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ESTADO DE GOIÁS MINISTÉRIO PÚBLICO QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA 1 EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE ITUMBIARA O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seus Promotores de Justiça, no uso de suas atribuições legais, com fulcro nos artigos 129, III e 225, caput, da Constituição da República, na Lei Federal nº 7347, de 24/07/85 (Lei da Ação Civil Pública), na Lei nº 8625, de 12/02.93 (Lei Orgânica do Ministério Público dos Estados) e artigo 282 e seguintes do Código de Processo Civil, vem diante deste ínclito juízo propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL COM PEDIDO DE LIMINAR em desfavor de: APLANA ASSOCIAÇÃO DOS LAVRADORES E FORNECEDORES DE CANA DE ARAPORÃ, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 21.296.322/0001-08, com sede na Rua dos Bérgamos, nº 74, Bairro Alvorada, em Araporã/MG; COMVALE – COOPERATIVA MISTA DOS PLANTADORES DE CANA DO VALE DO PARANAÍBA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, com sede na Rua dos Bérgamos, s/nº, Bairro Alvorada, Araporã/MG; USINA ALVORADA AÇÚCAR E ÁLCOOL LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 19.818.301/0001-55, com sede na Rodovia BR 153, Km. 03, Fazenda Emboaba, no município de Araporã/MG;

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MINISTÉRIO PÚBLICO QUARTA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITUMBIARA

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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA

COMARCA DE ITUMBIARA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seus Promotores de Justiça, no uso de suas atribuições legais, com fulcro nos artigos 129, III e 225, caput, da Constituição da República, na Lei Federal nº 7347, de 24/07/85 (Lei da Ação Civil Pública), na Lei nº 8625, de 12/02.93 (Lei Orgânica do Ministério Público dos Estados) e artigo 282 e seguintes do Código de Processo Civil, vem diante deste ínclito juízo propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL COM PEDIDO DE LIMINAR em desfavor de: APLANA – ASSOCIAÇÃO DOS LAVRADORES E FORNECEDORES DE CANA DE ARAPORÃ, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 21.296.322/0001-08, com sede na Rua dos Bérgamos, nº 74, Bairro Alvorada, em Araporã/MG; COMVALE – COOPERATIVA MISTA DOS PLANTADORES DE CANA DO VALE DO PARANAÍBA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, com sede na Rua dos Bérgamos, s/nº, Bairro Alvorada, Araporã/MG; USINA ALVORADA AÇÚCAR E ÁLCOOL LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 19.818.301/0001-55, com sede na Rodovia BR 153, Km. 03, Fazenda Emboaba, no município de Araporã/MG;

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AGROPECUÁRIA ARAPORÃ LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 01.930.985/0001-17, com sede na Rodovia BR 153, Km. 03, Araporã/MG; CONDOMÍNIO AGRÍCOLA PARANAÍBA, pessoa jurídica de direito privado, com sede na Rodovia BR 152, Km. 03, município de Araporã/MG; pelos seguintes fatos e fundamentos de Direito:

I – HISTÓRICO: Consta dos autos em anexo que, no dia 23 de julho de 2002, o Ministério Público Estadual propôs ação civil pública ambiental (registrada sob o n.º 200201116663) em desfavor da empresa ALVORADA ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S/A, por danos ambientais perpetrados à coletividade, decorrentes da queima da cana – de – açúcar. Após o deferimento da liminar e sua posterior revogação, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás julgando o agravo de instrumento interposto pelo Parquet restabeleceu a decisão anterior e determinou a abstenção da requerida de utilizar fogo para a limpeza do solo, preparo e plantio da colheita da cana – de – açúcar. Contudo, no dia 29 de abril de 2003, o magistrado que oficiava no feito julgou extinto o processo, sem julgamento de mérito, por reconhecer a ilegitimidade passiva da Alvorada Administração e Participação S/A. Em 02 de março de 2004, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás ao julgar o recurso de apelação interposto confirmou parcialmente a sentença de instância singela, determinando que “o juiz singular continue processando a ação civil pública e, ao final, julgue os pedidos nela contidos, exceto aquele relativo à obrigação de não fazer, ficando, ainda, revogada definitivamente a liminar restabelecida por este Tribunal de Justiça.”

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Por fim, o diligente magistrado da Comarca julgou o pleito de indenização improcedente sob a alegação de que a autora não demonstrou a efetiva ocorrência e extensão dos danos nem quem seriam “aqueles que sofreram prejuízos materiais”.

II – DOS FATOS Feito este necessário e indispensável histórico, ressalte – se que o Ministério Público, por sua Curadoria do Meio Ambiente, continua a receber várias reclamações da população itumbiarense sobre a permanente poluição causada pela queima da cana - de – açúcar, principalmente pela enorme sujeira causada na cidade. A rigor, pode – se, sem a menor dúvida, dizer que o dano ambiental sofrido pela comunidade local é fato público e notório (art. 334, inciso I, do CPC), tanto que até mesmo a coluna política “Giro”, do Jornal “O Popular”, editado na capital do Estado, na edição que circulou no dia10 de julho deste ano, registrou a seguinte nota:

“Vento perigoso

A queima de cana – de – açúcar em Minas Gerais, na beira do Rio Paranaíba, tem trazido poluição a Itumbiara, além de sujar as águas do rio.”

É notoriamente sabido que as requeridas

efetuam a queimada de vários hectares de cana - de - açúcar em várias propriedades rurais, situadas no Município de Araporã – MG e Itumbiara - GO. A queima da palha da cana é atividade degradadora do meio ambiente, devido ao aumento das concentrações de monóxido de carbono e ozônio, que trazem como conseqüências principais a poluição atmosférica, com incômodos à população devido à produção de partículas (“carvãozinho”); o aumento da incidência de doenças respiratórias na região, constituindo sério problema de saúde pública; prejuízos

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para o crescimento de plantas e o desenvolvimento de outras culturas vizinhas; danos à fauna silvestre, podendo causar a morte de espécimes e repercussões negativas no processo da fotossíntese. As queimadas efetuadas são intensas por ocasião da safra da cana - de - açúcar e afetam a população de Itumbiara, causando irritação das conjuntivas dos olhos, nariz e garganta, além de afetar o sistema respiratório e provocando até mesmo asfixia, em caso de exposição a altas concentrações por períodos prolongados. É cediço que ocasiona também desgastes em monumentos históricos, pinturas e edificações, danos à saúde dos animais, prejuízo a lavouras frutíferas em um raio de grande dimensão, além de sua dispersão retardar o desenvolvimento de várias espécies da flora natural. O relatório de impacto ambiental assinado pela competente Bióloga Raquel Maria Barbosa (em anexo) demonstra cabalmente os prejuízos que tais fatos causam à sociedade itumbiarense. A título de ilustração, a resposta formulada à pergunta de nº 09 consta:

“9 – O grau da poluição resulta ou podem resultar em danos à saúde humana, ou provocar a mortandade de animais ou destruição significativa da flora ? Sim, com relação aos seres humanos e aos animais, a inalação de uma concentração elevada de CO² - dióxido de carbono, pode provocar a pneirite química, inchaço dos pulmões, fechamento brusco das vias respiratórias, matando por asfixia. Quanto a flora localizada próxima aos canaviais ela poderá ter o seu crescimento, desenvolvimento e a frutificação totalmente alterada devido a presença de CO² e calor.”

O então Diretor Administrativo – Financeiro do Hospital Municipal Modesto de Carvalho, Dr. José Antônio Ferreira, asseverou, em resposta ao ilustre Promotor de Justiça, Dr. Victor Maurício Fiorito Pereira:

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“Em resposta ao ofício nº 122/2002 que nos foi enviado, confirmamos que realmente aumenta a incidência de doença respiratórias durante o período de queimadas de cana, coincidentemente é o período sazonal (outono – inverno) que também aumenta o índice de crise asmática, portanto não temos como atribuir somente as queimadas de cana aumento da incidência de crises asmáticas.” Mais. O Dr. Alberi Pires da Silva, advogado

militante desta comarca, encaminhou ao Ministério Público laudo de vistoria nº 148/00 realizado em sua residência pelos peritos do Instituto de Criminalística de Goiás, Petrônio Álvares da Silva e José Aparecido Gerardi, no dia 03 de julho de 2000, em que se conclui:

“Depois de detida vistoria no imóvel examinado constatamos a PRESENÇA DE CINZAS em diversos ambientes do mesmo, deposição esta concentrada em áreas descobertas, indicando que as cinzas vieram de precipitação aérea.” O mesmo causídico encaminhou fita de vídeo

(em anexo) sobre o dano ambiental perpetrado pelas requeridas.

A geração de fuligem (“carvãozinho”) gera um incômodo e sujeira incomensuráveis para toda a cidade de Itumbiara. No dia 03 de junho de 2004, nas proximidades da Praça da República, a Polícia Militar Iocal lavrou o Boletim de Ocorrência nº 1128/2004 com os seguintes dizeres:

“Conforme solicitação ocasional de transeuntes, proprietários de veículos que estacionam os mesmos na área central, comerciantes e residentes desta área, por volta de 08:00 horas de hoje, uma nuvem de fumaça e cinzas provocou uma verdadeira poluição nas proximidades do endereço acima citado

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deixando duas casas e veículos numa situação de calamidade pública; onde reclamantes variados queixam – se que as cinzas caídas do céu sujam documentos no interior dos estabelecimentos residenciais e comerciais, impregnam para – brisas dos veículos estacionados etc.; segundo testemunhas abaixo arroladas sempre que acontece essa situação é necessário limpezas constantes dos bens móveis e imóveis para manter higienização dos mesmos e que a poluição ocasionada é periódica sempre que ocorrem queimadas pela região.”

III – DO DIREITO

É sabido que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito humano fundamental de terceira geração, de acordo com a conceituação formulada pelo pensador italiano Norberto Bobbio, em sua clássica obra “A Era dos Direitos”. Na realidade, o conceito de gerações sofre hodiernamente alguns reparos da moderna doutrina, entendendo que a melhor definição teria sido a de “dimensão” e não “geração”, já que nem sempre existiria uma sucessão linear e estanque de direitos. Sem embargo, o conceito é utilíssimo. A propósito, o próprio Supremo Tribunal Federal, através dos votos do Min. Celso de Mello, tem decidido:

“Os preceitos inscritos no art. 225 da Carta política traduzem a consagração constitucional, em nosso sistema de direito positivo, de uma das mais expressivas prerrogativas asseguradas às formações sociais contemporâneas. Essa prerrogativa consiste no reconhecimento de que todos têm direito no meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata – se, consoante já o proclamou o Supremo Tribunal Federal (RE 134.297 – SP, rel.

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Min. Celso de Mello), de um típico direito de terceira geração que assiste, de modo subjetivamente indeterminado, a todo o gênero humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação – que incumbe ao Estado e à própria coletividade – de defendê – lo e preservá – lo em benefício das presentes e das futuras gerações, evitando – se, desse modo, que irrompam, no seio da comunhão social, os graves conflitos intergeneracional marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade na proteção da integridade desse bem essencial de uso de tantos quantos compõem o grupo social. (Celso Lafer, A reconstrução dos Direitos Humanos, pp. 131-132, Companhia das Letras)”1

Nesta esteira, dispõe o artigo 225 da Constituição da República:

“Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” Reza o art. 170, inciso VI, da Carta Magna: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

1 STF. MS n. 22.164-0/SP, julgado em 30.10.1995

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VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;” Sobre o tema, oportuna a lição do mestre Eros

Roberto Grau:

“107. Princípio da ordem econômica constitui também a defesa do meio ambiente (art. 170, VI). Trata – se de princípio constitucional impositivo (Canotilho), que cumpre dupla função, qual os anteriormente referidos. Assume também, assim, a feição de diretriz (Dworkin) - norma - objetivo - dotada de caráter constitucional conformador, justificando a reivindicação pela realização de políticas públicas.(...)

A Constituição, destarte, dá vigorosa

resposta às correntes que propõem a exploração predatória dos recursos naturais, abroqueladas sobre o argumento, obscurantista, segundo o qual as preocupações com a defesa do meio ambiente envolvem propostas de “retorno à barbárie”. O Capítulo VI do seu Título VIII, embora integrado por um só artigo e seus parágrafos – justamente o art.225 – é bastante avançado.”2

Diz o art. 186, incisos I e II: “A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I – aproveitamento racional e adequado;

2 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 9ª edição. São Paulo: Ed. Malheiros. 2003. p. 227.

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II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

Determina a Lei nº 6938/81:

“Art. 14. Sem prejuízo das penalidade definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não – cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: IV – à suspensão de sua atividade;

§ 1º. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao Meio Ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao Meio Ambiente.” A mesma lei define importantes conceitos: “Art. 3º. Para os fins previstos nesta Lei, entende – se por: III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividade que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem –

estar da população; b) criem condições adversas às atividades

sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias

do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo

com os padrões ambientais estabelecidos;

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IV – poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; O Código Florestal da União (Lei nº 4.771/65)

estabelece em seu art. 27: “Art. 27. É proibido o uso de fogo nas florestas e demais formas de vegetação. Parágrafo único. Se peculiaridade locais ou regionais justificarem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestais, a permissão será estabelecida em ato do Poder Público, circunscrevendo as áreas e estabelecendo normas de precaução.”

Também a Lei de Crimes Ambientais: Art. 54 - Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

As doutrinas pátria e internacional também arrolam os malefícios da utilização do fogo nas plantações de cana – de – açúcar. Ensina, com seu brilhantismo habitual, o Professor Paulo Affonso Leme Machado:

“Na fuligem sedimentada (o chamado “carvãozinho”) – aquela que fica depositada sobre o solo depois da queimada – foram identificadas “centenas de compostos químicos, dentre os quais 40 HPAS – Hidrocarbonetos Policlínicos Aromáticos. Entre esses últimos, estão os 16 considerados mais perigosos para a saúde humana na avaliação da Environmental Protection Agency – Agência de Proteção Ambiental dos Estado Unidos”. “A freqüência de

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asma/bronquite, na nossa investigação, foi de 14% e 11% respectivamente em Piracicaba e São Paulo”, concluindo – se que a “presença de poluentes no ar da Grande São Paulo, proveniente de fontes móveis, bem como os poluentes no ar da região de Piracicaba, provenientes da queima da cana de açúcar, surtem efeitos nocivos à saúde da criança”.

Há muitos anos, as populações das regiões canavieiras de todo Brasil vêm sendo afetadas pelos efeitos maléficos das queimadas da palha de cana – de – açúcar. Somente com o advento da ação civil pública é que o Poder judiciário começou a responder com a prestação jurisdicional necessária. É de ser salientado que os organismos ambientais públicos têm ficado inertes diante dessa agressão poluidora, o que, contudo, não inibe o Poder Judiciário, desde que devidamente provocado, a cumprir o seu papel de assegurar o direito constitucional à sadia qualidade de vida (art. 225 da CF).”3 E arremata: “Aplica – se, na matéria atinente á poluição atmosférica, o princípio da “precaução”, já esposado pelo Brasil nos acordos internacionais da Convenção de Viena e no Protocolo de Montreal. Se dúvida ponderável houver, da potencialidade dos danos das queimadas referidas, não se devem procrastinar as medidas de prevenção (para espancar as dúvidas estão os levantamentos efetuados pelos professores do Departamento de Medicina Social da faculdade de medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo e os estudos do INPE – Instituto Nacional de pesquisas Espaciais sob a coordenação de E.V.A Marinho e V.W.J.H. Kirchhoff). Nesta questão, in dubio pro sanitas et pro natura. Este aspecto da matéria foi

3 MACHADO, Paulo Affonso Leme Machado. Direito Ambiental Brasileiro. 12ª edição. São Paulo: Ed. Malheiros. 2004, p. 523.

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brilhantemente abordado pelo Juiz Álvaro Luiz Valery Mirra. “Não é preciso que um ato administrativo proíba a queimada da palha da cana de açúcar, para que esse procedimento seja entendido como ilegal. A ilegalidade decorre da própria conceituação de poluição contida na Lei 6.938/81, art. 3º, III, e alíneas.”4

IV – DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO Mesmo que aquela conduta causadora do dano esteja sendo praticada no município mineiro de Araporã, em razão dos ventos, os efeitos são sentidos no município de Itumbiara, sendo a sua população a mais prejudicada. Portanto, considerando o evidente interesse público primário em testilha - indiscutível direito difuso, nos termos do art. 81, parágrafo único, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) -, a nosso sentir, não pode o Poder Judiciário Goiano fechar os olhos à esta realidade sócio – ambiental, sob pena de desprestígio. Dispõe o artigo 2º da Lei nº 7347/85:

Art. 2º - As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

O festejado Juiz de Direito do Estado de São Paulo, Dr. Álvaro Luiz Valery Mirra, que, no início da década de 90, enfrentou a então complexa questão da queima de palha de cana – de – açúcar, na comarca de Sertãozinho/SP, aduz:

“Observe – se que tamanha tem sido a importância dada à regra do art. 2º da Lei n.

4 Idem.

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7.347/85, determinadora da competência do juízo do foro do local do dano ambiental, que, mesmo nas hipóteses de competência da Justiça Federal, o Superior Tribunal de Justiça já entendeu como competente para o processamento e o julgamento da demanda, em primeiro grau de jurisdição, o juiz estadual do local do dano, quando a comarca onde ocorrida a degradação não for sede de Vara Federal, não admitindo o processamento da causa no juízo federal da seção judiciária mais próxima.”5

Conclui-se, portanto, que a competência para processar e julgar a presente ação é do juízo cível da comarca de Itumbiara, por ser o foro do local que está sofrendo as conseqüências danosas das condutas das requeridas, sem prejuízo de já ser prevento. Ademais, no plano prático, não seria adequado ao Poder Judiciário local, frente a esta realidade sócio – ambiental vivida, permitir que outro juízo apreciasse relevante questão da cidade de Itumbiara.

V – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DOS REQUERIDOS Cumpre, de início, relembrar o conceito de poluidor, transcrito acima, formulado pelo legislador pátrio, nos termos do art. 3º inciso IV, da Lei nº 6938/81. Acerca do tema da legitimação passiva, o grande Hugo Nigro Mazzilli verbera:

“Em ações civis públicas ou coletivas, às vezes é difícil delimitar os legitimados passivos, como nos danos ambientais causados por muitos poluidores.

Admite – se a solidariedade passiva em

matéria de danos ambientais ou aos consumidores porque: a) há solidariedade nas

5 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação Civil Pública e a reparação do dano ao meio ambiente. 2ª edição. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira. 2004, p. 180..

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obrigações resultantes de ato ilícito (art. 1.518,CC) b) os co – responsáveis, por via de regresso, poderão discutir posteriormente, entre si, distribuição mais eqüitativa da responsabilidade; c) nas obrigações indivisíveis de vários devedores, cada um deles tem responsabilidade pela dívida toda;”6

Com a palavra o sempre lembrado José Afonso

da Silva:

“Nem sempre é fácil determinar ou identificar o responsável. Sendo apenas um foco emissor a identificação é simples. Se houver multiplicidade de focos já é mais difícil, mas é precisamente por isso que se justifica a regra da atenuação do relevo do nexo causal, bastando que a atividade do agente seja potencialmente degradante para sua implicação nas malhas da responsabilidade.

Disso decorre outro princípio, qual seja: o

de que à responsabilidade por dano ambiental se aplicam as regras da solidariedade entre os responsáveis, podendo a reparação ser exigida de todos e de qualquer um dos responsáveis. Há até quem sustente que o Estado também é solidariamente responsável, podendo a ação dirigir – se contra ele, que, depois de reparar a lesão, poderá identificar e demandar regressivamente os poluidores (Ferraz, Milaré, Nery Jr., Mancuso).”7

Insistimos no assunto, vez que a outra ação civil pública ajuizada foi extinta em detrimento da ilegitimidade passiva da Alvorada Administração e Participação S/A. No julgamento do recurso de apelação nº 72052-0/188 aduziu o ilustre Desembargador Relator, Dr. Leobino Valente Chaves:

6 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos Interesses Difusos em juízo. 9ª edição. São Paulo: Ed. Saraiva. 1997. pp. 90/91. 7 SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 4ª edição. São Paulo: Ed. Malheiros. 2002. p. 315.

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“Contudo, embora a apelada esteja sujeita

a indenizar eventual dano ambiental, não pode ser compelida a se abster “(...) de utilizar fogo para a limpeza do solo, preparo do plantio e para a colheita da cana de açúcar (...)”, como pleiteado na inicial (fl. 08). Nesse particular, entendo que o apelante pecou ao não incluir na lide quem promove as queimadas durante o ciclo de produção da cana – de – açúcar, porque, como já dito, na parceria os parceiros trabalham com autonomia financeira e absoluta independência, ou seja, um não pode interferir no trabalho do outro.”

Agora, constam da petição inicial, como réus,

todos os parceiros apontados pela antiga requerida nos contratos de parceria agrícola e compra e venda de cana - de - açúcar (em anexo), responsáveis pela queimada de cana – de – açúcar, não sendo mais cabível a tese de ilegitimidade passiva. Imperioso notar que as lições do Promotor de Justiça de Ribeirão Preto, Marcelo Pedroso Goulart:

“Os plantadores de cana, ao promoverem ou permitirem, de qualquer modo, queimadas em áreas de sua propriedade e cultivo, exercem atividade poluidora decorrente do empreendimento por eles explorado economicamente. Para os fins de reparação civil do dano ambiental, pouco importa a averiguação da origem do fogo (qual a pessoa ou fato que teria dado início à queimada), uma vez que se prescinde, nesta sede, da caracterização da culpa e o caso fortuito e a força maior não excluem a responsabilidade. Ora, se até um fato da natureza pode ensejar o dano e, consequentemente, a reparação para o empreendedor, mostra – se extravagante qualquer indagação sobre a autoria da queimada como requisito indispensável ao surgimento do dever de indenizar. Os simples fato da existência

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de uma atividade econômica de risco (cultivo da cana) da qual adveio o prejuízo ao meio ambiente (degradação da qualidade do ar provocada pela queima da cana) faz emergir o dever de indenizar (atividade/dano/nexo causal).

Todo aquele que, direta ou indiretamente,

promove e/ou permite, de qualquer modo, queimadas em áreas de sua propriedade e cultivo, deve ser compelido a reparar os danos causados ao meio ambiente (indenização pecuniária pelo dano ambiental), bem como a cessar essa atividade nociva (obrigação de não – fazer). A ação civil pública deve conter ao menos esses dois pedidos.”8

V – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA A regra imposta pelo sistema do Código de Processo Civil é a de que o ônus da prova cabe ao autor – art. 333, CPC. A ele, portanto, cabe demonstrar a procedência de seu pedido. De outro lado, diverso é o sistema processual de defesa dos interesses difusos e coletivos, ao considerar a integração das regras processuais estabelecidas na Lei da Ação Civil Pública – nº 7.347/85, e do Código de Defesa do Consumidor – nº 8.078/90, conforme art. 21 da LACP, com a redação dada pelo art. 117 do CDC. Isto quer dizer que, no que for compatível, as disposições de uma lei poderão ser aplicadas juntamente a outra. Assim, os dispositivos de direito processual estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor, art. 6º, VIII, art. 81 e seguintes, são suscetíveis de aplicação dos institutos de direito instrumental da lei de ação civil pública. O Ministério Público ao propor ações civis públicas em defesa do meio ambiente age em prol da coletividade e não em seu próprio interesse. Há de se dizer que esta disciplina tem o objetivo de reforçar os direitos da cidadania, ao atribuir ao 8 Revista de Direito Ambiental, vol 5. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais. Ministério Público e práticas rurais anti – ambientais: o combate às queimadas da cana – de – açúcar no nordeste paulista, p. 65.

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sujeito passivo da relação processual a obrigação de demonstrar que não ofende ao direito difuso ou coletivo posto à apreciação da atividade jurisdicional, somando – se a hipossuficiência do autor em fazer este tipo de prova, e a verossimilhança dos fatos alegados.9

Diante disso, a norma que possibilita a inversão do ônus da prova em matéria ambiental, tem o afã de facilitar a defesa da sociedade e do meio ambiente. Comentando o art. 90, do CDC, o Prof. Nelson Nery Júnior leciona:

“2. Aplicação da LACP. A recíproca é também verdadeira. As normas processuais do CDC são aplicáveis às ações que versem sobre direitos difusos e coletivos em geral.”10

VI – DA NECESSIDADE DA MEDIDA LIMINAR

O art. 12, da Lei da Ação Civil Pública, trata das medidas liminares, com ou sem justificação prévia, a tutelar o meio ambiente, dentre outros interesses difusos e coletivos. A respeito do mencionado artigo da Lei 7347/85, oportuno o entendimento do Professor Rodolfo de Camargo Mancuso:

“Conjugando-se os artigos 4º e 12º da Lei nº 7347/85, tem-se que essa tutela de urgência há de ser obtida através de liminar que, tanto pode ser pleiteada na ação cautelar (factível antes ou no curso da ação civil pública) ou no bojo da própria ação civil pública...”11

9 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco et al. Direito Processual Ambiental Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey. 1996, p. 171. 10 NERY, Nelson Júnior et al. Código de Processo Civil Comentado. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais. 1997. p. 1402. 11 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. 2ª edição. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais. p. 127.

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Sabemos ser condição para concessão do pedido liminar, a existência de fundado receio de lesão grave e de difícil reparação ao direito tutelado. Nos termos do artigo 12 da Lei 7347/85, pede-se, nesta oportunidade, a concessão da medida liminar inaudita altera pars e initio litis, a fim de evitar-se que a natural demora do julgamento final deste feito possa causar mais danos ainda ao meio ambiente e à saúde da população de Itumbiara. Acerca do tema, recorremos as lições do mestre Édis Milaré:

“Este sistema de freios e contrapesos, no que se refere à concessão de liminar, é necessário para correção de eventual arbítrio do juiz, inaceitável dentro da ordem jurídica vigente. Da mesma forma, é certo que, em matéria de proteção ao meio ambiente, a tutela cautelar, especialmente em se tratando de provimento jurisdicional de não – fazer, é a regra e não a exceção.

Isso porque, no Direito Ambiental,

diferentemente do que se dá com outras matérias, vigoram dois princípios que modificam profundamente as bases e a manifestação do poder de cautela do juiz: a) o princípio da prevalência do meio ambiente (da vida) b) o princípio da precaução, também conhecido como princípio da prudência e da cautela.”12 (destacamos)

Não é possível que perdure até julgamento final de uma ação principal, as condições atuais expostas. Não se concebe que as requeridas continuem a causar danos, sendo urgente a cessação da degradação ambiental.

12 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 4ª edição. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais. 2005. p. 961.

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Oportuno e impossível não transcrever o voto do Desembargador Relator do Agravo de Instrumento nº 29986-2/180 (200201666060), Dr. Leobino Valente Chaves, acolhido por unanimidade, que apreciando os mesmos fatos e as mesmas provas agora debatidos, determinou o restabelecimento da liminar revogada pelo juiz singular e aduziu:

“O recorrente logrou demonstrar, de início, que a queimada promovida pela recorrida durante o ciclo de produção da cana – de – açúcar (limpeza do solo, plantio e colheita) causa poluição atmosférica. Tal fato põe em risco a saúde pública, a fauna e a flora, causa sujeira (presença de cinzas em áreas descobertas), pode provocar o desgaste de objetos, prejudicar lavouras frutíferas, alterar a qualidade e o aspecto físico dos frutos, etc. (fls. 37/38, 39 e 41/43).

Soma – se a isso, o fato de que a

agravante pretende firmar termo de ajustamento de conduta com o agravante (fl. 62, item “a”). Tal idéia sugere que a recorrida esteja, realmente, causando dano ao meio ambiente.

Eis, então, o fumus boni juris.”

E continua:

“Destarte, quanto mais queimadas ocorrerem durante o ciclo de produção da cana - de – açúcar, maiores e piores serão as conseqüências ao meio ambiente – dentro do qual o ser humano se interage – e, quiçá, irreversíveis.

Portanto, mostra – se evidente o

periculum in mora”

E finaliza:

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“Portanto, presentes o fumus boni juris e o periculum in mora, outro caminho não resta a esse Tribunal senão restabelecer integralmente a liminar de fl. 44.”

Ante o exposto, requer o Ministério Público, diante da presença do fumus boni juris e do periculum in mora, a concessão de L I M I N A R inaudita altera pars, a fim de ordenar as requeridas a absterem – se de utilizar fogo para a limpeza do solo, preparo e plantio para a colheita da cana – de - açúcar nas áreas por ela cultivadas. Tudo sob pena de pagamento de multa diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a ser recolhida ao Fundo Estadual do Meio Ambiente, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal dos responsáveis pela desobediência à ordem judicial. Requer ainda seja expedida carta precatória à comarca de Tupaciguara – MG, para que providencie o cumprimento da liminar, oficiando ao IBAMA, aos órgãos ambientais dos Estados de Minas Gerais e Goiás, e às Polícias Ambiental, Militar e Civil, de ambas as unidades federativas, requisitando fiscalização.

VII – DOS PEDIDOS FINAIS De todo o exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás requer a V. Exa:

a) A concessão da liminar inaudita altera pars, nos moldes acima alinhavados.

b) A citação das requeridas, através de seus representantes legais, por carta precatória para a comarca de Tupaciguara – MG, para, querendo, contestarem a presente, sob pena de revelia e confissão.

c) Protesta provar o alegado por qualquer meio de prova admitida em direito, máxime provas

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testemunhais, periciais e documentais, e, inclusive depoimento pessoal dos representantes legais das requeridas, pleiteando também pela juntada do procedimento administrativo em anexo.

d) A procedência final do pedido liminar, condenando-se as requeridas à obrigação de não fazer consistente em absterem - se de utilizar fogo para a limpeza do solo, preparo do plantio e para a colheita da cana de açúcar nas áreas por elas cultivadas, sob pena de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

e) A condenação das rés, solidariamente, a recuperar e compensar os danos ambientais, socioeconômicos e à saúde pública provocados em razão de suas atividades, de maneira que as reparações sejam efetivas e satisfatórias.

f) A condenação das rés a indenizar os danos extrapamoniais (morais), por força do art. 1º, da Lei nº 7.347/85, causados ao complexo ambiental atingido, cuja quantificação (quantum debeatur) deve ser feita por liquidação por arbitramento, o que, desde já, requer, antes da instauração do processo de execução, a ser revertido ao Fundo Estadual do Meio Ambiente.

g) A inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, inciso VIII, do CDC.

h) A publicação de edital para dar conhecimento a terceiros interessados e à coletividade, considerando o caráter erga omnes da ação civil pública.

i) Protesta, ainda, por eventual emenda, retificação e/ou complementação da presente exordial, caso necessário.

j) Sejam condenadas as requeridas ao pagamento de custas e demais cominações legais.

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Dá-se a causa, para os efeitos legais, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) Itumbiara, 28 de setembro de 2005. JALES GUEDES COELHO MENDONÇA Promotor de Justiça SILVANA ANTUNES VIEIRA NASCIMENTO Promotora de Justiça