LEI DE LICITAÇÕES – LEI N.º 8.666/93
De acordo com o artigo 58, III da Lei de Licitações:
Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:...III – fiscalizar lhes a execução;
Dessa forma, a Administração tem o poder-dever de fiscalizar
atentamente a atuação do responsável pela execução do contrato, já que o
interesse público não pode ficar a deriva de uma atuação passiva. Se o particular
não realizar corretamente a prestação contratada, a Administração deverá de
forma imediata se atentar para isso, a fim de detectar antecipadamente práticas
irregulares ou defeituosas.
Frisa-se que os critérios de fiscalização devem ser sempre os
mesmos, isto é, ou o particular atende às exigências ou não as atende. É
importante que o particular responsável pela execução do contrato, parta do
pressuposto de que a fiscalização é indispensável ao prosseguimento da
atividade, devendo sua omissão o constranger a paralisar a execução do
contrato.
Por sua vez, o artigo 67 da Lei N.º 8.666/93 determina que:
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Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por um representante da Administração especialmente designado, permitida a contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a essa atribuição.§1º O representante da Administração anotará em registro próprio todas as ocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando o que for necessário à regularização das faltas ou defeitos observados.§2º As decisões e providências que ultrapassarem a competência do representante deverão ser solicitadas a seus superiores em tempo hábil para a adoção das medidas convenientes.
Assim, a fiscalização pela Administração não é mera faculdade
assegurada a ela, como tem entendido os agentes públicos municipais. Trata-se
de um dever, a ser executado para melhor assegurar o interesse público e
garantir a execução do contrato administrativo de modo mais perfeito.
De acordo com o professor Marçal Justen Filho, “incumbe ao
agente da Administração acompanhar o desenvolvimento da atividade do
particular, anotando as ocorrências relevantes e documentando eventuais
equívocos a serem corrigidos. (…) O agente administrativo transmitirá suas
anotações às autoridades competentes, às quais competirá adotar as providências
adequadas.”6
Tem-se que a presença do fiscal é imprescindível, devendo este
anotar em registro próprio os fatos que ocorrerem, relacionados com a execução 6JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 5.ª ed. São Paulo: Dialética, 1998.
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do contrato, sendo que o não atendimento às determinações da autoridade
fiscalizadora enseja rescisão unilateral do contrato (art. 78, VII), sem prejuízo
das sanções cabíveis. Frisa-se que, o contrato será rescindido por ofensa aos
deveres contratuais e não porque o particular deixou de atender às
determinações dos agentes administrativos.
Em consonância com o exposto, a ilustre doutrinadora Maria
Sylvia Zanella Di Pietro, na obra Direito Administrativo7, ensina que:
“Trata-se de prerrogativa do poder público, também prevista no artigo 58, III, e disciplinada mas especificadamente no artigo 67, que exige seja a execução do contrato acompanhada e fiscalizada por um representante da Administração, especialmente designado, permitida a contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a essa atribuição. A este fiscal caberá anotar em registro próprio todas as ocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando o que for necessário à regularização das faltas ou defeitos observados ou, se as decisões ultrapassarem sua competência, solicitá-las a seus superiores”.
Ainda, a Lei N.º 8.666/93, dispõe em seu artigo 68:
Art. 68. O contratado deverá manter preposto, aceito pela Administração, no local da obra ou serviço, para representá-lo na execução do contrato.
Essa regra tem por escopo evitar embaraços, tendo em vista que a
incerteza ou multiplicidade de representantes pode acarretar contradição de
informações ou decisões, necessidade de repetição de atos, entre outros. Assim,
o contratado deverá manter o preposto no local da obra ou do serviço, o qual 7DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas. 2010.
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deverá ser aceito pela Administração, para representá-lo na execução do
contrato, sendo que os atos do preposto vincularão o particular.
Como forma de ressaltar a importância da fiscalização da
execução dos contratos administrativos, e ainda de demonstrar sua exigência
legal, colacionamos decisões do Tribunal de Contas da União, abaixo transcritas:
AUDITORIA. CONTRATOS DE REPASSES. LICITAÇÃO. INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES, DIRECIONAMENTO E FRAUDE. AUDIÊNCIAS. RAZÕES DE JUSTIFICATIVAS ACOLHIDAS. DETERMINAÇÕES. (...) Os contratos devem ser executados com o devido acompanhamento e fiscalização a cargo de um Representante da Administração especialmente designado para esse fim, conforme exigido pelo art. 67 da Lei n.º 8.666/93. (Acórdão 212/2009 - Segunda Câmara, Processo 018.013/2005-0, Ministro Relator Benjamin Zymler, j. 03/02/2009, DOU 06/02/2009). (grifamos).
AUDITORIA. UFMG. ÁREA DE LICITAÇÃO E CONTRATO. CONTRATAÇÃO INDIRETA DE PRESTADORES DE SERVIÇO POR HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS. CELEBRAÇÃO DE CONTRATO PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA DE DIRETOR DA UNIVERSIDADE. INOBSERVÂNCIA DA LEI 8.666/93 RELATIVAS À VIGÊNCIA DE CONTRATO, PUBLICAÇÃO DE COMPRAS EFETUADAS, DESIGNAÇÃO DE REPRESENTANTES PARA O ACOMPANHAMENTO DE CONTRATOS (…). O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator e à vista do contido no art. 1.º, incisos II e VIII, da Lei n.º 8.443/92 combinado com o art. 43, inciso I, da mesma Lei, decide determinar: designar para cada contrato celebrado (através de cláusula contratual ou de ato administrativo específico), um representante que tenha a seu cargo o acompanhamento e a fiscalização do mesmo, conforme o art. 67 da Lei n.º 8.666/93 e o art. 6.º do Decreto n.º 2.271/97 (item 19 do
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relatório de auditoria). (Decisão 777/2000 – Plenário, Processo 375.506/1998-5, Ministro Relator Valmir Campelo, DOU 29/09/2000). (grifamos).
RELATÓRIO DE AUDITORIA. ELETROBRÁS. ÁREA DE PROPAGANDA, PUBLICIDADE E INFORMÁTICA. 1. INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES CONSTATADOS NO CURSO DE FISCALIZAÇÃO ENSEJAM A AUDIÊNCIA DOS RESPONSÁVEIS. determinar, com fulcro no art. 250, II , do RI/TCU: proceda à designação formal de pessoa física para acompanhamento e controle da execução dos contratos em vigor e nos futuros contratos administrativos, conforme estabelece o art. 67, caput, §§ 1º e 2º, da Lei N.º 8.666/93. (Acórdão 216/2007 – Plenário, Processo 012.714/2005-8, Ministro Relator Guilherme Palmeira, Dou 02/03/2007). (grifamos)
Por todo o exposto, o contrato administrativo deve ser
fiscalizado, passo a passo, pela Administração Pública, que designará um
representante, com essa atribuição específica. Um terceiro poderá ser contratado,
para assisti-lo e subsidiá-lo de informações. O TCU recomenda que esta
contratação se realize, por meio de licitação. Não obstante, tal contratação
poderá ter a licitação dispensada ou declarada inexigível, nas hipóteses
permitidas pela lei (artigos 24 e 25).
Assim, se, por exemplo, a Administração Municipal não tiver em
seu corpo de funcionários um engenheiro que fiscalize a execução de
determinada obra, terá que designar um funcionário leigo, como representante,
mas deverá contratar terceiro para assisti-lo.
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III. DOS PEDIDOSEm face de todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE GOIÁS requer a Vossa Excelência:
01. Seja a presente ação recebida, autuada e processada na forma e no rito previsto para a Ação Civil Pública, Lei. 7.347/ 85;
02. Que a comunicação pessoal dos atos processuais se proceda, nos termos do art. 236, § 2º, do Código de Processo Civil, e do art. 41, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93;
03. A citação do MUNICÍPIO DE ITUMBIARA, para que ofereça a defesa das normas, na pessoa de seu representante legal, o Prefeito Municipal José Gomes da Rocha, ou do procurador do Município, conforme estatui o art. 215 do CPC;
04. A citação de FUNSOL – FUNDAÇÃO DE SOLIDARIEDADE DE ITUMBIARA, na pessoa de seu presidente Adriano Martins Lopes, facultando ao Sr. Oficial de Justiça para a comunicação processual, a permissão estampada no artigo 172, § 2º, do Código de Processo Civil;
E ao final:
05. O Julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 330 do Código de Processo Civil, uma vez que não se vislumbra a necessidade de produção de prova em audiência, ante a confissão do Secretário de Controle Interno, e se tratar de matéria especialmente de direito;
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Do cumprimento do art. 67 da Lei 8.666/93 pela Administração Pública para os futuros contratos, firmados a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória, proferida nestes autos ou a partir de antecipação de tutela.
06. Que sejam os requeridos condenados a obrigação de fazer consistente em, após a homologação dos contratos administrativos a serem firmados e antes do início da execução deles, por meio de ato administrativo formalizado por escrito8
e devidamente publicado no diário oficial do município(impresso) e no site do Município na internet(diário eletrônico), por meio do chefe do executivo ou do dirigente da entidade da administração indireta(FUNSOL), designe especialmente9 o representante da administração para acompanhar e fiscalizar o contrato firmado (artigo 67 da Lei 8.66/93), e dê ciência formal ao fornecedor contratado de tal designação; sob pena de multa no valor de 10% do subsídio do representante legal dos requeridos que a cada contrato em que : a) a Administração Pública não de designar o seu representante para fiscalização do contrato antes do início da execução do contrato ou b) a Administração Pública deixar de publicar o ato de designação no diário oficial do município e no site da Prefeitura municipal de Itumbiara antes do início da execução do contrato ou,c ) a Administração Pública deixar de expedir ordem de serviço para início ou autorizar de qualquer forma ao fornecedor o início da execução de contrato sem o cumprimento das condições acima mencionadas;, e ainda, sob pena de outras medidas que o juízo entender necessárias para obtenção do resultado prático equivalente, nos termos do artigo 461 do CPC;
8Sugere-se que o próprio departamento de compras ao encaminhar o contrato para assinatura, já inclua minuta do ato (sugerimos uma Portaria) para a designação do representante da administração pública para acompanhar o contrato com indicação de sua matrícula, lotação e nome do servidor e o local apropriado para coleta de sua assinatura de ciência da ordem que lhe é dirigida.9Sidnei Bittencourt recomenda que “um fiscal da Administração deve ser designado para acompanhar a execução contratual, com o objetivo de anotar, em registro próprio, todas as ocorrências, de modo que possa determinar o que for necessário para saneamento das irregularidades contratadas. É conveniente que a designação recaia sobre pessoa com conhecimento técnico no objeto contratado, de forma que possa agir com eficácia necessária”. (Curso Básico de Contratos Administrativos, Temas e Ideias Editora, Rio de Janeiro, 2000, p. 48).
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3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itumbiara (GO)
Do cumprimento do art. 67 da Lei 8.666/93 pela Administração Pública para os contratos em andamento ao tempo do trânsito em julgado da sentença condenatória proferida nestes autos ou a partir de antecipação de tutela.
07. Que sejam os requeridos condenados a obrigação de fazer consistente em, no prazo de (90) noventa dias, fazer o levantamento de todos os contratos administrativos vigentes para os quais não houve a designação pela Administração Municipal de seu representante designado para a fiscalização da execução dos Contrato e, por meio de ato administrativo formalizado por escrito10 e devidamente publicado no diário oficial do município(impresso) e no site do Município na internet(diário eletrônico), por meio do chefe do executivo ou do dirigente da entidade da administração indireta(FUNSOL), designe especialmente11 o representante da administração para acompanhar e fiscalizar o contrato firmado (artigo 67 da Lei 8.66/93), e dê ciência formal ao fornecedor contratado de tal designação; sob pena de multa no valor de 10% do subsídio do representante legal dos requeridos que a cada contrato em que : a) a Administração Pública deixar de designar o seu representante para fiscalização do contrato, dentro do prazo fixado; b) a Administração Pública deixar de publicar o ato de designação no diário oficial do município e no site da Prefeitura municipal de Itumbiara, dentro do prazo fixado;, e ainda, sob pena de outras medidas que o juízo entender necessárias para obtenção do resultado prático equivalente, nos termos do artigo 461 do CPC;
10Sugere-se que o próprio departamento de compras ao encaminhar o contrato para assinatura, já inclua minuta do ato (sugerimos uma Portaria) para a designação do representante da administração pública para acompanhar o contrato com indicação de sua matrícula, lotação e nome do servidor e o local apropriado para coleta de sua assinatura de ciência da ordem que lhe é dirigida.11Sidnei Bittencourt recomenda que “um fiscal da Administração deve ser designado para acompanhar a execução contratual, com o objetivo de anotar, em registro próprio, todas as ocorrências, de modo que possa determinar o que for necessário para saneamento das irregularidades contratadas. É conveniente que a designação recaia sobre pessoa com conhecimento técnico no objeto contratado, de forma que possa agir com eficácia necessária”. (Curso Básico de Contratos Administrativos, Temas e Ideias Editora, Rio de Janeiro, 2000, p. 48).
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3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itumbiara (GO)
Do cumprimento do art. 68 da Lei 8.666/93 pela Administração Pública para os futuros contratos firmados ou em andamento a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória proferida nestes autos ou a partir de antecipação de tutela.
08. Que sejam os requeridos condenados a obrigação de fazer consistente em, não efetuar pagamento a fornecedores da Administração Pública Municipal, sem que eles tenham formalmente indicados seus prepostos nos termos do artigo 68 da Lei 8.666/93 e sem que a Administração por ato formal e publicado no diário oficial do Município de Itumbiara(impresso) e no site do Município na internet(diário eletrônico) tenha realizado a sua aceitaçãosob pena de multa no valor de 10% do subsídio do representante legal dos requeridos que a cada contrato em que : a) a Administração Pública promover pagamento a fornecedor que não tenha apresentado preposto à administração ou b) a Administração Pública não tenha promovido a formal e pública aceitação do preposto indicado pelo fornecedor e, ainda, sob pena de outras medidas que o juízo entender necessárias para obtenção do resultado prático equivalente, nos termos do artigo 461 do CPC;
09. Que, ao tempo da lavratura da sentença condenatória, antecipe-se ao autor os efeitos da tutela ( art. 273 do CPC) para que a obrigação legal líquida, certa e exigível que se ora pleiteia, não precise aguardar o fim deste processo para que possa ser implementada;
0. Que sejam os Réus condenados a pagar as custas e emolumentos processuais, como ônus da sucumbência.
Por fim, protestando provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, notadamente a documental, a testemunhal e a pericial, não descartando, desde já, o eventual depoimento pessoal dos representantes dos Réus, sob pena de confesso quanto à matéria de fato.
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3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itumbiara (GO)Dá-se à presente causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Termos em que pede e espera deferimento.
ITUMBIARA, 06 de julho de 2010.
REUDER CAVALCANTE MOTTA 3.º Promotor de Justiça
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